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Introdução e Princípios
Segundo o dicionário Houaiss:
Bromatologia (substantivo feminino)
Alimentação (Humana) Alimentos(S)
De fato, alguns autores chegam a definir bromatologia como “química dos alimentos”, pois
ela estuda a natureza química dos principais constituintes dos alimentos, como água,
carboidratos, proteínas, lipídios, minerais e vitaminas, mas além dessa área do
conhecimento humano, ela ainda envolve conceitos de outras áreas, como biologia,
bioquímica e botânica, mas não apenas essas.
EM SÍNTESE
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Por tudo isso, a Bromatologia poderia ser descrita como uma ciência que estuda a
composição de alimentos processados e não processados, bem como suas técnicas de
produção, armazenamento e preservação.
Por meio dela é possível, por exemplo, pesquisar metais pesados em peixes para saber se
estão contaminados, ou verificar a presença de lactose em produtos de confeitaria para
saber se são seguros para pessoas intolerantes a este componente, ou avaliar a quantidade
presente de carboidratos em polpas para informar pessoas que têm restrição a ingestão de
açúcares.
Legislação e Rotulagem
Legislação
A regulamentação da produção, transporte, armazenamento e comercialização de
alimentos é bastante extensa e complexa (Figura 2) tramitando na obediência de normas
das três esferas de governo, envolvendo dezenas de órgãos e instituições públicas e
privadas.
O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), criado em 1999 pela Lei Federal 9.782,
prevê a criação de uma extensa rede formada por instituições públicas da União, dos
Estados e dos Municípios, que atuam exercendo atividades de regulação, normatização,
controle e fiscalização na área de vigilância sanitária.
GLOSSÁRIO
No âmbito alimentar, a vigilância sanitária ocorre sobretudo sob competência federal dos
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério da Saúde (MS),
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), bem como dos respectivos Centros de
Vigilância Sanitária (CVS) estaduais, Coordenadorias de Vigilância Sanitária (COVISA)
municipais e das secretarias estaduais e municipais dedicadas a esses temas.
Para compreender melhor a complexidade desse sistema, devemos lembrar que existem
regulamentações específicas para cada tipo de alimento, bem como para cada tipo de
processo e manipulação que podem ser submetidos.
Vale destacar que a portaria também determina que estabelecimentos da área de alimentos
adotem Boas Práticas de Produção e Prestação de Serviços, Programas de Qualidade, e
atendam aos Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ) para os alimentos que produzem ou
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manipulam.
Saiba Mais
Os PIQ/RTIQ consistem em um conjunto de atributos que identificam e qualificam
um determinado produto alimentício e a partir deles é possível determinar se um
produto alimentício está apto ou não ao consumo, por exemplo, por apresentar
alguma contaminação, alteração, falsificação ou adulteração e apresentam entre
outras coisas:
• Descrição de processos tecnológicos empregados nas diversas etapas da cadeia produtiva, com
destaque para Pontos Críticos de Controle;
• Informação sobre ingredientes obrigatórios e opcionais, que são aqueles que podem ser adicionados
ao produto sem descaracterizá-lo;
• Aditivos e coadjuvantes que podem ser usados na produção e possíveis contaminantes que podem
estar presentes, indicando a quantidade máxima tolerada de cada um deles no produto acabado;
• Critérios sensoriais, macroscópios, microscópios e microbiológicos, cumprindo normas específicas,
bem como a descrição de Métodos Analíticos reconhecidos para a determinação dessas
características.
Trocando Ideias...
Escolha três alimentos da cozinha ou despensa e faça uma busca na Internet por
PIQ ou RTIQ e acrescente descrições dos produtos que escolheu, por exemplo,
café solúvel, kefir ou queijo minas frescal, e avalie os resultados.
Rotulagem
Para promoção da segurança alimentar e nutricional é fundamental que se conheça a
composição e outras informações dos alimentos, isso faz da rotulagem um dos pilares da
educação nutricional da população.
SAIBA MAIS
A rotulagem consiste em uma linha direta de comunicação entre as empresas e os
consumidores sobre os produtos que estão sendo comercializados, e é alvo de legislação
específica, dentre as quais podemos destacar as RDC 259/2002 e 26/2015, que tratam do tema.
A primeira discorre sobre a rotulagem dos alimentos embalados, e a segunda dispõe sobre
requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias
alimentares. Entretanto, muitas outras portarias e resoluções especificam detalhes das
informações que precisam ou que podem ser declaradas nos rótulos de produtos
alimentícios.
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A ANVISA é o órgão responsável por estabelecer as informações que podem, que não podem
ou que são necessárias serem incluídas na rotulagem dos alimentos, que pode ser dividida
em geral e nutricional.
Quadro 1 – Declarações que devem aparecer nos rótulos de alimentos e suas respectivas unidades de medida,
segundo RDC 360 de 2003
Componente Unidade
Proteínas Gramas
Gorduras Gramas
Colesterol Miligramas
Fibra alimentar Miligramas
Miligramas ou
Cálcio
microgramas
Miligramas ou
Ferro
microgramas
Miligramas ou
Sódio
microgramas
Fonte: BRASIL, 2003
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Noções de Estatística
A estatística fornece ferramentas que auxiliam as tomadas de decisão. Organiza dados,
permite observar tendências e planejar ações de forma mais racional (Figura 4).
Muitas informações nutricionais são analisadas sob o prisma da estatística, por exemplo, a
média do teor de potássio em um lote de batatas, ou o desvio padrão observado na
produção de leite de um produtor rural.
Média aritmética ou valor médio (x̅ ) é obtida a partir da soma dos valores
de uma medida, dividida pelo número de valores que foram utilizados (n). É
uma medida de tendência central que representa equilíbrio entre valores
mais altos e mais baixos do conjunto de dados;
Moda (Mo) é uma medida de tendência central que representa o valor mais
frequente (que mais aparece) em um conjunto de medidas. Ele não é
calculado, mas, sim, observado pela apuração dos dados;
Incerteza
Toda medida possui alguma incerteza que deve ser mantida em níveis baixos e toleráveis
para que os resultados sejam considerados aceitáveis e é exatamente as ferramentas
estatísticas que podem trazer luz para aceitação ou rejeição dos resultados medidos.
Erros
A incerteza de uma medida é influenciada sobretudo pelos erros produzidos durante o
processo de medição, chamados de erros experimentais.
