Você está na página 1de 213

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

Departamento de Engenharia Mecânica

Fundamentos de máquinas elétricas

3º semestre da licenciatura em Engenharia Mecânica

P. M. Fonte

Setembro de 2023
(Primeira edição)
ii
Índice

Lista de figuras ...................................................................................................................vii


Lista de Tabelas ................................................................................................................ xiv
Capítulo 1 – Transformadores de potência ....................................................................... 1

1.1 – Introdução .................................................................................................................. 1


1.2 – Constituição................................................................................................................ 1
1.3 – Modelo equivalente do transformador de potência .................................................... 4
1.3.1 – Transformador ideal em carga ........................................................................ 7
1.3.2 – Transformador real com perdas no núcleo ................................................... 10
1.3.3 – Transformador real com dispersão magnética .............................................. 15
1.3.4 – Redução dos parâmetros ao primário e secundário ...................................... 18
1.4 – Modelo aproximado do transformador de potência ................................................. 21
1.5 – Determinação dos parâmetros elétricos dos transformadores .................................. 24
1.5.1 – Ensaio em vazio ............................................................................................ 24
1.5.2 – Ensaio em curto-circuito ............................................................................... 26
1.6 – Característica externa do transformador .................................................................. 29
1.6.1 – Regulação da tensão...................................................................................... 33
1.7 – Rendimento de um transformador ............................................................................ 35
1.8 – Transformadores em redes trifásicas ........................................................................ 38
1.8.1 – Comparação entre bancos trifásicos e transformadores trifásicos ................ 38
1.8.2 – Ligações e convenções.................................................................................. 40
1.9 – Modelo equivalente do transformador trifásico ....................................................... 43
1.9.1 – Relação de transformação em transformadores trifásicos ............................ 44
1.10 – Associação em paralelo de transformadores .......................................................... 46
1.10.1 – Igual relação de transformação ................................................................... 46
1.10.2 – Iguais tensões de curto-circuito .................................................................. 47
1.10.3 – Iguais índices horários ................................................................................ 50
1.10.4 – Modelo matemático de dois transformadores em paralelo ......................... 57
1.11 – Autotransformadores .............................................................................................. 61
1.11.1 – Potência por indução e condução ................................................................ 62

Capítulo 2 – Máquina assíncrona trifásica ...................................................................... 69

2.1 – Introdução ................................................................................................................ 69


2.2 – Constituição.............................................................................................................. 70
iii
Índice

2.3 – Princípio de funcionamento ..................................................................................... 72


2.3.1 – Teoria do campo girante ............................................................................... 72
2.3.2 – Análise gráfica .............................................................................................. 74
2.4 – Modelo matemático da máquina de indução trifásica ............................................. 81
2.5 – Circuito equivalente reduzido ao estator ................................................................. 85
2.5.1 – Balanço de potência ..................................................................................... 86
2.5.2 – Característica de binário ............................................................................... 89
2.6 – Modelo aproximado reduzido ao estator ................................................................. 92
2.6.1 – Análise dos regimes de funcionamento (potência mecânica) ...................... 93
2.6.2 – Análise dos regimes de funcionamento (binário mecânico) ........................ 95
2.6.3 – Expressão de kloss ...................................................................................... 102
2.7 – Funcionamento em carga ....................................................................................... 105
2.8 – Determinação do rendimento................................................................................. 109
2.9 – Ensaios da máquina de indução trifásica ............................................................... 109
2.9.1 – Ensaio de rotor livre ................................................................................... 109
2.9.2 – Ensaio de rotor bloqueado .......................................................................... 112
2.10 – Arranque de motores assíncronos trifásicos ........................................................ 113
2.10.1 – Tempo de arranque ................................................................................... 114
2.10.2 – Arranque direto ........................................................................................ 117
2.10.3 – Arranque estrela-triângulo........................................................................ 119
2.10.4 – Arranque por autotransformador .............................................................. 121
2.10.5 – Resistências estatóricas ............................................................................ 123
2.10.6 – Resistências rotóricas ............................................................................... 126
2.10.7 – Arrancador Suave ..................................................................................... 130
2.10.8 – Outros métodos de arranque ..................................................................... 131
2.11 – Métodos de variação de velocidade ..................................................................... 132
2.11.1 – Comutação de polos ................................................................................. 132
2.11.2 – Adição de resistências rotóricas ............................................................... 135
2.11.3 – Variação de tensão com frequência constante .......................................... 137
2.11.4 – Variação de frequência com tensão constante .......................................... 138
2.11.5 – Variação de frequência e tensão (método do V/f constante) .................... 141
2.12 – Frenagem de máquinas assíncronas trifásicas ..................................................... 145
2.12.1 – Frenagem por amortecimento natural ...................................................... 145
2.12.2 – Frenagem por contra corrente .................................................................. 146

iv
Índice

2.12.3 – Frenagem regenerativa .............................................................................. 148


2.12.4 – Frenagem por injeção de corrente contínua .............................................. 149
2.13 – Máquina de indução como gerador ...................................................................... 149

Capítulo 3 Máquina assíncrona monofásica ................................................................. 150

3.1 – Teoria do duplo campo girante .............................................................................. 150


3.2 – Balanço de potência ............................................................................................... 153
3.3 – Binário .................................................................................................................... 154
3.4 – Métodos de arranque de motores de indução monofásicos .................................... 155
3.4.1 – Máquina de fase dividida ............................................................................ 155
3.4.2 – Fase dividida com condensador de arranque .............................................. 156
3.4.3 – Fase dividida com condensador permanente .............................................. 157
3.4.4 – Fase dividida com condensador de arranque e permanente ........................ 158
3.4.5 – Máquina de indução de polos sombreados ................................................. 159

Capítulo 4 Máquina de corrente contínua ..................................................................... 163

4.1 – Introdução .............................................................................................................. 163


4.2 – Constituição............................................................................................................ 163
4.3 – Princípio de funcionamento ................................................................................... 165
4.4 – Modelo elétrico do gerador .................................................................................... 173
4.4.1 – Caraterística magnética ............................................................................... 174
4.4.2 – Caraterística externa ................................................................................... 175
4.5 – Modelo elétrico do motor de corrente contínua ..................................................... 177
4.5.1 – Motor de excitação separada....................................................................... 177
4.5.2 – Motor de excitação em derivação ............................................................... 180
4.5.3 – Motor de excitação série ............................................................................. 182
4.5.4 – Motor de excitação composta ..................................................................... 184
4.6 – Métodos de variação de velocidade de motores de corrente contínua ................... 188
4.6.1 – Variação da resistência da armadura .......................................................... 188
4.6.2 – Variação da corrente de excitação .............................................................. 190
4.6.3 – Variação da tensão de alimentação ............................................................. 191
4.7 – Frenagem de motores de corrente contínua ........................................................... 193
4.7.1 – Frenagem por inversão da tensão de alimentação ...................................... 194

v
Índice

4.7.2 – Frenagem dinâmica .................................................................................... 194


4.7.3 – Frenagem regenerativa ............................................................................... 195
4.8 – Balanço de potência ............................................................................................... 196

Bibliografia ...................................................................................................................... 199

vi
Lista de figuras

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Representação elementar de um transformador ................................................ 1


Figura 1.2 – Transformadores trifásicos (distribuição); a) imersos; b) secos ........................ 2
Figura 1.3 – Transformador trifásico (potência) .................................................................... 3
Figura 1.4 – Transformadores em linhas aéreas; a) monofásico; b) trifásico ........................ 3
Figura 1.5 – Representação elementar de um transformador ideal em vazio ........................ 4
Figura 1.6 – Modelo do transformador ideal em vazio.......................................................... 7
Figura 1.7 – Diagrama vetorial de um transformador ideal em vazio (redutor) .................... 7
Figura 1.8 – Transformador ideal em carga ........................................................................... 8
Figura 1.9 – Modelo do transformador ideal em carga.......................................................... 9
Figura 1.10 – Transformador ideal com carga resistiva ........................................................ 9
Figura 1.11 –Transformador ideal com carga indutiva.......................................................... 9
Figura 1.12 – Transformador ideal com carga capacitiva ................................................... 10
Figura 1.13 – Registo temporal da tensão e corrente em vazio de um transformador......... 10
Figura 1.14 - Representação genérica de um ciclo de histerese .......................................... 11
Figura 1.15– Correntes de Foucault induzidas num circuito magnético ............................. 12
Figura 1.16 – Laminação de um circuito magnético ........................................................... 13
Figura 1.17 – Transformador em vazio com perdas no ferro .............................................. 14
Figura 1.18 –Modelo do transformador com perdas no núcleo ........................................... 14
Figura 1.19 – Transformador com perdas no ferro com carga resistiva .............................. 15
Figura 1.20 – Transformador com perdas no ferro com carga indutiva .............................. 15
Figura 1.21 – Transformador com perdas no ferro com carga capacitiva ........................... 15
Figura 1.22 – Representação do fluxo de dispersão nas bobinas de um transformador ...... 16
Figura 1.23 – Modelo equivalente de um transformador de potência ................................. 17
Figura 1.24 – Diagrama vetorial de um transformador real com carga indutiva (redutor) .. 18
Figura 1.25 – Modelo do transformador reduzido ao primário ........................................... 19
Figura 1.26 – Modelo do transformador reduzido ao secundário ........................................ 20
Figura 1.27 – Exemplo simplificado de uma rede de energia ............................................. 20
Figura 1.28 –Modelo da rede de energia ............................................................................. 21
Figura 1.29 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por defeito) ............................... 21
Figura 1.30 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por excesso) ............................. 22
Figura 1.31 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por excesso) ............................. 23

vii
Lista de figuras

Figura 1.32 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por defeito) .............................. 23


Figura 1.33 – Modelo aproximado reduzido ao secundário (por defeito) ........................... 23
Figura 1.34 – Modelo aproximado reduzido ao secundário (por excesso) ......................... 23
Figura 1.35 – Modelo resultante do ensaio em vazio .......................................................... 24
Figura 1.36 – Curva de magnetização ................................................................................. 25
Figura 1.37 – Registo temporal da tensão e corrente no ensaio em curto-circuito ............. 26
Figura 1.38 – Modelo resultante do ensaio em curto-circuito ............................................. 27
Figura 1.39 – Modelo resultante do ensaio em curto-circuito ............................................. 27
Figura 1.40 – Tensão de saída para uma carga predominantemente indutiva ..................... 30
Figura 1.41 – Tensão de saída para corrente constante e diferentes fatores de potência .... 31
Figura 1.42 – Característica externa de um transformador em função da carga ................. 32
Figura 1.43 – Tensão de alimentação em função da carga .................................................. 33
Figura 1.44 – Representação de comutadores de tomadas; a) sem tensão; b) em carga ..... 35
Figura 1.45 – Característica de rendimento ........................................................................ 36
Figura 1.46 – Banco trifásico de transformadores monofásicos ......................................... 38
Figura 1.47 – Núcleo de fluxos forçados (tipo core) .......................................................... 39
Figura 1.48 – Núcleo de fluxos livres (tipo shell) ............................................................... 39
Figura 1.49 – Tipos de ligações; a) estrela, b) triângulo, c) zig-zag ................................... 40
Figura 1.50 – Exemplos de transformadores em redes trifásicas ........................................ 43
Figura 1.51 – Modelo equivalente por fase de um transformador trifásico ........................ 44
Figura 1.52 – Relação de transformação em transformadores trifásicos ............................ 45
Figura 1.53 – Paralelo de transformadores com diferentes tensões .................................... 47
Figura 1.54 – Modelo simplificado de dois transformadores em paralelo .......................... 47
Figura 1.55 – F.e.m. induzida em enrolamentos com sentidos opostos .............................. 51
Figura 1.56 – Teste para verificação da polaridade das bobinas ......................................... 51
Figura 1.57 – Transformadores com bobinas de diferentes polaridades ............................. 52
Figura 1.58 – Ligações e diagrama vetorial de um transformador estrela-estrela .............. 53
Figura 1.59 –Ligações e diagrama vetorial de um transformador triangulo-estrela ........... 53
Figura 1.60 –Ligações e diagrama vetorial de um transformador triangulo-estrela ........... 54
Figura 1.61 – Verificação experimental da igualdade de índices horários ......................... 57
Figura 1.62 – Modelo aproximado de dois transformadores em paralelo ........................... 58
Figura 1.63 – a) Ligação como transformador monofásico; b) como autotransformador .. 61
Figura 1.64 – Ligações possíveis de um transformador de 2 enrolamentos como
autotransformador .................................................................................................................... 63
Figura 1.65 – Ligação à terra de autotransformadores ........................................................ 67

viii
Lista de figuras

Figura 1.66 – Autotransformador redutor em curto-circuito ............................................... 67


Figura 2.1 – Representação genérica de um estator............................................................. 70
Figura 2.2 – Representação de um rotor em gaiola de esquilo ............................................. 71
Figura 2.3 – Representação genérica de uma máquina de indução de rotor bobinado ......... 72
Figura 2.4 – Representação vetorial da evolução temporal da amplitude da f.m.m .............. 73
Figura 2.7 – Representação genérica de uma máquina de indução trifásica elementar........ 74
Figura 2.9 – Correntes de alimentação e instantes de tempo estudados .............................. 75
Figura 2.10 – Representação gráfica da evolução do campo girante ................................... 76
Figura 2.11 – Representação de um estator com dois pares de polos .................................. 77
Figura 2.12 – Representação gráfica da evolução do campo girante para dois pares de polos . 78
Figura 2.17 – Esquema equivalente da máquina de indução com o rotor bloqueado .......... 82
Figura 2.18 - Modelo equivalente da máquina de indução com o rotor em movimento ..... 83
Figura 2.19 – Modelo equivalente da máquina de indução com o rotor em movimento .... 84
Figura 2.20 – Modelo equivalente explicitando a resistência de carga ............................... 84
Figura 2.21 – Modelo equivalente reduzido ao estator ........................................................ 86
Figura 2.22 – Diagrama do balanço de potência numa máquina de indução, a) com as
perdas mecânicas explicitadas; b) com as perdas mecânicas contabilizadas juntamente com as
perdas magnéticas ..................................................................................................................... 88
Figura 2.23 – Característica de binário em função do escorregamento ............................... 89
Figura 2.24 – Pontos estáveis e instáveis de funcionamento como motor .......................... 90
Figura 2.25 – Pormenores dos pontos estáveis e instáveis de funcionamento como motor 90
Figura 2.26 – Modelo aproximado reduzido ao estator ....................................................... 92
Figura 2.27 – Característica de potência em função do escorregamento ............................. 94
Figura 2.28 – Característica de binário em função do escorregamento ............................... 97
Figura 2.29 – Característica de potência e binário em função do escorregamento ............. 98
Figura 2.30 – Variação da característica de binário em função da tensão de alimentação .. 99
Figura 2.31 – Variação da característica de binário em função da resistência rotórica
adicional ................................................................................................................................... 99
Figura 2.32 – Variação da característica de binário em função da resistência estatórica .. 100
Figura 2.33 – Variação da característica de binário em função da reactância equivalente 101
Figura 2.34 – Variação da característica de binário em função da frequência .................. 101
Figura 2.35 – Variação da característica de binário em função da velocidade .................. 102
Figura 2.36 – Característica eletromecânica calculada ...................................................... 105
Figura 2.37– Características de binários de carga ............................................................. 106
Figura 2.38 – Evolução da corrente em função do escorregamento .................................. 107
Figura 2.39 – Potência no entreferro (Pag) e mecânica interna (Pmi) ................................. 108

ix
Lista de figuras

Figura 2.40 – Perdas em vazio, no estator e no rotor ........................................................ 108


Figura 2.41 – Modelo aproximado para o ensaio de rotor livre ........................................ 110
Figura 2.42 – Diagrama vetorial das correntes no ensaio de rotor livre ........................... 110
Figura 2.43- Modelo aproximado para o ensaio de rotor livre com as perdas mecânicas
separadas ................................................................................................................................ 111
Figura 2.44 – Diagrama vetorial com perdas as mecânicas separadas .............................. 112
Figura 2.45 – Modelo aproximado para o ensaio de rotor bloqueado ............................... 113
Figura 2.46 – Exemplos típicos de binários de carga (1)-constante, (2)-linear,................ 114
(3)- quadrático, (4)-hiperbólico ......................................................................................... 114
Figura 2.47 – Determinação do binário de aceleração médio ........................................... 116
Figura 2.48 – Modelo aproximado de uma máquina assíncrona com o rotor bloqueado . 117
Figura 2.49 – Característica de binário no arranque / .................................................. 120
Figura 2.50 – Exemplo típico do valor eficaz no arranque / ........................................ 121
Figura 2.51 – Exemplo típico do binário em arranques por autotransformador ............... 122
Figura 2.52 – Exemplo típico do valor eficaz da corrente no arranque por
autotransformador .................................................................................................................. 123
Figura 2.53 – Evolução da tensão aplicada ao estator....................................................... 124
Figura 2.54 – Evolução da corrente estatórica .................................................................. 125
Figura 2.55 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências estatóricas .......... 125
Figura 2.56 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências rotóricas............. 127
Figura 2.57 – Exemplo típico da corrente por arranque por resistências rotóricas ........... 127
Figura 2.58 – Circuito do reóstato de arranque para uma máquina de rotor bobinado ..... 128
Figura 2.59 – Esquema genérico e operação de arrancadores suaves ............................... 131
Figura 2.63 – Esquemas de ligações do estator; a) configuração com um par de polos; b)
configuração com dois pares de polos ................................................................................... 133
Figura 2.64 – Esquemas de ligações do estator do motor Dahlander ............................... 134
Figura 2.65 – Características de binário em função dos tipos de ligação; a) binário
constante; b) potência constante; c) binário variável ............................................................. 135
Figura 2.66 – Variação de velocidade em função da resistência rotórica ......................... 136
Figura 2.67 – Variação de velocidade em função da tensão de alimentação .................... 137
Figura 2.68 – Variação do binário em função de velocidade de rotação, para várias
frequências de alimentação .................................................................................................... 138
Figura 2.69 –Variação do binário em função do escorregamento, para várias frequências de
alimentação ............................................................................................................................ 139
Figura 2.70 – Esquema simplificado de uma máquina assíncrona de indução ................. 140
Figura 2.71 – Evolução do binário para várias relações V/f ............................................. 141
Figura 2.72 – Evolução teórica do binário e velocidade para várias relações V/f ............ 142

x
Lista de figuras

Figura 2.73 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f e impedância
estatórica ................................................................................................................................. 142
Figura 2.74 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f com tensão de
offset ....................................................................................................................................... 143
Figura 2.75 – Relação V/f “real” ....................................................................................... 144
Figura 2.76 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V2/f com tensão de
offset ....................................................................................................................................... 144
Figura 2.77 – Evolução da velocidade em frenagem por amortecimento natural ............. 146
Figura 2.78 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente ........... 147
Figura 2.79 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente ........... 147
Figura 2.80 – Evolução do binário no processo de frenagem regenerativa ....................... 148
Figura 3.1 – Representação vetorial da evolução temporal da amplitude da f.m.m ............ 151
Figura 3.2 – Representação vetorial dos campos girantes e pulsante ................................ 152
Figura 3.3- Modelo equivalente de uma máquina de indução monofásica ....................... 153
Figura 3.4- Característica de potência no entreferro .......................................................... 154
Figura 3.5 – Máquina de indução monofásica de fase dividida......................................... 156
Figura 3.6 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida ................................... 156
Figura 3.7 – Máquina de indução monofásica de fase dividida e condensador de arranque
................................................................................................................................................ 157
Figura 3.8 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador de
arranque .................................................................................................................................. 157
Figura 3.9 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensador permanente
................................................................................................................................................ 158
Figura 3.10 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador
permanente.............................................................................................................................. 158
Figura 3.11 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensadores de
arranque e permanente ............................................................................................................ 159
Figura 3.12 – Variação do fluxo criado pela bobina.......................................................... 160
Figura 3.13 – Princípio de funcionamento da máquina de polos sombreados .................. 161
Figura 4.1 – Máquina de anel de Gramme......................................................................... 163
Figura 4.2 – Representação genérica do rotor de uma máquina de corrente contínua ...... 164
Figura 4.3 – Representação genérica de uma máquina de corrente contínua .................... 165
Figura 4.4 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 166
Figura 4.5 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 166
Figura 4.6 – Força aplicada sobre um condutor................................................................. 167
Figura 4.7 – Princípio de funcionamento de um motor de anel de Gramme ..................... 168
Figura 4.8 – Comutação da corrente no rotor .................................................................... 168
Figura 4.9 – Processo de inversão da corrente numa bobina ............................................. 169

xi
Lista de figuras

Figura 4.10 – Característica de comutação ....................................................................... 170


Figura 4.11 – Força exercida sobre uma carga positiva em movimento ........................... 171
Figura 4.12 – Força aplicada sobre uma carga elétrica positiva ....................................... 172
Figura 4.13 – Força de Lorentz aplicada às partículas de um condutor em movimento ... 172
Figura 4.14 – F.e.m. induzida numa espira em movimento .............................................. 172
Figura 4.15 – F.e.m. induzida total ................................................................................... 173
Figura 4.16 – Gerador de excitação separada.................................................................... 174
Figura 4.17 – Exemplo de caraterística magnética............................................................ 174
Figura 4.18 – Caraterística externa (variação da excitação) ............................................. 176
Figura 4.17 – Caraterística externa (variação da velocidade) ........................................... 177
Figura 4.18 – Motor de excitação separada ....................................................................... 178
Figura 4.19 – Característica de velocidade de um motor de excitação separada .............. 179
Figura 4.20 – Característica de binário de um motor de excitação separada .................... 179
Figura 4.21 – Característica mecânica de um motor de excitação separada ..................... 180
Figura 4.22 – Motor de excitação em derivação ............................................................... 181
Figura 4.23 – Motor de excitação série ............................................................................. 182
Figura 4.24 – Característica de velocidade de um motor de excitação série .................... 183
Figura 4.25 – Característica de binário de um motor de excitação série........................... 183
Figura 4.26 – Motor de excitação série ............................................................................. 184
Figura 4.27 – Motor de excitação composta ..................................................................... 185
Figura 4.28 – Característica de velocidade de um motor de excitação composta ............. 186
Figura 4.29 – Característica de binário de um motor de excitação composta ................... 186
Figura 4.30 – Característica mecânica de um motor de excitação composta .................... 187
Figura 4.31 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de
excitação derivação/independente.......................................................................................... 189
Figura 4.32 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de
excitação série ........................................................................................................................ 189
Figura 4.33 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de
excitação composta ................................................................................................................ 189
Figura 4.34 – Variação de velocidade com variação da corrente de excitação para um
motor de excitação derivação/independente .......................................................................... 190
Figura 4.35 – Variação de velocidade com variação da corrente de excitação para um
motor de excitação série ......................................................................................................... 191
Figura 4.36 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um
motor de excitação separada .................................................................................................. 192
Figura 4.37 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um
motor de excitação em derivação ........................................................................................... 193

xii
Lista de figuras

Figura 4.38 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um


motor de excitação série ......................................................................................................... 193
Figura 4.39 – Exemplo genérico de uma travagem regenerativa ...................................... 196
Figura 4.40 – Balanço de potência para um motor de corrente contínua .......................... 197

xiii
Lista de tabelas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Relação de transformação................................................................................. 6


Tabela 1.2 – Valores de coeficientes de Steinmetz .............................................................. 12
Tabela 1.3 – Convenções dos tipos de ligação. ................................................................... 40
Tabela 1.4 – Características de cada ligação. ...................................................................... 41
Tabela 1.5 – Tipos de ligações de transformadores trifásicos. ............................................ 41
Tabela 1.6 – Designação dos terminais. .............................................................................. 42
Tabela 1.7 – Índices horário de transformadores trifásicos ................................................ 54
Tabela 1.8 – Grupos de ligações. ........................................................................................ 57
Tabela 2.1 – Valores de velocidade padronizadas do campo girante .................................. 79
Tabela 2.2 – Regimes de funcionamento de uma máquina assíncrona ............................... 97
Tabela 2.3 – Dados técnicos sobre máquinas assíncronas trifásicas (Siemens) ................ 103
Tabela 2.4 – Corrente máxima de arranque de motores alimentados diretamente pela rede
de distribuição (pública)......................................................................................................... 118
Tabela 2.5 – Potência estipulada máxima dos motores alimentados diretamente por uma
rede de distribuição (pública) ................................................................................................. 119

xiv
Fundamentos de máquinas elétricas- Transformadores de potência

Capítulo 1 – TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA

1.1 – Introdução

Os transformadores de potência tiveram o seu desenvolvimento nos finais do século XIX


resultado do triunfo da tensão alternada defendida por Westinghouse e Nikola Tesla sobre a
tensão contínua defendida por Thomas Edison. Fundamentalmente, um transformador é uma
máquina elétrica estática com dois ou mais enrolamentos. Por indução magnética, transforma
um sistema de tensões e correntes alternadas num outro sistema de tensões e correntes
alternadas com a mesma frequência, para a transmissão de energia elétrica entre os dois
sistemas. Tem aplicações em sistemas de energia a nível da produção, transporte e distribuição
em tensão alternada. Permite, por exemplo, que a energia elétrica gerada possa ter o seu nível
de tensão aumentado e ser transportada a grandes distâncias com perdas reduzidas, diminuindo
novamente o nível de tensão para valores relativamente seguros para ser utilizada. Existem
também modelos desenhados especificamente para proteção de pessoas, para medição de tensão
ou corrente e aplicações em eletrónica. Podem ser encontrados com potências desde poucos VA
até centenas de MVA.

1.2 – Constituição

Um transformador, basicamente, é constituído por um circuito magnético fechado sem


entreferro, com pelo menos dois enrolamentos. O circuito magnético é composto por materiais
ferromagnéticos macios de alta permeabilidade, laminados e isolados entre si, como mostrado
na figura 1.1. Como veremos ao longo deste documento, a realidade mostra que é um sistema
relativamente mais complexo.

N1 N2

Figura 1.1 – Representação elementar de um transformador

1
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

O enrolamento que recebe energia elétrica é denominado primário ao passo que o que
fornece energia para jusante é denominado secundário. À semelhança das outras máquinas
elétricas o transformador é reversível podendo ser alimentado por qualquer dos lados.

Mesmo considerando apenas aplicações em redes de energia, existem inúmeras


configurações de transformadores de potência cada um com uma aplicação específica, tal como
as identificadas nas figuras 1.2 a 1.4

Na figura 1.2 a) está representado um transformador trifásico, imerso e hermético. Os


enrolamentos são introduzidos numa cuba hermética cheia de óleo isolante. Esta é a
configuração que apresenta o maior número de unidades instaladas nas redes de energia. A
figura 1.2 b) mostra um transformador trifásico do tipo seco que não necessita de cuba nem de
óleo isolante. Geralmente são utilizados em aplicações onde se pretende minimizar o risco de
fugas de óleo e incêndio tal como em caves ou instalações recebendo público. Como a sua
capacidade de refrigeração é menor do que nos imersos a sua gama de potencias é relativamente
limitada. Ambos os modelos são utilizados para interligar redes de distribuição em média tensão
com redes de baixa tensão sendo por isso muitas vezes apelidados de transformadores de
distribuição.

a) b)

Figura 1.2 – Transformadores trifásicos (distribuição); a) imersos; b) secos

Na figura 1.3 está representado um transformador trifásico imerso com deposito recuperador.
Ao contrário do hermético tem um depósito de óleo associado. Quando o transformador está
em carga o óleo expande e aumenta o nível no depósito, quando arrefece desce e recupera o
nível inicial.

2
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Figura 1.3 – Transformador trifásico (potência)

Os transformadores herméticos absorvem essa variação por deformação da cuba. É um


transformador de elevada potência, entre várias dezenas a algumas centenas de MVA, e é
utilizado em subestações de elevada potência, por isso são vulgarmente designados por
transformadores de potência.

Nas figuras 1.4 a) e b) estão representados transformadores utilizados em linhas aéreas.


Ambos são imersos e herméticos e interligam redes de distribuição em média tensão com redes
de baixa tensão. No caso da figura a) é uma configuração monofásica ao passo que na figura b)
é uma configuração trifásica.

a) b)

Figura 1.4 – Transformadores em linhas aéreas; a) monofásico; b) trifásico

Independentemente da designação pelo qual vulgarmente são conhecidos, veremos mais


adiante que todos eles se enquadram na categoria de transformadores de potência.

3
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1.3 – Modelo equivalente do transformador de potência

Na figura 1.5 está representado de forma genérica um transformador ideal em vazio. O


conceito “vazio” utiliza-se sempre que um transformador, apesar de estar alimentado, não
fornece potência no secundário, ou seja, não alimenta nenhuma carga elétrica. O conceito é
extensível as máquinas elétricas rotativas com as devidas adaptações. Por ser ideal considera-
se que a resistência dos enrolamentos é nula, o circuito magnético não está saturado e não há
perdas magnéticas. O fluxo magnético está inteiramente contido no núcleo magnético, ou seja,
não existe fluxo de dispersão.

0
i0

v1 e1 e2 v2
N1 N2

Figura 1.5 – Representação elementar de um transformador ideal em vazio

Analisemos agora o princípio de funcionamento do transformador à luz do estudado em


circuitos magnéticos. Quando se aplica uma tensão alternada sinusoidal v1 com amplitude
constante ao enrolamento N1 circula uma corrente i0, que por sua vez irá criar o fluxo 0 que
circula no núcleo magnético. Como a relutância do circuito magnético se mantém constante
com a tensão v1 o fluxo vai depender diretamente do número de espiras e da corrente i01, tal
como se constata na expressão (1.1).

 Ni
0 =  0 = 1 0 (1.1)
 

O fluxo ao atravessar o núcleo vai por sua vez induzir uma f.e.m. e1 no enrolamento do
primário resultando o valor eficaz E1 tal como descrito em (1.2):

d0 d
e1 = − N1  e1 = N1  0 MAX cos (t )   e1 =  N1 0 MAX sen (t )
dt dt

1
O índice “0” é utilizado para indicar que o transformador está em vazio (sem carga)

4
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

EMAX 2 fN10 MAX


E1 =  E1 = 
2 2

E1 = 4, 44 N1 f 0 MAX (1.2)

Como os enrolamentos do transformador são ideais o valor eficaz da f.e.m. E1 é igual ao


valor eficaz da tensão de alimentação V1 resultando a expressão (1.3):

V1 = 4, 44 N1 f 0 MAX (1.3)

Como por norma trabalham a tensão e frequência consideradas constantes os


transformadores são considerados máquinas de fluxo constante, (1.4).

V1
 0 MAX = (1.4)
4, 44 N1 f

Uma vez que o número de espiras e a relutância são constantes, a indutância do enrolamento
primário (L1) também o é, pelo que, com alguma manipulação matemática facilmente se conclui
que a corrente de magnetização do núcleo é sempre constante, como se constata em (1.5).

N1
L1I 0 MAX sen (t ) = N1 0 MAX sen (t )  I 0 MAX sen (t ) =  0 MAX sen (t ) 
L1

N1 N V1 N V1 V1
 I 0 MAX =  MAX  2 I 0 = 1  I0 = 1  I0 = 
L1 L1 4, 44 N1 f L1 2 2 N f 2 fL1
2
1

V1
I0 = (1.5)
 L1

Como o transformador é reversível a análise anterior também se aplica no caso de ser


alimentado pelo secundário.

Como não existe dispersão magnética todo o fluxo criado no primário irá atravessar o
enrolamento do secundário. Este fluxo, pelo fato de variar no tempo, para além de induzir uma
f.e.m. no enrolamento N1 também irá induzir uma f.e.m. no enrolamento N2. Recordando a
expressão (1.2) agora aplicada ao primário e secundário do transformador, com alguma
manipulação matemática conclui-se que a relação entre as f.e.m.’s é igual à relação entre o
número de espiras, tal como indicado em (1.6).

5
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

d
N1 0
d0 d0 e1 dt
e1 = N1 e2 = N 2 =
dt dt e2 N 0 d
2
dt

e1 N1
= (1.6)
e2 N 2

Como o transformador está em vazio e é considerado ideal pode-se inferir que não existe
queda de tensão nos enrolamentos e por conseguinte as f.e.m.’s são iguais às tensões, logo (1.6)
toma a forma de (1.7).

v1 e1 N1
= = (1.7)
v2 e2 N 2

À relação entre as tensões dá-se o nome de relação de transformação em vazio. Esta é uma
das principais características do transformador e vai servir de base para o restante estudo
apresentado neste capítulo. Assim os transformadores são caracterizados pela relação que existe
entre as tensões do primário e do secundário resultando a tabela 1.1.

Tabela 1.1 – Relação de transformação.


Relação do número de espiras Relação das tensões Denominação
N1>N2 V1 > V2 Redutor
N1<N2 V1 < V2 Elevador
N1=N2 V1 = V2 Isolador

É importante frisar que esta denominação refere-se apenas à relação entre tensões. Mais à
frente neste documento iremos ver o campo de aplicação de cada uma destas configurações.

Com o estudo realizado até este ponto é possível deduzir o modelo de um transformador
ideal em vazio e apresentá-lo na figura 1.6. A corrente Io é a corrente absorvida em vazio que
multiplicada pela reactância de magnetização Xm representa o fluxo magnético gerado. Este ao
variar no tempo irá induzir as f.e.m.’s induzidas no primário (E1) e secundário (E2). Como não
existe fluxo de dispersão nem queda de tensão no enrolamento do primário, nem corrente no
secundário, pode-se considerar que as tensões no primário e secundário são iguais às respetivas
f.e.m.’s.

6
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Io

jXm E1 E2 =V2
V1

Figura 1.6 – Modelo do transformador ideal em vazio

Na figura 1.7 está representado o diagrama vetorial do transformador da figura 1.6 como
redutor. Como o modelo é considerado ideal a corrente absorvida está 90º em atraso em relação
à tensão, uma vez que apenas está a produzir fluxo magnético. Note-se que nestes diagramas a
corrente I0 apresenta um valor muito exagerado em relação à realidade, servindo apenas para
facilitar leitura.

V2=E2 V1= E1
refª

j = 90o
(+)
Io

Figura 1.7 – Diagrama vetorial de um transformador ideal em vazio (redutor)

1.3.1 – Transformador ideal em carga

Ainda sob o pressuposto que o transformador é ideal vamos considerar que lhe foi aplicada
uma carga no secundário da qual resultou uma corrente sinusoidal i2. Esta corrente ao atravessar
as N2 espiras do secundário irá por sua vez criar um fluxo 2 também sinusoidal. Observando a
figura 1. 8 considerou-se num determinado instante que as grandezas elétricas têm os sentidos
indicados com o fluxo 2 em sentido oposto ao fluxo 0. Numa primeira análise depreende-se
que o fluxo 2 tenderá a desmagnetizar o circuito magnético. No entanto é preciso lembrar que
a tensão de alimentação e a f.e.m. são constantes, pelo que o fluxo 0 também terá de o ser.
Desse modo, para além de io o primário irá absorver uma corrente i com a amplitude necessária
para contrariar o efeito desmagnetizante do fluxo 2. Compreende-se assim que o fluxo

7
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

resultante continue a ser o fluxo 0 reforçando a ideia anteriormente apresentada que o


transformador é uma máquina que funciona a fluxo constante.

2
 0

i0+i i2

v1 e1 e2 v2
N1 N2

Figura 1.8 – Transformador ideal em carga

Falta agora determinar o valor da corrente adicional i que o transformador irá absorver para
criar o fluxo  e assim contrariar o efeito desmagnetizante da corrente do secundário.
Considerando que i1=i0+i e recordando o conceito de f.m.m., através de alguma manipulação
matemática obtém-se a expressão (1.8). Chega-se assim à conclusão que a corrente i é uma
imagem da corrente que circula no secundário afetada do inverso da relação de transformação.

0 = 1 − 2  N1i0 = N1i1 − N2i2 

N2
i1 = i0 + i2 (1.8)
N1

Desprezando a corrente em vazio, a expressão (1.8) toma a forma de (1.9).

i1 N 2
= (1.9)
i2 N1

Igualando (1.7) e (1.9) verifica-se que a relação das correntes é inversa da relação das
tensões, ou seja, se a tensão diminui no secundário a corrente irá aumentar e vice-versa.

V1 N1 I 2 V I
= =  1 = 2  V1 I1 = V2 I 2  S1 = S2
V2 N 2 I1 V2 I1

Com esta análise conclui-se que a potência de entrada é igual à potência de saída, de onde
resulta a classificação de transformadores de potência. Vulgarmente os transformadores são

8
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

caracterizados em função da sua potência nominal e papel na rede de energia como de


distribuição ou de potência, na realidade comportam-se todos com transformadores de potência.

Na figura 1.9 está representado o modelo de um transformador ideal em carga e nas figuras
1.10 a 1.12 os respetivos diagramas vetoriais. O transformador é considerado redutor.

I1 (N2/N1)I2 I2

Io

V1 jXm E1 E2 =V2 Z

Figura 1.9 – Modelo do transformador ideal em carga

(N 2/N1)I2 I2 V2 V1 refª (+)


j1
Io
I1

Figura 1.10 – Transformador ideal com carga resistiva

(N 2/N1)I2 V2 V1 (+)
refª
j2
Io j1
I2
I1

Figura 1.11 –Transformador ideal com carga indutiva

9
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

I2
j2
(+)
V2 V1 refª
j1
Io I1

Figura 1.12 – Transformador ideal com carga capacitiva

1.3.2 – Transformador real com perdas no núcleo

Consideremos agora que o transformador foi ensaiado em vazio e registaram-se as formas


de onda da tensão e corrente no primário. Verifica-se pela figura 1.13 que a tensão de
alimentação é alternada sinusoidal (com período de 20 ms), no entanto, a corrente apesar de
alternada não é perfeitamente sinusoidal.

Figura 1.13 – Registo temporal da tensão e corrente em vazio de um transformador

A distorção da forma de onda da corrente deve-se a um fenómeno associado aos materiais


ferromagnéticos denominado histerese magnética. Este fenómeno deve-se à fricção entre as
moléculas dos domínios magnéticos, ou seja, os dipolos são impedidos de voltar ao seu estado
de repouso. Conclui-se assim que após o campo magnético ser reduzido a zero o núcleo
continua com alguma indução. Isto significa que, da energia fornecida, apenas uma porção é
convertida novamente em energia elétrica e devolvida. Assim circuito magnético fica com
algum magnetismo remanescente (Br). Ou seja, verifica-se que a relação entre B e H não é
biunívoca, isto é, para um dado ciclo magnético, B tem dois valores para cada valor de H, um
quando H aumenta e o outro quando H diminui. Se o circuito for alimentado em corrente
alternada este fenómeno irá ocorrer quando o campo magnético for positivo e quando for

10
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

negativo. Para cada valor de indução máximo positivo existe sempre um máximo negativo de
igual valor. Na figura 1.14, à área representada dá-se o nome de ciclo de histerese. Do cálculo
da área fechada resulta as perdas magnéticas associadas ao ciclo de histerese.

B [T]
0,8

0,6

0,4

0,2

H [A/m]
0
-2000 -1000 0 1000 2000
-0,2

-0,4

-0,6

-0,8

-1

Figura 1.14 - Representação genérica de um ciclo de histerese

Estas perdas correspondem à energia dissipada resultado do aquecimento do núcleo e são


expressas por (1.10), onde KH o coeficiente de Steinmetz e n é o expoente de Steinmetz (varia
entre 1,5 e 2,5).

