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ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE 113

Afastamento do trabalho e os percursos


terapêuticos de trabalhadores acometidos
por LER/Dort
Work leave and therapeutic pathways of workers affected by RSI/
WRMSD

Camilla de Paula Zavarizzi1, Maria do Carmo Baracho de Alencar2

RESUMO O estudou objetivou investigar os percursos terapêuticos de trabalhadores em


situação de afastamento do trabalho por Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/Dort) atendidos em um serviço de saúde.
Ocorreu análise de prontuários clínicos e seleção de sujeitos para entrevistas semiestrutura-
das, que foram gravadas para análise de conteúdo temática. Participaram das entrevistas dez
trabalhadores, de ambos os gêneros e diferentes profissões. Os sujeitos passaram por condutas
clínicas embasadas no modelo biomédico, pelo desamparo da empresa e do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), gerando sofrimento. Concluiu-se que ainda há necessidade de me-
lhorias nas ações intersetoriais e interdisciplinares em casos de doenças crônicas e no modelo
integral de saúde.

PALAVRAS-CHAVE Transtornos traumáticos cumulativos. Saúde do trabalhador. Licença


médica. Reabilitação.

ABSTRACT The aim of this study was to investigate the therapeutic pathways of workers in work
leave situation due to Repetitive Strain Injuries/Work-Related Musculoskeletal Disorders (RSI/
WRMSD) assisted at a health service. Analysis of clinical records occurred and selection of sub-
jects for recorded semi-structured interviews, which were recorded for thematic content analysis.
Ten workers participated in the interviews, of both genders and different professions. The sub-
jects underwent clinical conducts based on the biomedical model, due to the helplessness of the
company and the National Social Security Institute (INSS), causing suffering. It was concluded
that there is still a need for improvements in intersectoral and interdisciplinary actions in cases
of chronic diseases and in the integral health model.
1 Universidade Federal

de São Paulo (Unifesp) –


Santos (SP), Brasil. KEYWORDS Cumulative trauma disorders. Occupational health. Sick leave. Rehabilitation.
milla_zavarizzi@hotmail.
com

2 Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp),
Programa Interdisciplinar
em Ciências da Saúde –
Santos (SP), Brasil.
alencar@unifesp.br

DOI: 10.1590/0103-1104201811609 SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 42, N. 116, P. 113-124, JAN-MAR 2018
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Introdução problema de saúde pública no mundo pela


redução da qualidade de vida e da capacida-
Uma crise contemporânea se manifesta em de para o trabalho3.
todos os países do mundo nos sistemas de As LER/Dort evoluem, muitas vezes, para
atenção à saúde, com o aumento de condi- casos crônicos6. E o sistema de saúde brasi-
ções crônicas de saúde1. Para Mendes1, o leiro encontra-se focado na doença aguda,
contexto brasileiro vive uma acelerada tran- e não nas doenças crônicas, sendo assim, as
sição nos campos político, social, econômico, condições crônicas não podem ser respon-
demográfico e epidemiológico, tais como didas com eficiência, efetividade e qualida-
o crescimento de enfermidades de origens de. Os sistemas fragmentados de atenção à
não infecciosas/transmissíveis e de etiolo- saúde são aqueles reativos e com respostas
gia incerta, resultantes, entre outros fatores, episódicas, que se organizam através de
da reestruturação produtiva e do acelerado um conjunto de pontos de atenção à saúde
envelhecimento da população. Sobre a re- isolados e com pouca comunicação. Como
estruturação produtiva, o enfraquecimen- consequência, são incapazes de prestar uma
to da coletividade entre os trabalhadores atenção contínua à população1.
nas novas relações trabalhistas – como, por Com relação à abordagem de tratamento
exemplo, a terceirização, somada a condi- dos casos de LER/Dort, ela está fortemen-
ções de trabalho ruins – repercute negati- te influenciada pelo modelo biomédico7.
vamente na saúde dos trabalhadores. Além, O modelo biomédico resulta em práticas
disso, há, ainda, o cenário de ascensão do assistenciais de saúde fragmentadas, pois
ideário neoliberal, onde o mercado aparece dicotomiza a doença em aspectos objetivos
como regulador da sociedade2. e subjetivos, focando nos aspectos objetivos,
Essas mudanças e os novos modos de ou seja, em lesões observáveis, sintomas
organização do trabalho têm repercutido mensuráveis e causas classificáveis, tendo
negativamente na saúde dos trabalhadores, como centro de atenção a doença, e não o
ocasionando diversas formas de adoecimen- indivíduo8. O modelo biomédico estimula
to. De caráter crônico, as Lesões por Esforços os médicos a aderir a um comportamento
Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares cartesiano na separação entre o observador
Relacionados ao Trabalho (LER/Dort), fre- e o observado, muitas vezes, pela impossibi-
quentemente, implicam sucessivos afasta- lidade de oferecer respostas conclusivas ou
mentos do trabalho por curtos e/ou longos satisfatórias para muitos problemas, sobre-
períodos, bem como limitações em ativi- tudo para componentes psicológicos ou sub-
dades cotidianas3. As LER/Dort se carac- jetivos que os acompanham, em grau maior
terizam por lesões de músculos, tendões, ou menor que as doenças9. Ainda para este
fáscias, nervos, entre outros, com sintomas autor, em favor da reorientação do modelo
de dor, parestesia, sensação de peso etc. É econômico fundado no neoliberalismo, o
de aparecimento insidioso, e sua etiologia é modelo médico-assistencial, servindo ao
multifatorial e complexa, envolvendo aspec- modelo biomédico, tende a buscar os inte-
tos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afe- resses do mercado.
tivos e psicossociais e fatores relacionados Com a Constituição Brasileira e a implan-
às condições e à organização do trabalho4. tação do Sistema Único de Saúde (SUS),
Este é um artigo publicado em As doenças osteomusculares e do tecido o modelo de atenção à saúde foi reorgani-
acesso aberto (Open Access)
sob a licença Creative Commons conjuntivo foram a segunda maior causa de zado a partir de um conceito integral de
Attribution, que permite uso,
distribuição e reprodução em concessão de auxílio-doença por acidente saúde, ou seja, levando-se em consideração
qualquer meio, sem restrições,
desde que o trabalho original seja
de trabalho na previdência social5. Esses dis- os aspectos biopsicossociais dos processos
corretamente citado. túrbios osteomusculares se constituem um saúde-doença. Em contrapartida, o que se

