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A família do garoto era composta por quatro integrantes: Ralf (o pai), Elsa
(a mãe), Gretel (a filha mais velha) e Bruno (o filho caçula).
A casa nova, menor, com três andares, ficava isolada num lugar vazio e
desabitado, teoricamente situada em Auschwitz, embora o nome
Auschwitz jamais seja citado ao longo do texto.
Bruno, sempre com um olhar ingênuo e puro sobre o que se passa, fica
desapontado com a mudança e questiona a mãe acerca da escolha tomada
pelo pai:
“Não temos o luxo de achar coisa alguma”, disse a mãe, abrindo a caixa que
continha o jogo de sessenta e quatro taças com o qual o vovô e a vovó a haviam
presenteado por ocasião do casamento com o pai. “Há pessoas que tomam todas
as decisões em nosso nome.” Bruno não sabia o que ela queria dizer com isso e
fingiu que a mãe nada dissera. “Acho que isso foi uma má ideia”, ele repetiu.
“Acho que o melhor a fazer seria esquecer tudo isto e simplesmente voltar para
casa. Podemos considerar que valeu como experiência”, acrescentou ele, frase
que aprendera recentemente e que estava determinado a empregar com a maior
frequência possível."
A vista do novo quarto de Bruno dava para uma cerca, onde o garoto podia
ver uma série de pessoas vestidas em uniformes listrados, que ele julgava
serem pijamas.
A relação se fortalece cada vez mais, Bruno encontra no menino judeu seu
único amigo na região e Shmuel encontra em Bruno uma possibilidade de
escapar da sua realidade terrível.
Shmuel um dia se desespera por não ter notícias do pai e, para ajudar o
garoto, Bruno veste um pijama listrado e consegue entrar no campo de
concentração.
O pai ficou em Haja-Vista por mais um ano depois daquilo e acabou sendo
hostilizado pelos outros soldados, nos quais mandava e desmandava sem
escrúpulos. Todas as noites ele dormia pensando em Bruno e quando acordava
estava pensando nele também. Um dia ele formulou uma teoria sobre o que
poderia ter ocorrido e foi novamente até o ponto na cerca onde as roupas
haviam sido encontradas um ano antes.
Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas então ele
explorou um pouco e descobriu que naquele ponto a parte de baixo da cerca não
estava tão bem fixada ao chão quanto nas demais, e que, quando erguida, a
cerca deixava um vão grande o bastante para uma pessoa pequena (como um
menino) conseguir passar por baixo rastejando. Ele olhou para a distância e
seguiu alguns passos lógicos e, ao fazê-lo, percebeu que as pernas não estavam
funcionando direito – como se não pudessem mais manter seu corpo ereto – e
acabou sentado no chão, quase na mesma posição em que Bruno passara as suas
tardes durante um ano, embora sem cruzar as pernas sob si.
É poético como ao voltar para o lugar onde o filho passou tanto tempo, Ralf
se coloca na mesma posição que o garoto e sente na pele aquilo que o
menino sentia, enxergando a mesma paisagem sob o mesmo ângulo.
Ao se dar conta do ocorrido, da cerca danificada capaz de deixar passar um
menino, o oficial percebe que o veneno que destilava diariamente contra
as vítimas do campo de extermínio alcançou a sua própria família.
Alguns meses mais tarde alguns soldados vieram a Haja-Vista, e o pai recebeu
ordens de acompanhá-los, e foi sem reclamar, contente de ir com eles, pois não
se importava com o que lhe fizessem agora.
Análise
Apesar de abordar um tema super pesado, o autor John Boyne tem o
mérito de transmitir a história a partir do olhar puro e ingênuo de crianças,
o que ameniza a aridez do assunto.
Bruno percebe Shmuel como um igual, apesar da cerca que os separa e das
condições de vida completamente distintas.
Embora o seu cotidiano seja marcado por uma família presente e uma
situação financeira confortável, - condição absolutamente impensável para
Shmuel - eles tratam-se com igualdade, respeito e compreensão.
A amizade dos dois meninos supera barreiras religiosas, sociais e políticas.
E assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu
há muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo.