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ÂNGELO MARCOS VIEIRA DE ARRUDA

SOBRE O AUTOR
Ângelo Marcos Vieira de Arruda (1957),
arquiteto e urbanista, graduado pela
UFPE/1979; Mestre em Arquitetura UFR-
GS; Doutor em Educação UFMS. Profes-
sor do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFMS.

Foi Presidente da Federação Nacional


dos Arquitetos e Urbanistas (FNA); do
Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas
de Mato Grosso do Sul (SINDARQ-MS);
do Instituto de Planejamento Urbano de
Campo Grande (PLANURB) e do Conse-
lho Municipal de Cultura.

Foi Conselheiro do CAU/MS, do CEAU/


CAU BR e do Conselho Nacional das Ci-
dades. Autor de 12 livros sobre arquite-
tura e urbanismo, articulista semanal do
Jornal O ESTADO DE MS e do Site Cam-
poGrande News e foi durante 12 anos do
site Midiamax.

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Edições do Autor

Revisão: Rubênio Marcelo e Ângelo Arruda

Desenhos: Luiz Pedro Scalize

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Diniz Ação em Marketing

Impressão e Acabamento: Gráfica Idealiza

A779 Arruda, Ângelo Marcos Vieira de

A invenção do silêncio / Ângelo Marcos Vieira de

Arruda. -- Campo Grande : o autor, 2017.

94p. ; 24 cm

ISBN 978-85-909782-2-0

1.Poesia I. Título.

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AGRADECIMENTOS
Fazer um livro é sempre um ato de muito prazer. Neste momento de agradecimen-
tos, não posso esquecer algumas pessoas, por terem ajudado neste trabalho, de
alguma forma:

• Poetisa Maria do Carmo Barreto Campelo (in memorian), que me ensinou e esti-
mulou a arte da poesia;

• Professora Maria Adélia Menegazzo, que me deu força para publicar;

• Arquiteto Luis Pedro Scalize, pelos seus desenhos;

• Poeta Rubênio Marcelo, pelas palavras carinhosas e animadoras;

• Publicitária Iara Diniz, pelo trabalho de criação e edição;

• Economista Regina Ferro, Diretora Regional do SESC/MS e Engenheiro Edison


Holzmann da PLAENGE, pelo apoio cultural;

• Aninha Arruda, minha querida esposa, que se deu ao luxo de ler escutar eu ler
vários poemas em sua fase de criação.

• Arquiteto e Urbanista Cícero Alvarez, presidente da Federação Nacional dos Ar-


quitetos e Urbanistas(FNA) pelo apoio cultural.

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SUMÁRIO
Agradecimentos.................................................................................................................................................... 5
Sumário....................................................................................................................................................................... 7
Primeiras Palavras................................................................................................................................................. 9
Prefácio........................................................................................................................................................................ 11
A invenção do Silêncio..................................................................................................................................... 17
Olhe pra Estrela..................................................................................................................................................... 18
Minha Receita da Felicidade......................................................................................................................... 19
O Corpo...................................................................................................................................................................... 21
Poeminhas nº 1....................................................................................................................................................... 22
Imagens nº 5............................................................................................................................................................ 23
Passarinho.................................................................................................................................................................. 25
No Caminho Certo............................................................................................................................................... 26
Um Dia Você Chegou*...................................................................................................................................... 28
Mar e Fúria................................................................................................................................................................ 29
Poeminhas nº 2....................................................................................................................................................... 31
É tão Bonito.............................................................................................................................................................. 32
Cidade-Mar (para os que amam Florianópolis)............................................................................... 33
Poeminhas nº 3....................................................................................................................................................... 35
Portais........................................................................................................................................................................... 36
Necessidades.......................................................................................................................................................... 37
Amanhecendo........................................................................................................................................................ 38
Sentimentos Nº 1.................................................................................................................................................. 39
Trilhos e Trilhas....................................................................................................................................................... 41
Para Viver um grande amor........................................................................................................................... 45
Sentimentos Nº 4.................................................................................................................................................. 46

7
Pensamentos Nº 1................................................................................................................................................ 47
Metrópole.................................................................................................................................................................. 49
Pensamentos Nº 2................................................................................................................................................ 50
Lembrando a Gaiola (para Maria do Carmo Barreto Campello).......................................... 51
Muros............................................................................................................................................................................ 53
Morte no Rio............................................................................................................................................................ 54
Sol Adormecido.................................................................................................................................................... 55
Instante-ser............................................................................................................................................................... 57
Saudades Nº 1........................................................................................................................................................ 58
Ponto de Apoio...................................................................................................................................................... 59
Regresso..................................................................................................................................................................... 61
Imprecisão................................................................................................................................................................. 62
Repentinamente.................................................................................................................................................... 63
Natal.............................................................................................................................................................................. 64
Limitações Nº 1...................................................................................................................................................... 65
Tente.............................................................................................................................................................................. 67
Limitações Nº 2...................................................................................................................................................... 68
Momentos................................................................................................................................................................. 69
Sem Medo da Noite............................................................................................................................................ 70
Para Glorinha........................................................................................................................................................... 71
Voo Livre..................................................................................................................................................................... 73
Amiga........................................................................................................................................................................... 74
Viajante........................................................................................................................................................................ 76
À Primeira Vista...................................................................................................................................................... 79
Imagens Nº 2........................................................................................................................................................... 80
Imagens Nº 6........................................................................................................................................................... 81
Quando....................................................................................................................................................................... 83
Quase Amor............................................................................................................................................................. 84
Perto e Longe.......................................................................................................................................................... 86
Faça Aqui Sua Poesia......................................................................................................................................... 88

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PRIMEIRAS PALAVRAS
Não esperem um livro de poesias. Eu não sou um poeta. Nasci para ser arquiteto
e urbanista, das ideias e dos projetos. Esse é mais um dos meus projetos. Só que
no meio de casas e prédios, venho desenhando palavras há 40 anos. Desde 1975,
quando escrevi algo com sabor de poesia pela primeira vez, venho articulando e
coletando versos.

Nasci alagoano, cresci pernambucano e envelheci sul-mato-grossense e nesse cal-


deirão cultural que mescla o Nordeste e o Centro-Oeste, misturando queijo de coa-
lho e manteiga de garrafa com guavira e tereré, eu me criei. Criei minhas sintonias,
meus apelos, meus sentimentos.

Em 1975 conheci a poetisa Maria do Carmo Barreto Campello (1924-2008) e em


contato com aquela especial dama das palavras e versos, lendo seus livros, espe-
cialmente Música do Silêncio – 4. Momento: O tempo reinventado, eu me dei conta
que aqueles versos eram como se fossem meus. Tingi meu coração de poesia.

Passei os primeiros anos fazendo muitos versos, ingênuos, de pureza d’alma. Com o
tempo, frequentando lugares, lendo mais, ouvindo mais, encontrei outra pessoa das
letras: Clarice Lispector, em sarau cultural na Livraria dos Quatro Cantos, em Recife,
1978. Depois veio a Livraria Livro 7, na Rua Sete de Setembro, também em Recife. O
caldeirão cultural de Caruaru-PE, terra de minha infância e adolescência, com o tea-
tro de Guarnieri, a revista POP, as letras incrementadas de David Bowie ou de Marc
Bolan, cresceram dentro de mim.

Assim aprendi a gostar e me desenvolvi nas palavras, apreciando o melhor de Car-

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los Drummond de Andrade e de Manoel de Barros. São dois homens das palavras
tecidas com muito carinho e muita mentira.

A Invenção do Silêncio é uma pretensão literária. Mas tem um enorme significado


para mim, pois, depois de 30 anos escrevendo sobre história da arquitetura e do
urbanismo da cidade (Campo Grande) e do Estado (Mato Grosso do Sul) que me
abrigaram desde 1980, me atiro nos versos, construindo novos olhares sobre as
palavras – os verbos, as vogais, os adjetivos e substantivos – que teimam em sair de
minha mente e tomar corpo num papel.

Escrever é adorável. Especialmente quando a escrita te envia sons, cheiros, lembran-


ças, lugares, momentos e especialmente sonhos. As palavras são sonhos escritos. As
palavras são seres inimaginários que decodificamos para o outro se lambuzar.

Convido você a entrar no meu universo paralelo ao universo que convivo há tanto
tempo, o da arquitetura e da história. Convido você a fechar os olhos e imaginar
como seria a Invenção do Silêncio em 50 poemas.

Ângelo Marcos Vieira de Arruda

Natal de 2015

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PREFÁCIO
A estética do silêncio e a arte poética de Ângelo Arruda
– por: Rubenio Marcelo –

“A poesia é, de fato, o fruto de um


silêncio que sou eu” - (Ferreira Gullar).

Para afinar-se com os inquietantes desígnios gerais da linguagem e com esta pulsar
fecundamente, o pensamento necessita de um elemento condicional: o silêncio. E,
especialmente, no contexto da poiesis, esta condição ganha contornos metafísicos,
movidos por uma intimidade de mistérios e segredos adornados de ritmo e sono-
ridade. É neste ambiente de transcendentalidade, harmonizado com a sublimação
daquele “impoluível silêncio que subjaz a quaisquer escapes” (no dizer de Quinta-
na), que o poeta viaja na liberdade do desconhecido para contemplar e dar sentido
à essência da suprarrealidade (para essencializar-se) e, assim, criar seus fecundos
versos e re-versos, signos, imagens e metáforas, traçados avessos ao movimento
convencional, lúdicas ponderações e palavras imbuídas de síntese, linhas e entreli-
nhas de enigmas, como também – e tão bem – timbrou Clarice Lispector: “Ouve-me,
ouve o meu silêncio... o que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa
outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso”.

Assim, dialogando com o silêncio e seus sentimentos, Ângelo Marcos Vieira de Ar-
ruda chega com o seu livro inaugural de poesia: ‘A Invenção do Silêncio’, compen-
diando cinquenta poemas: muitos caracterizados com suas vivências/inspirações
nordeste/centro-oestinas. E fica perceptível na sua arte/criação poética a ardente

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dinâmica do silêncio e sua ‘contemplação’ (consistência do silêncio) muitas vezes
fluindo naturalmente por meio de recursos metafóricos – e sinestésicos – de caracte-
res polissêmicos abrigados em diversas expressões, como: sono, segredo, deserto,
solidão, boca serrada, muros, regatos, guardar a luz, vidraça, gaiola, sol adormecido,
entre pedras, calmaria, etc.

Convivendo intimamente com a poesia, tecendo seus versos (“desenhando pala-


vras”) há quatro décadas, o arquiteto Ângelo Arruda optou por lançar, nos últimos
tempos, várias publicações concernentes à sua formação profissional (Arquitetura e
Urbanismo), deixando – mesmo com o seu expressivo engajamento literocultural – a
sua produção poética na fértil quietude das suas introspecções, no calor conscien-
te dos seus arquivos pessoais (aguardando o instante de revelação), para somen-
te agora apresentar ao público o seu primeiro livro neste gênero. Destarte, neste
aspecto (tempo/poesia), temos também a expressão do silêncio caracterizando a
obra deste autor. Porém, como já foi dito, tudo deve ser na hora certa: acontecer no
momento correto. Aqui, neste tocante, podemos entrar em fina sintonia com os dois
versos finais do seu maravilhoso “Tente” (a meu ver, o mais belo poema desta cole-
tânea): “... Tente guardar a luz do dia numa gaveta/ para iluminar as noites, quando
precisar”.

Na ótica de Bachelard, a poesia pode ser “uma força de síntese para a existência
humana”. Já o nosso Manoel de Barros (uma das referências literárias de Ângelo
Arruda) asseverou: “Penso que dentro de minha casca não tem um bicho: tem um
silêncio feroz”. É nesta linha que o poema de abertura, que empresta título a este
volume, mostra – num sintético jogo de translações semânticas – a potencialidade
e fecúndia do silêncio, que no silêncio ‘se reinventa’ e, assim, ‘reinventa o sonho’,
posto que é ‘território ilimitado’. E reinventar-se no silêncio é naturalmente uma das
lídimas características da poesia (e vital necessidade do poeta); ao tempo em que
reinventar o sonho e torná-lo verdade através da arte, ‘bordando estações’, é reins-

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taurar a primazia, é reinaugurar o sentido da vida.

São re-invenções silenciosas desta natureza que aguardam os privilegiados leitores


no decorrer das páginas seguintes: sublimes rebentos poéticos dotados de leveza
e elegância vocabular – neles, o autor de ‘A Invenção do Silêncio’ derrama conta-
giante sensibilidade, traduzindo a plenitude de suas emoções, muitas revestidas de
doce lirismo, como, por exemplo, em ‘Poeminha nº 3’ (para sua musa inspiradora:
sua esposa Aninha Arruda): “Vesti o dia de sol/ amarrotei os pensamentos/ tirei das
gavetas um punhado de ilusões perdidas/ amarrei-as no sapato/ fui caminhar nas
nuvens e descobri a chuva/ comecei a pensar em Ana... recomecei e vesti o dia de
luz...”; também em ‘Olhe pra estrela’: “olhe pra uma estrela e pense em mim/ pare
pra pensar no que foi bom/ sentir saudades é tão bom/ e a vida inteira para viver...”;
e em ‘É tão bonito’: “é tão bonito sonhar/ com a luz dos teus olhos/ imaginando um
mundo novo/ no fundo da alma/ esperando o dia acordar...”; e ainda em ‘Para viver
um grande amor’: “para viver um amor intenso/ só nos resta dar as mãos e caminhar
sem olhar...”. Esta temática aparece explorada por Ângelo em outros poemas deste
seu livro, tudo, de uma forma ou de outra, convergindo para aquela preleção de
Dante – o sol e as outras estrelas são movidos pelo amor (“amor che move il sole e
l’altre stelle”).

Menino das margens do São Francisco (nascido em Penedo/AL), crescido em Reci-


fe/PE, e radicado desde 1980 em Campo Grande (cidadão sul-mato-grossense), Ân-
gelo Arruda não se esqueceu de homenagear a urbe que tão bem o acolheu, a bela
Cidade Morena que hoje o abraça na arquitetura e urbanidade das suas alamedas
e caminhos. Dessarte, temos o poema “No caminho certo”, que exprime – em versos
livres – o amor telúrico do autor em exaltação à capital sul-mato-grossense: “a minha
cidade é assim... enche meu peito de esperança/ toca minha alma/ com um sinal que
tudo vem e vai/ e é assim que vivo por aqui... eu amo a minha cidade”.