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vê ainda na prática são ofertas terapêuticas Esses autores explicam que, posteriormen-
orientadas pelo modelo biomédico10. Mesmo te, a Rede Nacional de Atenção Integral
que muitos profissionais médicos cheguem em Saúde do Trabalhador (Renast), criada
a admitir a presença de componentes de em 2002, e a Política Nacional de Saúde do
ordem subjetiva ou afetiva, que exercem Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), de
influência em casos de doenças, eles não se 2012, foram estratégias criadas para garantir
sentem à vontade, via de regra, para lidar a integralidade na atenção à saúde do traba-
com os mesmos9. lhador na Rede de Atenção à Saúde (RAS),
Sendo assim, a visão estritamente fisio- com a Atenção Primária à Saúde sendo a or-
patológica nos casos de LER/Dort não é denadora das ações. Embora haja avanços e
resolutiva e acarreta períodos extensos de estratégias, ainda há uma dificuldade de os
tratamento, sobrecarregando os serviços profissionais de saúde considerarem o traba-
públicos de saúde e repercutindo negativa- lho como parte do processo saúde e doença
mente nos âmbitos emocional e socioeconô- dos sujeitos, e, diante dessa problemática, o
mico dos trabalhadores11. Além disso, esse processo de cuidado e reabilitação dos traba-
modelo de atenção focado na doença, em lhadores acometidos por LER/Dort se torna
geral, individualiza o adoecimento, o que, na um desafio.
verdade, trata-se de um problema estrutural Ainda existe, em geral, uma dificulda-
e coletivo. Para que se possa refletir sobre o de em estabelecer o nexo causal entre a
tema, cabe destacar alguns fatos históricos. doença e o trabalho no caso das LER/Dort,
Os cuidados de saúde voltados ao trabalha- e, com isso, o registro oficial da doença nem
dor eram, até meados da década de 1980, de sempre é obtido15. Quando um acidente ou
responsabilidade exclusiva do empregador e uma doença é reconhecido como decor-
sob o modelo da medicina do trabalho e da rente do trabalho, a empresa deve emitir o
saúde ocupacional, cujo enfoque privilegia Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT)
a visão individual do adoecimento, e o diag- ao Instituto Nacional do Seguro Social
nóstico e o tratamento, sob o ponto de vista (INSS). Quando isso não ocorre, o próprio
positivista12. Os limites epistemológicos acidentado, seus dependentes, o sindicato,
desse modelo impossibilitam considerar os o médico que o assistiu ou qualquer autori-
aspectos relacionados à organização/divisão dade pública poderão realizá-lo a qualquer
do trabalho nos processos de adoecimento, tempo. Esse documento visa a garantir o
tais como: o ritmo, o trabalho em turnos, acesso ao benefício auxílio-doença acidentá-
modos de divisão do trabalho, entre outros13. rio, o qual garante ao trabalhador 12 meses
A partir do contexto da redemocratização de estabilidade na empresa quando retornar
social, da reorganização da saúde e da in- ao trabalho, entre outros16. Além disso, seu
fluência da Reforma Sanitária na Itália, nos registro é fonte importante de informações
anos 1970, uma nova visão sanitária passou epidemiológicas. Vale ressaltar que os CATs
a formular concepções sobre as relações se referem apenas aos trabalhadores cober-
de trabalho, saúde e doença, considerando, tos pelo Seguro Acidente de Trabalho (SAT),
também, a determinação social nesse proces- sendo, portanto, excluídos dessa fonte de
so12. Mas foi em 1988 que o Estado, através dados os trabalhadores autônomos, domés-
do SUS, passou a ter competência legal ticos, funcionários públicos estatutários, su-
sobre o processo saúde-doença relacionado bempregados, muitos trabalhadores rurais,
ao trabalho, com a Constituição Federal, no entre outros. A subnotificação dos dados
artigo 200 – Ações relacionadas à saúde dos impede que os números estatísticos relacio-
trabalhadores –, endossado pela regulamen- nados aos acidentes de trabalho correspon-
tação do SUS, com a Lei nº 8.080, de 199014. dam à realidade15.