PH = K H fBmax
n
(1.10)

Compreende-se assim que as perdas por histerese são perdas ativas e dependem da indução,
uma vez que quanto maior for a indução maior será o ciclo de histerese. Dependem também da
frequência, a cada período de onda perde-se uma quantidade de energia equivalente ao ciclo de
histerese, logo, quanto mais ciclos houver por unidade de tempo maior é a energia perdida.
Finalmente depende do tipo de material do núcleo, na tabela 1.2 estão representados alguns
valores do coeficiente de Steinmetz.

11
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Tabela 1.2 – Valores de coeficientes de Steinmetz


Material kH
Ferro doce 2,50
Aço doce 2,70
Aço doce para máquinas 10,00
Aço fundido 15,00
Fundição 17,00
Aço doce 2% de Silício 1,50
Aço doce 3% de Silício 1,25
Aço doce 4% de Silício 1,00
Laminação doce 3,10
Laminação delgada 3,80
Laminação ordinária 4,20

Existem ainda outras perdas denominadas perdas por correntes de Foucault. Estas existem
porque o material do núcleo magnético além de possuir elevada permeabilidade apresenta
reduzida resistividade, logo baixa resistência elétrica. Assim, quando sujeito à ação de um
campo magnético variável no tempo vai ser sede de f.e.m. induzidas. Estas f.e.m. originam
correntes circulares (em sentido contrário à da bobina) que conduzem ao aquecimento do
núcleo, logo a perdas térmicas. Na figura 1.15 estão representadas de uma forma genérica
correntes de Foucault num núcleo magnético.

Figura 1.15– Correntes de Foucault induzidas num circuito magnético

Estas correntes são proporcionais à variação do valor do fluxo, quer em amplitude quer no
tempo, portanto, proporcionais à frequência. Assim, as perdas por correntes de Foucault
dependem do valor máximo da indução magnética Bmax, e da frequência, determinando-se
através de (1.11). O valor de n é o mesmo das perdas por histerese.

PF = K F f 2 Bmax
n
(1.11)

12
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Como veremos mais adiante o coeficiente KF está relacionado com aspetos construtivos, mas
um dos mais importantes é a secção do núcleo. Quanto maior for a secção menor será a
resistência à circulação das correntes de Foucault, e consequentemente maiores as perdas. À
soma das perdas por histerese e por correntes de Foucault dá-se o nome de perdas magnéticas.
Por abuso de linguagem também são denominadas perdas no ferro, embora genericamente os
núcleos não sejam feitos apenas de ferro, mas de ligas de ferro com cobalto, tungsténio,
alumínio e outros metais. Assim as perdas no ferro resultam da soma de (1.10) e (1.11)
resultando (1.12). Na falta de valores mais exatos considera-se que n = 2.

PFE = K H fBmax
2
+ K F f 2 Bmax
2
(1.12)

A diminuição das correntes de Foucault passa por aumentar a resistência do núcleo


magnético sem alterar a sua permeabilidade. Isso é conseguido diminuindo artificialmente a
secção do núcleo. Este, é laminado segundo o sentido do fluxo com as chapas isoladas entre si,
tal como representado nas figuras 1.16 a) e b).
i

i1

N1 N2

a) b)

Figura 1.16 – Laminação de um circuito magnético

Deste modo o coeficiente KF da expressão (1.11) pode ser determinado por (1.13), em que
kE é a resistividade das chapas magnéticas,  a sua espessura em milímetros e V o volume.

K F = k E V (1.13)

Além da laminação procura-se que os materiais que constituem os núcleos tenham elevada
resistividade, como tal adiciona-se silício para aumentar a resistividade das chapas magnéticas
sem incrementar o ciclo de histerese. Atualmente em quase todos os transformadores e em
certas partes das máquinas elétricas rotativas utiliza-se chapa laminada a frio (chapa de cristais
orientados) com percentagem de silício de 3%. Nas chapas laminadas a quente a percentagem
de silício é de 4 a 5%.

13
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Recordando a figura 1.13, idealmente a corrente estaria 90º atrasada em relação à tensão de
alimentação, o que equivaleria a um desfasamento temporal de 5 ms. No entanto a figura 1.13
demonstra que o atraso é menor, consequentemente o ângulo de desfasagem entre a tensão e a
corrente em vazio é menor do que 90º. Assim o diagrama vetorial da figura 1.7 pode ser
substituído pelo diagrama da figura 1.17.

Ip V2=E2 V1= E1 refª


o
j < 90
Im
(+)
Io

Figura 1.17 – Transformador em vazio com perdas no ferro

Verifica-se que a corrente absorvida tem uma componente reativa, correspondente à criação
do fluxo magnético, bem como uma componente ativa. Como o transformador está em vazio
esta componente terá de representar as perdas por efeito de Joule no núcleo2 do transformador,
ou seja, as perdas no circuito magnético. Desse modo o modelo da figura 1.7 passará ter a forma
da figura 1.18.

Io

Ip Im jXm E1 E2 =V2
V1 Rp

Figura 1.18 –Modelo do transformador com perdas no núcleo

Assim as perdas são representadas por uma resistência fictícia Rp que ao ser atravessada pela
corrente fictícia Ip, irá, matematicamente, dissipar a mesma energia que na realidade se dissipa
no núcleo. Como as perdas por histerese e corrente de Foucault são constantes devem ser
representadas num ramo em paralelo, de modo a não serem influenciadas pela variação da
corrente na carga.

2
Por abuso de linguagem, o termo perdas no núcleo e comumente substituído por “perdas no ferro”

14
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Nas figuras 1.19 a 1.21 estão representados os diagramas vetoriais de um transformador


redutor em carga com perdas no núcleo.

V2 V1
(+)
(N 2/N1)I2 refª
j1 I2
j0
I1
Io

Figura 1.19 – Transformador com perdas no ferro com carga resistiva

V2 V1
(+)
(N 2/N1)I2 refª
j2
I2
j1
Io
I1

Figura 1.20 – Transformador com perdas no ferro com carga indutiva

I2
j2
(+)
V2 V1 refª
j1
j0 I1
Io

Figura 1.21 – Transformador com perdas no ferro com carga capacitiva

1.3.3 – Transformador real com dispersão magnética

Até ao momento considerou-se que o fluxo magnético estava todo contido no núcleo
magnético, ou seja, o fluxo produzido pelo primário era conduzido na totalidade até ao
secundário. Recordando a análise feita no ponto 1.3.1, na verdade existe sempre uma porção de
fluxo magnético que se fecha pelo ar em torno das bobinas existindo assim dispersão magnética,

15
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

tal como indicado nas figuras 1.22 a) e b). A dispersão ocorre ao redor da bobina, neste caso é
apresentada apenas de um dos lados para simplificar o desenho.

21 12
i1 i2
+ + + +

d2 N
+ +
v1 ~ e1 N1 N2 e2 e1 N1 2
e2 ~ v2
-

d1
-

- - - -

a) b)

Figura 1.22 – Representação do fluxo de dispersão nas bobinas de um transformador

A bobina N1 ao ser percorrida por uma corrente i1 esta irá produzir um fluxo 1 = d1 + 21.
Porém apenas o fluxo 21 irá percorre o circuito magnético e atravessar a bobina N2 para induzir
a f.e.m. e2 enquanto d1 se irá dispersar. A mesma análise pode ser feita através do enrolamento
secundário. Este facto põe em causa os pressupostos que levaram à definição da relação de
transformação em vazio e à expressão (1.6). Assim surge a necessidade de se modelizar o fluxo
de dispersão. Esta modelização é conseguida com a introdução de uma bobina em série com os
enrolamentos, uma vez que este fluxo varia com a corrente da carga. Desta forma o fluxo de
dispersão é contabilizado fora do núcleo magnético que continua a ser considerado ideal e a
expressão (1.6) continua a ser válida.

Finalmente é necessário incluir no modelo a resistência própria dos enrolamentos,


modelizada com a introdução de uma resistência em série.

Na figura 1.23 está representado a totalidade do modelo equivalente monofásico de um


transformador de potência. Um aspeto muito importante a ter em conta é a validade deste
modelo. Este só é válido considerando que estamos a trabalhar em regime permanente, com
parâmetros concentrados, elementos lineares e ideais e a baixas frequências (abaixo do kHz).

16
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

N2
I2
R1 jX1 N1 jX2 R2
Io
I1 I2
V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2

N1 N2

Figura 1.23 – Modelo equivalente de um transformador de potência

As expressões (1.14) a (1.20) regem o funcionamento do transformador partindo do


conhecimento da tensão e corrente do secundário bem como a desfasagem entre elas.

E2 = ( R2 + jX 2 ) I 2 + V2 (1.14)

N1
E1 = E2 (1.15)
N2

E1
Ip = (1.16)
Rp

E1
Im = (1.17)
jX m

I0 = I p + I m (1.18)

N2
I1 = I 0 + I2 (1.19)
N1

V1 = ( R1 + jX1 ) I1 + E1 (1.20)

Pela observação do modelo da figura 1.23 e das expressões anteriores é possível traçar na
figura 1.24 um diagrama vetorial do funcionamento de um transformador real como redutor
com carga indutiva. Partindo da tensão do secundário V2 como referência e da posição da
corrente da carga I2 determina-se a q.d.t. no secundário obtendo-se a f.e.m. E2. Seguidamente
com a relação de transformação obtém-se a f.e.m. E1 do primário. Com esta determinam-se as
correntes Ip e Im. A corrente Ip é colinear com E1 e Im noventa graus em atraso. A soma vetorial
destas duas componentes permite obter a corrente Io que somada vectorialmente com (N2/N1)I2

17
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

resulta na corrente I1 do primário. Para se determinar a tensão de alimentação do transformador


calcula-se a q.d.t. nos enrolamentos do primário com a corrente I1 e soma-se vectorialmente
com E1. Para não sobrecarregar o desenho omitiu-se os vetores das correntes Ip e Im.

V1

E1
E2 X 1I 1
R 1I 1
X 2I 2
j1 V2
j2
refª (+)
j0 I2
R 2I 2
Io I1

Figura 1.24 – Diagrama vetorial de um transformador real com carga indutiva (redutor)

Este diagrama deve ser interpretado da seguinte forma, qual deverá ser a tensão que deve ser
aplicada no primário para poder alimentar uma carga RL que consome uma corrente de
amplitude I2 garantindo o valor da tensão V2.

1.3.4 – Redução dos parâmetros ao primário e secundário

Analisando o modelo da figura 1.23 e as expressões (1.21) e (1.22) verifica-se que é possível
obter-se uma imagem da corrente I2 e da f.e.m. E2 a partir do primário, bastando para isso
conhecer a relação de transformação.

N1
E1 = E2 (1.21)
N2

N2
I 2' = I2 (1.22)
N1

A relação do número de espiras pode simplificadamente ser representada pela letra m,


resultando as expressões (1.23) e (1.24).

E 1 = mE2 (1.23)

18
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

I2
I 2' = (1.24)
m

De igual modo podemos ter uma imagem da impedância do secundário vista do primário.
Para tal fazemos o seguinte raciocínio; se uma impedância no secundário pode ser determinada
com a corrente e a tensão no secundário, (1.25).

V2
Z2 = (1.25)
I2

Então com a imagem da tensão e corrente do secundário vistas do primário é possível


determinar uma imagem da impedância do secundário vista do primário através de (1.26).

V2' mV2 V
Z =
'
2  Z 2' =  Z 2' = m2 2 
I 2' I2 I2
m

Z 2' = m2 Z 2 (1.26)

Desta manipulação matemática obtém-se uma imagem da tensão, corrente e impedância do


secundário vistas do primário, tal como representado no modelo da figura 1.25.

R1 jX1 jm2X2 m2R2

Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2

N1 N2

Figura 1.25 – Modelo do transformador reduzido ao primário

Desta forma é possível fazer o cálculo da corrente e da q.d.t. interna do transformador


trabalhando com valores obtidos no primário sem a necessidade de os medir diretamente no
secundário. O mesmo raciocínio pode ser feito com a redução das grandezas ao secundário
através de (1.27), resultando o modelo da figura 1.26.

19
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

V1
'
V 1 V
Z1' =  Z1' = m  Z1' = 2 1 
1

I1' mI1 m I1

Z1
Z1' = (1.27)
m2

R1/m2 jX1/m2 jX2 R2

Io
I1' I2
2 Ip Im 2
V1 V1/m Rp/m jXm/m V2

N1 N2

Figura 1.26 – Modelo do transformador reduzido ao secundário

Estes modelos só são válidos porque se assegura o princípio da conservação da energia, ou


seja, quer as grandezas sejam reduzidas ao primário ou ao secundário a potência continua a ser
a mesma. Vejamos o exemplo das perdas por efeito de Joule no enrolamento do primário:

R1
2 (
PJ 1 = R1 I12 = mI1 ) = R1' I1'2
2
(1.28)
m

A potência é a mesma quer seja calculada com os valores reais do primário quer seja
calculada com os valores reduzidos ao secundário. Esta redução das grandezas é bastante
cómoda quando se trabalha com redes com mais do que um transformador.

Consideremos, hipoteticamente, o exemplo da rede da figura 1.27 e o respetivo modelo da


figura 1.28, bem como o diagrama vetorial da figura 1.24. As impedâncias das linhas entre
transformadores são desprezadas.

16 kV/30 kV 30 kV/0,4 kV

Figura 1.27 – Exemplo simplificado de uma rede de energia

20
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

N2 N2
I2 I2
R1 jX1 N1 jX2 R2 R1 jX1 N1 jX2 R2
Io Io
I1 I2 I1 I2
VG Rp Ip Im jXm Rp Ip Im jXm V2
E1 E2 E1 E2

N1 N2 N1 N2

Figura 1.28 –Modelo da rede de energia

Se for aplicada uma carga vai passar a circular corrente na rede com consequente q.d.t. nos
transformadores. Para se manter a tensão constante no fim da linha (V2) é necessário ajustar a
tensão na geração (VG) calculando as q.d.t. nos enrolamentos e aplicando sucessivas relações
de transformação. Se as impedâncias forem todas reduzidas ao primário do primeiro
transformador o cálculo das q.d.t. é feito com o mesmo nível de tensão não sendo necessário
aplicar sucessivas relações de transformação sempre que a carga variar.

1.4 – Modelo aproximado do transformador de potência

Com os avanços tecnológicos na produção de chapas magnéticas para os núcleos dos


transformadores estes apresentam cada vez menores perdas bem como menores correntes de
magnetização. A título de exemplo, num transformador 30kV/0,4kV de 630 kVA a corrente em
vazio é cerca de 0,35% da corrente nominal. Como tal, e por facilidade na obtenção dos
parâmetros elétricos do modelo, por vezes pode-se desprezar a q.d.t. criada pela corrente Io, tal
como indicado no modelo da figura 1.29.

R1 jX1 jm2X2 m2R2

Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2

N1 N2

Figura 1.29 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por defeito)

21
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Nesta aproximação, modelizada na expressão (1.29), introduz-se um erro por defeito, ou


seja, considera-se que a corrente em vazio não percorre o enrolamento do primário e como tal
não provoca q.d.t. nem perdas por efeito de Joule no primário.

( R + jX
1 1 + m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' < ( R1 + jX1 ) I1 + ( m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' (1.29)

No caso do modelo da figura 1.30, modelizado na expressão (1.30), introduz-se um erro por
excesso uma vez que se considera que a corrente em vazio para além de atravessar o
enrolamento do primário também atravessa o do secundário, apresentando uma q.d.t. e perdas
por efeito de Joule maiores que as reais.

R1 jX1 jm2X2 m2R2

Io
I1 I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2

N1 N2

Figura 1.30 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por excesso)

( R + jX
1 1 + m2 R2 + m2 jX 2 ) I1  ( R1 + jX1 ) I1 + ( m2 R2 + m2 jX 2 ) I 2' (1.30)

Desta forma pode-se definir uma impedância equivalente do transformador reduzida ao


primário ou ao secundário pelas expressões (1.31) e (1.32).

R e q1 = R1 + m2 R2
(1.31)
X e q1 = X 1 + m2 X 2

R1
R eq2 = + R2
m2
(1.32)
X
X eq2 = 21 + X 2
m

Nas figuras 1.31 a 1.34 estão representados os diversos exemplos de modelos aproximados
de transformadores de potência, tanto reduzidos ao primário, 1.31 e 1.32, como reduzidos ao
secundário, 1.33 e 1.34.

22
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Req1 jXeq1 I2
Io
I1
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2

N1 N2

Figura 1.31 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por excesso)

I1 Req1 jXeq1

Io
I2'
V1 Rp Ip Im jXm V2' V2

N1 N2

Figura 1.32 – Modelo aproximado reduzido ao primário (por defeito)

I1' Req2 jXeq2

Io
I2
V1 V1' Rp/m2 Ip Im jXm/m 2
V2

N1 N2

Figura 1.33 – Modelo aproximado reduzido ao secundário (por defeito)

Req2 jXeq2 I2
Io
I1'

V1 V1' Rp/m2 Ip Im Xm/m2 V2

N1 N2

Figura 1.34 – Modelo aproximado reduzido ao secundário (por excesso)

23
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1.5 – Determinação dos parâmetros elétricos dos transformadores

A determinação da relação de transformação bem como dos parâmetros elétricos do modelo


do transformador é feita através de ensaios laboratoriais, nomeadamente o ensaio em vazio e o
ensaio em curto-circuito. Estes ensaios estão definidos pela norma EN60076-1.

1.5.1 – Ensaio em vazio

Este ensaio consiste em alimentar um dos lados do transformador à tensão nominal deixando
o outro lado em aberto. Tomemos como exemplo o transformador da figura 1.23. Como está
em vazio a corrente no secundário (I2) é nula e consequentemente não existe q.d.t. no
enrolamento do secundário. Conclui-se assim que a tensão V2 é igual à f.e.m. E2, podendo-se
desprezar a impedância do secundário.

Por outro lado, como a corrente em vazio é bastante reduzida, pode-se, sem grande perda de
veracidade, considerar que a q.d.t. no enrolamento do primário também é nula. Desta forma
considera-se que a tensão de alimentação V1 é igual à f.e.m. E1 resultando o modelo da figura
1.35.

Io

V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2

Figura 1.35 – Modelo resultante do ensaio em vazio

Recordando a expressão (1.7), pode-se considerar que em vazio a relação de transformação


resulta da relação entre a tensão do primário e do secundário, tal como (1.33):

V1 E1
= (1.33)
V2 E2

Explica-se assim porque é que a determinação experimental da relação de transformação tem


de ser feita obrigatoriamente com o transformador em vazio.

24
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

O protocolo de ensaio define que o transformador deve ser alimentado à tensão nominal (Vn)
medindo-se a tensão em ambos os lados do transformador, bem como a corrente em vazio (Io)
e a potência em vazio (Po). Como se desprezaram as perdas no enrolamento do primário devido
à corrente em vazio, a potência medida corresponde às perdas no núcleo. Por uma questão
operacional geralmente o transformador é alimentado do lado da tensão mais baixa.

Com os valores medidos pode-se determinar os parâmetros associados ao circuito magnético


da figura 1.35. A corrente em vazio pode ser decomposta nas suas componentes ativa (Ip) e
reativa (Im) como indicado na figura 1.17. No caso dos transformadores trifásicos, as expressões
(1.34) a (1.36) são formalmente idênticas devendo-se, no entanto, ter em atenção o tipo de
ligação.

P0
cos j0 =  senj0 (1.34)
Vn I 0

I p = I 0 cos j 0
(1.35)
I m = I 0 senj 0

Vn
Rp =
IP
(1.36)
V
Xm = n
Im

O protocolo de ensaio exige que a tensão aplicada seja a nominal uma vez que, tal como
verificado na figura 1.13, os transformadores trabalham já na zona de saturação. conclui-se pela
figura 1.36 que não existe linearidade entre a corrente de magnetização e a indução.

0 io

Figura 1.36 – Curva de magnetização

Desse modo se o ensaio fosse feito a uma tensão inferior não seria possível extrapolar
diretamente o valor das perdas no ferro. Compreende-se que ao dobro da corrente de

25
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

magnetização não corresponde o dobro da indução magnética. Recorde-se que as perdas no


ferro dependem do quadrado da indução magnética, tal como apresentado na expressão (1.12),
aqui repetida na expressão (1.37).

PFE = K H fBMAX
2
+ K F f 2 BMAX
2
(1.37)

1.5.2 – Ensaio em curto-circuito

Tal como o nome indica, o ensaio consiste em curto-circuitar um dos lados do transformador
alimentando-se o outro lado até circular a corrente nominal. Por motivos operacionais, é comum
aplicar-se o curto-circuito no lado de menor tensão (maior corrente) e alimentar-se o
transformador pelo lado de maior tensão. Deste modo o sistema de alimentação não terá de
disponibilizar uma corrente tão elevada. Na figura 1.37 é apresentada a evolução temporal da
tensão e corrente num ensaio em curto-circuito.

Figura 1.37 – Registo temporal da tensão e corrente no ensaio em curto-circuito

Verifica-se que ao contrário do ensaio em vazio a corrente tem uma evolução sinusoidal
significando que o transformador está a trabalhar na zona linear não havendo saturação
magnética. Como a tensão de alimentação, denominada tensão de curto-circuito, é bastante mais
baixa que a nominal, a indução magnética também é bastante reduzida. Tomemos como
exemplo um transformador cuja tensão de curto-circuito é 5% da tensão nominal. Como a
indução magnética varia com a tensão de alimentação pode-se considerar que no ensaio em
curto-circuito a indução também é 5% da nominal. Reescrevendo a expressão (1.37) de uma

26
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

forma compacta em função da indução magnética, como em (1.38), é possível determina-se o


valor das perdas no ferro no ensaio em curto-circuito.

PFE = K ( BMAX )
2
(1.38)

PFE (CC ) = K ( 0, 05BMAX )  PFE (CC ) = 0, 052 K ( BMAX )  PFE ( CC ) = 0, 052 PFE 
2 2

1
PFE (CC ) = PFE
400

Compreende-se assim que no ensaio em curto-circuito é perfeitamente aceitável desprezar


as perdas no ferro bem como a reatância de magnetização. Assim os modelos das figuras 1.29
e 1.30 tomam a forma do modelo da figura 1.38.

jm2X2 m2R2 I2
R1 jX1

I1
V1cc

Figura 1.38 – Modelo resultante do ensaio em curto-circuito

Por relação de transformação compreende-se que a tensão do secundário reduzida ao


primário é nula podendo-se reescrever o modelo na forma da figura 1.39.

R1 jX1 jm2X2 m2R2

I1
V1cc

Figura 1.39 – Modelo resultante do ensaio em curto-circuito

Compreende-se assim que o objetivo do ensaio em curto-circuito é a determinação da


impedância equivalente dos enrolamentos do transformador.

O protocolo de ensaio define que o transformador deve ser alimentado gradualmente até que
nele circule a corrente nominal (In), registando-se a tensão de curto-circuito (Vcc) e a potência

27
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

(Pcc). Com estes valores obtêm-se os valores da resistência e reactâncias equivalentes com as
expressões (1.39) a (1.41):

Pcc
cos jcc =  senjcc (1.39)
Vcc I n

Vcc
Z cc = (1.40)
In

R1 + m 2 R2 = Z cc cos jcc
(1.41)
X 1 + m 2 X 2 = Z cc senjcc

Uma vez mais, no caso dos transformadores trifásicos as expressões são formalmente
idênticas, devendo-se, no entanto, ter em atenção o tipo de ligação.

Em ambos os ensaios, e apesar das aproximações, os resultados permitem a determinação


dos parâmetros do modelo com uma precisão aceitável. Note-se, porém, que através destes
ensaios só se consegue obter os modelos aproximados presentes nas figuras 1.31 a 1.34. Não é
trivial separar a reatância equivalente calculada nas reatâncias do primário e secundário. Só é
possível explicitar individualmente cada uma sabendo a relutância do circuito magnético e o
número de espiras. Já a resistência individual de cada enrolamento pode facilmente ser
determinada, por exemplo, pelo método do Voltímetro-Amperímetro.

A tensão de curto-circuito raramente é apresentada em valores absolutos, ao invés disso é


fornecida em percentagem da tensão nominal (1.42). Desta forma é possível fazer uma
comparação entre transformadores de diferentes marcas e modelos, sendo um parâmetro
fundamental a ter em conta na associação em paralelo de transformadores.

Vcc
ucc ( % ) = 100 (1.42)
Vn

Note-se que dois transformadores podem apresentar a mesma ucc(%) porém terem diferentes
relações entre a Req e a Xeq. É possível determinar qual a percentagem de queda de tensão
resistiva e indutiva através de (1.43). Tenhamos em atenção que a soma das q.d.t. resistivas e
reativas resulta de (1.44).

R eq I n X eq I n
uccR ( % ) = 100 uccX ( % ) = 100 (1.43)
Vn Vn

ucc = uccR
2
+ uccX
2
(1.44)

28
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

O conhecimento da ucc(%) permite-nos tirar várias conclusões, por exemplo, quanto menor
for a tensão de curto-circuito menor é a q.d.t. interna no transformador. Por outro lado, quando
acontecer um curto-circuito com o transformador alimentado à tensão nominal a corrente é
maior. Substituindo (1.42) em (1.45) é possível projetar qual será a corrente de curto-circuito à
tensão nominal através de (1.46).

Vn
I cc = In (1.45)
Vcc

100
I cc = In (1.46)
ucc ( % )

Tomemos como exemplo um transformador de 2,5 MVA com ucc = 4,5% e corrente nominal
no secundário de 3437 A.

100
I cc = 3437  I cc = 76378 A
4,5

Ou seja, um transformador projetado para um corrente nominal do secundário de 3437 A,


quando sofre um curto-circuito alimentado à tensão nominal terá o secundário atravessado por
aproximadamente 76,4 kA. Um curto-circuito à tensão nominal é sempre um acontecimento
perigoso e a evitar a todo o custo uma vez que têm implicações gravosas na vida útil dos
transformadores, nomeadamente:

• Sobreaquecimento exagerado

• Esforços eletrodinâmicos violentos entre as espiras dos enrolamentos

• Esforços eletrodinâmicos violentos no comutador de tomadas

• Esforços mecânicos sobre a cuba

• Contaminação do óleo isolante por bolhas de gases que se libertam

• Perdas de isolamento

1.6 – Característica externa do transformador

A caraterística externa de um transformador carateriza o valor da tensão de saída em função


da corrente da carga. Para se entender melhor o conceito consideremos o modelo aproximado

29
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

reduzido ao secundário da figura 1.33. Considerando que a tensão de alimentação do primário


é constante a sua redução ao secundário também o é, nesse sentido a tensão do secundário é
obtida pela expressão (1.47).

V2 = V1' − ( R eq 2 + jX eq 2 ) I 2 (1.47)

Neste caso uma análise gráfica ajuda a entender melhor o conceito. Na figura 1.40 está
representado o diagrama vetorial da tensão de saída de um transformador em função da
amplitude da corrente, com fator de potência indutivo constante.

V’1

(+)
V2[i]

V2[i]

j2
refª

I2
2

j2
2I
Zeq

refª

I2
jXeq2I2

jcc

Req2I2

Figura 1.40 – Tensão de saída para uma carga predominantemente indutiva

No caso concreto de uma carga indutiva verifica-se que a tensão de saída diminui com o
aumento da corrente uma vez que, apesar da alimentação ser constante, a q.d.t. interna no
transformador aumenta. Na figura 1.41 é apresentada a tensão de saída em função do fator de
potência da carga, mantendo-se a amplitude da corrente constante.

30
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

V’1

(+)
V2[i]

j2 I2
V2[r]
j2
2

jXeq2I2
2I
Zeq

jcc
refª

Req2I2

V2[i] < V2[r] < V2[c]


V2[c]

Figura 1.41 – Tensão de saída para corrente constante e diferentes fatores de potência

Pela análise da figura 1.41 verifica-se que apesar da amplitude da corrente ser constante a
tensão de saída é altamente dependente do fator de potência da carga. Inclusive quando a carga
tem fator de potência capacitivo a tensão de saída é superior ao seu valor em vazio. Chama-se
a esta propriedade o efeito de Ferranti, este efeito tem particular impacto quando o
transformador à sua saída tem linhas aéreas em vazio, uma vez que estas se comportam como
capacidades.

Aplicando o Teorema de Pitágoras à figura 1.43 e resolvendo em ordem à tensão de saída V2


obtém as expressões que permitem traçar a caraterística externa para cargas resistivas (1.48),
indutivas (1.49) e capacitivas (1.50). Deste modo evita-se resolver vectorialmente a expressão
(1.47).

(V ) − ( X I ) − ( R I )
2
V2 = 1
' 2
eq eq (1.48)

(V ) − ( X I cos j − Req Isenj ) − ( Req I cos j + X eq Isenj )


2
V2 = 1
' 2
eq (1.49)

(V ) − ( X I cos j + Req Isenj ) − ( Req I cos j − X eq Isenj )


2
V2 = 1
' 2
eq (1.50)

31
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Na figura 1.42 está representada, de uma forma genérica, a tensão de saída de um


transformador em função da amplitude da corrente e do seu fator de potência.
500

450

400

350 Ind.
300 Cap.
Tensão [V]

Res.
250
V'1
200

150

100

50

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Fator de carga [p.u.]

Figura 1.42 – Característica externa de um transformador em função da carga

Conclui-se assim, muito claramente, que alimentado o primário a uma tensão constante a
tensão de saída de um transformador depende da amplitude da carga e do seu fator de potência.
Ou seja, duas cargas a consumirem a mesma corrente originam diferentes tensões de saída.

A mesma análise pode ser feita no sentido contrário, ou seja, qual deverá ser o valor da
tensão de alimentação no primário para garantir uma tensão constante no secundário para dada
carga I2, (1.51).

V1' = ( R eq 2 + jX eq 2 ) I 2 + V2 (1.51)

Na figura 1.43 está representado o diagrama vetorial para se determinar a tensão do primário
reduzida ao secundário necessária para manter a tensão na carga constante. Neste caso
considera-se que a amplitude da corrente é constante só se alterando o fator de potência, pelo
que a q.d.t. interna no transformador é constante.

32
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

V’1
V’1

(+)

2 I2
Zeq

jXeq2I2
I2 V’1

j2 I2 V2
refª
j2 Req2I2

I2

Figura 1.43 – Tensão de alimentação em função da carga

1.6.1 – Regulação da tensão

Como foi visto no ponto anterior sempre que um transformador é posto em carga a tensão
de saída no secundário varia devido à q.d.t. interna no transformador. Esta q.d.t. é
frequentemente apresentada em percentagem da tensão nominal e determinada por (1.52). Esta
regulação pode ser positiva ou negativa conforme a natureza da carga.

V1' − V2
V ( % ) = 100 (1.52)
V1'

Em termos práticos, a tensão da rede da alimentação pode não ser a apropriada para garantir
tensão constante no secundário para determinado regime de carga. Como não é possível ajustar
a tensão a montante especificamente para cada transformador instalado na rede opta-se por fazer
uma regulação local, ao nível da relação de transformação de cada máquina. À alteração da
relação de transformação chama-se regulação e é conseguida à custa de comutadores de
tomadas. Este método consiste em dotar o enrolamento com várias saídas com um número
específico de espiras permitindo obter-se diferentes relações de transformação.

Estas saídas estão instaladas no lado da tensão mais alta porque o enrolamento tem mais
espiras conseguindo-se assim uma regulação mais fina. Construtivamente é mais prático uma
vez que a secção do enrolamento é menor, além de permitir maior afastamento entre os
comutadores. Para além disso as correntes são menores em funcionamento normal bem como
os transitórios durante a comutação. Nos transformadores que apresentam alta tensão no

33
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

primário e no secundário a comutação faz-se no lado em que a tensão varia mais de modo a
poder-se trabalhar com indução constante.

Tecnologicamente estes comutadores de tomadas podem ser de dois tipos; comutador sem
tensão e comutador em carga. Os primeiros são mais económicos embora tenham a limitação
de apenas poderem ser operados com o transformador sem tensão. Os contactos do comutador
estão instalados na parte inferior dos enrolamentos e são operáveis a partir do exterior através
de um regulador.

No caso em que a continuidade de serviço é obrigatória utilizam-se comutadores de carga,


neste caso o comutador é operado sem desligar o transformador.

Nas figuras 1.44 a) a d) é mostrado o conceito por detrás do comutador de carga. No caso da
figura 1.44 a) verifica-se que no momento da comutação existe um curto-circuito nas espiras
entre duas posições do comutador. Este curto-circuito pode reduzir a vida útil dos contactos do
comutador bem como contaminar o óleo com os gases que se libertam devido às descargas
parciais. Para minorar este problema é instalada uma impedância entre dois contactos de modo
a limitar a corrente no momento da comutação, além de garantir que não há interrupção de
corrente. Nas figuras 1.44 b) a d) estão representados os 3 momentos da comutação. Estes
comutadores são instalados numa cuba própria isolada do restante óleo do transformador de
modo a não haver contaminação.

Os transformadores ligados a redes de distribuição de energia MT/BT são equipados com


comutadores de tomadas com 5 posições, 0, ±2,5% e ±5%, operadas sem tensão. No caso dos
transformadores ligados à rede de transporte o número de tomadas é definido pelo cliente
podendo ter mais de uma dezena de tomadas operáveis em carga.

34
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

a) b)

c) d)

Figura 1.44 – Representação de comutadores de tomadas; a) sem tensão; b) em carga

1.7 – Rendimento de um transformador

A determinação do rendimento de qualquer tipo de máquina elétrica resulta, de uma maneira


simplificada, do quociente entre a potência ativa de saída e a potência ativa de entrada. Os
transformadores de potência caracterizam-se por terem rendimentos muito elevados pelo que
determinar o seu valor pelo método direto, (leituras diretas dos wattímetros) pode introduzir
erros assinaláveis. Nesse sentido é mais fiável a utilização do método das perdas separadas
(método indireto), cuja formulação matemática toma a forma de (1.53).

V2 I 2 cos(j2 ) V2 I 2 cos(j2 )
 (%) = 100   ( % ) = 100 (1.53)
V1 I1 cos(j1 ) V2 I 2 cos(j2 ) + Pfe + R eq I 2

Como o rendimento vai variar com a amplitude da corrente, por vezes é mais cómodo
trabalhar com valores normalizados. Nesse sentido introduz-se o conceito do fator de carga
C = I I n que irá variar entre 0 e 1. Deste modo a expressão (1.53) pode ser reescrita em função da

corrente nominal e do fator de carga.

35
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

V2CI 2 n cos(j2 ) V2 I 2 n cos(j2 )


 (%) = 100   ( % ) = 100
V2CI 2 n cos(j2 ) + Pfe + R eq ( CI n )
2
Pfe
V2 I 2 n cos(j2 ) + + C R eq ( I n )
2

Como o ensaio em curto-circuito é feito à corrente nominal a expressão pode ser reescrita
como (1.54):

V2 I 2 n cos(j2 )
 (%) = 100 (1.54)
Pfe
V2 I 2 n cos(j2 ) + + CPcc
C

Deste modo o rendimento pode ser calculado sem a necessidade de se medir a corrente da
carga, bastando variar o fator de carga estre 0 e 1.

Na figura 1.45 estão indicadas várias curvas de rendimento para um transformador de


24 kV / 0,42 kV e 2500 kVA.
Característica de rendimento

max
99.40% 25000

98.40%
20000

97.40%
Rendimento [%]

15000

Perdas [W]
96.40%

10000

95.40%

5000
94.40%

93.40% 0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Carga [%]
Cos (fi) = 1,0 Cos (fi) = 0,8 Cos (fi) = 0,6 Cos (fi) = 0,4 Aprox. Cos(fi) = 1,0 Pfe Pcu

Figura 1.45 – Característica de rendimento

A primeira grande conclusão é o elevado rendimento destas máquinas. Verifica-se também


que o rendimento varia com a amplitude da carga e fortemente com o fator de potência. As
máquinas elétricas têm também a particularidade de quanto maior for a potência nominal
melhor é o rendimento.

Como vimos anteriormente a tensão de saída tende a variar com a carga, no entanto, se
considerarmos que a mesma se mantém contante e igual à nominal é possível fazer um cálculo

36
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

aproximado do rendimento em função do fator de carga e do fator de potência, através da


expressão (1.55)

V2 n I 2 n cos(j2 ) S2 n cos(j2 )
 (%) = 100   ( % ) = 100 (1.55)
Pfe Pfe
V2 n I 2 n cos(j2 ) + + CPcc S 2 n cos(j2 ) + + CPcc
C C

Na figura 1.45 está traçada uma curva de rendimento determinada com esta aproximação.
Sendo uma aproximação em que não se considera a q.d.t. interna, o rendimento resulta num
valor ligeiramente superior. Está ainda representada a evolução das perdas no transformador,
as perdas no ferro que são constantes e as perdas no cobre que variam quadraticamente com a
corrente. Verifica-se que para todas as curvas de rendimento este é máximo quando as duas
perdas se igualam, traduzido pela expressão (1.56).

Pfe = R eq1 I12 (1.56)

Constata-se assim que um transformador se encontra a trabalhar no ponto de melhor


rendimento (ponto ótimo) quando as perdas no ferro são iguais às perdas no cobre, por outras
palavras, quando as perdas constantes são iguais às perdas variáveis. Este é uma conclusão
extensível a todas as máquinas elétricas que terão oportunidade de estudar no futuro.

É possível determinar de uma forma expedita a corrente (ou a potência) do transformador no


ponto de melhor rendimento. Analisando as expressões (1.54) ou (1.55) conclui-se que o

rendimento é máximo quando a quantidade PFE C + Pcc C for mínima. Nesse sentido derivando
em ordem ao fator de carga e igualando a zero obtém-se a expressão (1.57)

d  PFE  P
 + PccC  = 0  − FE2 + Pcc = 0 
dC  C  C

PFE
C= (1.57)
Pcc

Sabendo o valor das perdas no ferro e das perdas à plena carga obtidos nos ensaios em vazio
e curto-circuito rapidamente se determina o fator de carga e consequentemente a corrente e a
potência. Estes valores de perdas estão disponíveis em qualquer catálogo comercial de
transformadores.

37
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1.8 – Transformadores em redes trifásicas

Apesar da maioria das instalações residenciais de baixa tensão serem alimentadas por
circuitos monofásicos, desde o fim do sec. XIX que se generalizou a produção, transporte e
distribuição de energia elétrica através de circuitos trifásicos. No seguimento do estudo dos
transformadores monofásicos compreende-se que é possível criar um banco trifásico com base
em três transformadores monofásicos iguais, como representado na figura 1.46.

N1 N2 N1 N2 N1 N2

Figura 1.46 – Banco trifásico de transformadores monofásicos

Por uma questão de simplicidade considera-se que os primários estão ligados como uma
estrela, bem como os secundários. Deste modo cada transformador operando individualmente
sobre cada fase permite construir um sistema de tensões trifásica equilibradas. A potência total
do banco é o triplo da potência individual de um transformador monofásico. Apesar de ser uma
solução relativamente rara, atualmente ainda é empregada em aplicações especiais, embora a
esmagadora maioria dos transformadores instalados na rede sejam construtivamente trifásicos.

1.8.1 – Comparação entre bancos trifásicos e transformadores trifásicos

Existem vários fatores que ditam a preferência por transformadores trifásicos em detrimento
do banco trifásico de monofásicos, embora o mais importante seja o fator económico. Um
transformador trifásico necessita apenas de uma cuba ao invés de três, um comutador de carga
ao invés de três bem como menos isoladores e travessias. Como o circuito magnético trifásico
tem menor volume do que três monofásicos diminui-se as perdas no ferro com consequente
incremento de rendimento. Por fim um sistema trifásico ocupará menos espaço no posto de
transformação ou subestação uma vez que necessitará apenas de uma cela ao invés de três celas
individuais.

