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Luciovane Batista Lopes

A ANÁLISE DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS MILITARES DO ESTADO DE


MINAS GERAIS FACE À DESERÇÃO NA 8a REGIÃO DA POLÍCIA MILITAR

Belo Horizonte

2011
Luciovane Batista Lopes

A ANÁLISE DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS MILITARES DO ESTADO DE


MINAS GERAIS FACE À DESERÇÃO NA 8a REGIÃO DA POLÍCIA MILITAR

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Segurança Pública, da
Academia de Polícia Militar e da Fundação
João Pinheiro, como requisito para a
obtenção do título de especialista em
Segurança Pública.
Área de Concentração: Segurança Pública

Orientador: Major Wagner Fabiano dos


Santos

Belo Horizonte
2011
Dedico este trabalho aos meus pais,
Francisco Assis Lopes e Geralda Batista
Lopes,
pelo exemplo de persistência, força e vitória e
por terem me ensinado a ser uma pessoa
melhor o que resultou em mais esta
conquista.
Agradeço especialmente,

à Deus, meu guardião e protetor, a quem minha vida pertence.


"Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se
fez”. JOAO (cap.1, 3).
Aos meus familiares, em especial minhas irmãs Eliane, Maristane e
Lucilene pela torcida e amor sem limites.
Ao meu grande amigo e companheiro Wendell que tanto me apoiou e
contribuiu para minha vitória.
Ao Major Wagner, meu guia e orientador nessa empreitada, modelo de
profissional em quem tento espelhar-me.
À Ten Celma e à professora Helena Shirm, pelos ensinamentos e apoio
dado a mim.
À Rita, bibliotecária dedicada que sempre com um sorriso animador e
paciência ajudou-me na busca de materiais para este trabalho.

Aos funcionários do Centro de Pós Graduação que ofereceram todo o


suporte necessário para o meu desenvolvimento no curso.

Aos meus amigos do CESP em especial ao Renato Federici, um


verdadeiro irmão, ao Jesus Lima, amigo de todos os momentos, à
Luciana Gontijo, meu anjo da guarda e ao Alexandre Lopes, amigo
sincero.
À minha equipe de Recursos Humanos do CAA8 que me apoiou e torceu
pela minha vitória.

Aos meus amigos de Governador Valadares que rezaram a cada dia pela
minha proteção, em especial, Rutelene, Renato, Érika, André, Nice, Beto,
Sandra e Maurinho.
E apliquei o meu coração a inquirir e a
investigar com sabedoria a respeito de
tudo quanto se faz debaixo do céu; essa
enfadonha ocupação deu Deus aos filhos
dos homens para nela se exercitarem.
(Ecle. Cap 1, 13)
RESUMO

Esta pesquisa tem como tema a análise do art. 240-A do Estatuto dos
Militares do Estado de Minas Gerais (EMEMG) face à deserção na Oitava Região da
Polícia Militar (8a RPM). O principal objetivo é verificar os efeitos do art. 240-A na 8a
RPM e sua eficiência na diminuição no fenômeno da deserção. Trata-se de uma
pesquisa do tipo descritiva para na qual foi realizado um estudo de campo de
natureza qualitativa e quantitativa, com aplicação de questionário em uma amostra
composta por militares desertores que apresentaram em suas Unidades no período
compreendido entre 17 de janeiro de 2007 a 17 de abril de 2007, período de
vacância da norma que instituiu o art. 240-A. Foi feita uma análise quantitativa de
banco de dados já existente comparando números relativos à deserção antes e
depois da criação da nova lei. Sobressai-se desta pesquisa que a origem do art.
240-A obedeceu os quesitos legais previstos na Constituição Federal do Brasil.
Conforme dados obtidos, examinou-se que o índice do delito de deserção teve uma
considerável queda a partir da criação do art. 240-A e, simultâneo ao período de
vacância da norma que o implementou, vários militares pertencentes à 8a RPM que
estavam na condição de desertores, apresentaram-se em suas Unidades para não
sofrerem as penalidades da lei. Conclui-se que o art. 240-A está sendo eficiente na
redução da deserção em toda a Polícia Militar e, especialmente, na 8a RPM.

Palavras chave: Desertor - 8a região da polícia militar - honra pessoal - processo


administrativo disciplinar - decoro da classe - demissão
ABSTRACT

This research has covered the analysis of art. 240-A of the Military Staff of
the State of Minas Gerais (EMEMG) from the desertion in the Eighth Region of the
Military Police (8th RPM). The main objective is to verify the effects of art. The 240­
RPM in the 8th and its efficiency in reducing the phenomenon of desertion. It is a
descriptive type of research for which was conducted a field survey of qualitative and
quantitative, with a questionnaire in a sample of military deserters who had their
Units in the period between January 17, 2007 to April 17, 2007, a period of vacancy
of the law that created the art. 240-A. It was made a quantitative analysis of existing
database comparing figures for desertion before and after the creation of the new
standard. Emerges from this research that the origin of art. The 240-obey all legal
requirements as prescribed by the Federal Constitution of Brazil. According to data
obtained, we examined the index of the crime of desertion was a considerable drop
from the creation of art. 240-A e, concurrent with the period of vacancy of the
standard implemented, several military personnel belonging to the 8th RPM on
condition that they were deserters, were presented in their units do not suffer for law
enforcement. We conclude that art. 240-A is effective in reducing the dropout
throughout the Military Police, and especially in the 8th RPM.

Keywords: Deserter - 8th Military Police region - personal honor - administrative


disciplinary proceedings - propriety of the class - Resignation
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 10

2 O CRIME DE DESERÇÃO COMO FENÔMENO NA POLÍCIA MILITAR 13

2.1 Análise da deserção sob o enfoque social............................................. 14

2.2 Análise da deserção sob o enfoque jurídico.......................................... 18

2.3 A deserção sob o ponto de vista administrativo..................................... 23

2.3.1 Princípios que regem a Administração Pública.......................................... 24

2.3.2 Atos da Administração Pública.................................................................. 29

2.3.3 Processo Administrativo Disciplinar (PAD)................................................. 33

3 ANÁLISE DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS MILITARES DE MINAS


GERAIS................................................................................................. 39
3.1 Análise da Lei Complementar 95 de 17 de janeiro de 2007 que
implementou ao Estatuto dos Militares de Minas Gerais o art. 240-A .... 39
3.2 Análise do art. 240-A do Estatuto dos Militares de Minas Gerais:
aplicação e atuação na esfera administrativa ................................... 42

4 ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO MILITAR...................... 46


4.1 Estrutura da organização da Polícia Militar de Minas Gerais - da
gestão burocrática para uma gestão gerencial................................... 46
4.2 Cultura organizacional da Polícia Militar de Minas Gerais.................... 54
4.3 Servidor público m ilitar......................................................................... 57
4.4 Oitava Região da Polícia Militar: estrutura e cultura............................. 60

5 METODOLOGIA..................................................................................... 64

6 ANÁLISE DA EFICÁCIA DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS


MILITARES DE MINAS GERAIS FACE À DESERÇÃO NA 8a REGIÃO DA
POLÍCIA MILITAR.................................................................................. 66
6.1 Perfil do militar desertor sob a análise do tempo de efetivo serviço,
motivação para o retorno após a deserção e graduação....................... qq
6.2 Policiais desertores na 8a Região da Polícia Militar................................ 69
6.3 Análise da eficácia do art. 240-A do Estatuto dos Militares de Minas
Gerais por meio dos Processos Administrativos Disciplinares (PAD) .... 74
6.4 Parecer de militares desertores acerca do art. 240-A e sua
influência na tomada de decisão para a prática de deserção............... 7q
6.5 Militares da 8a Região da Polícia Militar que foram Reintegrados na
Instituição Militar por meio de decisão judicial, após demissão pelo
Art. 240-A do Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais.......... 77

7 CONCLUSÃO......................................................................................... 78

REFERÊNCIAS...................................................................................... 82

APÊNDICES........................................................................................... 87
10

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como tema a análise do art. 240-A do Estatuto dos
Militares de Minas Gerais (EMEMG), face à deserção na Oitava Região da Polícia
Militar (8a RPM). Buscou-se verificar a eficácia do art. 240-A do EMEMG na redução
do crime de deserção na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e, especificamente,
na 8a RPM.
A delimitação da pesquisa na 8a RPM deu-se em virtude da grande
incidência do fenômeno naquela Região, cuja sede se localiza na cidade de
Governador Valadares, onde a cultura migratória é intensa e marcada,
principalmente, por pessoas que deixam o país e vão para os Estados Unidos da
América (EUA).
A ausência do militar por mais de oito dias de sua Unidade, sem
apresentar justificativa do seu não comparecimento, consuma o crime de deserção
previsto no art. 187 do Código Penal Militar (CPM), passando o militar a figurar no
sistema de recursos humanos da PMMG, sem estar lotado em qualquer unidade,
sem os benefícios da profissão (salário, assistência à saúde, entre outros). A Lei
Estadual N° 5301, de 16 de outubro de 1969 que contém o Estatuto dos Militares de
Minas Gerais (EMEMG), em seu art. 125 define o militar nessa situação como
agregado, período temporário durante o qual fica afastado da atividade. Este
afastamento dá-se em virtude de várias situações, sendo que uma delas é a
deserção.
Ao retornar do período de ausência, por meio da recaptura ou da
apresentação voluntária, o desertor fica um período preso em celas existentes nas
unidades militares, à disposição da Justiça Militar e, posteriormente, cumpre a pena
referente ao delito, sendo liberado, por decisão judicial, para o retorno ao serviço
policial militar.
Com o fim de reduzir o número de desertores na PMMG e impedir a
evolução do fenômeno da deserção, em 17 de janeiro de 2007, foi promulgada a Lei
Complementar N°95 que acrescentou ao EMEMG, o art. 240-A que define a
deserção como ato atentatório à honra e ao decoro da classe, condições precípuas
para a submissão do militar ao Processo Administrativo Disciplinar (PAD), com a
possibilidade de demissão do serviço público.
11

Justifica-se a escolha desse tema, em virtude da alta incidência da


deserção na 8a RPM antes da implementação do art. 240-A no EMEMG. Antes de
janeiro de 2007, não havia nenhuma sanção administrativa a ser aplicada ao
servidor que cometia o crime, o que colaborava para que outros militares
abandonassem a Instituição para aventurarem-se em outros países, acarretando a
redução do efetivo, com reflexo negativo nas atividades da Polícia Militar, tanto
administrativas quanto operacionais.
De acordo com dados da 5 a Seção da Diretoria de Recursos Humanos da
Polícia Militar de Minas Gerais (DRH5), no ano de 2006, havia 286 militares
desertores, dos quais 139 pertenciam à 8a RPM, o que correspondia ao percentual
de 48,6% do total de desertores da PMMG. A 8a RPM foi uma das mais afetadas do
Estado em relação ao crime de deserção. Por esse motivo foi importante para a
prestação de serviços de segurança pública na Região a implementação do art. 240-
A ao Estatuto da Polícia Militar.
Por isso, tornou-se importante avaliar a influência do artigo na redução do
fenômeno naquela Região.
Assim, a pergunta norteadora para a formulação do problema desta
pesquisa foi: diante da implementação do art. 240-A, por intermédio da Lei
Complementar 95, de 17 de janeiro de 2007, quais foram os efeitos na prática do
crime de deserção na Oitava Região da Polícia Militar?
Na busca pela resposta a esse problema, foi estabelecido como objetivo
geral analisar quais os efeitos do art. 240-A, da Lei Complementar 95, de 17 de
janeiro de 2007, no crime de deserção na 8a RPM. Como objetivos específicos,
foram definidos: verificar o percentual de militares desertores, ano a ano, no período
de 2000 a 2010, identificando, por período, a incidência da deserção na 8a RPM;
comparar a incidência do crime de deserção na 8a RPM em relação às demais
Regiões do Estado, antes e após a inserção do artigo 240-A no EMEMG; averiguar o
número de militares demitidos da Instituição Militar em razão do art. 240-A; apontar o
percentual de demissões tornadas sem efeito em virtude de ação judicial e, por fim,
examinar o art. 240-A no EMEMG, em relação à sua origem e legalidade.
A hipótese básica foi construída a partir da idéia de que a inserção do art.
240-A no Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais reduziu o número de
militares desertores na 8a Região da Polícia Militar. Tal ordenamento jurídico teria
12

diminuído o fenômeno, existindo a necessidade de analisar dados relativos às


deserções para a confirmação ou não da afirmativa.
Para verificação da hipótese básica foram analisados os dados referentes
ao número de militares desertores existentes e o número de militares demitidos,
antes e depois da implementação do art. 240-A do EMEMG, na 8a RPM.
Esta pesquisa é do tipo descritiva, estruturada por estudo bibliográfico,
aplicação de questionário a todos os 47 (quarenta e sete) militares desertores
pertencentes à 8a RPM que se apresentaram da deserção, no período de 17 de
janeiro de 2007 a 16 de abril desse mesmo ano, e análise de dados.
Para melhor compreensão do tema, esta pesquisa foi dividida em sete
seções.
As seções 2 e 3 apresentam a caracterização do objeto de pesquisa,
naquela, a deserção é apresentada sob o pontos de vista social, jurídico e
administrativo; nesta, o art. 240-A é analisado quanto à origem, legalidade e
aplicabilidade.
Na seção 4, apresenta-seo estudo relativo ao ambiente onde se
desenvolveu o objeto de pesquisa, a Polícia Militar, com novo modelo de gestão,o
que também influencia no tratamento da deserção. Foi realizada também uma
abordagem da 8a RPM, explicando sua estrutura, cultura e perfil de seu efetivo.
Na seção 5, a metodologia do trabalho é apresentada. Nessa seção foi
definido o tipo de pesquisa e como se processaria a coleta e análise dos dados.
Na seção 6, realizou-se a análise dos dados extraídos dos questionários
que foram enviados para os militares desertores da 8a RPM, que compõem o
universo desta pesquisa.
Na sétima e última seção, são apresentadas a conclusão e as sugestões
de aplicabilidade do resultado da presente pesquisa na PMMG, seguidas pelos
dados complementares, referências, apêndices e o questionário.
13

2 O CRIME DE DESERÇÃO COMO FENÔMENO NA POLÍCIA MILITAR

Nesta seção, será conceituado o termo deserção e será feita uma análise
deste fenômeno sob o ponto de vista social e jurídico, com a descrição de seu
histórico no âmbito da PMMG e, especificamente, na 8a RPM, onde o crime é mais
frequente.
O ato de desertar é definido como a ausência do militar ao serviço por
mais de 8 dias, sem justificativa. Conforme Neves e Streinfinger (2008, p. 255 ), "[...]
ausentar-se significa afastar-se, furtar-se de estar no lugar em que devia por
imposição do dever e do serviço militar, obrigação constituída sob a forma de escala
ou sob forma de ordem específica (escrita ou oral).”
Segundo Loureiro (2001, p.15):

Deserção vem de desertio, que por sua vez deriva de deserere,que


significa abandonar, desamparar. Deserere exercitum ou
simplesmente deserere, significa desertar, na lição de Esmeraldino
Bandeira (1915:355) (BUCCI, 2002, p. 259). Conseqüentemente
(sic), o agente do crime denomina-se desertor. Na doutrina atual,
distingue-se do emansor, que é o ausente, ou seja, aquele que
excede o tempo de ausência sem consumar o prazo correspondente
ao delito de deserção.

O militar desertor consuma o crime previsto no art. 187 do Código Penal


Militar e passa a figurar no sistema de recursos humanos da PMMG na condição de
agregado, conforme preconiza a Lei 5301, que contém o Estatuto dos militares de
Minas Gerais, em seu art. 125 (MINAS GERAIS, 1969).
Uma conduta somente é considerada crime quando reúne todos os
elementos que são constitutivos do conceito. Segundo Greco (2009), é um fato
típico, antijurídico e culpável. O autor afirma que o fato é típico quando possui uma
conduta que produz um resultado que se adequará a um dos conceitos que
classificam determinado comportamento como crime. É antijurídico quando
estabelece o antagonismo, a contrariedade entre a conduta do agente e o
ordenamento jurídico. É culpável quando determina o juízo de reprovação pessoal
que se faz à conduta do agente.
Os elementos presentes no conceito geral do crime, agregados a outros
fatores, vão constituir a definição de crime militar. Segundo Loreiro Neto (2001),
14

Crime militar é aquele cometido por militar em serviço de qualquer natureza; por
militar de folga, mas em situação de atividade; por militar inativo ou civil quando
praticado contra militar de serviço ou contra militar em situação de atividade em
lugar sujeito a administração militar, no exercício de função inerente ao seu cargo,
ou, ainda, contra patrimônio sob a administração militar ou contra a ordem
administrativa.