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Uma vez em situação de afastamento do haviam vivenciado a situação de afastamento


trabalho por motivo de doença, os trabalha- do trabalho pelo INSS por motivo da doença.
dores vivenciam um processo de rupturas im- Na segunda etapa, os trabalhadores
portantes nos modos de viver e de trabalhar17. foram contatados por telefone, e ocorreram
Portanto, o processo de afastamento do tra- o convite para a participação voluntária no
balho desestrutura a identidade do indivíduo, estudo e os agendamentos. Foi elaborado
uma vez que impede o reconhecimento de previamente um roteiro com questões se-
seu papel social e por atribuir a ele um papel miestruturadas para a realização de entre-
de doente. E cabe ressaltar o quanto o capita- vistas individuais. Foram investigados nas
lismo contemporâneo valoriza o trabalhador entrevistas: origem dos encaminhamentos
produtivo, gerando, muitas vezes, processos à unidade, sintomas clínicos da doença
socialmente excludentes em casos de adoeci- durante o trabalho, procura dos atendimen-
mento relacionado ao trabalho. tos e serviços de saúde, encaminhamentos,
O objetivo deste estudo foi o de investigar exames realizados, entre outros. A escolha
os percursos terapêuticos de trabalhadores de entrevistas individuais se deu pela im-
em situação de afastamento do trabalho e portância da escuta e pela possibilidade de
acometidos por LER/Dort atendidos em um analisar as experiências individuais viven-
serviço de saúde. ciadas pelos trabalhadores. As entrevistas
ocorreram em sala apropriada na unidade
no CRST-Leste e foram gravadas e trans-
Métodos critas na íntegra, para análise de conteúdo
temática17. Segundo a autora, é uma prática
O estudo é exploratório, descritivo, retros- de pesquisa qualitativa metodologicamente
pectivo e com ênfase em resultados qua- orientada, a qual pressupõe algumas etapas:
litativos. O estudo teve duas etapas e foi pré-análise; exploração do material ou codi-
realizado no Centro de Referência em Saúde ficação; tratamento dos resultados; inferên-
do Trabalhador (CRST) da região Leste cia; e interpretação. Primeiramente, ocorreu
(CRST-Leste), no município de São Paulo. uma leitura flutuante e exaustiva dos de-
O município de São Paulo possui 06 Centros poimentos, e, posteriormente, a análise dos
de Referência em Saúde do Trabalhador dados e a definição das categorias temáticas.
(CRST), sendo um em cada macrorregião de Todos os participantes assinaram o Termo
saúde do município: região Oeste, Sudeste, de Consentimento Livre e Esclarecido
Sul, Norte, Centro e Leste, respectivamente, (TCLE). E a pesquisa foi aprovada pelo
tendo sido implantados no período entre os Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
anos de 1989 e 1992. Federal de São Paulo (Unifesp), sob nº
Na primeira etapa deste estudo, foi obtida 1.666.746.
uma listagem e análise documental de pron-
tuários abertos no período de 01 de janeiro
de 2014 a 30 de junho de 2015 de trabalhado- Resultados e discussão
res atendidos nesse serviço, e para a seleção
de sujeitos para a segunda etapa do estudo. Da primeira etapa, foram abertos, no período
Os critérios de seleção foram: registros de considerado, um total de 642 prontuários, e
queixas de sintomas osteomusculares e re- selecionados apenas 66, que atenderam aos
lacionados ao trabalho, com diagnóstico critérios de seleção do estudo. Dos prontu-
clínico estabelecido para o grupo ‘trans- ários analisados, 66,4% (429) eram de su-
tornos dos tecidos moles’, da Classificação jeitos que exerciam a função de agentes de
Internacional de Doenças (CID-10), e que zoonoses da Zona Leste do município de