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Alguns textos desta obra abrigam um “eu-poético” ancorado em vívidas reminis-
cências e envolto nas correntezas inelutáveis do tempo. Neste sentido, resgatando
o sabor buliçoso das evocações, o poeta revisita a estação da saudade e embar-
ca novamente naquele “velho trem que passou anos levando e trazendo sonhos
e gente” e que continua firme nos trilhos intactos de sua memória: “... Vai Trem da
Noroeste/ segue por tua antiga estrada/ cruzando novas porteiras/ alegrando nova
boiada./ Vai... ninguém nunca te esqueceu/ apesar de parado no tempo/ teu novo
mundo sou eu” (in ‘Trilhas e trilhos’). Já no reflexivo poema ‘O Corpo’, o autor fala do
ser que sem medo, outrora, “ganhou asas e partiu” e agora “se despede do tempo,
carregando as tatuagens que se desbotam a cada dia”. E tantos – habitantes des-
ta existência – povoam as sendas deste tatuado ser, que “cedo acorda, desperta e
anda, pensa, vê e crê...”.

E empreendendo voos com ‘asas de liberdade’, “colhendo seu trigo, plantando ilu-
são, moldando sorrisos, desatando mãos”, vai o poeta, sempre ciente de sua ne-
cessidade de “amar o que é impreciso... de chorar o indecisivo... e fazer sempre de
improviso”, pois habita-lhe um ‘pássaro’, que “rodeia seus cabelos e absorve sua
sede”. Assim, segue Ângelo Arruda, exercitando o clímax das palavras e nutrindo a
harmonia de um estilo límpido e fluente, a par de estro eclético, também identifica-
do com as pulsações da metalinguagem, o diálogo com aspectos elementares da
própria criação poética, como podemos constatar em ‘Ponto de apoio”: “... Fiz em
mim uma tempestade/ escura e ardente/ adormeci com meus versos/ sonhei com
rios minguantes/ estreitos e caudalosos./ Fiz em mim um ponto de apoio/ capaz
de amarrar meus sentimentos”; em ‘Imprecisão’: “... As cascatas mudas do meu co-
ração/ se repartem em canto e solidão./ ... O silêncio morde os dentes/ entes mais
queridos, partidos”; em ‘À primeira vista’: “... Deixa-me entrar nos teus olhos/ deitar
em teu leito/ adormecer em silêncio/ na tua retina...”; em ‘Limitações nº 1’: “Esse
silêncio que habita meus olhos é fruto do que eu ainda não falei (...) essa dor que es-
treita minha porta/ procura um mundo colorido...”; em ‘Limitações nº 2’: “Essa calma-

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ria que veleja em meus rios/ esse sol que tritura meu corpo me incendeia/ tonteia/
e arrebata minhas palavras...”; e – numa dedicação especial para Maria do Carmo
Barreto Campello (poetisa recifense que fez despertar em Ângelo o gosto pela arte
poética) – ‘Lembrando a gaiola’, poema que manifesta a sensação do predestinado
vate ‘desenjaulando-se da mesmice do cotidiano’, ante a contemplação original do
ideal de estesia, o impulso inicial (e chamamento) da poesia: “Era o dia, o começo, o
sonho/ era o sono, a dor, a invenção (...) Era a gaiola sem pássaro nem dor/ a gaiola,
enredo de minhas palavras”.

E tem muito mais em ‘A Invenção do Silêncio’, de Ângelo Marcos Vieira de Arruda,


entanto, deixarei a surpresa da descoberta aos privilegiados leitores. Portanto, si-
lêncio!... para que possamos sentir o eco melodioso e palpável das inquietações
silenciosas deste vate, que perscruta fecundo silêncio (um ‘silêncio que afaga seus
olhos e lhe morde os dentes’), edificado em palavras e poesia.

Vale a pena conferir!...

* Rubenio Marcelo é poeta e crítico literário, membro e secretário-geral


da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

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A INVENÇÃO DO SILÊNCIO
Com o silêncio
Inventando o silêncio
Território ilimitado
Universo de sonhos,
Reinventando o sonho.

O silêncio e a invenção do sono.

Com o silêncio
Bordando estações
Tristes primaveras
Com sono e silêncio
Os homens e o segredo
Invertendo o abraço
Reinventando o silêncio
Calando sua invenção.

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OLHE PRA ESTRELA
Quero ver você ficar comigo
Andar pela cidade
Caminhar à toa
Abraçar a lua
E viver a vida
De um jeito muito louco
Que não dá para sentir
O vento bate o coração em mim
O tempo passa e o seu cheiro em mim
Essa é a vida que escolhi pra nós.

Venha, no caminhar a gente diz assim,


Somos felizes sem segredo, sim
Nunca deixamos nada pra depois.

Sinta o nosso amor lhe envolvendo


Olhe pra uma estrela e pense em mim
Pare pra pensar no que foi bom
Sentir saudades é tão bom
E a vida inteira para viver.

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MINHA RECEITA
DA FELICIDADE
Escreva uma frase de amor
Separe as letras
Coloque-as num copo com água limpa e beba
Deguste as letras e forme outras frases, outras palavras,
Como luz, carinho, afeto, saudade.

