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A Sonata para flauta e piano op.

14 foi composta em 1961 e foi premiada no


Concurso Internacional em Nice, França, onde atraiu a atenção de Jean Pierre Rampal,
um grande flautista, que a quis tocar nesse mesmo. Apesar desta peça ser do século XX,
o primeiro andamento da mesma encontra-se na forma sonata, apresentando três secções
principais: exposição, desenvolvimento e reexposição.

Partes Exposição Ponte Desenvolvimento Reexposição Coda

Secções A B A’

Compassos 1-46 47-62 63-71 72-133 134-163 164-


184

Tabela 1: Estrutura da Sonata

Nesta obra, tanto a parte do piano como a da flauta têm igual importância, visto
que o compositor dá um uso constante às imitações e às perguntas e respostas entre os
instrumentos referidos. Além disso, ambos recorrem aos extremos das dinâmicas de
igual forma. No entanto, os centros tonais presentes são bastantes instáveis, estando em
constante mudança durante o decorrer da obra. A métrica não varia muito, apenas há
mudança no numerador, que vai estando entre 2,3, 4 e 5.

A exposição apresenta dois temas principais, o tema A e o tema B. O primeiro


tema (tema A) é caracterizado pelo uso frequente de ritmos sincopados, marcado por
stacatto e acentos. O segundo tema, designado por tema B, é-nos apresentado com um
carácter enérgico, recorrendo ao uso de dinâmicas mais intensas, como por exemplo o
forte e o fortíssimo.

O tema A inicia-se com um pequeno solo na flauta, acompanhado por alguns


acordes no piano sincopados, que apresenta ritmos divertidos em contratempo e com
acentos nos tempos fracos. O acompanhamento é formado por acordes na mão direita e
duas notas com intervalo de quinta perfeita na mão esquerda. No compasso 1, aparece o
acorde de Ré Maior na mão direita e Mi bemol e si bemol na mão esquerda, descendo
cromaticamente no quarto tempo desse compasso para Ré Bemol Maior e Ré e Lá,
respetivamente. Já no compasso 2, começa da mesma forma que o compasso 1, mas
aqui ascende cromaticamente para Mi bemol Maior na mão direita e Mi e Si na mão
esquerda. Esta sequência vai sendo repetida de várias formas do compasso 1 ao 4.
Figura 112: Tema A iniciado pelo solo da flauta (cc. 1-2)

Este tema realizado pela flauta, que tem como nota de apoio o Lá bemol, é
repetido pelo piano do compasso 13 ao 16. Em seguida, a flauta entra novamente com
uma pequena passagem de colcheias, onde o piano faz acordes em semibreve durante
esses dois compassos.

Figura 113: Tema A repetido pelo piano (cc. 13-16)

Figura 114: Passagem de colcheias com


acordes do piano (cc. 17-18)
No compasso 23, inicia-se uma frase em fortíssimo entre o piano e a flauta, onde
aparece uma escrita com acentos mais frequentes e mais aguda. Nesta parte, o piano
continua com acordes em bloco.

Figura 115: Frase em fortissimo entre a flauta e o piano (cc. 23-26)

No compasso seguinte o piano faz uma pequena introdução à série de pergunta e


resposta que virá no compasso 30. Neste compasso, o piano imita a flauta em espécie de
cânone, começando a tocar o mesmo que a flauta um tempo depois da mesma.

Figura 116: Pequena introdução à série de pergunta e resposta (cc. 27-29)

Figura 117: Cânone entre a flauta e o piano (cc. 15-16)

Esta ideia de pergunta e resposta entre os instrumentos permanece até ao


compasso 46, visto que no compasso seguinte se inicia o tema B, que como é possível
verificar é um tema que se inicia duma forma mais calma e tranquila. Inicialmente, o
piano tem apenas um acorde por compasso e a flauta faz semínimas e colcheias sem
muita mudança, sem diferenças de articulação e sem a utilização de acentos. Nesta
parte, a dinâmica passa a ser piano até ao compasso 53, onde aparece um forte súbito.

Figura 118: Início do tema B (cc. 47-50)

No compasso 53, onde aparece o forte súbito, parece que existe um regresso ao
que já foi tocado anteriormente no tema A, visto que a dinâmica volta a ser forte e
aparecem, novamente, os acentos.

Figura 119: forte súbito do piano (cc. 53.56)

A partir deste compasso, o piano faz apenas colcheias e algumas semicolcheias


numa espécie de pergunta e resposta com a flauta até ao fim deste tema, que coincide
com o fim da exposição no compasso 62.

Figura 120: Fim do tema B e da exposição (cc.


61-62)
No compasso 62, dá-se o começo de uma ponte para o desenvolvimento
interpretada pelo piano, onde se encontra a mudança de compasso para 3/4 e uma
grande construção motívica de colcheias. Esta ponte tem a duração de apenas 10
compassos, iniciando-se o desenvolvimento no compasso 72. O desenvolvimento
começa na dinâmica piano, com a indicação de leggero que significa ligeiro e com uma
articulação leve. A dinâmica começa a aumentar no compasso 76, quando são tocadas
tercinas pela flauta todas ligadas.

Figura 122: Início do desenvolvimento (cc. 71-73)

Figura 121: Tercinas da flauta com o aumento


da dinâmica (cc. 76-77)

A dinâmica vai até forte no compasso 78 e no compasso seguinte passa para


meio forte. Nesta secção, o piano tem um acompanhamento baseado em tercinas de
colcheias, enquanto a flauta faz apenas colcheias, com alguns acentos. No compasso 87,
aparece um più forte, onde o piano só tem um acorde e no compasso a seguir um
glissando que começa e acaba na nota fá sustenido. Neste ponto, aparece uma
informação de crescendo, desta forma, a intensidade começa a aumentar até com
compasso 91, local onde é iniciado um trill na nota fá sustenido na flauta e onde o piano
tem sforzando.
Figura 123: Diminuição da dinâmica (cc. 78-80)

Figura 124: Acompanhamento em tercinas do piano (c. 83-86)

Figura 125: piu forte e glissando do piano (cc. 87-89)

Figura 126: Trillo na flauta (cc. 91-93)

No compasso 95, inicia-se novamente uma pequena secção de pergunta e


resposta entre a flauta e o piano com as tercinas. Nesse compasso, a flauta faz tercinas
de colcheias durante três tempos e no compasso seguinte o piano faz o mesmo. Nos
compassos 97 e 98, o mesmo se repete com apenas uma pequena diferença. A flauta
toca dois tempos de tercinas de colcheias com a repetição da mesma nota e no compasso
seguinte, o piano toca três tempos de tercinas.

Figura 127: Pergunta e resposta de tercinas


entre a flauta e o piano (cc. 95-98)

No compasso 103, a flauta volta a fazer colcheias, tal como o piano. No entanto,
as colcheias do piano ocupam todos os tempos do compasso, já as da flauta começam
em contratempo e em alguns compassos tem pausas. Além disso, reaparecem os acentos
em alguém notas.

Figura 128: Colcheias entre a flauta e o piano (cc. 103-106)

Estas colcheias terminam no compasso 110 e passados dois compassos, o piano


faz um acorde durante dois compassos, enquanto a flauta tem duas semicolcheias e duas
colcheias quatros vezes seguidas, onde há um crescendo dinâmico de forte a fortíssimo.
Figura 129: Aumento da dinâmica (cc. 111-114)

Passado um compasso, há uma mudança súbita para um compasso 2/4 e,


seguidamente, para 3/4. O 2/4 é essencialmente marcado pela tercina de dois tempos
que faz uma analogia com o número três do compasso que logo de seguida nos aparece.
No compasso 118, a flauta volta a entrar com um tema sincopado e com algumas
tercinas ligadas, onde o piano faz colcheias em todos os compassos. Apesar disso, no
compasso 116, o piano apresenta tercinas de semínimas, onde na mão direita tem o
intervalo de quinta perfeita entre mi bemol e si bemol que desce cromaticamente em
ambas as notas até ré bemol e lá bemol e na mão esquerda apresenta o intervalo de
terceira menor entre mi e sol que também desce cromaticamente até ao ré e fá,
respetivamente. Estas tercinas feitas pelo piano são repetidas no compasso 119.

