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P. M. Fonte
Setembro de 2023
(Primeira edição)
ii
Índice
iv
Índice
v
Índice
vi
Lista de figuras
LISTA DE FIGURAS
vii
Lista de figuras
viii
Lista de figuras
ix
Lista de figuras
x
Lista de figuras
Figura 2.73 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f e impedância
estatórica ................................................................................................................................. 142
Figura 2.74 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f com tensão de
offset ....................................................................................................................................... 143
Figura 2.75 – Relação V/f “real” ....................................................................................... 144
Figura 2.76 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V2/f com tensão de
offset ....................................................................................................................................... 144
Figura 2.77 – Evolução da velocidade em frenagem por amortecimento natural ............. 146
Figura 2.78 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente ........... 147
Figura 2.79 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente ........... 147
Figura 2.80 – Evolução do binário no processo de frenagem regenerativa ....................... 148
Figura 3.1 – Representação vetorial da evolução temporal da amplitude da f.m.m ............ 151
Figura 3.2 – Representação vetorial dos campos girantes e pulsante ................................ 152
Figura 3.3- Modelo equivalente de uma máquina de indução monofásica ....................... 153
Figura 3.4- Característica de potência no entreferro .......................................................... 154
Figura 3.5 – Máquina de indução monofásica de fase dividida......................................... 156
Figura 3.6 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida ................................... 156
Figura 3.7 – Máquina de indução monofásica de fase dividida e condensador de arranque
................................................................................................................................................ 157
Figura 3.8 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador de
arranque .................................................................................................................................. 157
Figura 3.9 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensador permanente
................................................................................................................................................ 158
Figura 3.10 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador
permanente.............................................................................................................................. 158
Figura 3.11 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensadores de
arranque e permanente ............................................................................................................ 159
Figura 3.12 – Variação do fluxo criado pela bobina.......................................................... 160
Figura 3.13 – Princípio de funcionamento da máquina de polos sombreados .................. 161
Figura 4.1 – Máquina de anel de Gramme......................................................................... 163
Figura 4.2 – Representação genérica do rotor de uma máquina de corrente contínua ...... 164
Figura 4.3 – Representação genérica de uma máquina de corrente contínua .................... 165
Figura 4.4 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 166
Figura 4.5 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 166
Figura 4.6 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 167
Figura 4.7 – Princípio de funcionamento de um motor de anel de Gramme ..................... 168
Figura 4.8 – Comutação da corrente no rotor .................................................................... 168
Figura 4.9 – Processo de inversão da corrente numa bobina ............................................. 169
xi
Lista de figuras
xii
Lista de figuras
xiii
Lista de tabelas
LISTA DE TABELAS
xiv
Fundamentos de máquinas elétricas- Transformadores de potência
1.1 – Introdução
1.2 – Constituição
N1 N2
1
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
O enrolamento que recebe energia elétrica é denominado primário ao passo que o que
fornece energia para jusante é denominado secundário. À semelhança das outras máquinas
elétricas o transformador é reversível podendo ser alimentado por qualquer dos lados.
a) b)
Na figura 1.3 está representado um transformador trifásico imerso com deposito recuperador.
Ao contrário do hermético tem um depósito de óleo associado. Quando o transformador está
em carga o óleo expande e aumenta o nível no depósito, quando arrefece desce e recupera o
nível inicial.
2
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
a) b)
3
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
0
i0
v1 e1 e2 v2
N1 N2
Ni
0 = 0 = 1 0 (1.1)
O fluxo ao atravessar o núcleo vai por sua vez induzir uma f.e.m. e1 no enrolamento do
primário resultando o valor eficaz E1 tal como descrito em (1.2):
d0 d
e1 = − N1 e1 = N1 0 MAX cos (t ) e1 = N1 0 MAX sen (t )
dt dt
1
O índice “0” é utilizado para indicar que o transformador está em vazio (sem carga)
4
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
E1 = 4, 44 N1 f 0 MAX (1.2)
V1 = 4, 44 N1 f 0 MAX (1.3)
V1
0 MAX = (1.4)
4, 44 N1 f
Uma vez que o número de espiras e a relutância são constantes, a indutância do enrolamento
primário (L1) também o é, pelo que, com alguma manipulação matemática facilmente se conclui
que a corrente de magnetização do núcleo é sempre constante, como se constata em (1.5).
N1
L1I 0 MAX sen (t ) = N1 0 MAX sen (t ) I 0 MAX sen (t ) = 0 MAX sen (t )
L1
N1 N V1 N V1 V1
I 0 MAX = MAX 2 I 0 = 1 I0 = 1 I0 =
L1 L1 4, 44 N1 f L1 2 2 N f 2 fL1
2
1
V1
I0 = (1.5)
L1
Como não existe dispersão magnética todo o fluxo criado no primário irá atravessar o
enrolamento do secundário. Este fluxo, pelo fato de variar no tempo, para além de induzir uma
f.e.m. no enrolamento N1 também irá induzir uma f.e.m. no enrolamento N2. Recordando a
expressão (1.2) agora aplicada ao primário e secundário do transformador, com alguma
manipulação matemática conclui-se que a relação entre as f.e.m.’s é igual à relação entre o
número de espiras, tal como indicado em (1.6).
5
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
d
N1 0
d0 d0 e1 dt
e1 = N1 e2 = N 2 =
dt dt e2 N 0 d
2
dt
e1 N1
= (1.6)
e2 N 2
Como o transformador está em vazio e é considerado ideal pode-se inferir que não existe
queda de tensão nos enrolamentos e por conseguinte as f.e.m.’s são iguais às tensões, logo (1.6)
toma a forma de (1.7).
v1 e1 N1
= = (1.7)
v2 e2 N 2
À relação entre as tensões dá-se o nome de relação de transformação em vazio. Esta é uma
das principais características do transformador e vai servir de base para o restante estudo
apresentado neste capítulo. Assim os transformadores são caracterizados pela relação que existe
entre as tensões do primário e do secundário resultando a tabela 1.1.
É importante frisar que esta denominação refere-se apenas à relação entre tensões. Mais à
frente neste documento iremos ver o campo de aplicação de cada uma destas configurações.
Com o estudo realizado até este ponto é possível deduzir o modelo de um transformador
ideal em vazio e apresentá-lo na figura 1.6. A corrente Io é a corrente absorvida em vazio que
multiplicada pela reactância de magnetização Xm representa o fluxo magnético gerado. Este ao
variar no tempo irá induzir as f.e.m.’s induzidas no primário (E1) e secundário (E2). Como não
existe fluxo de dispersão nem queda de tensão no enrolamento do primário, nem corrente no
secundário, pode-se considerar que as tensões no primário e secundário são iguais às respetivas
f.e.m.’s.
6
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Io
jXm E1 E2 =V2
V1
Na figura 1.7 está representado o diagrama vetorial do transformador da figura 1.6 como
redutor. Como o modelo é considerado ideal a corrente absorvida está 90º em atraso em relação
à tensão, uma vez que apenas está a produzir fluxo magnético. Note-se que nestes diagramas a
corrente I0 apresenta um valor muito exagerado em relação à realidade, servindo apenas para
facilitar leitura.
V2=E2 V1= E1
refª
j = 90o
(+)
Io
Ainda sob o pressuposto que o transformador é ideal vamos considerar que lhe foi aplicada
uma carga no secundário da qual resultou uma corrente sinusoidal i2. Esta corrente ao atravessar
as N2 espiras do secundário irá por sua vez criar um fluxo 2 também sinusoidal. Observando a
figura 1. 8 considerou-se num determinado instante que as grandezas elétricas têm os sentidos
indicados com o fluxo 2 em sentido oposto ao fluxo 0. Numa primeira análise depreende-se
que o fluxo 2 tenderá a desmagnetizar o circuito magnético. No entanto é preciso lembrar que
a tensão de alimentação e a f.e.m. são constantes, pelo que o fluxo 0 também terá de o ser.
Desse modo, para além de io o primário irá absorver uma corrente i com a amplitude necessária
para contrariar o efeito desmagnetizante do fluxo 2. Compreende-se assim que o fluxo
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Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
2
0
i0+i i2
v1 e1 e2 v2
N1 N2
Falta agora determinar o valor da corrente adicional i que o transformador irá absorver para
criar o fluxo e assim contrariar o efeito desmagnetizante da corrente do secundário.
Considerando que i1=i0+i e recordando o conceito de f.m.m., através de alguma manipulação
matemática obtém-se a expressão (1.8). Chega-se assim à conclusão que a corrente i é uma
imagem da corrente que circula no secundário afetada do inverso da relação de transformação.
N2
i1 = i0 + i2 (1.8)
N1
i1 N 2
= (1.9)
i2 N1
Igualando (1.7) e (1.9) verifica-se que a relação das correntes é inversa da relação das
tensões, ou seja, se a tensão diminui no secundário a corrente irá aumentar e vice-versa.
V1 N1 I 2 V I
= = 1 = 2 V1 I1 = V2 I 2 S1 = S2
V2 N 2 I1 V2 I1
Com esta análise conclui-se que a potência de entrada é igual à potência de saída, de onde
resulta a classificação de transformadores de potência. Vulgarmente os transformadores são
8
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Na figura 1.9 está representado o modelo de um transformador ideal em carga e nas figuras
1.10 a 1.12 os respetivos diagramas vetoriais. O transformador é considerado redutor.
I1 (N2/N1)I2 I2
Io
V1 jXm E1 E2 =V2 Z
(N 2/N1)I2 V2 V1 (+)
refª
j2
Io j1
I2
I1
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Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
I2
j2
(+)
V2 V1 refª
j1
Io I1
10
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
negativo. Para cada valor de indução máximo positivo existe sempre um máximo negativo de
igual valor. Na figura 1.14, à área representada dá-se o nome de ciclo de histerese. Do cálculo
da área fechada resulta as perdas magnéticas associadas ao ciclo de histerese.
B [T]
0,8
0,6
0,4
0,2
H [A/m]
0
-2000 -1000 0 1000 2000
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1
PH = K H fBmax
n
(1.10)
Compreende-se assim que as perdas por histerese são perdas ativas e dependem da indução,
uma vez que quanto maior for a indução maior será o ciclo de histerese. Dependem também da
frequência, a cada período de onda perde-se uma quantidade de energia equivalente ao ciclo de
histerese, logo, quanto mais ciclos houver por unidade de tempo maior é a energia perdida.
Finalmente depende do tipo de material do núcleo, na tabela 1.2 estão representados alguns
valores do coeficiente de Steinmetz.
11
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Existem ainda outras perdas denominadas perdas por correntes de Foucault. Estas existem
porque o material do núcleo magnético além de possuir elevada permeabilidade apresenta
reduzida resistividade, logo baixa resistência elétrica. Assim, quando sujeito à ação de um
campo magnético variável no tempo vai ser sede de f.e.m. induzidas. Estas f.e.m. originam
correntes circulares (em sentido contrário à da bobina) que conduzem ao aquecimento do
núcleo, logo a perdas térmicas. Na figura 1.15 estão representadas de uma forma genérica
correntes de Foucault num núcleo magnético.
Estas correntes são proporcionais à variação do valor do fluxo, quer em amplitude quer no
tempo, portanto, proporcionais à frequência. Assim, as perdas por correntes de Foucault
dependem do valor máximo da indução magnética Bmax, e da frequência, determinando-se
através de (1.11). O valor de n é o mesmo das perdas por histerese.
PF = K F f 2 Bmax
n
(1.11)
12
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Como veremos mais adiante o coeficiente KF está relacionado com aspetos construtivos, mas
um dos mais importantes é a secção do núcleo. Quanto maior for a secção menor será a
resistência à circulação das correntes de Foucault, e consequentemente maiores as perdas. À
soma das perdas por histerese e por correntes de Foucault dá-se o nome de perdas magnéticas.
Por abuso de linguagem também são denominadas perdas no ferro, embora genericamente os
núcleos não sejam feitos apenas de ferro, mas de ligas de ferro com cobalto, tungsténio,
alumínio e outros metais. Assim as perdas no ferro resultam da soma de (1.10) e (1.11)
resultando (1.12). Na falta de valores mais exatos considera-se que n = 2.
PFE = K H fBmax
2
+ K F f 2 Bmax
2
(1.12)
i1
N1 N2
a) b)
Deste modo o coeficiente KF da expressão (1.11) pode ser determinado por (1.13), em que
kE é a resistividade das chapas magnéticas, a sua espessura em milímetros e V o volume.
K F = k E V (1.13)
Além da laminação procura-se que os materiais que constituem os núcleos tenham elevada
resistividade, como tal adiciona-se silício para aumentar a resistividade das chapas magnéticas
sem incrementar o ciclo de histerese. Atualmente em quase todos os transformadores e em
certas partes das máquinas elétricas rotativas utiliza-se chapa laminada a frio (chapa de cristais
orientados) com percentagem de silício de 3%. Nas chapas laminadas a quente a percentagem
de silício é de 4 a 5%.
13
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Recordando a figura 1.13, idealmente a corrente estaria 90º atrasada em relação à tensão de
alimentação, o que equivaleria a um desfasamento temporal de 5 ms. No entanto a figura 1.13
demonstra que o atraso é menor, consequentemente o ângulo de desfasagem entre a tensão e a
corrente em vazio é menor do que 90º. Assim o diagrama vetorial da figura 1.7 pode ser
substituído pelo diagrama da figura 1.17.
Verifica-se que a corrente absorvida tem uma componente reativa, correspondente à criação
do fluxo magnético, bem como uma componente ativa. Como o transformador está em vazio
esta componente terá de representar as perdas por efeito de Joule no núcleo2 do transformador,
ou seja, as perdas no circuito magnético. Desse modo o modelo da figura 1.7 passará ter a forma
da figura 1.18.
Io
Ip Im jXm E1 E2 =V2
V1 Rp
Assim as perdas são representadas por uma resistência fictícia Rp que ao ser atravessada pela
corrente fictícia Ip, irá, matematicamente, dissipar a mesma energia que na realidade se dissipa
no núcleo. Como as perdas por histerese e corrente de Foucault são constantes devem ser
representadas num ramo em paralelo, de modo a não serem influenciadas pela variação da
corrente na carga.
2
Por abuso de linguagem, o termo perdas no núcleo e comumente substituído por “perdas no ferro”
14
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V2 V1
(+)
(N 2/N1)I2 refª
j1 I2
j0
I1
Io
V2 V1
(+)
(N 2/N1)I2 refª
j2
I2
j1
Io
I1
I2
j2
(+)
V2 V1 refª
j1
j0 I1
Io
Até ao momento considerou-se que o fluxo magnético estava todo contido no núcleo
magnético, ou seja, o fluxo produzido pelo primário era conduzido na totalidade até ao
secundário. Recordando a análise feita no ponto 1.3.1, na verdade existe sempre uma porção de
fluxo magnético que se fecha pelo ar em torno das bobinas existindo assim dispersão magnética,
15
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
tal como indicado nas figuras 1.22 a) e b). A dispersão ocorre ao redor da bobina, neste caso é
apresentada apenas de um dos lados para simplificar o desenho.
21 12
i1 i2
+ + + +
d2 N
+ +
v1 ~ e1 N1 N2 e2 e1 N1 2
e2 ~ v2
-
d1
-
- - - -
a) b)
A bobina N1 ao ser percorrida por uma corrente i1 esta irá produzir um fluxo 1 = d1 + 21.
Porém apenas o fluxo 21 irá percorre o circuito magnético e atravessar a bobina N2 para induzir
a f.e.m. e2 enquanto d1 se irá dispersar. A mesma análise pode ser feita através do enrolamento
secundário. Este facto põe em causa os pressupostos que levaram à definição da relação de
transformação em vazio e à expressão (1.6). Assim surge a necessidade de se modelizar o fluxo
de dispersão. Esta modelização é conseguida com a introdução de uma bobina em série com os
enrolamentos, uma vez que este fluxo varia com a corrente da carga. Desta forma o fluxo de
dispersão é contabilizado fora do núcleo magnético que continua a ser considerado ideal e a
expressão (1.6) continua a ser válida.
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Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
N2
I2
R1 jX1 N1 jX2 R2
Io
I1 I2
V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2
N1 N2
E2 = ( R2 + jX 2 ) I 2 + V2 (1.14)
N1
E1 = E2 (1.15)
N2
E1
Ip = (1.16)
Rp
E1
Im = (1.17)
jX m
I0 = I p + I m (1.18)
N2
I1 = I 0 + I2 (1.19)
N1
V1 = ( R1 + jX1 ) I1 + E1 (1.20)
Pela observação do modelo da figura 1.23 e das expressões anteriores é possível traçar na
figura 1.24 um diagrama vetorial do funcionamento de um transformador real como redutor
com carga indutiva. Partindo da tensão do secundário V2 como referência e da posição da
corrente da carga I2 determina-se a q.d.t. no secundário obtendo-se a f.e.m. E2. Seguidamente
com a relação de transformação obtém-se a f.e.m. E1 do primário. Com esta determinam-se as
correntes Ip e Im. A corrente Ip é colinear com E1 e Im noventa graus em atraso. A soma vetorial
destas duas componentes permite obter a corrente Io que somada vectorialmente com (N2/N1)I2
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Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V1
E1
E2 X 1I 1
R 1I 1
X 2I 2
j1 V2
j2
refª (+)
j0 I2
R 2I 2
Io I1
Figura 1.24 – Diagrama vetorial de um transformador real com carga indutiva (redutor)
Este diagrama deve ser interpretado da seguinte forma, qual deverá ser a tensão que deve ser
aplicada no primário para poder alimentar uma carga RL que consome uma corrente de
amplitude I2 garantindo o valor da tensão V2.
Analisando o modelo da figura 1.23 e as expressões (1.21) e (1.22) verifica-se que é possível
obter-se uma imagem da corrente I2 e da f.e.m. E2 a partir do primário, bastando para isso
conhecer a relação de transformação.
N1
E1 = E2 (1.21)
N2
N2
I 2' = I2 (1.22)
N1
E 1 = mE2 (1.23)
18
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
I2
I 2' = (1.24)
m
De igual modo podemos ter uma imagem da impedância do secundário vista do primário.
Para tal fazemos o seguinte raciocínio; se uma impedância no secundário pode ser determinada
com a corrente e a tensão no secundário, (1.25).
V2
Z2 = (1.25)
I2
V2' mV2 V
Z =
'
2 Z 2' = Z 2' = m2 2
I 2' I2 I2
m
Z 2' = m2 Z 2 (1.26)
Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2
N1 N2
19
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V1
'
V 1 V
Z1' = Z1' = m Z1' = 2 1
1
I1' mI1 m I1
Z1
Z1' = (1.27)
m2
Io
I1' I2
2 Ip Im 2
V1 V1/m Rp/m jXm/m V2
N1 N2
R1
2 (
PJ 1 = R1 I12 = mI1 ) = R1' I1'2
2
(1.28)
m
A potência é a mesma quer seja calculada com os valores reais do primário quer seja
calculada com os valores reduzidos ao secundário. Esta redução das grandezas é bastante
cómoda quando se trabalha com redes com mais do que um transformador.
16 kV/30 kV 30 kV/0,4 kV
20
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
N2 N2
I2 I2
R1 jX1 N1 jX2 R2 R1 jX1 N1 jX2 R2
Io Io
I1 I2 I1 I2
VG Rp Ip Im jXm Rp Ip Im jXm V2
E1 E2 E1 E2
N1 N2 N1 N2
Se for aplicada uma carga vai passar a circular corrente na rede com consequente q.d.t. nos
transformadores. Para se manter a tensão constante no fim da linha (V2) é necessário ajustar a
tensão na geração (VG) calculando as q.d.t. nos enrolamentos e aplicando sucessivas relações
de transformação. Se as impedâncias forem todas reduzidas ao primário do primeiro
transformador o cálculo das q.d.t. é feito com o mesmo nível de tensão não sendo necessário
aplicar sucessivas relações de transformação sempre que a carga variar.
Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2
N1 N2
21
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
( R + jX
1 1 + m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' < ( R1 + jX1 ) I1 + ( m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' (1.29)
No caso do modelo da figura 1.30, modelizado na expressão (1.30), introduz-se um erro por
excesso uma vez que se considera que a corrente em vazio para além de atravessar o
enrolamento do primário também atravessa o do secundário, apresentando uma q.d.t. e perdas
por efeito de Joule maiores que as reais.
Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2
N1 N2
( R + jX
1 1 + m2 R2 + m2 jX 2 ) I1 ( R1 + jX1 ) I1 + ( m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' (1.30)
R e q1 = R1 + m2 R2
(1.31)
X e q1 = X 1 + m2 X 2
R1
R eq2 = + R2
m2
(1.32)
X
X eq2 = 21 + X 2
m
Nas figuras 1.31 a 1.34 estão representados os diversos exemplos de modelos aproximados
de transformadores de potência, tanto reduzidos ao primário, 1.31 e 1.32, como reduzidos ao
secundário, 1.33 e 1.34.
22
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Req1 jXeq1 I2
Io
I1
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2
N1 N2
I1 Req1 jXeq1
Io
I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2
N1 N2
Io
I2
V1 V1' Rp/m2 Ip Im jXm/m 2
V2
N1 N2
Req2 jXeq2 I2
Io
I1'
N1 N2
23
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Este ensaio consiste em alimentar um dos lados do transformador à tensão nominal deixando
o outro lado em aberto. Tomemos como exemplo o transformador da figura 1.23. Como está
em vazio a corrente no secundário (I2) é nula e consequentemente não existe q.d.t. no
enrolamento do secundário. Conclui-se assim que a tensão V2 é igual à f.e.m. E2, podendo-se
desprezar a impedância do secundário.
Por outro lado, como a corrente em vazio é bastante reduzida, pode-se, sem grande perda de
veracidade, considerar que a q.d.t. no enrolamento do primário também é nula. Desta forma
considera-se que a tensão de alimentação V1 é igual à f.e.m. E1 resultando o modelo da figura
1.35.
Io
V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2
V1 E1
= (1.33)
V2 E2
24
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
O protocolo de ensaio define que o transformador deve ser alimentado à tensão nominal (Vn)
medindo-se a tensão em ambos os lados do transformador, bem como a corrente em vazio (Io)
e a potência em vazio (Po). Como se desprezaram as perdas no enrolamento do primário devido
à corrente em vazio, a potência medida corresponde às perdas no núcleo. Por uma questão
operacional geralmente o transformador é alimentado do lado da tensão mais baixa.