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São Paulo e que foram atendidos na Unidade motorista (1), encarregada de sessão de
nesse período através do Programa de Saúde costura (1), operador de máquinas (1), balco-
do Trabalhador e de Controle de Zoonoses nista (1), operador de escavadeira (1), costu-
e Animais Sinatrópicos (PST CZAS), da reira (1), faxineira (1), bancária (1), auxiliar de
Secretaria Municipal de Saúde, de São Paulo. serviços gerais (1) e auxiliar de cozinha (1).
Sugere-se que esses dados sejam analisados Para preservar a identificação dos su-
em futuras pesquisas. jeitos, foram utilizados nomes fictícios. A
Com relação às formas de encaminha- partir da análise das entrevistas, surgiram
mento ao serviço, dos prontuários selecio- quatro categorias temáticas: o agravamento
nados, identificou-se o seguinte: vieram de da doença e a procura por assistência; a luta
sindicatos (31,8%), serviços de saúde (19,7%), pela comprovação da doença; os tratamentos
demanda espontânea (13,6%), indicação e o modelo biomédico; e INSS e sofrimento.
de munícipe (13,6%), entre outras. O baixo
número de encaminhamentos de serviços de O agravamento da doença e a procu-
saúde públicos pode indicar a pouca articu- ra por assistência
lação, tão necessária, com a Rede de Atenção
em Saúde. Dos prontuários analisados, a Os primeiros sintomas que os trabalhadores
maioria dos sujeitos era do gênero feminino relataram foram dores osteomusculares, que
(60,3%). O fato de as mulheres serem mais consideravam leves, inicialmente, e que ocor-
acometidas por LER/Dort foi corroborado riam, em geral, durante a realização das tarefas
em outros estudos6,19. Não há um consenso de trabalho ou no final da jornada de trabalho.
sobre os motivos, mas há explicações rela-
cionadas à divisão sexual do trabalho por re- [...] começa a dar aquelas fisgadas, e, aí, no
lações de gênero e, também, devido à dupla caso, você está sentindo dor, mas você acha que
jornada de trabalho (15). Ainda, segundo é uma dor passageira. (Jailson, operador de
Houvet e Obert6, as mulheres procuram mais retroescavadeira).
os serviços de saúde. A média de idade dos
sujeitos foi de 46,0 anos (DP=10,6), com es- A dor, enquanto não impunha alguma limi-
colaridade baixa (44,0%), sendo considerado tação nas atividades de trabalho, era aparente-
nível baixo até o ensino médio incompleto. mente ‘naturalizada’. A dor é um sintoma que
Com relação à baixa escolaridade, esta pode não é possível mensurar objetivamente e, fre-
ser associada à exposição às condições insa- quentemente, refere-se, também, a um sofri-
tisfatórias de trabalho, decorrentes das opor- mento relacionado ao trabalho. Sendo assim,
tunidades de trabalho3. gestos acelerados podem ser estratégias de
Da segunda etapa das entrevistas, partici- defesa, e alguns trabalhadores aumentam as
param dez (10) sujeitos, sendo quatro (4) do cargas produtivas, na tentativa de satisfazer
gênero masculino e seis (6) do gênero femini- as necessidades do contexto de produção, em
no, com idades entre 35 e 58 anos. A maioria busca de reconhecimento pelo trabalho20.
dos trabalhadores estava, no momento das E quando a dor começou a repercutir
entrevistas, em situação de desemprego (6), nas atividades da vida diária, incluindo as
dois (2) estavam ativos e dois (2) em situa- laborais, os sujeitos passaram a praticar a
ção de afastamento do trabalho pelo INSS. O automedicação.
tempo de afastamento do trabalho pelo INSS
variou de 1 mês a 9 anos, onde alguns sujeitos […] Ah, isso que é bom pra dor? Dorflex, Parace-
estavam, por um longo período, em situação tamol, Voltaren, então é isso... até não dar mais...
de afastamento do trabalho (3). As profis- até o dia que eu cheguei e não conseguia pentear
sões foram variadas. Entre elas: ajudante de o cabelo! (Eliane, diarista).

