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Tabernanthe

iboga
Aspectos culturais, espirituais,
terapêuticos e clínicos
Aviso legal - Este relatório é uma compilação de textos, documentos, pesquisas e estudos diversos relacionados ao
uso ritualístico, espiritual, medicinal, terapêutico e cultural da planta africana Iboga e seus derivados ao redor do
mundo. Este documento pretende ser, apenas, uma fonte de informações e um local para discussões sobre esses
assuntos na língua portuguesa. O caráter deste relatório é estritamente cultural-científico-informativo. As opiniões
expressas em qualquer texto desse relatório não refletem, necessariamente, a opinião do organizador.

Este relatório não oferece diagnóstico ou prescrição. As informações aqui apresentadas não devem substituir o
conselho de um profissional médico, além de não se destinarem e não serem adequadas para serem usadas como
critério médico ou jurídico. O organizador não se responsabiliza pelos possíveis usos deste documento.
Índice
1. Aspectos culturais, históricos e simbólicos do uso de enteógenos
1.1 História 1
1.2 Iboga na África 3
1.3 Iboga no Ocidente 14
1.4 A planta Tabernanthe Iboga 19
1.5 Experiências Transpessoais – Abordagens terapêuticas psicolíticas x psicodélicas 20
1.6 O uso da Iboga para o tratamento da dependência química 22
1.7 Pesquisas no Brasil 24

2. Iboga – Características químicas, objetivos e efeitos


2.1 Características químicas 27
2.2 Farmacologia 28
2.3 Mecanismo de atuação 28
2.4 Onirofrênico x Alucinógeno 29
2.5 Efeitos da Ibogaína 31
2.6 Toxicologia 31

3. Iboga - O processo terapêutico


3.1 Fases da experiência 38
3.2 Respostas autônomas 40
3.3 A redução da necessidade de sono 40
3.4 Atenuação da abstinência 41
3.5 Efeitos de longo prazo 42
3.6 Orientações ao paciente 44
3.7 Tempo do processo terapêutico 44
3.8 Ambiente de tratamento 45
3.9 Obstáculos psicológicos 45
3.10 Riscos para a saúde física 47
3.11 Riscos para a saúde psicológica 48
3.12 Cuidados posteriores 48

4. Iboga - Prática Clínica


4.1 Condições tratadas 50
4.2 Cuidados básicos gerais 51
4.3 Histórico médico e critérios de exclusão 52
4.4 Interações medicamentosas 56
4.5 Preparação do paciente 57
4.6 A sessão 59
4.7 Integração e acompanhamento 60
4.8 Aspectos de segurança em pacientes do sexo feminino 60
4.9 Apoio psicossocial 60
4.10 Os tratamentos atuais – um estudo de caso 61
5. Questões Diversas
5.1 Tratamentos piratas – orientações básicas para quem procura um tratamento 66
5.2 Análise de custos e valores cobrados 68
5.3 Estatuto jurídico da Ibogaína 68

6. Apêndices
6.1 Apêndice A: Manual para terapia com Ibogaína [protocolo Lotsof – segunda revisão, 2013] 76
6.2 Apêndice B: Diretrizes clínicas – GITA (Global Ibogaine Therapy Alliance) 90
6.3 Apêndice C: Orçamento dos equipamentos de monitoração indicados nas diretrizes clínicas – GITA 141
6.4 Apêndice D: Drogas – Padrões, efeitos, estatísticas, exames toxicológicos 144
6.5 Apêndice E: Inventário de Depressão de Beck – BDI 157

7. Fontes 159
1. Aspectos Culturais e Simbólicos do Uso de Enteógenos

1.1 - História

Plantas psicoativas têm sido utilizadas há 50 mil anos pela humanidade em diferentes culturas e épocas, sendo objeto
de culto e reverência ou de demonização. A paixão que despertam revela-se, em primeiro lugar, pela própria maneira
de nomeá-las. Alguns pesquisadores têm criticado o termo científico “alucinógeno”, por sugerir uma percepção falsa
e ilusória da realidade. Uma opção adotada tem sido “enteógeno”, originário do grego antigo, com o significado de
"Deus dentro" ou "o que leva o divino para dentro de si". Outro termo, mais ligado à contracultura, é “psicodélico”,
que se origina da composição das palavras gregas psique (ψυχή - alma) e delein (δηλειν - manifestação), aquilo que
revela o espírito ou alma. Alguns preferem utilizar termos nativos, como é o caso de plantas professoras, expressão
característica do vegetalismo peruano, ou adotar denominações que sublinhem as dimensões neurofarmacológicas
comuns às várias substâncias, como a proposta por Michael Winkelman, plantas psicointegradoras, aquelas que
integram dimensões profundas da psique humana. Alguns usam também o termo “ecodélico”, que seria aquilo que
nos permite receber a mensagem do todo, manifestar a “mente de Gaia”.

As diversas populações nativas que fazem uso dessas substâncias consideram, em geral, que elas são habitadas por
um espírito, uma "mãe", um "dono" - com o qual podemos nos comunicar e aprender. Elas seriam, portanto, um
espírito-planta. Um traço comum aos variados contextos é a crença de que, por meio dessas substâncias, é possível
estabelecer contato com o mundo espiritual, com os seres divinos e transcender as fronteiras da morte.

Historicamente, o uso de tais psicoativos tem sido associado ao reforço da identidade étnica, à promoção da coesão
social, à transmissão de valores culturais, à produção artística, à morte simbólica do ego, ao autoconhecimento, à
resolução de conflitos sociais, à guerra, à feitiçaria, à caça, ao poder político e cósmico, à metamorfose em animais e
à divinação, entre outros. Uma das dimensões centrais das “plantas de poder” é a sua conexão estreita com os
sistemas de cura, seja através da figura do xamã, seja através das religiões institucionalizadas. A cura propiciaria uma
conexão holística entre processos mentais, emocionais e espirituais - mesmo porque, em alguns dos contextos onde
estas substâncias são consumidas, tais esferas são consideradas inseparáveis.

A ciência norte-americana dos anos 50 e 60 desenvolveu diversas pesquisas e experimentações sobre as virtudes
médicas e terapêuticas dos psicoativos, sobretudo antes da proibição legal do LSD nos EUA, em 1966. Entretanto, o
tema permanece ainda pouco estudado, além de fortemente estigmatizado. Os assim chamados “estados ampliados
de consciência” não são provocados apenas por substâncias químicas, mas também podem ser produzidos por
estímulos auditivos, jejuns nutricionais, isolamento social e privação sensorial, meditação, estados de sono,
abstinência sexual, comportamento motor intensivo, opiáceos endógenos e estados mentais resultantes de
alterações na neurofisiologia ou química corporal.

O uso intencional de substâncias psicoativas com o objetivo de se criar estados alterados de consciência é uma
prática que existe há milhares de anos. Várias espécies de animais usam substâncias psicoativas com a intenção de
ficarem "alterados", como, por exemplo, a mariposa “Manduca quinquemaculata”, que se "alimenta" das flores da
“Datura meteloides” (planta rica em potentes alcaloides com propriedades psicoativas como a atropina), além de
Javalis e primatas que cavam a terra em busca das raízes do poderoso arbusto “eboka” (Tabernanthe Iboga), planta
utilizada nas cerimônias das religiões Bwiti, presentes no Congo e no Gabão (África), etc.

Diferentes povos nos mais variados ecossistemas do planeta praticaram e praticam as técnicas mais diversas possíveis
para atingirem estas alterações de consciência. Baseado em entrevistas e trabalho de campo em diversas partes do
mundo, pesquisadores afirmam que a "descoberta" dos efeitos de algumas plantas (Cannabis sp.,Tabernanthe Iboga,
café, etc) foi realizada através da observação do comportamento de alguns animais sob efeito destes vegetais.

O uso de enteógenos por seres humanos existe há pelo menos 50 mil anos. Em praticamente todos os cantos da
Terra existe ou existiu alguma cultura que usa ou usou estes seres vivos (alguns animais, como algumas espécies de
sapos, por exemplo, também produzem secreções psicoativas) com características especiais para as mais diversas
finalidades. Dentre algumas substâncias, podemos citar: o “Soma” que, supostamente, deve ser o cogumelo

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“Amanita muscaria”, utilizado por caçadores coletores das tribos Tungue e Koriak na Eurásia; o “Peiote” (Lophophora
sp.), cacto cultuado pelos Astecas e atualmente pelos índios Huicholes do México, que possuí mais de 55 alcaloides
diferentes; o “Teonanacatil” (Psilocybe sp.), cogumelos utilizados ritualmente pelos Maias, Mazatecas e outros
grupos indígenas na região de Oaxaca, México, Guatemala e várias outras civilizações antigas; o “Ololiuqui” (Ipomoea
violacea), trepadeira mágica dos Astecas e Mazatecas, que ainda hoje são utilizadas com finalidades divinatórias,
terapêuticas e mágicas; o “Bangue” (Cannabis sativa, Cannabis indica), planta que se encontra cultivada em
praticamente todo o planeta, sendo que seu uso como medicamento, sacramento ou para fins recreativos permeia a
história de povos da Índia (os sadhus [homens santos]), da África (principalmente Etiópia e Serra Leoa), Ásia (usada
para fins meditativos no Budismo Tântrico, por exemplo), Américas (tribos indígenas como os Cuna, no Panamá e os
Cora, Tepehua e os Tepecanos, no México, que a chamam de Santa Rosa, Rosa Maria, etc, e algumas tribos brasileiras
que também a utilizam, por exemplo, para fazer roçado, como os Tenetehara do Maranhão). Embora o principal
psicoativo presente na Cannabis seja o já amplamente conhecido “Tetrahidrocanabinol”, estudos recentes indicam a
existência de mais de 66 substâncias diferentes presentes na maconha. Temos também o Paricá, Epená, Cohoba,
Yopo, Vilca, Cébil (Anadenanthera peregrina, A. colubrina, Virola sp.), utilizados por grupos indígenas diversos na
fronteira entre Brasil e Venezuela (em especial os Yanomamis), como um pó para inalação (rapé). Existe também a
Jurema (Mimosa hostilis), uma leguminosa que foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do nordeste
brasileiro e atualmente é usada, entre outras finalidades, para fins mágicos entre raizeiros e indígenas. Ainda temos,
entre outras mais, a “Ayahuasca” (Banisteriopsis sp. e combinações), consumida por, pelo menos, 72 grupos
indígenas diferentes que habitam, na maioria dos casos, a Amazônia Ocidental. Esses exemplos são os mais
conhecidos, mas existem centenas de outras plantas psicoativas, muitas delas desconhecidas pela ciência tradicional
ocidental, sendo utilizadas, historicamente, por diversos grupos humanos ao redor do mundo, em diversas situações
e contextos.

De uma maneira geral podemos afirmar que estas substâncias estão envolvidas em aspectos mágico-religiosos,
embora existam exceções. Essas substâncias possuem importantíssimo papel na cosmologia, ordem social, ritos de
passagem, rituais de cura, processos de morte, etc, nas diversas culturas em que são consumidas. Historicamente,
estas plantas, consideradas “plantas-espíritos” ou “plantas professoras”, vêm sendo usadas para diversos fins:
Reforço da identidade ética, coesão social, transmissão de valores culturais, produção artística, morte simbólica do
ego, auto-conhecimento , resolução de conflitos sociais, feitiçaria , caça, obtenção de poder político e “cósmico”,
para metamorfosear-se em animais, divinação, comunicação com as divindades, aconselhamento espiritual,
treinamentos para se tornar xamã , indução de sonhos para prever o futuro, profecias, telepatia, clarividência,
descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, obter visões diagnósticas para a prescrição de remédios, identificar
inimigos ou agentes causadores de males, são usadas também para fins analgésicos, anti-espasmódicos, anti-
diuréticos, anti-reumáticos, contra picadas de cobra, febre-amarela, para atingir estados de êxtase, etc.

Observando a vasta lista, não exaustiva, de possibilidades de uso desses agentes, verificamos que o uso (na maioria
das vezes de forma patológica) de “drogas” em nossa sociedade “civilizada” é a exceção, e não a regra. Pesquisadores
respeitados como Abert Hofmann (descobridor do LSD-25) e Giorgio Samorini referem-se a esta atual situação do uso
de drogas em nossa cultura como uma desacralização/profanação, ou como um processo de desculturação. O que
estes autores, e tantos outros, afirmam é que o uso destes professores vegetais sempre esteve cercado de uma
cosmologia, valores éticos e certas regras de conduta ratificadas por valores culturais muito bem definidos e
consolidados historicamente. O antropólogo Edward MacRae disserta sobre como as sanções socioculturais
empregadas por grupos que fazem um uso ritualizado de psicoativos são mais muito eficazes que as leis
proibicionistas de grande parte das nações modernas quando comparamos os efeitos sociais do controle e as formas
de uso, a partir dos diferentes pontos de vista dessas culturas. Alberto Groisman, em sua tese de doutorado sobre as
igrejas do Santo Daime na Holanda, afirma que, na maioria das vezes, os aspectos socioculturais são mais
importantes (e, inclusive, moldam/controlam) nas experiências com psicoativos do que os aspectos
psicofarmacológicos. Com estes argumentos – que não são exaustivos – podemos observar e, pelo menos, reavaliar
nossa postura perante o atual modelo de relação que temos com os psicoativos em geral e, especialmente, com os
enteógenos. Essa atual "guerra contra as drogas" mostra-se, cada vez mais, uma guerra etnocida, como muito bem
aponta vários estudos ao redor do mundo.

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1.2 - Iboga na África

Na etnomedicina tradicional Africana, mais especificamente no Gabão e Camarões, uma planta especial recebeu o
nome de “Eboghe” (Iboga). Para cientistas ocidentais, a planta pertence à família “Apocynacae”, e recebeu o nome
de “Tabernanthe Iboga”. A raiz da Iboga é usada há milhares de anos em rituais xamânicos da cultura “Bwiti” para
diagnosticar doenças e tratar “males da alma”. Com elas, os xamãs e os iniciados fazem viagens a reinos incomuns e
contatam espíritos e antepassados com o intuito de obter informações úteis para o grupo social em que vivem.

Várias preparações de compostos com plantas que contém Ibogaína têm sido feitas há séculos na medicina
tradicional Africana, como relatado pela primeira vez por exploradores franceses e belgas no século 19 (Popik e
Skolnick, 1999). A raiz da Iboga pode ser consumida inteira ou triturada e moída, misturada com outros ingredientes
e, algumas vezes, até mesmo incluindo outros compostos psicoativos (Fernandez, 1982). Estas preparações, em
quantidades variáveis, têm sido utilizadas como um estimulante para combater a fome, sede e cansaço durante a
caça, como afrodisíaco e como catalisador para processos de "descoberta espiritual" em ritos de iniciação de
comunidades "Bwiti"(Stafford, 1983). As comunidades "Bwiti" são sociedades religiosas encontradas entre os povos
indígenas do Gabão e Camarões, na África Ocidental.

Literalmente, "Bwiti" significa "povo da capela." O objetivo principal desses ritos de iniciação, como descrito pelos
iniciados, é viajar através da terra de seus antepassados tribais para acessar estados "intra-uterinos" primitivos. Este
ritual é conhecido pelos seus participantes como "fraturas do crânio" (Sheppard, 1994). O iniciado, no estado
induzido pela Iboga, faz contato com seus espíritos ancestrais sob a orientação de pessoas já iniciadas. Após a
cerimônia, o iniciado "renasce" como um novo adulto na tribo, tendo suas transgressões e doenças anteriores
removidas pelo processo de iniciação (Fernandez, 1982).

Atualmente, a Iboga é utilizada por curandeiros tradicionais dos países da bacia do Congo e na religião Bwiti na Guiné
Equatorial, Camarões e, sobretudo, no Gabão, onde membros importantes das hierarquias políticas do país são
adeptos do culto. Aproveita-se principalmente a casca da raiz, mas também se atribuem propriedades medicinais às
folhas, à casca do tronco e à raiz. No Gabão, a raiz e a casca da raiz são encontradas facilmente nas farmácias
tradicionais e nos mercados das principais cidades. A Iboga pode ser utilizada sozinha ou em combinação com outras
plantas - uma parte desse conhecimento permanece secreto. Ela é empregada no tratamento da depressão, da
picada de cobra, da impotência masculina, da esterilidade feminina, da AIDS e também como estimulante e
afrodisíaco. De acordo com as crenças locais, seria eficaz, ainda, sobre as doenças místicas, como é o caso da
possessão.

A religião Bwiti
Por Giorgio Samorini, originalmente publicado na publicação “Integration” (5: 105-114).

O uso de vegetais psicodélicos por seres humanos para fins religiosos é muito antigo, provavelmente ainda mais
antigo do que a sua utilização para fins de cura ou ensino. As profundas alterações no estado de consciência trazidas
pelo uso de psicodélicos têm servido como um eixo para fundar sistemas religiosos e no desenvolvimento de religiões
ao longo da história da humanidade.

Mesmo hoje em dia, somos testemunhas do nascimento de novos movimentos religiosos "psicodélicos". A sua
presença renovada é uma prova da realidade e, ao mesmo tempo, da atemporalidade dos valores associados ao uso
social correto de plantas sagradas. Dois grandes movimentos religiosos que incorporaram o uso de psicodélicos
vegetais surgiram durante os últimos 150 anos, ambos um sincretismo do cristianismo com culturas tradicionais: a
Igreja nativa americana dos índios norte-americanos, que usa o peyote (Lophophora williamsii) e o Bwiti, praticado
pelo povo de Fang e outros locais da África equatorial ocidental, que utilizam a Iboga (Tabernanthe iboga Baillon,
Apocynaceae).

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Durante a primavera de 1991, durante minha própria pesquisa pessoal no Gabão, tive meu primeiro contato com a
religião Bwiti. Visitei templos Bwiti em vários dos povoados espalhados pela selva tropical e conversei com
funcionários e participantes do culto. Eu estava autorizado a participar das festividades de páscoa em uma pequena
aldeia a cerca de quarenta quilômetros da capital de Libreville. Os habitantes desta aldeia (cinquenta pessoas,
incluindo muitas crianças) pertencem à tribo étnica Fang (cuja origem linguística é o Bantu) e à seita Bwiti “Ndeya
Kanga”. Fui aceito com entusiasmo e hospitalidade, sendo o primeiro homem branco a participar de seus rituais.

Imagem: Localização do Gabão.

Em contraste com a religião que usa o Peyote, concebido pelos índios como um movimento de resgate de seu próprio
povo, a religião Bwiti é considerada pelos seus membros como uma religião universal monoteísta, acessível a
qualquer um que queira se aproximar dela com respeito e humildade, seja preto ou branco. Mesmo entre as seitas
mais sincréticas do cristianismo, há uma esperança generalizada de que o homem branco se torne mais familiarizado
com o Bwiti. Um membro do grupo expressou na época sua esperança de que um dia o Bwiti se torne conhecido no
cerne da cultura ocidental, na Europa, assim como o cristianismo chegou à África Equatorial há muitos séculos atrás.

A páscoa Bwiti dura quatro dias e quatro noites, da quinta-feira ao domingo de Páscoa. À noite, a anfitriã sagrada
Iboga é tomada coletivamente. Participei da comunhão com Iboga, cantado e dançado com outras pessoas durante
as quatro noites, com uma progressão da quantidade de Iboga ingerida, imerso na alegria e entusiasmo vivido por
todos.

Para mim, pessoalmente, foi uma surpresa; estou familiarizado com o estudo de cultos psicodélicos do passado e
outros que poderiam ser considerados "resíduos" etnográficos desses cultos. No Gabão, no Bwiti, encontrei um culto
religioso “psicodélico” puro e vivo. Apesar da vasta bibliografia disponível em ambos os campos, antropológico e
etnográfico, sua importância ainda não foi completamente compreendida por estudiosos ocidentais no campo
multidisciplinar de estudos sobre “plantas psicodélicas”.

Neste artigo, proponho uma visão geral da religião Bwiti, sua história, seus rituais e sua complexa mitologia. A planta
Iboga, um “psicodélico” cuja potência é comparável ao peyote e à andina San Pedro (Trichocereus pachanoi), e as
experiências psíquicas que seguem sua ingestão é a base do credo Bwiti.

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Imagem: A Iboga, ou eboka (Tabernanthe iboga Baillon) é um arbusto perene, com pequenas flores amarelas e frutas laranjas de formato oval
alongado. Suas raízes grossas são usadas como psicodélicos. As raízes são raspadas, secadas e moídas em pó; seu sabor é amargo e, quando
ingerida, o interior da boca fica dormente. A planta Iboga é considerada madura depois de quatro anos. Devido a isso, os Bwitists adotaram um
sistema de rodízio onde as plantas são colhidas por faixa etária e, em seguida, após a remoção das raízes, são replantadas novamente para que
possam continuar a viver e produzir novas raízes. O componente ativo mais importante das raízes é o alcaloide Ibogaína (Raponda-Walker & Sillans
[1961]).

História do Bwiti

A religião Bwiti é generalizada no Gabão, tanto no interior da selva, onde se originou, quanto na capital, Libreville.
Durante os últimos vinte anos, o Bwiti cruzou suas fronteiras e chegou ao Camarões, Congo, Zaire e Guiné Equatorial.
Neste último, a comunidade Bwiti é um pouco clandestina por causa da oposição enérgica das missões católicas.

De acordo com a “mitologia” Bwiti, as propriedades psicodélicas da iboga foram descobertas pelos pigmeus no
interior da selva. Eles, por sua vez, passaram esse conhecimento para as populações vizinhas, “Apindji” e “Mitsogho”,
que começaram os primeiros rituais Bwiti. Mais tarde, esse conhecimento foi passado para o Fang, o Eshira e outros
grupos étnicos em todo o sul do Gabão. Dentro do Fang, o movimento Bwiti, devido a contínuas reformas e
adaptações, tornou-se cada vez mais distante de outros cultos tribais. O Bwiti original, em particular, assumiu certas
características de outro culto ancestral, o “Byeri”, cujos rituais usavam um outro psicodélico, a planta “Alan”
(euforbiáceas Alchornea floribunda). O Byeri defendia um culto privado praticado pelos descendentes de famílias
patrilineares. No clímax da cerimônia de iniciação, ao iniciado, sob a influência de uma forte dose da raiz de “Alan”,
era mostrado os crânios dos seus antepassados, e, ao ver estes, ele seria capaz de se comunicar com os espíritos do
morto.

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Imagem: Pigmeus do Gabão.

Durante muito tempo o Bwiti foi considerado um culto ancestral e ainda hoje a palavra Bwiti é traduzida como
"morto" ou "antepassado", no entanto, como apontado por Swiderski (1990-1991), a correta etimologia pode vir de
"Mbouiti", nome próprio de um grupo de pigmeus que atualmente ocupa uma região entre o Gabão e Zaire.
Originalmente, a prática Bwiti incluía sacrifícios humanos e rituais de canibalismo. Esse fato é lembrado no mito Bwiti
sobre a descoberta da Iboga e o sacrifício da primeira mulher que a ingeriu, Bandzioku. Logo, porém, o Bwiti livrou-se
de tais componentes “cruéis”, substituindo esses rituais por sacrifício de galinhas. As notícias sobre sacrifícios
humanos diminuíram, mas, ainda hoje, existem alguns críticos restantes em alguns setores da população do Gabão,
em particular de católicos que ainda travam campanhas difamatórias contra os Bwitists.

Acusações de feitiçaria e ilusões diabólicas produzidas pela Iboga sempre fizeram parte da história do Bwiti, desde o
início. Posteriormente, a perseguição levada a cabo pelos missionários, com a aprovação do governo colonial francês,
foi sentida pelas comunidades Bwiti, particularmente durante os anos entre 1920 e 1940. Apesar da queima de
templos, perseguições e assassinatos de líderes religiosos, a religião continuou a crescer.

O Bwiti foi e ainda é um espinho para as missões católicas, mas o Bwiti continua a ganhar novos caminhos neste
combate. Após anos corajosamente sobrevivendo a perseguições constantes, o Bwiti foi reformado e contribuiu para
o despertar de uma consciência nacional e anti-colonial e para o nascimento da nova República do Gabão. O primeiro
presidente da República, que foi um iniciado na religião Bwiti, contribuiu expressivamente para a sua aceitação.

Hoje, a religião Bwiti é bem aceita por um setor da elite governante, uma vez que passou a ser considerada como um
movimento religioso popular que mantem e garante valores tribais considerados fundamentais para o espírito da
nova república. Funcionários do governo, membros da polícia e do exército são iniciados Bwiti, e participam
regularmente das cerimônias noturnas que acontecem nas aldeias vizinhas na selva.

Os Bwitists se consideram cristãos, ou melhor, "os verdadeiros cristãos". Naturalmente, isso se tronou um ponto de
atrito entre missionários católicos que consideram os Bwitists atormentados e dedicados a seitas satânicas. A crítica
Bwitist do cristianismo tornou-se mais profunda e mais coerente quando as práticas expansionistas substituíram as
perseguições do passado: "A Igreja Católica é uma bela teoria para Domingos, a Iboga, ao contrário, é a prática da

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vida cotidiana na igreja. Na igreja, falam de Deus, com a Iboga, a pessoa vive Deus" (palavras de Nengue Me Ndjoung
Isidoro, líder religioso ecumênico Bwitist, atualmente magistrado no Supremo Tribunal de Libreville). A Iboga usada
pelos Bwitists durante os ritos de iniciação substitui o padre da missa católica, na prática e em termos “conceituais”.

Estrutura interna

O Bwiti é uma religião complexa com uma mitologia rica, fruto de uma mistura inteligente e secular de valores afro-
tribais e figuras bíblicas católicas, com uma teologia muito particular e que, coerentemente, une conceitos animistas
e características de um deus cristão. Esta mistura sincrética está em constante evolução; na prática, desde a sua
criação, o Bwiti nunca deixou de se renovar em sua forma exterior e no seu conteúdo. A livre interpretação dos
valores expressos pelo movimento Bwiti resultou na criação de muitas seitas, cada uma com seu próprio pai fundador
e sua própria relação peculiar com o cristianismo. A presença de um líder Bwitist com uma mente crítica aguda ou
com alguma qualidade profética é suficiente para provocar uma mudança numa eventual comunidade e uma nova
corrente religiosa.

Cada seita Bwiti tem seu próprio templo, que se distingue pelas diversas decorações de seus templos. O templo é
coberto com motivos simbólicos associados à “árvore cósmica”. Quanto ao conteúdo, as seitas Bwiti são diferentes
umas das outros, de acordo com o grau de absorção dos valores cristãos. Entre os membros das seitas que se
inclinam mais para valores tribais, o seguinte provérbio é muito comum: "Batismo e Iboga são incompatíveis". Para os
membros de seitas envolvidas com o cristianismo, não é incomum que eles frequentem a missa de domingo depois
de ter participado de um ritual Bwiti no sábado à noite.

As comunidades Bwiti são "abertas", ou seja, seus ritos não são secretos (o verdadeiro segredo é a incapacidade de
comunicar a experiência de iniciação), o que dá liberdade de acesso aos não iniciados.

Não existe rivalidade entre as diferentes seitas e há indivíduos que são iniciados em duas ou mais seitas. As seitas
consistem de grupos de 10 a 50 pessoas, geralmente vivendo na mesma aldeia, onde o templo Bwiti é
simbolicamente localizado em uma das ruas mais movimentadas. Ao redor do templo, arbustos de Iboga são
cultivados e respeitados por todos.

Quando não há rituais, o templo é usado como local para reuniões sociais, um lugar de encontro e conversas, um
espaço que oferece proteção. O templo também serve como centro de controle, pois são construídos em locais onde
é possível ter controle visual da aldeia. Um dos templos que visitei era uma ampla “cabana” com paredes e telhado
de madeira, composto por dois quartos principais, sala cerimonial e uma "sacristia". Toda a estrutura assemelha-se à
estrutura de um corpo humano, a viga de sustentação do telhado é uma “medula espinhal”, o quarto cerimonial é o
corpo, a "sepultura" vista no final do cerimonial é semelhante a um altar, o local para os músicos é considerado o
coração, a sacristia é a cabeça e as duas portas que se abrem para a sala cerimonial são os ouvidos. No interior da
sacristia há uma espécie de nicho construído na forma de uma tenda contendo a raiz da Iboga em pó e as colheres
que serão utilizadas.

Em cada comunidade, os membros estão divididos entre os iniciados simples (bandzi) e os membros "oficiais", com
diferentes gradações. O termo “oficial” é dado na sequência de um período de aprendizagem e iniciações superiores.
Durante as cerimônias, cada membro oficial tem um papel preciso; no topo da comunidade é o “Nima”, o líder
religioso, seguido pelo “Yemba”, um membro oficial que comenta sobre os rituais a serem seguidos durante a
cerimônia. Em seguida, segue o guardião do templo e do tabernáculo, e em seguida, o diretor de dança e os músicos
(entre os quais, a harpista tem uma função especial). Juntamente com estes membros oficiais, maioria do sexo
masculino, é encontrada a mulher responsável pelos assuntos femininos (as mulheres são a maioria nas comunidades
Bwiti). Todos os membros oficiais do culto vivem como os outros membros da aldeia e geralmente são casados (entre
os Fang, a poligamia masculina predomina).

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O Rito de iniciação

O ciclo de rituais de todas as seitas Bwiti baseia-se num calendário religioso semelhante ao católico. A principal
diferença é que os ritos Bwiti são realizados à noite, como a maioria dos rituais relacionados com o uso de
psicodélicos. Os membros da comunidade se reúnem nas noites de sábado para domingo, e na época do Natal e da
Páscoa, quando usam a Iboga como comunhão.

Além dessas datas, quando todos se reúnem, o rito de iniciação individual é experimentado por aqueles que desejam
fazer parte da comunidade e acontece, principalmente, com a ingestão de uma grande dose de Iboga, muito maior do
que quando tomada durante os encontros normais. Este fator leva o iniciante a um estado alterado de consciência,
estados místicos, um contato direto com o sagrado. A ocorrência de tais iniciações nos leva a considerar o Bwiti como
sendo uma religião psicodélica completa, isto é, com um impacto que resulta em grandes alterações na consciência
do indivíduo. Entre os Bwiti, o momento da iniciação é o momento de maior iluminação e deve ser levado em
consideração para o resto da vida dos iniciados: em momentos de crise, o iniciado acessa (ou deve acessar) sua
iniciação e coloca-se, assim, no seu melhor “ponto de observação”.

No rito de iniciação, a ingestão do psicodélico é precedida por uma oferta para a selva e suas árvores. Há também
uma confissão na frente dos membros oficiais, além de um banho ritual. A confissão abrange toda a vida passada. A
omissão dos pecados pode resultar em uma "bad trip" com consequências desastrosas e até mesmo loucura
permanente. Se o pecado omitido estiver relacionado a um homicídio, o iniciado, de acordo com as crenças Bwiti,
morre.

Imagem: Ritual de iniciação Bwiti.

Os efeitos da dose maciça de Iboga (algumas centenas de gramas da raiz em pó) que o iniciado deve ingerir pouco a
pouco durante 7 a 12 horas perduram por três dias consecutivos. Durante este tempo, o iniciante permanece deitado
no chão da sacristia assistido por um par considerado como o "pai" e a "mãe" do processo de iniciação. Além dos

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"pais", outros membros da comunidade ficam presentes, acompanhando o “irmão” em sua longa jornada rumo aos
sons da harpa, ou em silêncio. Qualquer um dos membros presentes pode ingerir Iboga durante essas noites: um
companheiro durante a "grande jornada", que também experimentar os efeitos. A consciência do iniciado passará
por mudanças cada vez mais intensas, tornando-se mais separado da realidade circundante até que se perca seu
contato. Neste momento, geralmente durante a terceira noite, um membro oficial belisca o iniciado com um espinho
para se certificar da sua separação com o mundo exterior. Se ele não reagir, entende-se que ele está no clímax da
experiência. O momento é reconhecido na terminologia ocidental por “visão beatífica” ou “epopteia” (contemplação
dos símbolos secretos ou epifanias dos deuses). Este momento é referido por todos os Bwitists "batizados" como
uma ida à raiz da própria vida, um diálogo direto com Deus.

Durante a visão, o iniciado realiza longas viagens para a terra dos mortos, que servem como mediadores do divino.
Ele também pode encontrar seus antepassados ou outras pessoas conhecidas. Outros se encontram com figuras
celestes durante a viagem, com a Virgem Maria, Jesus Cristo, São Pedro,..., derramando luzes divinas. Outros têm
encontros diretos com Deus. As visões experimentadas durante a viagem estão cheias de significado simbólicos
profundos, pessoais, bem como culturais; o mundo da selva, com suas árvores, plantas e animais atuam como um
substrato experimental e criativo para as visões. Sempre, durante a visão dos espíritos dos mortos, Jesus Cristo ou
qualquer outra entidade diz ao iniciante seu novo nome, um nome iniciático , um nome que é adicionado ao nome
próprio do iniciado. Como uma religião de êxtase, o Bwiti conta com o psicodélico e com a experiência psíquica
pessoal para introduzir devidamente a sua doutrina. É a experiência iniciática que traz o ato de fé, um ato que segue
o momento de iluminação; este ato de fé, no cristianismo, sempre deve preceder qualquer demonstração de
convicção: "il faut voir despeje croire" ("é preciso ver para crer") é um provérbio comum em todas as seitas Bwiti, em
contraste com o polêmica provérbio "é o suficiente para acreditar", pregado pelas missões católicas. O Bwiti é uma
religião de "revelação", isto é, ela revela a si própria para o indivíduo durante cada iniciação.

A grande maioria dos fundadores de seitas Bwiti foi inspirada, por revelação, a iniciarem uma nova seita durante suas
experiências pessoais com Iboga. Não faltam entre os Bwitists correntes proféticas de caráter extático muito
requintado. Tal foi o caso de Ekan Ngoua, fundador da seita “Essum David”, considerado por todos, na época, um
grande místico; ele morreu durante a década de 1960 e tem seguidores entre as muitas comunidades que proliferam
em torno de seus discursos religiosos: "Eu vi Deus, para a Iboga é Deus, e sou um profeta. Quando fui iniciado, não
estava buscando Iboga, não foi algo que quis, ela própria era Deus e se apresentou a mim. Eu sou um profeta, eu sei o
que vem de longe, eu sei o que vai acontecer amanhã. Quando Deus fala comigo, quando os espíritos falam comigo,
eles me dizem o que deve ser feito com a Iboga (...). Devo unificar todas as seitas Bwiti e estabelecer apenas uma
religião” (Swiderski 1990-1991).

Seguindo os três dias e noites da iniciação, o iniciado acorda para o que ele considera uma nova vida. Algumas vezes a
intervenção enérgica por parte de membros oficiais é necessária para acordar o iniciado e, por vezes, a perda de
consciência pode continuar pelos dias seguintes. Isso é interpretado como um sinal positivo, uma vez que se é levado
para o contato com o divino. Apenas em raras ocasiões o iniciado não consegue acordar e morre. Como nos casos
raros de "bad trip", a Iboga não é considerada como sendo a causa, mas sim o indivíduo, por causa de suas impurezas
e maus pensamentos.

Ao despertar, o indivíduo relata sua experiência com a comunidade e os outros têm a oportunidade de corroborar
suas visões. Depois disso, ele é considerado um “bandzi” em todos os aspectos. Um longo sono que pode durar dias,
conclui o rito de iniciação. Este batismo com Iboga pode ser experimentado em qualquer idade, assim como no
batismo católico. Atualmente, em algumas comunidades, tornou-se uma tendência a iniciação de parentes,
especialmente crianças de 8 a 10 anos, seguida por uma segunda iniciação quando adultos. A grande liberdade de
interpretação das comunidades Bwiti permite muitas mudanças nas modalidades de iniciação. Em algumas seitas os
iniciados são livres para realizar experiências mais fortes com Iboga, que não podem acontecer sem a assistência de
um membro oficial.

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As cerimônias noturnas

O “ngoze”, ou cerimônia tradicional noturna, é um ritual em massa, momento de fervor religioso coletivo, alegria e
festa. São preparados para a comunhão coletiva com a Iboga e para uma integração mais estreita entre todos os
participantes. É também o momento para que todos se amem. Isso leva a um sentimento coletivo durante a parte
final da cerimônia nas primeiras horas da manhã, onde toda a comunidade experimenta um fluxo coletivo de
emoções, resultando no que os Bwitists chamam de “nlem myore” (“um só coração”), ou seja, um estado no qual o
povo entende um ao outro e se tornam um só. Fernandez (1965) denominou-o como "um estado de consenso
simbólico". É um estado mental de boa vontade para com os outros, o que é típico de uma certa fase da experiência
psicodélica, a parte final da fase de "renascimento". É interessante notar que os Bwitists valorizam muito essa
cerimônia, revelando um importante indicador dos aspectos transculturais das plantas psicodélicas.

O “ngoze” acontece durante todo o ano, nas noites de sábado até domingo de manhã. Algumas comunidades
preferem se encontrar a cada mês, dois meses, ou três meses, durante três noites consecutivas. No Natal e na
Páscoa, duas grandes festividades Bwiti, as cerimônias são realizadas em ciclos de rituais que duram quatro ou mais
dias.

Imagem: Cerimônia Bwiti.

No início da cerimônia, em torno das 08:00 p.m., os participantes comungam a Iboga: eles se ajoelham e cada um
recebe uma dose administrada por um membro oficial diretamente na boca, em uma colher. Tal como acontece com
a hóstia cristã, a Iboga não pode ser tocada com as mãos. Para facilitar a ingestão, uma pequena quantidade de água
pode ser bebida. A quantidade da dose varia de acordo com o indivíduo e é determinada pelo membro oficial que faz
a distribuição. Durante toda a noite e até uma hora pré-determinada, qualquer pessoa pode requerer Iboga adicional,
com a aprovação dos membros oficiais.

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Os Bwitists estão bem conscientes da importância da dosagem do psicodélico para trazer os resultados positivos
desejados para a experiência coletiva. Por exemplo, eles sabem que com doses mais fortes, é mais provável que as
pessoas percam o senso de realidade, o que seria contrário ao espírito da “ngoze”. Portanto, a custódia e a
distribuição da Iboga está nas mãos dos grupos oficiais.

Durante toda a noite os participantes dançam, tocam e cantam. Eles se vestem com cores diferentes, branco, azul,
amarelo, de acordo com sua seita particular ou o dia da semana. Com seus rostos pintados com “caulim branco”,
caem sob os efeitos da Iboga e dançam longas e exaustivas danças no mais puro espírito tribal Africano.

As danças são guiadas por esquemas coreográficos precisos. A dança mais comum é uma longa fila de pessoas que se
desloca no interior do “homem-templo”; cada pessoa repete o movimento da pessoa na frente e esse movimento se
origina com o primeiro homem e move-se para baixo da linha do primeiro ao último. Tudo isso ao ritmo de vários
instrumentos musicais: arco musical, bastões e outros instrumentos de percussão, e, durante a segunda parte da
noite, a harpa sagrada (ngombi). De vez em quando eles descansam, bebem, riem e se alegram.

As bebidas oferecidas pelos participantes no início da cerimônia são distribuídas com certo ritualismo durante os
períodos de descanso. Além de laranjada e Coca-Cola (preferidas pelas mulheres), também há cerveja, vinho de
palma, e vários tipos de licores mais fortes amplamente consumidos pelos homens. A presença de álcool na “ngoze”
não é nova nos cultos, mas contrasta com a tendência geral que vê como incompatível a ingestão de álcool neste tipo
de ritual. Quando questionados sobre isso, as respostas em geral diziam que o álcool lhes permite dançar por longos
períodos. Alguns também disseram que o álcool é usado como estimulante físico, enquanto a mente é dominada
exclusivamente pelos efeitos únicos da Iboga.

Fora do culto, os Bwitists não bebem álcool, de modo que a sua presença na cerimônia não é devido a um uso social
crônico. Durante a “ngoze”, vi muitas vezes a troca e consumo de colas (coca-cola, por exemplo) que têm
propriedades estimulantes (eles contêm cafeína), e por isso pode ser que os Bwitists usem álcool como um
estimulante físico, também. Algumas seitas, no entanto, não permitem álcool durante os rituais. Um novo
movimento ecumênico presente dentro da religião Bwiti pretende excluir o álcool dos rituais de todas as seitas.

Os diferentes ciclos de música e dança contém significados simbólicos e precisos associados à mitologia Bwiti.
Durante a cerimônia de noite, há duas fases distintas: a primeira dura do pôr do sol à meia-noite, e caracteriza-se por
motivos que ilustram a criação do mundo e o nascimento de Adão e Cristo. A segunda fase dura de meia-noite até o
amanhecer, e é influenciada pelo imaginário de morte e destruição, a morte de Cristo, a expulsão do Jardim do Éden,
o dilúvio universal e a morte da noite. No fim desta última parte, toda a comunidade entra em um estado de
integração total, o “myore nlem” ("um só coração").

Com a chegada do amanhecer, a cerimônia termina com uma refeição coletiva.

Mitologia Bwiti

A mitologia Bwiti consiste, principalmente, em uma complexa teogonia (o que se refere à gênese dos deuses e origem
do mundo) e mitologia que tratam da origem da Iboga, tratada pelos Bwitist na "História de Muma". Apesar das
evidências de sua estrutura primária, a mitologia Bwiti possui muitas variações marcadas pelas diferenças entre as
seitas e os diversos grupos étnicos. Isto também é visto nas várias interpretações do mito que surgiram durante o
século passado que resultou na criação ou na reforma dos diversos movimentos Bwitist (Fernandez, 1972).

O Bwiti não possui textos escritos para a divulgação de suas crenças, com exceção de alguns "catecismos" que são
difíceis de ler, mas que podem ser considerados como uma tímida tentativa. Dada a nova fase atual de coordenação
interna e a união das muitas expressões da religião Bwiti, provavelmente veremos, em breve, “bíblias” e catecismos
Bwitist onde o rico patrimônio mitológico desta religião poderá ser registrado.

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Nos vértices da teogonia genealógica Bwiti existe um único Deus, “Nzame Mebeghe”, um deus semelhante ao deus
cristão, mas menos “irritado e vingativo” (não existe inferno na mitologia Bwiti), que marca o Bwitismo como sendo
uma religião monoteísta. No início, Nzame criou um ovo a partir do qual nasceram os trigêmeos, Eyene, None e
Gningone, que correspondem mais ou menos à Sagrada Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Este último foi
substituído por uma figura feminina, Gningone, considerada a mãe da raça negra; em algumas seitas esta figura toma
o lugar da Virgem Maria. Entre os Fang, bem como entre outros grupos africanos, tudo se relaciona à mãe Terra, ao
princípio feminino, e a fecundidade possui um valor principal, o que trouxe um estatuto especial para o culto católico
mariano (culto à Maria) na região.

A interpretação Bwiti possui profundas referências à Bíblia, tanto do antigo como do novo testamento. Por exemplo,
o pecado original de Adão e Eva (Obola e Bioma), considerados gêmeos, é visto como um ato incestuoso; a “Árvore
do Bem e do Mal”, ou a “árvore do conhecimento”, é identificada com a Iboga; os restos de Abel tornaram-se os
restos mortais dos ancestrais (Bieri); o dilúvio universal tornou-se o “Ozambogha”, uma difícil jornada do povo Fang
dos Camarões ao Gabão no início do século XX.

A "História de Muma", história da descoberta da Iboga e da origem do Bwiti, tem várias versões diferentes não só
entre o povo Fang, mas também entre os Apindgi, os Mitsogho, e os Eshira. Apesar dos Bwitises indicarem a origem
do conhecimento da Iboga entre os pigmeus, e apesar de algumas tribos de pigmeus dizerem que ainda usam Iboga,
não se sabe muito sobre os rituais de Iboga neste arcaico grupo. Entre os Fang, o mito é o seguinte:

“Bandzioku, de ascendência pigmeu, perdeu o marido durante a safra de frutas na floresta. Ele caiu de uma árvore e a
morte o surpreendeu. Seu corpo permaneceu escondido na floresta e Bandzioku, depois de procurar em vão por seu
corpo, tornou-se inconsolável e voltou para a aldeia. Conforme prescrito pela regra tribal, ela teve de se casar com
seu cunhado. Um dia ela foi pescar e construiu uma rede para apanhar “Siluros”, mas, por causa de um orifício na
parte inferior da rede, em vez de apanhar “Siluros”, ela pegou alguns ossos humanos. Eram os ossos de seu primeiro
marido. Ela depositou os ossos na margem do rio e, em seguida, um animal veio e os levou embora. Bandzioku seguiu
o animal até chegaram à caverna Kakonangonda. No interior da caverna vozes dos espíritos dos mortos falaram:
"Bandzioku, quer nos ver”? Sim, ela respondeu. Sendo assim, os espíritos alimentaram ela com a raiz de uma planta
que crescia em um canto da entrada da caverna: era a Iboga. Depois de comer, Bandzioku podia ver e falar com os
espíritos dos mortos, e entre eles estava o espírito de seu primeiro marido. Antes de partir, os espíritos lhe pediram
uma oferta (okandzo). Ela lhes deu tudo o que carregava e voltou para a aldeia.

No dia seguinte, levantou-se cedo, reuniu vários alimentos, e voltou para a caverna para fazer mais oferendas,
continuando a fazê-las por vários dias. Seu segundo marido, pensando que ela tinha um amante, decidiu segui-la
escondido. Quando ela chegou até a caverna, os espíritos gritaram "Muma, Muma" (o que indica a presença de um
não iniciado) e pediram a ela as oferendas. Bandzioku tinha pensado que estava sozinha, mas quando se virou, viu o
marido. Ele estava chateado e perguntou com quem ela estava falando; ela apontou para a planta Iboga e deu-lhe
uma raiz para comer. Assim, o marido também foi capaz de ver e se comunicar com os espíritos, incluindo o espírito
de seu irmão morto. Naquele momento, os espíritos perguntaram ao homem sobre o “okandzo”, a oferenda
obrigatória, e sendo assim, ele entregou o pouco que tinha. Os espíritos rejeitaram a oferta e ele não teve outra
escolha, oferecer sua esposa (que era o que os espíritos realmente queriam). Desta forma, Bandzioku foi
estrangulada e sacrificada. Após a oferenda de sua mulher, o homem pegou a Iboga, voltou para a aldeia e construiu
o primeiro templo Bwiti.

O sacrifício humano final, mencionado na versão, vem do ambiente cultural onde o Bwiti surgiu e está associado ao
velho culto aos antepassados. Outros aspectos deste culto devem ser vistos como provenientes de uma mitologia
tribal mais arcaica que deve ter sido submetida a estratificações e reinterpretações ao longo dos tempos.

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O cogumelo Duna

Outro fato muito interessante em outras versões do mito é o seguinte: Além da Iboga, um cogumelo chamado
“Duna” desempenha um papel simbólico significativo. Nessas versões, o espírito do morto pede para Bandzioku
colocar as raízes de Iboga no topo de um cogumelo, como se ele fosse um prato ou uma cesta. De acordo com
algumas versões do mito, eles pediam a ela para comer a raiz de Iboga colocada no topo do cogumelo, ou pediam
que ela comesse a Iboga junto com o cogumelo. O pesquisador Fernandez já tinha salientado sobre a importância de
verificar se o cogumelo encontrado na mitologia dos Fang é psicoativo, mas, até hoje, sua classificação taxonômica
não é conhecida. Existe uma referência, de 1961, dos pesquisadores ocidentais Raponda Walker & Sillans, sobre um
cogumelo comestível utilizado pelos Fang chamado de “Duna” por esse povo, e de “Kuna” pelo povo que fala o
idioma mitsogho. Neste registro, dizem que ele se assemelha a um chapéu em forma de funil, com muitos filamentos
vegetais, e que pode ser do tamanho de uma cabeça humana. A maior parte da sua massa branca, quando seca e
triturada, seria usada em poderosos rituais de feitiçaria. Outros pesquisadores também fazem referência à ingestão
deste cogumelo na sua forma em pó, para a obtenção de efeitos psicodélicos. Tal prática também existe dentro do
Bwiti (Fernandez 1972: 246). No entanto, para as pessoas da seita “Nganga Dissumba”, o cogumelo Duna é o símbolo
do cérebro do primeiro homem a morrer (Swiderski 1990-1991).

No decurso de minha própria investigação pessoal sobre os Bwiti, bem como com outros indivíduos encontrados no
Gabão, confirmei o fato de que este cogumelo ainda é parte da memória coletiva do Fang. Por exemplo, um homem
chamado José, de Libreville, me informou que este cogumelo é associado à feitiçaria, que cresce numa floresta
próxima, é redondo, e é escuro por fora e branco por dentro. Ele é ingerido com certos legumes para se obter visões
durante o sono. Sua casca é usada para a realização de feitiços. De acordo com este homem, o cogumelo nunca foi
usado em conjunto com a Iboga.

Os cantos Bwiti mais antigos fazem referências a cogumelos que ostentam associações simbólicas com tatuagens e
também com uma “iluminação”, mas essa última palavra não é explicada (Raponda-Walker & Sillans 1962). Além do
Bwiti, nos contos folclóricos e populares desta zona geográfica são muito comuns os relatos de fungos diversos de
“poder”.

Tudo isto indica que nesta zona da África equatorial existe o conhecimento e a utilização de cogumelos psicoativos
(especialmente no passado). Além disso, a relação entre cogumelos psicodélicos e seres-humanos não parece ser um
evento recente na África, como demonstrado por estudos recentes (cf. ethnomycologic Samorini 1992). Pode ser que,
com a descoberta de outros vegetais psicodélicos (Iboga, por exemplo), os cogumelos (pelo menos o cogumelo Duna)
tenham sido gradualmente substituídos nos rituais religiosos. Seu uso atual, portanto, só aconteceria em certos
ambientes Bwiti muito singulares ou em associação com feitiçaria.

Aspectos psicoterapêuticos do culto Bwiti

Não faltam entre os Bwitists, indivíduos com grande interesse na cura dos doentes. Vemos isso frequentemente nas
práticas nas quais o psicodélico desempenha um papel chave na identificação da causa da doença e na sua possível
cura. Para o Bwiti, este aspecto psicoterapêutico do uso da Iboga aproxima as comunidades, o que, por sua vez, se
aproxima dos objetivos e práticas da “Ombwiri”, uma influente sociedade de cura existente dentro dos mesmos
limites etno-geográficas do Bwiti . A “Ombwiri” também faz uso de Iboga. Através da ingestão da planta, a pessoa
doente faz contato com os “imbwiri”, espécie de “gênios” com forma humana que vivem no “mundo invisível”,
divididos em água, terra e ar. Esta comunicação resulta tanto na cura como em informações importantes sobre a
doença e como curá-la (por exemplo, quais plantas precisam ser usadas no tratamento).

Além da Iboga, a “Ombwiri” tem uma importante mistura de legumes feita a partir de um grande grupo de plantas
chamado “ekasso”. A preparação deve ser ingerida pelo homem doente em um momento preciso durante o ritual.
Não ficou claro, pelo menos para este escritor, se esta mistura possui propriedades psicoativas ou se é usada apenas

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para a preparação do corpo para a ingestão de Iboga. No mito sobre a origem da sociedade “Ombwiri”, um pouco
semelhante à história de Muma para os Bwitists, os espíritos dos mortos orientaram a primeira mulher que ingeriu
Iboga a fazer isso com a “ekasso”, e, assim, ela poderia entrar em contato com eles. Hoje em dia, para muitas
comunidades Ombwiri, a Iboga é um dos principais ingredientes da ekasso.

Cerca de 40 “gênios” Imbwiri são conhecidos. Eles são identificados de acordo com o grupo de doenças que podem
curar, e também são acessados para aplicarem uma pena quando certos tabus são quebrados dentro do “campo de
ação” desses “gênios”. Os templos Ombwiri são semelhantes aos templos Bwiti, com um eixo simbólico central,
cercados por plantas de Iboga manejadas com muito cuidado. O novo movimento ecumênico Bwiti prevê a
unificação, ou melhor, a incorporação da Ombwiri à religião Bwiti. O número de membros iniciados em ambos os
cultos continua a crescer (Swiderski 1972). No presente momento, dentro da Bwiti, estão surgindo movimentos
ecumênicos sérios que tentam unificar as seitas ao invés de aboli-las. Líderes religiosos eruditos que trabalham com
as diferentes comunidades entendem a necessidade de unificar os cultos e redefinir os rituais no âmbito de um plano
litúrgico comum. O principal objetivo dessa tarefa é obter o reconhecimento do Governo do Gabão, o que colocaria o
Bwiti no mesmo nível do Cristianismo e do Islã. Um desses líderes, “Owono Dibenga Louis Marie”, criou, durante os
últimos anos, o movimento “Juventude Iboga", para que as novas gerações possam conhecer melhor o credo Bwiti.
Ele também é um membro fundador da "Missama Abiale awu Enin Mbe Mbe" (Associação dos iniciados em Iboga),
frequentemente abreviado como "MA2E", que define as tendências para o intercâmbio entre as seitas, um requisito
para que se possa unir o movimento.

A sincrética imaginação e o enorme dinamismo que caracterizam a Bwiti ao longo de sua história contribuíram para
torná-la uma religião em constante expansão, um movimento espiritual que pode, num futuro próximo, tornar-se
uma das grandes religiões africanas da África Ocidental Equatorial.

1.3 - Iboga no Ocidente

No final do século XIX, durante a colonização da África pelas potências europeias, chegaram na França os primeiros
relatos sobre o xamanismo Bwiti. Um exemplar da planta foi coletado na região do Gabão e do Congo por um médico
da marinha Francesa e, logo no início do século XX, em 1901, uma molécula foi isolada e cristalizada a partir do
extrato da raiz e recebeu o nome de “Ibogaína”. Entre 1939 e 1966 um extrato da planta “Tabernanthe manii”, que
também contém a molécula de Ibogaína, chegou a ser comercializada em comprimidos na França. Esse extrato se
chamava “Lambarene” e, anunciado como um estimulante, continha cerca de 8 mg de Ibogaína e era indicado em
casos de depressão, astenia, convalescença, doença infecciosa e para a melhora de desempenho físico e mental
(Goutarel, Gollnhofer, e Sillans, 1993). A droga se tornou muito popular entre atletas após a segunda guerra mundial,
mas acabou por ser retirada do mercado quando a venda de produtos que continham Ibogaína foi proibida em 1966
nos Estados Unidos.

Em 1962 Howard Lotsof, na época dependente de heroína, descobriu que uma única dose de Ibogaína foi suficiente
para curar a sua dependência de heroína e de alguns amigos. A partir daí surgiu uma rede internacional de
provedores de tratamentos para dependência em todo o mundo, alguns oficiais, outros “underground”. Desde e
então cerca de 19.000 pessoas já fizeram o uso médico da Ibogaína com resultados, em sua grande maioria, muito
positivos. Os efeitos são surpreendentes e, em muitos casos, ocorre uma melhora significativa do quadro de
dependência em apenas 24 horas.

A partir de relatos, parece que certas memórias são revividas principalmente de forma visual, mas sem a carga
emocional que carregavam por ocasião da ocorrência dos fatos, permitindo que o indivíduo tenha uma série de
insights em relação aos eventos relembrados (Cláudio Naranjo, 1974; Alper et al. , 1999). Subjetivamente, estes
efeitos têm sido descritos como "fantasias", como passagens de filmes em alta velocidade ou uma apresentação de
slides (Lotsof, 1995). Essas "fantasias" são fáceis de serem manipuladas e trabalhadas tanto pelo paciente como pelo
terapeuta, tornando-se uma valiosa ferramenta para o processo psicoterapêutico (Cláudio Naranjo, 1967, 1974). As

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imagens visualizadas sob o efeito da Ibogaína são muito semelhantes, em conteúdo, ao que Jung nomeou como
“arquétipo” e, frequentemente, surgem sequências com animais, visões ou sensações de nascimento e renascimento,
além de assuntos diversos com ou sem a presença de pessoas (Popik e Glick, 1996). Ainda que a Ibogaína tenha
características comuns com outras substâncias classificadas como "alucinógenas", ela não causa perturbações
mentais, alterações na percepção da realidade e tampouco apresenta fenômenos psicomiméticos (Luciano, 1998;
Goutarel, Gollnhofer e Sillans 1993; Popik e Glick, 1996). Ao invés de classificar a Ibogaína como alucinógena, sugere-
se que o composto deva ser denominado como "onirofrênico" (do grego, "criador de sonho"), devido à indução aos
estados de "sonho lúcido" (Naranjo, 1974; Goutarel, Gollnhofer, e Sillans, 1993).

Além dos efeitos psicológicos da Ibogaína, ela pode provocar uma série de efeitos físicos tais como tremores,
sensibilidade à luz, náuseas e vômitos, ataxia (perda da coordenação muscular) e distonia (movimentos involuntários
em partes do corpo). Todos estes efeitos, físicos e psicológicos, dependem também do tamanho da dose
administrada e podem durar por até 24-36 horas. A Ibogaína não é considerada uma substância com potencial de
dependência (Popik e Glick, 1996), já que seus efeitos não necessariamente são prazerosos, ou seja, não são
adequados para uso recreativo (Shulgins e Shulgins, 1997). Quando a Ibogaína foi introduzida no mercado negro dos
Estados Unidos na década de 1960, ela mostrou pouca popularidade, além de muito raramente ser vendida
ilicitamente (Goutarel, Gollnhofer, e Sillans, 1993). A agência antidrogas dos Estados Unidos relata ter encontrado
muito poucas amostras ilícitas em seus esforços no combate a drogas (Cooper, 1988). A Ibogaína apareceu pela
primeira vez no mercado de drogas ilegais em 1967, com alguns relatos feitos pela polícia de Nova York e São
Francisco. Pouco tempo depois, no entanto, a Ibogaína praticamente desapareceu do mercado negro, talvez devido a
uma falta de motivação por parte dos traficantes que dificilmente obtinham lucro com a substância. (Goutarel,
Gollnhofer, e Sillans , 1993).

Claudio Naranjo, psiquiatra chileno, foi o primeiro a estudar os potenciais efeitos psicoterapêuticos da Ibogaína. No
início de 1960 Naranjo realizou uma série de estudos de casos (cerca de 40 estudos, com 30 pacientes), utilizando
doses de 4-5 mg/kg, onde ele descobriu que a Ibogaína tinha a capacidade de facilitar o encerramento de conflitos
emocionais não resolvidos (Popik Glick, 1996). Este encerramento foi mediado pela capacidade da Ibogaína em
melhorar a recuperação de memórias reprimidas. Naranjo constatou que a Ibogaína permitia que seus pacientes
revissem suas experiências passadas de uma forma mais clara e objetiva, o que lhes permitiu enfrentar questões
pessoais que antes eram inacessíveis (Naranjo, 1974).

Na mesma época em que Cláudio Naranjo conduzia seus estudos, os efeitos anti-viciantes da Ibogaína foram
descobertos por acaso. Em 1962, Howard Lotsof, viciado em heroína na época, tomou uma dose de Ibogaína
(estimada em cerca de 500 mg) que um amigo químico lhe dera, seduzido pela promessa de uma "viagem de 32
horas”. Ele acordou na manhã seguinte com a surpreendente revelação de que não sentia mais o desejo de consumir
heroína, e permaneceu livre da droga por vários anos (Lotsof, 1990). Embora Lotsof não fosse médico ou cientista,
sua experiência pessoal com a Ibogaína o levou a investigar os potenciais da substância.

Ao longo dos anos seguintes Lotsof liderou uma série de grupos de estudos não clínicos sob o patrocínio da "S & L
Laboratories", parceria que permitiu a ele adquirir a substância e administrá-la a pessoas interessadas. Naquela
época, as substâncias psicodélicas ainda não eram proibidas e estavam amplamente disponíveis para qualquer
pessoa. Entre 1962 e 1963, Lotsof administrou Ibogaína para 20 indivíduos em doses diversas até 19 mg/kg (Alper,
Beal, e Kaplan, 2001). Destes 20 pacientes, 7 eram dependentes de heroína e todos notaram um significativo alívio
dos sintomas de abstinência após a ingestão da substância. A maioria de seus pacientes foi capaz de manter a
abstinência de heroína durante 6 meses ou mais.

Pouco tempo depois, em 1963, a "Food and Drug Administration" (FDA) percebeu a grande quantidade de drogas
psicodélicas que Lotsof estava comprando e rastreou um carregamento de 100 g de mescalina para o laboratório que
ele havia criado. Embora psicodélicos não fossem ilegais naquela época, o uso não autorizado de mescalina em seres
humanos era proibido e sujeito a pena de 6 meses de prisão. Ao acessarem a suposta carga de mescalina,
pesquisadores do FDA descobriram 2 gramas de Ibogaína, que foi apreendida pelos agentes da FDA. Posteriormente,
o FDA cortou o acesso de Lotsof a qualquer tipo de substância controlada, apesar do fato de que não teriam
encontrado nada que pudesse incriminá-lo.

Em 1966 o LSD, a mescalina e a psilocibina foram classificados pelo governo federal dos EUA como narcóticos, drogas
sem valor medicinal e com elevado potencial de abuso. Pouco tempo depois Lotsof foi preso sob a acusação de
conspiração a favor de certas drogas, num contexto complexo na época onde muitos ativistas lutavam pela liberação

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de certas substâncias psicodélicas. Quando Lotsof falou sobre os efeitos anti-viciantes da Ibogaína em seu
julgamento, seu testemunho foi retirado dos laudos do processo. Lotsof foi considerado culpado em 4 contravenções
e condenado a 14 meses de prisão. Após sua liberação, em 1968, ele viajou para o Nepal, onde, pela primeira vez em
cinco anos, comeu ópio e tornou-se viciado novamente. Em 1969 ele tentou localizar alguma dose de Ibogaína com a
esperança de quebrar o seu vício novamente, mas descobriu que ela tinha sido adicionada à lista de drogas proibidas
nos EUA e foi incapaz de encontra-la novamente por vias legais.

Ao retornar a Nova York, Lotsof entrou em um programa de reabilitação com "metadona" (programa de substituição
de uma droga mais pesada por outra mais leve [metadona]), mas, sem resultados duradouros, e por conta de suas
experiências com Ibogaína, abandonou o tratamento e voltou a investir em suas pesquisas com a Ibogaína. Em
dezembro de 1973, e ao longo dos próximos 6 anos, colaborou em uma variedade de projetos, incluindo três filmes e
uma investigação mais aprofundada sobre a Ibogaína.

Em 1981 uma subcomissão do "Partido Internacional da Juventude", cujos membros eram comumente chamado
"Yippies", um desdobramento revolucionário contra-cultural que lutava pela liberdade de expressão e realizava
amplos protestos anti-guerra na década de 1960, começou a financiar as investigações de Lotsof sobre a Ibogaína. Ele
usou a maior parte deste financiamento para executar uma pesquisa bibliográfica exaustiva na biblioteca da
Universidade de Nova Iorque. Ao final de 1983, Lotsof acreditava que ele tinha informações suficientes para apoiar
suas alegações de efeitos anti-viciantes da Ibogaína, e deu início ao registro de uma série de patentes para o remédio
“Endabuse”, uma preparação oral de cloridrato de Ibogaína em forma de cápsula. Essas patentes eram indicadas para
a "interrupção rápida" de perturbações relacionadas com a dependência de opiáceos, perturbações relacionadas à
dependência de cocaína, perturbações relacionadas à dependência de nicotina e desordens diversas relacionadas ao
abuso de substâncias químicas (Lotsof, Della Sera, e Kaplan, 1995).

Lotsof fez o primeiro contato com a comunidade científica "convencional" em 1986 através do professor da
Universidade McGill, do Canadá, para estudar os efeitos da Ibogaína na dependência de álcool. Também em 1986,
Lotsof fundou uma organização sediada em Nova York, a "NDA International Inc.", com a dupla missão de promover
as aplicações humanitárias da Ibogaína e a preparação e comercialização do remédio "Endabuse" (Goutarel,
Gollnhofer, e Sillans, 1993).

Ainda nessa época, Lotsof enviou uma amostra de Ibogaína para pesquisadores do departamento de farmacologia da
universidade Erasmus, em Roterdã (Holanda), momento no qual os pesquisadores publicaram o primeiro artigo que
indica a eficácia da Ibogaína na redução da dependência por opiáceos em animais (Alper, Beal , e Kaplan, 2001). A
equipe da Erasmus também desenvolveu um método de injetá-lo nos ventrículos do cérebro de ratos. Isso reduziu a
quantidade de Ibogaína necessária para produzir os mesmos efeitos da administração intravenosa ou intraperitoneal
(de Rienzo, Beal et al., 1997).