P0
cos j0 = senj0 (1.34)
Vn I 0
I p = I 0 cos j 0
(1.35)
I m = I 0 senj 0
Vn
Rp =
IP
(1.36)
V
Xm = n
Im
O protocolo de ensaio exige que a tensão aplicada seja a nominal uma vez que, tal como
verificado na figura 1.13, os transformadores trabalham já na zona de saturação. conclui-se pela
figura 1.36 que não existe linearidade entre a corrente de magnetização e a indução.
0 io
Desse modo se o ensaio fosse feito a uma tensão inferior não seria possível extrapolar
diretamente o valor das perdas no ferro. Compreende-se que ao dobro da corrente de
25
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
PFE = K H fBMAX
2
+ K F f 2 BMAX
2
(1.37)
Tal como o nome indica, o ensaio consiste em curto-circuitar um dos lados do transformador
alimentando-se o outro lado até circular a corrente nominal. Por motivos operacionais, é comum
aplicar-se o curto-circuito no lado de menor tensão (maior corrente) e alimentar-se o
transformador pelo lado de maior tensão. Deste modo o sistema de alimentação não terá de
disponibilizar uma corrente tão elevada. Na figura 1.37 é apresentada a evolução temporal da
tensão e corrente num ensaio em curto-circuito.
Verifica-se que ao contrário do ensaio em vazio a corrente tem uma evolução sinusoidal
significando que o transformador está a trabalhar na zona linear não havendo saturação
magnética. Como a tensão de alimentação, denominada tensão de curto-circuito, é bastante mais
baixa que a nominal, a indução magnética também é bastante reduzida. Tomemos como
exemplo um transformador cuja tensão de curto-circuito é 5% da tensão nominal. Como a
indução magnética varia com a tensão de alimentação pode-se considerar que no ensaio em
curto-circuito a indução também é 5% da nominal. Reescrevendo a expressão (1.37) de uma
26
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
PFE = K ( BMAX )
2
(1.38)
PFE (CC ) = K ( 0, 05BMAX ) PFE (CC ) = 0, 052 K ( BMAX ) PFE ( CC ) = 0, 052 PFE
2 2
1
PFE (CC ) = PFE
400
jm2X2 m2R2 I2
R1 jX1
I1
V1cc
I1
V1cc
O protocolo de ensaio define que o transformador deve ser alimentado gradualmente até que
nele circule a corrente nominal (In), registando-se a tensão de curto-circuito (Vcc) e a potência
27
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
(Pcc). Com estes valores obtêm-se os valores da resistência e reactâncias equivalentes com as
expressões (1.39) a (1.41):
Pcc
cos jcc = senjcc (1.39)
Vcc I n
Vcc
Z cc = (1.40)
In
R1 + m 2 R2 = Z cc cos jcc
(1.41)
X 1 + m 2 X 2 = Z cc senjcc
Uma vez mais, no caso dos transformadores trifásicos as expressões são formalmente
idênticas, devendo-se, no entanto, ter em atenção o tipo de ligação.
Vcc
ucc ( % ) = 100 (1.42)
Vn
Note-se que dois transformadores podem apresentar a mesma ucc(%) porém terem diferentes
relações entre a Req e a Xeq. É possível determinar qual a percentagem de queda de tensão
resistiva e indutiva através de (1.43). Tenhamos em atenção que a soma das q.d.t. resistivas e
reativas resulta de (1.44).
R eq I n X eq I n
uccR ( % ) = 100 uccX ( % ) = 100 (1.43)
Vn Vn
ucc = uccR
2
+ uccX
2
(1.44)
28
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
O conhecimento da ucc(%) permite-nos tirar várias conclusões, por exemplo, quanto menor
for a tensão de curto-circuito menor é a q.d.t. interna no transformador. Por outro lado, quando
acontecer um curto-circuito com o transformador alimentado à tensão nominal a corrente é
maior. Substituindo (1.42) em (1.45) é possível projetar qual será a corrente de curto-circuito à
tensão nominal através de (1.46).
Vn
I cc = In (1.45)
Vcc
100
I cc = In (1.46)
ucc ( % )
Tomemos como exemplo um transformador de 2,5 MVA com ucc = 4,5% e corrente nominal
no secundário de 3437 A.
100
I cc = 3437 I cc = 76378 A
4,5
• Sobreaquecimento exagerado
• Perdas de isolamento
29
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V2 = V1' − ( R eq 2 + jX eq 2 ) I 2 (1.47)
Neste caso uma análise gráfica ajuda a entender melhor o conceito. Na figura 1.40 está
representado o diagrama vetorial da tensão de saída de um transformador em função da
amplitude da corrente, com fator de potência indutivo constante.
V’1
(+)
V2[i]
V2[i]
j2
refª
I2
2
j2
2I
Zeq
refª
I2
jXeq2I2
jcc
Req2I2
No caso concreto de uma carga indutiva verifica-se que a tensão de saída diminui com o
aumento da corrente uma vez que, apesar da alimentação ser constante, a q.d.t. interna no
transformador aumenta. Na figura 1.41 é apresentada a tensão de saída em função do fator de
potência da carga, mantendo-se a amplitude da corrente constante.
30
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V’1
(+)
V2[i]
j2 I2
V2[r]
j2
2
jXeq2I2
2I
Zeq
jcc
refª
Req2I2
Figura 1.41 – Tensão de saída para corrente constante e diferentes fatores de potência
Pela análise da figura 1.41 verifica-se que apesar da amplitude da corrente ser constante a
tensão de saída é altamente dependente do fator de potência da carga. Inclusive quando a carga
tem fator de potência capacitivo a tensão de saída é superior ao seu valor em vazio. Chama-se
a esta propriedade o efeito de Ferranti, este efeito tem particular impacto quando o
transformador à sua saída tem linhas aéreas em vazio, uma vez que estas se comportam como
capacidades.
(V ) − ( X I ) − ( R I )
2
V2 = 1
' 2
eq eq (1.48)
31
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
450
400
350 Ind.
300 Cap.
Tensão [V]
Res.
250
V'1
200
150
100
50
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Conclui-se assim, muito claramente, que alimentado o primário a uma tensão constante a
tensão de saída de um transformador depende da amplitude da carga e do seu fator de potência.
Ou seja, duas cargas a consumirem a mesma corrente originam diferentes tensões de saída.
A mesma análise pode ser feita no sentido contrário, ou seja, qual deverá ser o valor da
tensão de alimentação no primário para garantir uma tensão constante no secundário para dada
carga I2, (1.51).
V1' = ( R eq 2 + jX eq 2 ) I 2 + V2 (1.51)
Na figura 1.43 está representado o diagrama vetorial para se determinar a tensão do primário
reduzida ao secundário necessária para manter a tensão na carga constante. Neste caso
considera-se que a amplitude da corrente é constante só se alterando o fator de potência, pelo
que a q.d.t. interna no transformador é constante.
32
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V’1
V’1
(+)
2 I2
Zeq
jXeq2I2
I2 V’1
j2 I2 V2
refª
j2 Req2I2
I2
Como foi visto no ponto anterior sempre que um transformador é posto em carga a tensão
de saída no secundário varia devido à q.d.t. interna no transformador. Esta q.d.t. é
frequentemente apresentada em percentagem da tensão nominal e determinada por (1.52). Esta
regulação pode ser positiva ou negativa conforme a natureza da carga.
V1' − V2
V ( % ) = 100 (1.52)
V1'
Em termos práticos, a tensão da rede da alimentação pode não ser a apropriada para garantir
tensão constante no secundário para determinado regime de carga. Como não é possível ajustar
a tensão a montante especificamente para cada transformador instalado na rede opta-se por fazer
uma regulação local, ao nível da relação de transformação de cada máquina. À alteração da
relação de transformação chama-se regulação e é conseguida à custa de comutadores de
tomadas. Este método consiste em dotar o enrolamento com várias saídas com um número
específico de espiras permitindo obter-se diferentes relações de transformação.
Estas saídas estão instaladas no lado da tensão mais alta porque o enrolamento tem mais
espiras conseguindo-se assim uma regulação mais fina. Construtivamente é mais prático uma
vez que a secção do enrolamento é menor, além de permitir maior afastamento entre os
comutadores. Para além disso as correntes são menores em funcionamento normal bem como
os transitórios durante a comutação. Nos transformadores que apresentam alta tensão no
33
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
primário e no secundário a comutação faz-se no lado em que a tensão varia mais de modo a
poder-se trabalhar com indução constante.
Tecnologicamente estes comutadores de tomadas podem ser de dois tipos; comutador sem
tensão e comutador em carga. Os primeiros são mais económicos embora tenham a limitação
de apenas poderem ser operados com o transformador sem tensão. Os contactos do comutador
estão instalados na parte inferior dos enrolamentos e são operáveis a partir do exterior através
de um regulador.
Nas figuras 1.44 a) a d) é mostrado o conceito por detrás do comutador de carga. No caso da
figura 1.44 a) verifica-se que no momento da comutação existe um curto-circuito nas espiras
entre duas posições do comutador. Este curto-circuito pode reduzir a vida útil dos contactos do
comutador bem como contaminar o óleo com os gases que se libertam devido às descargas
parciais. Para minorar este problema é instalada uma impedância entre dois contactos de modo
a limitar a corrente no momento da comutação, além de garantir que não há interrupção de
corrente. Nas figuras 1.44 b) a d) estão representados os 3 momentos da comutação. Estes
comutadores são instalados numa cuba própria isolada do restante óleo do transformador de
modo a não haver contaminação.
34
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
a) b)
c) d)
V2 I 2 cos(j2 ) V2 I 2 cos(j2 )
(%) = 100 ( % ) = 100 (1.53)
V1 I1 cos(j1 ) V2 I 2 cos(j2 ) + Pfe + R eq I 2
Como o rendimento vai variar com a amplitude da corrente, por vezes é mais cómodo
trabalhar com valores normalizados. Nesse sentido introduz-se o conceito do fator de carga
C = I I n que irá variar entre 0 e 1. Deste modo a expressão (1.53) pode ser reescrita em função da
35
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Como o ensaio em curto-circuito é feito à corrente nominal a expressão pode ser reescrita
como (1.54):
V2 I 2 n cos(j2 )
(%) = 100 (1.54)
Pfe
V2 I 2 n cos(j2 ) + + CPcc
C
Deste modo o rendimento pode ser calculado sem a necessidade de se medir a corrente da
carga, bastando variar o fator de carga estre 0 e 1.
max
99.40% 25000
98.40%
20000
97.40%
Rendimento [%]
15000
Perdas [W]
96.40%
10000
95.40%
5000
94.40%
93.40% 0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Carga [%]
Cos (fi) = 1,0 Cos (fi) = 0,8 Cos (fi) = 0,6 Cos (fi) = 0,4 Aprox. Cos(fi) = 1,0 Pfe Pcu
Como vimos anteriormente a tensão de saída tende a variar com a carga, no entanto, se
considerarmos que a mesma se mantém contante e igual à nominal é possível fazer um cálculo
36
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
V2 n I 2 n cos(j2 ) S2 n cos(j2 )
(%) = 100 ( % ) = 100 (1.55)
Pfe Pfe
V2 n I 2 n cos(j2 ) + + CPcc S 2 n cos(j2 ) + + CPcc
C C
Na figura 1.45 está traçada uma curva de rendimento determinada com esta aproximação.
Sendo uma aproximação em que não se considera a q.d.t. interna, o rendimento resulta num
valor ligeiramente superior. Está ainda representada a evolução das perdas no transformador,
as perdas no ferro que são constantes e as perdas no cobre que variam quadraticamente com a
corrente. Verifica-se que para todas as curvas de rendimento este é máximo quando as duas
perdas se igualam, traduzido pela expressão (1.56).
rendimento é máximo quando a quantidade PFE C + Pcc C for mínima. Nesse sentido derivando
em ordem ao fator de carga e igualando a zero obtém-se a expressão (1.57)
d PFE P
+ PccC = 0 − FE2 + Pcc = 0
dC C C
PFE
C= (1.57)
Pcc
Sabendo o valor das perdas no ferro e das perdas à plena carga obtidos nos ensaios em vazio
e curto-circuito rapidamente se determina o fator de carga e consequentemente a corrente e a
potência. Estes valores de perdas estão disponíveis em qualquer catálogo comercial de
transformadores.
37
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Apesar da maioria das instalações residenciais de baixa tensão serem alimentadas por
circuitos monofásicos, desde o fim do sec. XIX que se generalizou a produção, transporte e
distribuição de energia elétrica através de circuitos trifásicos. No seguimento do estudo dos
transformadores monofásicos compreende-se que é possível criar um banco trifásico com base
em três transformadores monofásicos iguais, como representado na figura 1.46.
N1 N2 N1 N2 N1 N2
Por uma questão de simplicidade considera-se que os primários estão ligados como uma
estrela, bem como os secundários. Deste modo cada transformador operando individualmente
sobre cada fase permite construir um sistema de tensões trifásica equilibradas. A potência total
do banco é o triplo da potência individual de um transformador monofásico. Apesar de ser uma
solução relativamente rara, atualmente ainda é empregada em aplicações especiais, embora a
esmagadora maioria dos transformadores instalados na rede sejam construtivamente trifásicos.
Existem vários fatores que ditam a preferência por transformadores trifásicos em detrimento
do banco trifásico de monofásicos, embora o mais importante seja o fator económico. Um
transformador trifásico necessita apenas de uma cuba ao invés de três, um comutador de carga
ao invés de três bem como menos isoladores e travessias. Como o circuito magnético trifásico
tem menor volume do que três monofásicos diminui-se as perdas no ferro com consequente
incremento de rendimento. Por fim um sistema trifásico ocupará menos espaço no posto de
transformação ou subestação uma vez que necessitará apenas de uma cela ao invés de três celas
individuais.
38
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
N1 N1 N1
N2 N2 N2
N1
N2
N1
N2
N1
O núcleo do tipo core é menor e mais económico embora force a corrente de magnetização
a não ser igual em todas as fases e o torne ligeiramente desequilibrado em termos de fluxos.
Esse desequilíbrio é facilmente identificável medindo a corrente em vazio de cada fase.
Recorrendo ao conhecimento prévio acerca de circuitos magnéticos é fácil compreender que a
39
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
relutância total do circuito magnético vista de cada fase é diferente, pelo menos entre as fases
das colunas dos extremos e a fase da coluna central. Além de ligeiramente desequilibrados são
mais ruidosos.
Os núcleos de fluxos livres por seu lado permitem que os fluxos nas três fases sejam idênticos
uma vez que os fluxos são “livres” de escolher o seu caminho. Esta solução é bastante
dispendiosa e torna a máquina mais pesada pelo que só é utilizada transformadores de elevada
potência.
a) b) c)
Por convenção estabelece-se que o lado da tensão mais alta é caracterizado por letra
maiúscula ao passo que a baixa tensão se caracteriza por letra minúscula, tal como indicado na
tabela 1.3. Indica-se sempre primeiro a ligação de maior tensão.
40
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
A ligação em estrela caracteriza-se por ter neutro acessível, permitir dois níveis de tensão
bem como alimentação a 4 fios. Os enrolamentos necessitam de menos isolamento (tensão na
fase inferior à da linha) e maiores secções (corrente na fase igual à da linha).
A ligação em zig-zag tem neutro acessível, suporta elevados desequilíbrios de carga, permite
dois níveis de tensão e alimentação a 4 fios. Por outro lado, é mais dispendioso (mais 15,5%
cobre). Como tal é utilizado em potências até 100 kVA.
Na tabela 1.4 estão resumidas algumas características de cada tipo de ligação para igual
potência.
A designação das ligações segue a seguinte regra, segundo a norma EN60076; visto do lado
da tensão mais alta e da esquerda para a direita apresenta as notações indicadas na tabela 1.6.
41
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
42
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Na figura 1.50 está representada uma rede genérica com os transformadores indicados para
cada situação.
YNynd
220/150kV
YNynd
150/60/6kV
G G
16kV Dy 6kV
Yd
16/150kV 150/60kV
Yy YNd Yd
60/30kV 60/30kV M 6kV
60/6kV
YNynd
60/30/15kV
43
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
N2
I2
R1 jX1 N1 jX2 R2
Io
I1 I2
V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2
N1 N2
É importante entender-se o conceito de modelo equivalente por fase, uma vez que as
impedâncias, tensões e correntes são referidas a um enrolamento do transformador (por fase),
esteja ele em estrela, triangulo ou zig-zag. Assim é necessário adaptar as tensões, correntes e
impedâncias à realidade de cada ligação. Por exemplo, no caso de se trabalhar com um
enrolamento em triângulo não é possível somar diretamente a sua impedância com impedâncias
em série a montante ou a jusante. Nesse caso aplica-se o teorema de Kennelly de modo a
transformar-se a impedância do triangulo numa estrela fictícia e assim poder ser somada com
as impedâncias em série.
Nos transformadores monofásicos é fácil entender que a relação de transformação seja igual
à relação do número de espiras, uma vez que a tensão de alimentação é aplicada aos terminais
de cada enrolamento. No caso dos transformadores trifásicos a tensão é aplicada entre fases e
no caso particular das ligações em estrela ou em zig-zag a tensão é aplica aos terminais de dois
enrolamentos. Deste modo surge o conceito de relação de transformação simples (ms) e
composta (mc). A relação de transformação simples é dada pela relação das tensões simples ao
passo que a composta é dada pela relação de tensões entre fases. Este aspeto é facilmente
entendível, por exemplo, no caso de um transformador triangulo-estrela. No lado do triangulo
a tensão é aplicada aos terminais do enrolamento ao passo que na estrela é aplicada aos
terminais de dois enrolamentos. Nas figuras 1.52 a) a e) estão representadas as ligações mais
44
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Vf1 Vf2
VL1 VL2 VL1 Vf 1 1
mc = mc = mc = ms
VL 2 Vf 2 3 3
a)
Vf1 Vf2
VL1 VL2
VL1 Vf 1 3
mc = mc = mc = ms 3
VL 2 Vf 2
b)
Vf1 Vf2
VL1 VL2 VL1 Vf 1 3
mc = mc = mc = ms
VL 2 Vf 2 3
c)
d)
VL1 3V f 1
mc = mc =
VL 2 3V f 2
Vf1 Vf2
3V f 1 2V f 1
VL2
mc = mc =
3 3V2
3 V2
2
2
mc = ms
3
e)
45
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Esta condição é necessária mais não suficiente, porque no limite, dois transformadores
podem ter a mesma relação de transformação, mas tensões nominais diferentes. Esta condição
pode ser reescrita como; iguais tensões no primário e iguais tensões no secundário. Desta forma
desfaz-se a ambiguidade. Verifiquemos agora o inconveniente associado ao fato de termos dois
transformadores com tensões diferentes. Na figura 1.53 estão representados de uma forma
genérica dois transformadores em paralelo com relações de transformação diferentes. Por uma
questão de simplicidade considera-se que as tensões no primário são iguais e as do secundário
diferentes, com V2I superior a V2II. Quando se ligam os transformadores em paralelo irá circular
uma corrente entre os secundários proporcional à diferença das tensões e limitada pela
impedância dos transformadores. De igual modo, por relação de transformação irá também
circular corrente no primário, apesar do transformador estar em vazio. Esta corrente que não
alimenta a carga irá circular somente entre os transformadores provocando perdas
desnecessárias e reduzindo o rendimento.
46
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
VI VII
V1I V2I
II
III
V1II V2II
Como foi visto no ponto 1.5.2 a tensão de curto-circuito permite determinar a impedância
equivalente do transformador. Quando são ligados em paralelo são as suas impedâncias internas
que vão definir qual a carga que cada um vai tomar para si. Na figura 1.54 está representado o
modelo simplificado de dois transformadores em paralelo em que se desprezou o ramo em
derivação.
VI VII
ZeqI
II
V1I V I V2I
ZeqII
Considerando que ambos têm iguais tensões no primário e iguais tensões no secundário,
quando em carga apresentam a mesma queda de tensão interna. Partindo deste pressuposto
conclui-se através de (1.58) que a repartição de carga entre dois transformadores depende das
suas impedâncias internas.
47
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
I I Z eqII V I Z eqII
I I Z eqI = I II Z eqII = n I =
I II Z eqI Vn I II Z eqI
SI Z eqII
= (1.58)
S II Z eqI
Ou seja, mesmo que apresentem a mesma potência nominal se um deles tiver menor
impedância tomará para si mais carga. No caso de terem potências diferentes deve-se garantir
que o transformador com menor impedância equivalente apresenta a maior potência nominal.
Uma vez que a impedância equivalente nem sempre é conhecida pode-se projetar qual será
a carga tomada por cada um dos transformadores através dos valores de ucc tal como na
expressão (1.59).
I I IIn
I I Z eqI = I II Z eqII In I I Z eqI 100 = I II Z eqII 100
I InVn I IInVn
I I Z eqI I In I Z I
= II eqII IIn CI uccI = CII uccII
I In Vn I IIn Vn
CI uccII
= (1.59)
CII uccI
Para ilustrar este conceito vamos tomar como exemplo dois transformadores em paralelo
com as seguintes características:
Partindo da expressão (1.59) e após alguma manipulação matemática conclui-se que pelas
características apresentadas ambos vão dividir igualmente a carga entre si.
SI SI SI
CI uccII S u S 2 S In
= In = ccII In = = 2 S I = S II
CII uccI S II uccI S II 1 S II
S IIn 2S In 2S In
48
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
SI SI SI
CI uccII S u S 2 S In S
= In = ccII In = = 1 S I = II
CII uccI S II uccI S II 2 S II 2
S IIn 2S In 2S In
ST
ST = S I + S II ST = S I + 2S I S I = S I = 100kVA
3
S II = ST − S I S I = 300 − 100 S II = 200kVA
Demonstra-se assim que apesar de terem potências nominais diferentes como têm iguais
tensões de curto-circuito a distribuição de carga é proporcional às suas potências. Deste modo
seria possível alimentar uma carga equivalente à soma das potências nominais individuais, algo
impossível no primeiro exemplo.
