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Resumo:
Analisaremos no presente trabalho os procedimentos previstos na legislação para
distribuição da participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados (PLR), bem como as
regras de tributação dessa "verba trabalhista", dando ênfase ao Imposto de Renda Retido
na Fonte (IRRF), ao INSS, ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), ao Imposto
de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
1) Introdução:
De acordo com o artigo 7º, XI da Constituição Federal/1988 (CF/1988), "são direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social,
a participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei".
Com objetivo de regulamentar esse dispositivo constitucional, foram editadas diversas
Medidas Provisórias (MP), sendo a última a MP nº 1.982-77/2000. Em 19/12/2000 essa
Medida Provisória (MP) foi convertida na Lei nº 10.101/2000 (DOU de 20/12/2000), dispondo
de forma definitiva sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados (PLR)
das empresas como instrumento de integração entre o capital e o trabalho, e como incentivo
à produtividade.
Interessante observar que essa participação deve ser objeto de negociação entre a empresa
e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhido entre as
partes de comum acordo: a) comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também,
por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria ou; b) convenção ou
acordo coletivo.
Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas
quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive
mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado,
periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo
ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições:
a. índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa;
b. programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente.
Em verdade, a PLR é um dos estímulos utilizados para garantir a permanência dos
empregados e garantir a união de esforços para alcançar os objetivos da empresa. Reter
talentos em uma organização é um trabalho árduo do departamento de Recursos Humanos,
que vive em busca de novas estratégias para impedir que os melhores funcionários
abandonem a empresa na primeira oportunidade, desta forma, a PLR é uma poderosa
ferramenta para alcançar esse objetivo.
Infelizmente a falta de informação ainda gera certo desconforto e receio por parte dos
empregadores, além de dúvidas por parte dos colaboradores. Por este motivo, passaremos
a analisar nos próximos capítulos os procedimentos previstos na legislação para distribuição
da PLR, bem como as regras de tributação dessa "verba trabalhista", dando ênfase ao
Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), ao INSS, ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e à Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Utilizaremos como fonte de estudo a Lei nº 10.101/2000, bem como outras fontes citadas
ao longo do texto.
Base Legal: Art. 7º, XI da CF/1988; MP nº 1.982-77/2000 - Convertida em Lei e; Preâmbulo e arts. 1º e
2º, caput, § 1º da Lei nº 10.101/2000 (Checado pela Valor em 31/01/19).
2) Conceitos:
2.1) PLR:
No que se refere ao conceito de PLR, destacamos a definição trazida pelo ilustre professor
Sérgio Pinto Martins na obra Direito do Trabalho:
A participação nos lucros é o pagamento feito pelo empregador ao empregado, em decorrência do contrato
de trabalho, proveniente da lei ou da vontade das partes, referente à distribuição do resultado positivo obtido
pela empresa, o qual o obreiro ajudou a conseguir.
Interessante observar que a PLR não se confunde com a distribuição de lucros feitas aos
sócios, visto que a primeira é o pagamento feito pelo empregador ao empregado em
decorrência do contrato de trabalho. Já a segunda, é o pagamento feito a título de repartição
de lucros não decorrente do contrato de trabalho.
Nesta mesma obra, o ilustre professor ainda ensina:
Verifica-se do conceito que a participação nos lucros é o pagamento feito pelo empregador ao empregado
em decorrência do contrato de trabalho. Um pagamento feito a título de repartição de lucros que não seja
decorrente do contrato de trabalho poderá confundir-se com o pagamento feito aos sócios de uma
sociedade pelo resultado positivo obtido pela empresa no final do exercício. O lucro porém, a ser distribuído
é resultado positivo, não negativo, pois, por definição, empregador é aquele que assume os riscos de sua
atividade econômica, que não pode ser transferida ao operário.
Por fim, lembramos que a implantação do programa da PLR não é de caráter obrigatório,
salvo se previsto no documento coletivo da categoria respectiva, hipótese em que a empresa
deverá obrigatoriamente cumprir esta cláusula.
Base Legal: Art. 7º, XXVI da CF/1988 e; MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. São Paulo: Editora
Atlas, 2007. p. 266. (Checado pela Valor em 31/01/19).
5) Impasse na negociação:
Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da empresa resulte em
impasse, as partes poderão utilizar-se dos seguintes mecanismos de solução do litígio:
a. mediação;
b. arbitragem de ofertas finais, utilizando-se, no que couber, os termos da Lei nº
9.307/1996 (1).
O mediador ou o árbitro será escolhido de comum acordo entre as partes.
Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência unilateral de qualquer das
partes.
O laudo arbitral terá força normativa, independentemente de homologação judicial.
Nota Valor Online:
(1) Considera-se arbitragem de ofertas finais aquela em que o árbitro deve restringir-se a optar pela
proposta apresentada, em caráter definitivo, por uma das partes.
6) Periodicidade da distribuição:
É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de
participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas) vezes no mesmo
ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil.
Portanto, caso o pagamento do PLR seja feito mensalmente é do nosso entendimento que
estará em desacordo com a legislação que rege o tema (Lei nº 10.101/2000), e o valor pago
a esse título será caracterizada como sendo de natureza salarial.
