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Resumo | A avaliação de fatores como fadiga e aspectos Twenty-four nurses participated (aged 40±8 years; 10 men
funcionais pode identificar sobrecargas durante a ativida- and 14 women). The Nordic musculoskeletal questionnaire,
de de enfermeiros. O objetivo foi avaliar a necessidade de work ability index (WAI), need for recovery scale (NRE) and
descanso, prevalência de desconfortos musculoesqueléti- scale of perceived exertion (Borg) were applied. Gender
cos, capacidade de trabalho e esforço físico de enfermei- differences were evaluated by Student’s t-test and the
ros de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Participaram 24 prevalence by Fisher’s exact test. There was a prevalence
enfermeiros (idade 40±8 anos; 14 homens e 10 mulheres). of 75% in the last 12 months, 100% of women and 42% of
Foram aplicados: questionário nórdico de sintomas, índice men (significant difference; p=0.024). Women rated work as
de capacidade para trabalho (ICT), escala de necessida- more intense than men (p<0.05). There were no differences
de de descanso (ENEDE) e escala de esforço percebido between NRE/WAI. The study emphasizes the importance
(Borg). Diferenças entre sexos foram verificadas pelo tes- of preventive actions focused on nursing activities and strat-
te t de Student e na prevalência pelo teste exato de Fisher. egies for prevention of discomfort in females.
Verificou-se prevalência de 75% nos últimos 12 meses, sen- Keywords | human engineering; physical therapy
do 100% das mulheres e 42% dos homens (diferença sig- specialty; occupational health; nursing; fatigue.
nificante; p=0,024). As mulheres classificaram o trabalho
como mais intenso em comparação aos homens (p<0,05). RESUMEN | La evaluación de factores como fatiga y as-
Não houve diferenças entre ENEDE/ICT. Ressalta-se a im- pectos funcionales pueden identificar sobrecargas duran-
portância de ações preventivas focadas na atividade do te la actividad de los enfermeros. El objetivo fue evaluar
enfermeiro e estratégias para a prevenção de desconforto la necesidad de descanso, prevalencia de molestias mus-
no sexo feminino. culoesqueléticas, capacidad de trabajo y esfuerzo físico
Descritores | engenharia humana; fisioterapia; saúde do de enfermeros de UTI. Participaron 24 enfermeros (edad
trabalhador; enfermagem; fadiga. 40±8 años; 14 hombres/10 mujeres). Fueron aplicados:
cuestionario nórdico de síntomas, índice de capacidad
Abstract | Evaluating factors such as fatigue and func- para el trabajo (ICT), escala de necesidad de descanso
tional aspects can identify overloads during nursing ac- (ENEDE) y escala de esfuerzo percibido (Borg). Diferencias
tivities. The aim was to evaluate need for recovery, preva- entre sexos fueron verificadas por el test t de Student y la
lence of musculoskeletal discomfort, working capacity prevalencia por el test exacto de Fisher. Se verificó la pre-
and perceived exertion of Intensive Care Unit (ICU) nurses. valencia del 75% en los últimos 12 meses, siendo el 100%
Estudo desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil.
1
Fisioterapeuta pela UFMS – Campo Grande (MS), Brasil.
2
Professor Doutor do curso de Fisioterapia da Universidade de Brasília (UnB) – Brasília (DF), Brasil.
3
Professor Doutor do curso de Fisioterapia da UFMS – Campo Grande (MS), Brasil.
Endereço para correspondência: Rodrigo Carregaro – Universidade de Brasília, Campus Ceilândia, QNN 14 Área Especial – Ceilândia Sul – CEP: 72220-140 – Brasília (DF), Brasil –
E-mail: rodrigocarregaro@unb.br
Apresentação: set. 2012 – Aceito para publicação: mar. 2013 – Fonte de financiamento: nenhuma – Conflito de interesse: nada a declarar – Parecer de aprovação no Comitê de
Ética nº 1.658/2010.
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Nery et al. Trabalho em UTI e a saúde de enfermeiros
de las mujeres y 42% de los hombres (diferencia significativa; enfocadas en la actividad de enfermería y estrategias para pre-
p=0,024). Las mujeres clasificaron el trabajo como más intenso vención de molestias en el sexo femenino.
en comparación a los hombres (p<0,05). No hubo diferencias en- Palabras clave | ergonomía; fisioterapia; salud del trabajador;
tre ENEDE/ICT. Se resalta la importancia de acciones preventivas enfermería; fatiga.