2.1 Análise da deserção sob o enfoque Social

Esta pesquisa tem como teoria de base os estudos de Durkheim (2006),


Weber (2002), Mills (1982) e Merton (1968) fundamentada sob o ponto de vista
sociológico.
O ato de desertar é conceituado como crime não somente pela sua
transcrição no CPM, mas, também por ser uma atitude que vai de encontro à
consciência coletiva. Como exprime Durkheim (2006, p.75) "[...] um ato é criminoso
quando ofende as condições consolidadas e definidas da consciência coletiva.” Ao
desertar, o servidor quebra o vínculo existente na relação entre servidor público e a
Sociedade.
O crime de deserção atenta contra a Administração Pública que
representa a sociedade. Conforme Durkheim (2006), a autoridade atingida pelo
crime que o repele é um produto das similitudes sociais as mais essenciais, e tem
por efeito manter a coesão social que resulta dessas similitudes.
Tudo que contribui para abalar o sentimento coletivo afeta igualmente a
coesão social. Daí surge a necessidade de um meio que impeça a propagação do
ato criminoso e "[...] o único meio de se afirmar é exprimir a aversão unânime que o
crime continua a inspirar, por um ato autêntico que não pode ser senão um castigo
infligido ao agente (DURKHEIM, 2006, p. 77).”
A pena no crime de deserção, detenção de 6 meses a 2 anos, pode ser
considerada branda em relação aos efeitos administrativos, uma vez que não
comina nenhuma sanção administrativa, estimulando a prática do delito, porém, ela
é proporcional ao ato criminoso, não sobrepondo um castigo acima do necessário,
pois, como expressa Durkheim (2006, p.78) "[...] o criminoso deve sofrer na
15

proporção de seu crime [...]”. Assim pode ser dito que o crime de deserção é punido
conforme a proporção que atinge ao sentimento coletivo.
A Corregedoria de Polícia Militar (CPM) editou a Instrução 01/2005 onde,
em seu art. 74, §3°, prescreve a submissão do militar desertor, capturado ou que
tivesse apresentado ao serviço, ao Processo Administrativo Disciplinar (PAD) de
natureza demissionária. (MINAS GERAIS, 2005).
Apesar da previsão da submissão do militar desertor ao PAD, pela
Instrução 01/2005, não há registro de sua aplicação na PMMG. A fragilidade da
norma fez com que os comandantes das unidades militares recuassem quanto à
demissão dos desertores, tendo em vista que a Instrução não poderia modificar, ou
mesmo criar situações jurídicas previstas em lei em virtude do princípio da
legalidade, contido no art. 37 da Constituição Federal, o qual prevê que ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
(BRASIL, 1988).
A norma regulamentadora do PAD é a Lei Estadual N° 14.310 de 19 de
junho de 2002 que em seu art. 64 dita as situações pelas quais o militar será
submetido à análise do PAD. Uma das situações previstas é a prática de ato que
comprometa a honra e o decoro da classe, termos que são definidos pela Resolução
N° 3666, de 02 de agosto de 2002, como:

DECORO DA CLASSE - trata-se de uma repercussão do valor dos


indivíduos e classe profissionais. Não se trata de valor da
organização e sim da classe de indivíduos que a compõem.
[..]
HONRA PESSOAL - sentimento de dignidade própria, como apreço
e o respeito de que é objeto, ou se torna merecedor o indivíduo,
perante os concidadãos. (MINAS GERAIS, 2002a,b)

Apesar da previsão trazida pela Instrução 01/2005 CPM, na qual a


deserção é tratada como ato contrário à honra e decoro da classe, não é a
Corregedoria órgão competente para legislar sobre o assunto, que deve ser objeto
de legislação específica. Conforme o art. 37 da Constituição Federal, a
Administração Pública obedecerá ao princípio da legalidade, ou seja, os atos
administrativos somente podem acontecer sob a égide de uma lei. (MINAS GERAIS,
2005)
Pela ausência de uma norma administrativa que pudesse coibir a prática
de deserção, estava a PMMG diante um desequilíbrio organizacional, ou seja,
16

vivenciava uma situação de anomia. Para Durkheim (2006, p.97), quando “[...]as
relações dos órgãos não são regulamentadas, [...] elas estão num estado de
anomia.” {grifo nosso)
Surgiu, então, a necessidade de restabelecer o equilíbrio. Era preciso um
ordenamento com força suficiente para conter a crescente onda de militares
desertores, pois conforme Durkheim {2006, p. 98) “[...] as regras assim formadas
trazem a sua marca, isto é, preveem e determinam até no detalhe as condições de
equilíbrio.” Assim, como não havia regulamentação administrativa relativa à
deserção, o número de militares desertores aumentava em todo o Estado, ou seja, a
situação ratificava a teoria de Durkheim.
Nesse sentido, se verifica que no modelo burocrático, a disciplina constitui
uma forma de controlar o desempenho dos funcionários. Segundo Weber (2002),
para o bom funcionamento do serviço institucional, os funcionários devem ter
norteadas as suas ações em normas rígidas que proporcionem o alcance seguro
dos objetivos pela Corporação.
Dessa forma, se verifica que, para reduzir o número de desertores na 8a
RPM, seria necessário um ordenamento rígido que pudesse conter a provável
evasão de outros militares. Até início de 2007, a única norma praticável que existia a
respeito do assunto era o Código Penal Militar (CPM) que, em seu art. 187, definia a
conduta de desertar como crime. A pena prevista no art. 187 (CPM) é de 6 meses a
2 anos de detenção. O Tribunal de Justiça aplicava a pena mínima, com previsão do
cumprimento em regime semi-aberto e aberto1. Após o cumprimento da pena, o
militar era reintegrado nas fileiras da Corporação e dava continuidade ao serviço
policial militar.
Retomando a idéia de que a disciplina é essencial para o equilíbrio
organizacional, Merton (1968) apresenta a estrutura burocrática baseando-se na
visão de Weber, com divisões de atividades e deveres inerentes ao cargo. Merton
afirma que “[...] a estrutura burocrática exerce uma pressão constante sobre o
funcionário, para que ele seja “metódico, prudente e disciplinado. [...] Daí decorre a
importância fundamental da disciplina (MERTON, 1968, p. 275).”

1 O Código Penal Brasileiro define em ser art. 33 §1°, alínea b, o regime semi-aberto como
sendo aquele que a execução da pena dá-se em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar e o regime aberto como sendo o que a execução da pena dá-se em
casa de albergado ou estabelecimento adequado.
17

A disciplina é um mecanismo para o bom funcionamento da organização


e para o alcance de resultados. Segundo Merton (1968, p. 275), "a obediência às
regras, originalmente concebida como um meio transforma-se em um fim”, ou seja, a
disciplina como instrumento para alcançar os objetivos dentro da organização
termina como um fim em si mesma, pois se transforma em valor a ser internalizado
pelos membros do grupo.
Diante da necessidade de uma norma que estabelecesse mecanismos de
sanção para a conduta de militares desertores, fortalecendo a disciplina institucional
da PMMG, em 17 de janeiro de 2007, foi promulgada a Lei complementar 95 que
acrescentou ao Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais (EMEMG) o art.
240-A. Tal artigo prevê a deserção como ato atentatório à honra e ao decoro da
classe, condições precípuas para a submissão do militar ao Processo Administrativo
Disciplinar (PAD), com a possibilidade de demissão do serviço público. (MINAS
GERAIS, 2007).
Com o novo ordenamento jurídico/administrativo, o ato do militar cometer
a deserção deixou de ser apenas crime, mas, também, transgressão disciplinar. Ao
ser declarado ato atentatório à honra e ao decoro da classe, o ato da deserção
passou a integrar o rol de transgressões disciplinares previstas no art. 13 do Código
de Ética dos Militares. (MINAS GERAIS, 2002a)
Em seu inciso III, o artigo 13 (CEDM) prescreve que faltar, publicamente,
com o decoro pessoal, dando causa a grave escândalo que comprometa a honra
pessoal e o decoro da classe é transgressão de natureza grave. A mesma norma,
em seu art. 64, II define que será submetido ao PAD o militar que praticar ato
atentatório à honra e ao decoro da classe. (MINAS GERAIS, 2002a)
Assim, com a nova regra, os Comandantes de Unidades passaram a ter
mecanismo administrativo para punir, com maior severidade, a conduta daqueles
que praticavam a deserção, coibindo outros atos transgressivos. A finalidade do art.
240-A é o restabelecimento da disciplina, por meio de uma possível punição
rigorosa, ou seja, a demissão.
18

2.2 Análise da deserção sob o enfoque jurídico

A deserção na PMMG e, em especial, na 8a RPM, tornou-se um hábito


constante. A emigração de militares para outros países, principalmente para os
Estados Unidos da América, transformou-se em uma situação corriqueira. Segundo
Rosa (2011, p. 117) "no Estado de Minas Gerais, durante um determinado tempo, a
deserção havia se tornado um fato comum em razão do estabelecido no CPPM que
assegura ao desertor o retorno aos quadros da Corporação para que possa ser
processado e julgado.”
O Código de Processo Penal Militar (CPPM), em seus artigos 456 e 457,
trata dos procedimentos a serem realizados quando da deserção de militar,
concedendo ao capturado, ou o que se apresentar voluntariamente, o devido
processo legal. A norma faz exceção no caso da praça especial2 e a praça sem
estabilidade3 que, conforme o parágrafo 4° do artigo 456 do CPPM, serão
imediatamente excluídas do serviço ativo. (BRASIL, 1969b)
O crime de deserção está tipificado4 no Decreto-Lei Federal N° 1.001, de
21 de outubro de1969 que contém o Código Penal Militar, no artigo 187 com a
seguinte definição:

Ausentar-se o militar, sem licença5, da unidade em que serve, ou do


lugar que deve permanecer por mais de oito dias:
Pena - detenção de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é
agravada (BRASIL, 1969a).

O crime se consuma a partir do momento em que há a ofensa ao bem


jurídico tutelado, entendendo-se como tudo aquilo contra o que se dirige à conduta
criminosa, que, conforme Neves e Streifinger (2008, p.253), no caso do crime de
deserção é o serviço e o dever militar.

2 Praça especial, conforme art. 9°, II da Lei 5301/69 são os militares que se encontram na
graduação de aspirante a oficial, aluno do curso de Formação de Oficial e Habilitação de
Oficial.
3 A praça sem estabilidade, segundo o art. 7° da Lei 5301/69 é aquela que possui menos de
3 anos de efetivo serviço.
4 Tipificação, segundo Greco (2009, p. 25), "diz respeito à subsunção perfeita da conduta
praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal
5 Segundo Neves e Streifinger (2008, p. 268), "licença é a autorização para afastamento
total do serviço, em caráter temporário, concedido ao militar, obedecidas as disposições
legais e regulamentares.”
19

O serviço militar é atividade que tipicamente é exercida pelas instituições


militares, bem como aquelas que não sendo própria de militar são desenvolvidas sob
a responsabilidade da organização militar, estando o militar disponibilizado para
aquela função de caráter atípico. (BRASIL, 1988, art. 142-144)
O dever militar compreende a responsabilidade assumida pelo militar
junto à Corporação. Segundo Rosa (2011, p.117), "ao ingressar em uma Corporação
Militar, a pessoa, homem ou mulher, assume obrigações que devem ser cumpridas
sob pena da imposição de sanções administrativas ou penais.” Dessa maneira, ao
cometer o crime de deserção, o policial militar falta com o dever de uma obrigação
que voluntariamente assumiu e fica sujeito à severidade das normas penais e
administrativas no âmbito da Instituição.
Para a legislação, o simples fato do militar ausentar-se por mais de 8 dias,
concretiza o delito, não exigindo, necessariamente, resultado natural. Como
exemplo, pode ser citado o fato do militar que se ausenta por mais de 8 dias com a
intenção de deixar o país para trabalhar no exterior, caso, por qualquer
eventualidade ele não complete a viagem para o exterior não finalizando seu intento,
tão somente por ter se ausentado do serviço por mais de 8 dias, já estará
configurado o delito. Segundo Assis (2009, p. 41), "a deserção é crime de mera
conduta (ou simples atividade) porque se configura com a ausência sem licença
pura e simples do militar [...].”
A deserção também possui características que a definem como crime
militar próprio. Mirabette (2004, p. 135) define o crime próprio como "aqueles que
exigem ser o agente portador de uma capacidade especial.” O crime de deserção
somente existe no Código Penal Militar, logo, somente pode ser autor do delito o
militar da ativa, ou seja, aquele que está no pleno exercício da função policial militar.
Ser militar da ativa é uma capacidade especial que confere ao delito de deserção a
exclusividade no que se diz respeito à autoria.
Todo tipo penal possui personagens que dão vida ao delito e denominam-
se sujeitos. Mirabete (2004, p, 122-1230) conceitua sujeito ativo de um crime como
aquele que pratica a conduta descrita na lei e o sujeito passivo é o titular do bem
jurídico lesado ou ameaçado. Pode se afirmar que o sujeito ativo do crime de
deserção é o militar em atividade, conforme art. 22 CPM (BRASIL, 1969,a). O sujeito
passivo titular do bem jurídico ofendido é a própria Instituição militar que acaba
sendo desconsiderada pelo militar que abandona o serviço sem lhe conferir a
20

mínima satisfação, (ROSA, 2011, p. 118). Por meio da conduta comissiva, que,
segundo Mirabete (2004, p. 105), é o ato de fazer, praticar uma ação, o militar
afronta o dever que possui com a Instituição Militar que sofre ação delituosa,
posicionando como o pólo passivo na relação de crime e autor.
O elemento objetivo do tipo caracteriza o tipo penal e, segundo Rosa
(2009), é ação desenvolvida pelo autor do crime. No caso da deserção, é constituído
pelo verbo ausentar-se. A conduta do tipo se concretiza a partir do momento no qual
0 militar deixa o local que, obrigatoriamente, deveria estar para o cumprimento de
escala de serviço concebida como ordem (oral ou escrita). Deve ser entendido,
neste caso, que a descrição do tipo não se refere apenas ao militar que está no
interior da Organização Militar ou em local sujeito à administração militar,
enquadrando também o servidor que estiver de folga, licença ou férias e, vencido o
prazo do afastamento, não retorna para o serviço.
A contagem dos dias para a consumação da deserção processa-se de
maneira ininterrupta, conforme o parágrafo 1° do art. 451 do CPPM, "a contagem
dos dias de ausência, para efeito da lavratura do termo de deserção, iniciar-se-á à
zero hora do dia seguinte àquele em que foi verificada a falta injustificada do militar.”
De acordo com o transcrito no quadro 1, se o militar estava escalado no dia 10 e não
comparece injustificadamente, sua ausência começará a contar às 00h00min do dia
11. (BRASIL, 1969)
A ausência que configura o crime deve ser após os 8 dias. Antes desse
período não há ausência, mas apenas o prazo de graça (ausência ilegal). O quadro
1 explica a contagem desde a primeira ausência do militar faltoso até o 9° dia
quando se consuma a deserção.

QUADRO 1
Contagem da ausência ilegal até consumar-se a deserção
Data Data Data Data Data Data Data Data Data Data
00 h 00 h 00 h
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
In íc io d o In íc io da E la b o ra ç ã o E la b o ra ç ã o D ilig ê n c ia s c o n s ta d a s em despacho do P a rte da
s e rv iç o c o n ta g e m d a p a rte d e d o s in v e n tá r io s C o m a n d a n te p a ra e n c o n tr a r - s e o a u s e n te . d e s e rç ã o e
do da a u s ê n c ia da Fazenda T e rm o de
m ilita r a u s ê n c ia ile g a l P ú b lic a e b e n s D e s e rç ã o
fa lto s o ile g a l p a rtic u la r e s d o
a u s e n te
D ilig ê n c ia s e n te n d id a s c o m o n e c e s s á ria s p e la s a u to r id a d e s s u p e r io r e s a o a u s e n te p a ra e n c o n tr á - lo n e s te p e río d o

Fonte: NEVES, Cícero Robson Coimbra e STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal
Militar. v. 2, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
21

Conforme preceitua o artigo 456 do CPPM, deve ser confeccionada a


parte de ausência, documento que notifica a ausência do militar a partir das vinte e
quatro horas depois de iniciada a contagem dos dias de falta ao serviço. No caso
demonstrado no quadro 1, como a ausência iniciou-se no dia 11, às 00h00min, a
parte de ausência será confeccionada a partir do dia 12, à 00h00min, quando se
completarão as vinte e quatro horas. A ausência começou a ser contada a partir do
dia 11 completado, dia 18, o oitavo dia. Como a norma determina que apenas após
o oitavo dia é que se consuma o delito, a deserção será concretizada à 00h00h do
dia 19. (BRASIL,1969b)
O tipo subjetivo é um dos elementos constitutivo do crime, conforme
explica Mirabete (2004, p.142) é o dolo. Dolo é entendido como a vontade, a
intenção livre e consciente do agente em praticar o crime. No caso do delito de
deserção o tipo subjetivo é a vontade de ausentar-se do serviço. É um crime que
somente se consuma com o dolo, não existindo a modalidade na forma culposa6.
Nesse sentido, somente responde pelo delito o militar que o faz
conscientemente. A inconsciência afasta o dolo, como por exemplo, o que estiver
inconsciente em virtude de problemas psiquiátricos. O caso fortuito e força maior
também descaracterizam o delito. Segundo Mirabete (2004, p.109) "Fortuito é aquilo
que se mostra imprevisível, quando não inevitável: é o que chega sem ser esperado
e por força estranha à vontade do homem [...].” O autor destaca como força maior a
força física impelida por alguém a outrem, levando-o ao cometimento do delito. Para
a consumação do delito é imprescindível que o agente o faça livre e
conscientemente.
O delito se concretiza a partir do momento em que se reúnem todos os
seus elementos. Mirabete (2004, p.155), destaca que "Está consumado o crime
quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, quando o fato concreto se
subsume no tipo abstrato descrito na lei penal.” O crime de deserção possui
natureza permanente, sua consumação se prolonga no tempo. A situação do militar
como desertor permanece mesmo após os 8 dias que configuram o crime e somente
é cessada quando da apresentação voluntária do militar desertor ou de sua captura.

6 Art. 33, II, CPM - Culposo quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou
diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não
prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não realizaria o
que poderia evitá-lo.
22

No caso da deserção, não há o que se falar em tentativa da prática


criminal, pois é composta por um único ato que não permite a passagem por todas
as fases do crime, ou seja, cogitação, preparação, execução, consumação e
exaurimento, (GRECO, 2009), o que o impede de existir na forma tentada. Segundo,
Mirabete (2004, p. 133), os crimes unissubsistentes se realizam apenas com um ato,
sendo indivisíveis, não podendo ter fracionada a conduta.
A deserção propriamente dita é um delito simples, pois apresenta o
máximo e o mínimo da pena, não apresentando casos de qualificação que, segundo
Mirabete (2004, p. 131), "é aquele em que ao tipo básico a lei acrescenta
circunstâncias que agrava sua natureza, elevando os limit es da pena.”
Existem casos de deserção privilegiada definidos pelo art. 190, §§ 1° e 2°,
CPM. Crimes privilegiados são aqueles que a norma acrescenta circunstâncias ao
tipo básico que o torna menos grave. Assim, no caso do delito contido no art. 190,
deserção especial, os parágrafos vão diminuir a pena básica em virtude de
circunstâncias determinada pela própria lei. (BRASIL, 1969a)
Os termos definidos pelos incisos I e II do art. 189, do CPM, são causas
especiais de diminuição e de aumento de penas, respectivamente. No primeiro, a
pena é diminuída caso o agente se apresente voluntariamente, no prazo de 8 dias
após a consumação do crime. No segundo, a pena é aumentada se a deserção
ocorre em unidade fixada em fronteira ou país estrangeiro. (BRASIL, 1969a)
A ação penal do delito de deserção, assim como nos demais crimes
militares, somente pode ser proposta pelo Ministério Público da Justiça Militar, o que
a caracteriza como ação pública incondicionada, pois independe da vontade da
vítima para ser iniciada, conforme art. 121 do CPM. (BRASIL, 1969a)
O crime de deserção, assim como os demais delitos, possui prazo para
poder exercer o jus puniendi, que é o direito de punição pelo Estado. A perda desse
prazo implica na prescrição do delito que é a perda do direito do Estado de punir o
agente quando transcorrido o período transcrito na norma. Alguns posicionamentos
se divergem quanto à forma correta da aplicação do art. 132 do CPM, que trata da
prescrição do crime de deserção. Esse prazo prescricional não será analisado nesta
pesquisa, tendo em vista que não faz parte dos objetivos, sendo o tema bastante
amplo devendo ser assunto de outro estudo. (BRASIL, 1969a)
23

Assim, verifica-se que o crime de deserção possui elementos específicos


para sua realização, o que o faz um delito próprio da classe de militares, contido no
Código Penal Militar.
Após análise da deserção sob a ótica jurídica, é necessário analisá-la sob
o enfoque administrativo para que se possa fazer um contraponto entre o crime e a
conduta transgressiva disciplinar, por isso, a próxima seção apresenta as noções de
ato e processo administrativo, com ênfase no Processo Administrativo Disciplinar.

2.3 A deserção sob o ponto de vista administrativo

A administração Pública, neste caso representada pela PMMG, possui o


poder7 de gerenciar e controlar as atividades de seus servidores, e para manter esse
controle necessita de uma disciplina guiada por padrões e sanções rígidas que
conduzam as ações dos agentes ao alcance do resultado planejado pela
Administração.
Para alcançar os objetivos propostos, a Instituição age com o poder, e,
para manter este poder, são necessárias sanções que moldem as atividades dos
servidores, logicamente, dentro dos ideais da organização. Conforme Kaplan e
Lasswell (1979) é a sanção que caracteriza o poder e a diferencia da simples
influência. Dessa forma, a Administração Pública deve atuar dentro dos ditames da
lei, pois um dos princípios embasadores da ação da Administração é o princípio da
legalidade. Conforme Di Pietro (2011, p. 65) "[...] a Administração Pública só pode
fazer o que a lei permite.” Assim, a lei apresenta -se com uma sustentação para o
desenvolvimento da máquina administrativa, pois todos os seus passos são guiados
e traçados por ela.
Desta maneira, a administração atua dentro de princípios que dão
sustentação e credibilidade em suas atividades. Esses princípios constituem os atos
perfeitos, ou seja, que não contêm vícios, e garantem a validade das ações
administrativas desenvolvidas pelo poder público. A deserção possui tratamento na
esfera administrativa que se processa por meios de atos que, obrigatoriamente,

7 Bertrand Russel (apud Kaplan e Lasswell, 1979, p. 110) define o poder como "[...] a
produção de efeitos pretendidos.”
24

devem obedecer aos princípios fundamentais que proporcionam uma decisão final
correta, justa e válida.