Em 1989, Lotsof é contratado pelo Dr. Stanley Glick, chefe do departamento de farmacologia e toxicologia do “Albany
College of Medicine”. Este foi, talvez, o mais crucial dos contatos de Lotsof com a comunidade científica. Depois de
examinar os efeitos duradouros da Ibogaína na administração de morfina em ratos, Dr. Glick tornou-se muito
interessado em promover a pesquisa sobre a Ibogaína. Embora Lotsof tenha se separado posteriormente de Glick,
esse continuou suas próprias investigações e, ao longo de vários anos, produziu um conjunto significativo de
trabalhos sobre compostos de Ibogaína e afins (De Rienzo, Beal, et al. , 1997).

Nessa última parceria, Lotsof e seus colegas desenvolveram um procedimento específico de uso do Endabuse que
envolvia uma assistência médica, psicológica e social abrangente de curto e longo prazo com seus pacientes. Lotsof
descreveu um procedimento de administração única e resumiu os principais princípios do tratamento em 4
orientações básicas: 1) ganhar a confiança do paciente, 2) manter o conforto do paciente, 3) ajudar o paciente a
interromper a sua dependência química, e 4) abastecer a rede de apoio psicossocial necessário pela maioria dos
pacientes de forma a permitir o desenvolvimento de sentimentos de realização pessoal e a capacidade de funcionar
como membros produtivos da sociedade (Lotsof, 1994).

Uma das diferenças entre o procedimento Lotsof e o tratamento da dependência convencional era o nível e a
natureza da relação entre os médicos e seus pacientes. Como descreve Lotsof, em 1994: “... a sensação de conflito
visto na maioria das modalidades de tratamento entre o médico e o paciente sobre a cessação imediata do uso de
drogas não deveria existir. O tratamento deveria ser abordado como uma "atitude pró-escolha" pelos terapeutas,
onde a abstinência não seria exigida (Frenken, 1998). Em vez disso, o paciente seria autorizado a continuar a utilizar

16
drogas até certo tempo antes do procedimento com base na quantidade de tempo necessário para que o
medicamento administrado limpasse seu corpo. A posição da equipe de tratamento era de que a Ibogaína
interromperia a dependência química do paciente e que todos os conflitos oriundos da relação entre médico e
paciente deveriam ser evitados, de modo que todo processo inicial de recuperação se desse a partir de elaborações
exclusivamente internas do paciente (Lotsof, 1994).”

Outra diferença notável do “regimento Lotsof” referia-se a rapidez com que o apoio psicossocial precisava ser
fornecido ao paciente após o tratamento. A Ibogaína apresenta uma janela livre de sintomas, oportunidade que tanto
o paciente quanto o terapeuta devem tirar proveito (Lotsof, 1994). O fato da Ibogaína permitir uma interrupção
imediata na dependência coloca o paciente em um estado psicológico muito receptivo no início da terapia. Portanto,
as intervenções devem acontecer da forma mais rápida de modo a propiciar o aprendizado de habilidades sociais e
de modo a facilitar a compreensão e superação dos traumas vividos durante a vida da pessoa tratada (Lotsof, 1994).
Lotsof afirmava que os pacientes precisariam de uma orientação a mais estreita e intensa possível nessa janela de
oportunidade.

Como as notícias das descobertas de Lotsof gradualmente se espalharam por todo o mundo, uma rede mundial não
oficial de prestadores de terapia com Ibogaína foi desenvolvida (Alper et al., 1999). Esta rede foi amplamente apoiada
pelos esforços da "Coalisão internacional de suporte a dependentes químicos (ICASH), sediada em Nova York,
fundada por Robert Sisko. Em conjunto com outras organizações, a ICASH tratou com Ibogaína cerca de 40 a 45
indivíduos entre 1989 e 1993. Embora não oficialmente sancionados, os resultados desses tratamentos foram
relatados em publicações da Universidade de Erasmus (Roterdã, Holanda). Nessa época, grupos de apoio para
dependentes químicos com o uso de Ibogaína passaram a ser desenvolvidos também no Reino Unido, Eslovênia,
Itália, República Checa e França.

Profissionais de várias disciplinas também passaram a se interessar pelo potencial da Ibogaína. Deborah Mash,
professor de neurologia na Universidade de Miami, interessou-se pela investigação da Ibogaína após ouvir uma
apresentação sobre a substância em uma conferência em 1991 (Alper, Beal, e Kaplan, 2001). Em 1992, a Universidade
de Miami colaborou na organização de um ensaio clínico sobre a Ibogaína. No ano seguinte, Mash recebeu
autorização do FDA para pesquisas sobre as aplicações da substância. O estudo não foi concluído devido à falta de
fundos, mas, mesmo assim, desde 1996 Mash opera um centro de estudos independente e tratamento com Ibogaína
na ilha caribenha de St. Kitts.

Outro terapeuta americano, Eric Taub, também se mudou da Flórida para o Caribe a fim de estabelecer um programa
de terapia com Ibogaína. Desde 1992, Taub tratou cerca de 310 pacientes, 130 dos quais procuravam tratamento
para dependência química (Alper, Beal, e Kaplan, 2001). Através da terapia com Ibogaína, Taub ajuda seus pacientes
na mudança de padrões "reativos" ou inconscientes de determinados comportamentos, não se limitando ao
tratamento de dependência química. O papel da Ibogaína nessas psicoterapias seria a facilitação da redução de
associações "patologicamente adquiridas ou aprendidas", a investigação de pistas ou representações internas
correspondentes a certos estados e comportamentos motivacionais. De acordo com os métodos de Lotsof, Taub
sublinha a rapidez e a intensidade com que a assistência deve ser concedida após a administração da Ibogaína para
que o tratamento seja bem-sucedido.

[...]. Um pequeno grupo de cientistas ainda está trabalhando para tornar a Ibogaína um tratamento padrão. No início
de 1990, Deborah Mash, neurocientista e especialista em dependência química da Universidade de Miami, descobriu
o trabalho do Dr. Stanley Glick, um cientista que havia pesquisado o efeito da Ibogaína em ratos. Glick viciou ratos em
morfina, um analgésico opiáceo, permitindo-lhes que tomassem a substância através de um tubo. Posteriormente ele
deu Ibogaína ao ratos viciados e descobriu que eles voluntariamente pararam de tomar morfina.

Ainda nesta época, Howard Lotsof entrou em contato com Mash e eles começaram a trabalhar juntos. Em 1995,
conseguiram aprovação para investigar o seu potencial em seres humanos, mas não conseguiram financiar o projeto,
que custaria alguns milhões de dólares. Normalmente, esse dinheiro viria de grandes empresas farmacêuticas, mas
drogas como Ibogaína oferecem pouco potencial de lucro por conta das questões legais envolvidas, etc.

Depois de não conseguir obter financiamento para sua pesquisa, Mash abriu um centro de pesquisa clínica privada na
ilha de St. Kitts, no Caribe, em 1996, onde coletou uma série dados através de 300 viciados desintoxicados que se
submeteram ao tratamento com Ibogaína. Ela diz que todos os pacientes apresentaram algum efeito sobre seu vício e
70% entraram em remissão por vários meses ou muitos anos. Os dois primeiros pacientes da clínica ainda estão

17
sóbrios, 16 anos depois. “O vício em cocaína é terrível. Conseguir que as pessoas larguem o crack? Nós fizemos isso,
nós conseguimos romper viciados intratáveis”, conta.

Decidida a levar o tratamento a mais pessoas, Mash está agora trabalhando com o setor privado para criar uma
versão da droga que será mais atraente para as empresas farmacêuticas. Ela está trabalhando para isolar a
“norIbogaína”, uma substância gerada a partir da metabolização da Ibogaína no fígado, que ela acredita ser
responsável por inibir os desejos, mas sem o efeito “alucinógeno”.

Os cientistas têm poucas esperanças de que a droga seja aprovada nos EUA e lamentam que pesquisas significativas
sobre a Ibogaína nunca tenham sido feitas.

De acordo com um psiquiatra especialista em dependência química, o Dr. Ben Sessa, o momento para esta pesquisa
poderia finalmente ser agora. Nos últimos dois anos ocorreram os primeiros estudos científicos publicados sobre o
uso de MDMA (ecstasy) em vítimas de traumas diversos, além de pesquisas com psilocibina para uso psicoterapêutico
e um estudo semelhante sobre LSD que está previsto para acontecer este ano (2001). O que é necessário, diz ele, é
um único estudo, em que um grupo de viciados tome uma dose padronizada da droga e outro grupo tome um
placebo, com ambos sendo acompanhados por um plano completo de tratamento seguindo os 12 passos de
desintoxicação.

Cronologia

- 1864 - Primeiro relatório referente à utilização da raiz da planta “Tabernanthe Iboga” como um estimulante e
afrodisíaco no Gabão e no Congo feito por Griffon du Bellay, médico da Marinha francesa, que levou alguns
espécimes para a França.

- 1889 - O gênero “Tabernanthe” é estabelecido e a descrição botânica de T. Iboga é feita por Henri Baillon no Museu
Nacional de História Natural de Paris.

- Final do século 19 – A etnia “Fang”, do Gabão, funda uma igreja cristã sincrética chamada "Bwiti", que usa T. Iboga
em seus ritos de iniciação. A etnia Fang acredita que o uso da T. Iboga foi originalmente descoberto pelos pigmeus.

- 1901 – O princípio ativo da Iboga, a Ibogaína, é isolado pela primeira vez pelos pesquisadores Dybowsky e Landrin.

- 1903 - Primeiro relato de uso cultural de T. Iboga como uma planta visionária, no Congo.

- 1939 - Um extrato de “Tabernanthe Manii” foi vendido em forma de comprimido sob o nome Lambarene (o nome
de uma cidade no Gabão), para o tratamento da fadiga e depressão. Continha 0,2 g de extrato por comprimido,
aproximadamente 8 mg de Ibogaína. Tornou-se popular entre os atletas que a usavam como estimulante e para
acelerar a produção de glóbulos vermelhos. O “Lambarene” desapareceu do mercado em torno de 1966.

- 1954-1958 - A estrutura da molécula de Ibogaína é determinada.

- 1962-1963 - Howard Lotsof realiza as primeiras experiências com Ibogaína no tratamento da dependência da
cocaína e heroína.

- 1966 - A síntese completa da Ibogaína é realizada.

- 22 de novembro de 1967 – A Bufotenina (alcaloide presente na planta “Angico”), DET (composto químico similar ao
DMT) e a Ibogaína foram colocadas sob controle nos Estados Unidos tornando ilegal a posse, a venda e a fabricação,
exceto para uso pessoal.

- 24 de outubro de 1968 - A posse de Ibogaína é proibida pelo governo federal norte-americano após a passagem dos
“Staggers-Dodd Bill”, lei pública que regulava questões referentes a alimentos, medicamentos e cosméticos.

- 1985 – A Ibogaína é patenteada para a utilização no tratamento de dependência de heroína.

18
- 1989 - A Ibogaína é adicionada à lista de "substâncias dopantes", proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional.

- 12 de dezembro de 2001 – Aconteceu a primeira conferência sobre Ibogaína, em Londres.

1.4 - A planta Tabernanthe Iboga

Trata-se de um arbusto com uma raiz subterrânea que chega a atingir 1,50m de altura, pertencente ao gênero
Tabernanthe, composto por várias espécies. A que mais tem interessado a medicina ocidental é a Tabernanthe Iboga,
encontrada nos Camarões, Gabão, República Central Africana, Congo, República Democrática do Congo, Angola e
Guiné Equatorial. Seu principal alcaloide é a Ibogaína, extraída da casca da raiz. Algumas espécies animais, entre as
quais os mandris e os javalis, alimentam-se das raízes da Iboga para conseguir efeitos entorpecentes. Imagina-se que
os pigmeus descobriram a eboka (Iboga) observando o comportamento desses animais. Até hoje estas populações
utilizam a Iboga em seus rituais.

Em 1901, a Ibogaína foi isolada pela primeira vez. Há notícia de que ela teria sido usada no Ocidente desde o início do
século XX, no tratamento de gripe, neurastenia, doenças infecciosas e relacionadas ao sono. Em 1962, Howard Lotsof,
um jovem dependente de heroína, acabou descobrindo, por acaso, a Iboga na África. Após uma viagem astral de 36
horas, relatou que perdeu o desejo de consumir heroína por completo. Em 1983, Lostsof relatou as propriedades
anti-aditivas da Ibogaína e, em 1985, obteve quatro patentes nos EUA para o tratamento de dependências de ópio,
cocaína, anfetamina, etanol e nicotina. Fundou a “International Coalition for Addicts Self Help” (ICASH) e desenvolveu
o remédio “Endabuse”, uma farmacoterapia experimental que faz uso da “Ibogaína HCl”, a forma solúvel da Ibogaína.
Através da administração de uma única dose, cujo efeito dura até dois dias, haveria uma atenuação severa dos
sintomas de abstinência e uma perda do desejo de consumir drogas por um período mais ou menos longo de tempo.

(...). A literatura científica sobre o tema é controversa. Sabe-se que a Ibogaína produz perda do equilíbrio corporal,
tremores, aumento da temperatura corpórea, da pressão e da freqüência cardíaca. Estudos com ratos e primatas
demonstraram que a Ibogaína em quantidade de 100 mg/kg é neurotóxica (a dose utilizada no tratamento de Lotsof
é, normalmente, de 10 a 25 mg/kg). Ela é diferente de outros medicamentos na medida em que é a única substância
conhecida que age diretamente sobre o suposto mecanismo da dependência no corpo humano.

Os tratamentos com Ibogaína não são autorizados nos Estados Unidos, Reino Unido, França e Suíça. Mesmo assim,
têm sido adotada “clandestinamente”. No Panamá, a instituição liderada por Lotsof cobra 15 mil dólares por
tratamento; na Itália, o custo gira em torno de 2.500 dólares e, nos EUA, o tratamento varia entre 500 e 2.500
dólares. Em Israel, a Iboga está sendo pesquisada para uso no tratamento da síndrome de pós-guerra que afeta os
soldados. De acordo com o médico italiano Antonio Bianchi, a Ibogaína age sobre uma enorme quantidade de
receptores neuronais. Sua característica fundamental é sua ação sobre a NMDA (N-metil-D-aspartate). Esses
receptores estão presentes, sobretudo, em duas áreas: o hipocampo, que controla a memória e as recordações, e nas
áreas responsáveis pela sensibilidade proprioceptiva, parte responsável pela sensação que temos do nosso corpo
físico. Se esses receptores forem bloqueados, a pessoa construirá uma imagem do "eu" que não está relacionada com
o eu físico, ou seja, passa a se sentir fora do corpo. Este seria o mecanismo neurofisiológico da viagem astral, o ponto
de encontro entre as concepções espirituais e científicas. Nessas condições, o homem tende a construir aquilo que é
definido como uma “bird-eye image”, assumindo uma projeção de si mesmo a partir de uma posição do auto -
experiência também recorrente nos relatos da Ayahuasca.

A Ibogaína é o princípio ativo da raiz da Iboga. Trata-se de um alcaloide indólico enteogênico capaz de antagonizar e
anular a ação de uma série de alcaloides ou compostos orgânicos nitrogenados de intensa bioatividade sobre o
cérebro, como a cocaína, heroína e morfina, entre outros.

A Ibogaína é obtida através de um arbusto da família “Apocynaceae” de origem africana, a Tabernanthe Iboga,
encontrada nas regiões do Congo e do Gabão. É muito utilizada entre os pigmeus e alguns povos bantos que,
possivelmente, assimilaram essa prática pelo contato com esses misteriosos povos da floresta, os pigmeus. Outros

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grupos e etnias do Gabão também a utilizam, tendo adquirido esse conhecimento possivelmente a partir desse
contato cultural.

De acordo com a antropóloga brasileira Beatriz Labate , há dois tipos de Bwiti: o tradicional, que surgiu no século 19,
e o sincrético, mais difundido, que é produto da fusão do primeiro com elementos de outros cultos africanos e da
influência da evangelização cristã no continente no início do século 20. Possivelmente sob a influência das notícias de
cura, transformações psicológicas associadas à conversão religiosa e com a participação de estrangeiros, o mundo
ocidental tem se interessado cada vez mais por essa planta e esses rituais.

Preparados com a planta estão sendo utilizados com sucesso em sessões terapêuticas cujo objetivo é alcançar a cura
completa da drogadicção. Vale mencionar que não devem ser os mesmos extratos utilizados nas distintas etnias pois,
segundo a referida antropóloga, entre esses povos a receita dos preparos são mantidas em sigilo.

1.5 - Experiências Transpessoais – Abordagens terapêuticas psicolíticas x


psicodélicas

Antes de se tornar uma droga recreativa (também), o LSD foi muito usado na terapia psiquiátrica. No começo, os
psiquiatras esperavam que o LSD provasse ser a cura para algumas formas de doença mental. Acreditava-se que dar
LSD a um paciente dispensaria a necessidade de anos de psicoterapia e provocaria mudanças permanentes no
comportamento e na personalidade. Entre 1950 e 1965 aproximadamente 40 mil pacientes, entre esquizofrênicos,
obsessivo-compulsivos, depressivos e autistas, receberam tabletes de Delysid, da Sandoz. Ele também foi
administrado para pessoas consideradas mentalmente doentes e com perversões sexuais, como homossexuais.

Havia dois tipos principais de terapia que incorporavam o uso do LSD. Na Europa, onde a terapia psicolítica era
comum, psiquiatras davam aos pacientes doses baixas de LSD (50 microgramas ou menos) durante várias sesões e os
encorajavam a se concentrar nas suas infâncias e seus subconscientes. Psiquiatras americanos tendiam mais a usar a
terapia psicodélica. Eles davam aos pacientes altas doses de LSD, cerca de 200 microgramas em algumas poucas
sessões. Em vez de trazer à tona memórias da infância, esses médicos esperavam que altas doses de LSD pudessem
provocar um despertar espiritual e encorajar os pacientes a encontrarem um significado em suas vidas, a querer
melhorar.

Essas abordagens também foram muito utilizadas em alcoólicos, que eram difíceis de tratar com outros tipos de
terapia. Alguns psiquiatras tentavam induzir uma forma de “delirium tremens”, o que, supostamente, poderia levar
os alcoólicos a uma “correção”. O LSD também foi dado para criminosos, na esperança de que pudessem ser
corrigidos. Embora muitos pisquiatras tenham relatado bons resultados, houve poucos estudos abrangentes. Hoje, a
maioria desses estudos em pequena escala, são considerados falhos, pois em muitos casos não empregavam
controles adequados.

A Sandoz recomendava doses muito específicas de LSD e determinou que a droga só deveria ser administrada por um
psiquiatra em um ambiente médico controlado. Mesmo assim, desenvolveu-se um mercado negro da substância em
1962 e o uso recreativo cresceu, o que levou o governo federal a ficar progressivamente preocupado com os efeitos
do LSD e a tomar providências para restringir seu uso. Muitos pesquisadores sentiram que seus estudos foram
abortados antes que eles pudessem chegar a uma conclusão definitiva sobre os efeitos terapêuticos do LSD. Em 1965,
muitos poucos pesquisadores nos EUA ainda tinham permissão para possuir LSD. Houve apenas seis projetos
conduzidos em 1969, e, em 1974, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) declarou que o LSD não tinha valor
terapêutico.

O último estudo terapêutico com LSD nos EUA aconteceu nos anos 80. Os pesquisadores acreditavam que o LSD
poderia ser benéfico para pacientes terminais, pois a susbtância ajudava eles a terem consciência de seus ambientes,
aliviava suas dores e fazia eles se sentirem mais conectados com seus familiares. O estudo terminou, contudo, antes
da idéia ser completamente explorada.

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Atualmente, há estudos usando o LSD em humanos em outros países, como Suíça e Reino Unido. Em setembro de
2008, a Food and Drugs Administration (FDA) abriu as portas novamente para pesquisas clínicas com pacientes
terminais usando LSD. Isso pode sinalizar uma renovação do interesse por outros usos terapêuticos da droga.

Experiências Transpessoais

Stanislav Grof (1983) dirigiu pessoalmente mais de 2.000 sessões psicoterapêuticas experimentais usando LSD e
outras substâncias psicodélicas. Além disso, teve acesso a gravações de mais de 1.300 sessões realizadas por outros
psiquiatras na Europa e nos EUA. Inicialmente, a maioria das pessoas recebia repetidas doses médias de LSD (100-250
microgramas), dentro de uma estrutura psicoterápica de orientação psicanalítica (abordagem psicolítica). No
tratamento psicolítico, as sessões de LSD são realizadas após duas ou três semanas de psicoterapia preparatória. Uma
série psicolítica consiste em 15-80 sessões, com um intervalo de 1-2 semanas entre elas, geralmente. Um intensivo
apoio psicoterapêutico é oferecido aos pacientes durante as sessões, e também no intervalo entre elas. Este método
representa uma intensificação e aceleração da psicoterapia dinâmica. De acordo com a natureza do material
inconsciente emergente, são utilizadas abordagens freudianas, reichianas ou junguianas, em vários estágios do
tratamento. Mais tarde, passaram a usar doses maiores de LSD (300-500 microgramas), dentro de ambientes e
perspectivas diferentes, visando a facilitação de experiências “místicas” (abordagem psicodélica). Nesta última
abordagem, o uso de vendas visuais, auscultadores estereofônicos e músicas específicas, eram partes importantes do
processo de tratamento. A maioria dos pacientes eram portadores de uma grande variedade de problemas
emocionais, tais como perturbações relacionadas à ansiedade, problemas psicossomáticos, psicose fronteiriça
(borderline) e diversas formas de esquizofrenia, distúrbios sexuais, alcoolismo e dependência em narcóticos. Outra
parte desses “pacientes” era composta por voluntários “normais” - psiquiatras, psicólogos, estudantes, enfermeiras,
pintores, escultores, músicos, filósofos, cientistas, padres, teólogos, etc. Outras sessões eram realizadas também com
pacientes que sofriam com alguma doença terminal, principalmente doentes cancerosos na iminência da morte.

Com base em suas observações, S. Grof (1983) apresentou uma cartografia da psique humana na qual o inconsciente
é formado por vários níveis, correspondendo a cada um deles um determinado tipo de experiência:

· Experiências abstratas e estéticas;


· Experiências psicodinâmicas;
· Experiências perinatais;
· Experiências transpessoais.

As experiências abstratas e estéticas constituem o nível mais superficial da experiência com LSD. Elas não revelam o
inconsciente do indivíduo e são desprovidas de significação psicodinâmica. Os aspectos mais importantes destas
experiências são compreensíveis em termos fisiológicos, como sendo o resultado de uma estimulação química dos
órgãos sensoriais, refletindo suas estruturas internas e suas características funcionais. Contudo, as visões geométricas
e decorativas, ou ainda as ilusões acústicas elementares, podem apresentaralguma conotação afetiva específica (S.
Grof, 1983).

As experiências psicodinâmicas encontram sua origem nas diferentes regiões do inconsciente individual, assim como
nas regiões da personalidade acessíveis durante os estados de consciência usuais. Elas estão ligadas a recordações
marcantes, problemas emocionais, conflitos irresolvidos, materiais reprimidos, correspondentes às diversas épocas
da vida do indivíduo. A maioria dos fenômenos produzidos neste nível pode ser interpretado e compreendido em
termos psicodinâmicos. No entanto, a descrição deste tipo de experiência implica em dois requisitos: (1) um
conhecimento dos princípios de base da dinâmica inconsciente tal como descritos por Sigmund Freud, fundador da
Psicanálise (em particular, os mecanismos de sonho); (2) uma familiaridade com certas características específicas dos
efeitos do LSD e sua linguagem simbólica (S. Grof, 1983).

O elemento central de uma experiência perinatal diz respeito aos problemas do nascimento biológico, do sofrimento
e da angústia física, do envelhecimento, da doença e da morte. A confrontação dolorosa com estes aspectos críticos
da existência humana e a tomada de consciência da fragilidade e da impermanência do Homem enquanto criatura

21
biológica, são acompanhadas, inevitavelmente, por uma terrível crise existencial. O principal elemento “filosófico”
que acompanha as experiências perinatais é a revelação de que o nascimento é semelhante à morte. Este reencontro
“chocante”, tanto no plano emocional como no físico, com o fenômeno da morte, tem como consequência o
desenvolvimento de novas regiões de experiências espirituais e religiosas que parecem ser uma parte intrínseca da
personalidade humana, independentes da bagagem cultural e religiosa do indivíduo. Mesmo os materialistas mais
convictos, cientistas positivistas, céticos, ateus intransigentes, etc, passam a se interessar pela busca espiritual depois
de terem acessado pessoalmente estes níveis (S. Grof, 1983).

Quanto às experiências transpessoais, elas abarcam um conjunto de fenômenos muito vasto, de múltiplas facetas. No
entanto, possuem um denominador comum: envolvem a expansão ou extensão da consciência além dos limites
usuais do ego e das limitações de tempo e/ou espaço. O conteúdo de uma experiência transpessoal vai além dos
elementos do mundo fenomenal tridimensional (realidade objetiva) que conhecemos nos estados de consciência
normais (S. Grof, 1983). Tipicamente, estes estados desenvolvem-se em quatro diferentes níveis: sensório, evocativo-
analítico, simbólico e integral. No nível sensório, há relatos subjetivos de alterações do espaço, do tempo, da imagem
do corpo e das impressões sensoriais. No nível evocativo-analítico, surgem ideias e pensamentos novos acerca das
psicodinâmicas do indivíduo ou sobre sua concepção de mundo, de vida, e o seu papel nela. No nível simbólico, há
uma identificação com personalidades históricas ou lendárias, símbolos míticos, acompanhada de uma recapitulação
evolucionária. No nível integral (que, comparativamente, poucos indivíduos atingem), a pessoa acessa uma
experiência de consciência cósmica, de experiência máxima, experiência religiosa e/ou mística na qual Deus (ou a
“base do Ser”) é confrontado, ou onde ocorre uma sensação subjetiva de dissolução no campo energético do
Universo (Krippner, 1993).

S. Grof (1983) concluiu que as experiências transpessoais representam fenômenos “sui generis”, originados em níveis
profundos do inconsciente, que não foram percebidos nem reconhecidos nas sessões psicanalíticas clássicas. Os
elementos transpessoais dominam todas as sessões com LSD, incluindo as experiências finais de
morte/renascimento. Estas experiências não são explicáveis em termos freudianos e seus conteúdos não podem ser
reduzidos a qualquer outra categoria de elementos psicodinâmicos. Todavia, S. Grof reconhece que o modelo da
psique desenvolvido por Carl Gustav Jung (1875-1962), fundador da Psicologia Analítica, já englobava este nível do
inconsciente ao propor o conceito de “inconsciente impessoal, suprapessoal ou colectivo”. Para Jung, o inconsciente
pessoal nada mais é do que uma camada que se assenta numa base de natureza inteiramente diversa: o inconsciente
coletivo. A razão dessa denominação está na seguinte circunstância, para Jung: ao contrário do inconsciente pessoal e
suas imagens meramente pessoais, os conteúdos do inconsciente mais profundo (arquétipos) são de natureza
nitidamente mitológica e são totalmente universais. Isto significa que essas imagens coincidem, quanto à forma e
conteúdo, com as representações primitivas universais que se encontram na raiz dos mitos. No entanto, isso não
quer dizer, em absoluto, que essas imaginações sejam hereditárias; a hereditariedade está apenas na capacidade de
ter tais imagens, o que é bem diferente.

No entanto, S. Grof realça que deve ser feita uma distinção entre os estados modificados de consciência (EMC) e as
experiências transpessoais. O termo “estado modificado de consciência” inclui as experiências transpessoais, mas,
certos tipos de experiências que podem ser qualificadas como sendo estados modificados de consciência, podem não
atingir os critérios necessários para serem denominadas transpessoais. São exemplos de EMC, não necessariamente
transpessoais: experiências de revivência vívida e complexa de memória infantil; vários jogos de fantasia e
experiências simbólicas resultantes do uso de técnicas de fantasia afetiva induzida; experiências primariamente
estéticas, envolvendo visões de cores, padrões ornamentais e estruturas geométricas, entre outros.

1.6 - O uso da Ibogaína para o tratamento da dependência química

A Ibogaína não é um substituto para narcóticos ou estimulantes, não é viciante e é fornecida, geralmente, numa
modalidade de administração única. Ela é uma interruptora da dependência química. Procedimentos de reciclagem
podem, ocasionalmente, ser necessários até que os pacientes sejam capazes de eliminar certas respostas
condicionadas relacionadas ao uso abusivo de drogas. Dados preliminares sugerem que, para muitos pacientes, pode

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ser necessário um período de aproximadamente dois anos com tratamentos intermitentes para se atingir a meta de
abstinência de longo prazo. A maioria dos pacientes tratados com Ibogaína permanece livre da dependência química
durante um período de três a seis meses depois de uma dose única. Cerca de dez por cento dos pacientes
permanecem livres da dependência química durante dois ou mais anos após um único tratamento com Ibogaína.
Administrações múltiplas de Ibogaína ao longo de um período de tempo são geralmente mais eficazes, uma vez que
prolongam os períodos de abstinência. Vale ressaltar que a maioria dos pacientes já tratados com sucesso com
Ibogaína realizaram inúmeras experiências mal sucedidas com outras modalidades de tratamento.

De 1962, quando começou a ser testada em dependentes químicos, até 2006, 3.414 pessoas (registro em clínicas e
pesquisas estabelecidas e conhecidas) usaram a Ibogaína para fins terapêuticos. Só nos últimos quatro anos (dados
de 2014), no entanto, 7 mil pessoas passaram pelas terapias nos EUA (a maioria das clínicas norte-americanas
realizam seus procedimentos em clínicas estabelecidas em países onde o tratamento com Ibogaína não é proibido,
como o México e Costa Rica), de acordo com dados preliminares de um estudo do Dr. Kenneth Alper, da New York
School of Medicine, nos Estados Unidos. O número de tratamentos cresceu tanto que provocou uma escassez da
substância, ainda produzida de maneira artesanal, no mundo.

Boa parte dos cientistas torce o nariz diante da ideia de se usar uma fortíssima droga psicodélica para se tratar
dependentes químicos. Porém, o crescimento no número de terapias bem-sucedidas e o início de novos estudos
deram mais credibilidade à prática. Um deles começou em julho/2012, conduzido pela Associação Multidisciplinar
para Pesquisa de Psicodélicos (MAPS, na sigla em inglês), de Santa Cruz, na Califórnia. De acordo com a entidade,
trata-se da primeira pesquisa sobre os efeitos de longo prazo da Ibogaína na luta contra o vício. O levantamento tem
sido feito com usuários de heroína, tratados com a droga por uma clínica do México, a Pangea Biomedics. O interesse
dos pesquisadores surgiu após estudos que mostram os benefícios da prática. “Há cada vez mais aceitação por parte
da comunidade científica”, afirma Randolph Hencken, diretor de comunicação da MAPS. Os pacientes da Pangea são,
em boa parte, americanos que cruzam a fronteira para receber um tratamento considerado ilegal nos EUA (embora a
pesquisa seja permitida por lá). A Ibogaína também é proibida na Dinamarca, na Bélgica, na Suécia e na Suíça. Já no
Gabão, é considerada tesouro nacional.

Atualmente, não há nenhuma substância tão eficaz como a Ibogaína no combate ao vício em narcóticos como
opiáceos, cocaína, anfetaminas, álcool e nicotina. De qualquer forma, é preciso compreender a Ibogaína não como
uma cura em si, mas como uma parte muito eficaz de um esquema de tratamento maior. Pode, por conseguinte,
desempenhar também um papel na prevenção da propagação de doenças infecciosas relacionadas com a droga, tal
como o vírus do HIV, entre outras. Mesmo nos casos onde os pacientes decidem voltar para o uso de drogas após o
tratamento, eles costumam achar que precisam de menos drogas para obterem os mesmos efeitos , e não apenas
porque passam a ter mais tolerância, mas também porque a Ibogaína parece diminuir a necessidade psicológica de
usar drogas.

Uma sessão de Ibogaína é como uma explosão de luz que joga para fora toda "uma teia de aranha" na mente e
mostra um mundo interior que há muito fora escondido pelas sombras de problemas que assombram a vida dos
adictos diariamente. Nossas sombras são partes do nosso ego que contém todas as memórias e experiências
reprimidas e não reconhecidas que de uma forma ou de outra têm contribuído para o nosso estado de inquietação,
afetando constantemente quem somos.

Depois de uma sessão de Iboga retomamos, por um bom tempo, uma nova perspectiva sobre nós mesmos, e temos a
oportunidade de compreender os mecanismos engendrados por detrás das nossas "sombras" e como elas afetam
nossos pensamentos e ações. É por isso que nos meses imediatamente após uma sessão de Iboga estamos mais
abertos a todas as formas de processos terapêuticos, quando podemos ver mais claramente a diferença entre nossos
padrões comportamentais positivos e negativos. É uma janela de oportunidade para o aprendizado de novas
maneiras de se comportar antes que as nossas "sombras" retornem e nos empurrem para muitos de nossos velhos
hábitos negativos.

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1.7 - Pesquisas no Brasil

Estudo feito pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que a Ibogaína
é pelo menos cinco vezes mais eficiente para interromper a dependência química do que tratamentos convencionais.
“Ela é usada desde a pré-história em rituais por tribos no Gabão, na África, que professam uma religião que se chama
Bwiti. Eles usam essa planta em rituais de entrada na vida adulta”, explicou o médico Bruno Chaves, um dos
responsáveis pela pesquisa, em entrevista à Agência Brasil.

O estudo foi feito com 75 pacientes, entre usuários de crack, cocaína e álcool, entre janeiro de 2005 e março de 2013.
Dos 67 pacientes homens, 55% ficaram livres do vício por, pelo menos, um ano. Entre as oito mulheres, a taxa foi
100%. Os tratamentos convencionais interrompem o vício em um índice que varia de 5% a 10% dos casos. Os
resultados do trabalho inédito foram publicados no “The Journal of Psychopharmacology”, da Inglaterra, uma
importante publicação na área da psicofarmacologia.

Os participantes da pesquisa eram pessoas com histórico de dificuldades em deixar o vício. “A gente tem pacientes
nesse grupo que, com 30 anos de idade, registram mais de 30 internações”, exemplificou Chaves. Eles passaram por
uma avaliação psiquiátrica e uma preparação psicológica antes de serem submetidos ao tratamento. “É importante
que o paciente esteja motivado para aproveitar o efeito da Ibogaína”, acrescentou o médico sobre o processo de
seleção.

O 1º Estudo Observacional sobre o uso de Ibogaína no tratamento da dependência química no Brasil

Este projeto visa elaborar um estudo científico sobre um tratamento realizado com drogadictos recentemente no
Brasil, através do uso do poderoso ecodélico Ibogaína (a substância pura, sintetizada num laboratório canadense, e
não o extrato, que contém outras moléculas e pode ser considerado “impuro” e potencialmente perigoso)
combinado com psicoterapia. Mais de cem pacientes foram tratados por um médico certificado e autorizado, em
parceria com uma psicóloga. A Ibogaína é um alcaloide encontrado em plantas da floresta equatorial da África
ocidental. Ela tem sido usada nas tradições medicinais e religiosas da região por séculos e foi purificada pela primeira
vez por químicos franceses no início do século passado (Fernandez 1982 and Goutarel et al. 1993). Os efeitos anti-
viciantes da Ibogaína foram descobertos serendiptuosamente por um grupo de jovens usuários de drogas que
experimentavam com uma variedade de substâncias psicoativas no início dos anos 60. Sete destes usuários eram
viciados em heroína, e faziam uso simultâneo de cocaína e anfetaminas. Nenhum destes depedentes químicos tinha
intenção de interromper seu uso de drogas e a Ibogaína foi utilizada por eles com a intenção de se ter mais um
“barato”. Ainda assim, uma única administração do alcaloide eliminou sinais de abstinência em todos os sete
dependentes de heroína e interrompeu o desejo de se continuar fazendo uso da droga em cinco deles por
aproximadamente seis meses após a experiência. Nos anos 80, o interesse nos efeitos anti-viciantes da Ibogaína foi
reforçado por Howard S. Lotsof e Norma E. Alexander, precipitando uma série de experimentos clínicos ao longo dos
anos 80 e 90 para se avaliar os efeitos experimentados pelos sete adictos dos anos 60 (dos quais Lotsof fazia parte).
Com base na rápida e dramática resposta do uso deste ecodélico na eliminação da crise de abstinência e do
comportamento obsessivo do usuário (“fissura”), ao mesmo tempo em que denota a psicopatologia do paciente ao
dar início a um processo de catarse (Lotsof et al. 1996); e, aliado ainda ao fato de que a terapia com Ibogaína é mais
facilmente aceita pelos usuários de drogas, existe um panorama otimista para uma redução significativa no uso de
drogas pesadas se a Ibogaína estiver disponível como uma modalidade de tratamento. No Brasil, comprimidos
farmacêuticos com Ibogaína purificada estão sendo usados no tratamento de dependentes, que são acompanhados
por psicoterapeutas antes e após a sessão farmacológica conduzida por médico certificado em clínicas autorizadas.
Os resultados preliminares de cerca de 200 sessões de Ibogaína com mais de 100 pacientes são animadores e
demasiadamente promissores para a condição de milhares de pessoas no país. Este projeto está sendo realizado em
colaboração com o médico responsável pelo tratamento farmacológico de dependentes (a maioria dos quais de
crack) com Ibogaína acompanhado de psicoterapia. Será feita cuidadosa análise estatística dos resultados disponíveis
até o momento, bem como realização de entrevistas semi-estruturadas com cerca de 30 dos mais de 100 pacientes
atendidos, por uma psicóloga especialista na área. Ainda assim, é importante ressaltar os riscos de uma abordagem
unidirecional que se apoie na medicação apenas. Avaliação preliminar dos dados, bem como a experiência dos
terapeutas envolvidos aponta numa direção clara: o apoio familiar e o desejo verdadeiro, profundo e voluntário do
paciente de se tratar são cruciais para que um resultado positivo e duradouro seja alcançado. Os resultados deste

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trabalho podem abrir as portas para que este tratamento seja estendido a outros pacientes, e para guiar uma política
e tratamento de dependência de drogas mais eficientes. No entanto, a academia em geral ainda mantém uma
posição de ceticismo quanto à eficácia deste tratamento devido à falta de estudos científicos a este respeito. É por
isso que este projeto é tão importante.

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2. Iboga – Características químicas, objetivos e efeitos

Os estudos da Ibogaína para o tratamento da dependência de drogas têm sido especialmente baseados em relatos da
“International Coalition of Addict Self-Help” (ICASH) e da “Dutch Addict Self-Help Group” (DASH), por conta de suas
pesquisas com todo tipo de voluntário desde os anos 80.

A meta principal da cura através da Iboga é a assimilação e integração da "sombra" dentro do ego.

A Ibogaína, efetivamente, pode representar uma verdadeira nova abordagem para tratamento da dependência
química. Muito basicamente, a Ibogaína parece "resetar" as vias neurais e fenômenos comportamentais que
sustentam a dependência química, dirigindo-se diretamente à etiologia da doença. Embora as ações farmacológicas
específicas da Ibogaína ainda não estejam claras, as evidências até agora sugerem hipóteses muito promissoras para
a compreensão do fenômeno da adicção química em seres-humanos. Esta noção também se reflete no tema do
"renascimento", visto no uso religioso da raiz Iboga pelos povos indígenas da África ocidental.

Os métodos convencionais de terapia são, muitas vezes, ineficazes, e normalmente levam o dependente a 4-7
internações através de programas de reabilitação convencionais antes da abstinência ser atingida, quando atingida
(Anderson, 1996; Finney, Moos, e Timko, 1999). A terapia com Ibogaína representa uma possibilidade de reduzir
significativamente o tempo necessário para a quebra do ciclo de dependência. Além da quantidade de esforços e
tempo necessários, programas de reabilitação convencionais são muitas vezes degradantes para o indivíduo,
perpetuando o estigma de que "viciados" são, de alguma forma, "pessoas más ou vagabundas" (Luciano, 1998). Como
um paciente declarou: "A Ibogaína é uma abordagem muito mais humana e digna para desintoxicação [sic]" (Judd,
1994). O tratamento com Ibogaína envolve uma relação mais íntima entre o paciente e clínico/terapeuta, envolvendo
um maior nível de confiança e de compaixão do que é geralmente visto em aconselhamentos típicos sobre casos de
vício (Lotsof, 1995). A Ibogaína tem vantagens significativas sobre os métodos tradicionais de tratamento no que diz
respeito ao que se considera os três principais obstáculos no tratamento da dependência; medo de desintoxicação, a
falta de visão, e a incapacidade dos viciados para controlar seus impulsos para usar drogas.

A Ibogaína tem sido consistentemente observada em relação a bloquear a síndrome de abstinência de opiáceos
aguda com uma única administração em humanos e em grande volume de pesquisas em animais. O tratamento com
Ibogaína é seguido por um período de duração variável de reduzido desejo por substâncias múltiplas, incluindo
estimulantes, opiatos, benzodiazepinas, álcool e nicotina. A Ibogaína foi avaliada como tendo propriedades anti-
depressoras após a administração, o que se acredita ser devido a metabólito “norIbogaína” da Ibogaína, mas isto nem
sempre é o caso. O prazo de semanas ou meses após a administração da Ibogaína em que o desejo é reduzido é uma
oportunidade extremamente valiosa para um viciado recuperar a perspectiva sobre a sua vida e remodelá-la com o
apoio de terapia e orientação adicional. A Ibogaína também tem um forte efeito sobre o metabolismo celular,
permitindo que o organismo se adapte a um novo estado (por exemplo, no processo de desintoxicação).

A experiência onírica introspectiva após a administração da Ibogaína é frequentemente relatada como sendo
profundamente psicoterapêutica. Tradicionalmente, um espelho é colocado em frente daquele que vai iniciar a
experiência para que possa olhar para si mesmo. Este é exatamente o que a experiência com a Ibogaína proporciona:
a confrontação com um trauma passado, com os medos, as responsabilidades, a relação com os pais, filhos, parceiro,
etc. Ao enfrentar os obstáculos da vida que podem inibir um crescimento natural ou bom funcionamento da
sociedade, a Ibogaína pode catalisar uma mudança profunda na vida diária, a direção que você está dando a sua vida,
comportamento, dinâmica interpessoal, etc. Por esta mesma razão a Ibogaína também tem sido muito usada na
terapia psicolítica (que se apoia em conhecimentos da psicanálise. Essa abordagem não se propõe a acessar
dimensões “transpessoais”, como sugere a terapia psicodélica. Ambas possuem técnicas e aplicabilidade próprias, e
não se trata de ser “mais ou menos profundo”) com doses mais baixas.

A Ibogaína foi provada ser tão eficaz por causa de seu imenso poder para aliviar os desejos físicos e emocionais que
mantêm os viciados presos em sua escravidão. A dependência física é “desmontada” através de uma re-estruturação
química complexa que ocorre dentro da mente durante o processo.

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O alívio da dependência psicológica através da terapia com Ibogaína é atingido trazendo os dependentes para um
estado mental onde eles podem liberar as emoções e sentimentos que os mantêm presos em seu vício. A Ibogaína
ajuda a destruir essas relações internas destrutivas, ajudando o viciado a se ver de uma maneira nova.

Pacientes que foram submetidos à terapia com Ibogaína frequentemente relatam que a planta ajuda não só a se
verem claramente, como passam a compreender as situações que os levaram a chegar ao vício. Isso os ajuda a
libertarem-se do seu passado por “perdão” em relação a si próprio e aos outros. Ações e circunstâncias passadas
tendem a criar, sub-conscientemente, crenças dolorosas e emoções negativas que impulsionam viciados ao seu
comportamento destrutivo. A Ibogaína ajuda a trazer essas emoções profundamente enraizadas à superfície, de
forma que possam ser eliminadas para o bem do viciado.

Viciados que são tratados com Ibogaína relatam que o tratamento não só os ajudam a vencer esses pensamentos e
emoções destrutivas, como também lhes permitem visualizar um futuro brilhante sem estar vinculado às cadeias do
vício.

2.1 - Características químicas

A Ibogaína é um alcaloide indólico, derivado de triptamina, encontrado em uma variedade de arbustos africanos do
gênero Tabernanthe (Obach, Pablo, e Mash, 1998). Quimicamente, a Ibogaína é classificada como uma triptamina,
sendo análoga à melatonina rígida, e é estruturalmente semelhante à harmalina, um outro alcaloide natural e
psicodélico (Xu et al., 2000).

Muitos alcaloides indólicos contem atividade biológica importante. Varias plantas que contém estes compostos são,
há muito tempo, consideradas tóxicas devido à forte atividade desses compostos no organismo humano. A atividade
dos alcaloides indólicos é, geralmente, mediada pela sua interação com um ou mais receptores específicos.

Vários alcaloides indólicos como psilocibina, dimetiltriptamina e derivados possuem uma marcante atividade
“alucinógena”. Exemplos de alcaloides do “tipo humano” são a “harmina” e a “harmalina”, substâncias ativas das
espécies “Banisteriopsis”, como o “Banisteriopsis caapi”, planta utilizada pelos índios da Amazônia. Outros alcaloides
atuam no sistema cardiovascular como, por exemplo, esporão-de-centeio.

As drogas vegetais são raramente utilizadas nas terapias devido à variação de conteúdo de seus componentes ativos.
Dessa maneira, os alcaloides indólicos são quase sempre utilizados na sua forma purificada, o que possibilita uma
dosagem especifica.

A raiz da planta Iboga é a fonte de Ibogaína mais citada. Esta planta contém 11 outros constituintes psicoativos
conhecidos (Popik, e Skolnick, 1999). A Ibogaína foi extraída primeiramente a partir da raiz da planta Iboga
Tabernanthe em 1901 por Dybowsky e Landrin (Goutarel, Gollnhofer, e Sillans, 1993). Ela também pode ser
sintetizada a partir de nicotinamida por meio de um processo de 13 ou 14 passos, mas a extração a partir da raiz da
Iboga é um método mais simples para a obtenção do composto (Shulgins e Shulgins, 1997).

Em doses baixas a Ibogaína exerce, principalmente, um efeito estimulante aumentando o estado de alerta e
reduzindo a fadiga, a fome e a sede (Rezavani, Overstreet, e Lee, 1995). Esse efeito acontece de forma diferente em
relação a outros estimulantes do SNC, tais como anfetaminas ou cocaína (Da Costa , Sulklaper, e Naquet, 1908). Em
doses mais elevadas (geralmente acima de 3 mg / kg), os efeitos psicológicos primários da Ibogaína incluem a
recuperação de memórias reprimidas, visualização de imagens (com os olhos fechados), e um estado caracterizado
como "sonho lúcido" (Popik e Glick, 1996).

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2.2 - Farmacologia

A Ibogaína é metabolisada principalmente pelo fígado. Cientistas relatam que a Ibogaína, quando administrada por
via intraperitoneal em ratos, é sujeita a um efeito significativo de "primeira passagem", ou seja, suas ações
farmacológicas começam antes de ser metabolizada. Também foi verificado que a Ibogaína tem uma alta propensão a
ser depositada no tecido adiposo, sendo identificada em níveis elevados na gordura corporal por pelo menos 12
horas após a administração. Supõe-se que esta propriedade permita que uma única dose de Ibogaína seja a
responsável por seus efeitos de longa duração (Popik e Glick, 1996).

No processo de metabolização da Ibogaína é produzido o metabólito "norIbogaína", que possui uma meia-vida mais
longa do que a Ibogaína e é também psicoativa. É possível que este metabólito seja o responsável pelos efeitos de
longo prazo da Ibogaína (Mash et al., 2000).

A farmacodinâmica do Ibogaína é particularmente complexa, envolvendo múltiplos locais de ação. A Ibogaína afeta,
direta e indiretamente, vários sistemas neurais como os dopaminérgicos, serotoninérgicos, entre vários outros. Os
efeitos da Ibogaína provavelmente são resultados de uma combinação complexa com todos estes sistemas. No
entanto, tem havido um número de discrepâncias relatadas no que diz respeito às formas específicas em que a
Ibogaína exerce as suas ações farmacológicas e, além disso, sabe-se que a norIbogaína também afeta muitos dos
mesmos componentes neurais, o que complica ainda mais o estudo do seu perfil farmacológico (Mash et al., 2000).

Uma grande parte da atenção tem sido dada aos efeitos da Ibogaína no sistema dopaminérgico. A dopamina
desempenha, provavelmente, um papel fundamental nos processos de sensibilidade, reforço e propriedades
motivacionais relacionadas ao abuso de drogas (Fibiger e Phillips, 1986; Berrige e Robinson, 1998 ). Estudos diversos
indicam que consumo abusivo de drogas está relacionado com comportamentos de neurotransmissão em certas vias
do neurotransmissor dopamina, quando o uso repetido de drogas viciantes interferem e reforçam certas vias
relacionadas ao abuso da droga. Esses reforços são aparentemente mediados por um aumento da atividade cerebral
em regiões do cérebro inervados pelo sistema dopaminérgico. Muito basicamente, de acordo com esta teoria,
quando a atividade de certas vias dopaminérgicas é diminuída, espera-se o alívio da compulsão pela droga viciante
(Blackburn e Szumlinski, 1997).

Embora a Ibogaína não pareça afetar a ligação dos receptores de dopamina (Broderick, Phelan, e Berger, 1992),
verificou-se a redução dos níveis extracelulares de dopamina em certas regiões do cérebro.

Estudos relatam que os efeitos da Ibogaína na função dopaminérgica são em grande parte regulados por suas
interações com receptores de serotonina. Tomados em conjunto, estes resultados suportam a noção de que os
efeitos da Ibogaína sobre a serotonina tem um papel na determinação de seus efeitos dopaminérgicos, mas a
natureza específica deste papel ainda tem que ser determinado.

2.3 - Mecanismo de atuação

A Ibogaína funciona colocando o viciado em um profundo estado introspectivo. Durante este tempo, eles refletem
sobre o passado com uma clareza recém-descoberta. A Ibogaína leva o paciente a uma jornada de auto-descoberta a
respeito do porquê eles “optaram” pelo vício em determinado momento das suas vidas. Através desta poderosa
terapia, são capazes de abandonar ressentimentos e crenças psicológicas profundamente enraizadas. A Ibogaína
permite que o paciente veja claramente sua condição, permitindo completamente que os neurotransmissores de seu
cérebro operem sem os dispositivos da dependência. Os pacientes irão ver luz onde antes havia apenas escuridão,
além de abrirem-se para um futuro que nunca acreditaram ser possível, tornando-se cheios de otimismo, positividade
e esperança.

Ainda não se sabe exatamente como essa substância atua no combate à dependência, mas dezenas de pesquisas em
animais e humanos indicam que age em dois níveis: tanto na química cerebral como na psicologia do dependente.

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Por um lado, a droga estimula a produção do hormônio GDNF, que promove a regeneração do tecido nervoso e
estimula a criação de conexões neuronais. Isso permitiria reparar áreas do cérebro associadas à dependência, além
de favorecer a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar
e prazer. Isso explicaria o desaparecimento da fissura relatado pelos dependentes logo após sair de uma sessão.

Na outra frente, a Ibogaína promoveria uma espécie de psicoterapia intensiva ao fazer o paciente enxergar imagens
da própria vida enquanto a mente fica lúcida. Estas visões não seriam alucinações, mas como sonhar acordado, o que
ajudaria os dependentes a identificar fatores que os teriam empurrado para as drogas em determinados momentos
da vida. Estudos com eletroencefalogramas feitos pela Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, apontaram
que ondas cerebrais de um paciente que tomou Ibogaína têm o mesmo comportamento daquelas de alguém em REM
(a fase do sono em que sonhamos). “O sonho renova a mente e, se no sono comum temos apenas cinco minutos de
sonho a cada duas horas, na Ibogaína são 12 horas de sonho intensivo”, aponta o gastroenterologista Bruno Daniel
Rasmussen Chaves, que estuda o tema desde 1994 na Unifesp (Brasil).

É muito importante atualizar a explicação científica sobre o mecanismo de ação da Ibogaína, explicação esta que era
prevalente na época de 1994 a 2004, de que o efeito anti-dependência era devido a um metabólito de longa duração,
a norIbogaína. A norIbogaína ligar-se-ia fracamente a receptores opióides e elevaria os níveis de serotonina. Como
muitas explicações, esta revelou ser, atualmente, apenas parcialmente verdadeira.

Em 2005, uma pesquisadora da Universidade da Califórnia, Dorit Don, descobriu a razão pela qual Ibogaína é efetiva
contra um amplo espectro de drogas aditivas, incluindo metanfetamina e cocaína. Dentro de 6 horas após sua
administração, a Ibogaína provoca um aumento de 6 a 12 vezes na expressão de um fator de crescimento (GDNF –
Glial Cell Derivated Neurothrofic Factor) que não apenas estimula o crescimento dos axônios dos neurônios
dopaminérgicos e suas interconexões, mas também provoca um feedback positivo estimulando a fabricação de mais
GDNF, fazendo com que a regeneração neural continue mesmo quando a substância já foi eliminada do organismo,
explicando seu efeito duradouro a longo prazo.

2.4 - Onirofrênico x Alucinógeno

A Ibogaína não é alucinógena, é “onirofrênica”, (Naranjo, 1974; Goutarel, Gollnhofer, and Sillans 1993), ou talvez seja
melhor dizer, “remogênica”, o que significa que ela estimula a mente de maneira a fazer com que o cérebro sonhe (o
chamado sono REM), mesmo com a pessoa consciente. Ela gera induz a pessoa a um estado de “sonho acordado”,
sem perda de consciência, sem mudança na percepção do meio ambiente e sem ilusões, e também sem perda da
forma do pensamento e nem despersonalização.

Do ponto de vista da neurofarmacologia, a substância não se liga ao receptor “5HT 2ª”, receptor este que é o alvo
"padrão" dos alucinógenos. Isso pode ser comprovado, além de clinicamente, pela realização de um
eletroencefalograma (EEG) após ser ministrada a substância, exame esse que mostra o traçado típico do sono REM, e
não padrões de alucinações.

Como podemos ver nas imagens abaixo, existe uma diferença muito grande entre os traçados eletroencefalográficos
obtidos durante o sono REM e durante episódios alucinatórios, (Gutarel ET al, 1993; Lotsof and Alexander, 2001;
Alper, 2001).

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Fonte da imagem: Unifesp.

O traçado da Ibogaína é muito semelhante ao do sono com sonhos (REM). Já o traçado de alucinações é bem
diferente:

Fonte da imagem: answers.com

Além disso, classicamente, os alucinógenos manifestam seus efeitos com os olhos abertos, enquanto a Ibogaína
apenas com os olhos fechados, o que corrobora a afirmação de que a Ibogaína não é alucinógena, diferentemente do
LSD, por exemplo.

Esse sonho "induzido", segundo o Dr. Carl Anderson, do MacLean Hospital, filiado à Universidade de Harvard, seria
responsável pelo efeito anti-dependência da Ibogaína, devolvendo a essas pessoas com danos psíquicos o poder
curativo de seu sono e de seus sonhos. Ainda segundo este autor, existe uma similaridade muito grande entre o
"sonhar acordado" da Ibogaína com o sonho fetal.

Como o sonho é o responsável pela organização de ideias, pensamentos, processamento e elaboração de conteúdos
reprimidos, fixação de memórias e outros mecanismos de organização mental, fica fácil supor que o "sonhar
intensivo" da Ibogaína tenha um efeito restaurador cerebral.

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São muito importantes essas informações, visto que um dos principais motivos pelos quais pessoas desinformadas
possuem restrições à Ibogaína é pelo fato da falsa crença que a substância seria alucinógena. Mesmo que fosse, isso
não seria motivo para não ser usada em situações clínicas; apenas a guisa de exemplo, o Dramin em altas doses e a
ciclobenzaprina (Miosan) em doses terapêuticas, são alucinógenos, fato inclusive referido na bula deste último
medicamento. No mais, todas as discussões sobre o termo “alucinógeno”: O que é uma “alucinação”? Ainda que não
sejam visões “reais”, contém informações? As sensações, as emoções, os entendimentos associados a uma
“alucinação”, não são reais? O que é realidade? Essa é uma discussão antiga e complexa e – talvez - desnecessária.

2.5 - Efeitos da Ibogaína

A Ibogaína produz seus efeitos em 3 estágios:

- Estágio 1: A combinação do bloqueio (antagonismo) dos receptores NMDA (como a ketamina), dos receptores
nicotínicos alfa 3 beta 4 (como a bupropiona) e agonismo em relação ao receptor opióide kappa (como acontece com
a ingestão da planta a Salvia divinorum), o que faz com que a pessoa consiga perceber o efeito das suas próprias
endorfinas, eliminando a abstinência em 30 minutos e a fissura em 45 minutos;

- Estágio 2: Uma dose alta de Ibogaína ocupa todo o aparato enzimático de metabolização no fígado, fazendo com
que a Ibogaína excedente e não metabolizada de imediato seja depositada no tecido gorduroso sendo, também e aos
poucos, transformada em norIbogaína, elevando de forma consistente e duradoura os níveis de serotonina,
melhorando o humor por até 12 semanas;

- Estágio 3: Dentro de 48 horas após a ingestão, neurônios por todo o cérebro estão produzindo novos receptores de
dopamina (efeito do GDNF). O paciente passa a não precisar usar drogas para aumentar seus níveis de dopamina
artificialmente. Este é um dos efeitos mais importantes, pois, sem dopamina em quantidades adequadas, a maioria
dos pacientes recai.

A Ibogaína tem efeitos semelhantes aos da ayahuasca, bebida feita de plantas amazônicas usada em cerimônias
religiosas. “A diferença é que a Ibogaína, de certa forma, é muito mais potente do que a Ayahuasca. Para termos uma
ideia, o efeito da ayahuasca dura quatro horas. O da Ibogaína dura de 24 a 48 horas”, explica Chaves sobre a
substância, que causa a sensação de expansão de consciência. “O paciente começa a perceber melhor o que ele
representa na vida, qual é a função dele no planeta, quais são as coisas que está fazendo certo, o que está fazendo
errado”, detalhou o médico que pesquisa a medicação.

Na maioria dos casos, com apenas uma dose, o medicamento corta a vontade de usar drogas e coíbe crises de
abstinência. “Ela equilibra a quantidade de neurotransmissores que há no cérebro e isso faz com que o paciente
tenha uma sensação de bem-estar definitiva, não só durante o efeito da medicação. A impressão que dá é que a
Ibogaína interrompe o processo que leva à dependência química”, explica Chaves.

Ao acabar com o interesse pela droga, o paciente tem, segundo o médico, mais facilidade de seguir com outras
etapas do tratamento, como o acompanhamento psicológico, e retomar as atividades cotidianas. Ele alerta, no
entanto, para que não seja feito o uso independente da substância, que pode ter feitos colaterais, como tontura,
enjoo e confusão mental, durante o período de efeito.

2.6 - Toxicologia
Sempre que se fala sobre aspectos toxicológicos da Ibogaína, surgem comentários sobre um trabalho realizado em
1993, em camundongos, utilizando-se 100 mg/kg de Ibogaína, administradas intraperitonealmente (injeção no

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abdômen). Essa dose causou degeneração das “células de Purkinje” (células contidas no cerebelo) e esses resultados
preocuparam os pesquisadores envolvidos.

Novos trabalhos sobre o assunto revelaram que haviam dados a serem considerados: A dose utilizada era mais de 6
vezes maior que a dose habitualmente utilizada para tratamentos, que normalmente é de 15 mg/kg. A via de
administração intraperitoneal aumenta a absorção facilitando a toxicidade, ao contrário da via oral, habitualmente
utilizada. Aparentemente existia uma sensibilidade específica dessa raça de camundongos, visto que estes resultados
nunca mais foram encontrados em outros animais.

Em outra pesquisa mais recente, a mortalidade de camundongos aos quais foram administrados 100 mg/kg de
Ibogaína - via oral - foi de zero.

Assim sendo, uma equipe da Universidade de Miami resolver realizar outra pesquisa para esclerecer melhor os fatos,
utilizando-se de chipanzés, visto esses serem mais comparáveis a humanos,e as conclusões estão baixo:

Estudos toxicológicos conduzidos em primatas demonstraram que a administração oral de Ibogaína em doses 5 vezes
maiores (5 x 25mg) que as doses máximas recomendadas para o tratamento da dependência em cocaína e heroína
parecem ser seguras e livres de alterações comportamentais e toxicidade cerebelar.

No mesmo trabalho os autores discutem a autópsia de um paciente falecido por causas naturais, que havia
previamente sido tratado com Ibogaína por 4 vezes, com doses variando de 10 a 29 mg/kg: “Não havia mudanças
degenerativas no cerebelo. As “células de Purkinje” estavam normais e não havia evidência de citopatologia ou
degeneração neuronal em qualquer outra área do cérebro."

A conclusão a que se chega lendo este trabalho e outros semelhantes, é que realmente a Ibogaína nas doses
recomendadas em humanos, e utilizada pela via de administração oral, é segura e desprovida de efeitos colaterais de
longo prazo. Isso coincide com observações realizadas desde o início do século passado na África, onde ocorre o
consumo desta substância desde a pré-história, sem relatos de complicações ou sequelas entre os nativos, sendo
que, em algumas situações, a Ibogaína é administrada até para bebês, sem problemas.

Independentemente dessas conclusões, continua sendo indicada a administração de Ibogaína apenas em ambientes
controlados, com acompanhamento profissional e com acesso a recursos médicos.

Com o tratamento com Ibogaína agora mais disponível do que nunca, em uma gama cada vez maior de
configurações, mais e mais conhecimentos sobre a droga estão sendo reunidos. Até o momento (2007), o que está se
tornando cada vez mais claro é que existe um razoável grau de risco associado ao tomar a droga. Pelo menos 12
casos de mortes (em alguns locais encontra-se o relato de 17 e até 20 mortes oficiais registradas) relacionadas ao uso
da Ibogaína foram registrados ao longo da última década. Muito provavelmente esse número deve ser maior, com
outras mortes que possam ter ocorrido em ambientes não clínicos, sem serem registradas.

Existe um nível de risco inerente ao tratamento com Ibogaína. Estatisticamente, um valor aproximado de mortes
ocorridas durante o tratamento é provavelmente na ordem de 1 em 300 (baseado nas 12 mortes ocorridas entre
3.611 tratamentos registrados fora da África, a partir de Março de 2007). De qualquer forma, esse número é muito
menor, por exemplo, do que as fatalidades provocadas pela Metadona, outra substância utilizada no tratamento da
adicção cuja estatística de fatalidade é de 1 para cada 350 tratamentos.

Os seguintes fatores foram identificados como sendo a causa das mortes:

- Doença cardíaca pré-existente, às vezes não detectada pelo eletrocardiograma;

- Consumo de opiáceos durante o tratamento com Ibogaína ou pouco tempo depois;

- Uso direto da casca da raiz ou extrato de Iboga. A "HCl Ibogaína" (hidrocloreto de Ibogaína) é estatisticamente
muito mais segura;

- O uso da Ibogaína fora dos cuidados de uma instalação clínica. Pessoas tomando Ibogaína precisam de supervisão
constante e, idealmente, monitoração cardíaca on-line.

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A dose letal da Ibogaína parece variar dependendo do animal e da via de administração. Quando administrado por via
intraperitoneal em porcos, a dose letal mostrou ser de 82 mg/kg (Dhahir, 1971). Em ratos, a dose letal mostrou ser
145 mg/kg quando administrada por via intraperitoneal, mas de 327 mg/kg quando administrada por via intragástrica
(Popick e Skolnik, 1999). Assim, a Ibogaína não parece ter uma grande tendência à letalidade.

Três registros oficiais de mortes humanas relacionadas à ingestão de Ibogaína relatado por Lotsof são os seguintes:

- A primeira, em 1989, era uma mulher de 40 anos de idade, em quem foi administrada uma dose de 8 mg / kg para
um tratamento psicoterapêutico. Esta é a dose mais baixa conhecida a causar uma morte relacionada à Ibogaína.
Quatro horas após o início da sessão, a paciente sofreu uma parada cardíaca. Uma autópsia mostrou bloqueio
significativo das principais artérias do coração. Assim, com a Ibogaína provando ser uma terapia viável, contra-
indicações para pacientes com problemas cardiovasculares são, provavelmente, necessários.