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Glossário
Erro: a diferença entre um valor medido e o valor real ou padronizado de uma
grandeza.
A rigor quase nunca nós sabemos o valor real de uma grandeza, já que geralmente o que
temos à mão são as medidas que tomamos, e que por definição, contém erros que o
distanciam do valor real, porém existem formas para estimar a imprecisão e alguns dos
erros experimentais
(Fig Figura 5 – Criança na ponta dos pés
Fonte: Freepik
Seriam considerados erros desse tipo aqueles causados por uso de método inadequado,
falta de habilidade ou treinamento do observador, uso de reagentes de má qualidade,
vencidos, contendo impurezas, ou ainda uso de instrumentos descalibrados.
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Por exemplo, numa régua milimetrada o erro é de 0,5 mm, em um cronômetro que registra
milissegundos, o erro é 0,5 ms e numa balança com escala de leitura que varia em 10
gramas, o erro seria estabelecido em 5 g.
Exatidão e Precisão
Em metrologia exatidão e precisão são consideradas características do processo de
medição:
Exatidão está associada à proximidade dos valores medidos com o valor real do objeto de
estudo, consiste assim no grau de conformidade de um valor medido em relação a uma
referência padrão.
Por exemplo, uma régua milimetrada possui precisão de 0,5 mm, um paquímetro
normalmente apresenta precisão de 0,05 mm e um micrômetro frequentemente tem
precisão de 0,005 mm.
Por isso, uma régua pode ser adequada para medir o comprimento de um parafuso, mas um
micrômetro poderia ser mais adequado para medir as dimensões de uma peça de metal que
deve ser encaixada em outra sem folgas.
O mesmo ocorre quando comparamos instrumentos de medida de volume, já que cada tipo
de vidraria em um laboratório ou em uma cozinha apresentam usos e precisões diferentes
ou quando medimos o peso de uma amostra em uma balança de açougue, uma balança
doméstica ou uma balança analítica.
Algarismos Significativos
Quando uma pessoa mede algo com um instrumento, todos os algarismos lidos e um último
algarismo duvidoso são considerados significativos.
(Os “zeros” à direita da medida são considerados significativos, mas os “zeros” à esquerda
nunca são.)
Importante!
Atente que o último algarismo significativo à direita é o que carrega a dúvida da
medida. Portanto, em uma peça de cupim de 1,327 kg, a incerteza reside nas 7
gramas indicadas no último dígito.
Quando utilizamos medidas em cálculos, devemos respeitar algumas regras para que a
incerteza das medidas originais se mantenha no resultado:
Por exemplo:
Quanto sobrou em um saco de 8,5 kg de farinha de onde foram retirados 7,160 kg de farinha?
Resposta:
8,5 – 7,160 = 1,340 = 1,3 kg
Importante!
Apesar de algebricamente a conta indicar 1,340, para manter o grau de incerteza na primeira
casa decimal, de acordo com as regras para algarismos significativos, o peso da farinha que
sobrou deveria ser registrado como 1,3 kg.
10
Outro exemplo:
2,83 + 0,1145 = 2,9445 = 2,94
Importante!
Manteve-se a incerteza original, que residia na segunda casa decimal.
Por exemplo, o cálculo de densidade envolve a divisão entre duas grandezas, a massa e o
volume do objeto de estudo.
Assim, um líquido que pesa 1,143 g (4 algarismos significativos) e ocupa um volume de 1,2 cm 3
Importante!
Mantendo dois algarismos significativos no resultado da conta, o grau de incerteza se
manteve.
Outro exemplo
7,156 x 8,500 = 60,826 = 60,83
Importante!
Note que nesse caso o valor não foi expresso simplesmente “cortando” tudo o que aparece
depois dos quatro algarismos significativos, mas, sim, arredondando o resultado para o
valor mais próximo do original. É por isso que 60,826 foi expresso como 60,83 e não como
60,82!
Notação Científica
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Para minimizar erros de interpretação e facilitar a aritmética e a comparação de grandezas é
comum a utilização de uma forma padronizada de declaração das informações numéricas,
chamada notação científica.
Saiba Mais
Apesar de ser bastante popular, o INMETRO não recomenda o uso de pontos ou vírgulas para
separar “milhares” em números muito grandes, como 5.654.600.000. Ao invés disso, o
instituto declara preferência pelo uso de espaços a cada 3 algarismos se isso for necessário.
Por exemplo, a distância entre o Sol e a Terra é de aproximadamente 147 000 000 km.
A notação científica é particularmente útil quando lidamos com números muito pequenos ou
muito grandes, tais como: 0,0000000000002589 ou 5654600000, que seriam expressos
Trata-se de uma forma padronizada que escreve números utilizando potências de base 10,
conservando os algarismos significativos do número original, mas com apenas um dígito
diferente de zero à esquerda da vírgula.
Por Exemplo
Outros Exemplos
Importante!
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Usar 10 ou 101 é equivalente. Além disso, quando já existe apenas um dígito antes da vírgula,
é possível manter o número original ou expressá-lo sem alteração, mas com a potência 10 0,
que por equivaler a 1, não altera o seu valor.
Unidades de Medidas
Outro conceito que vale a pena rever é o de Sistema Internacional de Unidades (SIU), que
apresenta um conjunto de unidades de medidas oficiais para cada grandeza física a ser
trabalhada (Quadro 2).
Quadro 2 – As sete grandezas fundamentais do SIU, suas unidades de medida e respectivos símbolos
Além disso, o SIU admite algumas exceções, principalmente pelo uso consagrado dessas
medidas, como a caloria (cal), que também é uma unidade de medida de energia, mas que
corresponde a 4,1868 J, ou a tonelada (T), que corresponde a 1000 kg, a arroba que equivale a
15 kg, o quilate, que equivale a 2 g, entre outros.
Essas unidades também podem ser expressas utilizando os respectivos prefixos previstos na
escala decimal (Quadro 3).
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Quadro 3 – Prefixos da escala decimal, símbolos e equivalências em potências de
base dez e valores cardinais e decimais
Para tanto, basta simplificar o valor usando a potência de base dez mais adequada e
acrescentar o prefixo correspondente à unidade da medida.
Exemplos:
Importante!
Apesar de sermos tentados a escrever 750 mm quando convertemos 0,75 metros para
milimetros, isso adulteraria a precisão da medida, pois aumentaria o número de algarismos
significativos de 2 para 3, o que mudando a posição do “algarismo duvidoso”. Para que isso
não ocorra, o correto é expressar o novo valor mantendo o mesmo número de algarismos
significativos e usar uma potência de base 10, conforme demonstrado.
Apesar de serem amplamente utilizados e aceitos pelas normas oficiais da língua portuguesa,
o INMETRO não recomenda, mas aceita, o uso de acentos gráficos para descrever medidas
como quilometro, centimetro, e milimetro, por exemplo, nos documentos técnicos.
Saiba Mais
Considerando que nem todas as pessoas possuem instrumentos de medida especializados,
como balanças, provetas e balões volumétricos em casa, a rotulagem de produtos
alimentícios exige o uso de medidas padrões equivalentes (Quadro 4), chamadas
“medidas caseiras” além das medidas em unidades internacionais, por exemplo, colher de
chá, colher de sopa, xícara de chá, copo, prato raso e prato fundo.
Leitura
A Resolução - Rdc Nº 359, de 23 de Dezembro de 2003
A Resolução define normas que devem ser observadas pelas empresas na rotulagem de
produtos alimentícios, sobretudo com relação às medidas caseiras e suas respectivas
equivalências e as indicações de porções e suas frações.
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UNIDADE II:
Nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), ou seja, sob uma pressão de 1
atmosfera e temperatura de 25º C, a água pura apresenta a densidade de 1 g/cm³.
Por isso, cada mililitro (mL) de água, nessas condições, pesa um grama (g) e um litro (L) de
água pesa um quilograma (kg).
Com a redução na temperatura, o aumento na pressão ou adição de solutos como sal, açúcar
etc., a densidade da água aumenta; por outro lado, com a redução na pressão ou o aumento
da temperatura, a densidade da água diminui.
Essa conformação também permite a formação de pontes (ou ligações) de hidrogênio entre
as moléculas de água próximas umas das outras,
o que junto a polaridade, permite um ponto de
ebulição de 100º C ao nível do mar, ou seja,
torna-se vapor quando a temperatura se eleva
além desse limite (Figura 1).
Figura 1 – Estrutura química de molécula de água,
polaridade e formação de pontes de hidrogênio com
outras moléculas de água
Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons
Importante!
A água também pode evaporar em temperatura abaixo do ponto de ebulição, mas neste caso o
processo ocorre de forma lenta, quando uma ou outra molécula da superfície se solta do
conjunto de moléculas de água. Quando a água se encontra acima de 100º C todas as
moléculas se agitam de tal forma que a interação de cada uma com as outras em sua volta
diminui tanto que elas se soltam e viram gás (vapor). Por isso, quando um alimento é
colocado em óleo quente, ocorre grande produção de vapor de água e o óleo pode espirrar,
ferindo quem estiver próximo.
Vídeo
Joguei Água na Panela com Óleo
Nunca jogue água em óleo fervendo ou pegando fogo, já que isso faz a água evaporar
instantaneamente, de modo que com a sua expansão violenta o óleo será lançado para fora
de forma explosiva, incendiando tudo ao redor, causando grandes queimaduras e
potencialmente até a morte de quem estiver próximo. Veja o que acontece quando se tenta
apagar o fogo de uma frigideira com óleo usando água.
O ponto de fusão da água é de zero grau centígrado ou Celsius (0º C) ao nível do mar, ou seja,
congela quando a temperatura fica mais baixa que isso.
Reflita
Por que a geladeira aumenta o tempo de vida dos alimentos?
A maior parte das reações químicas é inibida quando a temperatura diminui, fazendo com que
o metabolismo dos microrganismos e a velocidade das reações espontâneas ou reações
enzimáticas também diminuam. Por isso alimentos resfriados ou congelados duram mais
que em temperatura ambiente.
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Solubilidade, Hidrofilia e Hidrofobia
A polaridade da água também determina sua capacidade de solubilizar boa parte dos
compostos químicos (chamados de hidrossolúveis), fazendo com que a água seja considerada
o solvente universal.
Por outro lado, moléculas pouco solúveis em água, como gordura e cera, são apolares (não
apresentam polaridade), por isso não se misturam bem com substâncias polares como a
água, sendo chamadas de hidrofóbicas.
Glossário
Hidrofílico: vem da união das palavras gregas hydor (água) e philos (afinidade), significando,
portanto, “aquele que tem afinidade pela água”; enquanto hidrofóbico, igualmente do grego
hydor (água) mais phobos (aversão, medo) significa “aquele que tem aversão pela água”.
Muitos alimentos podem perder ou ganhar água, dependendo da umidade do ambiente onde
se encontram, por exemplo, pães costumam perder umidade para o ar, tornando-se
endurecidos, mas em locais muito úmidos podem absorver umidade do ar, ficando
amolecidos e mais predispostos a embolorar.
Alimentos com maior tendência para absorver umidade do ar são chamados de higroscópios.
Por exemplo, o açúcar da cana (sacarose), quando fica exposto a um ambiente úmido pode
“empedrar” e em casos extremos pode até dissolver, formando uma espécie de calda ou xarope.
A água nos alimentos pode se apresentar mais ou menos disponível, já que o teor de umidade
inclui duas formas de água, uma livre e outra ligada aos componentes dos alimentos.
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A água que evapora facilmente quando o alimento é colocado em temperatura ao redor da faixa
de ebulição da água é chamada de água livre. Porém, quando a água está conjugada com as
moléculas do alimento, como proteínas e açúcares, necessita de temperatura mais alta e mais
tempo para que ocorra a sua remoção do alimento – neste caso é chamada de água ligada.
Saiba Mais
Na década de 1960, na Inglaterra, mais de 100 mil aves de granja, sobretudo perus, morreram
devido à ingestão de ração contendo aflatoxina, uma micotoxina produzida por fungos do
gênero Aspergillus que estavam presentes em grande quantidade no alimento das aves.
Estudos posteriores identificaram que a causa da contaminação foi a presença de alto teor de
umidade no amendoim proveniente do Brasil e que fora adicionado à ração.
Conservação de Alimentos
A umidade é um dos requisitos mais importantes para se classificar um alimento de acordo
com a sua perecibilidade, mas outros fatores podem contribuir para a sua decomposição,
tais como ter abundância de nutrientes, temperatura adequada e faixa de potencial
Hidrogeniônico (pH) ideal para a proliferação de microrganismos (Figura 2).