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Tabela 2. Frequência de regiões acometidas por desconforto musculoesquelético nos últimos doze meses, relatadas pelos participantes do estudo
Sexo
Regiões corporais Homens Mulheres Total
n % n %
Cabeça e pescoço 3 27 8 73 11
Ombros 1 20 4 80 5
Braço e punhos – – 14 100 14
Pernas 2 50 2 50 4
Tornozelo e pés 2 33 4 67 6
Coluna Lombar 6 54 5 46 11
Total 14 37 52
n: número de regiões acometidas relatadas pelos trabalhadores; %: em referência ao total de respostas, para cada região corporal
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respectivamente. Dos homens, apenas 1% classificou trabalhos repetitivos. Enfermeiros que atuam em UTI
como moderado, enquanto 36 e 57% classificaram o desempenham atividades que exigem esforço físico,
ICT como bom e ótimo, respectivamente. Entretanto, como o manuseio de pacientes27, colocação e retirada de
o ICT também não apresentou diferenças significantes monitores em prateleiras e gabinetes auxiliares, e orga-
entre os sexos (p>0,05). nização de equipamentos, além das atribuições referen-
Não foram encontradas associações significantes tes ao cuidado dos pacientes26.
entre a ENEDE e turno de trabalho (p=0,66), tempo na Não foram encontradas diferenças significantes
função (p=0,82), escolaridade (p=0,95) e ICT (p=0,26). entre os setores analisados (UCO e UTIa) em respeito
ao índice de capacidade para o trabalho e a ENEDE.
Em estudo que avaliou o trabalho industrial, foram en-
contradas diferenças significantes na ENEDE quando
DISCUSSÃO da comparação entre dois setores, fato que pode ter
ocorrido devido às peculiaridades de sobrecarga, con-
O presente estudo encontrou uma prevalência de 75% dições de trabalho e demandas psicológicas entre um
de desconforto musculoesquelético em enfermeiros que setor e outro4. É importante mencionar que o nosso
exercem funções em unidades de terapia intensiva, e estudo considerou dois setores (UCO e a UTIa) que
corrobora estudos prévios que também verificaram altas apresentam processos de trabalho com características
prevalências em enfermeiros que atuam em ambientes similares de demanda e sobrecarga, o que explicaria a
hospitalares, inclusive UTI22,23. A alta prevalência pode ausência de diferença na fadiga e ICT.
ser explicada pelos fatores advindos da logística de tra- Em se tratando do sexo, também não encontramos
balho em unidades de terapia intensiva. Nesse sentido, diferenças significantes na classificação da ENEDE
as UTI são caracterizadas como locais nos quais se in- entre homens e mulheres, corroborando os resultados
ternam pacientes em estado grave e em situação limí- de Moriguchi et al.4 e Raffone e Hennington28. Tal
trofe, que ainda têm um prognóstico favorável, embora achado pode ser explicado pelo fato de que o trabalho é
necessitem de recursos técnicos e humanos especializa- uma interação complexa de tarefas, funções, responsabi-
dos. Tal característica denota grande relevância para a lidades, incentivos e recompensas29. Além disso, a lite-
saúde de enfermeiros, na medida em que representa os ratura ainda apresenta divergências quanto à influência
efeitos da sobrecarga de trabalho, e pode estar associa- do sexo na necessidade de descanso dos trabalhadores4,6.
da à gênese de DORT1,3. É importante mencionar que Mesmo apesar da divergência, é importante ressaltar
fatores sociais e familiares também podem influenciar a que as mulheres e os homens apresentam diferenças an-
saúde do trabalhador. Nesse caso, pesquisas futuras po- tropométricas e fisiológicas, além de eventuais diferen-
deriam considerar o estudo dos determinantes sociais ças profissionais como atribuições de funções, respon-
da saúde, com o intuito de compreender o papel das sabilidades e atividades fora do trabalho30. Nesse caso, o
atividades extra-hospitalares na qualidade de vida de fato das mulheres terem apresentado maior prevalência
profissionais da enfermagem. de desconforto, associado ao achado de que 30% apre-
No presente estudo, as mulheres classificaram o es- sentam um índice moderado de capacidade de trabalho,
forço do trabalho como sendo mais intenso em com- ressalta-se a importância de medidas de promoção da
paração aos homens, demonstrando que as situações saúde como um dos aspectos fundamentais na manu-
são vivenciadas de forma diferente por homens e mu- tenção e melhoria da capacidade para o trabalho dessa
lheres24 e que o grau de esforço físico exercido duran- população de trabalhadores31.
te o trabalho pode representar o efeito das atividades No presente estudo, a ENEDE não apresentou as-
profissionais no desempenho, capacidade de trabalho sociação com o turno de trabalho, escolaridade, tempo
e saúde25. Sabe-se que esse local de trabalho apresenta na função e o ICT. Para compreender esse achado,
condições que desencadeiam o estresse, além de apre- vale destacar que o trabalho de enfermagem em hos-
sentar fatores de risco ambiental, sobrecarga de trabalho pitais, principalmente na UTI, tem como característica
e outras consequências biopsicofisiológicas26. De fato, primordial a variabilidade14. Os enfermeiros de UTI
Fonseca e Fernandes23 destacam que os aspectos físicos devem lidar com eventos adversos como panes, falta
de sobrecarga do trabalho têm importante contribuição de material, déficit na escala de pessoal, instabilidade
para o desenvolvimento de DORT, principalmente em nos quadros clínicos dos pacientes e relações profissio-
membros superiores, tais como posturas inadequadas e nais conflitantes14,32. A mensuração da fadiga segue o
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princípio de recuperação a partir do esforço ao longo 4. Moriguchi CS, Alem ME, Coury HJ. Evaluation of workload among
industrial workers with the Need for Recovery Scale. Rev Bras Fisioter.