2.3.1 Princípios que regem a Administração Pública

Nesta seção, será feita uma abordagem sobre o fenômeno da deserção


no âmbito administrativo e seu processamento face ao art. 240-A do EMEMG, que
se finaliza com o PAD, correlacionando esse processamento com os princípios da
Administração Pública.
Ao ser feita a análise da deserção sob o ponto de vista administrativo,
ressalta-se que o art. 240-A do EMEMG, a classifica como afronta à honra e ao
decoro da classe, a qual desencadeia uma série de atos administrativos que devem
obedecer alguns princípios básicos que conferem a validade a esses atos. Antes de
se iniciar a abordagem acerca de tais princípios, é necessário conceituar o termo
Administração Pública.
Di Pietro (2011, p.49) traz dois conceitos de Administração Pública, a
saber:

a) em sentido subjetivo, formal ou orgânico, ela designa os


entes que exercem a atividade administrativa; compreende pessoas
jurídicas, órgãos e agentes públicos incumbidos de exercer uma
das funções em que se triparte a atividade estatal: a função
administrativa;

b) em sentido objetivo, material ou funcional, ela designa a


natureza da atividade exercida pelos referidos entes; nesse sentido,
a Administração Pública é a própria função administrativa que
incumbe, predominantemente, ao Poder Público. (grifo do autor)

Em um primeiro sentido, a Administração Pública é entendida como o


conjunto de pessoas que exercem a atividade estatal, dentro de uma relação de
subordinação de hierarquia. Pessoa jurídica é entendida nesse contexto como
entidades capazes de realizarem determinados fins, que não são alcançados
normalmente pela atividade individual isolada, (NADER, 1994, p. 319). Esses entes
vão formar, juntamente com outros elementos, a estrutura da Administração Pública
que promove o funcionamento da máquina administrativa.
25

Agentes Públicos são os componentes da Administração Pública que vão


exercer os diversos cargos e funções distribuídos em variados escalões. São os
funcionários que, sob uma hierarquia de subordinação, executam os atos
constituídos pela Administração. Segundo Di Pietro (2011, p. 526), "[...] é toda
pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da
Administração Indireta.” (grifo do autor).
Órgão Público é integrado pelos agentes públicos e reúne atribuições
exercidas por esses agentes com a finalidade de realizar os objetivos do Estado.
Não há que se confundir o Órgão Público com a Pessoa Jurídica, uma vez que a
Pessoa Jurídica representa a totalidade do Estado, enquanto o Órgão Público é
apenas um setor, agregado a outros órgãos, que vão compor a Pessoa Jurídica.
Segundo Mello (apud DI PIETRO, 2011, p.521), "os órgãos nada mais significam
que círculos de atribuições, os feixes individuais de poderes funcionais
repartidos no interior da personalidade estatal e expressados através dos
agentes neles providos.” (grifo do autor). Órgão Público pode ser entendido,
portanto, como um setor que executa uma atividade do Estado por meio de seus
servidores. Um órgão possui atribuições particulares que o diferencia de outros
órgãos.
Em um segundo sentido, a Administração Pública é conceituada como a
designação da natureza da atividade desenvolvida pelos entes. É o funcionamento
da Administração por meio de execução de atos praticados pelos órgãos por meio
dos agentes públicos.
O Estado possui um poder único, dividido em três funções: a legislativa
que cria as normas garantidoras da ordem dentro do Estado, em todos os setores.
Essas normas denominadas leis organizam as relações entre os entes; a executiva
realiza os atos da administração com o fim de alcançar os objetivos estatais e, por
meio de fiscalização, garante o cumprimento da lei pela coletividade; a
Jurisdicional faz a mediação entre os conflitos surgidos em virtude da aplicação da
lei, impondo de maneira coativa o seu cumprimento quando não é,
espontaneamente, acatada. (MORAES, 2004) (grifo nosso).
A Administração Pública representa um poder único que, para melhor se
desenvolver, segundo Di Pietro (2011, p.58), se divide em administração direta,
constituída de serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da
República e Ministérios e indireta, que compreende entidades dotadas de
26

personalidade jurídica própria as quais executam, em nome do Estado, atividades de


interesse público. Esse conceito se aplica aos Estados e Municípios.
A PMMG está inserida na administração direta e, segundo Rosa (2009b,
p. 6), possui sua definição a partir da junção de órgãos e pessoas que, além de
compor esse corpo administrativo, são responsáveis pela realização dos objetivos
elaborados pelo poder executivo devendo estar direcionados e ser desempenhados
com vista na população. Nesse sentido, os servidores que compõem a
Administração Pública estão encarregados de movimentar a máquina administrativa,
concretizando o interesse do Estado. O conceito trazido por Rosa (2009, p. 6)
contém a mesma ideia de Di Pietro (2011, p.49), contudo se projeta de maneira
específica à Administração Militar.
A Administração Pública é regida por princípios que, segundo Di Pietro
(2011, p. 63), "são as proposições básicas, fundamentais e típicas que
condicionam todas as estruturações subsequentes.” Os princípios são os elementos
que dão sustentação para a execução dos atos administrativos. São eles que
direcionam o caminho a ser percorrido até chegar a uma decisão coerente e válida
de um determinado tema. (grifo do autor)
A Constituição Federal Brasileira (C.F) traz em seu art. 37 os princípios a
serem obedecidos pela Administração Pública, o que implica na presença desses
valores na execução de cada ato, sendo que a ausência comprovada de um deles
torna o ato viciado e incapaz de gerar qualquer direito. Os princípios são os da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. (BRASIL, 1988)
O princípio da legalidade, também previsto no art. 5°, II da C.F. é
entendido como a base de todo ato, pois esse princípio reza que a Administração
Pública somente pode atuar quando estiver expressamente autorizada pela lei.
(BRASIL, 1988). Nesse caso, segundo Moraes (2004, p. 314), esse princípio incide
sobre a Administração de forma mais rigorosa, uma vez que somente poderá fazer o
que a lei autorizar, inexistindo incidência de sua vontade, diferente da esfera
particular na qual é permitida a realização de tudo o que a lei não proíbe.
Dessa forma, a Administração está vinculada ao que a lei prescreve. Um
ato para existir, deve, previamente, estar autorizado por lei. A inobservância desse
preceito por parte de um agente o leva a responder na esfera civil ou criminal por
sua atitude ilegal. Segundo Rosa (2009b, p. 11), o princípio da legalidade evita a
ocorrência do abuso ou excesso de poder por parte do poder público contra o
27

administrado. É um limitador das atividades da Administração o qual evita que o mau


uso do poder prejudique a coletividade.
O segundo princípio trazido pela Constituição Federal é o da
Impessoalidade, (BRASIL, 1988). Esse princípio, segundo Moraes (2004, p 315),
também é chamado de princípio da finalidade administrativa. Por meio dele o agente
se posiciona apenas como executor dos interesses do Estado em atendimento à
coletividade. O servidor, ao atuar, deve fazê-lo visando apenas alcançar a finalidade
da Administração. Sua vontade e interesses pessoais devem ficar à parte, devendo
ele ser isento em sua atuação.
O princípio da impessoalidade objetiva afastar os interesses pessoais dos
entes representantes da Administração Pública, quando da execução da atividade
estatal. Conforme salienta Rosa (2009b, p. 12), "o referido dispositivo busca excluir a
promoção pessoal das autoridades ou servidores públicos [...].” Quando o servidor
executa um ato em nome da Administração deve entender que ele é um mero
instrumento para o alcance dos objetivos do Poder Público junto à coletividade. O
Estado se personifica na imagem do agente que faz acontecer a gestão estatal,
portanto a ausência desse dispositivo em um ato exclui de sua execução o
atendimento à finalidade do Estado, que é o interesse coletivo.
O princípio da moralidade, também contido no art. 37 da C. F. implica na
observação dos pressupostos éticos de razoabilidade e justiça. Não basta um ato
ser legal, deve conter moralidade em sua realização. (BRASIL, 1988)
Segundo Huriou (apud Moraes, 2004, p. 315), "não se trata [...] da moral
comum, mas sim de uma moral jurídica entendida como o conjunto de regras de
conduta tiradas da disciplina interior da Administração.” Não há necessidade de uma
análise do subjetivo do agente na prática do ato para verificar se faltou, ele, com a
moralidade, uma vez que o próprio resultado final do ato dirá se houve a
imoralidade. O princípio da moralidade refere-se ao equilíbrio entre os meios e a
finalidade a ser alcançada, o benefício e o custo (sacrifício) pela coletividade.
Para Rosa (2009b, p.14), a moralidade administrativa, somada à
legalidade, é requisito essencial do ato administrativo. A ausência desse princípio
gera a nulidade do ato podendo gerar responsabilidades civis, administrativas e
criminais para o agente executor. A moralidade expressa o caráter honesto da ação
do agente que deve não só observar pressupostos legais, mas, também, se é
coerente, adequado e viável à execução da atividade.
28

Outro princípio contido na Constituição Federal é o da publicidade,


(BRASIL, 1988). Por esse princípio, a Administração Pública se vê obrigada a dar
conhecimento ao administrado de todo e qualquer ato por ela praticado. Conforme
descreve Moraes (2004, p.317), "a publicidade se faz pela inserção do ato no Diário
Oficial ou por edital afixado no lugar próprio para divulgação de atos públicos [...].”
Todo ato da administração é publicado em Diário Oficial ou edital, o que lhe confere
transparência. Dessa maneira, a coletividade pode fiscalizar o que está sendo feito
pelo poder público, acompanhando o seu desempenho.
Para garantir a intimidade (direito individual), o direito restringe a atuação
de alguns órgãos, instituições e de determinados profissionais, os quais, em virtude
do exercício da função, possuem conhecimento de informações de terceiros, pelo
que lhes é imposto o dever de sigilo. Di Pietro (2011, p. 72), após definir o princípio
da publicidade, prescreve que estão "[...] ressalvadas as hipóteses de sigilo
previstas em lei.” As ressalvas de sigilo previstas relativas à publicidade, não serão
tratadas nesta pesquisa.
Somente nos atos em que a lei prevê o sigilo, é que terão restringida a
publicidade. Segundo Rosa (2009b, p. 15), a regra é que o ato praticado pelo
administrador público deve ser publicado, sendo exceção que estes sejam
praticados de forma sigilosa. No caso dos atos sigilosos, somente não serão
publicados quando a segurança nacional o exigir, ou nos casos expressos em lei.
Com esse princípio, a Administração deixa transparente e clara sua atividade, o que
constitui a confiabilidade do administrado na gestão do poder público.
O último princípio definido pela Constituição em seu art. 37 é o da
eficiência, determinante de que todo ato deve ser efetivo no objetivo a que se
propõe. O art. 74 da C. F. estabelece o controle pelo executivo, legislativo e
judiciário, por meio de acompanhamento e fiscalização para avaliar os resultados.
(BRASIL, 1988)
O administrador tem que ser eficiente na realização dos atos, deve,
dentro do prazo determinado, desenvolver a atividade funcional completamente e
atender todos os requisitos exigidos para a validade do ato. Segundo salienta
Moraes (2004, p. 319), "o administrador público precisa ser eficiente, ou seja, deve
ser aquele que produz o efeito desejado.” O servidor é mero instrumento de
execução dos interesses do Estado para atender a coletividade, e, para concretizar
os objetivos do poder público, executa atos que vão realizar a gestão estatal.
29

A eficiência se concretiza pela forma com que o servidor executa e


estrutura os atos administrativos. Di Pietro (2011, p. 84) destaca que "o princípio da
eficiência possui dois aspectos: modo de atuação do agente público e modo de
organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública.” O modo de atuação
do agente público é a maneira como deve atuar o servidor, ou seja, com
transparência e imparcialidade, devendo observar única e exclusivamente o
interesse do Estado em atendimento à coletividade. (grifo do autor)
Com base nos preceitos da Administração Pública, a sociedade mineira -
a Polícia Militar mineira verifica a eficiência do trabalho de seus integrantes por meio
da Avaliação Anual de Desempenho Profissional (AADP), com a qual se constata o
que foi produzido pelo servidor e de que forma foi produzido, medindo sua eficiência
(MINAS GERAIS, 2009c). Esse princípio não fazia parte do art. 37 quando da
promulgação da Constituição Federal em 1988, somente mais tarde, por meio da
Emenda Constitucional n° 19, de 04 de junho de 1998, é que este foi inserido, sendo
hoje um dos deveres da Administração Pública. (BRASIL, 1988)
Após análise dos princípios constitucionais da Administração Pública,
verifica-se que todo ato administrativo deve conter esses pressupostos e a ausência
de um deles acarretará na nulidade, pois, conforme súmula 473 do Supremo
Tribunal Federal (STF), o ato que contém vício não gera direitos (BRASIL, 1969c).
A Administração Pública deve primar pela conduta transparente e legal de
seus servidores, proporcionando à coletividade a tranquilidade e confiança no poder
estatal. O art. 240-A do EMEMG, ao definir a deserção como atentatória à honra e
ao decoro da classe, prevê vários atos administrativos que devem ser estruturados
com base nos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.

2.3.2 Atos da Administração Pública

O art. 240-A do EMEMG conduz o processo de deserção à submissão do


militar desertor ao processo demissionário. Vários atos são executados por meio de
processos e procedimentos que possuem ritos e formas até uma decisão final que
30

também constitui um ato administrativo por si só. Neste título, será analisado o
conceito de ato, seu desenvolvimento e requisitos para sua existência.
O ato administrativo é a produção do interesse do Estado em
atendimento ao anseio da coletividade. Di Pietro (2011, p. 194) define "ato
administrativo como a declaração do Estado ou de quem o represente, que
produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico
de direito público e sujeita a controle pelo poder judiciário.” (grifo do autor).
Nesse sentido, o ato administrativo é uma expressão da vontade do Estado por meio
de seus entes que produz efeitos jurídicos, apesar de não ser esta sua finalidade, e
é controlada pelo poder judiciário, por meio das sanções a serem aplicadas, no caso
do excesso de poder na execução do ato.
Todo ato praticado pelo administrador na gestão de sua função
administrativa é considerado um ato da administração, portanto, é necessário que
para que uma atividade seja incorporada ao conceito de ato da administração, o
executor deve realizá-la no exercício de sua função. Segundo Rosa (2009a, p. 222)
ato da administração é todo aquele praticado no exercício da função administrativa,
excetuando os atos administrativos provenientes do Poder Legislativo e Poder
Judiciário.
O art. 81 do Código Civil de 1916 define o ato jurídico como s endo "todo
ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir direitos.” Os mesmos elementos que constituem esse conceito estão
presentes na definição de ato administrativo, ou seja: expressão da vontade do
Estado, legalidade e produção de efeitos jurídicos. (BRASIL, 1916). A partir desse
conceito é que se formulou o conceito de ato administrativo. Como explica Di Pietro
(2011, p.198), o Código Civil de 2002 preferiu adotar o termo "negócio jurídico” ao
invés de ato jurídico. Essa mudança justifica-se pelo fato de que a expressão ato
jurídico, compreende o ato jurídico em sentido estrito, que apesar de produzir efeitos
jurídicos não é essa a sua intenção. Já o termo negócio jurídico é utilizado para os
atos praticados com a intenção de produzir determinados efeitos jurídicos.
Conforme destaca Rosa (2009a, p. 223-231), os requisitos necessários
para a execução de um ato administrativo são: competência, finalidade, forma,
motivo e objeto. A falta de uma dessas exigências, anula todo o ato.
A competência refere-se às atribuições do agente que irá praticar o ato.
Essas atribuições são especificadas em lei independente da vontade do Executivo
31

ou do próprio funcionário público. Segundo Di Pietro (2011, p. 205), a competência é


o “conjunto de atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixadas
pelo direito positivo.” (grifo do autor). Todo ato somente pode ser praticado por
pessoa devidamente autorizada pela lei. Sem a competência, o ato não possui
legitimidade. Esse conceito também é adotado por Rosa (2009a, p. 225), que
observa que o elemento competência não é inflexível, existindo casos em que
haverá a exceção. Essas exceções não são objetos do presente estudo. Ressalta-se
que a competência é um requisito imprescindível para os atos da administração e no
caso da deserção que acarreta vários atos, esse princípio deve ser obedecido para
que o processo tenha legitimidade.
O segundo requisito é o da finalidade. O ato da administração tem que
atingir o fim pretendido pelo poder público. A Administração tem que buscar o
atendimento aos anseios da coletividade, para isso determina o alcance de suas
ações, ou seja, aonde pretende chegar. Por intermédio dos agentes públicos, busca
o resultado adequado às necessidades do coletivo.
O ato administrativo é constituído e operacionalizado por meio da lei que
determina o trajeto a ser percorrido para alcançar o fim pretendido. Di Pietro (2011,
p. 212) salienta que a lei é que define a finalidade que o ato deve alcançar, não
existindo liberdade de opção por parte da autoridade. Pode ser citado como exemplo
o caso da deserção: quando a lei define que é contrária a honra e ao decoro da
classe e o art. 64, II do Código de Ética dos Militares reza que todo fato contrário a
honra e decoro da classe deve ser submetido ao Processo Administrativo Disciplinar
(PAD), não pode o art. 64, II ser utilizado para outra finalidade que não submeter o
militar ao PAD. (MINAS GERAIS, 2002a)
A meta a ser atingida, em todos os atos da Administração, é a satisfação
da coletividade, por isso, evitando promoções pessoais e de terceiros, somente a lei
determina qual o fim a ser cumprido pela Administração, sendo que qualquer desvio
dessa finalidade implicará na nulidade do ato, com responsabilização dos entes
executores. Rosa (2009a, p. 226) confirma o conceito destacando que a finalidade
busca o interesse público e o bem comum.
Outro requisito do ato da Administração apontado é a forma. A forma é a
maneira estipulada pela lei de como cada ato será executado, expressando-o ao
mundo exterior. A inobservância das formalidades que precedem e sucedem o ato
administrativo implicarão na sua nulidade, não sendo válido. Segundo Di Pietro
32