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Por fim, existem alimentos não perecíveis que, por terem baixo teor de água, apresentam
baixo potencial de perecibilidade, podendo ser conservados por várias semanas (em alguns
casos, por até meses ou anos) fora de geladeira, como a maioria dos grãos (milho, feijão,
arroz, soja), cereais (trigo, cevada, aveia), óleos (soja, milho, oliva, girassol, algodão,
amendoim), farinhas (trigo, fubá, mandioca, tapioca, fécula de batata, amido de milho), leite
em pó, café em pó ou solúvel, sal, açúcar, macarrão, algumas nozes e castanhas e
achocolatado em pó.
Atividade de Água
Como vimos, a água livre não está ligada, por isso serve de suporte para o crescimento de
microrganismos e como meio para a ocorrência de reações químicas nos alimentos, o que
exige constante vigilância.
A atividade de água é representada pelo símbolo Aw, que é o acrônimo das palavras Activity of
Water, do inglês.
Por definição, a atividade de água (Aw) é a relação entre a pressão de vapor de água do alimento
(P) e a pressão do vapor de água pura (Po).
O resultado dessa relação pode variar de 0 a 1, sendo 0 a ausência total de água livre no
alimento e 1 se 100% da amostra fosse formada por água pura.
Importante!
Você já reparou que o leite em pó possui uma validade muito extensa, mas depois que é
reidratado, o processo de degradação é tão rápido que em poucas horas “estraga” se for
deixado em temperatura ambiente? Isso ocorre porque enquanto está na forma de pó, sua
atividade de água é baixa; mas ao reconstituí-lo, a água adicionada permite a proliferação de
microrganismos.
A maioria das bactérias necessita de atividade de água superior a 0,82 e a maioria dos fungos
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precisa de valor superior a 0,65 para sobreviver e proliferar.
A maioria dos alimentos apresenta atividade de água ao redor ou superior a 0,95 (Quadro 1),
por isso frequentemente precisamos usar outros métodos de conservação para manter a
qualidade e segurança.
Por exemplo, para conservar por mais tempo, podemos manter alimentos resfriados,
congelados, embalados a vácuo, mais ácido, com sal ou açúcar, defumado, pasteurizado ou
esterilizado com calor ou radiação, entre outros.
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Produto Níveis de pH Atividade de Água (Aw)
Iogurtes De 3,7 a 4,4 De 0,93 a 0,97
Reflita
Por que congelar preserva alimentos por mais tempo que apenas resfriar?
Então, qual será o “segredo” para o congelamento ser tão mais eficaz do que o
simples resfriamento? A resposta novamente está na atividade da água.
O congelamento transforma a água livre em gelo, no estado sólido e isso é como se não
houvesse mais água disponível ao metabolismo microbiano e às reações químicas que
poderiam alterar o alimento.
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Fonte: Getty Images
Note que frutas secas duram consideravelmente mais tempo, mesmo a temperatura
ambiente, que frutas frescas mantidas sob refrigeração, simplesmente por terem
atividade de água mais baixas que as mesmas frutas in natura.
Por tudo isso, a retirada de parte da água é uma forma bem popular e antiga para tratamento
de alimentos, podendo ser feita com diversos métodos.
Secagem Natural
A secagem natural é considerada o método de conservação precursor de todos os outros.
É um método simples e barato, pois o produto é deixado ao sol para secar, fazendo com que
seja dependente das condições climáticas e ambientais.
Além disso, pode ser um processo lento e suscetível a contaminações por insetos e poeira,
ainda que possa ser utilizado com um amplo grupo de alimentos, tais como frutas, carnes e
condimentos, por exemplo (Figura 4).
Desidratação
A desidratação é um processo com maior controle sobre a temperatura, as correntes de ar, a
umidade do ambiente e o resultado.
Além disso, permite condições sanitárias mais controladas e com maior previsibilidade e
velocidade do que o processo natural e pode ser obtida por diversos métodos, os quais
podendo ser adaptados ao tipo de alimento, à quantidade de produto que se quer tratar e à
disponibilidade de equipamento, tais como:
Túnel de desidratação;
Secador de leito fluidizado;
Atomizador;
Secador de tambor (drum dryer);
Estufa com circulação de ar forçada;
Processo de desidratação a frio (liofilização).
Concentração
A concentração é um processo que pode utilizar calor, congelamento, adição de substâncias
como sal e açúcar ou membranas (filtros) que retiram água dos alimentos.
A concentração também pode ser adaptada ao tipo de alimento e à quantidade de produto que
se deseja tratar, bem como à disponibilidade de equipamentos:
Evaporador a vácuo;
Evaporador de múltiplo efeito;
Ultrafiltro;
Filtros ou membranas de osmose reversa (ou inversa);
Adição de sal;
Adição de açúcar.
Reflita
Por que um suco não estraga com a mesma facilidade que peixe fresco, camarão e outros
frutos do mar, apesar de possuírem atividades de água semelhantes? Por que iogurtes duram
mais que leite fresco, ainda que possuam a mesma origem e praticamente os mesmos
nutrientes?
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Potencial Hidrogeniônico (pH)
O potencial hidrogeniônico é uma medida relacionada à acidez de uma solução, caracterizada
pelo logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio livres (H+) naquele meio,
segundo a seguinte fórmula:
O pH pode variar de 0 a 14, sendo que quanto mais próximo do 0, mais ácido está o meio e
quanto mais próximo de 14, mais alcalina a solução está e no valor 7 a solução é considerada
neutra (Figura 5).
A escala de potencial hidroxiliônico (pOH) é semelhante, mas utiliza o íon hidroxila como
parâmetro e apresenta os valores invertidos em relação ao pH.
Figura 5 – Faixa de pH
Fonte: Adaptada de Wikimedia
Commons
#ParaTodosVerem: A imagem é
um desenho que apresenta uma
escala numérica decrescente de
pOH, variando de 14 a 0 e outra de
pH, mais abaixo, que varia de 0 a 14.
Entre as duas escalas há uma área
colorida que varia de vermelho a
azul, formando um degradê. Na
parte esquerda, mais vermelha,
está escrito
“ácido”. Na parte direita, mais azul, está escrito “básico”. Na parte central, onde a faixa é mais clara, está
escrito “neutro”. Na escala de pOH, sobre o valor 12 está escrito “sumo de limão”. Entre o 8 e 7 está escrito
“saliva”. Acima do valor 2 está escrito “amoníaco comercial”. Na faixa de pH, entre o valor 1 e 2 está escrito
“suco gástrico”. No valor 4 está escrito “sumo de tomate”. Próximo ao valor 7,4 está escrito “sangue” e
pouco abaixo do valor 13 está escrito “lixívia comercial”. Fim da descrição.