Dissolva essas letras no pensamento


Forme versos, poemas, emblemas, temas
Divida tudo isso com saudade, esperança, beleza.

Depois regue tudo com a luz do dia


Envolva as letras em mel
Novamente pegue as letras com as mãos,
Passe nos cabelos, no rosto e lembre da vida.

Agora pense.

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O CORPO
Esse corpo que você vê
Coberto de poeira
Recortado e tingido
É o mesmo corpo
De pele e osso
Outrora um deserto infinito
Como um sopro
Que se desloca no ar
Que ganhou asas e partiu
Sem medo
E cedo acorda
Desperta e anda
Pensa, vê e crê
E se despede do tempo
Carregando as tatuagens
Que se desbotam a cada dia,
Todo dia.

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POEMINHAS Nº 1
Acordei bebendo palavras que estavam soltas na minha cama
Depois vi que o amanhecer não chegou
Será que ele vinha de navio?
Demorei a perceber o sol e as formigas
Fui ler meus pensamentos
Estava tão escuro que não encontrei as palavras.

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IMAGENS Nº 5
No fundo da boca há um sol
No fundo do sol há um rosto
No centro do rosto uma frase
Cada frase há um gosto.

Gosto das lágrimas dos nossos olhos de cada dia.


No seio das flores há um sorriso
Neste sorriso os dentes são ventres
Sempre fechados mas esperam o amanhecer.
A manhã nunca será outro dia.

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PASSARINHO
Procuro um voo livre
Com asas que me libertem
Procuro asas livres
A vida num voo

Procuro céus limpos


Com aves brancas
Procuro aves limpas
Meus sonhos num voo

Procuro aves num voo


Com asas limpas e brancas
Procuro a vida livre
Num infinito possível

Meus sonhos são aves


Que brancas voam no ar
Minha vida é livre
Minha vida é voar.

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NO CAMINHO CERTO
Eu amo a minha cidade
Não sei descansar sem olhar o tempo
Sentir o cheiro do vento
Que sopra todo dia
E muda de direção
Trazendo chuva e alegria
Sou de todo lugar
Sou da terra, sou do mar
Da fronteira, do sul e do norte
O trabalho me faz forte
Para fazer a cada dia

Eu amo a minha cidade


Estou no caminho certo
O caminho que me leva pra casa
Para ficar com a minha família

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Construir com mais alegria
Amor, esperança e fé.

A minha cidade é assim


Campo Grande é amor e luz
Seduz a todos embora pequena
Enche meu peito de esperança
Toca minha alma
Com um sinal que tudo vem e vai
E é assim que vivo por aqui
Nessa cidade morena

Eu amo a minha cidade.

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UM DIA VOCÊ CHEGOU*
Um dia você chegou sorrindo
disse o que queria, bebeu o que tinha, saiu e me deixou
Um dia você chegou me amando
Entrou em minha casa mudou os móveis de lugar
mexeu na minha vida
Outro dia você chegou chorando
Falou da tristeza que sentia e da alegria que fugia
Comecei a sentir a dor do amor
Comecei a viver o amor
Na cor, no tom do amor, na imensidão do amar

* Esse poema foi musicado pelo Chico Martins e está gravado como música
No Tom do Amor no CD Deslancha (2015)

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MAR E AREIA
Areia do mar
É linda com o brilho do sol
No sal se cria, todo dia,
E se estende na beira da praia
Com a água namora
Se esfrega nas pedras
Se deixa levar pela onda
Nem nota quando o dia acorda
Nem quando a noite dorme

Só o vento e o tempo
Deixam de lado a poesia
Para embalar suas idas e vindas
Deixando a orla mais bonita
No vai e vem do balançar.

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POEMINHAS Nº 2
Todas as vezes que eu penso em me reproduzir em sinto
vontade de ficar Sol.
Todas as vezes que eu me mexo para caminhar, tenho vontade
de ficar Lua.
Às vezes me dá vontade de sonhar, mas isso é para os
pássaros.

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É TÃO BONITO
É tão lindo ver você chegar
Olhar de esfinge
Sempre sorrindo, leveza no ar

É tão bonito ver você entrar


Sem perguntar, sem bater a porta
Com o cabelo a balançar
Poesia no ar

É tão lindo o seu sorriso


Desmanchando ao ver o mar
Rompendo as barreiras
Abrindo fronteiras
Convite para amar

É tão bonito sonhar


Com a luz dos seus olhos
Imaginando um mundo novo
No fundo da alma
Esperando o dia acordar

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CIDADE-MAR
(PARA OS QUE AMAM FLORIANÓPOLIS)
Sou da ilha sou do mar
Não sei descansar sem olhar o tempo
Sentir o cheiro do vento
Que sopra todo dia
E muda de direção
Trazendo chuva e alegria
Sou do mar sou da terra
O continente me espera
Para fazer a cada dia
O caminho que me leva pra casa
Essa cidade é assim
Água e luz
Morro e sal
Sol, onda e mar
Acorda com o vento
Tocando sua alma
Com um sinal que tudo vem e vai
E é assim que vivo por aqui
Nessa cidade.

