Você está na página 1de 2

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


Autor: JESSÉ ANDRADE ARAÚJO

SEXISMO E ESTUPRO DE VULNERÁVEL: O DIREITO COMO CONSERVADOR DA


OPRESSÃO

SILVA, Matheus Tayrone Cachina. Uma análise do crime de estupro de


vulnerável praticado contra meninas a partir da criminologia feminista. FIDES,
Natal, v. 11, n. 2, ago./dez. 2020

A pesquisa apresentada no artigo "Uma análise do crime de estupro


de vulnerável praticado contra meninas a partir da criminologia feminista"
oferece uma visão penetrante e preocupante das decisões judiciais em casos de
estupro de vulnerável no Brasil. O artigo expõe de maneira clara e contundente como o
sistema judiciário muitas vezes perpetua estereótipos de gênero e falhas na proteção
das vítimas, especialmente crianças e adolescentes.
Uma das principais críticas levantadas no artigo é a falta de sensibilidade e
compreensão por parte dos magistrados em relação às vítimas. A pesquisa destaca
como o comportamento da vítima, sua vida pregressa e até mesmo o grau de
parentesco entre vítima e acusado são levados em consideração de maneira
inadequada. Isso resulta na absurda relativização da idade da vítima e na
culpabilização indevida, o que contraria claramente a legislação brasileira e os
princípios de proteção às crianças e adolescentes.
A pesquisa também destaca a morosidade do sistema judiciário em lidar com
esses casos, o que acaba por negar justiça às vítimas e perpetuar a impunidade dos
agressores. A falta de condenações adequadas e a tendência à absolvição em casos
em que a vítima é conhecida do agressor ou possui qualquer tipo de relacionamento
anterior é alarmante e demonstra a falta de compreensão do sistema judicial sobre a
natureza dos crimes de estupro de vulnerável.
Outro ponto crítico destacado no artigo é a falta de reconhecimento da
vulnerabilidade das vítimas. Os magistrados muitas vezes desconsideram a falta de
discernimento e conhecimento das crianças e adolescentes em questões relacionadas
2

ao sexo, ignorando as leis de proteção à infância e à adolescência. Isso reflete uma


postura sexista que coloca em dúvida a palavra da vítima e cria um ambiente propício à
impunidade.
Com esse fulcro, destaca-se a pertinência do capítulo 3° da obra científica
analisada. Neste capítulo, intitulado "Punição por Meio do Cárcere: Os Estereótipos", o
autor discute a eficácia do sistema de punição baseado na reclusão, argumentando
que é ineficaz. Ele menciona que o sistema penal é seletivo, punindo principalmente
pessoas pobres, pretas e residentes em áreas periféricas, enquanto a quantidade de
punições é inferior à quantidade de crimes cometidos. O autor destaca que, em vez de
simplesmente punir, é importante considerar métodos de prevenção, como a educação
sexual para crianças e adolescentes.
O texto também aborda o papel da mídia na perpetuação de estereótipos
relacionados à criminalidade e à impunidade. O autor menciona que programas de TV
e filmes muitas vezes criam uma imagem distorcida do sistema carcerário e dos crimes,
o que pode influenciar a percepção pública sobre esses temas.
Além disso, o autor destaca a importância da educação sexual, afirmando que é
responsabilidade do poder público criar programas de ensino escolar para desmistificar
questões relacionadas à sexualidade. Ele menciona um exemplo de um grupo
interdisciplinar que trabalhou com condenados acusados de crimes contra a mulher e
conseguiu desmistificar padrões de comportamento violento em alguns casos.
No geral, o capítulo argumenta que a punição baseada apenas na reclusão não
é suficiente para lidar com crimes sexuais, especialmente quando se trata de menores,
pois esses crimes estão enraizados em uma cultura machista e patriarcal. O autor
defende a necessidade de medidas mais abrangentes, como a combinação de
prevenção, proteção, assistência e punibilidade, para promover mudanças culturais e
evitar a reincidência de criminosos.
Em resumo, o artigo oferece uma análise crítica válida e alarmante das decisões
judiciais em casos de estupro de vulnerável no Brasil. Ele destaca a necessidade
urgente de reformas no sistema judiciário para garantir a proteção eficaz das vítimas e
a punição adequada dos agressores. Além disso, enfatiza a importância de uma
mudança cultural e educacional para combater os estereótipos de gênero arraigados
na sociedade e no sistema legal.

Você também pode gostar