Do mesmo modo pode-se determinar qual a potência máxima que se consegue extrair do
conjunto em paralelo sem que nenhum entre em sobrecarga. Consideremos dois
transformadores de distribuição com iguais tensões no primário e no secundário e as restantes
características apresentadas:
CI uccII C 4 4
= I = CI = CII
CII uccI CII 4,5 4,5
O transformador II apresenta a menor ucc pelo terá o maior fator de carga. Se estiver a
trabalhar à potência nominal, 250 kVA, o seu fator de carga é 1. Logo o fator de carga para o
transformador I resulta de:
4
CI = CI = 0,88(8)
4,5
49
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Pelo exposto conclui-se que a potência máxima que o transformador I poderá fornecer é
888 kVA quando o transformador II estiver a fornecer 250 kVA. Assim a potência máxima do
conjunto fica limitada a 1138 kVA ao invés dos expectáveis 1250 kVA.
Para além dos valores eficazes das tensões terem de ser iguais, tal como visto no ponto
1.10.1, aquando do paralelo é necessário garantir que os valores instantâneos das tensões dos
secundários dos dois transformadores também sejam iguais.
Para iniciar este estudo é necessário compreender a diferença entre terminais homólogos
(com o mesmo nome) e terminais com a mesma polaridade, uma vez que quando se ligam dois
transformadores em paralelo os seus terminais homólogos podem não ter o mesmo valor
instantâneo de tensão.
Para melhor entender este conceito tomemos o exemplo das figuras 1.55 a) e b). Em ambos
os casos os núcleos são fechados, as bobinas têm o mesmo número de espiras e as correntes são
iguais.
Por definição considera-se que quando atravessados pelo mesmo fluxo, dois terminais têm a
mesma polaridade quando simultaneamente têm o mesmo sinal em relação aos extremos
opostos, como é o caso da figura 1.55 a). Já no caso da figura 1.55 b) pelo simples fato do
segundo enrolamento ter sido enrolado no sentido contrário faz com que a diferença de
potencial seja em sentido oposto. É importante notar que em ambos os casos o valor eficaz das
f.e.m. induzidas é o mesmo.
Consideremos agora que os enrolamentos dos primários são ligados em paralelo. Ligando
entre si os terminais inferiores dos enrolamentos dos secundários (2U2), a diferença de
potencial entre os terminais do topo dos secundários (2U1) é o dobro de e2. Desta forma
podemos afirmar que dois terminais homólogos podem não ter a mesma polaridade (potencial).
Por convenção, os terminais com a polaridade mais alta são marcados com o símbolo “•”.
50
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
i1 i1
1U1 + 1U1
+
e1 1 e1 1
1U2 - -
1U2
i2
2U1
+
2U1
e2 1 -
e2
-
1
2U2
+
2U2
i2
a) b)
V3
V1 V2
51
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
1U1 2U1
V1 V2
1U2 2U2
a) b)
1U1 2U1
V1 V2
10 ms
1U2 2U2
c) d)
No caso dos transformadores trifásicos a análise é em tudo semelhante embora com algumas
particularidades que advém dos diferentes tipos de ligações.
52
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
2U
1V1 1V2 2V2 2V1
1V 2V
a) b)
1U1 1U2 2U2 2U1
1U 1U
2U
1V1 1V2 2V2 2V1
1V
2V 2W
2V
1W 1V
2U
c) d)
Consideremos agora o transformador da figura 1.58 c), uma vez mais, por analogia com a
figuras 1.57 c) e d) conclui-se que as tensões do primário e secundário estão em oposição de
fase. Deste modo verifica-se que os terminais homólogos não têm a mesma polaridade tornando
inviável a ligação em paralelo dos dois transformadores.
2U
1U 2U
1V 2V
2V
1W 2W 1W 1V
1V-1W
2W
a) b) c)
53
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
1U
2W
1U
2U
1V
2V 2V
1W
2W
1W 1V
1V-1W
2U
a) b) c)
Para identificar esta desfasagem foi introduzido o conceito de índice horário. Considerando
um relógio analógico coloca-se o vetor da tensão simples mais elevada sobre o ponteiro dos
minutos posicionado nas 12h. O vetor da tensão simples mais baixa é sobreposto ao ponteiro
das horas. Dividindo os 360º do ciclo trigonométrico pelas 12h, cada hora representa 30º, assim
o ângulo de desfasagem entre as tensões é convertido em horas. Desta forma os transformadores
passam a ser caracterizados pelas ligações dos enrolamentos e desfasagem entre tensões. O
transformador da figura 1.58 a) passa assim a ser caracterizado como um Yy0, ao passo que o
da figura 1.58 c) é caracterizado como um Yy6. O mesmo raciocínio é feito para os casos
indicados nas figuras 1.59 e 1.60, caracterizando-se como Dy11 e Dy5.
1V
Dy1 2V
2W
1W
2W 1W 1V
1W-1V
2V
54
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
1U
1U 2V
2U
1V
Dy7 2V 2W
1W
2W 1W 1V
1W-1V
2U
1U
2U
1U 2U
2U-2V
Yd1 1V 2V
2W
1W 2W 1W 1V
2V
1U
2U
2W
1U
2U-2W
1V 2V
Yd5 2V
1W 2W 1W 1V
2U
1U
2V
1U 2U
2U-2V
Yd7 1V 2V
2W
1W 2W 1W 1V
2U
1U
2U 2U
1U
2U-2W
2V
Yd11 1V
2V
1W 2W 1W 1V
2W
1U
1U
2U 2W
1V
Yz5 2V
1W 2V
2W 1W 1V
2U
1U
1U 2U
2U
1V 2V
Yz11
2V
1W 2W
1W 1V
2W
55
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
1U
1U 2U
Dd0 1V 2V 2U
1W 2W
2V-2W
1W 1V
1V-1W
1U
1U
2U
2W-2U
1V
Dd2 2V
1W
2V
2W
1W 1V
1W-1V
1U
1U 2U
2W
Dd4 1V 2V
1W 2W
2V-2U
1W 1V
1V-1W
2U 2V-2W 2W
1U 2V
Dd6 1V 2V
1W 1V
2W 1V-1W
1W
2U
1U
1U 2U
Dd8 1V 2V 2V
1W 2W
2W-2U
1W 1V
1W-1V
1U
1U 2U
2U-2W
Dd10 1V 2V
2W
1W 2W
1W 1V
1V-1W
Compreende-se assim que é vital que quando se ligam dois transformadores em paralelo os
terminais que se vão ligar tenham o mesmo potencial, sob o risco de circularem correntes
elevadas nos enrolamentos dos transformadores, com consequentes aquecimentos exagerados
56
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
e riscos de avaria. Do estudo efetuado até agora compreende-se que construtivamente os índices
horários podem ser 0 ou 6 para transformadores estrela-estela, 0, 2, 4, 6, 8 e 10 para triangulo-
triangulo e 1, 5, 7 e 11 para estrela-triangulo, triangulo-estrela e estrela zig-zag. Deste modo os
diversos índices horários foram agrupados em 4 grupos, tal como indicado na tabela 1.8
1U 1V 1W 1U 1V 1W
2U 2V 2W N 2U 2V 2W N
Considerando que as ligações do primário já estão realizadas, ligam-se duas fases homólogas
dos secundários (ou o neutro se estiver acessível) e mede-se a tensão entre os restantes terminais
homólogos. Se a diferença de potencial for nula os transformadores têm o mesmo índice
horário.
57
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
Req2II jXeq2II
I2
I2II Req2I jXeq 2I
I1 V1II'
I2I V2
V1 V1II V1I V1I'
Com este modelo é possível determinar a distribuição de carga bem como a corrente que
poderá circular entre os transformadores, no caso de terem relações de transformação ou índices
horários diferentes, através das expressões (1.60) e (1.61).
Z eq 2 I Z eq 2 II
I 2 II = I2 I2I = I2 (1.60)
Z eq 2 I + Z eq 2 II Z eq 2 I + Z eq 2 II
V1'II − V1'I
I circ = (1.61)
Z eq 2 I + Z eq 2 II
Como exemplo consideremos dois transformadores de 630 kVA, ligações Dyn5 ligados a
uma rede de distribuição a 15 kV. Por simplicidade considera-se que as tensões de curto-circuito
são iguais em módulo apresentando uma impedância equivalente por fase, reduzida à baixa
tensão, de 11,2 m. As relações de transformação em vazio são, respetivamente, 15000/400 e
15000/420. Com os primários ligados em paralelo à rede de 15 kV pretende-se determinar a
corrente que circula entre os secundários.
420 3 − 400 3
I circ = I circ = 515,5 A
11, 2e−3 + 11, 2e−3
3
Esta situação é recorrente quando a instalação já possui um transformador mais antigo com relação
15000/400 e se pretende instalar um mais recente com relação 15000/420 como foi o caso do posto de
transformação da E-Redes na Praça do Sertório em Évora.
58
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência
são iguais, bem como as tensões de de curto-circuito, mas que um dos transformadores tem o
índice horário Dyn1 e outro Dyn5. Considera-se que os ângulos das impedâncias equivalentes
são iguais, 65º. Neste caso a corrente que iria circular entre os secundários seria:
Assim se compreende a necessidade imperiosa de se garantir que os terminais que vão ser
ligados estejam ao mesmo potencial, tal como explicado em 1.10.3
59
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
1.11 – Autotransformadores
Para início deste estudo consideremos um transformador monofásico redutor com dois
enrolamentos como o da figura 1.63 a) cuja alteração nas ligações resultou na configuração
como autotransformador da figura 1.63 b). As tensões V1A e V2A são, respetivamente, a tensão
de entrada e saída do autotransformador, o mesmo acontecendo com as correntes I1A e I2A.
I1=I1A
I1 I2
V1
V1A I2A
V1 V2
V2 I2 V2A
a) b)
61
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
V1 A V +V
mA = mA = 1 2 mA = m + 1 (1.62)
V2 A V2
N1
N1I1 A + N 2 ( I1 A − I 2 A ) = 0 N1I1 A + N 2 I1 A = N 2 I 2 A I1 A + I1 A = I 2 A I1 A ( m + 1) = I 2 A
N2
I2 A
= mA (1.63)
I1 A
Tal como estudado nos transformadores verifica-se que a relação das correntes é inversa à
relação das tensões, de onde se pode concluir que, à imagem dos transformadores, a potência
de entrada dos autotransformadores é igual à de saída (desprezando as perdas).
V1 A
S2 A = V2 A I 2 A S2 A = I1 A mA S2 A = V1 A I1 A S2 A = S1 A
mA
Antes de iniciarmos esta análise devemos recordar que um autotransformador pode ser
construído à custa de um transformador de dois enrolamentos, cuja potência nominal está
intrinsecamente ligada às suas tensões e correntes nominais definidas durante a fase de projeto.
O autotransformador resultou apenas de uma alteração nas ligações elétricas não havendo
qualquer alteração construtiva. Assim consideremos os esquemas de ligações como redutor das
figuras 1.64 a) e b) e elevador das figuras 1.64 c) e d). Por uma questão de análise consideremos
V1A e V2A respetivamente como, a tensão de entrada e de saída do autotransformador, ao passo
que V1 é a tensão mais alta do transformador e V2 a tensão mais baixa.
62
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
I1A I1A
V1 V2
V2 V2A V1 V2A
a) b)
I2A I2A
V2 V1
I1A I1A
V2A V2A
V1A V1 V1A V2
c) d)
Partindo da análise da figura 1.64 a) verifica-se que as tensões V1A≠V1 e V2A=V2, ao passo
que as correntes I1A=I1 e I2A≠I2. Definindo S2A como a potência de saída como
autotransformador e S2 a potência de saída como transformador conclui-se que apesar de
intrinsecamente a máquina ser a mesma as potências podem ser substancialmente diferentes.
I2
S2 A = V2 A I 2 A S2 A = V2 A I1 A mA S2 A = V2 I1 A mA S 2 A = V2 I1mA S 2 A = V2 mA
m
mA 1
S2 A = S2 S2 A = S2 1 + (1.64)
m m
O mesmo raciocínio é válido para o caso da figura 1.64 b), com as devidas alterações nas
tensões e correntes.
No caso das figuras 1.64 c) e 1.64 d) o raciocínio é análogo aos anteriores resultando:
V1 A V m
S2 A = V2 A I 2 A S2 A = V2 A I 2 S2 A = I 2 S2 A = 1 I 2 S2 A = V2 I 2
mA mA mA
m m
S2 A = S2 S2 A = S2 (1.65)
mA m +1
63
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
V1 A = 5500V V1 A = 5500V
V2 A = 500V V2 A = 5000V
5500 5500
mA mA
S2 A = S2 = 50 500 = 55kVA S2 A = S2 = 50 5000 = 550kVA
m 5000 m 500
500 5000
a) b)
V1 A = 5000V V1 A = 500V
V2 A = 5500V V2 A = 5500V
5000 500
m m
S2 A = S2 = 50 500 = 550kVA S2 A = S2 = 50 5000 = 55kVA
mA 5000 mA 500
5500 5500
c) d)
Em qualquer dos casos, apesar da máquina ser a mesma, a potência que se consegue extrair
do autotransformador é sempre superior à que se extrai da máquina como transformador. A
explicação é relativamente simples, além de existir transferência de potência do primário para
o secundário por indução magnética, potência de transformação (ST) também existe
transferência de potência por condução elétrica (SC). A potência transferida por indução
magnética é a potência própria do transformador, o remanescente corresponderá à potência por
condução. Dependendo da configuração do autotransformador a potência por condução poderá
ser maior ou menor que a de indução. Para melhor ilustrar este conceito vamos considerar os
exemplos a) e c). Comecemos pelo caso a), verifica-se que a potência por condução é 10% da
de transformação.
S A = V1A I1A S A = V2 A I 2 A S A = V2 A ( I1 + I 2 ) S A = V2 ( I1 + I 2 )
S A = V2 I1 + V2 I 2 S A = SC + ST
64
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
S A = V1I1 + V1I 2 S A = ST + SC
Sem dúvida que a sua mais-valia em relação aos transformadores é a economia. No exemplo
da figura 1.64 a) a corrente na saída I2A é superior a I2, embora à plena carga os enrolamentos
do primário e do secundário do autotransformador sejam atravessados apenas pela corrente
nominal do transformador, para a qual foram dimensionados. Assim, apesar da máquina estar
a fornecer mais potência as perdas nos enrolamentos são as mesmas. Isto leva a que os
autotransformadores consigam, comparativamente com os transformadores, atingir
rendimentos ainda mais elevados.
Vamos agora fazer o raciocínio inverso. Consideremos uma vez mais o exemplo dos
autotransformadores das figuras 1.64 a) e c). Uma vez definidas a potência e a relação de
transformação como autotransformador é possível determinar a potência dos enrolamentos
(potência como transformador).
ST VI S VI S VI S V S V − V2 V
= 2 2 T = 1 1 T = 1 1 T = 1 T = 1A ST = 1 − 2 SA
S A V2 A I 2 A S A V1 A I1 A S A V1 A I1 S A V1 A SA V1 A V1 A
500
ST = 1 − 55000 ST = 50 kVA
5500
ST VI S VI S V S V − V1 V
= 2 2 T = 2 2 T = 2 T = 2A ST = 1 − 1 S A
S A V2 A I 2 A S A V2 A I 2 S A V2 A SA V2 A V2 A
5000
ST = 1 − 550000 ST = 50 kVA
5500
65
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
Conclui-se assim que quanto menor for a relação de transformação menor é a potência de
transformação, o que conduz a máquinas mais económicas. Desse modo é possível ter máquinas
mais potentes com menor secção de cobre nos enrolamentos. Em relação à corrente em vazio
Io, num transformador a esta atravessa apenas o enrolamento do primário, ao passo que no
autotransformador atravessa os dois. Considerando que a f.m.m. é idêntica nos dois casos
verifica-se que para o mesmo circuito magnético a corrente de magnetização é menor, (1.66).
N1
I o N1 = I o, A ( N1 + N 2 ) I o, A = I o (1.66)
N1 + N 2
Uma vez que os enrolamentos são mais reduzidos, o circuito magnético também fica mais
reduzido levando a uma diminuição do peso e do volume do circuito magnético, e
consequentemente do autotransformador propriamente dito. Com a redução do circuito
magnético e da corrente de magnetização as perdas no ferro naturalmente diminuirão também.
Como as performances dos autotransformadores são tanto melhores quanto mais a relação
de transformação se aproximar da unidade, geralmente são utilizados quando se pretendem
relações de transformação compreendidas entre 1 e 2. Deste modo podem ser utilizados para
interligarem linhas de muito alta tensão (400 kV/220 kV, 220 kV/150 kV, etc) com potências
na ordem das centenas de MVA.
Por exemplo um autotransformador de 100 MVA para interligar uma linha de 400 kV com
outra de 220 kV, necessita de ter os enrolamentos dimensionados para 45 MVA, o que é
substancialmente menor que a potência total que a máquina suporta.
Como seria de esperar esta máquina apresenta alguns pontos negativos relativamente
importantes. Um deles é o nível de isolamento exigido aos enrolamentos. Consideremos um
autotransformador com uma relação de transformação muito longe da unidade, situação
bastante desaconselhada como veremos de seguida. Suponhamos que existe uma ligação brusca
à terra no ponto indicado na figura 1.65 a), nessa situação os terminais 2U e N do secundário
ficam com um potencial em relação à terra, respetivamente de 9770 V e 10000 V.
66
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
1U
1U
10 kV
2U
10 kV
2U
230 V
230 V
N N
N N
a) b)
Nesse sentido é forçoso que exista uma ligação à terra do terminal do neutro, no caso de
máquinas monofásicas ou trifásicas em estrela ou zig-zag. Mesmo assim existe o risco de, no
caso de interrupção do enrolamento de baixa tensão, aparecer uma tensão de 10 kV ao terminal
2U da baixa tensão. Estas situações são potencialmente perigosas para o utilizador. Ao contrário
dos transformadores os autotransformadores não apresentam isolamento galvânico entre o
primário e o secundário. Assim, para lá dos motivos económicos, a segurança também tem um
forte impacto levando a que a relação de transformação sejam o mais próximo possível da
unidade.
Por outro lado, as como correntes de curto-circuito também são superiores às registadas
como transformador. Consideremos o exemplo da figura 1.66, este não é mais do que a
particularização do exemplo 1.74 a) quando ocorre um curto-circuito no secundário.
Icc
V1 Z1
Icc
V1A
Z2 V2A = 0
67
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores
V1
I1ccT = (1.67)
Z eq1
V1 A
I1ccA = (1.68)
Z eq1
V1 A V V V +V
I1ccA = I1ccA = 1 1 A I1ccA = I1ccT 1 2
Z eq1 Z eq1 V1 V1
1
I1ccA = I1ccT 1 + (1.69)
m
68
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
2.1 – Introdução
A máquina de indução, tal como o próprio nome indica, funciona segundo o princípio da
indução magnética podendo genericamente ser dividida em dois grupos distintos, as máquinas
rotativas e as máquinas estáticas (transformadores), tendo sido estas últimas já alvo de estudo.
Em aplicações eletromecânicas em corrente alternada que exijam potências acima de 1 kW, as
máquinas de indução são sem dúvida as mais utilizadas. Construtivamente podem ser
monofásicas, bifásicas ou trifásicas, embora seja muito raro encontrar-se aplicações para
máquinas elétricas bifásicas, principalmente porque a distribuição de energia é
maioritariamente feita de forma monofásica ou trifásica.
4
Apesar de na generalidade a corrente ser produzida por uma fonte de tensão, vulgarizou-se o termo
corrente alternada ao invés de tensão alternada.
69
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
2.2 – Constituição
Cavas
Dentes
Bobinas
O rotor, como veremos mais adiante, está sempre em curto-circuito e pode ser de dois tipos:
em gaiola de esquilo ou bobinado. As máquinas de rotor em gaiola de esquilo são utilizadas
maioritariamente quando são necessários binários de arranque relativamente reduzidos. Para
baixas potências o rotor é formado por barras de alumínio, moldadas injetando alumínio
fundido nas cavas previamente abertas nas chapas magnéticas do rotor. Estas barras, que
também podem ser constituídas por cobre, são curto-circuitadas por meio de anéis, tal como
representado na figura 2.2.
70
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Para máquinas de elevada potência, ao invés de se utilizar técnicas de injeção, são inseridas
barras de alumínio ou cobre previamente moldadas nas cavas do rotor e posteriormente
soldadas aos anéis laterais. Os rotores com barras em cobre garantem menores perdas e
consequentemente melhores rendimentos, mas pelo seu custo são utilizados em aplicações
especiais em que o aumento do rendimento compense o custo.
71
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
alimentação
reóstato
veio
Mais à frente neste texto serão estudadas com mais profundidade as mais-valias de se
utilizar um motor com esta configuração.
Tal como foi indicado anteriormente esta máquina funciona segundo o princípio da indução
magnética, tal como os transformadores de potência estudados no capítulo dois. Assim o seu
estudo terá por base alguns dos conceitos previamente descritos para os transformadores. A
grande diferença entre elas reside no facto das máquinas de indução rotativas converterem
energia elétrica em mecânica e vice-versa, sendo assim denominados conversores.
Relembremos que entre o primário e o secundário do transformador não há conversão de
energia apenas transformação das amplitudes e fases de algumas grandezas elétricas. Assim
veremos ao longo deste texto que é possível encontrar fortes paralelismos entre o estator e o
primário e o rotor e o secundário. Tal como nos transformadores o estator tem como principal
função criar campo magnético e consequente indução, embora de uma forma bastante diferente
dos transformadores.
72
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Considere o dispositivo das figuras 2.4 a) e b), cuja permeabilidade dos circuitos magnéticos
do estator e do rotor é infinita e o comprimento do entreferro é constante. No estator está
instalado um enrolamento constituído por uma bobina ideal com N espiras de passo polar
pleno (ângulo de 180º mecânicos entre a entrada e a saída da bobina). Para este estudo
considera-se como referência o eixo magnético da bobina e convenciona-se que “x” representa
o ponto de entrada da corrente na bobina e “•” o ponto de saída. Considera-se ainda que
quando a alternância da corrente é positiva esta está a entrar no terminal “a” e quando é
negativa está a entrar no terminal "-a”.
Alimentando esta bobina com uma corrente alternada sinusoidal de pulsação , resulta uma
força magnetomotriz ( f.m.m.) caracterizada através de um vetor pulsante variando
continuamente entre um valor máximo positivo (+N.IMAX) e um máximo negativo (-NIMAX)
através da expressão (2.1)
-a -a
F M AX -F M AX
refª
refª
a a
a) b)
Apesar de ser um modelo aceitável para se iniciar este estudo, a representação da f.m.m. por
um único vetor pulsante sobre o eixo magnético da bobina não permite inferir acerca da
sua amplitude ao longo do entreferro da máquina.
