Você está na página 1de 10

Para Onde!?, Volume 6, Nú mero 2, p. 1­10, jul./dez.

2012 ISSN 1982­0003


Instituto de Geociê ncias, Programa de Pó s­Graduaçã o em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, RS, Brasil.

Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte anos de pesquisas no Brasil

Lucas Manassi Panitz

Mestre em Geografia. Doutorando no Programa de Pó s­graduaçã o em Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul et
Université Bordeaux 3. E­mail: lucaspanitz@gmail.com

Recebido em 04/2012. Aceito para publicaçã o em 12/2012.


Versã o online publicada em 01/02/2013 (http://seer.ufrgs.br/paraonde)

Resumo - A geografia da mú sica, apesar de quase um sé culo de existê ncia oficial, só recentemente tê m
tido a devida atençã o dos geó grafos interessados no estudo da cultura e das manifestaçõ es artıśticas em
sua dimensã o espacial. A quantidade de materiais disponıv́eis em formato digital atualmente permite
um bom reconhecimento deste campo de estudo em geografia, e indica Estados Unidos, Inglaterra e
França como centros de discussã o avançada, alé m do Brasil como potencial â mbito ibero­americano,
por sua considerá vel produçã o acadê mica. Neste sentido, é apresentado um panorama mundial nos
estudos de Geografia e mú sica, e um balanço dos vinte anos de pesquisa da Geografia brasileira.
Palavras-chave: Geografia. Mú sica. Geografia da Mú sica. Geografia Brasileira.

Introdução do tratamos de manifestaçõ es culturais e espaço geo­


grá fico, o interesse geográ fico pela mú sica nã o aparece
A mú sica há algum tempo vem despertando no giro cultural dos anos 1980, quando decorridas as
um crescente interesse na Geografia, embora ainda reorientaçõ es teó ricas nas ciê ncias sociais, em especial
incompará vel a outras ciê ncias humanas como a Antro­ nos paıśes anglo­saxõ es. As primeiras consideraçõ es
pologia, a Sociologia e os Estudos Culturais. Contudo, há que ligam a Geografia moderna à expressã o musical
de ressaltar que a gê nese do interesse das ciê ncias podem ser atribuıd ́ as à Friedrich Ratzel e seu discıp ́ ulo
humanas pela mú sica remete, justamente, à gê nese da Leo Frobenius, etnó logo e arqueó logo africanista.
Geografia moderna, da Etnologia e da Arqueologia. A Como observa Reynoso (2006), Ratzel influenciou deci­
Geografia da mú sica, apesar de quase um sé culo de didamente a Escola Histó rico Cultural alemã e austrıá­
existê ncia oficial, só recentemente tê m tido a devida ca, sendo Frobenius o principal pesquisador que levou
atençã o dos geó grafos interessados no estudo da cultu­ adiante as teorias do geó grafo alemã o. Atento aos indı­́
ra e das manifestaçõ es artıśticas em sua dimensã o espa­ cios materiais da cultura, Ratzel observou similarida­
cial. A quantidade de materiais disponıv́eis em formato des entre os arcos da Africa Ocidental e da Melané sia,
digital atualmente permite um bom reconhecimento suas caracterıśticas morfoló gicas, bem como as formas
deste campo de estudo em geografia, e indica Estados das flechas usadas junto com o arco. Frobenius levou a
Unidos, Inglaterra e França como centros de discussã o pesquisa adiante e relacionou similaridades entre os
avançada. No â mbito ibero­americano verifica­se sua tambores e outros instrumentos musicais, que o levou a
pouca difusã o, com exceçã o do Brasil, onde se encontra desenvolver a noçã o de Cıŕculos Culturais (Kulturkreis)
um considerá vel nú mero de teses e dissertaçõ es pro­ junto aos etnologistas austrıácos Fritz Graebner e
duzidas nos ú ltimos vinte anos, alé m de artigos e tradu­ Wilhelm Schimidt, inspirados em Ratzel. Partindo
çõ es de artigos seminais na temá tica. Neste sentido, dessa noçã o, a partir do estudo da distribuiçã o espacial
será apresentado um panorama global destes estudos, de instrumentos musicais, entre outros procedimen­
e uma apresentaçã o destes vinte anos de pesquisa no tos, Frobenius estabeleceu regionalizaçõ es na Africa
Brasil, marcados pela diversidade de abordagens e pela que remetem aos ciclos de difusã o de etnias, propondo,
valorizaçã o da cultura brasileira. por exemplo, a seguinte divisã o: Negra, Melané sio­
Negra, Indo­Negra e Semı́tico­Negra (MERRIAM,
As raízes da discussão 1983). Estabelecendo á reas culturais a partir de uma
espacialidade dos instrumentos musicais na Africa,
Ao contrá rio do que se possa imaginar, quan­ Leo Frobenius pode ser considerado o primeiro sis­

-1-
tematizador do estudo entre espaço geográ fico e permitindo analisar a fixaçã o e a mobilidade de
mú sica, que irá influenciar toda uma geraçã o de sociedades e civilizaçõ es. A simples introduçã o,
etnó logos e musicologistas. Dessa forma, na busca por exemplo, de certo tipo de chocalho em uma
de uma gê nese do interesse da Geografia moderna banda de jazz norte­americana, pode dar informa­
pela mú sica, até o presente momento encontramos çõ es importantes sobre a origem é tnica e geográ fi­
em Ratzel o princıp ́ io inspirador dessa discussã o, ca de determinados grupos, mas també m de instru­
bem como em Frobenius o desenvolvimento teó ri­ mentos e formas musicais que vã o se transforman­
co e empıŕico da mesma. do e se adaptando a cada sociedade em que sã o
E bom lembrar que a noçã o de Kulturkreis inseridos. E assim que, em trabalho posterior,
postulava que certo nú mero de ciclos culturais se Gironcourt (1939) expõ e alguns dos resultados
desenvolvia em todo o mundo, em distintos luga­ pessoais coletados ao longo de doze anos dedica­
res, em distintas é pocas histó ricas e se difundiam dos ao tema, desde seu artigo seminal advogando
no espaço, dando origem a novas culturas; essas pela nova disciplina geográ fica. No referido texto, o
proposiçõ es basearam­se em princıp ́ ios difusio­ autor afirma atravé s de diversos estudos realiza­
nistas, que influenciaram diretamente a Antropo­ dos pelo mesmo, que é possıv́el recompor a mobili­
logia e a Geografia Cultural norte­americanas, a dade de populaçõ es e suas origens atravé s das for­
partir da Universidade de Berkeley. Carl Sauer, filho mas musicais, pois estas formas permanecem no
de imigrantes germâ nicos radicados nos Estados tempo e no espaço ao longo da histó ria humana ou
Unidos, foi o fundador da Geografia Cultural ameri­ se modificam levando algumas caracterıśticas pre­
cana, també m chamada de Escola de Berkeley. té ritas para outros lugares: ou seja, há um cará ter
Sauer foi profundamente influenciado pelas teori­ de fixidade e um cará ter de mobilidade dos grupos
as difusionistas de Ratzel, utilizando­se da noçã o humanos os quais podem ser estudados atravé s da
de Area Cultural de seu colega, o antropó logo mú sica.
Alfred Kroeber (este, discıp ́ ulo do prussiano Franz A principal diferença entre Frobenius e
Boas, a quem se deve a criaçã o da noçã o de Area Gironcourt é que enquanto o primeiro reconstituıá
Cultural, e responsá vel por levar aos Estados Uni­ perı́odos histó ricos e pré ­histó ricos atravé s da
dos uma versã o renovada da Kulturkreis). Carl Sau­ cultura material, ao segundo també m interessavam
er, profundo leitor da obra de Ratzel, herda o inte­ as formas nã o materializadas como os ritmos, o
resse pelos estudos de difusã o e, sobretudo pela canto e as danças tradicionais. Gironcourt perma­
noçã o de Area Cultural, de Boas e Kroeber, ampla­ nece desconhecido até hoje, tendo sido o novo
mente relacionada com os postulados de Ratzel. corpo editorial da revista La Gé ographie responsá ­
Vendo assim, nã o se estranha que o interesse geo­ vel por resgatar a importâ ncia desses artigos semi­
grá fico pela mú sica tenha se dado justamente com nais quando da organizaçã o de uma ediçã o especial
os discıp ́ ulos de Sauer, e que, como veremos adian­ sobre geografia e mú sica. Dessa forma, considera­
te, sejam os Estados Unidos e o Canadá aqueles que se que desde as ú ltimas publicaçõ es de Gironcourt,
desenvolvem até hoje boa parte das publicaçõ es na ao final da dé cada de 1930, a geografia francesa
á rea. permaneceu distante do tema, até que grupos de
Poré m, tal interesse nã o foi exclusividade geó grafos retomaram seu interesse, e de forma
dos paıśes germâ nicos e dos Estados Unidos. Nas mais sistemá tica, dentro de unidades de pesquisas
duas primeiras dé cadas do sé culo XX, na França, do CNRS ­ Centre National de la Recherche Scienti­
sã o desenvolvidas reflexõ es acerca de uma “Geo­ fique.
grafia musical” como disciplina pró pria. Nesse sen­
tido o etnó logo, arqueó logo e geó grafo francê s As geografias musicais anglófonas
Georges de Gironcourt propõ e esse novo campo de
estudos para a geografia nos Annales de Géographie Nash & Carney (1996), dois dos principais
da Associaçã o Francesa de Geografia (GIRONCOURT, precursores do tema na Amé rica do Norte, fazem
1927), tendo realizado diversos estudos na Tunı­́ um retrospecto das ú ltimas trê s dé cadas de traba­
sia, Java e Camboja. Com a intençã o de estabelecer lhos na á rea, no mundo angló fono. No esforço de
um novo campo de estudo na Geografia, o autor atribuir uma origem à geografia da musica, e sem
afirma que “pode­se admitir que o repertó rio de citar à Frobenius e Gironcourt, os autores afirmam
sons eles mesmos e de suas associaçõ es em combi­ que
naçõ es musicais foram até agora negligenciados
pelos geó grafos.” (ibidem, p. 292). Segundo o autor, A pré ­histó ria da geografia da mú sica foi
a Geografia musical deveria se debruçar sobre as dominada por etnomusicologias e folcloris­
formas musicais atravé s do espaço e do tempo, tas, os quais focaram nã o só nos tipos e
localizaçõ es de instrumentos musicais,

-2-
mas també m em regiõ es musicais. Curt restringir­se ao mapeamento de difusã o de
Sachs, e seu Geist un Werden der Musikins- estilos musicais, ou analisar o imagé tico
trumente (Significado e Desenvolvimento geográ fico nas letras de cançõ es, traba­
de Instrumentos Musicais) publicado em lhando com um restrito deliberado senso
1929 [...] e outros profundamente interes­ de geografia, oferecendo o â ngulo de um
sados nos aspectos espaciais de suas pes­ geó grafo fincado ao chã o, ao invé s de se
quisas etnomu­sicoló gicas (idem, p.70). perguntar o quanto uma abordagem geo­
grá fica pode reconfigurar o pró prio chã o
Os autores ainda avaliam que desde a dé ca­ que pisa. Ao contrá rio, nó s proce­demos
com uma compreensã o que, ao injetar
da de 1960 até 1996, mais de quarenta artigos havi­ geografia na mú sica, poderá produzir um
am sido publicados em revistas internacionais e efeito aná logo a que David Harvey advoga
nacionais e quase o mesmo nú mero de papers na relaçã o com a teoria social: “Ao inserir
sobre o tema foram apresentados em encontros de conceitos de espaço em qualquer teoria
social, se produz um efeito de bor­
geografia e ciê ncias humanas. Eles ainda atribuem rar/confundir as proposiçõ es centrais
a conferencia “The Place of Music” organizado pelo daquela teoria”. The Place of Music apresen­
Instituto de Geó grafos Britâ nicos e as sessõ es espe­ ta espaço e lugar nã o como simples locais
ciais de geografia da mú sica na Associaçã o de Geó ­ onde a mú sica é fabricada, ou de onde ele é
grafos Americanos, ambos realizados na primeira difundida/ ao invé s disso, diferentes espa­
cialidades sã o sugeridas como for­madoras
metade da dé cada de 1990, como notá veis indıćios do som. […] Considerar o lugar da mú sica
da credibilidade da disciplina, considerada pelos nã o é reduzi­la a sua localizaçã o, estabele­
mesmos com um subcampo da geografia cultural; cer um ponto exato no espaço, mas permitir
essa credibilidade, segundo os autores, també m foi uma abordagem rica em esté ticas, culturas,
economias e geografias polıt́icas da lingua­
corroborada pelas citaçõ es dos pesquisadores da gem musical (LEYSHON et al 1998, p.4).
á rea em atlas, enciclopé dias, bibliografias, livros­
textos de geografia humana e livros acadê micos. Seguindo esta corrente de estudos é que
Influenciados pela Geografia cultural da Escola de ganhou notoriedade a geó grafa singapurense Lily
Berkeley, os geó grafos angló fonos (sobretudo esta­ Kong e sua tese de doutorado sobre mú sica, polıt́i­
dunidenses e cana­denses) focaram­se boa parte cas culturais, identidade e globalizaçã o em Singa­
do tempo em descriçã o das representaçõ es espaci­ pura. Kong foi uma das primeiras que se tem notıćia
ais nas cançõ es, nas aná lises locacionais e de difu­ que trouxe para o debate teó rico da geografia – já
sã o de ritmos, instrumentos e prá ticas musicais, e nesta fase de renovaçã o – a formulaçã o de uma
na regionalizaçã o destes. aná lise geográ fica da mú sica popular. Kong (1995)
Contudo, a partir da a conferê ncia The Place afirma que, como interesse geográ fico, a mú sica
of Music em 1993, organizado pelo Instituto de nã o foi explorada largamente e os estudos publica­
Geó grafos Britâ nicos, surge uma renovaçã o dos dos até entã o mantiveram uma distâ ncia das ques­
estudos, em direçã o a abordagens mais crıt́icas. De tõ es teó ricas e metodoló gicas da geografia cultural
fato, a conferê ncia aparece em um momento de renovada. Em artigos posteriores, Kong (1996,
franca renovaçã o da geografia cultural nos paıśes 1997) explora a construçã o das identidades locais e
de lıń gua inglesa, levado adiante em grande medi­ dos processos de trans­culturaçã o em Singapura
da por pesquisadores britâ nicos, e já passado mais atravé s da mú sica popular, expondo sua tese no
de uma dé cada desde o artigo “O supra­orgâ nico na sentido de que “apesar de um mundo com tendê n­
geografia cultural americana” de Duncan (1980), cias globalizantes, as fronteiras nã o estã o inteira­
onde o autor faz uma crıt́ica à geografia cultural mente apagadas. De fato [...] onde o cruzamento de
saueriana, e que é considerado um dos momentos forças globais é mais forte, a afirmaçã o do local é
mais importantes da virada cultural na geografia maior, conco­mitantemente” (1997, p.10).
anglo­saxã . A obra The Place of Music reú ne artigos Analisando atualmente alguns dos princi­
de pesquisadores esta­dunidenses, canadenses e, pais perió dicos de geografia do mundo angló fono, é
sobretudo britâ nicos, do campo da geografia, da etno­ possıv́el visualizar um fé rtil panorama dos estudos
musicologia, da histó ria, dos estudos culturais, da mú sica em geografia, com bom nú mero de geó ­
entre outros. Logo em sua introduçã o, seus organi­ grafos trabalhando nessa perspectiva – em muitos
zadores tratam de expor a perspectiva da coletâ ­ dos casos relacionados com a agenda que Kong
nea. Se opondo ao tratamento dado pela music geo- propusera – tais como Anderson, Morton & Revill
graphy de influê ncia saueriana, como George Car­ (2005), Connel & Gibson (2004), Finn (2009), Flo­
ney, Peter Nash, entre outros, os autores afirmam: rida & Jackson (2009), Gibson (1998, 2009), Hogan
o trabalho geográ fico sobre mú sica teve até (2007), Hudson (2006), Jazeel (2005), Kearney
pouco recentemente uma tendê ncia de (2008), Kingsburry (2008), Kruse (2004), Revill

-3-
(2000, 2005), Saldanha (2005), entre outros. Em principais articuladores de organizaçã o de perió ­
geral nesses trabalhos, e seguindo a tendê ncia da dicos, coló quios e coletâ neas de artigos. Raibaud
geografia cultural anglo­saxô nica, o binô mio “spa- afirma que “a mú sica aparece como uma realidade
ce and place” continua sendo o mais utilizado para cognitiva possıv́el para compreender o espaço das
os estudos que envolvem geografia e mú sica. Nota­ sociedades, inclusive como um princıp ́ io de organi­
se igualmente forte influê ncia dos estudos cultura­ zaçã o territorial” (idem, p.2). Para este autor, a
is na formulaçã o teó rica dos trabalhos. mú sica “borra os mapas: sua fluidez se adapta à
organizaçã o em redes, conexõ es, ramificaçõ es
A perspectiva francesa e o foco no território (Amselle, 2001), a mú sica se multiplica com as tec­
nologias da informaçã o e da comunicaçã o” (ibi­
Se os artigos pioneiros do tema sã o atribuı­́ dem).
dos a Gironcourt, os pró ximos textos encontrados Dessa forma, verifica­se que muito embora
que retomam a discussã o ­ já com propostas reno­ o interesse da geografia francesa pela mú sica seja
vadas ­ datam da dé cada de 1990. Nesse sentido, recente, os trabalhos contemporâ neos mostram­se
vemos em Lé vy (1994, 1999) uma retomada com bem organizados e tê m no territó rio, em suas
interessantes observaçõ es teó ricas e filosó ficas ao diversas abordagens, a sua principal categoria de
tema. Em seu artigo, Lé vy usa o panorama musical aná lise geográ fica.
erudito europeu para contextualizar seus distintos
desenvolvimentos, seus condicionantes polıt́icos e Geografia e música no Brasil: vinte anos de pes-
culturais e as difusõ es de inovaçã o musical por seu quisas e pluralidade de interesses
territó rio. Analisando os processos sociais­
polıt́icos­econô micos que contribuıŕam para uma Ao completar vinte anos de pesquisa sobre
cena de vanguarda musical na Viena dos inıćios do mú sica na Geografia brasileira, iniciado com a dis­
sé c. XX, caracterizada pela atonalidade, Levy afir­ sertaçã o de Mello (1991), é possıv́el fazer um breve
ma que a questã o da identidade de um territó rio e balanço. Embora nã o sejam numerosas, as pesqui­
de suas manifestaçõ es artıśticas tem a ver com o sas realizadas demonstram uma heterogeneidade
cruzamento de distintas espacialidades ­ interfa­ de abordagens, usando a mú sica para trabalhos de
ces complexas entre redes, territó rios e regiõ es. cará ter humanista e abordagens culturais renova­
Romagnan (2009), por sua vez, advoga pela mú sica das, enfoques da geografia social, ou como ferra­
como um novo campo de estudos para a geografia. menta para o ensino. Em termos conceituais, tam­
O autor nã o remonta o interesse até à é poca de bé m, encontramos diversidade nas abordagens,
Gironcourt, mas sim aos artigos seminais de Lé vy e ora focando­se na paisagem, ora no espaço geográ ­
Lechaume (1997), à abordagem cultural de Paul fico, ora na regiã o, ora no territó rio. Serã o expostos
Claval e Jean­Pierre Augustin, e defende o diá logo nesta seçã o os trabalhos contidos no banco de
da ciê ncia geográ fica com a sociologia da mú sica e a teses e dissertaçõ es da CAPES, e artigos em perió ­
etnomusicologia. Romagnan introduz alguns dicos e coletâ neas de Geografia.
aspectos importantes da mú sica como uma ativida­ Considera­se que Joã o Baptista Ferreira de
de de grande importâ ncia cultural e social, explica a Mello tenha sido o precursor do tema na geografia
contribuiçã o de soció logos, antropó logos e etno­ brasileira, com sua dissertaçã o defendida na UFRJ
musicó logos, e insere a idé ia da atividade musical em 1991. E a partir de autores como David Sea­
como um geo-indicador do territó rio ao abordar mons, David Ley, Antoine Bailly e Douglas Pocock,
temas como polı́tica cultural, mú sica e espaço que Mello se inspira para interpretar a cidade do
pú blico, sistemas de produçã o dessa atividade, uso Rio de Janeiro sob a ó tica de seus compositores, no
dos lugares de prá ticas musicais e seus significa­ perıó do de 1928 à 1991, trabalhando na perspecti­
dos, entre outros temas. va da cançã o como uma “literatura musicada”. Mas
Outros autores como Calenge (2002, sobre será somente apó s uma dé cada do trabalho de
geografia econô mica da cultura e redes da indú s­ Mello que a mú sica passará a ser um interesse cons­
tria cultural), Lamantia (2002, tratando dos efeitos tante e crescente na Geografia brasileira. A partir
territorializantes das mú sicas de ambiente, como da dé cada de 2000, e com maior projeçã o apó s a
supermercados e lojas), Goré (2004, sobre a cons­ segunda metade da mesma, se observa uma inten­
truçã o territorial e identitá ria a partir da mú sica e sificaçã o da mú sica como objeto de estudo geográ ­
dança tradicionais), reforçam a abordagem territo­ fico. Nesse sentido serã o mostradas possıv ́ eis
rial da geografia francesa atual nos estudos sobre a linhas de abordagem e de interesse temá tico.
mú sica. Na sistematizaçã o desse campo de estu­ Desde o trabalho percursor de Mello
dos, temos Guiu (2006) e Raibaud (2008) como os (1991), o interesse pela mú sica surge atrelado à

-4-
geografia humanı́ s tica. Em sua tese (MELLO, Geografia humanıśtica, bem como Ribeiro (2006).
2000), o autor trata dos mundos vividos da cantora Nesta abordagem temos o espaço vivido, geografi­
Marlene, apoiado nas filosofias do significado (fe­ cidade e o lugar como conceitos centrais de aná lise.
nomenologia, existencialismo, hermenê utica) em Pelo fato de que esta corrente de pensamento geo­
direçã o a uma geografia do indivıd ́ uo. Importante grá fico desenvolveu tradicionalmente diversos
ressaltar que o mesmo passa posteriormente a estudos de obras literá rias, nota­se um foco no tra­
orientar trabalhos sobre mú sica (Quadro 1), tamento dos significados construıd ́ os atravé s das
seguindo os interesses que inaugurara em sua dis­ letras das cançõ es.
sertaçã o: a mú sica popular brasileira (em especial Visualizam­se o eixo das geografias social
o samba) e o Rio de Janeiro. Assim, trabalhos como e cultural com uma pluralidade de abordagens. Na
os de Guimarã es (2007), Santos (2009), Pizotti presente interpretaçã o chama­se Geografia Cultu­
(2010) e Anjos (2011) reafirmam a tradiçã o da

Quadro 1. Trabalhos defendidos nos PPG's em Geografia (Elaboraçã o: Lucas Panitz).

-5-
ral e Social um grande filã o de interesses e trata­
mentos teó ricos mais ou menos aproximados, que
visualizam a mú sica como um elemento que
envolve produçã o do espaço, uso do territó rio,
criaçã o de identidades, territorialidades, regiona­
lidades e representaçõ es do espaço. Nesta, vemos
interpretaçõ es ora mais ligadas à s geografias crıt́i­
cas, ora em direçã o à geografia cultural renovada
de base francesa e anglo­saxã , ou ainda uma com­
binaçã o de ambas. Os interesses particulares sã o
heterogê neos, poré m concentram­se sobretudo
no estudo do samba e do carnaval (FERNANDES,
N., 2001; FERREIRA, 2002; MATOS, 2005; Grá fico 1. Distribuiçã o dos trabalhos em percentual e
nú meros absolutos (Elaboraçã o: Lucas Panitz).
FRANGIOTTI, 2007; BELO, 2008; DOZENA, 2009,
XAVIER, C., 2010), do hip hop (LAITANO, 2001;
XAVIER, D., 2005; OLIVEIRA, 2006; RODRIGUES,
2005) e mú sica erudita (CASTRO, 2009a; SOUZA,
2011). Alé m disso, se visualiza trabalhos sobre a
mú sica do nordeste – forró , maracatu, movimento
manguebit – (FERNANDES, G., 2001; SANTANA,
2006; PICCHI, 2011), mú sica eletrô nica
(CAMARGO, 2008; COSTA, 2011), alé m da mú sica
popular em um contexto mais geral, como a cena
musical paulistana em Almeida (2002), o fandan­
go em Torres (2009), e a mú sica popular trans­ Grá fico 2. Distribuiçã o dos trabalhos por Universida­
de (Elaboraçã o: Lucas Panitz).
fronteiriça entre Brasil, Argentina e Uruguai, em
Panitz (2010)
Uma terceira abordagem, em Correia E possıv́el ainda citar produçõ es biblio­
(2009) e Machado (2012), indica a relaçã o entre a grá ficas em perió dicos, livros e coletâ neas de
mú sica e o ensino de Geografia. Nessa abordagem, Geografia. Encontramos em Mesquita (1994,
que nã o exclui aproximaçõ es humanistas ou da 1997) algumas das primeiras publicaçõ es no
Geografia Social e Cultural, o foco é o uso da mú si­ Brasil, advogando por uma Geografia da mú sica
ca para construir conceitos geográ ficos em sala de social nos territó rios fronteiriços do Prata. Cam­
aula. pos (2006), por sua vez, oferece o potencial da
Analisando o Grá fico 1, é possıv́el ver que
mú sica popular para a aná lise geográ fica no ensi­
80% dos trabalhos concentram­se em trê s á reas
no fundamental e mé dio, no que toca as questõ es
de interesse: o Samba e o Carnaval, a Mú sica Popu­
do ambiente e da cultura nordestina do semiá ri­
lar Brasileira em suas diversas manifestaçõ es, e
do. Ainda voltados ao ensino, Correia e Kozel
finalmente o rap e o movimento hip hop. Como
(2009) voltam­se para uma geografia fenomeno­
assuntos ainda perifé ricos tê m­se a mú sica erudi­
ló gica e das representaçõ es sociais, para discutir
ta, a mú sica eletrô nica e as festas rave, e a mú sica
as ressignificaçõ es dos conteú dos geográ ficos
transfronteiriça. Nota­se, també m, que 75% da
por meio da mú sica. Evangelista trata em recente
produçã o acadê mica na á rea provem das regiõ es
livro as distintas “ambiê ncias espaciais” do sam­
sul e sudeste do paıś – esta ú ltima com dois terços
ba, da bossa­nova, do rock e do funk. Cardoso
da produçã o total dos trabalhos. E possıv́el enten­
(2009), por sua vez, realizou uma aná lise da geo­
der que a primazia dos trabalhos em samba, car­ grafia urbana de Sã o Paulo atravé s das cançõ es do
naval e hip hop estã o atrelados a essa relaçã o (ver compositor Itamar Assumpçã o. Guimarã es propõ e
Grá fico 2). reflexõ es teó ricas sobre a relaçã o entre a escala

-6-
musical e a escala geográ fica com base em conside­ tem oferecido, sem dú vidas, novos olhares para as
raçõ es musicoló gicas do pesquisador e compositor relaçõ es entre espaço e cultura.
José Miguel Wisnik e as concepçõ es de escala geo­
grá fica do geó grafo Roger Brunet. Em Castro Referências
(2009b), por fim, reconhecemos um esforço em ANDERSON, Ben; MORTON, Frances; REVILL, George.
remontar o interesse geográ fico pela mú sica, Practices of music and sound. Social & Cultural Geo­
sobretudo a partir da Geografia anglo­saxã . graphy, v. 6, n. 5, 2005, 639­644. <http: //tinyurl­
.com/436e5nu>. [20 de julho de 2011].

Geografia e música no Brasil: algumas conside- ANJOS, Melissa Souza. Lugares e personagens do univer­
so Buarqueano. Dissertaçã o de mestrado dirigida por
rações Joã o Baptista Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Universi­
dade Estadual do Rio de Janeiro, 2011.
Vimos que nos paı́ses anglo­saxõ es, por
BELO, Vanir de Lima. O enrodo do Carnaval nos enredos
exemplo, há dois momentos distintos: a aborda­ da cidade : dinâ mica territorial das escolas de samba em
gem difusionista da escola saueriana e a renovaçã o Sã o Paulo. Dissertaçã o de mestrado dirigida por Marıá
crıt́ica, inspirada nos estudos culturais. Na França Mó nica Arroyo. Sã o Paulo : Universidade de Sã o Paulo,
2008.
manté m­se um ponto de vista territorial: a mú sica
na construçã o e na afirmaçã o da identidade territo­ CALENGE, Pierre. Les territoires de l'innovation: les
rial, a produçã o de polıt́icas territoriais voltas para ré seaux de l'industrie de la musique en recomposition
Territories of innovation: the transformation of the
a mú sica, as territorializaçõ es efê meras dos festi­ music industry networks. Gé ographie, Economie, Socié ­
vais, entre outros. No Brasil, contudo, nota­se uma t é , C a c h a n , v . 4 , 2 0 0 2 , 3 7 ­ 5 6 .
diversidade de abordagens, interesses e tratamen­ <http://tinyurl.com/3k4e8aq>. [20 de julho de 2011].
tos metodoló gicos. Estas tê m valorizado significa­ CAMARGO, A. Festas . Rave: uma abordagem da Geogra­
tivamente nos ú ltimos vinte anos uma parte consi­ fia Psicoló gica na identificaçã o de Territó rios Autô no­
derá vel da diversidade musical do paıś e suas rela­ mos. Dissertaçã o de Mestrado dirigida por Marinete
Covezzi. Cuiabá : Universidade Federal do Mato Grosso,
çõ es com as identidades regionais e nacionais, a 2008. <http:// tinyurl.com/3kr5tu3>. [20 de julho de
construçã o de territorialidades e de discursos geo­ 2011].
grá ficos, e as transformaçõ es do espaço urbano.
CAMPOS, Rui Ribeiro de. A Geografia da Semi­Aridez
Para tanto se visualizam ao menos trê s abordagens Nordestina e a MPB. Revista Sociedade & Natureza, Uber­
(ainda que esta enumeraçã o seja apenas expositi­ lâ ndia, 18 (35), 2006, 169­209.
va, pois na prá tica há nuances entre as mesmas). CARDOSO, Eduardo.Schiavone. A metró pole na linha do
Em um primeiro momento temos abordagens cal­ baixo: Itamar Assumpçã o e a geografia da cidade de Sã o
cadas nas filosofias do significado (fenomenologia, Paulo. Espaço e Cultura 25, 2009, 31­40.
hermenê utica, existencialismo e outros) atravé s da CASTRO, Daniel. Geografia e mú sica: a dupla face de uma
Geografia Humanıśtica – esta utilizou largamente a relaçã o. Espaço e Cultura 26, p.7­18, Jul/Dez, 2009b.
letra da cançã o como fonte de suas pesquisas. Tam­
CASTRO, Daniel. Heitor Villa­Lobos: a espacialidade na
bé m, abordagens em Geografia Social e Cultural as alma brasileira. Dissertaçã o de mestrado dirigida por
quais manté m a tradiçã o crıt́ica da Geografia brasi­ Roberto Lobato Correa. Rio de Janeiro: Universidade
leira nas ú ltimas dé cadas, utilizando referenciais Federal do Rio de Janeiro, 2009a.
teó ricos da sociologia, antropologia, histó ria cultu­ CONNELL, John. GIBSON, Chris. World music: deterrito­
ral e estudos culturais ­ nestas utiliza­se nã o só as rializing place and identity. Progress in Human Geo­
letras das cançõ es, como també m a perspectiva do graphy 28, 2004, 342. <http:// tinyurl.com/428jj9o>.
[20 de julho de 2011].
som, as espacialidades da atividade musical e os
discursos dos atores produtores da mú sica. Por CORREIA, Marcos Alberto. KOZEL, Salete. Representa­
fim, as abordagens voltadas ao ensino em Geogra­ çã o e Ensino: Ressignificaçã o de conteú dos geográ ficos
p o r m e i o d a m ú s i c a . D i s p o n ı́ v e l e m :
fia, produzindo compreensõ es para a construçã o <http://tiny.cc/srkid>. [20 de novembro de 2009]
de conceitos geográ ficos.
CORREIA, Marcos Alberto. Representaçã o e ensino, a
E importante ressaltar o reconhecimento mú sica nas aulas de geografia: razã o e emoçã o nas
por parte da Geografia brasileira, considerando o representaçõ es geográ ficas. Dissertaçã o de Mestrado
papel da mú sica (seja ela popular, eletrô nica ou dirigida por Salete Kozel. Curitiba: Universidade Federal
erudita) para a produçã o do espaço geográ fico em do Paraná , 2009. 116p. <http://tinyurl.com/3e8ltoz>.
[20 de julho de 2011].
suas mais diversas formas. Nesse sentido, a diversi­
dade de interesses apresentada e a indiscutıv́el COSTA, Juliana Cunha. Segregaçã o espacial e mú sica
riqueza musical do paıś, fazem deste campo de eletrô nica: a cena cultural de Salvador e Camaçar. Dis­
sertaçã o de Mestrado dirigida por Maria Auxiliadora.
estudo um lugar fecundo para explorar o espaço Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2010. 89p.
geográ fico em suas mais diversas abordagens e já

-7-
DOZENA, Alexandro. As Territorialidades do Samba na GUIMARAES, Raul Borges. Escala Geográ fica e Partitura
Cidade de Sã o Paulo. Tese de Doutorado dirigida por Musical: Consideraçõ es Acerca do Sistema Modal e
Francisco Capuano Scarlato. Sã o Paulo: Universidade de Tonal. In: CORREA, R. L.; ROSENDAHL, Z. Espaço e cultu­
Sã o Paulo, 2009. 266p. <http://tinyurl.com/3jyswyy>. ra: Pluralidade tematica. EdUERJ, 2008.
[20 de julho de 2011].
GUIU, Claire (dir.). Gé ographies et musiques : quelles
DUNCAN, James. The superorganic in American cultural perspectives? Gé ographie et Cultures 59, 2006.
geography. Annals of the Association of American Geo­
graphers 1980, 181­198. HOGAN, Ellen. 'Enigmatic territories': geographies of
popular music. Critical Public Geographies Working
EVANGELISTA, Hé lio Araú jo. Rio de Janeiro e a mú sica. Paper, Department of Applied Social Studies, University
Uma reflexã o sobre a decadê ncia, a carioca e a da pró ­ College Cork, 2007. <http://tinyurl.com/3dsoysk>. [20
pria mú sica. Rio de Janeiro: Armazé m Digital, 2005. de julho de 2011].
FERNANDES, Glauco Vieira. “Reterritorializaçã o” Da HUDSON, Ray. Making music work? Alternative regene­
Cultura Sertaneja Em Luiz Gonzaga. Cadernos de Cultu­ ration strategies in a deindustrialized locality: the case
ra e Ciê ncia, v. 3, n. 1, 2009. <http:// tinyurl­ of Derwentside. Transactions of the Institute of British
.com/3srvs9n>. [20 de julho de 2011]. G e o g r a p h e r s , v. 2 0 , n . 4 , 1 9 9 5 , . 4 6 0 ­ 4 7 3 .
<http://tinyurl.com/42j4m4u>. [20 de julho de 2011].
FERNANDES, Nelson da Nó brega. Escolas de samba:
sujeitos celebrantes e objetos celebrados. Rio de Janei­ JAZEEL, Tariq. The world is sound? Geography, musico­
ro: Secretaria das Culturas, 2001.< logy and British­Asian soundscapes. Area, v. 37, n. 3,
http://tinyurl.com/3fzh4az>. [20 de julho de 2011]. 2005, 233­241. <http:// tinyurl.com/43qfuhm>. [20 de
julho de 2011].
FERREIRA, Luiz Felipe. O lugar do carnaval: espaço e
poder na festa carnavalesca do Rio de Janeiro, Paris e KEARNEY, Daithı.́ Crossing the River: Exploring the Geo­
Nice (1850­1930). Tese de doutorado dirigida por Scott graphy of Irish Traditional Music. Journal of the Society
William Hoefle. Rio de Janeiro: Universidade Federal do for Musicology in Ireland 3, 2008, 127­139.
Rio de Janeiro, 2002. <http://tinyurl.com/3g45y8g>. [20 de julho de 2011].
FINN, John. Contesting culture: a case study of commodi­ KINGSBURY, Aaron. Music in the Fields: Constructing
fication in Cuban music. GeoJournal, v. 74, n. 3, Narratives of the Late 19 th Century Hawaiian Plantati­
2009,191­200. <http://tinyurl.com/3gxuqph>. [20 de on Cultural Landscape. Yearbook of the Association of
julho de 2011]. Pacific Coast Geographers 70, 2008, 45­58. <
http://tinyurl.com/3uhmdww>. [20 de julho de 2011].
FLORIDA, Richard.JACKSON, Scott. Sonic city: the evol­
ving economic geography of the music industry. Journal KONG, Lily. Making “music at the margins"? A social and
of Planning Education and Research 29, 2010, 310­321. cultural analysis of Xinyao in Singapore. Asian Studies
<http:// tinyurl.com/4xkqyzg>. [20 de julho de 2011]. R e v i e w 1 9 , 1 9 9 6 , 9 9 ­ 1 2 4 . <
http://tinyurl.com/3r35bw4>. [ 20 de julho de 2011].
FRANGIOTTI, Nanci. O espaço do carnaval na periferia
da cidade de Sã o Paulo. Dissertaçã o de mestrado dirigi­ KONG, Lily. Popular music in a transnational world: the
da por Gló ria da Anunciaçã o Alves. Sã o Paulo : Universi­ construction of local identities in Singapore. Asia Pacific
dade de Sã o Paulo, 2007. V i e w p o i n t 3 8 , 1 9 9 7 , 1 9 ­ 3 6 . <
http://tinyurl.com/4x4s2b4>. [20 de julho de 2011].
GIBSON, Chris. “ We sing our home, We dance our land”:
indigenous self­determination and contemporary geo­ KONG, Lily. Popular music in geographical analyses.
politics in Australian popular music. Environment and Progress in Human Geography 19, 1995, 183­183.
Planning D 16, 1998, 163­184. < h t t p : / / p r o f i l e . n u s . e d u . s g / f a s s / g e o­
<http://tinyurl.com/3mumxfp>. [20 de julho de 2011]. kongl/pihg19.pdf>. [20 de julho de 2011].
GIBSON, Chris. Place and Music: performing'the regi­ KRUSE, Robert. The Geography of the Beatles: Approa­
on'on the New South Wales Far North Coast. Transfor­ ching Concepts of Human Geography. Journal of Geo­
ming Cultures eJournal 4, 2009. g ra p hy, v. 1 0 3 , n . 1 , p . 2 ­ 7 , 2 0 0 4 .
<http://tinyurl.com/3dou7eq>. [20 de julho de 2011]. <http://tinyurl.com/3pbn34g>. [20 de julho de 2011].
GIRONCOURT, Georges. La gé ographie musicale. La LAMANTIA, Fré dé ric. Les effets" territorialisants" des
Gé ographie XLVIII, 1927, 292­302. <http: //tinyurl­ sons, reflets de la socié té en ses lieux et de ses é tats
.com/3e8shrk>. [20 de julho de 2011]. d ' â m e . G é o c a r r e f o u r 7 8 / 2 , 2 0 0 3 , 1 7 3 ­ 1 7 5 .
<http://tinyurl.com/43uweek>. [20 de julho de 2011].
GIRONCOURT, Georges. Recherces de Gé ographie musi­
cale dans le Sud Tunisien. La Gé ographie, v. LXXL, n. 6, LECHAUME, Aline. Chanter le pays : sur les chemins de la
1939, 65­74. chanson qué bé coise contemporaine. Gé ographie et
Cultures, n.21, 1997, 45­58.
GORE, Olivier. L'inscription territoriale de la musique
traditionnelle en Bretagne. Thè se de doctorat dirigé par LEROUX, Xavier. Pour une Gé ographie de la musique
Jean Pihan. Rennes: Université de Rennes, 2004. 421p. traditionelle dans le nord de la France. Bulletin de la
<http:// tinyurl.com/3cl4fux>. [20 de julho de 2011]. Socié té gé ographique de Liè ge 49, 2007, 59­65. <
http://tinyurl.com/3covpca>. [20 de julho de 2011].
GUIMARAES, Ana Carolina Viana. Alegorias, requebros,
memó ria e construçã o dos lugares do carnaval carioca. LEVY, Jacques. Espace, contrepoints–Des gé ographies
Dissertaçã o de mestrado dirigida por Joã o Baptista Fer­ musicales. Espaces–Les cahiers de l'IRCAM/Recherche
reira de Mello. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do et musique, 1994, 145­166.
Rio de Janeiro, 2007.
LEVY, Jacques. Le tournant gé ographique. Paris: Belin,

-8-
1999. Baptista Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, 2010.
LEYSHON, Andrew. MATLESS, David. REVILL, George.
The place of music. New York: Guilford Press, 1998. RAIBAUD, Yves (dir). Comment la musique vient aux
territoires. Bourdeaux : MSHA, 2008.
LIMA, Nilo. Dos territó rios dos sentidos ocupados à
sintonia com o entorno – um canto para a mú sica na REVILL, George. Music and the politics of sound: natio­
geografia. Dissertaçã o de Mestrado em Geografia dirigi­ nalism, citizenship, and auditory space. Environment
da por Maria Adé lia Aparecida de Souza. Sã o Paulo: Uni­ and Planning D 18, n. 5, 2000, 597­614.
versidade de Sã o Paulo, 2002. <http://tinyurl.com/3k9c45x>. [20 de julho de 2011].
MACHADO, Carlos Geovani Ramos. O Ensino de Geogra­ REVILL, George.. Vernacular culture and the place of folk
fia e o Hip Hop. Dissertaçã o de mestrado dirigida por music. Social and Cultural Geography 6, n. 5, 2005. 693­
Antô nio Carlos Castrogiovanni. Porto Alegre : Universi­ 706. <http://tinyurl.com/3bcvhhq>. [20 de julho de
dade Federal do Rio Grande do Sul, 2012. 2011].
MELLO, Joã o Baptista Ferreira. Dos Espaços da Escuri­ REYNOSO, Carlos. Antropologıá de la mú sica: De los
dã o aos Lugares de Extrema Luminosidade ­ O Universo gé neros tribales a la globalizació n. Volumen I: Teorıás de
da Estrela Marlene como Palco e Documento para a Cons­ la simplicidad. Buenos Aires: Editorial Sb, 2006.
truçã o de Conceitos Geográ ficos. Tese de doutorado
dirigida por Roberto Lobato Correa. Rio de Janeiro: Uni­ RIBEIRO, Claudia Vial. Espaço­vivo: as variá veis de um
versidade Federal do Rio de Janeiro, 2000. espaço­vivo investigadas na cidade de Diamantina, do
ponto de vista dos mú sicos. Tese de Doutorado dirigida
MELLO, Joã o Baptista Ferreira. O Rio de Janeiro dos Com­ por Oswaldo Bueno Amorim Filho. Belo Horizonte:
positores da mú sica popular brasileira –1928/1991 – PUCMG, 2006. 289p.
uma introduçã o à geografia humanıśtica. Dissertaçã o de
Mestrado dirigida por Roberto Lobato Correa. Rio de RODRIGUES, Glauco Bruce. Geografias Insurgentes: um
Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1991. Olhar libertá rio sobre a Produçã o do Espaço Urbano
Atravé s das Prá ticas do Movimento Hip Hop. Disserta­
MERRIAM, Alan. Antropologia della musica. Palermo: çã o de mestrado dirigida por Marcelo Lopes de Souza.
Sellerio, 1983. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
2005.
MESQUITA, Zilá . A geografia social na mú sica do Prata.
Espaço e Cultura. 3, 1997, 33­41. ROMAGNAN, Jean­Marie. La musique: un nouveau terra­
in pour les gé ographes. Gé ographie et cultures 36, 2000,
MESQUITA, Zilá . A pauta musical da fronteira: um convi­ 107­126.
te à Geografia cultural. In: CASTELLO. I.R. et al. Prá ticas
de Integraçã o nas fronteiras: temas para o Mercosul. ROSADAS, Michel. Nascentes e tributá rios de um Rio
Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1994. p.176­ musical – salve Está cio, Cidade Nova e a Praça Onze dos
182. bambas! E a Vila de Noel “so quer mostrar que faz samba
també m”. Dissertaçã o de Mestrado dirigida por Joã o
NASH, Peter. CARNEY, George. The seven themes of music Baptista Ferreira de Mello – Instituto de Geografia, Uni­
geography. Canadian Geographer 40, 1996, 69­74. versidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
<http://tinyurl.com/3qbz5ac>. [20 de julho de 2011]. 2009. 161p.
OLIVEIRA, Denilson Araú jo. Territorialidades no Mundo SALDANHA, Arun. Trance and visibility at dawn: racial
Globalizado: outras leituras da cidade a partir da cultura dynamics in Goa's rave scene. Social and Cultural Geo­
hip hop. Dissertaçã o de Mestrado dirigida por Jorge Luiz g r a p h y, v. 6 , n . 5 , p . 7 0 7 ­ 7 2 1 , 2 0 0 5 .
Barbosa. Niteró i: Universidade Federal Fluminense, <http://tinyurl.com/3hpk7kp>. [20 de julho de 2011].
2006. 169p.
SANTANA, Paola Verri. Maracatu : a centralidade da
PANITZ, Lucas Manassi. Por uma geografia da mú sica: as periferia. Dissertaçã o de mestrado dirigida por Ana Fani
representaçõ es do espaço geográ fico na mú sica popular Alessandri Carlos. Sã o Paulo : Universidade de Sã o Pau­
platina. Dissertaçã o de Mestrado dirigida por Alvaro lo, 2006.
Luiz Heidrich. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
G r a n d e d o S u l , 2 0 1 0 . 2 0 0 p . SANTOS, Michel Rosadas. Nascentes e Tributá rios de um
<http://tinyurl.com/4ycfdmz>. [20 de julho de 2011]. Rio Musical – Salve Está cio, Cidade Nova e a Praça Onze
dos Bambas! A Vila de Noel “...só quer Mostrar que faz
PANITZ, Lucas Manassi. Geografia e mú sica: uma intro­ Samba També m...”. Dissertaçã o de mestrado dirigida por
duçã o ao tema. Biblio 3W. Revista Bibliográ fica de Geo­ Joã o Baptista Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Universi­
grafıá y Ciencias Sociales. [En lın
́ ea]. Barcelona: Univer­ dade Estadual do Rio de Janeiro, 2009.
sidad de Barcelona, 30 de mayo de 2012, Vol. XVII, nº
978. <http:// www.ub.es/geocrit/b3w­978.htm>. [ISSN SOUZA, Fernando Lucci Resende. Composiçã o urbana,
1138­9796]. ritmos e melodias de uma geografia de vida, Villa­Lobos
o moderno compositor carioca: Na trilha dos Choros.
PICCHI, Bruno. De homens e caranguejos ao Carangue­ Dissertaçã o de mestrado dirigida por Marcio Piñ on de
jos com Cé rebro: a regiã o cultural do Movimento Man­ Oliveira. Niteró i : Universidade Federal Fluminense,
guebit e o Recife contemporâ neo. Dissertaçã o de mes­ 2011.
trado dirigida por Paulo Roberto Teixeira de Godoy. Rio
Claro : Universidade Estadual Paulista, 2011. TORRES, Marcos Alberto. A paisagem sonora da Ilha dos
Valadares: percepçã o e memó ria na construçã o do espa­
PIZOTTI, Alexandre Moura. Mangueira: um Simbó lico ço. Dissertaçã o de mestrado dirigida por Salete Kozel
Lugar Forjado no Ritmo do Sambo e no Passo de seus Teixeira. Curitiba : Universidade Federal do Paraná ,
Desfilantes. Dissertaçã o de mestrado dirigida por Joã o 2009.

-9-
XAVIER, Clarissa. Festas e micaretas ­ a mistura elè trica XAVIER, Denise Prates. Repensando a periferia no
da alegria: pelas vias, veias culturais e modelagem turıś­ perıo
́ do popular da histó ria: o uso do territó rio
tica. Dissertaçã o de mestrado dirigido por Carlos Edu­ pelo movimento Hip Hop. Dissertaçã o de mestrado
ardo Santos Maia. Goiâ nia: Universidade Federal de dirigida por Samira Peduti Kahil. Rio Claro: Univer­
Goiá s, 2010. sidade Estadual Paulista, 2005.

Geography and music: an introduction

Abstract - Geography of Music, despite its absence from the canon of the discipline, has gained such an
important dimension for geographers concerned with cultural studies and artistic expressions in their
spatial dimension. The increased availability of digital materials and archives allowed for the
recognition of this field of study in geography, being the United States, the United Kingdom, France and
Brazil (given its potential for ibero­american studies) important centers of debate and scholarly
production. This article offers an global outlook and focuses on the twenty years of brazilian scholarly
production.
Keywords: Geography. Music. Geography of Music. Brazilian Geography.

Geografía y música: una introducción al tema

Resumen - La geografıá de la mú sica, en que pese prá cticamente un siglo de existencia oficial, solo
recientemente tuvo la debida atenció n de los geó grafos interesados en estudio de la cultura y de las
manifestaciones artıśticas en su dimensió n espacial. La cantidad de materiales disponibles en formato
digital permite un bueno reconocimiento de este campo de estudios en geografıá, y apunta Estados
Unidos, Inglaterra y Francia como centros de discusió n avanzada, ademá s el Brasil como potencial
á mbito ibero­americano, por su considerable producció n cientıf́ica. En este sentido, el texto presenta
un panorama global de los estudios de Geografıá y mú sica, y enfoca en los veinte añ os de producció n de
la Geografia brasileñ a.
Palabras-clave: Geografıá. Mú sica. Geografıá de la Mú sica. Geografıá brasileñ a.

-10-

Você também pode gostar