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POEMINHAS Nº 3
Vesti o dia de sol.
Amarrotei os pensamentos.
Tirei das gavetas um punhado de ilusões perdidas.
Amarrei-as no sapato.
Fui caminhar nas nuvens e descobri a chuva.
Comecei a pensar em Ana.
Não sabia por onde começar.
Recomecei e vesti o dia de luz.
O sol dormiu.

35
PORTAIS
Chegastes
Envolvendo as paredes
Mirastes
Envolvestes o ar
Cobristes
De cor a casa
Dividistes
Os espaços nus
Entrastes
Portas adentro
Chegastes
Ficando para sempre.

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NECESSIDADES
Eu preciso fazer sempre o que é impreciso
Eu preciso amar sempre o indeciso
Eu preciso chorar sempre de improviso.

Eu preciso chorar sempre o que é impreciso


Eu preciso fazer sempre o indecisivo
Eu preciso amar sempre de improviso.

Eu preciso amar sempre o que é impreciso


Eu preciso chorar sempre o indecisivo
Eu preciso fazer sempre de improviso.

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AMANHECENDO
Nebulosa manhã
Que deserta se despe ardente
Que noturna descobre rumos
Que descansa em regatos
Que naufraga nativa
Que desliza nascente
Que respira rasteira.

Nebulosa manhã
Que encontra o horizonte em luz
Que implica com o sol chegando
Que permeia o pensamento
Que controla a noite.

Nebulosa manhã.

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SENTIMENTOS Nº 1
Na esquina dos meus olhos
Sentando entre o riso e o choro
Eu permaneço.

Nos ombros da noite


Descanso meu sono
Enquanto passeio entre pedras
Que deslizam serenas
Enrugadas esperando a chegada da manhã.

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40
TRILHOS E TRILHAS
Trilhos rumaram para o oeste
Eram trilhas de ferro e cal
Estradas do mundo ligando pessoas
Cidades de pedra e de sal

Saíam de todos os lugares


Chegavam em frente ao rio-mar
Trocavam sorrisos na chegada
Esperavam novo sonho chegar

Assim o velho trem passou anos


Levando e trazendo sonhos e gente
Abrindo portas e janelas
Deixando o povo todo contente

41
Por ele veio tanta gente
Libaneses, portugueses, franceses
Nordestinos, paulistas e mineiros
Mas especialmente japoneses

Que brindaram a nossa terra


Com sua cultura de um outro lugar
Encantando a alma da fronteira
Com o tradicional sobá

Anos e anos depois


Quando quase já esquecido
No ano do teu centenário
Ressurge no tempo perdido

42
Anda trem de ferro, trem de lata
Passeia fundo no meu coração
Pois continuas a brilhar sozinho
A toda a população

Vai Trem da Noroeste


Segue por tua antiga estrada
Cruzando novas porteiras
Alegrando nova boiada.

Vai Trem da Noroeste


Ninguém nunca te esqueceu
Apesar de parado no tempo
Teu novo mundo sou eu.

43
44
PARA VIVER
UM GRANDE AMOR
Para viver um amor imenso
É preciso deixar o coração gostar de amar

Para viver um amor intenso


Só nos resta dar as mãos e caminhar sem olhar

Para se ter um grande amor


É necessário que a porta esteja aberta
E não permitir que a tempestade entre
Mas deixar a calmaria invadir e ocupar os espaços
E arrebatar os sonhos
Cuidando da redondeza
Afastando pensamentos

Tudo isso para viver um grande amor.

45
SENTIMENTOS Nº 4
Em busca do voo livre
Solto no inverno
Debrucei meus olhos
Calei a timidez
Encontrei a calmaria.

46
PENSAMENTOS Nº 1
Nunca estou só.
Sempre com meu rebanho.
Sempre.

47
48
METRÓPOLE
Me perco nesta cidade
Colho meu trigo
Planto ilusão
Me envolvo em cada esquina.

Me encontro nesta cidade


Recorto a natureza
Guardo na gaveta
Amanheço solidão.

Me perco nesta cidade


Devoro sentimentos
Moldo sorrisos
Desato mãos.

49
PENSAMENTOS Nº 2
Recortei a calmaria
Revesti meu coração
Pulsando como estava
Podia morrer vermelho.

50
LEMBRANDO A GAIOLA
PARA MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO
Era o dia, o começo, o sonho
Era o sono, a dor a invenção
A dor presa na gaiola.

Era o medo, o desejo, a verdade


Era a maldade, a cerca, o peso
O grito, o pássaro, o caminho.

Era a vida, a mágoa, o muro


Era a gaiola sem pássaro nem dor
A gaiola, enredo de minhas palavras.

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MUROS
Os muros destroem os limites
Os muros limitam as rotas
Os muros renovam os homens
Os muros dançam e pintam no amanhecer.

Muros dividem pensamentos


Muros afastam os gritos
Muros escurecem horizontes.

Os muros são mudos, são duros


Os muros não se permitem
Os muros são densos e difíceis
Os muros não deveriam existir.

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MORTE NO RIO
O peixe desvia sua rota
Navega rios de solidão
Flutua minguante
Sonha um coração
Atravessa seus sentidos.

E o peixe amanhece dentro do rio


Navegando solidão
Culpando suas águas
Tecendo as estações
Esquecendo o verão.

E o peixe entardeceu
Respirou o anoitecer
Nômade natural
Despertou junto às pedras
Descobriu seu lugar.

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SOL ADORMECIDO
Solte suas jangadas ao sol
Procurando a reta de um rio
Queime a sua plantação
Adormecendo neste outono.
Cultive as suas horas
Ainda lhe restam alguns dias
Livres do pensamento
Sem novos ferimentos.

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INSTANTE-SER
todas
as
manhãs
me
recomponho
dissolvo
num
copo
o
amanhecer

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SAUDADES Nº 1
Escuto os primeiros passos de um a(manhã)
Os mesmos gestos que me fizeram acordar,
Respirar o horizonte
Corro para dentro de mim sem cansar
Braços abertos
Olhos soltos ao vento
À procura do noturno
De um beijo amigo
Do ventre dito.

Agora nuvens voam em meu continente


Elo perdido entre meu pensamento e você.
Você caminha dentro de mim
Deixa pegadas em minhas praças
Nos meus jardins.

Você me conhece, sabe das minhas rotas


Que se excita ao ver seu rosto
Posto a seu gosto.

Na cama durmo com o sol


E me aqueço.

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PONTO DE APOIO
Fiz de mim um pássaro
Livre e desbotado.
Fiz de mim um lago
Limpo e cristalino.
Fiz de mim um barco
Vida e imensidão.
Fiz em mim uma prisão
Limites e saudades.
Fiz de mim um porto
Seguro e indefeso.

Fiz em mim uma tempestade


Escura e ardente
Adormeci com meus versos
Sonhei com rios minguantes
Estreitos e caudalosos.

Fiz em mim um ponto de apoio


Capaz de amarrar meus sentimentos.

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REGRESSO
Canavial
Teus frutos
Peixes no lago
Rosas na mão
Desejo ardente
Solidão
Porto esquecido
Encontros na sala
Planos
Discórdia
Silêncio.

61
IMPRECISÃO
Na praça da vida (um sonho)
Nos terrenos baldios (a vida)
A nossa estrela não brilha
Cacos sobre os muros (ventos de abril)
A voz já não grita o silêncio
O amor nas cadeias.

As cascatas mudas do meu coração


Se repartem em canto e solidão.
As surpresas, as dores
O silêncio morde os dentes
Entes mais queridos, partidos.

Sou um corpo de amor


Sapatos entre sapatos
Sou mais um salto entre os Andes
Dê só mais um toque, um toque sutil.

Impreciso, pois preciso


De sonhos e afagos.

62
REPENTINAMENTE
Entre
Mente
Entretida
Tida
Na frente
Acima do corpo
Tente
Num universo de portas sem quintais.
Ocaso
De repente
Faz-se noite
Atrás da cidade
Sendo dia.
Encontro
Muros abertos
Olhos fechados
E um canto que pousa nestas páginas
De olhar solto
Agudo
Com gosto de amor.

63
NATAL
Diante desta porta em que estamos-equidistamos,
pousamos no ar.

Cada dia que se desfaz


um pássaro pousa calado
ouvindo nossas canções.
Se pudéssemos olhar e não notar
que os sons se desfazem na poeira de nossas bocas
amargas.

Neste terraço em que continuamos


precisamos fingir... mesmo chorando.

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LIMITAÇÕES Nº 1
Esse silêncio que habita meus olhos
É fruto do que eu ainda não falei.
Essa noite que limita meus braços
Parece que as paredes querem desabrochar
Num sonho mágico
Que invade minhas avenidas.
Mas esconder-se entre as pedras
É solução?
Essa dor que estreita minha porta
Procura um mundo colorido... nada mais.

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66
TENTE
Tente amarrar o horizonte com um fio de algodão
Puxar a linha pra ver o sol mais de perto.
Tente mudar a cor do céu pintando tudo de branco
Cor de algodão e fazer um novelo de nuvens.
Tente guardar a luz do dia numa gaveta
Para iluminar as noites, quando precisar.

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LIMITAÇÕES Nº 2
Essa calmaria que veleja em meus rios
Esse sol que tritura meu corpo
Me incendeia
Tonteia
E arrebata minhas palavras.
Acende meus palcos
A cor antiga de um cenário
Uma peça nunca estreada.

Esse pássaro que rodeia meus cabelos


Absorve minha sede
Atrai minha dor
Açoita meus braços
Me alucina.

68
MOMENTOS
Estou sentado num banco de pedras
(onde outrora vivia)
tentando sorrir sem estatizar o tempo.
O amor descalço que se encontra atrás de mim,
atravessa cortes e cicatrizes.
Os rostos que me olham
nadam num rio sem barcos,
sem náufragos,

sem tempo.
As tantas rodas desse universo (quase um verso)
tecem a imensidão desse jardim de imagens cruas.

