Você está na página 1de 5

Sequências e Recorrências – Soluções

Problema 1. O segundo e o quarto termo de progressão geométrica são 2 e 6, respectivamente.


Qual dos seguintes itens apresenta um possível valor para o primeiro termo desta progressão?
2√3 √3
A) −√3 B) − C) − D) √3 E) 3
3 3

Resposta: B

Solução: Sejam 𝑎 o primeiro termo da PG e 𝑞 a razão. Dos dados, temos 𝑎2 = 𝑎𝑞 = 2 e


𝑎 2
𝑎4 = 𝑎𝑞 3 = 6. Dividindo as equações temos 𝑞 2 = 3 ⇔ 𝑞 = ±√3. Assim, 𝑎 = 𝑞2 = ± 3 e

2√3
racionalizando temos 𝑎 = ± .
3

Problema 2. Os quatro primeiros termos de uma PA são 𝑝, 9, 3𝑝 − 𝑞 e 3𝑝 + 𝑞. Qual é o termo


2010 dessa sequência?
A) 8041 B) 8043 C) 8045 D) 8047 E) 8049

Resposta: A

Solução: A razão 𝑟 da PA é igual à diferença entre termos consecutivos. Usando o terceiro e o


quarto termos 𝑟 = (3𝑝 + 𝑞) − (3𝑝 − 𝑞) = 2𝑞. Logo, 𝑝 + 2𝑞 = 9 e 3𝑝 − 𝑞 − 2𝑞 = 9 ⇔
3𝑝 − 3𝑞 = 9 ⇔ 𝑝 − 𝑞 = 3. Substituindo 𝑝 = 𝑞 + 3 na equação anterior 𝑞 + 3 + 2𝑞 = 9 ⇔
𝑞 = 2 e 𝑝 = 2 + 3 = 5. O termo 2010 dessa sequência é 𝑝 + 2009 ⋅ 2𝑞 = 5 + 2009 ⋅ 4 =
8041.

Problema 3. Pedrinho deseja subir uma escada com 6 degraus. Ele pode subir 1 degrau ou 2
degraus de cada vez. De quantas maneiras diferentes Pedrinho pode subir essa escada? Por
exemplo, uma maneira de subir e subir 1 degrau quatro vezes e, em seguida, 2 degraus uma vez.
Outra maneira e subir 2 degraus no começo e então subir 1 degrau quatro vezes.
A) 5 B) 6 C) 8 D) 9 E) 13

Resposta: E

Solução: Seja 𝑎𝑛 o número de maneiras de subir uma escada com 𝑛 degraus subindo um ou dois
degraus de cada vez. Temos 𝑎1 = 1 e 𝑎2 = 2. Note que para chegar em 𝑛 degraus o último
movimento foi subir 1 degrau ou subir 2 degraus. Logo 𝑎𝑛 = 𝑎𝑛−1 + 𝑎𝑛−2 . Dessa forma, temos
𝑎3 = 3, 𝑎4 = 5, 𝑎5 = 8 e 𝑎6 = 13.
Problema 4. (OBM) Considere abaixo as sequencias de números inteiros que possuem as duas
propriedades a seguir:
i. Os dois primeiros termos são dados.
ii. Cada um dos termos seguintes e o resto da divisão por 9 do produto dos dois termos
anteriores.

a) Qual e o vigésimo termo da sequência 2, 3, ...?

b) Qual e o 2018° termo da sequência 1, 2, ...?

c) Apresente duas sequencias cujo 2018º termo e igual a 1.

Solução:
a) Vamos calcular os termos até encontrar um padrão. O terceiro termo é 6 (resto de 6 por 9) e
quarto termo é o resto 0 (resto de 18 por 9) e cada termo seguinte será 0, pois o produto será 0.
2, 3, 6, 0,0,0, …
Portanto, o vigésimo termo é 0.

b) Novamente vamos calcular os termos até encontrar o padrão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
1 2 2 4 8 5 4 2 8 7 2 5 1

14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
5 5 7 8 2 7 5 8 4 5 2 1 2

Temos dois números consecutivos iguais na mesma ordem nas posições 25 e 26 e podemos
concluir que o padrão se repete a cada 24 passos. Fazendo a divisão de 2018 por 24 temos
2018 = 24 ⋅ 84 + 2. O padrão será repetido 84 vezes e teremos 1 na posição 2017 e 2 na posição
2018.

c) No enunciado fala que os dois termos iniciais precisam ir de 1 a 9, então poderíamos colocar
dois números que deixam resto 1 e simplesmente teríamos todos os termos a partir do terceiro
iguais a 1. Por exemplo, 1,1,..., 10, 1, ... e 1, 19, ....