Uma vez entendido o processo para uma única bobina o mesmo pode ser extrapolado
para um dispositivo trifásico como o representado na figura 2.7, onde se considera que as
bobinas (a,b,c) são equilibradas, de passo pleno e desfasadas entre si 120º mecânicos.
73
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
a1
refª
-a1
A partir deste ponto podem ser feitas duas abordagens igualmente válidas para a
compreensão do fenómeno de criação do campo magnético girante, a análise das ondas
progressivas e a análise gráfica.
Análise gráfica é outra técnica para se explicar a criação do campo girante. Neste caso opta-
se pela representação dos vetores de campo magnético (ou f.m.m) criados pelas diferentes
bobinas para vários instantes de tempo. Através da composição vetorial dos mesmos é possível
obter-se a posição e amplitude do campo resultante para vários instantes temporais. Para tal
consideremos uma máquina de indução trifásica elementar com bobinas de passo pleno
desfasadas 120º mecânicos entre si, como a apresentada anteriormente na figura 2.7.
Consideremos ainda que a máquina é alimentada por um sistema de correntes alternadas
sinusoidais, equilibradas, desfasadas entre si de 120º elétricos tal como representado na
f i g u r a 2.9 e que criam os campos magnéticos representados por (2.5). Na figura 2.9 estão
74
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
t0 t1 t2 t3 t4 t5
Tal como na anterior figura 2.4, na construção das figuras 2.10 a) a f), convencionou-se que
as correntes positivas entram pelo início da bobina e as negativas entram pelo fim. O símbolo
“x” representa o ponto de entrada da corrente e “•” o ponto de saída.
Iniciando a análise para o ponto t0 = 0 da figura 2.9 verifica-se que o campo magnético da
fase 1 é positivo e tem amplitude máxima ao passo que os campos magnéticos das fases 2 e 3
são negativos e apresentam valores iguais, ou seja:
H1 = H MAX ; H2 = H MAX cos ( − 2 3) ; H3 = H MAX cos ( − 4 3)
(H ).
R A determinação analítica da amplitude do vetor resultante é calculado através da
expressão (2.6).
H R = H1 + ( H 2 ) + ( H3 ) + 2H 2 H3 cos ( 2 3)
2 2
(2.6)
75
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
H R = H MAX + MAX
2 H MAX cos ( −2 / 3) H MAX cos ( −4 / 3) cos ( 2 / 3 )
Após alguma manipulação matemática verifica-se através de (2.7) que a amplitude do vetor
resultante é 1,5 vezes superior à gerada por cada campo magnético individualmente.
3
HR = H MAX (2.7)
2
Esta análise analítica pode ser aplicada aos restantes instantes temporais (t1 a t5), embora
seja claramente entendível uma análise puramente gráfica como a apresentada nas figuras 2.10
a) a f).
HR
HR
a1 a1 a1
H3
H2
H3
H2
H3
HR H1 H1
H1
HR
H2
a) t0 b) t1 c) t2
a1 a1
a1
H2
H1 \
H1 HR
H2 H3
H3
H3 H2
-a1 -a1
-a1
HR
HR
d) t3 e) t4 f) t5
Uma vez mais, e tal como se concluiu na análise das ondas progressivas, verifica-se que o
vetor do campo girante está sincronizado com a pulsação da tensão de alimentação.
Concentremo-nos agora nas máquinas com mais de um par de polos no estator. No caso da
máquina com bobinas de passo pleno como da figura 2.10, quando uma bobina é atravessada
por uma corrente cria um campo magnético que pode ser representado por um par de polos
76
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
magnéticos (convenciona-se que o polo é Norte quando o fluxo sai do estator e é Sul quando
o fluxo entra). Consideremos agora que enrolamento do estator ao invés de ter uma única bobina
tem duas que apresentam um ângulo de 90º mecânicos entre o princípio e o fim (a1, -a1, a2, -a2)
tal como ilustrado na figura 2.11 a). Neste caso quando a corrente atravessa a bobina são criados
dois campos magnéticos por fase, ou seja, dois pares de polos (Norte/Sul). Conclui-se assim
que, construtivamente, o passo polar (ângulo entre a entrada e a saída de uma bobina), resulta
de =180º/p.5
Na máquina da figura 2.11 b) está representada uma máquina trifásica com dois pares de
polos por fase. Verifica-se que independentemente do número de pares de polos as bobinas das
diferentes fases continuam desfasadas entre si 120º mecânicos.
a1 a1 -b2
-c1
c2
b2
-a2 -a1 -a1
-a2
b1
c1
-c2
a2 -b1 a2
a) b)
Vamos agora proceder a uma análise gráfica em que as correntes da figura 2.9 (para os
instantes t0 a t2) são aplicadas à máquina com dois pares de polos representada nas figuras 2.12
a) a c).
5
Vários autores consideram p o número de polos ao invés de pares de polos, no entanto ao longo deste
texto considera-se sempre que p indica pares de polos.
77
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
HR HR
a1 HR a1
-b2 -b2
-c1 H1 -c1 a1 -b2
c2 c2
H2 -c1
H2 c2
b2 b2
H3 H3
-a1 H1 -a1 b2
H3 H2
H3 -a1
-a2 -a2 H1
H3
b1 H2
b1 -a2
H2 b1
c1 c1
-c2 -c2 c1
H1 -b1 a2 -b1 a2 -c2
HR
-b1 a2
HR
a) t0 b) t1 c) t2
Figura 2.12 – Representação gráfica da evolução do campo girante para dois pares de polos
“Um enrolamento polifásico com p polos por fase, produz, quando percorrido por um
sistema equilibrado de correntes polifásicas de pulsação , um conjunto de p polos fictícios
2 f1
1 = (2.8)
p
Uma vez que a velocidade dos motores é geralmente indicada em rotações por minuto
(r.p.m.) a expressão (2.8) pode ser reescrita como (2.9), resultando a expressão (2.10).
2 n1 2 f1
= (2.9)
60 p
60 f1
n1 = (2.10)
p
78
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Uma conclusão muito importante neste estudo é o facto de a velocidade do campo girante
depender diretamente da frequência, ou seja, se esta se mantiver rigorosamente constante (algo
que se aceita em redes de potência infinita) pode-se considerar que a velocidade de sincronismo
das máquinas de indução polifásicas se mantém rigorosamente constante, não dependendo de
mais nenhum fator externo. Na tabela 2.1 estão indicadas as velocidades do campo girante em
função do número de pares de polos e da frequência. Relembremos que países como a Arábia
Saudita, o Brasil, o Canadá, os EUA e alguns países sul-americanos, entre outros, utilizam
60 Hz ao invés de 50Hz.
Uma vez criado o campo girante no estator, o fluxo gerado atravessa o entreferro e o rotor,
conforme representado nas figuras 2.10 e 2.12. Um observador instalado no rotor verá um fluxo
de amplitude constante variar no espaço com a velocidade angular 1. Essa variação irá criar
forças eletromotrizes (f.e.m.) induzidas no rotor. Como o rotor está em curto-circuito irão
circular correntes. Estas criam no rotor campos magnéticos com o mesmo número de pares
de polos do estator e polaridades instantâneas que, de acordo com a lei de Lenz, se irão
opor à causa que lhes deu origem. Como não podem impedir a rotação do campo girante,
uma vez que é imposto pela rede, irão forçar o rotor a rodar de modo a diminuir a velocidade
relativa entre o campo girante e o rotor. Note-se que, em aplicações muito especiais, se de algum
modo for possível bloquear o rotor e a carcaça tiver liberdade para rodar os papéis invertem-se
de modo a garantir a velocidade relativa entre o campo girante e o rotor.
A velocidade do rotor tem uma influência direta sobre o valor da f.e.m. induzida e das
correntes rotóricas. Um observador posicionado no rotor verifica que quanto maior for a
diferença de velocidade relativa entre o campo girante (constante) e o rotor maior é a variação
do fluxo e consequentemente maior a f.e.m. induzida bem como as correntes. Nesse sentido é
79
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
perfeitamente entendível que a f.e.m. induzida é máxima quando o rotor está bloqueado
diminuindo conforme a velocidade rotórica se aproxima da velocidade de sincronismo. No
limite, se em regime permanente as duas velocidades se igualarem o observador no rotor deixa
de ver variação do fluxo pelo que a f.e.m. e as correntes seriam nulas, levando a que a máquina,
teoricamente, deixasse de rodar. Assim se conclui que em regime permanente a velocidade do
rotor nunca pode igualar a velocidade de sincronismo, o que leva a que estas máquinas sejam
comummente designadas como máquinas assíncronas. Isto significa também que em regime
motor a velocidade do rotor (n2) é sempre menor que n1. Os casos em que isso não acontece
serão abordados mais à frente neste texto.
n1 − n2
s= (2.11)
n1
1 − 2
s= (2.12)
1
Considerando que funcionando como motor a velocidade do rotor varia desde zero até n1
conclui-se através de (2.11) que o escorregamento varia entre 1 (n2=0) e 0 (n2 = n1). Como a
velocidade de sincronismo é constante, a velocidade do rotor em regime permanente vai
depender fundamentalmente da carga aplicada sob a forma de binário7 resistente. Ao impor-se
carga mecânica no veio do rotor o binário resistente aumenta com consequente aumento do
escorregamento e diminuição da velocidade. Nestas circunstâncias a f.e.m. e as correntes no
rotor aumentam incrementando o binário motor até se estabelecer o equilíbrio dinâmico entre
os dois binários para uma nova velocidade (escorregamento).
Concentremo-nos agora na análise da frequência da f.e.m. rotórica (f2). Quando o rotor está
parado ou bloqueado n2 é nula (s=1) e consequentemente a frequência da f.e.m. induzida no
rotor é igual à frequência do campo girante (f1). Por outro lado, se o rotor rodar à mesma
velocidade que o campo girante (n2=n1) e (s=0) não haverá f.e.m. induzida no rotor, e portanto
6
Fruto da tradução directa do inglês sliding em algumas universidades portuguesas (Porto, Coimbra, Aveiro,
etc) o termo escorregamento é substituído por deslizamento.
7
No português falado no Brasil o termo binário é traduzido por “conjugado”. Utilizando a terminologia
anglo-saxónica por vezes o binário também é denominado por “torque”
80
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
a frequência será nula. Como o rotor gira a uma velocidade relativa (n1-n2) em relação ao campo
girante, à frequência f2 chama-se frequência de escorregamento, sendo calculada através de
(2.13):
n1 − n2 psn1
f2 = p = = sf1 (2.13)
60 60
Da análise até este ponto compreende-se que a f.e.m. induzida no rotor depende
fundamentalmente da diferença de velocidades entre o campo girante e o rotor, uma vez que a
amplitude do campo é constante. Se porventura o rotor estiver bloqueado, este vê o fluxo a girar
à velocidade máxima pelo que a f.e.m. induzida será também máxima. Conforme o rotor
começa a rodar a diferença de velocidades diminui, consequentemente, a variação do fluxo
também diminui, bem como a f.e.m. induzida. No limite, se o rotor atingir o sincronismo
(igualar a velocidade do campo girante), a diferença de velocidades é nula, bem como a f.e.m.
O mesmo raciocínio pode ser feito com a frequência da f.e.m. do rotor. Quando bloqueado a
frequência toma o mesmo valor da frequência de alimentação (f1), diminuindo
progressivamente com o aumento da velocidade rotórica até se anular no sincronismo. Outro
fator a ter em conta é o valor da reactância do rotor uma vez que esta varia com a frequência,
diminuindo conforme a velocidade do rotor aumenta. Para além destes valores variarem com a
velocidade é virtualmente impossível medi-los, principalmente no caso de máquinas com rotor
em gaiola de esquilo, o que à partida torna complicado o cálculo da corrente e potências no
rotor.
Para obviar este problema é necessário criar um modelo matemático que permita calcular os
valores de corrente e potências no rotor sem a necessidade de os medir in situ. Para tal, e uma
vez que o funcionamento deste tipo de máquina se baseia no princípio da indução magnética
comecemos por fazer uma analogia com o transformador de potência. No caso do transformador
existe uma f.e.m. induzida no secundário pela variação temporal da amplitude do fluxo
magnético no núcleo, (produzido pelo primário). No caso das máquinas assíncronas, a f.e.m. é
induzida no rotor por intermédio do fluxo que atravessa o entreferro, resultante de um campo
girante de amplitude constante que varia no espaço (produzido no estator). Nesse sentido, o
estudo feito para os transformadores é passível de ser aplicado às máquinas assíncronas,
nomeadamente no que se refere ao modelo equivalente, considerando que o estator pode ser
81
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
entendido como um primário e o rotor como um secundário8. Para início do estudo deste modelo
consideremos que Re e R2 representam respetivamente as resistências por fase do estator e do
rotor, ao passo que Xe representa a reactância do estator e X2b a do rotor quando bloqueado. A
reactância de magnetização Xm modeliza o fluxo que atravessa o entreferro (campo girante).
Uma diferença que se encontra entre os dois modelos é o facto de na máquina assíncrona Rp
para além de representar as perdas por histerese e correntes de Foucault poder representar
também as perdas mecânicas.
Numa primeira aproximação vamos considerar que o rotor da máquina está bloqueado. Este,
como está construtivamente curto-circuitado, pode ser comparado com o secundário de um
transformador em curto-circuito, tal como representado no modelo equivalente monofásico da
figura 2.17.
Re jXe R2 jX2b
Io
e
I I2
V e Rp Ip jIm jXm Ee Ebr
Quando o estator é alimentado por uma tensão alternada sinusoidal a f.e.m. induzida no rotor
r
( Eb ) é dada por (2.14), cuja frequência (f2) é igual à frequência da f.e.m. no estator (f2 = f1).
Do mesmo modo a reactância do rotor quando está bloqueado (X2b) resulta de (2.15).
X 2b = 2 f1Lr (2.15)
Assim, para o caso particular do rotor bloqueado a corrente rotórica pode ser calculada por
(2.16).
Ebr
I2 = (2.16)
( R2 ) + ( X 2b )
2 2
8
A máquina assíncrona de rotor bobinada foi vastamente utilizada como transformador de campo girante
82
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Consideremos agora que o rotor foi solto e começou a rodar, neste caso a f.e.m. induzida no
rotor (Er) terá a forma de (2.17), uma vez que a frequência rotórica f2 passa a ser diferente da
estatórica f1.
X 2 = 2 f 2 Lr (2.18)
Er
I2 = (2.19)
( R2 ) + ( X 2 )
2 2
No entanto dividindo (2.17) por (2.14) conclui-se que a relação que existe entre as f.e.m.’s
induzidas com rotor em movimento e bloqueado é expressa por (2.20).
E r f2
= = s pelo que E = sEb
r r
r
(2.20)
Eb f1
Como a reactância também depende da frequência, substituindo em (2.15) f2 por sf1 (2.13)
obtém-se (2.21). Deste modo é possível estabelecer a relação entre as reactâncias com o rotor
em movimento e bloqueado em função do escorregamento s.
X 2 = 2 f1sLr = X 2b s (2.21)
Desta análise pode-se representar o esquema equivalente da figura 2.17, agora para a
situação do rotor em movimento, através da figura 2.18.
Re jXe R2 jX2bs
Io
e
I I2
V e Rp Ip jIm jXm e r
E s
E b
83
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Verifica-se assim que após alguma manipulação matemática foi possível reescrever o
modelo equivalente sem haver necessidade de determinar o valor da f.e.m. e da reactância para
cada valor de velocidade. Nesta situação a corrente no rotor é calculada por (2.22).
sEbr Ebr
I2 = = (2.22)
( R2 ) + ( sX 2b )
2 2 2
R2
+ ( X 2b )
2
s
Com esta manipulação matemática os modelos das figuras 2.17 e 2.18 passam a ter a forma
de 2.19 com todos os parâmetros determinados com a frequência do estator, o que muito
contribui para a simplificação do estudo das máquinas de indução em regime permanente.
R2 1
= R2 − 1 + R2 (2.23)
s s
Re jXe R2 jX2b
Io
Ie I2 R2(1/s-1)
V e Rp Ip jIm jXm Ee Erb
84
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Uma análise atenta deste modelo permite concluir que através de alguma manipulação
matemática se conseguiu transformar o modelo da máquina assíncrona no modelo de um
transformador com uma carga resistiva variável. Senão vejamos, a f.e.m induzida no rotor e a
sua reatância passaram a ser constantes independentemente da velocidade de rotação. Assim a
corrente irá depender explicitamente de uma carga que varia com o escorregamento e que
representa a potência mecânica que a máquina desenvolve.
Para verificar a validade deste modelo equivalente podem-se analisar duas situações, uma
com o rotor bloqueado (s=1) e outra com o rotor em sincronismo (s=0). Na primeira hipótese
a resistência de carga é nula logo o rotor comporta-se como o secundário de um transformador
em curto-circuito, ou seja, a corrente é máxima sendo limitada apenas pela impedância
R2 + jX 2b . Na segunda hipótese, a resistência de carga apresenta um valor infinito resultante de
R2 0 ficando assim o circuito em aberto. Neste caso não há circulação de corrente rotor, o que
acontece na realidade quando a máquina atinge o sincronismo. Desta forma conclui-se que o
modelo é válido servindo de ponto de partida para a restante análise do funcionamento da
máquina assíncrona trifásica.
Tal como nos transformadores a redução das grandezas elétricas ao estator ou ao rotor
permitem agilizar os cálculos uma vez que se trabalha sempre com o mesmo valor de f.e.m. No
entanto para estudo do funcionamento das máquinas assíncronas, e especialmente no caso das
de rotor em gaiola de esquilo, não existe na prática nenhuma mais-valia em se reduzir as
grandezas ao rotor. Assim, na esmagadora maioria das vezes trabalha-se com as grandezas
reduzidas ao estator. Nesse sentido a f.e.m. do rotor pode ser reduzida ao estator através da
expressão (2.24).
Ee
=m (2.24)
Ebr
R r = m 2 R2
(2.25)
X r = m 2 X 2b
85
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
I2
Ir = (2.26)
m
Re jXe Rr jXr
Io
Ie Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm Ee
Aplicando análise circuitos ao modelo da figura 2.21, resultam a expressões (2.27) a (2.30).
Rr r
E = I + jX r I r
e
(2.27)
s
Ee Ee
Ip= Im = (2.28)
Rp jX m
I 0 = I p + jI m I e = I r +I0 (2.29)
V e = E e + ( Re + jX e ) I e (2.30)
A análise do modelo equivalente da figura 2.21 permite tirar várias conclusões acerca de
como se distribui a potência ativa através da máquina assíncrona. Consideremos (por agora)
que está a trabalhar como motor convertendo energia elétrica em energia mecânica.
A potência elétrica de entrada pode ser calculada por (2.31), em que φe representa a
desfasagem entre a tensão de alimentação por fase (Ve) e a corrente por fase absorvida pelo
estator (Ie).
P e = 3V fe I ef cos j e( ) (2.31)
Essa corrente ao atravessar os enrolamentos do estator irá provocar perdas por efeito de Joule
e
( Pcu ), calculadas por (2.32):
86
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Pcue = 3R e ( I e )
2
(2.32)
Ainda no estator as perdas no circuito magnético (Pfe) são modelizadas por uma resistência
fictícia (Rp) que ao ser atravessada pela corrente de perdas, também fictícia, (Ip) produzirá
perdas por efeito de Joule equivalentes às introduzidas pelas correntes de Foucault e pela
histerese (2.33).
Após se determinar as perdas elétricas associadas ao estator pode-se calcular a potência que
atravessa o entreferro e é entregue ao rotor (Pag),9 podendo ser determinada pela diferença entre
(2.31), (2.32) e (2.33) ou diretamente através (2.34).
Rr r
( )
2
Pag = 3 I (2.34)
s
Uma vez no rotor, a corrente rotórica reduzida ao estator (Ir) ao atravessar os enrolamentos
do rotor (ou as barras da gaiola de esquilo) vai, uma vez mais, provocar perdas por efeito de
r
Joule ( Pcu ), calculadas por (2.35).
Pcur = 3R r ( I r ) = sPag
2
(2.35)
1
( ) = (1 − s ) P
2
Pmi = 3R r − 1 I r ag (2.36)
s
A este valor da potência mecânica interna ainda é necessário subtrair o valor das perdas
mecânicas (Pmec) obtendo-se a potência mecânica útil (Pmu) como em (2.37). Em regime
permanente, ou seja, para um determinado valor de velocidade constante, a potência mecânica
útil desenvolvida é exatamente igual à potência mecânica que a carga aplica à máquina.
9
O índice ag deriva do anglicismo air gap para representar o entreferro
87
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
As perdas mecânicas são compostas pelo atrito e ventilação (PAV) e perdas suplementares
(PAD). De notar que só nos motores auto ventilados é que se verificam perdas por ventilação,
sendo inexistentes para os que são arrefecidos por ventilação forçada.
( ) Pfe = 3R p ( I p ) ( )
2 2 2
Pcue = 3R e I e Pcur = 3R r I r Pmec = PAV + PAD
a)
Por vezes, para facilidade de cálculo ou como resultado de alguns ensaios (abordados mais
adiante neste texto), as perdas mecânicas são representadas em conjunto com as perdas do
circuito magnético o que se traduz na omissão da potência de perdas mecânicas. Nesse caso o
diagrama do balanço de potência passa a ser representado como na figura 2.22 b).
( ) P0 = Pfe + Pmec
( )
2 2
Pcue = 3R e I e Pcur = 3R r I r
b)
Em termos do balanço de potência esta aproximação é perfeitamente válida uma vez que a
relação entre a potência de saída e de entrada continua a mesma. A única aproximação é o facto
de as perdas mecânicas serem contabilizadas no estator e não no rotor. A mais-valia desta
aproximação é o facto de se poder considerar que a potência mecânica útil é igual à potência
mecânica interna (Pmu=Pmi). Como veremos mais adiante neste texto é uma consideração que
permitirá facilitar bastante alguns cálculos.
88
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
30
25
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
A máquina ao ser alimentada com tensão constante desenvolve um binário no arranque que
vai aumentando até ao valor máximo decrescendo de seguida até estabilizar num ponto
compreendido entre este máximo e o sincronismo. Esse ponto irá depender da carga aplicada e
denomina-se ponto de estabilidade estática. Para uma melhor compreensão da estabilidade
estática a curva de binário deve ser analisada em dois troços separados, um compreendido entre
89
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
o arranque e o binário máximo e outro entre este e o sincronismo. Na figura 2.24 estão
representados dois pontos (A e B) onde a característica de binário motor e binário de carga se
intercetam.
35
Binário [Nm]
30
25
B
20
A
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
35
Binário [Nm]
35
Binário [Nm]
Para facilitar a análise, nas figuras 2.25 a) e b) estão representadas ampliações em redor dos
30
30
pontos A e B.
25
25
Tm B
20 B Tc
A 20
ATc
15 Tm 15
s2 s s1 s2 s s1
10
a) instável b) estável 10
5
5
Figura 2.25 – Pormenores dos pontos estáveis e instáveis de funcionamento como motor
0
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Escorregamento
No caso do ponto [p.u.]
A, se houver alguma perturbação no escorregamento s no sentido de s1
(maior velocidade), o binário motor (Tm) é superior ao binário de carga (Tc) pelo que a máquina
irá acelerar continuamente até atingir o ponto de estabilidade estática. No sentido oposto, em s2
(menor velocidade) o binário de carga será maior que o resistente pelo que a máquina irá
desacelerar continuamente até parar. No caso do ponto B, se houver uma perturbação no sentido
de s1 o binário de carga será superior ao binário motor fazendo com que a máquina desacelere
para o ponto B, no sentido oposto o binário motor é superior ao de carga fazendo com que
acelere convergindo no ponto B. Concluindo, no troço compreendido entre a velocidade de
90
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Uma nota importante, se o binário de carga aplicado no momento do arranque for superior
ao binário motor a máquina não arranca. Por outro lado, se partindo do ponto B a carga for
aumentada até ultrapassar o binário máximo atinge-se o binário de quebra, breakdown torque,
e a máquina irá parar por falta de binário motor.
Determinar os valores que caracterizam o balanço de potência, através das expressões (2.31)
a (2.37), ou o binário através de (2.39), torna-se trabalhoso, principalmente nos casos em que
se pretende determinar vários pontos de funcionamento para se traçar curvas características
como a da figura 2.23. Observando o modelo equivalente da figura 2.21 verifica-se que a
corrente do estator depende da tensão de alimentação, que se considera constante, e da
impedância equivalente da máquina (ZT) que por sua vez irá depender do escorregamento,
(2.40) e (2.41).
Ve
Ie= (2.40)
ZT
1
ZT = R e + jX e + (2.41)
1 1 1
+ + r
R p jX m R
+ jX r
s
Rp . jX m
Rp + jX m
Ir = Ie (2.42)
Rp . jX m Rr
+ + jX r
Rp + jX m s
Esta é uma solução possível, recorrendo à análise de circuitos outras formas de resolução
poderão ser encontradas.
Porém, existe uma aproximação ao modelo equivalente que permite agilizar os cálculos sem
introduzir erros apreciáveis, ao mesmo que tempo que facilita a análise dos diversos pontos de
funcionamento da máquina.
91
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Ie Re jXe Rr jXr
Io
Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm
Esta aproximação não introduz erros apreciáveis uma vez que se considera apenas que a
corrente do ramo em derivação (Io) não atravessa os enrolamentos estatóricos. Permite também
simplificar os cálculos, tanto a nível do balanço de potência como na determinação do
escorregamento para o binário máximo e potência máxima, bem como o rendimento máximo.
Deste modo, ao invés de se utilizar as expressões (2.40) a (2.42) para determinar o valor da
corrente do rotor este poderá ser calculado diretamente com a tensão de alimentação (Ve) como
em (2.43).
Ve
I =
r
(2.43)
2
e R
+(X + X )
r
2
R +
e r
s
= 3R e ( I r )
e 2
pcu (2.44)
92
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
3R r s (1 − s ) V e ( )
2
Pmi = (2.46)
( ) (X + X )
2 2
sRe + R r + s2 e r
Uma vez que o denominador é sempre positivo basta uma rápida análise do numerador para
se poder concluir acerca do seu regime de funcionamento.
No caso de o escorregamento ser zero a potência mecânica é nula, uma vez que a máquina
está em sincronismo e não existe f.e.m. induzida no rotor. Se a máquina estiver em vazio e as
perdas mecânicas forem consideradas nulas pode-se assumir que a máquina está em
sincronismo.
93
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
corresponde ao funcionamento como motor. No caso de ser unitário a potência mecânica é nula
uma vez que o rotor se encontra bloqueado.
-10
Potência [kW]
-15
-20
-25
-30
Rr
s p max = (2.47)
(R ) +(X )
2 2
R +
r e
+R r e
+X r
Este valor é importante conhecer apenas para o estudo de fenómenos transitórios, uma vez
que a máquina não pode trabalhar neste ponto em regime permanente sem o risco de danificar
94
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
(V )
2
e
3
Pmax = (2.48)
2
( ) (R ) +(X )
2 2
R + R + +R +X
e r e r e r
Verifica-se que a potência máxima que um motor assíncrono pode atingir depende
fundamentalmente da tensão de alimentação e da impedância. A expressão (2.48) pode ser
reescrita em função da impedância como em (2.49), onde Req é a soma das resistências do estator
e do rotor reduzida ao estator e Zeq a impedância equivalente reduzida ao estator.
( )
2
e
3 V
Pmax = (2.49)
2 Req + Z eq
2 f1
2 = 1 (1 − s ) = (1 − s ) (2.50)
p
Pmi
Tmi = (2.51)
2 f1
(1 − s )
p
( )
2
3p sR r V e
Tmi = (2.52)
( ) (
2 f1 sR e + R r 2 + s 2 X e + X r )
2
Esta expressão permite calcular o binário mecânico interno (também designado por binário
eletromagnético). No caso do valor das perdas mecânicas (Pmec) ser conhecido (como no caso
da figura 2.22 a)) estas deverão ser subtraídas à potência mecânica interna de modo a obter-se
95
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
o binário útil. Se forem contabilizadas juntamente com as perdas no ferro (figura 2.22 b)) o
resultado de (2.52) é já o binário útil. Considerando a tensão e frequência de alimentação
constantes pode-se explicitar a evolução do binário em função do escorregamento.
Se o escorregamento for zero o rotor está à velocidade de sincronismo não havendo f.e.m.
induzidas no rotor pelo que não existe binário. Uma situação próxima do sincronismo é quando
a máquina está em vazio. Se não houver binário de carga também não há binário útil e a
velocidade do rotor é muito próxima da do campo girante. Assim, o binário interno
desenvolvido serve unicamente para equilibrar o binário de perdas mecânicas.
3p R r (V e )2
Tarr = (2.53)
( ) (
2 f1 Re + R r 2 + X e + X r )
2
Quando o escorregamento apresenta valores entre zero e um, exclusive, o binário é positivo
e a máquina encontra-se a trabalhar em regime motor.
96
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
motor 30
freio gerador
20
10
0
2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1
-10
-20
Escorregamento
Binário [Nm]
-30
-40
-50
-60
-70
Rr
sT max = (2.54)
(R ) + ( X )
2 2
e e
+X r
A expressão (2.54) permite calcular o valor do escorregamento para qual o binário é máximo.
É de notar que este valor apenas depende da impedância da máquina, sendo imune a variações
da tensão de alimentação. O binário máximo calcula-se substituindo o resultado da expressão
(2.54) em (2.52) ou de uma forma mais rápida pela expressão (2.55).
97
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
(V )
2
e
3 p
Tmax = (2.55)
2 2 f1 e
(R ) + ( X )
2 2
R + +X
e e r
40
20
0
2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1
Escorregamento -20
-40
-60
-80
98
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
25
20
Binário [Nm]
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
99
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Neste caso verifica-se que existe uma diminuição genérica do binário e um deslocamento do
ponto de binário máximo. Em termos práticos o aumento da resistência pode ser conseguido
através da adição de resistências aos terminais do estator, o que irá provocar uma queda de
tensão com consequente diminuição da tensão aplicada aos terminais. A deslocação do binário
máximo é explicada pela expressão (2.54), apesar de não ser tão explicito como no caso da
resistência do rotor, também influencia o escorregamento para o binário máximo.
100
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
0 1 2 3
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
Uma vez mais verifica-se uma diminuição do binário e um deslocamento do ponto de binário
máximo. Note-se, no entanto, que para valores equivalentes de resistência e reactância, esta
provoca uma diminuição menos acentuada do binário.
50
45
40
35
Binário [Nm]
30
25
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
escorregamento [p.u]
101
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Apesar de ser um método que permite variar o binário revela-se pouco eficaz uma vez que o
faz à custa da variação de velocidade o que em muitas aplicações não é solução. Além disso, a
frequência da rede de distribuição de energia é constante sendo por isso necessário recorrer a
sistemas de conversão de frequência aumentando o custo do sistema. Como veremos mais à
frente a variação da frequência mantendo a tensão constante é por si só uma solução pouco
viável.
60 50 40 30
50
45
40
35
30
Binário [Nm]
25
20
15
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
velocidade [r.p.m]
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à variação do número de pares de polos uma vez que,
tal como a frequência, também influencia a velocidade do campo girante. Este método necessita
de máquinas com uma construção especial destinadas a aplicações específicas onde se pretende
variar a velocidade por escalões. Esta análise será apresentada de forma mais detalhada aquando
do estudo dos métodos de variação de velocidade.
Apesar das máquinas serem caracterizadas pela sua potência mecânica nominal,
provavelmente é mais importante conhecer a sua característica de binário do que a de potência.
Sabendo a característica de binário resistente (p. ex. da máquina ferramenta que vai ser
acionada) é conveniente escolher uma máquina que tenha uma característica de binário
adequada, algo que geralmente o fabricante não disponibiliza nos seus catálogos comerciais.
Inclusive os valores de resistência e reactância só são fornecidos se forem solicitados na compra
da máquina, o que torna impossível a aplicação da expressão (2.52). No entanto existe uma
forma expedita para se determinar o binário desenvolvido para vários escorregamentos.
102
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Fazendo o quociente entre (2.52) e (2.55) e após alguma manipulação matemática resulta (2.56)
conhecida como a expressão de Kloss.
Re
2 1 + r smax
Tmi
= R
(2.56)
Tmax s smax Re
+ + 2 r smax
smax s R
Quando não é possível determinar de forma precisa a relação entre as resistências estatórica
e rotórica pode-se admitir que ambas são iguais resultado (2.57). Apesar de não se obterem
valores tão exatos esta aproximação é perfeitamente válida.
Tmi 2 (1 + smax )
= (2.57)
Tmax s s
+ max + 2smax
smax s
Pela tabela verifica-se que a máquina em estudo tem como velocidade de síncronismo
3600 r.p.m., velocidade nominal 3510 r.p.m. e a relação entre o binário máximo e o nominal é
470%. Como não existe informação acerca das resistências da máquina utiliza-se a expressão
103
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
3600 − 3510
sn = = 0, 025
3600
Deste modo é possível traçar a caraterística de binário do motor em estudo para qualquer
valor de escoregamento. O exemplo da tabela apresenta o valor de binário em Kgf.m, facilmente
convertível para Nm multiplicando por 9,8.
2 (1 + 0, 286 )
Tmi ( s ) = Tmax
s 0, 286
+ + 2.0, 286
0, 286 s
Existe uma possível aproximação à expressão (2.56) que consiste em desprezar a impedância
do estator. Deste modo as expressões (2.52) e (2.55) tomam a forma de (2.58) e (2.59).
( )
2
3p sR r V e
Tmi = (2.58)
( ) ( )
2 f1 R r 2 + s 2 X r 2
( )
2
3p sT max R r V e
Tmax = (2.59)
( )
2 f1 R r 2 + s 2 ( )
2
r
T max X
Tmi 2 ss
= 2 max2 (2.60)
Tmax s + smax
2s0, 232
Tmi ( s ) = Tmax
s + 0, 2322
2
104
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Binário [Kgf.m]
3
c/ Ze
s/ Ze 2
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Numa análise mais cuidada verifica-se que no caso da expressão (2.57) a relação entre o
binário de arranque e o nominal é cerca de 277% ao passo que o valor fornecido pelo fabricante
é de 250%. Esta diferença fica-se a dever ao facto de se ter considerado que as resistências eram
iguais. No caso da expressão (2.60) esta relação cifra-se em 206%. Em qualquer um dos casos,
na falta de melhor informação, é a aproximação possível. Verifica-se assim que mesmo sem o
conhecimento da impedância interna da máquina é possível obter uma característica
eletromecânica próxima da real.
Apesar de a máquina poder trabalhar em regime de motor, freio ou gerador a análise vai
centrar-se no regime motor. Esta análise pode ser facilmente extrapolada para qualquer dos
restantes regimes bastando para isso aplicar às expressões até agora estudadas o valor de
escorregamento correspondente a cada regime de funcionamento.
A análise do funcionamento em carga só pode ter lugar após a máquina ter terminado o
processo de arranque e atingido um qualquer ponto estável de funcionamento. Relembrando a
análise feita através das figuras 2.25 a) e b) a máquina só tem um funcionamento estável entre
o sincronismo e o ponto de binário máximo. Ainda dentro deste intervalo a máquina pode
trabalhar em regime permanente entre o vazio e a plena carga. Entenda-se como plena carga os
105
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
valores nominais indicados na chapa de características. Estes são os valores que podem ser
impostos à máquina em regime permanente sem que haja degradação do equipamento. Em
regime dinâmico é possível que a máquina trabalhe para lá dos valores nominais, desde que
seja durante um curto espaço de tempo que depende fundamentalmente do comportamento
térmico da máquina.
Na figura 2.37 está representada uma característica de binário motor (Tmu) bem como várias
características de binário de carga, (Tc1 a Tc4). No caso do binário de carga Tc1, no momento do
arranque este é superior ao binário útil Tmu pelo que a máquina nem sequer arranca. Nos
restantes casos a máquina arranca ficando a trabalhar em regime permanente no ponto em que
os binários de carga cruzam o binário motor.
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,8 0,6 0,4 0,2 0
Escorregamento [p.u.]
Consideremos que a máquina está a trabalhar em regime permanente com a carga Tc3, se lhe
for imposta a carga Tc4 a velocidade irá diminuir aumentando o escorregamento. Quando o
binário motor igualar o binário de carga Tc4 atinge-se um novo ponto de equilíbrio. Nesse
momento a máquina deixa de desacelerar e atinge o regime permanente. A diferença de
velocidade entre o campo girante e rotor aumenta, aumentando as f.e.m. induzidas no rotor e
consequentemente a corrente absorvida. No limite, se o valor do binário de carga for superior
ao binário máximo a máquina irá parar. Quando se retira carga dá-se o processo inverso, no
limite a máquina fica em vazio.
O binário de carga depende exclusivamente do sistema que está a ser acionado pelo motor e
pode tomar os mais variados valores, embora alguns tipos de aplicações tenham características
mais ou menos tipificadas. No caso dos ventiladores, bombas e compressores centrífugos,
bombas helicoidais, etc, o binário de carga varia com o quadrado da velocidade caracterizando-
106
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
se por um binário de carga parabólico. Movimentos horizontais tal como nas máquinas de fiação
e maioria das máquinas de indústria têxtil, bem como nas máquinas tipográficas, apresentam
binário de carga com uma característica hiperbólica decrescente. O binário de carga é máximo
quando se inicia o movimento, decrescendo com o aumento da velocidade. No caso dos
equipamentos de elevação, ascensores, correias transportadoras, etc, o binário é contante.
25
20
Corrente [A]
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
107
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Pmi Pag
25,0
20,0
Potência [kW]
15,0
10,0
5,0
0,0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Esta questão é respondida com a figura 2.40, onde estão representadas as perdas elétricas da
máquina, nomeadamente perdas em vazio (Po), perdas no estator (Pecu) e no rotor (Prcu). No
momento do arranque a potência de perdas no rotor corresponde à potência entreferro, ou seja,
a potência é toda dissipada no circuito elétrico do rotor não havendo conversão eletromecânica
de energia.
Pcue Pcur Po
25,0
20,0
Potência [kW]
15,0
10,0
5,0
0,0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Como nota final, o escorregamento nominal de uma máquina de indução trifásica é bastante
reduzido atingindo até 6% em máquinas de baixa potência e até menos de 1% em máquinas
com várias centenas de kW.
108
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
O rendimento de qualquer máquina elétrica traduz-se, por definição, pela relação entre as
potências ativas de saída e de entrada. Por exemplo, em regime motor, o rendimento é calculado
pela relação entre a potência mecânica útil e a potência elétrica consumida. Como gerador a
relação é inversa, a potência elétrica produzida é dividida pela potência mecânica de entrada.
Como a esmagadora maioria das aplicações de máquinas assíncronas trifásicas é como motor
analisamos o rendimento apenas sob essa ótica. A expressão (2.61) permite determinar o
rendimento através do método das perdas separadas. Nesta abordagem a potência de entrada é
substituída pela soma da potência mecânica útil com todas as perdas associadas.
Pmu Pmu
= = (2.61)
P e
Pmu + Pmec + Pcur + Pfe + Pcue
A corrente para a qual se obtém o rendimento máximo é dada pela expressão (2.62).
Pfe + Pmec = 3R eq ( I e )
2
(2.62)
Resulta, tal como para os restantes tipos de máquina de indução, que o rendimento máximo
é atingido quando as perdas constantes são iguais às perdas variáveis, ou seja, a perdas no ferro
e mecânicas são iguais à soma das perdas por efeito de Joule no estator e no rotor.
Independentemente do regime de funcionamento da máquina esta relação é sempre válida.
Este ensaio consiste em alimentar o motor à tensão nominal e deixar o rotor rodar livremente.
Para efeitos de cálculo considera-se que o rotor está a rodar à velocidade de sincronismo (apesar
de na realidade isso não acontecer). Com esta aproximação considera-se que a corrente no rotor
109
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
é nula e desprezam-se as perdas por efeito de Joule no rotor. Se as perdas por efeito de Joule no
estator também se desprezarem o modelo da figura 2.26 toma a forma do modelo da figura 2.41.
Como não existe q.d.t. nas impedâncias do estator e rotor estas podem ser omitidas do modelo
em vazio.
Ie Re jXe Rr jXr
Io
Ve Rp Ip jIm jXm
No ensaio aplica-se a tensão nominal (Ve), e medem-se a corrente em vazio (Io) e a potência
consumida (Po). A corrente em vazio pode ainda ser decomposta nas suas componentes ativa
(Ip) e reativa (Im) como indicado na figura 2.42.
Ip Ve
Im jo
Io
Desta podem deduzir-se as expressões (2.63) e (2.64) que permitem calcular os parâmetros
associados ao circuito magnético pela expressão (2.65), esteja o estator ligado em estrela ou em
triângulo.
P0
cos j0 = senj0 (2.63)
3V e I 0
I p = I 0 cos j 0
(2.64)
I m = I 0 senj 0
110
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Ve
3 ( estrela )
Rp =
IP
3 ( triângulo )
(2.65)
Ve
3 ( estrela )
Xm =
Im
3 ( triângulo )
Um método possível para determinar explicitamente as perdas mecânicas passa por acoplar-
se à máquina em estudo um outro motor elétrico (M1). Ensaia-se (M1) em vazio com a máquina
em estudo acoplada mecanicamente e mede-se a potência (Po’). Faz-se o desacoplamento
mecânico mede-se novamente a potência de (M1) registando (Po). A diferença entre as
potências registadas nos dois ensaios resulta o valor de Pmec que representa as perdas mecânicas
da máquina em estudo. Como as perdas mecânicas são ativas, calcula-se a corrente (IR) através
da expressão (2.66).
Pmec
IR = (2.66)
3V e
Neste caso não é necessário considerar que a máquina está em sincronismo pelo que o
modelo da figura 2.42 toma a forma da figura 2.43. Em vazio a resistência de carga apresenta
um valor muito elevado comparativamente com as impedâncias do estator e do rotor, podendo
desprezar-se as suas quedas de tensão.
Io
I o Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm
Figura 2.43- Modelo aproximado para o ensaio de rotor livre com as perdas mecânicas
separadas
111
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Ip IR Ve
Im jo
Io
Nesta situação a análise será idêntica à anterior tomando as expressões (2.64) a forma de
(2.67).
I p + I R = I o cos (jo )
(2.67)
I m = I o sen (jo )
Tal como o nome indica, o rotor da máquina é bloqueado aplicando-se ao estator uma tensão
(Vecc) de modo que nele circule aproximadamente a corrente nominal (Iecc). (segundo a norma
de ensaio, IEC 60034, basta que a corrente seja superior a 50% da corrente nominal para que o
ensaio seja considerado válido). Como a tensão aplicada é relativamente reduzida, tal como os
transformadores, as perdas por histerese e correntes de Foucault são muito reduzidas, e as
perdas mecânicas são nulas. Assim a corrente que circula no ramo em paralelo pode ser
desprezada. Uma vez que o escorregamento é unitário, o circuito toma a forma da figura 2.45.
112
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Re jXe Rr jXr
Ir
e
V
Mede-se a potência (Pcc), a tensão de alimentação (Vecc) e a corrente da linha (Iecc). Aplicando
as expressões (2.68), (2.69) e (2.70), obtêm-se os valores da resistência e reactância
equivalentes por fase.
Pcc
cos jcc = senjcc (2.68)
3Vcce I e
Vcce
3 ( estrela ) (2.69)
Z cc =
( triângulo )
e
I
3
R e + R r = Z cc cos jcc
(2.70)
X e + X r = Z cc senjcc
Tal como no caso dos transformadores, apesar das aproximações, os ensaios de rotor livre e
bloqueado permitem a determinação dos parâmetros do circuito com uma precisão aceitável.
É preciso ter em atenção que estes ensaios permitem apenas obter o modelo aproximado
reduzido ao estator. Medindo-se a resistência do estator, a do rotor reduzida ao estator resulta
de (2.71). Já no caso da reatância não é possível separar a reatância equivalente em estator e
rotor
113
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
para que deste modo este consiga arrancar. A aceleração desenvolvida pelo rotor durante o
arranque resulta da diferença entre o binário motor e o binário de carga, bem como da inércia
do conjunto motor/carga. Neste sentido, e dependendo da aplicação, o binário de carga pode
apresentar as mais variadas características. Na figura 2.46 estão representados alguns exemplos
típicos de binário de carga.