38
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Em sentido contrário, um transformador trifásico apresenta menor continuidade de serviço


uma vez que, em caso de avaria numa das fases o equipamento fica completamente fora de
serviço. No caso dos bancos trifásicos se um transformador avariar o banco poderá (dependendo
da ligação) continuar em serviço disponibilizando 2/3 da potência. Conclui-se assim que no
caso dos trifásicos é necessária maior reserva de potência. Em termos de transporte um trifásico
concentra em si mais peso, mas o banco de monofásicos exige mais meios.

Existem fundamentalmente dois tipos de circuitos magnéticos em transformadores trifásicos,


núcleo de fluxos forçados ou tipo core, figura 1.47 e núcleo de fluxos livres ou tipo shell, figura
1.48. Em ambos os casos as bobinas do primário e secundário de cada fase estão montadas na
mesma coluna. Inclusive a bobina do primário é enrolada sobre a do secundário de modo a
aumentar o acoplamento magnético.

N1 N1 N1

N2 N2 N2

Figura 1.47 – Núcleo de fluxos forçados (tipo core)


N2

N1

N2

N1
N2

N1

Figura 1.48 – Núcleo de fluxos livres (tipo shell)

O núcleo do tipo core é menor e mais económico embora force a corrente de magnetização
a não ser igual em todas as fases e o torne ligeiramente desequilibrado em termos de fluxos.
Esse desequilíbrio é facilmente identificável medindo a corrente em vazio de cada fase.
Recorrendo ao conhecimento prévio acerca de circuitos magnéticos é fácil compreender que a

39
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

relutância total do circuito magnético vista de cada fase é diferente, pelo menos entre as fases
das colunas dos extremos e a fase da coluna central. Além de ligeiramente desequilibrados são
mais ruidosos.

Os núcleos de fluxos livres por seu lado permitem que os fluxos nas três fases sejam idênticos
uma vez que os fluxos são “livres” de escolher o seu caminho. Esta solução é bastante
dispendiosa e torna a máquina mais pesada pelo que só é utilizada transformadores de elevada
potência.

1.8.2 – Ligações e convenções

Os enrolamentos dos transformadores, sejam trifásicos ou em banco, podem ser ligados de


três formas diferentes, estrela, triângulo ou zig-zag. Nas figuras 1.49 a) a c) estão representadas
as ligações de cada fase dos enrolamentos. No caso do zig-zag tem a particularidade das bobinas
de cada fase estarem divididas em duas partes e distribuídas por duas colunas do circuito
magnético.

a) b) c)

Figura 1.49 – Tipos de ligações; a) estrela, b) triângulo, c) zig-zag

Por convenção estabelece-se que o lado da tensão mais alta é caracterizado por letra
maiúscula ao passo que a baixa tensão se caracteriza por letra minúscula, tal como indicado na
tabela 1.3. Indica-se sempre primeiro a ligação de maior tensão.

Tabela 1.3 – Convenções dos tipos de ligação.


Ligação Alta Baixa
Estrela Y y
Triângulo D d
Zig-zag Z z

A escolha da ligação dos enrolamentos depende da aplicação pretendida e das características


específicas de cada ligação.

40
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

A ligação em estrela caracteriza-se por ter neutro acessível, permitir dois níveis de tensão
bem como alimentação a 4 fios. Os enrolamentos necessitam de menos isolamento (tensão na
fase inferior à da linha) e maiores secções (corrente na fase igual à da linha).

A ligação em triângulo carateriza-se pela elevada continuidade de serviço, os enrolamentos


necessitam de mais isolamento (tensão na fase igual à da linha) e menores secções (corrente na
fase é menor que a da linha). Por outro lado, não tem neutro acessível.

A ligação em zig-zag tem neutro acessível, suporta elevados desequilíbrios de carga, permite
dois níveis de tensão e alimentação a 4 fios. Por outro lado, é mais dispendioso (mais 15,5%
cobre). Como tal é utilizado em potências até 100 kVA.

Na tabela 1.4 estão resumidas algumas características de cada tipo de ligação para igual
potência.

Tabela 1.4 – Características de cada ligação.


Estrela Triângulo Zig-zag
Tensão composta U U U
Corrente na linha I I I
Corrente no enrolamento I 𝐼/√3 I
Secção enrolamento S 𝑆/√3 S
Número de espiras N √3𝑁 2/√3 𝑁
Peso do condutor [%] 100 100 115,5

Ao conjunto das bobinas do primário e secundário chama-se ligação. Teoricamente existem


9 tipos de ligações, no entanto, na prática reduzem-se a 5 uma vez que a ligação em zig-zag não
se utiliza no primário e não se utiliza juntamente com a ligação em triângulo. Resultam assim
as ligações indicadas na tabela 1.5. A ligação pode ou não ter o neutro acessível e ser só num
ou em ambos os enrolamentos.

Tabela 1.5 – Tipos de ligações de transformadores trifásicos.


Ligação Sem neutro Com neutro
Estrela-Estrela Yy YNyn
Estrela-Triângulo Yd YNd
Estrela - Zig-zag Yz YNzn
Triângulo-Triângulo Dd -
Triângulo-Estrela Dy Dyn

A designação das ligações segue a seguinte regra, segundo a norma EN60076; visto do lado
da tensão mais alta e da esquerda para a direita apresenta as notações indicadas na tabela 1.6.

41
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Tabela 1.6 – Designação dos terminais.


Fase Alta Baixa
Neutro N N
Fase 1 1U 2U
Fase 2 1V 2V
Fase 3 1W 2W

A ligação estrela-estrela pode ser utilizada quando se pretende a distribuição de neutro em


baixa tensão, no entanto é bastante sensível a desequilíbrios de carga fase-neutro. Na alta tensão
permite a ligação do neutro à terra para efeitos de proteção. São relativamente económicos para
baixas e médias potências. Para potências elevadas e tensões baixas necessitam de maiores
secções. A sua ligação em paralelo é fácil de implementar. No caso de avaria numa fase não
permite alimentação trifásica.

A ligação triângulo-triângulo apresenta elevada continuidade de serviço uma vez que em


caso de defeito num enrolamento continua a permitir alimentação trifásica com 2/3 da potência
nominal (ligação em delta aberto). É indicado para potências elevadas e tensões reduzidas uma
vez que suporta correntes elevadas. Permite a filtragem de harmónicas de modo a não se
propaguem para montante. Permite elevada continuidade de serviço em defeitos à terra e maior
segurança contra contactos diretos. Por outro lado, não permite a distribuição de neutro e para
tensões elevadas necessita de reforço de isolamento.

A ligação estrela-zig-zag utiliza-se fundamentalmente quando existem grandes


desequilíbrios de carga. Permite a distribuição do neutro para alimentação a 4 fios. No caso de
avaria numa fase não permite alimentação trifásica. A sua construção é mais cara uma vez que
necessita de mais cobre

A ligação estrela-triangulo utiliza-se no caso de se necessitar de tensões relativamente


baixas e correntes elevadas. Não propaga harmónicas para montante permitindo estabilidade no
neutro da estrela (com ou sem ligação à terra). Não permite distribuição do neutro na baixa
tensão

A ligação triangulo-estrela é a mais utilizada em redes de distribuição de média e baixa


tensão. Permite a distribuição a 4 fios e suporta bem desequilíbrios de carga para além de não
propagar harmónicas para montante. Também é utilizado como elevador à saída dos centros
produtores. No caso de trabalhar a tensões elevadas necessita mais isolamento do lado do
triângulo.

42
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Na figura 1.50 está representada uma rede genérica com os transformadores indicados para
cada situação.

YNynd
220/150kV
YNynd
150/60/6kV

G G
16kV Dy 6kV
Yd
16/150kV 150/60kV

Yy YNd Yd
60/30kV 60/30kV M 6kV
60/6kV

YNynd
60/30/15kV

Yyn Yzn Dyn


30/0,4-0,23kV 30/0,4-0,23kV 30/0,4-0,23kV

Possíveis desequilíbrios Possíveis desequilíbrios


Fase-neutro (10%) Fase-neutro

Figura 1.50 – Exemplos de transformadores em redes trifásicas

Na figura estão também representados transformadores com 3 enrolamentos. Estes são


considerados transformadores especiais e o seu estudo não será abordado neste documento.

1.9 – Modelo equivalente do transformador trifásico

Quando se trabalha com bancos trifásicos considera-se que os transformadores monofásicos


que constroem o banco são exatamente iguais, o mesmo acontecendo com as fases de qualquer
transformador trifásico. Nesse sentido, quando alimentados por sistemas equilibrados de
tensões e correntes, basta estudar apenas um enrolamento, ou seja, trabalhar como se fosse um
transformador monofásico. Assim o modelo equivalente de um transformador trifásico é

43
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

formalmente idêntico ao de um monofásico como estudado anteriormente na figura 1.23 e agora


repetido na figura 1.51.

N2
I2
R1 jX1 N1 jX2 R2
Io
I1 I2
V1 Rp Ip Im jXm V2
E1 E2

N1 N2

Figura 1.51 – Modelo equivalente por fase de um transformador trifásico

É importante entender-se o conceito de modelo equivalente por fase, uma vez que as
impedâncias, tensões e correntes são referidas a um enrolamento do transformador (por fase),
esteja ele em estrela, triangulo ou zig-zag. Assim é necessário adaptar as tensões, correntes e
impedâncias à realidade de cada ligação. Por exemplo, no caso de se trabalhar com um
enrolamento em triângulo não é possível somar diretamente a sua impedância com impedâncias
em série a montante ou a jusante. Nesse caso aplica-se o teorema de Kennelly de modo a
transformar-se a impedância do triangulo numa estrela fictícia e assim poder ser somada com
as impedâncias em série.

1.9.1 – Relação de transformação em transformadores trifásicos

Nos transformadores monofásicos é fácil entender que a relação de transformação seja igual
à relação do número de espiras, uma vez que a tensão de alimentação é aplicada aos terminais
de cada enrolamento. No caso dos transformadores trifásicos a tensão é aplicada entre fases e
no caso particular das ligações em estrela ou em zig-zag a tensão é aplica aos terminais de dois
enrolamentos. Deste modo surge o conceito de relação de transformação simples (ms) e
composta (mc). A relação de transformação simples é dada pela relação das tensões simples ao
passo que a composta é dada pela relação de tensões entre fases. Este aspeto é facilmente
entendível, por exemplo, no caso de um transformador triangulo-estrela. No lado do triangulo
a tensão é aplicada aos terminais do enrolamento ao passo que na estrela é aplicada aos
terminais de dois enrolamentos. Nas figuras 1.52 a) a e) estão representadas as ligações mais

44
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

correntes de transformadores trifásicos com as respetivas relações de transformação simples e


composta.

Vf1 Vf2
VL1 VL2 VL1 Vf 1 1
mc =  mc =  mc = ms
VL 2 Vf 2 3 3

a)

Vf1 Vf2
VL1 VL2
VL1 Vf 1 3
mc =  mc =  mc = ms 3
VL 2 Vf 2

b)

Vf1 Vf2
VL1 VL2 VL1 Vf 1 3
mc =  mc =  mc = ms
VL 2 Vf 2 3

c)

Vf1 Vf2 VL2


VL1 Vf 1
VL1
mc =  mc =  mc = ms
VL 2 Vf 2

d)

VL1 3V f 1
mc =  mc = 
VL 2 3V f 2
Vf1 Vf2
3V f 1 2V f 1
VL2
mc =  mc = 
3 3V2
3 V2
2
2
 mc = ms
3
e)

Figura 1.52 – Relação de transformação em transformadores trifásicos

45
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1.10 – Associação em paralelo de transformadores

A associação em paralelo de transformadores é uma prática corrente nas redes de energia


elétrica. Geralmente pretende-se aumentar a potência disponível, embora também se possa
utilizar para aumentar a continuidade de serviço, por exemplo, fazer a manutenção ou reparação
de um dos transformadores sem desligar a carga. Para se considerar que dois transformadores
estão em paralelo é necessário que os primários estejam ligados à mesma rede e os secundários
por sua vez alimentem em conjunto outra rede. Esta associação deve, fundamentalmente,
respeitar as seguintes condições:

• Igual relação de transformação

• Iguais tensões de curto-circuito

• Iguais índices horários

1.10.1 – Igual relação de transformação

Esta condição é necessária mais não suficiente, porque no limite, dois transformadores
podem ter a mesma relação de transformação, mas tensões nominais diferentes. Esta condição
pode ser reescrita como; iguais tensões no primário e iguais tensões no secundário. Desta forma
desfaz-se a ambiguidade. Verifiquemos agora o inconveniente associado ao fato de termos dois
transformadores com tensões diferentes. Na figura 1.53 estão representados de uma forma
genérica dois transformadores em paralelo com relações de transformação diferentes. Por uma
questão de simplicidade considera-se que as tensões no primário são iguais e as do secundário
diferentes, com V2I superior a V2II. Quando se ligam os transformadores em paralelo irá circular
uma corrente entre os secundários proporcional à diferença das tensões e limitada pela
impedância dos transformadores. De igual modo, por relação de transformação irá também
circular corrente no primário, apesar do transformador estar em vazio. Esta corrente que não
alimenta a carga irá circular somente entre os transformadores provocando perdas
desnecessárias e reduzindo o rendimento.

46
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

VI VII

V1I V2I

II
III

V1II V2II

Figura 1.53 – Paralelo de transformadores com diferentes tensões

1.10.2 – Iguais tensões de curto-circuito

Como foi visto no ponto 1.5.2 a tensão de curto-circuito permite determinar a impedância
equivalente do transformador. Quando são ligados em paralelo são as suas impedâncias internas
que vão definir qual a carga que cada um vai tomar para si. Na figura 1.54 está representado o
modelo simplificado de dois transformadores em paralelo em que se desprezou o ramo em
derivação.

VI VII
ZeqI

II
V1I V I V2I

ZeqII

V1II III V2II


V II

Figura 1.54 – Modelo simplificado de dois transformadores em paralelo

Considerando que ambos têm iguais tensões no primário e iguais tensões no secundário,
quando em carga apresentam a mesma queda de tensão interna. Partindo deste pressuposto
conclui-se através de (1.58) que a repartição de carga entre dois transformadores depende das
suas impedâncias internas.

47
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

I I Z eqII V I Z eqII
I I Z eqI = I II Z eqII  =  n I = 
I II Z eqI Vn I II Z eqI

SI Z eqII
= (1.58)
S II Z eqI

Ou seja, mesmo que apresentem a mesma potência nominal se um deles tiver menor
impedância tomará para si mais carga. No caso de terem potências diferentes deve-se garantir
que o transformador com menor impedância equivalente apresenta a maior potência nominal.

Uma vez que a impedância equivalente nem sempre é conhecida pode-se projetar qual será
a carga tomada por cada um dos transformadores através dos valores de ucc tal como na
expressão (1.59).

 I   I IIn 
I I Z eqI = I II Z eqII   In  I I Z eqI 100 =   I II Z eqII 100 
 I InVn   I IInVn 

I I Z eqI I In I Z I
 = II eqII IIn  CI uccI = CII uccII 
I In Vn I IIn Vn

CI uccII
= (1.59)
CII uccI

Demonstra-se assim que a distribuição da carga entre os transformadores é inversamente


proporcional à relação das tensões de curto-circuito, ou seja, o que apresentar a menor ucc
tomará para si mais carga (maior fator de carga).

Para ilustrar este conceito vamos tomar como exemplo dois transformadores em paralelo
com as seguintes características:

S In = 100kVA S IIn = 200kVA


uccI = 1% uccII = 2%

Partindo da expressão (1.59) e após alguma manipulação matemática conclui-se que pelas
características apresentadas ambos vão dividir igualmente a carga entre si.

SI SI SI
CI uccII S u S 2 S In
=  In = ccII  In =  = 2  S I = S II
CII uccI S II uccI S II 1 S II
S IIn 2S In 2S In

48
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Considerando que os transformadores foram ligados em paralelo para aumentar a potência


seria expectável que o conjunto conseguisse alimentar uma carga de 300 kVA. Nesse caso cada
um deles deveria tomar para si 150 kVA, o que significava que o transformador I estaria em
sobrecarga e o transformador II abaixo da potência nominal. Isto demonstra claramente que o
transformador com maior potência deveria ter a menor ucc.

Consideremos agora que os transformadores do exemplo anterior têm a mesma tensão de


curto-circuito, por exemplo 2%.

SI SI SI
CI uccII S u S 2 S In S
=  In = ccII  In =  = 1  S I = II
CII uccI S II uccI S II 2 S II 2
S IIn 2S In 2S In

ST
ST = S I + S II  ST = S I + 2S I  S I =  S I = 100kVA
3
S II = ST − S I  S I = 300 − 100  S II = 200kVA

Demonstra-se assim que apesar de terem potências nominais diferentes como têm iguais
tensões de curto-circuito a distribuição de carga é proporcional às suas potências. Deste modo
seria possível alimentar uma carga equivalente à soma das potências nominais individuais, algo
impossível no primeiro exemplo.

Do mesmo modo pode-se determinar qual a potência máxima que se consegue extrair do
conjunto em paralelo sem que nenhum entre em sobrecarga. Consideremos dois
transformadores de distribuição com iguais tensões no primário e no secundário e as restantes
características apresentadas:

S In = 1000kVA S IIn = 250kVA


uccI = 4,5% uccII = 4%

CI uccII C 4 4
=  I =  CI = CII
CII uccI CII 4,5 4,5

O transformador II apresenta a menor ucc pelo terá o maior fator de carga. Se estiver a
trabalhar à potência nominal, 250 kVA, o seu fator de carga é 1. Logo o fator de carga para o
transformador I resulta de:

4
CI =  CI = 0,88(8)
4,5

49
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Pelo exposto conclui-se que a potência máxima que o transformador I poderá fornecer é
888 kVA quando o transformador II estiver a fornecer 250 kVA. Assim a potência máxima do
conjunto fica limitada a 1138 kVA ao invés dos expectáveis 1250 kVA.

1.10.3 – Iguais índices horários

Para além dos valores eficazes das tensões terem de ser iguais, tal como visto no ponto
1.10.1, aquando do paralelo é necessário garantir que os valores instantâneos das tensões dos
secundários dos dois transformadores também sejam iguais.

Para iniciar este estudo é necessário compreender a diferença entre terminais homólogos
(com o mesmo nome) e terminais com a mesma polaridade, uma vez que quando se ligam dois
transformadores em paralelo os seus terminais homólogos podem não ter o mesmo valor
instantâneo de tensão.

Para melhor entender este conceito tomemos o exemplo das figuras 1.55 a) e b). Em ambos
os casos os núcleos são fechados, as bobinas têm o mesmo número de espiras e as correntes são
iguais.

Por definição considera-se que quando atravessados pelo mesmo fluxo, dois terminais têm a
mesma polaridade quando simultaneamente têm o mesmo sinal em relação aos extremos
opostos, como é o caso da figura 1.55 a). Já no caso da figura 1.55 b) pelo simples fato do
segundo enrolamento ter sido enrolado no sentido contrário faz com que a diferença de
potencial seja em sentido oposto. É importante notar que em ambos os casos o valor eficaz das
f.e.m. induzidas é o mesmo.

Consideremos agora que os enrolamentos dos primários são ligados em paralelo. Ligando
entre si os terminais inferiores dos enrolamentos dos secundários (2U2), a diferença de
potencial entre os terminais do topo dos secundários (2U1) é o dobro de e2. Desta forma
podemos afirmar que dois terminais homólogos podem não ter a mesma polaridade (potencial).
Por convenção, os terminais com a polaridade mais alta são marcados com o símbolo “•”.

50
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

i1 i1
1U1 + 1U1
+
e1 1 e1 1
1U2 - -
1U2
i2
2U1
+
2U1
e2 1 -
e2
-
1
2U2
+
2U2
i2

a) b)

Figura 1.55 – F.e.m. induzida em enrolamentos com sentidos opostos

Este é um pormenor a ter em conta quando se constroem os transformadores, particularmente


os transformadores trifásicos. Independentemente do sentido do enrolamento, é obrigatório que
as bobinas das três fases sejam enroladas no mesmo sentido. Veremos mais à frente que não é
obrigatório que as bobinas do primário tenham o mesmo sentido das do secundário. Na figura
1.56 está representado um esquema genérico para se verificar a polaridade das bobinas.

V3

V1 V2

Figura 1.56 – Teste para verificação da polaridade das bobinas

No caso de as bobinas terem a mesma polaridade a tensão V3 resulta da diferença entre V1 e


V2, caso contrário V3 é igual à soma de V1 e V2.

Nas figuras 1.57 a) e b) está representado um transformador monofásico com os


enrolamentos com a mesma polaridade bem como a evolução temporal das tensões, enquanto
nas figuras c) e d) está representado o mesmo transformador com os enrolamentos com
polaridades diferentes. Em ambos os casos os valores eficazes das tensões nos secundários são
idênticos, porém os valores instantâneos não o são, estando em oposição de fase.

51
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1U1 2U1

V1 V2

1U2 2U2

a) b)

1U1 2U1

V1 V2
10 ms

1U2 2U2

c) d)

Figura 1.57 – Transformadores com bobinas de diferentes polaridades

Se os primários forem ligados em paralelo verifica-se que entre os terminais homólogos do


secundário existe uma diferença de potencial igual ao dobro da tensão V2 inviabilizando o seu
paralelo. Para obviar este problema seria necessário ligar o terminal “2U1” de um transformador
com o “2U2” do outro e vice-versa.

No caso dos transformadores trifásicos a análise é em tudo semelhante embora com algumas
particularidades que advém dos diferentes tipos de ligações.

Tomemos o exemplo de um transformador estrela-estrela cujas três fases têm os


enrolamentos como o descrito na figura 1.58 a). Por analogia com as figuras 1.57 a) e b) conclui-
se que as tensões nos enrolamentos do primário e secundário estão em fase resultando o
diagrama vetorial da figura 1.58 b). Considera-se que os eixos rodam no sentido anti-horário.

52
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1U1 1U2 2U2 2U1 1U


1U 2U

2U
1V1 1V2 2V2 2V1
1V 2V

1W1 1W2 2W2 2W1 2W 2V


1W 2W
1W 1V

a) b)
1U1 1U2 2U2 2U1
1U 1U
2U
1V1 1V2 2V2 2V1
1V
2V 2W
2V

1W1 1W2 2W2 2W1


1W
2W

1W 1V
2U
c) d)

Figura 1.58 – Ligações e diagrama vetorial de um transformador estrela-estrela

Consideremos agora o transformador da figura 1.58 c), uma vez mais, por analogia com a
figuras 1.57 c) e d) conclui-se que as tensões do primário e secundário estão em oposição de
fase. Deste modo verifica-se que os terminais homólogos não têm a mesma polaridade tornando
inviável a ligação em paralelo dos dois transformadores.

Analisemos agora o exemplo do transformador triangulo-estrela da figura 1.59 a) bem como


a evolução temporal das tensões da figura b). Verifica-se que a tensão do secundário está
atrasada cerca de 18,(3) ms, o que corresponde a uma desfasagem de 330º tal como indicado
no diagrama vetorial da figura 1.59 c).
1U

2U
1U 2U

1V 2V
2V

1W 2W 1W 1V
1V-1W
2W

a) b) c)

Figura 1.59 –Ligações e diagrama vetorial de um transformador triangulo-estrela

Ao invertermos as ligações das bobinas do secundário como na figura 1.60 a) a desfasagem


temporal entre as tensões do primário e do secundário é aproximadamente 8,(3) ms, figura 1.60
b), o que corresponde a um ângulo de 150º, figura 1.60 c).

53
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1U
2W
1U

2U
1V

2V 2V
1W

2W
1W 1V
1V-1W
2U

a) b) c)

Figura 1.60 –Ligações e diagrama vetorial de um transformador triangulo-estrela

Da análise anterior conclui-se que a desfasagem entre as tensões do primário e do secundário


depende, fundamentalmente, da forma como as bobinas são ligadas entre si e o sentido de
enrolamento.

Para identificar esta desfasagem foi introduzido o conceito de índice horário. Considerando
um relógio analógico coloca-se o vetor da tensão simples mais elevada sobre o ponteiro dos
minutos posicionado nas 12h. O vetor da tensão simples mais baixa é sobreposto ao ponteiro
das horas. Dividindo os 360º do ciclo trigonométrico pelas 12h, cada hora representa 30º, assim
o ângulo de desfasagem entre as tensões é convertido em horas. Desta forma os transformadores
passam a ser caracterizados pelas ligações dos enrolamentos e desfasagem entre tensões. O
transformador da figura 1.58 a) passa assim a ser caracterizado como um Yy0, ao passo que o
da figura 1.58 c) é caracterizado como um Yy6. O mesmo raciocínio é feito para os casos
indicados nas figuras 1.59 e 1.60, caracterizando-se como Dy11 e Dy5.

Os transformadores monofásicos apresentam apenas desfasagens de 0º ou 180º com uma


bobina em cada lado do transformador, assim os índices horários possíveis são Ii0 ou Ii6,
respetivamente.

Na tabela 1.7 estão representados os restantes esquemas de ligações e diagramas vetoriais


para transformadores trifásicos.

Tabela 1.7 – Índices horário de transformadores trifásicos


1U
2U
1U
2U

1V
Dy1 2V
2W

1W
2W 1W 1V
1W-1V
2V

54
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1U

1U 2V
2U

1V
Dy7 2V 2W
1W

2W 1W 1V
1W-1V
2U
1U
2U
1U 2U

2U-2V
Yd1 1V 2V
2W

1W 2W 1W 1V

2V

1U

2U
2W
1U

2U-2W
1V 2V
Yd5 2V

1W 2W 1W 1V

2U
1U

2V
1U 2U

2U-2V
Yd7 1V 2V
2W

1W 2W 1W 1V

2U

1U

2U 2U
1U
2U-2W

2V
Yd11 1V
2V

1W 2W 1W 1V

2W

1U
1U
2U 2W

1V
Yz5 2V

1W 2V
2W 1W 1V
2U
1U

1U 2U
2U

1V 2V
Yz11
2V

1W 2W
1W 1V
2W

55
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

1U

1U 2U

Dd0 1V 2V 2U

1W 2W
2V-2W
1W 1V
1V-1W
1U
1U
2U

2W-2U
1V
Dd2 2V

1W

2V
2W
1W 1V
1W-1V

1U

1U 2U

2W
Dd4 1V 2V

1W 2W
2V-2U
1W 1V
1V-1W

2U 2V-2W 2W
1U 2V

Dd6 1V 2V

1W 1V
2W 1V-1W
1W

2U

1U

1U 2U

Dd8 1V 2V 2V

1W 2W
2W-2U
1W 1V
1W-1V

1U

1U 2U

2U-2W
Dd10 1V 2V
2W

1W 2W

1W 1V
1V-1W

Compreende-se assim que é vital que quando se ligam dois transformadores em paralelo os
terminais que se vão ligar tenham o mesmo potencial, sob o risco de circularem correntes
elevadas nos enrolamentos dos transformadores, com consequentes aquecimentos exagerados

56
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

e riscos de avaria. Do estudo efetuado até agora compreende-se que construtivamente os índices
horários podem ser 0 ou 6 para transformadores estrela-estela, 0, 2, 4, 6, 8 e 10 para triangulo-
triangulo e 1, 5, 7 e 11 para estrela-triangulo, triangulo-estrela e estrela zig-zag. Deste modo os
diversos índices horários foram agrupados em 4 grupos, tal como indicado na tabela 1.8

Tabela 1.8 – Grupos de ligações.


Grupo Índice horário
1 0,4,8
2 2,6,10
3 1,5
4 7,11

Todos os transformadores têm na sua chapa de características a indicação do índice horário,


no entanto é sempre importante fazer um ensaio experimental antes da ligação dos secundários,
tal como indicado na figura 1.61.

1U 1V 1W 1U 1V 1W

2U 2V 2W N 2U 2V 2W N

Figura 1.61 – Verificação experimental da igualdade de índices horários

Considerando que as ligações do primário já estão realizadas, ligam-se duas fases homólogas
dos secundários (ou o neutro se estiver acessível) e mede-se a tensão entre os restantes terminais
homólogos. Se a diferença de potencial for nula os transformadores têm o mesmo índice
horário.

1.10.4 – Modelo matemático de dois transformadores em paralelo

Na figura 1.62 está representado um modelo aproximado de dois transformadores em


paralelo. Por uma questão de simplicidade desprezaram-se ambos os ramos em derivação e
consideraram-se que as tensões no primário são iguais.

57
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

Req2II jXeq2II
I2
I2II Req2I jXeq 2I

I1 V1II'
I2I V2
V1 V1II V1I V1I'

Figura 1.62 – Modelo aproximado de dois transformadores em paralelo

Com este modelo é possível determinar a distribuição de carga bem como a corrente que
poderá circular entre os transformadores, no caso de terem relações de transformação ou índices
horários diferentes, através das expressões (1.60) e (1.61).

Z eq 2 I Z eq 2 II
I 2 II = I2 I2I = I2 (1.60)
Z eq 2 I + Z eq 2 II Z eq 2 I + Z eq 2 II

V1'II − V1'I
I circ = (1.61)
Z eq 2 I + Z eq 2 II

Como exemplo consideremos dois transformadores de 630 kVA, ligações Dyn5 ligados a
uma rede de distribuição a 15 kV. Por simplicidade considera-se que as tensões de curto-circuito
são iguais em módulo apresentando uma impedância equivalente por fase, reduzida à baixa
tensão, de 11,2 m. As relações de transformação em vazio são, respetivamente, 15000/400 e
15000/420. Com os primários ligados em paralelo à rede de 15 kV pretende-se determinar a
corrente que circula entre os secundários.

420 3 − 400 3
I circ =  I circ = 515,5 A
11, 2e−3 + 11, 2e−3

Verifica-se assim que ao ligar estes transformadores em paralelo nestas condições


automaticamente irá circular uma corrente de 515,5 A estre os secundários. Esta situação não é
aceitável uma vez que introduz perdas por efeito de Joule muito elevadas e consumo de energia
mesmo com o sistema em vazio. Tenhamos, no entanto, em atenção que é comum fazer-se o
paralelo de transformadores com estas relações de transformação recorrendo ao comutador de
tomadas para igualar as tensões de saída.3 Consideremos agora um exemplo em que as tensões

3
Esta situação é recorrente quando a instalação já possui um transformador mais antigo com relação
15000/400 e se pretende instalar um mais recente com relação 15000/420 como foi o caso do posto de
transformação da E-Redes na Praça do Sertório em Évora.

58
Fundamentos de máquinas elétricas - Transformadores de potência

são iguais, bem como as tensões de de curto-circuito, mas que um dos transformadores tem o
índice horário Dyn1 e outro Dyn5. Considera-se que os ângulos das impedâncias equivalentes
são iguais, 65º. Neste caso a corrente que iria circular entre os secundários seria:

420 330 − 420 3150


I circ =  I circ = 18,965 kA
11, 2e−3 − 65 + 11, 2e−3 − 65

Assim se compreende a necessidade imperiosa de se garantir que os terminais que vão ser
ligados estejam ao mesmo potencial, tal como explicado em 1.10.3

59
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

1.11 – Autotransformadores

Um transformador em que parte do enrolamento pertence simultaneamente ao primário e ao


secundário, designa-se por autotransformador. Veremos ao longo deste estudo que, apesar de
apresentar uma configuração diferente da dos transformadores, todos os conceitos anteriores,
tal como a relação de transformação, quedas de tensão, rendimento, ucc, etc, continuam a ser
diretamente aplicáveis ou com alterações mínimas. Este tipo de máquinas são utilizados
fundamentalmente em subestações da rede de transporte para interligar linhas de muito alta
tensão e podem ter algumas centenas de MVA.

Para início deste estudo consideremos um transformador monofásico redutor com dois
enrolamentos como o da figura 1.63 a) cuja alteração nas ligações resultou na configuração
como autotransformador da figura 1.63 b). As tensões V1A e V2A são, respetivamente, a tensão
de entrada e saída do autotransformador, o mesmo acontecendo com as correntes I1A e I2A.

I1=I1A

I1 I2
V1

V1A I2A
V1 V2

V2 I2 V2A

a) b)

Figura 1.63 – a) Ligação como transformador monofásico; b) como autotransformador

Verifica-se pela figura 1.63 b) que o transformador de dois enrolamentos se reduziu a um


divisor de tensão indutivo onde a tensão do primário do autotransformador resulta na soma das
tensões nominais do primário e secundário do transformador. Nesta configuração a bobina
alimentada à tensão V1 é denominada enrolamento em série ao passo que a bobina com tensão
V2 é denominada enrolamento comum. Considerando a relação de transformação (m) do
transformador, a tensão do primário do autotransformador como (V1A=V1+V2) e a do secundário
como (V2A=V2), a relação de transformação do autotransformador (mA) resulta de (1.62):

61
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

V1 A V +V
mA =  mA = 1 2  mA = m + 1 (1.62)
V2 A V2

O mesmo estudo pode ser aplicado às correntes que percorrem o autotransformador


resultando (1.63). Dependendo da configuração, as correntes do primário e secundário do
autotransformador podem ser, ou não, iguais às correntes dos enrolamentos. Devemos ter em
atenção que o sentido da corrente no enrolamento comum depende da configuração do
autotransformador.

N1
N1I1 A + N 2 ( I1 A − I 2 A ) = 0  N1I1 A + N 2 I1 A = N 2 I 2 A  I1 A + I1 A = I 2 A  I1 A ( m + 1) = I 2 A 
N2

I2 A
= mA (1.63)
I1 A

Tal como estudado nos transformadores verifica-se que a relação das correntes é inversa à
relação das tensões, de onde se pode concluir que, à imagem dos transformadores, a potência
de entrada dos autotransformadores é igual à de saída (desprezando as perdas).

V1 A
S2 A = V2 A I 2 A  S2 A = I1 A mA  S2 A = V1 A I1 A  S2 A = S1 A
mA

1.11.1 – Potência por indução e condução

Antes de iniciarmos esta análise devemos recordar que um autotransformador pode ser
construído à custa de um transformador de dois enrolamentos, cuja potência nominal está
intrinsecamente ligada às suas tensões e correntes nominais definidas durante a fase de projeto.
O autotransformador resultou apenas de uma alteração nas ligações elétricas não havendo
qualquer alteração construtiva. Assim consideremos os esquemas de ligações como redutor das
figuras 1.64 a) e b) e elevador das figuras 1.64 c) e d). Por uma questão de análise consideremos
V1A e V2A respetivamente como, a tensão de entrada e de saída do autotransformador, ao passo
que V1 é a tensão mais alta do transformador e V2 a tensão mais baixa.

62
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

I1A I1A

V1 V2

V1A I2A V1A I2A

V2 V2A V1 V2A

a) b)
I2A I2A

V2 V1

I1A I1A
V2A V2A

V1A V1 V1A V2

c) d)

Figura 1.64 – Ligações possíveis de um transformador de 2 enrolamentos como


autotransformador

Partindo da análise da figura 1.64 a) verifica-se que as tensões V1A≠V1 e V2A=V2, ao passo
que as correntes I1A=I1 e I2A≠I2. Definindo S2A como a potência de saída como
autotransformador e S2 a potência de saída como transformador conclui-se que apesar de
intrinsecamente a máquina ser a mesma as potências podem ser substancialmente diferentes.

I2
S2 A = V2 A I 2 A  S2 A = V2 A I1 A mA  S2 A = V2 I1 A mA  S 2 A = V2 I1mA  S 2 A = V2 mA
m

mA  1
S2 A = S2  S2 A = S2 1 +  (1.64)
m  m

O mesmo raciocínio é válido para o caso da figura 1.64 b), com as devidas alterações nas
tensões e correntes.

No caso das figuras 1.64 c) e 1.64 d) o raciocínio é análogo aos anteriores resultando:

V1 A V m
S2 A = V2 A I 2 A  S2 A = V2 A I 2  S2 A = I 2  S2 A = 1 I 2  S2 A = V2 I 2
mA mA mA

m  m 
S2 A = S2  S2 A = S2   (1.65)
mA  m +1

63
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

Como se pode concluir de (1.64) e (1.65) a potência como autotransformador é sempre


superior à potência disponível como transformador.

A título de exemplo consideremos um transformador monofásico 50 kVA 5000/500 V, cujas


correntes nos enrolamentos são, respetivamente, 10 A e 100 A. Este é ligado conforme as
figuras 1.64 a) a d), resultando autotransformadores com diferentes potências nominais. No
caso das configurações a) e d) obtém-se, respetivamente, autotransformadores redutores e
elevadores com potência nominal 1,1 vezes superior à do transformador, ao passo que nas
configurações b) e c) a potência é 11 vezes superior.

V1 A = 5500V V1 A = 5500V
V2 A = 500V V2 A = 5000V
5500 5500
mA mA
S2 A = S2 = 50 500 = 55kVA S2 A = S2 = 50 5000 = 550kVA
m 5000 m 500
500 5000
a) b)
V1 A = 5000V V1 A = 500V
V2 A = 5500V V2 A = 5500V
5000 500
m m
S2 A = S2 = 50 500 = 550kVA S2 A = S2 = 50 5000 = 55kVA
mA 5000 mA 500
5500 5500
c) d)
Em qualquer dos casos, apesar da máquina ser a mesma, a potência que se consegue extrair
do autotransformador é sempre superior à que se extrai da máquina como transformador. A
explicação é relativamente simples, além de existir transferência de potência do primário para
o secundário por indução magnética, potência de transformação (ST) também existe
transferência de potência por condução elétrica (SC). A potência transferida por indução
magnética é a potência própria do transformador, o remanescente corresponderá à potência por
condução. Dependendo da configuração do autotransformador a potência por condução poderá
ser maior ou menor que a de indução. Para melhor ilustrar este conceito vamos considerar os
exemplos a) e c). Comecemos pelo caso a), verifica-se que a potência por condução é 10% da
de transformação.

S A = V1A I1A  S A = V2 A I 2 A  S A = V2 A ( I1 + I 2 )  S A = V2 ( I1 + I 2 ) 

S A = V2 I1 + V2 I 2  S A = SC + ST

64
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

S A = V1A I1A  S A = V1A ( I1 + I 2 )  S A = V1 ( I1 + I 2 ) 

Já no caso c), a potência de condução é 10 vezes superior à de transformação.

S A = V1A I1A  S A = V1A ( I1 + I 2 )  S A = V1 ( I1 + I 2 ) 

S A = V1I1 + V1I 2  S A = ST + SC

S A = 5000.10 + 5000.100  S A = 50000 + 500000  S A = 550 kVA

Em ambos os casos a potência de transformação tem o mesmo valor, correspondendo à


potência nominal da máquina ligada como transformador. O remanescente surge da montagem
como autotransformador.

Sem dúvida que a sua mais-valia em relação aos transformadores é a economia. No exemplo
da figura 1.64 a) a corrente na saída I2A é superior a I2, embora à plena carga os enrolamentos
do primário e do secundário do autotransformador sejam atravessados apenas pela corrente
nominal do transformador, para a qual foram dimensionados. Assim, apesar da máquina estar
a fornecer mais potência as perdas nos enrolamentos são as mesmas. Isto leva a que os
autotransformadores consigam, comparativamente com os transformadores, atingir
rendimentos ainda mais elevados.

Vamos agora fazer o raciocínio inverso. Consideremos uma vez mais o exemplo dos
autotransformadores das figuras 1.64 a) e c). Uma vez definidas a potência e a relação de
transformação como autotransformador é possível determinar a potência dos enrolamentos
(potência como transformador).