Por exemplo, a pepsina, que digere proteínas, só funciona quando o pH está baixo, o que
ocorre no estômago, que tem um pH por volta de 2, mas nos intestinos, onde o pH é elevado –
acima de 8 – ela perde a função.
Por outro lado, a enzima tripsina, que também é uma protease, só funciona nos intestinos,
onde o pH é maior que 8.
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Figura 6 – Atividade enzimática da pepsina e tripsina em relação ao pH
O botulismo é causado pela ingestão da toxina botulínica produzida por uma bactéria chamada
de Clostridium botulinum, que pode contaminar alimentos como embutidos, conservas e
enlatados e que produz uma doença consideravelmente grave, que causa paralisia flácida
potencialmente fatal nos pacientes.
Por ser tão perigosa e relativamente comum, o Ministério da Saúde criou normas que obrigam
a acidificação da salmoura adicionada ao palmito, para que o produto mantenha pH inferior a
4,5, inibindo a proliferação da bactéria.
Não significa que alimentos ácidos não precisem de refrigeração ou outros métodos, mas que
são mais resistentes à degradação (Figura 7).
Existem microrganismos chamados de acidófilos que são adaptados para viver em locais
ácidos, por exemplo, bactérias do gênero Alicyclobacillus que frequentemente deterioram
sucos de frutas cítricas e molho de tomate; ou a bactéria Helicobacter pylori, que vive no
estômago de muitas pessoas e é o principal fator de risco para úlceras gástricas e duodenais.
Além disso, algumas toxinas – mas nem todas – podem ser inativadas ou reduzidas após o
processo de aquecimento adequado.
Vale lembrar que as temperaturas e os tempos de exposições sugeridos a seguir podem variar,
dependendo dos equipamentos disponíveis, da quantidade de produto, do tipo de alimento, da
sua textura, carga microbiana original e do tipo de embalagem que se utilizará ao
armazenamento.
Branqueamento
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O branqueamento consiste em mergulhar o alimento em água quente (entre 70 e 100º C) por 1
a 5 minutos, resfriando-o em seguida para que o calor não cause o cozimento de produtos como
frutas e hortaliças, antes de submetê-los ao congelamento ou à desidratação.
Seu principal objetivo é a inativação das enzimas autolíticas, mas também ajuda a reduzir
carga microbiana, eliminar ar e fixar a cor dos alimentos.
Pasteurização
A pasteurização é um método desenvolvido por Louis Pasteur, em 1864 e consiste na redução
da carga microbiana pelo aquecimento.
A pasteurização tradicional ou lenta, igualmente chamada de Low Temperature and Long Time
(LTLT) é feita em temperatura baixa, por volta de 65º C, por cerca de meia hora, condição que
reduz a carga microbiana, sobretudo dos agentes patogênicos. Em seguida, o alimento é
resfriado ou congelado para que as bactérias remanescentes não degradem o produto
rapidamente.
Na pasteurização rápida, ou High Temperature and Short Time (HTST), o produto é submetido
a mais ou menos 75º C por 15 segundos e, em seguida, a um resfriamento ou congelamento
para que bactérias remanescentes não estraguem o alimento rapidamente.
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O calor também pode ser empregado para esterilizar, ou seja, eliminar completamente os
microrganismos do alimento que, assim, conserva-se por consideravelmente mais tempo se
mantido em embalagem e sob armazenamento adequados.
Apertização
A esterilização por apertização exige que o alimento seja inicialmente embalado de forma
hermética para que seja submetido a calor esterilizante, eliminando os microrganismos
patogênicos e decompositores.
Essa técnica pode ser utilizada em enlatados, conservas ou compotas em potes de vidro ou em
outro material hermético, utilizando temperatura de 120º C por 15 minutos, em equipamentos
chamados de autoclaves.
Tindalização
A tindalização esteriliza com temperaturas inferiores a 90º C por alguns minutos, o que não
exige equipamentos especiais como autoclave.
Fermentação
A fermentação consiste na alteração intencional e controlada de certos alimentos pela ação
de bactérias ou fungos fermentadores, evitando o desenvolvimento de outros
microrganismos que ali seriam indesejáveis.
Figura 9 – Chucrute
Fonte: Getty Images
Esse aumento na estabilidade do produto pode resultar de diversos mecanismos, tais como
redução na oferta de nutrientes como açúcares que foram consumidos durante a
fermentação, pela diminuição na atividade da água, pela alteração no pH, pela formação de
ácido lático, acético, butírico ou propiônico, ou pela produção de etanol, tais como nas
bebidas alcoólicas.
Irradiação
A irradiação é um método eficaz e seguro de tratamento de alimentos, pois nenhuma
propriedade nutricional é alterada e nenhum resíduo radioativo permanece no produto ao final
do procedimento, já que o alimento nunca entra em contato direto com o radioisótopo
(elemento radioativo).
Na realidade, o alimento é exposto apenas a uma dose de radiação, como se uma “luz
invisível” atravessasse o alimento, mas ao final do processo nenhum resquício do material
radioativo continua no alimento.
Quando o alimento é exposto a baixas doses de radiação, ocorre radurização, que elimina
insetos, ovos e larvas, prolongando a vida de grãos e farináceos processados. Além disso, o
processo desnatura enzimas, aumentando o tempo de conservação de bulbos, tubérculos e
frutas, retardando o amadurecimento e brotamento.
Com doses intermediárias de radiação ocorre a redução na carga microbiana do alimento. Esse
processo, chamado de radiciação ou radiopasteurização, prolonga o tempo de consumo de
30
peixes, carnes, amendoim, vegetais e outros alimentos crus.
31
Aminoácidos e Proteínas
Proteínas são macromoléculas compostas por cadeias com dezenas ou até milhares de
aminoácidos ligados entre si.
Atualmente há cerca de trezentos aminoácidos descritos, mas apenas vinte deles participam
da formação das proteínas (Quadro 3) e desses, doze são produzidos pelos seres humanos
(aminoácidos não essenciais) e os oito restantes devem ser adquiridos pela alimentação
(aminoácidos essenciais).