Também podemos resolver com essa restrição de os dois primeiros termos serem de 1 a 9. Basta
deslocar o padrão que vimos no anterior. Se começarmos com 2,1, … ou com 5,1, … teremos o
mesmo padrão do item b e após 84 repetições teremos o termo 2018º igual ao 2º que nesses
casos são o próprio 1.

Problema 5. (OBMEP) Dizemos que uma fila de cadeiras de cinema está ocupada de forma
quase-cheia quando não há duas cadeiras consecutivas ocupadas, mas a próxima pessoa a chegar
será obrigada a sentar-se ao lado de uma cadeira já ocupada. Uma fila de 5 cadeiras tem
exatamente quatro ocupações quase-cheias, mostradas abaixo. As cadeiras marcadas com X
indicam que elas estão ocupadas.
a) Uma fila de 6 cadeiras possui cinco ocupações quase-cheias. Marque com X as cadeiras dessas
ocupações.

b) Quantas são as ocupações quase-cheias em uma fila de 8 cadeiras em que a segunda cadeira já
está ocupada?

c) A tabela abaixo apresenta o número de ocupações quase-cheias para algumas filas de cadeiras.
Calcule o total de ocupações quase-cheias em uma fila com 19 cadeiras. Justifique.

Solução:
a) Considerando as cadeiras numeradas de 1 a 6 da esquerda para a direita. Temos 2 ocupações
em que a primeira cadeira ocupada é a 2 e 3 ocupações em que a primeira cadeira ocupada é a 1.

b) Observe que se retirarmos as 3 cadeiras da esquerda, então as 5 que sobram precisam ter uma
ocupação quase-cheia de 5 cadeiras. E vale a volta também, adicionando as três cadeiras com a
do meio ocupada em cada ocupação quase-cheia de 5 cadeiras temos uma ocupação quase-cheia
de 8 cadeiras. Portanto, há 4 possibilidades usando as 4 ocupações quase-cheias de 5 cadeiras.

c) Seja 𝑎𝑛 o número de ocupações quase-cheias de 𝑛 cadeiras.

Vamos usar a ideia do item anterior. Considere 𝑛 cadeiras numeradas de 1 a 𝑛 da esquerda para
a direita. Se a primeira cadeira ocupada for a 2, então podemos relacionar cada forma de completar
a ocupação com uma ocupação de 𝑛 − 3 cadeiras e há 𝑎𝑛−3 ocupações. Se a primeira cadeira
ocupada for a 1, então podemos separar a 𝑛 − 2 cadeiras restantes como fizemos no primeiro
caso. Há 𝑎𝑛−2 ocupações. Não existe ocupação quase cheia sem ocupar 1 ou 2, pois uma pessoa
poderia sentar na cadeira 1 sem ninguém ao seu lado. Pelo princípio aditivo temos, para 𝑛 ≥ 4,
𝑎𝑛 = 𝑎𝑛−2 + 𝑎𝑛−3

Usando esta equação para 𝑛 = 19 e os dados da tabela temos


𝑎19 = 𝑎17 + 𝑎16 = 114 + 86 = 200

Problema 6. (Cone Sul) Determinar se existem inteiros positivos 𝑎1 , 𝑎2 , …. não necessariamente


distintos tais que 𝑎𝑚+1 + ⋯ + 𝑎𝑛 não é divisível por 𝑎1 + 𝑎2 + ⋯ 𝑎𝑚 para quaisquer 𝑚 e 𝑛
inteiros positivos com 1 ≤ 𝑚 < 𝑛.
Solução: Defina a sequência 𝑆𝑛 = 𝑎1 + 𝑎2 + ⋯ + 𝑎𝑛 das somas dos termos até 𝑎𝑛 . Desejamos
que 𝑎𝑚+1 + ⋯ + 𝑎𝑛 = 𝑆𝑛 − 𝑆𝑚 não seja divisível por 𝑆𝑚 = 𝑎1 + 𝑎2 + ⋯ + 𝑎𝑚 . Veja que
𝑆𝑚 |𝑆𝑛 − 𝑆𝑚 ⇔ 𝑆𝑚 |𝑆𝑛 , então basta que a sequência de somas não tenha termos tal que um seja
divisível pelo outro. Ora, podemos tomar 𝑆𝑛 = 𝑝𝑛 onde 𝑝𝑛 é o 𝑛-ésimo número primo. Dessa
forma, cada termo não é múltiplo de outro. Para construir a sequência 𝑎𝑛 , basta notar que
𝑎𝑛 = 𝑆𝑛 − 𝑆𝑛−1 e no caso da sequência de primos seria a diferença entre primos consecutivos.