ST VI S VI S VI S V S V − V2  V 
= 2 2  T = 1 1  T = 1 1  T = 1  T = 1A  ST = 1 − 2  SA 
S A V2 A I 2 A S A V1 A I1 A S A V1 A I1 S A V1 A SA V1 A  V1 A 

 500 
 ST = 1 −  55000  ST = 50 kVA
 5500 

ST VI S VI S V S V − V1  V 
= 2 2  T = 2 2  T = 2  T = 2A  ST =  1 − 1  S A 
S A V2 A I 2 A S A V2 A I 2 S A V2 A SA V2 A  V2 A 

 5000 
 ST = 1 −  550000  ST = 50 kVA
 5500 

65
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

Conclui-se assim que quanto menor for a relação de transformação menor é a potência de
transformação, o que conduz a máquinas mais económicas. Desse modo é possível ter máquinas
mais potentes com menor secção de cobre nos enrolamentos. Em relação à corrente em vazio
Io, num transformador a esta atravessa apenas o enrolamento do primário, ao passo que no
autotransformador atravessa os dois. Considerando que a f.m.m. é idêntica nos dois casos
verifica-se que para o mesmo circuito magnético a corrente de magnetização é menor, (1.66).

N1
I o N1 = I o, A ( N1 + N 2 )  I o, A = I o (1.66)
N1 + N 2

Uma vez que os enrolamentos são mais reduzidos, o circuito magnético também fica mais
reduzido levando a uma diminuição do peso e do volume do circuito magnético, e
consequentemente do autotransformador propriamente dito. Com a redução do circuito
magnético e da corrente de magnetização as perdas no ferro naturalmente diminuirão também.

Como as performances dos autotransformadores são tanto melhores quanto mais a relação
de transformação se aproximar da unidade, geralmente são utilizados quando se pretendem
relações de transformação compreendidas entre 1 e 2. Deste modo podem ser utilizados para
interligarem linhas de muito alta tensão (400 kV/220 kV, 220 kV/150 kV, etc) com potências
na ordem das centenas de MVA.

Por exemplo um autotransformador de 100 MVA para interligar uma linha de 400 kV com
outra de 220 kV, necessita de ter os enrolamentos dimensionados para 45 MVA, o que é
substancialmente menor que a potência total que a máquina suporta.

Como seria de esperar esta máquina apresenta alguns pontos negativos relativamente
importantes. Um deles é o nível de isolamento exigido aos enrolamentos. Consideremos um
autotransformador com uma relação de transformação muito longe da unidade, situação
bastante desaconselhada como veremos de seguida. Suponhamos que existe uma ligação brusca
à terra no ponto indicado na figura 1.65 a), nessa situação os terminais 2U e N do secundário
ficam com um potencial em relação à terra, respetivamente de 9770 V e 10000 V.

66
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

1U
1U

10 kV
2U
10 kV
2U

230 V
230 V

N N
N N

a) b)

Figura 1.65 – Ligação à terra de autotransformadores

Nesse sentido é forçoso que exista uma ligação à terra do terminal do neutro, no caso de
máquinas monofásicas ou trifásicas em estrela ou zig-zag. Mesmo assim existe o risco de, no
caso de interrupção do enrolamento de baixa tensão, aparecer uma tensão de 10 kV ao terminal
2U da baixa tensão. Estas situações são potencialmente perigosas para o utilizador. Ao contrário
dos transformadores os autotransformadores não apresentam isolamento galvânico entre o
primário e o secundário. Assim, para lá dos motivos económicos, a segurança também tem um
forte impacto levando a que a relação de transformação sejam o mais próximo possível da
unidade.

Por outro lado, as como correntes de curto-circuito também são superiores às registadas
como transformador. Consideremos o exemplo da figura 1.66, este não é mais do que a
particularização do exemplo 1.74 a) quando ocorre um curto-circuito no secundário.

Icc

V1 Z1

Icc
V1A

Z2 V2A = 0

Figura 1.66 – Autotransformador redutor em curto-circuito

67
Fundamentos de máquinas elétricas - Autotransformadores

Com a impedância Z2 em curto-circuito a corrente é apenas limitada pela impedância Z1,


agravada do fato da tensão aplicada ser V1A ao invés de apenas V1. Para compararmos a corrente
de curto-circuito de um autotransformador com a de um transformador consideremos que a
impedância do secundário foi reduzida ao primário resultando (Zeq1). A corrente no primário de
um transformador com o secundário em curto-circuito (I1ccT) é determinada através de (1.67).

V1
I1ccT = (1.67)
Z eq1

Do mesmo modo, a corrente no primário de um autotransformador (I1ccA) resulta de (1.68).

V1 A
I1ccA = (1.68)
Z eq1

Manipulando (1.68) e substituindo nela (1.67) obtém-se a expressão (1.69).

V1 A V V V +V
I1ccA =  I1ccA = 1 1 A  I1ccA = I1ccT 1 2
Z eq1 Z eq1 V1 V1

 1
I1ccA = I1ccT 1 +  (1.69)
 m

Fica assim demonstrado que a corrente de curto-circuito como autotransformador é sempre


superior à que se verifica como transformador.

68
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Capítulo 2 – MÁQUINA ASSÍNCRONA TRIFÁSICA

2.1 – Introdução

O desenvolvimento das máquinas de indução polifásicas ficou-se a dever fundamentalmente


a 3 investigadores, Galileo Ferraris, Nikola Tesla e Charles Steinmetz. Os primeiros estudos
foram apresentados por Galileo Ferraris podendo ser considerado o inventor da máquina de
indução. Fruto das suas investigações, pioneiras no campo da corrente elétrica alternada,4
resultou a definição do Teorema de Ferraris no qual definiu os fundamentos do campo
magnético girante. Esta descoberta levou-o à construção da primeira máquina de Ferraris, uma
máquina de indução bifásica com as bobinas dispostas fisicamente desfasadas entre si 90º
mecânicos. Paralelamente, trabalhando na mesma área Nikola Tesla submeteu a patente do
motor de indução polifásico, que se generalizou como trifásico após Charles Steinmetz ter
patenteado o sistema de distribuição de energia elétrica em corrente alternada trifásica,
demonstrando que este seria o sistema mais económico/eficiente para o transporte de energia
elétrica.

A máquina de indução, tal como o próprio nome indica, funciona segundo o princípio da
indução magnética podendo genericamente ser dividida em dois grupos distintos, as máquinas
rotativas e as máquinas estáticas (transformadores), tendo sido estas últimas já alvo de estudo.
Em aplicações eletromecânicas em corrente alternada que exijam potências acima de 1 kW, as
máquinas de indução são sem dúvida as mais utilizadas. Construtivamente podem ser
monofásicas, bifásicas ou trifásicas, embora seja muito raro encontrar-se aplicações para
máquinas elétricas bifásicas, principalmente porque a distribuição de energia é
maioritariamente feita de forma monofásica ou trifásica.

Neste capítulo é apresentado um estudo geral da máquina de indução trifásica em regime


permanente. A máquina de indução monofásica, devido à especificidade do seu modelo
matemático e princípio de funcionamento serão alvo de estudo num capítulo próprio. Os
modelos dinâmicos devido à sua elevada complexidade são abordados num curso específico.

4
Apesar de na generalidade a corrente ser produzida por uma fonte de tensão, vulgarizou-se o termo
corrente alternada ao invés de tensão alternada.

69
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.2 – Constituição

Qualquer tipo de máquina rotativa é constituída fundamentalmente pelo estator, rotor e


entreferro. Tal como o nome indica, o estator é a parte estática da máquina que está agregada
à carcaça, o rotor por sua vez, é a parte que roda e desenvolve o binário mecânico convertido
a partir da energia elétrica absorvida no estator. Finalmente o entreferro é a distância que separa
o estator do rotor e que geralmente é constituído por ar, (embora em aplicações muito especiais
possa ser preenchido por óleo).

Construtivamente, o estator é constituído por chapas magnética empilhadas e isoladas entre


si, tal como no circuito magnético dos transformadores. Nessas chapas são abertas ranhuras,
denominadas cavas, para nelas se instalarem as bobinas que criam o campo magnético. Desta
forma a distância do entreferro é menor e as forças exercidas sobre os condutores são reduzidas.
O espaço entre duas cavas denomina-se dente. A figura 3.1 é uma representação muito genérica
da constituição de um estator de uma máquina de indução.

Cavas
Dentes

Bobinas

Figura 2.1 – Representação genérica de um estator

O rotor, como veremos mais adiante, está sempre em curto-circuito e pode ser de dois tipos:
em gaiola de esquilo ou bobinado. As máquinas de rotor em gaiola de esquilo são utilizadas
maioritariamente quando são necessários binários de arranque relativamente reduzidos. Para
baixas potências o rotor é formado por barras de alumínio, moldadas injetando alumínio
fundido nas cavas previamente abertas nas chapas magnéticas do rotor. Estas barras, que
também podem ser constituídas por cobre, são curto-circuitadas por meio de anéis, tal como
representado na figura 2.2.

70
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Figura 2.2 – Representação de um rotor em gaiola de esquilo

Para máquinas de elevada potência, ao invés de se utilizar técnicas de injeção, são inseridas
barras de alumínio ou cobre previamente moldadas nas cavas do rotor e posteriormente
soldadas aos anéis laterais. Os rotores com barras em cobre garantem menores perdas e
consequentemente melhores rendimentos, mas pelo seu custo são utilizados em aplicações
especiais em que o aumento do rendimento compense o custo.

As máquinas de rotor bobinado são utilizadas, maioritariamente, quando são necessários


binários de arranque muito elevados. Há algumas décadas eram utilizadas para outros tipos de
aplicações, nomeadamente conversores de frequência, transformadores desfasadores ou para
regulação à distância de posicionadores. Com a evolução da eletrónica de potência e de
regulação e comando, estas aplicações caíram em desuso sendo atualmente utilizadas apenas
como motores ou geradores. Tal como o nome indica, além do estator também o rotor é
bobinado, pelo que os enrolamentos são semelhantes aos do estator tendo o mesmo número de
fases e pares de polos. Numa das extremidades dos enrolamentos os terminais são ligados entre
si, na outra os terminais são ligados a anéis coletores de cobre isolados e montados sobre o eixo.
O acesso aos terminais do rotor é feito através de escovas de grafite apoiadas nesses anéis.
Desse modo é possível ter continuidade elétrica com enrolamentos do rotor a partir da caixa de
terminais na carcaça. Esta é a principal diferença entre os dois tipos de máquinas, uma vez que
nas de rotor bobinado é possível alterar a resistência elétrica do rotor. Comparativamente com
a configuração em gaiola de esquilo revela-se mais cara, menos eficiente e menos robusta
necessitando de mais manutenção. É utilizado principalmente quando os motores de rotor em
gaiola não conseguem desenvolver os altos binários de arranque impostos pela carga. Na figura
2.3 está representada de uma forma genérica uma máquina de indução de rotor bobinado com
o respetivo reóstato de arranque.

71
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

alimentação

reóstato

veio

estator rotor anéis e


escovas
Figura 2.3 – Representação genérica de uma máquina de indução de rotor bobinado

Mais à frente neste texto serão estudadas com mais profundidade as mais-valias de se
utilizar um motor com esta configuração.

2.3 – Princípio de funcionamento

Tal como foi indicado anteriormente esta máquina funciona segundo o princípio da indução
magnética, tal como os transformadores de potência estudados no capítulo dois. Assim o seu
estudo terá por base alguns dos conceitos previamente descritos para os transformadores. A
grande diferença entre elas reside no facto das máquinas de indução rotativas converterem
energia elétrica em mecânica e vice-versa, sendo assim denominados conversores.
Relembremos que entre o primário e o secundário do transformador não há conversão de
energia apenas transformação das amplitudes e fases de algumas grandezas elétricas. Assim
veremos ao longo deste texto que é possível encontrar fortes paralelismos entre o estator e o
primário e o rotor e o secundário. Tal como nos transformadores o estator tem como principal
função criar campo magnético e consequente indução, embora de uma forma bastante diferente
dos transformadores.

2.3.1 – Teoria do campo girante

Com a generalização da máquina de indução trifásica é natural que o estudo da teoria do


campo magnético girante se centre fundamentalmente em sistemas trifásicos, embora com as
devidas adaptações possa ser extrapolado para qualquer sistema elétrico com mais de uma fase.

72
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Considere o dispositivo das figuras 2.4 a) e b), cuja permeabilidade dos circuitos magnéticos
do estator e do rotor é infinita e o comprimento do entreferro é constante. No estator está
instalado um enrolamento constituído por uma bobina ideal com N espiras de passo polar
pleno (ângulo de 180º mecânicos entre a entrada e a saída da bobina). Para este estudo
considera-se como referência o eixo magnético da bobina e convenciona-se que “x” representa
o ponto de entrada da corrente na bobina e “•” o ponto de saída. Considera-se ainda que
quando a alternância da corrente é positiva esta está a entrar no terminal “a” e quando é
negativa está a entrar no terminal "-a”.

Alimentando esta bobina com uma corrente alternada sinusoidal de pulsação , resulta uma
força magnetomotriz ( f.m.m.) caracterizada através de um vetor pulsante variando
continuamente entre um valor máximo positivo (+N.IMAX) e um máximo negativo (-NIMAX)
através da expressão (2.1)
-a -a

F M AX -F M AX
refª
refª

a a

a) b)

Figura 2.4 – Representação vetorial da evolução temporal da amplitude da f.m.m

( pico) ( t ) = MAX cos (t ) (2.1)

Apesar de ser um modelo aceitável para se iniciar este estudo, a representação da f.m.m. por
um único vetor pulsante sobre o eixo magnético da bobina não permite inferir acerca da
sua amplitude ao longo do entreferro da máquina.

Uma vez entendido o processo para uma única bobina o mesmo pode ser extrapolado
para um dispositivo trifásico como o representado na figura 2.7, onde se considera que as
bobinas (a,b,c) são equilibradas, de passo pleno e desfasadas entre si 120º mecânicos.

73
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

a1

refª

-a1

Figura 2.7 – Representação genérica de uma máquina de indução trifásica elementar

A máquina de indução trifásica é naturalmente alimentada por três correntes alternadas


sinusoidais com pulsação  desfasadas 120º entre si. Como se considera que as corrente são
equilibradas, podem representar-se pelas expressões (2.2) a (2.4).

i1 ( t ) = I MAX cos (t ) (2.2)

i2 (t ) = I MAX cos (t −120º ) (2.3)

i3 (t ) = I MAX cos (t − 240º ) (2.4)

A partir deste ponto podem ser feitas duas abordagens igualmente válidas para a
compreensão do fenómeno de criação do campo magnético girante, a análise das ondas
progressivas e a análise gráfica.

2.3.2 – Análise gráfica

Análise gráfica é outra técnica para se explicar a criação do campo girante. Neste caso opta-
se pela representação dos vetores de campo magnético (ou f.m.m) criados pelas diferentes
bobinas para vários instantes de tempo. Através da composição vetorial dos mesmos é possível
obter-se a posição e amplitude do campo resultante para vários instantes temporais. Para tal
consideremos uma máquina de indução trifásica elementar com bobinas de passo pleno
desfasadas 120º mecânicos entre si, como a apresentada anteriormente na figura 2.7.
Consideremos ainda que a máquina é alimentada por um sistema de correntes alternadas
sinusoidais, equilibradas, desfasadas entre si de 120º elétricos tal como representado na
f i g u r a 2.9 e que criam os campos magnéticos representados por (2.5). Na figura 2.9 estão

74
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

também representados vários instantes temporais (t0…t5) uniformemente distribuídos ao longo


do período em estudo.

t0 t1 t2 t3 t4 t5

Figura 2.9 – Correntes de alimentação e instantes de tempo estudados

H1 = H MAX cos (t )


H 2 = H MAX cos (t − 2 3) (2.5)
H 3 = H MAX cos (t − 4 3)

Tal como na anterior figura 2.4, na construção das figuras 2.10 a) a f), convencionou-se que
as correntes positivas entram pelo início da bobina e as negativas entram pelo fim. O símbolo
“x” representa o ponto de entrada da corrente e “•” o ponto de saída.

Iniciando a análise para o ponto t0 = 0 da figura 2.9 verifica-se que o campo magnético da
fase 1 é positivo e tem amplitude máxima ao passo que os campos magnéticos das fases 2 e 3
são negativos e apresentam valores iguais, ou seja:
H1 = H MAX ; H2 = H MAX cos ( − 2 3) ; H3 = H MAX cos ( − 4 3)

Aplicando a regra da mão direita e as convenções assumidas resulta o exemplo da figura


2.10 a) com a indicação da posição de cada vetor pulsante ( H1 , H 2 e H 3 ) e do vetor resultante

(H ).
R A determinação analítica da amplitude do vetor resultante é calculado através da

expressão (2.6).

H R = H1 + ( H 2 ) + ( H3 ) + 2H 2 H3 cos ( 2 3)
2 2
(2.6)

75
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

 H cos ( −2 / 3)  +  H MAX cos ( −4 / 3)  +


2 2

H R = H MAX +  MAX
2 H MAX cos ( −2 / 3) H MAX cos ( −4 / 3) cos ( 2 / 3 )

Após alguma manipulação matemática verifica-se através de (2.7) que a amplitude do vetor
resultante é 1,5 vezes superior à gerada por cada campo magnético individualmente.

3
HR = H MAX (2.7)
2

Esta análise analítica pode ser aplicada aos restantes instantes temporais (t1 a t5), embora
seja claramente entendível uma análise puramente gráfica como a apresentada nas figuras 2.10
a) a f).
HR
HR

a1 a1 a1
H3
H2

H3
H2
H3
HR H1 H1
H1
HR
H2

-a1 -a1 -a1

a) t0 b) t1 c) t2

a1 a1
a1

H2
H1 \
H1 HR

H2 H3
H3

H3 H2
-a1 -a1
-a1
HR
HR

d) t3 e) t4 f) t5

Figura 2.10 – Representação gráfica da evolução do campo girante

Uma vez mais, e tal como se concluiu na análise das ondas progressivas, verifica-se que o
vetor do campo girante está sincronizado com a pulsação da tensão de alimentação.

Concentremo-nos agora nas máquinas com mais de um par de polos no estator. No caso da
máquina com bobinas de passo pleno como da figura 2.10, quando uma bobina é atravessada
por uma corrente cria um campo magnético que pode ser representado por um par de polos

76
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

magnéticos (convenciona-se que o polo é Norte quando o fluxo sai do estator e é Sul quando
o fluxo entra). Consideremos agora que enrolamento do estator ao invés de ter uma única bobina
tem duas que apresentam um ângulo de 90º mecânicos entre o princípio e o fim (a1, -a1, a2, -a2)
tal como ilustrado na figura 2.11 a). Neste caso quando a corrente atravessa a bobina são criados
dois campos magnéticos por fase, ou seja, dois pares de polos (Norte/Sul). Conclui-se assim
que, construtivamente, o passo polar (ângulo entre a entrada e a saída de uma bobina), resulta
de  =180º/p.5

Na máquina da figura 2.11 b) está representada uma máquina trifásica com dois pares de
polos por fase. Verifica-se que independentemente do número de pares de polos as bobinas das
diferentes fases continuam desfasadas entre si 120º mecânicos.
a1 a1 -b2
-c1
c2

b2
-a2 -a1 -a1

-a2
b1

c1
-c2
a2 -b1 a2

a) b)

Figura 2.11 – Representação de um estator com dois pares de polos

Vamos agora proceder a uma análise gráfica em que as correntes da figura 2.9 (para os
instantes t0 a t2) são aplicadas à máquina com dois pares de polos representada nas figuras 2.12
a) a c).

5
Vários autores consideram p o número de polos ao invés de pares de polos, no entanto ao longo deste
texto considera-se sempre que p indica pares de polos.

77
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

HR HR

a1 HR a1
-b2 -b2
-c1 H1 -c1 a1 -b2
c2 c2
H2 -c1
H2 c2
b2 b2
H3 H3
-a1 H1 -a1 b2
H3 H2
H3 -a1
-a2 -a2 H1
H3
b1 H2
b1 -a2
H2 b1
c1 c1
-c2 -c2 c1
H1 -b1 a2 -b1 a2 -c2
HR
-b1 a2
HR

a) t0 b) t1 c) t2

Figura 2.12 – Representação gráfica da evolução do campo girante para dois pares de polos

Comparando as posições do campo magnético resultante entre as figuras 2.10 a) a c) e as


figuras 2.12 a) a c), verifica-se que ao fim de 6,(66) milissegundos (t2), no caso da máquina
com um par de polos o campo resultante deslocou-se 120º mecânicos enquanto que na máquina
com dois pares deslocou-se 60º mecânicos. Ou seja, apesar da pulsação da onda de tensão ser a
mesma para ambos os casos, a velocidade angular mecânica é inversamente proporcional ao
número de pares de polos. Esta conclusão é apresentada de forma concisa no teorema enunciado
por Galileo Ferraris.

“Um enrolamento polifásico com p polos por fase, produz, quando percorrido por um
sistema equilibrado de correntes polifásicas de pulsação , um conjunto de p polos fictícios

deslizando ao longo do enrolamento, sem sofrer alterações com velocidade angular e = 1 ”


p

Onde e representa a velocidade angular do sistema equilibrado de correntes e 1 a


velocidade do campo girante, representada por (2.8).

2 f1
1 = (2.8)
p

Uma vez que a velocidade dos motores é geralmente indicada em rotações por minuto
(r.p.m.) a expressão (2.8) pode ser reescrita como (2.9), resultando a expressão (2.10).

2 n1 2 f1
= (2.9)
60 p

60 f1
n1 = (2.10)
p

78
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Onde n1 é a velocidade do campo girante em r.p.m., f1 é a frequência da tensão de


alimentação e p o número de pares de polos.

Uma conclusão muito importante neste estudo é o facto de a velocidade do campo girante
depender diretamente da frequência, ou seja, se esta se mantiver rigorosamente constante (algo
que se aceita em redes de potência infinita) pode-se considerar que a velocidade de sincronismo
das máquinas de indução polifásicas se mantém rigorosamente constante, não dependendo de
mais nenhum fator externo. Na tabela 2.1 estão indicadas as velocidades do campo girante em
função do número de pares de polos e da frequência. Relembremos que países como a Arábia
Saudita, o Brasil, o Canadá, os EUA e alguns países sul-americanos, entre outros, utilizam
60 Hz ao invés de 50Hz.

Tabela 2.1 – Valores de velocidade padronizadas do campo girante


p 50 Hz 60 Hz
1 3000 r.p.m. 3600 r.p.m.
2 1500 r.p.m. 1800 r.p.m.
3 1000 r.p.m. 1200 r.p.m.
4 750 r.p.m. 900 r.p.m.
… …… ……
10 300 r.p.m. 360 r.p.m.

Uma vez criado o campo girante no estator, o fluxo gerado atravessa o entreferro e o rotor,
conforme representado nas figuras 2.10 e 2.12. Um observador instalado no rotor verá um fluxo
de amplitude constante variar no espaço com a velocidade angular 1. Essa variação irá criar
forças eletromotrizes (f.e.m.) induzidas no rotor. Como o rotor está em curto-circuito irão
circular correntes. Estas criam no rotor campos magnéticos com o mesmo número de pares
de polos do estator e polaridades instantâneas que, de acordo com a lei de Lenz, se irão
opor à causa que lhes deu origem. Como não podem impedir a rotação do campo girante,
uma vez que é imposto pela rede, irão forçar o rotor a rodar de modo a diminuir a velocidade
relativa entre o campo girante e o rotor. Note-se que, em aplicações muito especiais, se de algum
modo for possível bloquear o rotor e a carcaça tiver liberdade para rodar os papéis invertem-se
de modo a garantir a velocidade relativa entre o campo girante e o rotor.

A velocidade do rotor tem uma influência direta sobre o valor da f.e.m. induzida e das
correntes rotóricas. Um observador posicionado no rotor verifica que quanto maior for a
diferença de velocidade relativa entre o campo girante (constante) e o rotor maior é a variação
do fluxo e consequentemente maior a f.e.m. induzida bem como as correntes. Nesse sentido é

79
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

perfeitamente entendível que a f.e.m. induzida é máxima quando o rotor está bloqueado
diminuindo conforme a velocidade rotórica se aproxima da velocidade de sincronismo. No
limite, se em regime permanente as duas velocidades se igualarem o observador no rotor deixa
de ver variação do fluxo pelo que a f.e.m. e as correntes seriam nulas, levando a que a máquina,
teoricamente, deixasse de rodar. Assim se conclui que em regime permanente a velocidade do
rotor nunca pode igualar a velocidade de sincronismo, o que leva a que estas máquinas sejam
comummente designadas como máquinas assíncronas. Isto significa também que em regime
motor a velocidade do rotor (n2) é sempre menor que n1. Os casos em que isso não acontece
serão abordados mais à frente neste texto.

À diferença entre as duas velocidades dá-se o nome de escorregamento6. É expresso em p.u.


tendo como base a velocidade do campo girante, resultando nas expressões (2.11) ou (2.12).
Veremos ao longo deste capítulo que o escorregamento é provavelmente a variável mais
importante para a determinação dos pontos de funcionamento da máquina assíncrona.

n1 − n2
s= (2.11)
n1

1 − 2
s= (2.12)
1

Considerando que funcionando como motor a velocidade do rotor varia desde zero até n1
conclui-se através de (2.11) que o escorregamento varia entre 1 (n2=0) e 0 (n2 = n1). Como a
velocidade de sincronismo é constante, a velocidade do rotor em regime permanente vai
depender fundamentalmente da carga aplicada sob a forma de binário7 resistente. Ao impor-se
carga mecânica no veio do rotor o binário resistente aumenta com consequente aumento do
escorregamento e diminuição da velocidade. Nestas circunstâncias a f.e.m. e as correntes no
rotor aumentam incrementando o binário motor até se estabelecer o equilíbrio dinâmico entre
os dois binários para uma nova velocidade (escorregamento).

Concentremo-nos agora na análise da frequência da f.e.m. rotórica (f2). Quando o rotor está
parado ou bloqueado n2 é nula (s=1) e consequentemente a frequência da f.e.m. induzida no
rotor é igual à frequência do campo girante (f1). Por outro lado, se o rotor rodar à mesma
velocidade que o campo girante (n2=n1) e (s=0) não haverá f.e.m. induzida no rotor, e portanto

6
Fruto da tradução directa do inglês sliding em algumas universidades portuguesas (Porto, Coimbra, Aveiro,
etc) o termo escorregamento é substituído por deslizamento.
7
No português falado no Brasil o termo binário é traduzido por “conjugado”. Utilizando a terminologia
anglo-saxónica por vezes o binário também é denominado por “torque”

80
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

a frequência será nula. Como o rotor gira a uma velocidade relativa (n1-n2) em relação ao campo
girante, à frequência f2 chama-se frequência de escorregamento, sendo calculada através de
(2.13):

n1 − n2 psn1
f2 = p = = sf1 (2.13)
60 60

2.4 – Modelo matemático da máquina de indução trifásica

Da análise até este ponto compreende-se que a f.e.m. induzida no rotor depende
fundamentalmente da diferença de velocidades entre o campo girante e o rotor, uma vez que a
amplitude do campo é constante. Se porventura o rotor estiver bloqueado, este vê o fluxo a girar
à velocidade máxima pelo que a f.e.m. induzida será também máxima. Conforme o rotor
começa a rodar a diferença de velocidades diminui, consequentemente, a variação do fluxo
também diminui, bem como a f.e.m. induzida. No limite, se o rotor atingir o sincronismo
(igualar a velocidade do campo girante), a diferença de velocidades é nula, bem como a f.e.m.
O mesmo raciocínio pode ser feito com a frequência da f.e.m. do rotor. Quando bloqueado a
frequência toma o mesmo valor da frequência de alimentação (f1), diminuindo
progressivamente com o aumento da velocidade rotórica até se anular no sincronismo. Outro
fator a ter em conta é o valor da reactância do rotor uma vez que esta varia com a frequência,
diminuindo conforme a velocidade do rotor aumenta. Para além destes valores variarem com a
velocidade é virtualmente impossível medi-los, principalmente no caso de máquinas com rotor
em gaiola de esquilo, o que à partida torna complicado o cálculo da corrente e potências no
rotor.

Para obviar este problema é necessário criar um modelo matemático que permita calcular os
valores de corrente e potências no rotor sem a necessidade de os medir in situ. Para tal, e uma
vez que o funcionamento deste tipo de máquina se baseia no princípio da indução magnética
comecemos por fazer uma analogia com o transformador de potência. No caso do transformador
existe uma f.e.m. induzida no secundário pela variação temporal da amplitude do fluxo
magnético no núcleo, (produzido pelo primário). No caso das máquinas assíncronas, a f.e.m. é
induzida no rotor por intermédio do fluxo que atravessa o entreferro, resultante de um campo
girante de amplitude constante que varia no espaço (produzido no estator). Nesse sentido, o
estudo feito para os transformadores é passível de ser aplicado às máquinas assíncronas,
nomeadamente no que se refere ao modelo equivalente, considerando que o estator pode ser

81
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

entendido como um primário e o rotor como um secundário8. Para início do estudo deste modelo
consideremos que Re e R2 representam respetivamente as resistências por fase do estator e do
rotor, ao passo que Xe representa a reactância do estator e X2b a do rotor quando bloqueado. A
reactância de magnetização Xm modeliza o fluxo que atravessa o entreferro (campo girante).
Uma diferença que se encontra entre os dois modelos é o facto de na máquina assíncrona Rp
para além de representar as perdas por histerese e correntes de Foucault poder representar
também as perdas mecânicas.

Numa primeira aproximação vamos considerar que o rotor da máquina está bloqueado. Este,
como está construtivamente curto-circuitado, pode ser comparado com o secundário de um
transformador em curto-circuito, tal como representado no modelo equivalente monofásico da
figura 2.17.

Re jXe R2 jX2b
Io
e
I I2
V e Rp Ip jIm jXm Ee Ebr

Figura 2.17 – Esquema equivalente da máquina de indução com o rotor bloqueado

Quando o estator é alimentado por uma tensão alternada sinusoidal a f.e.m. induzida no rotor
r
( Eb ) é dada por (2.14), cuja frequência (f2) é igual à frequência da f.e.m. no estator (f2 = f1).

Ebr = 4, 44kw f1 N  MAX


r
(2.14)

Do mesmo modo a reactância do rotor quando está bloqueado (X2b) resulta de (2.15).

X 2b = 2 f1Lr (2.15)
Assim, para o caso particular do rotor bloqueado a corrente rotórica pode ser calculada por
(2.16).

Ebr
I2 = (2.16)
( R2 ) + ( X 2b )
2 2

8
A máquina assíncrona de rotor bobinada foi vastamente utilizada como transformador de campo girante

82
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Consideremos agora que o rotor foi solto e começou a rodar, neste caso a f.e.m. induzida no
rotor (Er) terá a forma de (2.17), uma vez que a frequência rotórica f2 passa a ser diferente da
estatórica f1.

E r = 4, 44kw f 2 N r  MAX (2.17)

Bem como a reactância que passa a depender da frequência rotórica (2.18).

X 2 = 2 f 2 Lr (2.18)

Assim, o valor da corrente rotórica (2.19), e consequentemente o valor da corrente de entrada


na máquina irão depender de valores que variam com a velocidade, e são virtualmente
impossíveis de medir.

Er
I2 = (2.19)
( R2 ) + ( X 2 )
2 2

No entanto dividindo (2.17) por (2.14) conclui-se que a relação que existe entre as f.e.m.’s
induzidas com rotor em movimento e bloqueado é expressa por (2.20).

E r f2
= = s pelo que E = sEb
r r
r
(2.20)
Eb f1

Como a reactância também depende da frequência, substituindo em (2.15) f2 por sf1 (2.13)
obtém-se (2.21). Deste modo é possível estabelecer a relação entre as reactâncias com o rotor
em movimento e bloqueado em função do escorregamento s.

X 2 = 2 f1sLr = X 2b s (2.21)

Desta análise pode-se representar o esquema equivalente da figura 2.17, agora para a
situação do rotor em movimento, através da figura 2.18.

Re jXe R2 jX2bs
Io
e
I I2
V e Rp Ip jIm jXm e r
E s
E b

Figura 2.18 - Modelo equivalente da máquina de indução com o rotor em movimento

83
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Verifica-se assim que após alguma manipulação matemática foi possível reescrever o
modelo equivalente sem haver necessidade de determinar o valor da f.e.m. e da reactância para
cada valor de velocidade. Nesta situação a corrente no rotor é calculada por (2.22).

sEbr Ebr
I2 = = (2.22)
( R2 ) + ( sX 2b )
2 2 2
 R2 
  + ( X 2b )
2

 s 

Com esta manipulação matemática os modelos das figuras 2.17 e 2.18 passam a ter a forma
de 2.19 com todos os parâmetros determinados com a frequência do estator, o que muito
contribui para a simplificação do estudo das máquinas de indução em regime permanente.

Re jXe R2/s jX2b


Io
e
I I2
V e Rp Ip jIm jXm e r
E
E b

Figura 2.19 – Modelo equivalente da máquina de indução com o rotor em movimento

O modelo da figura 2.19 é frequentemente utilizado para caracterizar a máquina de indução,


no entanto o termo R2/s pode levar a pensar que a resistência do rotor varia com o
escorregamento, o que não acontece na realidade, uma vez que a resistência do rotor depende
apenas de fatores construtivos. Nesse sentido introduziu-se no modelo a manipulação
matemática (2.23), resultando o modelo equivalente da figura 2.20.

R2 1 
= R2  − 1 + R2 (2.23)
s s 
Re jXe R2 jX2b
Io
Ie I2 R2(1/s-1)
V e Rp Ip jIm jXm Ee Erb

Figura 2.20 – Modelo equivalente explicitando a resistência de carga

84
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Uma análise atenta deste modelo permite concluir que através de alguma manipulação
matemática se conseguiu transformar o modelo da máquina assíncrona no modelo de um
transformador com uma carga resistiva variável. Senão vejamos, a f.e.m induzida no rotor e a
sua reatância passaram a ser constantes independentemente da velocidade de rotação. Assim a
corrente irá depender explicitamente de uma carga que varia com o escorregamento e que
representa a potência mecânica que a máquina desenvolve.

Para verificar a validade deste modelo equivalente podem-se analisar duas situações, uma
com o rotor bloqueado (s=1) e outra com o rotor em sincronismo (s=0). Na primeira hipótese
a resistência de carga é nula logo o rotor comporta-se como o secundário de um transformador
em curto-circuito, ou seja, a corrente é máxima sendo limitada apenas pela impedância
R2 + jX 2b . Na segunda hipótese, a resistência de carga apresenta um valor infinito resultante de

R2 0 ficando assim o circuito em aberto. Neste caso não há circulação de corrente rotor, o que

acontece na realidade quando a máquina atinge o sincronismo. Desta forma conclui-se que o
modelo é válido servindo de ponto de partida para a restante análise do funcionamento da
máquina assíncrona trifásica.

2.5 – Circuito equivalente reduzido ao estator

Tal como nos transformadores a redução das grandezas elétricas ao estator ou ao rotor
permitem agilizar os cálculos uma vez que se trabalha sempre com o mesmo valor de f.e.m. No
entanto para estudo do funcionamento das máquinas assíncronas, e especialmente no caso das
de rotor em gaiola de esquilo, não existe na prática nenhuma mais-valia em se reduzir as
grandezas ao rotor. Assim, na esmagadora maioria das vezes trabalha-se com as grandezas
reduzidas ao estator. Nesse sentido a f.e.m. do rotor pode ser reduzida ao estator através da
expressão (2.24).

Ee
=m (2.24)
Ebr

O mesmo acontece com a resistência e a reactância (2.25) e a corrente, (2.26), resultando o


modelo equivalente reduzido ao estator da figura 2.21.

R r = m 2 R2
(2.25)
X r = m 2 X 2b

85
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

I2
Ir = (2.26)
m

Re jXe Rr jXr

Io
Ie Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm Ee

Figura 2.21 – Modelo equivalente reduzido ao estator

Aplicando análise circuitos ao modelo da figura 2.21, resultam a expressões (2.27) a (2.30).

Rr r
E = I + jX r I r
e
(2.27)
s

Ee Ee
Ip= Im = (2.28)
Rp jX m

I 0 = I p + jI m I e = I r +I0 (2.29)

V e = E e + ( Re + jX e ) I e (2.30)

2.5.1 – Balanço de potência

A análise do modelo equivalente da figura 2.21 permite tirar várias conclusões acerca de
como se distribui a potência ativa através da máquina assíncrona. Consideremos (por agora)
que está a trabalhar como motor convertendo energia elétrica em energia mecânica.

A potência elétrica de entrada pode ser calculada por (2.31), em que φe representa a
desfasagem entre a tensão de alimentação por fase (Ve) e a corrente por fase absorvida pelo
estator (Ie).

P e = 3V fe I ef cos j e( ) (2.31)

Essa corrente ao atravessar os enrolamentos do estator irá provocar perdas por efeito de Joule
e
( Pcu ), calculadas por (2.32):

86
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Pcue = 3R e ( I e )
2
(2.32)

Ainda no estator as perdas no circuito magnético (Pfe) são modelizadas por uma resistência
fictícia (Rp) que ao ser atravessada pela corrente de perdas, também fictícia, (Ip) produzirá
perdas por efeito de Joule equivalentes às introduzidas pelas correntes de Foucault e pela
histerese (2.33).

Pfe = 3Rp I p2 (2.33)

Após se determinar as perdas elétricas associadas ao estator pode-se calcular a potência que
atravessa o entreferro e é entregue ao rotor (Pag),9 podendo ser determinada pela diferença entre
(2.31), (2.32) e (2.33) ou diretamente através (2.34).

Rr r
( )
2
Pag = 3 I (2.34)
s

Uma vez no rotor, a corrente rotórica reduzida ao estator (Ir) ao atravessar os enrolamentos
do rotor (ou as barras da gaiola de esquilo) vai, uma vez mais, provocar perdas por efeito de
r
Joule ( Pcu ), calculadas por (2.35).

Pcur = 3R r ( I r ) = sPag
2
(2.35)

Contabilizadas todas as perdas elétricas, a diferença entre estas e a potência de entrada


resulta na potência mecânica interna desenvolvida pela máquina. Nesse sentido a resistência
variável do modelo equivalente não é mais do que uma representação da potência mecânica
interna (Pmi) desenvolvida pela máquina, que varia em função do escorregamento imposto pela
carga, como em (2.36).

1 
( ) = (1 − s ) P
2
Pmi = 3R r  − 1 I r ag (2.36)
s 

A este valor da potência mecânica interna ainda é necessário subtrair o valor das perdas
mecânicas (Pmec) obtendo-se a potência mecânica útil (Pmu) como em (2.37). Em regime
permanente, ou seja, para um determinado valor de velocidade constante, a potência mecânica
útil desenvolvida é exatamente igual à potência mecânica que a carga aplica à máquina.

Um dado importante, o valor de potência indicado na chapa de característica das máquinas


assíncronas é sempre o valor da potência mecânica útil.

9
O índice ag deriva do anglicismo air gap para representar o entreferro

87
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Pmu = Pmi − Pmec (2.37)

As perdas mecânicas são compostas pelo atrito e ventilação (PAV) e perdas suplementares
(PAD). De notar que só nos motores auto ventilados é que se verificam perdas por ventilação,
sendo inexistentes para os que são arrefecidos por ventilação forçada.

Na figura 2.22 a) está representado um esquema simplificado do balanço de potências para


o modelo da figura 2.21.