Tmu 1 2 3 4
12
10
Binário [Nm]
6
0
1 0.8 0.6 0.4 0.2 0
Escorregamento
Tal como analisado anteriormente verifica-se que binários de carga constantes são típicos de
máquinas de elevação, cintas transportadoras, trituradoras, entre outras, ao passo que prensas e
algumas máquinas ferramentas apresentam binários lineares. Já as bombas centrífugas,
ventiladores, centrifugadoras e batedeiras caracterizam-se por binários quadráticos. Em
oposição aos anteriores, as bobinadoras e trefiladoras caracterizam-se por altos binários
resistentes no arranque diminuindo com a velocidade.
O tempo que o rotor demora até atingir uma velocidade estável em regime permanente
depende do binário de carga aplicado no veio, da inércia das massas girantes e da característica
do binário do motor. A expressão do binário mecânico interno (binário eletromagnético), em
regime dinâmico é dado por (2.72), onde (Tp) representa o binário de perdas mecânicas, (Tc) o
binário de carga, (Jm+ Jc) os momentos de inércia da máquina elétrica e da carga e (d2/dt) a
aceleração angular.
114
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
d2
Tmi = ( J m + J c ) + Tp + Tc (2.72)
dt
Considerando o binário mecânico útil (Tmu =Tmi -Tp) ao invés do binário mecânico interno, a
aceleração angular da máquina é calculada por (2.73), onde J representa a soma das inércias
das massas girantes.
d 2 Tmu − Tc
= (2.73)
dt J
f J
t= d 2 (2.74)
i Tmu − Tc
Como se pode ver na figura 2.47, a integração numérica de (2.74) pode apresentar grandes
desafios, principalmente na definição do binário de carga e na resolução matemática da
expressão, o que por vezes pode ser particularmente difícil de resolver. Outro método passa por
calcular o binário de aceleração para vários intervalos de velocidade definindo intervalos de
velocidade onde o binário possa ser linearizado. Do somatório dos intervalos de tempo desde o
instante em que o motor começa a rodar até que alcança um valor estável de velocidade resulta
o tempo total de aceleração. Na prática, uma aproximação bastante aceitável passa por
considerar a média dos binários, tanto o de carga como o do motor e desse modo calcular o
binário de aceleração médio Ta(médio) como em (2.75) e representado na figura 2.47.
f J
t= d 2 (2.75)
i Ta ( médio )
115
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
25
20
Binário [Nm]
15
10
Ta
5
0
1 0.8 0.6 0.4 0.2 0
Escorregamento
J 2 n2
tarr = (2.76)
Ta ( médio ) 60
116
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
O arranque direto acaba por ser o método mais simples caracterizando-se pelo seu baixo
custo e elevado binário. Com o estator da máquina alimentado diretamente à tensão nominal,
considerada constante, o binário de arranque depende fundamentalmente de aspetos
construtivos, nomeadamente da impedância e do número de pares de polos. A maior
desvantagem deste método são as elevadas correntes de arranque. No momento do arranque a
velocidade do rotor é nula e consequentemente o escorregamento é unitário resultando o modelo
aproximado da figura 2.48. Como tal, tanto a máquina de rotor em gaiola de esquilo como a de
rotor bobinado têm, eletricamente, o mesmo comportamento de um transformador alimentado
à tensão nominal com o secundário em curto-circuito. Desprezando a corrente Io, a corrente por
fase no momento do arranque é calculada, com uma boa aproximação, pela expressão (2.77).
Ie Re jXe Rr jXr
Io
Ir
Ve Rp Ip jIm jXm
Figura 2.48 – Modelo aproximado de uma máquina assíncrona com o rotor bloqueado
Ve
e
I arr I arr
r
= (2.77)
(R e
+R ) +(X
r 2 e
+X )
r 2
Verifica-se assim que a corrente no momento do arranque é limitada apenas pela impedância
da máquina. Tipicamente, motores de rotor em gaiola de esquilo com baixa resistência podem
apresentar valores de corrente de arranque até 9 (ou mais) vezes a corrente nominal. Apesar de
esta corrente ocorrer apenas durante um período transitório relativamente curto, baixando
significativamente de amplitude muito rapidamente, convenhamos que mesmo assim é um
valor bastante elevado. Isto poderá levar a elevadas quedas de tensão na instalação elétrica que
poderão perturbar os restantes equipamentos ligados na mesma rede (autómatos, sensores,
contactores, etc), bem como a atuação intempestiva dos dispositivos de proteção e aumento da
temperatura das canalizações elétricas e da própria máquina. Esta corrente, apesar de elevada,
não corresponde forçosamente a binários de arranque muito elevados. Genericamente o valor
117
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
do binário de arranque é mais baixo que o valor de binário máximo. Recordemos que o binário
depende explicitamente do quadrado da tensão de alimentação não dependendo da corrente.
É necessário ter particular atenção nos arranques diretos sobre a rede de distribuição pública
de motores que acionem máquinas de grande inércia, tenham arranques lentos, arranques
frequentes ou que utilizem travagem ou inversão de marcha por contra corrente.
Tabela 2.4 – Corrente máxima de arranque de motores alimentados diretamente pela rede
de distribuição (pública)
Ligação do Utilização dos Intensidade máxima de arranque [A]
motor locais Rede aérea Rede subterrânea
Habitação 45 45
Monofásico
Outros usos 100 200
Habitação 60 60
Trifásico
Outros usos 125 200
No caso dos “outros usos”, indicados na tabela 2.4 inclui-se o sector terciário, indústria,
serviços comuns de edifícios de habitação, locais agrícolas e pecuários, etc. Na tabela 2.5 são
indicadas as potências máximas (em kW), dos motores mais comuns que, em regra, satisfazem
as correntes de arranque indicadas na tabela 2.4.
10
Regulamento Técnico de Instalações Elétricas de Baixa Tensão
118
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Tabela 2.5 – Potência estipulada máxima dos motores alimentados diretamente por uma
rede de distribuição (pública)
Motores trifásicos 400 V
Motores
Outros modos
Tipo de local Tipo de rede monofásicos Arranque direto
de arranque
230 V à plena carga [kW]
[kW]
Habitação Qualquer 1,4 5,5 11
Aérea 3 11 22
Outros locais
Subterrânea 5,5 22 45
Mesmo no caso em que os motores não são alimentados diretamente de uma rede de
distribuição pública, a corrente de arranque continua a ser um dos grandes problemas inerentes
a utilização de máquinas elétricas. Nesse sentido foram concebidos outros métodos de arranque
de modo a minimizar o seu impacto nas redes de energia.
No momento do arranque, com os enrolamentos do estator ligados em estrela cada fase está
alimentada a uma tensão raiz de três vezes menor que a tensão nominal. Considerando que
todos os parâmetros da expressão do binário são constantes pode-se aplicar a relação (2.78).
Verifica-se assim que o binário (e a potência) em estrela será um terço dos valores obtidos com
a ligação em triângulo. Como tal é imperativo ter-se uma noção concreta do valor do binário de
carga que é aplicado no arranque, de modo a garantir que mesmo com o binário motor reduzido
a um terço, este ainda seja suficiente para a máquina arrancar.
119
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
K U
=
TY 3 1
T = .T (2.78)
K (U )
2
T 3
Este tipo de arranque tem o seu grande campo de aplicação quando as máquinas arrancam
em vazio ou com binário resistente baixo. Na figura 2.49 está representada a característica de
binário para um arranque / típico, bem como dois binários de carga genéricos.
400 231 TL TL
25
20
Binário [Nm]
15
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
Também o instante em que se dá a comutação para triângulo deverá ser escolhido com algum
cuidado no caso de binários resistentes que variem com a velocidade. Se a comutação for feita
demasiado tarde o binário resistente pode tomar valores que impeçam que o arranque se realize
totalmente.
O aspeto mais positivo deste método é o facto da corrente de linha em estrela ser 1/3 da
corrente de linha em triângulo (2.79), o que obvia alguns dos problemas do arranque direto. Na
figura 2.50 está representado o comportamento do valor eficaz da corrente durante o processo
de arranque.
1
I L = .I L (2.79)
3
120
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
triângulo estrela
90
80
70
60
Corrente [A]
50
40
30
20
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
O preço é outro dos aspetos positivos uma vez que em termos de aparelhagem de comando
necessita de dois contactores a mais relativamente ao arranque direto.
Um dos aspetos negativos deste método deriva das características indutivas dos
enrolamentos, a transição / é acompanhada de importantes correntes transitórias.
V
Ia = Id . a (2.80)
Vd
Por outro lado, a relação entre a corrente de linha entrada no autotransformador (IaL) e a
corrente de linha do arranque direto (IdL) é dada por (2.81) o que implica que a corrente
absorvida da rede se reduz quadraticamente com a redução da tensão aplicada, o que demostra
a mais-valia deste método.
121
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
2
V
I aL = I dL . a (2.81)
Vd
Um dos aspetos negativos deste método é a consequente redução do binário fruto da redução
da tensão de alimentação. Como o binário varia quadraticamente com a tensão, a relação entre
o binário de arranque por autotransformador Ta, e o binário de arranque direto Td, é descrita por
(2.82). Por conseguinte, tensões de arranque muito reduzidas levam a que o binário se reduza
numa proporção quadrática em relação à variação da tensão. Por exemplo, uma diminuição da
tensão para 80% do seu valor nominal conduz a um decréscimo do binário para 64% do seu
valor. Consequentemente este arranque só pode ser utilizado quando o binário de carga no
arranque for reduzido devendo o dimensionamento dos valores de tensão de cada tomada do
autotransformador ser feito com o conhecimento da característica do binário de carga.
2
V
Ta = Td . a (2.82)
Vd
Nas figuras 2.51 e 2.52 estão representados, respetivamente, um exemplo típico do binário
e corrente para arranques por autotransformador em quatro tempos (200V, 300V, 340V e
400V).
30
25
20
Binário [Nm]
15
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
122
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
35
30
25
Corrente [A]
20
15
10
5
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
Com este dispositivo o motor nunca é desligado da rede durante o arranque pelo que a
corrente não é interrompida e os fenómenos transitórios são suprimidos. No final do arranque
o autotransformador é colocado fora de serviço sendo o estator alimentado diretamente da rede
evitando-se as perdas elétricas introduzidas pelo autotransformador.
Este método tem, regra geral, um custo de investimento mais elevado que os anteriores, mas
permite o arranque de máquinas de grande potência com correntes relativamente reduzidas.
Este método consiste na ligação em série com os enrolamentos estatóricos de uma bateria de
resistências (trifásicas). Após o pico de corrente no arranque, estas são progressivamente curto-
circuitadas pelo que as ligações elétricas dos enrolamentos não são alteradas durante o arranque.
A tensão de alimentação do estator varia em função da q.d.t. provocada pela corrente de
arranque ao atravessar as resistências adicionais. Esta q.d.t. não se mantém constante durante o
período de aceleração uma vez que a corrente absorvida atinge o seu valor máximo no instante
inicial de ligação à rede, diminuindo à medida que a velocidade vai aumentando. Assim, a q.d.t.
nas resistências diminui e a tensão aos terminais do motor aumenta progressivamente. Na figura
2.53 está representada a evolução da tensão de alimentação aos terminais do estator em função
do escorregamento para vários valores de resistências adicionais (3, 2, 1).
123
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
0 1 2 3
450
Tensão [V]
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
À imagem dos métodos de arranque analisados até agora, considerando que Vd é a tensão da
rede e que Va é a tensão aos terminais do estator durante o arranque (resistências inseridas no
circuito), resulta a expressão (2.83), isto é, as correntes nos enrolamentos são proporcionais à
relação das tensões.
V
Ia = Id . a (2.83)
Vd
Ve
(R + RAD ) + ( X eq + X AD ) (R ) + ( X )
2 2 2 2
Ia eq
= Ia =
eq eq
Id (2.84)
Ve (R + R ) + ( X + X )
2 2
Id
eq AD eq AD
(R ) + ( X )
2 2
eq eq
124
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
0 1 2 3
35
[V]
Tensão[A]
Corrente
30
25
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
Neste tipo de arranque a tensão nominal é aplicada a uma velocidade mais elevada do que
no arranque /, pelo que os picos de corrente são consideravelmente mais amortecidos.
Como a tensão de alimentação varia durante o arranque, uma vez mais o binário irá variar
quadraticamente, como indicado em (2.85) e verificado na figura 2.55.
2
V
Ta = Td . a (2.85)
Vd
3R r ( I a )
2
2
(R + X )
2
Ta 1 Ta
= =
eq eq
(2.86)
Td 3R ( I d )2
r
Td (R + R ) +(X + X )
2 2
eq AD eq AD
1
0 1 2 3 TL TL
30
Binário [Nm]
25
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
Figura 2.55 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências estatóricas
125
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Este processo é raramente utilizado uma vez que é pouco económico devido às perdas por
efeito de Joule nas resistências adicionais, sobretudo quando os arranques são frequentes.
Na mesma linha de raciocínio das resistências estatóricas, também podem ser utilizadas
reactâncias estatóricas como método de arranque. Geralmente são utilizadas para o arranque de
motores de grande potência e de média tensão. Neste caso as perdas por efeito de Joule são
menores devido à baixa resistência elétrica das reactâncias, apresentando, porém, baixo fator
de potência.
O arranque por resistências rotóricas é usado, como é óbvio, apenas nos motores de rotor
bobinado. Os enrolamentos rotóricos apresentam o mesmo número de pares de polos do estator
e têm uma das extremidades ligada em estrela. A outra extremidade está acessível através de
escovas e anéis coletores rotativos, sendo ligados em série com resistências externas, as quais
estão ligadas entre si também em estrela. No momento do arranque estas estão inseridas no
circuito sendo retiradas à medida que o rotor aumenta de velocidade, limitando a corrente no
rotor e consequentemente a corrente absorvida pelo estator. O cálculo das resistências a inserir
no rotor permite determinar com rigor a curva binário-velocidade desejada. Assim, para um
determinado binário, a velocidade é tanto mais baixa quanto mais elevado é o valor da
resistência sendo a velocidade máxima atingida com a supressão total das resistências
adicionais. Uma vez que a tensão de alimentação é constante e as ligações elétricas do estator
não são alteradas, a relação entre o binário de arranque com resistências rotóricas e o arranque
direto é dado pela relação (2.87) em que o fator k de (2.88) representa a relação entre o valor
das resistências adicionais e a resistência própria do rotor.
Ta
=
(
k ( R e ) + 2R e R r + ( R r ) + ( X eq )
2 2 2
)
( )
(2.87)
Td k 2R e R r + k ( R r )2 + ( R e )2 + ( X eq )2
RAD
k = 1+
Rr (2.88)
126
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
2 R e R r + ( R r ) + ( R e ) + ( X eq )
2 2 2
Ia
=
( )
(2.89)
k 2 R e R r + k ( R r ) + ( R e ) + ( X eq )
2 2 2
Id
Este tipo de arranque é indicado para todos os casos em que os picos de corrente devem ser
reduzidos ao mesmo tempo que o binário de carga no arranque é muito elevado. Para além disso
é bastante flexível, uma vez que é fácil ajustar a configuração das curvas às solicitações
pretendidas (binário resistente, valor da aceleração, ponta máxima de corrente, etc.). As
expressões (2.87) e (2.89) não têm aplicação prática direta, sendo aqui apresentadas apenas para
demonstrar que não existe uma relação direta facilmente visível entre os valores das resistências
adicionais do rotor e o binário e correntes de arranque.
30
Binário [Nm]
25
20
15
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
Figura 2.56 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências rotóricas
0 1 4 7
25
20
15
Corrente [A]
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento
Figura 2.57 – Exemplo típico da corrente por arranque por resistências rotóricas
127
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Um aspeto muito importante deste método é o fato de, ao contrário de todos os outros
métodos, não haver redução do valor de binário máximo. Através da expressão (2.54) é possível
dimensionar as resistências adicionais de modo que este seja posicionado onde for necessário
(como por exemplo no arranque).
O dimensionamento do reóstato de arranque tem como objetivo por um lado definir o binário
de arranque e por outro limitar a corrente de arranque a um determinado valor. Para tal é
necessário especificar-se o binário mínimo que garanta aceleração suficiente e que irá definir a
corrente mínima de arranque bem como o valor da corrente máxima admissível.
r2
Rn-1
Rn-2
R1
Figura 2.58 – Circuito do reóstato de arranque para uma máquina de rotor bobinado
Durante o processo de arranque pretende-se que o valor máximo da corrente nunca ultrapasse
um valor predefinido, mesmo quando há alteração do valor das resistências adicionais. Por uma
questão de facilidade nos cálculos considera-se desprezável a impedância do estator bem como
a reactância de magnetização e a resistência de perdas no ferro resultando a expressão (2.90).
Ve
Ie = (2.90)
2
R + RAD
r
+(X )
r 2
s1
Assim verifica-se que existe uma relação entre o valor da resistência (rotor + adicional) e o
escorregamento que define o valor máximo da corrente, como indicado em (2.91). O valor R1
representa a soma da resistência do rotor da máquina com a totalidade das resistências
adicionais, s1 é o escorregamento no arranque e smax é o escorregamento para a qual todas a
resistências adicionais são curto-circuitadas, restando apenas a resistência do enrolamento do
rotor reduzido ao estator Rr. Manipulando (2.91) obtém-se simplificadamente (2.92).
128
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Ve Ve Ve
r
I max = = = ............. = (2.91)
2 2 2
R1 R2 R
+(X ) +(X ) +(X )
r
r 2 r 2 r 2
s1 s2 smax
R1 R2 R3 Rr
= = = ............ = (2.92)
s1 s2 s3 smax
Ve Ve Ve
r
I min = = = ............. = (2.93)
2 2 2
R1 R2 Rn −1
+(X ) +(X ) +(X )
r 2 r 2 r 2
s2 s3 smin
R1 R2 R3 R
= = = ............ = n −1 (2.94)
s2 s3 s4 smax
Ve Ve
r
I max = r
I min = (2.95)
2 2
r2 r2
+(X ) +(X )
r 2 r 2
smax smin
R1 R r Rr
= R1 = (2.96)
s1 smax smax
smin
= (2.97)
smax
129
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Individualmente, cada resistência (b) a ligar entre os contactos 1 até n calcula-se pela
diferença entre os diversos valores de R(1...n-1), resultando:
b1 = R1 − R2 = R1 (1 − )
b 2 = R2 − R3 = R1 ( − 2 ) = b1
b3 = R3 − R4 = R1 ( 2 − 3 ) = 2 b1
b 4 = .... enquanto Rn-1 − R r >0
Este método apesar de ser bastante dispendioso, principalmente pelo preço da máquina,
permite a grande mais-valia de proporcionar elevados binário de arranque, no limite o binário
máximo, com valores de corrente relativamente reduzidos.
A introdução de harmónicas parasitas é outra das questões a ter em conta, uma vez que
utilizam elementos semicondutores cujo comportamento é não linear. No entanto como
geralmente é feito um bypass ao equipamento após o arranque, este problema é pontual e
130
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
resume-se ao intervalo de arranque ou paragem. Este bypass permite que o mesmo equipamento
seja utilizado para arrancar ou parar sequencialmente vários motores maximizando o uso do
dispositivo. Na figura 2.59 a) está representado um esquema genérico de um arrancador suave
a tirístores bem como o diagrama de operação com indicação do tempo de arranque e de
travagem, figura b).
U
Un
3~
U0
tarranque ttravagem t
a) b)
Qualquer um dos métodos anteriormente indicados gera perdas de energia o que resulta no
aquecimento dos motores. Arranques sucessivos podem aumentar excessivamente esta
temperatura e levar ao encurtamento da sua vida útil. Aquando da escolha de uma máquina é
importante ter em atenção o número máximo de manobras por hora. Este aspeto será estudado
mais adiante num ponto próprio.
131
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Até meados dos anos 80 variar da velocidade de um motor de indução trifásico era uma
tarefa relativamente difícil e dispendiosa, principalmente se fosse pretendida uma gama
alargada de velocidades mantendo um rendimento aceitável. Só com o desenvolvimento da
eletrónica de potência e métodos de controlo avançados é que essa tarefa ficou mais facilitada
sendo atualmente algo bastante corriqueiro e economicamente acessível. Neste ponto vão ser
apresentados alguns métodos de variação de velocidade, desde os mais clássicos até às mais
recentes técnicas envolvendo controlo escalar11.
Existem fundamentalmente duas técnicas para a comutação de polos, o método dos polos
consequentes e a utilização de múltiplos enrolamentos. A primeira técnica, proposta no final do
século XIX, permite fazer relações de velocidade 1:2 mediante a alteração das ligações de um
único enrolamento. Estes motores denominam-se motores Dahlander e apesar de existirem
atualmente diversas tecnologias para variar a velocidade de motores assíncronos o seu uso ainda
é economicamente viável, nomeadamente para aplicações onde se deseja apenas uma alteração
discreta da velocidade numa relação 1:2. A sua construção caracteriza-se por enrolamentos com
passos polares reduzidos (60 a 90º) tal como se representa na figura 2.63 (representação de uma
única fase). Seguindo a notação anteriormente utilizada na análise gráfica do campo girante,
verifica-se que entrando a corrente por -a1 e saindo por a1 cria-se o campo magnético
11
Existem métodos de variação de velocidade mais avançados, nomeadamente o controlo vetorial que
exige uma análise mais profunda e que não será abordada neste documento.
132
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
representado na figura 2.63 a). Se o terminal a1 for ligado ao a2 saindo por -a2 cria-se um campo
magnético com mesmo sentido do anterior, resultando um estator com um par de polos.
-a1
a1
H1
a1 -a1 a2 -a2
-a2
a2 i(t)
H1
a)
Considere-se agora o exemplo 2.63 b), a ligação entre o terminal a1 e a2 é comutada para o
terminal -a2. Neste caso são criados dois campos magnéticos com sentidos opostos,
consequentemente os fluxos são obrigados a fecharem-se como indicado na figura criando-se
dois campos magnéticos consequentes. Deste modo obtém-se um estator com dois pares de
polos e metade da velocidade do campo girante.