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A automedicação para alívio de sinto- [...] já não tava conseguindo firmar o tecido,
mas dolorosos e para o atendimento das né?, para manter a costura, aí eu falei para o pa-
demandas de trabalho é citada em outros trão: ‘amanhã não venho, porque vou ao médi-
estudos10,20,21. E os medicamentos mais uti- co. Minha mão está doendo muito!’. (Adelaide,
lizados pelos entrevistados foram os anti- costureira).
-inflamatórios e relaxantes musculares, que
são geralmente os medicamentos de fácil Ocorrem, então, os primeiros indícios de
obtenção em farmácias. uma identidade de doente, marcada pelas
Também há por parte dos trabalhadores o incertezas quanto ao desempenho laboral no
medo de se mostrarem doentes e do desem- trabalho e pelo sofrimento gerado7. E diante
prego, fazendo com que permaneçam nessa da condição e da situação dos sujeitos com o
condição e, com isso, retardando a procura agravamento dos sintomas e da cronificação
pelo atendimento em saúde. da doença, os serviços de pronto atendimen-
to foram os principais procurados.
[...] o chefe fica olhando como se você tivesse
fazendo corpo mole, então você ficava ali tra- [...] ia no pronto-socorro, porque pronto-socorro
balhando [...] quando era época de corte, você você pode ir de noite […] eu fui à noite no pronto-
sabia que podia ser mandado embora. (Vagner, -socorro. Eu saia do trabalho e ia para o pronto-
operador de máquinas). -socorro de tanta dor! (Paula, bancária).

O medo do desemprego pode levar o O serviço de saúde emergencial apareceu


trabalhador a se desligar tanto dos sofri- como um importante recurso utilizado pelos
mentos físico e psíquico quanto dos seus sujeitos, porém, com limitações significan-
pares, conduzindo ao individualismo e à tes quando se pensa em necessidades de um
submissão aos riscos do trabalho2. O si- cuidado integral à saúde, pois o atendimento
lêncio coletivo com relação à doença e ao visava apenas a sanar a queixa principal do
sofrimento no trabalho é uma estratégia paciente, a dor. A procura por um serviço
de defesa que protege o trabalhador da de pronto atendimento ocorreu por vários
angústia pelo medo das consequências da aspectos, segundo os sujeitos: para alguns,
doença13. Com isso e diante das exigências por ser uma possibilidade do atendimento
neoliberais e capitalistas para manutenção em período/turno extralaboral; para outros,
do emprego, os casos foram se agravando, pelo atendimento junto ao médico da queixa
sem a devida atenção à saúde dos traba- principal, a dor (a agudização da dor já
lhadores. Em um cenário de maior compe- crônica), ocorrer de modo ‘rápido’.
titividade, as empresas, visando à redução Nos atendimentos, não houve nenhuma
de custos da produção, à melhoria da recomendação para um afastamento mais
qualidade de produtos, serviços e da pro- prolongado das atividades de trabalho nem
dutividade, investiram em mudanças de sobre restrições das atividades laborais rela-
ordem tecnológica e organizacional, que cionadas aos esforços físicos de risco.
repercutiram negativamente nas relações
e condições de trabalho2. [...] No momento da dor, ele aplicava a injeção
Os sinais de incapacidade para continuar e mandava para casa, e dava o atestado do dia
a dar conta das exigências de trabalho come- e pronto! (Sabrina, encarregada da sessão de
çaram a se desvelar, surgindo dificuldades costura).
especialmente em se manter o ritmo de tra-
balho e a qualidade, gerando medo, insegu- Nesse momento, algumas restrições
rança e angústia. físicas poderiam ser, talvez, indicadas em

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alguns casos, porém, os atendimentos foram A luta pela comprovação da doença