Figura 130: Mudança da métrica do compasso e regresso do tema sincopado


na flauta (cc. 115-118)

Durante alguns compassos, a dinâmica aumenta e diminui e, no compasso 123,


aparece um forte marcatto na parte da flauta. E, passados dois compassos,
encontra-se um più forte no piano.

Figura 131: Forte marcatto e più forte (cc. 123-126)


No compasso 127, inicia-se uma sequência de semicolcheias em fortíssimo da
flauta, onde o piano faz apenas algumas colcheias na mão direita e um acorde que
funciona como nota pedal durante cinco compassos. Esta sequência de semicolcheias
apresenta apenas escalas descendentes e ascendentes, entre a nota Ré 4 e Lá 5,
terminando a sequencia com uma colcheia acentuada com a nota Lá.

Figura 132: Sequência de semicolcheias na flauta (cc. 127-130)

Durante os quatros compassos seguintes, a flauta fica em silêncio, enquanto o


piano a finalizar o desenvolvimento com ritmos sincopados e tercinas. O
desenvolvimento termina no compasso 134, começando aí a reexposição (parte A’).
Neste compasso, volta o tema A, ou seja, reaparecem os acentos em tempos fracos,
alguma variedade de dinâmicas. O piano volta a tocar os acordes na mão direita já
tocados na secção A e o intervalo de quinta perfeita na mão esquerda. O acorde da parte
aguda do piano é o de Ré Maior que desde meio tom no quarto tempo e na parte mais
grave as notas Mi bemol e Si bemol que descem meio tom também no quarto tempo.

Figura 133: Início da reexposição-A' (cc. 134-135)


De seguida, a flauta repete o motivo já tocado na parte A com contratempos,
acentos e tercinas, enquanto o piano vai tocando semínimas e colcheias em acordes. Já
no compasso 145, a flauta apresenta uma escala de semicolcheias que leva a obra
novamente para um registo mais agudo.

Figura 134: Motivo idêntico ao da parte A (cc. 136-139)

Figura 135: Escala para uma parte mais aguda da obra (cc. 145-147)
No compasso 150, o piano faz uma pequena introdução à secção de pergunta e
resposta entre os instrumentos, utilizando as notas Fá bemol e Mi como notas de apoio,
que se inicia no compasso 152, tal como já apareceu anteriormente. Esta secção é
constituída por imensas colcheias, com e sem acentos. Além disso, nesta parte, a flauta
imita o piano no compasso 152 e 153. Logo a seguir, o piano toca apenas quando a
flauta tem pausas num registo agudo.

Figura 136: Introdução do piano a uma secção de pergunta e resposta (cc. 150-152)
No compasso 159, aparece novamente uma escala na flauta, mas em tercinas,
que direciona a frase para um registo agudo, acabando por voltar ao registo médio no
compasso seguinte.

Figura 137: Escala na flauta para registo agudo (cc. 159-


160)

No compasso 161, o tema reinicia novamente até ao compasso 165, onde se dá


inicio à Coda final da obra.

Esta Coda inicia-se com um fortíssimo agitato, onde a flauta retoma ao registo
agudo, aparecem vários acentos e o ritmo fica mais acelerado e com menos pausas. O
piano faz acordes em alguns tempos de cada compasso. No compasso 176, a flauta fica
a tocar a solo durante três compassos e logo a seguir, há uma espécie de retorno ao tema
feito anteriormente com uma dinâmica reduzida- piano- e pouco movimento na linha do
piano, fazendo este apenas acordes.

O andamento termina n

Figura 138: Início da CODA final (cc. 165-169)

com pouca densidade nas notas. No antepenúltimo compasso da obra, ambos os


instrumentos têm uma G. P. (grande pausa), ficando o andamento em suspense, mas
finalizando logo no compasso a seguir. A flauta termina com uma mínima na nota fá 3 e
depois uma colcheia curta em pianíssimo na nota fá 4, enquanto o piano termina com
alguns acordes com pouco movimento entre eles e com um diminuendo, como se cada
uma das vozes fosse para um registo oposto entre si.

Figura 139: Compassos finais da obra (cc. 183-185)

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