-a1
a1
H1
a1 -a1 a2 -a2
H1 H1
H1
-a2
a2 i(t)
b)
Na passagem da configuração de um par para dois pares de polos o valor do binário máximo
poderá ser manter-se constante (binário constante), metade do anterior (binário variável) ou
ainda o dobro (potência constante), dependendo apenas da forma como as bobinas do estator
são ligadas. Nas figuras 2.64 a) a c) são apresentados possíveis modos de ligação; a) binário
constante, b) potência constante e c) binário variável.
133
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
T4
Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T4, T5, T6
Baixa T1 T2 T3
T2 T1 desligadas
T1, T2, T3
Alta T4 T5 T6
T3 ligadas
T6 T5
a)
T1
Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T5 T4
T1, T2, T3
Baixa T4 T5 T5
ligadas
T4, T5, T6
Alta T1 T2 T3
T2
desligadas
T3
T6
b)
T4
Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T4, T5, T6
T2 Baixa T1 T2 T3
T1
desligadas
T1, T2, T3
T3 Alta T4 T5 T6
ligadas
T6 T5
c)
A figura 2.65 mostra as possíveis características de binário para cada tipo de ligação. Note-
se que para a alta velocidade a característica de binário é a mesma independentemente do tipo
de ligação.
134
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
45
Binário [Nm]
40
35
30
25
20
15
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
velocidade [r.p.m]
A principal desvantagem desta solução é poder apenas variar a velocidade de uma razão 1:2.
Para ultrapassar esta limitação podem-se construir máquinas com enrolamentos estatóricos
separados com diferentes números de pares de polos. Como exige dois ou mais enrolamentos
completos separados tornam-se excessivamente onerosos e apenas são utilizados quando é
absolutamente necessário. Existe ainda a possibilidade de conjugar a técnica dos polos
consequentes e enrolamentos múltiplos obtendo-se motores com quatro velocidades diferentes.
135
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
0 2 4 6 TL_quad TL
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
Este método permitia aumentar o escorregamento em cerca de 20 %, o que não é uma gama
muito alargada de variação de velocidade, principalmente para cargas lineares.
Tc = k 2 . Por seu lado a potência necessária para escoar um caudal Q à pressão p com
rendimento resulta da expressão (2.98).
Q. p
P= (2.98)
Q = kt 3 . Desta forma, com 20% de escorregamento seria possível reduzir o caudal até
aproximadamente 51%.
Este método para além de ser pouco económico devido ao preço da máquina e das
resistências é um processo dissipativo que faz com que o rendimento seja reduzido. A utilização
de eletrónica de potência permitiu substituir as resistências tornando o sistema mais eficiente.
Este método será estudado mais adiante no capítulo das máquinas de indução duplamente
alimentadas.
136
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
a)
400 380 360 300
340 TL_quad TL
25
Binário [Nm]
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
b)
137
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
50
Binário [Nm]
45
40
35
30
25
20
15
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
velocidade [r.p.m]
138
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
30 40 50 60 TL_quad TL
50
Binário [Nm]
45
40
35
30
25
20
15
10
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
escorregamento [p.u.]
Para além da variação do valor de binário máximo, na figura 2.69 é possível verificar que
também existe variação no escorregamento para o mesmo valor de binário, o que é comum à
utilização das resistências rotóricas e à variação da tensão de alimentação. Desprezando a
resistência do estator e consequentemente as perdas por efeito de Joule bem como as perdas em
vazio, o cálculo do rendimento resulta do quociente entre as expressões (2.36) e (2.34)
originado(2.99).
1− s r 2
3R r (I )
Pmi
s
1− s (2.99)
3R r ( I r )
2
Pag
s
Pode-se assim afirmar, com um erro aceitável, que o rendimento de uma máquina assíncrona
trifásica varia fundamentalmente com o escorregamento. Conclui-se assim que, para um mesmo
valor de carga, sempre que a velocidade é alterada à custa do escorregamento existe uma
degradação do rendimento o que torna os métodos anteriores energeticamente pouco rentáveis.
Existe outro detalhe que é imperativo analisar de modo a entender-se o método de variação
de velocidade que será estudado seguidamente. Para tal considera-se o esquema da figura 2.70
onde se despreza a impedância do estator bem como a resistência de perdas.
139
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Ie Rr/s jXr
Ir
Ve Im jLm
Ve
max = (2.100)
2 f
3 pR r s max
2
T (2.101)
2 ( R r ) + s 2 ( X r )
2 2
Manter o fluxo constante numa gama alargada de velocidades só se consegue com a tensão
e a frequência a variarem na mesma proporção. Deste modo foi criado o método V/f constante.
140
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Tal como no método de variação de frequência com tensão constante, esta tecnologia só teve
um desenvolvimento mais acentuado com o aparecimento de conversores de eletrónica de
potência baratos e fiáveis.
É possível assim verificar que enquanto a relação V/f se mantiver constante o binário
máximo também se mantém constante. Por outro lado, para valores de frequência superiores à
nominal o fluxo diminui pelo que naturalmente existirá uma redução (quadrática) do valor
máximo do binário, bem como variação do rendimento. As figuras 2.72 a) e b) mostram uma
representação teórica da evolução do binário e da potência para várias relações V/f.
T_max 400/80 400/70 400/60 400/50 361/44 323/38
284/31 245/25 205/19 113/6 163/13 TL_quad TL
70
Binário [Nm]
450
Tensão [V]
60
400
350
50 300
250
40
200
30 150
100
20 50
0
10
0 20 40 60 80 100
frequência [Hz]
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]
a) b)
Como a potência resulta do produto entre o binário e a velocidade angular do rotor, enquanto
o binário for constante a potência depende diretamente da velocidade, na zona de
enfraquecimento de campo a diminuição do binário é compensada pelo aumento da velocidade
resultando uma potência constante.
141
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
T P
Un Un
Potência
Binário constante
constante
Enfraquecimento
de campo
fn f fn f
a) b)
Figura 2.72 – Evolução teórica do binário e velocidade para várias relações V/f
Todo o estudo feito até este momento parte do princípio de que a impedância do estator é
desprezável, embora não o seja na realidade, podendo inclusivamente em algumas máquinas de
baixa potência apresentar valores apreciáveis. Na figura 2.73 estão representadas as
características de binário para as mesmas condições da figura 2.71, mas desta vez
contabilizando a impedância e consequentemente a q.d.t. no estator. Conclui-se assim que
conforme se diminui a tensão de alimentação existe uma redução do binário máximo. Para
valores muito baixos de tensão o binário motor pode nem sequer ser suficiente para vencer o
binário de arranque
400/80 400/70 400/60 400/50 350/44 300/38 250/31
200/25 150/19 50/6 100/13 TL_quad TL
70
Binário [Nm]
60
50
40
30
20
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]
Figura 2.73 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f e impedância
estatórica
Para obviar esta situação, quando o valor da frequência é muito baixo a relação V/f deixa de
ser constante introduzindo-se uma tensão de offset de modo a aumentar o binário, tal como
apresentado na figura 2.74. Deste modo é possível aumentar consideravelmente o binário
mesmo para valores de tensão muito baixos. A regulação deste valor de offset é particularmente
importante para o binário de arranque quando se utiliza o variador como arrancador suave.
142
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
450
Tensão [V]
60 400
350
50 300
250
40
200
150
30
100
50
20
0
0 20 40 60 80 100
10
frequência [Hz]
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]
Figura 2.74 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f com tensão de
offset
Outra forma de se calcular a tensão sem medir a corrente de alimentação passa pela
determinação do valor do binário máximo (Tmax) para a tensão e frequência nominais (fn). Assim
é possível determinar a tensão de alimentação para cada frequência (f’) associada às diferentes
velocidades. Para tal determina-se o escorregamento para o binário máximo através de (2.102)
(2.102), reescrita a partir de (2.54) e determina-se a tensão de alimentação com (2.103).
Rr
sT max = (2.102)
( Re ) + ( X e + X r ) ( f ' f n )
2 2
f '
2
fn
.T
Ve = r max (2.103)
3R smax
Na figura 2.75 está representada a curva V/f necessária para compensar a q.d.t. e obter
resultados iguais à figura 2.71 (fluxo e binário constantes). Para efeitos de comparação também
está representada a relação V/f constante.
143
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Tensão [V]
450
400
350
300
250
200 V/f const.
150
100
50
0
0 20 40 60 80 100
frequência [Hz]
450
Tensão [V]
60 400
350
50 300
250
40
200
150
30
100
20
50
0
0 20 40 60 80 100
10
frequência [Hz]
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]
Figura 2.76 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V2/f com tensão de
offset
Outra das grandes vantagens neste método é o facto de ter boas performances mesmo em
cadeia aberta não necessitando de retroação de velocidade, o que torna a sua utilização mais
fácil e menos onerosa.
144
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
A frenagem mecânica é feita através de dispositivos que de algum modo implicam desgaste
de material, tal como, calços, pastilhas, discos, etc, e são eficazes a imobilizar.
A frenagem elétrica não envolve desgaste de materiais, permite recuperar energia, reduz o
desgaste de materiais na travagem mecânica embora possa ser ineficaz na imobilização. Para
isso necessitam de apoio mecânico para a imobilização. Com a introdução da eletrónica de
potência, mais concretamente com o controlo por orientação de campo já é possível fazer a
imobilização sem a utilização de sistemas mecânicos. Este tipo de controlo não vai ser alvo de
estudo neste texto.
d 1
= (Tc − Tele − K D ) (2.104)
dt J
Na figura 2.77 está representada a evolução da velocidade de uma máquina em vazio sujeita
a uma travagem por amortecimento natural para várias relações J/KD.
145
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
180
Verifica-se que o tempo de paragem depende dos valores do momento de inércia (J) e do
coeficiente de atrito viscoso (KD). Um maior atrito provoca uma travagem mais rápida ao passo
que o momento de inércia torna a travagem mais lenta. Integrando a expressão (2.104) e após
alguma manipulação obtém-se a expressão (2.105) que permite determinar diretamente o tempo
total de paragem.
J i
t=− ln ( ) (2.105)
KD f
Este método consiste na troca de duas fases de alimentação do estator de modo a inverter o
sentido da velocidade do campo girante. Assim, a velocidade do campo girante passará a ser
contrária à do rotor pelo que o novo escorregamento resulta da expressão (2.106)
−n1 − n2 n +n
s= s= 1 2
−n1 n1
n2
s = 1+ (2.106)
n1
146
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Binário [Nm]
30
25
20
15
10
0
-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500
Velocidade [r.p.m.]
Por simplicidade consideremos que uma máquina com dois pares de polos está em vazio
com o rotor a rodar a uma velocidade n2 próxima do sincronismo n1 (1500 r.p.m.). Com a troca
das duas fases o sentido do campo girante inverte passando a -n1 (-1500 r.p.m). Nesse momento,
como o rotor tem inércia continua a rodar à velocidade n2. Enquanto a velocidade do rotor não
for zero a máquina está a funcionar como freio. É necessário ter em conta que a alimentação do
estator tem de ser interrompida antes do rotor inverter o sentido de rotação.
50
Corrente [A]
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2 1,75 1,5 1,25 1 0,75 0,5 0,25 0
Escorregamento [p.u.]
147
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Verifica-se que durante este processo a corrente é bastante elevada atingindo valores
superiores ao valor registado no arranque direto.
'
Se a velocidade do campo girante diminuir para uma velocidade n1 (1000 r.p.m.), o rotor
devido à sua inércia vai demorar um espaço de tempo até a velocidade do rotor ser menor que
n1' . Durante esse tempo a máquina comporta-se como gerador convertendo a energia cinética
das massas girantes do rotor em energia elétrica.
40
Binário [Nm]
30
20
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
-10
-20
-30
-40
Escorregamento [p.u.]
148
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica
Esta técnica resulta da substituição da alimentação alternada trifásica no estator por uma
alimentação em corrente contínua aplicada entre dois enrolamentos. Nesta situação deixa de
haver campo girante no estator sendo substituído por um campo magnético estacionário. Como
o rotor continua a rodar fruto da inércia as barras ou os enrolamentos do rotor cortam as linhas
de fluxo. Desta forma a máquina comporta-se como um qualquer gerador de magnetos
permanentes sendo induzida uma f.e.m. no rotor. Como este está em curto-circuito a potência
contida nas massas girantes será dissipada no circuito elétrico rotor até este parar.
Tal como se pôde constatar nas figuras 2.27 e 2.28 um dos possíveis regimes de
funcionamento das máquinas assíncronas trifásicas é o de gerador. Se esta estiver ligada à rede
de energia elétrica basta que a velocidade do rotor seja superior à do campo girante para que
exista produção de potência ativa, isto numa faixa de funcionamento estável compreendida
entre o sincronismo e o ponto de binário máximo como gerador. Se o binário que a máquina
motriz impõe for superior ao máximo o gerador irá acelerar atingindo velocidades muito
elevadas. O funcionamento desta máquina como gerador apresenta algumas limitações. Como
não tem circuito de excitação separado, que possa ser regulado, não permite por si só a geração
de potência reativa. Para além disso ela própria consome potência reativa de modo a criar o
campo girante. Na impossibilidade de se controlar explicitamente a sua tensão de saída o estator
terá de estar ligado à rede de energia, que acaba por definir o valor da tensão. Nesta
configuração, apesar de ser uma máquina assíncrona com velocidade do rotor variável, quando
ligada como gerador a uma rede de energia apresenta sempre tensão e frequência constantes.
A grande mais-valia destes geradores é a sua simplicidade. Não necessita de ter sistemas de
excitação separados nem manter a velocidade de acionamento constante. Fundamentalmente
necessita apenas que a velocidade do rotor supere a do campo girante (até certo ponto) e quanto
maior for o binário aplicado maior será a potência ativa gerada. Estas características fazem com
que seja uma boa escolha para equipar geradores eólicos, mini-hídricas, etc. O controlo do fator
de potência, para compensar a potência reativa consumida para gerar o campo girante, pode ser
feito através de baterias de condensadores.
149
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina assíncrona monofásica
Recordemos a teoria do campo girante previamente abordada no ponto 2.3.1 e a figura 3.1,
agora repetida nas figuras 3.4 a) e b). Uma vez mais, considerando uma bobina de passo pleno
excitada por uma corrente alternada sinusoidal verifica-se que é criada uma f.m.m. pulsante ao
logo do entreferro cujo valor resulta de (3.1).
150
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
-a -a
F M AX -F M AX
refª
refª
a a
a) b)
Matematicamente, a expressão (3.1) pode ser decomposta nas expressões (3.2) e (3.3).
1
d ( , t ) = MAX cos ( − t ) (3.2)
2
1
i ( , t ) = MAX cos ( + t ) (3.3)
2
Isto significa que o vetor pulsante das figuras 3.4 a) e b) pode ser representado por dois
vetores imaginários com metade da amplitude máxima rodando em sentidos opostos. Um rodará
no sentido de rotação do rotor (direto) e o outro em sentido oposto (inverso). Esta manipulação
matemática resultou no teorema de Maurice LeBlanc: “Um enrolamento monofásico com p
pares de polos, percorrido por uma corrente alternada sinusoidal de pulsação , cria 2
conjuntos de p pares de polos fictícios idênticos com metade da amplitude, deslizando em
sentido contrário um do outro com velocidade angular /p”.
Na figura 3.2 está representada a evolução dos dois campos girantes durante meio período
de onda, representados pela f.m.m. direta (FD) e inversa (FI) bem como a f.m.m resultante.
Assim, e numa base teórica, existirão dois campos girantes com a mesma amplitude e
velocidade síncrona que irão induzir duas f.e.m. no rotor. Estas terão sentidos opostos bem
como as correntes resultantes. Como no momento do arranque as duas correntes têm o mesmo
valor a sua resultante será nula. Está assim justificado matematicamente a inexistência de
binário de arranque neste tipo de máquinas.
151
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica
-a -a -a
FD
FD
FD=FI FMAXcos(t) FMAXcos(t)
FMAXcos(t)
refª refª refª
FI
FI
a a a
-a -a -a
FD
FD
FD
FMAXcos(t) FMAXcos(t)
refª refª refª
FI
FI
FI
a a a
n1 − n2
sd = (3.4)
n1
n1 + n2
si = (3.5)
n1
resulta (3.6).
n1 + n1 − sd n1
si = si = 2 − sd (3.6)
n1
152
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
Ie Ie
r
1R 1 Rr
2 sd 1 2 s
j
1
Xm I dr j Xm I dr
2 2
1 r 1 r
j X j X
2 2
Ve Ve
1 Rr
1 Rr
r 2 2−s
2 si 1 I i
j
1
Xm
I ir j
2
Xm
2 1 r
1 r j X
j X 2
2
a) b)
P e = V e I e cos (j e ) (3.7)
Pcu = R e ( I e )
2
(3.8)
Uma vez que o modelo apresenta um ramo direto e outro inverso a potência total no
entreferro (Pag) é dada por (3.9), que resulta da potência entregue a cada circuito do rotor tal
como apresentado em (3.10) e (3.11).
1 Rr r 2
Pag ,d =
2 s
( Id ) (3.10)
1 Rr r 2
Pag ,i =
2 2−s
( Ii ) (3.11)
153
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica
Tal como explicado no modelo da figura 3.3, para evitar cálculos adicionais, as perdas
magnéticas são consideradas juntamente com as mecânicas, pelo que a potência mecânica útil
resulta da expressão (3.13).
Pag 600
Pagd
500
Potência [W]
Pagi
400
300
200
100
0
1 0,8 0,6 0,4 0,2 0
escorregamento
Tal como foi referido anteriormente, esta é uma das particularidades que separa as máquinas
de indução monofásicas das trifásicas. Outra é o sentido de rotação, ao passo que nas máquinas
trifásicas este é definido pela sequência de fases, nas máquinas monofásicas este não está
definido à priori.
3.3 – Binário
O binário útil desta máquina pode ser determinado diretamente pela expressão (3.14), ou
através das expressões das potências no entreferro, como em (3.15).
154
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
Pmi Po
Tmu = − (3.14)
2 2
Pag ,d Pag ,i
Tmi = − (3.15)
1 1
No entanto mantém-se a principal questão, como é que este tipo de máquina pode
desenvolver binário de arranque.
Este tipo de máquinas possui no estator dois enrolamentos independentes desfasados entre
si 90 graus. Um dos enrolamentos é denominado principal e o outro auxiliar. O enrolamento
auxiliar é ligado em paralelo com o principal através de um interruptor centrífugo, tal como
representado na figura 3.5. Este interruptor está mecanicamente acoplado ao rotor e abre ou
fecha em função da velocidade. No momento do arranque o interruptor está fechado permitindo
a alimentação a ambos os enrolamentos. Quando a velocidade do rotor atinge aproximadamente
75% da velocidade síncrona o interruptor abre deixando apenas o enrolamento principal
alimentado. Como já vimos anteriormente basta apenas um enrolamento para manter a máquina
a rodar, pelo que o enrolamento auxiliar apenas serve, tal como o nome indica, para auxiliar no
arranque.
155
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica
Enrolamento
principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo
Enrolamento
auxiliar
Ia
Ip
IL
156
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
as correntes dos dois enrolamentos aumentando assim o binário de arranque para níveis
próximos das máquinas trifásicas, nomeadamente 300% a 400% vezes o binário nominal.
CA
Enrolamento
principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo
Enrolamento
auxiliar
Ia
V
IL
Ip
157
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica
Enrolamento
Cp
principal
~ Rotor
Enrolamento
auxiliar
Ia
V
IL
Ip
Por último é proposta a configuração com dois condensadores da figura 3.11. Deste modo
pode-se dimensionar separadamente cada um dos condensadores para obter-se a melhor
performance possível, tanto no arranque como em carga. Tal como na configuração de fase
dividida com condensador de arranque, o condensador é dimensionado para maximizar o
binário de arranque sendo desconectado através do interruptor centrifugo a cerca de 75% da
velocidade síncrona. Pelo facto do enrolamento auxiliar se manter ligado em série com o
condensador permanente as correntes nos dois enrolamentos encontram-se em quadratura.
Deste modo o seu funcionamento aproxima-se ao de uma máquina bifásica desenvolvendo
binários elevados com bom rendimento. Esta configuração permite também reduzir o ruído e
as vibrações, embora seja a mais cara. O diagrama vetorial é formalmente idêntico ao da figura
3.10
158
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
CA
Enrolamento
Cp
principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo
Enrolamento
auxiliar
159
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica
é alimentada por uma tensão alternada sinusoidal cuja onda de fluxo se pode dividir em quatro
momentos temporais representados nas figuras 3.15 e 3.16 a) a d).
t
a) b) c) d)
Enquanto o fluxo da bobina aumenta até ao máximo positivo (situação a)) as correntes
induzidas nas espiras de Frager vão ter um sentido que se opõe ao crescimento desse mesmo
fluxo na porção sombreada do polo, forçando o fluxo a circular pela secção não sombreada.
Quando o fluxo diminui (situação b)) as correntes induzidas terão um sentido que se opõe a
essa diminuição reforçando assim a circulação do fluxo sob a secção sombreada. O mesmo
raciocínio é aplicado nas situações c) e d). De um modo simples é criado um campo girante que
induz f.e.m. no rotor e consequentemente, apesar de reduzido, binário de arranque.
Nestes motores não é possível inverter o sentido de rotação e caracterizam-se por ter um
rendimento muito baixo, o que é compensado pelo seu reduzido preço. Esta topologia está
geralmente disponível para potências nominais até 200 W.
160
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica
i i
a) b)
i i
v v
c) d)
161
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina de corrente contínua
4.1 – Introdução
Historicamente, considera-se que a máquina de corrente contínua foi inventada por Zénoble
Gramme. Apesar de existirem alguns estudos e protótipos anteriores foi Gramme que criou um
modelo verdadeiramente funcional e industrial de um gerador de corrente contínua. Assim em
1871 apresentou o seu dínamo de anel de Gramme. Posteriormente, em 1873, concluiu que a
máquina era reversível e que podia trabalhar como motor sendo o primeiro motor com potência
suficiente para aplicações industriais. A figura 4.1 mostra um exemplar da máquina de anel de
Gramme existente no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.
Como a configuração em anel se revelou pouco eficiente posteriormente foi substituída pela
configuração em tambor ainda usada atualmente. No entanto a configuração em anel ainda hoje
é o ponto de partida para o estudo da máquina de corrente contínua.