de um dia de trabalho. Caso a recuperação não tenha
2011;15(2):154-9.
sido suficiente, uma fadiga residual vai estar presente no
5. Walsh IA, Corral S, Franco RN, Canetti EE, Alem ME, Coury HJ. Work
dia subsequente. Desse modo, um processo cumulativo ability of subjects with chronic musculoskeletal disorders. Rev Saude
é iniciado e se esse processo persistir, pode ocasionar Publica. 2004;38(2):149-56.
efeitos deletérios a longo prazo7. A medida da necessi- 6. Sluiter JK, de Croon EM, Meijman TF, Frings-Dresen MH. Need for
dade de descanso apresenta grande potencial para de- recovery from work related fatigue and its role in the development
and prediction of subjective health complaints. Occup Environ Med.
tectar a sobrecarga de enfermeiros e contribuir para a
2003;60(Suppl 1):i62-70.
implementação de estratégias preventivas. Entretanto, a
7. Moriguchi CS, Alem ME, van Veldhoven M, Coury HJ. Cultural
atividade de enfermeiros de UTI envolve uma interação adaptation and psychometric properties of Brazilian Need for
complexa de fatores, dentre os quais a gestão e o pla- Recovery Scale. Rev Saude Publica. 2010;44(1):131-9.
nejamento das unidades32, ruído, temperatura, controle 8. Marziale MHP, Rozestraten RJA. Turnos alternantes: fadiga mental da
de gases e vapores, pausas sistemáticas para descanso enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 1995;3(1):59-78.
e exposição diária a agentes biológicos33. Desse modo, 9. Marziale MHP, Carvalho EC. Condições ergonômicas do trabalho da
equipe de enfermagem em unidade de internação de cardiologia.
os achados do presente estudo indicam que a aplicação Rev Latino-Am Enfermagem. 1998;6(1):99-117.
da ENEDE no contexto da atividade de enfermeiros 10. Marziale MHP, Rodrigues CM. A produção científica sobre os acidentes
de UTI deva ser incluída dentro de uma análise ampla, de trabalho com material perfurocortante entre trabalhadores de
que considere o espectro de fatores biopsicossociais nos enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2002;10(4):571-6.
quais essa categoria está exposta e que possam influen- 11. Zanon E, Marziale MHP. Avaliação da postura corporal dos
trabalhadores de enfermagem na movimentação de pacientes
ciar a recuperação no trabalho.
acamados. Rev Esc Enferm USP. 2000;34(1):26-36.
Vale mencionar que os resultados devem ser vistos
12. Magnago TSBS, Lisboa MTL, Souza IOE, Moreira MC. Distúrbios
com cautela, na medida em que uma limitação do nosso musculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem: associação
estudo foi a amostra reduzida de trabalhadores, a qual com condições de trabalho. Rev Bras Enferm. 2007;60(6):701-5.
foi influenciada pelo quantitativo de pessoal das duas 13. Morofuze NT, Marziale MHP. Doenças do sistema osteomuscular
unidades de terapia intensiva analisadas. em trabalhadores de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem.
2005;13(3):364-73.
14. Campos JF, David HSL. Avaliação do contexto de trabalho em terapia
intensiva sob o olhar da psicodinâmica do trabalho. Rev Esc Enferm
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CONCLUSÃO 15. van Dijk FJH, Swaen GMH. Fatigue at work. Occup Environ Med.
2003;60(Suppl 1):i1-2.
O estudo demonstrou alta prevalência de desconfor- 16. Zwarts MJ, Bleijenberg G, van Engelen BG. Clinical neurophysiology
to musculoesquelético em enfermeiros que atuam em of fatigue. Clin Neurophysiol. 2008;119(1):2-10.
UTI, sendo o sexo feminino mais acometido. A fadi- 17. Silva AEL, Oliveira FR, Gevaerd MS. Mecanismos de fadiga durante
o exercício físico. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum.
ga induzida pelo trabalho parece afetar enfermeiros de 2006;8(1):105-13.
UTI, independente do sexo e setor. Recomenda-se o 18. Chen J, Davis LS, Davis KG, Pan W, Daraiseh NM. Physiological and
delineamento de novas pesquisas direcionadas à com- behavioural response patterns at work among hospital nurses. J Nurs
preensão da fadiga induzida pelo trabalho em UTI e Manag. 2011;19(1):57-68.
sua associação com fatores demográficos e ocupacionais. 19. Kuorinka I, Jonsson B, Kilbom A, Vinterberg H, Biering-Sorensen
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