32
Aminoácido Código de Três Letras Código de Uma Letra Tipo
Prolina Pro P CE
Serina Ser S NE
Tirosina Tir ou Tyr Y CE
Treonina Tre ou Thr T E
Triptofano Trp W E
Legenda: E = Essencial; NE = Não Essencial; CE = Condicionalmente Essencial
A glicina, por exemplo, tem, na sua cadeia lateral, um hidrogênio (-H), a alanina tem uma
metila (-CH3), a serina tem um metanol (-CH2-OH) e a fenilalanina tem, na cadeia lateral, um
carbono ligado a um anel benzênico.
Grupo carboxila (-COOH): representado pela
fórmula COOH, indicando um átomo de OH grupo hidroxila
carbono (C) duplamente ligado a um átomo
de oxigênio (O) e com uma ligação simples a Figura 11 – Estrutura básica de um
outro átomo de oxigênio (O) que, por sua vez,
está ligado a um átomo de hidrogênio (H). aminoácido
Grupo amino (- Fonte: Wikimedia Commons
NH2):
representado pela
fórmula NH2, #ParaTodosVerem: Desenho colorido representando um
indicando um
átomo de
aminoácido. O modelo conta com bolinhas coloridas unidas
nitrogênio (N) por traços cinzas, que representam os átomos e as ligações
ligado a dois
átomos de químicas, respectivamente. O desenho tem uma bolinha
hidrogênio (H) por central cinza representando um carbono alfa do
meio de ligações
covalentes aminoácido. Este carbono encontra-se ligado a três outras
simples.
bolinhas e a um quadrado. A primeira bolinha fica do lado
C=O esquerdo do carbono central, representando um
Cadeia Lateral grupo carbonilanitrogênio. É roxa, um pouco maior que a bolinha que
representa o carbono e está ligada a outras duas bolinhas menores, azuis claras, que
representam átomos de hidrogênio. Acima do carbono central há mais um átomo de
hidrogênio, representado por uma bolinha azul clara. À direita do carbono central há mais
uma bolinha cinza representando outro carbono que, por sua vez, está ligado a duas bolinhas
vermelhas que representam dois átomos de oxigênio. A um dos oxigênios há mais uma
bolinha representando hidrogênio. Por fim, abaixo do carbono central há um quadrado
branco com a inscrição “R”, que representa a cadeia lateral R do aminoácido. Fim da
descrição.
33
Algumas cadeias laterais de aminoácidos são mais polares, enquanto outras são mais
apolares, o que fornece ao aminoácido e às proteínas que esses formam, maior ou menor
afinidade pela água ou por gorduras e tais propriedades são utilizadas para separar uns
aminoácidos dos outros.
Além disso, aminoácidos são anfóteros, ou seja, comportam-se tanto como ácido quanto como
base, pois o grupamento carboxila frequentemente libera um próton, enquanto o
grupamento amina tem a capacidade de receber prótons da solução onde se encontra.
O valor de pH em que a quantidade de moléculas com cargas positivas e moléculas com cargas
negativas se iguala chama-se ponto isoelétrico, que é característico para cada aminoácido.
Proteínas e Peptídeos
As proteínas e os peptídeos representam de 50 a 80% da matéria seca de uma célula, sendo,
portanto, as biomoléculas mais abundantes nos organismos.
34
Coagulação: (protrombina, trombina, plasmina, plasminogênio etc.);
Alimentos Proteicos
Muitos alimentos de origem animal e vegetal são fontes importantes de proteínas e
aminoácidos aos nossos organismos, mas nem toda fonte de proteína apresenta a mesma
qualidade nutricional.
Um alimento com alto valor biológico apresenta proteínas completas, ou seja, tem todos os
aminoácidos essenciais com fácil assimilação e nas quantidades adequadas ao crescimento e à
manutenção do organismo – por exemplo, carnes, leite, ovos, peixes e aves.
Um alimento de baixo valor biológico apresenta proteínas incompletas, que não fornecem
todos os aminoácidos essenciais em quantidade suficiente nem mesmo para a manutenção do
organismo.
35
Quadro 4 – Vantagens e desvantagens de alimentos de origem animal e vegetal
Animais Vegetais
Vantagens: Vantagens:
• As proteínas apresentam todos os • Não são fontes abundantes de gorduras
aminoácidos essenciais; saturadas e não possuem colesterol;
• As proteínas são de fácil digestão e • Fornecem vitaminas e outros
absorção, portanto, são de alto valor antioxidantes queauxiliam no combate
biológico; aosradicais livres;
• Fornecem outros nutrientes importantes, • Podem ser fontes de fibras, favorecendo
tais como zinco, ferro e vitamina B12. a saúde digestiva.
Desvantagens:
Desvantagens: • Raramente possuem todos os
aminoácidos essenciais;
• São fontes de gordurassaturadas e colesterol;
• Frequentemente as proteínas são de
• Não são fontes de fibras.
difícil digestão, reduzindo a absorção
dos aminoácidos.
O ovo é um alimento de alto valor biológico, pois além de ter proteínas de fácil digestão
(origem animal), possui um escore de aminoácidos essenciais de 100%, ou seja, apresenta
todos os aminoácidos essenciais em uma proporção perfeitamente adequada às demandas do
organismo humano.
Por outro lado, a farinha de trigo tão comum à dieta humana, possui um escore de apenas
42% e o arroz frequentemente encontrado na mesa do brasileiro, apresenta um escore de
61% de aminoácidos essenciais, sendo a lisina o aminoácido essencial mais limitante
nesses dois alimentos.
Essa forma tridimensional é essencial para a sua função; por exemplo, um hormônio deve se
36
ligar ao seu receptor biológico; contudo, se tiver alteração na forma, o encaixe não ocorrerá e
a função do hormônio não será executada.
Durante muitos dos processos aos quais alimentos são submetidos ocorre a desnaturação das
proteínas, que consiste na alteração da forma (estrutura terciária) das proteínas.