( ) Pfe = 3R p ( I p ) ( )
2 2 2
Pcue = 3R e I e Pcur = 3R r I r Pmec = PAV + PAD

P e = 3V e I e cos (j ) Rr r 1  Pmu = Tmu2


( ) Pmi = 3R r  − 1 ( I r )
2 2
Pag = 3 I
s s 

a)
Por vezes, para facilidade de cálculo ou como resultado de alguns ensaios (abordados mais
adiante neste texto), as perdas mecânicas são representadas em conjunto com as perdas do
circuito magnético o que se traduz na omissão da potência de perdas mecânicas. Nesse caso o
diagrama do balanço de potência passa a ser representado como na figura 2.22 b).

( ) P0 = Pfe + Pmec
( )
2 2
Pcue = 3R e I e Pcur = 3R r I r

P e = 3V e I e cos (j ) Rr r 1  Pmu = Tmu2


( ) Pmi = 3R r  − 1 ( I r )
2 2
Pag = 3 I
s s 

b)

Figura 2.22 – Diagrama do balanço de potência numa máquina de indução, a) com as


perdas mecânicas explicitadas; b) com as perdas mecânicas contabilizadas juntamente com
as perdas magnéticas

Em termos do balanço de potência esta aproximação é perfeitamente válida uma vez que a
relação entre a potência de saída e de entrada continua a mesma. A única aproximação é o facto
de as perdas mecânicas serem contabilizadas no estator e não no rotor. A mais-valia desta
aproximação é o facto de se poder considerar que a potência mecânica útil é igual à potência
mecânica interna (Pmu=Pmi). Como veremos mais adiante neste texto é uma consideração que
permitirá facilitar bastante alguns cálculos.

88
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.5.2 – Característica de binário

Apesar de na chapa de características ser indicado o valor da potência mecânica,


provavelmente a informação mais importante seria o binário útil, uma vez que a máquina
desenvolve movimento angular. O binário útil (Tmu) resulta do quociente da potência mecânica
útil pela velocidade angular mecânica do rotor (2) como em (2.38). Por sua vez o binário
mecânico interno (Tmi) é determinado por qualquer das expressões de (2.39).

Pmu Pmi Pmec


Tu = = − = Tmi − Tp (2.38)
2 2 2

Pmi (1 − s ) Pag Pag


Tmi = = = (2.39)
2 (1 − s ) 1 1

Na figura 2.23 está representada uma característica de binário (caraterística eletromecânica)


em função do escorregamento para uma máquina assíncrona a funcionar como motor. Esta
caraterística pode ser apresentada em função da velocidade do rotor ou em função do
escorregamento. Uma vez que no modelo equivalente a resistência de carga varia com o
escorregamento será mais fácil explicitar o binário em função do escorregamento.
35 Binário [Nm]

30

25

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.23 – Característica de binário em função do escorregamento

A máquina ao ser alimentada com tensão constante desenvolve um binário no arranque que
vai aumentando até ao valor máximo decrescendo de seguida até estabilizar num ponto
compreendido entre este máximo e o sincronismo. Esse ponto irá depender da carga aplicada e
denomina-se ponto de estabilidade estática. Para uma melhor compreensão da estabilidade
estática a curva de binário deve ser analisada em dois troços separados, um compreendido entre

89
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

o arranque e o binário máximo e outro entre este e o sincronismo. Na figura 2.24 estão
representados dois pontos (A e B) onde a característica de binário motor e binário de carga se
intercetam.
35

Binário [Nm]
30

25
B
20
A
15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.24 – Pontos estáveis e instáveis de funcionamento como motor

35

Binário [Nm]
35

Binário [Nm]
Para facilitar a análise, nas figuras 2.25 a) e b) estão representadas ampliações em redor dos
30
30
pontos A e B.
25
25
Tm B
20 B Tc
A 20
ATc
15 Tm 15
s2 s s1 s2 s s1
10
a) instável b) estável 10

5
5
Figura 2.25 – Pormenores dos pontos estáveis e instáveis de funcionamento como motor
0
0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]
Escorregamento
No caso do ponto [p.u.]
A, se houver alguma perturbação no escorregamento s no sentido de s1
(maior velocidade), o binário motor (Tm) é superior ao binário de carga (Tc) pelo que a máquina
irá acelerar continuamente até atingir o ponto de estabilidade estática. No sentido oposto, em s2
(menor velocidade) o binário de carga será maior que o resistente pelo que a máquina irá
desacelerar continuamente até parar. No caso do ponto B, se houver uma perturbação no sentido
de s1 o binário de carga será superior ao binário motor fazendo com que a máquina desacelere
para o ponto B, no sentido oposto o binário motor é superior ao de carga fazendo com que
acelere convergindo no ponto B. Concluindo, no troço compreendido entre a velocidade de

90
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

sincronismo e o valor máximo de binário a máquina apresenta um funcionamento estável, entre


o arranque e o valor máximo de binário apresenta um funcionamento instável.

Uma nota importante, se o binário de carga aplicado no momento do arranque for superior
ao binário motor a máquina não arranca. Por outro lado, se partindo do ponto B a carga for
aumentada até ultrapassar o binário máximo atinge-se o binário de quebra, breakdown torque,
e a máquina irá parar por falta de binário motor.

Determinar os valores que caracterizam o balanço de potência, através das expressões (2.31)
a (2.37), ou o binário através de (2.39), torna-se trabalhoso, principalmente nos casos em que
se pretende determinar vários pontos de funcionamento para se traçar curvas características
como a da figura 2.23. Observando o modelo equivalente da figura 2.21 verifica-se que a
corrente do estator depende da tensão de alimentação, que se considera constante, e da
impedância equivalente da máquina (ZT) que por sua vez irá depender do escorregamento,
(2.40) e (2.41).

Ve
Ie= (2.40)
ZT

1
ZT = R e + jX e + (2.41)
1 1 1
+ + r
R p jX m R
+ jX r
s

Já a corrente do rotor poderá ser determinada através de (2.42).

Rp . jX m
Rp + jX m
Ir = Ie (2.42)
Rp . jX m Rr
+ + jX r
Rp + jX m s

Esta é uma solução possível, recorrendo à análise de circuitos outras formas de resolução
poderão ser encontradas.

Porém, existe uma aproximação ao modelo equivalente que permite agilizar os cálculos sem
introduzir erros apreciáveis, ao mesmo que tempo que facilita a análise dos diversos pontos de
funcionamento da máquina.

91
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.6 – Modelo aproximado reduzido ao estator

Atualmente as máquinas assíncronas trifásicas apresentam rendimentos apreciáveis, quase


sempre acima de 70%, ou mais. Para isto contribui a baixa corrente magnetização (devido à
elevada permeabilidade do circuito magnético e às baixas perdas de magnetização), bem como
à baixa impedância do estator. Estas características aliadas à dificuldade de se calcular a
resistência e reactância do rotor, nomeadamente nos rotores em gaiola, leva a que seja aceitável
introduzir uma aproximação ao modelo equivalente, deslocando o ramo em paralelo para
montante da impedância do estator, tal como representado na figura 2.26.

Ie Re jXe Rr jXr

Io
Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm

Figura 2.26 – Modelo aproximado reduzido ao estator

Esta aproximação não introduz erros apreciáveis uma vez que se considera apenas que a
corrente do ramo em derivação (Io) não atravessa os enrolamentos estatóricos. Permite também
simplificar os cálculos, tanto a nível do balanço de potência como na determinação do
escorregamento para o binário máximo e potência máxima, bem como o rendimento máximo.

Deste modo, ao invés de se utilizar as expressões (2.40) a (2.42) para determinar o valor da
corrente do rotor este poderá ser calculado diretamente com a tensão de alimentação (Ve) como
em (2.43).

Ve
I =
r
(2.43)
2
 e R 
 +(X + X )
r
2
R +
e r

 s 

Apesar desta aproximação as expressões do balanço de potência (2.31) a (2.39) continuam a


ser válidas à exceção de (2.32) que naturalmente toma a forma de (2.44) embora com resultados
muito semelhantes.

= 3R e ( I r )
e 2
pcu (2.44)

92
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.6.1 – Análise dos regimes de funcionamento (potência mecânica)

Substituindo a expressão da corrente do rotor (2.43) na expressão da potência mecânica


interna (2.36) resulta a expressão (2.45). Após alguma manipulação esta pode ser reescrita como
em (2.46). Neste caso, considerando que a tensão de alimentação é constante, permite calcular
o valor da potência mecânica em função do escorregamento, evitando assim o cálculo da
corrente do rotor. Como tal é possível analisar os diversos regimes de funcionamento bastando
para isso atribuir diversos valores ao escorregamento.
2
 
 
 1   Ve 
Pmi = 3R r  − 1   (2.45)
 s   Rr 
2

( )
2
  R e
+  + X +X
e r

  s  

3R r s (1 − s ) V e ( )
2

Pmi = (2.46)
( ) (X + X )
2 2
sRe + R r + s2 e r

Uma vez que o denominador é sempre positivo basta uma rápida análise do numerador para
se poder concluir acerca do seu regime de funcionamento.

Comecemos a análise considerando que o escorregamento é negativo. Neste caso a


velocidade do rotor é superior à do campo girante o que só é possível aplicando ao veio da
máquina um binário externo no sentido da rotação. Ou seja, a máquina ao invés de fornecer
potência mecânica absorve-a, sendo por isso considerada negativa. Como todas as máquinas
elétricas são reversíveis a potência mecânica fornecida ao veio é convertida em energia elétrica
e a máquina comporta-se como gerador assíncrono. Apesar da maioria dos grandes grupos
geradores utilizar máquinas síncronas, as máquinas assíncronas têm ganho algum espaço
principalmente em centrais mini-hídricas e geradores eólicos. Mais à frente este tema será
abordado com maior profundidade.

No caso de o escorregamento ser zero a potência mecânica é nula, uma vez que a máquina
está em sincronismo e não existe f.e.m. induzida no rotor. Se a máquina estiver em vazio e as
perdas mecânicas forem consideradas nulas pode-se assumir que a máquina está em
sincronismo.

Quando o escorregamento estiver compreendido no intervalo entre 0 e 1, exclusive, a


potência é sempre positiva. Neste caso converte energia elétrica em energia mecânica o que

93
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

corresponde ao funcionamento como motor. No caso de ser unitário a potência mecânica é nula
uma vez que o rotor se encontra bloqueado.

Se apresentar um valor de escorregamento superior a 1 significa que a velocidade do rotor é


negativa, isto é, o sentido de rotação é inverso ao do sentido do campo girante (o que só é
possível por ação de um binário de carga superior ao binário útil). Neste caso conclui-se que a
potência mecânica é negativa, isto é, apesar de estar a desenvolver potência, esta não é
suficiente para que o rotor rode no sentido do campo girante. Deste modo a máquina comporta-
se como um freio. Um bom exemplo de aplicação como freio são as gruas. Para içar uma carga
é fácil entender que a máquina estará a funcionar em regime motor, mas para descer essa mesma
carga o raciocínio terá de ser diferente. Neste caso, apesar de a máquina estar a desenvolver
potência mecânica esta é menor que a potência de carga criando uma queda controlada
permitindo que a carga desça em segurança. Na figura 2.27 está representada a evolução da
potência mecânica para valores de escorregamento positivos e negativos.
10
freio motor gerador
5
Escorregamento
0
2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1
-5

-10
Potência [kW]

-15

-20

-25

-30

Figura 2.27 – Característica de potência em função do escorregamento

Derivando e expressão (2.46) em ordem ao escorregamento e igualando a zero, obtém-se a


expressão (2.47) que permite calcular o valor do escorregamento para o qual a máquina atinge
a potência máxima.

Rr
s p max = (2.47)
(R ) +(X )
2 2
R +
r e
+R r e
+X r

Este valor é importante conhecer apenas para o estudo de fenómenos transitórios, uma vez
que a máquina não pode trabalhar neste ponto em regime permanente sem o risco de danificar

94
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

(queimar) os enrolamentos. Substituindo a expressão (2.47) em (2.46) e após alguma


manipulação obtém-se uma expressão mais simplificada tal como (2.48).

 
(V )
2
e
3 
Pmax =   (2.48)
2
( ) (R ) +(X )
2 2
 R + R + +R +X 
e r e r e r

Verifica-se que a potência máxima que um motor assíncrono pode atingir depende
fundamentalmente da tensão de alimentação e da impedância. A expressão (2.48) pode ser
reescrita em função da impedância como em (2.49), onde Req é a soma das resistências do estator
e do rotor reduzida ao estator e Zeq a impedância equivalente reduzida ao estator.

 ( ) 
2
e
3 V 
Pmax = (2.49)
2  Req + Z eq 
 

2.6.2 – Análise dos regimes de funcionamento (binário mecânico)

Partindo da expressão do binário (2.39), e sabendo que a velocidades angular mecânicas do


rotor e do campo girante estão relacionadas por (2.50), a expressão do binário pode ser descrita
por (2.51).

2 f1
2 = 1 (1 − s ) = (1 − s ) (2.50)
p

Pmi
Tmi = (2.51)
2 f1
(1 − s )
p

Substituindo (2.46) na expressão (2.51) e após alguma manipulação matemática obtém-se


(2.52)

( )
2
3p sR r V e
Tmi = (2.52)
( ) (
2 f1 sR e + R r 2 + s 2 X e + X r )
2

Esta expressão permite calcular o binário mecânico interno (também designado por binário
eletromagnético). No caso do valor das perdas mecânicas (Pmec) ser conhecido (como no caso
da figura 2.22 a)) estas deverão ser subtraídas à potência mecânica interna de modo a obter-se

95
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

o binário útil. Se forem contabilizadas juntamente com as perdas no ferro (figura 2.22 b)) o
resultado de (2.52) é já o binário útil. Considerando a tensão e frequência de alimentação
constantes pode-se explicitar a evolução do binário em função do escorregamento.

À semelhança de (2.46) o denominador de (2.52) também é sempre positivo, assim, quando


o escorregamento é menor que zero o binário é negativo uma vez que a máquina está a receber
binário externo estando a funcionar em regime gerador. O rotor gira no mesmo sentido do
campo girante com uma velocidade superior à velocidade síncrona.

Se o escorregamento for zero o rotor está à velocidade de sincronismo não havendo f.e.m.
induzidas no rotor pelo que não existe binário. Uma situação próxima do sincronismo é quando
a máquina está em vazio. Se não houver binário de carga também não há binário útil e a
velocidade do rotor é muito próxima da do campo girante. Assim, o binário interno
desenvolvido serve unicamente para equilibrar o binário de perdas mecânicas.

No caso de o escorregamento ser unitário desenvolve-se o binário de arranque,


correspondente ao instante anterior ao rotor começar a rodar, sendo calculado pela expressão
(2.53).

3p R r (V e )2
Tarr = (2.53)
( ) (
2 f1 Re + R r 2 + X e + X r )
2

Verifica-se que o binário de arranque depende fundamentalmente da tensão de alimentação


e da impedância da máquina. Veremos mais à frente num capítulo próprio vários métodos de
arranque e a sua influência no binário.

Quando o escorregamento apresenta valores entre zero e um, exclusive, o binário é positivo
e a máquina encontra-se a trabalhar em regime motor.

No caso de escorregamentos superiores à unidade, apesar da potência mecânica ser negativa


o binário é positivo. Ou seja, apesar de o rotor girar no sentido contrário o binário é
desenvolvido no sentido do campo girante pelo que se está a opor ao sentido de rotação,
significando que está a atuar como freio. Na figura 2.28 está representada a evolução do binário
para valores de escorregamento positivos e negativos. A esta figura é usual chamar-se
característica eletromecânica.

96
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

motor 30
freio gerador
20
10
0
2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1
-10
-20
Escorregamento

Binário [Nm]
-30
-40
-50
-60
-70

Figura 2.28 – Característica de binário em função do escorregamento

Analisando a figura 2.28 e a expressão (2.52) verifica-se que o binário máximo no


funcionamento como gerador é maior que no funcionamento como motor, embora quando o
escorregamento tende para -, o binário tende assintoticamente para zero. Na tabela 2.2 estão
resumidos os regimes de funcionamento de uma máquina assíncrona trifásica bem como os
valores de potência e binário para esses regimes.

Tabela 2.2 – Regimes de funcionamento de uma máquina assíncrona


Escorregamento Regime de funcionamento Pmi Tmi
s<0 Gerador <0 <0
s=0 Sincronismo =0 =0
0<s<1 Motor >0 >0
s=1 Arranque (bloqueado) =0 >0
s>1 Freio <0 >0
Tal como já visto anteriormente o ponto de binário máximo indica o limite de estabilidade
estática, nesse sentido é importante saber o seu valor bem como o escorregamento para o qual
ele é máximo. O valor de escorregamento para o qual se obtém o binário máximo é dado pela
expressão (2.54).

Rr
sT max = (2.54)
(R ) + ( X )
2 2
e e
+X r

A expressão (2.54) permite calcular o valor do escorregamento para qual o binário é máximo.
É de notar que este valor apenas depende da impedância da máquina, sendo imune a variações
da tensão de alimentação. O binário máximo calcula-se substituindo o resultado da expressão
(2.54) em (2.52) ou de uma forma mais rápida pela expressão (2.55).

97
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

 
(V )
2
e
3 p  
Tmax = (2.55)
2 2 f1  e 
(R ) + ( X )
2 2
 R + +X 
e e r

Na figura 2.29 estão ilustrados os comportamentos do binário e da potência mecânica em


função do escorregamento. Uma análise atenta às expressões (2.47) e (2.54) permite reconhecer
que o escorregamento para a potência máxima e o binário máximo não são coincidentes. Neste
caso o binário máximo ocorre para um escorregamento superior ao da potência máxima (o
denominador de (2.47) é maior que o de (2.54)).
Binário Potência

40

20

0
2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1
Escorregamento -20

-40

-60

-80

Figura 2.29 – Característica de potência e binário em função do escorregamento

Partindo da expressão (2.52) é possível analisar a influência dos diversos parâmetros da


expressão na característica de binário. Comecemos a análise pela variação da amplitude da
tensão de alimentação. Pela expressão conclui-se que binário varia quadraticamente com a
tensão, tal como se poder verificar na figura 2.30. Por exemplo, se a tensão entre fases for
reduzida de raiz de três (400 V para 230 V) o binário decresce para um terço, se a tensão baixar
para 90% da tensão nominal o binário desce para 81%. Quando se instalam estas máquinas é
importante ter em atenção as possíveis quedas de tensão a montante, principalmente durante o
processo de arranque. Esta análise será feita com mais profundidade no estudo dos métodos de
arranque de motores assíncronos trifásicos. Note-se também que apesar de influenciar
fortemente o valor do binário máximo, não influencia o valor do escorregamento para o qual
este acontece, tal como já se tinha verificado pela expressão (2.54).

98
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

400 340 300 230

25

20

Binário [Nm]
15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.30 – Variação da característica de binário em função da tensão de alimentação

Analisemos agora a influência da variação da resistência rotórica. Esta análise incide


fundamentalmente nos motores de rotor bobinado, uma vez que só nestes é possível variar
explicitamente a resistência do rotor através da inserção de resistências externas, uma vez que
existe ligação elétrica com o rotor a partir do exterior. Ao contrário do que acontece com a
variação da tensão, o valor máximo do binário não se altera com a variação da resistência,
alterando-se apenas o valor do escorregamento para o qual acontece. Na figura 2.31 está
representada a variação da característica de binário em função da resistência rotórica adicional.
Com uma escolha criteriosa da resistência a adicionar é possível posicionar o binário máximo
para o valor de escorregamento desejado, inclusive no arranque. Como veremos mais à frente
esta particularidade foi vastamente explorada em instalações com elevados binários de carga
no arranque.
0 1 2 5

25
Binário [Nm]

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.31 – Variação da característica de binário em função da resistência rotórica


adicional

99
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

A análise da caraterística de binário pode ser generalizada aos restantes parâmetros da


expressão, embora alguns tenham menos interesse, numa perspetiva académica vale a pena
serem todos abordados. Na figura 2.32 está representada a influência da variação da resistência
do estator.
0 1 2 3

25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.32 – Variação da característica de binário em função da resistência estatórica

Neste caso verifica-se que existe uma diminuição genérica do binário e um deslocamento do
ponto de binário máximo. Em termos práticos o aumento da resistência pode ser conseguido
através da adição de resistências aos terminais do estator, o que irá provocar uma queda de
tensão com consequente diminuição da tensão aplicada aos terminais. A deslocação do binário
máximo é explicada pela expressão (2.54), apesar de não ser tão explicito como no caso da
resistência do rotor, também influencia o escorregamento para o binário máximo.

Na figura 2.33 mostra-se a variação do binário em função da reactância equivalente. Neste


caso opta-se por não separar as reactâncias estatóricas e rotóricas, uma vez que o seu interesse
prático é reduzido.

100
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

0 1 2 3

25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.33 – Variação da característica de binário em função da reactância equivalente

Uma vez mais verifica-se uma diminuição do binário e um deslocamento do ponto de binário
máximo. Note-se, no entanto, que para valores equivalentes de resistência e reactância, esta
provoca uma diminuição menos acentuada do binário.

A frequência da tensão de alimentação influencia fundamentalmente a velocidade do campo


girante e consequentemente a velocidade de rotação. Analisando a expressão (2.38) conclui-se
que para a mesma potência, diferentes velocidades implicam diferentes valores de binário. Na
figura 2.34 demonstra-se que diminuindo a frequência se obtém maiores binários, embora à
custa da redução da velocidade de rotação, como se pode ver na figura 2.35. Nesta análise não
foi tida em conta a saturação magnética pelo que os valores de binário para as frequências mais
baixas poderão ser menores que os indicados.
60 50 40 30

50

45

40

35
Binário [Nm]

30

25

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
escorregamento [p.u]

Figura 2.34 – Variação da característica de binário em função da frequência

101
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Apesar de ser um método que permite variar o binário revela-se pouco eficaz uma vez que o
faz à custa da variação de velocidade o que em muitas aplicações não é solução. Além disso, a
frequência da rede de distribuição de energia é constante sendo por isso necessário recorrer a
sistemas de conversão de frequência aumentando o custo do sistema. Como veremos mais à
frente a variação da frequência mantendo a tensão constante é por si só uma solução pouco
viável.

60 50 40 30

50

45

40

35

30
Binário [Nm]

25

20

15

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
velocidade [r.p.m]

Figura 2.35 – Variação da característica de binário em função da velocidade

O mesmo raciocínio pode ser aplicado à variação do número de pares de polos uma vez que,
tal como a frequência, também influencia a velocidade do campo girante. Este método necessita
de máquinas com uma construção especial destinadas a aplicações específicas onde se pretende
variar a velocidade por escalões. Esta análise será apresentada de forma mais detalhada aquando
do estudo dos métodos de variação de velocidade.

2.6.3 – Expressão de kloss

Apesar das máquinas serem caracterizadas pela sua potência mecânica nominal,
provavelmente é mais importante conhecer a sua característica de binário do que a de potência.
Sabendo a característica de binário resistente (p. ex. da máquina ferramenta que vai ser
acionada) é conveniente escolher uma máquina que tenha uma característica de binário
adequada, algo que geralmente o fabricante não disponibiliza nos seus catálogos comerciais.
Inclusive os valores de resistência e reactância só são fornecidos se forem solicitados na compra
da máquina, o que torna impossível a aplicação da expressão (2.52). No entanto existe uma
forma expedita para se determinar o binário desenvolvido para vários escorregamentos.

102
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Fazendo o quociente entre (2.52) e (2.55) e após alguma manipulação matemática resulta (2.56)
conhecida como a expressão de Kloss.

 Re 
2 1 + r smax 
Tmi
=  R 
(2.56)
Tmax s smax Re
+ + 2 r smax
smax s R

Quando não é possível determinar de forma precisa a relação entre as resistências estatórica
e rotórica pode-se admitir que ambas são iguais resultado (2.57). Apesar de não se obterem
valores tão exatos esta aproximação é perfeitamente válida.

Tmi 2 (1 + smax )
= (2.57)
Tmax s s
+ max + 2smax
smax s

Tomemos por exemplo as informações técnicas/comerciais da tabela 2.3 para motores


assíncronos trifásicos de rotor em gaiola alimentados em baixa tensão. Consideremos como
exemplo o modelo 1LA7 113-2EA de 4,5 kW (esta análise é tanto mais válida quanto mais
potente for a máquina). As máquinas deste catálogo destinam-se ao mercado sul-americano
uma vez que a frequência é 60 Hz.

Tabela 2.3 – Dados técnicos sobre máquinas assíncronas trifásicas (Siemens)

Pela tabela verifica-se que a máquina em estudo tem como velocidade de síncronismo
3600 r.p.m., velocidade nominal 3510 r.p.m. e a relação entre o binário máximo e o nominal é
470%. Como não existe informação acerca das resistências da máquina utiliza-se a expressão

103
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

(2.57). Uma vez determinado o escorregamento nominal calcula-se o escorregamento para o


binário máximo.

3600 − 3510
sn = = 0, 025
3600

Tmi 2 (1 + smax ) 1 2 (1 + smax )


=  =  smax = 0, 286
Tmax s smax 4, 7 0, 025 smax
+ + 2smax + + 2smax
smax s smax 0, 025

Deste modo é possível traçar a caraterística de binário do motor em estudo para qualquer
valor de escoregamento. O exemplo da tabela apresenta o valor de binário em Kgf.m, facilmente
convertível para Nm multiplicando por 9,8.

2 (1 + 0, 286 )
Tmi ( s ) = Tmax
s 0, 286
+ + 2.0, 286
0, 286 s

Existe uma possível aproximação à expressão (2.56) que consiste em desprezar a impedância
do estator. Deste modo as expressões (2.52) e (2.55) tomam a forma de (2.58) e (2.59).

( )
2
3p sR r V e
Tmi = (2.58)
( ) ( )
2 f1 R r 2 + s 2 X r 2

( )
2
3p sT max R r V e
Tmax = (2.59)
( )
2 f1 R r 2 + s 2 ( )
2
r
T max X

Fazendo o seu quociente e alguma manipulação matemática obtém-se (2.60).

Tmi 2 ss
= 2 max2 (2.60)
Tmax s + smax

Aplicando ao exemplo da tabela 2.3 resulta a expressão:

2s0, 232
Tmi ( s ) = Tmax
s + 0, 2322
2

Na figura 2.36 estão representadas a caraterísticas eletromecâncias resultantes de cada uma


das aproximações, contabilizando a impedância do estator (c/ Ze) e desprezando (s/ Ze).

104
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Binário [Kgf.m]
3
c/ Ze
s/ Ze 2

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.36 – Característica eletromecânica calculada

Numa análise mais cuidada verifica-se que no caso da expressão (2.57) a relação entre o
binário de arranque e o nominal é cerca de 277% ao passo que o valor fornecido pelo fabricante
é de 250%. Esta diferença fica-se a dever ao facto de se ter considerado que as resistências eram
iguais. No caso da expressão (2.60) esta relação cifra-se em 206%. Em qualquer um dos casos,
na falta de melhor informação, é a aproximação possível. Verifica-se assim que mesmo sem o
conhecimento da impedância interna da máquina é possível obter uma característica
eletromecânica próxima da real.

A partir destes valores e aplicando o balanço de potência podem-se traçar outras


características tal como a potência mecânica, as perdas no rotor e a potência no entreferro.

2.7 – Funcionamento em carga

Apesar de a máquina poder trabalhar em regime de motor, freio ou gerador a análise vai
centrar-se no regime motor. Esta análise pode ser facilmente extrapolada para qualquer dos
restantes regimes bastando para isso aplicar às expressões até agora estudadas o valor de
escorregamento correspondente a cada regime de funcionamento.

A análise do funcionamento em carga só pode ter lugar após a máquina ter terminado o
processo de arranque e atingido um qualquer ponto estável de funcionamento. Relembrando a
análise feita através das figuras 2.25 a) e b) a máquina só tem um funcionamento estável entre
o sincronismo e o ponto de binário máximo. Ainda dentro deste intervalo a máquina pode
trabalhar em regime permanente entre o vazio e a plena carga. Entenda-se como plena carga os

105
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

valores nominais indicados na chapa de características. Estes são os valores que podem ser
impostos à máquina em regime permanente sem que haja degradação do equipamento. Em
regime dinâmico é possível que a máquina trabalhe para lá dos valores nominais, desde que
seja durante um curto espaço de tempo que depende fundamentalmente do comportamento
térmico da máquina.

Na figura 2.37 está representada uma característica de binário motor (Tmu) bem como várias
características de binário de carga, (Tc1 a Tc4). No caso do binário de carga Tc1, no momento do
arranque este é superior ao binário útil Tmu pelo que a máquina nem sequer arranca. Nos
restantes casos a máquina arranca ficando a trabalhar em regime permanente no ponto em que
os binários de carga cruzam o binário motor.

Tmu Tc1 Tc2 Tc3 Tc4

25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,8 0,6 0,4 0,2 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.37– Características de binários de carga

Consideremos que a máquina está a trabalhar em regime permanente com a carga Tc3, se lhe
for imposta a carga Tc4 a velocidade irá diminuir aumentando o escorregamento. Quando o
binário motor igualar o binário de carga Tc4 atinge-se um novo ponto de equilíbrio. Nesse
momento a máquina deixa de desacelerar e atinge o regime permanente. A diferença de
velocidade entre o campo girante e rotor aumenta, aumentando as f.e.m. induzidas no rotor e
consequentemente a corrente absorvida. No limite, se o valor do binário de carga for superior
ao binário máximo a máquina irá parar. Quando se retira carga dá-se o processo inverso, no
limite a máquina fica em vazio.

O binário de carga depende exclusivamente do sistema que está a ser acionado pelo motor e
pode tomar os mais variados valores, embora alguns tipos de aplicações tenham características
mais ou menos tipificadas. No caso dos ventiladores, bombas e compressores centrífugos,
bombas helicoidais, etc, o binário de carga varia com o quadrado da velocidade caracterizando-

106
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

se por um binário de carga parabólico. Movimentos horizontais tal como nas máquinas de fiação
e maioria das máquinas de indústria têxtil, bem como nas máquinas tipográficas, apresentam
binário de carga com uma característica hiperbólica decrescente. O binário de carga é máximo
quando se inicia o movimento, decrescendo com o aumento da velocidade. No caso dos
equipamentos de elevação, ascensores, correias transportadoras, etc, o binário é contante.

Para além do binário, é importante entender o comportamento da máquina em termos de


corrente, potência e perdas elétricas. Na figura 2.38 está representada a evolução das correntes
por fase no estator (Ie), do rotor reduzida ao estator (Ir) e em vazio (Io) em função do
escorregamento. Como seria expectável, em sincronismo a corrente absorvida é igual à corrente
em vazio e a do rotor é nula. Verifica-se também que para qualquer valor de escorregamento a
corrente em vazio é sempre constante. Conforme o escorregamento aumenta (e diminui a
velocidade), a corrente aumenta atingindo o valor máximo quando o escorregamento é unitário,
podendo nesta situação atingir várias vezes a corrente nominal. Conclui-se assim que a corrente
não é máxima nem à plena carga, nem quando o binário é máximo, nem quando a potência é
máxima, mas sim no momento do arranque. Mais à frente o tema do arranque de motores será
abordado com maior profundidade.
Ie Ir Io
30

25

20
Corrente [A]

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.38 – Evolução da corrente em função do escorregamento

A figura 2.39 representa a evolução da potência no entreferro (Pag) e a potência mecânica


interna (Pmi) ambas em função do escorregamento. Analisando a figura conclui-se que no
momento do arranque apesar de haver potência entregue ao rotor a potência mecânica é nula o
que poderá parecer contraproducente.

107
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Pmi Pag

25,0

20,0

Potência [kW]
15,0

10,0

5,0

0,0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.39 – Potência no entreferro (Pag) e mecânica interna (Pmi)

Esta questão é respondida com a figura 2.40, onde estão representadas as perdas elétricas da
máquina, nomeadamente perdas em vazio (Po), perdas no estator (Pecu) e no rotor (Prcu). No
momento do arranque a potência de perdas no rotor corresponde à potência entreferro, ou seja,
a potência é toda dissipada no circuito elétrico do rotor não havendo conversão eletromecânica
de energia.
Pcue Pcur Po

25,0

20,0
Potência [kW]

15,0

10,0

5,0

0,0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.40 – Perdas em vazio, no estator e no rotor

Como nota final, o escorregamento nominal de uma máquina de indução trifásica é bastante
reduzido atingindo até 6% em máquinas de baixa potência e até menos de 1% em máquinas
com várias centenas de kW.

108
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.8 – Determinação do rendimento

O rendimento de qualquer máquina elétrica traduz-se, por definição, pela relação entre as
potências ativas de saída e de entrada. Por exemplo, em regime motor, o rendimento é calculado
pela relação entre a potência mecânica útil e a potência elétrica consumida. Como gerador a
relação é inversa, a potência elétrica produzida é dividida pela potência mecânica de entrada.
Como a esmagadora maioria das aplicações de máquinas assíncronas trifásicas é como motor
analisamos o rendimento apenas sob essa ótica. A expressão (2.61) permite determinar o
rendimento através do método das perdas separadas. Nesta abordagem a potência de entrada é
substituída pela soma da potência mecânica útil com todas as perdas associadas.

Pmu Pmu
= = (2.61)
P e
Pmu + Pmec + Pcur + Pfe + Pcue

A corrente para a qual se obtém o rendimento máximo é dada pela expressão (2.62).

Pfe + Pmec = 3R eq ( I e )
2
(2.62)

Resulta, tal como para os restantes tipos de máquina de indução, que o rendimento máximo
é atingido quando as perdas constantes são iguais às perdas variáveis, ou seja, a perdas no ferro
e mecânicas são iguais à soma das perdas por efeito de Joule no estator e no rotor.
Independentemente do regime de funcionamento da máquina esta relação é sempre válida.

2.9 – Ensaios da máquina de indução trifásica

A determinação dos parâmetros elétricos da máquina assíncrona trifásica é feita através de


ensaios laboratoriais. De forma similar à utilizada nos transformadores, existem dois ensaios
standard: ensaio de rotor livre (ensaio em vazio) e de rotor bloqueado (ou ensaio em curto-
circuito).

2.9.1 – Ensaio de rotor livre

Este ensaio consiste em alimentar o motor à tensão nominal e deixar o rotor rodar livremente.
Para efeitos de cálculo considera-se que o rotor está a rodar à velocidade de sincronismo (apesar
de na realidade isso não acontecer). Com esta aproximação considera-se que a corrente no rotor

109
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

é nula e desprezam-se as perdas por efeito de Joule no rotor. Se as perdas por efeito de Joule no
estator também se desprezarem o modelo da figura 2.26 toma a forma do modelo da figura 2.41.
Como não existe q.d.t. nas impedâncias do estator e rotor estas podem ser omitidas do modelo
em vazio.

Ie Re jXe Rr jXr

Io

Ve Rp Ip jIm jXm

Figura 2.41 – Modelo aproximado para o ensaio de rotor livre

No ensaio aplica-se a tensão nominal (Ve), e medem-se a corrente em vazio (Io) e a potência
consumida (Po). A corrente em vazio pode ainda ser decomposta nas suas componentes ativa
(Ip) e reativa (Im) como indicado na figura 2.42.
Ip Ve

Im jo

Io

Figura 2.42 – Diagrama vetorial das correntes no ensaio de rotor livre

Desta podem deduzir-se as expressões (2.63) e (2.64) que permitem calcular os parâmetros
associados ao circuito magnético pela expressão (2.65), esteja o estator ligado em estrela ou em
triângulo.

P0
cos j0 =  senj0 (2.63)
3V e I 0

I p = I 0 cos j 0
(2.64)
I m = I 0 senj 0

110
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Ve
3 ( estrela )
Rp =
IP
3 ( triângulo )
(2.65)
Ve
3 ( estrela )
Xm =
Im
3 ( triângulo )

A grande diferença em relação ao ensaio em vazio do transformador está no facto da potência


medida ser a soma das perdas no ferro e das perdas mecânicas. Nesse sentido o valor de Rp
representa ambas as perdas tal como representado no balanço de potências indicado na figura
2.22 b).

Um método possível para determinar explicitamente as perdas mecânicas passa por acoplar-
se à máquina em estudo um outro motor elétrico (M1). Ensaia-se (M1) em vazio com a máquina
em estudo acoplada mecanicamente e mede-se a potência (Po’). Faz-se o desacoplamento
mecânico mede-se novamente a potência de (M1) registando (Po). A diferença entre as
potências registadas nos dois ensaios resulta o valor de Pmec que representa as perdas mecânicas
da máquina em estudo. Como as perdas mecânicas são ativas, calcula-se a corrente (IR) através
da expressão (2.66).

Pmec
IR = (2.66)
3V e

Neste caso não é necessário considerar que a máquina está em sincronismo pelo que o
modelo da figura 2.42 toma a forma da figura 2.43. Em vazio a resistência de carga apresenta
um valor muito elevado comparativamente com as impedâncias do estator e do rotor, podendo
desprezar-se as suas quedas de tensão.

Io
I o Ir Rr(1/s-1)
Ve Rp Ip jIm jXm

Figura 2.43- Modelo aproximado para o ensaio de rotor livre com as perdas mecânicas
separadas

O diagrama vetorial da figura 2.42 passa a ter a forma da figura 2.44.

111
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Ip IR Ve

Im jo

Io

Figura 2.44 – Diagrama vetorial com perdas as mecânicas separadas

Nesta situação a análise será idêntica à anterior tomando as expressões (2.64) a forma de
(2.67).

I p + I R = I o cos (jo )
(2.67)
I m = I o sen (jo )

O cálculo da resistência de perdas e da reactância de magnetização continua a ser a ser feito


através de (2.65).

Em termos de balanço de potência as situações são equivalentes, no primeiro caso as perdas


mecânicas são contabilizadas em conjunto com as perdas no ferro, na segunda situação são
analisadas separadamente. Geralmente a primeira situação é a mais utilizada uma vez que a
separação das perdas mecânicas exige um ensaio adicional.

2.9.2 – Ensaio de rotor bloqueado

Tal como o nome indica, o rotor da máquina é bloqueado aplicando-se ao estator uma tensão
(Vecc) de modo que nele circule aproximadamente a corrente nominal (Iecc). (segundo a norma
de ensaio, IEC 60034, basta que a corrente seja superior a 50% da corrente nominal para que o
ensaio seja considerado válido). Como a tensão aplicada é relativamente reduzida, tal como os
transformadores, as perdas por histerese e correntes de Foucault são muito reduzidas, e as
perdas mecânicas são nulas. Assim a corrente que circula no ramo em paralelo pode ser
desprezada. Uma vez que o escorregamento é unitário, o circuito toma a forma da figura 2.45.

112
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Re jXe Rr jXr

Ir
e
V

Figura 2.45 – Modelo aproximado para o ensaio de rotor bloqueado

Mede-se a potência (Pcc), a tensão de alimentação (Vecc) e a corrente da linha (Iecc). Aplicando
as expressões (2.68), (2.69) e (2.70), obtêm-se os valores da resistência e reactância
equivalentes por fase.

Pcc
cos jcc =  senjcc (2.68)
3Vcce I e

Vcce
3 ( estrela ) (2.69)
Z cc =
( triângulo )
e
I
3

R e + R r = Z cc cos jcc
(2.70)
X e + X r = Z cc senjcc

Tal como no caso dos transformadores, apesar das aproximações, os ensaios de rotor livre e
bloqueado permitem a determinação dos parâmetros do circuito com uma precisão aceitável.