(2009, p. 210), via de regra, deve ser adotada a forma escrita para comprovação do
ato, contudo nada impede que a lei determine outras formas de execução. O fato é
que se a lei exige determinada estruturação, essa deverá ser cumprida sob pena de
nulidade.
A forma prescrita pela lei evita que o administrador público execute o ato
conforme sua vontade, devendo agir de acordo com o que dita a norma, sob pena
de responsabilidade civil, administrativa e criminal. Segundo Rosa (2009a, p. 227) a
obediência à forma conduz à estabilidade entre as relações sociais e da segurança
jurídica. A forma conduz à legitimidade da ação pelos dos agentes, evitando
maneiras diferenciadas e tendenciosas do proceder.
O motivo também é um dos requisitos do ato administrativo, segundo
Venosa (2004, p. 425), "Toda atividade humana tem um motivo. [...] há motivação
para atingir um fim.” O ato administrativo tem um porquê, possui uma intenção que
impulsiona a produção da atividade administrativa.
O art. 3°, III, do Código de Ética e Disciplina dos Militares de Minas Gerais
(CEDM), prescreve que o motivo da demissão do desertor é ter faltado,
publicamente, com o decoro pessoal, dando causa a grave escândalo que
comprometa a honra pessoal e o decoro da classe. (MINAS GERAIS, 2002a).
Conforme destaca Di Pietro (2011, p. 212), "Motivo é o pressuposto de fato e d e
direito que serve de fundamento ao ato administrativo.” Pode-se afirmar, então, que
no caso do ato de demissão do militar que comete a deserção, o motivo é a infração
administrativa disciplinar que ele cometeu.
O último requisito destacado por Rosa (2009a, p.23), é o objeto. Ele
define como sendo "[...] o efeito praticado (pretendido) pelo administrador público,
civil ou militar, com a edição do ato ou a modificação por ele trazida ao ordenamento
jurídico[...]”. Objeto é o que se pretende ou se produz com ato executado.
Lembrando do princípio da legalidade que deve estar presente nos atos da
administração, devem-se buscar objetos lícitos e que possuem possibilidade jurídica
de acontecer. Confirmando essa idéia, Venosa (2004, p. 422), salienta que "O objet o
deve ser idôneo, isto é, apto a regular o interesses sobre os quais recai o negócio.”
Necessário, portanto, é que o objeto esteja sempre apoiado na legalidade, realizável
de fato e de direito.
O objeto do ato tem a capacidade de modificar uma situação
juridicamente constituída, atingindo determinada pessoa que terá seu direito alterado
33

por um ato. Di Pietro (2011, p. 208) afirma que um ato administrativo somente existe
quando produz efeito jurídico, criando, extinguindo ou transformando um
determinado direito.
Verifica-se que a demissão do militar que comete o crime de deserção é o
objeto do ato, uma vez que a demissão vai produzir efeitos que extinguirão o direito
do militar de permanecer na Instituição Militar. Sendo esse objeto lícito, uma vez que
está previsto no CEDM, como uma das punições possíveis, poderá ser efetivada a
demissão de fato e de direito.
Após análise dos requisitos do ato da administração, percebe-se que no
momento em que o militar comete o crime de deserção, movimenta, na esfera
administrativa, um conjunto de ações que objetivam à solução do problema. O ato
para demitir o militar desertor, contém a competência, única e exclusiva de
determinada autoridade, nesse caso, o Governador do Estado; contém a finalidade
que é o interesse da coletividade que busca solucionar o problema da deserção, que
traz prejuízos para a atividade fim, que compromete à segurança e a ordem da
sociedade; é realizado por forma escrita, publicado em diário oficial, garantindo o
princípio da publicidade, dando credibilidade e transparência; possui motivo que, no
caso da deserção é o comprometimento da honra pessoal e do decoro da classe; e,
por fim, possui o objeto, que é o efeito que se busca produzir, o que se pretende
alcançar, ou seja, a demissão do militar.

2.3.3 Processo Administrativo Disciplinar (PAD)

A partir do ano de 2007 houve a mudança no Estatuto dos Militares que


gerou a possibilidade de consequência administrativa para aqueles que cometessem
o crime de deserção, com respaldo legal no art. 240-A. A deserção passou a ser
classificada como ato atentatório a honra pessoal e o decoro da classe. O art. 64, II
do CEDM dita que toda transgressão que comprometa a honra e ao decoro da
classe será submetida à análise do PAD, visando a demissão do faltoso (MINAS
GERAIS, 2002a).
34

O PAD, portanto, é o mecanismo pelo qual a Administração Pública faz a


apuração da transgressão disciplinar, analisando quanto à demissão do
transgressor, dentro do ramo do direito administrativo.
Conforme explica Capez (2003, p. 13) "processo é o meio pelo qual o
Estado procede à composição da lide, aplicando o direito ao caso concreto [...]”.
Entende-se como lide o conflito, a questão que deve ser solucionada por meio de
uma decisão justa. O processo é o instrumento utilizado pelo Estado para resolver
problemas havidos entre interesses de partes, sendo que o próprio Estado, em
vários casos, será uma das partes interessadas.
Todo conflito entre partes é solucionado por meio de um processo.
Segundo Theodoro Júnior (2004, p.42), processo "[...] é o método, isto é, o sistema
de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito
público [...].” (grifo do autor). Assim como Capez define processo, sob uma ótica
penal, Theodoro Júnior, em uma visão focada no Direito Processual Civil, declina o
conceito de processo como sendo uma composição de um conflito existente,
envolvendo interesses contrários de partes, sendo o processo o mecanismo para
essa composição. Os dois doutrinadores trazem o mesmo conceito de processo,
apontando para uma única definição.
No âmbito administrativo, a Constituição Federal traz em seu art. 41, §1°,
incisos I e II que o servidor público estável só perderá o cargo mediante sentença
judicial transitada e julgada por meio de processo administrativo que lhe seja
assegurada a ampla defesa. Tomando por base esse ordenamento, tem-se que o
conceito de processo administrativo conteria a mesma base de definição
apresentada por Capez e Theodoro Júnior. (BRASIL, 1988)
Completando e ampliando o conceito apresentado por Capez (2003, p.
13) e Theodoro Júnior (2004, p.42), com o fim de alcançar aqueles processos que
não envolvem controvérsias, Di Pietro (2011, p. 623) define processo "[...] série de
atos preparatórios de uma decisão administrativa.” O processo, então, é um
instrumento indispensável para o exercício da função administrativa, servindo, no
caso do direito administrativo, não só para compor a lide, mas também para
embasar uma decisão administrativa, mesmo aquelas em que não haja conflito.
Ressalta-se que o processo não se confunde com o procedimento: o
primeiro se caracteriza por ser um meio para se chegar à decisão da administração,
enquanto o segundo, são as formalidades que devem ser obedecidas para a prática
35

dos atos. É o rito, a forma de atuar e se desenvolver dentro do processo


administrativo. Assim, o PAD se insere neste conceito.
Segundo Rosa (2009b, p. 66), o PAD é o processo destinado a julgar os
militares do Estado de Minas Gerais. O art. 64 c/c art. 36 da Lei 14.310 (CEDM),
define que o militar com menos de 3 anos de efetivo serviço será submetido ao PAD,
quando do cometimento de transgressão que avalie a possibilidade de sua
demissão. Estipula-se, dessa maneira, a obrigatoriedade da submissão do militar ao
PAD para que se efetue sua demissão, salvaguardado os casos de exceções
trazidos pela Lei, como por exemplo, o militar com menos de três anos de efetivo
serviço que se sujeitará ao procedimento sumário. (MINAS GERAIS, 2002a)
O processo se desenvolve por meio de ritos distribuído em fases as quais
organizam e garantem a instrução do feito que, segundo Di Pietro (2011, p. 636),
são: "instauração, instrução, defesa, relatório e decisão.” A Polícia Militar
estabeleceu, por meio da Resolução 3666 de 2 de agosto de 2002, o Manual de
Processos e Procedimentos Administrativos Disciplinares da Polícia Militar de Minas
Gerais (MAPPAD). O manual traz as fases desenvolvidas por Di Pietro permitindo o
equilíbrio e igualdade aos militares submetidos ao processo. O MAPPAD contém
orientações que direcionam os encarregados durante o desenvolvimento das
apurações. (MINAS GERAIS, 2002b)
Conforme o art. 149 do MAPPAD, o PAD é um processo especial
destinado a dar parecer sobre a conveniência da permanência do militar na
Corporação. No caso do militar desertor, conforme o art. 240-A, sua atitude
compromete a honra pessoal e o decoro da classe, pelo que, o art. 64, II do CEDM o
coloca em condições de submissão ao PAD. (MINAS GERAIS, 2002a,b)
A existência do PAD encontra respaldo legal pela Lei 14.310 de 19 de
junho de 2002 que contém o Código de Ética e Disciplina dos Militares de Minas
Gerais (CEDM). Em seus artigos 63 a 77 ele define e estabelece o funcionamento
do processo disciplinar garantido ao acusado o seu direito de ampla defesa e
contraditório. (MINAS GERAIS, 2002a)
O contraditório e a ampla defesa são garantias constitucionais. Segundo
Capez (2003, p.19-20), o contraditório "[...] exprime a possibilidade, conferida aos
contendores, de praticar todos os atos tendentes a influir no convencimen to do juiz.”
A ampla defesa "implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais
completa defesa, seja pessoal (autodefesa) seja técnica (efetuada por defensor).”
36

O PAD inicia-se pela instauração de portaria assinada pelo Comandante


da Região da Polícia Militar onde está lotado o militar acusado. A portaria apresenta
a designação de uma comissão para proceder a apuração. Essa comissão,
conforme o art. 154 do MAPPAD será composta por três militares mais antigos, de
maior grau hierárquico que o militar que está sendo acusado. Conforme art. 12 da
Lei 5301 que contém o Estatuto dos Militares de Minas Gerais, a antiguidade é
regulada pela data de nomeação ou promoção, data de nascimento, graduação
anterior e nota de curso.
O ato de instauração do PAD não é uma faculdade do Comandante, mas,
uma obrigação de fazê-lo quando tomar conhecimento acerca de fato que atente
contra a honra e o decoro da classe, conforme determina o art. 64, II do CEDM.
(MINAS GERAIS, 2002a, b)
Ao receber a convocação para atuar, a Comissão do Processo
Administrativo Disciplinar (CPAD) iniciará o trabalho, emitindo, dentro do prazo de 40
dias, conforme art. 165 do MAPPAD, o parecer acerca da demissão. A instrução do
processo deverá ser realizada em obediência ao princípio do contraditório e da
ampla defesa. Diligências como audições de testemunhas, colhimento de provas,
entre outras, vão compor ao que se chama a parte de instrução do processo.
(MINAS GERAIS, 2002b)
Realizada a parte de instrução, colhidas todas as provas necessárias para
a decisão final, a CPAD abrirá vistas8 ao acusado para que ele possa se defender da
falta que lhe está sendo imputada. Depois, fará o relatório final por meio de
deliberação acerca da permanência ou demissão do militar. Após, encaminhará os
autos à autoridade competente para que se possa decidir sobre o caso,
completando, dessa maneira, todas as fases definidas por Di Pietro (2011).
Antes de decidir sobre o PAD, os autos do processo são encaminhados
para o Conselho de Ética e Disciplina Militares da Unidade (CEDMU). Esse
conselho, conforme o art. 78 do Código de Ética e Disciplina é o órgão colegiado
designado pelo Comandante com objetivo de assessorá-lo. (MINAS GERAIS,
2002a)
Ressalta-se que esse conselho tem como finalidade apenas o
assessoramento, sendo que o parecer emitido por ele, não possui força de decisão,

8 R e s o lu ç ã o 3 6 6 6 , d e 0 2 d e a g o s to d e 2 0 0 2 ( M A P P A D ) - A b e r t u r a d e V i s t a s - D o c u m e n t o f o r m a l, a t r a v é s d o
q u a l s e a b r e o p o r t u n i d a d e d e d e f e s a a o ( s ) a c u s a d o ( s ) , c o m p r a z o d e f in i d o , p a r a a a p r e s e n t a ç ã o d e s u a s r a z õ e s
e s c r it a s d e d e f e s a .
37

tampouco vincula-se à decisão do Comandante, podendo existir discordância entre


ato final do Comando e do CEDMU. De acordo com o art. 79 do Código de Ética, o
CEDMU é composto pro três militares superior hierárquico ou mais antigo que o
militar acusado no processo e possui caráter apenas consultivo. (MINAS GERAIS,
2002a).
Segundo o art. 74, § 1° do Código de Ética, a decisão acerca do PAD
compete ao Comandante Geral, cabendo recurso de sua decisão ao Governador do
Estado. (MINAS GERAIS, 2002a)
O art. 64, II do CEDM conduz os crimes de afronta à honra e ao decoro
da classe à análise da demissão por meio do PAD. Conforme explica Marinho Filho
(2010, Pg. 23), o art. 64, II que confere ao comportamento do militar que afronta a
honra pessoal e o decoro da classe a submissão ao PAD, é um ordenamento
meramente procedimental. O artigo não possui cunho punitivo, apenas estabelece a
submissão do militar ao processo, portanto, é obrigatória a inserção do art. 64, II na
portaria do PAD, sob pena de nulidade, uma vez que ele tipifica o crime. Ressalta-se
que o acusado não se defenderá do que está previsto no art. 64,II, que servirá tão
somente para a instauração do processo. O militar se defenderá da transgressão
que lhe está sendo imputada, conforme prescrito nos artigos 13,14 e 15 do CEDM.
Segundo Marinho Filho (2010, p. 24) no caso de submissão do militar ao
PAD pelo art. 64, II, este deverá ser precedido de uma apuração administrativa
preliminar para que se verifique se a falta cometida atentou contra a honra pessoal e
o decoro da classe. A exceção é a deserção que por meio do art. 240-A do EMEMG
já é definida como ato atentatório à honra e ao decoro.
Ressalta-se que o PAD, apesar de ser um processo administrativo do
âmbito interno da Polícia Militar, deve obedecer rigorosamente os preceitos
constitucionais, pois como afirma Rosa (2009a, p.150), a disciplina e hierarquia
continuam sendo os pilares das Forças Militares. Por esse motivo as sanções
deverão obedecer ao prescrito pelo legislador constituinte de 1988.
Nesse sentido, verifica-se que, conforme prescreve a Constituição
Federal de 1988, em seu art. 5°, LIV e LV, todo o militar acusado terá direito ao
devido processo legal, ao contraditório e a ampla defesa. O PAD, que analisa a
conveniência da permanência do militar na Corporação é o instrumento institucional
para a realização da apuração dos fatos e da ampla defesa. Por meio de ritos
processuais analisam-se os fatos para se chegar a uma decisão justa. É o caso da
38

deserção. Ao ser declarado ato contrário à honra pessoal e ao decoro da classe,


pode-se resultar na demissão do acusado, tendo, ele, direito a um processo e
julgamento respaldados e construídos dentro dos preceitos constitucionais.
(BRASIL, 1988)
39

3 ANÁLISE DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS MILITARES DE MINAS


GERAIS

Nesta seção far-se-á a análise do art 240-A detalhando o seu conteúdo, a


sua forma, a legalidade de sua aplicação por intermédio da Lei Complementar 95,
que instituiu o art. 240-A, no Estatuto dos Militares. A ênfase será na verificação da
capacidade retroativa de sua aplicação.

3.1 Análise da Lei Complementar 95 de 17 de janeiro de 2007 que


implementou ao Estatuto dos Militares de Minas Gerais o art. 240-A

Segundo Rosa (2010, p. 1) "Devido ao aumento do ilícito de deserção no


Estado e Minas Gerais, [...] a Assembléia Legislativa editou uma norma jurídica
permitindo a submissão do desertor a processo administrativo de natureza
disciplinar, Lei Complementar 95/2007.”

O desertor comete ato atentatório à honra pessoal e ao decoro da


classe. Parágrafo único. O prazo para a submissão do militar a
processo administrativo-disciplinar é de, no máximo, cinco anos,
contado da data em que ele foi capturado ou se apresentar.(MINAS
GERAIS, 2007)

Com a promulgação da Lei complementar que implementou o art. 240-A,


vários questionamentos surgiram quanto à sua aplicabilidade aos fatos ocorridos
antes de sua vigência. O assunto é bastante complexo não encontrando pacificação
entre os estudos dos doutrinadores.
O princípio da irretroatividade, previsto no artigo 2° do Código Penal
Militar, (Brasil, 1969a), não permite que uma norma retroaja para prejudicar direito
de alguém. Conforme afirma Rosa (2010, p. 1) a lei, mesmo sendo de natureza
administrativa, não poderá alcançar os fatos ocorridos antes de sua vigência. O
autor entende que a Lei complementar 95 possui efeitos somente ex nunc, ou seja, a
lei somente poderá atingir os fatos ocorridos depois de sua vigência.
40

O art. 20 da Lei Complementar dita que sua entrada em vigor seria 90


dias após a sua publicação que ocorreu em 17 de janeiro de 2007, portanto, passou
a vigir e ter efeitos jurídicos, em data de 17 de abril de 2007. (MINAS GERAIS,
2007)
O art. 5° da Constituição Federal, em seu inciso XXXVI, prevê que a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Segundo
Moraes (2004, p.107), direito adquirido se define pela situação jurídica
definitivamente consolidada; o ato jurídico perfeito é aquele que reuniu todos os
elementos necessários à sua formação; e coisa julgada é a decisão transitada em
julgado, ou seja, que não cabe mais recurso judicial. (BRASIL, 1988)
Ressalta-se que Di Pietro (2011, p.746) traz uma definição diferenciada
de coisa julgada, para o Direito Administrativo, ‘[...] significa apenas que a decisão
se tornou irretratável pela própria administração.” (grifo do autor). Nos outros
ramos do direito, a coisa julgada se concretiza pela análise do problema em todas as
instâncias judiciais, nas quais não existe instância superior a recorrer. Para o Direito
Administrativo, a coisa julgada é uma decisão que não pode mais ser retratada pela
própria administração, mas nada impede que o autor da ação recorra em instância
judicial e tenha apreciada a decisão administrativa pelo poder judiciário.
A Constituição Federal cria mecanismos que garantem ao cidadão a
segurança de seus direitos. Segundo Celso Bastos (apud MORAES 2004, p.107), o
inciso XXXVI do art. 5° da Constituição Federal "constitui-se num dos recursos de
que se vale a Constituição para limitar a retroatividade da lei.”, ou seja, a lei jamais
retroagirá para prejudicar o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito,
uma vez que esses institutos estão completos e realizados em sua essência.
Rosa (2010, p. 1), ao salientar que a Lei Complementar 95 não poderá
retroagir para alcançar fatos anteriores à sua vigência, utiliza-se do mesmo princípio
da irretroatividade da Lei Penal, trazida pelo art. 2° do Código Penal, o qual
determina que a lei somente retroagirá para o favorecimento do réu, jamais em
prejuízo. (BRASIL, 1940)
A ideia de Rosa encontra objeções tendo em vista que as esferas penal e
administrativa são distintas e independentes, a aplicação de sanções se processa
diferentemente em cada caso. Nesse sentido, Carvalho Filho (2006, p. 57) cita que
"são diversos os ilícitos penal, civil e administrativo, o que vai redundar na
diversidade também de sua configuração.” A aplicação da lei admi nistrativa possui
41

rito próprio e, por mais que se assemelhe a outro ramo de direito, terá a
independência em suas decisões, respeitando, obviamente, os princípios
constitucionais que conferem legalidade e validade aos atos administrativos.
Carvalho Filho (2006, p. 57) afirma que o Direito Penal possui sistema de
tipicidade rígida que determina para cada tipo penal uma sanção específica. O
Direito Administrativo se limita a definir as transgressões disciplinares sem, contudo,
prever uma punição específica para cada conduta.
A aplicação da sanção é ato discricionário da autoridade competente. Daí
a importância da obediência ao princípio da proporcionalidade que implica ao agente
aplicador da sanção a obrigatoriedade de estabelecer sanções adequadas à conduta
infratora.
A questão ainda é bastante divergente. Na apelação cível n° 680, Tribunal
de Justiça Militar - TJM, (Minas Gerais, 2010), que reexaminou a situação de um
militar desertor da 8a RPM, o qual se apresentou após a vigência da Lei
Complementar 95/07, tendo iniciado a deserção antes de tal Lei, não houve
unanimidade de votos. Dois dos juízes que julgavam a lide entenderam que a
deserção é crime permanente, que, segundo Greco (2009, p. 30), "é aquele cuja
consumação se prolonga no tempo” e sua dura ção se estende no tempo, inclusive
na esfera administrativa. Assim se posicionaram os magistrados:

O fato de a configuração da deserção somente se dar a partir de um


marco temporário preestabelecido em lei não significa que ela se
esgote naquele momento, uma vez que sua consumação, inclusive
na esfera administrativa, perdura no tempo, enquanto o militar
permanecer na condição de desertor (BRASIL, 2011).

