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SÓCIO DE SERVIÇO, O LEÃO E A PREVIDÊNCIA

Vladimir Rossi Lourenço, Rodrigo Marques Moreira e Lara


Selem

“Costumo voltar atrás sim.


Não tenho compromisso com o erro”.
(Juscelino Kubitscheck de Oliveira)

A jovem figura do sócio de serviço nas Sociedades de


Advogados, recepcionada pelo Provimento n. 112/2006 da
Ordem dos Advogados do Brasil tem suscitado acalorada
discussão, em especial no que diz respeito às questões
tributárias e previdenciárias.

A última polêmica adveio da Solução de Consulta nº 116, de


4/setembro/2009 exarada pela Superintendência Regional
da Receita Federal do Brasil da 6ª RF (SRRF06) de Minas
Gerais, em resposta a questionamento feitos por Sociedade
de Advogados mineira, a respeito da incidência ou não de
imposto de renda na fonte e de contribuição previdenciária
relativamente ao pró-labore e à distribuição de lucros
recebidos pelo sócio de serviço. Segue a íntegra da ementa:

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA


FONTE – IRRF
IMPOSTO DE RENDA. SOCIEDADE SIMPLES.
RENDIMENTOS PAGOS A SÓCIO DE SERVIÇO
A isenção prevista no artigo 10 da lei n. 9.249/1995
alcança tão-somente os lucros e dividendos pagos aos
sócios de capital. Os valores pagos ao sócio de serviço
têm natureza jurídica de “rendimentos pagos pelo
trabalho”, pouco importando a denominação que se dê
à contraprestação paga pelo seu labor (remuneração,
pró-labore, lucro ou qualquer outra).
Dispositivos Legais: CTN, artigo 43, I e II e § 1º, Lei nº
4.506/1964, artigo 16, Lei nº 7.713/1988, artigo 3º, § 4º,
Lei nº 9.249/1995, artigo 10, RIR/1999, artigo 45, IN nº
93/1997, artigo 48, caput e § 5º e Lei nº 10.406/2002,
artigos 997, IV e V, 1006 e 1007.

ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS


PREVIDENCIÁRIAS
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SOCIEDADE
SIMPLES. RENDIMENTOS PAGOS A SÓCIO DE
SERVIÇO.
O sócio de serviço é segurado obrigatório do Regime
Geral de Previdência Social na qualidade de
contribuinte individual. Incide contribuição previdenciária
sobre os rendimentos auferidos pelo sócio de serviço
em decorrência de seu trabalho, respeitado o limite
máximo do salário de contribuição.
Dispositivos Legais: Lei nº 8.212/1991, artigos 12, V, “f”
e 28, III e § 5º, Lei nº 10.666/2003, artigo 4º, caput,
RPS, artigo 201, § 5º, I e II, IN nº 03/2005, artigos 9º,
XII, “b” e 71, § 5º, I e II e § 6º e Lei nº 10.406/2002,
artigos 997, IV e V, 1006 e 1007.

Alguns dias depois, em 1º/outubro/2009, a SRRF06 voltou


atrás e exarou a Solução de Consulta nº 140, reformando a
primeira e alterando seu teor, conforme segue abaixo:
ASSUNTO: IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE
– IRRF
IMPOSTO DE RENDA. SOCIEDADE SIMPLES. PRO
LABORE E DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS PAGOS A
SÓCIO DE SERVIÇO.
1. O pró labore é tributado na fonte e na declaração do
sócio de serviço.
2. A distribuição de lucros aos sócios (de capital ou de
serviço) é isenta de imposto de renda na fonte.
Contudo, existem regras que devem ser observadas
levando-se em consideração a forma de tributação da
pessoa jurídica. Se a pessoa jurídica apurar o
imposto de renda com base no lucro real e distribuir
lucros acima do montante contabilizado a este título,
haverá incidência sobre o valor que exceder aquele
apurado com base na escrituração.
3. Se o imposto de renda for apurado com base no lucro
presumido ou arbitrado, a parcela de lucro distribuída
aos sócios que exceder ao valor da base de cálculo
do IRPJ, diminuída de todos os impostos e
contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica,
não integra a base de cálculo do imposto de renda do
beneficiário, desde que a pessoa jurídica demonstre,
por meio de regular escrituração contábil (ainda que
seja sociedade simples), que o lucro efetivo é maior
do que o determinado segundo as normas de
apuração da base de cálculo do lucro presumido ou
arbitrado.
Dispositivos Legais: Lei nº 4.506/1964, artigo 16, Lei nº
7.713/1988, artigo 3º, § 4º, Lei nº 9.249/1995, artigo 10,
RIR/1999, artigo 45, IN nº 93/1997, artigo 48, caput e §§
1º, 2º 3 e 3º e Lei nº 10.406/2002, artigos 997, IV e V,
1006 e 1007.

ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS


PREVIDENCIÁRIAS
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SOCIEDADE
SIMPLES. PRO LABORE E DISTRIBUIÇÃO DE
LUCROS PAGOS A SÓCIO DE SERVIÇO.
1. O sócio de serviço é segurado obrigatório do Regime
Geral de Previdência Social – RGPS na qualidade de
contribuinte individual. Logo, incide contribuição
previdenciária sobre os rendimentos auferidos por ele
a título de pro labore.
2. Não incide contribuição previdenciária sobre os lucros
distribuídos aos sócios das sociedades simples (de
capital ou serviço) quando houver discriminação entre
remuneração decorrente do trabalho (pró-labore) e a
proveniente do capital social (lucro) ou tratar-se de
adiantamento de resultado apurado por meio da
demonstração de resultado do exercício – DRE.
3. Os valores pagos pela sociedade ao sócio de serviço,
excedentes do montante previsto no contrato social,
ou, no seu silêncio, excedentes dos limites previstos
no Código Civil (artigo 1007), como devidos ao sócio
de serviço, a título de lucro, devem ser considerados
retribuição pelo trabalho, sujeitos à incidência de
contribuição previdenciária.
Dispositivos Legais: Lei nº 8.212/1991, artigos 12, V, “f”
e 28, III e § 5º, Lei nº 10.666/2003, artigo 4º, caput, e 5º,
RPS, artigo 201, § 5º, I e II, IN nº 03/2005, artigos 9º,
XII, “b” e 71, § 5º, I e II e § 6º e Lei nº 10.406/2002,
artigos 997, IV e V, 1006 e 1007.
A mudança de posicionamento salutar às questões que
circundam a figura do sócio de serviço demonstra o quanto o
tema ainda é escasso de análise, fato que gera a não
utilização correta desse instituto, bem como o atraso na
evolução das questões societárias dentro de Sociedades de
Advogados, muitas vezes impedindo seu crescimento
estratégico.

No intuito de provocar o debate e trazer mais elementos


para discussão, passamos a analisar a natureza do sócio de
serviço e as questões tributárias e previdenciárias
abordadas junto a Superintendência da Receita Federal.

SÓCIO DE SERVIÇO

A forma que melhor harmoniza uma sociedade de


advogados, em razão de sua finalidade, que é a prestação
do serviço de advocacia, é a da “sociedade simples de
trabalho sem capital” onde o trabalho é a razão de sua
existência, na qual a participação intelectual dos sócios se
materialize em quotas de trabalho ou quotas de serviço.

A quota de serviço ou trabalho gera, evidentemente, direitos


e deveres. O dever é de contribuir para com a sociedade e
com seu trabalho compromissado. Os direitos: patrimoniais
em participar da distribuição de remuneração do trabalho; e
pessoais, também chamados de direitos políticos, como o
direito de decidir juntamente com os outros sócios a
disciplina do trabalho as despesas e investimentos, em
assuntos gerais.

Em principio a quota de serviço não tem valor patrimonial


em si, pela própria natureza e característica do sócio que é
desempenhar o próprio serviço. Mas pergunta-se: o trabalho
não tem valor, não podemos mensurá-lo?

O trabalho é intangível, depende da vontade e do


comprometimento do advogado com o seu serviço,
impossível, avaliá-lo “a priori” como se fosse de natureza
material, tangível.

Daí que a quota de serviço contribui para a sociedade de


serviços jurídicos em forma de trabalho, não podendo ter
valor patrimonial em si. O artigo 997 CC, em seu inciso V,
dispõe:

"Artigo 997: A sociedade constitui-se mediante contrato


escrito, particular ou público, que, além de cláusulas
estipuladas pelas partes, mencionará:
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja
contribuição consista em serviços".

Resultante de não ter direito patrimonial em si, o sócio


detentor de quotas de serviço não tem direito sobre
eventuais bens da sociedade, quer quando sai, por vontade
própria ou por exclusão, e não tem direito a vender sua
participação que é exclusiva de trabalhar. E do resultado do
que trabalhou, já o recebeu na constância da sua
permanência na sociedade; e se ainda tem a receber, como
resultado de seu trabalho, obviamente terá direito a recebê-
lo, em suas devidas proporções estabelecidas pelo Contrato
Social e acordo entre os sócios, quando da sua saída da
sociedade.

O sócio por quota de serviço não pode negociar, não pode


ser objeto de direito sucessório, não dá direito aos herdeiros
de receberem os eventuais haveres do sócio falecido na
sociedade e nem transferir a terceiros a sua contribuição de
serviço na sociedade, por conta da razão forte e dominante
affectio societatis entre os sócios na prestação dos serviços
jurídicos.

Os sócios de serviço têm direito de participar nos resultados


do trabalho desempenhado e dividir, na forma como
estipulado oriundo do acordo realizado em contrato entre
eles, estes resultados. O artigo 1007 do CC informa que:

"Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos


lucros e das perdas, na proporção das respectivas
quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em
serviços, somente participa dos lucros na proporção da
media do valor das quotas".

Destarte, na sociedade de advogados, pode ficar decidido,


que os sócios tenham quotas iguais de serviço e o Contrato
Social define as porcentagens de participação nos lucros de
acordo com critérios e requisitos objetivos, da forma que
melhor retratar a sociedade, acordados e pactuados entre os
sócios.

Ou, ainda, definir quotas de serviço distintas para cada


sócio. Ou seja, os sócios de serviço podem combinar
livremente, segundo lhes convenha, acerca da distribuição
dos resultados patrimoniais auferidos na prestação dos
serviços de advocacia.

Esse modelo se aplica a todo porte de escritório, pequeno,


médio ou grande. Preserva-se com isso a continuação da
sociedade, que pode manter a riqueza de anos, sem que a
eventual saída do sócio por quota de serviço possa abalar
ou extinguir a sociedade. Pode-se prever, inclusive em caso
de dissolução, qual o destino dos bens da sociedade.

Importante ressaltar que o sócio de serviço se equipara ao


sócio de indústria da extinta sociedade de „capital e
indústria‟, que previa dois tipos de sócios: i) sócios de
capital, que aportam dinheiro, créditos e outros bens ao
capital social; e ii) sócios de indústria, ou seja, um técnico
que não possuía dinheiro para investir, mas domínio de seu
ofício. Na advocacia, o capital agregado à sociedade pelo
sócio de serviço é intelectual, apenas.

IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE

O Código Tributário Nacional, ao tratar do imposto sobre a


renda e proventos de qualquer natureza, estabelece no
artigo 43, como fato gerador, a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica de renda, assim entendido o produto
do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os
acréscimos patrimoniais não compreendidos na relação
anterior.

O artigo 45 do mesmo Código define que é contribuinte do


imposto o titular da disponibilidade a que se refere o artigo
43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao
possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda
ou dos proventos tributáveis. Mas o parágrafo único dispõe
que a lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos
proventos tributáveis a condição de responsável pelo
imposto cuja retenção e recolhimento lhe caibam, surgindo
daí o nominado “imposto de renda retido na fonte” que tem
previsão nos artigos 157 e 158 da CF, havendo ainda quem
defenda a tese de que se trata de “imposto autônomo de
incidência particular, distinta da regra-matriz tributária do
Imposto Renda das pessoas físicas e jurídicas." (Roberto
Quiroga Mosquera, Tributação no Mercado Financeiro e de
Capitais, Ed. Dialética 1999, p. 171).