Problema 7. (Teste Cone Sul) Seja 𝑥1 = 1 e para todo inteiro 𝑛 ≥ 1 defina


𝑥𝑛
𝑥𝑛+1 = 𝑥𝑛 + ⌊ ⌋ + 2;
𝑛
onde ⌊𝑥⌋ denota o maior inteiro que não é maior que 𝑥. Encontre o valor de 𝑥2013.

Resposta: 𝑥2013 = 24121

Solução: Fazendo vários casos pequenos podemos notar que para 2 ≤ 𝑛 < 4 temos
𝑥𝑛+1 − 𝑥𝑛 = 4 e para 4 ≤ 𝑛 < 8 temos 𝑥𝑛+1 − 𝑥𝑛 = 5. Isso nos permite fazer as seguintes
conjecturas
𝑥2𝑘 = 2𝑘 (𝑘 + 1)
𝑘 𝑘+1
e para 2 ≤ 𝑛 < 2 temos
𝑥𝑛 = 𝑥2𝑘 + (𝑛 − 2𝑘 ) ⋅ (𝑘 + 3) = 2𝑘 (𝑘 + 1) + (𝑛 − 2𝑘 )(𝑘 + 3)
𝑥𝑛 = 𝑛(𝑘 + 1) + 2(𝑛 − 2𝑘 )
Vamos provar essa fórmula usando indução em 𝑘. Suponha que vale para todo 𝑛 < 2𝑘+1 . Para
𝑛 + 1 = 2𝑘+1 temos
𝑥2𝑘+1 −1
𝑥2𝑘+1 = 𝑥2𝑘+1 −1 + ⌊ 𝑘+1 ⌋+2
2 −1
Usando a fórmula
𝑥2𝑘+1 −1 = (2𝑘+1 − 1)(𝑘 + 1) + 2(2𝑘+1 − 1 − 2𝑘 ) = (2𝑘+1 − 1)(𝑘 + 2) − 1
(2𝑘+1 − 1)(𝑘 + 2) − 1
𝑥2𝑘+1 = (2𝑘+1 − 1)(𝑘 + 2) − 1 + ⌊ ⌋+2
2𝑘+1 − 1
𝑥2𝑘+1 = (2𝑘+1 − 1)(𝑘 + 2) − 1 + (𝑘 + 1) + 2 = 2𝑘+1 (𝑘 + 2)
𝑘+1
Agora para 2 ≤ 𝑗 < 2𝑘+2 suponha que vale a fórmula (que vale para 𝑗 = 2𝑘+1 )
𝑥𝑗 = 𝑗(𝑘 + 2) + 2(𝑗 − 2𝑘+1 )

𝑥
Veja que 2(𝑗 − 2𝑘+1 ) < 𝑗 + 𝑗 − 2𝑘+2 < 𝑗 e ⌊ 𝑗𝑗 ⌋ = 𝑘 + 2 implicando
𝑥𝑗+1 = 𝑥𝑗 + (𝑘 + 2) + 2 = (𝑗 + 1)(𝑘 + 2) + 2(𝑗 + 1 − 2𝑘+1 )

Satisfazendo a nossa conjectura.

Por indução a fórmula vale para todo inteiro positivo.

Para 𝑛 = 2013 temos 210 < 2013 < 211 e


𝑥2013 = 2013 ⋅ 11 + 2(2013 − 210 ) = 24121

Problema 8. (IMO Shortlist) Uma sequência de números reais 𝑎0 , 𝑎1 , ... é definida pela fórmula:
𝑎𝑖+1 = ⌊𝑎𝑖 ⌋ ∙ {𝑎𝑖 }, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 ≥ 0
Aqui 𝑎0 é um número qualquer. Prove que 𝑎𝑖 = 𝑎𝑖+2 para 𝑖 suficientemente grande.

Solução: Vejamos alguns casos que facilitam nossa análise.