Os dois juízes embasaram seus votos na súmula 711 do Supremo


Tribunal Federal que estabelece a aplicação da lei mais grave ao crime continuado9
ou ao crime permanente, se a vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência. Segundo os magistrados, essa súmula aplicar-se-á também às
sanções administrativas. (BRASIL, 2003)
O juiz que teve o voto vencido embasou seu argumento nos princípios
constitucionais da anterioridade e retroatividade da lei que, conforme art. 5° da

9 Art. 71 Código Penal - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do
primeiro.
42

Constituição Federal, em seu inciso XXXIX, afirma que "não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem a prévia comi nação legal” e no inciso XL, "A lei
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (BRASIL, 1988). Para esse
Magistrado, o art. 240-A não poderia ser aplicado ao militar que desertou antes da
entrada em vigor da Lei Complementar 95/07 que o instituiu, uma vez que, quando
ocorreu a deserção, não existia norma que estabelecesse a conduta como contrária
à honra e ao decoro da classe, condições fundamentais para submissão do militar
ao PAD, conforme art. 64, II do Código de Ética dos Militares de Minas Gerais. Não
houve a intenção de afrontar a honra e o decoro, mesmo porque não havia essa
definição no Código de Ética, eximindo-se, dessa forma, da responsabilidade de
responder pela transgressão. (MINAS GERAIS, 2002a)
O Supremo Tribunal Federal (STF), mais alta corte do País, já se
pronunciou a respeito dessa questão por intermédio da súmula 711 que permite a
aplicação de normas aos fatos anteriores à sua vigência, aos crimes permanentes e
continuados. A transgressão disciplinar da deserção é de caráter permanente,
portanto, também é amparada pela súmula em comento (BRASIL, 2003). Assim,
dada a decisão do STF, entende-se que há possibilidade de aplicação da Lei
Complementar 95/07 aos fatos ocorridos antes de sua vigência.

3.2 Análise do art. 240-A do Estatuto dos Militares de Minas Gerais:


aplicação e atuação na esfera administrativa

O art. 240-A foi instituído pela Lei Complementar NG95, de 17 de janeiro


de 2007, que começou a vigorar em 17 de abril desse mesmo ano, noventa dias
após sua publicação. Conforme a Constituição do Estado de Minas Gerais, art. 63,
parágrafo único, "a Lei Complementar disporá sobre a elaboração, redação, a
alteração e a consolidação das leis.” Nesse caso, a Constituição prevê como uma
das finalidades da Lei Complementar a alteração de lei vigente, o que ocorreu com a
Lei Complementar 95/07, que alterou a Lei Ns 5.301/69 criando, entre outros, o
art. 240-A que confere à deserção a qualidade de ato atentatório à honra e ao
decoro da classe (MINAS GERAIS, 2007, 1969).
43

A Lei Complementar Ns 78, de 9 de julho de 2004, dispõe acerca da


criação de lei, como deve ser estruturada e apresentada formalmente. Conforme art.
15, §2°, quando for acrescida matéria em uma lei, vindo o acréscimo entre dois
artigos, será repetido o número do artigo anterior e acrescentará a letra em
maiúsculo e em ordem alfabética. O art. 240-A vem transcrito, seguido da letra "A”,
com estrutura em obediência ao previsto nos artigos 8 o ao 121 da lei referenciada.
(MINAS GERAIS, 2004)
O legislador pretendeu resguardar determinadas matérias contra
alterações constantes, por isso instituiu a lei complementar cuja função é regular
assunto infraconstitucional, que, obrigatoriamente, deve estar em consonância com
a Constituição. Segundo Moraes (2004, p.569), a lei complementar existe pelo fato
de que determinadas matérias, mesmo de grande importância, não deveriam ser
regulamentadas na própria Constituição Federal, o mesmo aplica-se à Constituição
Estadual.
A Lei Complementar N5 95/07 que alterou a Lei Nc 5.301 (EMEMG) foi
promulgada com a finalidade de alterar a lei ordinária. Conforme afirma Manoel
Gonçalves Ferreira Filho (apud MORAES, 2004, p. 571), "... a Lei Ordinária, o
Decreto-Lei e a Lei Delegada estão sujeitas à Lei Complementar e, em
consequência disso, não prevalecem contra elas, sendo inválidas as normas que a
contradisserem.”
Após definir a deserção como ato atentatório à honra e ao decoro da
classe, o art. 240-A vincula a conduta da deserção ao art. 64, II do Código de Ética e
Disciplina dos Militares, o qual dispõe que será submetido ao Processo
Administrativo Disciplinar (PAD), de caráter demissionário, o militar que praticar ato
que afete a honra e ao decoro da classe. (MINAS GERAIS, 2002a). Conforme
ensina Marinho Filho (2010, p. 23), “[...] a finalidade do art. 64, inciso II, Lei N1.
14.310 (CEDM) é independente quanto ao seu propósito, ou seja, o de instaurar o
PAD [...]”.
As normas mencionadas não tipificam transgressão disciplinar, são
apenas conceituais e procedimentais, por esse motivo é necessário que a portaria
que instaure o PAD contenha, além dos artigos 240-A do EMEMG e 64, II do CEDM,
uma das transgressões tipificadas nos incisos do art.13 do CEDM, proporcionando
ao militar transgressor a ampla defesa consagrada na Constituição. Nesse caso, a
tipificação correta seria a prevista no art. 13, III do CEDM, transgressão de natureza
44

grave: "faltar, publicamente, com o decoro pessoal, dando causa o grave escândal o,
que comprometa a honra e o decoro da classe” (MINAS GERAIS, 2002a).
A instrução 01/05 da Corregedoria da Polícia Militar explica que no caso
da publicidade da deserção basta a sua repercussão no âmbito interno da
Corporação para configurar a indisciplina. Quanto ao grave escândalo, deve ser algo
marcante negativamente, uma situação perniciosa e repreensível cometida pelo
transgressor. (MINAS GERAIS, 2005)
Verifica-se a necessidade da tipificação do art. 13, III, CEDM junto a
instauração do PAD por meio do art. 64, II do mesmo ordenamento administrativo,
tendo em vista que o art. 64, II não confere ao acusado a amplitude da defesa, pois
não especifica o tipo de transgressão que, em tese, ele teria cometido. Conforme
prescreve o art. 87 da Instrução da Corregedoria 02/09, para a instauração do PAD,
além da fundamentação no inciso II, art. 64 do CEDM, deve ser apontado também
um dos incisos do art. 13 do CEDM que traz as transgressões de natureza grave.
(MINAS GERAIS, 2002a, 2009a)
O artigo 240-A, ao ser implementado no Estatuto, serviu como um
mecanismo facilitador aos Comandantes na decisão de submeter o militar desertor
ao PAD, apesar de conter expressões subjetivas que dificultam sua aplicação
permitindo diversas interpretações, podendo implicar em decisões diferenciadas por
parte dos julgadores. Os termos honra pessoal e decoro da classe, embora estejam
definidos no ordenamento jurídico da Polícia Militar, tem conotações diferentes para
cada pessoa, de acordo com a sua identidade, ou seja, nem sempre o que afeta a
honra pessoal para um indivíduo, afetará também a outro, o mesmo acontece com o
decoro da classe.
Segundo Houaiss (apud ROSA, 2009b, p 72), a palavra decoro é:

Um substantivo masculino, que significa recato no comportamento;


decência. [...]. Por fim a honra pode ser entendida como um
substantivo feminino segundo o qual é um princípio ético que leva
alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe
permite gozar de bom conceito junto à sociedade.

Tomando por base o conceito trazido por Houaiss, é complexa a análise


do delito de deserção sob o enfoque da honra pessoal e do decoro da classe, uma
vez que trata de valores que se modificam de acordo com os costumes e cultura de
cada região e se expressam de formas diferentes para cada indivíduo. Ao ser
45

instaurado o PAD, tendo como objeto de análise a deserção, a decisão final por
parte dos Comandantes poderá divergir, sendo entendido, em alguns casos, que o
afastamento do militar da Unidade que serve, por mais de 8 dias, sem justificativa,
não fere a honra nem o decoro da classe.
A decisão a respeito de julgamento de transgressões que contrariam os
princípios da honra e do decoro são de caráter subjetivo, pois exprimem juízo de
valor, carecendo de objetividade, notadamente quanto à conduta do desertor.
Apesar de serem definidos os conceitos de honra pessoal e decoro da classe pela
Resolução 3666/02 se faz necessário que o Código de Ética elenque a tipificação da
deserção, como transgressão disciplinar, de natureza grave, afastando qualquer
subjetividade de sua essência, permitindo uma decisão sólida na sua aplicação.
Diante dessas questões, visualiza-se um terreno frágil na aplicação do art.
240-A do EMEMG, comprometendo a eficácia da lei, uma vez que existe a
possibilidade do artigo não alcançar o seu fim, devido a recursos judiciais que
podem resultar em interpretações diferentes a respeito do assunto.
Toda norma deve ser eficaz naquilo que pretende regulamentar, caso
contrário perderá sua aplicabilidade, culminando em seu desuso. Para Carvalho
Filho (2006, p. 111), "eficácia é a idoneidade que tem o ato administrativo para
produzir seus efeitos. Em outras palavras, significa que o ato está pronto para atingir
o fim a que foi destinado.” A criação do art. 240-A teve como finalidade precípua a
redução do crime de deserção na Polícia Militar e, para alcançar esse fim, utilizou-se
da submissão do militar desertor ao PAD, com a possibilidade da demissão.
Verifica-se que o art. 240-A, em que pese a subjetividade dos termos
utilizados em seu texto, não apresenta vícios em sua forma, sendo de origem legal,
criado por Lei Complementar que possui prerrogativas para alterar Lei Ordinária.
Destaca-se, também, que o artigo possui caráter conceitual, não sendo de
características punitivas, uma vez que não tipifica transgressão, tampouco apresenta
punição para determinada conduta, necessitando conjugação com outro
ordenamento para sua aplicação. Assim, entende-se que o art. 240-A é legal quanto
à sua origem e possui aplicabilidade aos casos de deserção. (MINAS GERAIS,
2004, 2007)
46

4 ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO MILITAR

Nesta seção, far-se-á a análise da organização militar explicando sua


estrutura e funcionamento, sua importância e forma de gestão e estrutura
organizacional da Polícia Militar, com ênfase em seus servidores, valores e cultura.
O objetivo é permitir uma avaliação específica da organização da 8a RPM, onde se
desenvolveu o estudo do objeto desta pesquisa.

4.1 Estrutura da organização da Polícia Militar de Minas Gerais - da gestão


burocrática para uma gestão gerencial

As organizações, ao longo do tempo, basearam suas estruturas em um


modelo burocrático que buscava a adequação dos meios aos objetivos a serem
alcançados pelas empresas. No contexto atual, está sendo adotado um novo modelo
de gestão que permite um maior dinamismo nas empresas, atuação de maneira
mais flexível e integrada, promovendo a gestão de informações, potencialização do
desempenho e melhores resultados.
Nesse sentido, é necessário conceituar estrutura organizacional que,
segundo Chiavenato (2007, p. 289), "[...] é o quadro de referência, formal e informal,
que retrata o modo de funcionamento da organização. A estrutura reflete e preserva
as bases do poder, além de revelar relacionamentos importantes.” A estr utura de
uma organização é que vai delinear sua personalidade, sua identidade como
instituição. É a estrutura que sustenta as atividades desenvolvidas dentro de uma
organização, desenha a sua imagem, interna e externa, e interliga as relações dos
setores por meio das pessoas.
É essencial que a organização tenha as suas bases estruturadas para
poder alcançar resultados positivos. Para Robbins (2008, p. 350), "uma estrutura
organizacional define como as tarefas são formalmente distribuídas, agrupadas e
coordenadas.”
O Modelo burocrático possuía ritos que mantinham o movimento
sincronizado da máquina administrativa permitindo o alcance de metas de maneira
47

efetiva, contudo, devido à rigidez e imutabilidade dessa gestão, as organizações se


viram obrigadas a migrar para uma nova estratégia que proporcionasse um maior
dinamismo e celeridade, objetivando acompanhar as rápidas mudanças sociais.
Atualmente, o modelo de gestão adotado pela Polícia Militar mineira é o
de Administração Gerencial. Esse modelo, que é característico nas empresas
modernas, segundo Chiavenato (2003, p. 507), permite uma estrutura flexível,
mutável e transitória. A seguir, será feita a análise do antigo modelo em comparação
a atual forma de gestão.
Segundo Weber (2002, p. 138), a burocracia funciona de forma rígida e
inflexível e apresenta as seguintes características.

I. Rege o princípio de áreas de jurisdição fixas e oficias, ordenadas


de acordo com regulamentos [...].
II. Os princípios de hierarquia dos postos e dos níveis de autoridades
significam um sistema firmemente ordenado de mando e
subordinação, no qual há uma supervisão dos postos inferiores pelos
superiores. [...].
III. A administração de um cargo moderno se baseia em documentos
escritos ("os arquivos”), preservados em sua forma original ou em
esboço. [...].
IV. A administração burocrática [...] pressupõe habitualmente um
treinamento especializado e completo. [...].
V. [...] a atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do
funcionário [...].
VI. O desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos
estáveis, mais ou menos exaustivas, que podem ser aprendidas. [...]

Conforme mostrado por Weber (2002, p.138), as organizações


burocráticas possuíam área de atuação devidamente fixada por regulamentos, o que
permitiria uma visão geográfica do espaço a ser trabalhado delimitando o campo de
atuação. A partir dessa delimitação da área de atuação, a organização desenvolvia
seu papel sabendo por onde começar e terminar.
Na estrutura da PMMG, podia ser encontrado esse primeiro elemento.
Estruturada sob a divisão de Regiões que se desdobram em área de Batalhões, sub
áreas de Companhias e setores de Pelotões (Destacamentos e Sub
Destacamentos), a PMMG desenvolvia a atividade de segurança Pública limitando o
comando em cada nível hierárquico, sob um específico espaço territorial onde
atuava administrativa e operacionalmente.
Ainda hoje, se percebe essa estrutura. O Decreto n° 18.445 de 15 de abril
de 1977, que instituiu o Regulamento de Competência e Estrutura dos Órgãos da
48

PMMG (R-100), estabelece a distribuição dos diversos organismos integrantes da


Instituição determinando o nível de cada corpo. Apesar dessa estrutura de
característica burocrática, a Polícia Militar mineira, dentro de um contexto gerencial,
mantém uma transação e intercâmbio com seu ambiente que forma um campo
dinâmico de forças que interagem entre si, contrapondo o modelo burocrático em
que cada órgão permanece isolado em sua jurisdição. (MINAS GERAIS, 1977)
A Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública n° 3.01.01 -
(DPSSP) prescreve o seguinte:

Observar-se-á sempre o pressuposto da responsabilidade territorial,


que é o princípio pelo qual os Comandos Regionais, Unidades e
frações de execução operacional, a partir de uma delimitação
geográfica definida, são responsáveis pela execução das atividades
de polícia ostensiva em seus esforços iniciais. (MINAS GERAIS,
2010b, p. 59)

A estrutura da PMMG é baseada em divisões geográficas que permitem


um controle mais eficaz das ações a serem concretizadas. Apesar dessa ser uma
característica do sistema burocrático, a divisão geográfica é um importante meio
para facilitar a busca pelo resultado positivo, pois aproxima o policial da
comunidade, fazendo acontecer a gestão de informações que é um dos
pressupostos da gestão estratégica.
O segundo elemento mostrado por Weber (2002, p.138) é o
desenvolvimento da organização com base nos princípios de hierarquia dos postos10
e dos níveis de autoridades. A hierarquia dos postos proporcionava uma melhor
supervisão do trabalho a ser desempenhado, em todos os níveis, promovendo a
qualidade nas ações, o que refletia positivamente no produto final.
Quando a estrutura de uma organização tem definido seus níveis de
autoridades, os atritos são reduzidos, ou seja, o subordinado está protegido da ação
arbitrária do seu superior, pois as ações de ambos se processam dentro de um
conjunto mutuamente reconhecido por regras. (CHIAVENATO, 2003, p. 263).
A PMMG era, e ainda permanece, estruturada tendo como uma de suas
bases a hierarquia. Para manter o controle das atividades a serem executadas pelos
servidores em uma Instituição que possui mais de quarenta e cinco mil homens era

10 Segundo Ferreira (2004, p. 645), posto é o mesmo que cargo; lugar que cada um deve
ocupar no desempenho de suas funções.
49

fundamental que os postos e níveis de autoridades estivessem devidamente


ordenados.
A hierarquia militar ainda é baseada na distribuição de graduações112
1e
postos que se estabelecem de acordo com o grau de cada função, contudo,
tomando por base a teoria contingencial, em que, segundo Chiavenato (2003, p.
506), "a estratégia define a estrutura”, a autoridad e não mais se baseia unicamente
na hierarquia, mas, sim, no conhecimento e na consulta (pesquisa). O grau
hierárquico, por si só, já não mais confere o poder ao funcionário, é necessário que
também detenha o conhecimento. O poder apesar de ainda ser imposto pela
patente, se legitima pelo saber que é adquirido por meio do estudo e da pesquisa.
Os documentos escritos também são destacados por Weber (2002,
p.139) como base para uma estrutura burocrática. Nesse modelo de organização, o
informalismo é inadequado e prejudica o funcionamento da empresa. É preciso que
estejam registrados todos os atos para que não se percam e mantenham um
alinhamento de condutas, observando-se prazos e forma.
Para a comprovação das ações havia registros que facilitavam as
comunicações que se realizavam de maneira repetitiva e constante.
Na PMMG, a presença do formalismo ainda é acentuada. A existência de
formulários, normas escritas e documentos esparsos ainda é um viés na
Administração Pública Policial Militar. No modelo de administração gerencial, o
formalismo é substituído por pessoas e comunicações informais entre elas.
A PMMG encontra-se em um processo de amadurecimento institucional,
pois somente a partir de 2003 substituiu a Gestão Burocrática para a Gestão
Estratégica, daí a explicação para a presença do formalismo em sua estrutura. Para
uma organização que construiu sua tradição ao longo de 236 anos, qualquer
processo de mudança estrutural é demorado e lento, uma vez que depende de um
planejamento minucioso, pois, conforme descreve Chiavenato (2003, p. 376), "as
mudanças organizacionais não podem ser feitas ao acaso, ao sabor da inércia ou da
improvisação, mas devem ser planejadas.”
Tomando por base a idéia de Chiavenato, entende-se que a Polícia Militar
mineira está em processo de planejamento que inclui estudos, pesquisas, análises,

