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Siga o “Coelho Branco” e descubra as referências à teologia cristã que estão por trás da
obra cinematográfica dos irmãos Wachowski
Quando assisti ao filme Matrix pela primeira vez, não percebi de imediato todas as
implicações filosóficas e religiosas ali presentes. Apenas julguei ser um filme bem feito
com ótimas cenas de ação e suspense. Era, portanto, só mais um enlatado americano
diante de tantos outros que já havia me acostumado a ver.
Também é digno de nota o fato de Matrix ter sido lançado no fim de semana da páscoa
de 1999, pois há numerosas referências cristãs no filme, sendo algumas bastante óbvias,
e outras muito sutis.
Em Lucas 7.19, por exemplo, você poderá ler acerca da expectativa messiânica nos
tempos bíblicos: "E João, chamando dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus,
dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?". Está bastante claro no
filme que Neo é apresentado como o Escolhido, uma espécie de redentor cuja vinda
havia sido profetizada pelo oráculo (uma referência mais clara ao "Oráculo de Delfos",
presente, sobretudo, nos textos clássicos da filosofia grega; e também uma possível
referência aos oráculos proféticos do Antigo Testamento, mui especialmente às
profecias de Isaías acerca da vinda do Mashiach, o Ungido de Deus - cf. Isaías, capítulo
53).
O termo grego "neo" significa "novo", indicando a nova vida que o Escolhido traria aos
humanos quando se completasse a libertação do domínio das máquinas. Trata-se,
também, de uma referência ao ofício do Messias bíblico - "Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres" (João 8.36).
Cristo também é apresentado nas Escrituras como o detentor da nova vida, oferecida à
humanidade - "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo" (II Coríntios 5.17).
O nome de Neo, quando ainda dentro da Matrix, era Thomas Anderson. Ambos também
possuem implicações cristãs. O primeiro nome lembra um discípulo de Cristo, chamado
Tomé; muito conhecido por seu ceticismo quando ouviu falar da ressurreição de Cristo
(João 20.24-29). Neo também é assolado constantemente por dúvidas acerca de suas
escolhas e da possível condição imposta pelo oráculo, de ser o Escolhido. Já o
sobrenome Anderson, um termo sueco que significa "filho de André", é derivado da raiz
grega andr-, que significa "homem". Etimologicamente, portanto, Anderson significa
"filho do homem", um epíteto assumido por Jesus - "E, tomando consigo os doze, disse-
lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos
profetas foi escrito" (Lucas 18.31).
Outra referência direta no filme se dá na cena em que Neo é comparado com Jesus,
quando Choi, após receber o software ilegal, diz: "Aleluia. Você é o meu salvador, cara.
Meu Jesus Cristo pessoal". Lembremos ainda que Jesus foi batizado no Rio Jordão por
João Batista - "Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser
batizado por ele" (Mateus 3.13) -, e Neo é "batizado" no tanque de refugo de bateria
humana por Morpheus e pela tripulação de Nabucodonosor. Assim como Jesus foi
tentado pelo Diabo no deserto da Judéia (Lucas 4.1-13), no filme Neo é tentado pelos
agentes da Matrix para trair Morpheus. O evangelho afirma que o Filho do Homem veio
"dar a sua vida em resgate de muitos" (Marcos 10.45); Neo sacrifica a própria vida para
salvar Morpheus e é ressuscitado, na sala 303, por Trinity (em inglês, Trindade) - que
representa a divindade triunitária que, na Bíblia, ressuscitou Jesus (Atos 2.23,24,32;
3.15; 4.10; 5.30; 10.40,41; Romanos 8.11; 10.9). Após a ressurreição, Cristo apresentou
um corpo glorificado, não mais sujeito às limitações humanas (Lucas 24.31. João
20.19,26). Do mesmo modo, depois de voltar à vida com o beijo de Trinity, Neo assume
também um novo corpo dentro da Matrix, com extraordinários poderes.
Além dos paralelos levantados entre Neo e Jesus Cristo, o filme ainda apresenta outros
paralelos com personagens e situações bíblicas. Cypher, por exemplo, é o traidor dos
rebeldes e pode ser uma referência a Judas Iscariotes, o traidor de Jesus, ou ao próprio
Lúcifer - já que o nome Cypher parece ser uma forma reduzida de Lúcifer. Trinity,
como já vimos, representa a Trindade e assume um papel importantíssimo no
desdobramento da trama. Zion, no filme, é a última cidade humana, onde reside a última
esperança dos rebeldes.