Exposição à radiação, variações de pH, adição de substâncias e elevação na temperatura são
alguns dos processos que podem causar desnaturação e perda de função das proteínas dos
alimentos. Por exemplo, o cozimento do abacaxi inativa a enzima bromelina, que é uma
protease, ou seja, digere outras proteínas; isso pode ser interessante se você quiser fazer uma
gelatina com essa fruta, já que sem o aquecimento do abacaxi, a gelatina seria digerida pela
bromelina e nunca endureceria. Quando o leite é acidificado, a caseína se coagula, formando uma massa gelatinosa que contribui para a consistência e
textura do iogurte. Outras proteínas também podem ser afetadas pela acidificação do leite durante a produção do iogurte, o
que leva à formação de uma estrutura em rede, contribuindo para a textura e firmeza do produto final.
A acidificação do leite, seja por meio de bactérias fermentadoras ou pela adição de coalho,
desnatura proteínas como a caseína, tornando o alimento mais consistente – como nos
queijos, no iogurte, kefir ou na coalhada.
O calor da cocção ou fritura desnatura a albumina da clara do ovo, tornando-a branca e com
textura semissólida (como uma borracha), bem diferente da clara transparente e viscosa que
encontramos no ovo cru.
Tais substâncias geralmente estão presentes em alimentos de origem vegetal e são chamadas
genericamente de fatores antinutricionais ou antinutrientes.
Existem muitos mecanismos que essas substâncias podem exercer, por exemplo, reduzindo a
biodisponibilidade de minerais, interferindo na digestibilidade de proteínas e carboidratos, ou
ainda inibindo enzimas.
Inúmeros desses compostos podem ser inativados com técnicas simples, tais como
exposição ao calor, maceração, imersão em água, germinação, lavagem ou ação enzimática.
37
absorção de iodo.
Os fitatos presentes em sementes, cereais integrais, ervilha, soja, cenoura, batatas, entre
outros, podem reduzir a absorção de cálcio, ferro e zinco; ademais, ações simples como
fermentar, cozer, assar, tostar, embeber em água ou moer podem minimizar esses efeitos.
O feijão ainda possui polifenóis que reduzem a absorção do ferro, mas o consumo de fontes de
vitamina C, tais como frutas, pode minimizar esse efeito.
Feijão e soja contêm hemaglutininas que podem aglutinar hemácias e causar lesões nos
intestinos, mas a germinação e o aquecimento podem evitar que isso ocorra.
O aquecimento também pode ser utilizado para se evitar que inibidores da amilase ou
inibidores de protease, que reduzem a digestão de carboidratos e proteínas, respectivamente
e presentes em cereais, ervilha, feijão, soja, amendoim, batata e batata-doce atuem.
Peixes, frutos do mar, couve-de-bruxelas e repolho roxo possuem tiaminase, que é uma
enzima que metaboliza a vitamina B1 dos alimentos, reduzindo a sua disponibilidade;
entretanto, o aquecimento é capaz de desnaturar esse composto, minimizando o seu efeito.
UNIDADE III:
Carboidratos
Os carboidratos são a base da dieta humana, sendo presente em quase todos os alimentos,
mas principalmente nas farinhas e seus produtos como macarrão, pães, bolos, bolachas, no
leite e em seus derivados, nos grãos, cereais, nozes, frutas, entre outros.
Nos vegetais, algas e algumas bactérias, a glicose é formada pelo processo da fotossíntese
(Figura 1) e posteriormente pode ser transformada em outros carboidratos, como a frutose,
a sacarose e os amidos, ou ainda servir de substrato para a formação de outras biomoléculas
como os lipídeos, os aminoácidos e os nucleotídeos.
Nos animais, os carboidratos são principalmente obtidos a partir dos alimentos que ingerem
38
e podem servir para a produção de energia ou mobilizados para a formação de outras
biomoléculas. Apesar de não fazer fotossíntese, os animais, incluindo o homem, também
podem produzir glicose sob condições especiais, em um processo chamado neoglicogênese.
Monossacarídeos
São as unidades básicas dos carboidratos, por isso, frequentemente são chamados de
açúcares simples.
Monossacarídeos são moléculas orgânicas compostas de três a sete carbonos unidos entre
si por ligações simples. Além disso, esses carboidratos simples contém a função carbonila em
um dos carbonos e hidrogênios e hidroxilas nos outros carbonos.
Podem ser classificados de acordo com o número de átomos de carbono presentes na sua
cadeia principal: triose com três átomos de carbono; tetrose com quatro átomos de carbono;
a pentose com cinco átomos de carbonos; hexose com seis átomos de carbono e heptose com
39
sete átomos de carbono (Figura 2).
Os monossacarídeos também podem ser divididos de acordo com a posição do carbono que
contém uma dupla ligação com um átomo de oxigênio (carbonila). As cetoses possuem a
função orgânica cetona, ou seja, a carbonila fica em algum dos carbonos centrais da
estrutura, enquanto as aldoses possuem a função orgânica aldeído, em outras palavras, a
carbonila fica em um dos carbonos terminais, isto é, da extremidade da molécula (Figura 2).
carbonila
Figura 2 – Glicose, uma aldose com seis carbonos
aldeído quando a carbonila está no alto e cetona quando está no centro.
Saiba Mais
Frequentemente, associam-se as informações sobre o número de carbonos e a posição da
carbonila na mesma palavra, por exemplo, uma aldo-hexose representa uma aldose com seis
carbonos, como a glicose, e uma ceto-hexose pode ser usada para designar uma cetose com
seis carbonos, como a frutose.
Glicose;
Frutose;
Galactose;
Manose;
40
Ribose;
Gliceraldeído;
Psicose;
Eritrose;
Arabinose.
Enantiomeria
Por convenção, monossacarídeos são classificados em enantiômeros dextrogiros ou
levogiros de acordo com a orientação da hidroxila do penúltimo carbono para o lado direito
ou esquerdo do plano no desenho da sua projeção de Fisher.
Na natureza, a forma cíclica da glicose ocorre com uma frequência mil vezes maior que a
forma alifática, que tem a cadeia aberta.
Esse anel é formado por uma reação intramolecular espontânea que cria uma ligação do
oxigênio da hidroxila (-OH) do penúltimo ou antepenúltimo carbono com o carbono da
carbonila (C=O) do monossacarídeo. No momento da formação do anel, o hidrogênio da
hidroxila que participou da ligação é transferido para o oxigênio da carbonila, formando uma
hidroxila que pode se orientar para cima ou para baixo do plano do anel.
41
Quando a orientação dessa hidroxila se dá para a posição superior no plano, por convenção, Beta
a posição oposta à hidroxila do carbono dois, chamamos de isômero alfa, enquanto
Alfa
chamamos de isômero beta aquele que possui a hidroxila do carbono um orientada para
baixo, ou seja, no mesmo plano que a hidroxila do segundo carbono.