11 Conforme §2°, do art. 8° do EMEMG, "graduação é o grau hierárquico das praças,


conferido pelo Comandante Geral da Polícia Militar.”
12 Conforme §1°, do art. 8° do EMEMG, "posto é o grau hierárquico dos oficiais, conferido
por ato do Chefe do Governo do Estado.”
50

avaliação e ajustes constantes. Esse planejamento é que permitirá uma mudança


cultural, modificando o perfil da organização
O treinamento especializado e completo é também elemento apontado
por Weber (2002, p.139) como fundamento do modelo burocrático, no qual cada
funcionário é especializado na atividade de seu cargo. Para chegar à especialização,
o servidor passa por treinamento específico da área que vai atuar, desenvolvendo
um conhecimento completo de determinado assunto a ser aplicado na execução de
sua função, criando um vínculo com aquela atividade, permanecendo estático no
desempenho exclusivo de determinada tarefa.
A PMMG desenvolvia sua atividade como garantidora da segurança
pública realizando o atendimento de ocorrências que se limitavam ao preenchimento
dos Boletins de Ocorrências (BO) e prisão do meliante, ou seja, o policial era
especialista em confeccionar BOs e prender criminosos. Apesar do art. 144, §5° da
Constituição Federal do Brasil dispor que à Polícia Militar cabe a preservação da
ordem pública, a PMMG realizava seu papel com ênfase na repressão (BRASIL,
1988).
Com o modelo de gestão estratégica, o policial passou a ser polivalente.
Acompanhando as mudanças sociais, os conceitos de cada cargo são redefinidos
constantemente. Programas como Base Comunitária (Instrução N° 3.03.07/2010-
CG), Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD) - Diretriz N°
3.01.04/2010 - CG entre outros de caráter comunitário, conduzem o policial a
adaptar-se ao novo conceito de segurança pública, executando suas atividades além
do simples registro do BO. (MINAS GERAIS, 2010d; 2010c)
A dinâmica da Administração Gerencial impulsiona o servidor à integração
com a comunidade, aumentando sua capacidade de intervir nos problemas sociais.
Dessa maneira, conforme o Plano Estratégico 2009-2011, "[...] o principal
fundamento caracteriza-se por decisões e ações orientadas por resultados, voltadas
para o atendimento das necessidades dos cidadãos [...]”.(MINAS GERAIS, 2009b, p.
8)
A plena capacidade de trabalho do funcionário, apontada por Weber
(2002, p. 139) é uma sequência do desenvolvimento do cargo e se mostra como
uma exigência da atividade oficial. Para a burocracia, era necessário prever o
comportamento dos membros, antecipando suas condutas para se alcançar a
eficiência do sistema. Acreditava-se que, por intermédio das regras, com uma
51

disciplina rígida, se podia ter uma padronização de comportamentos, conduzindo a


uma rotina que permitiria uma projeção do cenário organizacional, evitando
frustrações.
Na nova gestão, que se foca no dinamismo e mutabilidade, a Polícia
Militar mineira caminha para uma cultura em que existirão poucas regras e
procedimentos e muita liberdade de trabalho. Conforme prescreve o Plano
Estratégico 2009-2011, um dos princípios norteadores da reforma organizacional da
PMMG é "[...] a desburocratização (flexibilidade de gestão) [...]” (MINAS GERAIS,
2009b, p. 8).
O policial que se via limitado por regras inflexíveis se encontra, hoje, em
uma organização com regras mais flexíveis. O Decreto N1 23.085, de 10 de outubro
de 1983 que contém o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar, revogado em
2002, deu lugar ao Código de Ética (Lei Estadual N° 14.310, de 19 de junho de
2002) instituindo como garantia do servidor o contraditório e a ampla defesa,
proporcionando maior segurança jurídica para executar a atividade policial, com
garantia de seus direitos. (MINAS GERAIS, 1983, 2002)
Conforme o Plano Estratégico 2009-2011, "em Minas Gerais, a partir do
ano de 2003, efetivou-se a atual gestão governamental do Estado, com foco nos
resultados, alinhada à avaliação de desempenho institucional e individual [...]”
(MINAS GERAIS, 2009b, p. 8). O controle do servidor na administração gerencial
passa a ser realizado por meio do alcance de resultados, de metas a serem
cumpridas, dentro de prazos estipulados; o policial tem o seu desempenho aferido e
o cálculo de seu grau de produtividade.
Outra característica do modelo burocrático conceituado por Weber (2002,
p. 139) "é que o desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos
estáveis, mais ou menos exaustivas e que podem ser aprendidas”. Essa
característica era presente com mais ênfase na estrutura organizacional da PMMG,
antes da gestão estratégica, quando as atividades eram desenvolvidas seguindo
regras rígidas compiladas em regulamentos, que dificultava a manifestação da
criatividade e inovação dos servidores.
No atual modelo, as atividades são desenvolvidas de acordo com o
Planejamento Estratégico que padroniza e especifica a missão, a visão, os valores e
determina metas e indicadores, os quais permitem um comportamento uniforme
entre os integrantes, na busca pela eficiência do resultado a ser alcançado. Por meio
52

de diretrizes elaboradas a partir de pesquisa e estudos, é dado o direcionamento ao


policial para atuar nas diversas áreas de policiamento, com a liberdade e
confiabilidade de adaptar-se à realidade da situação a qual administrará.
Todo esse processo de mudança estrutural pela Polícia Militar fez com
que fossem revistos pontos importantes dentro da Corporação. A partir do ano de
2003, com a mudança de Gestão Burocrática para Gestão Estratégica, iniciou-se
uma modificação organizacional. Segundo Chiavenato (2003, p. 506), "diferentes
ambientes levam as empresas a adotar novas estratégias e as novas estratégias
exigem diferentes estruturas organizacionais. Uma coisa leva a outra.”
Assim, o modelo de gestão concebido pela PMMG, modificou sua
estrutura organizacional, traçando um novo perfil. Em que pese ainda existirem
características do sistema de gestão burocrática, necessárias para o
desenvolvimento das atividades da Organização Militar, a gestão apoiada em planos
estratégicos transforma a instituição com ações planejadas, estudadas e embasadas
dentro do cientificismo, conforme pode ser visto no Plano Estratégico 2009-2011 que
definiu a visão da Polícia Militar mineira, bem como sua missão, voltadas para o
cidadão e para a garantia de seus direitos fundamentais. A interação com outros
órgãos de Segurança Pública e com o cidadão tem proporcionado resultados
eficazes no combate à criminalidade, ao mesmo tempo que estabelece uma imagem
da Polícia Militar como parceira e protetora da pessoa humana. (MINAS GERAIS,
2009b, p. 8)
Na figura 1 a seguir apresenta-se a estrutura da PMMG dividida em seus
sistemas, subsistemas, elementos, componentes, processos e a sociedade como
parte dessa estrutura.
53

ELEMENTOS

COMPONENTES
INTELIGÊNCIA

SUBSISTEMA RH

EMP. OPER.

EMPM LOGÍSTICA

COMUNICAÇÃO

ORNÇAMENTO

RECURSOS HUMANOS - DRH

CONTROLE, JUSTIÇA E DISCIPLINA - CPM

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - APM

n
RESULTADOS

FINANÇAS - DF

SISTEMA
SAÚDE - DS P
DIRETORIAS R r \
PMMG O K SOCIEDADE
LOGÍSTICA - DAL
CENTRO DE
C 1— \
APOIO
E
S
1— y/ Destinatária das
Políticas de
TECNOLOGIA E SISTEMA - DTS S Segurança
O
S
L___ 11___ y
MEIO AMBIENTE E TRÂNSITO - DMAT

EDUCAÇÃO ESCOLAR E ASSISTÊNCIA


SOCIAI - DEEAS

INTELIGÊNCIA - DInt

APOIO OPERACIONAL - DAOp

RH

BATALHÃO
INTELIGÊNCIA

COMPANHIA
EMP. OPER.
REGIÕES
PELOTÃO
LOGÍSTICA

DESTACAMENTO
COMUNICAÇÃO

SUBDESTACAMENTO
ORÇAMENTO

FIGURA 1 - Estrutura da Polícia Militar de Minas Gerais - Sistema de Gestão Estratégica para
Resultados
Fonte: MINAS GERAIS, 2010, p 15.
54

4.2 Cultura organizacional da Polícia Militar de Minas Gerais

Conforme analisado no tópico anterior, houve uma mudança no modelo


de gestão da PMMG que provocou uma transformação cultural. A partir dessa
mudança, novos valores foram incorporados criando um ambiente moderno, bem
como uma maneira diferente de executar o serviço de segurança pública.
A cultura de uma organização cria a sua personalidade, o que afirmado
por Chiavenato (2003, p.373), "[...] a cultura organizacional representa as normas
informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros da
organização no dia-a-dia e que direcionam suas ações para a realização dos
objetivos organizacionais.”
Assim, entende-se que a Polícia Militar encontra-se em processo de
transformação cultural. Com a adoção do modelo de gestão gerencial, em 2003,
houve significativa mudança nos valores da Instituição com propagação no ambiente
externo da idéia de uma polícia parceira e comprometida com o cidadão.
Criou-se, assim, uma consciência de respeito e proteção à pessoa
humana provocando a modificação no perfil do policial militar que deixou a imagem
de repressivo para assumir o papel de protetor e garantidor dos direitos
fundamentais do cidadão.
A missão da PMMG trazida pelos antigos manuais, redigidos pelo
Ministério do Exército13 (Brasil, 19 - -) limitava-se à realização do policiamento
ostensivo como único meio para a manutenção da ordem pública. Com a
administração gerencial, essa missão ganhou amplitude, com ênfase na dignidade
da pessoa humana14, nas liberdades e nos direitos fundamentais15. Desde então, o
cidadão passou a ser visto com mais importância no que se refere aos objetivos da
PMMG. Nessa mesma época, o policiamento comunitário16 passou a ter um valor
diferenciado, com maior aceitação e, em decorrência disso, houve o fortalecimento

13 À época, o atual Ministério da Defesa Social era denominado Ministério do Exército


14 Conforme Mirabete, ( 2003, p.153), a dignidade representa o sentimento da pessoa a
respeito de seus atributos morais, de honestidade e bons costumes.
15 Segundo Moraes (2004, p. 61), "A constituição Federal trouxe em seu Título II os direitos e
garantias fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos individuais e coletivos;
direitos sociais; nacionalidade; direitos políticos a partidos políticos.”
16 Polícia comunitária traz a participação em decisões sobre prevenção à criminalidade e ao
policiamento, bem como, a integração de outras agências de serviço para promover maior
impacto nos problemas de segurança, (MINAS GERAIS, 2010b)
55

da integração com os demais órgãos de defesa social e aprimoramento de


informações por meio da tecnologia.
O ambiente interno também foi marcado por significativas mudanças.
Conforme prescreve o art. 6° do CEDM, a Polícia Militar tem sua estrutura baseada
na hierarquia e disciplina. Contudo, esses dois princípios já não se sustentam por si
só, mas interagem dentro de um contexto mais flexível do saber. A autoridade se
vale pelo conhecimento que detém e pela capacidade de interação com superiores,
subordinados e iguais. (MINAS GERAIS, 2002a)
O parágrafo 1° do CEDM define hierarquia como "[...] a ordenação da
autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das IMEs171
.” Nesse sentido, a
8
Polícia Militar define por meio de postos e graduações a ordem de autoridade de
cada funcionário estabelecendo a subordinação entre eles. (MINAS GERAIS, 2002a)
A hierarquia é estruturada com divisões de funções sobrepostas em
níveis de responsabilidade. Chiavenato (2003, p. 32) define a hierarquia como
escalões de comando, com graus de autoridade e responsabilidade. Dentro do
modelo adotado pela Polícia Militar, cada Comandante, em seu nível, possui
responsabilidades funcionais que se desenvolverão pelas pessoas com vínculo de
subordinação em nível de execução, ou seja, cada cargo inferior está sob o controle
e supervisão de um posto superior.
O parágrafo 2° do art 6° do CEDM traz o seguinte conceito de disciplina
militar: "[...] é a exteriorização da ética profissional dos militares do Estado e
manifesta-se pelo exato cumprimento de deveres, em todos os escalões e em todos
os graus da hierarquia [...].” (MINAS GERAIS, 2002a)
A disciplina militar se define pela obediência do servidor às normas que
determinam os deveres para com a Instituição. O militar é considerado disciplinado
quando cumpre, a rigor, as regras da Instituição que regulam sua vida no campo
profissional e social.
O Plano Estratégico da PMMG - 2009-2011 inovou esse conceito,
adaptando-o à gestão gerencial, trazendo uma concepção atual de disciplina:

17 IMEs - Instituições Militares Estaduais


18 "Ética é gerir os recursos com integridade e idoneidade. Respeito pelas pessoas, seus
valores e suas individualidades. Respeito pelo ambiente em que vivemos. Avaliação das
conseqüências dos atos praticados. Agir com honestidade em todas as ações e relações.”
(MINAS GERAIS, 2009b, p.17)
56

Disciplina é o hábito interno que correlaciona o cumprimento das


atribuições, regras e deveres. Inclui a disciplina tática entendida por
observância de regramento de atitudes e ações num contexto
determinado, observada a missão institucional. É um valor intrínseco
do ambiente policial militar, admirado e pretendido por muitas
instituições. (MINAS GERAIS, 2009b, p. 18)

Conforme estabelece o Plano Estratégico da PMMG (2009-2011, p. 17), o


respeito aos direitos fundamentais e a valorização da pessoa constituem um dos
primeiros princípios a ser instituído na Corporação. A atividade policial, antes
desenvolvida com foco no crime e no criminoso, agrega novos valores e passa a
executar a Segurança Pública direcionando-a para o cidadão, integrando-se aos
demais órgãos do ambiente externo e somando a participação de toda a sociedade.
(MINAS GERAIS, 2009b, p.17)
O novo conceito de disciplina coloca o policial militar em plena interação
com o cidadão ao mesmo tempo em que o garante autonomia em suas ações
(descentralização do comando) e flexibilidade para agir adaptando-se às novas
tendências. O controle pela chefia se dá na avaliação dos resultados a serem
alcançados e não mais por meio das regras rígidas e inflexíveis trazidas pelo antigo
RDPM. Nesse processo, em cumprimento à missão institucional, é feita a análise do
desempenho do servidor que deve atingir um grau mínimo de satisfação para
receber um prêmio pela sua produtividade.
Conforme expresso no Sistema de Gestão Estratégica para Resultados:

"é necessário estabelecer uma visão sistêmica da PMMG [...].


Pensamento sistêmico consiste no entendimento das relações de
interdependência entre os diversos componentes da organização,
que neste modelo abrange a relação entre o órgão policial e o
ambiente externo [...]” (MINAS GERAIS, 2010a p.14)

A cultura organizacional da PMMG é caracterizada, atualmente, pela


interação com outros órgãos de Segurança Pública, entre eles, a Ministério Público,
a Polícia Civil, os Conselhos Comunitários, entre outros. A gestão individual,
uníssona, progrediu para um gerenciamento conjunto e participativo. O cidadão,
objeto da missão institucional, além de ter garantida a sua segurança também é
parte desse processo de preservação da ordem, alimentado de informações o
sistema de Segurança Pública, apontando os anseios e necessidades da
comunidade.
57

Verifica-se que a mudança cultural da Polícia Militar foi decisiva para a


implantação do modelo de gestão estratégica. A aceitação e internalização de novos
valores que confrontam o antigo modelo de administração é fato. Percebe-se que
esse processo é complexo, encontra resistência em alguns servidores e órgãos, mas
tem se efetivado.

4.3 Servidor público militar

A PMMG, ao adotar o modelo de gerenciamento estratégico, mudou sua


estrutura, reformulando seus valores e criando uma nova cultura organizacional. O
servidor público militar, como principal efetivador desse cenário, se vê diante de um
diferente e moderno papel, ao qual tem de adaptar-se para alinhar sua conduta aos
objetivos da instituição.
Ao ocupar um cargo, o funcionário cria um laço direto com as obrigações
inerentes a sua profissão devendo traçar um caminho no alcance das metas
propostas pela instituição. Para Weber (2002, p.140), "[...] a posição do funcionário
tem a natureza de um dever”. Afirma o autor, ainda, que "o ingresso num ca rgo [...] é
considerado como uma aceitação de uma obrigação específica de uma
administração fiel, em troca de uma existência segura”.
Tomando por base a ideia de Weber, tem-se que o indivíduo, ao ingressar
no serviço de natureza pública, como é o caso do servidor militar, cria um vínculo de
responsabilidade, pois livremente fez sua escolha visando um benefício pessoal e
profissional. O mesmo autor vai mais adiante afirmando que "a segurança
relativamente grande da renda do funcionário, bem como as recompensas em
consideração social, fazem do cargo público uma posição muito ambicionada”,
WEBER (2002, p.143).
A posição proporcionada pelo cargo público exercido pelo policial militar
lhe garante um papel privilegiado dentro do meio social, em virtude da estabilidade
do cargo, salários fixados, autoridade, entre outras vantagens. Segundo Weber
(2002, p. 140), "o funcionário [...] desfruta uma estima social específica.”
Por intermédio de concurso público, em conformidade com o art. 5° da Lei
Estadual N° 5301, que contém o EMEMG, o servidor ingressa na carreira policial
58

militar, e, após aprovado, nomeado pelo Governador do Estado, para servir na


Instituição Militar. O cargo que ocupa tem caráter vitalício, daí decorre a estabilidade
no cargo. Segundo Weber (2002, p. 141-142), essas são características do
funcionário público: nomeação por uma autoridade e vitaliciedade do cargo.
A DPSSP N° 3.01.01, que orienta a execução da atividade-fim, determina
que "cada militar deve exercer sua profissão ciente de que o prestígio e o valor de
sua corporação estão intimamente vinculados a sua preparação moral e
profissional.” Traça o perfil do servidor policial militar dentro da ideia da nova gestão
e o policial passa a ter plena responsabilidade na imagem a ser construída e
divulgada de sua organização (MINAS GERAIS, 2010b p.19), sendo que a ética e a
transparência aparecem como bases do desenvolvimento do serviço policial militar e
moldam o perfil do profissional de Segurança Pública.
Ainda, essa mesma Diretriz traz o conceito de Ética e Transparência nos
seguintes termos:

Ética é gerir os recursos com integridade e idoneidade. Respeito


pelas pessoas, seus valores e sua individualidade. Respeito pelo
ambiente em que vivemos. Avaliação das conseqüências (sic) dos
atos praticados. Agir com honestidade em todas as ações e relações.

Transparência é acompanhar e informar toda a sociedade sobre as


ações executadas e os resultados obtidos pela PM, permitindo um
amplo controle social. Esta prática fortalece a credibilidade, a
legitimidade institucional e a confiança na PMMG (MINAS GERAIS,
2010b, p.18).