É preciso ter em atenção que estes ensaios permitem apenas obter o modelo aproximado
reduzido ao estator. Medindo-se a resistência do estator, a do rotor reduzida ao estator resulta
de (2.71). Já no caso da reatância não é possível separar a reatância equivalente em estator e
rotor

Rr = Zcc cos (jcc ) − Re (2.71)

2.10 – Arranque de motores assíncronos trifásicos

Um dos momentos mais críticos na operação das máquinas elétricas é o processo de


arranque. No momento da escolha do motor, ou da carga a aplicar, é fundamental assegurar que
o binário de arranque do motor seja superior ao binário resistente que a carga aplica ao veio,

113
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

para que deste modo este consiga arrancar. A aceleração desenvolvida pelo rotor durante o
arranque resulta da diferença entre o binário motor e o binário de carga, bem como da inércia
do conjunto motor/carga. Neste sentido, e dependendo da aplicação, o binário de carga pode
apresentar as mais variadas características. Na figura 2.46 estão representados alguns exemplos
típicos de binário de carga.

Tmu 1 2 3 4

12

10

Binário [Nm]
6

0
1 0.8 0.6 0.4 0.2 0
Escorregamento

Figura 2.46 – Exemplos típicos de binários de carga (1)-constante, (2)-linear,


(3)- quadrático, (4)-hiperbólico

Tal como analisado anteriormente verifica-se que binários de carga constantes são típicos de
máquinas de elevação, cintas transportadoras, trituradoras, entre outras, ao passo que prensas e
algumas máquinas ferramentas apresentam binários lineares. Já as bombas centrífugas,
ventiladores, centrifugadoras e batedeiras caracterizam-se por binários quadráticos. Em
oposição aos anteriores, as bobinadoras e trefiladoras caracterizam-se por altos binários
resistentes no arranque diminuindo com a velocidade.

2.10.1 – Tempo de arranque

O tempo que o rotor demora até atingir uma velocidade estável em regime permanente
depende do binário de carga aplicado no veio, da inércia das massas girantes e da característica
do binário do motor. A expressão do binário mecânico interno (binário eletromagnético), em
regime dinâmico é dado por (2.72), onde (Tp) representa o binário de perdas mecânicas, (Tc) o
binário de carga, (Jm+ Jc) os momentos de inércia da máquina elétrica e da carga e (d2/dt) a
aceleração angular.

114
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

d2
Tmi = ( J m + J c ) + Tp + Tc (2.72)
dt

Considerando o binário mecânico útil (Tmu =Tmi -Tp) ao invés do binário mecânico interno, a
aceleração angular da máquina é calculada por (2.73), onde J representa a soma das inércias
das massas girantes.

d 2 Tmu − Tc
= (2.73)
dt J

Da expressão conclui-se que, quando:


d 2
Tmu  Tc 0 motor em aceleração
dt
d 2
Tmu < Tc <0 motor em desaceleração
dt
d 2
Tmu = Tc =0 velocidade constante
dt
Integrando (2.73) obtém-se o tempo t de aceleração/desaceleração da máquina para ir da
velocidade inicial i até à final f.

f J
t= d 2 (2.74)
i Tmu − Tc

Como se pode ver na figura 2.47, a integração numérica de (2.74) pode apresentar grandes
desafios, principalmente na definição do binário de carga e na resolução matemática da
expressão, o que por vezes pode ser particularmente difícil de resolver. Outro método passa por
calcular o binário de aceleração para vários intervalos de velocidade definindo intervalos de
velocidade onde o binário possa ser linearizado. Do somatório dos intervalos de tempo desde o
instante em que o motor começa a rodar até que alcança um valor estável de velocidade resulta
o tempo total de aceleração. Na prática, uma aproximação bastante aceitável passa por
considerar a média dos binários, tanto o de carga como o do motor e desse modo calcular o
binário de aceleração médio Ta(médio) como em (2.75) e representado na figura 2.47.

f J
t= d 2 (2.75)
i Ta ( médio )

115
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Tmu TL Tmu(médio) TL(médio)

25

20

Binário [Nm]
15

10
Ta
5

0
1 0.8 0.6 0.4 0.2 0
Escorregamento

Figura 2.47 – Determinação do binário de aceleração médio

Considerando i=0, o tempo de arranque calcula-se por (2.76) considerando a velocidade n2


em r.p.m.

J 2 n2
tarr = (2.76)
Ta ( médio ) 60

O conhecimento deste tempo de arranque é necessário principalmente para o


dimensionamento das proteções elétricas, nomeadamente os relés térmicos. Estes devem ser
regulados para que não atuar dentro do intervalo de tempo do arranque. Paralelamente, os
fabricantes também fornecem a indicação do tempo máximo admissível com o rotor bloqueado.
Note-se que os equipamentos de proteção para circuitos com máquinas elétricas têm
características diferentes dos utilizados para circuitos de usos gerais. Este estudo é abordado na
área das instalações elétricas pelo que neste texto o tema não será analisado com maior
profundidade.

Ultrapassada a questão do binário de arranque, o grande problema do arranque de máquinas


elétricas é a sua corrente. Como se pode ver na tabela 2.3 ou na figura 2.28, quando o
escorregamento é unitário a corrente é máxima e várias vezes o valor nominal. Mesmo no caso
de um transformador, quando este é ligado à rede a sua corrente de arranque pode atingir 11
vezes o valor nominal.

116
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.10.2 – Arranque direto

O arranque direto acaba por ser o método mais simples caracterizando-se pelo seu baixo
custo e elevado binário. Com o estator da máquina alimentado diretamente à tensão nominal,
considerada constante, o binário de arranque depende fundamentalmente de aspetos
construtivos, nomeadamente da impedância e do número de pares de polos. A maior
desvantagem deste método são as elevadas correntes de arranque. No momento do arranque a
velocidade do rotor é nula e consequentemente o escorregamento é unitário resultando o modelo
aproximado da figura 2.48. Como tal, tanto a máquina de rotor em gaiola de esquilo como a de
rotor bobinado têm, eletricamente, o mesmo comportamento de um transformador alimentado
à tensão nominal com o secundário em curto-circuito. Desprezando a corrente Io, a corrente por
fase no momento do arranque é calculada, com uma boa aproximação, pela expressão (2.77).

Ie Re jXe Rr jXr

Io
Ir
Ve Rp Ip jIm jXm

Figura 2.48 – Modelo aproximado de uma máquina assíncrona com o rotor bloqueado

Ve
e
I arr  I arr
r
= (2.77)
(R e
+R ) +(X
r 2 e
+X )
r 2

Verifica-se assim que a corrente no momento do arranque é limitada apenas pela impedância
da máquina. Tipicamente, motores de rotor em gaiola de esquilo com baixa resistência podem
apresentar valores de corrente de arranque até 9 (ou mais) vezes a corrente nominal. Apesar de
esta corrente ocorrer apenas durante um período transitório relativamente curto, baixando
significativamente de amplitude muito rapidamente, convenhamos que mesmo assim é um
valor bastante elevado. Isto poderá levar a elevadas quedas de tensão na instalação elétrica que
poderão perturbar os restantes equipamentos ligados na mesma rede (autómatos, sensores,
contactores, etc), bem como a atuação intempestiva dos dispositivos de proteção e aumento da
temperatura das canalizações elétricas e da própria máquina. Esta corrente, apesar de elevada,
não corresponde forçosamente a binários de arranque muito elevados. Genericamente o valor

117
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

do binário de arranque é mais baixo que o valor de binário máximo. Recordemos que o binário
depende explicitamente do quadrado da tensão de alimentação não dependendo da corrente.

Outro fator a ter em conta na utilização do arranque direto é a limitação da potência da


máquina quando ligada à rede de distribuição pública. Segundo o RTIEBT10 “No caso de
motores alimentados diretamente por uma rede de distribuição, os seus arranques não
originam, em regra, perturbações excessivas se a intensidade de arranque não ultrapassar os
valores indicados…” na tabela 2.4. “Para valores de intensidades de arranque superiores aos
indicados…”, na tabela 2.4, “…, a alimentação dos motores diretamente a partir da rede de
distribuição (pública) carece de parecer favorável do distribuidor de energia, por forma a que
sejam tomadas as medidas apropriadas para tornar a sua utilização compatível com a
exploração da instalação e a não criar perturbações graves aos restantes utilizadores.”

É necessário ter particular atenção nos arranques diretos sobre a rede de distribuição pública
de motores que acionem máquinas de grande inércia, tenham arranques lentos, arranques
frequentes ou que utilizem travagem ou inversão de marcha por contra corrente.

Tabela 2.4 – Corrente máxima de arranque de motores alimentados diretamente pela rede
de distribuição (pública)
Ligação do Utilização dos Intensidade máxima de arranque [A]
motor locais Rede aérea Rede subterrânea
Habitação 45 45
Monofásico
Outros usos 100 200
Habitação 60 60
Trifásico
Outros usos 125 200

No caso dos “outros usos”, indicados na tabela 2.4 inclui-se o sector terciário, indústria,
serviços comuns de edifícios de habitação, locais agrícolas e pecuários, etc. Na tabela 2.5 são
indicadas as potências máximas (em kW), dos motores mais comuns que, em regra, satisfazem
as correntes de arranque indicadas na tabela 2.4.

10
Regulamento Técnico de Instalações Elétricas de Baixa Tensão

118
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Tabela 2.5 – Potência estipulada máxima dos motores alimentados diretamente por uma
rede de distribuição (pública)
Motores trifásicos 400 V
Motores
Outros modos
Tipo de local Tipo de rede monofásicos Arranque direto
de arranque
230 V à plena carga [kW]
[kW]
Habitação Qualquer 1,4 5,5 11
Aérea 3 11 22
Outros locais
Subterrânea 5,5 22 45

Mesmo no caso em que os motores não são alimentados diretamente de uma rede de
distribuição pública, a corrente de arranque continua a ser um dos grandes problemas inerentes
a utilização de máquinas elétricas. Nesse sentido foram concebidos outros métodos de arranque
de modo a minimizar o seu impacto nas redes de energia.

2.10.3 – Arranque estrela-triângulo

Este processo de arranque consiste em iniciar a marcha do motor com os enrolamentos


estatóricos ligados em estrela e, num segundo tempo, comutar essa ligação para triângulo. Isto
exige que os enrolamentos tenham as duas extremidades acessíveis na placa de terminais (6
terminais), e que os enrolamentos ligados em triângulo suportem a tensão composta da rede.
Sendo a tensão da rede 400V, a chapa de características do motor terá de ter a indicação (/
400/690V) ou simplesmente ( 400V). É necessário ter um cuidado adicional para baixas
potências, geralmente abaixo de 5 kW, uma vez que apresentam na chapa de características a
seguinte informação (/ 230/400V), o que significa que a máquina não pode ser ligada em
triângulo a uma rede de 400V.

No momento do arranque, com os enrolamentos do estator ligados em estrela cada fase está
alimentada a uma tensão raiz de três vezes menor que a tensão nominal. Considerando que
todos os parâmetros da expressão do binário são constantes pode-se aplicar a relação (2.78).
Verifica-se assim que o binário (e a potência) em estrela será um terço dos valores obtidos com
a ligação em triângulo. Como tal é imperativo ter-se uma noção concreta do valor do binário de
carga que é aplicado no arranque, de modo a garantir que mesmo com o binário motor reduzido
a um terço, este ainda seja suficiente para a máquina arrancar.

119
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

K  U 
= 
TY 3 1
 T = .T (2.78)
K (U )
2
T 3

Este tipo de arranque tem o seu grande campo de aplicação quando as máquinas arrancam
em vazio ou com binário resistente baixo. Na figura 2.49 está representada a característica de
binário para um arranque / típico, bem como dois binários de carga genéricos.
400 231 TL TL

25

20

Binário [Nm]
15

10

0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.49 – Característica de binário no arranque /

Verifica-se que para o exemplo da carga constante, apesar de em triângulo o motor


desenvolver binário suficiente, se este for ligado em estrela não consegue arrancar. Isso leva a
que este método de arranque seja indicado para cargas com binários reduzido a baixa
velocidade.

Também o instante em que se dá a comutação para triângulo deverá ser escolhido com algum
cuidado no caso de binários resistentes que variem com a velocidade. Se a comutação for feita
demasiado tarde o binário resistente pode tomar valores que impeçam que o arranque se realize
totalmente.

O aspeto mais positivo deste método é o facto da corrente de linha em estrela ser 1/3 da
corrente de linha em triângulo (2.79), o que obvia alguns dos problemas do arranque direto. Na
figura 2.50 está representado o comportamento do valor eficaz da corrente durante o processo
de arranque.

1
I L = .I L (2.79)
3

120
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

triângulo estrela

90
80
70
60

Corrente [A]
50
40
30
20
10
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.50 – Exemplo típico do valor eficaz no arranque /

O preço é outro dos aspetos positivos uma vez que em termos de aparelhagem de comando
necessita de dois contactores a mais relativamente ao arranque direto.

Um dos aspetos negativos deste método deriva das características indutivas dos
enrolamentos, a transição / é acompanhada de importantes correntes transitórias.

2.10.4 – Arranque por autotransformador

O arranque por autotransformador é geralmente utilizado para motores de elevada potência


(> 100 kW). Neste caso, o motor é alimentado inicialmente através de um autotransformador
com uma tensão reduzida que progressivamente é aumentada até ao seu valor nominal
(geralmente por escalões), não existindo alteração das ligações da máquina como no caso do
estrela-triângulo. Desta forma, limitando-se a tensão de alimentação, a corrente de arranque
naturalmente também é limitada. A corrente em cada fase do estator depende exclusivamente
da tensão aplicada, como se verifica na relação (2.80), onde Id é a corrente de fase do arranque
direto e Ia por autotransformador.

V 
Ia = Id . a  (2.80)
 Vd 

Por outro lado, a relação entre a corrente de linha entrada no autotransformador (IaL) e a
corrente de linha do arranque direto (IdL) é dada por (2.81) o que implica que a corrente
absorvida da rede se reduz quadraticamente com a redução da tensão aplicada, o que demostra
a mais-valia deste método.

121
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2
V 
I aL = I dL .  a  (2.81)
 Vd 

Um dos aspetos negativos deste método é a consequente redução do binário fruto da redução
da tensão de alimentação. Como o binário varia quadraticamente com a tensão, a relação entre
o binário de arranque por autotransformador Ta, e o binário de arranque direto Td, é descrita por
(2.82). Por conseguinte, tensões de arranque muito reduzidas levam a que o binário se reduza
numa proporção quadrática em relação à variação da tensão. Por exemplo, uma diminuição da
tensão para 80% do seu valor nominal conduz a um decréscimo do binário para 64% do seu
valor. Consequentemente este arranque só pode ser utilizado quando o binário de carga no
arranque for reduzido devendo o dimensionamento dos valores de tensão de cada tomada do
autotransformador ser feito com o conhecimento da característica do binário de carga.
2
V 
Ta = Td .  a  (2.82)
 Vd 

Nas figuras 2.51 e 2.52 estão representados, respetivamente, um exemplo típico do binário
e corrente para arranques por autotransformador em quatro tempos (200V, 300V, 340V e
400V).

400 340 300 200 TL TL

30

25

20
Binário [Nm]

15

10

0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.51 – Exemplo típico do binário em arranques por autotransformador

122
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

400 340 300 200

35
30
25

Corrente [A]
20
15
10
5
0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.52 – Exemplo típico do valor eficaz da corrente no arranque por


autotransformador

Com este dispositivo o motor nunca é desligado da rede durante o arranque pelo que a
corrente não é interrompida e os fenómenos transitórios são suprimidos. No final do arranque
o autotransformador é colocado fora de serviço sendo o estator alimentado diretamente da rede
evitando-se as perdas elétricas introduzidas pelo autotransformador.

Este método tem, regra geral, um custo de investimento mais elevado que os anteriores, mas
permite o arranque de máquinas de grande potência com correntes relativamente reduzidas.

2.10.5 – Resistências estatóricas

Este método consiste na ligação em série com os enrolamentos estatóricos de uma bateria de
resistências (trifásicas). Após o pico de corrente no arranque, estas são progressivamente curto-
circuitadas pelo que as ligações elétricas dos enrolamentos não são alteradas durante o arranque.
A tensão de alimentação do estator varia em função da q.d.t. provocada pela corrente de
arranque ao atravessar as resistências adicionais. Esta q.d.t. não se mantém constante durante o
período de aceleração uma vez que a corrente absorvida atinge o seu valor máximo no instante
inicial de ligação à rede, diminuindo à medida que a velocidade vai aumentando. Assim, a q.d.t.
nas resistências diminui e a tensão aos terminais do motor aumenta progressivamente. Na figura
2.53 está representada a evolução da tensão de alimentação aos terminais do estator em função
do escorregamento para vários valores de resistências adicionais (3, 2, 1).

123
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

0 1 2 3

450

Tensão [V]
400

350

300

250

200

150

100

50

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.53 – Evolução da tensão aplicada ao estator

À imagem dos métodos de arranque analisados até agora, considerando que Vd é a tensão da
rede e que Va é a tensão aos terminais do estator durante o arranque (resistências inseridas no
circuito), resulta a expressão (2.83), isto é, as correntes nos enrolamentos são proporcionais à
relação das tensões.

V 
Ia = Id . a  (2.83)
 Vd 

Uma vez que a variável controlada é a resistência adicional (RAD) ou eventualmente a


reatância (XAD), a corrente de arranque por fase resulta de (2.84).

Ve
(R + RAD ) + ( X eq + X AD ) (R ) + ( X )
2 2 2 2
Ia eq
=  Ia =
eq eq
Id (2.84)
Ve (R + R ) + ( X + X )
2 2
Id
eq AD eq AD

(R ) + ( X )
2 2
eq eq

Na figura 2.54 está representada a evolução da corrente de arranque em função do


escorregamento para vários valores de resistências adicionais.

124
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

0 1 2 3

35

[V]
Tensão[A]
Corrente
30

25

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.54 – Evolução da corrente estatórica

Neste tipo de arranque a tensão nominal é aplicada a uma velocidade mais elevada do que
no arranque /, pelo que os picos de corrente são consideravelmente mais amortecidos.

Como a tensão de alimentação varia durante o arranque, uma vez mais o binário irá variar
quadraticamente, como indicado em (2.85) e verificado na figura 2.55.
2
V 
Ta = Td .  a  (2.85)
 Vd 

Explicitando em função da resistência adicional RAD, resulta (2.86).

3R r ( I a )
2
2
 
(R + X )
2
Ta 1 Ta  
=  =
eq eq
(2.86)
Td 3R ( I d )2
r
Td  (R + R ) +(X + X )
2 2 

 eq AD eq AD

1
0 1 2 3 TL TL

30
Binário [Nm]

25

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.55 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências estatóricas

125
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Este processo é raramente utilizado uma vez que é pouco económico devido às perdas por
efeito de Joule nas resistências adicionais, sobretudo quando os arranques são frequentes.

Na mesma linha de raciocínio das resistências estatóricas, também podem ser utilizadas
reactâncias estatóricas como método de arranque. Geralmente são utilizadas para o arranque de
motores de grande potência e de média tensão. Neste caso as perdas por efeito de Joule são
menores devido à baixa resistência elétrica das reactâncias, apresentando, porém, baixo fator
de potência.

2.10.6 – Resistências rotóricas

O arranque por resistências rotóricas é usado, como é óbvio, apenas nos motores de rotor
bobinado. Os enrolamentos rotóricos apresentam o mesmo número de pares de polos do estator
e têm uma das extremidades ligada em estrela. A outra extremidade está acessível através de
escovas e anéis coletores rotativos, sendo ligados em série com resistências externas, as quais
estão ligadas entre si também em estrela. No momento do arranque estas estão inseridas no
circuito sendo retiradas à medida que o rotor aumenta de velocidade, limitando a corrente no
rotor e consequentemente a corrente absorvida pelo estator. O cálculo das resistências a inserir
no rotor permite determinar com rigor a curva binário-velocidade desejada. Assim, para um
determinado binário, a velocidade é tanto mais baixa quanto mais elevado é o valor da
resistência sendo a velocidade máxima atingida com a supressão total das resistências
adicionais. Uma vez que a tensão de alimentação é constante e as ligações elétricas do estator
não são alteradas, a relação entre o binário de arranque com resistências rotóricas e o arranque
direto é dado pela relação (2.87) em que o fator k de (2.88) representa a relação entre o valor
das resistências adicionais e a resistência própria do rotor.

Ta
=
(
k ( R e ) + 2R e R r + ( R r ) + ( X eq )
2 2 2
)
( )
(2.87)
Td k 2R e R r + k ( R r )2 + ( R e )2 + ( X eq )2

RAD
k = 1+
Rr (2.88)

A relação entre as correntes de arranque resulta de (2.89).

126
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2 R e R r + ( R r ) + ( R e ) + ( X eq )
2 2 2
Ia
=
( )
(2.89)
k 2 R e R r + k ( R r ) + ( R e ) + ( X eq )
2 2 2
Id

Este tipo de arranque é indicado para todos os casos em que os picos de corrente devem ser
reduzidos ao mesmo tempo que o binário de carga no arranque é muito elevado. Para além disso
é bastante flexível, uma vez que é fácil ajustar a configuração das curvas às solicitações
pretendidas (binário resistente, valor da aceleração, ponta máxima de corrente, etc.). As
expressões (2.87) e (2.89) não têm aplicação prática direta, sendo aqui apresentadas apenas para
demonstrar que não existe uma relação direta facilmente visível entre os valores das resistências
adicionais do rotor e o binário e correntes de arranque.

Nas figuras 2.56 e 2.57 estão apresentadas, respetivamente, a característica de binário e de


corrente absorvida para diversos valores de resistências adicionais (7 4 1).
0 1 4 7 TL TL

30

Binário [Nm]
25

20

15

10

0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.56 – Exemplo típico do binário por arranque por resistências rotóricas

0 1 4 7

25

20

15
Corrente [A]

10

0
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Escorregamento

Figura 2.57 – Exemplo típico da corrente por arranque por resistências rotóricas

127
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Um aspeto muito importante deste método é o fato de, ao contrário de todos os outros
métodos, não haver redução do valor de binário máximo. Através da expressão (2.54) é possível
dimensionar as resistências adicionais de modo que este seja posicionado onde for necessário
(como por exemplo no arranque).

O dimensionamento do reóstato de arranque tem como objetivo por um lado definir o binário
de arranque e por outro limitar a corrente de arranque a um determinado valor. Para tal é
necessário especificar-se o binário mínimo que garanta aceleração suficiente e que irá definir a
corrente mínima de arranque bem como o valor da corrente máxima admissível.

Consideremos o esquema genérico por fase de um reóstato de arranque com n contatos da


figura 2.58. Onde Rr é a resistência por fase do rotor reduzido ao estator e R1…Rn-1 o valor total
da resistência por fase do circuito rotórico (reduzido ao estator). Na posição 1 estão introduzidas
todas a resistências ao passo que na posição n só resta a resistência do enrolamento da máquina.
Rr bn-1 bn-2 b1
n n-1 n-2 2 1

r2
Rn-1
Rn-2
R1

Figura 2.58 – Circuito do reóstato de arranque para uma máquina de rotor bobinado

Durante o processo de arranque pretende-se que o valor máximo da corrente nunca ultrapasse
um valor predefinido, mesmo quando há alteração do valor das resistências adicionais. Por uma
questão de facilidade nos cálculos considera-se desprezável a impedância do estator bem como
a reactância de magnetização e a resistência de perdas no ferro resultando a expressão (2.90).

Ve
Ie = (2.90)
2
 R + RAD 
r

 +(X )
r 2

 s1 

Assim verifica-se que existe uma relação entre o valor da resistência (rotor + adicional) e o
escorregamento que define o valor máximo da corrente, como indicado em (2.91). O valor R1
representa a soma da resistência do rotor da máquina com a totalidade das resistências
adicionais, s1 é o escorregamento no arranque e smax é o escorregamento para a qual todas a
resistências adicionais são curto-circuitadas, restando apenas a resistência do enrolamento do
rotor reduzido ao estator Rr. Manipulando (2.91) obtém-se simplificadamente (2.92).

128
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Ve Ve Ve
r
I max = = = ............. = (2.91)
2 2 2
 R1   R2   R 
  +(X )   +(X )  +(X )
r
r 2 r 2 r 2

 s1   s2   smax 

R1 R2 R3 Rr
= = = ............ = (2.92)
s1 s2 s3 smax

O mesmo raciocínio é replicado para a corrente mínima que depende fundamentalmente do


binário mínimo necessário para que a máquina arranque. Uma vez mais o seu valor vai depender
da relação entre a resistência do circuito e o escorregamento resultando (2.93), onde Rn-1 é a
última resistência adicional a ser curto-circuitada.

Ve Ve Ve
r
I min = = = ............. = (2.93)
2 2 2
 R1   R2   Rn −1 
  +(X )   +(X )  +(X )
r 2 r 2 r 2

 s2   s3   smin 

R1 R2 R3 R
= = = ............ = n −1 (2.94)
s2 s3 s4 smax

O dimensionamento do reóstato de arranque tem como ponto de partida a definição dos


r r
valores das correntes máxima ( I max ) e mínima ( I min ) admissíveis no arranque, de modo a se

calcularem os valores de escorregamento smax e smin por intermédio de (2.95).

Ve Ve
r
I max = r
I min = (2.95)
2 2
 r2   r2 
 +(X )  +(X )
r 2 r 2
 
 smax   smin 

Conhecendo o valor de smax e como s1 é unitário calcula-se o valor de R1 que representa a


soma da resistência por fase do rotor da máquina e o valor total do reóstato adicional (2.96).

R1 R r Rr
=  R1 = (2.96)
s1 smax smax

Partindo do valor total da resistência R1 e com a razão (2.97) é possível determinar os


restantes valores das resistências adicionais R2 = R1, R3 = R2,……., até Rn-1 < Rr.

smin
= (2.97)
smax

129
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Individualmente, cada resistência (b) a ligar entre os contactos 1 até n calcula-se pela
diferença entre os diversos valores de R(1...n-1), resultando:

b1 = R1 − R2 = R1 (1 −  )
b 2 = R2 − R3 = R1 (  −  2 ) = b1
b3 = R3 − R4 = R1 (  2 −  3 ) =  2 b1
b 4 = .... enquanto Rn-1 − R r >0

É importante salvaguardar que os valores calculados estão reduzidos ao estator sendo


necessário reduzi-los ao rotor para se obter o valor real das resistências, através do quadrado da
relação de transformação.

Este método apesar de ser bastante dispendioso, principalmente pelo preço da máquina,
permite a grande mais-valia de proporcionar elevados binário de arranque, no limite o binário
máximo, com valores de corrente relativamente reduzidos.

2.10.7 – Arrancador Suave

Este método de arranque é baseado em dispositivos de eletrónica de potência, tirístores,


mosfets, IGBT’s, etc. A regulação do valor eficaz da tensão de alimentação do estator é obtida
através do controlo de fase da onda sinusoidal da tensão, mantendo a frequência fixa. Esta
regulação é conseguida através da variação do ângulo de disparo  dos semicondutores
atrasando o disparo num intervalo de tempo variável. Estes dispositivos têm a particularidade
de além de permitirem um arranque controlado também permitem a travagem. Os equipamentos
industriais disponíveis no mercado, além de permitirem a regulação do tempo de arranque e do
tempo de paragem também permitem definir a tensão mínima de arranque (Uo) de modo a
explicitar-se, dentro de certos limites, o binário de arranque do motor. Este método apresenta
um arranque suave com um aumento progressivo da velocidade, evitando grandes esforços
eletrodinâmicos, picos de corrente no arranque e comutação de ligações. À imagem de outros
métodos que limitam a tensão de alimentação, o aumento gradual da tensão provoca baixos
binários de arranque. O comportamento da corrente é equivalente a (2.83) e do binário a (2.85)

A introdução de harmónicas parasitas é outra das questões a ter em conta, uma vez que
utilizam elementos semicondutores cujo comportamento é não linear. No entanto como
geralmente é feito um bypass ao equipamento após o arranque, este problema é pontual e

130
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

resume-se ao intervalo de arranque ou paragem. Este bypass permite que o mesmo equipamento
seja utilizado para arrancar ou parar sequencialmente vários motores maximizando o uso do
dispositivo. Na figura 2.59 a) está representado um esquema genérico de um arrancador suave
a tirístores bem como o diagrama de operação com indicação do tempo de arranque e de
travagem, figura b).
U

Un

3~
U0

tarranque ttravagem t

a) b)

Figura 2.59 – Esquema genérico e operação de arrancadores suaves

Estes dispositivos têm a vantagem de ser bastante compactos e de permitirem alguma


automação apresentando vários contactos auxiliares e sinalização o que torna a sua integração
bastante rápida dispensando o uso de um elevado número de contactores e relés.

2.10.8 – Outros métodos de arranque

Na ótica de redução da corrente de arranque, o uso de embraiagens de acoplamento entre a


máquina elétrica e a carga mecânica é outra solução vulgarmente utilizada permitindo que a
máquina arranque em vazio sendo aplicada carga próximo da velocidade de sincronismo. Desta
forma diminui-se o tempo de arranque e consequentemente o tempo que a máquina está sujeita
a correntes elevadas. Uma vez que que estes dispositivos são fundamentalmente mecânicos não
vão ser alvo de estudo neste documento.

Qualquer um dos métodos anteriormente indicados gera perdas de energia o que resulta no
aquecimento dos motores. Arranques sucessivos podem aumentar excessivamente esta
temperatura e levar ao encurtamento da sua vida útil. Aquando da escolha de uma máquina é
importante ter em atenção o número máximo de manobras por hora. Este aspeto será estudado
mais adiante num ponto próprio.

131
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.11 – Métodos de variação de velocidade

Até meados dos anos 80 variar da velocidade de um motor de indução trifásico era uma
tarefa relativamente difícil e dispendiosa, principalmente se fosse pretendida uma gama
alargada de velocidades mantendo um rendimento aceitável. Só com o desenvolvimento da
eletrónica de potência e métodos de controlo avançados é que essa tarefa ficou mais facilitada
sendo atualmente algo bastante corriqueiro e economicamente acessível. Neste ponto vão ser
apresentados alguns métodos de variação de velocidade, desde os mais clássicos até às mais
recentes técnicas envolvendo controlo escalar11.

2.11.1 – Comutação de polos

Um dos métodos clássicos para a variação de velocidade deriva da alteração do número de


pares de polos da máquina. Na prática, variar o número de pares de polos obriga à existência
de enrolamentos distintos no estator, sendo necessário comutar de um enrolamento para outro
para se obter uma alteração da velocidade de sincronismo. Esta técnica só é passível de ser
utilizada em máquinas com gaiola de esquilo, uma vez que a alteração do número de pares de
polos no estator conduz automaticamente à alteração do número de pares de polos do rotor. No
caso de máquinas de rotor bobinado obrigaria à alteração das ligações no rotor o que na prática
não é exequível.

Existem fundamentalmente duas técnicas para a comutação de polos, o método dos polos
consequentes e a utilização de múltiplos enrolamentos. A primeira técnica, proposta no final do
século XIX, permite fazer relações de velocidade 1:2 mediante a alteração das ligações de um
único enrolamento. Estes motores denominam-se motores Dahlander e apesar de existirem
atualmente diversas tecnologias para variar a velocidade de motores assíncronos o seu uso ainda
é economicamente viável, nomeadamente para aplicações onde se deseja apenas uma alteração
discreta da velocidade numa relação 1:2. A sua construção caracteriza-se por enrolamentos com
passos polares reduzidos (60 a 90º) tal como se representa na figura 2.63 (representação de uma
única fase). Seguindo a notação anteriormente utilizada na análise gráfica do campo girante,
verifica-se que entrando a corrente por -a1 e saindo por a1 cria-se o campo magnético

11
Existem métodos de variação de velocidade mais avançados, nomeadamente o controlo vetorial que
exige uma análise mais profunda e que não será abordada neste documento.

132
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

representado na figura 2.63 a). Se o terminal a1 for ligado ao a2 saindo por -a2 cria-se um campo
magnético com mesmo sentido do anterior, resultando um estator com um par de polos.

-a1
a1

H1
a1 -a1 a2 -a2

-a2
a2 i(t)
H1

a)

Considere-se agora o exemplo 2.63 b), a ligação entre o terminal a1 e a2 é comutada para o
terminal -a2. Neste caso são criados dois campos magnéticos com sentidos opostos,
consequentemente os fluxos são obrigados a fecharem-se como indicado na figura criando-se
dois campos magnéticos consequentes. Deste modo obtém-se um estator com dois pares de
polos e metade da velocidade do campo girante.
-a1
a1

H1
a1 -a1 a2 -a2
H1 H1

H1

-a2
a2 i(t)

b)

Figura 2.63 – Esquemas de ligações do estator; a) configuração com um par de polos;


b) configuração com dois pares de polos

Na passagem da configuração de um par para dois pares de polos o valor do binário máximo
poderá ser manter-se constante (binário constante), metade do anterior (binário variável) ou
ainda o dobro (potência constante), dependendo apenas da forma como as bobinas do estator
são ligadas. Nas figuras 2.64 a) a c) são apresentados possíveis modos de ligação; a) binário
constante, b) potência constante e c) binário variável.

133
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

T4

Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T4, T5, T6
Baixa T1 T2 T3
T2 T1 desligadas
T1, T2, T3
Alta T4 T5 T6
T3 ligadas
T6 T5

a)
T1

Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T5 T4
T1, T2, T3
Baixa T4 T5 T5
ligadas
T4, T5, T6
Alta T1 T2 T3
T2
desligadas
T3
T6

b)
T4

Fases
Velocidade Ligações
L1 L2 L3
T4, T5, T6
T2 Baixa T1 T2 T3
T1
desligadas
T1, T2, T3
T3 Alta T4 T5 T6
ligadas
T6 T5

c)

Figura 2.64 – Esquemas de ligações do estator do motor Dahlander

A figura 2.65 mostra as possíveis características de binário para cada tipo de ligação. Note-
se que para a alta velocidade a característica de binário é a mesma independentemente do tipo
de ligação.

134
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

alta baixa a) baixa b) baixa c)

45

Binário [Nm]
40

35

30

25

20

15

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
velocidade [r.p.m]

Figura 2.65 – Características de binário em função dos tipos de ligação; a) binário


constante; b) potência constante; c) binário variável

A principal desvantagem desta solução é poder apenas variar a velocidade de uma razão 1:2.
Para ultrapassar esta limitação podem-se construir máquinas com enrolamentos estatóricos
separados com diferentes números de pares de polos. Como exige dois ou mais enrolamentos
completos separados tornam-se excessivamente onerosos e apenas são utilizados quando é
absolutamente necessário. Existe ainda a possibilidade de conjugar a técnica dos polos
consequentes e enrolamentos múltiplos obtendo-se motores com quatro velocidades diferentes.

Concluindo, a grande desvantagem da comutação de polos é não admitir regulação contínua


da velocidade do campo girante, permitindo apenas variações discretas.

2.11.2 – Adição de resistências rotóricas

Este método de variação de velocidade, só possível em máquinas de rotor bobinado, consistia


na adição de resistências rotóricas de modo a deslocar a característica de binário da máquina.
Desse modo era possível variar o escorregamento para um dado binário de carga com
consequente variação da velocidade do rotor. Na figura 2.66 estão representadas várias
características de binário em função da resistência adicional ao rotor, bem como dois exemplos
de carga, uma linear e outra quadrática.

135
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

0 2 4 6 TL_quad TL

25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento

Figura 2.66 – Variação de velocidade em função da resistência rotórica

Este método permitia aumentar o escorregamento em cerca de 20 %, o que não é uma gama
muito alargada de variação de velocidade, principalmente para cargas lineares.

No caso do acionamento de bombas ou ventiladores este método revela-se um pouco mais


eficaz uma vez que o binário resistente varia com o quadrado da velocidade de acionamento,

Tc = k 2 . Por seu lado a potência necessária para escoar um caudal Q à pressão p com
rendimento  resulta da expressão (2.98).

Q. p
P= (2.98)

Uma vez que P = T , e considerando para simplificação de cálculos que a pressão e o


rendimento se mantêm constantes, resulta que o caudal varia com o cubo da velocidade

Q = kt 3 . Desta forma, com 20% de escorregamento seria possível reduzir o caudal até
aproximadamente 51%.

Este método para além de ser pouco económico devido ao preço da máquina e das
resistências é um processo dissipativo que faz com que o rendimento seja reduzido. A utilização
de eletrónica de potência permitiu substituir as resistências tornando o sistema mais eficiente.
Este método será estudado mais adiante no capítulo das máquinas de indução duplamente
alimentadas.

136
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.11.3 – Variação de tensão com frequência constante

Outro método passível de ser utilizado na variação de velocidade é a regulação da tensão de


alimentação. Tal como se concluiu pela expressão (2.52) o binário varia com o quadrado da
tensão de alimentação, assim para uma determinada carga é possível aumentar o
escorregamento por perda de binário tal como se pode constatar nas figuras 2.67 a) e b).
400 380 360 300
340 TL_quad TL
25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
a)
400 380 360 300
340 TL_quad TL
25

Binário [Nm]
20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
Escorregamento
b)

Figura 2.67 – Variação de velocidade em função da tensão de alimentação

Comparando as figuras conclui-se que a banda de variação do escorregamento é bastante


limitada principalmente em motores com resistência do rotor reduzida como o caso a). Motores
com elevada resistência rotórica, caso b), permitem uma gama de variação um pouco mais
alargada embora tenha o inconveniente de apresentar perdas por efeito de Joule elevadas o que
degrada significativamente o rendimento da máquina. Tradicionalmente a variação da tensão
era feita através de autotransformadores que são equipamentos caros e que contribuem para a
diminuição do rendimento total do sistema. Mais recentemente, com as evoluções tecnológicas

137
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

a nível da eletrónica de potência a variação do valor eficaz da tensão de alimentação torna-se


mais fácil e mais barata embora possa introduzir alguns problemas de qualidade de energia.
Apesar de ser uma solução aceitável mais adiante iremos concluir que atualmente a variação da
tensão com frequência constante não é uma solução viável, podendo apenas ser encontrada em
pequenos motores acionando ventiladores.

2.11.4 – Variação de frequência com tensão constante

Tal como no caso da comutação de polos, ao variar-se a frequência da tensão de alimentação


varia-se a velocidade do campo girante e consequentemente a velocidade do rotor. Apesar de
existirem conversores de frequência rotativos suportados em máquinas de rotor bobinado, esta
técnica só se tornou minimamente atrativa com o desenvolvimento de conversores de
frequência baseados em eletrónica de potência. Ao contrário das técnicas baseadas na adição
de resistências rotóricas ou variação da tensão de alimentação, que apenas permitiam diminuir
a velocidade, a regulação de frequência permite não só diminuir como aumentar a velocidade
de rotação acima da nominal. Segundo a expressão (2.52) o binário varia inversamente com a
frequência, tal como se pode constatar nas figuras 2.68 e 2.69. Partindo do exemplo de uma
máquina com um par de polos alimentada a 50 Hz (3000 r.p.m.) a diminuição da frequência de
alimentação provoca a diminuição de velocidade e consequente aumento do binário. Em sentido
contrário verifica-se a sua diminuição com o aumento da frequência. A variação da frequência
também introduz alterações nas reactâncias da máquina embora a sua influência seja
relativamente reduzida.
30 40 50 60 TL_quad TL

50
Binário [Nm]

45

40

35

30

25

20

15

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
velocidade [r.p.m]

Figura 2.68 – Variação do binário em função de velocidade de rotação, para várias


frequências de alimentação

138
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

30 40 50 60 TL_quad TL

50

Binário [Nm]
45

40

35

30

25

20

15

10

0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0
escorregamento [p.u.]

Figura 2.69 –Variação do binário em função do escorregamento, para várias frequências


de alimentação

Para além da variação do valor de binário máximo, na figura 2.69 é possível verificar que
também existe variação no escorregamento para o mesmo valor de binário, o que é comum à
utilização das resistências rotóricas e à variação da tensão de alimentação. Desprezando a
resistência do estator e consequentemente as perdas por efeito de Joule bem como as perdas em
vazio, o cálculo do rendimento resulta do quociente entre as expressões (2.36) e (2.34)
originado(2.99).

 1− s  r 2
3R r  (I )

Pmi
  s 
 1− s (2.99)
3R r ( I r )
2
Pag
s

Pode-se assim afirmar, com um erro aceitável, que o rendimento de uma máquina assíncrona
trifásica varia fundamentalmente com o escorregamento. Conclui-se assim que, para um mesmo
valor de carga, sempre que a velocidade é alterada à custa do escorregamento existe uma
degradação do rendimento o que torna os métodos anteriores energeticamente pouco rentáveis.

Existe outro detalhe que é imperativo analisar de modo a entender-se o método de variação
de velocidade que será estudado seguidamente. Para tal considera-se o esquema da figura 2.70
onde se despreza a impedância do estator bem como a resistência de perdas.

139
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Ie Rr/s jXr

Ir
Ve Im jLm

Figura 2.70 – Esquema simplificado de uma máquina assíncrona de indução

Explicitando a tensão de alimentação em função da corrente e indutância de magnetização e


após alguma manipulação matemática explicita-se o valor do fluxo magnético do estator através
de (2.100).
Ve Ve  Ve 2V e
V e =  Lm I m  Lm =  Lm =  max =   max = 
 Im 2 fI m 2 I m 2 fI m 2 f

Ve
 max = (2.100)
2 f

Substituindo a expressão (2.100) na expressão do binário (2.52) e após alguma manipulação


obtém-se(2.101).

3 pR r s max
2
T (2.101)
2 ( R r ) + s 2 ( X r ) 
2 2

 

Verifica-se que, diminuindo a tensão de alimentação mantendo a frequência constante leva


a que o fluxo magnético diminua (enfraquecimento de campo) com consequente diminuição
quadrática do binário. Por outro lado, baixando a frequência mantendo a tensão constante o
fluxo aumenta sobrexcitando a máquina com consequente aumento das perdas magnéticas. No
caso do aumento da frequência para valores superiores ao nominal mantendo a tensão constante
conduz também a enfraquecimento de campo e diminuição quadrática do binário.

Manter o fluxo constante numa gama alargada de velocidades só se consegue com a tensão
e a frequência a variarem na mesma proporção. Deste modo foi criado o método V/f constante.

140
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.11.5 – Variação de frequência e tensão (método do V/f constante)

Tal como no método de variação de frequência com tensão constante, esta tecnologia só teve
um desenvolvimento mais acentuado com o aparecimento de conversores de eletrónica de
potência baratos e fiáveis.

Na figura 2.71 a) está representada a evolução da característica de binário expressa em


(2.101) para as várias relações V/f de 2.71 b). Esta é constante até se atingir o valor da tensão
nominal. A partir deste ponto, e de modo a não danificar a máquina, a tensão é mantida
constante no seu valor nominal, independentemente do incremento da frequência.

É possível assim verificar que enquanto a relação V/f se mantiver constante o binário
máximo também se mantém constante. Por outro lado, para valores de frequência superiores à
nominal o fluxo diminui pelo que naturalmente existirá uma redução (quadrática) do valor
máximo do binário, bem como variação do rendimento. As figuras 2.72 a) e b) mostram uma
representação teórica da evolução do binário e da potência para várias relações V/f.
T_max 400/80 400/70 400/60 400/50 361/44 323/38
284/31 245/25 205/19 113/6 163/13 TL_quad TL
70
Binário [Nm]

450
Tensão [V]

60
400
350
50 300
250
40
200

30 150
100
20 50
0
10
0 20 40 60 80 100
frequência [Hz]
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]

a) b)

Figura 2.71 – Evolução do binário para várias relações V/f

Como a potência resulta do produto entre o binário e a velocidade angular do rotor, enquanto
o binário for constante a potência depende diretamente da velocidade, na zona de
enfraquecimento de campo a diminuição do binário é compensada pelo aumento da velocidade
resultando uma potência constante.

141
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

T P
Un Un

Potência
Binário constante
constante

Enfraquecimento
de campo
fn f fn f
a) b)

Figura 2.72 – Evolução teórica do binário e velocidade para várias relações V/f

Todo o estudo feito até este momento parte do princípio de que a impedância do estator é
desprezável, embora não o seja na realidade, podendo inclusivamente em algumas máquinas de
baixa potência apresentar valores apreciáveis. Na figura 2.73 estão representadas as
características de binário para as mesmas condições da figura 2.71, mas desta vez
contabilizando a impedância e consequentemente a q.d.t. no estator. Conclui-se assim que
conforme se diminui a tensão de alimentação existe uma redução do binário máximo. Para
valores muito baixos de tensão o binário motor pode nem sequer ser suficiente para vencer o
binário de arranque
400/80 400/70 400/60 400/50 350/44 300/38 250/31
200/25 150/19 50/6 100/13 TL_quad TL
70
Binário [Nm]

60

50

40

30

20

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]

Figura 2.73 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f e impedância
estatórica

Para obviar esta situação, quando o valor da frequência é muito baixo a relação V/f deixa de
ser constante introduzindo-se uma tensão de offset de modo a aumentar o binário, tal como
apresentado na figura 2.74. Deste modo é possível aumentar consideravelmente o binário
mesmo para valores de tensão muito baixos. A regulação deste valor de offset é particularmente
importante para o binário de arranque quando se utiliza o variador como arrancador suave.

142
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

400/80 400/70 400/60 400/50 350/44 300/38 250/31


200/25 150/19 100/6 100/13 TL_quad TL
70
Binário [Nm]

450

Tensão [V]
60 400
350
50 300
250
40
200
150
30
100
50
20
0
0 20 40 60 80 100
10
frequência [Hz]

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Velocidade [r.p.m]

Figura 2.74 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V/f com tensão de
offset

A dificuldade deste método de regulação de velocidade está na determinação da tensão de


alimentação de modo o compensar a q.d.t. na impedância do estator. Para tal o conversor mede
constantemente a corrente de alimentação e desse modo estima qual a tensão a aplicar.

Outra forma de se calcular a tensão sem medir a corrente de alimentação passa pela
determinação do valor do binário máximo (Tmax) para a tensão e frequência nominais (fn). Assim
é possível determinar a tensão de alimentação para cada frequência (f’) associada às diferentes
velocidades. Para tal determina-se o escorregamento para o binário máximo através de (2.102)
(2.102), reescrita a partir de (2.54) e determina-se a tensão de alimentação com (2.103).

Rr
sT max = (2.102)
( Re ) + ( X e + X r ) ( f ' f n )
2 2

  f ' 
2

2 f ' ( smax R + R ) + smax  X eq  


e r 2 2

  fn  
 .T
Ve = r max (2.103)
3R smax

Na figura 2.75 está representada a curva V/f necessária para compensar a q.d.t. e obter
resultados iguais à figura 2.71 (fluxo e binário constantes). Para efeitos de comparação também
está representada a relação V/f constante.

143
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Tensão [V]
450
400
350
300
250
200 V/f const.
150
100
50
0
0 20 40 60 80 100
frequência [Hz]

Figura 2.75 – Relação V/f “real”

Se porventura a carga variar com o quadrado da velocidade (como no caso de compressores


e ventiladores), a baixas velocidades apresenta binário reduzido pelo que a tensão de
alimentação pode ser reduzida bem como o fluxo magnético. Desta forma permite a redução do
consumo de corrente e consequentemente das perdas elétricas. Na figura 2.76 está representada
a evolução do binário para várias velocidades baseado na técnica V2/f.
400/70 400/60 400/50 330/45 270/40 220/35
175/30 140/25 108/20 55/10 80/15 TL_quad
70
Binário [Nm]

450
Tensão [V]

60 400
350
50 300
250
40
200
150
30
100

20
50
0
0 20 40 60 80 100
10
frequência [Hz]

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000

Velocidade [r.p.m]

Figura 2.76 – Evolução do binário e velocidade para várias relações V2/f com tensão de
offset

Outra das grandes vantagens neste método é o facto de ter boas performances mesmo em
cadeia aberta não necessitando de retroação de velocidade, o que torna a sua utilização mais
fácil e menos onerosa.

144
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.12 – Frenagem de máquinas assíncronas trifásicas

Quando se aborda o tema da frenagem de máquinas elétricas é importante distinguir entre


paragem e imobilização do rotor, bem como frenagem mecânica e elétrica. A paragem pretende
apenas que o rotor pare de rodar podendo ficar solto, a imobilização exige que uma vez parado
não rode mesmo que lhe seja aplicado algum tipo de binário resistente. Um exemplo clássico é
um guindaste com uma carga suspensa.

A frenagem mecânica é feita através de dispositivos que de algum modo implicam desgaste
de material, tal como, calços, pastilhas, discos, etc, e são eficazes a imobilizar.

A frenagem elétrica não envolve desgaste de materiais, permite recuperar energia, reduz o
desgaste de materiais na travagem mecânica embora possa ser ineficaz na imobilização. Para
isso necessitam de apoio mecânico para a imobilização. Com a introdução da eletrónica de
potência, mais concretamente com o controlo por orientação de campo já é possível fazer a
imobilização sem a utilização de sistemas mecânicos. Este tipo de controlo não vai ser alvo de
estudo neste texto.

2.12.1 – Frenagem por amortecimento natural

A forma mais simples de frenagem de um motor elétrico é utilizar o amortecimento natural.


Ou seja, desliga-se a alimentação da máquina e espera-se que esta pare por si. Neste caso a
energia cinética armazenada nas massas girante no momento do corte da alimentação é
dissipada por atrito mecânico. Se a máquina tiver turbina para auto ventilação o seu atrito
turbulento também irá contribuir para a rapidez da frenagem, bem como a carga aplicada.

Na expressão (2.104) está representada a equação genérica que descreve a dinâmica de


velocidade de uma máquina elétrica rotativa.

d 1
= (Tc − Tele − K D ) (2.104)
dt J

Na figura 2.77 está representada a evolução da velocidade de uma máquina em vazio sujeita
a uma travagem por amortecimento natural para várias relações J/KD.

145
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

180

Velocidade angular [s-1]


160 0,03/0,0045
140
0,03/0,009
120
100 0,06/0,0045
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo [s]

Figura 2.77 – Evolução da velocidade em frenagem por amortecimento natural

Verifica-se que o tempo de paragem depende dos valores do momento de inércia (J) e do
coeficiente de atrito viscoso (KD). Um maior atrito provoca uma travagem mais rápida ao passo
que o momento de inércia torna a travagem mais lenta. Integrando a expressão (2.104) e após
alguma manipulação obtém-se a expressão (2.105) que permite determinar diretamente o tempo
total de paragem.

J i
t=− ln ( )  (2.105)
KD f

Onde i e f são, respetivamente, as velocidades angulares inicial e final. No caso de a


máquina estar em carga quando é desligada da alimentação o tempo de paragem pode ser
substancialmente diferente, dependendo da natureza da carga.

2.12.2 – Frenagem por contra corrente

Este método consiste na troca de duas fases de alimentação do estator de modo a inverter o
sentido da velocidade do campo girante. Assim, a velocidade do campo girante passará a ser
contrária à do rotor pelo que o novo escorregamento resulta da expressão (2.106)

−n1 − n2 n +n
s= s= 1 2
−n1 n1

n2
s = 1+ (2.106)
n1

146
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Desta forma o escorregamento irá variar entre, aproximadamente 2, e 1, ou seja, apresenta


comportamento como freio, com o rotor a reduzir a velocidade até atingir escorregamento
unitário. Na figura 2.78 está representada a evolução do binário na frenagem por contra
corrente.
35

Binário [Nm]
30

25

20

15

10

0
-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500
Velocidade [r.p.m.]

Figura 2.78 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente

Por simplicidade consideremos que uma máquina com dois pares de polos está em vazio
com o rotor a rodar a uma velocidade n2 próxima do sincronismo n1 (1500 r.p.m.). Com a troca
das duas fases o sentido do campo girante inverte passando a -n1 (-1500 r.p.m). Nesse momento,
como o rotor tem inércia continua a rodar à velocidade n2. Enquanto a velocidade do rotor não
for zero a máquina está a funcionar como freio. É necessário ter em conta que a alimentação do
estator tem de ser interrompida antes do rotor inverter o sentido de rotação.

Este tipo de frenagem é particularmente exigente tanto a nível mecânico, provocando


esforços mecânicos assinaláveis, como elétricos. Na figura 2.79 está representada a evolução
da corrente desde o momento em que o sentido do campo girante é invertido.

50
Corrente [A]

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2 1,75 1,5 1,25 1 0,75 0,5 0,25 0
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.79 – Evolução da corrente no processo de frenagem por contra corrente

147
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

Verifica-se que durante este processo a corrente é bastante elevada atingindo valores
superiores ao valor registado no arranque direto.

2.12.3 – Frenagem regenerativa

A frenagem regenerativa não implica forçosamente a paragem do rotor, é um processo


dinâmico que permite regenerar energia elétrica sempre que se pretende diminuir a velocidade
do rotor, eventualmente até zero. Para este processo ocorrer é forçoso que de algum modo a
velocidade do campo girante diminua. Na figura 2.80 exemplifica-se um caso de frenagem
regenerativa. Para tal considera-se uma máquina com dois pares de polos em que inicialmente
o rotor está a rodar a uma velocidade n2, ligeiramente menor que a velocidade de sincronismo
n1 (1500 r.p.m.). Neste caso a máquina está a trabalhar em regime motor.

'
Se a velocidade do campo girante diminuir para uma velocidade n1 (1000 r.p.m.), o rotor
devido à sua inércia vai demorar um espaço de tempo até a velocidade do rotor ser menor que

n1' . Durante esse tempo a máquina comporta-se como gerador convertendo a energia cinética
das massas girantes do rotor em energia elétrica.

40
Binário [Nm]

30

20

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
-10

-20

-30

-40
Escorregamento [p.u.]

Figura 2.80 – Evolução do binário no processo de frenagem regenerativa

Atualmente este tipo de travagem é fácil de aplicar com a utilização de conversores


eletrónicos de potência. No caso de funcionarem em quatro quadrantes a energia produzida
poderá ser escoada para a rede de alimentação ou para a bateria no caso de um veículo elétrico.

148
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona trifásica

2.12.4 – Frenagem por injeção de corrente contínua

Esta técnica resulta da substituição da alimentação alternada trifásica no estator por uma
alimentação em corrente contínua aplicada entre dois enrolamentos. Nesta situação deixa de
haver campo girante no estator sendo substituído por um campo magnético estacionário. Como
o rotor continua a rodar fruto da inércia as barras ou os enrolamentos do rotor cortam as linhas
de fluxo. Desta forma a máquina comporta-se como um qualquer gerador de magnetos
permanentes sendo induzida uma f.e.m. no rotor. Como este está em curto-circuito a potência
contida nas massas girantes será dissipada no circuito elétrico rotor até este parar.

2.13 – Máquina de indução como gerador

Tal como se pôde constatar nas figuras 2.27 e 2.28 um dos possíveis regimes de
funcionamento das máquinas assíncronas trifásicas é o de gerador. Se esta estiver ligada à rede
de energia elétrica basta que a velocidade do rotor seja superior à do campo girante para que
exista produção de potência ativa, isto numa faixa de funcionamento estável compreendida
entre o sincronismo e o ponto de binário máximo como gerador. Se o binário que a máquina
motriz impõe for superior ao máximo o gerador irá acelerar atingindo velocidades muito
elevadas. O funcionamento desta máquina como gerador apresenta algumas limitações. Como
não tem circuito de excitação separado, que possa ser regulado, não permite por si só a geração
de potência reativa. Para além disso ela própria consome potência reativa de modo a criar o
campo girante. Na impossibilidade de se controlar explicitamente a sua tensão de saída o estator
terá de estar ligado à rede de energia, que acaba por definir o valor da tensão. Nesta
configuração, apesar de ser uma máquina assíncrona com velocidade do rotor variável, quando
ligada como gerador a uma rede de energia apresenta sempre tensão e frequência constantes.

A grande mais-valia destes geradores é a sua simplicidade. Não necessita de ter sistemas de
excitação separados nem manter a velocidade de acionamento constante. Fundamentalmente
necessita apenas que a velocidade do rotor supere a do campo girante (até certo ponto) e quanto
maior for o binário aplicado maior será a potência ativa gerada. Estas características fazem com
que seja uma boa escolha para equipar geradores eólicos, mini-hídricas, etc. O controlo do fator
de potência, para compensar a potência reativa consumida para gerar o campo girante, pode ser
feito através de baterias de condensadores.

149
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina assíncrona monofásica

Capítulo 3 MÁQUINA ASSÍNCRONA MONOFÁSICA

A generalidade da literatura que versa máquinas elétricas apresenta primeiro a máquina de


indução trifásica e só posteriormente a monofásica. Numa primeira impressão poder-se-á
pensar que o princípio de funcionamento da máquina de indução monofásica e o seu modelo
são uma particularização da trifásica. Como se verá de seguida isto não podia estar mais
afastado da realidade. Geralmente este tipo de máquina é incluído no conjunto das “máquinas
especiais” e caracteriza-se por não ter binário de arranque. Quando ligada a uma fonte de tensão
alternada sinusoidal é audível um ligeiro zumbido embora não haja rotação, mas uma vez posta
a girar já apresenta binário o que conduz ao “dilema da máquina de indução monofásica”. Ou
seja, é uma máquina que não tem binário no arranque, mas tem quando está a rodar. Veremos
mais à frente que esta máquina necessita de alguma solução técnica para poder arrancar. Para
explicar o seu princípio de funcionamento a literatura apresenta duas teorias, a teoria dos
campos cruzados e a teoria do duplo campo girante, proposta por Maurice LeBlanc. Neste texto
abordaremos apenas a teoria do duplo campo girante.

3.1 – Teoria do duplo campo girante

Recordemos a teoria do campo girante previamente abordada no ponto 2.3.1 e a figura 3.1,
agora repetida nas figuras 3.4 a) e b). Uma vez mais, considerando uma bobina de passo pleno
excitada por uma corrente alternada sinusoidal verifica-se que é criada uma f.m.m. pulsante ao
logo do entreferro cujo valor resulta de (3.1).

( , t ) = MAX cos ( ) cos (t ) (3.1)

150
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

-a -a

F M AX -F M AX
refª
refª

a a

a) b)

Figura 3.1 – Representação vetorial da evolução temporal da amplitude da f.m.m

Matematicamente, a expressão (3.1) pode ser decomposta nas expressões (3.2) e (3.3).

1
d ( , t ) = MAX cos ( − t ) (3.2)
2

1
i ( , t ) = MAX cos ( + t ) (3.3)
2

Isto significa que o vetor pulsante das figuras 3.4 a) e b) pode ser representado por dois
vetores imaginários com metade da amplitude máxima rodando em sentidos opostos. Um rodará
no sentido de rotação do rotor (direto) e o outro em sentido oposto (inverso). Esta manipulação
matemática resultou no teorema de Maurice LeBlanc: “Um enrolamento monofásico com p
pares de polos, percorrido por uma corrente alternada sinusoidal de pulsação , cria 2
conjuntos de p pares de polos fictícios idênticos com metade da amplitude, deslizando em
sentido contrário um do outro com velocidade angular /p”.

Na figura 3.2 está representada a evolução dos dois campos girantes durante meio período
de onda, representados pela f.m.m. direta (FD) e inversa (FI) bem como a f.m.m resultante.
Assim, e numa base teórica, existirão dois campos girantes com a mesma amplitude e
velocidade síncrona que irão induzir duas f.e.m. no rotor. Estas terão sentidos opostos bem
como as correntes resultantes. Como no momento do arranque as duas correntes têm o mesmo
valor a sua resultante será nula. Está assim justificado matematicamente a inexistência de
binário de arranque neste tipo de máquinas.

151
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica

-a -a -a

FD
FD

FD=FI FMAXcos(t)  FMAXcos(t)
FMAXcos(t)
refª  refª refª

FI
FI

a a a

-a -a -a
FD
FD
FD


FMAXcos(t) FMAXcos(t)

refª refª  refª
  FI
FI
FI

a a a

Figura 3.2 – Representação vetorial dos campos girantes e pulsante

Em teoria existirão dois escorregamentos, um no sentido direto (sd) e outro no sentido


inverso (si), representados respetivamente por (3.4) e (3.5).

n1 − n2
sd = (3.4)
n1

n1 + n2
si = (3.5)
n1

Pelo exposto, o modelo equivalente da máquina de indução monofásica poderá ser


representado pela figura 3.3 a). Numa análise muito livre, pode-se dizer que a máquina é
representada como tendo um estator e dois rotores, em que um deles representa o sentido direto

de rotação e o outro o inverso. Substituindo a expressão (3.4) na forma n2 = ( n1 − sd n1 ) em (3.5)

resulta (3.6).

n1 + n1 − sd n1
si =  si = 2 − sd (3.6)
n1

Deste modo é possível definir o escorregamento inverso em função do direto evitando-se o


cálculo de dois escorregamentos, tal como apresentado no modelo da figura 3.3 b). De forma a
simplificar o modelo e os cálculos, a resistência de perdas magnéticas não está representadas

152
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

no circuito, sendo posteriormente contabilizadas em conjunto com as perdas mecânicas. Assim


evita-se a adição de mais um ramo em paralelo com a reactância de magnetização Xm.
Re jX e Re jX e

Ie Ie
r
1R 1 Rr
2 sd 1 2 s
j
1
Xm I dr j Xm I dr
2 2
1 r 1 r
j X j X
2 2

Ve Ve

1 Rr
1 Rr
r 2 2−s
2 si 1 I i
j
1
Xm
I ir j
2
Xm
2 1 r
1 r j X
j X 2
2

a) b)

Figura 3.3- Modelo equivalente de uma máquina de indução monofásica

3.2 – Balanço de potência

À semelhança das máquinas de indução trifásicas, o balanço de potência é deduzido a partir


do modelo equivalente, neste caso o modelo da figura 3.3 b). As potências de entrada e perdas
no cobre do estator resultam das expressões (3.7) e (3.8).

P e = V e I e cos (j e ) (3.7)

Pcu = R e ( I e )
2
(3.8)

Uma vez que o modelo apresenta um ramo direto e outro inverso a potência total no
entreferro (Pag) é dada por (3.9), que resulta da potência entregue a cada circuito do rotor tal
como apresentado em (3.10) e (3.11).

Pag = Pag ,d − Pag ,i (3.9)

1 Rr r 2
Pag ,d =
2 s
( Id ) (3.10)

1 Rr r 2
Pag ,i =
2 2−s
( Ii ) (3.11)

Ao passo que a potência mecânica interna se determina diretamente por (3.12).

153
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica

Pmi = (1 − s ) Pag (3.12)

Tal como explicado no modelo da figura 3.3, para evitar cálculos adicionais, as perdas
magnéticas são consideradas juntamente com as mecânicas, pelo que a potência mecânica útil
resulta da expressão (3.13).

Pmu = Pmi − Po (3.13)

Na figura 3.4 estão representadas a característica de potência no entreferro devido ao ramo


direto e inverso, bem como a sua resultante obtida através de (3.9).
700

Pag 600
Pagd
500

Potência [W]
Pagi
400

300

200

100

0
1 0,8 0,6 0,4 0,2 0
escorregamento

Figura 3.4- Característica de potência no entreferro

No momento do arranque os valores das potências desenvolvidas no ramo direto e inverso


têm o mesmo valor, consequentemente a potência no entreferro é nula. Isto significa que a
potência mecânica útil e o binário no arranque também são nulos.

Tal como foi referido anteriormente, esta é uma das particularidades que separa as máquinas
de indução monofásicas das trifásicas. Outra é o sentido de rotação, ao passo que nas máquinas
trifásicas este é definido pela sequência de fases, nas máquinas monofásicas este não está
definido à priori.

3.3 – Binário

O binário útil desta máquina pode ser determinado diretamente pela expressão (3.14), ou
através das expressões das potências no entreferro, como em (3.15).

154
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

Pmi Po
Tmu = − (3.14)
2 2

Pag ,d Pag ,i
Tmi = − (3.15)
1 1

Analisando os valores da resistência do rotor verifica-se que para escorregamentos inferiores


a 1, a resistência do ramo direto é superior à do ramo inverso o que significa que o binário
produzido pelo ramo direto é sempre superior ao do ramo inverso. Assim o binário resultante
terá sempre a direção do ramo direto. Como o binário de arranque é nulo a caraterística de
binário é formalmente idêntica à caraterística de potência.

No entanto mantém-se a principal questão, como é que este tipo de máquina pode
desenvolver binário de arranque.

3.4 – Métodos de arranque de motores de indução monofásicos

Perante a dificuldade de criar binário de arranque foram propostas várias soluções


construtivas para as máquinas de indução monofásicas, soluções essas que acabam por
classificar os vários tipos de máquinas.

3.4.1 – Máquina de fase dividida

Este tipo de máquinas possui no estator dois enrolamentos independentes desfasados entre
si 90 graus. Um dos enrolamentos é denominado principal e o outro auxiliar. O enrolamento
auxiliar é ligado em paralelo com o principal através de um interruptor centrífugo, tal como
representado na figura 3.5. Este interruptor está mecanicamente acoplado ao rotor e abre ou
fecha em função da velocidade. No momento do arranque o interruptor está fechado permitindo
a alimentação a ambos os enrolamentos. Quando a velocidade do rotor atinge aproximadamente
75% da velocidade síncrona o interruptor abre deixando apenas o enrolamento principal
alimentado. Como já vimos anteriormente basta apenas um enrolamento para manter a máquina
a rodar, pelo que o enrolamento auxiliar apenas serve, tal como o nome indica, para auxiliar no
arranque.

155
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica

Enrolamento
principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo

Enrolamento
auxiliar

Figura 3.5 – Máquina de indução monofásica de fase dividida

Construtivamente o enrolamento principal possui baixa resistência e alta indutância ao passo


que o auxiliar possui elevada resistência e baixa indutância. Desta forma a corrente que percorre
o enrolamento principal (Ip) está bastante desfasada da tensão de alimentação (idealmente 90
graus) enquanto a corrente do enrolamento auxiliar (Ia) tende a estar mais próxima da tensão
(idealmente 0 graus). O motor tem tendência a comportar-se como um motor bifásico
desequilibrado, o que permite desenvolver binário de arranque. Geralmente a desfasagem entre
ambas as correntes é relativamente baixa, entre os 30 e os 60 graus.
V

Ia

Ip
IL

Figura 3.6 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida

Uma vez desconectado o enrolamento auxiliar a indutância do enrolamento principal permite


um fluxo elevado ao mesmo tempo que apresenta perdas no cobre mais baixas incrementando
desse modo o rendimento. Para esta configuração o valor do binário de arranque é tipicamente
150% a 200% do binário nominal. A corrente de arranque varia entre 6 a 8 vezes a corrente
nominal.

3.4.2 – Fase dividida com condensador de arranque

Na configuração apresentada na figura 3.7 é adicionado um condensador ao enrolamento


auxiliar. Com um dimensionamento cuidado é possível obter uma desfasagem de 90 graus entre

156
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

as correntes dos dois enrolamentos aumentando assim o binário de arranque para níveis
próximos das máquinas trifásicas, nomeadamente 300% a 400% vezes o binário nominal.

CA

Enrolamento
principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo

Enrolamento
auxiliar

Figura 3.7 – Máquina de indução monofásica de fase dividida e condensador de arranque

Ia
V

IL
Ip

Figura 3.8 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador de


arranque

3.4.3 – Fase dividida com condensador permanente

Um dos problemas associados às configurações anteriores é o facto de apresentarem baixo


fator de potência, o que reduz consideravelmente o seu rendimento com valores a rondarem os
50 % a 60%. Para além disso são ruidosos fruto das vibrações que produzem. Na configuração
da figura 3.9 tanto o enrolamento auxiliar como o condensador permanecem ligados e dessa
forma o interruptor centrífugo pode ser eliminado. Dessa forma o motor torna-se mais compacto
e mais barato além de apresentar um funcionamento mais equilibrado, menores vibrações,
menor ruído e maior fiabilidade. Neste caso o condensador irá ter um duplo papel, o de
compensar o fator de potência e auxiliar no arranque, pelo que é necessário encontrar um
compromisso entre ambas as funções. Geralmente o condensador é calculado para aumentar o
rendimento pelo que o binário de arranque acaba por ser sacrificado para valores inferiores ao
nominal. Como não tem interruptor pode ser utilizado em aplicações que exigem arranques
frequentes.

157
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica

Enrolamento
Cp

principal
~ Rotor

Enrolamento
auxiliar

Figura 3.9 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensador


permanente

Ia
V

IL
Ip

Figura 3.10 – Diagrama das correntes na máquina de fase dividida e condensador


permanente

3.4.4 – Fase dividida com condensador de arranque e permanente

Por último é proposta a configuração com dois condensadores da figura 3.11. Deste modo
pode-se dimensionar separadamente cada um dos condensadores para obter-se a melhor
performance possível, tanto no arranque como em carga. Tal como na configuração de fase
dividida com condensador de arranque, o condensador é dimensionado para maximizar o
binário de arranque sendo desconectado através do interruptor centrifugo a cerca de 75% da
velocidade síncrona. Pelo facto do enrolamento auxiliar se manter ligado em série com o
condensador permanente as correntes nos dois enrolamentos encontram-se em quadratura.
Deste modo o seu funcionamento aproxima-se ao de uma máquina bifásica desenvolvendo
binários elevados com bom rendimento. Esta configuração permite também reduzir o ruído e
as vibrações, embora seja a mais cara. O diagrama vetorial é formalmente idêntico ao da figura
3.10

158
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

CA

Enrolamento
Cp

principal
Interruptor
~ Rotor centrifugo

Enrolamento
auxiliar

Figura 3.11 – Máquina de indução monofásica com fase dividida e condensadores de


arranque e permanente

Há uma questão importante a ter em conta na utilização de máquinas de indução


monofásicas. Os componentes são dimensionados especificamente para cada configuração, o
enrolamento auxiliar das máquinas de fase dividida e/ou com condensador de arranque pode
não suportar um funcionamento contínuo uma vez que foi dimensionado para trabalhar durante
curtos períodos. No caso da fase dividida com dois condensadores, na falta do condensador de
arranque, o condensador permanente pode não estar preparado para auxiliar no arranque. É
também necessário ter-se em conta o número máximo de arranques consecutivos que o
interruptor centrífugo suporta, podendo no limite sobreaquecer, ficar com os contactos colados
e não abrir.

A maneira mais prática de identificar cada um dos condensadores é através da sua


capacidade, o de arranque tem sempre maior capacidade que o permanente (normalmente o
triplo, para a mesma tensão) além de ser do tipo eletrolítico.

3.4.5 – Máquina de indução de polos sombreados

A máquina de indução de polos sombreados tem uma construção extremamente simples.


Geralmente é constituída por dois polos salientes com uma parte dos polos envolvida
(sombreada) por uma espira de cobre com elevada seção e em curto-circuito (espira de Frager),
tal como se pode constatar na figura 3.12. Esta é a configuração mais comum com aplicações
em ventoinhas de mesa e bombas de água nas máquinas de lavar roupa, embora também possam
ser encontradas configurações cilíndricas.

Apesar de ter uma construção simples o princípio de funcionamento destas máquinas é


bastante engenhoso e baseia-se fundamentalmente na lei de Lenz. Consideremos que a máquina

159
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de indução monofásica

é alimentada por uma tensão alternada sinusoidal cuja onda de fluxo se pode dividir em quatro
momentos temporais representados nas figuras 3.15 e 3.16 a) a d).

t
a) b) c) d)

Figura 3.12 – Variação do fluxo criado pela bobina

Enquanto o fluxo da bobina aumenta até ao máximo positivo (situação a)) as correntes
induzidas nas espiras de Frager vão ter um sentido que se opõe ao crescimento desse mesmo
fluxo na porção sombreada do polo, forçando o fluxo a circular pela secção não sombreada.
Quando o fluxo diminui (situação b)) as correntes induzidas terão um sentido que se opõe a
essa diminuição reforçando assim a circulação do fluxo sob a secção sombreada. O mesmo
raciocínio é aplicado nas situações c) e d). De um modo simples é criado um campo girante que
induz f.e.m. no rotor e consequentemente, apesar de reduzido, binário de arranque.

Nestes motores não é possível inverter o sentido de rotação e caracterizam-se por ter um
rendimento muito baixo, o que é compensado pelo seu reduzido preço. Esta topologia está
geralmente disponível para potências nominais até 200 W.

160
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina assíncrona monofásica

i i

a) b)

i i

v v

c) d)

Figura 3.13 – Princípio de funcionamento da máquina de polos sombreados

161
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina de corrente contínua

Capítulo 4 MÁQUINA DE CORRENTE CONTÍNUA

4.1 – Introdução

Historicamente, considera-se que a máquina de corrente contínua foi inventada por Zénoble
Gramme. Apesar de existirem alguns estudos e protótipos anteriores foi Gramme que criou um
modelo verdadeiramente funcional e industrial de um gerador de corrente contínua. Assim em
1871 apresentou o seu dínamo de anel de Gramme. Posteriormente, em 1873, concluiu que a
máquina era reversível e que podia trabalhar como motor sendo o primeiro motor com potência
suficiente para aplicações industriais. A figura 4.1 mostra um exemplar da máquina de anel de
Gramme existente no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.

Figura 4.1 – Máquina de anel de Gramme

Como a configuração em anel se revelou pouco eficiente posteriormente foi substituída pela
configuração em tambor ainda usada atualmente. No entanto a configuração em anel ainda hoje
é o ponto de partida para o estudo da máquina de corrente contínua.

4.2 – Constituição

A máquina de corrente contínua, tal como a máquina assíncrona, possui um estator, um rotor
e entreferro, no entanto destaca-se das anteriores por ter um coletor de lâminas. O estator,

163
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

também designado por indutor, produz o campo magnético necessário para o funcionamento da
máquina. Nesse sentido, os enrolamentos do estator também são conhecidos como
enrolamentos de campo ou de excitação. Estes enrolamentos não estão inseridos em cavas, estão
enrolados à volta de peças polares. As várias configurações existentes de máquinas de corrente
contínua caracterizam-se segundo a forma como o campo magnético é criado.

O rotor, geralmente designado por induzido ou armadura, tem por seu lado os enrolamentos
inseridos em cavas ligados às lâminas de cobre do coletor e recebe a corrente elétrica através
de escovas de grafite. Na generalidade dos casos a corrente do rotor é várias vezes superior à
do estator. Apesar da alimentação da máquina ser em corrente contínua tanto o rotor como o
estator são feitos de chapas laminadas e isoladas entre si.

O coletor é constituído por lâminas de cobre instaladas sobre o veio e isoladas entre si em
que cada lâmina está ligada a pelo menos dois condutores do rotor. As escovas permitem a
ligação elétrica entre os enrolamentos do rotor e os terminais da máquina. A área de contacto
das escovas pode cobrir várias lâminas em simultâneo.

Na figura 4.2 está representado de uma forma genérica o rotor de uma máquina de corrente
contínua com o coletor de lâminas e escovas.

Figura 4.2 – Representação genérica do rotor de uma máquina de corrente contínua

Para além dos enrolamentos do circuito de excitação e da armadura existem enrolamentos


para melhorar o desempenho da máquina, nomeadamente os polos auxiliares de compensação
e os interpolos.

164
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Na figura 4.3 está representada, de uma forma genérica, uma máquina de corrente contínua
com os vários enrolamentos possíveis. Chama-se a atenção para a forma das peças polares do
estator em torno das quais são instaladas as bobinas de campo.

GA

HB

Figura 4.3 – Representação genérica de uma máquina de corrente contínua

Os terminais dos enrolamentos são identificados por letras, GA e HB para o enrolamento do


rotor, e C(J), D(K) e E,F para os do estator.

As máquinas podem ser caracterizadas como, de excitação separada (ou independente),


excitação paralela (ou derivação ou shunt), excitação série e ainda excitação composta (ou
compound)

4.3 – Princípio de funcionamento

Para entendermos o princípio de funcionamento de uma máquina de corrente contínua é


importante recordar alguns conceitos de eletromagnetismo tal como as leis de Lorentz e
Laplace, a primeira ligada ao funcionamento como gerador e a segunda como motor.

Consideremos o exemplo da figura 4.4. Quando um condutor sob o efeito de um campo


magnético é atravessado por cargas elétricas, positivas ou negativas, sofre uma força com
direção perpendicular ao campo magnético.

165
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Figura 4.4 – Força aplicada sobre um condutor

A direção e intensidade desta força é determinada pela expressão (4.1), também conhecida
como força de Laplace.

(
F = il  B ) (4.1)

Onde l é o comprimento da porção do condutor sob o efeito do campo magnético.

A direção da força pode ser determinada de uma forma muito prática recorrendo à regra da
mão esquerda apresentada na figura 4.5.

F
B

Figura 4.5 – Força aplicada sobre um condutor

Considera-se que a indução B tem a direção Norte-Sul e a corrente corresponde ao sentido


do deslocamento de cargas positivas (sentido convencional da corrente elétrica).

Para melhor se entender este conceito, na figura 4.6 está representado um modelo elementar
de uma máquina de corrente contínua com uma única espira. Uma vez entendido pode ser
extrapolado para as máquinas reais com n espiras.

166
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

1
1’
+
-

Figura 4.6 – Força aplicada sobre um condutor

Consideremos o sentido convencional da corrente que resulta da tensão contínua aplicada às


escovas do coletor. Aplicando a regra da mãe esquerda da figura 4.5 ao modelo da figura 4.6
verifica-se que cada lado da espira ao ser percorrido pela corrente sofre uma força resultando
um binário. Quando a espira fica na perpendicular o binário resultante é nulo uma vez que as
forças ficam opostas e anulam-se. Para que o movimento seja contínuo é necessário que nessa
posição a corrente também seja nula, ou seja, a tensão aplicada à espira seja zero. Para lá desse
ponto existe uma inversão da posição dos lados da espira, ou seja, o lado 1 da espira passa para
o lado Norte do vetor indução magnética ao passo que o lado 1’ fica do lado Sul. Para que a
rotação se mantenha no mesmo sentido é necessário que o sentido das correntes se inverta em
cada lado da espira. Ou seja, a cada meia-volta da espira a corrente tem de inverter o sentido de
circulação. Como a polaridade da tensão de alimentação se mantém constante a inversão do
sentido da corrente ficará a cargo do coletor.

Para generalizar este estudo recorre-se ao modelo de uma máquina de anel de Gramme como
o indicado nas figuras 4.7 a) e b). O rotor é constituído por um anel ferromagnético sobre o qual
estão enrolada 8 bobinas com uma única espira. Os terminais dessas bobinas são ligados dois-
a-dois a cada lâmina do coletor perfazendo oito lâminas e a escova tem a largura de uma lâmina.
O campo magnético é constante com as linhas de indução no sentido Norte-Sul e a corrente no
rotor tem o sentido convencional.

167
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

y y
 

4 5

3 6

N + S N + S
- -
2 7

1 8

a) b)

Figura 4.7 – Princípio de funcionamento de um motor de anel de Gramme

Analisando a figura 4.7 a) verifica-se que a corrente aplicada à lâmina em contacto com a
escova ligada ao terminal positivo se divide pelas bobinas 4 e 5, fechando-se pelas bobinas 1 e
8. Consideremos que a corrente que entra nas espiras tem o sinal “×” e a que sai tem o sinal “•”.
Aplicando a regra da figura 4.5 conclui-se que as espiras 5, 6, 7 e 8 sofrem uma força segundo
o sentido negativo do eixo y, ao passo que os lados 1, 2, 3 e 4 sofrem uma força no sentido
positivo do eixo y. Desta forma resulta um binário de forças e o rotor roda no sentido horário.
Na figura 4.7 b) o rotor rodou ligeiramente no sentido horário e verifica-se que as bobinas 4 e
8 se encontram sobre o eixo dos yy, logo a corrente que nelas circula tem de ser nula, tal com o
analisado na figura 4.6.