4.2 – Constituição
A máquina de corrente contínua, tal como a máquina assíncrona, possui um estator, um rotor
e entreferro, no entanto destaca-se das anteriores por ter um coletor de lâminas. O estator,
163
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
também designado por indutor, produz o campo magnético necessário para o funcionamento da
máquina. Nesse sentido, os enrolamentos do estator também são conhecidos como
enrolamentos de campo ou de excitação. Estes enrolamentos não estão inseridos em cavas, estão
enrolados à volta de peças polares. As várias configurações existentes de máquinas de corrente
contínua caracterizam-se segundo a forma como o campo magnético é criado.
O rotor, geralmente designado por induzido ou armadura, tem por seu lado os enrolamentos
inseridos em cavas ligados às lâminas de cobre do coletor e recebe a corrente elétrica através
de escovas de grafite. Na generalidade dos casos a corrente do rotor é várias vezes superior à
do estator. Apesar da alimentação da máquina ser em corrente contínua tanto o rotor como o
estator são feitos de chapas laminadas e isoladas entre si.
O coletor é constituído por lâminas de cobre instaladas sobre o veio e isoladas entre si em
que cada lâmina está ligada a pelo menos dois condutores do rotor. As escovas permitem a
ligação elétrica entre os enrolamentos do rotor e os terminais da máquina. A área de contacto
das escovas pode cobrir várias lâminas em simultâneo.
Na figura 4.2 está representado de uma forma genérica o rotor de uma máquina de corrente
contínua com o coletor de lâminas e escovas.
164
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Na figura 4.3 está representada, de uma forma genérica, uma máquina de corrente contínua
com os vários enrolamentos possíveis. Chama-se a atenção para a forma das peças polares do
estator em torno das quais são instaladas as bobinas de campo.
GA
HB
165
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
A direção e intensidade desta força é determinada pela expressão (4.1), também conhecida
como força de Laplace.
(
F = il B ) (4.1)
A direção da força pode ser determinada de uma forma muito prática recorrendo à regra da
mão esquerda apresentada na figura 4.5.
F
B
Para melhor se entender este conceito, na figura 4.6 está representado um modelo elementar
de uma máquina de corrente contínua com uma única espira. Uma vez entendido pode ser
extrapolado para as máquinas reais com n espiras.
166
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
1
1’
+
-
Para generalizar este estudo recorre-se ao modelo de uma máquina de anel de Gramme como
o indicado nas figuras 4.7 a) e b). O rotor é constituído por um anel ferromagnético sobre o qual
estão enrolada 8 bobinas com uma única espira. Os terminais dessas bobinas são ligados dois-
a-dois a cada lâmina do coletor perfazendo oito lâminas e a escova tem a largura de uma lâmina.
O campo magnético é constante com as linhas de indução no sentido Norte-Sul e a corrente no
rotor tem o sentido convencional.
167
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
y y
4 5
3 6
N + S N + S
- -
2 7
1 8
a) b)
Analisando a figura 4.7 a) verifica-se que a corrente aplicada à lâmina em contacto com a
escova ligada ao terminal positivo se divide pelas bobinas 4 e 5, fechando-se pelas bobinas 1 e
8. Consideremos que a corrente que entra nas espiras tem o sinal “×” e a que sai tem o sinal “•”.
Aplicando a regra da figura 4.5 conclui-se que as espiras 5, 6, 7 e 8 sofrem uma força segundo
o sentido negativo do eixo y, ao passo que os lados 1, 2, 3 e 4 sofrem uma força no sentido
positivo do eixo y. Desta forma resulta um binário de forças e o rotor roda no sentido horário.
Na figura 4.7 b) o rotor rodou ligeiramente no sentido horário e verifica-se que as bobinas 4 e
8 se encontram sobre o eixo dos yy, logo a corrente que nelas circula tem de ser nula, tal com o
analisado na figura 4.6.
Nas figuras 4.8 a) e b) está representado um modelo planificado das figuras 4.7 a) e b). As
bobinas são numeradas de 1 a 8 e estão ligadas entre as lâminas do coletor, representadas por
retângulos.
1 2 3 4 1 2 3
- + +
8 4
8 7 6 5 7 6 5
a) b)
Fazendo uma analogia com a figura 4.7, no exemplo a) a corrente divide-se pelos dois
circuitos em paralelo. Quando roda ligeiramente no sentido horário as bobinas 4 e 8 são curto-
circuitadas. Este processo repete-se enquanto o rotor estiver a rodar. Ou seja, a bobina 4 tomará
168
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
7 8 1 7 i 8 1
Colector v v
Escova
a) b)
7 i 8 1 7 i 8 1
v v
c) d)
7 8 1
e)
169
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
le − li
Tc = (4.2)
v
Por seu lado, a velocidade tangencial determina-se através de (4.3) e depende do diâmetro
do coletor (DC) e da velocidade de rotação n.
Dc n
v= (4.3)
60
Muita das vezes a comutação não é linear, a corrente inverte completamente antes do tempo
de comutação (comutação avançada ou sobre comutação) ou já depois do tempo (comutação
retardada ou sub-comutação). Qualquer um destes fenómenos é visível manifestando-se em
faíscas elétricas no coletor.
170
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
F = q. ( E + v B ) (4.4)
Esta permite calcular a força exercida sobre uma partícula de carga q na presença de campos
elétricos e magnéticos. No caso de existir apenas campo elétrico a expressão (4.4) toma a forma
de (4.5).
F = q.E (4.5)
F = q. ( v B ) (4.6)
Deste modo conclui-se que a força aplicada sobre a partícula é sempre perpendicular ao
plano definido pelos vetores da velocidade e da indução como indicado na figura 4.11, no caso
de a partícula estar carregada positivamente.
F
+
v
A expressão (4.6) também pode ser escrita como em (4.7), em que é o menor ângulo entre
o vetor da velocidade da partícula e o vetor da indução magnética.
F = qvBsen ( ) (4.7)
Verifica-se assim que a força magnética é nula quando a carga se encontra parada ou quando
é 0° ou 180°, ou seja, quando a partícula se desloca paralelamente ao campo magnético. De
uma forma expedita a direção da força pode ser determinada pela regra da mão direita indicada
na figura 4.12.
171
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Para se melhor entender este conceito consideremos que um condutor animado de uma certa
velocidade atravessa um campo magnético como indicado na figura 4.13.
Neste caso verifica-se que as cargas positivas sofrem uma força no sentido ascendente e as
negativas no sentido descendente. Deste modo obtém-se uma diferença de potêncial entre as
extremidades do condutor. Apliquemos agora este estudo à máquina de corrente contínua com
uma única espira da figura 4.14.
172
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
No lado da espira indicado como 1 haverá acumulação de cargas positivas junto da escova e
negativas no lado posto. O contrário acontece no lado indicado como 2. Deste modo regista-se
uma diferença de potencial aos terminais das escovas. Se os lados da bobina se deslocaram 180º
o fenómeno será idêntico. O coletor garante que a polaridade é sempre a mesma. Quando os
lados da espira estão paralelos às linhas de indução magnética a f.e.m. induzida é nula pelo que
qualquer gerador de corrente contínua é sempre constituído por mais de uma bobina de modo
que a f.e.m. seja o mais constante possível.
Considerando que o modelo da figura 4.7 b) está a funcionar como gerador resulta uma f.e.m.
como a da figura 4.15. Como cada lado do enrolamento tem três bobinas em série a f.e.m. total
resulta da soma das contribuições individuais.
E
[V] 3xe
e
8 7 6 5
8
3 2 1 8
4 2 34 t
As máquinas de corrente contínua são caracterizadas pela forma como o seu campo
magnético é criado. Nos exemplos indicados até este ponto considera-se que o campo
magnético é constante e criado por magnetos permanentes. Na realidade existem máquinas
deste tipo, mas geralmente têm pequena potência, sendo utilizadas como geradores
(taquigeradoras) ou como motores quando se pretende fazer controlo de velocidade ou de
posição com conversores eletrónicos. Máquinas para aplicações industriais com alguma
potência utiliza-se outros tipos de excitação.
Na figura 4.16 está representado o modelo de uma máquina de corrente contínua de excitação
separada (independente). Tem esta designação porque o circuito de excitação é separado do
circuito da armadura, podendo ter níveis de tensão bastante diferentes. Nesta configuração a
corrente de excitação (if) é variável através do reóstato de excitação (Rf), pelo que o fluxo
173
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
magnético também o é. A bobina Lf pretende apenas representar o fluxo produzido pelo circuito
de excitação.
if Ra
ia
Rc
Uf G E0 U
--
Rf,Lf
E0
If
Como as peças polares da máquina são feitas de material ferromagnético, para lá de um certo
valor de corrente de excitação o circuito magnético tem tendência a saturar.
174
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
E0 = ka (4.8)
Verifica-se também que a f.e.m. depende da velocidade angular do rotor. No entanto basta
traçar a caraterística magnética para uma qualquer velocidade , uma vez que para outra
velocidade basta fazer uma razão direta entre as velocidades. Para cada valor de corrente de
excitação a f.e.m. para uma qualquer velocidade ’, o novo valor de f.e.m. (E’0) resulta de (4.9)
.
'
E0' = E (4.9)
0
Como a velocidade das máquinas é dada quase sempre rotações por minuto a expressão (4.8)
toma a forma de (4.10) em que a transformação de ka em k resulta da seguinte manipulação
matemática:
pz pz 2 n pz
E0 = ka E0 = E0 = E0 = n
2 a 2 a 60 60a
E0 = k n (4.10)
Quando o gerador é posto em carga a tensão de saída resulta da expressão (4.11). O seu valor
depende da f.e.m. induzida, da q.d.t. na resistência da armadura, da q.d.t. devido à resistência
de contacto entre as escovas e as lâminas do coletor (Uc) e da reação magnética do induzido
(E).
U = E0 ( i f ) − Ra I a − U c − E (4.11)
175
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
E0,U
Rfif R fi f
U0
RLia
U
U0
U
if if ia ia
A determinação da q.d.t. na armadura é fácil de realizar bastando para isso conhecer o valor
da resistência da armadura. Como depende apenas da corrente tem uma característica linear. A
q.d.t. devido à resistência de contacto entre as escovas e o coletor é considerada constante. O
seu baixo valor leva a que geralmente seja desprezada. Por outro lado, a q.d.t. devido à reação
magnética do induzido é difícil de determinar analiticamente uma vez que tem um caracter não
linear. Esta característica, modelizada como uma q.d.t., resulta de uma diminuição do fluxo
magnético devido à distorção que o fluxo da armadura provoca no fluxo de excitação. Este tema
merece uma análise mais profunda que não será abordada neste texto.
O traçado da caraterística externa pode ser obtido por ensaios laboratoriais, principalmente
para se poder determinar os valores da reação magnética do induzido, uma vez que não é linear,
ao contrário das restantes q.d.t.
176
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
E0,U
U0
U0 RLia
Rfif U
U
if 0 iL iL
Tal como indicado anteriormente, existem outros modelos de geradores de corrente contínua,
nomeadamente de excitação paralela, de excitação composta e excitação série. Neste texto
apenas foi estudado o gerador de excitação independente uma vez que os demais têm aplicações
muito específicas pelo que não serão abordados neste texto.
177
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
if Ra
ia
Rc
Uf M E U
--
Rf,Lf
U − E'
Ia = (4.12)
Ra
No seguimento desta análise, nos motores existem três características que são
obrigatoriamente alvo de estudo, a característica de velocidade n=f(Ia), a característica de
binário T=f(Ia) e característica mecânica T=f(n).
U − Ra I a + E
n= (4.13)
k
178
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
1800
1600
Velocidade [r.p.m.]
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50
Corrente da armadura [A]
c/ DE s/ DE
80
70
60
Binário [Nm]
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50
Corrente da armadura [A]
179
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
kU k 2 2
Tmi = − n (4.15)
Ra Ra
1000
900
800
700
Binário [Nm]
600
500
400
300
200
100
0
0 500 1000 1500 2000
Velocidade [r.p.m.]
Este motor pode ser designado como de excitação em derivação, paralela ou shunt. Nesta
configuração o circuito de excitação está ligado em paralelo com o circuito da armadura.
Durante este texto usaremos as diversas denominações uma vez que são todas largamente
180
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Ra
ia i
Rc
M E
d
id U
-- Rd, Ld
U
Id = (4.16)
Rc + Rd
Pelo que as expressões (4.13) a (4.15) são totalmente aplicáveis neste tipo de motor. A
diferença reside na corrente da armadura uma vez que resulta de (4.17).
Ia = I − Id (4.17)
Ou seja, existe uma porção da corrente de alimentação que é derivada para o circuito de
excitação, daí excitação em derivação. As características de velocidade, binário e mecânica são
formalmente idênticas às do motor de excitação separada.
181
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Tal como o nome indica, nesta configuração o circuito de excitação encontra-se ligado em
série com o circuito da armadura tal como representado na figura 4.23.
Rc
Ra Rs,Ls
is i
ia
s
M E U
--
A corrente de excitação varia com a corrente da armadura pelo que é uma máquina de fluxo
variável. Como a corrente que percorre o circuito de excitação poderá ser igual à corrente da
armadura, o circuito de excitação caracteriza-se por um enrolamento com poucas espiras de
elevada secção. A corrente de entrada é igual à corrente da armadura, a do enrolamento série
depende do reóstato de campo Rc ligado em paralelo, como em (4.18).
Rc
Is = I (4.18)
Rc + Rs
Este motor tem a particularidade de embalar se for ligado em vazio. Como o fluxo depende
diretamente da corrente da carga a expressão (4.13) pode ser reescrita (4.19). Se a corrente de
alimentação for muito baixa a velocidade aumenta exponencialmente. Ou seja, este motor tem
de arrancar obrigatoriamente em carga.
U − Ra I a − Rs I s
n= (4.19)
kks I s
Na figura 4.24 está representada a característica de velocidade para este tipo de motor.
Verifica-se que para cargas muito baixas a velocidade é muito elevada, tendendo
assimptoticamente para infinito. Aliás, é o único motor que apresenta na chapa de característica
182
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Velocidade [r.p.m.]
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
0 20 40 60 80
Corrente [A]
O binário mecânico interno resulta da expressão genérica (4.14), no entanto como o fluxo
depende da corrente do enrolamento série, a expressão pode tomar a forma de (4.20).
Tmi = ka ks I s I a (4.20)
Se a corrente do enrolamento série for próxima da corrente da armadura (Ia≈Is), poderá tomar
a forma de (4.21).
Tmi = KI a2 (4.21)
100
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80
Corrente [A]
183
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
ka ksU 2
Tmi = (4.22)
Ra + Rs + kks n
2
250
200
Binário [Nm]
150
100
50
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
Vrlocidade [r.p.m.]
12
Os elétricos da Carris antigos ainda utilizam este tipo de motor.
184
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
circuito da armadura. Longa derivação significa que se situa depois do enrolamento série. As
diferenças são marginais por isso não se fará um estudo mais aprofundado.
Ra Rs,Ls
is
ia
s Rc
M E id U
-- d
Rd, Ld
= d ks I s (4.23)
Como a configuração subtrativa tem uma aplicação muito limitada a sua aplicação não será
alvo de análise. Apesar de ser possível, a configuração em excitação composta não costuma
conter reóstato de campo em paralelo com o enrolamento série.
U − ( Ra + Rs ) I a
n= (4.24)
k (d ks I s )
A diferença mais assinalável entre as expressões é a contribuição do fluxo série uma vez que
a q.d.t. devido resistência do enrolamento série é muito baixa, ainda menor que a da armadura.
Na figura 4.28 está representada a característica de velocidade de um motor de excitação
composta, para comparação está também representada a característica de um motor derivação.
185
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
1600
1400
1200
Velocidade [r.p.m.]
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50
Corrente [A]
Composto Derivação
100
80
Binário [Nm]
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50
Corrente [A]
Composto Derivação
186
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
200
150
100
50
0
0 500 1000 1500 2000
Velocidade [r.p.m.]
Composto Derivação
As aplicações usuais deste tipo de máquina são laminadoras, tesouras, guilhotinas e prensas.
Podem também ser utilizadas em guinchos, gruas ou elevadores que requeiram elevado binário
de arranque, que sejam propensos a mudanças de carga súbitas com variações súbitas entre a
plena carga e o vazio.
São máquinas com elevado binário de arranque como os motores serie, porém têm uma
característica de velocidade mais linear.
Nas expressões (4.24) e (4.25) existe um coeficiente ks que multiplicado pela corrente
permite determinar o fluxo produzido pelo enrolamento série. A sua determinação só seria
possível com um ensaio para a determinação da característica magnética alimentando o
enrolamento série. Seria interessante representar a contribuição do fluxo produzido pelo
enrolamento série, referido ao enrolamento de derivação. Ou seja, qual seria a corrente que se
deveria adicionar ao enrolamento derivação para fazer o mesmo efeito que o enrolamento série.
Esse valor resulta da expressão (4.26) em que a relação do número de espira do enrolamento
série e derivação se dá o nome de razão de equivalência.
Ns
I ex = I d + Ia (4.26)
Nd
187
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
188
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
n T
R1
R2 R1
R3 R2
R3
R3 >R2>R1 R3 >R2>R1
0 Ia 0 n
a) b)
n T
R1 R1
R3 >R2>R1 R2 R3 >R2>R1 R2
R3 R3
0 Ia 0 n
a) b)
n T
R1
R1 R2
R2
R3 R3
R3 >R2>R1 R3 >R2>R1
0 Ia 0 n
a) b)
189
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
n T
i1 i1
i2
i2
i2<i1
i2<i1
0 n
0 Ia
a) b)
190
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
n T
i2
i2
i2<i1 i1 i2<i1 i1
0 Ia 0 n
a) b)
É obrigatório que a excitação não seja nula, sob o perigo da máquina embalar. Uma forma
mais ou menos expedita para se detetar se a máquina está a arrancar sem excitação é observar
a velocidade de arranque. Normalmente a aceleração é bastante brusca, se não tiver excitação
o arranque é bastante mais lento e prolongado.
191
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
Em qualquer das situações apenas é possível diminuir a velocidade uma vez que não é de
todo aconselhável aumentar a tensão de alimentação para lá do seu valor nominal.
n T
U1
U2
U1 >U2 U1
U1 >U2 U2
0 Ia 0 n
a) b)
192
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
n T
U1
U1
U2
U2
U1 >U2 U1 >U2
0 Ia 0 n
a) b)
Uma vez mais esta técnica não tem grande aplicação em máquinas de excitação composta.
No caso da excitação série… como se pode ver nas figuras 4.38 a) e b).
n T
U1
U1
U1 >U2 U2 U1 >U2 U2
0 Ia 0 n
a) b)
Tal como abordado no capítulo dois a frenagem de motores de corrente contínua pode ser
efetuada de várias formas. O mais simples é a paragem por amortecimento natural já
amplamente abordada anteriormente. Os restantes métodos são por inversão da tensão,
dinâmica e regenerativa.
193
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
A frenagem por inversão da tensão de alimentação também conhecida por contra corrente
pretende inverter o sentido de rotação do rotor de modo a parar a rotação. Tal como nas
máquinas assíncronas trifásicas é necessário desligar a alimentação da armadura antes que o
sentido de rotação se inverta. Este tipo de frenagem é bastante exigente em termos de corrente
tal como se pode constatar pela expressão (4.27) uma vez que a corrente resulta da soma da
tensão e f.e.m. Para limitar a corrente transitória pode ser colocada em séria com o circuito da
armadura uma resistência R.
U + E'
Ia = (4.27)
Ra
U +E' U E' U k
Ia = Ia = + Ia = + a
Ra + R Ra + R Ra + R Ra + R Ra + R
U k
T = ka I a T = ka + a
Ra + R Ra + R
kaU ka2 2
T= + (4.28)
Ra + R Ra + R
194
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
do rotor para além de poder limitar a corrente no início da travagem, algo impossível na inversão
da tensão.
E' K
Ia = Ia = a (4.29)
Ra + R Ra + R
Conforme a velocidade vai diminuindo a f.e.m. também diminui bem como a corrente da
armadura e o binário de travagem (4.30). Desta forma a ação de travagem é mais eficaz nos
primeiros instantes diminuindo progressivamente com a velocidade.
ka ka2 2
Tmi = ka I a Tmi = ka Tmi = (4.30)
R + Ra R + Ra
ka2 ks2 I a2
Tmi = (4.31)
R + Ra
A trabalhar como motor a f.e.m. é sempre inferior à tensão de alimentação. Se for aplicada
uma diminuição brusca da tensão de alimentação a velocidade não diminui instantaneamente.
Como existe inercia durante algum tempo (período dinâmico) o valor da f.e.m. é superior à
tensão de alimentação. Nesse caso a corrente passa a ter sinal negativo e a máquina torna-se
dinamicamente um gerador. A potência produzida depende da diminuição da tensão de
alimentação e da inércia da máquina.
U − ka
Ia = (4.32)
Ra
Quando a velocidade baixar o suficiente para que a f.e.m. seja menor que a tensão de
alimentação a máquina volta a trabalhar como motor à nova tensão. Na figura 4.39 está
exemplificado de uma forma genérica o andamento da corrente durante uma travagem
regenerativa.
195
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
U
E
0 t
0 t
Nas máquinas de corrente contínua podemos identificar três tipos de perdas, nomeadamente
perdas elétricas na armadura e no circuito de excitação, perdas mecânicas e ventilação e perdas
no ferro na armadura.
Apesar de ser alimentado em corrente contínua podem aparecer perdas no ferro, o rotor tem
cavas onde são instaladas as bobinas, por conseguinte existe uma diferença na relutância entre
as cavas e os dentes. Essa diferença de relutância é suficiente para criara variações do fluxo e
criar perdas no ferro. Na figura 4.40 está representado um possível balanço de potência para
um motor de corrente contínua. Neste caso consideram-se que as perdas por efeito de Joule no
circuito de excitação estão juntas com as da armadura. Alguns autores preferem representar
estas perdas separadamente. Estas perdas estão representadas de forma genérica uma vez que
são determinadas de forma diferente conforme o tipo de excitação da máquina.
196
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua
197
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina de corrente contínua
BIBLIOGRAFIA
• Electrical machines, drives, and power systems, 4th ed. / Theodore Wildi, Upper
Saddle River : Prentice Hall, 2000, WIL. 621.313
• http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/hframe.htm
199