 Se 𝑎𝑛 inteiro para algum 𝑛
Temos na parte fracionária {𝑎𝑛 } = 0, 𝑎𝑛+1 = 0 e todos os números seguintes serão 0. Logo, a
partir de algum momento 𝑎𝑖+2 = 0 = 𝑎𝑖 .
 Se 0 < 𝑎𝑛 < 1 inteiro para algum 𝑛
Temos na parte inteira ⌊𝑎𝑛 ⌋ = 0, 𝑎𝑛+1 = 0 e todos os termos seguintes serão 0. Temos
eventualmente 𝑎𝑖+2 = 0 = 𝑎𝑖
 Se −1 < 𝑎𝑛 < 0 inteiro para algum 𝑛
Temos ⌊𝑎𝑛 ⌋ = −1 e {𝑎𝑛 } = 𝑎𝑛 − ⌊𝑎𝑛 ⌋ = 𝑎𝑛 + 1. Assim, 𝑎𝑛+1 = (−1)(𝑎𝑛 + 1) = −𝑎𝑛 − 1 e
𝑎𝑛 + 𝑎𝑛+1 = −1. Veja que −1 < 𝑎𝑛+1 < 0 e temos 𝑎𝑛+1 + 𝑎𝑛+2 = −1. Concluímos que
𝑎𝑛 = 𝑎𝑛+2 = 𝑎𝑛+4 = ⋯ e 𝑎𝑛+1 = 𝑎𝑛+3 = ⋯ e vale a equação 𝑎𝑖+2 = 𝑎𝑖 a partir de 𝑛.

Vejamos agora o caso em que 𝑎0 é positivo. Se 𝑎0 é inteiro, então já temos a propriedade. Se


𝑘 ≤ 𝑎0 < 𝑘 + 1, então ⌊𝑎0 ⌋ = 𝑘 e 0 < {𝑎0 } < 1 e temos 0 < 𝑎1 < 𝑘. Veja que a sequência dos
pisos de 𝑎𝑖 é estritamente decrescente. Teremos em algum momento 𝑎𝑖 inteiro ou 0 < 𝑎𝑖 < 1 e
chegaremos na propriedade pedida.
Resta o caso 𝑎0 negativo. Trataremos de maneira geral o que acontece com 𝑎𝑡 < 0. Suponha que
−𝑘 − 1 < 𝑎𝑡 < −𝑘 para 𝑘 ≥ 1. Temos ⌊𝑎𝑡 ⌋ = −𝑘 − 1 e {𝑎𝑡 } = 𝑎𝑡 − ⌊𝑎𝑡 ⌋ = 𝑎𝑡 + 𝑘 + 1. Da
parte fracionária temos 0 < {𝑎𝑡 } < 1 e

−𝑘 − 1 < 𝑎𝑡+1 < 0


O 𝑎𝑡+1 não pode se afastar do zero além de −𝑘 − 1 e ⌊𝑎𝑡+1 ⌋ ≥ ⌊𝑎𝑡 ⌋.
Se temos ⌊𝑎𝑡+1 ⌋ > ⌊𝑎𝑡 ⌋ vezes o suficiente para eventualmente −1 < 𝑎𝑖 < 0, então o problema
acaba como vimos anteriormente. Se isso não acontecer, então a sequência estabiliza e a partir de
algum ponto ⌊𝑎𝑡+1 ⌋ = ⌊𝑎𝑡 ⌋ para todo 𝑡. Isso quer dizer que a partir desse ponto sempre vale
−𝑘 − 1 < 𝑎𝑡 < −𝑘 e

𝑎𝑡+1 = ⌊𝑎𝑡 ⌋ ∙ {𝑎𝑡 } = (−𝑘 − 1)(𝑎𝑡 + 𝑘 + 1)

𝑎𝑡+1 = (−𝑘 − 1)𝑎𝑡 − (𝑘 + 1)2 (𝑒𝑞 1)


Seja 𝑐 uma constante tal que

𝑐 = (−𝑘 − 1)𝑐 − (𝑘 + 1)2 (𝑒𝑞 2)

⇔ (𝑘 + 2)𝑐 = −(𝑘 + 1)2


1
⇔ 𝑐 = −𝑘 −
𝑘+2
Fazendo a diferença das equações eq 1 e eq 2 temos
𝑎𝑡+1 − 𝑐 = (−𝑘 − 1)(𝑎𝑡 − 𝑐)
Se 𝑎𝑡 = 𝑐, então todos os termos seguintes serão 𝑐 e vale 𝑎𝑖+2 = 𝑐 = 𝑎𝑖 como queríamos.

Se 𝑎𝑡 ≠ 𝑐, então 𝑎𝑡+𝑁 − 𝑐 = (−𝑘 − 1)𝑁 (𝑎𝑡 − 𝑐) já que é uma PG e isso gera uma contradição
com a condição de −𝑘 − 1 < 𝑎𝑡+𝑁 < −𝑘 para 𝑁 suficientemente grande. Afinal essa PG terá
módulos que pelo menos dobram a cada interação. Concluímos que a sequência não poderá
estabilizar dessa forma.
Considerando todos os casos, sempre temos para 𝑖 suficientemente grande 𝑎𝑖+2 = 𝑎𝑖 como
descrito no enunciado.

Você também pode gostar