Nas figuras 4.8 a) e b) está representado um modelo planificado das figuras 4.7 a) e b). As
bobinas são numeradas de 1 a 8 e estão ligadas entre as lâminas do coletor, representadas por
retângulos.
1 2 3 4 1 2 3

- + +
8 4

8 7 6 5 7 6 5

a) b)

Figura 4.8 – Comutação da corrente no rotor

Fazendo uma analogia com a figura 4.7, no exemplo a) a corrente divide-se pelos dois
circuitos em paralelo. Quando roda ligeiramente no sentido horário as bobinas 4 e 8 são curto-
circuitadas. Este processo repete-se enquanto o rotor estiver a rodar. Ou seja, a bobina 4 tomará

168
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

o lugar da 5 e a 8 o lugar da 1. Depois das bobinas 4 e 8 serão as 3 e 7 a ser curto-circuitadas e


assim sucessivamente. Durante este processo existe uma inversão no sentido da corrente nas
bobinas de modo que o binário tenha sempre o mesmo sentido. Nas figuras 4.9 a) a e) está
demonstrado o processo de inversão da corrente na bobina 8. A escova está fixa e as lâminas
do coletor deslocam-se da esquerda para a direita. Na figura 4.9 a) a corrente que circula na
bobina 8 provém da bobina 7 e juntamente com a corrente da bobina 1 são conduzidas para a
escova. Nos momentos representados de b) a d) verifica-se que a corrente que circula na escova
provém das bobinas 1 e 7 ao mesmo tempo que a bobina 8 está curto-circuitada. Durante este
tempo a energia magnética armazenada na bobina 8 é dissipada através de uma corrente que se
fecha pela escova. Na figura 4.9 e) a inversão da corrente na bobina 8 está completa, neste
momento a corrente que circula nesta bobina provém da bobina 1. Este processo irá repetir-se
continuamente para todas as bobinas da máquina e lâminas do coletor.

7 8 1 7 i 8 1

Colector v v

Escova

a) b)

7 i 8 1 7 i 8 1
v v

c) d)

7 8 1

e)

Figura 4.9 – Processo de inversão da corrente numa bobina

169
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Teoricamente, o processo de comutação (inversão da corrente) deveria ser linear e estar


concluído quando a escova deixasse de curto-circuitar as duas lâminas (tempo de comutação),
tal como representado na curva B da figura 4.10. O tempo de comutação (Tc) resulta da
expressão (4.2) e depende fundamentalmente da largura da escova do coletor (le), da espessura
do isolamento entre lâminas (li) e da velocidade tangencial do deslocamento das lâminas.

le − li
Tc = (4.2)
v

Por seu lado, a velocidade tangencial determina-se através de (4.3) e depende do diâmetro
do coletor (DC) e da velocidade de rotação n.

 Dc n
v= (4.3)
60

Muita das vezes a comutação não é linear, a corrente inverte completamente antes do tempo
de comutação (comutação avançada ou sobre comutação) ou já depois do tempo (comutação
retardada ou sub-comutação). Qualquer um destes fenómenos é visível manifestando-se em
faíscas elétricas no coletor.

Figura 4.10 – Característica de comutação

Estes fenómenos têm ação direta no funcionamento da máquina e resulta da reação


magnética do induzido com influência direta na velocidade dos motores e na tensão de saída
dos geradores.

Estudemos agora o princípio de funcionamento de uma máquina de corrente contínua como


gerador. Para tal é necessário recorrermos uma vez mais aos conceitos de eletromagnetismo,
nomeadamente à lei da força de Lorentz calculada pela expressão (4.4).

170
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

F = q. ( E + v  B ) (4.4)

Esta permite calcular a força exercida sobre uma partícula de carga q na presença de campos
elétricos e magnéticos. No caso de existir apenas campo elétrico a expressão (4.4) toma a forma
de (4.5).

F = q.E (4.5)

Neste caso a força age na direção do campo elétrico e é independente do movimento da


partícula. Por outro lado, na presença de um campo magnético, a força depende da velocidade
de deslocamento da carga elétrica e resulta do produto externo entre o vetor da velocidade e da
indução magnética, tal como em (4.6).

F = q. ( v  B ) (4.6)

Deste modo conclui-se que a força aplicada sobre a partícula é sempre perpendicular ao
plano definido pelos vetores da velocidade e da indução como indicado na figura 4.11, no caso
de a partícula estar carregada positivamente.
F

+
 v

Figura 4.11 – Força exercida sobre uma carga positiva em movimento

A expressão (4.6) também pode ser escrita como em (4.7), em que  é o menor ângulo entre
o vetor da velocidade da partícula e o vetor da indução magnética.

F = qvBsen ( ) (4.7)

Verifica-se assim que a força magnética é nula quando a carga se encontra parada ou quando
 é 0° ou 180°, ou seja, quando a partícula se desloca paralelamente ao campo magnético. De
uma forma expedita a direção da força pode ser determinada pela regra da mão direita indicada
na figura 4.12.

171
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Figura 4.12 – Força aplicada sobre uma carga elétrica positiva

Para se melhor entender este conceito consideremos que um condutor animado de uma certa
velocidade atravessa um campo magnético como indicado na figura 4.13.

Figura 4.13 – Força de Lorentz aplicada às partículas de um condutor em movimento

Neste caso verifica-se que as cargas positivas sofrem uma força no sentido ascendente e as
negativas no sentido descendente. Deste modo obtém-se uma diferença de potêncial entre as
extremidades do condutor. Apliquemos agora este estudo à máquina de corrente contínua com
uma única espira da figura 4.14.

Figura 4.14 – F.e.m. induzida numa espira em movimento

172
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

No lado da espira indicado como 1 haverá acumulação de cargas positivas junto da escova e
negativas no lado posto. O contrário acontece no lado indicado como 2. Deste modo regista-se
uma diferença de potencial aos terminais das escovas. Se os lados da bobina se deslocaram 180º
o fenómeno será idêntico. O coletor garante que a polaridade é sempre a mesma. Quando os
lados da espira estão paralelos às linhas de indução magnética a f.e.m. induzida é nula pelo que
qualquer gerador de corrente contínua é sempre constituído por mais de uma bobina de modo
que a f.e.m. seja o mais constante possível.

Considerando que o modelo da figura 4.7 b) está a funcionar como gerador resulta uma f.e.m.
como a da figura 4.15. Como cada lado do enrolamento tem três bobinas em série a f.e.m. total
resulta da soma das contribuições individuais.

E
[V] 3xe

e
8 7 6 5
8
3 2 1 8
4 2 34  t

Figura 4.15 – F.e.m. induzida total

4.4 – Modelo elétrico do gerador

As máquinas de corrente contínua são caracterizadas pela forma como o seu campo
magnético é criado. Nos exemplos indicados até este ponto considera-se que o campo
magnético é constante e criado por magnetos permanentes. Na realidade existem máquinas
deste tipo, mas geralmente têm pequena potência, sendo utilizadas como geradores
(taquigeradoras) ou como motores quando se pretende fazer controlo de velocidade ou de
posição com conversores eletrónicos. Máquinas para aplicações industriais com alguma
potência utiliza-se outros tipos de excitação.

Na figura 4.16 está representado o modelo de uma máquina de corrente contínua de excitação
separada (independente). Tem esta designação porque o circuito de excitação é separado do
circuito da armadura, podendo ter níveis de tensão bastante diferentes. Nesta configuração a
corrente de excitação (if) é variável através do reóstato de excitação (Rf), pelo que o fluxo

173
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

magnético também o é. A bobina Lf pretende apenas representar o fluxo produzido pelo circuito
de excitação.

if Ra

ia
Rc
Uf G E0 U
 --
Rf,Lf

Figura 4.16 – Gerador de excitação separada

Apesar de existirem outros tipos de geradores de corrente contínua a sua aplicabilidade é


bastante reduzida pelo que não serão alvo de estudo.

4.4.1 – Caraterística magnética

Com a máquina em vazio e animada de uma velocidade angular  a f.e.m. depende


fundamentalmente do fluxo magnético (corrente de excitação), tal como se verifica pela figura
4.17 e pela expressão (4.8). A esta curva dá-se o nome de caraterística magnética e é obtida por
ensaio laboratorial.

E0

If

Figura 4.17 – Exemplo de caraterística magnética

Como as peças polares da máquina são feitas de material ferromagnético, para lá de um certo
valor de corrente de excitação o circuito magnético tem tendência a saturar.

174
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

E0 = ka (4.8)

Verifica-se também que a f.e.m. depende da velocidade angular do rotor. No entanto basta
traçar a caraterística magnética para uma qualquer velocidade , uma vez que para outra
velocidade basta fazer uma razão direta entre as velocidades. Para cada valor de corrente de
excitação a f.e.m. para uma qualquer velocidade ’, o novo valor de f.e.m. (E’0) resulta de (4.9)
.

'
E0' = E (4.9)
 0

Como a velocidade das máquinas é dada quase sempre rotações por minuto a expressão (4.8)
toma a forma de (4.10) em que a transformação de ka em k resulta da seguinte manipulação
matemática:

pz pz 2 n pz
E0 = ka  E0 =   E0 =   E0 = n
2 a 2 a 60 60a

E0 = k n (4.10)

Os parâmetros são constantes e dependem de aspetos construtivos da máquina.

4.4.2 – Caraterística externa

Quando o gerador é posto em carga a tensão de saída resulta da expressão (4.11). O seu valor
depende da f.e.m. induzida, da q.d.t. na resistência da armadura, da q.d.t. devido à resistência
de contacto entre as escovas e as lâminas do coletor (Uc) e da reação magnética do induzido
(E).

U = E0 ( i f ) − Ra I a − U c − E (4.11)

Na figura 4.18 está representada, de forma genérica, a evolução da tensão de saída de um


gerador de excitação independente para uma dada velocidade constante e duas correntes de
excitação diferentes. A tensão em vazio U0 é definida pela corrente de excitação (if) regulada
com o reóstato de excitação (Rf). Para uma dada resistência de carga (RL), a tensão de saída
depende das q.d.t. indicadas em (4.11). O valor da resistência de excitação (R’f) é superior a
(Rf), logo a corrente de excitação (i’f) é inferior a (if) pelo que a f.e.m. é menor.

175
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

E0,U
Rfif R fi f
U0
RLia
U
U0
U

if if ia ia

Figura 4.18 – Caraterística externa (variação da excitação)

A determinação da q.d.t. na armadura é fácil de realizar bastando para isso conhecer o valor
da resistência da armadura. Como depende apenas da corrente tem uma característica linear. A
q.d.t. devido à resistência de contacto entre as escovas e o coletor é considerada constante. O
seu baixo valor leva a que geralmente seja desprezada. Por outro lado, a q.d.t. devido à reação
magnética do induzido é difícil de determinar analiticamente uma vez que tem um caracter não
linear. Esta característica, modelizada como uma q.d.t., resulta de uma diminuição do fluxo
magnético devido à distorção que o fluxo da armadura provoca no fluxo de excitação. Este tema
merece uma análise mais profunda que não será abordada neste texto.

O traçado da caraterística externa pode ser obtido por ensaios laboratoriais, principalmente
para se poder determinar os valores da reação magnética do induzido, uma vez que não é linear,
ao contrário das restantes q.d.t.

Na figura 4.19 está representada a influência da velocidade de acionamento na caraterística


externa de um gerador de excitação independente. Como a excitação é independente do rotor a
corrente de excitação manteve-se sempre constante e naturalmente o fluxo magnético também.
Tal como indicado em (4.9) o valor da f.e.m. variou diretamente com a velocidade, neste caso
o gerador foi acionado a uma velocidade angular superior (’) resultando num aumento
generalizado dos valores da f.e.m.

176
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

E0,U
 U0

 U0 RLia
Rfif U
U

if 0 iL iL

Figura 4.17 – Caraterística externa (variação da velocidade)

Tal como indicado anteriormente, existem outros modelos de geradores de corrente contínua,
nomeadamente de excitação paralela, de excitação composta e excitação série. Neste texto
apenas foi estudado o gerador de excitação independente uma vez que os demais têm aplicações
muito específicas pelo que não serão abordados neste texto.

4.5 – Modelo elétrico do motor de corrente contínua

Como as máquinas elétricas de corrente contínua são reversíveis os motores e os geradores


têm a mesma constituição, tanto mecânica como elétrica, pelo que os modelos elétricos são
iguais aos dos geradores. Ao invés de se converter energia mecânica em energia elétrica agora
processa-se o inverso.

4.5.1 – Motor de excitação separada

Na figura 4.18 está representado o modelo de um motor de corrente contínua de excitação


separada. A única diferença entre os dois modelos é o sentido da corrente da armadura e o facto
de existir agora uma força contra eletromotriz (E’) que no entanto se determina através da
expressão (4.8).

177
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

if Ra

ia
Rc
Uf M E U
 --
Rf,Lf

Figura 4.18 – Motor de excitação separada

A corrente da armadura é determinada através de (4.12), e é de compreender que quando


aplicada carga mecânica no veio a velocidade tende a diminuir. Por conseguinte o valor de E’
também diminui levando ao aumento da corrente absorvida.

U − E'
Ia = (4.12)
Ra

No seguimento desta análise, nos motores existem três características que são
obrigatoriamente alvo de estudo, a característica de velocidade n=f(Ia), a característica de
binário T=f(Ia) e característica mecânica T=f(n).

Substituindo a expressão (4.10) em (4.12) e com alguma manipulação matemática obtém-se


(4.13).

U − Ra I a + E
n= (4.13)
k

Conclui-se assim que a velocidade de rotação depende fundamentalmente da tensão de


alimentação e do fluxo de excitação, uma vez que a q.d.t. na armadura é relativamente pequena.
Conforme aumenta a carga aplicada ao motor a reação magnética do induzido leva a uma
diminuição do fluxo criado pelo indutor. Isto tem como efeito um ligeiro aumento da velocidade
de rotação, modelizado com a soma da parcela (E).

Na figura 4.19 está representada a característica de velocidade de um motor de excitação


separada com e sem a reação magnética do induzido. Atualmente as máquinas são equipadas
com enrolamentos específicos para contrariar a reação magnética do induzido pelo que, na
prática, não se considera este efeito, pelo menos quando o rigor nos cálculos assim o permite.
Este tipo de configuração de motor permite que a velocidade não sofra grandes variações

178
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

independentemente da carga aplicada, ou seja pode-se considerar um motor de velocidade


constante.

1800
1600

Velocidade [r.p.m.]
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50
Corrente da armadura [A]

c/ DE s/ DE

Figura 4.19 – Característica de velocidade de um motor de excitação separada

Analisando a expressão (4.13) conclui-se que se de alguma forma o fluxo magnético


(corrente de excitação) for nulo a velocidade do rotor tende para infinito. Nesse caso diz-se que
a máquina embalou ou desarvorou. Esta situação é catastrófica uma vez que até a alimentação
ser cortada a máquina continua a acelerar até se destruir.

Relativamente ao binário mecânico interno, este depende explicitamente do fluxo magnético


de excitação e da corrente da armadura como em (4.14) e representado na figura 4.20.

Tmi = ka I a (4.14)

80
70
60
Binário [Nm]

50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50
Corrente da armadura [A]

Figura 4.20 – Característica de binário de um motor de excitação separada

179
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Mantendo o fluxo constante o binário desenvolvido depende exclusivamente da corrente


absorvida. Por outro lado, para a mesma corrente da armadura é possível variar o binário
alterando a corrente de excitação, no entanto esta variação acontece à custa da variação da
velocidade do rotor.

Na figura 4.21 está representada uma característica mecânica genérica de um motor de


excitação separada. Esta relação entre o binário e a velocidade é descrita pela expressão
(4.15). Nesta expressão não se contabilizou a reação magnética do induzido.

kU k 2 2
Tmi = − n (4.15)
Ra Ra

1000
900
800
700
Binário [Nm]

600
500
400
300
200
100
0
0 500 1000 1500 2000
Velocidade [r.p.m.]

Figura 4.21 – Característica mecânica de um motor de excitação separada

O binário é nulo quando a máquina está em vazio aumentando conforme a velocidade


diminui, fruto do aumento da carga mecânica no veio. Analisando a figura 4.19 verifica-se que
para esta máquina em específico a velocidade varia entre as 1500 e as 1400 r.p.m., pelo que é
nesse intervalo que a característica mecânica deve ser analisada. Para valores inferiores de
velocidade a máquina está em sobrecarga e não pode operar em regime permanente.

4.5.2 – Motor de excitação em derivação

Este motor pode ser designado como de excitação em derivação, paralela ou shunt. Nesta
configuração o circuito de excitação está ligado em paralelo com o circuito da armadura.
Durante este texto usaremos as diversas denominações uma vez que são todas largamente

180
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

utilizadas. Este motor tem um comportamento bastante semelhante ao motor de excitação


independente. Um motor de excitação paralela pode ser ligado como independente, o contrário
só é possível se a tensão do circuito de excitação for igual à da armadura. Na figura 4.22 está
representado o modelo elétrico de um motor de excitação em derivação/paralelo/shunt.

Ra

ia i
Rc

M E
d
id U
-- Rd, Ld

Figura 4.22 – Motor de excitação em derivação

A tensão de alimentação da armadura é igual à tensão aplicada no circuito de excitação e


Como a tensão de alimentação é constante, a corrente de excitação é regulada através da
resistência de campo resultando(4.16)

U
Id = (4.16)
Rc + Rd

Pelo que as expressões (4.13) a (4.15) são totalmente aplicáveis neste tipo de motor. A
diferença reside na corrente da armadura uma vez que resulta de (4.17).

Ia = I − Id (4.17)

Ou seja, existe uma porção da corrente de alimentação que é derivada para o circuito de
excitação, daí excitação em derivação. As características de velocidade, binário e mecânica são
formalmente idênticas às do motor de excitação separada.

Esta configuração evita a necessidade de existir uma fonte de alimentação em corrente


contínua para lá da alimentação da armadura. Como veremos mais adiante a grande mais-valia
da máquina de excitação separada face à de excitação paralela é a facilidade que apresenta em
variar a velocidade mantendo o binário constante.

181
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

4.5.3 – Motor de excitação série

Tal como o nome indica, nesta configuração o circuito de excitação encontra-se ligado em
série com o circuito da armadura tal como representado na figura 4.23.

Rc

Ra Rs,Ls
is i
ia
s

M E U
--

Figura 4.23 – Motor de excitação série

A corrente de excitação varia com a corrente da armadura pelo que é uma máquina de fluxo
variável. Como a corrente que percorre o circuito de excitação poderá ser igual à corrente da
armadura, o circuito de excitação caracteriza-se por um enrolamento com poucas espiras de
elevada secção. A corrente de entrada é igual à corrente da armadura, a do enrolamento série
depende do reóstato de campo Rc ligado em paralelo, como em (4.18).

Rc
Is = I (4.18)
Rc + Rs

Este motor tem a particularidade de embalar se for ligado em vazio. Como o fluxo depende
diretamente da corrente da carga a expressão (4.13) pode ser reescrita (4.19). Se a corrente de
alimentação for muito baixa a velocidade aumenta exponencialmente. Ou seja, este motor tem
de arrancar obrigatoriamente em carga.

U − Ra I a − Rs I s
n= (4.19)
kks I s

Na figura 4.24 está representada a característica de velocidade para este tipo de motor.
Verifica-se que para cargas muito baixas a velocidade é muito elevada, tendendo
assimptoticamente para infinito. Aliás, é o único motor que apresenta na chapa de característica

182
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

o valor máximo de velocidade de modo a garantir a integridade da máquina e definir a corrente


mínima de operação.
10000
9000
8000

Velocidade [r.p.m.]
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
0 20 40 60 80
Corrente [A]

Figura 4.24 – Característica de velocidade de um motor de excitação série

O binário mecânico interno resulta da expressão genérica (4.14), no entanto como o fluxo
depende da corrente do enrolamento série, a expressão pode tomar a forma de (4.20).

Tmi = ka ks I s I a (4.20)

Se a corrente do enrolamento série for próxima da corrente da armadura (Ia≈Is), poderá tomar
a forma de (4.21).

Tmi = KI a2 (4.21)

Em resultado, a característica de binário tem o andamento quadrático indicado na figura


4.25.
180
160
140
120
Binário [Nm]

100
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80
Corrente [A]

Figura 4.25 – Característica de binário de um motor de excitação série

183
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Por uma questão de facilidade na manipulação matemática considera-se que a corrente da


armadura e de excitação são iguais na expressão (4.19). Reescrevendo em ordem à corrente e
substituindo em (4.21) resulta a expressão da característica mecânica (4.22), representada na
figura 4.26.

ka ksU 2
Tmi = (4.22)
 Ra + Rs + kks n
2

250

200
Binário [Nm]

150

100

50

0
0 2000 4000 6000 8000 10000
Vrlocidade [r.p.m.]

Figura 4.26 – Motor de excitação série

Analisando o andamento desta característica verifica-se que o binário é mais elevado a


baixas velocidades diminuindo quadraticamente com o aumento da mesma. Ao contrário dos
motores estudados anteriormente, este é considerado de velocidade variável.

Tem aplicações em gruas, guinchos, elétricos urbanos12 e comboios, ou em aplicações que


carecem de elevado binário de arranque e nunca arrancam em vazio.

4.5.4 – Motor de excitação composta

A configuração com excitação composta resulta da composição entre excitação em derivação


e em série, tal como representado na figura 4.27. Neste caso específico está representado um
motor de excitação composta em curta derivação aditiva. Curta derivação significa que o
enrolamento em derivação está a montante do enrolamento série, ficando mais próximo do

12
Os elétricos da Carris antigos ainda utilizam este tipo de motor.

184
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

circuito da armadura. Longa derivação significa que se situa depois do enrolamento série. As
diferenças são marginais por isso não se fará um estudo mais aprofundado.

Ra Rs,Ls
is
ia
s Rc
M E id U
-- d
Rd, Ld

Figura 4.27 – Motor de excitação composta

A diferença entre a configuração aditiva e subtrativa prende-se com o sentido de ligação do


enrolamento série. Se o enrolamento série for enrolado em sentido oposto denomina-se
excitação composta subtrativa. Esta diferença fica espelhada na expressão (4.23), dependendo
do sentido do enrolamento, o fluxo total poderá ser maior ou menor que o fluxo em derivação
que se mantém constante independentemente da carga.

 = d  ks I s (4.23)

Como a configuração subtrativa tem uma aplicação muito limitada a sua aplicação não será
alvo de análise. Apesar de ser possível, a configuração em excitação composta não costuma
conter reóstato de campo em paralelo com o enrolamento série.

Substituindo a expressão (4.23) na característica de velocidade (4.13) resulta (4.24).

U − ( Ra + Rs ) I a
n= (4.24)
k (d  ks I s )

A diferença mais assinalável entre as expressões é a contribuição do fluxo série uma vez que
a q.d.t. devido resistência do enrolamento série é muito baixa, ainda menor que a da armadura.
Na figura 4.28 está representada a característica de velocidade de um motor de excitação
composta, para comparação está também representada a característica de um motor derivação.

185
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

1600
1400
1200

Velocidade [r.p.m.]
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50
Corrente [A]

Composto Derivação

Figura 4.28 – Característica de velocidade de um motor de excitação composta

A característica apresenta um decréscimo mais acentuado que num motor de excitação em


derivação devido à excitação adicional introduzida pelo enrolamento série. Ao contrário da
componente em derivação a contribuição do enrolamento série varia com a corrente da carga.

Do mesmo modo, característica binário resulta da contribuição dos enrolamentos em


derivação e série como na expressão (4.25).

Tmi = ka I a  ka ks I a2 (4.25)

Na figura 4.29 está representada a característica de binário de um motor de excitação aditiva.

100

80
Binário [Nm]

60

40

20

0
0 10 20 30 40 50
Corrente [A]

Composto Derivação

Figura 4.29 – Característica de binário de um motor de excitação composta

186
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Fica claro a contribuição do enrolamento série na característica de binário. A adicionar à


componente constante produzida pelo enrolamento em derivação, existe uma componente
quadrática associada à corrente da armadura.

A característica mecânica desta máquina está representada na figura 4.30, em comparação


com um motor de excitação derivação.
350
300
250
Binário [Nm]

200
150
100
50
0
0 500 1000 1500 2000
Velocidade [r.p.m.]

Composto Derivação

Figura 4.30 – Característica mecânica de um motor de excitação composta

As aplicações usuais deste tipo de máquina são laminadoras, tesouras, guilhotinas e prensas.
Podem também ser utilizadas em guinchos, gruas ou elevadores que requeiram elevado binário
de arranque, que sejam propensos a mudanças de carga súbitas com variações súbitas entre a
plena carga e o vazio.

São máquinas com elevado binário de arranque como os motores serie, porém têm uma
característica de velocidade mais linear.

Nas expressões (4.24) e (4.25) existe um coeficiente ks que multiplicado pela corrente
permite determinar o fluxo produzido pelo enrolamento série. A sua determinação só seria
possível com um ensaio para a determinação da característica magnética alimentando o
enrolamento série. Seria interessante representar a contribuição do fluxo produzido pelo
enrolamento série, referido ao enrolamento de derivação. Ou seja, qual seria a corrente que se
deveria adicionar ao enrolamento derivação para fazer o mesmo efeito que o enrolamento série.
Esse valor resulta da expressão (4.26) em que a relação do número de espira do enrolamento
série e derivação se dá o nome de razão de equivalência.

Ns
I ex = I d + Ia (4.26)
Nd

187
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Desta forma define-se um motor de excitação em derivação equivalente a um composto. Para


qualquer valor de corrente, o motor de excitação em derivação com a corrente de excitação (Iex)
teria o mesmo comportamento que um motor de motor de excitação composta.

4.6 – Métodos de variação de velocidade de motores de corrente contínua

Apesar da distribuição de energia em corrente alternada ser o standard desde as primeiras


décadas do século XX, as máquinas de corrente contínua tiveram uma grande longevidade
devido à facilidade em variar a velocidade. Só com o aparecimento da eletrónica de potência é
que as máquinas de corrente alternada, principalmente máquinas assíncronas trifásicas,
conseguiram ocupar o lugar das máquinas de corrente contínua.

4.6.1 – Variação da resistência da armadura

Este método consiste em adicionar, através de um reóstato, uma resistência ao enrolamento


da armadura. Recordando a expressão (4.13), a resistência vai aumentar a q.d.t. na armadura e
desse modo reduzir a f.e.m. e consequentemente a velocidade. No caso dos motores de
excitação separada, derivação e composta como o fluxo é contante o binário não sofre
alterações. Apresenta elevadas perdas por efeito de Joule o que reduz o rendimento. Tem um
intervalo de regulação reduzido, principalmente nos motores de excitação em derivação e
composta.

Nas figuras 4.31 a 4.33 a) e b) estão representadas de forma genérica respetivamente as


características de velocidade e mecânica para vários valores de resistência adicional.

188
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

n T
R1
R2 R1
R3 R2
R3

R3 >R2>R1 R3 >R2>R1
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.31 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de


excitação derivação/independente

n T

R1 R1
R3 >R2>R1 R2 R3 >R2>R1 R2
R3 R3
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.32 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de


excitação série

n T
R1

R1 R2
R2
R3 R3

R3 >R2>R1 R3 >R2>R1
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.33 – Variação de velocidade com variação de resistência para um motor de


excitação composta

189
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

4.6.2 – Variação da corrente de excitação

A variação da corrente de excitação permite aumentar ou diminuir a velocidade nominal. O


aumento da velocidade resulta da diminuição da corrente de excitação embora exista uma
diminuição do fluxo. No processo oposto, aumentando a excitação a velocidade diminui,
embora neste caso a relação possa não ser direta se entrarmos na zona de saturação. A gama de
variação de velocidade é relativamente alargada e depende, por um lado, da corrente máxima
de excitação admissível pelo enrolamento de excitação e pelo outro do valor mínimo da
corrente, neste caso relacionado com a velocidade máxima admissível. Este método produz
menos perdas uma vez que as correntes são muito mais reduzidas em comparação com as da
armadura.

Nas figuras 4.34 a) e b) estão representadas, respetivamente, as características genéricas de


velocidade e mecânica de um motor de excitação derivação/independente.

n T

i1 i1

i2

i2
i2<i1
i2<i1
0 n
0 Ia
a) b)

Figura 4.34 – Variação de velocidade com variação da corrente de excitação para um


motor de excitação derivação/independente

Verifica-se que a diminuição da corrente de excitação leva efetivamente ao aumento da


velocidade em vazio do motor, no entanto a variação é mais acentuada devido à perda de
binário.

Nas figuras 4.35 a) e b) estão representadas, respetivamente, as características genéricas de


velocidade e mecânica de um motor de excitação série. No caso destes motores a variação da
corrente de excitação é conseguida à custa da inserção de uma resistência em paralelo com o
enrolamento de excitação. Nesse sentido só é possível diminuir a corrente de excitação.

190
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

n T

i2
i2
i2<i1 i1 i2<i1 i1
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.35 – Variação de velocidade com variação da corrente de excitação para um


motor de excitação série

A variação da corrente de excitação em motores de excitação composta não é eficiente, uma


vez que a diminuição da corrente de excitação do enrolamento em derivação e consequente
diminuição do fluxo, leva a um aumento da corrente da armadura e do fluxo produzido pelo
enrolamento série. Desta forma a variação é pouco pronunciada.

É obrigatório que a excitação não seja nula, sob o perigo da máquina embalar. Uma forma
mais ou menos expedita para se detetar se a máquina está a arrancar sem excitação é observar
a velocidade de arranque. Normalmente a aceleração é bastante brusca, se não tiver excitação
o arranque é bastante mais lento e prolongado.

4.6.3 – Variação da tensão de alimentação

A variação da tensão de alimentação é uma forma bastante eficaz de variar a velocidade do


motor principalmente em máquinas de excitação separada, uma vez que o fluxo se mantém
constante. Além disso como a resistência da armadura se mantém constante não há aumento
das perdas por efeito de Joule, pelo que é um método bastante eficiente. Este método quando
aplicado às máquinas de excitação independente tem a denominação de sistemas Ward-
Leonard.

Observando os modelos elétricos das máquinas de excitação em derivação e composta, não


é possível variar a tensão de alimentação sem que exista variação do fluxo uma vez que ambos
têm enrolamento em derivação.

191
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Em qualquer das situações apenas é possível diminuir a velocidade uma vez que não é de
todo aconselhável aumentar a tensão de alimentação para lá do seu valor nominal.

Nas figuras 4.36 a) e b) estão representadas, respetivamente as características de velocidade


e mecânica de um motor de excitação separada para diferentes valores da tensão de alimentação.
Numa primeira análise verifica-se que as características de velocidade são paralelas o que
demonstra que o fluxo é constante, como a q.d.t. é muito reduzida a velocidade depende
exclusivamente da tensão. No caso do binário, mantém-se praticamente constante numa gama
muito alargada de velocidades.

n T
U1

U2

U1 >U2 U1
U1 >U2 U2
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.36 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um


motor de excitação separada

No caso das máquinas de excitação em derivação a redução da tensão da armadura é


acompanhada com a diminuição da corrente de excitação. Por um lado, diminui-se a velocidade
com a tensão, por outro tem tendência a aumentar pela diminuição do fluxo. Como o fluxo e o
binário estão intimamente ligados a velocidade irá diminuir como se concluis das figuras 4.37
a) e b).

192
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

n T
U1
U1
U2

U2

U1 >U2 U1 >U2
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.37 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um


motor de excitação em derivação

Uma vez mais esta técnica não tem grande aplicação em máquinas de excitação composta.

No caso da excitação série… como se pode ver nas figuras 4.38 a) e b).

n T

U1
U1
U1 >U2 U2 U1 >U2 U2
0 Ia 0 n
a) b)

Figura 4.38 – Variação de velocidade com variação da tensão de alimentação para um


motor de excitação série

4.7 – Frenagem de motores de corrente contínua

Tal como abordado no capítulo dois a frenagem de motores de corrente contínua pode ser
efetuada de várias formas. O mais simples é a paragem por amortecimento natural já
amplamente abordada anteriormente. Os restantes métodos são por inversão da tensão,
dinâmica e regenerativa.

193
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

4.7.1 – Frenagem por inversão da tensão de alimentação

A frenagem por inversão da tensão de alimentação também conhecida por contra corrente
pretende inverter o sentido de rotação do rotor de modo a parar a rotação. Tal como nas
máquinas assíncronas trifásicas é necessário desligar a alimentação da armadura antes que o
sentido de rotação se inverta. Este tipo de frenagem é bastante exigente em termos de corrente
tal como se pode constatar pela expressão (4.27) uma vez que a corrente resulta da soma da
tensão e f.e.m. Para limitar a corrente transitória pode ser colocada em séria com o circuito da
armadura uma resistência R.

U + E'
Ia = (4.27)
Ra

U +E' U E' U k 
Ia =  Ia = +  Ia = + a
Ra + R Ra + R Ra + R Ra + R Ra + R

 U k  
T = ka I a  T = ka  + a 
 Ra + R Ra + R 

kaU ka2 2
T= + (4.28)
Ra + R Ra + R

Durante o processo de frenagem o primeiro termo da expressão (4.28) mantém-se constante


pelo que quando a velocidade se anula volta a rodar em sentido contrário, pelo que é necessário
desligar a alimentação antes que isso aconteça.

4.7.2 – Frenagem dinâmica

O processo da travagem dinâmica inicia-se com o desligar da tensão de alimentação e o ligar


de uma resistência aos terminais da armadura. Como a máquina tem inércia nos instantes
iniciais a velocidade de rotação é praticamente igual à que tinha enquanto estava alimentada.
Assim continua a subsistir uma força eletromotriz que depende da velocidade de rotação. Se
for ligada uma resistência a máquina comporta-se como um gerador em carga. Assim a energia
cinética armazenada nas massas girantes vai ser convertida em energia elétrica dissipada sobre
a resistência adicional, tal como em (4.29). Este método permite diminuir o tempo de paragem

194
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

do rotor para além de poder limitar a corrente no início da travagem, algo impossível na inversão
da tensão.

E' K 
Ia =  Ia = a (4.29)
Ra + R Ra + R

Conforme a velocidade vai diminuindo a f.e.m. também diminui bem como a corrente da
armadura e o binário de travagem (4.30). Desta forma a ação de travagem é mais eficaz nos
primeiros instantes diminuindo progressivamente com a velocidade.

ka ka2 2
Tmi = ka I a  Tmi = ka   Tmi =  (4.30)
R + Ra R + Ra

No caso dos motores série resulta de (4.31).

ka2 ks2 I a2
Tmi =  (4.31)
R + Ra

Em ambos os casos quando a velocidade se anula o binário de travagem também se anula.

4.7.3 – Frenagem regenerativa

A travagem regenerativa ao contrário da dinâmica cuja energia é dissipada na resistência,


permite recuperar energia e enviar para a fonte.

A trabalhar como motor a f.e.m. é sempre inferior à tensão de alimentação. Se for aplicada
uma diminuição brusca da tensão de alimentação a velocidade não diminui instantaneamente.
Como existe inercia durante algum tempo (período dinâmico) o valor da f.e.m. é superior à
tensão de alimentação. Nesse caso a corrente passa a ter sinal negativo e a máquina torna-se
dinamicamente um gerador. A potência produzida depende da diminuição da tensão de
alimentação e da inércia da máquina.

U − ka
Ia =  (4.32)
Ra

Quando a velocidade baixar o suficiente para que a f.e.m. seja menor que a tensão de
alimentação a máquina volta a trabalhar como motor à nova tensão. Na figura 4.39 está
exemplificado de uma forma genérica o andamento da corrente durante uma travagem
regenerativa.

195
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

U
E

0 t

0 t

Figura 4.39 – Exemplo genérico de uma travagem regenerativa

4.8 – Balanço de potência

Nas máquinas de corrente contínua podemos identificar três tipos de perdas, nomeadamente
perdas elétricas na armadura e no circuito de excitação, perdas mecânicas e ventilação e perdas
no ferro na armadura.

As perdas no circuito da armadura são as mais importantes e naturalmente variam com a


carga, ao passo que as perdas no circuito de excitação são consideradas constantes, exceto nas
máquinas com excitação série. As perdas mecânicas também são consideradas constantes.
Como estas máquinas podem trabalhar a várias velocidades muitas vezes opta-se por ventilação
forçada pelo que nesse caso a máquinas em si não tem perdas por ventilação.

Apesar de ser alimentado em corrente contínua podem aparecer perdas no ferro, o rotor tem
cavas onde são instaladas as bobinas, por conseguinte existe uma diferença na relutância entre
as cavas e os dentes. Essa diferença de relutância é suficiente para criara variações do fluxo e
criar perdas no ferro. Na figura 4.40 está representado um possível balanço de potência para
um motor de corrente contínua. Neste caso consideram-se que as perdas por efeito de Joule no
circuito de excitação estão juntas com as da armadura. Alguns autores preferem representar
estas perdas separadamente. Estas perdas estão representadas de forma genérica uma vez que
são determinadas de forma diferente conforme o tipo de excitação da máquina.

196
Fundamentos de máquinas elétricas – Máquina de corrente contínua

Pcu = Ra I a2 + Rex I ex2 Pmec + Pfe

Pin = UI Pmi = E ' I a2 Pout = T 

Figura 4.40 – Balanço de potência para um motor de corrente contínua

O rendimento é determinado da mesma forma que o estudado na secção 2.8, resulta do


quociente entre a potência ativa de saída pela de entrada. O ponto de melhor rendimento obtém-
se quando a perdas variáveis igualam as constantes. Relembramos que à exceção da máquina
série, as perdas no circuito de excitação são constantes.

197
Fundamentos de máquinas elétricas - Máquina de corrente contínua

BIBLIOGRAFIA

• Máquinas eléctricas, Volume 1. A.V, Ivanov-Smolensky, Editorial Mir, Moscovo


(espanhol) IVA 621.313

• Máquinas elétricas, Volume I, M Kostenko, L. Piotrovsky, Edições Lopes da Silva,


1979 KOS 621.313

• Electric machinery Fundamentals, Fourth Edition, Stephen J. Chapman, McGraw-


Hill International Edition CHA 621.313

• Electrical Machines, problem Solvers, Research and Education Association, 1990,


FOG 621.313

• Accionamentos eletromecânicos de velocidade variável, João C. P. Palma, Fundação


Calouste Gulbenkian

• Fundamentos de electrónica de potência, João C. P. Palma, ISEL 2018 PAL. 621.38

• Electric machinery and transformers / Bhag S. Guru, Hüseyin R. Hiziroglu,


Publicação: New York : Oxford University Press, 2001, GUR. 621.313

• Electric machinery, 6th edition / A. E. Fitzgerald, Charles Kingsley, Stephen D.


Umans, Boston : McGraw-Hill, 2003, FIT. 621.313

• Transformadores de potência de medida e protecção, Enrique Ras, Editora Almedina,


1975

• Electrical machines, drives, and power systems, 4th ed. / Theodore Wildi, Upper
Saddle River : Prentice Hall, 2000, WIL. 621.313

• Cravalho C., “Transformadores” – Editorial Engenharia, FEUP, 1983

• Máquinas elétricas e acionamento, Edson Bim. – Rio de janeiro, Elsevier, 2009

• http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/hframe.htm

199

Você também pode gostar