A transparência está intimamente ligada à Ética. Um ato somente se


define como honesto, ético, quando sua execução é estruturada na clareza. O
policial ao dar conhecimento ao cidadão de suas ações, explicando a ele a
motivação bem como os resultados, consegue a confiança da população o que
reflete, positivamente, na imagem da organização militar.
Para fazer frente à provável conduta antiética e obscura de alguns
integrantes, a DPSSP 3.01.01/10 prescreve que "para estes maus exemplos são
reservados a dureza da legislação penal militar e a severidade das normas
disciplinares [...].” O controle da conduta do funcionário por meio de normas rígidas é
característica do sistema burocrático e contribui para a efetivação do serviço policial.
(MINAS GERAIS, 2010b, p. 18)
59

A disciplina apresenta-se como um mecanismo eficiente para a garantia


do desempenho dos servidores. Conforme explica Weber (2002, p.146) "a disciplina
e controle rigorosos [...] funcionam no sentido da mecanização rígida”, ou seja, para
o bom funcionamento do serviço institucional, os funcionários devem ter norteadas
as suas ações em normas rígidas que proporcionem o alcance seguro dos objetivos
pela Corporação
Entende-se que o funcionário público, com um vínculo livremente
assumido, conquista benefícios na instituição. Nesse sentido, a deserção não se
justificaria, ainda que presentes os motivos de relevância social, pois assim como o
servidor ingressou de livre e espontânea vontade, tem ele a liberdade de pedir sua
baixa19 ou mesmo a licença20 sem vencimento, antes de praticar a deserção.
O policial militar, como funcionário público, tem o seu papel dentro da
organização e junto à sociedade. Conforme afirma Persons (apud Mills, 1982, p. 36):

Um papel, portanto, é um setor do sistema total de orientação de um


agente individual que é organizado sobre as expectativas em relação
a um contexto de interação particular, integrado com um conjunto
particular de padrões-valores, que governa a interação com um ou
mais aters nos papéis complementares adequados.

Para que o indivíduo possa desempenhar seu papel conforme os anseios


institucionais é necessária a existência de sanções que provoquem sua reação para
a obtenção do fim a ser alcançado. Conforme Mills (1982, p.37), "quando os homens
são guiados por padrões e sanções, pode-se dizer que estão desempenhando
papéis, conjuntamente.”
Quando o servidor deserta, o faz de forma oculta, obscura, não agindo
com transparência, pois é ciente que sua conduta além de indisciplinada tipifica-se
como crime, conforme art. 187 do Código Penal Militar. A deserção é contrária ao
papel do servidor público militar delineado pela gestão estratégica, pois afronta as
bases que sustentam a qualidade do serviço: a ética e a transparência.

19 Baixa, conforme art.148 do EMEMG, é a exclusão do serviço policial militar ativo a pedido.
20A resolução 3666 de 02 de agosto de 2002 define licença como sendo o afastamento
autorizado do cargo ou do emprego, ou concessão de não trabalhar nele, durante curto
período, fixado ou determinado na autorização ou concessão. É a isenção de fazer aquilo
que se estava obrigado a fazer.
60

4.4 Oitava Região da Polícia Militar: cultura migratória

Nesta seção, apresentam-se a estrutura e cultura organizacional da 8a


RPM, local onde a pesquisa foi desenvolvida, situada no município de Governador
Valadares, é responsável pela prestação de serviço de segurança pública para
sessenta e quatro municípios do leste de Minas Gerais.
Compõe-se de dois Batalhões de Polícia Militar - 6° BPM e 43° BPM, duas
Companhias Independentes - 8a Companhia Independente de Meio Ambiente e
Trânsito e 25a Companhia Independente; uma companhia especial - 5a Companhia
de Missões Especiais; um Centro de Apoio Administrativo - CAA/8, um Núcleo de
Assistência à Saúde (NAIS) e um Colégio Tiradentes (CTPM).
Segundo a Seção de Recursos Humanos da 8a RPM (SRH-8), esta
Região tem efetivo de 1877 policiais. O 6° BPM, 43° BPM e a 25 a Cia Ind possuem
responsabilidade por áreas geográficas e são divididas em Companhias, que
possuem responsabilidade por determinadas subáreas. As companhias estão
fracionadas em Pelotões que possuem responsabilidades por um setor específico, e
estes se distribuem em Destacamentos e Subdestacamentos, que são responsáveis
pelo policiamento em pequenas localidades.
A figura 2 apresenta a estrutura da 8a RPM organizada em escalões que
se dividem em Comando, Estado-Maior, Centros e Núcleo de apoio, Batalhões e
Companhias.
61

FIGURA 2 - Organograma estrutural da 8a Região da Polícia Militar


Fonte: Polícia Militar

A cidade de Governador Valadares (Valadares) possui cerca de 263.689


habitantes, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Situada no Vale do Rio Doce, integra a região leste do Estado de Minas
Gerais. Nas últimas décadas foi marcada pelo elevado número de emigrantes que
deixavam o país para trabalharem em terras exteriores, o que estabeleceu a região
como típica de fluxo migratório e construiu uma cultura voltada para o êxodo.
(BRASIL, 2010)
Segundo Martes (2009, apud SIQUEIRA, 2009, p.66), "em uma pesquisa
realizada em Massachusetts [...], 17% dos migrantes entrevistados são de
Governador Valadares, colocando a cidade, assim, entre as 10 cidades brasileiras
que mais contribuem com o fluxo migratório para aquele país.”
Conforme afirma Siqueira (2009, p.15), a migração internacional na região
de Governador Valadares começou nos anos de 1960 e se ascendeu nos anos de
1980, sendo apontada como uma de suas principais causas a crise econômica
vivida pelo país naquela época. Os migrantes buscam em terras estrangeiras uma
esperança de melhoria de vida. Apesar de outros fatores influenciarem a migração
para o exterior, a maioria dos brasileiros que se aventuravam em outros países,
62

destinavam-se aos Estados Unidos da América (EUA) em virtude da moeda forte


daquela nação: o dólar. A questão econômica foi influenciadora na decisão dos
brasileiros de deixar o país, pois a esperança de se tornar um microempresário e
gerir o próprio negócio impulsionou a migração na região.
Ainda, segundo Siqueira (1998 apud SIQUEIRA, 2009, p. 23), "em estudo
realizado com empreendedores do setor informal em Governador Valadares, indica
que 24,2% tiveram como capital inicial o dólar, poupado ou enviado dos EUA.” Esse
era o grande atrativo para migrantes que deixavam o país. A partir das primeiras
pessoas que conseguiram uma estabilidade financeira no exterior, criou-se a idéia
de que os EUA seriam a porta para a concretização de todos os sonhos. Isso fez de
Valadares uma região onde a economia sofria grande influência do dólar.
A região de Valadares foi aos poucos construindo sua imagem como uma
cidade de migrantes e estabelecendo uma cultura de êxodo. Segundo Siqueira
(2009, p. 67), "[...] hoje todas as famílias da cidade têm (sic) um parente ou amigo
que é, já foi, ou deseja ser um emigrante nos EUA.” É comum a população de
valadarense ter vínculos com alguém que mora ou já morou nos EUA.
Essa cultura regional influenciou o desencadeamento do abandono de
policiais militares da 8a RPM rumo ao exterior. Conforme dados da Diretoria de
Recursos Humanos da Polícia Militar (DRH1), o fenômeno ascendeu-se a partir dos
anos de 1999, quando vários militares deixaram a cidade para trabalhar no exterior.
A maioria destinava-se aos EUA. No ano de 2006, havia 286 militares desertores em
todo o Estado mineiro, destes, 139 pertenciam à 8a RPM, quase 50% do todo.
A deserção na Região tornou-se um problema grave, pois a escassez de
efetivo se refletia na atividade fim e não existia nenhum meio capaz de impedir o
fenômeno da deserção. Em pesquisa feita por Noronha (2006, p. 138), 87,50% de
oficiais entrevistados da 8a RPM entendiam o caráter prejudicial da deserção para a
Instituição.
O número de crimes violentos em Valadares é alto e a região está entre
cidades mais violentas do Estado de Minas Gerais, segundo dados da 3 a Seção da
8a RPM, e, em virtude dos altos índices criminais, a 8a Região realiza programas de
prevenção ao crime voltados para a cidadania, tais como PROERD, Base
Comunitária, Bom de Bola Bom de Escola, entre outros, estruturando suas bases na
Administração Gerencial, voltada para a cidadania, conforme dados da 3 a Seção da
8a RPM.
63

Percebe-se que como a cidade de Governador Valadares ficou conhecida


por seu fluxo migratória, a 8a RPM, influenciada por essa cultura de evasão do
cidadão valadarense para o exterior, teve sua imagem traçada pelos militares que
abandonavam o serviço indo embora do país para morarem, em sua maioria, nos
EUA.
64

5 METODOLOGIA

Nesta seção, apresenta-se a explicação da metodologia da pesquisa, os


seus objetivos, a sua natureza. Definiram-se as técnicas utilizadas, o tratamento e a
forma de aplicação dos dados obtidos que serviram para verificação da hipótese.
Esta pesquisa, do tipo descritiva, de natureza quantitativa e qualitativa, foi
desenvolvida com a verificação de variáveis por meio de levantamento de dados de
base já existentes e aplicação de questionário.
Destaca-se a dificuldade na obtenção dos dados, uma vez que dos 47
questionários aplicados, 19 militares não responderam; apesar da incidência do
fenômeno, a Polícia Militar não possui um banco de dados específicos para o
diagnóstico da deserção e, por ser o art. 240-A um ordenamento jurídico ainda
recente, as informações relativas ao resultado de sua aplicação são de difícil
verificação.

a) Quantitativa

Esta pesquisa utilizou-se de dados existentes na Polícia Militar de


Minas Gerais, com análise dos números obtidos de informações acerca de militares
desertores antes e depois da implementação do art. 240-A no Estatuto dos Militares.

b) Qualitativa

Foi aplicado questionário aos militares que apresentaram-se da


91
deserção no período de 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007, vacância21 da
lei, verificando a motivação da deserção e do retorno para a Unidade Militar.

21 Segundo Nader (1994, p. 268) vacância da lei é o período compreendido entre a


publicação da lei e o início de sua vigência.
65

Utilizou-se a técnica de pesquisa documental (fontes primárias), com o


emprego da documentação indireta. Examinaram-se as normas penais militares que
regulam o crime de deserção na PMMG, as normas administrativas que norteiam o
assunto, os dados existentes na PMMG relativos ao período delimitado para este
estudo, entre 2000 a 2010.
Desenvolveu-se pesquisa bibliográfica (fontes secundárias) com foco em
teorias sociológicas com ênfase na administração, estrutura e cultura da
organização, em autores tais como Durkheim (2006), Weber (2002), Mills (1982) e
Merton (1968).
Foram utilizados métodos de estatística descritiva, com o fim de confirmar
e mostrar argumentos utilizados nesta pesquisa. Os dados estatísticos relativos ao
número de militares desertores por região da PMMG, no período anterior à
implementação do art. 240-A no EMEMG e dos militares desertores, antes e depois
da implementação do art. 240-A no EMEMG, na 8a RPM. O quantitativo de militares
desertores da 8a RPM que foram demitidos com base no art 240-A e dos que, após
serem demitidos com base no novo artigo, retornaram, por meio de decisão judicial,
para Corporação.
Utilizou-se de recursos de estatística descritiva para mostrar e confirmar
posicionamentos utilizados neste estudo, que serviram para análise tanto dos
questionários aplicados como nos dados levantados que foram trabalhados de forma
comparativa, verificando-se a relação entre as variáveis.
Os questionários foram distribuídos aos militares desertores que se
apresentaram em suas Unidades, após a deserção, no período compreendido entre
17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007, período de vacância da lei, por meio do
sistema informatizado da PMMG, Painel Administrativo (PA) e contiveram questões
de múltipla escolha.
Como o número da amostra é pequeno, conforme ensinamentos de Horta
(2011, slide 14) optou-se por aplicar o questionário a todos os sujeitos do universo
da pesquisa, tendo sido a população levantada junto à Diretoria de Recursos
Humanos da Polícia Militar (DRH5).
66

6 ANÁLISE DA EFICÁCIA DO ART. 240-A DO ESTATUTO DOS MILITARES


DE MINAS GERAIS FACE À DESERÇÃO NA 8a REGIÃO DA POLÍCIA MILITAR

Nesta seção, foi feita uma análise dos dados obtidos durante a pesquisa,
com suporte nas teorias apresentadas e buscou-se a verificação da hipótese
formulada de que a inserção do art. 240-A no Estatuto dos Militares do Estado de
Minas Gerais reduziu o número de militares desertores na 8a Região da Polícia
Militar.
Inicialmente, foram apontados os dados relacionados à pesquisa
realizada junto à Diretoria de Recursos Humanos da Polícia Militar, por meio de
análise da relação de militares desertores em todo o Estado de Minas Gerais, antes
da implementação do art. 240-A, por região. Verificou-se o número de desertores
que retornaram para as Unidades no período de 2000 a 2010, bem como os
militares pertencentes à 8a RPM que retornaram da deserção no período
compreendido entre 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007. Posteriormente,
analisaram-se os dados dos militares desertores que praticaram tal crime após a
implementação do art. 240-A do EMEMG e foram analisados os dados dos militares
desertores que foram excluídos da PMMG por força do art. 240-A do EMEMG e,
finalmente, aqueles que conseguiram, por meio de ação judicial, retornar, após a
demissão, para a Instituição Militar.

6.1 Perfil do militar desertor sob a análise do tempo de efetivo serviço,


motivação para o retorno após a deserção e graduação

O questionário aplicado trouxe informações acerca do perfil do militar


desertor da 8a RPM relativo ao tempo de efetivo serviço, a motivação de cada
servidor para a prática da deserção e a graduação. Ressalta-se que a análise se deu
exclusivamente aos desertores que se apresentaram no período da vacância do art.
240-A, compreendido entre 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007.
A tabela 1 indica o tempo de efetivo serviço do servidor militar da 8a RPM
que praticou a deserção.
67

TABELA 1
Perfil dos militares desertores, por tempo de serviço, da 8a Região da
Polícia Militar de Minas Gerais que retornaram da deserção
no período de 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007.

Tempo de serviço (anos) Número de militares


1 I------I 5 1
6 I------I 10 11
11 I------I 15 12
16 I------I 20 3
21 I------I 25 1
26 I------I 30 -

Fonte: pesquisa de campo


Nota: Sinal convencional utilizado: - dado numérico igual a zero no resultante de
arredondamento.

Os dados mostram que a maior parte dos militares desertores, à época,


possuem de 6 a 15 anos de efetivo serviço. As informações sugerem que a grande
maioria possui faixa etária jovem, uma vez que a idade máxima para integrar na
PMMG é de 30 anos, conforme prescreve o Estatuto dos Militares em seu art. 5°, IV.
Assim, pode-se entender que dos dados de maior frequencia, 6 a 15 anos, a faixa
etária mais elevada seria de no máximo 45 anos.
Verifica-se que a maioria dos militares desertores adquiriram a
estabilidade no serviço, dando-lhes segurança para deixar o cargo, praticando a
deserção, visto que, na época em que desertaram não havia norma que punisse
com severidade ou reconhecesse a deserção como transgressão disciplinar.
Segundo afirma Weber (2002, p.141-142), o servidor público possui o cargo em
caráter vitalício, o que lhe garante estabilidade. A estabilidade, aliada a outros
fatores que confere uma posição mais elevada ao servidor, o faz se sentir seguro.
A tabela 2 apresenta os fatores que motivaram os policiais da 8a RPM a
mudarem-se para outro país. As informações permitem entender o porquê da
decisão de abandonar o serviço policial militar para aventurar-se no estrangeiro.
68

TABELA 2
Perfil dos militares desertores da 8a Região da Polícia Militar de Minas Gerais que
retornaram entre 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007, relativo à motivação
para a deserção

Motivação Número
Quitar dívidas 21
Comprar casa própria 19
Comprar veículo 4
Criar o próprio negócio -
Desejo de morar em outro -
país
Outros 3

Fonte: pesquisa de campo


Nota: Sinal convencional utilizado: - dado numérico igual a zero no resultante de
arredondamento.

Os dados mostram que a maior parte dos militares pesquisados praticou a


deserção objetivando quitar dívidas e comprar a casa própria.
A necessidade da quitação da dívida apresenta-se em primeiro lugar
como fator motivador para os entrevistados terem praticado a deserção. Os dados
indicam que a questão financeira foi um dos problemas que mais afetou os
pesquisados e contribuiu para que abandonassem o serviço na tentativa de
estabilizarem-se economicamente. Conforme salienta Siqueira (2009, p.15), os
brasileiros buscam no estrangeiro uma melhoria de vida, ou seja, buscam a
estabilidade econômica, em virtude de problemas financeiros adquiridos. Os policiais
militares da 8a RPM que desertaram também possuem essas mesmas
característicaS.
Nota-se que o desejo de morar em outro país não foi citado por nenhum
dos pesquisados, demonstrando que se trata de uma migração flutuante, em que os
participantes não possuem a intenção de permanecer no país de destino, buscam,
tão somente, o ganho financeiro para quitar suas dívidas ou para comprar sua casa
própria.
A tabela 3 apresenta a análise a respeito da graduação de cada servidor,
permitindo verificar em qual graduação o fenômeno teve maior incidência. Foi
69

analisada a correlação dessas informações com a tabela 2, tendo em vista que cada
graduação possui realidade econômica diferenciada.

TABELA 3
Perfil relativo à graduação dos militares desertores da 8a Região da Polícia Militar de
Minas Gerais que retornaram entre 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007.

Graduação Número
Soldado 1a Classe 9
Cabo 15
Sargento 4

Fonte: pesquisa de campo


Nota: Sinal convencional utilizado: - dado numérico igual a zero no resultante
de arredondamento.

A tabela 3 mostra que a maior parte da amostra é composta por soldados


e cabos. Verifica-se que as classes mais baixas na hierarquia militar e com salários
menores é que compõem a população analisada. O cruzamento desses números
com os da tabela 2 demonstram a motivação para a prática de deserção, indicando
que o maior número de desertores está entre os que possuem o menor salário.
Segundo afirma Siqueira (1998 apud SIQUEIRA, 2009, p. 23), o dólar poupado e
enviado dos EUA era o grande atrativo para migrantes que deixavam o país.

6.2 Policiais desertores na 8a Região da Polícia Militar

a) Militares que desertaram no período anterior a implementação do art.


240-A do EMEMG

Foi feita análise comparativa do número de desertores em todas as


Regiões pertencentes à PMMG antes da implementação do art. 240-A do EMEMG.
70

Por intermédio da comparação, chegou-se à delimitação do objeto de pesquisa com


especificação da Região a ser trabalhada. A maior concentração de ocorrência do
fenômeno permitiu direcionar a pesquisa para um ponto único que daria a resposta
ao problema formulado: diante da implementação do art. 240-A, por intermédio da
Lei Complementar 95, de 17 de janeiro de 2007, quais foram os efeitos na prática do
crime de deserção na Oitava Região da Polícia Militar?
A pesquisa dos dados junto à Diretoria de Recursos Humanos da Polícia
Militar proporcionou o embasamento para a justificativa do objeto e sua delimitação,
conforme apresenta o gráfico 1.
Esse gráfico apresenta o número de militares que desertaram antes da
implementação do art. 240-A do EMEMG distribuídos por regiões.

□ 1a RPM
□ 2a RPM
□ 8a RPM

80
□ 9a RPM
□ 12a RPM
60

□ 15a RPM
40

□ OUTRA
20 _S
0

Gráfico 1: Número de militares desertores, antes da implementação, do art. 240-A


EMEMG distribuídos por regiões.

Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais


Nota: a) EMEMG - Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais
b) Foram apresentadas no gráfico 1 as regiões que possuíam mais de 10
militares desertores; as que tiverem número abaixo de 10 foram incluídas na
legenda OUTRAS.