- A segunda fatalidade ocorreu em 1993 com uma mulher holandesa de 24 anos de idade em tratamento para
dependência de heroína. Ela recebeu 29 mg/kg numa dose dividida de 23 mg/kg seguida de uma dose adicional de 6
mg/kg, 3 horas mais tarde. A paciente morreu 16 horas depois por causas desconhecidas. A autópsia não revelou
qualquer patologia específica, no entanto, uma folha de papel alumínio carbonizada (um método popular de
administração da heroína é aquecer a droga em papel alumínio para a inalação dos vapores) foi encontrada em seus
pertences pessoais, indicando a possibilidade de que ela havia consumido heroína durante o curso de seu
tratamento. É plausível, portanto, que uma interação heroína-Ibogaína tenha sido a causa da morte.

- A terceira fatalidade registrada ocorreu no ano de 2000, no Reino Unido. O paciente era um homem de 38 anos, e
sofria de hepatite C. Ele tomou um total de 5 gramas de um extrato de Iboga com 15% de Ibogaína. Este foi um caso
muito peculiar, pois a fatalidade só ocorreu após os efeitos diretos da Ibogaína cessarem 38 horas após a
administração inicial. Exames toxicológicos revelaram que o nível de Ibogaína no sangue do homem morto foi "bem
abaixo da dose tóxica normal" (Kerr, 2001). Segundo o pesquisador Nick Sandberg, a investigação oficial apontou a
causa primária da morte como sendo uma asfixia devido ao entupimento das vias aéreas causada por vômito e
insuficiência hepática como causa secundária.

De maior importância para a população em geral do que estes incidentes isolados são os recentes relatos de
neurotoxicidade da Ibogaína. Existe, porém, algumas discrepâncias entre os relatórios. A equipe de Dhahir (1971) não
encontraram alterações patológicas no fígado, rim, coração ou no cérebro de ratos submetidos a uma administração
crônica por via intraperitoneal de Ibogaína (10 mg/kg durante 30 dias, e 40 mg/kg durante 12 dias.) Do mesmo modo,
Sanchez-Ramos e Mash (1994) não encontraram nenhuma evidência de patologia grave em macacos verdes africanos
com doses orais de 5-25 mg / kg, durante quatro dias consecutivos.

Em doses mais elevadas, no entanto, a Ibogaína demonstra provocar efeitos neurotóxicos definitivos. Com uma dose
única intraperitoneal de 100 mg/kg já foi demonstrado que provoca a degeneração de células do córtex cerebelar de
ratos (O'Hearn e Molliver, 1997). Em apoio a essas conclusões, outra pesquisa verificou que a degeneração dessas
células foi visível com doses intraperitoneais começando a 75 mg/kg, com aumento significativo de danos com doses
de 100 mg/kg. Este estudo revelou que a neurotoxicidade da Ibogaína depende da dose, um resultado também
apoiado por várias outras investigações (Molinari, Maisonneuve, e Glick, 1996).

Outras mortes provavelmente devem ter acontecido, mas devido à natureza "marginal" dos tratamentos com
Ibogaína, não devem ter sido declaradas.

É importante ter em mente que, para alguns, a Ibogaína é o último recurso antes de uma morte causada por seus
problemas de dependência (também é importante a seguinte informação: No ano de 1999, houve 116.000 casos de
morte relacionados ao uso de medicamentos aprovados pelo FDA em hospitais dos Estados Unidos). A população de
dependentes químicos (onde as mortes relacionadas com Ibogaína ocorrem) tem uma taxa de mortalidade
significativamente maior do que a população em geral, sendo de 3 a 7 vezes maior. Em geral, essas mortes são
causadas por experiências físicas extremas, complicações médicas diversas, overdose, suicídio e comportamentos de
risco.

O detalhe sempre deixado de lado pelos detratores da Ibogaína é que na maioria dos casos de fatalidades registradas,
comprovadamente se detectou o uso sub-reptício concomitante de heroína, cocaína e/ou álcool, confirmado por
necropsia, o que nos leva à conclusão de que não existem fatalidades relacionadas à Ibogaína e sim à

33
heroína/cocaína/álcool e à mistura dessas substâncias. Além disso, poucas coisas no mundo são mais mortais do que
o abuso de drogas.

Outra crítica é sobre o uso em humanos, sendo que, no Gabão, há pelo menos 5.000 anos, humanos já usam a
substância em seus rituais, sem problemas. Já foram feitos vários trabalhos científicos, por cientistas renomados, que
comprovam a baixa toxicidade e a segurança do tratamento desde que feito dentro dos protocolos.

Fatalidades com Ibogaína vs Fatalidades com metadona

São várias as pesquisas referentes à toxicidade da Ibogaína. As seguintes estatísticas foram apresentadas na pesquisa
de Alper, K.R., Lotsof, H.S. e Kaplan (2008), intitulada “A subcultura médica da Ibogaína”:

- Mortes relacionadas à Ibogaína entre 1989 e 2006 (todos os episódios conhecidos no mundo): 11 mortes em 3.414
casos (1 morte a cada 427 tratamentos).

- Mortes relacionadas à metadona entre 2000 e 2003 na Austrália: 282 mortes em 102.615 casos (1 morte a cada 364
tratamentos).

Estes números sugerem que o número de mortes relacionadas à metadona, substância estritamente controlada, são
um pouco mais elevados do que aqueles associados com a Ibogaína, substância totalmente não regulamentada. Se a
Ibogaína fosse regulamentada e administrada com as adequações necessárias, provavelmente esse número cairia
dramaticamente, confirmando a segurança da Ibogaína, um interruptor vício, em relação à metadona, substância
extremamente viciante (mais viciante que a heroína e com desintoxicação mais difícil). Muitos destes tratamentos
não levaram em conta a adequação dos indivíduos para o tratamento.

Bio-quimicamente falando, os motivos que levam alguém à morte com o uso de Ibogaína ainda não são conhecidos.
Há, simplesmente, uma falta de dados experimentais.

No entanto, é interessante notar as circunstâncias no entorno destes incidentes e, por esse motivo, os seguintes
estudos de fatalidades são apresentados:

Caso 1

- Ano/Detalhes: 1990 / Mulher, 44 anos de idade, durante sessão de terapia em grupo.

- Dose: 4,5 mg/kg.

- Circunstâncias: Uma mulher de 44 anos de idade morreu na França aproximadamente 4 horas depois de ter
recebido uma dose de Ibogaína com aproximadamente de 4,5 mg/kg. A causa da morte foi diagnosticada como sendo
por "insuficiência cardíaca aguda" em uma autópsia realizado no “Forensic - Medical Institute” de Zurique. A autópsia
revelou evidências de um infarto do miocárdio prévio do ventrículo esquerdo, alterações ateroscleróticas graves e 70
a 80% de estenose de todos os três principais ramos da artéria coronária. Este paciente tinha um histórico de
hipertensão e "ondas T invertidas" foram observadas no ECG realizado três meses antes da data da morte. O relatório
da autópsia concluiu que a doença cardíaca pré-existente na paciente pode ter causado sua morte. Foi
especificamente excluída a possibilidade de um efeito tóxico direto da Ibogaína. O relatório reconheceu a
possibilidade de que uma interação entre a Ibogaína e os problemas cardíacos da paciente pode ter sido um fator
que contribuiu para o resultado fatal.

- Observações: O relatório da autópsia, que incluiu informações obtidas pelo médico de família e pelo psiquiatra que
administrou a Ibogaína, faz referência à possibilidade de que o paciente poderia ter tomado outras drogas. O
relatório da autópsia notou a presença de anfetamina na enzima "immunocytochemical (EMIT)". Esta descoberta, no
entanto, foi considerada como sendo um "artefato", possivelmente atribuível a um resultado falso positivo nos testes
de EMIT, devido à presença de feniletilamina.

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Caso 2

- Ano/Detalhes: 1993 / Mulher alemã de 24 anos, em tratamento para dependência de heroína.

- Dose: 29 mg/kg.

- Circunstâncias: A paciente morreu 19 horas depois por parada respiratória. Algumas evidências sugerem a
possibilidade de uso de opióides nas horas seguintes à administração da Ibogaína (já foi comprovado que a Ibogaína
aumenta os efeitos de toxicidade de opiáceos [Popick e Glick, 1996)]).

- Observações: Os exames patológicos forenses não revelaram nenhuma conclusão definitiva sobre a causa provável
da morte. Citou a falta geral de informações correlacionando concentrações de Ibogaína com possíveis efeitos tóxicos
em humanos.

Caso 3

- Ano/Detalhes: 1994 / Mulher, em seu terceiro tratamento.

- Dose: 1º - 25 mg/kg em Jan/93;


2º - 29-31 mg/Kg, em Mar/93;
3º - 10mg/Kg, em Mar/94, seguidos de 20mg/Kg 3 dias depois.

- Circunstâncias: Antes dos procedimentos, a paciente apresentava muitas queixas prévias de mal-estar intestinal
recorrente e diarréia. Em 21 de abril, porém, ela voou de volta para Miami para um exame médico na Universidade
de Miami - durante o período de seu re-tratamento com Ibogaína, no Panamá. Sem efeitos negativos relacionados à
Ibogaína, mas sem nenhuma explicação para seus problemas de diarréia e vômitos recorrentes, ela foi liberada do
hospital. Mais tarde, à noite, ela foi encontrada morta no apartamento onde estava hospedada, afogada em seu
próprio vômito.

- Observações: A autópsia realizada, que foi muito mais exaustiva do que nas mortes anteriores, não encontrou
nenhuma ligação discernível relacionada ao recente re-tratamento de Nancy, estabelecendo a causa da morte como
sendo "trombose da artéria mesentérica" associada com pequeno infarto intestinal (obstrução), complicado por um
estado de hiper-coagulabilidade do sangue devido a uma infecção crônica na coxa.

Caso 4

- Ano/Detalhes: 2000 / Homem, 40 anos de idade, viciado em heroína.


- Dose: 6 gramas de extrato de Iboga.
- Circunstâncias: O legista descobriu que o homem morreu aproximadamente 40 horas após a ingestão de 6g de uma
preparação de Iboga Tabernanthe em uma tentativa de quebrar um longo vício em heroína, após não obter sucesso
com outras estratégias de desintoxicação.
- Observações: Foi concluído que a causa principal da morte se deu por conta de uma reação fatal com o preparado
de Iboga. O fato de que ele tinha sofrido danos no fígado em função de uma Hepatite C foi registrado como sendo a
causa secundária da morte. Nos relatórios da autópsia foi considerado o fato de que o falecido pode ter morrido
como resultado da toxicidade da Ibogaína, embora o médico legista tenha reconhecido a presença de outros
alcaloides ativos no preparado ingerido pelo homem, além da afirmação de que a culpa por esta morte não tem,
necessariamente, relação com a Ibogaína.

Caso 5

- Ano/Detalhes: 2000 / Homem, 40 anos de idade, viciado em heroína.

- Dose: 6 gramas de extrato de Iboga.

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- Circunstâncias: O paciente morreu sozinho afogado em seu próprio vômito enquanto comia um sanduíche pouco
depois que sua sessão terminou.

Caso 6

- Ano/Detalhes: 2002 / Mulher alemã com 35 anos de idade, em um "ritual espiritual".

- Dose: 8 mg/Kg.

- Circunstâncias: A morte ocorreu uma hora e meia após a tomada da dose. A mulher, com idade entre 35 anos e
pesando cerca de 63 kg, já tinha participado de ritual semelhante e não teve problemas. Não há muitas informações a
respeito desse caso ou se ela se submeteu a exames médicos prévios.

- Observações: Há relatos indicando que essa mulher já tinha se queixado de problemas com seu coração, mama e
útero. Relatos também indicam que na sua infância ela se submeteu a uma cirurgia cardíaca por conta de um
problema congênito. A autópsia não conseguiu isolar uma causa exata da morte.

Caso 7

- Ano/Detalhes: 2005 / San Diego (EUA).

- Dose: Segundo informações, a dose foi "baixa" (dosagem exata, desconhecida).

- Circunstâncias: Pessoa com saúde debilitada. Morreu durante um período de tratamento diário com "baixas doses"
de Ibogaína.

- Observações: A clínica onde esse paciente tomou Ibogaína fechou e reabriu semanas depois, após uma série
mudanças em seus procedimentos. Segundo o relatório da autópsia, descobriu-se que este paciente morreu de
"causas naturais", não relacionadas à administração da Ibogaína, embora tenha sido encontrado Ibogaína em seu
corpo. O paciente sofreu uma morte cardíaca súbita por infarto agudo do miocárdio e síndrome coronariana aguda.
Segundo o mesmo relatório, as causas que contribuíram para a morte foram fibromialgia e a dependência de
medicamentos à base de opiáceos para dor crônica.

Caso 8

- Ano/Detalhes: 2005 / 43 anos de idade, viciado em heroína, Las Vegas (EUA).

- Dose: Desconhecida.

- Circunstâncias: Essa pessoa morreu três dias depois de uma desintoxicação com Ibogaína. De acordo com um
parente, a autópsia declarou que a causa da morte foi devido a uma doença cardiovascular.

- Observações: Segundo fontes privadas, esse paciente, antes de tomar Ibogaína, submeteu-se a exames EKG e
exames hepáticos. De acordo com os exames, ele estaria apto a se submeter à terapia com Iboga. Parece que,
durante a terapia, ele teve convulsões. Neste caso, deveria ter sido hospitalizado imediatamente. Aparentemente,
neste caso, os problemas cardíacos dessa pessoa não apareceriam em um teste EKG padrão, mas poderiam ser
detectados usando-se um "teste de estresse".

Caso 9

- Ano/Detalhes: 2006 / Homem americano, 38 anos, em uma clínica "alternativa" em Tijuana (México).

- Dose: Desconhecida.

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- Circunstâncias: A causa da morte foi trombose pulmonar, de acordo com o relatório da autópsia.

Caso 10

- Ano/Detalhes: 2006 / França, homem, 48 anos.

- Dose: Desconhecida.

- Circunstâncias: Esse caso foi publicado no periódico francês "Jornal de Toxicologia Analítica”, vol. 30, em 2006. Foi
encontrado no sangue desse paciente concentrações de Ibogaína e norIbogaína 5 a 20 vezes maiores do que o
encontrado em certos estudos sobre uma dose oral única de 800 mg de Ibogaína em seres humanos. As
concentrações mais elevadas foram encontradas nas amostras de sangue colhidas na cena da morte. A diferença de
concentração de Ibogaína e norIbogaína entre o sangue colhido no local e posteriormente na autópsia pode indicar
que a degradação (oxidação) destas duas substâncias ocorreu após a morte.

- Observações: A autópsia, realizada aproximadamente 48 horas mais tarde, e exames histopatológicos dos órgãos e
tecidos, mostraram edema pulmonar maciço com congestão hemorrágica alveolar e congestão vascular, informações
consistentes com uma overdose de drogas. Nenhuma outra causa foi identificada.

Caso 11

- Ano/Detalhes: 2006 / França, Homem.

- Dose: Desconhecida.

- Circunstâncias: O relatório da autópsia concluiu que Jerry G. morreu após a ingestão de Iboga.

- Observações: A autópsia mostrou que Jerry tinha tomado metadona e valium. Ele conseguiu alguma Iboga também:
Uma dose equivalente a duas ou três colheres de café. No momento da autópsia, a Iboga ainda estava em seu
estômago e não estava completamente digerida. Foi encontrado em seu sangue uma dose 12 vezes menor em
relação à "dose letal". Estes exames ocorreram 8 horas após a sua morte. O caso foi a julgamento na justiça francesa
e, no processo, não mencionaram o uso da metadona e Valium.

Caso 12

- Ano/Detalhes: 2009 / Mulher, 60 anos, México.

- Dose: Desconhecida.

- Circunstâncias: Mulher com 15 anos de uso de metadona e histórico de hepatite B, a qual estava controlada por
uma série de tratamentos um ano antes. Ela também tinha problemas na tiróide e já tinha sido recusada a ser tratada
com Iboga em uma outra clínica.

Caso 13

- Ano/Detalhes: 2010 / Mulher, 32 anos, Camarões - África.

- Dose: Desconhecida.

- Circunstâncias: Morreu após consumir Iboga em um ritual xamânico no Camarões. Sabe-se que em uma ocasião
anterior, no País de Gales, ela teve uma leve reação ao tomar Iboga em uma outra experiência. Ela teria viajado para
Camarões para participar de uma cerimônia de iniciação. Exames patológicos posteriores demonstraram que a causa
mais provável da morte foi parada cardíaca associada ao consumo de Iboga.

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É muito importante ressaltar que esses foram casos oficialmente registrados. Pelo fato da administração de Ibogaína
ocorrer em ambientes não reconhecidos legalmente, o número de mortes com certeza é muito maior. Cuidado
extremo deve ser exercido.

3. Iboga - O processo terapêutico


O procedimento de admissão consiste em estabelecer um processo preliminar durante a qual o tratamento solicitado
pelo viciado é gradualmente preparado, enquanto uma relação de confiança se desenvolve. O viciado deve ser
completamente informado das consequências físicas e psicológicas de um tratamento com Ibogaína. Cada pessoa
que considere seriamente o tratamento com Ibogaína e que está bem informado sobre o tratamento, passa por uma
triagem inicial, que consiste de um exame de sangue, um eletrocardiograma, e, idealmente, uma visita a um
psiquiatra e uma visita a um psicoterapeuta. O sangue é testado por profissionais para anormalidades hepáticas,
hemograma e estado geral de saúde, o ECG verifica o funcionamento do coração e a visita ao psiquiatra é necessária
para uma avaliação profissional de estados passados e presente da saúde mental.

Não estão aptas ao tratamento pessoas com problemas no fígado, coração e/ou pulmões, além de pessoas que
apresentam condições psiquiátricas mais severas, como psicose, esquizofrenia, etc. Uma vez realizada a triagem,
deve ser realizada uma entrevista não estruturada com o paciente para se conhecer melhor sua história de vida, onde
serão esgotadas todas as informações sobre o processo de tratamento a fim de preparar paciente sobre todos
aspectos envolvidos, da forma mais completa possível. Para muitos tóxico-dependentes é difícil imaginar e
compreender que a Ibogaína fará com que eles se "limpem" de um dia para o outro sem muita dor e agonia,
especialmente para aqueles que já chegaram a utilizar diariamente altas doses de metadona em programas de
manutenção. Portanto, a informação dada durante a ingestão abrange muitos aspectos e começa com um aviso claro
e firme sobre o perigo do uso de drogas, em especial heroína, durante e logo após o tratamento. Este aviso é
repetido no dia do tratamento e é importante porque os indivíduos submetidos ao tratamento precisam estar
absolutamente conscientes de que a Ibogaína potencializa os opiáceos que ainda estão no sistema. Mais opiáceos
durante o tratamento pode conduzir a sobredosagem. Em seguida, o paciente é informado sobre o tudo o que
provavelmente acontecerá durante o tratamento.

No início da manhã, 10 horas após o paciente ter feito sua última utilização de alimentos e medicamentos, o sujeito
toma a Ibogaína por via oral em forma de cápsula. Por vezes, a Ibogaína é misturada com algum "auxiliar digestivo".
Isto ocorre na parte da manhã, quando o paciente normalmente teria usado sua primeira dose de drogas do dia. Uma
hora após a administração da Ibogaína o paciente geralmente percebe o fato de que seus sintomas de abstinência
matutinos, tão familiares, desapareceram. Nesse momento, o paciente provavelmente vai expressar um desejo de se
"estabelecer" e ficar confortável. Uma sala em silêncio, escura, tranquila, especialmente preparada para não haver
distrações, deve ser disponibilizada para o paciente. O quarto é escurecido porque a luz incomoda a maioria dos
pacientes sob efeito da Ibogaína. O quarto deve estar tranquilo porque o som é geralmente experimentado de forma
amplificada e oscilante. O paciente geralmente experimenta ataxia (perda de coordenação muscular) durante seus
movimentos, de forma semelhante a uma "embriaguez". A ataxia é, por vezes, acompanhada de vômitos, e deve ser
sugerido ao paciente que faça o mínimo de movimentos possíveis. Ao fechar os olhos, aproximadamente 75% dos
indivíduos têm visões oníricas. No entanto, quando abrem os olhos, os pacientes parecem não apresentar visões ou
distorções visuais ou auditivas, e algum nível de comunicação é possível, mas, geralmente, preferem não conversar.
Muitos pacientes transpiram muito e são aconselhados a usar roupas confortáveis que podem ser facilmente
substituídas.

3.1 Fases da experiência

A reação inicial é geralmente observada dentro de quarenta e cinco minutos após a administração oral. Efeitos totais
são, geralmente, evidentes dentro de 2 horas e meia. A primeira indicação subjetiva relatada por pacientes refere-se
a um som penetrante oscilante que acontece dentro da cabeça. O paciente tende a deitar-se e, se for solicitado a
ficar em pé ou caminhar, mostra sinais de ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular). O protocolo

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para os “Procedimentos Lotsof” estipula que o paciente deve permanecer na cama com o mínimo de movimento
possível a partir do momento da administração da Ibogaína. Isso porque a náusea associada ao uso da Ibogaína
provou ser relacionada ao movimento e / ou, em fases posteriores (ou seja, mais do que quatro horas após a
administração), possivelmente por conta de uma reação psicossomática relacionada a experiências traumáticas
anteriormente reprimidas (limpeza). Além de manter o paciente o mais imóvel possível, pode-se usar algum
medicamento anti-nauseante livre de “fenotiazina”, pois a fenotiazina pode interferir nas propriedades psicoativas da
Ibogaína. Se o doente vomitar em menos de duas horas e meia após a administração da Ibogaína, um exame do
material regurgitado deve ser feito para determinar a quantidade de Ibogaína que já foi absorvida pelo paciente. Uma
infusão retal da Ibogaína para completar a parte perdida da dose pode ser fornecida, se não for possível administrar
essa dose por via oral. A administração retal deve ocorrer apenas se o paciente autorizar previamente esse modo de
administração da dose.

A primeira fase dura cerca de 4-8 horas, durante a qual ele ou ela são regularmente verificados pela equipe de
tratamento e onde os membros desta equipe estão constantemente disponíveis. Durante a primeira fase, os
pacientes geralmente não reclamam sobre quaisquer sintomas de abstinência.

Um dos principais efeitos da Ibogaína durante sua primeira fase de ação é a produção de um estado onde muitos
sonhos ocorrem, embora o paciente se mantenha acordado e com capacidade de responder às perguntas da equipe
de tratamento. Na maioria dos casos, as pessoas sob a influência de uma dose terapêutica de Ibogaína não deseja
falar. Naturalmente, elas ficam muito imersas em seus sonhos, visões e fenômenos diversos que se apresentam.
Certos fenômenos são muito ricos de se interpretar à luz das teorias freudianas e junguianas. A apresentação do
conteúdo visual é rápida. A maioria dos pacientes descreve a experiência como a passagem de um filme acelerado.
Outros a descrevem como uma apresentação de slides, com cada um contendo uma imagem em movimento de um
evento ou circunstância específica de sua vida. Em ambos os casos, a apresentação do material visual é tão “sintética”
e rápida, que qualquer distração do paciente, mesmo que por um momento, pode interferir no seu processo de ab-
reação. Portanto, durante a fase principal do tratamento com Ibogaína, as interferências da equipe de apoio devem
ser mantida ao mínimo.

Durante os períodos de visualização os pacientes demonstram um certo estado de “imobilidade comportamental”.


Padrões de ondas cerebrais associados com sonho e sono, mas distinto daqueles estados, são representados por uma
atividade rítmica lenta de 4-6 Hz. Estes padrões eletroencefalográficos são associados com um estado caracterizado
por uma falta de movimento. Alguns pesquisadores, inicialmente, acreditavam que a condição apresentada pudesse
ser caracterizada como uma espécie de “paralisia”, mas quando os pacientes foram convidados a se levantar e se
movimentar, foram capazes de fazê-lo, ainda que com dificuldade.

Na segunda fase, que pode durar cerca de 30 a 40 horas, várias coisas acontecem. Alguns pacientes ainda
experimentam período de "sonho lúcido", embora de forma bem menos intensa. Esta fase é muito propícia para a
avaliação das experiências visionárias, que podem trazer profundos entendimentos e insights da vida, da morte e as
razões por trás do comportamento viciante. Alguns pacientes pedem algo para beber e/ou alimentos leves, como
frutas, por exemplo. O paciente geralmente fica acordado a maior parte do tempo nessa fase. Nesse período, alguns
pacientes se queixam de exaustão, o que pode ser interpretado como sintoma de abstinência por alguns pacientes. É
nesta fase que a presença de pessoas com experiência com Ibogaína e/ou a experiência de ex-viciados é crucial. A
relação de confiança previamente estabelecida entre o paciente e este guia deve permitir a oportunidade de
assegurar ao paciente que estes sintomas são comuns e que tudo o que é necessário neste momento é um pouco de
sono. Eles podem se relacionar com base em experiências compartilhadas, o que tem provado ser muito eficaz e
muito importante para que o paciente evite o uso de quaisquer medicamentos que ele ou ela possa ter mantido
guardado. Na maioria dos casos, nesse momento, o paciente já está mais calmo e medicamentos para dormir podem
ser solicitados, e liberados pelo terapeuta.

Durante a segunda fase de ação da Ibogaína, de acordo com os procedimentos de Lotsof, o paciente experimenta um
estado de avaliação intelectual e insights referentes às suas experiências anteriores de vida. Isto ocorre depois da
fase de visualização que geralmente termina abruptamente após período de três a cinco horas. No entanto, as
reações individuais e variações são a norma e não a exceção dentro dos parâmetros de procedimentos com Ibogaína.

Quando várias decisões foram tomadas pelo paciente no passado, estas decisões pareciam ser as únicas opções
disponíveis naquele momento. No entanto, devido à capacidade da Ibogaína em catalisar esse processo de
reavaliação da vida, ações e comportamentos, geralmente os pacientes passam a entender que alternativas para as

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suas decisões originais estão sempre disponíveis. Este conhecimento permite que o paciente modifique seu
comportamento atual e cesse a sua dependência de drogas.

Na terceira fase, a maioria dos pacientes adormece por um período com ou sem a ajuda de algum medicamento para
dormir. Ao acordarem, geralmente se sentem descansados, com muita fome e necessidade de se lavar. No decurso
deste dia a maioria das pessoas é capaz de retomar suas atividades normais, mas muitos precisam passar mais tempo
no local do tratamento, ou próximo, para processar e ajustar internamente a experiência. Algumas pessoas pedem
para falar sobre sua experiência, outros preferem privacidade. Alguns pacientes experimentam até cerca de 15% dos
sintomas de abstinência após o tratamento, como alguns calafrios menores ou muitos bocejos. Um aumento da
quantidade de energia e de apetite e uma diminuição da necessidade de sono são percebidos ao longo de um
período de três a quatro meses, diminuindo gradualmente ao longo desse período.

3.2 - Respostas autônomas

Da primeira até a quinta hora da experiência, há uma subida moderada da pressão arterial em dez a quinze por cento
e, em alguns casos, uma redução da taxa de batimento cardíaca (que nunca pode ficar abaixo de 40). As alterações
mais significativas das respostas autônomas ocorrem entre uma hora e meia e duas horas e meia após a ingestão da
Ibogaína. Em muitos casos, as pulsações ficam elevadas devido à ansiedade pré-administração. Em duas ocasiões,
pessoas com hipertensão transitória foram tratadas. Num desses casos, a pressão arterial do paciente caiu abaixo de
níveis normais durante as fases primárias e secundárias do tratamento. No segundo caso, o paciente apresentou
pouca alteração na sua pressão sanguínea com uma dose de 23 mg/kg, mas teve mudanças significativas na sua
pressão em duas ocasiões, quando foi fornecido apenas uma dose teste de 1,6 mg/kg. As duas doses de 1,6 mg/kg
foram fornecidas devido à nossa preocupação com um diagnóstico prévio de hipertensão do paciente. Possíveis
variações nas reações individuais de cada paciente devem ser antecipadas com base em seu histórico de saúde e seu
quadro físico/psicológico no momento do procedimento.

3.3 - A redução da necessidade de sono

Em todos os casos a Ibogaína reduzirá temporariamente a necessidade do paciente para o sono para apenas três ou
quatro horas por noite. Este efeito pode durar um mês ou mais, voltando gradualmente ao normal. Duas teorias têm
sido formuladas sobre as causas deste efeito. Uma teoria sugere que a redução na necessidade de sono deve-se a
biodisponibilidade de longa duração da Ibogaína ou um dos seus metabólitos. Isto está de acordo com os estudos
neurológicos realizados na Universidade de Miami. A segunda teoria sugere que a causa é devida à diminuição das
necessidades psicológicas para o sono associadas à necessidade de sonhar. Os argumentos que sustentam esta
segunda teoria partem do princípio de que a Ibogaína promove um intenso estímulo aos sonhos, que dura por muitas
horas durante a sua fase aguda de atividade.

A redução na necessidade de sono é vista pela maioria dos pacientes como um desconforto, uma vez que, na maioria
dos casos, utilizavam o sono (e drogas) como um mecanismo de fuga. Numa minoria de casos certos pacientes usam
esse tempo excedente para adiantar suas necessidades profissionais, etc. Alguns pacientes podem necessitar de
alguma forma leve de sedação durante os primeiros dias após o tratamento com Ibogaína. As precauções normais
devem ser tomadas no fornecimento de sedativos para pessoas com história de dependência química.

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3.4 - Atenuação da abstinência

Um dos principais efeitos agudos experimentados com o tratamento é a atenuação ou eliminação dos sintomas de
abstinência. Isso é extremamente importante para os pacientes adictos, que vivem com medo desses efeitos. A
experiência da equipe de tratamento no campo é de extrema importância para lidar com este aspecto do
procedimento. Os sintomas de abstinência são uma combinação de sintomas físicos e, em muitos casos,
manifestações psicossomáticas guiadas por muita ansiedade. Portanto, é imperativo para a equipe de apoio ter
experiência na identificação e distinção desta variedade de sintomas. A seguir, dois exemplos de manifestações de
abstinência psicossomáticas em adictos:

Exemplo 1 - Em uma ocasião fui chamado a uma sala por um colega, cerca de vinte horas após um paciente ter
tomado Ibogaína. O paciente era do sexo masculino, tinha 25 anos de idade e era dependente de heroína. Essa
pessoa estava usando aproximadamente 0,25 gramas de heroína por dia, mas tinha aumentado sua ingestão diária
para dois gramas nos últimos meses.

Fui informado de que o paciente se queixava de espasmos musculares. Eu perguntei ao paciente se isso era verdade,
e ele respondeu afirmativamente. Perguntei se poderia ver esses espasmos. O paciente concordou, mostrando a
barriga da perna. Ele estava exibindo o que parecia ser movimentos involuntários. Eu chequei suas pupilas e observei
que não estavam dilatadas. Também não identifiquei mais nenhum sintoma de abstinência. Quando me virei para
meu colega, notei que os espasmos do paciente tinham cessado. Após novo exame da sua panturrilha, os espasmos
retornaram. Afastei-me, mais uma vez, mas continuei a observá-lo: os espasmos cessaram novamente. Sendo assim,
informei ao paciente que acreditava que os espasmos eram de origem psicossomática. Entreguei-lhe um travesseiro
para dar apoio e cobri seu corpo. Os espasmos não ocorreram novamente.

Exemplo Dois - Em outra ocasião, recebi o telefonema de uma pessoa envolvida com grupos de apoios terapêuticos
que tinham vindo observar uma série de tratamentos orientados pela técnica holandesa de recuperação de viciados
“DASH” (Drugs and Alcohol Services Herefordshire). Essa pessoa me informou que uma mulher iugoslava, de vinte e
tantos anos, tinha-se queixado de sintomas de abstinência durante tratamento com Ibogaína, mas não acreditava
nela, já que não havia sinais observáveis de abstinência na referida paciente.

Logo em seguida encontrei a mulher. Quando cheguei, ela estava sentada em um sofá. Chequei suas pupilas, e não
estavam dilatadas. Perguntei se estava sentindo algum sintoma de abstinência:

- Como você está em relação a sintomas de abstinência? O que vc está sentindo?


- Estou doente, disse ela.
Perguntei-lhe se seus olhos estavam lacrimejando.
- Sim, disse ela (mas seus olhos não estavam lacrimejando).
- E o seu nariz, está escorrendo?
- Sim, disse ela (mas seu nariz estava seco).
- Você tem arrepios?
- Sim, disse ela (mas ela não estava arrepiada).
- Finalmente eu disse: Você está com diarreia?
- Sim, disse ela, mas eu não tinha nenhuma maneira de determinar a validade dessa declaração.

O paciente me pediu dinheiro para voltar para casa. Eu disse a ela que não achava sensato ela ir embora naquele
momento. No dia seguinte, fui informado de que a paciente tinha indo embora cerca de quatro horas após minha
saída, e que ela teria dito que não estava doente, mas que tinha mentido para mim. Este exemplo demonstra a
importância de uma apurada sensibilidade do grupo de apoio, que deve ser capaz de avaliar e responder a qualquer
aspecto da condição do paciente em todos os momentos. Não raro, pacientes enganam, consciente ou
conscientemente.

A queixa de sofrimento gerada pela abstinência depois de sair do ambiente de tratamento foi avaliada em três casos.
Nós fornecemos tratamentos adicionais com Ibogaína após períodos que variam de seis meses a um ano após o
tratamento inicial para pacientes reincidentes e que tenham declarado ter experimentado algum tipo de sintoma de
abstinência no prazo de uma semana após seu primeiro tratamento com Ibogaína.

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Os nossos resultados demonstram que, sob as condições de monitoramento acima mencionadas, muitos dos sinais
de abstinência são sintomas de ansiedade ou resultantes de uma auto-sugestão em relação a como “ficamos sem
drogas”, ou seja, pelo simples fato de esperar certos sintomas, a pessoa os gera ou acredita senti-los, quando não
mente. Estes sintomas incluem náusea, diarreia ou aumento da pressão arterial em pacientes hipertensos. Mas,
cuidado, os sintomas de abstinência não podem ser hiper-estimados e, tampouco, subestimados.

A interrupção aguda do desejo de procurar e usar drogas é uma propriedade exclusiva do tratamento com Ibogaína.
Este efeito geralmente não é notado pelo paciente até que as principais ações da Ibogaína (visualização, avaliação
cognitiva/comportamental, imobilidade muscular) não sejam mais evidentes e também não antes do paciente ter ido
dormir. O reconhecimento inicial da falta de desejo é geralmente observado em cerca de quarenta e oito a setenta e
duas horas após a administração da Ibogaína. Numa minoria de casos a recuperação do paciente e a ausência de
desejo podem aparecer em menos de 24 horas. A equipe de apoio, por outro lado, geralmente observa a ausência de
desejo no paciente em cerca de apenas uma hora e meia após a administração da Ibogaína. Nossa experiência mostra
que muitos pacientes podem precisar de uma série de tratamentos antes das respostas condicionadas (fissura) serem
extintas. Isso possivelmente se dá pelo fato de que comportamentos destrutivos de longa data podem gerar certas
respostas psicológicas que acionam os mecanismos de desejo, ainda que, quimicamente, o indivíduo não necessite
mais de drogas. Lidamos nesse caso com uma dependência muito mais psicológica do que física. Por esse motivo é
muito importante uma preparação psicológica prévia do paciente, bem como acompanhamento terapêutico
posterior.

3.5 - Efeitos de longo prazo

Os efeitos de longo prazo são os que podem ser observados a partir de 1 a 24 meses após o tratamento, e em alguns
casos até por mais tempo.

Os três exemplos seguintes ilustram este ponto:

Primeiro exemplo - Um casal de dependentes de heroína foi tratado. A mulher, de 26 anos, “tornou-se” adicta por
um tempo relativamente curto, de três meses. O marido, de 27 anos, tinha um histórico com mais de dez anos de uso
de heroína. Foi seguido um protocolo de tratamento onde um paciente seria tratado por vez. Isso serviu para que a
equipe terapêutica e de apoio familiarizassem-se com o que poderia ser encontrado no processo do casal.

O marido foi tratado em primeiro lugar, e sua esposa estava completamente cooperativa durante o seu tratamento.
No dia seguinte, quando a chegou a vez da esposa, o marido exigiu que fosse autorizado a deixar seu quarto e ficar na
cama com ela. Ele informou à equipe terapêutica que, se não fosse feito do “seu jeito”, ele interferiria no tratamento
da sua esposa. Ao invés de lidar com um paciente agressivo e irritado, decidimos que seria menos prejudicial
atendermos sua solicitação e liberamos o marido. Mesmo assim, ele perturbou continuamente sua esposa durante
seu tratamento (isto resultou em uma política de tratamento para casais onde necessariamente as pessoas devem
ficar em quartos separados).

Ele se recuperou antes da esposa, pois tomou sua dose de Ibogaína vinte e quatro horas antes. Reclamando de que já
estava ficando com escaras de tanto ficar deitado, já não era capaz de ficar na cama e pediu permissão para ir a um
passeio de bicicleta. Após sua partida, sua esposa começou a chorar nos braços de uma terapeuta mulher, afirmando
que ela não sabia se ela poderia permanecer com o marido, embora sentisse medo de que ele morresse caso o
abandonasse. Este foi um temor que ele enfaticamente colocou durante o tratamento dela.
Após seu tratamento, ele continuou com um padrão de controle sobre os relacionamentos da esposa, incluindo a
equipe de tratamento, que foi impedida de ter acesso a qualquer um deles. Mais tarde soubemos que ambos
retornaram ao uso de heroína. No entanto, três meses depois, a esposa determinou para si mesma que seu marido

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era incapaz de amá-la e que essa não era a vida que queria. Ela parou de usar heroína, matriculou-se em uma escola
de enfermagem, entrou com um processo de divórcio contra seu marido e agora é especializada em enfermagem
psiquiátrica.

Embora, inicialmente, ela não tenha reconhecido que sua decisão de interromper o vício em heroína foi devido ao
seu tratamento com Ibogaína, com o passar dos meses ela percebeu que sua determinação para mudar de vida foi
catalisada por sua experiência com a Ibogaína.

Segundo exemplo - Um paciente dependente de cocaína e crack foi tratado com Ibogaína e experimentou uma
interrupção aguda do uso de drogas. Durante seu tratamento ele teve uma forte impressão de que se ele continuasse
usando drogas, Deus iria puni-lo. Ele permaneceu livre do vício por cerca de 30 dias e, após esse período, não só
voltou como aumentou seu uso de drogas ao longo dos vários meses seguintes. Foi, então, submetido a novo
tratamento. A dose de Ibogaína que recebeu provou ser inadequada devido a um episódio de vômito ocorrido
durante a administração oral e também por conta de um “movimento intestinal” que ocorreu imediatamente após a
administração por via retal, já que foi preciso compensar a perda da sua dose oral.

Após o segundo tratamento, seu uso de drogas continuou, mas muito abaixo dos níveis anteriores ao primeiro
tratamento. Cerca de seis meses depois, esse paciente passou a frequentar um grupo de apoio para ex-adictos
tratados com Ibogaína. Ele frequentou esse grupo durante quinze meses após de seu segundo tratamento, quando,
finalmente, reconheceu que tinha de se afastar do seu bairro infestado de drogas. Ele, então, mudou-se para a
Flórida.

Na Flórida, conseguiu parar e manteve-se livre mesmo tendo acesso a cocaína. Ele conseguiu emprego na indústria de
construção em um negócio mantido com rigorosas diretrizes anti-drogas gerido por um grupo de ex-usuários.

Terceiro exemplo - Um dos conceitos mais importantes aprendidos por pessoas tratadas com Ibogaína é que o vício
pode ser revertido. Pessoas dependentes de drogas como opiáceos ou cocaína não são capazes de reconhecer que a
dependência química pode ser um fenômeno reversível.

Este terceiro exemplo é de uma pessoa que recebeu uma série de tratamentos com Ibogaína. Esse indivíduo
permaneceu livre do vício por aproximadamente três anos e meio.

Durante esse período, ele se mudou para a Califórnia, casou e começou a trabalhar com venda de produtos
farmacêuticos. Mais tarde ele perdeu o emprego e, por uma série de circunstâncias, tornou-se traficante e voltou a
usar drogas numa quantidade muito menor do que antes. Por conta do tráfico, acabou sendo preso.

Após sua libertação, trabalhou por um tempo como maquinista e depois, lentamente, voltou a usar heroína. Nessa
época, programas de substituição com o uso de “metadona” estavam se expandindo, e ele foi capaz de entrar em um
dos melhores programas públicos de reabilitação dos EUA. Naquela época, tais programas eram formados por ótimas
equipes interdisciplinares de médicos, enfermeiros e conselheiros, e o paciente chegou a um ponto onde reconheceu
que a vida de um viciado em heroína não era o que ele queria. Não era apenas a heroína, mas a própria cena geral
onde toda sua vida carecia de sentido. O paciente estava pronto para parar, mas tornou-se um escravo do desejo de
usar opiáceos por conta do alívio que a substância oferecia.

Durante um período de mais de dois anos, o paciente se estabilizou com o uso da metadona. Ele usou heroína uma
vez, duas semanas após o início da metadona, ficou satisfeito com o nível de bloqueio que a metadona oferecia e
nunca mais usou heroína novamente.

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A fase final de desintoxicação aconteceu com sua admissão numa formação universitária, para a qual ele obteve uma
bolsa de estudos numa proeminente universidade. Na época do processo com a metadona, era entendimento
corrente de que pacientes em terapia com metadona não poderiam deixar a substância. No entanto, tendo tido
anteriormente uma experiência com Ibogaína, o paciente afirmou que ele sabia que o vício era reversível. Esse
“simples” entendimento permitiu seu sucesso no abandono do vício, não só de heroína, como de metadona.

3.6 - Orientações ao paciente

Uma vez informado o paciente sobre os aspectos práticos de um tratamento com Ibogaína, é preciso prepará-lo para
a possibilidade de ter "visões oníricas" durante a primeira e parte da segunda etapa, apesar de que cerca de 25% dos
pacientes não relatarem qualquer tipo de visão. As experiências visuais e auditivas que eventualmente ocorrem
durante o tratamento com Ibogaína têm demonstrado a capacidade de liberação de memórias reprimidas. A
relevância dessas visões em relação ao processo de interrupção do vício fica óbvia quando elas parecem ajudar o
indivíduo a desenvolver uma compreensão das razões subjacentes para seu comportamento viciante. Devemos
perguntar aos pacientes quais são suas expectativas em relação a essas visões. Uma vez que muitos viciados usam
drogas por suas qualidades "bloqueadoras de consciência", alguns deles expressam medo em relação aos efeitos que
a Iboga apresenta. Deve ser explicado, então, que o uso da Ibogaína não provoca euforia e tampouco seus efeitos
levam a emoções extremas ou afeta o senso de julgamento emocional sobre si próprio durante a experiência. Ou
seja, não há nenhum elemento de liberação de emoções como riso eufórico ou choro intenso como pode ser visto em
muitos casos de uso de alucinógenos. Além disso, as memórias reprimidas que emergem à consciência são
geralmente positivas em relação aos complexos negativos que lidam por conta do vício.

É recomendável a explicação entre as semelhanças e diferenças entre o uso da Iboga no tratamento da dependência
química e seu uso religioso em certas tradições africanas. Algumas tribos do oeste africano usam a Iboga há séculos
como uma forma de iniciação que ocorre uma vez na vida, quando uma pessoa jovem faz uso da planta como sendo
um rito de passagem para a idade adulta, momento no qual fazem uma revisão do seu passado, além de
"restaurarem" a comunicação com os seus antepassados.

As pessoas que tomam com a finalidade de interromper um vício descrevem os elementos visionários e auditivos da
experiência como se estivessem em um estado de "sonho acordado". Essas pessoas relatam frequentemente a
visualização de uma espécie de "filme rápido" sobre suas vidas ou membros da família, ainda que eventualmente não
tenha mais contato com essas pessoas. Relatam a capacidade de ir para trás e para frente no tempo e que podem
chegar a um entendimento de suas raízes "espirituais". É recomendável atenção no uso da palavra "espiritual" para
que não seja confundida com "religioso". Espiritualidade, no caso, significa um alto grau de conscientização sobre
suas relações com a vida e consigo próprio.

3.7 - Tempo do processo terapêutico

A quantidade e intensidade do material psíquico inconsciente liberado pode ser tão grande que muitos pacientes
dirão não ser capazes de se lembrar de tudo o que viram ou acessaram, e somente após meses podem se lembrar de
certas visões. Portanto, a capacidade de processamento do material liberado e a capacidade de verbalização e
entendimento dessas questões, muitas vezes, podem levar um longo período de tempo e continuar ao longo de anos.

É comum o relato de que experimentam uma transformação mental ou espiritual devido à terapia com Ibogaína, em
"dois dias", que não experimentaram em anos e anos de terapia convencional. Apesar da Ibogaína propiciar uma
maior compreensão das escolhas feitas anteriormente, isso não significa que a experiência ofereça necessariamente
as habilidades para a interpretação e elaboração desse material de uma maneira construtiva que possa levar a
soluções e mudanças positivas e produtivas na vida após o tratamento. É observado que para muitas pessoas o
tratamento com Ibogaína em si não é suficiente para manter uma vida livre de abuso de substâncias. A maioria dos
indivíduos requer algum tipo de acompanhamento terapêutico pelos próximos meses. Estudos mostram que uma
pessoa tratada com Ibogaína é mais preparada e disposta a submeter-se a sessões de terapia em comparação com a
média observada em outras abordagens.

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Muitos viciados que usaram Ibogaína parecem ser capazes de acessar material psíquico importante relacionado ao
seu comportamento de vício, sem os sentimentos habituais de trauma e medo e a necessidade de anestesiar estes
sentimentos com drogas como forma de defesa. Seus entendimentos e atitudes recém-adquiridos na experiência
podem polpar muito tempo ao terapeuta no processo de revelação e confrontamento do indivíduo com seus
problemas possivelmente dolorosos. Na existência de processos traumáticos, eles precisam ser trabalhados a fim de
romper os ciclos de comportamentos auto-destrutivos de modo a permitir o encontro de maneiras novas e positivas
na relação com seus problemas. Recomenda-se que os pacientes sejam estimulados a buscar ou criar redes de apoio
que podem ir da participação em reuniões do "Narcóticos Anônimos" até a organização de grupos de apoio com
pessoas que já passaram pela experiência com Iboga.

3.8 - Ambiente de tratamento

Em um mundo onde os viciados são constantemente submetidos à rejeição e marginalidade, muitos desenvolvem ou
acentuam uma baixa auto-estima. É muito importante proporcionar um ambiente de tratamento sem julgamentos,
onde o viciado se sinta respeitado e livre para se expressar, onde o direito de escolher esteja sempre presente. Por
exemplo, a maioria dos viciados não vai mudar seus padrões de comportamento se eles estão sendo empurrados
para um tratamento pela família, amigos ou pelo sistema judiciário. Estar preparado para o tratamento com Ibogaína
significa estar pronto e disposto a dar um salto físico e espiritual para frente.

Portanto, é importante que a equipe de tratamento esteja apta a prestar apoio e orientação amorosa e
compreensão, onde a confiança mútua seja sempre uma questão central. Quando o tratamento é concluído, um
processo de auto-descoberta e a necessidade de auto-realização provavelmente começarão a se desenvolver. Neste
momento, torna-se muito importante a possibilidade do ex-viciado se relacionar com outras pessoas com problemas
semelhantes, de modo a evitar novos sentimentos de inadequação ou rejeição. Isso pode ser feito através da criação
de grupos de discussão, terapêuticos, ritualísticos, etc, onde as pessoas possam compartilhar este terreno comum.

3.9 - Obstáculos psicológicos

É a repressão da "sombra" que nos deixa à beira da dor e insatisfação. Ela se manifesta em nossas vidas através de
impulsos de fuga ou destruição, afetando todos os nossos relacionamentos e bem-estar geral.

A Iboga, quando utilizada corretamente, ajuda a expor a "sombra" e a curar seus conteúdos. Existe um movimento
interno, integrativo, em nossos corpos físico, mental e emocional, que constantemente busca a integração da sua
totalidade. A Iboga propicia uma oportunidade de experimentação de um novo equilíbrio em direção à totalidade do
corpo em todos os níveis.

Às vezes, nesta "jornada", pode parecer que a "sombra" e nossos caminhos destrutivos são intransponíveis. Isso é
uma ilusão que precisamos combater, pois são apenas dificuldades que bloqueiam temporariamente nossa
consciência sobre a nossa capacidade de cura interior. Por este motivo, pode ser de muita ajuda o registro dos
avanços e do que foi alcançado pelo paciente para que se mantenha sempre a consciência do que podem alcançar.

Outro obstáculo ao longo do caminho é a liberação de dores emocionais devido à liberação das "sombras". A
liberação desse conteúdo psíquico reprimido completa a formação dos instrumentos emocionais para se lidar com as
dificuldades. Felizmente, a maioria das dores liberadas é processada dentro da própria experiência com a Ibogaína,
no entanto, dores residuais podem perdurar depois de uma sessão e mais dor pode surgir posteriormente. Por esse
motivo, é importante compreender esse tipo de terapia como um processo que pode exigir sessões complementares
de Ibogaína em níveis mais baixos e/ou acompanhamento terapêutico posterior. Se este processo não for
compreendido corretamente, é possível um retorno a qualquer forma de auto-abuso como mais uma tentativa de
suprimir possíveis dores emergentes. Sendo assim, o processo de "cicatrização" da Iboga não se reduz simplesmente
a tomar uma "pílula". Para alcançar a cura, é preciso esforços permanentes no sentido de uma crescente
autoconscientização. Veja o exemplo a seguir:

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“Para se livrar da dependência, Wladimir Kosiski aliou o tratamento à psicoterapia e mudança drástica de hábitos.
Voltou a trabalhar, estudar e nunca mais pisou no local onde comprava crack. Não foi isso o que fez o professor
Gilberto Luiz Goffi da Costa, 44 anos, que se tratou com Ibogaína pela primeira vez em 2005. Viciado em drogas desde
os 14 anos, Gilberto já acumulava 18 tratamentos fracassados contra dependência. Volta e meia dormia nas ruas de
Curitiba e praticava roubos para comprar crack, tendo sido preso por cinco vezes. Após usar Ibogaína, achou que
estava curado. “Tive uma sensação de bem-estar, mas é um efeito que se perde depois”, afirma. Estava livre do
desejo, mas continuou a frequentar os mesmos ambientes e amigos com quem dividia drogas. Em pouco tempo, foi
dominado novamente pelo crack. “A Ibogaína retira a fissura, mas a pessoa pode continuar a usar droga mesmo sem
vontade, como alguém que estraga um regime por gula, não por fome”, diz Chaves. Gilberto só conseguiu
permanecer “limpo” após a terceira vez que se tratou, em 2008, quando aliou a substância a uma troca completa de
atitudes seguindo o método dos Narcóticos Anônimos. Sem consumir drogas há dois anos, hoje dá aulas de línguas e
é consultor no tratamento de outros dependentes.”

Há muitas etapas para a cura e cada um pode parecer como o último obstáculo a ser superado, mas nem sempre é
assim. Por isso, é desejável que se comece com a simples compreensão sobre as vantagens de se ficar bem. Nós só
podemos realmente lidar com um ou alguns obstáculos por vez, caso contrário, a tarefa poderá parecer
demasiadamente assustadora e o paciente pode desistir antes mesmo de começar. Sendo assim, é importante fazer o
paciente compreender que "ficar limpo" é apenas o começo.

O que é que está subjacente ao vício e impulsiona o viciado a voltar uma e outra vez? O que quer que seja é algo que
o viciado deseja para se completar. As sensações, os sentimentos de bem-estar, o que buscamos, podem ser
encontrados em outros lugares. Mas onde? Por uma questão de simplicidade vou chamá-lo de "cura" e descrever o
que buscamos simplesmente como "totalidade", a liberação e resolução de todo nosso complexo psíquico, físico,
mental e espiritual. A liberação da "sombra", no entanto, também pode liberar estados obscuros, abandonados e
reprimidos da nossa psiquê que nos remetem a toda sorte de sentimentos negativos e por isso pode ser muito difícil
de enfrentar. A este respeito, os primeiros 3 - 6 meses de pós-tratamento é o "período nobre" para uma terapia bem-
sucedida. Durante este período são abertas novas percepções (se o paciente estiver preparado para olhar para si
mesmo honestamente) e uma série de novos padrões de comportamento podem ser apreciados por aquilo que
"realmente" têm a oferecer e serem colocados em prática antes que as "sombras" ganhem força novamente.

O ponto principal de uma terapia com Iboga é a conexão com o "onde estamos agora", para que o paciente possa se
concentrar em questões que são realmente relevantes no "aqui e agora". Estas são as questões que, nas sessões de
terapia, devem conduzir uma investigação sobre as fontes das dificuldades do paciente. Quando vemos as origens e
seus efeitos, temos a oportunidade de aceitar o problema e seguir em frente. A aceitação é a antecâmara da cura.

Também é importante notar que à medida que o paciente progride em sua cura, suas defesas diminuirão e já não
poderão exercer o mesmo controle ditatorial sobre suas ações que talvez os ajudaram a controlar seus vícios no
passado. Assim, a dependência no início do processo de cura não é necessariamente a mesma que na dependência ao
final.

O vício em si também é uma luta. Com as necessidades não satisfeitas e um complexo repertório reprimido, a
dependência muitas vezes leva os viciados para as profundezas do que precisam explorar. Se houvesse a
possibilidade de uma "cura completa", muito viciados provavelmente optariam por não seguir o caminho completo e,
no final, este é o lugar onde devem ser encorajados a ir. A Iboga, nesse sentido, tem a sua própria agenda.

Se olharmos para o vício como uma fuga de nossos conflitos reprimidos, podemos ver que, enquanto caminhamos
em nosso caminho lutando contra nossas "sombras", as mesmas nos fazem encontrar "verdades" extremamente
dolorosas. Às vezes a dor oculta é simplesmente avassaladora e o paciente pode ter uma recaída. Recaídas podem ser
etapas até mesmo importantes no caminho, na medida que podem revelar novas questões necessárias para a cura
final.

Não é uma viagem simples e às vezes é um caso de "dois passos à frente, e um passo para trás". Os antigos caminhos
tentarão se reafirmar-se de vez em quando, mas o que deve ser percebido, novamente, mas com uma qualidade que
pode ser utilmente diferente, é a possibilidade de uma nova oportunidade para mergulhos ainda mais profundos em
relação a muitos níveis ainda não alcançados. Dentro dessa dinâmica de "forças" residem as oportunidades de
fortalecimento do paciente. Recaídas, obviamente, não são desejáveis, mas podem ser naturais e importantes para o
processo de "cura" como um todo.

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3.10 - Riscos para a saúde física

Riscos associados à Ibogaína incluem complicações cardíacas e problemas circulatórios. Todos os pacientes devem ser
submetidos a um exame médico antes de começar o tratamento, incluindo um eletrocardiograma. Há casos muito
raros onde ocorre insuficiência cardíaca e, caso isso venha ocorrer, a equipe de apoio deve ter treinamento adequado
para administrar os primeiros socorros necessários.

A maioria das emergências médicas associadas à Ibogaína pode ser prevenida com uma simples avaliação médica
adequada. Mesmo com exames médicos completos, aproximadamente um por cento de todos os pacientes
necessitam de atenção médica durante o procedimento.

É imperativo aos pacientes que desejam se submeter à terapia com Ibogaína a abstenção de qualquer tipo de
substância como álcool, medicamentos, drogas e ou plantas psicoativas antes, durante e imediatamente após o
tratamento. Muitos problemas de saúde após a terapia com Ibogaína acontecem por conta de pacientes que
recorrem a métodos de auto-medicação após o tratamento. Se houver qualquer medicamento que você sinta que o
paciente não pode parar de usar durante o tratamento, determine um plano de tratamento adequado a essa
realidade.

A maior preocupação em relação aos riscos conhecidos relacionados à utilização da Ibogaína é que ela abaixa a taxa
cardíaca (bradicardia) e prolonga o intervalo QT (medida do tempo referente ao ciclo elétrico do coração). Portanto,
as pessoas com histórico de ataque cardíaco, sopros cardíacos, arritmias, cirurgia cardíaca ou obesidade grave não
devem tomar Ibogaína. Um eletrocardiograma é o teste mínimo exigido, mas um ECG de esforço ou um exame
“Holter 24 horas” e um ecocardiograma aumentam muito a possibilidade de se detectar anormalidades importantes
não detectáveis por exames mais simples. A presença de um médico qualificado (de preferência especializado em
cardiologia e medicina de emergência) presente durante a sessão para monitorar o coração aumenta a segurança do
tratamento de forma significativa e seria o ideal.

Outro fator de risco é a embolia pulmonar. Isso acontece quando há a formação de coágulos sanguíneos nas veias
como os que podem ocorrer devido à imobilização durante longas viagens de avião, um acidente de carro ou doenças
e situações diversas relacionadas ao sistema circulatório. Quando estes possíveis coágulos do sangue são bombeados
através do corpo durante a sessão com Ibogaína, podem acabar nos pulmões onde podem provocar uma embolia
com o risco de sufocação. O risco de embolia pulmonar pode ser reduzido fazendo alguns esportes ou exercícios de
movimentação depois de longas viagens e não iniciar o tratamento logo no momento da chegada. Indivíduos com
problemas de sangramento, coágulos de sangue crônicos ou aquelas pessoas que tenham sido recentemente
envolvidos em acidentes que causaram hematomas e hemorragias devem ser excluídos do tratamento.

Asma, câncer, disfunção cerebelar (por exemplo, doença de “Meneire” e dificuldade em manter o equilíbrio),
desmaios crônicos, diabetes, enfisema, epilepsia, doenças do trato gastrointestinal (por exemplo, doença de Crohn,
doença inflamatória intestinal), problemas ginecológicos, HIV, AIDS, Hepatite C (se ativa e com enzimas hepáticas
200% acima do normal), problemas renais, problemas hepáticos diversos, problemas pulmonares ou doença
respiratória, paralisia, gravidez, convulsões, acidente vascular cerebral, problemas de tireóide, tremores, tuberculose
e úlceras são critérios de exclusão na maioria dos lugares, mas alguns centros aceitam pessoas com certas condições,
o que pode aumentar o risco de uma intervenção durante o procedimento. Geralmente, as clínicas que aceitam
pessoas com “determinadas condições” de saúde são as clínicas que possuem instalações hospitalares e equipe
médica especializada presente durante todo o procedimento.

Outra causa de eventos adversos é a interação da Ibogaína com outros medicamentos ou produtos farmacêuticos.
Antes de tomar Ibogaína o indivíduo não deve usar determinados medicamentos (idealmente, nenhum) pelo período
de tempo necessário para que esses sejam suficientemente metabolizados. Isto depende da meia-vida da droga e é

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diferente para cada uma das substâncias. O pessoal do centro de tratamento deve ajudar o paciente a diminuir ou
parar o uso de medicamentos sujeitos a receita médica de uma maneira segura (cuidado ao interromper um
medicamento). Além disso, substâncias ou alimentos que são discriminadas pelas enzimas “CYP 450 2D6” devem ser
evitados, pois podem interagir com a Ibogaína potencializando seu efeito de bradicardia e prolongamento do
intervalo QT. Há listas disponíveis na internet de tais substâncias. Por exemplo, produtos contendo quinino e toranja
(fruta) pertencem a este grupo e devem ser evitados.

Como existem muitos materiais diferentes sobre a Iboga disponível, trabalhar com materiais de potência e
composição química desconhecida é outro fator de risco. É importante que a pessoa que administra o tratamento
conheça muito bem o material que vai administrar, de modo que este possa ser dosado corretamente.

3.11 - Riscos para a saúde psicológica

Apesar de alguns centros aceitarem pessoas com transtornos psiquiátricos como transtorno bipolar, transtorno de
“personalidade incerta”, etc, e relatarem a melhora dessas condições, muito pouco se sabe sobre os efeitos da
Ibogaína em tais transtornos e os riscos envolvidos. É uma área muito arriscada. Pessoas com distúrbios gerais
psiquiátricos como os mencionados acima, assim como pessoas com esquizofrenia e histórico de psicose, devem ser
excluídas desse tipo de tratamento. Nesses casos, teoricamente, a Ibogaína pode desencadear ou piorar os sintomas.
Além disso, a interação com certos medicamentos psiquiátricos pode ser perigoso. O teste psiquiátrico completo e a
supervisão de um psiquiatra são importantes antes de se fazer um tratamento com a Ibogaína.

Além dos riscos psiquiátricos, a Ibogaína é um composto psicoativo muito potente que pode induzir uma experiência
introspectiva que nem sempre é fácil. Pode surgir severa ansiedade em tais episódios e, em casos mais graves,
estados de paranóia. Um provedor experiente pode apoiar o indivíduo em tais casos e ajudá-lo a superar as
dificuldades. A preparação adequada do paciente com a orientação de um terapeuta pode ajudar muito no ganho de
confiança. O paciente deve entrar na experiência com a mentalidade adequada e estar preparado para eventuais
experiências difíceis.

3.12 - Cuidados posteriores

A estratégia pós-tratamento deve ser definida em conjunto com o paciente durante a fase de admissão e após o
tratamento. Planos individualizados de "pós-tratamento" devem ser baseados na história de vida e histórico de vício
já tomados nas primeiras entrevistas com o paciente. Qualquer forma de tratamento posterior é, naturalmente,
opcional e cabe tanto ao paciente quanto ao terapeuta o acompanhamento da forma que entenderem necessário.
Motivação para um plano de acompanhamento posterior e a intenção de segui-lo devem ser critérios para a
elegibilidade do paciente para tratamento com Ibogaína. Algumas pessoas podem precisar de um grupo terapêutico,
outros, morar próximo ao local das terapias, alguns, raramente, podem lidar com todo o processo sozinho, entre
várias outras situações. Tudo isso deve ser considerado nas primeiras entrevistas e todas as abordagens podem variar
muito de paciente para paciente. É muito importante a compreensão de que esses "planos" devem ser estabelecidos
de início e que o paciente terá disposição e/ou capacidade para cumpri-lo. É muito importante o processo de
conscientização das pessoas sobre todo o processo, além de uma análise sobre as condições práticas de execução do
plano pelo paciente antes de administrar a Ibogaína. O terapeuta deve investigar com seu paciente sobre suas
capacidades, seu envolvimento e compromisso com a ideia de viver uma vida nova. A Ibogaína não é apenas uma
"solução rápida", ficar "limpo" é baseado em uma profunda mudança de atitude em relação ao bem-estar físico,
mental e emocional.

Aspectos cruciais de cuidados posteriores que precisam ser considerados são, por exemplo, habitação, educação,
emprego e as consequências psicológicas da volta e a assimilação de relacionamentos, família e vida em comunidade.

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Se não forem compreendidos, esses assuntos podem, em última análise, provocar motivos para a reincidência de
antigos padrões de comportamento. Com base em avaliação psiquiátrica, alguns pacientes podem precisar estar
cientes de opções como antidepressivos, ansiolíticos, etc. Existem novas drogas no mercado específicas para medicar
possíveis desequilíbrios químicos no cérebro produzido pelo uso extensivo de drogas muito fortes, que estabilizam
neurotransmissores específicos importantes. Isso ajuda não só em termos de tratamento da depressão, ansiedade e
outros sintomas causados por extensos vícios em drogas, mas como também podem ser cruciais em termos de
eficácia do tratamento terapêutico.

Recomenda-se também fornecer aos pacientes dicas relevantes para quem está em processo de reabilitação,
incluindo práticas ligadas ao seu bem-estar físico, alimentação saudável, prática de exercícios físicos, etc.

Pesquisadores e terapeutas que utilizam a Iboga em vários países do mundo enfatizam muito a importância da
participação de ex-viciados que passaram pelo tratamento com Ibogaína no processo de tratamento dos pacientes. A
presença desses "conselheiros" é muito importante porque existe a possibilidade de uma relação de confiança que
reduz eventuais riscos que pode aumentar as chances de um bom resultado. O uso de "par de conselheiros", ou
grupos, é uma convenção amplamente utilizada no tratamento para dependência química, tanto com Ibogaína
quanto em terapias convencionais. A maioria dos toxicodependentes prefere receber tratamento na presença de ex-
viciados que estão acostumadas com o processo de tratamento porque eles podem se relacionar uns com os outros
por experiências semelhantes.

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4. Iboga - Prática clínica

Os efeitos do tratamento com Ibogaína são classificados em três categorias: agudo, médio e longo prazo. Os dois
principais efeitos da Ibogaína são a capacidade de interrupção dos efeitos de abstinência de narcóticos e estimulantes
e a atenuação ou eliminação do desejo de continuar a procurar narcóticos.