considerados rápidos, sem maiores inves-
tigações clínicas e com enfoque na questão Com a frequência de atendimentos em assis-
fisiopatológica da doença. Os medicamentos tência emergencial e a cronicidade dos sin-
servem às empresas como uma forma de tomas e da doença, houve a necessidade de
controle da força de trabalho, agenciada pelo maiores investigações com exames clínicos.
modelo biomédico, possibilitando estender a A realização desses exames foi o processo
vida laboral nas condições de trabalho ofere- inicial para a legitimação da doença.
cidas10. Porém, há necessidade de se ter uma
atenção à saúde dos profissionais de saúde, [...] O médico [ortopedista] mandou fazer a resso-
que se sentem, muitas vezes, impotentes nância, aí que ele viu que meu problema era sério,
com relação ao que compreendem que seja que eu não podia voltar ao trabalho. Foi quando ele
o ideal de assistência, e pelo fato de estarem me afastou. (Esmeralda, auxiliar de cozinha).
sujeitos aos dispositivos biopolíticos da
medicalização22. Todos os trabalhadores tiveram exames
Nas empresas onde havia ambulató- clínicos cujos resultados comprovaram
rios médicos, alguns trabalhadores tinham suas doenças e, portanto, ‘justificaram’ suas
acesso à medicalização. queixas dolorosas, legitimando-as. A incan-
sável busca da credibilidade relacionada às
[...] eu ia mais para tomar remédio para dor mus- queixas foi evidente entre os participantes,
cular. O médico não passa exame. Falava para haja vista a importância de uma concessão
eles da dor aqui... então, eles não passaram exa- de benefícios previdenciários. A sensação de
mes. (Vagner, operador de máquinas). desconfiança dos profissionais de saúde gera
tensionamentos entre os atores envolvidos,
Minimizando os efeitos deletérios das inviabilizando estratégias terapêuticas fun-
condições de trabalho e da execução das damentais para o cuidado, o acolhimento, o
atividades com dores, os atendimentos vínculo e a corresponsabilização pelo trata-
também ocorreram com o intuito de me- mento22. Portanto, a partir da constatação e
dicalizar as dores, sem aprofundamentos da comprovação da doença e de sua gravi-
acerca de possíveis causas relacionadas dade, por um médico ortopedista, ocorreu o
ao trabalho. As empresas têm o contro- afastamento do trabalho pelo INSS.
le privado da saúde e da segurança dos Quem possuía assistência exclusivamente
trabalhadores, a partir dos serviços espe- pelo SUS teve dificuldade ao acesso rápido a
cializados em Engenharia de Segurança um especialista, devido à demora para con-
e Medicina do Trabalho (SESMT). Com seguir um agendamento de consulta.
a participação mínima do Estado nesse
controle, as equipes dos SESMT estão [...] eu fiquei numa fila esperando ortopedista 1
subordinadas à vontade e ao mando do ano e 6 meses. Tem como você fazer tratamento
empregador para exercerem suas funções, assim se você espera tudo isso? [...] aí, eu fui no
com base na perspectiva neoliberal10. particular, que eu paguei, foi quando eu fiz esses
“Medicalizar a dor pode ser compreendi- exames. (Eliane, diarista).
da ainda como uma forma de desqualificar
o sofrimento a favor da produção”13(158). Essa informação corrobora o estudo de
Além disso, a demanda por medicamentos Dal Magro, Coutinho e Moré22, que relata-
direciona o fluxo assistencial apenas para ram que entre a espera pelo agendamento
o profissional médico, desvalorizando de consultas médicas e a realização dos
ações multidisciplinares10. exames, os trabalhadores seguem utilizando

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fármacos e permanecem expostos aos riscos registrarem maior número de acidentes ou