Além disso, todos os pagamentos efetuados em decorrência de planos de participação nos
lucros ou resultados, mantidos espontaneamente pela empresa, poderão ser compensados
com as obrigações decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho atinentes
à participação nos lucros ou resultados.
Base Legal: Art. 3º, §§ 2º e 3º da Lei nº 10.101/2000 (Checado pela Valor em 31/01/19).
7) Substituição da remuneração:
A PLR não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem
constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio
da habitualidade.
Base Legal: Art. 3º, caput da Lei nº 10.101/2000 (Checado pela Valor em 31/01/19).
8) Empresas estatais:
A PLR, relativamente aos trabalhadores em empresas estatais, observará diretrizes
específicas fixadas pelo Poder Executivo.
Consideram-se empresas estatais as empresas públicas, sociedades de economia mista,
suas subsidiárias e controladas e demais empresas em que a União, direta ou indiretamente,
detenha a maioria do capital social com direito a voto.
Base Legal: Art. 4º da Lei nº 10.101/2000 (Checado pela Valor em 31/01/19).
9) Penalidades:
Conforme a redação dada pela Lei nº 10.101/2000, não há obrigação da empresa na
distribuição de lucros e resultados, salvo se houver negociação determinando seu
pagamento. A referida Lei apenas estabelece as regras para a concessão do pagamento da
PLR, sem entretanto prever nenhuma penalidade ou sanção pelo não cumprimento.
No caso do Acordo ou Convenção coletivo da categoria determinar o pagamento da PLR,
deverá ser observado o artigo 613, caput, VIII da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT/1943) quanto às penalidades a serem aplicadas, que assim dispõe:
Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatòriamente:
(...)
VIII - Penalidades para os Sindicatos convenentes, os empregados e as emprêsas em caso de violação de
seus dispositivos.
Como podemos verificar, o próprio documento coletivo em que for fixado o pagamento da
PLR deverá prever, dentre outras cláusulas, as penalidades para os sindicatos convenentes,
os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos.
Portanto, o empregador (ou empresa) que não pagar o PLR aos empregados, quando
previsto na respectiva Convenção ou Acordo coletivo, ficará sujeito à multa prevista no
próprio documento, a qual será aplicada pelo Auditor Fiscal do Trabalho (AFT), uma vez que
o sindicato não possui competência para a aplicação dessa multa.
Base Legal: Art. 613, caput VIII da CLT/1943 e; Art. 1º da Lei nº 10.101/2000 (Checado pela Valor em
31/01/19).
(2) A partir do ano-calendário de 2014, inclusive, os valores da citada Tabela serão reajustados no mesmo
percentual de reajuste da Tabela Progressiva Mensal do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos
das pessoas físicas.
Base Legal: Art. 3º, §§ 6º e 11 e Anexo Único da Lei nº 10.101/2000 e; Art. 1º da Lei nº 12.832/2013
(Checado pela Valor em 31/01/19).
Tabela vigente a partir de abril do ano-calendário de 2015:
Participação nos Lucros - Tabela de Tributação Exclusiva na Fonte
Base Legal: Anexo III da IN RFB nº 1.500/2014 (Checado pela Valor em 31/01/19).
Conforme consta do referido parágrafo, somente a pensão alimentícia que incidir sobre a
PLR (decorrente de determinação judicial, acordo judicial ou divórcio consensual realizado
em cartório) poderá se deduzida da Base de Cálculo (BC).
Base Legal: Art. 3º, §§ 6º e 10 da Lei nº 10.101/2000 e; SC Cosit nº 53/2013 (Checado pela Valor em
31/01/19).
(4) Leia também nosso Roteiro de Procedimentos intitulado "Dispensa de retenção: Valor igual ou inferior
a R$ 10,00". Analisaremos neste Roteiro a hipótese legal de dispensa da retenção do Imposto de Renda
e/ou das contribuições sociais na fonte, quando o valor retido for igual ou inferior a R$ 10,00 (dez reais).
Base Legal: Arts. 67 e 68, caput, § 1º da Lei nº 9.430/1996; Art. 785 do RIR/2018 e; IN SRF nº 85/1996
(Checado pela Valor em 31/01/19).
10.9) DAA:
Na Declaração de Ajuste Anual (DAA) o valor recebido será informado em Rendimentos
Sujeitos à tributação Exclusiva/Definitiva devido ao fato do rendimento da PLR não integrar
a Base de Cálculo (BC) do imposto para o beneficiário, pois trata-se de um rendimento
tributável exclusivamente na fonte.
Base Legal: Art. 17, § 1º da IN RFB nº 1.500/2014 (Checado pela Valor em 31/01/19).
(5) Quanto à CSSL, também é admitida a dedução do valor da PLR, como despesa operacional, quando
da apuração da sua Base de Cálculo (BC).
Base Legal: Art. 3º, § 1º da Lei nº 10.101/2000; Arts. 260, caput I e 526, caput, II do RIR/2018 e; PN CST
nº 99/1978 (Checado pela Valor em 31/01/19).