São quatro as principais obrigações de quem se dispõe a fornecer tratamento com Ibogaína: 1) ganhar a confiança do
paciente, 2) manter o conforto e segurança do paciente, 3) ajudar o paciente a interromper a sua dependência
química e 4) dar o suporte psicossocial necessário, de modo a permitir o desenvolvimento de um sentimento de
realização pessoal. A fim de proteger o paciente de uma possível overdose devido a narcóticos, estimulantes ou
outras drogas, um exame físico completo é realizado em todos os pacientes após a sua admissão para o tratamento.
O exame e uma busca nas posses do paciente antes do tratamento com Ibogaína servem a duas funções importantes:
Em primeiro, trata-se de limitar a possibilidade de sobredosagem acidental caso o paciente use drogas escondidas.
Em segundo, é preciso ter uma compreensão completa da saúde física do paciente, uma vez que muitas das pessoas
que procuram tratamento para dependência química mascaram ou omitem diversos problemas de saúde durante
anos ou mesmo décadas.

4.1 - Condições tratadas

É consenso entre muitos profissionais de saúde mental que as manifestações de uma série de transtornos de humor e
psicológicos são resultantes não de defeitos genéticos ou biológicos no cérebro, mas de desequilíbrios químicos no
sistema neural potencialmente corrigíveis que surgem em pessoas saudáveis como resultado de fatores ambientais
incluindo o estresse e traumas diversos. Certos eventos podem desencadear desequilíbrios químicos que interferem
na capacidade do paciente de refletir e raciocinar “equilibradamente”, afetando sua interpretação e processamento
de eventos da sua vida, bem como a sua capacidade de elaborar um futuro “livre” de suas memórias traumáticas
passadas. Sinais desses desequilíbrios químicos podem ser observados a partir de casos de depressão, ansiedade e
mania.

Estes desequilíbrios químicos e seus sinais são frequentemente acompanhados por emoções dolorosas, pensamentos
e crenças que afetam negativamente sua capacidade de julgamento, desencadeando uma espiral negativa de ações e
decisões que os levam a novos problemas que afetam novamente sua capacidade de julgamento e assim
sucessivamente, desencadeamento processos depressivos, ansiedade e toda sorte de conflito interno.

Em alguns casos, desesperados por um “alívio” em relação a essas dinâmicas dolorosas, adictos se envolvem numa
série de eventos e comportamentos na tentativa de aliviarem sua condição e retomarem o controle sobre suas vidas.
Esses comportamentos podem incluir raiva e violência, fobias e manias diversas e o uso de drogas. Em casos mais
graves, tudo isso pode levar a uma falência completa de seu equilíbrio psicológico, com todo tipo de implicação
negativa na vida dessas pessoas.

A Ibogaína atua como uma espécie de catalisador para a mudança psico-espiritual, atuando nas “engrenagens” que
sustentam muitas doenças mentais e transtornos de humor. Ela permite que os pacientes recuperem suas
capacidades de interpretação e elaboração de suas experiências passadas de forma mais equilibrada, abrindo
caminho para perspectivas novas e mais saudáveis.

Muitos pacientes relatam que a Ibogaína não só os traz de volta a um estado de clareza mental, proporcionando-lhes
uma visão mais otimista em relação ao futuro, como apresenta novas dinâmicas internas duradouras ao longo do
tempo.

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A Ibogaína faz muito mais do que simplesmente mascarar hábitos viciantes como alguns outros tratamentos fazem.
Com a Ibogaína, um viciado se transforma em níveis extremamente profundos.

A Ibogaína tem sido útil no tratamento das seguintes condições:

- Metanfetaminas: A Ibogaína ajuda a eliminar os sintomas de abstinência física tais como os suores, coceiras,
tremores e contrações musculares tão comuns nos dependentes de metanfetaminas.

- Cocaína e Crack: Aproximadamente 25% das pessoas que usam cocaína se tornam dependentes. A Ibogaína ajuda a
eliminar os sintomas da abstinência de cocaína e crack tais como a depressão, dificuldade de concentração, falta de
apetite e sonolência. Ela também ajuda a repor os neurotransmissores do cérebro que tenham sido danificados
devido ao uso excessivo de cocaína e de crack.

- Opiáceos: O uso de opiáceos como a heroína tem aumentado dramaticamente nos últimos anos e há mais pessoas
viciadas em opiáceos do que nunca. A Ibogaína é uma ferramenta especialmente poderosa para a eliminação dos
terríveis sintomas de abstinência que a heroína produz, tais como suores frios, tremores, febre e vômitos.

- Álcool: A Ibogaína oferece uma excelente alternativa para os programas tradicionais de doze etapas, muito comuns
no tratamento da dependência de álcool. Ela ajuda a eliminar os sintomas de abstinência, tais como os tremores e
suores que são comuns quando as pessoas param de beber.

- Saúde mental: A Ibogaína é também uma ferramenta maravilhosa para se tratar diversas questões de saúde mental
tais como depressão, ansiedade, transtornos de stress pós-traumático, fobias, transtornos obsessivo-compulsivos,
transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, além de ter mostrado ser de promissor impacto introspectivo e
espiritual para os pacientes com transtornos alimentares como bulimia, anorexia e obesidade. A Ibogaína leva o
paciente a uma jornada psicológica profunda que os ajuda a identificar as razões para suas questões e a processar as
razões pelas quais eles foram levados à instabilidade psicológica. A Ibogaína também ajuda uma pessoa com
depressão a perdoar os outros e, mais importante ainda, permite-lhes perdoar a si mesmos quanto a tudo que os
mantinham em um estado psicológico de obscuridão.

- Outros vícios: Quem sofre de adicção química sabe o quão doloroso é estar preso em um ciclo de dependência.
Vícios não estão limitados ao abuso de substâncias químicas e uma pessoa pode se tornar viciada em uma série de
coisas e comportamentos diferentes. A adicção geralmente decorre de trauma emocional profundo e viciados usam
seus vícios para aliviar ou fugir das suas dores e insatisfações que sentem por conta do resultado destes
acontecimentos e lembranças que se tornaram profundamente enraizados em sua mente subconsciente. Pessoas que
sofreram um trauma emocional nem sempre se apoiam nas drogas para aliviar seus problemas. Ao invés disso, eles
podem se tornar viciados em coisas como a televisão, jogos de azar, sexo, pornografia, videogames, trabalho, etc.
Tudo isso leva o usuário para longe da sua verdadeira “essência”.

4.2 - Cuidados básicos gerais

- A Ibogaína é principalmente reconhecida por sua capacidade de reduzir consideravelmente os sintomas de


abstinência de drogas, permitindo que os tratamentos para viciados sejam relativamente indolores. Quaisquer outras
reivindicações feitas em relação à droga, como a abstinência de longo prazo ou a eliminação de efeitos traumáticos e
condicionamentos em viciados ou não-viciados possuem um grau de verdade, mas ainda precisam de mais
fundamentação.

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- O paciente deve ser clinicamente testado antes de tomar Ibogaína. Testes clínicos cardíacos e hepáticos adequados
são pré-requisitos básicos mínimos para se submeter ao tratamento com Ibogaína. Idealmente, o paciente tratado
com Ibogaína deve ter um acompanhamento constante da função cardíaca e, se possível, com a presença de um
médico treinado.

- Cuidado para não superestimar casos isolados ou esperar resultados semelhantes para pacientes diferentes. A
Ibogaína pode mudar uma vida e, não raro, após uma experiência muito positiva terapeutas e pacientes fazem o
máximo para "espalhar a mensagem". Esse cuidado deve existir para que eventuais “entusiasmos” não se
sobreponham às preocupações muito reais sobre segurança e demais desafios.

- Se um eventual paciente está pensando em tomar Ibogaína para seu desenvolvimento pessoal e ainda não ter se
submetido a um processo terapêutico adequado (terapia na qual deve haver uma admissão explícita do indivíduo
sobre a existência de problemas emocionais) ou, se o que está sendo buscado é apenas uma "solução rápida", de
modo a evitar lidar realmente com questões mais profundas, o uso da Ibogaína pode piorar as coisas. Para alguns, o
uso de substâncias psicoativas pode invocar reações perturbadoras como a ativação de mecanismos de defesa da
mente que lutam para manter bloqueado todo e qualquer material psíquico reprimido. Drogas como Ibogaína,
Cetamina, LSD e MDMA (Ecstasy), têm sido amplamente utilizadas por terapeutas, mas apenas como um
componente de uma estratégia terapêutica global. Usar determinadas substâncias fora deste contexto pode causar
mais mal do que bem.

4.3 - Histórico médico e critérios de exclusão

Alguns exames médicos devem ser solicitados para sabermos se o paciente está apto ao tratamento e, para o caso de
haver alguma complicação, estarmos preparados para enfrentá-la. Não necessariamente a existência de alguma
“complicação” exclui determinados pacientes. Há casos onde o que deve ser feito é apenas uma adaptação do
tamanho e regime de dose, além da preparação de possíveis intervenções mais específicas caso algo saia do controle.
Apesar de todos os cuidados técnicos deverem ser rigorosamente tomados, a “intuição”, as percepções e
sentimentos do terapeuta responsável pela admissão serão sempre os melhores instrumentos de análise.

Certas drogas permanecem no corpo mais do que outras e todas elas podem afetar, de diversas formas, o processo
de tratamento com a Ibogaína. A seguir, lista dos medicamentos e as orientações mínimas que precisamos seguir:

4 – 8 horas 3 – 5 dias 7 – 10 dias 2 – 3 semanas


- Heroína - Álcool Doses baixas de: Altas dose de:
- Oxycodona - Metanfetamina - Suboxone - Suboxone
- Hydrocodona - Ritalina - Subutex - Subutex
- Morfina - Adderall - Metadona - Metadona
- Dilaudid - Crack - Antidepressivos - Fentanyl
- Opana - Cocaína - Estabilizadores de humor
- MDMA - Antipsicóticos

Condições médicas notáveis que devem ser discutidas para a elaboração de um plano adequado de tratamento, são:
bradicardia (diminuição da pressão arterial e pulso), sistema cardiovascular comprometido, trombose pulmonar,
hipertensão arterial não tratada, varizes ou veias danificadas, abscessos na pele, ou problemas de coagulação do
sangue. Estes não são, necessariamente, fatores impeditivos, mas devem ser comunicados para que seja determinada
a gravidade e os possíveis planos de ação.

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Tenha em mente que a maioria, se não todas, as complicações relacionadas à Ibogaína ocorreram devido a problemas
cardíacos e hepáticos prévios não considerados, levando à administração imprecisa de doses e /ou ao uso de
substâncias durante ou imediatamente após o tratamento.

Não podemos tratar qualquer pessoa com as seguintes condições:

- Câncer;
- Disfunção do Cerebelo;
- Alterações na coagulação ou histórico de coágulos sanguíneos;
- Diabetes (descontrolada)
- Enfisema;
- Epilepsia;
- Doença de Crohn;
- Úlcera gástrica;
- Doença cardíaca, sopros cardíacos ou arritmias cardíacas;
- Hepatite com enzimas hepáticas com mais de quatro vezes o valor normal;
- Pressão arterial elevada (descontrolada);
- Infecções (ativas), incluindo úlceras ou abscessos na pele;
- Síndrome do Cólon Irritável;
- Obesidade (grave);
- Pneumonia
- Doença renal;
- Qualquer doença hepática com enzimas hepáticas com mais de quatro vezes o valor normal;
- Gravidez;
- Perturbações de foro psiquiátrico (grave);
- Derrames.

Abaixo, segue um modelo de questionário de triagem de um provedor de Ibogaína norte-americano, instalado no


México:

Questionário de aplicação para tratamento com Ibogaína

1) Dados do paciente:
- Nome completo:
- Sexo:
- Idade:
- Peso:
- Altura:
- Escolaridade:
- Profissão:
- Endereço:
- Telefone principal:
- E-mail:

Dados de contato de duas pessoas (de preferência familiares ou amigos próximos) para eventuais emergências:
- Nome completo:
- Vínculo (familiar? Amigo?):
- Endereço:
- Telefone:
- E-mail:

2) Listar vícios específicos, quantidade e frequência de uso:

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3) Fornecer um breve histórico sobre seu(s) vício(s) ou sobre a condição(s) para a qual você está procurando
tratamento:

4) O que você espera alcançar com um tratamento com Ibogaína?

5) Listar todos os medicamentos e suplementos prescritos que toma atualmente e os motivos:

6) Listar todos os medicamentos e suplementos não prescritos que toma atualmente e os motivos:

7) Listar todos os medicamentos “mais importantes” que já tenha feito uso anterior, quando e motivos:

8) Você já foi diagnosticado com alguma condição/transtorno emocional ou mental?

9) Listar de forma completa todos os medicamentos não prescritos e/ou drogas de rua que você usou nos últimos 30
dias:

10) Listar todos os alimentos e/ou medicamentos que causam alergia em você:

11) Listar todas e quaisquer cirurgias que você já tenha realizado no passado, incluindo datas e motivos:

12) Quando foi sua última leitura de pressão arterial?

13) Qual a sua taxa de pulso em repouso?

14) Você bebe álcool? Se sim, qual a quantidade e frequência?

15) Você já internado em algum hospital psiquiátrico? Se sim, qual a data aproximada e motivos (com detalhes):

16) Você tem hipertensão ou hipotensão?

17) Você tem algum histórico de infarto do miocárdio ou doença cardíaca? Se sim, explique em detalhes:

18) Você tem algum histórico de convulsão? Se sim, explicar em detalhes:

19) Você tem algum histórico de doença vascular, incluindo aneurismas? Se sim, como foi/está sendo tratado?

20) Você tem algum histórico de embolia, problemas com a coagulação do sangue ou sofreu algum trauma recente
no corpo, incluindo a pélvis e pernas? Se sim, explique:

21) Você tem diabetes? Se sim, você é dependente de insulina?

22) Você tem hipoglicemia? Se sim, explique:

23) Você tem desmaios ou tonturas quando se levantar de repente? Se sim, explique:

24) Você realizou alguma cirurgia do trato gastrointestinal ou têm algum histórico de colite ulcerativa, doença de
Crohn, sangramento, úlcera péptica ou algum outro problema gastrointestinal? Se sim, explique:

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25) Você tem algum tipo de hepatite, incluindo testes anormais da função hepática, hepatite C, cirrose biliar primária,
níveis de amônia do soro elevados, etc.? Se sim, explique:

26) Você fica enjoado facilmente? Se sim, o que provoca essa reação?

27) Você já teve episódios de regurgitação ou já vomitou sangue? Se sim, explique:

28) Você tem insônia? Se sim, explique:

29) Você se considera deprimido? Se sim, explique:

30) Você já tentou se suicidar? Se sim, explique:

31) Você já teve algum tipo de dano cerebral, incluindo trauma crânio-encefálico, com ou sem perda de consciência?
Se sim, explique:

32) Você é fumante de tabaco? Se sim, quanto e por quanto tempo?

33) Você é asmático? Se sim, usa inalador?

34) Você sofre ou já sofreu alguma das seguintes condições físicas? Marque todas as opções que se aplicam:

- Diabetes; - Inchaços;
- Sangramento; - Dormência de membros;
- Úlceras; - Dor nas costas;
- Problemas da tiroide; - Tremores;
- Baixa pressão arterial; - Pressão arterial alta;
- Perda de menstruação; - Espasmo muscular;
- Menstruação excessiva; - Constipação;
- Cancro; - Hepatite A, B, ou C;
- Dores nas articulações; - Problemas de estômago;
- Diarreia; - Problemas urinários;
- Náusea; - Asma;
- Tuberculose; - Desmaios;
- Doença renal; - Varizes
- Azia; - HIV Positivo (AIDS);
- Convulsões; - Tonturas;
- Dor abdominal; - Falta de ar;
- Icterícia; - Lesão em algum nervo;
- Problemas cardíacos; - Obesidade;
- Problemas respiratórios;
- Menstruação dolorosa; - NENHUMA das anteriores.

35) Existe alguma coisa que você gostaria de nos dizer?

36) Como você ficou sabendo sobre nós?

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4.4 - Interações medicamentosas

Antes de tomar Ibogaína é necessária absoluta certeza de que o indivíduo se absteve de certas substâncias e produtos
químicos, tanto para a sua segurança quanto para a eficácia da medicação.

A Ibogaína amplifica a ação de algumas substâncias, além de não funcionar de forma tão eficaz com a presença de
algumas substâncias químicas. Permitir que o corpo do paciente tenha tempo suficiente para metabolizar certas
substâncias é muito importante para todo o processo.

Aqui estão as diretrizes mínimas que devem ser seguidas:

- Medicamentos psicoativos - Os pacientes devem parar de tomar todo e qualquer medicamento psicoativo (como a
amitriptilina, Elavil, Prozac, Zoloft, Paxil) por um período mínimo de cinco dias antes do tratamento com Ibogaína.

A Ibogaína é conhecida por interagir e aumentar os efeitos de alguns medicamentos. Por esta razão a Ibogaína não
deve ser tomada até que possamos ter certeza de que certos tipos de medicamentos, especialmente antidepressivos,
antipsicóticos, anfetaminas e outros medicamentos de prescrição ou drogas ilícitas sejam removidos do corpo.

- Fentanil - Uso de fentanil deve ser suspenso por duas semanas antes do tratamento e, se for preciso, o paciente deve
mudar para um opiáceo de ação curta, tais como “oxicodona” ou “hidrocodona”. A administração de Ibogaína
diretamente após o uso de fentanil pode causar arritmias cardíacas.

- Metadona – A metadona possui meia-vida muito longa e pode causar complicações sérias de saúde por conta de
interações químicas. O uso da metadona deve ser suspenso por, no mínimo, 10 dias antes do tratamento e, idealmente,
2-3 semanas antes para garantir a segurança. Caso seja necessário, usar um opiáceo de curta atuação durante esse
período.

- Suboxone / Subutex (buprenorfina) – Assim como a metadona, essas substâncias são utilizadas em programas de
substituição. Esse agonista opiáceo também precisa de um tempo prolongado antes do tratamento, pois possui uma
meia-vida muito longa. Além da prolongada meia-vida dessa substância, ela possui uma forte “afinidade de ligação”
química que resulta numa forte “aderência” aos receptores opióides presentes no cérebro humano, os mesmos
receptores que a Ibogaína precisa acessar no seu processo de reparação de danos. Sua presença no organismo bloqueia
a ação da Ibogaína. A suspensão deve acontecer por no mínimo 7 dias antes, mas 3 semanas é o ideal (embora nem
sempre seja possível ou aconselhável). Caso seja necessário, mudar para um opiáceo de ação rápida, se possível. De
qualquer forma, é útil para qualquer paciente aprender a lidar com sintomas de abstinência antes de fazer tratamento
com Ibogaína.

- Outros medicamentos - Outros medicamentos que não devem, reconhecidamente, ser combinados com Ibogaína são:
Omeprazol, medicamentos anti-fúngicos, Clarityne e antibióticos. Todos eles precisam ser suspensos por pelo menos 5
dias antes do tratamento com Ibogaína.

- Drogas metabolizadas através da enzima “CYP2D6” e drogas que prolongam o “intervalo QT” (medida médica
relacionada à frequência cardíaca) - Drogas metabolizadas através da enzima CYP2D6 e drogas que prolongam o
intervalo QT precisam ser interrompidas antes da dosagem com Ibogaína. Para obter uma lista desses medicamentos,
consulte os seguintes websites:
http://medicine.iupui.edu/clinpharm/ddis/clinicalTable.aspx
http://www.azcert.org/medical-pros/drug-lists/list-01.cfm?sort=Brand_name

O citocromo P450 2D6 (CYP2D6) é uma enzima que está envolvida no metabolismo de inúmeros fármacos (enzimas são
proteínas que ajudam a iniciar ou acelerar certos processos químicos no corpo, aumentando a velocidade de reações
químicas que funcionam de forma geralmente lenta, tal como a quebra de alimentos ou medicamentos). A Ibogaína é
metabolizada no fígado em “norIbogaína” pela enzima CYP2D6. Esta enzima também está envolvida na quebra ou
ativação de muitos outros fármacos. Mais de um quarto de todos os medicamentos prescritos, algumas ervas e vários
alimentos são metabolizadas através da enzima CYP2D6 e, por isso, é extremamente importante a ausência de drogas
que se relacionem com essa enzima para que não haja risco interações medicamentosas negativas.

A Ibogaína, como muitos outros medicamentos que são metabolizados pela CYP2D6, pode produzir um prolongamento
do intervalo QT. O intervalo QT é a medição auferida por um eletrocardiograma que informa quanto tempo a

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eletricidade leva para chegar entre os batimentos cardíacos; um prolongamento do intervalo QT significa que o impulso
leva mais tempo do que o esperado e é um fator de risco para taquiarritmias ventriculares e morte súbita.

Um prolongamento do intervalo QT pode levar a um problema potencialmente fatal conhecido como “torsades de
pointes” (torção das pontas [trata-se de uma forte arritmia ventricular]).

- Medicamentos OTC (venda livre, isentos de prescrição) - Descongestionantes, medicamentos para alergia/febre dos
fenos, corticosteróides, analgésicos, estimulantes, antiácidos e medicamentos para insônia.

- Produtos e alimentos que devem ser descontinuadas antes da Ibogaína - Erva Goldenseal/Berberina, Erva de São
João, Erva Asafoetida, semente preta, Cúrcuma e Garden Cress, Kava kava, Valeriana, Black Cohosh, Scotch Broom
(inibidores de CYP2D6).

- Substâncias que prolongam o intervalo QT - Grapefruit, alcaçuz, quinino e laranja.

- Susbtâncias que podem esgotar os eletrólitos, comprometendo a correta metabolização da Ibogaína - Cascara
Sagrada, Senna, Aloe Vera (ingerida), Cavalinha, semente de aipo, Yellow Dock, Espinheiro, além de outros laxantes e
diuréticos.

- Substâncias que pode causar hipotensão (pressão arterial baixa) - Diuréticos e laxantes.

- Estimulantes - Substâncias que contenham Efedrina, Kola Nut, Guaraná.

Em linhas gerais, para permitir que qualquer droga seja eliminada do organismo, deve-se permitir, pelo menos, que
quatro meias-vidas (da substância) transcorram antes de se iniciar uma terapia com Ibogaína. A semi-vida é o tempo
que leva para que metade da dose original de um medicamento seja eliminada pelo corpo, de acordo com as
características químicas da substância.

Qualquer tratamento médico tem um risco inerente ao procedimento; estas orientações visam eliminar os riscos
oriundos de tratamentos feitos por pessoas sem competência, com medicação de má qualidade, em ambientes não
adequados.

4.5 - Preparação do paciente

Tomada a decisão de participar de uma sessão de Ibogaína, vem o início da preparação. É muito possível que o paciente
encontre uma profunda experiência transformadora que poderá ter um impacto drástico na sua vida e irá iniciar
mudanças estruturais que podem transformar as coisas de cabeça para baixo. Quanto melhor o paciente estiver
preparado ao entrar, melhor será seu aproveitamento e mais suave o processo será. Tradicionalmente, ao menos entre
os povos tradicionais africanos, entende-se que a experiência com a Iboga proporciona um processo de morte e
renascimento onde o iniciado "visita seus ancestrais” e renasce como um adulto ou uma pessoa curada. A experiência
com Ibogaína é muitas vezes um processo introspectivo em que se lida com o passado, o relacionamento com os pais,
traumas, responsabilidade, medos, decisões, etc. Reforçar esses aspectos sobre a vida do paciente durante o preparo,
de preferência com a ajuda de um terapeuta sensível ou experiente, permitirá que a sessão com a Ibogaína catalise
esse processo drasticamente. Uma importante questão refere-se à liberdade do paciente, o que implica uma
sensibilidade dos apoiadores em promover reflexões livres de seus próprios filtros e valores. Um apoiador mal
preparado corre o risco de “re-programar” um paciente de acordo com seus princípios e valores e isso deve ser
absolutamente evitado. O objetivo, como em qualquer terapia bem feita, é promover reflexões e ações que devem
partir sempre de um profundo processo de auto-consciência, balizados por medidas que progressivamente a pessoa
deve, por si própria, encontrar. Os apoiadores devem, apenas, facilitar a construção das medidas e instrumentos
psicológicos do paciente com vistas a um equilíbrio que se sustente exclusivamente por uma consciência de si próprio.
No caso da Iboga, que remete a pessoa a uma espécie de “tábula rasa” mental, onde a pessoa literalmente passa a ter a
oportunidade de uma nova “programação”, esse cuidado se faz especialmente importante.

As pessoas que têm medo podem fazer exercícios de respiração durante o preparo, o que irá ajudar durante os
momentos difíceis da experiência. Respirar profundamente na parte inferior dos pulmões e atuar sobre o ritmo da
respiração pode acalmar e ajudar o paciente a não resistir à experiência, mas a deixa-la fluir.

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Em uma minoria de centros/clínicas que usam Ibogaína, seus programas incluem terapia motivacional, terapia familiar
ou outras técnicas. Envolver a família ou parceiro neste processo pode aumentar a eficácia da sessão com a Ibogaína e
ter um impacto benéfico de longa duração em toda a estrutura familiar, especialmente no caso de vício grave onde,
muitas vezes, a “culpa” deteriora o relacionamento com os parentes do indivíduo.

Para chegar à abstinência prolongada em casos de dependência de drogas, é fundamental desenvolver um plano de
pós-tratamento com um terapeuta, ou, se você está em um programa de reabilitação de drogas, com os responsáveis
deste centro. Sem estratégias claras para fazer uma mudança na dinâmica pessoal, profissional e social relacionadas ao
abuso de drogas, é muito provável que a abstinência dure. A Ibogaína abre o que é chamado de uma "janela de
oportunidade" por semanas ou meses após a sessão, na qual o desejo por drogas é significativamente reduzido (ou
eliminado). É fundamentalmente importante usar esse tempo para colocar o plano de pós-tratamento em prática.

Outro elemento importante é a preparação física; a experiência com Ibogaína é longa e pode ser “puxada”. Quanto
melhor a condição física da pessoa, mais fácil e mais segura a experiência será. Alimentação saudável, suplementos
vitamínicos e minerais, sais minerais, abundância de líquidos, especialmente durante os dias antes da sessão, são
ideais. Pacientes que praticam exercícios físicos regularmente também terão “vantagens”.

No dia da sessão o paciente pode beber muita água e bebidas ricas em sais minerais após um café da manhã leve, de
modo que fique bem hidratado antes da sessão. Depois disso, é aconselhável parar de beber por algumas horas antes,
porque chegar ao banheiro pode ser uma tarefa extremamente difícil devido à ataxia induzida pela Ibogaína.

É extremamente importante que o paciente seja honesto sobre o uso de drogas nos dias antes ao tratamento. Medo da
abstinência pode ser uma razão para os viciados mentirem sobre a última dosagem preparada por eles antes do
tratamento, com consequências potencialmente fatais.

No caso de opiáceos, a Ibogaína é geralmente administrada quando os sinais de abstinência se apresentam. Alguns
centros optam por uma abstinência guiada por um período de tempo antes da administração no caso de estimulantes.
Esta desintoxicação anterior aumenta a segurança da sessão com Ibogaína significativamente. No caso de uma
dependência grave de álcool ou de benzodiazepinas muito cuidado com a interrupção, pois um corte agudo dessas
substâncias podem ter consequências fatais. O uso de álcool e benzodiazepínicos devem ser reduzidos
progressivamente antes da Ibogaína ser administrada.

É muito comum é a ideia de que existe a necessidade de abstinência prévia de 30 dias antes da aplicação. A maioria das
clínicas que existem por aí não pedem essa abstinência, e usam até essa conduta como estratégia comercial, tipo, "aqui
você pode tomar Ibogaína na hora, não precisa esperar". O fato é que isso demonstra desconhecimento do assunto. O
Dr. Bruno Rasmussen, médico, um dos autores do trabalho sobre Ibogaína publicado pela UNIFESP, explica o seguinte:
"O período de 10 a 15 dias após a parada de uso de cocaína ou crack é um período onde o coração da pessoa usuária
está se adaptando ao não uso ou à abstinência. Por isso, ele bate mais devagar do que o normal nessa fase. Isso está
bem estudado cientificamente e essa situação é chamada de alargamento do intervalo QT”. Durante o efeito da
Ibogaína esse fenômeno, o alargamento do intervalo QT, também ocorre, o que provoca, em níveis maiores ou
menores, bradicardia (coração batendo mais devagar). Se a pessoa toma Ibogaína, que alarga o intervalo QT, nessa
fase, onde ele (intervalo QT) já está alargado, isso pode desencadear uma bradicardia importante, significativa, que por
sua vez pode desencadear outras arritmias e até levar a pessoa a óbito. Sendo assim, a aplicação de Ibogaína antes de
30 dias de abstinência é formalmente (e idealmente) contra-indicada do ponto de vista médico, por questões de
segurança.

Outro detalhe importante é que nessa fase (descrita acima) a Ibogaína, por motivos pouco conhecidos, faz menos efeito
e a abstinência após o tratamento, em muitos casos, não dura muito. Se você conhece o caso de alguém que tomou
Ibogaína e não teve um bom resultado, pergunte se essa pessoa ficou abstinente por 30 dias. A maioria dirá que não, e
esse, teoricamente, é o principal motivo de insucesso neste tipo de tratamento. Esse ponto é um pouco complexo, pois
boa parte dos pacientes não consegue se manter limpo por período “tão grande”. É preciso traçar estratégias: Tenta-se
30 dias e vai observando. Se o paciente sentir que será impossível se manter abstinente, mas já se passaram, por
exemplo, 20 dias, pode ser um bom momento (ou o único momento possível). Outra estratégia pode ser através do
regime de dose, como por exemplo: Se a pessoa ficou “10 dias” limpa e está no limite da sua “agonia”, pode-se
considerar uma primeira dosagem mais fraca, com o intuito de reduzir sua necessidade por drogas e, num segundo
momento, com uma abstinência maior, aplicar as doses maiores. Várias combinações estratégicas são possíveis.

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Resumidamente, a ideia muito básica é: Quanto maior o período de abstinência do paciente antes da sua tomada de
Ibogaína, melhor. Trinta dias seria um número ideal.

4.6 - A sessão

Durante a administração da Ibogaína é importante que o paciente siga estritamente as orientações do provedor, e se
ele tiver quaisquer dúvidas, perguntas, medos, etc, esclareça tudo antes do início da sessão. Alguns provedores
trabalham com música gravada ou ao vivo, outros com o silêncio. O paciente é quem deve decidir. Uma dose teste deve
ser administrada antes da dose completa para ver o quão sensível a pessoa é e para detectar possíveis reações
adversas. A dose de teste reduz a abstinência de forma significativa na maior parte dos casos. Depois dessa vem a dose
completa (reset).

A administração da Ibogaína é, normalmente, dividida em duas fases distintas. A primeira fase é considerada a “fase
visionária” do tratamento, e geralmente dura entre 4-6 horas. É durante este período intenso que os pacientes vêm
cara a cara o que foi enterrado profundamente durante anos. Em um estado alterado de consciência, onde ocorrem
muitos sonhos, os pacientes fazem uma viagem pelo interior de suas vidas com descobertas de memórias e
circunstâncias diversas.

A segunda fase da Ibogaína é conhecida como a “fase introspectiva” do tratamento. Nesta parte do tratamento
acontecem as reflexões referentes aos traumas e memórias reveladas na primeira fase. Esta é uma jornada psicológica
profundamente introspectiva que ajuda os pacientes a perdoar quem tenha lhes causado dor no passado, além do
perdão de si próprio, e etc.

A Ibogaína funciona atuando nos receptores naturais encontradas no interior do próprio cérebro. Desta forma, a
Ibogaína elimina os sintomas de abstinência e ajuda o cérebro a produzir os elementos químicos necessários ao seu re-
equilíbrio.

A primeira fase é como limpar as pastas e arquivos em um disco rígido de computador. Durante esta fase a pessoa está
sempre consciente do fato de que ela tomou Ibogaína e do lugar onde está. Fechar os olhos permitirá ao paciente ir
mais fundo na experiência, abri-los pode diminui-la. Quando as coisas se tornam muito intensas, isso pode ajudar o
paciente a se conectar com o mundo exterior por um momento. Respirar profundamente algumas vezes também pode
ajudá-lo a relaxar. É importante que o paciente evite mexer muito a cabeça e o corpo porque isso pode causar náuseas.
Algumas pessoas vomitam durante a experiência, mas este nem sempre é o caso.

É fundamental a presença de um provedor (idealmente, dois) junto ao paciente durante a experiência. No caso de um
tratamento de desintoxicação de droga, é aconselhável (se possível) ter um médico presente durante toda a
experiência. Depois, uma pessoa experiente pode continuar.

Após a primeira fase terminar, começa a fase de integração. Neste momento o paciente pode comer uma fruta e beber
líquidos novamente. Para metabolizadores rápidos, as visões podem se extinguir completamente após esta fase;
metabolizadores lentos podem continuar a ter visões mesmo nesta fase. Em alguns casos, pacientes podem sentir que a
fase visionária não forneceu qualquer visão ou avanço terapêutico devido ao seu ritmo extremamente rápido, ou por
conta da sobrecarga de informações ou pela ausência do sentimento de integração emocional. No entanto, a
experiência não terminou. Na segunda fase, dentro de um processo cognitivo, todas as informações e experiências da
primeira fase devem começar a ganhar significado e revelar novas perspectivas. Não é necessário nenhum esforço
terapêutico neste momento, até mesmo porque isso poderia interferir no processo. Esta fase de integração pode durar
cerca de 24 horas. Quando a “noite cai” novamente, o paciente ainda pode ter "light trails" em sua visão. Sair para o
mundo real depois dessas 36 horas pode ser uma experiência muito intensa, já que o paciente estará muito sensível. É
importante que o paciente tente relaxar, dormir um pouco. Algumas pessoas têm uma menor necessidade de sono
após a experiência com a Ibogaína, mas não todos.

É prudente não chamar a família ou parentes do paciente antes de 36 horas após o procedimento, pois podem
interferir no processo. Se for o caso, basta o provedor deixá-los saber após a primeira fase que o paciente está indo
bem. Nos dias seguintes, o paciente deve descansar, caminhar na natureza, comer uma alimentação saudável, beber
muita água e se recuperar. Em caso de graves dependências de drogas como o da metadona, doses de reforço podem
ser necessárias durante as semanas seguintes para bloquear eventuais crises de abstinência residual.

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4.7 - Integração e Acompanhamento

Após a sessão, é muito aconselhável que o paciente continue seu processo terapêutico para que se integre
corretamente e comece a colocar em prática o que absorveu da sessão. Além disso, no caso de familiares ou parceiros
envolvidos no processo de preparação, estes devem, agora, continuar na fase de integração e seguir juntamente num
modelo de terapia de familiar ou, simplesmente, pelo menos, manter diálogos construtivos com o paciente. Se o
paciente desenvolveu um plano de cuidados pós-sessão, este deve ser seguido; coisas como “deslocalização”, ir para
uma comunidade terapêutica, participar de programas assistenciais, etc. Alguns centros oferecem um contínuo
programa de cuidados pós-sessão, muitas vezes em colaboração com alguma organização local, mas a maioria deles
não.

Nos meses após a sessão, o paciente vai encontrar-se em um processo de redefinição de quem é, onde quer ir com a
sua vida e as mudanças que precisa fazer. Durante a ocorrência dos processos subconscientes da experiência, que
experimentará mais tarde, quando voltar para a vida diária, o paciente experimentará sucessivos processos de
descobertas e remodelagem da sua relação com seu ambiente e consigo próprio. Este processo pode levar meses.

Se o paciente decidir voltar a usar a droga, por qualquer razão, ele deve ter cuidado com a dosagem. Sua tolerância
será muito menor e sua dose regular anterior pode levar uma overdose. Se ocorrer uma recaída, isso não
necessariamente significa que todo o processo tenha sido perdido, pois essa mesma recaída pode ter muito a ensinar.
Em contraste com a terapia de substituição, tais como os programas com metadona, a Ibogaína capacita o indivíduo a
assumir o controle sobre sua própria vida novamente. Algumas pessoas fazem uma segunda sessão de Ibogaína meses
mais tarde para continuar o processo de recuperação.

Há também relatos de pessoas participando de sessões de ayahuasca durante o processo de preparação alguns meses
antes e meses depois da sessão de Ibogaína para, potencialmente, complementar o processo terapêutico. Havendo
possibilidade, abertura e disposição do paciente, isso pode ser extremamente rico.

4.8 - Aspectos de segurança em pacientes do sexo feminino

Uma paciente de 24 anos de idade tratada com Ibogaína, num caso de dependência química, morreu por causas não
diagnosticadas, na Holanda. Embora sua autópsia não tenha determinado a causa da morte, identificaram níveis de
Ibogaína de 0,75 mg/litro de sangue. Este nível não foi considerado tóxico em pesquisas com animais ou em experiência
anteriores com humanos. Posteriormente a esta morte, e antes do falecimento de outra mulher suíça, que recebeu
Ibogaína durante uma sessão de psicoterapia na Europa, o FDA (órgão norte-americano que regulamenta questões
referentes a alimentos e medicamentos) excluiu as mulheres dos ensaios clínicos com Ibogaína realizados pela
Universidade de Miami (essa decisão do FDA é contrária às orientações sobre gênero dos Institutos Nacionais de
Saúde).

Cerca de trinta por cento das pessoas submetidas a pesquisas com Ibogaína são do sexo feminino e, até o momento,
não foi demonstrado efeitos negativos específicos por conta de gênero. No entanto, por questões fisiológicas diversas e
pela ocorrência de duas mortes de mulheres sem que se tenha sido possível a identificação das causas, deve-se dar
atenção especial para os casos de mulheres em procedimento com Ibogaína.

4.9 - Apoio Psicossocial

Todos os aspectos de tratamento de perturbações relacionadas à dependência química presentes em outras


modalidades de tratamento são comuns no caso da Ibogaína. Características do paciente em termos de psicopatologia
e comportamento, realizações pessoais e sociais, bem como as habilidades da equipe de tratamento são importantes
para o resultado final. Em casos raros, quando o paciente já tem as competências profissionais, educacionais e
profissionais necessárias para “ter sucesso” na sociedade, a tarefa pode ser um pouco mais fácil. Nos casos onde o
paciente não possui essas habilidades sociais, ou na impossibilidade de se obter cuidados médicos para os problemas
relacionados à sua dependência, amparo e cuidados devem ser fornecidos através de estruturas de apoio psicossocial.

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Traumas sofridos pelo paciente durante a infância parecem desempenhar um papel importante em processos de
carência afetiva, medo de abandono, muito comuns em pacientes adictos. Todos os paradigmas de apoio psicossocial
podem estar disponíveis para o paciente após a conclusão de um tratamento com Ibogaína. O uso das diversas
abordagens terapêuticas deve acontecer em função da avaliação das necessidades e progresso do paciente. Uma das
diferenças principais que assistentes sociais, conselheiros ou terapeutas observam em situações de “pós-Ibogaína”, em
comparação com indivíduos não tratados ou tratados com outros procedimentos, é a rapidez com que se pode (e deve)
fornecer apoio para ajudar o paciente a realizar seus objetivos e tomar suas decisões. A Ibogaína apresenta uma janela
de oportunidade preciosa, livre de sintomas, a qual tanto paciente quanto terapeuta devem aproveitar. Isto significa
mover-se rápida e precisamente para ajudar o paciente a estabelecer novas metas enquanto possui capacidade e
vontade de realizá-las. Por esse motivo é muito aconselhável que o paciente se submeta a sessões terapêuticas prévias,
para que ambos, paciente e terapeuta, conheçam melhor a realidade, condições e motivações envolvidas no caso. Um
processo terapêutico prévio permitiria ações e intervenções muito mais rápidas e precisas após o procedimento com
Ibogaína.

A Ibogaína, geralmente, produz um estado psicológico muito receptivo no paciente. Isso produz uma relação entre
paciente e terapeuta que é mutuamente benéfica e gratificante, mas que pode requerer do terapeuta um apoio
psicossocial um pouco mais difícil e mais rápido do que normalmente se vê em outras modalidades de tratamento. Em
alguns casos mais raros, antes do uso da Ibogaína, certas relações terapêuticas podem levar até dois anos com o uso de
métodos tradicionais, até que o paciente tenha estrutura e instrumentos internos suficientes para lidar com sua nova
“persona” pós Ibogaína. Em alguns casos mais graves, certos pacientes não possuem nem a mínima estrutura
psicológica para lidar com a “vida”, ou a mínima capacidade de reintegração social. Nesses casos, a Ibogaína pode até
interromper os dispositivos da dependência, mas sem uma reconstrução psicológica adequada, possivelmente essa
pessoa voltará às drogas.

Muitos dos parâmetros aceitos sobre a distância entre terapeuta e paciente não se aplicam no tratamento com
Ibogaína. A maioria dos pacientes necessita de orientações precisas e objetivas para sua nova jornada, para lidar com
sua nova personalidade (o que não significa que ele não pode tomar as “rédeas” de seu processo de
autoconscientização). Eles necessitam uma intervenção muito mais rápida do que em outras abordagens para aprender
habilidades sociais e consolidar seu instrumental psicológico. Portanto, a Ibogaína não é uma modalidade de
tratamento onde simplesmente se administra uma pílula e depois todos vão embora. Mas, apesar de todas essas
recomendações terem seus lugares, nem sempre o paciente terá disponibilidade financeira, geográfica, etc, para se
submeter a um procedimento “perfeito”. Em se tratando de Iboga, cada caso é um caso. É muito importante a
sensibilidade do terapeuta para analisar cada caso isoladamente, de modo a conseguir traçar o melhor plano para seus
pacientes levando-se em consideração as infinitas peculiaridades de cada caso.

4.10 - Os tratamentos atuais – um estudo de caso

“O relato a seguir refere-se a um tipo de paciente que vinha buscando há anos: um médico que precisava ser tratada
com Ibogaína. Esse paciente foi quimicamente dependente de 600 mg de “Demerol” (analgésico semelhante à morfina)
por dia, e havia tentado interromper seu vício por várias vezes, sem sucesso duradouro. Nosso interesse particular com
esse paciente se dava pela esperança de que, como médico, poderia nos fornecer algum insight profissional para os
resultados de seu tratamento. Ele escreveu várias notas e preparou um relatório sobre as quatro doses diferentes que
recebeu. O seu relatório é apresentado a seguir, em sua totalidade.

Esse paciente mostrou ser mais sensível à Ibogaína do que qualquer outro indivíduo pesquisado em nossos estudos.
Inicialmente, foi administrada uma dose intermediária, para efeito de teste (sensibilidade), de 10 mg/kg. Além do teste,
esta dose foi administrada como parte de um estudo farmacocinético e não era esperado nenhum efeito terapêutico,
mas teve. Como parte do protocolo, posteriormente foi administrada uma dose terapêutica de 20mg / kg. Outras doses
foram realizadas também, como descrito a seguir.

Dia 1 - 100 mg (dose teste # 1) - Tomei minha dose de Ibogaína, fui para a cama e fiquei deitado. Não senti nada até o
momento que a equipe de apoio chegou para fazer os primeiros testes, uma hora depois. Fiquei surpreso, porque em
minhas medidas mentais pensei que tinha tomado Ibogaína no máximo uns 20 minutos antes. Quando me levantei
senti um pouco de sonolência e foi difícil andar em linha reta. Eu sentia uma aversão à luz e mesmo qualquer pequeno
ruído parecia ser muito mais alto do que o real. Os sons estavam muito perturbadores para mim.

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Durante o teste da segunda hora, os sintomas estavam piores. Foi muito difícil andar em linha reta e o quarto parecia
bater como um coração. Eu me senti muito cansado, e a única coisa que eu queria era descansar na cama. Cada
movimento da cabeça parecia piorar as coisas.
Quando me levantei para o teste da terceira hora, senti que os sintomas estavam desaparecendo. Eu estava com muita
fome e comi. Depois de comer, fiquei um pouco enjoado. Nas horas seguintes não senti nada, exceto a sensação de que
as imagens em minha mente estavam muito mais ricas em detalhes do que antes, como num filme em 3D. Comi sem
náuseas, dormi muito bem e acordei em ótimo estado.

Dia 2 - 25 mg (dose teste # 2) - Com esta dose de Ibogaína não senti nada diferente em relação ao meu estado normal.

Dia 3 - 10 mg / kg (dose experimental) - Nas primeiras duas horas eu me senti um pouco diferente, como se tivesse
fumado maconha. Eu estava muito calmo e relaxado, e toda a tensão do início do processo tinha ido embora. O quarto
parecia estar um pouco diferente e as cores em torno de mim mais nítidas do que o normal. As luzes e sons estavam
perturbando como na primeira vez. De repente, com os olhos fechados, comecei a ver imagens exatamente como telas
de TV ou cinema. Estas telas foram aparecendo em tamanhos pequenos e, em seguida, ficaram maiores, quando passei
a focar minha atenção sobre elas. Às vezes elas apareciam pequenas e, em seguida, começavam a crescer como se
estivessem vindo em minha direção, sendo que às vezes iam da esquerda para a direita, de forma contínua. As imagens
nas telas estavam se movendo em câmera lenta e eram muito bem definidas. Eu vi árvores se movendo com o vento,
um homem com sinos em suas mãos, várias paisagens com montanhas e pôr do sol. Nesse momento eu estava um
pouco enjoado e, quando a equipe de apoio me pediu para ficar de pé para alguns testes, vomitei.

De todas as centenas de imagens que vi, reconheci apenas duas: a primeira, uma imagem de mim mesmo como uma
criança, estático como uma foto. Esta imagem começou a se aproximar de mim e ficar maior, mas algo no quarto
aconteceu e eu abri meus olhos, perdendo a imagem. A segunda imagem que reconheci era de alguns cavalos
dançando em um circo. Era um programa de TV que eu tinha visto dois dias antes. O tempo parecia passar muito
rapidamente porque, depois de cerca de quatro horas (em minha mente), me disseram que eu tinha tomado Ibogaína
nove horas mais cedo! Foi muito difícil para mim falar em Inglês ou em Espanhol. Só fui capaz de falar na minha língua
materna. Neste momento as imagens começaram a aparecer em um ritmo mais lento e, pelas duas horas seguintes, vi
apenas as “telas” sem imagens sobre elas.

Cerca de 10-11 horas após o início da experiência todas imagens desapareceram. Eu comi muito bem e fiquei acordado
a noite toda, adormecendo apenas às 07:00 AM, quase 24 horas após a dose ter sido tomada. Durante a noite eu tive
alguns insights sobre minha vida e sobre coisas que passei a perceber que estava fazendo errado. Fiquei todo o dia
seguinte muito cansado, sonolento, mas muito feliz e descontraído, de uma maneira que nunca tinha sentido antes.

Dia 5 - 20 mg / kg (dose terapêutica) - As 3 primeiras horas foram semelhantes à última vez, fotofobia e desconforto
com pequenos ruídos. Depois as imagens começaram a aparecer numa taxa mais lenta do que na outra vez. Havia
menos imagens, mas eu estava reconhecendo todas elas como sendo da minha infância. Eu me vi brincando na fazenda
do meu pai, andando de moto, brincando com um primo, alimentando um peixe e outras coisas. Eu vi algumas imagens
recentes, como a de meu pai rindo na sala da minha casa (isso aconteceu há cerca de um ano atrás). Entendi que tive
uma infância feliz e não havia ninguém a quem culpar pelo meu vício, só eu. Senti amor vindo de meus pais e parentes.
Eu estava sentindo a mesma distorção de tempo que senti no outro dia e, depois de muitas horas, de repente tive um
insight. Senti que minha mente e o universo eram a mesma coisa, e que todas as pessoas e coisas do universo eram
“uma coisa só”. Vi muitos erros que estava fazendo na minha vida, várias atitudes que não deveria ter, e isso me ajudou
a decidir, muito fortemente, que nunca mais usaria Demerol novamente. Agora consigo ver muito claramente que não
preciso de Demerol para viver a minha vida, e passei a entender que me sentiria muito melhor se não usá-lo. Durante
as primeiras 8 horas após tomar Ibogaína vomitei 4 ou 5 vezes, sempre quando tentava me mover. Consegui dormir por
volta das 04:00 AM e comer por volta das 09:00 AM do dia seguinte. Acordei me sentindo fraco, cansado e sonolento. À
medida que as horas passavam, passei a dormir muito e comecei a me sentir bem melhor. Na manhã do dia seguinte eu
estava normal.

Diferenças no dia-a-dia, após a experiência - Eu voltei para a minha vida normal, absolutamente sem ânsias, com
melhor apetite do que antes e muito autoconfiante. Agora consigo perceber diferenças em alguns aspectos da minha
personalidade. As coisas ficaram alteradas. Por exemplo, eu costumava evitar dirigir à noite, porque me lembrava de
um acidente de carro que tive anos atrás. Agora posso conduzir a qualquer hora, dia ou noite, sem a ansiedade. Tenho
certeza de que isso foi causado pela Ibogaína, pois não sou a mesma pessoa, que era muito ansiosa. Eu não estou tão
tímido quanto eu costumava ser, também. Ficou mais fácil agora contradizer as pessoas quando eu acho que elas estão
erradas, e para fazê-las saber o que quero e o que penso. Eu costumava aceitar tudo o que as outras pessoas diziam
apenas para evitar uma discussão, mesmo quando tinha certeza de que meu ponto de vista estava correto. Estes são os

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principais acontecimentos relacionados à minha experiência com Ibogaína, as principais que consigo perceber nestes
poucos dias.

Alguns meses mais tarde - A coisa mais importante que aprendi com tudo o que aconteceu é que nunca posso
subestimar o poder da personalidade viciante que tenho aqui dentro. Nunca poderei dizer que estou curado porque, se
fizer isso, esquecerei de me proteger dos pensamentos que me chamam às drogas. Preciso entender que tenho uma
doença crônica que ficará sempre “quieta” se eu não lhe der uma chance voltar. Esta decisão, e esse é o ponto, é uma
decisão consciente. Se eu desistir, a doença vai ficar fora de controle em poucos dias. Mas, se eu puder ser forte para
assumir o controle real e honesto da minha dependência de Demerol, serei livre para sempre. Há poucos dias, por
conta de necessidades profissionais, tive que manter duas doses de Demerol comigo, na minha casa, a noite toda. Para
me proteger, eu os entreguei à minha esposa. Mas, foi incrível ver como eu não estava ansioso para usá-los. Senti
claramente que o Demerol era uma coisa estranha ao meu ambiente interno. Não fiquei curioso para saber o lugar
onde minha esposa os guardou, e não senti qualquer desejo. Não quero ser chato, mas não tenho palavras para dizer o
quão grato nós, eu e minha família, ficamos. Vou me lembrar de vocês por toda minha vida.”

Não seria necessário dizer que este paciente tinha extremas vantagens para o alcance dos resultados positivos que
obteve. Ele tinha uma carreira bem-sucedida, estava altamente motivado, tinha apoio familiar, e não exigiu nenhum
apoio psicossocial como acontece com tantos pacientes que não possuem as mesmas condições.

Resumo - Nós só conseguimos rastrear, observar e acompanhar a minoria dos nossos pacientes, cerca de vinte e cinco
por cento. Na maioria dos casos, conseguimos manter contato direto com os pacientes por apenas dois meses após o
tratamento. Em um único caso, por cinco anos. A causa dessas dificuldades é, principalmente, a distância geográfica,
nacional e internacional, já que a maioria dos nossos pacientes vem de diversas cidades e países. Este fator, bem como
os problemas normais referentes ao rastreamento de uma população quimicamente dependente, deve ser levado em
consideração ao avaliar os resultados deste trabalho. Conclusões gerais com base nas observações do estudo são que
uma única administração de Ibogaína pode ser um interruptor da dependência química. Uma série de tratamentos
administrados ao longo de um período de tempo irá produzir resultados mais significativos e consolidados.

Um único tratamento com Ibogaína possui a capacidade de atenuar significativamente os sintomas de abstinência em
todos os pacientes. Em noventa por cento dos casos, um único tratamento foi capaz de interromper o desejo por
drogas por períodos de tempo que variaram de dois dias a dois anos e meio. Também foi demonstrado que a Ibogaína
possui a capacidade de precipitar a liberação de memórias reprimidas e fomentar um poderoso processo de catarse
afetiva/emocional.

A fim de obter o maior benefício para os doentes tratados com Ibogaína, uma estrutura de suporte psicossocial deve
estar sempre disponível. Fornecedores de Ibogaína devem estar sempre muito bem informados sobre os problemas da
adicção, processos e técnicas terapêuticas, compreender plenamente a transformação física e psicológica do paciente,
as vantagens entre as diversas formas de administração da Ibogaína, regimes de doses, aspectos de segurança e todas
as responsabilidades implicadas.

Devem também estar sempre preparados para acolher seus pacientes de forma amorosa e respeitosa. Em muitos
casos, essas abordagens serão as primeiras atenções deste tipo que o paciente experimenta em décadas.

O entendimento das ações da Ibogaína pode produzir dados importantes sobre a memória, a aprendizagem, sonhos e
sono, bem como sobre a dependência química, tolerância e abuso. Procure sempre compartilhar os conhecimentos
adquiridos com a comunidade de terapeutas e pesquisadores que trabalha com Ibogaína.

Estima-se que, no mundo, existem algumas centenas de milhares de usuários de drogas, e uma pequena parcela destes
usuários, entre 10 e 20%, são considerados pela psiquiatria como dependentes químicos. Para essas pessoas, que ficam
dependentes, há muitas alternativas de tratamento, tanto no Brasil quanto no exterior. Igrejas, Alcoólicos Anônimos
(AA), grupos de ajuda mútua, comunidades terapêuticas e diversas formas de psicoterapia. O problema é que a maioria
destas opções, para maioria dos pacientes, não funciona. Nos melhores casos, cerca de 30% dos participantes de
determinado tratamento param de usar drogas. Frequentemente, com determinadas abordagens, os casos de sucessos
ficam abaixo dos 10%.

Outro fator que chama atenção é a quase absoluta falta de tratamento farmacológico para a dependência química. Se a
medicina se desenvolveu rápida e bruscamente tendo como uma de suas principais ferramentas a farmacologia –
comprimidos, pílulas, xaropes e até mesmo injeções – o tratamento da dependência química ficou pra trás. No caso dos
opióides, bastante utilizados na América do Norte, há algumas opções de substituição, como por exemplo a metadona,

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que é oferecida como opção para usuários de heroína e morfina. Mas a metadona também vicia e causa vários
problemas de saúde, e é bastante discutível se é um tratamento de fato ou apenas a troca de uma droga ilegal por uma
legalizada. Já no caso das bebidas alcoólicas, cigarro, cocaína e crack, bastante utilizados no Brasil, praticamente não há
intervenção farmacológica disponível. Quando as pessoas estão passando pela famosa e difícil fase das fissuras –
vontades quase que incontroláveis de usar droga novamente – é comum o uso de fármacos calmantes, ansiolíticos ou
benzodiazepínicos. Mas isso não é exatamente um tratamento farmacológico para a dependência química
propriamente dita, e sim um auxílio para a grande ansiedade que os pacientes sentem nesta fase.

Temos então um problema recorrente em nossa sociedade de pessoas que abusam de drogas e não temos remédios
para ajudá-las a sair desse estilo de vida prejudicial e danoso. Nesse contexto, a alternativa da Ibogaína se destaca.

Foi publicado no “Journal of Psychopharmacology”, revista científica especializada em pesquisas variadas sobre
substâncias psicoativas, o resultado da nossa pesquisa (Unifesp) com Ibogaína, conduzida nos últimos 3 anos. De
maneira resumida, o que encontramos após entrevistar 75 pacientes dependentes foi que, após participarem no
tratamento com Ibogaína, 72% foram encontrados abstinentes. Esta taxa de sucesso inclui alguns pacientes que
estavam abstinentes, mas com ajuda de outros tratamentos que foram buscar após o tratamento com Ibogaína.
Mesmo se descontarmos estes da taxa de sucesso, ficamos ainda com 61% dos pacientes se declarando totalmente
abstinentes. Isto é ainda mais impressionante quando consideramos que vários destes pacientes já tinham feito outros
tratamentos antes, começaram a usar drogas muito cedo, antes dos 15 anos (alguns começaram a beber álcool antes
dos 10), mas não conseguiam parar. O tempo que ficaram abstinentes é igualmente impressionante: cerca de 5 meses
para quem tomou Ibogaína apenas uma vez e mais de 8 meses pra quem tomou Ibogaína mais de uma vez.

Mas nem tudo em tratamento de dependência se mede apenas com abstinência. Muitos haviam se divorciado, perdido
emprego, abandonado a faculdade e se distanciado dos filhos. Alguns retomaram os estudos, outros voltaram a cuidar
dos filhos e teve, inclusive, paciente que voltou a viver com a ex-mulher. Tudo isso nos indica que de fato a Ibogaína
tem um potencial extraordinário em ajudar abusadores de drogas a mudarem seu estilo de vida e a se reintegrarem na
sociedade, redefinirem suas prioridades e objetivos de vida.

É importante também garantir a segurança de quem toma Ibogaína. Em nosso estudo não encontramos nenhum caso
de efeitos adversos graves, como surtos psicóticos, e também não houve fatalidades.

Concluímos, portanto, que sim, a Ibogaína possui um potencial extraordinário para ajudar a “cuidar de” pacientes com
uso problemático de psicoativos diversos. Sendo este cuidado feito dentro de ambiente terapêutico com
acompanhamento médico, substância de procedência conhecida, dose precisamente estabelecida e apoio psicológico
para o paciente conseguir atravessar a profunda jornada interior eliciada por esta substância, podemos estar
testemunhando o nascimento de um novo e fascinante tratamento dentro da medicina psicodélica.

A taxa média de eficácia da Ibogaína para tratamento da dependência de crack é de 70 a 80%, que é altíssima,
principalmente quando lembramos que, além de ser uma doença gravíssima, as taxas de sucesso dos tratamentos
tradicionais é de 5%. Incrivelmente, essa taxa de 80% também é alvo de críticas. Porque não 100%, eles dizem? Já que é
tão bom, porque não cura todo mundo? Ora, nenhum tratamento médico é 100%, existem variáveis ponderáveis e
imponderáveis que influenciam na evolução dos pacientes, como a motivação, características individuais de cada
paciente, preparação adequada com psicoterapia pré e pós-tratamento. Tudo isso faz com que haja variações na
eficácia. O fato é que a Ibogaína é hoje, de longe, o tratamento mais eficaz contra a dependência que se tem notícia,
em toda a história da humanidade. Feito com os cuidados necessários é seguro, eficaz e não existem relatos de
sequelas posteriores físicas ou psicológicas.

Estudos em fase de publicação mostram que a eficácia do tratamento sério, bem feito, é de 72%. Assim sendo, pessoas
que vivem da cronicidade da doença, para as quais não interessa que haja cura e sim a perpetuação de uma situação, e
assim, indiretamente, a perpetuação de lucros, se insurgem contra ela. Em toda história da humanidade as inovações,
as mudanças de paradigmas, sempre foram combatidas. E apenas mais um detalhe: as outras opções de tratamento são
bastante ineficazes para que se possamos nos dar ao luxo de não dar à Ibogaína a atenção que ela merece.

Atualmente os tratamentos farmacológicos para transtornos de dependência química podem ser definidos, em linhas
gerais, como sendo de duas categorias: Terapia de substituição e terapias de aversão (Barber e O'Brien, 1999). 1) As
terapias de substituição incluem tratamentos que procuram substituir uma droga mais pesada por outra mais "leve" e
mais segura (crack por maconha, heroína por metadona, por exemplo), num processo gradual que objetiva, por fim, a
eliminação gradual e total das necessidades químicas e psicológicas do paciente. 2) Terapias de aversão incluem drogas
que interagem com a droga de abuso causando efeitos desagradáveis, tais como dor física, náuseas e vômitos. A

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esperança é que durante o uso dessas drogas o paciente irá evitar o uso da droga de abuso por causa dos efeitos
colaterais dolorosos ou desagradáveis.

A Ibogaína tem vantagens distintas sobre ambos os modelos de tratamentos. Ambas as terapias de substituição e de
aversão são tratamentos de longo prazo, o que requer visitas frequentes ao médico/terapeuta durante um período
prolongado de tempo. A terapia com Ibogaína envolve uma intervenção mais intensiva ao longo de um período de
tempo mais curto (Lotsof, 1994). Ao contrário das drogas usadas em terapias de substituição, a Ibogaína não é viciante.
A administração repetida de Ibogaína, em doses de 10 e 40 mg/kg, não resultou em dependência química em ratos.
Conforme observado anteriormente, a Ibogaína é considerada como tendo um baixo potencial de abuso. Terapias de
aversão, devido à sua natureza desagradável, muitas vezes mostram alta incidência de pacientes que não se adequam
ao método, sendo comum a recaída. Nenhum desses problemas se apresenta na terapia com Ibogaína.

Há um conjunto significativo de provas que sustentam a eficácia da Ibogaína no tratamento de distúrbios de adição
química.

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5. Questões Diversas

5.1 - Tratamentos piratas – orientações básicas para quem procura um tratamento

Um pesquisador disse: "Minha preocupação é com o mercado negro internacional atualmente existente onde a
Ibogaína está sendo comprada e vendida nas ruas, em sites da internet ou onde é usada sem a devida triagem,
cuidados e atenção necessária, o que pode levar a situações possivelmente perigosas. Nós não queremos ver a Ibogaína
se tornando mais uma droga ilegal estigmatizada. Questões como a qualidade do produto usado, regimes de doses, as
condições de saúde física e mental dos pacientes, etc, precisam ser muito bem compreendidos. Se assuntos como esses
forem levados sem responsabilidade, sem preparo, pode haver consequências muito negativas. A minha principal
preocupação é a segurança dos toxicodependentes. Resultados negativos podem atrasar ainda mais os estudos e testes
com a Ibogaína por todas as pessoas sérias e dedicadas. Mesmo no ambiente mais seguro possível, riscos ainda
existem. Essas medidas todas de segurança, ainda que possam soar como exageradas por muitos, precisam ser
tomadas, pois a irresponsabilidade de "um" pode colocar o trabalho de uma comunidade mundial inteira a perder, caso
algum governo decida por proibir a substância. Não só uma eventual proibição, mas o próprio acesso à substância pelos
adictos seria prejudicada, a começar pelo altíssimo custo dos tratamentos praticados atualmente, que se mantém assim
pelo fato da Ibogaína não ser uma substância regulamentada, ainda. Com a Ibogaína liberada para tratamentos
médicos/terapêuticos, os preços cairiam, seria mais fácil a produção, a importação, a disponibilidade, haveria mais
demanda, etc.

Portanto, para quem se propõe a trabalhar com Ibogaína, é preciso ter tudo isso em mente, ter um senso de
colaboração com toda a comunidade de provedores e adictos ao redor do mundo. É muito mais do que uma simples
questão sobre "meu jeito pessoal de fazer", ainda que todo provedor tenha a sua forma, os seus protocolos, etc.
Enquanto a Ibogaína não for amplamente testada, divulgada e reconhecida de uma forma responsável, toda a
comunidade de provedores deve se esforçar para trabalhar da melhor maneira que puder, além de buscar sempre o
compartilhamento de seus achados com outros pesquisadores e provedores. Além de ser uma luta contra os problemas
do vício, é uma luta conjunta contra sistemas governamentais completamente insensíveis à complexidade da vida.

Venho hoje comentar sobre a grande variação na qualidade das substâncias vendidas e fornecidas por aí como se
fossem Ibogaína. Já expliquei em postagens anteriores que só existe uma Ibogaína medicinal, fabricada segundo as
"boas práticas de manufatura" ou "Good Manufacturing Practices” (GMP), que é o padrão para medicamentos em todo
o mundo. A medicação GMP é a ideal para ser usada, é pura, sem contaminantes e muito menos tóxica que as não GMP
ou piratas como são chamadas.

Preocupados com essa grande oferta pela internet e por clínicas espalhadas pelo mundo (inclusive no Brasil) que
oferecem substâncias de origem desconhecida, e sabendo de vários casos ocorridos na Europa e Estados Unidos onde
pessoas tiveram de ser hospitalizadas após a ingestão dessas Ibogaínas "piratas", a ICEERS, uma ONG holandesa que
promove conhecimento sobre plantas medicinais, Ibogaína e Ayahuasca, iniciou o “Projeto de Análise de Iboga”,
visando, como o nome diz, analisar em laboratório a composição de amostras de Ibogaína fornecidas em todo o
mundo. As conclusões são preocupantes, pois a maioria das amostras tinha contaminantes diversos, substâncias que,
se ingeridas, poderiam causar reações imprevisíveis. Uma das amostras nem sequer era Ibogaína, o que é um problema
para o qual temos alertado ultimamente. Existe muita gente por aí, inclusive no Brasil, vendendo gato por lebre, ou
seja, a pessoa acha que vai tomar Ibogaína e na verdade está tomando algo completamente desconhecido.

O atual momento da Ibogaína merece uma tomada de consciência e um grande senso de responsabilidade das pessoas.
Aparece a cada dia novas pseudo-clínicas, todas alardeando uma experiência e um conhecimento que não possuem,
buscando atrair os incautos pacientes e familiares que, desesperados, tentam qualquer coisa sem pensar direito no que
estão fazendo.

O tratamento com Ibogaína é um procedimento que não é isento de riscos, deve ser feito, idealmente, em ambiente
médico-hospitalar, com o paciente internado para ser protegido e monitorado. O paciente deve estar limpo de drogas e
de remédios por um tempo variável de acordo com cada situação individual, e deve ser submetido a uma bateria de
exames antes do procedimento.

Não confie em locais que usam, como diferencial para fazer propaganda, o argumento de que não é necessária
internação, nem exames e nem abstinência prévia. Pelo menos 24-48h de internação são necessárias sim, para,
inclusive, proteger o paciente de qualquer evento adverso.

66
Existem pessoas que não entendem do assunto e tentam, com essa "facilitação" do tratamento, atrair desavisados.
Com essas atitudes colocam em risco a saúde de muitas pessoas.

Não confie em locais e sites que dão a entender que a Ibogaína é a "cura" da dependência química, isso é simplificar
demais um problema muito sério.

Não confie também em locais que indicam a Ibogaína como uma panacéia, que cura tudo, desde a dependência até
queda de cabelo (sim, isso existe, até shampoo de Ibogaína já inventaram). Claramente, isso é uma tentativa de
angariar mais pacientes e aumentar os lucros.

Se você está procurando Ibogaína para uma sessão de crescimento psicoterápico ou pessoal, o procedimento médico é
menos crítico. Um provedor de Ibogaína experiente, com um médico de plantão para cuidar de eventuais eventos
adversos, na maioria dos casos, é suficiente, mas somente se um exame médico foi realizado antes da sessão.

Há também vendedores on-line da casca da raiz da Iboga, extratos de Iboga (alcaloides totais - TA, precursores
alcaloides totais - PTA) ou Ibogaína HCL. A qualidade e potência de tais produtos variam bastante, e os lotes podem ser
misturados com outras substâncias potencialmente perigosas. Alguns oferecem ofertas de tratamento por e-mail ou
skype, mas isso não é seguro de jeito nenhum. Tomar Ibogaína sozinho é perigoso. Um provedor experiente presente
durante a sessão é crucial.

Devido à natureza destrutiva de algumas dependências químicas, determinar se a intervenção é um risco muito grande
para o paciente pode ser muito complexo de se determinar. Muitos tratamentos contra o câncer, por exemplo, têm um
risco elevado, mas, como o câncer pode ser uma condição com risco de morte, o paciente fica livre para escolher o risco
que ele está disposto a tomar para se curar. No caso de dependência grave, este também é o caso. É importante, no
entanto, estar consciente sobre os riscos que um tratamento com a Ibogaína pode carregar. Centros ou pessoas que
trabalham com Ibogaína devem sempre ter um protocolo de emergência e estar próximos de um hospital.

Existem muitas pessoas que, por ouvir relatos de conhecidos, por pesquisas na internet e por indicação de profissionais
da área, resolvem fazer um tratamento com Ibogaína. Mas como saber, nessa situação, que o tratamento que está
sendo oferecido é de boa qualidade? Que as pessoas envolvidas são corretas e sabem com o que estão lidando? Isso é
um problema sério, pois, infelizmente, nos últimos meses, tem aparecido uma boa quantidade de pessoas,
principalmente na internet, oferecendo ou o tratamento com Ibogaína ou a substância em si. Segue, abaixo, algumas
dicas que podem tornar sua decisão mais confiável e, o mais importante, livre de riscos para seu bolso e para sua
saúde.

O primeiro ponto refere-se a que tipo de Ibogaína tomar? Existem as opções HCL, TA (total alkaloids) e RB (root bark,
que é a raiz "in natura"). Em um contexto médico, para tratamentos, o ideal é a Ibogaína HCL GMP, ou seja, a Ibogaína
medicinal, com 98 a 99% de pureza, fabricada segundo as boas práticas de manufatura farmacêutica, com garantia de
pureza e qualidade da substância.

Existe muita pouca quantidade de Ibogaína medicinal disponível e o laboratório fabricante não vende pela internet,
então, aqui vai o primeiro conselho: não comprar Ibogaína pela internet. Não há como saber o que está se comprando,
pode ser de péssima qualidade ou nem mesmo ser a substância, e isso, se entregarem alguma coisa, porque esse
pessoal normalmente pede o dinheiro adiantado e não envia a compra. A principal fonte desses golpes é Camarões,
mas infelizmente no Brasil eles existem também.

A medicação é mesmo cara. Lugares que oferecem tratamentos/medicamentos muito baratos não estão oferecendo
medicação de boa qualidade.

A decisão de tomar Ibogaína deve ser sempre sua, não do seu pai, mãe, marido, esposa ou amigo. É algo sério que pode
não ser fácil e requer um difícil trabalho pessoal. A verdadeira motivação deve ser a base para esta decisão, caso
contrário, provavelmente não ocorrerá o resultado que seu parente esperava, o que poderia até mesmo causar culpa e
conflito entre o parente e o indivíduo, caso a experiência seja muito desafiadora.

As questões-chaves na tomada de decisão são: Por que eu quero tomar Ibogaína? Estou disposto a enfrentar meus
aspectos pessoais mais difíceis de uma forma tão intensa? Existem alternativas para a Ibogaína, seja para o tratamento
da dependência, a psicoterapia ou o crescimento pessoal? A Ibogaína é uma ferramenta terapêutica extremamente
eficiente, mas sua potência e a experiência induzida podem ser demais para algumas pessoas.

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5.2 - Análise de custos e valores cobrados

Ao analisarmos o custo de um tratamento com Ibogaína é importante compreender que há três aspectos que precisam
ser levados em consideração: A administração do medicamento em si, os procedimentos pré e pós terapêuticos
envolvidos e a internação (instalações e hospedagem). Quando realizado corretamente, esses três aspectos devem se
reunir para oferecer uma experiência agradável, segura e eficaz.

A administração da Ibogaína é fator crítico. Atenção médica adequada e cuidados devem estar presentes quando se
administra o tratamento. Há também muitos outros fatores que determinam a qualidade do procedimento, como a
qualidade da Ibogaína fornecida, o regime de doses, o tamanho da dose, os controles vitais do paciente, etc.

Também é muito importante a escolha das instalações onde o paciente se submeterá ao tratamento. Ao avaliar custos,
o paciente precisa levar tudo isso em consideração. Um tratamento de baixo custo pode ser muito menos eficaz. A
seguir, o que devemos considerar ao comparar diferentes níveis de custo:

Opções de tratamento disponíveis ao redor do mundo:

US$1.000 a US$5.000
Nesta faixa de custo dificilmente encontramos uma instalação de tratamento com equipe e procedimentos médicos
adequados.
- Instalações inadequadas;
- Falta de atividades terapêuticas, de relaxamento e entretenimento durante a internação;
- Falta de treinamento ou ausência de equipamentos médicos adequados.

US$5,500 a US$9,500
Este deveria ser o custo médio de um tratamento adequado. Nesta faixa de preço o paciente deve esperar uma
instalação de boa qualidade, que ofereça um tratamento de qualidade médica.
- Tratamento profissional com a presença de psicólogos, enfermeiros e médicos. Este tipo de instalação tem pessoal
qualificado à disposição para garantir que o paciente tenha uma experiência segura durante o tratamento;
- Aconselhamento terapêutico pré-tratamento. Isto inclui uma lista de medicamentos e alimentos que devem ser
evitados, assim como períodos de tempo para evita-los, de modo que o tratamento seja o mais eficaz possível.
- Atividades físicas, terapias corporais, massagens, etc.

$10.000 ou mais
São as opções “premium” de tratamento, com diferenciais de “atividades” e acomodações.
Alguns centros de tratamento com Ibogaína possuem suítes e outros tipos de acomodações semelhantes a hotéis, com
atividades que poderiam ser encontradas em “resorts”: snorkeling, mergulho, passeios a cavalo, passeios e tours,
compras, etc.

5.3 - Estatuto jurídico da Ibogaína

Desde a introdução da Ibogaína ao mundo ocidental como um interruptor de vício, tem sido lenta, por várias razões, a
obtenção da sua aprovação como um medicamento de prescrição, apesar do sucesso das primeiras fases de ensaios
clínicos e diversas pesquisas continuadas.

A Ibogaína não está incluída na “Lista Verde do Conselho Internacional das Nações Unidas para Controle de Narcóticos”,
ou na “Lista de Substâncias Psicoativas sob Controlo Internacional”. No entanto, desde 1989, tem estado presente na
lista de substâncias dopantes proibidas pelo “Comitê Olímpico Internacional” e da “União Internacional de Ciclistas” por
causa de suas propriedades estimulantes.

68
A convenção sobre diversidade biológica

A Tabernanthe iboga é uma espécie protegida no Gabão. Existem estudos neste país que sugerem que ela pode estar
ameaçada em seu habitat natural. Devido a isso, a Iboga pode se sujeitar aos termos da “Convenção das Nações Unidas
sobre a Diversidade Biológica (CBD)”, da qual 196 países ao redor do mundo (excluindo apenas os Estados Unidos e o
Vaticano) fazem parte.

Casos especificamente relacionados ao comércio internacional de Iboga proveniente do Gabão também podem ser
sujeitados ao “Protocolo de Nagoya sobre Acesso e Repartição de Benefícios”, uma expansão dos principais pilares da
“CBD”, que tenta garantir acesso e benefícios para os detentores de conhecimentos tradicionais que utilizam recursos
biológicos em suas tradições. 65 países são signatários deste tratado que entrou em vigor em 12 de outubro de 2014.

Recomenda-se que aqueles que estão envolvidos no comércio de Ibogaína obtenham todas as informações possíveis
sobre a situação de sustentabilidade dos processos envolvidos na extração da planta, sua relação com o Protocolo de
Nagoya, e seguir as precauções recomendadas.

Segue, abaixo, o estatuto jurídico da Ibogaína em vários países ao redor do mundo.

\ Canadá

Tanto a Ibogaína quanto o cloridrato de ibogaína são listados como produtos naturais de saúde no diretório canadense
de produtos naturais e medicamentos que não exigem prescrição.

- 27 de julho de 2015: A “Health Canada” divulgou um comunicado à imprensa considerando algumas preocupações
relacionadas à Ibogaína e algumas ações que deverão ser tomadas contra os fornecedores locais.

\ Estados Unidos

- Em 27 de outubro de 1970: O congresso norte-americano aprova o “Ato de Prevenção e Controle de Abuso de


Drogas”. A Ibogaína e seus sais e isômeros passam a constar na lista do capítulo 2 do documento "Ato de Substâncias
Controladas", como tendo elevado potencial de abuso, sem uso médico credenciado e sem segurança.

- 24 de outubro de 1968: O Congresso aprova a “Staggers-Dodd Bill”, criminalizando a posse de substâncias depressoras
e drogas estimulantes.

- 22 de novembro de 1967: Data quando a Ibogaína e seus sais passam a constar na lista de drogas depressoras ou
estimulantes, na acepção da “Foods, Drugs and Cosmetics Act”.

- 05 de julho de 1967: O comissário da FDC emite uma proposta para que a Ibogaína e seus sais sejam incluídos na lista
de drogas depressoras ou estimulantes por causa de seus efeitos alucinógenos.

\ Vermont (um dos 50 estados norte-americanos)

- 10 de março de 2015: O estado norte-americano de Vermont introduziu o projeto de lei 387, um ato relativo à
liberação da Ibogaína para tratamentos de dependentes químicos. O projeto de lei foi encaminhado à câmara dos
deputados, e será considerado pelo governador já no próximo ano. O objetivo desse projeto é desenvolvimento e
implementação de um programa piloto de três anos para pesquisas com Ibogaína no tratamento de pessoas viciadas

69
em drogas ou álcool. Para ser elegível, a pessoa deverá ser diagnosticada com um grave e persistente abuso de
substâncias por um prestador de cuidados em saúde, após a verificação de que todos os esforços médicos tenham sido
feitos ao longo de um período de tempo razoável e sem sucesso.

\ México e Caribe

Liberada para tratamento médico/terapêutico.

\ Suécia

- 2007: Esta decisão foi revista, mas as autoridades optaram por manter o estatuto jurídico atual.

- 1985: A Ibogaína foi classificada como uma substância “Schedule 1” e entrou para a lista de drogas do documento de
regulação e administração de drogas da Suécia, o que sugere que não tem valor medicinal. Portanto, na Suécia é ilegal
possuir ou distribuir Ibogaína.

\ Dinamarca

A Ibogaína e seus sais estão incluídos na “lista B” do documento “Ordem executiva da Dinamarca sobre substâncias
eufóricas”, que regula certas substâncias utilizadas para fins médicos e científicos. É possível a administração por
médicos, desde que se obtenha uma permissão especial do Ministério da Saúde do país.

\ Irlanda

A Ibogaína não é especificamente classificada nas leis irlandesas. No entanto, desde 2010, ela pode ser submetida às
disposições do “ato de justiça criminal” referente a substâncias psicoativas. A lei proíbe todas as substâncias
psicoativas, definidas como produto, preparação, planta, fungo ou organismo natural que tem, quando consumida por
uma pessoa, a capacidade de: a) produzir uma estimulação ou depressão do sistema nervoso central, resultando em
alucinações ou perturbação ou mudança significativa da função motora, do pensamento, do comportamento, da
percepção, da consciência ou do estado de espírito, ou, (b) causar um estado de dependência, incluindo dependência
física ou psicológica. No entanto, algumas diretivas deixam claro que, mesmo sem essa aprovação, qualquer estado
membro da “Comunidade Europeia” pode, em circunstâncias especiais, tomar medidas para o uso de substâncias
psicoativas por profissionais médicos. Portanto, na Irlanda, tratamentos com Ibogaína ainda se encontram numa
situação de indefinição.

\ Bélgica

- 22 de janeiro de 1998: A Ibogaína, bem como os seus isômeros, estão listados no capítulo 2 do decreto real de 1998
que trata de substâncias psicotrópicas, o que torna ilegal a importação, a exportação, a fabricação, a posse, a venda, a
entrega ou a aquisição, exceto com a autorização expressa do ministro da saúde pública.

\ Suíça

A ibogaína é classificada como uma substância proibida. Como tal, está sujeita às proibições estabelecidas na lei federal
sobre substâncias psicotrópicas. É ilegal a posse, o cultivo, a importação, a fabricação ou a distribuição.

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\ Hungria

A Ibogaína foi listada no documento “Novas substâncias psicotrópicas de regulamentação governamental”, de 2012.
Esta lei faz com que a fabricação, a importação, a exportação, a transferência, a aquisição, a distribuição, a
armazenagem, a manutenção, a pesquisa, a análise e a preparação fiquem sujeitas a rigorosas restrições de
licenciamento.

\ França

- 12 de março de 2007: Tabernanthe iboga, Tabernanthe manii, ibogaína e seus isômeros, éteres e sais de origem
natural ou sintética e todas as preparações que contenham essas substâncias foram adicionadas à lista de substâncias
controladas pelo Ministério da Saúde francês, tornando a Ibogaína ilegal de se possuir ou distribuir.

- 1966: A Ibogaína foi classificada na “Assembleia Mundial de Saúde” como uma substância suscetível de causar
dependência ou pôr em perigo a saúde humana, e o Comitê Olímpico Internacional proibiu a Ibogaína por ela ser um
potencial agente de doping. Na sequência desta decisão, todos os produtos que continham Ibogaína foram proibidos
para venda.

- 1938: O “Lambarene”, um extrato da planta “Tabernanthe manii”, é comercializado na França em cápsulas contendo
cerca de 8 mg de Ibogaína. Era indicado como um estimulante neuromuscular que promovia “combustões celulares”,
para fadiga, casos de depressão, astenia, convalescença, doenças infecciosas, etc.

\ Israel

- 26 de fevereiro de 2015: A Ibogaína foi temporariamente proibida para distribuição e ficará sob controle por um
período de 12 meses, para testes e pesquisas diversas. Após esse período, poderá ser liberada, proibida ou restrita.

\ Gabão

A Tabernanthe iboga, Tabernanthe manii e outras espécies endêmicas do Gabão fazem parte da cultura tradicional do
país. A legislação sobre Iboga no Gabão fica sob a jurisdição do Ministério da Cultura. De acordo com uma série de leis,
a licença para exportação de Iboga (e seus correlacionados) no país deve ser concedida pelo Ministério da Cultura.

O Gabão é signatário do “protocolo de Nagoya”, que trata do acesso a recursos genéticos e da partilha justa e
equitativa dos benefícios decorrentes da utilização desses recursos entre as culturas tradicionais que detém os
conhecimentos relacionados. Após 2012, qualquer iniciativa de exportação de produtos da planta Iboga deve provar
que o acesso e partilha dos benefícios serão devolvidos ao Gabão.

Em 2000, o então presidente do Gabão, Omar Bongo, declarou a Iboga como sendo uma “reserva estratégica de
herança cultural” e ordenou seu governo a tomar todas as medidas necessárias para proteger internacionalmente o
“produto” e erradicar a sua exportação ilegal.

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\ Austrália

- 2010: A Ibogaína foi listada como uma substância “schedule 4” no documento que regula assuntos sobre substâncias
venenosas. Como tal, só pode ser prescrita por médico autorizado pelo estado, além de ser necessária uma licença de
importação expedida pela Secretaria de Segurança Química da Austrália.

\ Nova Zelândia

A Ibogaína encontra-se numa situação de regulação experimental, submetida a revisões periódicas, onde pode ser
prescrita por um médico e administrada por um terapeuta.

Na maioria dos outros países ela continua sem regulamentação e sem licença para uso médico/terapêutico.

Situação do Brasil

No Brasil, a Ibogaína aparece apenas na “Lista comparativa de entorpecentes, substâncias psicotrópicas precursoras e
outras substâncias sujeitas a controle especial”, o que demonstra que ela não é, de forma alguma, registrada ou
controlada no Brasil. Como medicamento não registrado, a Ibogaína fica sob a jurisdição de regulamentos de
medicamentos não registrados, estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

É possível para um médico a prescrição de um tratamento com Ibogaína, caso no qual a Ibogaína purificada (cloridrato
de Ibogaína) pode ser importada, via solicitação médica, de um fornecedor certificado de acordo com certos critérios.
Ela deve ser importada de um país onde esteja legalizada apenas na quantidade necessária para o tratamento, sendo
que todo restante deve ser descartado. A revenda é restrita.

De acordo com a mesma fonte, o cultivo de plantas que contêm Ibogaína também é restrito sem a aprovação prévia da
ANVISA.

Para o uso em contextos religiosos não existe regulamentação alguma e, supostamente, pode ser utilizada.

A regulamentação no Brasil ainda é um assunto “obscuro”. Segundo a Anvisa, não há, atualmente, restrições legais à
Ibogaína no Brasil, conforme atualizações da Portaria nº 344/98 (que atualiza uma extensa lista de substâncias sujeitas
a controle especial) , mas seu uso como medicamento não está regulamentado, uma vez que a Anvisa não recebeu
nenhum pedido de registro para essa substância.

Obs.: Vale mencionar que a Anvisa liberou o Dr. Bruno Daniel Rasmussen, de Santa Cruz do Rio Pardo- SP, cuja clínica
possui infra-estrutura hospitalar, a importar e fornecer tratamentos com Ibogaína. Ele é a única pessoa do Brasil
liberada a importar e administrar Ibogaína no país. O motivo pelo qual ele é o – único - nesta situação, é
“desconhecido”. De qualquer forma, isso, no mínimo, indica que a Ibogaína não será proibida no Brasil e, mais cedo ou
mais tarde, será regulamentada para uso medicinal sob, provavelmente, rigorosos critérios.

Nos últimos meses temos visto uma inundação de notícias na mídia sobre a liberação, pela ANVISA, do uso de
medicamentos derivados da Cannabis Sativa, para uso em pacientes (a maioria crianças) com quadros de convulsões
epilépticas incontroláveis. Essa medida demostra sensibilidade e deve ser louvada. A agência, inclusive, divulgou nota
onde orienta como deve ser feita a importação desse tipo de medicamento. Nessas situações, o problema não é a
substância, mas o uso que se faz dela. Coincidentemente, algumas destas orientações da ANVISA também servem para
a Ibogaína medicinal.

Apesar da Ibogaína não ser restrita e nem controlada no Brasil, e muito menos proscrita, faz com que ela esteja sujeita
às mesmas regras de importação da Cannabis medicinal (Canabidiol), por exemplo. A diferença é que no caso da
Ibogaína não é necessária autorização prévia por não se tratar de substância considerada droga ou entorpecente, e
nem submetida a nenhum regime especial (Decreto nº 79094/1977 Art. 11, § 3º).

72
A ANVISA indica que é importante para que a importação seja legalizada que a medicação seja importada para uso
pessoal e que o medicamento a ser importado, apesar de não ser registrado no Brasil, seja registrado em seu país de
origem ou em algum outro país. Além disso, para a importação ser legal é necessário que haja uma prescrição médica
desse medicamento, ou seja, quando a pessoa decide que vai fazer um tratamento com Ibogaína é que começa o
processo de importação. Com uma prescrição médica, o medicamento é comprado no exterior e enviado ao Brasil em
nome do paciente. Essa medicação passa pela ANVISA nos aeroportos e é então liberada desde que esteja cumprindo
todas as normas de envase, rotulagem, lacre de segurança, datas de fabricação e validade, etc.

Locais onde se agenda o tratamento e que já contam com a medicação disponível demonstram, apenas aí, a
irregularidade da situação, pois deveriam aguardar uma prescrição médica para somente depois comprar o
medicamento. Se já tem o medicamento disponível é porque o mesmo entrou no Brasil "por debaixo dos panos" e,
fazendo assim, tanto quem vende como quem compra está violando o artigo 273 do Código Penal, sujeitando-se a
penas altas.

O artigo 273 do código penal diz o seguinte:

_______________________

CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Redação
dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer
forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. (Redação dada pela
Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os
insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. (Incluído pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998).

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; (Incluído pela Lei nº
9.677, de 2.7.1998).

II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; (Incluído pela Lei
nº 9.677, de 2.7.1998).

III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; (Incluído
pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; ( (Incluído pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998).

V - de procedência ignorada; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. (Incluído pela


Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

Modalidade culposa

§ 2º - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998).

73
Emprego de processo proibido ou de substância não permitida

_________________

Observações sobre o artigo 273: No caso da Iboga, as possíveis infrações seriam as indicadas no item “I” e “V” do
parágrafo “1º - B”: Produto sem registro e/ou de procedência ignorada.

É importante mencionar que este artigo do código penal trata de produtos destinados à prática terapêutica e medicinal.

Então, resumindo, existiria, teoricamente, apenas uma maneira de se fazer um tratamento com Ibogaína no Brasil
totalmente dentro da legalidade: Importando uma Ibogaína que seja registrada em seu país de origem, validada por
uma receita médica em nome do paciente, passando por todos os trâmites da Anvisa. Situação parecida (ou idêntica) à
do Cannabidiol.

Para o uso em rituais religiosos, a Ibogaína, teoricamente, encontra-se numa espécie de “ponto cego” jurídico. Não é
autorizada e nem proibida. Esse assunto carece de levantamentos mais acurados. De qualquer forma, observemos
abaixo as respostas sobre a Ibogaína respondidas pela “Coordenação de Fitoterápicos, Dinamizados e Notificados
(COFID)”, em 2014. As seguintes perguntas e respostas constam no relatório da Anvisa, de 2014, intitulado
“Consolidado de respostas aos questionamentos recebidos pela COFID em 2014”, disponível no seguinte endereço:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/56293380470b03d48a539b41cdd33a01/consolidadorespostaspublicar.p
df?MOD=AJPERES

As perguntas sobre Ibogaína foram as seguintes:

“[...]

A Coordenação de medicamentos fitoterápicos e dinamizados (COFID) apresenta neste documento as principais


respostas dadas, no ano de 2014, por meio do Serviço de Atendimento ao Cliente da Anvisa, como também aos
questionamentos recebidos das associações do setor regulado de fitoterápicos, no intuito de dirimir dúvidas como
também de harmonizar entendimentos sobre a regulação de medicamentos fitoterápicos e dinamizados (homeopáticos,
antroposóficos e antihomotóxicos).

[...]

4. Ibogaína

1. O usuário informa que entrou em contato outras vezes com a ANVISA, e já solicitou que o estudo da substância
Ibogaína fosse mais detalhado, pois a mesma já é proibida nos EUA e aqui no Brasil ainda não é, mas os efeitos
colaterais da substância são terríveis. O usuário deseja saber qual a posição da ANVISA referente ao assunto, e a
proibição desta substância no Brasil.

Resposta COFID: Informamos que não há, atualmente, restrições legais à Ibogaína no Brasil, conforme atualizações da
Portaria nº 344/98, mas seu uso como medicamento não está regulamentado, uma vez que a Anvisa não recebeu
nenhum pedido de registro para essa substância. Dessa forma, o único modo legal de utilizar a substância no país é por
meio da manipulação em farmácias autorizadas, a partir da prescrição de profissional habilitado.

Pelo fato de, até o momento atual, não existir produto registrado na Anvisa com Ibogaína, não nos foram apresentados
dados de publicações técnico-científicas ou estudos não-clínicos e clínicos que suportem a segurança e eficácia dessa
substância ou do derivado vegetal de iboga, portanto, não conhecemos quais os benefícios da utilização nem quais os
efeitos colaterais que pode causar. Orientamos que eventos adversos devido ao uso do produto sejam relatados por
meio do Notivisa, conforme link já disponibilizado anteriormente.

2. Prezados, meu nome é XXX e fiz uso de chá da raiz da Iboga em algumas pessoas, para tratamento religioso,
ocorre que algumas pessoas são contra e chegaram a mencionar que seria ilegal e eu poderia ter complicações, pois
não posso dar chá para ninguém... pergunto, como posso praticar minha crença de forma legal? Concordando ou
não, a lei é para ser cumprida, por isso peço auxílio dos senhores.

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Resposta COFID: A Anvisa regulamenta o uso de plantas medicinais empregadas com finalidade terapêutica,
comercializadas sob a forma de medicamentos.

No Brasil, os medicamentos podem ser industrializados por indústrias farmacêuticas ou manipulados em farmácias,
sendo essa atividade, em qualquer caso, regulada pela Anvisa. Assim, qualquer medicamento industrializado a base de
plantas medicinais deve ser registrado perante esta Agência e só pode ser produzido por empresa devidamente
autorizada, ou seja, que possui autorização de funcionamento expedida pela Anvisa. No mesmo sentido, medicamentos
contendo plantas medicinais só podem ser manipulados por farmácias devidamente autorizadas pela Anvisa. O uso não
medicinal das plantas não é objeto de regulamentação por parte desta Agência.

[...]”

Observação sobre a segunda resposta: O COFID diz: “O uso não medicinal das plantas não é objeto de regulamentação
por parte desta Agência”.

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6. Apêndices

Apêndice A

Manual para terapia com Ibogaína [protocolo Lotsof – segunda revisão, 2013]
Esta revisão do manual oferece informações adicionais sobre a terapia com Ibogaína, bem como diferentes filosofias de
fornecedores de Ibogaína e suas abordagens terapêuticas. Há consenso quanto aos benefícios da terapia pós-Ibogaína,
mas, nenhum acordo sobre qual é a melhor abordagem terapêutica. Muitos autores sentem que os critérios de
exclusão indicados no projeto de protocolo do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (NIDA) não são realistas
quanto aos inúmeros casos de adictos químicos que podem estar deprimidos ou exibindo outros transtornos
psiquiátricos e, também, para certos casos de ocorrência de HCV e / ou HIV entre possíveis pacientes. Há divergências
entre diferentes pesquisadores. De qualquer forma, esse manual é resultado de amplas e diversificadas pesquisas e
debates.

A terapia com Ibogaína tem surgido nos últimos 20 anos como uma opção viável para os indivíduos dependentes
químicos motivados que desejam cessar a sua dependência. O processo de aprovação regulamentar extremamente
caro e a relutância por parte de grandes empresas farmacêuticas em procurar aprovação regulatória no ocidente levou
à formação de movimentos "não-médicos" de tratamento com Ibogaína em muitos países. Este documento é destinado
aos médicos, bem como para terapeutas diversos com pouca ou nenhuma experiência médica, mas que são, contudo,
preocupados com a segurança de seus pacientes.

É de responsabilidade desses médicos e terapeutas a condução com segurança de todo o processo, não obstante
eventuais limitações de conhecimento clínico, adesão do paciente, tempo, dinheiro, etc. A segurança dos pacientes
tratados com Ibogaína é o principal objetivo deste documento. Problemas ou fatalidades relacionadas à Ibogaína
podem muito provavelmente ser evitados quando simples protocolos, dosagens corretas e acompanhamento das
diretrizes são cumpridos.

Este manual sobre "Protocolos Clínicos para Ibogaína" foi obtido sob o âmbito da "Freedom of Information Act (FOIA), e
inclui informações do "Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas" (NIDA)". As seleções são principalmente direcionadas
para questões de segurança. Aspectos das sessões terapêuticas do protocolo NIDA estão incluídos, bem como citações
bibliográficas relevantes para as seções do protocolo. Relatórios mais recentes com informações atualizadas estão
incluídas na seção "Documentos Adicionais".

As terapias com Ibogaína têm sido impulsionadas pelos seus defensores e administradas em muitos países, muitas
vezes fora de estabelecimento médico. Infelizmente, as questões de segurança não são frequentemente abordadas ou
avaliadas adequadamente. Nosso objetivo é fornecer orientações básicas e melhorar a segurança do paciente com as
melhores informações provenientes das melhores pesquisas sobre o assunto ao redor do mundo disponíveis até o
momento. Esta informação é disponibilizada para o benefício do prestador do tratamento e seus pacientes.

Tratamento

Consumo e Questões de Segurança

Não seria necessário dizer, mas é evidente que a maioria das pessoas fora de uma instituição de pesquisa não seria
capaz de realizar todos os testes apresentados no protocolo de Ibogaína do NIDA. O principal problema apontado pelos
autores é o fato de que a ausência de exames médicos tem sido a norma para muitas pessoas que recebem a terapia
com Ibogaína. Isso deixa tanto os fornecedores quanto os pacientes em risco. Os riscos não podem ser eliminados, mas,
como colocado pelo Dr. Curtis Wright na introdução deste artigo, os riscos devem ser pesados contra os benefícios. É
evidente, a partir dos resultados observados, que os benefícios são significativos. No entanto, com as várias mortes já
registradas, os riscos também são. A realização de determinados procedimentos de segurança não são para o benefício
da maioria dos pacientes que passarão pela terapia com Ibogaína sem problemas, mas, para garantir a sobrevivência de
uma pequena minoria de pacientes que podem experimentar alguma forma de evento médico adverso fatal.

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Uma das mortes registradas ocorreu em 1989, na França. O paciente, uma mulher de 40 anos de idade tomou uma
dose de 8 mg/kg de Ibogaína purificada para fins de psicoterapia, a partir da qual morreu cerca de quatro horas depois.
A dose administrada foi a mais baixa associada com o uso de Ibogaína, e o laudo da autópsia diagnosticou como a causa
da morte o bloqueio significativo das principais artérias do coração. Foi indicado que a paciente tinha um histórico de
doenças cardiovasculares que pode não ter sido corretamente investigado. Esse caso, e vários outros, indicam
diretamente dois aspectos sobre os quais todos os envolvidos precisam dar atenção prioritária: 1) O histórico médico e
2) um eletrocardiograma (ECG).

A forma mais comum de investigação de um histórico médico é através de um questionário que deve ser realizado com
cada paciente, além de registros médicos realizados pelo(s) médico(s) do paciente, caso já tenha se submetido a
consultas prévias por qualquer motivo. Entre as informações necessárias a serem investigadas, estão questões
relacionadas a doenças do coração. Perguntas adequadas, feitas corretamente, podem fornecer indícios sobre a
existência de alguma doença cardíaca. Como na maioria dos casos, determinadas condições médicas podem não ser
conhecidas pelos pacientes. Um electrocardiograma (ECG) deve ser o mínimo incluído em todos os casos de terapia
com Ibogaína. Rigorosamente, qualquer paciente com algum histórico de doença cardíaca não deve tomar Ibogaína.

Quer seja em um hospital ou fora de um ambiente médico, a segurança do paciente pode ser prevista pela simples
observação contínua do paciente. Auxiliares de enfermagem ou outra pessoa capacitada deve observar o paciente de
forma contínua durante 48 horas ou mais, se a resposta do paciente à Ibogaína exigir. Durante este período, pulso e
pressão arterial devem ser monitorados em intervalos regulares e em qualquer momento que os pacientes indicarem
desconforto ou o observador "sentir" alguma preocupação. Os intervalos regulares podem ser tão curtos quanto 30
minutos nas primeiras quatro horas ou, em seguida, em intervalos de tempo que podem variar de 1 a 4 horas após a
ingestão da Ibogaína.

Os observadores devem estar capacitados a fazer uma re-animação cardiopulmonar se for preciso, e estar preparado
para chamar um hospital ou serviços médicos de emergência toda vez que o pulso do paciente cair abaixo de 50
batimentos por minuto, caso isso venha a acontecer. Se você não estiver preparado para pedir ajuda de emergência
médica você não deve fornecer terapia com Ibogaína. Um hospital deve ser chamado a qualquer momento se um
paciente perder a consciência. Os números de telefone da emergência devem estar disponíveis para todos os
envolvidos, em todos os momentos. Observar um paciente em terapia com Ibogaína pode dar muito mais trabalho do
que uma pessoa efetivamente pode realizar. Por esse motivo, é necessária a presença de pelo menos duas pessoas
durante o processo.

O exame de sangue é um meio padrão de avaliação da saúde de um paciente e é frequentemente usado em avaliações
médicas de pacientes durante exames anuais ou para determinar a saúde de um paciente, a qualquer momento, para
qualquer finalidade. A SMA-20 (uma série de testes para avaliar a química do sangue), juntamente com um CBC
(hemograma completo), são ferramentas que fornecem uma ampla gama de informações relacionadas à saúde do
paciente. Precisam ser feitos.

A segunda fatalidade registrada foi a de uma mulher em seus vinte e poucos anos na Holanda que recebeu 29 mg/kg
numa dose dividida de 23 mg/kg e um adicional de 6 mg/kg cerca de 3 horas mais tarde. A paciente morreu 16 horas
após a administração da Ibogaína. A autópsia não determinou a causa da morte. A causa desconhecida da causa de
morte nos leva a outra importante questão de segurança. Já foi comprovado que a Ibogaína aumenta os efeitos de
opiáceos, bem como a toxicidade desses. A Ibogaína pode também aumentar a potência e toxicidade de estimulantes.
Assim, os doentes devem ser advertidos de que o uso concomitante de drogas durante a terapia com Ibogaína pode ser
fatal. Deve ser compreendido que a resposta a fármacos é individual e que cada doente pode apresentar uma diferença
muito "dramática", ou não, na forma como eles respondem à Ibogaína e outras drogas. Administradores de Ibogaína
devem minimizar o perigo para o paciente eliminando o uso de qualquer droga não autorizada enquanto sob a
influência da Ibogaína. É extremamente importante fazer o paciente entender que a interação medicamentosa pode ser
fatal. O terapeuta também precisa sentir confiança de que o paciente não usará nenhuma droga durante o processo.

A terceira fatalidade registrada ocorreu em 2000, no Reino Unido. O paciente era um homem de 38 anos a quem foi
administrado um total de 5 ou 6 gramas de um extrato total de alcaloides de iboga a 15% , ao longo de um período de 6
horas. O paciente parecia totalmente recuperado, tinha comido café da manhã, ido ao banheiro e de repente morreu
cerca de 38 horas após a administração do extrato da planta. O paciente tinha hepatite C, mas dados exatos sobre o
estado da doença não se tornaram disponíveis. O paciente usava heroína há 15 anos. A questão mais preocupante
relativa a esta fatalidade é que ela ocorreu repentinamente após a recuperação aparente do paciente. Esse extrato tem

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sido amplamente utilizado e não parece haver problemas maiores relacionados com fatalidades associadas ao extrato
em comparação à Ibogaína purificada.

O "NIDA", no seu projeto de protocolo, e a FDA, em protocolo aprovado em 1993, excluem pacientes com hepatite C.
Pesquisadores acreditam que os níveis plasmáticos associados à metabolização da Ibogaína em fígados com Hepatite C
podem responder pelas mortes de determinados pacientes. Outras organizações excluem também pacientes com HIV.
A NDA International Inc., em seus trabalhos na Holanda e no Panamá, aceitam pacientes com Hepatite C e HIV, desde
que não apresentem os sintomas dessas doenças. Como muitos usuários de drogas possuem Hepatite C, e como não há
nenhuma correlação direta conhecida de mortes de pacientes com Hepatite, a existência da doença como critério de
exclusão ainda é controversa. Pacientes com HIV não sintomáticos também já foram tratados sem eventos médicos
aparentes. O NIDA optou por excluir os pacientes com valores das enzimas hepáticas superiores a 400% acima do
normal a partir de estudos posteriores. A decisão de seguir os passos do NIDA para esses assuntos pode ser muito
razoável até que mais informações estejam disponíveis.

A Ibogaína parece ser uma droga muito segura em termos de "eventos psiquiátricos". Um dos autores tem
conhecimento de um único evento em um relatório no qual um paciente regrediu aparentemente, agiu de forma
infantil e urinou na cama por um período de dois dias, mas a partir daí se recuperou. Outro paciente que já tinha sido
hospitalizado em algumas ocasiões por conta de episódios psicóticos relacionados ao "cheiro de cola" tornou-se
paranóico durante seu primeiro tratamento com Ibogaína, além de ter exibido comportamento distinto de qualquer
outro paciente de Ibogaína durante seu segundo episódio de tratamento. Administradores de Ibogaína devem estar
cientes de que muitas pessoas, quimicamente dependente ou não, que os procuram são "border-lines" e, em alguns
casos, apresentam desordens psiquiátricas subjacentes significativas. Critérios de exclusão do NIDA para "pacientes
com um histórico de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos ativos, tais como disfunção cerebelar, psicose, doença
bipolar, depressão aguda, doença cerebral orgânica ou demência, que necessitam de tratamento" devem ser evitados,
e talvez considerados em casos onde a administração da Ibogaína aconteça sob rigorosos critérios médicos e com
supervisão psiquiátrica constante.

Qualquer coisa que possa ser aprendida sobre o paciente antes do tratamento é valiosa. Não se deve subestimar nada.
Qualquer informação pode ser de extrema utilidade caso seja necessária uma maior interpretação dos acontecimentos
após o tratamento.

Resumindo todas essas questões, todo paciente de Ibogaína deve realizar, no mínimo, um exame de sangue "SMA-20"
e "CBC", além de um eletrocardiograma.

Dose e efeitos

Depois de anos de avaliação de relatórios de centenas de tratamentos com Ibogaína, a dose eficaz para o tratamento
de dependência química, incluindo a dependência de opióides, tem sido entendida como sendo entre 15 mg/kg e 20
mg/kg de Ibogaína. Há relatos de alguns pesquisadores onde doses mais baixas são eficazes, mas isso tem sido
contestado. Os efeitos da Ibogaína geralmente surgem após aproximadamente 45 minutos e duram cerca de 3-4 horas
após a administração. Na maioria dos casos os sinais de abstinência são reduzidos após 45 minutos após a
administração da Ibogaína. A Ibogaína é geralmente administrada no momento em que o paciente tomaria sua
"próxima" dose de narcóticos. Em média, isto significa que o esquema de administração da Ibogaína consideraria sua
ingestão 8 horas após a última dose de heroína, morfina ou Demerol e 24 horas após a última dose de metadona, caso
o paciente ainda use essas drogas mesmo já tendo decidido por seu tratamento.

Outra questão em termos de dosagem é a consideração de que a determinação do tamanho de uma eventual segunda
dose deve levar em conta se a abstinência diminuiu ou não. Doses mais altas só devem ser administradas em ambientes
muito bem controlados, pois o risco de morte aumenta consideravelmente. Pode ser prudente permitir que a primeira
dose de Ibogaína aconteça somente após uma semana, se necessário, caso o paciente ainda apresente compulsão pela
sua droga.

Uma vez que a Ibogaína tenha sido administrada, os efeitos seguem. O paciente geralmente procura dormir de bruços e
isso, além de ficar o mais parado possível, deve ser incentivado por causa do risco de vômito. A pele tende a se tornar
insensível. Os pacientes irão relatar um zumbido ou som inicial oscilante. Um período de "visualizações" com duração
de 3 a 4 horas, na maioria, mas não necessariamente em todos os pacientes, é considerada como sendo a primeira
etapa importante dos efeitos da Ibogaína. Esta fase termina abruptamente e deve ocorrer com todos os pacientes.

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Outro efeito comum da Ibogaína são flashes aleatórios de luz que aparecem em todos os lugares com os olhos abertos.
Este efeito pode durar horas ou dias. As visualizações, no entanto, são mais comuns com os olhos fechados.

A segunda fase, que segue após a visualização, tem sido descrita como aquela em que o sujeito experimenta certas
avaliações cognitivas ou revisões de suas questões pessoais (os "entendimentos"). Estas avaliações podem cobrir de
tudo, desde cenários e situações experimentadas na sua primeira infância até seus problemas de saúde atuais. Em geral
esse período dura de 8 a 20 horas, podendo durar mais.

O terceiro ou último estágio da Ibogaína é uma estimulação residual. Esta fase, que tende a deixar o paciente um pouco
esgotado mental e fisicamente, pode ser desconfortável. Alguns indivíduos podem permanecer acordados por dois ou
mais dias. A maioria dos pacientes vai dormir dentro de 48 horas após a administração de Ibogaína. Alguns dentro de
24 horas após a administração. Normalmente, há uma diminuição da necessidade de sono ao longo de semanas ou
meses. Alguns pacientes podem requerer ou solicitar sedação. Sedativos que têm sido utilizados incluem
benzodiazepinas, barbituratos e melatonina.

Os efeitos aqui descritos são de uma única administração em regimes de doses elevadas. Existem regimes de pequenas
doses: 25 mg a 300 mg/dia (não por Kg), em pequenas doses diárias, onde a dose é aumentada numa base diária até
que a interrupção desejada da dependência se realize. Não há consenso sobre a eficácia dos regimes de doses baixas
como há para as modalidades de dose alta. Um caso muito conhecido de regime de dose baixa aconteceu décadas atrás
com as investigações de Leo Zeff, no caso de um paciente que recebia Ibogaína "conforme necessário", via
administração nasal, toda vez que ele sentia vontade de cheirar cocaína. O consumo de cocaína cessou uma semana
após essa estratégia. Além desse caso, relatórios provenientes de pesquisadores do Canadá relatam casos que usam a
estratégia de baixa dose (20mg/dia) ao longo de várias semanas no tratamento da dependência de cocaína. Tal como
acontece com todas as determinações em pesquisas médicas, as decisões devem ser tomadas, principalmente, a partir
de observações individuais que relacionam o histórico do paciente, suas condições de saúde, a droga utilizada, etc.

Abstinência de opiáceos

Uma questão que todos os administradores de Ibogaína (especialmente nos casos de dependência com opióides) terão
de lidar e resolver trata-se do desconforto causado pela abstinência das drogas. Para isso, pode ser muito útil durante
as entrevistas iniciais de admissão do paciente, perguntar sobre quais sinais, características e efeitos ele sentiu em
experiências anteriores de abstinência. No caso de opiáceos, esta informação será especialmente útil se o
administrador de Ibogaína tiver experiência com casos de abstinência de opiáceos em relação a pacientes dependentes
de outras drogas que tomaram Ibogaína. A razão disso é que certos efeitos da Ibogaína pode ser muito parecidos com
os efeitos da privação de opiáceos. Estes sinais podem incluir a incapacidade de dormir, náuseas, calafrios ou vômitos. É
a habilidade do administrador que irá permitir reconhecer se os sinais de abstinência são reais ou imaginários, para
ajudar o paciente a compreender a diferença. Ficar doente e apresentar certos "sintomas" podem ser estratégias
(conscientes ou não) do paciente para justificar a necessidade de mais uma dose da sua droga. A resposta condicionada
na obtenção de gratificação (drogas) e/ou atenção através da exibição de sintomas de abstinência (especialmente no
caso de opióides) é comumente utilizada por alguns pacientes e deve ser esperada. Geralmente, quando uma queixa de
abstinência ocorre, isso se dá em torno da 14º e 24º hora de tratamento e pode continuar durante todo o processo.

Dois modelos muito úteis de entrevista devem ser incluídos nas terapias com Ibogaína:

a) A "Escala objetiva de abstinência de opiáceos" (Objective Opiate Withdrawal Scale [PORCAS]);


b) A "Escala subjetiva de abstinência de opiáceos" (Subjective Opiate Withdrawal Scale [SOWS]).

A seguir, exemplos destas ferramentas de diagnóstico:

a) Escala objetiva de abstinência de opióides

Instruções: Avalie o paciente em função do que você conseguir observar durante um período de 10 minutos (cronometrados).

Data:____________________________________________
Horário:_________________________________________

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ITEM 1 PONTO PARA CADA ITEM PONTOS
Bocejo Presente
Rinorreia (nariz escorrendo) 3x ou mais
Piloereção (observar braço e peito) Presente
Lacrimejamento Presente
Midríase (dilatação da pupila) Presente
Tremores (mãos) Presente
Ondas de calor Presente
Calafrio Presente
Inquietação Presente
Vômito Presente
Contrações musculares Presente
Cólicas abdominais Presente
PONTUAÇÃO TOTAL (SOMA DE 1 A 13)

b) Escala subjetiva de abstinência de opióides

Instruções: Responda as seguintes declarações com a maior precisão possível. Assinale a resposta que melhor se adapta à maneira
como o paciente se sente.

Data:____________________________________________
Horário:_________________________________________

1 = Nada / 2 = Pouco / 3 = Moderadamente / 4 = Muito / 5 = Extremamente

Sinto-me ansioso 1 2 3 4 5
Sinto vontade de bocejar 1 2 3 4 5
Estou suando 1 2 3 4 5
Meu nariz está escorrendo 1 2 3 4 5
Sinto arrepios 1 2 3 4 5
Estou tremendo 1 2 3 4 5
Sinto ondas de calor 1 2 3 4 5
Sinto calafrios 1 2 3 4 5
Meus ossos e músculos doem 1 2 3 4 5
Eu me sinto inquieto 1 2 3 4 5
Eu me sinto enjoado 1 2 3 4 5
Sinto vontade vomitar 1 2 3 4 5
Meus músculos se contraem 1 2 3 4 5
Sinto cólicas estomacais 1 2 3 4 5
Sinto vontade de usar drogas agora 1 2 3 4 5

Pós-terapia

Os principais efeitos do tratamento com Ibogaína normalmente acontecem dentro do período de dois dias. Há exceções
com alguns pacientes onde a recuperação acontece em menos de 24 horas, enquanto outros podem exigir um dia
adicional ou até mesmo precisam ser estimulados a sair da cama, quatro dias após o tratamento. Posteriormente, os
pacientes tem o resto de suas vidas para processar a experiência, com a maioria dos pacientes necessitando algum tipo
de assistência terapêutica para avançar.

Entende-se que a adicção é uma condição crônica de reinscidência. O valor da Ibogaína não se trata apenas da
interrupção da abstinência, mas, em especial, do auxílio ao paciente para uma mudança de comportamento, tornando-

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o mais consciente de seus comportamentos, o que permite a elaboração de instrumentos psíquicos que permitirão a
mudança. Após a terapia com Ibogaína a maioria dos pacientes torna-se apto à mudança. Assim, a Ibogaína é uma
oportunidade única. A principal questão para quem administra Ibogaína é compreender a melhor forma de aproveitar
essa oportunidade.

Uma questão fundamental permanece: Qual forma de abordagem pós-terapêutica é a melhor após uma sessão com
Ibogaína? Existe pacientes que fazem uso da psicanálise, psicoterapia individual e/ou em grupo, com as mais diversas
abordagens, incluindo abordagens como a participação nos Narcóticos Anônimos, Alcoólicos Anônimos, etc.

A maioria dos pacientes indica, de várias formas, uma necessidade ou desejo de fazerem terapia ou ter algum suporte.
As questões se tornam mais complexas em pacientes cuja dependência de longo prazo deixou-os sem as habilidades
psicológicas, cognitivas, sociais para "funcionar" fora do seu universo das drogas.

Cada vez mais as agências governamentais ligadas às questões das drogas reconhecem que o preconceito em relação
aos usuários de drogas é um dos pilares do problema. Um número crescente de pesquisadores questiona se a proibição
não é um dos principais fomentadores das problemáticas em torno do viciado, uma vez que alimentam os preconceitos
em torno do assunto. Cada vez mais um número maior de pessoas discursa em apoio às políticas de redução de danos,
onde a minimização do nível de danos para os usuários de drogas e da sociedade é visto como uma prioridade em
relação a qualquer exigência imediata de abstinência.

Visão geral

A segunda revisão do “Manual de Terapia com Ibogaína” dedica especial esforço nas questões de segurança ao mesmo
tempo em que procura expandir as discussões em torno dos "regimes de doses" e as formas do composto, que incluem
as formas purificadas das indústrias químicas, bem como os vários extratos com intensidades variáveis. Estas questões
se tornam importantes na medida em que o uso da Ibogaína tem se popularizado cada vez mais em diversos países e
sob diversas circunstâncias. Alguns provedores de Ibogaína possuem instalações e protocolos tão avançados e
complexos, como outros que acontecem em ambientes não médicos, apartamentos, hotéis ou capelas, sem incluir
nenhum exame médico prévio.

Alguns provedores e pesquisadores da Ibogaína advertem severamente que há muitos registros oficiais de mortes e que
deve haver muito mais mortes não registradas. Quem administra Iboga precisa conhecer as condições do fígado, rim e
coração, além de ser capaz de avaliar os resultados. É importante também conhecer sobre procedimentos básicos de
reanimação e estar preparado para chamar assistência médica de emergência, se necessário. Isso nos remete a duas
questões essenciais: Os "testes-chaves" e a capacidade de compreendê-los. Embora as reações fatais possam acontecer
com praticamente qualquer droga (incluindo as lícitas), a questão com a Ibogaína, como com todos os medicamentos, é
que, uma vez assumindo o papel de "administrador", a responsabilidade passa a ser compartilhada, ética e
juridicamente, entre o paciente e o provedor. Só isso já justificaria uma rigorosa triagem das condições de saúde de
possíveis pacientes.

É importante considerar que pacientes do sexo feminino podem ser mais sensíveis à Ibogaína devido a observações já
realizadas de que em testes sanguíneos após a ingestão de Ibogaína as mulheres apresentam um nível maior de
Ibogaína e seu metabólito principal, a noribogaína, do que vistos em indivíduos do sexo masculino. Embora os fatores
de absorção e metabolismo sejam parecidos entre a maioria dos indivíduos, respostas individuais dos pacientes e, em
particular das mulheres, devem ser considerados.

Por fim, a principal questão é: Quem pode tomar Ibogaína?

Para essa questão, precisamos compreender os critérios de inclusão referentes à terapia com Ibogaína ou à iniciação
com a planta. Os termos "terapia" e "iniciação" são utilizados pois a Ibogaína está disponível em contextos tanto
religiosos quanto psicoterapêuticos.

Critérios de inclusão

1. A participação do paciente deve ser voluntária e não forçada. Observar se o paciente não está sendo forçado por
familiares ou coagido indiretamente por alguma situação jurídica.

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2. O paciente deve assinar um "termo de consentimento" no qual deve estar indicado, informado e explicado todos os
riscos e potenciais benefícios da terapia com Ibogaína.

3. O paciente deve passar por uma avaliação médica geral com um médico que apresente um relatório sobre suas
condições de saúde.

4. O paciente deve apresentar uma cópia de seu histórico médico, geralmente fornecido por seu médico, caso tenha
realizado exames e procedimentos médicos anteriores.

5. O paciente deve responder a um questionário "Beck Depression Inventory" (Inventário de depressão Beck).

6. O paciente deve fornecer um ECG (eletrocardiograma) e seu respectivo relatório.

7. Os exames de sangue, incluindo:


- Albumina: 3,9-5,0 mg/dl.
- Fosfatase alcalina: 44-147 UI/L.
- ALT (TGP): 6-59 UI/L.
- AST (SGOT): entre 10 e 34 UI/L.
- BUN: 7 a 20 mg/dl.
- Cálcio - soro: 8,5-10,9 mg/dl.
- Cloreto de soro: 101-111 mmol/L.
- CO2: 20 a 29 mmol/L.
- Creatinina: 0.8 a 1,4 mg/dl.
- Bilirrubina direta: 0,0 a 0,3 mg/dl.
- Gama-GT: 0-51 IU/L.
- Teste de glicose: 64 a 128 mg/dl.
- Fósforo - soro: 2,4-4,1 mg/dl.
- Teste de potássio: 3,7-5,2 mq/L.
- Séricos de sódio: 136 a 144 mq/L.
- Bilirrubina total: 0,2 1,9 mg/dl.
- Proteína total: 6,3-7,9 g/dl.
- Ácido úrico: 4,1-8,8 mg/dl.
- RBC (varia com a altitude): masculino: 4,7-6.100.000 células/MCL), feminino: 4,2-5.400.000 células/MCL).
- WBC: 4.500 a 10.000 células/MCL.
- Hematócrito (varia com a altitude): masculino: 40,7-50,3%), feminino: 36,1-44,3%.
- Hemoglobina (varia com a altitude): masculino: 13,8-17,2 g/dl, feminino: 12,1-15,1 g / dl.

8. Uma vez que o paciente atenda a todos os critérios de "inclusão/exclusão", deve-se administrar uma pequena dose
de 100 mg de Ibogaína para efeitos de teste. Se o paciente não apresentar nenhuma reação adversa ou atípica, uma
dose terapêutica total de Ibogaína pode ser considerada.

9. Administradores de Ibogaína que seguem protocolos médicos podem necessitar uma avaliação da atividade das
enzimas do citocromo P450. O citocromo P450 2D6 (CYP4502D6), particularmente, desempenha um papel significativo
no metabolismo da Ibogaína para noribogaína, seu metabolito ativo. Testes permitem determinar se o paciente será
um "metabolizador fraco" (PM), "metabolizador intermediário" (IM), "metabolizador extenso" (EM) ou "metabolizador
ultra-rápido"(UM). Este teste está disponível em laboratórios comerciais.

Critérios de exclusão

As seguintes indicações deveriam impedir uma pessoa de tomar Ibogaína:

1. Pacientes com histórico de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos ativos, tais como disfunção cerebelar, psicose,
doença bipolar, depressão severa, doença cerebral orgânica ou demência, que necessitem de tratamento.

2. Pacientes com pontuação no teste "Beck Depression Inventory" igual ou superior a vinte e quatro.

3. Pacientes que necessitem de medicações concomitantes à terapia que possam causar interações adversas com a
Ibogaína como, por exemplo, anti-epilépticos, antidepressivos, neurolépticos, etc.

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4. Pacientes com histórico de sensibilidade ou reações adversas em relação à Ibogaína ou eventuais remédios que
possam ser necessários durante o tratamento.

5. Pacientes com histórico de doença cardíaca significativa ou histórico de infarto do miocárdio.

6. Pacientes com pressão arterial acima de 170 mm Hg sistólica / 105 mm Hg diastólica, ou, abaixo de 80 mm Hg
sistólica / 60 mm Hg diastólica, ou, pulso superior a 120 batimentos por minuto ou menor que 50 batimentos por
minuto.

7. Pacientes com histórico de hipertensão não controlada por tratamento médico convencional.

8. Pacientes que receberam qualquer droga conhecida por seu alto potencial de toxicidade para o organismo, 30 dias
antes da administração da Iboga.

9. Pacientes com valores de exames laboratoriais significativamente fora dos limites especificados para parâmetros
normais.

10. Pacientes com doenças do sistema gastrointestinal, fígado ou rins, ou condições anormais que comprometam a
função destes sistemas e que possam alterar o metabolismo ou excreção da Ibogaína pelo organismo. Como não é
possível enumerar as muitas condições que possam prejudicar a absorção, metabolismo ou excreção, o administrador
deve se guiar por evidências tais como:

- Histórico de cirurgias do sistema intestinal (por exemplo, gastrectomia, gastrostomia, ressecções intestinais, etc.) ou
histórico ou diagnóstico de úlcera péptica ativa ou doença crônica do trato gastrointestinal como, por exemplo, colite
ulcerativa, enterite regional, doença de Crohn, sangramento gastrointestinal, etc.

- Indicação de insuficiência hepática.

- Indicação de insuficiência renal.

11. Pacientes com tuberculose ativa.

12. Grávidas.

13. Pacientes com Aids e/ou Sífilis.

Segue, abaixo, considerações de um pesquisador:

"Apesar do manual, discordo de alguns critérios de exclusão. Ao excluir os pacientes que estão deprimidos ou são
bipolares, excluímos uma parte considerável da população toxicodependente. Já foi demonstrado que metabólitos da
Ibogaína possuem efeito antidepressivo e provavelmente ajudariam esses pacientes. O tratamento adequado para as
condições psiquiátricas poderia ser administrado depois. Abaixo listamos um pouco da experiência que tivemos com os
pacientes que tomaram antidepressivos antes da Ibogaína. Uma vez que muitos pacientes apresentam transtornos
psiquiátricos, não consideramos prudente ou necessário suspender certas drogas por mais de 24 horas antes do
tratamento.

Abaixo, são apresentados três exemplos de tais pacientes. Todos eles suspenderam as medicações 24 horas antes do
tratamento e, aparentemente, não apresentaram respostas diferentes à Ibogaína ou quaisquer efeitos secundários
inesperados."

1) 22 anos de idade, sexo masculino. Prozac (fluoxetina) - 20 mg, por 14 meses.


2) 38 anos de idade, sexo masculino. Zoloft (sertralina) - 100 mg, por 2 anos.
3) 36 anos de idade, sexo feminino. Paxil (paroxetina) - 40 mg, por 1 ano.

83
"Como a maioria dos pacientes encontra-se deprimida, um antidepressivo de ação rápida pode ajudar nos dias após a
Ibogaína. O medicamento "S-adenosil-L-metionina (SAME)" pode ser útil. Se necessário, também prescrever "ISRS".
Este último demora cerca de duas semanas para começar a fazer efeito. Outra terapia simples, mas eficaz, é DHA
(ômega-3 ácidos graxos). Estes reduzem a depressão e estabilizam o humor".
Comentando sobre os critérios de exclusão, outro autor afirma, "eu não acho que a depressão deva ser tomada como
uma contra-indicação. Tratei uma senhora com uma depressão extrema esperando justamente que o tratamento
ajudasse, mas não, sua depressão não melhorou e a condição permaneceu inalterada. Essa senhora tomava
"Oxycontin", e a interrupção do uso de "Oxycontin" geralmente leva à depressão. Para casos como esses, sugiro a
retomada do uso de antidepressivos com início imediato após a terapia com Ibogaína sob a supervisão de um médico."

Além disso, outro autor indica que a “doença de Crohn” não deveria ser um critério de exclusão, pois um paciente
assim diagnosticado teve a doença em remissão após a terapia com Ibogaína. Enquanto outros autores não tiveram tal
experiência deve-se notar que estamos discutindo critérios baseados, sobretudo, em procedimentos médicos
experimentais e que a própria medicina convencional diverge sobre seus efeitos, expectativas ou eventos adversos.

Vários autores indicam eventos médicos adversos não fatais em pacientes com úlceras estomacais. A Ibogaína pode
causar dor e/ou hemorragias nestes pacientes. Se isso é consequência de irritação da mucosa do estômago ou um
efeito fisiológico sistêmico ainda não se sabe, mas seria considerável, nesses casos, estudos para saber se a
administração retal em vez da administração oral resolveria este problema.

Regime de tratamento e dose

1. O paciente deve estar descansado.

2. Todas as drogas que não sejam medicamente necessárias e/ou contra-indicadas devem ser interrompidas com
antecedência suficiente para serem eliminadas pelo organismo do paciente.

3. No tratamento da dependência de opióides, drogas opióides de curta duração devem ser interrompidas com pelo
menos oito horas de antecedência. O uso de metadona deve ser interrompido pelo menos 24 horas antes da
administração da Ibogaína.

4. A questão da sedação do paciente, em particular no tratamento da dependência de opióides, não é incomum. A


questão sobre as implicações da sedação durante o tratamento não estão respondidas. A maioria, se não todos os
provedores de Iboga, sentem que os efeitos da Ibogaína seriam mais efetivos sem sedação. No entanto, o conforto do
paciente é um problema real e a sedação pode ser um requisito no tratamento de casos específicos.

De acordo com certos estudos, a Ibogaína já foi administrada com segurança em conjunto com várias formas de
sedação, incluindo benzodiazepínicos, barbitúricos, melatonina, valeriana e camomila.

Um pesquisador comenta: "os benzodiazepínicos são úteis antes, durante e/ou após a dose de Ibogaína, caso haja
muita ansiedade. Se há considerável grau de ansiedade alguns dias após a desintoxicação, a "buspirona" é a melhor
opção por causa de sua baixa suscetibilidade em relação ao vício".

5. Vários autores comentam sobre a questão da hidratação ou desidratação reversa. Após o tratamento com a Ibogaína
o consumo de água é muito importante. Pacientes são orientados a beber pelo menos três litros de água por dia. Isso
não é apenas para evitar uma possível desidratação, mas, especialmente, para a eliminação dos metabólitos e toxinas
resultantes da metabolização da Ibogaína, que permanecem dias no organismo.

Por uma questão de segurança, é necessário que se fique atento se o paciente está se hidratando adequadamente após
o tratamento. Muitos pacientes não sentem sede por um bom período após seus tratamentos e nem sequer se
lembram de consumir líquidos, o que pode levar a uma desidratação e vômitos (o que agravaria mais ainda seu quadro
de desidratação).

6. O vômito é um sintoma conhecido por todos os administradores de Ibogaína. Ainda que alguns provedores acreditem
que o vômito possa ser benéfico como parte da terapia ou ritual, é considerável o fato de que os vômitos possam
atrapalhar o procedimento na medida em que podem eliminar a Ibogaína que ainda não foi metabolizada, do
organismo. Muitos provedores indicam o uso de substâncias tão diversas quanto o chá de gengibre, Dramin

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(dimenidrinato), Motillium (domperidona) e Reglan (metaclopramide). Pesquisas mais apuradas indicam que a
"metaclopramide 20 mg" é o único medicamento que interrompe imediatamente os vômitos.

7. Não existe consenso sobre o tamanho e regime de dose ideal de Ibogaína. De uma forma geral, pesquisadores
sugerem uma dose teste inicial de 2 mg/kg a ser fornecida junto com um anti-nauseante uma hora antes do
procedimento principal que deve ser, em geral, entre 13 - 16 mg/kg. O efeito da dose teste produzirá, geralmente, uma
ligeira euforia que pode tornar a pessoa mais receptiva para o que virá em seguida caso não tenha apresentado
nenhum problema no teste. Alguns provedores administram um reforço, resultando numa dose total de 19 - 24 mg/kg
após uma dose teste de 1 mg/kg, divididos em duas partes, a primeira sendo de 13 a 16 mg/kg e a segunda, de reforço,
5 a 8 horas depois, na concentração de 6-8 mg/Kg. Em alguns casos, alguns provedores administram ainda um reforço
adicional de 3-4 mg/kg 24 horas após o início da sessão, geralmente durante as primeiras horas da manhã antes do
nascer do sol. Esses valores são de referência, não são absolutos, podem variar entre pacientes, contextos, situações,
etc.

8. A utilização de um regime de doses múltiplas de Ibogaína, ao longo do tempo, em particular para a metadona, está
de acordo com uma série de pesquisas já realizadas.

Para efeito de ilustração, sobre como tudo isso como pode variar entre os mais diversos pacientes, apresentamos o
caso de um paciente viciado em metadona que usava 300mg por dia da substância, dose considerada como sendo a
mais elevada numa dependência de metadona tratada com Ibogaína de acordo com o provedor pesquisador.

- 1º dose: 52 horas após a última dose de 300 mg de metadona do paciente: Administração de 5.200 mg de "extrato de
Iboga".
Ao longo das 72 horas seguintes o paciente não apresentou sintomas de abstinência como de costume (diarreia,
vômitos, sudorese, coriza, dor de cabeça, etc), mas se sentia "miserável".
- 2º dose: 72 horas após a primeira dose do "extrato de Iboga", o paciente tomou 100 mg de "Cloridrato de Ibogaína
(Iboga HCL)".
- 3º dose: 96 horas após a primeira dose do "extrato de Iboga", o paciente tomou mais 100 mg de "Cloridrato de
Ibogaína (Iboga HCL)".
- 4º dose: 120 horas após a primeira dose do "extrato de Iboga", o paciente tomou mais 3.800 mg de "extrato de
Iboga".
- 5º dose: 168 horas após a primeira dose do "extrato de Iboga", o paciente tomou mais 100 mg de "Cloridrato de
Ibogaína (Iboga HCL).
- 6º dose: 192 horas após a primeira dose do "extrato de Iboga", o paciente tomou mais 100 mg de "Cloridrato de Iboga
(Iboga HCL).

Onze dias depois da sua última dose de metadona (300 mg), o paciente apresentava-se disposto, sem sintomas de
abstinência, lúcido, sem desejo ou desconforto de qualquer tipo. Esse paciente comeu muito pouco nesses 12 dias,
mas, mesmo assim, ganhou peso por conta do reequilíbrio de seu organismo, livre da metadona.

É preciso ter muito cuidado na distinção entre "Extrato de Iboga" e "Cloridrato de Iboga (Iboga HCL)".

Certos pesquisadores dizem que a dose de 15mg/Kg de "Iboga HCL" é uma dose ótima, em média, para a maioria dos
casos. Essa dose não é muito forte, nem muito fraca.

Identificação do produto

Existem três principais formas de Ibogaína, com diferentes graus de pureza, em uso para o tratamento da adicção
química ao redor do mundo. Estas substâncias podem ser, de forma altamente purificada, um extrato de T. Iboga, a
“Ibogaína HCL (cloridrato de Ibogaína), que geralmente varia entre 90% e 99% de pureza. A maioria dos extratos
utilizados são 95% pura Ibogaína. Estes extratos estão disponíveis com fabricantes de produtos químicos comerciais ou
por fabricação sob encomenda por químicos qualificados em laboratórios de universidades. A Ibogaína purificada
também pode ser obtida por conversão direta da planta "Voacangina" (derivado da planta Voacanga africana). Este
composto foi avaliado como contendo 99,4% de pureza.

A segunda principal forma de Ibogaína atualmente disponível é um composto de alcaloides totais bruto contendo, em
geral, 15% a 20% do total de alcaloides dos quais metade é Ibogaína pura. Como os outros alcaloides de Iboga contidos
nesse total também são ativos, este material deve ser visto como tendo uma potência de 15% a 20% de equivalência

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em relação à Ibogaína pura, dependendo da fonte e do lote. Esses compostos de alcaloides totais têm sido fornecidos
por fontes da Dinamarca e Canadá. A terceira forma de Ibogaína é a casca da raiz da planta em estado bruto.
Dependendo da potência, este extrato pode conter entre 1% e 6% de Ibogaína, sendo que a maioria apresenta
concentrações entre 2% e 4%. Qualquer pessoa que toma ou administra Ibogaína deve conhecer muito bem a
formulação da substância, pois, uma eventual confusão entre esses tipos, "Ibogaína purificada" e "extrato de alcaloides
totais" menos potentes pode causar uma reação fatal ou não ser suficiente para os efeitos desejados.

Embora as descobertas iniciais e as primeiras pesquisas com Ibogaína tenham utilizado, principalmente, doses
individuais que variavam, em média, entre 15 mg/kg a 25 mg/kg de Ibogaína, a crescente base de dados que tem sido
apresentada por pesquisadores em todo o mundo propõem vários regimes de dosagem. Estes regimes de dosagem
fazem uso de "Ibogaína HCL purificada", "extratos totais" e a "casca da raiz", exceto em modelos de administração
baseados no modelo religioso africano.

As doses consideradas como sendo terapeuticamente eficazes por uma variedade de pesquisadores variam entre 15
mg/kg a 25 mg/kg para a "Ibogaína HCL", e a partir de 3 a 5 gramas para "extratos totais" do alcaloide. Para fins da
presente discussão, uma dose terapêutica total da Ibogaína é aquela que permite todas as três fases de atividade da
Ibogaína na maioria, mas não em todos os pacientes: 1) O estado de "sonhador acordado", 2) o período de "avaliação
cognitiva e insights" e 3) o estado de "estimulação residual". Dependendo das circunstâncias e necessidades do
paciente, doses terapêuticas completas podem ser administradas de acordo com esquemas de múltiplas doses com
semanas ou até mesmo meses de intervalo.

Doses complementares de Ibogaína podem ser "médias" ou "baixas". Uma dose média seria em torno de 300 a 400 mg
de "Ibogaína HCL" ou, eventualmente, 1,5 a 2 gramas de "extrato total", enquanto doses baixas podem ser
consideradas no intervalo entre 25 a 50 mg de "Ibogaína HCL" e 100 a 300 mg de "extratos totais de alcaloides" . Doses
médias são geralmente usadas para impulsionar uma dose terapêutica onde o paciente apresenta sinais de abstinência
ou em casos diversos em função de um conjunto mais amplo de questões. Doses baixas são mais usadas entre dez a
vinte dias após a recuperação do paciente, após uma dose terapêutica completa, para efeitos antidepressivos,
ansiolíticos ou crises de abstinência. Muitas vezes esses esquemas de doses baixas são utilizados como preparação de
pacientes antes da dose terapêutica total de Ibogaína. É preciso compreender que o fornecimento de Ibogaína é uma
"arte" e uma ciência, e que os administradores podem utilizar uma multiplicidade de esquemas determinados
individualmente com base em múltiplos fatores, de acordo com sua sensibilidade e experiência.

Como informação adicional, as tabelas de doses comparativas referentes a procedimentos e rituais com Ibogaína, de
autoria de James e Renate Fernandez, encontrado no vol. 56 da série sobre alcaloides, publicado pela “Academic Press”
(2001), são mostradas abaixo.

Pesquisador: Alper et al.


Dose para facilitar a evolução e mudanças pessoais. 10 mg/Kg
Dose única para interrupção de vícios. 20 mg/Kg

Pesquisador: Lotsof
Dose a causar modesta euforia, percepção alterada do tempo. 90 – 120 mg
Dose em rituais onde a pessoa consegue, ainda, permanecer “sóbria” e “inteira”. 200 – 300 mg
Proporção para se conseguir raiz seca a partir da raspa da raiz fresca. 15/1
Proporção de alcaloides de Iboga na casca da raiz seca (50% Ibogaína). 2 a 3%
Quantidade de raiz numa colher de chá. 3 a 4 gramas
Quantidade de alcaloides de Iboga numa colher de chá, de acordo com as medidas acima. 60 a 120 mg

Pesquisador: Fernandez
Dose “de entrada”, uma colher de chá de casca da raiz seca. 60 a 120 mg
Dose máxima já observada em rituais de iniciação “Bwiti” (consumo gradual da raspa da raiz 1 Kg
fresca).
Quantidade de raiz seca a partir de 1 Kg de raiz fresca (1000/15). 67 g
Quantidade de alcaloides de Iboga na quantidade de raiz seca acima referida, assumindo-se 1,675 gramas
um teor médio de 2,5% de alcaloides.
Dose máxima de alcaloides observada em rituais de iniciação “Bwiti”, calculada por quilo de 33,5 mg/Kg
peso corporal numa pessoa de 50 Kg (portanto, uma estimativa de alta).

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Estudos de neurotoxicidade em animais
Dose alternada (dia sim, dia não) de Ibogaína, durante 60 dias, sem toxicidade observada. 10 mg/Kg
Dose associada a nenhuma evidência de toxicidade (mas com diminuição do uso de drogas). 40 mg/Kg
Dose associada a dano cerebelar. 100 mg/Kg

Terapia pós Ibogaína

Não há consenso de que qualquer forma de terapia complementar administrada após o tratamento com Ibogaína, após
seus efeitos mais agudos, seja mais eficaz do que qualquer outra forma de terapia no prolongamento dos períodos de
abstinência e eliminação do desejo de usar drogas. Isto também está de acordo com as conclusões encontradas nos
tratamentos para dependência química sem o uso de Ibogaína. Seria muito bem-vindo pesquisas referentes à eficácia
ou vantagens de uma modalidade terapêutica em detrimento de outras. A comunicação entre administradores de
Ibogaína devem ser estimuladas nesse sentido.

Uma pesquisa indica que o uso de tabaco deve ser evitado após o tratamento. A nicotina tem demonstrado atuar sobre
certos receptores sobre os quais a cocaína e outras drogas também afetam. Muitos pacientes sentem um sabor
diferente com os cigarros após seu tratamento com Ibogaína, e isso pode ser um estímulo para fazê-los parar. O uso de
adesivos de nicotina pode ser útil neste momento.

Outro pesquisador acrescenta: "No que diz respeito à questão da terapia adequada pós-Ibogaína, a partir de
experiência pessoal e leitura de literatura a respeito da cultura Bwiti, passei a entender que as terapias bioenergéticas e
outras psicoterapias baseadas no corpo parecem ser as mais úteis. Durante os rituais Bwiti dança-se constantemente
nos momentos onde as doses ainda não são muito fortes (durante as doses mais fortes, nos rituais de iniciação, a
pessoa fica imobilizada). Eu passei a ter certeza de que essas danças não acontecem à toa”.

Segundo o mesmo pesquisador: "Minha opinião pessoal, com base na minha experiência com Ibogaína, considerando-
se pacientes que fizeram ou não terapias diversas, é que às vezes há um problema real com a integração da experiência
com a Ibogaína propriamente dita, e não simplesmente um problema num nível psíquico-egóico. A tendência para o
desenvolvimento de uma "necessidade" de sistemas de crenças alternativos para evitar, "desacreditar", a integração
física da experiência é, em minha opinião, particularmente acentuada em pessoas tratadas com Ibogaína, ou seja, o
indivíduo precisa verdadeiramente acreditar em algo pois, geralmente, não é capaz de simplesmente pegar ou largar
uma crença que não seja sua. Portanto, terapias baseadas no corpo e terapias de liberação emocional como a "terapia
primal", "bio-energética", etc, são, provavelmente, altamente sinergéticas com a experiência da Ibogaína, na minha
opinião."

Outro pesquisador acrescenta: "Para tirar o máximo proveito de uma sessão é imperativo seguir com o tratamento. Se,
por exemplo, os programas de 12 passos (AA) ter algum apelo para o paciente, não poupe meios para incorporar o
programa em seu tratamento.

Pessoas com problemas de adicção possuem dificuldade em experimentar qualquer nível de dor, ou seja, a dor física ou
emocional deve ser evitada ou muito bem trabalhada durante todas as etapas do tratamento, caso contrário, um
"estoque" de energia compulsiva pode se formar.

Outro pesquisador comenta: "É muito frequente pacientes que pensam que se eles ainda sentem algum efeito da
abstinência ou desejo após mais de 20 horas após a ingestão da Ibogaína, é porque seu tratamento foi ineficaz e por
isso eles tendem a procurar uma dose da sua droga de abuso. Tanto o administrador quanto o paciente devem estar
cientes de que a Ibogaína muitas vezes precisa de alguns dias para estabilizar os seus efeitos".

É muito importante compreender a diferença entre tratamento da dependência com suas implicações médico-
fisiológicas, e o tratamento da dependência com os seus problemas psicológicos e sociais relacionados. Apesar do fato
de que a Ibogaína não esteja longe de uma "solução final", certas formas como muitas pessoas administram o
tratamento estão completamente distantes de uma solução. Tratamentos de "um dia", sem um programa terapêutico
de integração, não são procedimentos corretos.

Outro pesquisador comenta: "Terapias individuais podem ser boas, mas podem ser muito ineficientes em certos casos.
Existem psicoterapeutas brilhantes lá fora, mas poucos com alguma experiência com Ibogaína (se houver). Nesse
sentido, terapias corporais são extremamente importantes. Portanto, para pacientes que estão "desiludidos" com seus

87
terapeutas ou conselheiros, várias formas de terapias corporais podem ser muito eficazes: acupuntura, técnicas
massoterapêuticas, renascimento, respiração holotrópica, dança e terapias de movimento, etc. Qualquer coisa que faça
o paciente se reconectar com os traumas hospedados em seu corpo deve ser utilizada. Após anos de vício, a Ibogaína
pode trazer os motivos do sofrimento para a superfície, mas não necessariamente vai liberá-los, especialmente se eles
estão profundamente alojados. Por isso, as práticas mencionadas podem ser de extrema ajuda".

Outro pesquisador diz: "Também gostaria de sugerir que grupos de apoio são extremamente benéficos, apesar de ser
muito difícil a formação de grupos específicos com ex-pacientes tratados com Ibogaína. Devemos sempre estimular o
contato entre ex-pacientes, ainda que isso só possa ocorrer virtualmente. O ideal seria a formação de um grupo que se
encontrasse pelo menos uma vez por mês”.

Para concluir, nenhum programa de recuperação de "três dias" pode corrigir anos de abuso de substâncias químicas.
Portanto, é essencial um acompanhamento após o tratamento. A experiência com Ibogaína deixa o paciente
extremamente aberto e cheio de entusiasmo com suas novas perspectivas de vida. Terapias corporais, terapias em
grupo e individuais são essenciais, pois ajudam o paciente a manter essa transformação positiva e facilitam um
entendimento mais profundo sobre sua liberação de anos de abuso.

Orientações gerais para o paciente

- Ir acampar ou sair de férias, evitar antigos ambientes relacionados ao histórico das drogas.
- Praticar exercícios físicos como yoga e esportes.
- Alimentar-se de forma saudável.
- Evitar o uso de medicamentos. Optar por tratamentos e medicinas naturais.
- Ter um plano alternativo para quando sentir vontade de usar drogas. Ir ao cinema, sair com amigos, passear no
parque, ir a um shopping-center, livraria, café, etc. Sair, passear.
- Fazer terapia.
- Dormir bem.
- Considerar participar de grupos de apoio como o AA / NA, etc.
- Ler livros, artigos na internet, relacionados ao processo de adicção, recuperação, relatos de ex-viciados, etc.
- Ajudar outros adictos.
- Criar uma rede de apoio de amigos e familiares, as pessoas que você pode chamar por socorro.
- Reestabelecer antigas relações, construir novas.
- Fazer coisas divertidas, encontrar um hobby.
- Cultivar a amorosidade.
- Tentar parar de fumar.
- Ocupar-se, procurar um emprego, etc.
- Cultivar a auto-compaixão.
- Experimentar e cultivar uma relação equilibrada entre corpo / mente / espírito.
- Experimentar vivências como "Renascimento", "Respiração Holotrópica", "meditação", etc.

Equipe de apoio e ambiente

Geralmente, a sala de sessão deve ser agradável e as interações sociais com os membros da equipe devem ser apenas
para efeito de suporte. Paredes em tons pastel, cama confortável, murais, pinturas ou imagens relaxantes, iluminação
fraca, banheiro próximo, uma cadeira confortável para o membro da equipe ou terapeuta que ficará de observação.
Qualquer diálogo que aconteça deve ser atentamente correspondido, mas deve ser sempre iniciado pelo paciente.

Avaliações durante o tratamento

- Cardiovascular: Medir a pressão e batimentos cardíacos a cada 30 minutos e toda vez antes de se administrar a
Ibogaína.

- Neurológica: Observar constantemente, em especial nos momentos de administração da Ibogaína, qualquer alteração
em termos de funcionamento neurológico, como, por exemplo, alteração nos padrões de fala, náuseas e vômitos, etc.

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- Psicológica: Observar e registrar o que os pacientes dizem espontaneamente. Isso pode ser especialmente útil no
processo pós-terapêutico.

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Apêndice B

Clinical Guidelines for Ibogaine-Assisted


Detoxification
Current Version:
1.0 (September 2015)

Authors:
Jonathan Dickinson
Jamie McAlpin, R.N.
Clare Wilkins
Christine Fitzsimmons, R.N.
Paige Guion, R.N.
Tanea Paterson
Douglas Greene
Bruno Rasmussen Chaves, M.D.

Editorial Committee:
Jeffrey Kamlet, M.D., DABAM, FASAM
Roman Paskulin, M.D., Ph.D.

Copyright
© The Global Ibogaine Therapy Alliance, 2015.
Some rights reserved.

This text contained herein is licensed under a


Creative Commons Attribution-NonCommercial
4.0 International License.

90
Aviso legal

Este documento é apenas para fins informativos. Ele não oferece diagnóstico ou prescrição. A informação não deve
substituir o conselho de um profissional médico. Foi elaborado com a finalidade de ajudar as pessoas a formular e
compilar perguntas para seus prestadores de serviços médicos e potenciais considerações referentes a questões
técnicas e jurídicas para que médicos e terapeutas estabeleçam seus padrões individuais de práticas referentes à
Ibogaína. Não se destina e não é adequado para ser usado como critério médico ou jurídico. Os autores e editores deste
documento são apenas livres consultores e não se responsabilizam pelos possíveis usos deste documento.

Agradecimentos

Nós gostaríamos de agradecer àqueles que fizeram contribuições significativas para o conteúdo ou a estrutura do
documento durante a fase de consulta. Particularmente, Uwe Missa, M.D., Cornelius Van Dorp, M.D., Andrew Dekkinga,
R.N., Suster Strubelt, Aná Van Dorp, Rocky Caravelli, Asha Caravelli, e Damian Thomas. E para todos os outros que
forneceram orientação e informação ao longo do desenvolvimento destas diretrizes.

Isso não seria possível sem o trabalho pioneiro que foi iniciado por Howard e Norma Lotsof, bem como dezenas de
outros que fizeram contribuições significativas para as primeiras fases de investigação da Ibogaína.

Particularmente, estamos em dívida com as dezenas de prestadores de terapia que tenham descoberto o
conhecimento que é encontrado dentro destas páginas, e as almas corajosas que se submeteram às experiências de
mudança de vida com a Ibogaína, que continuam a inspirar este projeto. Há também vários outros nomes.

Não seria necessário dizer sobre nosso reconhecimento e agradecimento ao uso milenar da Iboga nas culturas
tradicionais e àqueles que continuam essas tradições tão vibrantes até os dias de hoje.

Introdução

A Ibogaína é uma substância psicoativa encontrada em uma variedade de espécies de plantas da família Apocynaceae,
mas principalmente na Tabernanthe iboga. Ela já demonstrou eficácia no tratamento de vários transtornos por uso de
substância (SUDS), e particularmente para a desintoxicação de transtornos com opióides e a redução dos sintomas
agudos de abstinência em casos de dependência química (Alper 1999, Brown 2013).
Por esta razão, a Ibogaína continua a gerar um interesse crescente entre os profissionais médicos, bem como o público
em geral, especialmente aqueles que procuram alternativas para as modalidades de tratamento convencionais.

Esta promessa acompanha riscos físicos e psicológicos reconhecíveis. A Ibogaína ainda não foi desenvolvida como um
medicamento de prescrição. No entanto, alguns países têm explorado ou estão explorando modelos de prescrição
experimentais de modo a torná-la disponível para o uso em casos de desintoxicação. Outros países implementaram
rigorosas proibições ou restrições contra seu uso, em grande parte, sem o reconhecimento do seu benéfico potencial
médico. Em muitas outras regiões, a Ibogaína é usada tanto sob os auspícios do "cuidado compassivo", ou como um
tratamento não aprovado.

Tem-se observado que a falta de práticas clínicas padronizadas nos ambientes experimentais em que a terapia com
Ibogaína é geralmente praticada apresenta um aumento dos riscos associados à sua utilização (Alper 2007). O objetivo

91
destas orientações é consolidar o conhecimento existente recolhido a partir de milhares de tratamentos realizados
desde o início de 1980 em uma variedade de ambientes médicos e não médicos.

A maioria das informações apresentadas neste documento é apoiada por pesquisa publicada. Em outros lugares, elas
são resultantes de várias experiências clínicas, sintetizadas através de extensas entrevistas com prestadores da terapia.

É nossa esperança que as informações aqui apresentadas sejam úteis para os profissionais médicos que desejam
compreender as práticas clínicas atuais; no desenvolvimento de protocolos para ensaios clínicos; e aos agentes de
decisões políticas que desejam avaliar potenciais caminhos para uma regulação eficaz do detox causado pela Ibogaína
como um medicamento de prescrição. Finalmente, esperamos que ele leve ao desenvolvimento de normas mínimas
universais de assistência no futuro.

Gerenciamento de riscos

A metodologia de gestão de riscos utilizada nestas orientações é baseada nos padrões da Organização Internacional do
ISO31001: “Enterprise Risk Management”. Este documento usa a definição de risco descrita no “Guia ISO 73”, que o
chama de "o efeito da incerteza nos objetivos." Este efeito tem o potencial de ser positivo ou negativo, mas a sua
gestão eficaz é fundamental para garantir resultados positivos.

Escopo deste documento

Este documento foi produzido em um esforço para identificar os riscos conhecidos associados ao uso da Ibogaína, e
para apresentar diretrizes de gerenciamento de riscos em um ambiente clínico. Embora outras aplicações de Iboga e
Ibogaína (bem como seu metabólito norIbogaína, e um análogo da Ibogaína, a 18 Methoxycoronaridine (18-MC))
também sejam exploradas, o escopo deste documento irá se referir especificamente ao uso médico do cloridrato de
Ibogaína purificada (Ibogaína HCL) como uma ajuda na desintoxicação em casos de transtornos de adicção.

Embora este guia incida sobre a capacidade da Ibogaína para atenuar os sintomas de abstinência, é prático notar que
um número significativo de pacientes com transtornos por uso de drogas também são usuários de múltiplas substâncias
e/ou outros distúrbios psicológicos ou físicos correlacionados. Muitas dessas questões também serão discutidas ao
longo deste documento.

Uma quantidade significativa de pesquisas ainda é necessária para se entender completamente a natureza da
experiência com Ibogaína e suas implicações no tratamento de dependência química. Estes estudos deverão exigir a
colaboração global entre várias disciplinas, incluindo a psicologia, a sociologia, a etnofarmacologia, a filosofia e religião
comparada, entre outros. Essas diretrizes não funcionam como um livro ou um manual, mas as considerações
delineadas podem ser úteis para os profissionais médicos e terapeutas no desenvolvimento de protocolos clínicos.

Contexto e cuidados continuados

Enquanto as áreas de psiquiatria e medicina alopática se concentram principalmente nos fundamentos biológicos da
adicção, existem fenômenos complexos bio-psico-sociais que afetam o vício e são cruciais a se considerar no
planejamento de uma recuperação completa (Tatarsky 2007, Mate 2009, Alexander 2010).

92
Simplesmente submeter um caso de dependência ao tratamento com Ibogaína muitas vezes pode ser o suficiente para
ajudar um paciente a fazer as mudanças desejadas em seu estilo de vida e na sua relação com drogas, caso estejam
prontos e equipados para esta mudança. Mas, com muita frequência, um apoio psicológico contínuo é necessário. Há
evidências muito claras, obtidas em pesquisas observacionais, que revelam que os pacientes que tomaram Ibogaína e
procuraram apoio terapêutico subsequente, obtiveram resultados muito melhores para seus transtornos (Gita 2014,
Schenberg 2014).

Sempre que possível, as diretrizes de desintoxicação descritas aqui devem ser consideradas como um passo
fundamental no processo mais amplo de tratamento da dependência.

Uma nota sobre a utilização tradicional

O foco particularmente estreito deste guia também leva em consideração o fato de que as plantas que contêm Ibogaína
- em particular a Iboga Tabernanthe e os arbustos Tabernanthe manii - têm sido usadas há milênios por comunidades
tradicionais no Gabão e regiões vizinhas da floresta tropical do oeste africano como um sacramento em rituais de cura
e iniciação espiritual. Neste contexto, eventos adversos e mortes também já foram relatados. Nos últimos anos essas
situações podem ter sido “ampliadas” pelo fato de que a Iboga está potencialmente ameaçada em seu habitat natural,
e outras plantas têm sido usadas, erroneamente ou intencionalmente, como substitutas e, às vezes, por vantagens
econômicas (Gita, 2014). Em outros casos, estes eventos foram atribuídos a praticantes inexperientes.

Supõe-se que os aspectos do ritual e da música utilizada por comunidades tradicionais são complexamente arranjados
para efeitos tanto da potencialização da experiência com a Iboga, como para bem-estar físico e psicológico (GITA 2014).

O uso da Iboga em contextos tradicionais estão protegidos pela “Declaração de 2007 das Nações Unidas sobre os
Direitos dos Povos Indígenas”, documento que afirma, no artigo 24, o direito dos povos indígenas às suas medicinas
tradicionais e a manutenção das suas práticas de saúde, incluindo a conservação de sua plantas medicinais vitais,
animais e minerais.

Estas orientações podem servir como um complemento à prática espiritual genuína, mas, em geral, isso está além do
alcance das considerações para a gestão de risco aqui apresentados.

Resumo dos fatores psicológicos

Por seus efeitos psicológicos, a Ibogaína é melhor classificada como sendo “onirogênica”, uma substância que produz
“sonhos acordados” (Naranjo, 1974). Para muitos pacientes de Ibogaína estes efeitos são visuais, e este conteúdo
imaginário é profundamente subjetivo e pessoal, desdobrando-se de forma muito parecida com sonhos. A experiência
também tem sido comparada a um filme projetado em uma tela interna - muitas vezes com um nível de desapego
emocional, mesmo quando o conteúdo é muito emocional ou gráfico. Este efeito global pode evocar um estado de
profunda contemplação e auto-reflexão.

Tem sido sugerido que a experiência é análoga ao tipo de integração neurológica e psicológica que acontece durante o
estado de movimento rápido dos olhos (REM), com o paciente mantendo-se plenamente consciente (Goutarel 1993).

Estes efeitos são distintos dos compostos psicodélicos clássicos, ambos subjetivos, e também por causa da natureza
complexa dos efeitos fisiológicos que os acompanham.

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Início, fases e duração dos efeitos

O aparecimento dos efeitos da Ibogaína é perceptível geralmente no prazo de 1-3 horas após a administração. Isto
inclui tanto uma diminuição acentuada dos sintomas de abstinência fisiológica, bem como os efeitos subjetivos, que são
divididos por Dr. Kenneth Alper em três fases distintas (Alper, 2001). A duração dos efeitos mencionados abaixo varia
de acordo com a dosagem, o prazo durante o qual as doses são administradas e, também, por fatores que afetam o
metabolismo do indivíduo, incluindo o fenótipo “CYP450-2D6”.

1. Aguda - Esta fase dura, geralmente, entre 4 a 8 horas e inclui a parte mais intensa e visual da experiência que foi
descrita acima como onirogênica. Durante esta fase os efeitos fisiológicos, especialmente a ataxia, são mais
pronunciados.

2. Avaliativa - A fase "avaliativa" da experiência pode durar entre 8 a 20 horas e consiste em grande parte de uma
avaliação cognitiva e emocional mais ou menos neutra do material que foi experimentado na fase aguda. Os pacientes
geralmente preferem não ser perturbados, preferem ficar deitados e em silêncio durante esta fase de integração.

3. Estimulação residual - A fase final dos efeitos geralmente dura por mais 24 a 72 horas. Este período é normalmente
acompanhado por algum nível de exaustão e, em alguns casos, com uma contínua dificuldade para dormir. Processos
cognitivos e introspectivos começam a ficar mais relaxados e a atenção retorna para o ambiente externo.

Gerenciamento de fatores de risco psicológico

Teorias acadêmicas convencionais nas áreas da psicologia e psiquiatria geralmente não discutem os tipos de
experiências que são comumente relatados pelos pacientes de Ibogaína. Quando fazem, categorizam essas experiências
de uma forma mais ampla como sendo formas de psicose. No entanto, a psicologia transpessoal e outros campos
experimentais semelhantes já estabeleceram quadros claros para a compreensão da natureza e do valor terapêutico
destes e outros estados semelhantes. Ao invés de patológica, a natureza desses estados foi descrita por Stanislav Grof
como sendo estados holotrópicos, ou, estados "orientados pela plenitude" (Grof 1992). Estes estados de consciência
são acessados há milênios pelos seres-humanos para processos de cura e ritos de passagem, e fornecem insights
inestimáveis para a integração desse tipo de experiência em contextos terapêuticos contemporâneos.

Tem sido observado em outros lugares que as investigações que utilizam psicodélicos carregam riscos psicológicos
raros, mas significativos, a maioria envolvendo uma "angústia avassaladora" causada por uma "bad trip" que
comumente resulta na saída do paciente do local de tratamento, ou, menos comumente, na manifestação no longo
prazo de uma psicose (Johnson 2008). Ao contrário de muitos tratamentos médicos convencionais, sob a influência da
Ibogaína ou outras substâncias semelhantes é difícil exagerar a importância do ambiente de tratamento e da relação
que se forma entre o paciente e os profissionais de saúde, especialmente aqueles que estão presentes durante a
administração e no agudo período de integração seguinte.

Existem relatos raros de pacientes que sofreram um estado de confusão aguda após a ingestão de Ibogaína que
persistiu por menos de uma hora até vários dias. Há outros relatos muito raros de sintomas de psicose prolongada
(Houenou 2011, tintureiro de 2011), bem como outros de pessoas que foram diagnosticadas com mania após a
ingestão (Marta 2015).

No entanto, na medida em que a Ibogaína compartilha riscos psicológicos semelhantes a outras substâncias
psicodélicas, as estruturas psicológicas e ferramentas terapêuticas usadas na administração de medicamentos
psicodélicos podem também ser guias muito úteis para a segurança psicológica de quem se submete à experiência com
Ibogaína. Grof escreveu que, "pessoas cujas sessões com LSD terminam em um estado incompleto de “renascimento”
mostram todos os sinais típicos da mania", mas que, "quando os indivíduos que experimentam esse estado são

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convencidos a se voltarem para dentro, a enfrentar as emoções difíceis que permaneceram não resolvidas e completar
o (re) processo de nascimento, as características maníacas desaparecem do seu humor e comportamento".

A avaliação psicológica abrangente (cap. 2) deve preceder qualquer administração de Ibogaína. Além disso, durante e
após o tratamento, uma sensibilidade dos provedores em relação à natureza dos estados onirogênicos e uma atenção
em relação ao ambiente interno da pessoa e também ao ambiente externo (cap. 1) devem ser de primordial atenção
em todos os momentos.

Trabalhando com emergências espirituais

Uma das implicações mais importantes da psicologia transpessoal é o entendimento de que muitas condições
psiquiátricas comumente diagnosticadas são formas de "emergência espiritual" ou crises psicoespirituais que podem
levar a importantes descobertas pessoais se for bem trabalhadas. Stanislav Grof o lista vício em si como uma forma de
emergência espiritual, cuja elaboração tem o poder de ser um processo incrivelmente transformador para a pessoa.
É importante ser capaz de diferenciar entre uma verdadeira urgência espiritual, que pode possuir potencial de cura
catártica, e formas de psicose e emergências médicas genuínas que requerem as intervenções médicas adequadas.

A implementação deste modelo de prática no caso de estados de “aguda confusão” pode demandar tempo e uma
intensa energia por parte dos prestadores da terapia, mas, quando totalmente compreendida, os benefícios para os
pacientes são difíceis de ignorar. Em todos os casos conhecidos, aqueles que experimentaram um estado de “aguda
confusão” após a administração de Ibogaína e foram atendidos ao longo de todo este episódio relataram mais tarde
que o processo foi pessoalmente muito importante e, finalmente, benéfico.

A implicação mais importante aqui é na estratégia em relação ao uso de medicamentos de prescrição. No tratamento
de emergências espirituais, os clínicos devem evitar o uso de medicamentos psiquiátricos que possam interromper o
processo psicológico em andamento. Medicamentos anti-psicóticos, tais como haloperidol ou Thorazine, que são
utilizados para interromper os efeitos de outras substâncias psicodélicas têm sido conhecidos por causar reações
negativas prolongados em pacientes. Quando necessário, e nos casos em que a insônia ameaça o bem-estar físico e
psicológico, o uso criterioso de benzodiazepinas pode retardar certos efeitos subjetivos e facilitar o relaxamento e o
sono.

Tratamento de emergências espirituais é um campo muito vasto para resumir nestas diretrizes e desvia do foco
pretendido. No entanto, há uma quantidade suficiente de material existente para informar os médicos sobre os
fundamentos deste trabalho (Grof 1989, 1993, 2008).

Resumo dos fatores médicos

Embora os mecanismos de ação da Ibogaína não sejam totalmente compreendidos, alguns aspectos da sua complexa
farmacodinâmica foram resumidos na literatura científica (Alper 2001). Aqui, vamos rever alguns dos aspectos
relevantes dos efeitos da Ibogaína e da atividade dos neurotransmissores, bem como fatores de risco documentados.
Essas considerações não são comuns entre medicamentos psicodélicos, destacando as características fisiológicas únicas
da Ibogaína e a importância de seus requisitos específicos para rastreamento e monitoramento.

95
Farmacodinâmica básica

Além dos efeitos psicológicos mencionados na seção anterior, a Ibogaína apresenta alguns poderosos efeitos
fisiológicos, incluindo ataxia, tremores, náuseas, vômitos, respiração lenta, maior sensibilidade a estímulos sensoriais,
bem como bradicardia, hipotensão e outras alterações do ritmo cardíaco ou pressão arterial, incluindo prolongamento
do “intervalo QT” e alterações morfológicas das “ondas T”. Como resultado, a menos que não seja necessário, os
pacientes geralmente preferem ficar confortavelmente deitados, sem muita agitação ou movimento.

Efeitos fisiológicos da Ibogaína, em particular seus efeitos cardíacos, podem apresentar fatores de risco significativa e
potencialmente fatais, mesmo dentro da faixa de dose terapêutica, em pacientes com certas condições cardíacas pré-
existentes, com desequilíbrios eletrolíticos ou para quem está se desintoxicando de álcool ou benzodiazepinas (Alper
2012).

O prolongamento do “intervalo QT” relacionado ao uso de Ibogaína pode ter várias causas. O principal fator é alteração
na forma como as células cardíacas utilizam o potássio para repolarizarem suas cargas elétricas. Esta reserva de
repolarização também é afetada por bradicardia pelo bloqueio do “canal hERG”, que modula a biodisponibilidade de
potássio. Como abordado adiante, esses assuntos sugerem preocupações significativas em pacientes que são hipo ou
hiperkolemicos (termos referentes ao nível do eletrólito potássio [K+] no sangue).

Outros fatores também desempenham um papel no esgotamento das reservas de repolarização, causando
prolongamento no intervalo QT. Entre eles, baixos níveis de magnésio; medicamentos, alimentos e suplementos que
prolongam o intervalo QT; a abstinência de cocaína, álcool ou anfetaminas; e muitos dos fatores de risco descritos no
Capítulo 2.

Em muitos casos, durante o período agudo da metabolização da Ibogaína, “bizarras” morfologias da onda T podem ser
notadas. Estas alterações podem incluir um achatamento da onda T, ondas T bifásicas, e a diminuição inicial no declive
anterior dessas ondas. Essas mudanças têm sido atribuídas às mudanças na troca do potássio intercelular causadas pelo
bloqueio do canal hERG (Thurner 2013, Alper 2015).

A Ibogaína é metabolizada através da enzima hepática CYP450-2D6 em seu metabólito primário, a noribogaína. Pode
haver uma variabilidade clinicamente significativa nas fases iniciais dos efeitos da Ibogaína de acordo com o fenótipo de
metabolização CYP2D6 do paciente, particularmente nos extremos do espectro, para metabolizadores lentos e os ultra-
rápidos (Glue 2015).

A Ibogaína também é conhecida por causar, em muitos casos, um nível de inquietação e insônia nos dias após a
administração. Este é especialmente o caso dos pacientes que usam benzodiazepinas ou outros medicamentos
indutores de sono.

Convulsões sob a influência da Ibogaína podem induzir arritmias letais e levar a mortes, bem como a danos
permanentes. A Ibogaína, por si só, não tem sido conhecida por induzir convulsões, no entanto, esta é uma
preocupação especialmente considerável nos casos de retirada de álcool ou benzodiazepinas, assim como para
epilépticos.

Farmacocinética clínica

O pico de saturação da Ibogaína no corpo acontece cerca de 2 horas após a administração e tem uma meia-vida de até
7 horas no plasma sanguíneo humano (Koenig 2015). Ela é metabolizada em noribogaína, que, acredita-se, é
armazenada no tecido adiposo e liberada durante o decurso das seguintes semanas ou meses. A noribogaína possuir
alguns dos mesmos efeitos que a Ibogaína, que podem ser responsáveis pelos benefícios prolongados relatados.

96
Nos pacientes que apresentam alterações da onda T, essas alterações geralmente duram entre 12-14 horas, mas
podem persistir por até 24 horas. Preocupações referentes a problemas cardíacos podem ser reduzidas após a
estabilização das ondas T.

Alguns eventos adversos já foram relatados tão tarde quanto 76 horas após a administração (Alper 2012), no entanto,
os fatores nestes casos geralmente podem ser resolvidos com a triagem e uma preparação adequada.

Atividade neurotransmissora

Em modelos animais, já foi identificado que a Ibogaína atua sobre vários sistemas de neurotransmissores, incluindo os
sistemas glutamato, opióide, dopamina, serotonina e sistemas de acetilcolina (Popik 1999). Os seus efeitos podem ser o
resultado de uma interação complexa entre estes sistemas, e não apenas o resultado do efeito num único sistema
neurotransmissor (Alper 2001).

Já foi demonstrado que a “acumulação” destes efeitos são os responsáveis pela mitigação dos sintomas de privação de
opiáceos. Alguns relatos sugerem que os resultados podem ter até 90% de eficácia. Já foi demonstrado também que a
Ibogaína reduz a tolerância acumulada em relação aos opióides, e aumenta a sensibilidade do sistema nervoso central
em relação aos a essas substâncias (Parker, 2001), o que tem implicações nos casos de pós-tratamento de recaídas. Por
conta disso, os pacientes devem ser informados de que sua tolerância foi redefinida para níveis semelhantes ao de uma
pessoa que não usa drogas, a fim de evitar uma overdose acidental caso venham a utilizar drogas novamente.

Já foi demonstrado também que a Ibogaína potencializa os efeitos dos opióides e estimulantes, e provoca algumas
variações no caso da cocaína. É importante que os médicos estejam conscientes dessas interações, a fim de facilitar
efetivamente a desintoxicação.

Metodologia

Antes desta publicação, o documento precedente mais significativo para delinear estratégias para o uso da Ibogaína na
desintoxicação era o “Manual for Ibogaine Therapy (Lotsof e Wachtel, 2006)”.

As atuais orientações foram elaboradas e editadas por um painel de autores com grande experiência clínica e de
pesquisa. Ele foi aperfeiçoado por conta de uma série de propostas e extensas entrevistas com profissionais da área
médica, prestadores de terapia com Ibogaína e pesquisadores diversos.

As propostas foram apresentadas durante uma série de períodos de consulta pública, durante as quais foram coletados
dados e informações pessoalmente, através de entrevistas eletrônicas e correspondências diversas escritas entre
membros da comunidade mundial de provedores de terapia com Ibogaína e profissionais médicos.

1. Contexto de atenção

Consentimento informado

A “Declaração da Associação Médica Mundial de Helsinki - Princípios Éticos para Pesquisas Médicas Envolvendo Seres
Humanos” descreve os requisitos específicos para o consentimento informado quando se trabalha com um tratamento

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experimental. Com os pacientes sabendo ou não dos riscos envolvidos, devem ser fornecidas informações completas e
precisas sobre:

- A situação jurídica da Ibogaína na região onde o tratamento vai acontecer;

- O status experimental de desintoxicação assistida por Ibogaína na literatura científica;

- Os fatores de risco envolvidos no tratamento com Ibogaína;

- O nível de experiência e qualificações dos cuidadores que estarão presentes durante a administração da Ibogaína;

- Uma avaliação realista dos eventuais benefícios;

- Possíveis limitações específicas do método e protocolo que serão usados;

- Informações sobre as possíveis opções alternativas que podem estar disponíveis;

- Os direitos dos pacientes que se submetem à terapia com Ibogaína (disponível no “apêndice A” deste guia).

Esta informação deve estar disponível para o paciente pelo menos duas semanas antes da tomada de Ibogaína e, se
possível, deve ser revisto e assinado pessoalmente junto a um membro da equipe de tratamento.

Prestadores de cuidados

Os pesquisadores responsáveis pelas pesquisas com psicodélicos da Universidade de John Hopkins concluem: em
relação às orientações de segurança, a qualidade mais importante de um terapeuta, em vez de credenciais médicas ou
psicológicas, é a habilidade e capacidade de empatia (Johnston 2008). Nós levamos adiante a mesma recomendação,
mas, no entanto, mesmo que o prestador de cuidados primários não seja medicamente credenciado para fins de gestão
eficaz dos riscos médicos envolvidos, um nível mínimo de supervisão médica deve estar presente também.

A equipe e outras pessoas da comunidade terapêutica psicodélica da universidade de John Hopkins também
recomenda, amplamente, a presença de uma dupla de apoio composta por um homem e uma mulher (Johnson 2008,
Grof 2000). Na impossibilidade disto, recomendamos, no mínimo, um terapeuta que seja do mesmo sexo do paciente.
Isto tem valor terapêutico, mas também é fruto de considerações práticas. A ataxia provocada pela Ibogaína pode não
permitir que o paciente fique de pé ou caminhe e, numa situação como essa, pode ser de muita importância a presença
de um assistente caso o paciente precise ir ao banheiro, por exemplo. Para eventuais casos de emergência, idem.

Supervisão médica

Seja como um prestador de cuidados primários ou em um papel de apoio para outro provedor de terapia, a supervisão
médica garante prontidão para eventuais (mas raros) casos de emergência cardíaca, mesmo que um exame minucioso
tenha sido realizado.

É altamente recomendável que todos os prestadores de cuidados tenham no mínimo uma certificação em suportes
básicos de vida (BLS), e sejam bem versados no tratamento de convulsões epilépticas e manutenção das vias aéreas.

Além disso, uma equipe treinada em procedimentos cardíacos avançados (ACL) e versada sobre a farmacodinâmica da
Ibogaína é extremamente desejável. Além disso, um guia para respostas de emergência deve estar facilmente
disponível durante todo o tratamento.

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Os equipamentos geralmente considerados necessários para minimizar os riscos, conforme descrito neste manual, está
incluído no anexo B.

No caso de profissionais médicos que sejam prestadores de cuidados primários, recomendamos muito um treinamento
formal orientado para o trabalho com pacientes com estados expandidos de consciência induzidos [ver nota 1].

Preparação para emergências

A menos que o tratamento seja realizado em ambiente hospitalar, a localização do tratamento deve permitir que uma
equipe de emergência totalmente equipada consiga chegar ao local em no máximo 15 minutos e, idealmente, ficar em
local cujo acesso a um hospital (24 horas) não demore mais do que 30 minutos.

Um plano completo de emergência deve estar sempre presente e toda a equipe deve estar muito bem preparada para
executá-lo precisamente até o fim, caso seja necessário.

“Set” e “Setting”

Desde os primórdios das pesquisas em psicodelia, a atenção dessas pesquisas tem sido especialmente desenhada em
função dos fatores de ajuste do “Set” e do “Setting” (Leary, 1964). É fundamental que a equipe terapêutica
compreenda e exiba uma aguda sensibilidade para o desenvolvimento das relações terapêuticas e um espaço
terapêutico.

Set (ambiente interno)

Este termo refere-se principalmente aos preparativos internos, o estado de espírito e as intenções do paciente. Ele
pode ser útil para avaliar as expectativas, preocupações e esperanças antes da sessão, bem como para avaliar o terreno
psicológico e fisiológico geral que possa surgir durante a experiência, para que o paciente sinta uma sensação de
abertura e uma preparação para o que eles estão prestes a se submeter. O desenvolvimento de uma relação
terapêutica pode ser parte integrante do apoio necessário ao paciente neste processo.

Setting (ambiente externo)

Este termo refere-se ao “ambiente imediato”, e pode ser estendido para incluir coisas como decoração, incensos e
seleção musical. É importante assegurar que o espaço esteja tão confortável e limpo quanto possível, com uma cama,
fácil acesso ao banheiro, e que seja livre de perturbações durante todo o tratamento.

Com a ajuda de técnicas psicoterapêuticas, a administração da Ibogaína muitas vezes pode ser realizada em conjunto
com esforços de terapia. No entanto, é altamente recomendável que, durante a fase aguda da experiência, as
conversas sejam limitadas apenas às necessidades essenciais, como nas verificações de saúde, na coordenação de
movimentos físicos ou em casos de assistência médica. Pode ser apropriado, em alguns momentos, oferecer uma ou
outra dica, se solicitado, mas, caso contrário, as conversas terapêuticas deve ficar limitadas à pré e pós-administração,
e os pacientes devem receber o máximo de espaço possível para cuidarem de seus ambientes e processos internos.

Os pacientes tornam-se extremamente sensíveis à luz e ao som durante o curso do tratamento. O espaço externo deve
ser tranquilo e, se precisar, tampões ou música através de fones de ouvido devem estar disponíveis. O local também
deve ser fácil de escurecer. Máscaras confortáveis para os olhos podem ser eficaz em bloquear a totalidade ou a maior

99
parte da luz externa. Idealmente, a iluminação no quarto deve ser ambiente e não-intrusiva, como velas ou lâmpadas
suaves.

Existem várias “escolas de pensamento” referentes ao cronograma das sessões. Alguns provedores de terapia têm
preferido o final da tarde e início da noite porque há, naturalmente, menos distrações. No entanto, eventuais apoios de
emergência ou serviços médicos são, geralmente, mais fáceis de acessar durante o dia. A redução de risco deve ser uma
consideração absolutamente primária.

Música

Em terapia psicodélica a música tem sido amplamente considerada como benéfica tanto terapeuticamente, como na
redução dos riscos psicológicos, ajudando a internalização do processo (Grof 2000). Pesquisadores do “Maryland
Psychiatric Research Center” observaram que a “música parece estar envolvida de forma significativa nas variáveis
cruciais extra-drogas de ambos set e setting" (Bonny 1972).

Em geral, as considerações sobre a música em sessões psicodélicas também são relevantes para a terapia com Ibogaína.
É altamente aconselhável que a música seja de alta fidelidade e disponível por fones de ouvido confortáveis.

É altamente recomendável que a seleção musical tocada durante os efeitos de pico sejam apenas instrumentais (sem
voz) ou que estejam em uma língua não compreendida pelo paciente. Músicas apropriadas podem ser encontradas em
culturas que as usam para fins de meditação ou acesso a estados transcendentais. Exemplos incluem ragas indianos,
cantos sufis, cantos mongóis, etc. Há também uma enorme biblioteca musical disponível na internet de músicas de
pigmeus tradicionais e aldeias Bwiti na África que podem ser muito boas para o momento da experiência. O canto
polifônico de algumas comunidades de pigmeus é um dos exemplos mais avançados conhecidos de tons naturais. No
entanto, a preferência musical do paciente e a sua resposta ao que é tocado devem ser as preocupações principais.

Terapias adjuntas

A Ibogaína pode ser uma ferramenta poderosa na desintoxicação e tratamento dos transtornos de abuso de
substâncias. Ambos, Ibogaína e noribogaína, tem a capacidade de aumentar a expressão do GDNF, uma proteína que
estimula o crescimento de novos neurônios do sistema dopaminérgico. Ela também demonstrou ser eficaz na produção
de um valioso estado de “neuroplasticidade”, que pode melhorar a capacidade do indivíduo no aprendizado de novas
informações (Popik 1996) e, potencialmente, enraizar novos padrões de hábitos de pensamento.

É muito importante observar que a capacidade de “neuroplasticidade” atribuída à Ibogaína pode, também, ser uma
oportunidade para o enraizamento e cristalização dos padrões negativos caso o reforço dos padrões positivos não
sejam realizados. Há práticas que, realizadas em conjunto com a Ibogaína, podem ajudar a garantir que as mudanças
iniciais de estilo de vida do paciente sejam positivas e orientadas para a saúde. A seguir, listamos uma série não
exaustiva de terapias adjuntas que muitos provedores e terapeutas têm incorporado em seus tratamentos com
resultados muito positivos:

Psicoterapia

Várias técnicas psicoterapêuticas podem fornecer orientações muito úteis após a terapia com Ibogaína. Isto pode incluir
TCC (terapia comportamental cognitiva), que tem demonstrado uma forte eficácia no tratamento da dependência
(Hofmann, 2012). Algumas, como Respiração Holotrópica, Gestalt terapia, entre outras, têm mostrado ser ferramentas
valiosas quando aplicadas em conjunto com a terapia psicodélica.

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Nutrição

Uma boa nutrição não só promove a saúde geral, como também pode ser uma fonte muito útil de precursores
importantes para neurotransmissores envolvidos no processo de recuperação. As dietas são muitas vezes
extremamente deficientes entre os adictos que, geralmente, não conseguem cuidar das suas necessidades mais
básicas. O período seguinte ao detox com Ibogaína é um momento muito importante e oportuno para uma re-
aprendizagem do paciente em relação a uma nutrição adequada.

Terapias corporais

Terapias corporais podem não só proporcionar relaxamento e alívio para pessoas que sofrem de desconforto ou dor
crônica, mas podem também ajudar as pessoas a se conectarem com seu corpo de uma maneira nova, mais saudável,
firme e “aterrada”.

Exercícios físicos

O exercício físico tem demonstrado ser muito útil para o aumento dos níveis de “beta-endorfinas”, o que tem um efeito
muito positivo em várias condições subjacentes entre aqueles com transtornos de abstinência.

Meditação

Já foi amplamente pesquisado e provado que práticas simples de meditação ajudam a “equilibrar” os hemisférios
cerebrais, e, geralmente, a promover clareza, foco e relaxamento. Não é necessário incentivar qualquer prática muito
elaborada. Fundamentos básicos de técnicas de meditação podem ser muito úteis durante e após a experiência com
Ibogaína.

Neurofeedback e aparelhos de estimulação cerebral

Alguns dispositivos de estimulação cerebral já foram aprovados pela FDA para o tratamento de uma variedade de
condições, incluindo a ansiedade, insônia, depressão e dor crônica.

Cuidado em relação às terapias desintoxicantes

Terapias desintoxicantes podem incluir limpeza de colon, enemas, terapia de ozônio, óleo de rícino, etc. Estes métodos
são mencionados por várias razões, incluindo a possibilidade dos envolvidos terem de lidar com prisão de ventre ou
constipação, fenômenos muito comuns especialmente entre os consumidores de opiáceos. Esses problemas constituem
fatores de risco durante o tratamento e precisam ser tratados previamente.

Entretanto, é importante observar que qualquer terapia com o potencial de esgotar os eletrólitos do corpo deve ser
evitada. Após qualquer procedimento importante que possa afetar o equilíbrio dos eletrólitos, exames de sangue e
painéis de fígado devem ser refeitos.
Além disso, terapias que liberaram toxinas no corpo devem ser evitadas nos dias próximos à terapia com Ibogaína, pois
essas toxinas podem exercer um efeito global negativo sobre o metabolismo energético do paciente e causar uma série
de complicações ou dificuldades.

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Manutenção de registros

Trabalhar com um medicamento experimental exige a manutenção de registos rigorosos, por muitas razões. Registros
detalhados podem fornecer informações estatísticas úteis sobre como casos de sucesso são alcançados.

Em relação à gestão de risco, é muito mais fácil de aprender e compartilhar as informações de casos quando eles estão
bem documentados, nas situações onde os objetivos do tratamento não foram alcançados ou quando resultaram em
eventos adversos. Sem registro, detalhes importantes podem ser facilmente perdidos e determinados erros podem ser
repetidos.

Recomendamos fortemente cuidados extras na documentação de todos os aspectos envolvidos nos procedimentos
descritos neste documento.

Nota 1. Existem diferenças significativas entre a experiência com Ibogaína e outros tipos de estados transcendentais.
No entanto, alguns exemplos de práticas que podem fornecer quadros terapêuticos úteis incluem: Respiração
Holotrópica, terapia de trama “Mariah Moser”, treinos de experimentação somática, a técnica “DARE” (re-padronização
de experiências de dinâmicas de fixação) de Diane Heller para lidar com questões de fixação, etc.

2. Critérios de pacientes e considerações

Critério de inclusão

A relação terapêutica começa durante o contato inicial com o paciente. Seja pessoalmente, por telefone, ou outro tipo
de correspondência, ela fornece uma oportunidade importante para começar a construir uma base de confiança, bem
como para avaliar a elegibilidade do paciente para a terapia com Ibogaína.

As considerações mais básicas para a inclusão em qualquer tipo de terapia devem se basear no estabelecimento de um
significativo grau de consentimento. A Ibogaína tem sido especialmente observada como sendo ineficaz nos casos de
pacientes que não estejam pessoalmente empenhados em seus processos terapêuticos. Isso exclui todas as formas de
tratamento à base de intervenção, modelos de tratamento incentivados pelo Estado ou qualquer outra maneira onde
os pacientes possam estar sendo coagidos a participar do processo terapêutico.
As considerações básicas para inclusão são as seguintes:

- Entendimento do escopo básico do tratamento e que ele envolve.

- Ter um forte desejo de tomar Ibogaína e expectativas realistas sobre os possíveis resultados.

- Estar disposto a ser parte de um processo que inclui a aceitação dos procedimentos e “pedidos de comparecimento às
consultas”, solicitados pelos provedores, médicos e/ou terapeutas, além de completar todos os protocolos de
preparação de forma completa e honesta.

- Se responsabilizar pelo envolvimento com outros serviços/técnicas terapêuticas sugeridos pela equipe terapêutica e
se comprometer com os “auto-cuidados” continuados.

- Compreender e aceitar as responsabilidades indicadas na “lista de direitos dos pacientes de Ibogaína” (ver apêndice
A).

102
Aplicação

A seleção cuidadosa é o fator mais importante para minimizar os riscos associados com a desintoxicação assistida por
Ibogaína. As considerações abaixo refletem os fatores de risco psicológicos e biológicos conhecidos, e devem ser
tomados em cuidadosa consideração para cada paciente antes da ingestão.

Informação pessoal suficiente e histórico médico, em particular a obtenção de diagnósticos psicológicos e questões
referentes ao uso de drogas antes da ingestão é crucial. A interpretação dessas informações para efeitos de rastreio
será discutida em todo o restante deste capítulo.

Informações pessoais e situação médica

Informações pessoais básicas devem incluir: nome, informações de contato pessoal, informações sobre as pessoas de
contato para casos de emergência, altura, peso, gênero preferido da pessoa que atenderá, histórico completo de
acidentes, internações e procedimentos cirúrgicos, bem como um histórico completo de possíveis doenças anteriores,
condição cardíaca e outros diagnósticos, incluindo diagnósticos psiquiátricos.

Informações sobre o uso de drogas

Os médicos/terapeutas devem analisar rigorosamente todo o histórico de uso de medicamentos, prescrições, drogas de
rua, vitaminas, suplementos e ervas. Isto deve incluir uma análise das dosagens e padrões de uso. Informações sobre a
natureza da utilização, incluindo overdoses, comportamentos de risco e qualquer experiência anterior com
psicotrópicos também devem ser levadas em consideração.

Testes médicos

Os seguintes exames médicos devem ser considerados em relação ao histórico médico:

- Eletrocardiograma de 12 derivações - Exame tradicionalmente utilizado na cardiologia clínica, realizado em repouso,


de forma simples e rápida, que utiliza eletrodos para obter os sinais elétricos do coração, enquanto passam pelo
sistema cardiovascular, os representando em forma gráfica. Permite ao médico identificar a presença de arritmias,
sinais de alterações cardíacas estruturais, presença de infarto do miocárdico entre outras condições clínicas. Deve ser
realizado sem a influência de estimulantes (incluindo café) e sem estar sob efeitos adversos produzidos pela
abstinência, etc.

- Ecocardiograma sob estresse, teste “Valium estresse” ou teste “Holter 24 horas” - Para pacientes com casos de
arritmias extra-sístoles, alterações do segmento ST, indicando isquemia no miocárdica / infarto, história cardíaca
significativa ou fatores de risco cardíaco.

- Painel metabólico completo (testes “Chem 12” ou “Chem 18”) - Incluindo as funções do fígado, creatinina e
eletrólitos, sódio, potássio, magnésio sérico.

- Hemograma completo (CBC).

- Avaliação completa da Tireóide - No caso de pacientes com histórico de doença da tireóide ou pacientes que utilizam
algum hormônio prescrito para a Tireóide esse teste não é suficiente.

- Exames físicos diversos - Quando for necessário considerar o contexto de certas condições cardíacas pré-existentes.

103
Fenótipos do citocromo “P450 2D6”

Enzima que, em humanos, é codificada pelo gene CYP2D6.

Alguns dados pré-clínicos sugerem que os regimes de dosagem devem ser alterados de acordo com o fenótipo CPY2D6,
já que isso afeta a metabolização da Ibogaína. Existem os metabolizadores “pobres” e metabolizadores “rápidos”, que
são as pessoas que apresentam valores atípicos nos extremos do espectro do teste. Este assunto será abordado mais
tarde na discussão sobre a dosagem (cap. 14).

Critérios absolutos de exclusão

Na presença de qualquer um dos critérios seguintes de exclusão o paciente não pode tomar Ibogaína devido à
probabilidade e gravidade dos riscos associados. A natureza de alguns destes riscos foram previamente discutidos,
outros serão explicados melhor nesta seção. Sempre que possível estas questões devem ser abordadas e reavaliadas
antes da ingestão.

Certas condições psiquiátricas

- Esquizofrenia;

- Casos de transtorno bipolar onde o paciente foi hospitalizado ou medicado;

- Transtorno de despersonalização e / ou desrealização;

- Disfunção cerebelar;

- Epilepsia;
Considerar a possibilidade de que as apreensões de abstinência relacionadas com benzodiazepínicos ou álcool podem
ser, erroneamente, diagnosticadas como epilepsia;

- Psicose ou estado de confusão aguda;

- Doença cerebral orgânica;

- Demência.

Certas condições cardíacas pré-existentes

- Intervalo QT prolongado;
A FDA considera o intervalo QT prolongado com as seguintes medidas: 450 milissegundos para o sexo masculino e 470
milissegundos para o sexo feminino.

- Histórico de insuficiência cardíaca, coração dilatado ou coração hipertrófico;

- Coágulos sanguíneos ativos;


Embolia pulmonar, trombose venosa profunda.

104
Doenças respiratórias

- Baixos níveis de oxigênio e pacientes que necessitam de tratamento com esteroides trazem riscos excessivos;

- Enfisema;

- Transtorno Pulmonar obstrutivo crônica;

- Fibrose cística.

Problemas gastrointestinais graves ou crônicos

- Úlcera hemorrágica;

- Síndrome do intestino solto.

Outros critérios

- Resultados anormais nos testes sanguíneos. Se o potássio ou magnésio estão fora dos seus intervalos normais, devem
ser corrigidos.

- Função renal (rim) ou função hepática (fígado) comprometida. Qualquer paciente com enzimas hepáticas superiores a
2,5 vezes os níveis normais, em diálise por insuficiência renal, ou com níveis anormais de uréia, ou níveis anormais de
creatinina podem não ser capazes de metabolizar a Ibogaína corretamente, o que pode levar a uma possível
intoxicação.

- Infecção ativa ou abscesso;

- Com cirurgias de grande porte realizadas ou a realizar, dentro de um período de 6 meses. Para esses casos, é preciso
autorização médica.

- Gravidez.

Fatores de risco cardíaco consideráveis

Na presença de qualquer uma das seguintes condições o paciente não necessariamente precisa ser excluído, mas uma
análise de risco/benefício deve ser conduzida por um cardiologista que tenha conhecimento sobre a farmacodinâmica
da Ibogaína.

Certas condições cardíacas pré-existentes

- Intervalo QT “borderline” (no limite). A FDA considera como medida limítrofe para o intervalo QT: 430 milissegundos
para o sexo masculino e 450 milissegundos para o sexo feminino. A Ibogaína prolonga o intervalo QT. Isto deve ser
cuidadosamente monitorado para se certificar de que não dure por muito tempo. Monitorar eletrólitos;

- Ritmos cardíacos irregulares (arritmias). Bloqueios atrioventricular cardíacos, histórico de arritmias ventriculares,
fibrilação Atrial (risco de coágulo);

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- Defeitos cardíacos congênitos de infância;

- Ataque cardíaco (Infarto do Miocárdio, vasoespasmo coronário);

- Sopro no coração. Use o ecocardiograma para descartar doenças significativas na válvula do coração (estenose
valvular, regurgitação, prolapso). Histórico da pericardite / endocardite;

- Histórico familiar de ataque cardíaco / morte súbita cardíaca antes dos 50 anos de idade;

- Cirurgias importantes no coração, cirurgias vasculares e pulmonares, transplantes, cirurgia de revascularização


miocárdica, válvulas cardíacas artificiais, doenças coronárias de infância;

- Uso de marca passo interno ou externo;

- Histórico de coágulos sanguíneos. Pessoas com histórico de AVC ou ataque isquêmico transitório só devem ser aceitas
com tempo suficiente a partir do evento, com os problemas do paciente reconhecidamente superados. A embolia
pulmonar ou trombose venosa profunda devem ser consideradas apenas se as questões anteriores estiverem
reconhecidamente resolvidas;

- Ritmo cardíaco anormal. A frequência cardíaca de repouso deve ser ≥ 50 batimentos por minuto ou superior; ou ≤ 120
batimentos por minuto;

- Pressão arterial alta / baixa. 170/105 ou superior, ou, 90/60 ou menor, considerando-se a ausência de medicamentos
para pressão arterial.

Outros fatores de risco relacionados a doenças cardíacas

Hipertensão, hipotensão, diabetes, uso de nicotina, colesterol elevado, doença vascular periférica, dor no peito / falta
de ar com ou sem esforço, indigestão frequente, desmaios inexplicáveis.

Certas condições psiquiátricas

Sem o apoio terapêutico adequado, a Ibogaína pode exacerbar ou re-traumatizar os pacientes as seguintes condições:

- Transtorno bipolar;

- Estresse pós-traumático (incluindo trauma sexual ou violento);

- Transtorno de personalidade, “borderline”;

- Com pontuação ≥24 no inventário de depressão Beck;

- Tendências suicidas.

Tireóide irregular

O hipotireoidismo leva a um aumento da bradicardia (retardamento do ritmo cardíaco abaixo de uma frequência de 60
batimentos por minuto), enquanto o hipertireoidismo leva a um aumento de risco de taquicardia (aceleração dos

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batimentos cardíacos, ger. aplicado a taxas acima de cem batimentos por minuto). Certifique-se de que a medicação
para a tireóide estabilizou sua função.

Principais doenças respiratórias

- Apnéia do sono - A apnéia do sono faz com que a respiração seja difícil para as pessoas quando elas estão dormindo.
A saturação de doses de Ibogaína no corpo coloca as pessoas em uma espécie de estado de sono, e a apnéia pode
reduzir perigosamente os níveis de oxigênio no corpo, o que, em casos extremos, pode colocar o paciente em risco de
hipóxia (baixo nível de oxigênio no corpo), o que traz relevante risco de vida.

Os pacientes nesta condição devem usar seus dispositivos respiratórios prescritos durante a administração da Ibogaína,
e os níveis de oxigênio devem ser cuidadosamente monitorados.

- Asma, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), enfisema - Verifique se a condição é grave. Se o paciente foi
hospitalizado ou teve vários ataques graves nos últimos 2 anos, deve ser considerado como sendo um candidato
“pobre”, de risco. Verifique se há requisitos de preparação com inaladores de esteróides prescritos (cap. 8). Estude e
mantenha em mãos o protocolo de intervenção para asmáticos (cap. 15).

- Fibrose pulmonar - Neste caso, normalmente o paciente irá depender de oxigênio. Deve ser considerado um como
sendo um candidato “pobre”, de risco. Verifique se há requisitos de preparação para tratamento com esteróides
prescritos (cap. 8).

- Sarcoidose - Doença em que se formam acumulações anormais de células inflamatórias [granulomas] em muitos
órgãos do corpo.

Questões referentes ao metabolismo, dieta e problemas gastrointestinais

- Painel metabólico com resultados fora da faixa de normalidade - As faixas ideais para potássio deve ser entre 4,5 -
5,5 mEq / L e, para o magnésio, entre 1,5 - 2,5 mEq / L.

- Constipação ou impactação - O movimento do diafragma pode ficar comprometido, levando a uma menor saturação
de oxigênio no sangue e, posteriormente, hipóxia e disfunção ventricular esquerda.

A hipóxia pode desencadear angina ou taquicardia.

Observar o desenvolvimento de tonturas e hipotensão.

Pode impedir o metabolismo de certos medicamentos.

- Obesidade - Além das significativas preocupações referentes ao metabolismo energético, a Ibogaína é armazenada no
tecido adiposo. A obesidade irá afetar significativamente o metabolismo da Ibogaína.

Com um IMC (índice de massa corporal) acima de 35, o risco de coágulo e acidente vascular cerebral é perigosamente
alto. Pode-se administrar “mini-heparina” ou “lovenox” (diluentes de sangue que não alteram os fatores de coagulação)
durante o tratamento.

- Distúrbios alimentares - Pode ser extremamente perigoso tratar pacientes bulímicos ou anoréticos com Ibogaína.
Esses pacientes devem ser estabilizados com eletrólitos antes do tratamento e devem permanecer sob observação

107
constante. A equipe de apoio deve se certificar de que não entraram em estado de “limpeza” ou “compulsão alimentar”
antes da administração.

- Desnutrição - A noribogaína é armazenada no tecido adiposo e liberada de volta para o plasma sanguíneo, portanto, e
por diversos motivos, uma desnutrição pode afetar os resultados de longo prazo da Ibogaína.

- Doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, biverticulosis, biverticulitis, pancreatite - Essas condições devem
ser previamente discutidas e estabilizadas por um gastroenterologista.

Outras considerações

- Doenças infecciosas crônicas (tuberculose, hepatite B ou C, HIV).

- História de overdose.

- Histórico de trauma craniano com perda de consciência por uma quantidade significativa de tempo.

- Pessoas com idade acima de 60 anos. Recomenda-se fazer um “ecocardiograma sob estresse”.
- Histórico familiar com algumas condições psiquiátricas mais graves que podem ter o risco de se manifestarem.
Atenção especial aos pacientes com menos de 30 anos de idade (geralmente as condições psiquiátricas herdadas
geneticamente se manifestam antes desta idade).
Transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de despersonalização e / ou transtorno de desrealização, disfunção
cerebelar, epilepsia, psicose, doença cerebral orgânica, demência.

Interações medicamentosas

Medicamentos comuns e drogas de abuso com alto risco de interação medicamentosa com a Ibogaína ou para as quais
o tratamento é frequentemente procurado estão listados nos seguintes capítulos:

- Capítulo 3: Os opióides.
- Capítulo 4: Os benzodiazepínicos.
- Capítulo 5: O álcool.
- Capítulo 6: Estimulantes.
- Capítulo 7: Antidepressivos.
- Capítulo 8: Esteróides.
- Capítulo 9: Outros medicamentos.

Abaixo, segue lista com a classificação de outros medicamentos e as suas considerações:

- Medicamentos, alimentos e suplementos que prolongam o intervalo QT - A Ibogaína causa bradicardia, hipotensão e
prolongamento do intervalo QT. Cada um destes sintomas pode se apresentar em conjunto com outros ou de forma
independente. Outras drogas que prolongam o intervalo QT podem agravar estes efeitos, o que pode levar ao risco de
arritmias cardíacas letais. Todos os outros medicamentos que prolongam o intervalo QT devem ser avaliados [ver nota
1].

- Diuréticos - Podem reduzir os níveis de potássio e de sódio. É importante que os níveis de eletrólitos no soro
sanguíneo sejam verificados após a interrupção de diuréticos.

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- Interações da enzima CYP2D6 - Esta enzima é o canal através do qual a Ibogaína é metabolizada no fígado. Outras
drogas no corpo que são metabolizadas por esta enzima [ver nota 2] podem interferir na capacidade do paciente para
metabolizar eficientemente a Ibogaína.

- Drogas de ação central - Todos os medicamentos de ação central devem ser evitados ou administrados com extrema
vigilância. As interações com Ibogaína ainda não são bem compreendidas. Essa classificação inclui medicamentos para
pressão arterial, benzodiazepínicos, hipnóticos não-benzodiazepínicos (drogas de Classe Z), barbitúricos, relaxantes
musculares, antipsicóticos, anticonvulsivantes e anestésicos em geral.

- Medicamentos que aumentam os níveis de serotonina - Exemplos de medicamentos que aumentam o nível de
serotonina no corpo incluem: SSRIs, ISRNs, NRIs, IMAO, buspirona (ansiedade), trazodone (depressão e insônia), certos
medicamentos para enxaqueca, certos medicamentos para dor (fentanil, meperidina, pentazocina e tramadol),
dextrometorfano (supressor de tosse), certos medicamentos anti-náusea (granisetron, metoclopramida, ondansetron),
cocaína, e alguns suplementos dietéticos como a erva de São João.

A Ibogaína também provoca aumento da serotonina. Níveis extremos podem causar uma síndrome serotoninérgica
com sintomas de confusão aguda (ver cap. 7 para os antidepressivos).

- Bloqueadores dos canais de cálcio ou betabloqueadores - Bloqueadores dos canais de cálcio são prescritos para
pressão arterial elevada e para arritmias. Betabloqueadores (ver Cap. 9) são prescritos principalmente para a
hipertensão arterial e taquicardia. Considere cuidadosamente essas condições subjacentes, e se os medicamentos são
necessários. Estes medicamentos podem reduzir a pressão arterial e a frequência cardíaca drasticamente, além de
poder alterar a condutividade elétrica do coração.

- Medicamentos antiarrítmicos - Os pacientes com arritmias que necessitem de medicação devem ser considerados
maus candidatos.

- Medicamentos para controle de natalidade - Algumas formas de controle feminino de natalidade oferecem riscos
ligeiramente maiores de coágulos sanguíneos. Isso deve ser observado sempre que outros riscos de formação de
coágulos estejam presentes.

Nota sobre o cálculo de “meias-vidas”

Durante todo o restante deste documento, quando calculamos o período de tempo recomendável para as pessoas
pararem de tomar certos medicamentos antes do tratamento, calculamos a partir de pelo menos quatro a sete vezes a
meia-vida indicada na medicação. Isto pode variar dependendo da droga ou em função da criticidade da substância. Em
alguns casos, considerações mais específicos são anotadas.

Nota 1. Lista de drogas que prolongam o intervalo QT:


http://crediblemeds.org/everyone/composite-list-all-qtdrugs/
Nota 2. Lista de drogas que afetam o metabolismo CYP2D6:
http://en.wikipedia.org/wiki/CYP2D6

109
3. Os opióides

Informações Preliminares

O abuso de opióides, como a heroína, morfina e medicamentos prescritos para a dor tem sido amplamente
reconhecido como sendo um problema de saúde global em grande escala que afeta todos os níveis da sociedade. O
relatório mundial das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, de 2015, estima que 48,9 milhões de pessoas no mundo
utilizam opiáceos.

Os tratamentos mais eficientes existentes para transtornos por uso de opióides são de os tratamentos de “medicação
assistida”, que fazem uso da metadona e da buprenorfina. Estas substâncias têm sido mostradas como sendo de grande
ajuda na redução da gravidade dos sintomas de abstinência e para ajudar as pessoas a recuperarem, de forma
significativa, sua saúde física e mental, bem como os meios de subsistência e o resgate das suas relações familiares. No
entanto, há poucas opções para aqueles que desejam parar com os tratamentos de manutenção de opióides, além dos
sintomas de abstinência serem tão difíceis e prolongados quanto outras drogas de rua ou drogas prescritas “mais
pesadas”.

Muitos profissionais que trabalham com dependência química não vêm necessidade de parar com um protocolo de
tratamento presumivelmente bem-sucedido, mas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, os pacientes que
recebem tratamento para transtornos por uso de substâncias devem ser ajudados a livrarem-se de qualquer substância
se essa for a deles. O número crescente de pacientes que procuram terapia com Ibogaína a fim de retirar a metadona
ou a buprenorfina é uma demonstração clara da dificuldade que os pacientes têm em retirar estes medicamentos
quando decidem por interromper a terapia.

De todos os benefícios terapêuticos da ibogaína, um dos mais impressionantes refere-se ao tratamento de desordens
relacionadas ao uso de opióides. Para esses pacientes, e para os outros que estão devidamente informados e ainda
optam pela não submissão à terapia de manutenção, a Ibogaína é uma opção valiosa de tratamento.

Considerações gerais

Além da capacidade da Ibogaína para atenuar sintomas de abstinência, ela possui também o potencial para
potencializar os efeitos analgésicos dos opiáceos quando co-administrados. Para esses casos, a cálculo preciso da semi-
vida e do regime de dose a fim de evitar o risco de overdose acidental ou para prolongar a abstinência é fundamental
para garantir que o tratamento seja seguro e eficaz.

Isto é especialmente uma preocupação para os opióides de longa duração, que permanecem no sistema por muito
tempo após o aparecimento inicial dos sintomas de abstinência.

Além disso, a fim de evitar uma possível overdose acidental, é muito importante que no processo regular de triagem
dos pacientes e no termo de consentimento assinado pelos mesmos, sejam informados e esclarecidos que, se usarem
opiáceos durante o tratamento, passam a correr risco imediato de overdose. Além disso, é importante reiterar que se
tiverem recaídas e voltarem a utilizar opióides, devem utilizar a mesma dose de um “iniciante”, pois a tolerância de
qualquer organismo para drogas, após um tratamento com Ibogaína, é redefinida.

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Preparação

Os pacientes que estão usando opióides por qualquer outro meio de administração (fumado, insuflado, etc) devem ser
aconselhados a mudarem, sob supervisão médica, para opióides orais antes do procedimento com Ibogaína. A morfina
oral é a preferida.

Os opióides de longa ação

Se a Ibogaína for administrada no mesmo tempo de ação prolongada dos opióides que ainda estão presentes no
sangue, existe o risco de potenciação analgésica, acima mencionado. No entanto, após o tratamento com Ibogaína a
analgesia obtida fica reduzida e os pacientes podem experimentar sintomas residuais de abstinência. Para evitar esse
risco e garantir que a desintoxicação possa ser concluída com êxito, os pacientes que estão tentando se livrar de
opióides de ação prolongada devem mudar para opiáceos de ação mais curta, tais como sulfato de morfina, antes do
tratamento.

É muito importante calcular com precisão as semi-vidas e realizar uma “troca” eficaz. Existem controvérsias sobre a
melhor maneira de se desenhar essa “linha do tempo”, mas, em geral, é consenso que se deva garantir que esteja
presente no organismo no máximo uma dose residual de não mais do que 0,125mg de buprenorfina ou 2 mg de
metadona antes de um procedimento com Ibogaína.

Alguns médicos acreditam que as meias-vidas de ambos os medicamentos (buprenorfina e metadona) devem ser
calculadas em intervalos de 24 horas. Neste caso, por exemplo, um paciente que tomou 4 mg de buprenorfina por via
oral teria uma dose residual de 2 mg no dia 2; 1 mg no dia 3; 0,5mg no dia 4; 0,25mg no dia 5, e seria “zerado” no dia 6,
tornando-se apto ao tratamento.

Da mesma forma, no caso da metadona, um paciente que tomou 100 mg num dia teria uma dose residual de 50 mg no
dia 2; 25 mg no dia 3; 12,5 mg no dia 4; 6,25mg no dia 5; 3,125mg no dia 6, e seria liberado para o tratamento no dia 7.

Outros clínicos, por questões de segurança, preferem calcular a eliminação usando uma meia-vida mais longa, ao invés
de 24 horas: até 72 horas para a buprenorfina, e até 48 horas para a metadona. Estas considerações podem ser
especialmente úteis em determinadas situações, como no caso dos “metabolizadores pobres” ou pessoas que tomam
estes medicamentos por muitos anos ou, simplesmente, para evitar possíveis complicações quando a transição não
pode ser realizada sob estreita vigilância.

Usando estes cálculos, um paciente com uma dose diária de 4 mg de buprenorfina estaria “liberado” para a troca após,
pelo menos, 18 dias. Um paciente que toma 100 mg por dia de metadona estaria liberado após 14 dias.

É muito importante que, independentemente dos cálculos de meia-vida terem sido feitos com antecedência, que a
“troca” seja conduzida com muito cuidado e sob supervisão médica. Alguns sintomas residuais de abstinência podem
ocorrer devido a cálculos inadequados sobre as doses necessárias de opióides de ação curta.

É importante calcular corretamente a dose de conversão apropriada e aumentar a dose gradualmente à medida que o
opióide de ação prolongada seja eliminado. Por exemplo, um paciente que usa 4 mg de buprenorfina por dia pode
exigir 100 mg de oxicodona a fim de se estabilizar. No entanto, se o paciente parar de tomar a buprenorfina, no final do
primeiro ciclo de semi-vida ele terá um resíduo de 2mg de buprenorfina. Se for dado, de imediato, 100 mg de
oxicodona, esse paciente será sobre-sedado, o que irá resultar num desconforto durante o processo e num aumento da
tolerância em relação a opióides antes do tratamento. A troca deve ser conduzida de forma gradual, com supervisão
médica e com dosagens suficientes para tratar apenas os sintomas de abstinência observados.

Um desafio relacionado às “trocas” é que, em muitos lugares, é muito difícil a obtenção de medicamentos de ação
curta devido a restrições legais. Sob nenhuma circunstância seria preferível para um paciente realizar a troca usando

111
drogas ilícitas de ação curta. Durante períodos longos de troca sem supervisão, há um aumento do risco dos pacientes
se envolverem em atividades ilícitas e também um risco de aumento da sua tolerância química.

Como uma questão de segurança adicional, os pacientes não devem ser instruídos a diminuir a utilização de quaisquer
outros medicamentos (incluindo os benzodiazepínicos) durante o processo de transição. O uso das benzodiazepinas,
por exemplo, deve ser estabilizado antes de se interromper um opióide. Sob nenhuma circunstância deve-se
recomendar a utilização de benzodiazepinas ou qualquer outra droga de abuso para neutralizar os desconfortos do
processo de troca de medicamentos.

Estas recomendações proporcionam um guia para a preparação de pacientes antes da ingestão de Ibogaína, no
entanto, um teste de urina para verificar se ainda há drogas no organismo da pessoa pode ser feito. Eventualmente, no
caso do teste indicar a ausência absoluta da droga, o tratamento pode até ser antecipado. Note-se que a buprenorfina
e alguns opiáceos sintéticos não aparecem no teste padrão de laboratório “ELISA” (ver cap. 11).

Outras considerações

Alguns terapeutas têm tentado o tratamento de pacientes que fazem uso de opióides sem que tenham entrado em
abstinência, fazendo o tratamento inicial 24 horas após a última dose e mantendo o paciente sob controle durante 7-10
dias depois, utilizando doses de reforço para tratar os sintomas de abstinência residuais.

Este método não é recomendado por conta das razões previamente mencionadas, mas se aplica especialmente no caso
de metadona. Grandes doses de metadona prolongam o intervalo QT e há evidências que sugerem que doses mais
baixas também têm este efeito. Em casos raros, o prolongamento do intervalo QT causado pela metadona causou o
fenômeno “toursades de pointes” (raro tipo de arritmia ventricular).

Suprimento

A Ibogaína diminui a tolerância acumulada referente aos opióides, e aumenta a sensibilidade do sistema nervoso
central para essas substâncias (Parker, 2001), aumentando seus efeitos quando co-administrada. Isto deve ser levado
em consideração ao longo, bem como depois do tratamento, quando opióides são administrados.

Opióides de curta duração, de preferência o sulfato de morfina, devem ser utilizados para estabilizar o paciente durante
o tempo necessário antes da administração de Ibogaína ou no caso em que não é possível administrar Ibogaína por
razões médicas. Uma dosagem de estabilização deve ser suficiente para controlar os sintomas de abstinência
identificados nas escalas “subjetiva” e “objetiva” de abstinência de opiáceos.

Deve ser tomado cuidado extremo para assegurar que a dosagem administrada de opióides não é maior do que a dose
necessária para controlar os sintomas de abstinência.

4. Os benzodiazepínicos

Considerações gerais

A benzodiazepina é uma classe de droga que aumenta os efeitos do neurotransmissor GABA, produzindo efeitos
sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, anticonvulsivos e efeitos relaxantes musculares. Este fármaco tem sido fator de

112
morte em várias mortes temporalmente associadas à administração de Ibogaína devido a crises relacionadas com
abstinência (Alper de 2012).

A Ibogaína não possui efeito relacionado ao sistema GABAérgico (sistema inibitório por excelência do Sistema Nervoso
Central), e não reduz os sintomas de abstinência das benzodiazepinas. Na verdade, o bloqueio do canal hERG
(responsável por manter o potencial de repouso de membranas de células musculares), ou episódios sincopados
causados pelo prolongamento do intervalo QT podem aumentar a probabilidade de surgimento de convulsões em
geral.

Os benzodiazepínicos podem “embotar” alguns dos efeitos psicoativos e psicologicamente terapêuticos da Ibogaína.
Isto deve ser considerado especialmente no caso de pacientes não dependentes de benzodiazepinas. No entanto, não
há evidências de que outras interações negativas aconteçam e seu uso deve ser continuado durante o tratamento para
que seja evitado os sintomas da sua retirada. Seus efeitos podem ser um obstáculo para o processo terapêutico, mas
os riscos e benefícios devem ser pesados em conformidade. Seus efeitos podem ser benéficos quando os efeitos da
Ibogaína são muito fortes e nos casos de insônia prolongada.
Se um paciente é tolerante em relação a uma dose muito alta de benzodiazepina, ou caso surjam dúvidas sobre a
precisão da dose relatada de um paciente (alguns pacientes desenvolvem uma amnésia e podem não conseguir relatar
corretamente a quantidade e a frequência de suas dosagens), isso deve ser considerado como um fator alto de risco e o
paciente deve ser considerado como sendo um candidato pobre, a menos que a sua utilização possa ser identificada.

Preparação

Sob nenhuma circunstância um paciente dependente benzodiazepina deve ser orientado a interromper o uso de
benzodiazepínicos antes ou durante o tratamento. Sugere-se que, se necessário, uma retirada sob supervisão médica
de longo prazo aconteça antes da admissão, com subsequente acompanhamento após a alta.

Durante o tratamento

Se os pacientes estão tomando benzodiazepínicos de curta ação, eles devem ser transferidos para um benzodiazepínico
de ação mais prolongada, como o diazepam oral ou clonazepam, antes do tratamento, a fim de evitar picos e vales de
ansiedade e sintomas de abstinência durante o tratamento.

O “Manual de Ashton”, e outras fontes, fornece um protocolo clínico para facilitar a desintoxicação de benzodiazepinas,
bem como para o cálculo de suas semi-vidas e diferentes doses equivalentes de benzodiazepinas.

Geralmente é possível observar sintomas de abstinência de benzodiazepínicos de ação curta dentro de 24-72 horas.
Como mencionado, se houver dúvidas sobre a precisão da dose para um paciente dependente de benzodiazepínicos,
um período de 72 horas de observação deve ser considerado. No caso das benzodiazepinas de ação prolongada, os
sintomas de abstinência podem não ser visíveis por até 3 semanas. Esses pacientes devem ser considerados como
candidatos apenas se suas doses estiverem justificadamente estáveis.

Nos casos em que o paciente não é álcool ou benzo-dependente, ou quando é apenas um simples usuário de
benzodiazepínicos, utilizar benzodiazepínicos de ação curta, como alprazolam.

Também é importante notar que, se a administração de benzodiazepínicos como um auxílio para dormir for para
usuários simples, uma porcentagem muito pequena pode experimentar um suave estado de “sonho em vigília”.

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5. Álcool

Considerações gerais

A abstinência de álcool pode ser um processo grave e com risco de vida que pode ocorrer em pacientes após semanas,
meses ou anos após beber regularmente. Assim como a retirada da benzodiazepina, a retirada de álcool também tem
sido um fator de várias mortes temporalmente associadas à administração de Ibogaína devido aos efeitos adversos
relacionados à abstinência, tais como cardiomiopatia, “delirium tremens” e apreensões diversas relacionadas às
retiradas (Alper de 2012).

Efeitos agudos de abstinência alcoólica acontecem normalmente entre 24 e 120 horas após a última bebida. O pico de
risco acontece geralmente entre 48 a 72 horas.

Preparação

Todos os pacientes devem abster-se de beber álcool durante pelo menos 3 dias antes da administração de Ibogaína, e
por pelo menos uma semana depois.

Os pacientes que estão em risco de síndrome de abstinência alcoólica precisam ser completamente desintoxicados da
sua dependência, sob vigilância médica, durante 5 a 7 dias antes do tratamento.

Suprimento

Se, durante o processo de admissão ou mais tarde existir a suspeita de que paciente bebe, uma desintoxicação e
estabilização devem ser concluídas sob supervisão médica. A estabilização deve continuar por pelo menos cinco a sete
dias antes da administração de Ibogaína, ou até que os riscos associados sejam considerados inexistentes por um
médico.

Cuidados devem ser tomados para garantir que não haja sintomas residuais de abstinência alcóolica, incluindo
prolongamento do intervalo QT, arritmia, hipertensão, delirium tremens, comportamentos psicológicos anormais,
confusões, etc.

6. Estimulantes

Considerações gerais

Os estimulantes são uma ampla classificação de substâncias psicoativas que induzem “melhorias” temporárias em
funções cognitivas ou físicas. No entanto, o uso dessas substâncias pode apresentar efeitos cardíacos significativos que
podem levar a diferentes graus de taquicardia, vasoconstrição, efeitos imprevisíveis sobre a pressão arterial, arritmias,
dependendo da dose tomada e a presença ou ausência de doenças cardiovasculares coexistentes.

Em doses mais baixas a própria Ibogaína atua como um estimulante, e, se tomada em conjunto com outros
estimulantes, a Ibogaína pode ampliar o efeito desses.

114
Além dessas preocupações gerais, muitos estimulantes específicos apresentam seus próprios riscos únicos, que serão
discutidos aqui juntamente com recomendações sobre como minimizar esses riscos antes do tratamento. Se houver
dúvidas sobre a conformidade do paciente em relação a essas drogas durante a ingestão de Ibogaína ou em qualquer
momento durante o tratamento, um exame de urina e quaisquer testes cardíacos relevantes devem ser re-
administrados.

Mesmo após os prazos de abstinência determinados e descritos a seguir, o paciente que faz uso crônico e regular de
estimulantes apresenta risco maior de arritmia devido à fragilidade de seu coração que, muito provavelmente, já está
prejudicado pelo abuso crônico de drogas. Para esses pacientes, particular atenção deve ser dada para a função
cardíaca durante todo o processo de tratamento.

Crack e cocaína

Além das considerações gerais sobre estimulantes, o crack e a cocaína são conhecidos por bloquear o “canal hERG”,
levando ao prolongamento do intervalo QT (Karle 2002).

A Ibogaína potencializa os efeitos da cocaína através da sensibilização de receptores que fazem a mediação dos seus
efeitos.

Recomenda-se que os pacientes deixem o consumo de crack e cocaína por pelo menos 7 dias antes da administração da
Ibogaína.

Metanfetamina

A metanfetamina é conhecida por prolongar o intervalo QT, embora não interaja com o “canal hERG” ou qualquer
outro canal cardíaco conhecida (Haning 2007), bem como já se sabe que ela afeta o metabolismo do citocromo CYP2D6.
A Ibogaína potencializa os efeitos da metanfetamina por sensibilização dos receptores que fazem a mediação dos seus
efeitos.

Recomenda-se que os pacientes deixem o consumo de metanfetaminas por pelo menos cinco dias antes da
administração de Ibogaína.

Estimulantes de prescrição

Recomenda-se que os pacientes deixem o consumo de estimulantes prescritos, incluindo o metilfenidato (Ritalina) e
anfetaminas / dextroanfetamina (Adderall), durante pelo menos cinco dias antes da administração de Ibogaína.

Cafeína

A cafeína inibe o metabolismo da melatonina (Härtter 2003), o que pode alterar o ciclo circadiano. A cafeína também
pode ser uma indutora de hipocalemia (níveis baixos de potássio), o que pode contribuir para o prolongamento do
intervalo QT.

Recomenda-se que os pacientes cessem o consumo de cafeína durante pelo menos 5 dias antes da administração da
Ibogaína.

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7. Antidepressivos

Considerações gerais

A Organização Mundial da Saúde afirma que "a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, e é
uma das principais contribuintes para a carga global de doenças." Ela estima que mais de 350 milhões de pessoas no
mundo sofrem de depressão (OMS 2012), e a prescrição de anti-depressivos continua a aumentar drasticamente,
especialmente nos países desenvolvidos (OCDE 2013).

Existem vários tipos diferentes de medicamentos geralmente prescritos para tratar a depressão, a maioria dos quais
operam através do aumento do nível de serotonina. Estes medicamentos podem apresentar riscos relacionados à
“síndrome da serotonina” se consumidos em estreita proximidade com a Ibogaína.

Medicamentos ISRS / IRSN

Os “inibidores seletivos da recaptação de serotonina” (ISRS) e os “inibidores de recaptação de serotonina e


norepinefrina” (IRSN) aumentam o nível de serotonina extracelular inibindo a sua absorção na célula pré-sináptica. A
Ibogaína também é conhecida por aumentar o nível de serotonina. Essas características, quando tomadas em conjunto,
podem levar a um aumento do risco de “síndrome da serotonina”, ainda que o grau deste risco não esteja claro.

Além disso, o citocromo CYP2D6 desempenha um papel importante no metabolismo da Ibogaína e dos medicamentos
SSRIs e SNRIs, o que pode levar a riscos significativos na administração da Ibogaína como acontece com outras
medicações.

Atualmente, devido às significativas semi-vidas e os sintomas de abstinência prolongados, é muito difícil para as
pessoas pararem de tomar a maioria desses medicamentos ou diminuir a dose sem um desconforto significativo. Como
resultado, muitos clínicos tratam pacientes apenas 2-3 dias após terminarem a utilização destes medicamentos. No
entanto, estes casos não podem ser considerados como sendo tratamentos ideais em termos de riscos.

Idealmente, esses medicamentos devem ser previamente interrompidos sob a observação muito cuidadosa de um
médico ou psiquiatra. Avaliações subsequentes realizadas por um médico devem ser feitas após a interrupção.

Medicamentos IMAO

O inibidor da monoamina oxidase (IMAO) afeta o metabolismo de muitas drogas e, por esta razão, é normalmente
prescrito somente quando os medicamentos ISRS ou IRSN não são uma opção. No entanto, IMAOs são por vezes
prescritos como sendo um tratamento de primeira linha para a doença de Parkinson.

Além disso, o IMAO interage significativamente com outras drogas psicoativas, incluindo alguns psicodélicos
(Ayahuasca, por exemplo), ampliando seus efeitos. Não se sabe se (ou como) a Ibogaína interage com o IMAO.

Todos os medicamentos IMAO devem ser interrompidos durante 7 a 10 dias antes do tratamento.

116
8. Os esteroides

Corticosteróides

Os corticosteróides, incluindo cortisona, hidrocortisona e prednisona, são as drogas que se assemelham muito do
cortisol produzido pela glândula supra-renal, e são vulgarmente utilizados no tratamento de asma e outras doenças
respiratórias, bem como artrite e desordens auto-imunes.

Estes fármacos são conhecidos por prolongarem o intervalo QT (Busjahn 2004), e aumentam o risco de arritmia.

Recomenda-se o cálculo de semi-vida do medicamento para que os pacientes cessem seu consumo em tempo
suficiente para que a droga seja eliminada antes do tratamento.

Se corticosteróides precisarem ser utilizados durante um tratamento, fazer isso com cautela (ver cap. 15).

Esteróides anabolizantes

Esteróides androgênicos ou anabólicos representam de perto a testosterona e estão disponíveis como tratamentos
hormonais de prescrição. No entanto, eles também são muitas vezes abusados por praticantes de musculação a fim de
facilitar o rápido desenvolvimento do tecido muscular.

Pacientes que tomam esteróides anabolizantes por via oral são propensos ao mal funcionamento do fígado. Prestar
especial atenção aos testes de função hepática.

Para todos os esteróides anabolizantes, obter um teste antígeno prostático específico (PSA), além de testes de
metabolismo. Além disso, preste muita atenção à hemoglobina e faça um teste hematócrito (exame de sangue que
serve para avaliar a percentagem das células vermelhas do sangue). Uma contagem elevada de glóbulos sanguíneos
significa um aumento de risco para trombose, formação de coágulos sanguíneos e ataque cardíaco. Esses pacientes
também tendem a ter forte ansiedade após o tratamento devido à pressão arterial elevada.
Os pacientes devem ser informados que isso é forma de abuso de substâncias.

Se o paciente está tomando corretamente a testosterona (“shots”, cremes ou géis), esta não deve ser usada durante o
dia de tratamento.

9. Outros Medicamentos

Remédios para tireoide

Se o paciente é eutireoideo (que possui a função tireóidea normal) a medicação para tireoide deve ser continuada
durante todo o tratamento.

Note-se que pacientes com hipertireoidismo que não estão sendo corretamente tratados, podem, subjetivamente,
interpretar os sintomas como sendo sintomas de abstinência de opióides. É altamente positivo certificar-se de que os
sintomas estão sendo bem cuidados antes do tratamento, e ficar atento em relação a estes sintomas durante todo o
processo de tratamento.

117
Bloqueadores beta

Bloqueadores beta (medicamentos que possuem diversas indicações, particularmente como antiarrítmicos, anti-
hipertensores e na proteção cardíaca após enfarte do miocárdio) não devem ser interrompidos de forma aguda, mas
substituídos de forma gradual ao longo de 7-14 dias por outra medicação de pressão arterial.

Medicamentos psiquiátricos

Todo o medicamento psiquiátrico atua no sistema nervoso central (ver cap. 2), e, através de acompanhamento médico,
deve ser substituído e interrompido antes do tratamento.

Pacientes que tomam medicamentos psiquiátricos de longa ação, como os de dose mensal, por exemplo, ou que não
podem ficar sem seus medicamentos por 5 dias, devem ser considerados como sendo candidatos “pobres”.

Se o paciente estiver estável, medicamentos psiquiátricos podem ser retomados 24 horas após o tratamento.

10. Preparação para o tratamento

As considerações deste capítulo e, em qualquer seção intitulada "preparação" nos capítulos anteriores, são
considerações para o período entre a confirmação de pedido do paciente e o dia da tomada de Ibogaína.

Pré-atendimento cardiovascular

Hipertensão

Os pacientes devem continuar a tomar as medicações de pressão arterial que não agem de forma centralizada. Se esses
pacientes não tomam qualquer medicamento, devem procurar recomendação médica para uma receita de medicação
de pressão arterial. Nenhum paciente pode demonstrar crise hipertensiva durante pelo menos três dias antes do
tratamento.

Hipotensão

A Ibogaína pode reduzir a pressão arterial em pacientes com hipotensão e isso pode levar a graves complicações.
Verifique a ingestão de líquidos e recomende ao paciente que se hidrate com pelo menos 0,03 litros/kg de peso
corporal ao longo do dia, e mais para pessoas fisicamente ativas. Um bom indicador de hidratação é a urina clara.

Este consumo deve ser com líquidos que contenham eletrólitos, como água de coco, ou outra forma de preparação com
eletrólitos, e não com água ou outros fluidos. Se a pressão arterial não aumenta com a hidratação, o paciente deve ser
considerado um candidato pobre e deve procurar orientação médica.

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Acesso limitado às veias

Se o paciente tem veias com acesso limitado, ele deve ser informado sobre este fator de risco e deve tentar seguir o
seguinte protocolo de atendimento pré-vascular durante pelo menos 10 dias, ou, se possível, até veias se tornam
facilmente acessíveis.
- Interromper o uso de substâncias por via intravenosa.
- Tomar uma aspirina por dia para diluir o sangue.
- Tomar 2g de vitamina C (via oral) por dia para ajudar na reparação de suas veias.

Limpeza / jejum

Os pacientes não podem estar sob nenhum tipo de jejum, especialmente jejuns severos, jejuns detox, jejuns com
restrição de proteína, pois isso pode comprometer os níveis de energia física e, principalmente, comprometer o
equilíbrio de eletrólitos no corpo. Se for o caso, jejuns devem ser suspensos 2 dias antes até 2 dias após os
procedimentos com Ibogaína.

Exceto quando o apetite é reduzido pela Ibogaína durante o tratamento, os pacientes não devem comer menos durante
o tratamento, salvo nos dias quando a Ibogaína for administrada (ver cap.12). Os pacientes devem ser aconselhados a
comer refeições saudáveis e inteiras, a fim de desenvolver força e de modo a não colocar em risco o equilíbrio
eletrolítico do seu organismo.

Nutrição e suplementação

Se os pacientes estão com níveis de potássio e magnésio abaixo da faixa normal ou preferencial (ver cap. 2), eles devem
ser instruídos a suplementar esses eletrólitos até que os resultados dos testes de sangue sejam restabelecidos a níveis
normais. Se os resultados não são inferiores ao normal, é recomendável interromper eventuais suplementações, pois
níveis mais elevados do que o normal também apresentam riscos.

Preparação psicológica

O terapeuta deve trabalhar com o paciente previamente de modo a manter realista a sua expectativa, preparar
psicologicamente o paciente e para começar a desenvolver um plano terapêutico pós-Ibogaína.

Consentimento informado

Uma cópia por escrito do termo de “consentimento informado” deve ser fornecida antes da chegada. Este documento
deve explicar claramente os riscos envolvidos ao tomar Ibogaína, bem como os métodos de tratamento e as
expectativas do centro.

Além disso, os principais riscos potencialmente fatais também devem ser discutidos antes da ingestão. Isto inclui
informações como:

- A interrupção abrupta de benzodiazepinas ou álcool, ou dentro de 72 horas antes do tratamento, pode causar
convulsões fatais durante o tratamento.

119
- A utilização de estimulantes, opiáceos ou outras substâncias que interagem com a Ibogaína durante o tratamento, ou
o uso excessivo atual ou anterior destas substâncias, aumenta muito o risco da Ibogaína desencadear uma overdose.

- A desnutrição ou desidratação antes do tratamento aumenta o risco de complicações que podem ser fatais.

- Se o paciente optar por usar opiáceos, estimulantes ou outras substâncias que interagem com a Ibogaína após o
tratamento, explicar o fato de que a tolerância de seu organismo foi significativamente reduzida para os níveis de uma
pessoa “virgem” de drogas. Caso contrário, existe risco de overdose.

- Se o paciente possui uma infecção ativa, abscesso ou veias inacessíveis, isso deve ser critério de exclusão absoluta. Se
o paciente tiver qualquer uma destas condições até o momento da tomada de Ibogaína, eles precisarão se submeter a
cuidados médicos adicionais. Esses pacientes devem seguir os protocolos de cuidados pré-vasculares mencionados
anteriormente.

Seguro médico de viagem

Se o paciente for de outro país, é muito importante que ele obtenha uma apólice de seguro médico que cubra
assistência médica de emergência durante todo o tempo de permanência do paciente. Existem muitos corretores de
seguros que oferecem políticas adequadas a preços acessíveis que podem ser comprados online.

11. Admissão

As considerações deste capítulo e, em qualquer seção intitulada "admissão" nos capítulos anteriores, referem-se ao
recebimento “em pessoa” do paciente e ao início do processo de tratamento.

Consentimento informado

Como mencionado antes, o consentimento informado sobre os riscos presentes é uma das considerações éticas mais
importantes quando se administra Ibogaína. Uma cópia do documento de consentimento informado por escrito já
fornecida ao paciente deve ser revista e assinada pessoalmente pelo paciente, com um membro da equipe de
testemunha [nota 1]. As informações básicas de contato de emergência devem ser revistas e confirmadas novamente
para uso em eventuais casos de emergência.

Triagem secundária

Eletrocardiograma

Idealmente, outro ECG deve ser realizado no momento da chegada para confirmar os resultados que foram
apresentados durante o processo de candidatura do paciente. Durante todo o processo de tratamento, antes, durante
e após, todos os critérios de exclusão e considerações de risco devem ser sempre considerados (ver cap. 2).

120
Exame de urina

Um exame de urina deve ser realizado para a triagem de uma gravidez e todas as substâncias, incluindo
benzodiazepinas, buprenorfina e álcool (há testes de urina para identificação de álcool), para que sejam verificadas as
informações apresentadas no questionário de admissão do paciente. Análises químicas do tipo GC-MS (tecnologia de
análise química) ficam disponíveis em até 24 horas.

É importante que os médicos estejam cientes de que muitas substâncias sintéticas não aparecem no teste de
laboratório padrão ELISA. Oxicodona, buprenorfina e fentanil não aparecem como opiáceos, a menos que seja
especificamente solicitado. Clonazepam e adavan não aparecem como benzos.

Além disso, testes qualitativos revelam a presença de uma substância, enquanto os testes quantitativos revelam a
concentração dessa substância no sistema. Às vezes, metabolizadores lentos dão positivo para certas drogas mesmo
depois dos períodos de preparação recomendados nos capítulos anteriores. Um teste quantitativo fornece detalhes
suficientes para verificar se o relato do paciente é preciso.

Pertences pessoais

Os pacientes devem ser convidados a entregar todos e quaisquer medicamentos, alimentos ou drogas, incluindo sprays
nasais, remédios para diarreia, medicamentos ou outros. Além disso, muitos provedores de Ibogaína preferem que os
pacientes relatem ou entreguem qualquer aparelho eletrônico que possa estar com eles, assim como qualquer outra
coisa que possa causar grandes distrações para eles ou outros pacientes durante o processo de tratamento.

Os pacientes são conhecidos por tentar esconder substâncias não mencionadas na sua bagagem, por muitas razões.
Muitas pessoas ficam preocupadas com a possibilidade do tratamento não funcionar como planejado, e “gostam” de
ficar preparadas para aliviar os sintomas de abstinência caso se sintam desconfortáveis. Este tipo de situação é comum
e deve ser esperada.

Conduzir uma busca nas bagagens (na presença dos pacientes) para certificar que qualquer item ou substância que
possa causar danos a eles ou qualquer outra pessoa durante a sua estadia é uma maneira de tentar evitar que drogas
entrem no ambiente de tratamento. No entanto, mesmo com uma pesquisa muito profunda, nem sempre é possível
garantir que as drogas não estarão presentes. A realização de questionários no início do tratamento pode, para alguns
pacientes, criar um ambiente de desconfiança se não for feito com grande cuidado e sensibilidade.

Uma alternativa menos invasiva é simplesmente observar cuidadosamente o paciente durante todo o período de
tratamento. Este tempo também pode ser benéfico para o desenvolvimento de uma relação terapêutica.

Exame médico

Idealmente, um médico deve realizar um exame físico e uma revisão do histórico clínico e dos protocolos de
preparação. É aconselhável que os exames de sangue sejam refeitos caso eles sejam mais velhos do que 14 dias,
especialmente se o paciente tiver feito qualquer outra terapia de desintoxicação. Exames de sangue e ECG atualizados
devem ser revistos antes do paciente ser autorizado para o tratamento.

Estabilização

Se for preciso, o paciente deve ser estabilizado com um opiáceo de curta ação, de preferência sulfato de morfina, por
pelo menos 24 horas. Isso, para que seja possível a observação da sua condição psicológica e para que seja permitida a
construção de uma relação terapêutica.

121
Consulte os capítulos anteriores para obter instruções sobre a estabilização de opiáceos (cap. 3), benzodiazepinas (cap.
4), álcool (cap. 5) e outras drogas (cap. 6-9).

Os médicos devem estar preparados para uma estabilização de período mais longo, caso sejam identificadas drogas não
declaradas no teste de urina.

Nota 1. Em determinadas condições legais, uma confirmação de vídeo do consentimento informado pode demonstrar
que o paciente não foi coagido no momento que a assinatura foi fornecida.

12. Tratamento

Observação contínua

As seguintes observações devem ser consideradas numa base contínua, a partir do momento em que o paciente tenha
sido esclarecido sobre o todo o processo até o momento da ingestão da Ibogaína. A execução de registros detalhados
ao longo de todo este processo é importante (ver cap. 1).

Observações gerais

Observações gerais em relação à respiração, comportamento, cor da pele e flexibilidade corporal devem ser realizadas
constantemente. A ingestão de alimentos e líquidos também deve ser observada de forma consistente. Os pacientes
devem ser instruídos a notificar os supervisores caso sintam quaisquer palpitações, dor no peito, falta de ar ou
desmaios.

Hidratação

Todos os pacientes devem estar bem hidratados antes da administração de Ibogaína. Cerca de 0,03 litros / Kg é o
recomendado ao longo do dia, ou mais, para as pessoas fisicamente ativas. Toda hidratação feita 24 horas antes do
tratamento, durante e por pelo menos 72 horas após o tratamento, deve ser feita com líquidos que contêm eletrólitos,
tais como água de coco ou outra preparação de eletrólitos, e não com água ou outros líquidos. Isso vai ajudar a manter
os níveis de eletrólitos.

Testes de triagem

Eletrocardiogramas adicionais ou outros exames devem ser administrados conforme a necessidade ou, antes do início
de qualquer tratamento de acompanhamento. Em todos os momentos, os mesmos critérios de exclusão e
considerações de risco devem ser observados (ver cap. 2).

Dieta pré-tratamento

Antes do tratamento todos os jejuns intensivos ou de desintoxicação devem ser evitados. Os pacientes devem comer
alimentos integrais saudáveis nos dias antes do tratamento, e devem certificar-se de comer bem no dia anterior. No

122
entanto, durante o tratamento, a fim de evitar náusea, os pacientes devem estar de estômago vazio. Aconselha-se a
evitar a ingestão de alimentos por pelo menos 8 a 12 horas antes da dosagem, a fim de minimizar o risco de vômitos e a
perda do medicamento.

Imediatamente antes da dosagem

As diretrizes estabelecidas no resto deste capítulo incluem considerações de supervisão para a fase aguda da
administração de Ibogaína. Alguns médicos/terapeutas têm apontado exceções somente quando certas medidas
podem causar extremo desconforto, em casos onde os riscos são avaliados como mínimos. É preciso sensibilidade para
“pesar” as vantagens e desvantagens.

Porta de acesso intravenoso

Desidratação e perda de eletrólitos provocam riscos muito sérios no tratamento com Ibogaína. Embora seja possível a
hidratação com líquidos por via oral, isto pode ser problemático em casos de vômitos crônicos, especialmente quando
as preocupações referentes a aspectos cardíacos tornam-se suficientemente relevantes por conta da presença de
medicamentos anti-nauseantes, caso o paciente precise toma-los (ver cap. 13).

Para esses casos mais complexos, a fim de evitar estes riscos, e para fornecer o acesso a medicamentos de emergência
em caso de arritmia ou alguma complicação, uma porta de acesso intravenosa deve ser inserida até que se tenha a
confirmação de que os riscos cardíacos passaram.

Na ausência de acesso intravenoso suficiente para que uma “porta” seja inserida, uma linha central pode ser inserida
no peito com o mesmo objetivo. Este procedimento, bem como a sua subsequente remoção após a sessão, deve ser
feito em um hospital caso o local não tenha equipamento adequado (e esterilizado) para tal procedimento.

Líquidos preparatórios

A administração de 1 litro de “soluto de Ringer” (soluções isotônicas ao plasma sanguíneo, formadas por eletrólitos ou
moléculas de pequenas dimensões sem carga formal. Podem conter sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, glicose e
tampões, como acetato ou citrato, para manter as condições mais próximas as do sangue) ou uma solução salina
normal, juntamente com uma ampola de sulfato de magnésio, produz uma sobrecarga de líquidos benéficos ao
organismo que diminuem a hipotensão e protege o paciente do risco de desenvolver a síndrome de “toursades de
pointes” (tipo de taquicardia ventricular). Se for o caso, administrar 1 hora antes e até 2 horas após a dose de Ibogaína
ser administrada.

Medicação anti-náusea

Em pacientes com extrema tensão física, vômitos podem proporcionar uma “liberação” e ajudar o paciente a relaxar.
No entanto, em geral, a maioria dos pacientes sente estas experiências como sendo muito desconfortáveis e cansativas
fisicamente. Em alguns casos, também pode influenciar os efeitos onirogênicos da Ibogaína.

A administração de medicamentos anti-nauseantes antes do tratamento pode ser muito útil. É importante notar que
muitos desses medicamentos, incluindo a metoclopramida (que atua no sistema nervoso central) são conhecidos por
prolongar o intervalo QT. Já o medicamento “palonesetron”, causa uma queda na frequência cardíaca após a sua
administração. Prestar especial atenção para os efeitos cardíacos de medicamentos anti-nauseantes.

A intervenção mais recomendada é 25-50mg de difenidramina, administrada antes da Ibogaína [ver nota 1].

123
Em alguns casos, a utilização de soluções mais leves pode ser suficiente, tais como extratos ou chá de gengibre.
Procurar utilizar medicação anti-nauseante apenas quando existe risco significativo de desidratação resultante de
vômitos repetidos, ou por conta de sugestão médica.

Supervisão

Os períodos de supervisão aqui recomendados devem ser iniciados após a administração de uma dose única e grande
de cloridrato de Ibogaína (Ibogaína HCL). Para mais recomendações sobre supervisão, ver o capítulo 1.

Supervisão imediata (primeiras 12-24 horas)

A fim de minimizar os riscos cardíacos, o paciente deve ser conectado a um “monitor cardíaco de 3 derivações”, sob
estreita supervisão da equipe de apoio. Essa equipe deve ter pelo menos duas pessoas presentes, uma para monitorar
as alterações cardíacas, e uma segunda para responder em casos de emergências. A qualidade e a taxa de respiração
também devem ser monitoradas de perto.

Os pacientes devem permanecer sob vigilância constante até que a equipe de apoio confirme que as alterações
morfológicas das “ondas T” permaneçam normalizadas pelo intervalo de, no mínimo, 1 hora. Essa normalização
geralmente acontece entre 12-15 horas, mas pode demorar até 24 horas.

Supervisão regular (primeiras 72 horas)

Após o período de supervisão imediata, os pacientes devem permanecer sob vigilância regular, menos intensa, durante
pelo menos 72 horas após a dose inicial.

Durante este período, embora o paciente possa estar alerta e móvel, ainda há riscos cardíacos como já foi comprovado
numa série de pesquisas (Alper de 2012). A fim de minimizar os riscos remanescentes, os níveis de oxigênio no sangue,
a pressão arterial e pulso devem ser avaliados em intervalos de, no máximo, 4 horas, enquanto o paciente estiver
acordado e sempre que possível, mesmo durante o sono.

Estado de confusão aguda

Existem casos raros onde os pacientes experimentam um estado de confusão aguda, uma ruptura psicológica da
realidade que persiste após os efeitos agudos da Ibogaína terem diminuído. Nesses casos, o paciente deve ser mantido
em um ambiente seguro com supervisão regular constante até que os efeitos do estado de confusão aguda passem.
Consulte a seção sobre intervenções para estados de “confusão aguda” no capítulo 15.

Nota 1. Nos locais onde a “difenidramina” não estiver disponível, as mesmas dosagens de “prometazina” ou outro anti-
nauseante de baixo risco cardíaco pode ser utilizado.

124
13. Dosagem

Contrato de vida

Alguns provedores tem considerado útil a realização de um "contrato de vida" com seus pacientes antes da
administração da Ibogaína. O contrato pode conter acordos simples, como não deixar o espaço antes que todos os
efeitos da Ibogaína cessem, etc., mas também pode incluir um acordo onde paciente se compromete a “voltar” e
continuar suas vidas, caso “deixem” seus corpos físicos. Obviamente isso não é exatamente uma sugestão, mas já se
provou ser útil em alguns casos (ver nota 1).

Modo de administrar

Algumas “escolas” da terapia psicodélica sugerem que o medicamento seja colocado em um recipiente em cima de
uma mesa, ao invés de entregá-lo diretamente nas mãos (ou boca) do paciente. Este “detalhe” pode contribuir sobre
aspectos de contexto psicológico, levando o paciente a entender e aceitar que sua “entrada” na experiência é resultado
de seu livre arbítrio. É muito desejável a atenção, o “capricho”, com esse tipo de detalhe durante a preparação dos
ambientes internos (set) e externos (setting) do tratamento (ver capítulo 1). Coisas extremamente mínimas e sutis
podem fazer toda a diferença quando tratamos de terapia psicodélica.

Dose teste

Uma dose de teste é uma dose única limiar (geralmente de 2 a 3 mg / kg) de cloridrato de Ibogaína, que deve ser
administrada, pelo menos, duas horas antes da dose restante, a fim de monitorar reações [ver nota 2] alérgicas. A dose
teste serve também para que seja possível observações referentes a reações metabólicas adversas [ver nota 3]. Com
experiência clínica suficiente, a equipe de apoio, através dessas observações, deve decidir qual será o plano de doses.

Existem diferentes escolas de pensamento em torno da administração de uma dose teste antes do tratamento com
Ibogaína. Com preparação e triagem bem feitas, esta dose, a princípio, não é necessária.

Considerações sobre pesos corporais nos extremos

É muito importante considerar que as recomendações de dosagem em mg/kg podem não se aplicar, literalmente, nos
casos de obesidade ou com pessoas muito magras. Nestas situações pode ser necessário tomar em consideração o
tamanho relativo do sistema digestivo da pessoa. A monitorização cuidadosa das respostas do paciente nesses casos é
altamente recomendada.

Condições hepáticas

Muitos dos que procuram a Ibogaína são diagnosticados com doenças hepáticas, ou têm suas enzimas hepáticas
elevadas por conta de hepatite C, HIV ou outras condições. Embora uma investigação clínica seja necessária, há relatos
de casos de redução de carga viral após o tratamento com Ibogaína (Lotsof 2006).

No entanto, durante o tratamento, mesmo pequenas alterações das enzimas hepáticas ou alguma lesão hepática,
podem resultar em mudanças drásticas no metabolismo da Ibogaína e outros medicamentos. Isso pode resultar em
efeitos muito rápidos ou muito prolongados e/ou intensos. Isto deve ser levado em consideração e o paciente deve ser
testado com uma dose de teste durante pelo menos oito horas antes da dose principal.

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Considerações gerais

Os pacientes não devem receber uma dose completa até estarem reunidas todas as condições de saúde e
características fisiológicas (ver capítulo 12). Seus sinais vitais e sua necessidade de drogas também devem estar
estáveis. Os supervisores devem se certificar de que os pacientes estejam bem descansados, que tiveram pelo menos
duas evacuações regulares e que estejam suficientemente nutridos e hidratados.

A fim de evitar complicações referentes a co-administração e potencialização de opióides que eventualmente ainda
estejam no corpo, nenhuma dose de Ibogaína deve ser fornecida até que desconfortos significativos de sintomas de
abstinência sejam notados. Uma pontuação de 3-7 na “escala objetiva de abstinência em opióides” (OOWS) é
considerada ideal.

Se os sintomas de abstinência estão muito evidentes, o tratamento deve ser postergado. Pontuação acima de 10 na
escala OOWS é considerada excessiva. Se sintomas de abstinência “full-blown” estiverem presentes, o paciente deve
ser re-estabilizado com sulfato de morfina e a desintoxicação assistida por Ibogaína deve ser adiada para uma melhor
oportunidade.

Pode ser extremamente angustiante (e perigoso) para uma pessoa sentir sintomas de abstinência durante os efeitos da
Ibogaína. Os sintomas devem ser avaliados objetivamente, e todos os recursos devem ser usados para que a meta
terapêutica seja atingida, desde que seja seguro continuar o tratamento.

É importante notar que as doses superiores a 12 mg / kg têm sido relacionadas a quase todos os casos de complicações
e/ou mortes, e por isso devem ser consideradas como sendo mais arriscadas. Um dose nunca deverá exceder 24 mg/kg
dentro de um período de 24 horas.

Doses de reforço

As doses de reforço são doses limite (normalmente 1 a 5 mg / kg) administradas fora do tratamento de dose única
“grande”. Otimamente, a fim de evitar complicações cardíacas, as doses de reforço não devem ser dadas mais tarde do
que 2 ou 3 horas após a dose inicial, ou, pelo menos, 24 a 36 horas mais tarde. Nos dias e semanas após a terapêutica
com Ibogaína, o uso criterioso de doses de reforço pode ajudar a tratar sintomas de abstinência residuais (verificar as
escalas de abstinência) ou outros problemas psicoterapêuticos não resolvidos. Servem também para prolongar os
efeitos terapêuticos da Ibogaína.

Em alguns casos, desconfortos semelhantes aos sintomas de abstinência podem se apresentar por causa de
desidratação, falta de sono ou outras condições. Nestes casos, as intervenções básicas de tratamento (ver capítulo 15)
são preferíveis (mesmo para as doses de reforço).

Pacientes em tratamento por conta de transtornos relacionados a drogas, especialmente transtornos de longa duração
e que envolva um uso antigo de opióides de longa duração, podem exigir maiores esforços no gerenciamento seus
sintomas de abstinência e “fissura”. Uma avaliação honesta deve ser feita, o mais cedo possível, sobre que tipo de
protocolo de tratamento será necessário para que os objetivos sejam alcançados.

Nota 1. Esta prática foi sugerida por Ann Shulgin, e provou ser útil em alguns casos. Um provedor narra a história de um
paciente alcoólatra mais velho que se viu na água, à deriva, em direção ao mar aberto, pensando que ele iria apenas
flutuar no mar. Ele então se lembrou do seu “contrato da vida”, e virou-se para voltar para a costa. Enquanto o paciente
experimentou essa visão, sua pressão arterial aumentou para níveis expressivos de risco, e ele teve que ser medicado

126
com medicação sublingual para hipertensão, o que estabilizou sua condição. Existem várias outras histórias
semelhantes em que pacientes e profissionais têm relatado o valor de se estabelecer um contrato desse tipo.
Nota 2. Existe um relato inédito referente a um homem de 28 anos, alérgico à penicilina, que respondeu com uma
erupção cutânea e falta de ar cerca de 20 minutos depois de ter tomado uma dose teste de 2,5 mg / kg (150 mg de
Ibogaína HCL).
Nota 3. Como mencionado anteriormente (capítulo 2), existe um estudo pré-clínico que recomenda uma dose não
maior do que a metade para metabolizadores pobres da enzima CYP2D6 (Glue 2015). Esta informação é baseada numa
amostra muito pequena com o uso de doses baixas. Se um paciente apresenta um fenótipo “incomum”, uma maior
atenção pode ser necessária. Independentemente disso, uma observação cuidadosa das respostas da dose teste pode
fornecer informações clinicamente úteis sobre o metabolismo do paciente.

14. Intervenções

Intervenções básicas de tratamento

Ansiedade / pânico

Avalie se há sintomas fisiológicos correspondentes e responda em conformidade.

- Utilizar técnicas de respiração com o intuito de levar o paciente a uma sensação de calma.

- A suplementação com GABA (o ácido gama-aminobutírico [GABA] é um aminoácido que ocorre no SNC em altas
concentrações, e que desempenha uma função importante na bioquímica neuronal cerebral e nos fenômenos de
regulação pós-sináptica e neurotransmissão autonôma. É vendido em farmácias e lojas de suplementos alimentares)
pode ajudar a acalmar pacientes que apresentam ansiedade aguda. Administrar 750 mg a cada 30-45 minutos, até que
o paciente se acalme.

- Suplemento com outros produtos naturais GABAérgicos para a saúde, tais como L-glutamina, valeriana, passiflora,
magnésio, pode ajudar a estabilizar pacientes que apresentem ansiedade frequentemente, especialmente pacientes
usuários de estimulantes.

- Se a ansiedade persistir, benzodiazepínicos podem ser administrados. As doses de 5 a 10 mg de diazepam por via oral
pode ser utilizada para pacientes dependentes de benzo. Para pacientes não-dependentes ou utilizadores “normais” de
benzo, 0,25 a 0,5 mg de alprazolam é o mais indicado. Em alguns casos, o uso de alprazolam pode fornecer um forte
alívio, mesmo em pacientes dependentes de benzo, mas cuidado com os “picos e vales” da abstinência. Consulte as
notas anteriores sobre benzodiazepínicos (capítulo 4).

Cansaço crônico

Consultar a seção “depressão”, abaixo.

Dor crônica

A Ibogaína, em doses limites, tem sido conhecida como uma redutora de dor. Geralmente, os pacientes não sentem dor
durante a etapa da dose completa. No entanto, é comum que a dor surja posteriormente, especialmente em pacientes

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que fizeram tratamento para dor crônica com opiáceos. Aprender a manejar a dor de forma eficaz é fundamental para
a continuação do tratamento.

O uso de opióides por longos períodos causar hiperalgesia, um aumento da sensibilidade à dor (Marion 2011). Se a
hiperalgesia foi descartada como o fator responsável pelas dores do paciente, uma avaliação exaustiva das opções de
gerenciamento de dor deve ser explorada em colaboração com o paciente.

Se o paciente foi desintoxicado de opióides, mas continua a apresentar sintomas de dor crônica e / ou pedidos de
medicação para dor, opióides podem ser prescritos sob cuidados médicos apropriados nas doses mínimas possíveis. Os
pacientes devem aconselhados sobre os riscos associados com a tolerância reduzida e, em seguida, serem orientados a
procurar um especialista em administração de dor.

Além de outras terapias adjuntas (ver capítulo 1), o alívio eficaz da dor pode ser encontrado a partir do seguinte:

- Prestar atenção à dieta e certificar-se de que o paciente está se alimentando com refeições nutritivas e integrais após
o tratamento. Evitar alimentos inflamatórios, tais como glúten e laticínios.

- Não-opiáceos, anti-inflamatórios e analgésicos não-esteroidais tais como cetorolac, 30 a 60 mg (sublingual ou


intravenal), 500 mg de naproxeno (oral), 3 mg de diclofenac (IM).

- Espasmolíticos, como carisoprodol 250 mg a 700 mg por via oral, tizanidina 2-4 mg por via oral, ou baclofeno 20 a 40
mg.

- Produtos de saúde naturais, tais como 1 a 2 g de extrato de curcumina, corydalis, 300 a 600 mg de pó de cálcio /
magnésio, ou um óleo de magnésio ou de pulverização.

- Analgésicos em forma de gel ou pomadas, como gel de diclofenac, BenGay, Tiger Balm.

- Estimulação de 5Mhz com eletroterapia craniana durante 30 minutos, duas vezes por dia.

Constipação ou impactado Bowel (condição na qual as fezes endurecem no intestino)

É fundamental que o paciente tenha evacuado normalmente pelo menos 2 vezes antes da administração de Ibogaína.
Verifique se ruídos intestinais estão normais. Certifique-se de que o paciente esteja hidratado, se faz exercícios e come
alimentos ricos em fibras, bem como legumes e frutas, como mamão. Evite bananas ou arroz branco por causa de seus
efeitos constipadores. Um laxante como Senokot pode ser administrado, mas evitar outras preparações intestinais ou
medicamentos que podem causar diarreia ou perda de eletrólitos.

Desidratação

Para obter instruções sobre como lidar com a desidratação durante o tratamento ou para os episódios graves de
desidratação aguda, veja a lista referente a intervenções emergenciais em casos de desidratação aguda mais adiante
neste capítulo.

Se o paciente ficar desidratado durante o curso normal do tratamento, tentar hidratar por via oral: aproximadamente
0,03 litros / kg de peso corporal ao longo do dia, ou mais para as pessoas fisicamente ativas. Todas as hidratações feitas
durante 24 horas antes do tratamento, durante o tratamento, e durante pelo menos 72 horas após o tratamento,
devem ser feitas com líquidos que contenha eletrólitos, tais como água de coco ou outra preparação de eletrólito, e
não com água ou outros fluidos. Isso vai ajudar a manter os níveis de eletrólitos.

128
Soro fisiológico intravenoso deve ser administrado preventivamente para tratar a desidratação em pacientes que
sofrem alguma incapacidade para reter líquidos por via oral.

Depressão

A depressão é uma condição subjacente comum a muitas pessoas que estão procurando tratamento com Ibogaína. Por
causa da atividade serotoninérgica da Ibogaína, muitos pacientes experimentam uma elevação no humor. No entanto,
ocasionalmente, os pacientes podem regredir para uma depressão aguda no período mais intenso de integração, após a
administração da Ibogaína, caso em que se deve notar que, em muitas vezes, faz parte do processo de cura. Terapias
adjuntas para tratar a depressão podem ser extremamente benéficas:

- Apoio psicoterapêutico deve estar disponível.

- Se necessário, repetidas doses mais baixas de Ibogaína podem ser administradas.

- Muitas outras formas terapia adjunta têm sido demostradas como sendo de grande auxílio no tratamento da
depressão (ver capítulo 1).

Doenças gastrointestinais

Muitas pessoas que buscam a experiência de tratamento com Ibogaína apresentam várias condições gastrointestinais.
Alguns fornecedores relatam a diminuição de vômitos, infecções intestinais e problemas relacionados (que impedem a
continuação do tratamento) através do uso de preparações probióticas e anti-nauseantes profiláticos naturais ou
farmacêuticos (gengibre, difenidramina, etc.).

Insônia

A incapacidade de dormir deve ser considerada uma resposta normal para nas primeiros 24 a 35 horas após o
tratamento. Fora desta janela, no entanto, sem descanso e recuperação adequada, pode ser muito difícil de integrar a
experiência com a Ibogaína. Uma insônia prolongada pode precipitar ansiedade, mania ou estados confusionais agudos.

- Suplementação com produtos de saúde naturais, tais como a melatonina, GABA, valeriana, triptofano, 5-HTP, etc,
podem contribuir para equilibrar os padrões de sono.

- Difenidramina pode ser administrada para facilitar o sono, como o uso “sensato” de medicamentos como o Ambien,
Lunesta e Sonata.

- Se a insônia persistir, doses de 5 a 10 mg de diazepam por via oral podem ser administradas (ver capítulo 4), mas não
é recomendado por mais do que 1 a 3 dias.

Intervenções de emergência

Abstinência aguda de álcool

Como auxiliar no alívio sintomático da agitação aguda, tremores ou “delirium tremens” e alucinações, administrar
Diazepam 10 mg intravenoso (de preferência) ou intramuscular (via ombro), seguido de 5 mg a 10 mg em 3 a 4 horas,
se necessário.

129
Se os sinais de “delirium tremens” persistirem após a primeira dose de Diazepam, continuar a administrar e considerar
transferir o paciente para um hospital.

Estado de confusão aguda

Apesar de muito raro, estados confusionais agudos podem ocorrer após a administração de Ibogaína, especialmente
depois de longas sessões que envolvem doses relativamente elevadas. Este estado é caracterizado por uma perceptível
desorientação psíquica em relação à realidade, durante a qual o paciente pode se manter totalmente alerta e
comunicativo. Na maioria dos casos relatados, esses sintomas persistem por períodos tão curtos como 15 minutos, mas
por vezes mais longos do que 24 horas. Casos extremos já foram relatados, com pessoas permanecendo nesse estado
por até 14 dias. Em todos esses casos relatados, os pacientes voltaram ao seu estado normal.

Evite o uso de medicamentos antipsicóticos para tentar impedir uma “bad trip”. Medicamentos como Haldol ou
Thorazine podem não funcionar como fazem na interrupção desses efeitos com outras substâncias psicoativas, e
podem precipitar uma experiência psicológica muito difícil que pode durar de 2-5 dias.

Os benzodiazepínicos podem estar implicados na causa ou agravamento desses sintomas de confusão mental. No
entanto, se esses não forem considerados como sendo o agente causador, os mesmos (por exemplo: de 5 a 10 mg de
diazepam para efeitos de longa ação, ou 0,25-0,5 mg de alprazolam para efeitos de curta ação mais agudos) podem ser
administrados com muito cuidado, a fim de ajudar no sono e relaxamento.

A escola da psicoterapia transpessoal considera que uma intervenção química abrupta pode interferir nas resoluções ou
avanços psicológicos do paciente. Vários pacientes já relataram, em retrospecto, que a própria experiência confusional
foi pessoalmente valiosa. Não existe caso relatado de psicose permanente resultante de um estado confusional agudo
prolongado.

O fator mais importante refere-se à manutenção de um espaço fisicamente seguro. Os pacientes devem ficar sob
constante supervisão durante todo o tratamento, e não devem ser dispensados até que sejam capazes de cuidar de si
próprios. Se os sintomas persistirem e não houver forma ou conhecimento para ajudar o paciente, uma decisão deve
ser feita em conjunto com a pessoa de contato emergencial sobre como proceder e para qual profissional médico o
paciente deve ser levado.

Reações alérgicas

No caso da reação alérgica moderada, 50 mg de difenidramina pode ser administrada (intramuscular).

Para reações mais graves, tais como edema facial, metilprednisolona (intramuscular)é preferível.
Para reações anafiláticas (fechamento da garganta) o medicamento “epipen” (injetável) deve ser administrado. O
paciente deve ser conectado a um monitor cardíaco e as vias aéreas devem ser cuidadosamente monitoradas.

Arritmias

Se forem detectadas extra-sístoles (falhas de um batimento cardíaco, também chamadas palpitações, ritmos
galopantes, etc), seguir os protocolos de SAVC (Suporte Avançado de Vida Cardiovascular). Esteja preparado e
acompanhe de perto para casos de arritmias avançadas.

Observe que as alterações da “onda T”, incluindo “ondas T achatadas”, são as alterações normais sob os efeitos da
Ibogaína. Monitorar as arritmias e, caso seja necessário, seguir os protocolos de SAVC.

130
Para arritmias ventriculares, incluindo taquicardia ventricular, fibrilação ventricular e torsades de pointes, verificar o
pulso. Se não houver pulso (o que significaria um caso de morte), tentar recuperar o paciente usando um desfibrilador
(eletrochoque). Chamar a equipe de apoio e prosseguir com os protocolos de SAVC.

Note-se que a amiodarona (remédio para distúrbios graves do ritmo cardíaco), incluída nas orientações SAVC, para
arritmias cardíacas, é conhecida por prolongar o intervalo QT. Esse medicamento não deve ser utilizado caso a Ibogaína
tenha sido administrada.

Ataque de asma

Um inalador esteroide de emergência deve ser administrado para prevenir o fechamento das vias aéreas. Cessar a
administração de Ibogaína. Monitorar os níveis de oxigênio, pulso e pressão arterial de perto. Continuar a verificar se a
falta de ar não volta.

Atenção, pois medicamentos esteroides, comumente prescritos para a asma, são conhecidos por prolongar o intervalo
QT.

Bradicardia (retardamento do ritmo cardíaco abaixo de uma frequência de 60 batimentos por minuto)

Se o pulso do paciente cair abaixo de 50 bmp, monitorar para ver ele se mantém assim e se se tornou sintomático. Se a
bradicardia é sintomático:

- Verificar o nível de consciência, a pressão arterial, a oximetria de pulso (quanto oxigênio o sangue está transportando)
e a temperatura da pele. Dar oxigênio suplementar se a saturação de oxigênio no sangue estiver abaixo de 92%.

- Administrar um total de 1 litro de uma solução de Hartmann ou Lactato de Ringer (intravenoso).

- Considerar dar atropina 0,25-0,5 mg (intravenosa) a cada 3-5 min (max dose = 3 mg).

- Considerando-se chamar uma equipe de apoio.

- Se o paciente não responder à atropina e ainda estiver em bradicardia sintomática, chamar uma equipe de apoio e
continuar os protocolos de SAVC (Suporte Avançado de Vida Cardiovascular).

Se a bradicardia não for sintomática e o paciente estiver em condições, verificar se o pulso responde a estímulos como
toque, tentar fazer o paciente sentar ou caminhar ao redor da sala.

Desidratação

Se o paciente tornar-se desidratado devido a vômitos ou outros motivos, ou se a língua do paciente estiver branca,
administrar um total de 1 litro de solução de Hartmann ou Lactato Ringer (soro) por via intravenosa. Monitorar os sinais
vitais com mais regularidade.

Distúrbios respiratórios (pode soar como ronco)

Verifique as vias aéreas, os sinais vitais e a saturação de oxigênio (veja abaixo). Isso pode ser um sinal de que o sangue
não está circulando corretamente. Verifique a existência de arritmia cardíaca (ver acima).

131
Sensação de desmaio

Se o paciente se sente fraco, verificar os sinais vitais e inquirir sobre outros sintomas. Incentivar a hidratação. Caldo de
cana ou outra fonte de glicose pode ajudar se o açúcar no sangue for um fator.

Dores de cabeça

Dores de cabeça devem ser tratadas com anti-inflamatórios não esteroidais tais como aspirina e cetorolac. Verifique se
há desidratação e, se sim, hidrate o paciente.

Hipotensão

Se a hipotensão é devido à bradicardia, tratar a bradicardia.

Se não for, ela é sintomática? É devido à hipovolemia (diminuição anormal do volume de sangue de um indivíduo)? Se
sim, administrar líquidos orais ou administrar um total de 1 litro de uma solução de Hartmann ou Lactato de Ringer IV.
Monitorizar os sinais vitais. Se o tratamento com um litro de líquidos (intravenosos) for ineficaz, considerar chamar a
equipe de apoio.

Overdose de opiáceos

Chame a equipe de apoio. Inicie uma respiração assistida (por um dispositivo que auxilie a ventilação), e continue até
equipe de apoio chegar ou até o paciente se estabilizar completamente.

Administrar 0,4-2 mg de naloxona intravenosa (preferencialmente) ou intramuscular (via ombro) ou via subcutânea,
imediatamente. Repetir a cada 2-3 min. Se nenhuma resposta for observada após 10 mg de cloridrato de naloxona,
todo o diagnóstico de opióides do paciente deve ser questionado.

É importante notar que a naloxona pode provocar taquicardia e precipitar crises de abstinência em pacientes
dependentes de opióides. Acompanhar de perto após a administração.

Se necessário, espere para estabilizar o paciente até que as possíveis interações entre a Ibogaína e os medicamentos de
estabilização fiquem minimizadas. Em seguida, estabilizar o paciente (ver final deste capítulo) e observá-lo
rigorosamente.

Saturação de oxigênio inferior a 92%

Muita atenção caso os níveis de oxigênio caiam abaixo de 95%. Abaixo de 92%, considere utilizar oxigênio suplementar,
2 litros por cânula nasal ou mais caso seja necessário, de modo a manter o oxigênio na faixa ideal. Se a saturação de
oxigênio não puder ser mantida em 1-6 litros por minuto, utilize o protocolo SAVC (Suporte Avançado de Vida em
Cardiologia) ou transfira o paciente para um hospital.

Intervalo QT prolongado

Se o paciente, perigosamente, registrar um intervalo QT prolongado superior a 500 milissegundos, ele deve ser
transferido imediatamente para um hospital para acompanhamento e tratamento cardíaco.

132
Falta de ar

Se o paciente experimentar falta de ar, verifique a saturação de oxigênio (veja abaixo).

Estados epilépticos e crises convulsivas recorrentes

Chame uma equipe de apoio. Administrar, inicialmente, 5-10 mg de diazepam intravenoso (preferencialmente) ou
intramuscular (através do ombro). Esta injeção pode ser repetida, se necessário, em intervalos de 10 a 15 minutos até
uma dose máxima de 30 mg. Fique muito atento, pois a administração de benzodiazepínicos intravenosos pode levar a
uma parada respiratória.

Vômitos

Se o paciente vomitar, verifique o vômito para ver se alguma parte da medicina que foi administrada foi regurgitada.
Pode ser o caso da cápsula ter começado a se decompor. Levar isto em consideração na próxima dosagem. Monitorar
os sinais vitais mais de perto e procurar por sinais de desidratação.

Se o vômito persistir, administrar difenidramina 50 mg (intramuscular) a cada 6 horas ou conforme necessário. Consulte
as notas anteriores sobre medicações anti-nauseantes (ver capítulo 14).

Notificação de eventos adversos

A organização GITA (Global Ibogaine Therapy Alliance), autora deste manual, mantém um formulário de eventos
adversos on-line (http://www.ibogainealliance.org/research/adverse-event-report/), que é muito relevante para o
estudo de todas as situações que resultam em hospitalização ou fatalidade. Esse formulário encontra-se disponível para
que todos os provedores de Ibogaína ao redor do mundo, que tenham experimentado alguma adversidade mais grave
durante seus tratamentos, possam informar a comunidade mundial de Ibogaína sobre as situações enfrentadas. Essas
informações são úteis para que possamos sempre atualizar esse manual.

Encerramento prematuro da administração de Ibogaína

Se durante o curso de alguma intervenção a administração de Ibogaína tiver de ser interrompida, e o paciente ainda
experimentar sintomas de abstinência, administre pequenas doses de morfina até que os sintomas de abstinência
sejam reduzidos, acompanhe de perto, e, reavalie o plano de tratamento.

133
15. Liberação do paciente

Quando liberar o paciente

Com exceção de uma emergência, onde o paciente foi internado em um hospital, a pessoa nunca deve ter alta antes de,
pelo menos, 72 horas após a administração, e nunca antes de qualquer risco considerável de saúde desaparecer.

O paciente tem o direito de deixar o local de tratamento a qualquer momento, desde que fique constatado que essa
decisão esteja sendo tomada de acordo com condições cognitivas e psicológicas “normais”. Se o paciente for liberado
antes, é preciso fazê-lo entender e reconhecer todos os riscos associados à sua saída relacionados ao seu “abandono”.
Deve ser disponibilizado a essa pessoa, também, todas as opções disponíveis referentes ao seu caso, incluindo
alternativas de tratamento. Nenhum paciente pode ser detido fisicamente, salvo em casos onde ele represente uma
ameaça física para si próprio ou para terceiros.

Acompanhamento após a alta

Um membro da equipe que tenha ficado razoavelmente “ligado” ao processo de desintoxicação do paciente deverá
estar disponível para acompanhamento através de chamadas telefônicas e/ou outros apoios durante pelo menos 6
semanas após a alta. O tempo a ser disponibilizado para acompanhamento não precisa exceder mais do que 3 horas
por semana, exceto em eventuais circunstâncias excepcionais que possam surgir diretamente do tratamento, como,
por exemplo, em casos onde condições médicas ou estados psicológicos adversos persistirem.

Os clientes devem ser muito incentivados a procurarem terapias adicionais, programas de apoio em pares ou em grupo,
serviços residenciais, ou quaisquer outros serviços que possam contribuir para a sua recuperação. Existe uma
correlação forte e direta entre essas terapias e o sucesso a longo prazo.

Geralmente, um estilo de vida mais saudável é mais fácil de ser enraizado enraizar após uma experiência com Ibogaína.
Aconselhamento e apoio em torno de escolhas simples, tais como dietas, meditação e exercícios físicos são cruciais.

Disponibilidade dos registros

Todos os registros e notas de tratamento devem ser mantidas em local seguro e confidencial. Os requisitos gerais nos
Estados Unidos para este tipo de armazenamento de documentos é de 5 a 7 anos, no entanto, os dados guardados
podem ser bem úteis para uma análise retrospectiva futura, se for preciso. Tal como indicado na “lista de direitos do
paciente de Ibogaína”, os pacientes tem o direito de rever esses registros a qualquer momento, ou receber uma cópia
caso seja solicitado (ver anexo A).

Apêndice A - Lista de direitos do paciente de Ibogaína

A “lista de direitos do paciente de Ibogaína” foi originalmente criada por Howard Lotsof para a “Fundação Dora
Weiner”, a fim de representar os direitos e responsabilidades das pessoas que se submetem a um tratamento com
Ibogaína. A organização “Global Ibogaine Therapy Alliance” (GITA) fornece este documento, além de fornecer suporte
jurídico para indivíduos que sintam que seus direitos não foram respeitados ou que possuam qualquer tipo de queixa.

134
Direitos dos pacientes de Ibogaína

Os seguintes direitos devem ser concedidos aos pacientes, no momento da admissão em um programa de terapia com
Ibogaína.

1. Você tem o direito de compreender e utilizar esses direitos. Se por qualquer motivo não compreender os seus
direitos ou você precisar de ajuda na compreensão dos mesmos, o provedor de Ibogaína deve disponibilizar todo tipo
de assistência, incluindo um intérprete, se for necessário.

2. Você tem o direito de ser informado sobre a dose e a forma de Ibogaína que receberá.

3. Você tem o direito de receber informações completas sobre o seu diagnóstico, tratamento e prognóstico.

4. Você tem o direito de participar de todas as decisões referentes ao seu tratamento.

5. Você tem o direito de receber tratamento sem discriminação de raça, cor, religião, sexo, nacionalidade, deficiência
ou orientação sexual.

6. Você tem o direito de receber um atendimento atencioso e respeitoso em um ambiente limpo e seguro, livre de
restrições “desnecessárias”.

7. Você tem o direito de ser informado sobre o nome, cargo, experiência e credenciais do cuidador principal que será
responsável pela sua terapia com Ibogaína.

8. Você tem o direito de receber todas as informações que você precisar para dar seu “consentimento informado”
referente a qualquer procedimento proposto ou tratamento que você irá receber, além dos possíveis riscos e benefícios
do procedimento ou tratamento proposto.

9. Você tem o direito de recusar o tratamento e ser informado sobre os possíveis efeitos que isso pode ter sobre sua
saúde.

10. Você tem o direito de ser informado sobre alternativas terapêuticas relacionadas ao seu caso.

11. Você tem o direito à privacidade durante o tratamento com Ibogaína, e confidencialidade sobre todas as
informações e registros relacionados ao seu tratamento.

12. Você tem o direito de rever o seu registo de tratamento e obter uma cópia gratuita de seu registro de tratamento,
ainda que seu fornecedor venha a cobrar.

13. Você tem o direito de reclamar sem medo de represálias sobre os cuidados e serviços que você está recebendo, e o
provedor tem a obrigação de responder.

14. Você tem o direito de apresentar um relatório de reclamações e ter um advogado para intervir em seu nome, caso
seja necessário.

Responsabilidades dos pacientes de Ibogaína

Ao aceitar os direitos concedidos acima, o paciente deverá aceitar, também, as seguintes responsabilidades:

135
1. Você é responsável pelo fornecimento de todas informações, precisas e completas, relacionadas a doenças passadas,
internações, medicamentos e outros assuntos referentes à sua saúde.

2. Você é responsável por fornecer toda informação necessária aos seus fornecedores de tratamento e/ou outros
cuidadores, caso eles indiquem algum problema durante seu tratamento.

3. Você deve assumir a responsabilidade de solicitar informações ou esclarecimentos adicionais sobre o seu estado de
saúde ou tratamento, quando os provedores não entenderem completamente as informações ou instruções referentes
à sua saúde atual.

Apêndice B: Lista de equipamentos e medicamentos recomendados

Equipamentos

- Monitor cardíaco de 3 derivações para cada cliente sob supervisão, de preferência com manual de desfibrilação.

- Tanques de oxigênio, reguladores de pressão, tubos, cânulas nasais, máscaras e saco de ambu.

- Portas para acesso intravenoso e tubos.

- Desfibrilador automático externo. São os ideais, especialmente quando não há desfibriladores manuais nos monitores
cardíacos, ou quando o pessoal com conhecimentos avançados em suporte cardíaco não estiverem presentes para
operá-los.

- Seringas estéreis e unidades de eliminação seguras.

- Balança com precisão de até 0,01 gramas, ou melhor.

- Caixa possível de ser trancada, para todos os medicamentos.

- Medidor de pressão sanguínea.

- Oxímetro de pulso.

- Máscaras de relaxamento tipo “Mindfold”, ou outro tipo confortável de máscara para os olhos.

Medicamentos

- Todos os remédios indicados em protocolos de “suporte cardiovascular avançado” (esses protocolos são encontrados
facilmente na internet).

- Anti-inflamatórios não esteroides.

- Difenidramina oral e intravenosa, ou algum substituto apropriado (ver capítulo 12).

- Alprazolam oral.

- Sulfato de morfina oral.

136
- Sacos de 1 litro de solução de Hartmann ou Ringer Lactato (soros).

- Atropina intravenosa.

- Epinefrina.

- Dopamina.

- Diazepam oral e intravenoso.

- Ativan oral.

- Ativan / lorazepan intravenosos.

- Naloxone intravenoso.

- Sulfato de magnésio.

- Cloreto de potássio.

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140
Apêndice C

Orçamento básico dos equipamentos de monitoração indicados nas diretrizes


clínicas - GITA (Global Ibogaine Therapy Alliance)

Data do orçamento: 22/Out/2015.


Obs.: No Brasil, existem múltiplas opções para todos os equipamentos orçados abaixo. Os preços variam em função do modelo,
marca e características técnicas. Esse orçamento considera apenas os equipamentos com características técnicas e valores médios
(foram excluídos os mais básicos e os mais avançados). Se a compra desses equipamentos for necessária, pesquisas adicionais
deverão ser realizadas.

1 - Monitor cardíaco de 3 derivações

- Marca: CMOS Drake.


- Modelo: GOL.
- Parâmetros monitorados:
- ECG: Captação de todas as derivações. Alarmes programáveis de frequência cardíaca para taquicardia e bradicardia.
Apresenta curva de respiração e frequência instantânea continuamente na tela. Alarmes visual e sonoro com limites ajustáveis.
- SPO2 (oximetria de pulso): Monitora o nível de saturação de oxigênio no sangue do paciente, com sistema de alarme.
- PNI (pressão não invasiva): Com a capacidade de medir e monitorar de forma constante as pressões diastólica, sistólica
e média. Com sistema de alarmes.
- Temperatura: Permite a monitorização da temperatura esofágica e superficial. Com sistema de alarmes.
- Outras características:
- Modelo portátil. Dimensões 25,8 cm x 21 cm x 18cm. Peso: 2,9 Kg.
- Alimentação: 110/220 volts ou bateria recarregável.
- Display colorido de 7".
- Tem a possibilidade de interligação a redes de dados com e sem fio. É possível fazer a monitoração à distância.
- Preço: R$7.990,00. Pode ser parcelado em até 11 vezes na seguinte loja: http://biotecmed.com.br/ .

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2 – Kit portátil de oxigênio completo

- Marca: Biotecmed.
- Modelo: Kit completo de oxigênio.
- Características: O “kit Portátil de oxigênio completo” é utilizado para administrar o oxigênio do paciente com escalas que variam
entre 0, 1, 2, 3, 5, 7, 10, 12, 15 LPM (litros por minuto). Muito utilizada em situações de resgate de vítimas ou até mesmo para uso
hospitalar e residencial.
- Preço: R$799,90. Pode ser parcelado em até 11 vezes na seguinte loja: http://biotecmed.com.br/ .

3 - Desfibrilador automático externo

- Marca: Biotecmed.
- Modelo: DEA desfibrilador externo automático LIFE 400.
- Características: O Dea Desfibrilador externo automático é de fácil manuseio e totalmente portátil, ele é muito utilizado em
situações de resgate, emergências e em ambulâncias.
- Preço: R$5.800,00. Pode ser parcelado em até 11 vezes na seguinte loja: http://biotecmed.com.br/ .
O restante do material indicado no manual da GITA, seringas, balança de precisão, etc, são instrumentos simples,
baratos e de fácil acesso em farmácias.

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Valor total do investimento:

- Monitor cardíaco: R$7.990,00


- Conjunto de oxigênio: R$799,90
- Desfibrilador: R$5.800,00

Total: R$14.589,90

Notas:
- O termo “estrutura hospitalar” que aparece ao longo de todo esse relatório, refere-se apenas a esses equipamentos.
- Um curso básico de enfermagem (administração de injeções, aplicação de soro, etc) e técnicas de reanimação cardíaca podem ser muito úteis.

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Apêndice D

Drogas – Padrões, efeitos, estatísticas, exames toxicológicos

A auto-administração de qualquer quantidade de substância psicoativa pode ser definida em diferentes padrões de uso
de acordo com suas possíveis conseqüências. Atualmente os especialistas utilizam duas formas diferentes de
categorizar e definir esses padrões. São elas:
CID-10 (10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças da OMS) e o DSM-IV (4ª edição do Manual de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana).

Esses padrões acima, bem definidos por Bertolote (1997), são aceitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e
muito difundidos no linguajar de quem lida com o assunto, apesar de não possuírem correspondência nos padrões
classificadores de transtornos e doenças.

Este tipo de padronização não se constitui a partir de um transtorno ou doença, e está baseada na forma de uso e na
relação que o indivíduo estabelece com a substância e suas conseqüências negativas.

Uso experimental, uso recreativo, uso controlado e uso social de drogas

- Uso Experimental - Os primeiros poucos episódios de uso de uma droga específica – algumas vezes incluindo tabaco
ou álcool - extremamente infreqüentes ou não persistentes.

- Uso Recreativo - Uso de uma droga, em geral ilícita, em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações com
dependência e outros problemas relacionados, embora haja os que discordem, opinando que, no caso de droga ilícita,
não seja possível este padrão devido às implicações legais relacionadas.

- Uso Controlado - Refere-se à manutenção de um uso regular, não compulsivo e que não interfere com o
funcionamento habitual do indivíduo. Termo também controverso, pois se questiona se determinadas substâncias
permitem tal padrão.

- Uso Social - Pode ser entendido, de forma literal, como uso em companhia de outras pessoas e de maneira
socialmente aceitável, mas também é usado de forma imprecisa querendo indicar os padrões acima definidos.

- Uso nocivo/abuso e Dependência - Esses padrões de uso estão representados nos sistemas classificatórios CID-10
(10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças da OMS) e o DSM-IV (4ª edição do Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana).

Podendo ser entendido como um padrão de uso onde aumenta o risco de conseqüências prejudiciais para o usuário. Na
CID-10, o termo “uso nocivo” é utilizado como aquele que resulta em dano físico ou mental. Na DSM-IV, utiliza-se o
termo “abuso”, definido de forma mais precisa e considerando também conseqüências sociais de um uso problemático,
na ausência de compulsividade e fenômenos como tolerância e abstinência.

A definição de abuso (DSM-IV) baseia-se na ocorrência de um ou mais dos seguintes critérios no período de 12 meses:

1. Uso recorrente resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na
escola ou em casa;

2. Uso recorrente em situações nas quais isso representa perigo físico;

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3. Problemas legais recorrentes relacionados à substância;

4. Uso continuado, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes, causados ou exarcebados
pelos efeitos da substância.

Já a definição de uso nocivo (CID-10) baseia-se nos seguintes critérios:

1. Evidência clara de que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmente) por dano físico ou psicológico,
incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção de comportamento;

2. A natureza do dano é claramente identificável;

3. O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de 12
meses;

4. Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma substância no mesmo período (exceto
intoxicação aguda).

O uso de substâncias capazes de alterar o estado mental, conhecidas como substâncias psicoativas (SPA), ocorre há
milhares de anos, seja por razões culturais ou religiosas, seja por recreação ou meio de socialização.

O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de substâncias psicoativas evoluem
constantemente, e muito se baseiam na relação humana com o álcool, devido ao fato de ser a droga mais difundida e
de mais antigo uso.

Os aspectos da questão relacionados à saúde só passaram a ser estudados e discutidos nos dois últimos séculos. No
século XX, nos Estados Unidos, E.M Jellinek foi talvez o maior expoente dentre os cientistas de sua época a estudar e
divulgar o alcoolismo, obtendo amplo apoio e penetração dentre os grupos de ajuda mútua, recém-formados em 1935,
como os Alcoólicos Anônimos (AA) e exercendo grande influência na OMS e na Associação Médica Americana (AMA).

Nos primeiros anos da década de 60, o programa de Saúde Mental da OMS tornou-se ativamente empenhado em
melhorar o diagnóstico e a classificação de transtornos mentais, além de prover definições claras de termos
relacionados. Convocou-se uma série de encontros para rever o conhecimento a respeito do assunto, envolvendo
representantes de diferentes disciplinas, de várias escolas de pensamento em psiquiatria e de todas as partes do
mundo para o programa, que estimulou e conduziu pesquisa sobre critérios para a classificação e a confiabilidade de
diagnóstico, produziu e estabeleceu procedimentos para avaliação conjunta de entrevistas gravadas em vídeo e outros
métodos úteis em pesquisa sobre diagnóstico.

Sistemas Classificatórios

- Classificação Internacional de Doenças (CID) - Numerosas propostas para melhorar a classificação de transtornos
mentais resultaram do extenso processo de consulta e foram usadas no rascunho da Oitava Revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID-8).

Atualmente, utiliza-se a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), que acrescenta as descrições
clínicas e diretrizes diagnósticas das doenças.

- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) - Produzido pela Associação Psiquiátrica Americana,
tem finalidade clínica, de pesquisa e educacional, melhorando a comunicação entre clínicos e pesquisadores. Encontra-
se em sua 4ªedição (DSM-IV).

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É importante ressaltar que os dois sistemas classificatórios citados, em suas versões atuais, refletem em seus critérios
para as dependências os conceitos de Síndrome de Dependência do Álcool (SDA), propostos inicialmente por Edward e
Gross em 1976.

A SDA, por ser um diagnóstico dimensional, pode estabelecer níveis de comprometimento ao longo de um uso
contínuo, entre o nunca ter experimentado até o gravemente enfermo, considerando os aspectos do grau de
dependência relacionado com o grau de problemas.

Os principais sintomas da SDA são:

- Estreitamento do repertório de beber - O beber se torna mais comum, com menos variações em termos da escolha
da companhia, dos horários, do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez mais estereotipado à medida que
a dependência avança.

- Saliência do comportamento de busca pelo álcool - A pessoa passa, gradualmente, a planejar seu dia-a-dia em função
da bebida – como vai obtê-la, onde vai consumi-la, e como irá recuperar-se -, deixando as demais atividades em plano
secundário.

- Sensação subjetiva da necessidade de beber - A pessoa percebe que perdeu o controle, que sente um desejo
praticamente incontrolável e compulsivo de beber.

- Desenvolvimento da tolerância ao álcool - Por razões biológicas, o organismo do indivíduo suporta quantidades cada
vez maiores de álcool ou a mesma quantidade não produz mais os mesmos efeitos que no início do consumo.

- Sintomas repetidos de abstinência - Em paralelo com o desenvolvimento da tolerância, a pessoa passa a apresentar
sintomas desagradáveis ao diminuir ou interromper a sua dose habitual. Surgem ansiedade e alterações de humor,
tremores, taquicardia, enjôos, suor excessivo e até convulsões, com risco de morte.

- Alivio ou evitação dos sintomas de abstinência ao aumentar o consumo - Nem sempre o sujeito admite, mas um
questionamento detalhado mostrará que está tolerante ao álcool e só não desenvolve os descritos sintomas na
abstinência, porque não reduz ou até aumenta gradualmente seu consumo, retardando muitas vezes o diagnóstico.

- Reinstalação da síndrome de dependência - O padrão antigo de consumo pode se restabelecer rapidamente, mesmo
após um longo período de não-uso.

O diagnóstico da dependência é importante na medida em que permite estabelecer o conhecimento científico e a


explicação contemporânea mais aceitável para a existência da doença; comunicar-se da forma mais exata e coerente
possível; prever a evolução da enfermidade; medir e comparar os resultados dos diversos recursos terapêuticos;
fundamentar a indicação e avaliação da terapêutica reabilitadora.
A relação de um indivíduo com SPA pode, dependendo do contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas
também pode assumir padrões de utilização altamente disfuncionais, implicando em prejuízos físicos, psicológicos e
sociais.

Cada tipo de droga provoca um determinado efeito no organismo:

A) DROGAS ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL - As drogas estimulantes, como diz o próprio nome,
estimulam o cérebro a funcionar num ritmo mais rápido, fazendo com que a pessoa fique mais "ligada", "elétrica", sem
sono, alterando o humor e ocasionando agitação corporal. Este grupo de substâncias é também chamado de
psicoanalépticos, nooanalépticos, timolépticos. As mais comuns, são:

- Anfetaminas - As anfetaminas são drogas sintéticas, fabricadas em laboratório. Não são, portanto, produtos naturais.
Existem várias drogas sintéticas que pertencem ao grupo das anfetaminas e como cada uma delas pode ser

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comercializada sob a forma de remédio, por vários laboratórios e com diferentes nomes de fantasia, temos um grande
número destes medicamentos. A médio prazo a droga pode produzir tremores, inquietude,desidratação da
mucosa(principalmente boca e nariz),taquicardia,efeitos psicóticos e dependência psicológica. A substância vai se
acumulando no cérebro e atinge um nível dez vezes maior que a do sangue. Quando se encontra em uma situação que
provoque medo, o organismo libera adrenalina e solta a anfetamina depositada no tecido gorduroso e pode provocar
psicoses e agressões físicas no usuário crônico. As células adaptam-se rapidamente às anfetaminas e causam tolerância.
Quando acontece a sua retirada súbita acarreta um sono excessivo, aumento de apetite e comportamento depressivo.

- Cocaína - A cocaína é um alcalóide presente numa planta cultivada em regiões andinas e amazônicas - a coca - cujo
nome científico é Erythroxylon coca. É a droga que mais rapidamente devasta o usuário. É freqüentemente injetada,
inalada ou por via oral (sob a forma de crack). Nos primeiros minutos, o usuário tem alucinações agradáveis, euforia,
sensação de força muscular e mental. Os batimentos cardíacos ficam acelerados, a respiração torna-se irregular e surge
um quadro de grande excitação. Depois, ele pode sentir náuseas e insônia. Algumas semanas podem ser suficientes
para que ela cause um emagrecimento profundo, sangramento do nariz e corisa persistente, lesão da mucosa nasal e
tecidos nasais, e pode até causar perfuração do septo. Segundo os especialistas, em pessoas que têm problemas
psiquiátricos, o uso de cocaína pode desencadear surtos paranóides, crises psicóticas e condutas perigosas a ele próprio
ou a terceiros.

Veja alguns sinais que podem ser reconhecidos por pessoas mais atentas: 1. Olhos brilhantes: costuma-se dizer que o
usuário fica de "olho em pé". As pupilas se dilatam, os olhos se movimentam rápido, extremamente vivos e bem
abertos. A visão pode embaçar. 2. Boca seca: falta saliva e a língua tende a ficar branca pela saburra que se acumula ali.
3. Agitação psicomotora: o usuário não pára quieto. Fala e gesticula bastante. Demonstra um estado de euforia, uma
espécie de alegria exagerada. 4. Dificuldade para dormir: a agitação é tamanha que o impede de conciliar o sono. Não
pára de se movimentar. Parece que está "fritando na cama". O sono chega ao amanhecer, portanto só vai acordar
depois do almoço. 5. Coordenação motora diminuída: cai a capacidade de realizar atividades manuais. Pode se
atrapalhar ao volante. 6. Ritmo acelerado: seus movimentos, pensamentos, fala, tudo está a mil por hora. Pode
apresentar tiques. 7. Hábito de fungar: ele "puxa"o nariz, pois sente a presença de coriza (nariz vazando) como se fosse
um resfriado, apesar de nada apresentar. 8: Mexe sempre no nariz: limpa-o constantemente com as costas da mão,
como se ele estivesse escorrendo. E pouco tempo depois o nariz torna a incomodar. 9. Transpiração excessiva: o suor
aparece mais nas mãos e axilas, um pouco na testa e raramente nos pés. 10. Fala com os dentes cerrados: dá
impressão de que está mordendo algo com bastante firmeza (trincando). 11. Tonturas: podem vir acompanhadas de
tremores e até mesmo de convulsão. 12. Desconfiança: acha que todos já percebram que "aprontou". É a
"nóia"(paranóia), sentimento de estar sendo perseguido. 13. Perda de apetite: é um sinal que permanece por dias.
Mesmo fora dos efeitos agudos da cocaína, o usuário pode não ter vontade de comer e acabar emagrecendo. 14.
Mudança de humor: torna-se inquieto, irritável e agressivo.

- Crack - O crack atinge e repercute em praticamente todo o organismo: sistema nervoso, pulmões, coração, rins, tubo
digestivo, coração, etc. O dependente de crack quase não come, nem dorme, o que ocasiona um rápido processo de
desnutrição e emagrecimento, ainda mais intenso que o produzido pela cocaína. Uma pessoa adulta dependente de
crack pode perder até dez quilos em um único mês. Os dependentes de crack também passam a não ligar mais para
hábitos básicos de higiene e cuidados com a aparência. Neurologicamente, o uso do crack pode levar a dores de
cabeça, tonteiras, inflamações dos vasos cerebrais, etc. Na árvore respiratória a alta temperatura da fumaça do crack
pode causar lesões na laringe, traqueia e brônquios que favorecem o aparecimento da pneumonia e da tuberculose. Na
circulação, o crack provoca a liberação de adrenalina e, com isso, o aumento da frequência cardíaca e subida da pressão
arterial, arritmias, isquemias e infarto agudo do miocárdio. No aparelho digestivo, o crack provoca sintomas como
náusea, perda do apetite, flatulência, dor abdominal e diarreia. Mas a árvore respiratória é a que mais sofre com o vício
do crack. Normalmente há tosse, dor no peito, falta de ar, escarro sanguinolento. Podem ocorrer quadros psiquiátricos
graves, como delírios, alucinações, paranoias, etc.

- Nicotina - A nicotina está presente nas folhas do tabaco (Nicotiana tabacum), uma planta nativa das Américas. Ela é
hoje a planta psicoativa mais consumida no mundo, em forma de cigarro.

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A nicotina é um estimulante leve. Quando consumida nas primeiras vezes provoca tonturas, formigamento e alterações
discretas do humor e do estado de vigília. Esses sintomas são principalmente perceptíveis nos primeiros episódios de
consumo, sendo progressivamente menos percebidos com o uso freqüente (tolerância). Todos os sistemas do corpo
são afetados por ela que é o componente do cigarro responsável pela dependência. Quanto mais cedo se inicia o vício,
mais difícil se torna para abandoná-lo. O uso prolongado causa estragos. O pulmão é o maior prejudicado.

De acordo com Sílvia Cury, no site http://www.aol.com.br/revista/impressao, tanto a dependência física quanto a
psicológica estão relacionadas à nicotina, que age diretamente no receptor cerebral.É mais complicado livrar-se do vício
psicológico, porque há uma ligação emocional com o cigarro muito forte.
Alguns sintomas decorrentes da abstinência são dores de cabeça, mal-estar, tremor, ansiedade, aumento de apetite,
diminuição de batimentos cardíacos, insônia, irritabilidade e depressão. Ela demora menos de 10 segundos para passar
da boca ao cérebro. Ingerida pelas vias respiratórias, a NICOTINA é despejada no sangue, que irriga todo o corpo,
incluindo o cérebro. A NICOTINA diminui a capacidade de circulação sangüínea, aumenta a deposição de gordura nas
paredes dos vasos sangüíneos e sobrecarrega o coração, podendo levar ao infarto.

- Cafeína - A cafeína é a droga estimulante mais usada no mundo. É um alcaloide encontrado nos grãos do café, nas
bagas do guaraná, nas folhas de chás, nas nozes de cola e nos grãos de cacau (nesse em menor quantidade). Em sua
forma pura, a cafeína é um pó branco formado por pequenos cristais e tem o sabor muito amargo. É usada como
estimulante cardíaco e diurético. A forma de consumo mais utilizada pelo ser humano é o café. No chocolate a
quantidade é muito pequena, por isso não tem efeito sobre o organismo - a não ser pela quantidade calórica, que pode
provocar aumento de peso. Ao contrário do álcool, a cafeína tem um efeito de duração curta. O excesso de café pode
provocar pressão arterial alta (que pode provocar acidentes vasculares cerebrais), vasoconstrição e aumento da
produção de ácidos gástricos (o que pode provocar úlceras no estômago e no esôfago).

B) DROGAS DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL - As drogas depressoras acalmam o cérebro, fazendo-o
funcionar mais devagar, diminuindo a ansiedade e prostrando o corpo, fazendo com que a pessoa fique "desligada",
"devagar", desinteressada pelas coisas. Este grupo de substâncias é também chamado de psicoléptico. No conjunto das
drogas depressoras, as mais conhecidas são o álcool, os soníferos, a heroína, a morfina, os inalantes, os remédios
ansiolíticos e antidepressivos (barbitúricos) e seus derivados. As mais comuns, são:

- Heroína - A heroína é descendente direta da morfina, e ambas são tão relacionadas que a heroína, ao penetrar na
corrente sanguínea e ser processada pelo fígado, é transformada em morfina. A droga tem sua origem na papoula,
planta da qual é extraído o ópio. Processado, o ópio produz a morfina, que em seguida é transformada em heroína.

A heroína é uma das mais prejudiciais drogas de que se tem notícia. Além de ser extremamente nociva ao corpo, a
heroína causa rapidamente dependência química e psíquica. Ela age como um poderoso depressivo do sistema nervoso
central. Logo após injetar a droga, o usuário fica em um estado sonolento, fora da realidade. Esse estado é conhecido
como "cabeceio" ou "cabecear". As pupilas ficam muito contraídas e as primeiras sensações são de euforia e conforto.
Em seguida, o usuário entra em depressão profunda, o que o leva a buscar novas e maiores doses para conseguir
repetir o efeito.

Fisicamente, o usuário de heroína pode apresentar diversas complicações como surdez, cegueira, delírios, inflamação
das válvulas cardíacas, coma e até a morte. No caso de ser consumida por meios injetáveis, pode causar necrose (morte
dos tecidos) das veias. Isto dificulta o viciado a encontrar uma veia que ainda esteja em condições adequadas para
poder injetar uma nova dose. O corpo fica desregulado deixando de produzir algumas substâncias vitais como a
endorfina ou passando a produzir outras substâncias em demasia, como a noradrenalina que, em excesso, acelera os
batimentos cardíacos e a respiração. O corpo perde também a capacidade de controlar sua temperatura causando
calafrios constantes. O estômago e o intestino ficam completamente descontrolados causando constantes vômitos,
diarréias e fortes dores abdominais.

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- Soníferos e barbitúricos - Outra preocupação constante dos médicos é o uso abusivo dos antidepressivos, soníferos e
ansiolíticos (barbitúricos), pois são substâncias químicas sintéticas que atuam no sistema nervoso central e são
utilizadas para diminuir a ansiedade e induzir ao sono. Eram utilizados como soníferos até serem substituídos por
medicamentos para uso mais específico e menos perigosos. O seu uso teve um declínio pois ocorriam muitas mortes
por ingestão acidental, era utilizado em homicídios e suicídios. Surgiram então novas drogas como os
benzodiazepínicos: tranqüilizantes usados em grande escala, com boa margem de segurança, mas que também causam
dependência. Quando um sedativo tem a capacidade de diminuir a dor, recebe o nome de analgésico. Já, quando é
capaz de afastar a insônia, ele é chamado de hipnótico ou sonífero. E quando um calmante atua mais sobre estados
exagerados de ansiedade, ele é denominado de ansiolítico. Existem ainda algumas destas drogas que são capazes de
acalmar o cérebro hiperexcitados dos epilépticos. São as drogas antiepilépticas, capazes de prevenir as convulsões
provocadas nos doentes. Os barbitúricos podem causar dependência, e quando o usuário deixa de tomá-los, passa a ter
a síndrome da abstinência, que causa irritação, delírios, angústia, insônia e até provoca consulvsões generalizadas. Há
necessidade então de tratamento médico e hospitalização, por há perigo de morte.

- Álcool - O álcool é considerado uma droga psicotrópica. É um depressor do cérebro agindo diretamente am diversos
órgãos (fígado, coração, vasos e na parede do estômago).É consumido em bebidas vendidas comercialmente e o teor
alcólico varia de acordo com a marca e o tipo de bebida. A fermentação e a destilação são os métodos utilizados para
fabricação da bebida alcólica. As bebidas destiladas possuem teores alcólicos mais fortes do que as produzidas por
fermentação. Os sinais e sintomas de intoxicação alcoólica (quando é ingerida uma quantidade acima do tolerável para
o organismo) são: euforia leve que evolui para tontura, desinibição, sociabilidade. Conforme o usuário aumenta a dose
os efeitos passam a ser mais depressivos, causando diminuição sensitiva, descontrole, confusão, sono e pode atingir
graus de anestesia (estupor e coma). O álcool pode deixar também o consumidor com o rosto vermelho, causar dor de
cabeça, dificuldade de falar e mal-estar seguido de vômito. Os efeitos do álcool no organismo variam conforme a
quantidade e o tipo de bebida ingerida. Outros fatores podem interferir nessa relação: o organismo do consumidor, a
velocidade da ingestão, o desenvolvimento da tolerância, o consumo de alimentos (que diminui a velocidade de
absorção). A mistura de bebidas fermentadas com destiladas contribui para a potencialização dos efeitos do álcool.

A Síndrome de abstinência inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Os tremores de extremidade
e lábios são os mais comuns, associados a náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos mais graves
evoluem para convulsões e estados confusionais, com desorientação temporal e espacial, falsos reconhecimentos e
alucinações auditivas, visuais e táteis (delirium tremens).

- Inalantes - São inalantes um grupo bastante grande de produtos diferentes, usados de forma lícita em indústrias,
comércios e em domicílios. Entretanto, são substâncias usadas também com o objetivo de produzir alterações mentais
ou efeitos de conduta.

Como evaporam à temperatura ambiente, são facilmente inaladas (cheiradas) de qualquer recipiente. Os inalantes mais
populares são a cola de sapateiro, esmalte, benzina, lança perfume, loló, gasolina, acetona, tíner, éter, aguarrás e
tintas.

Os efeitos mais comuns do uso dos inalantes são: euforia, sonolência, diminuição da fome, alucinações, tosse, coriza,
náuseas e vômitos, dores musculares, visão dupla, fala enrolada, movimentos desordenados e confusão mental. Em
altas doses, pode haver queda da pressão arterial, diminuição da respiração e dos batimentos cardíacos, podendo levar
à morte. O uso continuado pode causar problemas nos rins e destruição dos neurônios, podendo levar à atrofia
cerebral. O uso prolongado está freqüentemente associado a tentativas de suicídio.

C) DROGAS PERTURBADORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL OU ALUCINÓGENAS - Os alucinógenos alteram


qualitativamente as funções do cérebro, isto é, provocam distorções fazendo com que a pessoa passe a perceber as
coisas deformadas, semelhantes a quadros psicóticos. Este grupo de substâncias é também chamado de alucinógenos,
psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamórficos, alucinantes. Elas não produzem dependência

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química e nem provocam síndrome de abstinência, contudo, há controvérsia quanto à dependência psicológica. As mais
comuns, são:

- Maconha - A maconha é ainda uma das drogas mais populares em todo o mundo. Cerca de 160 milhões de pessoas já
usaram maconha ao menos uma vez, e seu consumo deverá crescer nos próximos anos. O tetrahidrocanabinol (THC) é a
substância química produzida pela maconha e responsável pelos efeitos psicológicos da planta. Dependendo da
quantidade de THC presente, a maconha pode produzir efeito mais ou menos potencializado. O estado psicológico do
usuário também influencia os efeitos que a droga produz no organismo e determina as sensações agradáveis ou
desagradáveis. Deste modo, a mesma quantidade de maconha que é insuficiente para um, pode provocar efeitos
nítidos em outro. Entretanto, existem alguns sintomas clássicos do uso da maconha, como olhos avermelhados, boca
seca, taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), aumento do apetite, sonolência, deformação na percepção de
tempo e espaço, prejuízo na atenção e memória de curto prazo, problemas respiratórios (bronquite, sinusite, faringite,
tosse seca, congestão nasal, etc), esterilidade masculina.

- Haxixe - O haxixe é simplesmente uma espécie de resina concentrada que se extrai da maconha. A resina é prensada
em pedaços, em pelotas ou tabletes. Os efeitos assemelham-se aos da maconha, porém devido à maior concentração
do THC, os efeitos são mais intensos. São eles: euforia, falar em demasia, olhos avermelhados, aumento de apetite,
dilatação da pupila, distorção na percepção do tempo e espaço, vontade de comer doce, depressão, insônia. O abuso
provoca distúrbios hormonais, imunológicos, cardiovasculares e gastrointestinais, esterilidade.

- LSD - LSD é abreviação de dietilamida do ácido lisérgico. Ele produz alucinações (bastam 25 microgramas) - as
situações ao redor da pessoa se alteram, criando ilusões: a pessoa tem a sensação de sons que podem ser vistos,
"escuta uma cor", sensação simultânea de relaxamento e tensão, alegria e tristeza, enfim uma série de sensações e
percepções inexistentes. Alguns usuários usam-na com a intenção de expandir a mente e sentir a vida mais alegre,
principalmente quando estão em festas. Outros já pensam que poderão ter visões reveladoras e que talvez possam
conhecer melhor os outros e a si próprio. O LSD, com o tempo, pode causar danos cromossômicos sérios, intensificar as
tendências psicóticas, levar à ansiedade, pânico e ao suicídio, pois pode gerar um medo incontornável (“bad trips”).
Talvez seja a substância que mais atua no cérebro, pois 20 a 25 milionésimos de grama são suficientes para provocar
alterações mentais que duram de quatro a doze horas.

- Cogumelos - O cogumelo pode provoca náuseas e dores de cabeça, seguidos de alucinações visuais e auditivas. Existe
uma enorme variedade deles. Os que contêm a toxina amatoxina, por exemplo, podem até matar. Desorientação, falta
de coordenação e sono são os primeiros efeitos, seguidos de euforia, distorção da noção de tempo, alucinações visuais
intensas e alterações de humor. Acessos de fúria podem ser provocados pela variedade ''amanita muscaria''. Pode ter
efeitos tóxicos se consumidos em altas doses. O gênero ''Psilosybe '' pode provocar euforia, náusea, sonolência, visão
obscura, pupilas dilatadas, aumento de percepção de cores, contornos, formas e imagens. Os efeitos duram três horas,
em média.

- Ecstasy (MDMA) - O Ecstasy atua no cérebro controlando duas substâncias: a dopamina, que interfere nas dores, e a
serotonina, que está ligada às sensações de “amor”. A combinação das duas deixa a pessoa muito mais eufórica,
confiante, sociável, etc.

Outros efeitos do Ecstasy, são: ansiedade, paranoias, aumento dos batimentos cardíacos, suor excessivo (podendo levar
à desidratação), náuseas, bruxismo (ranger dos dentes). Quando o indivíduo ingere grandes quantidades de ecstasy
(algo como 3 ou mais comprimidos), pode ocorrer: secura na boca, alucinações, psicose (ouvir vozes, etc), fazer coisas
que não faria se estivesse em estado normal, dores musculares, insônia, perda temporária de visão, etc.

O uso constante de Ecstasy pode causar a morte de células cerebrais, perturbações mentais, falta de memória, perda
de autocontrole, síndrome do pânico, depressão, etc. Não há indícios físicos capazes de determinar a capacidade de
viciar na droga.

150
As drogas mais consumidas no Brasil

As pesquisas brasileiras mostram que as drogas legais, como o álcool e o tabaco, são as mais consumidas. Um
levantamento realizado em 107 cidades brasileiras, em 2001, pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo Centro Brasileiro de informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) avaliou o
uso na vida e dependência de álcool e drogas em 47.045.907 habitantes.

O uso de álcool na vida ficou em primeiro lugar e foi encontrado em 68,7% da população, dos quais 11,2 % são
dependentes desta substância. Este uso é bastante difundido na nossa sociedade e incentivado pelos meios de
comunicação e até pelas famílias, como um hábito social aceito e que faz parte das festas e comemorações. O álcool é,
entretanto, a droga que maiores danos traz à sociedade, tanto pelo fato de cerca de 10% da população mundial ser
dependente dele, como pelo número de acidentes e de violência ocasionados em decorrência de seus efeitos.

O tabaco aparece como a segunda droga mais consumida. O uso na vida desta substância foi encontrado em 41,1% pela
população brasileira, sendo que 9% já é dependente desta substância. Seu uso inicial também é precoce. A pesquisa
revela que cerca de 15,7% adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentou cigarro, ao menos uma vez, e que 2,2% já
são dependentes da mesma.

A droga que aparece em terceiro lugar entre as mais consumidas pela população pesquisada é a maconha cujo uso,
pelo menos uma vez na vida, foi relatado por 6,9% pessoas o que corresponde a mais de três milhões de pessoas nas
cidades em que foi feita a pesquisa.

A pesquisa revelou também dados significativos quanto ao uso indevido, sem receita e acompanhamento médico, de
medicamentos para dormir, calmantes e xaropes: 3,3% da população brasileira já usou benzodiazepinicos e 2,0%
xaropes.

Por outro lado, a dependência destes medicamentos ocupa o terceiro lugar com 1,1% da população.

Os solventes (ou inalantes), que incluem substâncias ilegais, como o lança-perfume e algumas outras substâncias
vendidas para outras finalidades, como esmalte, cola de sapateiro, fluidos, tintas, etc, ocupam o quarto lugar para o uso
na vida. Esta classe de substância foi utilizada por 5,8% dos brasileiros pelo menos uma vez na vida. A pesquisa revelou
que 2,3% da população já fez uso de cocaína e 0,4% de crack ocupando o quarto e o décimo primeiro lugar das drogas
mais consumidas pelos brasileiros.

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert
Einstein.

Dados sobre o uso de Álcool e outras drogas no Brasil

O LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) é um levantamento realizado pelo INPAD (Instituto Nacional de
Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas) da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); financiado pelo CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP).

A segunda LENAD foi realizada em 2012, escolhendo aleatoriamente indivíduos com 14 anos ou mais de todo território
brasileiro. Um total de 4.607 entrevistados responderam sigilosamente a um questionário padronizado com mais de
800 perguntas que avaliaram o padrão de uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas, bem como fatores associados com o
uso problemático, como depressão, suporte social, saúde física, violência infantil e doméstica entre outros.

Os dados a seguir foram retirados do site do INPAD, e representam alguns resultados preliminares do LENAD.

151
ÁLCOOL

Hábitos de consumo

- 64% dos homens e 39% das mulheres adultas relatam consumir álcool regularmente (pelo menos 1x por semana).

- 66% dos homens e 49% das mulheres adultas relatam beber em binge (quando bebem, ingerem 4 (mulheres) ou 5
(homens) unidades ou mais de bebida alcóolica a cada duas horas).

- Enquanto metade da população é abstêmia, 32% bebem moderadamente e 16% consomem quantidades nocivas de
álcool.

- Quase 2 a cada 10 dos bebedores (17%) apresentou critérios para abuso e/ou dependência de álcool.

Efeitos prejudiciais de beber

- 32% dos adultos que bebem referiram já não ter sido capaz de conseguir parar depois de começar a beber.

- 10% dos entrevistados referiu que alguém já se machucou em consequência do seu consumo de álcool.

- 8% dos entrevistados admitem que o uso de álcool já teve efeito prejudicial no seu trabalho.

- 4,9% dos bebedores já perdeu o emprego devido ao consumo de álcool.

- 9% admitem que o uso de álcool já teve efeito prejudicial na sua família ou relacionamento.

Outros dados

- 24% ainda acha que não tem problema dirigir quando se está apenas começando a sentir os efeitos da bebida
alcoólica.

- 25% da população geral relata sintomas de depressão. Entre bebedores problemáticos (consomem 6 ou mais doses
por ocasião), este percentual passa para 41%.

- 5% da população brasileira já tentou o suicídio. Dentre estes, 24% relataram ser relacionados ao consumo de álcool.

- Embora não tenha aumentado a quantidade de pessoas que bebem álcool no Brasil, aqueles que Já bebiam bebem
mais e mais frequentemente.

- Mulheres e especialmente as mais jovens são a População mais em risco, apresentando maiores índices de aumento
entre 2006 e 2012 e bebendo de forma mais nociva.

- Houve uma diminuição generalizada no comportamento de beber e dirigir entre 2006 e 2012. A região Nordeste
apresentou a maior diminuição enquanto na Região Centro-Oeste as mudanças na legislação não pareceram surtir
efeitos.

- Quase um a cada 10 brasileiros possui arma de fogo, 5% dos homens andam armados, este índice sobe para mais de
10% entre homens jovens e com problemas no uso de álcool.

152
- Quase dois terços dos homens jovens bebedores problemáticos já se envolveram em uma briga com agressão física no
último ano. Este índice sobe para 57% entre os que também usam cocaína.

- Mais de 2 a cada 10 brasileiros relataram terem sido vítimas de violência física na infância. Em 2 a cada dez casos os
abusadores haviam bebido.

- 6% dos brasileiros referiram ter sido vítima de violência doméstica no último ano, em metade destes casos o parceiro
que exerceu a violência havia bebido.

- Existe uma forte associação entre depressão e abuso de álcool. Mais de 2 a cada 10 tentativas de suicídio está
relacionada com o uso de álcool.

MACONHA

Hábitos de consumo

- 7% da população adulta já experimentou maconha na vida.

- 3% da população adulta relatou uso de maconha no último ano.

- Quase 4% da população dos adolescentes já usou maconha pelo menos uma vez na vida, e a taxa de uso no último ano
foi de 3% (mesma prevalência encontrada na população adulta).

- Mais da metade dos usuários, tanto adultos quanto adolescentes consomem maconha diariamente.

- Em 2006 existia menos de 1 adolescente para cada adulto usuário de maconha, enquanto em 2012 encontramos 1.4
adolescentes para cada adulto usuário.

- Mais de 60% dos usuários de maconha experimentaram a droga pela primeira vez antes dos 18 anos de idade.

- Mais de um terço dos usuários adultos foram identificados como dependentes no nosso estudo. Na adolescência os
índices de dependência alcançam 10% entre usuários.

- 1 em cada 10 homens adultos já experimentou maconha na vida.

- Dentre os usuários, os homens usam 3 vezes mais que as mulheres.

- Mais de 1% da população masculina brasileira é dependente de maconha.

- Quase 40% dos adultos usuários de maconha são dependentes.

- 1 em cada 10 adolescentes que usa maconha é dependente.

- Mais da metade dos usuários experimentaram pela primeira vez antes dos 18 anos.

- 17% dos adolescentes que usaram no último ano conseguiram maconha na ESCOLA.

- 75% da população não concordam com a legalização da maconha.

153
COCAÍNA

Hábitos de consumo

- Quase 4% da população adulta já experimentaram alguma apresentação de cocaína na vida. Este índice foi de 3%
entre adolescentes.

- No último ano, a prevalência de uso dessa droga atingiu 2% dos adultos e 2% dos adolescentes.

- A cocaína usada pela via intranasal (cheirada) é a mais comum, já tendo sido experimentada por 4% dos adultos,
enquanto 2% a usou desta forma no último ano.

- Entre adolescentes o uso é menor, sendo de menos de 2% tanto no uso na vida quanto nos últimos 12 meses
representando.

- Aproximadamente 1,4% dos adultos já usou cocaína fumada (crack/merla e oxi) pelo menos uma vez na vida.

- Um em cada cem adultos usou crack no último ano.

- O uso de cocaína fumada na adolescência foi mais baixo, 1% para o uso na vida e 0.2% de uso no último ano.

- Quase metade dos usuários (45%) experimentaram cocaína pela primeira vez antes dos 18 anos de idade.

- A percentagem de usuários de cocaína se mantém constante entre as regiões (Norte=1,9%; Nordeste= 2,1%;
Sudeste=2,2% e Centro-Oeste=2,6%), com a exceção da região Sul que apresenta o menor índice (0,7%).

- Observou-se que o consumo de cocaína aspirada no último ano na região sul está muito abaixo das outras regiões do
Brasil embora a prevalência de experimentação (uso na vida) seja semelhante.

- Todavia, o consumo de ecstasy na região sul é o dobro do resto do país, tanto quanto experimentação quanto no uso
no último ano.

- A OMS constatou recentemente uma tendência de redução do uso de cocaína nos países mais desenvolvidos, e
aumento nos países emergentes – o que parece estar acontecendo no Brasil.

- Nosso país representa o segundo maior mercado de cocaína do mundo quando se trata de número absoluto de
usuários.

- O Brasil representa 20% do consumo mundial e é o maior mercado de crack do mundo.

Fonte: http://www.sesipr.org.br/cuide-se-mais/alcool-e-outras-drogas/dados-sobre-o-uso-de-alcool-e-outras-drogas-no-brasil-1-23999-216347.shtml

Exames toxicológicos

Os exames toxicológicos têm por finalidade detectar indícios de exposição ou consumo de substâncias tóxicas,
dentre as drogas psicoativas. Existem dois tipos de testes laboratoriais: os baseados em fluídos corporais (urina, suor,
saliva e sangue) e os baseados em amostras de queratina (cabelos ou pelos).

Os que investigam os fluídos corporais possuem uma janela de detecção (período dentro do qual o teste consegue
detectar a presença da droga no corpo) muito pequena, sendo de 2 a 3 dias dependendo da droga, com exceção da

154
maconha que pode chegar a 20 dias. Estes testes não permitem avaliar a quantidade de droga consumida e, portanto,
são indicados para a detecção de usos recentes, como, por exemplo, após um acidente, ou no monitoramento da
abstinência durante o tratamento para Síndrome de Dependência de Substâncias Psicoativas.

Já os exames de amostras de queratina possuem janela de detecção mais longa, podendo chegar a seis meses, e maior
precisão, quantificando a droga detectada. São indicados para processos admissionais, por exemplo.

TABELA 1: Utilidade Comparativa da Urina, Saliva, Suor e Cabelo como Matrizes Biológicas para Detecção de Drogas

Matriz Tempo para Principais vantagens Principais desvantagens Uso primário


Biológica detecção da droga
Urina 2 – 4 dias Técnica reconhecida; Detecta somente uso Detecção de uso
método facilmente recente de drogas recente de drogas
disponível; valores de
corte estabelecidos
Saliva 12 – 24 horas Fácil obtenção; amostras Curto período de tempo Relaciona teste
de fração de droga livre; para a detecção; positivo de drogas
presença da droga em si contaminação por drogas com prejuízo no
de uso oral; métodos de desempenho
coleta influenciam pH;
detecta somente uso
recente; técnica nova
Suor 1 – 4 semanas Medida cumulativa do Alto potencial para Detecção de uso
uso de drogas contaminação pelo recente de drogas
ambiente (falso positivo); (dias – semanas)
técnica nova.
Cabelo 1 – 6 meses Medida de longo prazo do Alta possibilidade de Detecção de uso de
uso de drogas; amostra contaminação pelo drogas de um
semelhante pode ser ambiente (falso positivo); passado recente
novamente coletada técnica nova

Fonte: Lowinson e col., 1997.

TABELA 2: Extensão do tempo de detecção de diversas drogas por meio do exame de Urina

Droga Extensão de tempo para a detecção na urina


Álcool 7 – 12 horas
Anfetamina 48 horas
Barbitúricos
24 horas (curta duração)
(encontrados em anticonvulsivantes, soníferos e
3 semanas (longa duração)
ansiolíticos*)
Benzodiazepínicos
3 dias (ação prolongada)
(encontrados em calmantes ou ansiolíticos*)
Cocaína 6 – 8 horas (metabólitos***, 2 – 4 dias)
Codeína
48 horas
(opióide**)
Heroína 36 – 72 horas
Maconha (THC) 3 dias a 4 semanas (dependendo do uso)
Metadona
3 dias
(opióide**)
Metaqualona
7 dias
(encontrado em soníferos e ansiolíticos*)
Morfina
48 – 72 horas
(opiáceo)
Fenciclidina (PCP)
8 dias
(anestésico)

155
Propoxifeno
6 – 48 horas
(opióide**)

Fonte: Kaplan e col., 1997.


*Ansiolítico: droga com efeito tranqüilizante.
**Opióide: droga sintética, semelhante às substâncias derivadas do ópio (opiáceos).
***Metabólito: substância derivada da metabolização da droga.

156
Apêndice E

Inventário de Depressão de Beck – BDI


Fonte: Universidade Federal de São Paulo
Escola Paulista de Medicina
Departamento de Psicologia

Nome:_______________________________________________ Idade:_____________ Data: _____/_____/_____

Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um círculo em torno do
número (0, 1, 2 ou 3) próximo à afirmação, em cada grupo, que descreve melhor a maneira que você tem se sentido na última
semana, incluindo hoje. Se várias afirmações num grupo parecerem se aplicar igualmente bem, faça um círculo em cada uma. Tome
cuidado de ler todas as afirmações, em cada grupo, antes de fazer sua escolha.

1 7
0 Não me sinto triste 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo
1 Eu me sinto triste 1 Estou decepcionado comigo mesmo
2 Estou sempre triste e não consigo sair disto 2 Estou enojado de mim
3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar 3 Eu me odeio

2 8
0 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro
0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros
1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro
1 Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas ou erros
2 Acho que nada tenho a esperar
2 Eu me culpo sempre por minhas falhas
3 Acho o futuro sem esperanças e tenho a impressão de que
3 Eu me culpo por tudo de mal que acontece
as coisas não podem melhorar

3 9
0 Não me sinto um fracasso
0 Não tenho quaisquer idéias de me matar
1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum
1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria
2 Quando olho pra trás, na minha vida, tudo o que posso ver
2 Gostaria de me matar
é um monte de fracassos
3 Eu me mataria se tivesse oportunidade
3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso

4 10
0 Não choro mais que o habitual
0 Tenho tanto prazer em tudo como antes
1 Choro mais agora do que costumava
1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes
2 Agora, choro o tempo todo
2 Não encontro um prazer real em mais nada
3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo,
3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo
mesmo que o queria

5 11

0 Não sou mais irritado agora do que já fui


0 Não me sinto especialmente culpado
1 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que
1 Eu me sinto culpado grande parte do tempo
costumava
2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo
2 Agora, eu me sinto irritado o tempo todo
3 Eu me sinto sempre culpado
3 Não me irrito mais com coisas que costumavam me irritar

6 12
0 Não perdi o interesse pelas outras pessoas
0 Não acho que esteja sendo punido
1 Estou menos interessado pelas outras pessoas do que
1 Acho que posso ser punido
costumava estar
2 Creio que vou ser punido
2 Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras pessoas
3 Acho que estou sendo punido
3 Perdi todo o interesse pelas outras pessoas

157
13 18

0 Tomo decisões tão bem quanto antes 0 O meu apetite não está pior do que o habitual
1 Adio as tomadas de decisões mais do que costumava 1 Meu apetite não é tão bom como costumava ser
2 Tenho mais dificuldades de tomar decisões do que antes 2 Meu apetite é muito pior agora
3 Absolutamente não consigo mais tomar decisões 3 Absolutamente não tenho mais apetite

14 19
0 Não tenho perdido muito peso se é que perdi algum
0 Não acho que de qualquer modo pareço pior do que antes
recentemente
1 Estou preocupado em estar parecendo velho ou sem
1 Perdi mais do que 2 quilos e meio
atrativo
2 Perdi mais do que 5 quilos
2 Acho que há mudanças permanentes na minha aparência,
3 Perdi mais do que 7 quilos
que me fazem parecer sem atrativo
Estou tentando perder peso de propósito, comendo menos:
3 Acredito que pareço feio
Sim _____ Não _____

15 20 0 Não estou mais preocupado com a minha saúde do que o


habitual
0 Posso trabalhar tão bem quanto antes 1 Estou preocupado com problemas físicos, tais como dores,
1 É preciso algum esforço extra para fazer alguma coisa indisposição do estômago ou constipação
2 Tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa 2 Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil
3 Não consigo mais fazer qualquer trabalho pensar em outra coisa
3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não
consigo pensar em qualquer outra coisa
16 21
0 Consigo dormir tão bem como o habitual
0 Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por
1 Não durmo tão bem como costumava
sexo
2 Acordo 1 a 2 horas mais cedo do que habitualmente e acho
1 Estou menos interessado por sexo do que costumava
difícil voltar a dormir
2 Estou muito menos interessado por sexo agora
3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não
3 Perdi completamente o interesse por sexo
consigo voltar a dormir

17
0 Não fico mais cansado do que o habitual
1 Fico cansado mais facilmente do que costumava
2 Fico cansado em fazer qualquer coisa
3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa

158
Fontes

Observação: As fontes primárias desse relatório encontram-se nos endereços abaixo. A maioria desses websites possui, além de seus
conteúdos, documentos (estudos, pesquisas, entrevistas, relatos, protocolos) em formato para “download”. Devido à grande
quantidade e diversidade de fontes utilizadas, integral ou parcialmente, qualquer dúvida ou necessidade de informação adicional,
entrar em contato com o organizador do relatório.

- The Ibogaine Dossier


Website: http://www.ibogaine.desk.nl

- Erowid
Website: https://www.erowid.org/chemicals/ibogaine

- Global Ibogaine Therapy Alliance (GITA)


Website: http://www.ibogainealliance.org

- Ibogaine.co.uk
Website: http://www.ibogaine.co.uk

- Mindvox
Website: http://ibogaine.mindvox.com

- Wikipedia
Website: https://pt.wikipedia.org/wiki/Iboga%C3%ADna

- iBLOGaína - o Blog da Ibogaína


Website: http://banzzi.blogspot.com.br

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