laborais, o que agrava ainda mais a doença. doenças ocupacionais pagam mais, por outro
Ainda, a demora para os agendamentos lado, bonificam-se as empresas que regis-
gerava sofrimento, tendo em vista a impor- tram acidentalidade menor16. Ao negar a
tância da assistência à saúde para a garantia emissão dos CATs, estão negando as influên-
de seus direitos. Sendo assim, a partir dos cias dos modos de organização do trabalho
exames e da comprovação da doença, os su- nos adoecimentos.
jeitos se afastaram do trabalho pelo INSS.
Alguns trabalhadores, mediante a negação Os tratamentos e o modelo
do registro do CAT pela empresa, procura- biomédico
ram, então, o atendimento no CRST-Leste,
local deste estudo. Em geral, o tratamento inicial para LER/Dort
esteve relacionado ao atendimento médico e
[...] ele [colega do sindicato] falou para mim: ao encaminhamento para a Fisioterapia.
‘Paula, vê se você não consegue abrir a CAT’. Ele
me deu o endereço daqui [...] porque os ban- [...] eu esperava, aproximadamente, 1 hora para
cos, eles não dão sequência, eles não assumem ser atendido e ficava cerca de 2 minutos no con-
que você sofreu isso como acidente de trabalho! sultório. Então, ele [médico ortopedista do
(Paula, bancária). convênio] só me passava fisioterapia, que já es-
tava lá no computador. (Francisco, balconista).
Além da comprovação do diagnóstico
clínico, houve a necessidade do reconhe- De acordo com os depoimentos, indepen-
cimento da relação entre a doença e o tra- dentemente do tipo de serviço, seja particu-
balho, e, para isso, o CAT deveria ter sido lar, público ou convênio, e da especialidade
emitido pela empresa. O fato das LER/Dort médica, as condutas foram semelhantes no
surgirem de modo insidioso e apresentarem que se refere ao tempo de atendimen-
uma etiologia multifatorial pode contribuir, to (breve) e às prescrições de medicamentos,
em geral, para o não registro desse comu- análises dos exames e novas solicitações (se
nicado (CAT). Além disso, as empresas não necessário), além do encaminhamento para
desejam admitir, em geral, a relação do nexo a fisioterapia e/ou cirurgia, conforme os
causal do trabalho com a doença, deixando estágios da doença e as especificidades dos
a cargo do trabalhador essa tarefa de buscar casos. Os aspectos psicossociais envolvidos
alguma comprovação. A negação do CAT é e frequentemente encontrados na situação
uma realidade no País, o que se pode inferir de afastamento do trabalho e no processo
pela queda do seu registro a partir de 200723. de reabilitação de casos crônicos não foram
Provavelmente, tal fato ocorre para evitar o abordados nem geraram encaminhamentos
ônus com o Fator Acidentário de Prevenção para outros profissionais capacitados para
(FAP), em que as empresas tendem a subno- atender a essas demandas.
tificar os acidentes de trabalho, sobretudo Ainda, alguns trabalhadores descreve-
as doenças ocupacionais. Além disso, com ram um fluxo de reabilitação física sem
a emissão do CAT, são garantidos ao tra- possibilidades de continuidade, por dificul-
balhador afastado do trabalho 12 meses de dades em agendamentos, principalmente
estabilidade na empresa após o retorno ao para aqueles que tinham acesso à saúde ex-
trabalho. O FAP é o cálculo de um seguro clusivamente pelo SUS.
pago pela empresa para custear aposenta-
dorias especiais e benefícios decorrentes [...] fiquei 1 ano e 2 meses esperando a vaga
de acidentes de trabalho. As empresas que da fisioterapia, aí chega lá faz 4 semanas de

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fisioterapia, duas vezes por semana, e acabou, e CAT no INSS, também foi motivo gerador
você vai embora, não tem o que fazer! (Eliane, de angústia e sofrimento.
Diarista).
[...] aí, não fui reconhecido porque o INSS, a mé-
O fluxo de atendimento foi pautado em dica, nem os papéis nem o exame ela olhou. Já
um modelo de atendimento por indica- passou por cima, não olhou nada. (Vagner, ope-
ção médica, focado na remissão dos sin- rador de máquina).
tomas dolorosos da doença. Quando não
existe uma linha de cuidado, o usuário Quando há o reconhecimento pelo INSS,
faz o seu próprio caminhar pelas redes nesse caso, das LER/DORT, da doença ocu-
de serviços, sendo essa prática altamente pacional, o trabalhador recebe o auxílio-
perversa, podendo levar a erros e induzir -doença acidentário (B91) e tem o direito a
ao consumo de procedimentos centrados um ano de estabilidade na empresa, o que
em exames e medicamentos, produzindo não ocorre quando recebe o auxílio-doença
custos elevados24. Além disso, é uma bar- previdenciário16. Dos entrevistados, apenas
reira para o retorno ao trabalho25. E a frag- a metade (n=5) recebeu o auxílio-doença
mentação das ações em saúde é um reflexo acidentário.
da especialização do conhecimento9. A as- Houve também uma indignação com
sistência à saúde, dessa forma, encoberta a relação às suas limitações físicas para o tra-
produção do adoecimento relacionado ao balho, e os trabalhadores se sentiram humi-
trabalho, tirando a oportunidade dos tra- lhados e injustiçados.
balhadores de revelarem a precarização
social produzida pelo capital. [...] ah, você se sente humilhado, né? É horrível!
‘Isso é só uma lesão parcial, e você pode tra-
INSS e sofrimento balhar’ [perito]. É meu braço que tá doendo...
quem sente a dor sou eu! (Marcos, ajudante de
Nos depoimentos, os sujeitos referi- caminhão).
ram sobre os modos de atendimento dos
médicos peritos. Havia uma desconfiança aparente dos
peritos com relação à real situação de com-
[...] Ele nem me deu, jogou! Ele olhou e disse: prometimento físico para o trabalho, reme-
‘o que é isso aqui?’. E jogou [exames]! E disse: tendo novamente à visão reducionista do
‘espera o resultado lá fora’. (Yara, auxiliar de modelo biomédico, sem considerar as ques-
limpeza). tões psicossociais envolvidas. A avaliação
da incapacidade laboral focada no modelo
Houve queixas de situações onde ocorre- biomédico pode reforçar e influenciar a ne-
ram relações conflituosas e de ‘descaso’ com cessidade de ações fragmentadas e reducio-
o segurado, corroborando outros estudos7,21. nistas no processo de reabilitação11,25. Ainda,
No exame pericial, o procedimento foi o mesmo com os sujeitos portando exames e
de consultar os laudos, relatórios e exames laudos de médicos comprovando a doença,
médicos, de forma aparentemente superfi- esses documentos não foram considerados,
cial, e desencadeava sentimentos de revolta e demonstrando os impasses entre os laudos
indignação, além do medo do resultado final obtidos dos setores da saúde e os da previ-
do atendimento (da questão de estar apto ou dência social. Sendo assim, os trabalhadores
não ao trabalho). afastados são constantemente questionados
Ainda, o estabelecimento do nexo nas perícias, gerando sentimento de impo-
causal, por meio do reconhecimento do tência, constrangimento e humilhação.