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SEM MEDO DA NOITE
A noite se debruçava em minha janela
Olhava pra dentro e nada encontrava
Apenas meu pensamento, papéis velhos
Pregados na parede
Incolores pelo sol.
Havia muitas sobras no terraço
Rastros de saudades
Poeira das noites
Pássaros ciganos.

Lá fora, as folhas caíam em cubos


O tempo acordou atrás das grades.

Abri as portas e as janelas


E deixei a noite entrar, sem medo.

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PARA GLORINHA
Muito perto é sempre muito distante
Há um descompasso no infinito
Que faz pulsar o corpo.
Muito distante não me agrada
Há sempre um emblema.
Não sei onde o tempo foi parar.
Tudo é sol.
É como a luz. Vejo, sinto mas não possuo.
Apenas sinto.
Muita luz me anima.
Penso como criança
O amor me anima
A palavra que rima. Como a luz.
Para sempre.

71
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VOO LIVRE
O pássaro usa suas asas na queda de seus voos, limite de seus
olhos, náufrago cansado, voo livre em sua cegueira.

73
AMIGA
Amiga
Me decifra
Nada em meus rios
Correnteza te leva
Longe de teus homens.
Amiga
Sedenta no olhar
Corpo de frutas
Copo de vinho
Adormece no meu solo
Me acompanha
Nos rios
Na chuva
No medo
Nos segredos
No adeus.

74
Amiga
Eu te divido com a noite
Vestida com o dia
Brancas nuvens
Te entrego meu sorriso
Minha timidez.

75
VIAJANTE
Na esquina dos teus olhos
Sentado entre riso e choro
Eu permaneço
E esqueço que as manhãs da vida
São brancas manhãs
Envolvidas num sono negro e sinuoso
Rompendo a solidão.

Na estrada corrente
Passeio vadio
Errante/pensante
Que marca os passos com as mãos atadas
Com medo de tudo
Do beijo e da dor
Que matas as pastagens dos campos de mim
Esquecido pelo vazio
Entre dois pássaros que se deixam levar pela correnteza.

76
Nos ombros da noite
Descanso meu sono
Enquanto passeio entre pedras
Que deslizam serenas em minhas mãos
Enrugadas de medo
Esperando tua chegada.

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78
À PRIMEIRA VISTA
Deixa-me entrar nos teus olhos
Deitar em teu leito
Adormecer em silêncio
Na tua retina
Confundir meus heróis
Partir
Ainda sonhando com tuas pálpebras.

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IMAGENS Nº 2
Eu preciso esquecer o meu silêncio
triste silêncio
mergulhado em lágrimas disfarçadas em poesia.

Eu preciso esquecer o amargo pesadelo


Que derramei em teus ombros.
Abandonar essa chama bordada em meu corpo
Corpo submerso no teu mundo.

Eu preciso inventar um meio de acordar


Mesmo que talhe meu sangue
e fuja de mim
essa vidraça ilusão.

80
IMAGENS Nº 6
No terraço dos teus olhos
Me perco em cada passo que teço
E me vejo impulsionado
Pelo silêncio de tuas pálpebras.

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QUANDO
Quando eu amo
Não sei o que cabe no coração
Não imagino o fim das ruas
Não escondo nada
Nem atrás das pálpebras.

Quando estou amando


Sinto um perfume no ar
Fico louco para acordar
Perambulo nos pensamentos.

Quando aprendi a amar


Vi que o mar me liberta
Senti que o ar reanima
Descalço ando pelas nuvens.

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QUASE AMOR
Pousa no ar
Quase mar
Amor
Leve
Quase neve
Lua
Nua
Minguante
Ardente
Caminhante
Nas janelas
Nas portas
Nos quintais
Quase nada
Casa aberta
Incerta
Inverta

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No centro
Nascida
Quase tudo
Um mundo
Mudo
Pássaro
Sempre houve
Agora sempre
Tecido em meus sonhos
Um tanto quanto
Começa minha vida
Amarga vida
Hoje calada
Amanhã ri.

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PERTO E LONGE
Muito de perto sou sempre normal
Não me espanto com as curvas e com a claridade
Muito de longe, sou infinito
Não me escondo do sol
Muito menos dos olhares
Há muito tempo não me vejo de longe
Há muito tempo não me imagino de perto
Sem máscaras, a face brota
Assume o olhar
Escancara os dentes
Emoldura a boca e lampeja os cílios.

De olhos fechados não me vejo


Mas me recomponho
Encolho o corpo para emoldurar a alma e
Revejo minhas dores e medos

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De olhos abertos enxergo o mundo
Mas não entendo a luz escura que teima em cobrir as
nuvens que rodeiam meus pensamentos

O olhar me recompõe
De longe, de perto.
Sem rodeios.

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ESPAÇO PARA VOCÊ
FAZER POESIAS

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