Nessa sistemática, cabe à fonte pagadora da renda, como


responsável tributário definido em lei, recolher no prazo legal
aos cofres da União, o respectivo imposto, retendo o valor
quando do pagamento ao beneficiário que, por óbvio, o
recebe líquido. Ou seja, cabe à fonte pagadora determinar a
incidência, calcular o imposto devido pelo beneficiário do
rendimento, deduzi-lo e retê-lo do pagamento efetuado a
este e, finalmente, recolhê-lo à repartição arrecadadora,
podendo essa exação ser definitiva – não haverá qualquer
outra espécie de complementação – ou como antecipação
por conta de um imposto futuro, maior, igual, ou menor que
o antecipado, no ajuste final, geralmente fixado com função
fiscalizatória, além do inerente propósito arrecadatório.

No caso da remuneração recebida pelo sócio de serviço,


nas Sociedades de Advogados, a base de cálculo de
eventual incidência de imposto de renda, com obrigação de
retenção na fonte, somente podem ser valores pagos,
havendo previsão estatutária, a guisa de pro labore –
contraprestação pelo trabalho –, pois nesse caso estar-se-ia
diante da hipótese de incidência de renda como produto do
trabalho (art. 43, I, CTN).

Todavia, a distribuição de lucros para o sócio de serviço se


enquadra na isenção de que trata o artigo 10 da Lei n.º
9.249/1995, primeiro porque atende a mens legis de evitar a
bitributação, pois esses lucros, da mesma forma daqueles
distribuídos aos sócios do capital, também decorrem dos
lucros da Sociedade de Advogados que já foram objeto de
incidência do imposto de renda; segundo porque a
mencionada disposição legal não faz qualquer distinção com
relação à destinação dos lucros ou dividendos – se para
sócio do capital ou de serviço –, sendo regra básica da
hermenêutica que quando o legislador não distingue ou
especifica, não cabe ao intérprete ou à norma de hierarquia
inferior fazê-lo.

As ressalvas contidas na referida Solução de Consulta n.º


140 – distribuir lucros acima do montante contabilizado ou
apurado a esse título – aparentemente visam evitar que haja
a isenção sobre lucro que supostamente não tenham sido,
anteriormente, objeto de tributação pelo imposto de renda,
pois nesse caso não haveria a bitributação.

Ocorre que, mesmo na dependência de regular escrituração


contábil, em face do princípio da legalidade, tais ressalvas
não podem prevalecer porque não há essas distinções no
artigo 10 da Lei n.º 9.249/1995, sendo aplicável ao caso a
mesma regra básica de hermenêutica acima citada, não
podendo o ente tributante alterar, inclusive conceitualmente,
ou por mera presunção – incabíveis na espécie – a natureza
jurídica do rendimento, de lucro para remuneração pelo
trabalho, para fazer incidir o imposto de renda sobre essa
parcela que entende “excedente”.

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
As fontes de custeio da Seguridade Social – conjunto
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da
sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde,
à previdência e à assistência social – são aquelas definidas,
como regra-matriz, no artigo 195 da CF, e no artigo 11 da
Lei n.º 8.212/01, sendo segurados obrigatórios as pessoas
físicas elencadas no artigo 12 da mesma lei.

A Solução de Consulta n.º 140 exarada pela


Superintendência Regional de Receita Federal do Brasil da
6º RF asseverou que o sócio de serviço seria contribuinte
individual, definido no inciso V do mencionado artigo 12,
tendo sido enquadrado na alínea “f” que dispõe: “f) o titular
de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado
e o membro de conselho de administração de sociedade
anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio
gerente e o sócio cotista que recebam remuneração
decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o
associado eleito para cargo de direção em cooperativa,
associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade,
bem como o síndico ou administrador eleito para exercer
atividade de direção condominial, desde que recebam
remuneração.”.
E definiu o salário de contribuição como aquele de que trata
o artigo 28, III, da lei citada, que assim dispõe: “para o
contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou
mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta
própria, durante o mês, observado o limite máximo a que se
refere o § 5º;” (Redação dada ao inciso pela Lei nº 9.876, de
26.11.1999, DOU 29.11.1999).

Portanto, entende-se adequada a solução da consulta


quando assevera que incide contribuição previdenciária
sobre os rendimentos auferidos pelo sócio de serviço a título
de pro labore – contraprestação pelo trabalho
necessariamente prevista no Estatuto da Sociedade de
Advogados –, não incidindo sobre os lucros distribuídos aos
sócios – sem distinção entre sócio de serviço ou de capital –
desde que haja diferenciação entre as duas espécies de
rendimentos (pro labore e lucros), podendo se tratar ainda
de adiantamento de resultado. Ou seja, os pagamentos dos
diversos rendimentos devem ter a adequada discriminação,
inclusive contábil, para que se possa identificar corretamente
os valores passíveis de serem adotados como base de
cálculo da contribuição previdenciária – no caso, apenas
aqueles pagos a título de pro labore.
Mas da mesma forma que em relação ao imposto de renda,
a solução de consulta em comento contém a ressalva de
que eventuais valores pagos aos sócios de serviço,
excedentes do montante previsto no contrato social “ou, no
seu silêncio” (sic) excedentes dos limites previstos no artigo
1007 do Código Civil, como devidos ao sócio de serviço a
título de lucro, “devem ser considerados retribuição pelo
trabalho, sujeitos à incidência de contribuição previdenciária”
(sic).

A rigor, essa ressalva padece dos mesmos vícios que


aquela referente ao imposto de renda, primeiro porque, a
teor do artigo 110 do Código Tributário Nacional, não se
pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
institutos, conceitos e formas de direito privado – lucro não
tem caráter salarial–; segundo porque as fontes de custeio
da Previdência Social estão taxativa e exaustivamente
previstas, tanto na Constituição Federal (art. 195), como no
mencionado artigo 11 da Lei n.º 8.212/01 – não se encontra
lucro “convertido” em pro labore ou salário – e por certo que
a instituição de nova fonte de custeio da Seguridade Social
só pode ocorrer por lei complementar, a teor do § 4º do art.
195 da CF, ou por lei ordinária – previstas nos incisos I a IV
do mesmo art. 195.

CONCLUSÕES:

1) O sócio de serviço, nas Sociedades de Advogados, é


figura que se aplica a todo porte de sociedade,
possibilitando o incremento da prestação de serviços ao
agregar vários profissionais, sem que haja o respectivo
comprometimento com a continuação da sociedade, no
caso da retirada daqueles.
2) É obrigação legal da Sociedade de Advogados
promover a retenção e o recolhimento do imposto de
renda na fonte quando do pagamento do pro labore aos
sócios de serviço, havendo previsão estatutária desse
pagamento.
3) São igualmente isentos os lucros distribuídos aos sócios
de serviço, nos termos do disposto no artigo 10 da Lei
n.º 9.249/1995.
4) O sócio de serviço é segurado obrigatório do RGPS na
qualidade de contribuinte individual, incidindo
contribuição previdenciária sobre os rendimentos
auferidos exclusivamente a título de pro labore,
conforme previsão estatutária.

Vladimir Rossi Lourenço é sócio da Sociedade de


Advogados Rossi Lourenço Advogados, em Campo Grande,
MS, mestre em Direito Tributário pela PUC-SP e atual Vice-
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil

Rodrigo Marques Moreira é sócio da Sociedade de


Advogados Rossi Lourenço Advogados, pós-graduado em
Direito Tributário pela Universidade Católica Dom Bosco em
Convênio com INPG – Instituto Nacional de Pós-Graduação.

Lara Selem é sócia da Selem, Bertozzi & Consultores


Associados, advogada e consultora em gestão de serviços
jurídicos. Autora dos livros “Advocacia: Gestão, Marketing e
Outras Lendas”, “Estratégia na Advocacia”, “Gestão de
Escritório”, “A Reinvenção da Advocacia” e “Gestão
Judiciária Estratégica”. MBA pela Baldwin-Wallace College
(EUA), especialista em Gestão de Serviços Jurídicos pela
Fundação Getúlio Vargas (SP), e em Liderança de
Empresas de Serviços Profissionais pela Harvard Business
School (EUA). Coach certificada pelo Integrated Coaching
Institute (ICI).

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