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Conclusões à saúde, à previdência social e às empresas,


para que possam ocorrer melhorias nos
Os percursos terapêuticos, na maioria dos processos de reabilitação dos trabalhado-
casos, iniciaram-se com a automedicação, res em situação de afastamento do trabalho
que foi uma estratégia de ‘calar’ a dor e o por LER/Dort. Também é importante dar
sofrimento, por medo do desemprego e de atenção às políticas públicas, para que sejam
perder o status social de trabalhador ativo, mais incisivas na responsabilização das em-
entre outros. A procura por uma assistência presas pela produção do adoecimento no tra-
médica ocorreu somente quando o quadro balho. Porém, agir nas relações entre capital
clínico já estava mais agravado, evidenciando e trabalho pressupõe agir em conflito com as
a busca preferencial de um serviço emergen- relações de poder políticas e empresariais,
cial para amenizar o sintoma limitante para sendo que estas últimas visam prioritaria-
o trabalho: a dor. O sintoma, na maioria dos mente ao lucro, muitas vezes à custa de ex-
casos, era tratado com a prescrição de anal- ploração da mão de obra de trabalhadores.
gésicos e anti-inflamatórios, caracterizando Além disso, há pouca intervenção do Estado
o modelo médico-assistencial direcionado à no mercado, como pressupõe o neolibera-
problemática da prescrição de medicamen- lismo. Essas são questões que, entre outras,
tos e atendendo ao modelo biomédico, em si- vêm impondo grandes desafios para o campo
tuações onde já havia quadros de agudização da saúde do trabalhador.
de casos já crônicos, levando, ainda, a uma Este estudo teve limitações no que se
busca talvez tardia por exames laboratoriais. refere à baixa amostra, por referir-se a uma
Caracterizando, inclusive, um percurso indi- população regional, não podendo, portanto,
vidual, para um problema de saúde produzi- fazer generalizações dos casos. Porém, pre-
do coletivamente. tendeu-se ressaltar e refletir sobre as dificul-
Também houve dificuldades na compro- dades encontradas pelos sujeitos acometidos
vação da doença e na busca, pelo próprio por LER/Dort. Espera-se que futuros estudos
trabalhador, de informações sobre a abertura possam aprofundar os debates e, especial-
do CAT. E entre os trabalhadores que possu- mente, promover melhorias no cuidado in-
íam convênios médicos e os que utilizavam tegral à saúde dos trabalhadores acometidos
exclusivamente o SUS, houve diferenças por LER/Dort.
especialmente no que se refere ao tempo de
espera para consultas com especialistas e
para a realização de exames. Nas condutas Colaboradores
clínicas e de reabilitação, houve a aborda-
gem embasada no modelo biomédico, não Camilla de Paula Zavarizzi participou do
atendendo às demandas psicossociais en- projeto, da obtenção, da análise, da discussão
volvidas nos processos de doenças crônicas. e da interpretação dos dados, além da elabo-
Ocorreram situações de humilhação durante ração e da revisão do manuscrito.
as perícias no INSS e desamparo pelas em- Maria do Carmo Baracho de Alencar co-
presas, gerando sofrimento. Além disso, a ordenou e orientou a pesquisa, participando
avaliação no INSS da incapacidade para o da análise, da discussão e da interpretação
trabalho também necessita de revisões. dos dados, além da elaboração e da revisão
Há necessidade de ações integradas junto do manuscrito. s

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Afastamento do trabalho e os percursos terapêuticos de trabalhadores acometidos por LER/Dort 123

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