Todas as referências intertextuais à teologia cristã assinaladas neste artigo não são as
únicas leituras possíveis. Haverá, ainda, diversas leituras cristãs dos detalhes
metaforizados no filme. Essa multiplicidade de leituras - sem mencionar os aspectos
filosóficos, literários e dogmáticos de outras religiões, também presentes no filme -
leva-nos a uma constatação cada vez mais patente: trata-se, sem sombra de dúvida, de
um filme inteligente e conceitualmente bem acabado. Penso que, apesar de possuir um
pressuposto religioso frágil - a notória opção pelo pluralismo religioso -, o filme trata de
vários temas complexos de forma magistralmente bela. Fazendo valer, portanto, o
ingresso.
IRWIN, William (org.). Matrix: Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Madras,
2003.
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Cultura
Sinopse
Dirigido por Larry e Andy Wachowski, com Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss,
Laurence Fishburne e grande elenco, o filme contempla temas filosóficos e religiosos
com grande maestria.
O grande assunto que o filme aborda é a questão: O que vemos em nosso dia a dia é
verdadeiro? O que é real? O mundo é apresentado como uma farsa, construído por uma
das mais poderosas máquinas com inteligência artificial para nos controlar.
Proezas de tirar o fôlego. Efeitos visuais alucinantes. Cenas de arrebentar. Keanu
Reeves e Laurence Fishburne lutam pela liberdade da humanidade. Um suspense
cibernético - com fundo filosófico - para se ver e rever muitas vezes. Escrito e dirigido
pelos irmãos Wachowski (Ligados pelo Desejo), Matrix traz uma surpreendente
história, com efeitos especiais arrasadores, marcando uma nova era no cinema.
Paz e bênção!
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Integrante do Comitê Estadual (RJ) de Referência e Apoio ao Ano da Bíblia no Brasil,
Deivinson Gomes Bignon é mestre em Ciências da Religião com especialização em
Bíblia e é formado em Letras (Português e Literaturas); exercendo as seguintes
atividades: pastor auxiliar da Igreja Evangélica Congregacional de Vila Paraíso,
professor, conferencista, escritor e cartunista. Autor dos livros “Voltando para a Bíblia”
(2002) e “Recados do céu: a ética profética de Deus para as grandes questões da nossa
época” (2007).
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Comentários
03/03/2009 05:38 - Withson [não autenticado]
Bem sr. Bruno, isso claramente foi uma piada muito requintada dos irmãos Wachowski,
já que no próprio site oficial (www.whatisthematrix.com), antigamente, eles faziam
paralelos não apenas ao cristianismo, mas também com o budismo e o hinduísmo. Para
mim este é mais um filme com um background ecumênico, ou seja, que tenta unir e
dizer que todas as religiões e caminhos levam à Deus. No episódio 2 (ou seria o 3?) o
personagem Mouse fica que nem um cachorrinho agradecendo Neo por tê-lo salvado do
mundo ilusório. E Neo diz algo assim: "Não fui eu, mas a tua fé que te salvou". Olhando
assim poedemos dizer, "Olhe só como isso é bíblico". Mas a Teologia do filme não é
nada bíblica, pois apresenta o Criador como um Arquiteto matemático (como o GADU
dos maçons) e não fala nada sobre o deus do "mundo real". Mas o que é
subliminarmente sugerido é que seja algo como Nam-Myoho-Rengue-Kyo do budismo
ou Brahman do Hinduísmo. Ou seja: um conceito Deísta (e não Teísta) do universo. O
que Neo fala a Mouse é o conceito de auto-salvação do hinduísmo. Não sou Teólogo,
mas fazer os paralelos desse filme com o cristianismo, sem criticar os errôneos paralelos
com outros enganos teológicos, não minha opinião foi um erro. Esse filme pode ter sido
o pontapé inicial para a criação da cultura de ansiedade pela vinda do messias da Nova
Era Aquariana: o Maitreya Buddha - o Anticristo. E atualmente, não por coincidência,
vemos o filme O Dia em que a Terra Parou sendo estrelado também por Keanu Reeves