Verifica-se um destaque na incidência de casos de deserção na 8a RPM,


apresentando-se como a única Região com o número acima de 100 desertores.
Apresenta o dobro de casos da 2a colocada que é a 12a r p m . Nota-se que a cultura
da região de Governador Valadares, sede da 8a RPM, influenciou os militares na
decisão de migrar para o estrangeiro, praticando o crime de deserção, o que elevou
71

o número de militares desertores da 8a RPM, colocando-a em primeiro lugar em


incidência do fenômeno. Conforme explica Siqueira (2009, p. 67), todas as famílias
da cidade de Governador Valadares possuem um parente ou amigo que está, já foi
ou deseja ir para os EUA.

b) Militares que retornaram da deserção motivados pelo art. 240-A do


Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais

Para confirmar a eficácia do art. 240-A na 8a RPM em reduzir o número


de militares desertores, foi verificado o motivo que os levou a retornar para o serviço
ativo, no período de 17 de janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007, vacância da lei, em
que houve um aumento no número de militares que retornaram da deserção. Os
dados sugerem que o aumento deu-se pela novidade trazida pela norma que
classificou a deserção como ato contrário à honra e ao decoro da classe,
submetendo o militar ao Processo Administrativo Disciplinar, com a possibilidade da
demissão,

Gráfico 2: Percentual de militares da 8a Região da Polícia Militar que retornaram da


deserção no período de 17/01/2007 a 16/04/2007 por motivação do art. 240-
A do EMEMG
Fonte: Pesquisa de campo
Nota: EMEMG - Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais
72

Verifica-se que 64% dos militares afirmaram ter retornado em virtude da


nova lei. O quantitativo indica os efeitos produzidos pelo art. 240-A nos militares
desertores influenciando-os na decisão de retorno para o serviço policial militar.

Apesar de 36% que retornaram no período da vacância do ordenamento


ter afirmado não ter sido o art. 240-A o motivo de suas volta, o gráfico 03 mostra
uma grande incidência de militares desertores que retornaram para o serviço ativo,
no período da criação da nova lei até sua entrada em vigor.

50 _______________________________ >
Z.-----✓
________________
□ 2000
45 □ 2001
40 □ 2002
35 □ 2003
30 □ 2004
□ 2005
25
□ 2006
20 z.__ □ 2007
15
/ — -
- l _ 1 □ 2008

□J
x__ □ 2009
10
□ 2010
5
0
1 JX
GRÁFICO 3: Número de policiais militares da 8a Região da Polícia Militar de Minas
Gerais que retornaram da deserção apresentando-se nas Unidades no
período de 2000 a 2010

Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais

Os dados são consistentes em confirmar uma concentração de


apresentações de desertores no período de vacância da norma, não existindo outro
motivo que justificasse a incidência se não a possibilidade da demissão. Tendo por
base a afirmativa de Merton (1968, p.275) de que a disciplina é um mecanismo para
o bom funcionamento da organização, verifica-se que o art. 240-A produziu o efeito
pretendido.
73

c) Desertores pertencentes a 8a Região da Polícia Militar, divididos por


período, antes e depois da implementação do art. 240-A do Estatuto dos Militares do
Estado de Minas Gerais

A informação apresentada no gráfico 4 permitiu avaliar o exato percentual


de oscilação do número de desertores, mostrando se houve ou não a queda do
fenômeno na Polícia Militar, permitindo concluir a respeito da eficácia do
ordenamento

GRÁFICO 4: Número de militares da 8a Região da Polícia Militar que desertaram no


período compreendido entre antes e depois da implementação do art. 240-
A do EMEMG.

Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais


Nota: EMEMG - Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais

O gráfico 4 mostra a redução do fenômeno da deserção na 8a RPM a


partir de 2006, período em que estava sendo tramitada a proposta de emenda
constitucional que já noticiava a mudança do tratamento da deserção, culminando
com a promulgação da Lei Complementar N° 95 que instituiu o art. 240-A. Comprova
que, mesmo antes da entrada em vigor do art. 240-A, em 17 de abril de 2007, o
artigo já se apresentava como um meio eficaz para reduzir a deserção na 8a RPM.
74

Percebe-se que a possibilidade da demissão influenciou a conduta de


outros prováveis desertores. Confirma-se que o único meio de demonstrar a aversão
ao crime, impedindo sua propagação é por meio do castigo infligido ao agente.
(DURKHEIM, 2006, p. 78). O número de militares desertores foi reduzido não
somente pela criação do artigo e a classificação da deserção como ato de afronto à
honra e ao decoro da classe, mas, principalmente, pela possibilidade da punição
severa.

6.3 Análise da eficácia do art. 240-A do Estatuto dos Militares de Minas


Gerais por meio dos Processos Administrativos Disciplinares (PAD)

Realizou-se a análise dos dados referentes à instauração do Processo


Administrativo Disciplinar, por força do art. 240-A, desde a origem até a solução.
Utilizou-se na tabela a seguir o quantitativo de PADs instaurados,
diminuídos pelo quantitativo dos que estão em andamento, comparados com a
quantidade de militares excluídos, obtendo-se a eficácia do artigo por Região.
75

TABELA 4
Situação dos Processos Administrativos Disciplinares instaurados por força do art.
240-A do EMEMG por Região da Polícia Militar

Processos Militares excluídos


Região/ Instaurado a
Em
Unidade partir de Abs. %
andamento
abril/2007
1 a rpm 9 6 3 100
2 a RPM 4 - 1 25
3 a RPM 1 1 - -
4 a RPM - - - -
5 a RPM 1 - 1 100
6a RPM 2 - - -
7 a RPM - - - -
8 a RPM 36 20 16 100
9 a RPM 4 3 1 100
10 a RPM 2 - - -
11 a RPM 1 - - -
12 a RPM 17 7 10 100
13 a RPM 1 - - -
14 a RPM 1 1 - -
15 a RPM 6 6 - -
16 a RPM - - - -
17 a RPM 1 - - -
18 a RPM 1 - - -
DAL 2 - - -
CPE 9 6 3 100
TOTAL 98 50 35 72,91
Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais
Nota: a) EMEMG - Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais
b) Sinal convencional utilizado: - dado numérico igual a zero no resultante de
arredondamento

Em toda a PMMG nota-se que o artigo teve 76,08% de aplicação, estando


26,08% acima da média, indicando que está sendo eficaz para alcançar o objetivo
de sua criação. A 8a RPM teve 100% de aplicação do art. 240-A, redundando na
exclusão de todos os militares que foram submetidos ao Processo Administrativo
Disciplinar, sugerindo que a norma está sendo eficaz no tratamento do fenômeno da
deserção naquela região, gerando o que já dizia Durkheim (2006, p.98): "o equilíbrio
dentro da organização”.
Verificou-se, também, que alguns setores da PMMG, como 3a RPM,
Diretoria de Apoio Logísitico (DAL), 6a RPM, entre outras, o art. 240-A não foi eficaz,
não havendo exclusão do militar. Esse resultado denota ausência de padronização
76

de condutas, o que, na PMMG, é um dos mecanismos para assegurar a disciplina.


Há de se ressaltar que cada caso, ainda que constitua um mesmo tipo de
transgressão, contém elementos diferenciados que vão justificar, ou não, a conduta
transgressiva, aplicando-se, assim, o princípio da individualização da pena trazido
pela Constituição Federal em seu art. 5°, XLVI. Tal previsão legal evita a
padronização da punição, ainda que em casos semelhantes, devendo ser observada
a personalidade do agente, o meio de execução, os motivos, o que pode produzir
resultados diferentes para casos semelhantes. (BRASIL, 1988)

6.4 Parecer de militares desertores acerca do art. 240-A e sua influência na


tomada de decisão para a prática de deserção

O parecer dos militares desertores que se apresentaram nas Unidades no


período de 17 de Janeiro de 2007 a 16 de abril de 2007 (vacância da norma),
permitiu avaliar a questão da influência do art. 240-A na tomada de decisão para o
cometimento da deserção. Foi perguntado aos militares se mesmo estando o art.
240-A em vigor se eles praticariam o crime de deserção.

□ SIM
□ NÃO

GRÁFICO 5: Percentual de militares desertores da 8a Região da Polícia Militar que


mesmo estando o art. 240-A em vigor praticariam o crime de deserção.

Fonte: Pesquisa de campo

Verifica-se que 82% dos militares não teriam desertado caso, na época,
estivesse em vigor o art. 240-A. Este resultado demonstra a influência do artigo na
77

tomada de decisão dos militares no cometimento do crime de deserção,


expressando sua eficácia na redução do delito da deserção.
Tomando por base a teoria de Bertrand Russel (apud Kaplan e
Lasswell, 1979, p.110), pode-se dizer que o art. 240-A reflete o poder da
Administração quando produz os efeitos pretendidos, garantindo o equilíbrio da
organização por meio da condução do militar desertor à demissão prevista no
Código de Ética dos Militares.

6.5 Militares da 8a Região da Polícia Militar que foram Reintegrados na


Instituição Militar por meio de decisão judicial, após demissão pelo Art. 240-A
do Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais

De acordo com dados pesquisados na SRH-8, salienta-se que penas três


dos 16 militares excluídos por intermédio do art. 240-A foram reintegrados na PMMG
em virtude de decisão judicial que julgou, inicialmente, improcedente a decisão do
Estado em demitir o militar desertor. Em todas as três decisões, a justificativa para a
reintegração é que o art. 240-A não possui alcance aos fatos ocorridos antes de sua
vigência.
Dos militares que foram reintegrados, um deles já passou pelo julgamento
final de sua situação. O tribunal pronunciou-se favorável à demissão, mantendo a
decisão da administração da PMMG, reforçando a conclusão de que o art. 240-A é
eficaz no tratamento do fenômeno da deserção. A aplicação da decisão estende-se
aos órgãos de outras esferas, paralelas à esfera administrativa, conforme apelação
cível 680 TJM. (MINAS GERAIS, 2010)
78

7 CONCLUSÃO

O crime de deserção previsto no art. 187 do Código Penal Militar é a


ausência do militar, sem justificativa, por mais de 8 dias do serviço ativo. O delito,
que é de caráter permanente, afronta a Instituição policial militar, constituindo-se,
também, transgressão disciplinar que fere o dever funcional.
Esta pesquisa teve por finalidade verificar a eficiência do art. 240-A para
reduzir o fenômeno da deserção na 8a RPM. Foi realizada a análise jurídica,
verificada a sua legalidade, aplicabilidade e sua origem. Foi feita uma abordagem da
norma sob o aspecto processualístico, buscando-se esclarecer sua atuação dentro
da Administração Pública, bem como sua obediência aos princípios e requisitos que
lhe conferem o poder de produzir um ato jurídico perfeito.
Verificou-se que, devido à pena branda trazida pelo Código Penal
Militar, sem previsão de punição na esfera administrativa, a deserção evoluiu
acentuadamente na Polícia Militar. A 8a RPM, sediada em Governador Valadares,
local onde se desenvolveu a pesquisa, apresentou maior incidência do crime no
Estado de Minas Gerais, devido à cultura emigratória daquela localidade.
Em 17 de janeiro de 2007, foi promulgada a Lei Complementar N° 95 que
instituiu o art. 240-A no Estatuto dos Militares no qual o crime de deserção é
tipificado como ato atentatório à honra e ao decoro da classe. Permite, por meio do
art. 64, II do Código de Ética dos Militares, a submissão do desertor ao
Procedimento Administrativo Disciplinar, com possibilidade de demissão e confere
ao ato de desertar a condição de transgressão disciplinar.
Um dos aspectos observados na pesquisa foi a estrutura da Organização
Policial Militar, o que permitiu entender os valores e princípios que norteiam a
Administração Pública Militar, a transição de um Administração Burocrática para uma
Administração Gerencial e a verificação da influência desses aspectos na evolução
da deserção e a criação do art. 240-A.
Foi feita uma análise organizacional da 8a RPM, com base em estudo
realizado por Siqueira (2009), tendo sido diagnosticada uma cultura emigratória
expressiva na região, que, consequentemente, influenciou na decisão dos militares
pertencentes àquela Região de Polícia em praticar a deserção, alcançando um dos
maiores números do fenômeno em todo o Estado mineiro.
79

Para conter o fenômeno da deserção somente uma norma rígida que


trouxesse uma severa punição é que conseguiria reduzir aquela prática, pois
conforme afirma Weber (2002, P.146) "a disciplina e controle rigorosos [...]
funcionam no sentido da mecanização rígida.” Assim, verificou-se que havia uma
ruptura na disciplina, tendo em vista a ausência de um ordenamento que controlasse
e impedisse a ação indisciplinar.
A criação do art. 240-A, no Estatuto dos Militares, pela Lei Complementar
N° 95/07 modificou o cenário da deserção, tendo sido verificada uma redução na
prática do delito. Por meio da análise feita dos dados pesquisados, confirmou-se
uma grande redução do fenômeno após sua criação, denotando a eficácia do artigo
no tratamento da deserção.
Com a criação do art. 240-A, surgiram questionamentos acerca de sua
capacidade de alcançar os fatos anteriores a sua vigência, ou seja, a demissão dos
militares que praticaram a deserção antes de sua criação. Concluiu-se, com base no
estudo de Carvalho Filho (2006), que o preceito da irretroatividade da lei mais
benéfica é aplicado ao Direito Criminal, contrariando a tese de Rosa (2010) a qual
afirma que tal instituto também se aplica ao Direito Administrativo. O autor Carvalho
Filho distingue o Direito Criminal do Direito Administrativo traçando suas
peculiaridades e o modo diferente de atuação. A Apelação Cível N° 680 TJM que
reexaminou a legalidade da exclusão do militar por intermédio do art. 240-A do
EMEMG decidiu como posicionamento dos magistrados julgadores que a deserção
se trata de transgressão disciplinar permanente, perdurando sua consumação no
tempo, até que o desertor se apresente na Unidade, ou seja, recapturado. Dessa
maneira, o art. 240-A alcança a conduta do militar que deserta mesmo antes de sua
vigência. A decisão manteve o ato de demissão declarando legal a aplicação do
artigo em fatos ocorridos anteriormente. (MINAS GERAIS, 2010)
Com base da Apelação Cível N° 680 TJM e no posicionamento de
Carvalho Filho (2006, p. 57), conclui-se que o art. 240-A possui capacidade de
alcançar os crimes de deserção ocorridos antes de sua vigência, constituindo ato
legal à demissão trazida por ele. Tal posicionamento não se encontra pacificado no
campo jurídico, sendo objeto de decisões fundamentadas de formas diferentes.
Os dados apresentados na seção confirmam a aplicabilidade do art. 240-
A na redução do crime de deserção na Polícia Militar e na 8a RPM. A possibilidade
da punição rígida da demissão trazida pelo ordenamento fez com que grande parte
80

dos militares que haviam desertado retornassem para as Unidades antes que a lei
entrasse em vigor, diminuindo o número de desertores na Polícia Militar. O
ordenamento jurídico influenciou também na decisão dos que pretendiam desertar,
evitando nova incidência do fenômeno. Aos que desobedeceram a norma não
retornando da deserção, bem como os que desertaram após a implementação do
art. 240-A no Estatuto dos Militares, o ordenamento foi eficaz aplicando a pena de
demissão, garantido o poder da Administração Pública no controle e equilíbrio
organizacional.
Conclui-se, assim, que o art. 240-A do EMEMG influenciou sobremaneira
o fenômeno da deserção na PMMG e, principalmente, na 8a RPM, reduzindo
consideravelmente a incidência do fenômeno. Confirmada está a hipótese inicial de
que a inserção do art. 240-A no Estatuto dos Militares do Estado de Minas
Gerais reduziu o índice de militares desertores na 8a Região da Polícia Militar.
Apesar da confirmação do art. 240-A como eficaz no tratamento da
deserção, torna-se preocupante a construção do ordenamento jurídico que é
composto por termos subjetivos que permitem interpretações diferenciadas e
questionamentos de todos os tipos. Os termos honra pessoal e decoro da classe são
palavras que possuem conotações diferenciadas conforme cada indivíduo, região e
contexto cultural, permite julgamentos diferenciados acerca dos conceitos, sendo
instável o terreno em que se estruturam os atos produzidos pelo artigo. A nova lei
não possui caráter punitivo, apenas procedimental, não existindo, ainda, um tipo
específico de transgressão disciplinar que classifique o ato de desertar como falta
disciplinar, dependendo de outras normas complementares para a efetivação da
punição.
Destaca-se, ainda, a dificuldade do colhimento dos dados acerca do
fenômeno da deserção em virtude da inexistência de uma seção de análise
estatística de fenômenos administrativos disciplinares, o que melhoraria o estudo e a
aplicação de medidas corretivas, para os casos de indisciplina e, culminaria na
melhoria da prestação de serviços por parte da Polícia Militar.
Diante o exposto, para um melhor desempenho da atividade
administrativa na PMMG, sugere-se que:
1°) a deserção seja incluída no art. 13 do CEDM como transgressão
disciplinar, bem como seja incluído um terceiro inciso no art. 64, com previsão da
deserção como prática a ser apreciada pelo Processo Administrativo Disciplinar
81

(PAD), por meio de uma proposta de modificação do Código de Ética e Disciplina


dos Militares de Minas Gerais. Dessa forma, a atual subjetividade em relação à
existência, ou não, de transgressão disciplinar frente ao crime de deserção deixaria
de existir, e proporcionaria uniformidade de decisão acerca desse tema;
2°) seja criada uma seção administrativa específica para analisar as
situações disciplinares dos servidores militares em toda a PMMG, com foco na
incidência da transgressão, tipos, condicionantes e motivadores dessas
transgressões e ações intervencionistas com intuito da sanar ou diminuir tais
condutas. Tal sugestão é apresentada objetivando entender esse fenômeno, além
da transgressão, ou seja, o seu entorno, suas motivações, circunstâncias e
desdobramentos positivos e negativos, tanto para a Instituição quanto para o militar;
3°) os resultados desta pesquisa sejam divulgados nas Regiões de maior
incidência do fenômeno da deserção com intuito de auxiliar nas discussões referente
ao tema.
82

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87
88

APÊNDICE

Questionário para trabalho de pesquisa de conclusão do Curso Especial de


Segurança Pública 2011 (CESP)
Sexo:_______________________________________________________
Idade:______________________________________________________
Número de filhos:_____________________________________________
Posto/Graduação:_____________________________________________

1 - Quanto tempo de efetivo serviço possuía quando desertou?


( ) de 1 a 5 anos
( ) de 6 a 10 anos
( ) de 11 a 15 anos
( ) de 16 a 20 anos
( ) de 21 a 25 anos
( ) de 26 a 30 anos

2 - Qual era o posto/graduação à época em que desertou?

3 - Qual o motivo da deserção?


( ) econômico (especificar)
___quitar dívidas diversas
___compra de casa própria
___compra de veículo
___criar o próprio negócio
( ) desejo de morar em outro país
( ) outros (especificar)

4 - Possuía conhecimento da criação do art. 240-A no Estatuto dos Militares e da


data que entraria em vigor, quando ainda estava em condição de deserção?
( ) sim ( ) não

5 - Retornou em virtude da nova lei? Caso negativo, especificar o motivo.


( ) Sim ( ) não
89

6 - Na época em que você desertou, caso o art. 240-A do Estatuto dos Militares que
coloca o militar desertor submetido ao Processo Administrativo Disciplinar (PAD),
estivesse em vigor, você desertaria assim mesmo?
( ) sim ( ) não justificar

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