Deste modo, podemos ter dois isômeros, alfa e beta, da piranose formada pela D-glicose e
dois isômeros, alfa e beta, da furanose formada pela D-glicose, demonstrados na Figura 4.
#ParaTodosVerem: a ilustração em preto e branco mostra cinco imagens da D- glicose. A primeira imagem é da
glicose com cadeia aberta, contendo seis carbonos. O primeiro carbono, também chamado de carbono alfa,
contém uma dupla ligação com o oxigênio (carbonila) e os cinco carbonos restantes estão ligados a hidroxilas e
hidrogênios. A segunda imagem mostra a alfa-D- glucopiranose, que é uma forma cíclica hexagonal da glicose. A
terceira
molécula apresenta a hidroxila do carbono um voltada para baixo. A segunda imagem mostra a mesma forma
cíclica da glicose, mas com a hidroxila do primeiro carbono direcionada para cima, a beta-D-glucopiranose. A
quarta imagem mostra a forma cíclica da glicose com cinco lados. Nela a hidroxila do primeiro carbono está
baixo
voltada para cima, formando a alfa-D-glucofuranose. A quinta imagem representa a beta-D-glucofuranose, que
também possui cinco lados, mas a hidroxila do carbono alfa está voltada para cima do plano. Fim da descrição.
Açúcares Redutores
Monossacarídeos possuem hidroxilas do carbono anomérico com elétrons livres que podem
ser facilmente transferidos para uma substância oxidante. Em outras palavras, são agentes
redutores, capazes de fornecer elétrons para substâncias oxidantes.
O carbono anomérico é aquele que na forma alifática continha a dupla ligação com o oxigênio
e que na forma cíclica fez a ligação com o oxigênio que participa do anel.
Esse é o princípio por trás da reação (teste) de Benedict, que usa uma solução azul (reagente
de Benedict), que ao ser reduzido, se transforma em um sólido insolúvel “amarronzado”,
que precipita, podendo deste modo ser visto, filtrado e pesado, indicando a presença de algum
agente redutor (Figura 5). Açúcares redutores são açúcares que têm a capacidade de reduzir outras substâncias, como
certos produtos químicos que contêm metais, como o íon cobre. Quando esses açúcares reagem
com essas substâncias, podem causar mudanças de cor, geralmente para tons de marrom,
indicando a ocorrência da reação. Isso é comumente usado em testes químicos e na culinária para 42
identificar açúcares que têm essa capacidade de "redução".
Figura 5 – Benedict positivo
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: A foto mostra um tubo de ensaio com
coloração alaranjada, apresentando um precipitado em seu
fundo, indicando que ocorreu reação de oxirredução com essa
amostra. Fim da descrição.
Após adição do reagente de Benedict, que é formado por íons cobre (Cu2+) com a amostra que
se quer testar para a presença de açúcares redutores, procede-se o aquecimento da mistura até
sua fervura e observa-se se houve mudança na coloração do meio reacional.
Caso haja uma reação de oxirredução, o cobre que era solúvel e fazia a solução ser azulada
produz um precipitado amarronzado de óxido de cobre (Cu2O), alterando a cor da solução
resultante.
Se a cor for alterada para verde azulado significa que originalmente havia até 0,5%
de açúcares redutores na amostra;
Se a cor final dos reagentes for verde escura, indica que a concentração de açúcares
redutores era de 0,6 a 1%;
Uma mudança para o laranja revela 2,6 a 3,5% de açúcares redutores, enquanto uma
mudança para vermelho significa que havia uma concentração de açúcares redutores
superior a 3,6%, mas inferior a 4%;
43
Caso a solução composta pelo reagente de Benedict e a amostra a ser testada não mude de cor
após a fervura, ou seja, caso continue com sua coloração azul original, isso significa que não
havia açúcares redutores naquela amostra (Figura 6).
Oligossacarídeos
São polímeros formados pela combinação de dois a dez monossacarídeos (Figura 7).
Sacarose;
Maltose;
Lactose.
Figura 7 – Representação da
sacarose
Fonte: Adaptada de Wikimedia
Commons
#ParaTodosVerem: A ilustração em
preto e branco mostra a molécula de
sacarose, que é formada pela união
de uma molécula de glicose com uma
molécula de frutose. A imagem
apresenta uma molécula de glicose
hexagonal, com um oxigênio do
carbono um ligado ao carbono
quatro de uma molécula pentagonal
de frutose. Fim da descrição.
44
A sacarose é um dissacarídeo muito importante, frequentemente obtido a partir da cana-de-
açúcar ou da beterraba.
A lactose é um dissacarídeo presente no leite, formado pela fusão de uma molécula de glicose
com uma molécula de galactose, uma aldo-hexose que como a glicose também é formada por
seis carbonos e tem a função orgânica aldeído em seu carbono um (ou carbono alfa).
Saiba Mais
Existem dissacarídeos redutores e não redutores. A maltose é redutora, porque apesar de um
dos monossacarídeos que a forma ter perdido a capacidade de doar elétrons, a outra metade
da molécula ainda consegue fazê-lo, mas a sacarose, por exemplo, apesar de também ser um
dissacarídeo, não possui nenhuma parte redutora, pois tanto a glicose quanto a frutose que a
formam perderam as hidroxilas redutoras de seus carbonos, tornando esse açúcar inerte, não
reativo, com o reagente de Benedict.
Polissacarídeos
São carboidratos mais complexos que os oligossacarídeos, formados por muitas unidades de
monossacarídeos, que vão de dezenas até milhares deles, unidos entre si. Dentre os principais
polissacarídeos podemos citar:
Amidos;
Celulose;
Glicogênio;
Pectinas;
Quitina.
Os polissacarídeos mais abundantes são o amido e a celulose que são produzidos pelas plantas.
Os amidos são polissacarídeos de reserva, que armazenam as moléculas de glicose que foram
produzidas durante a fotossíntese. Pode ser encontrado nas farinhas e féculas, nos cereais,
tubérculos, grãos, nozes e castanhas, por exemplo.
O amido é constituído por uma mistura de amilose e amilopectina em proporções que variam
de acordo com as espécies vegetais, região de procedência, estrutura da planta e seu grau de
maturação.
A celulose é um polissacarídeo que forma a parede celular de vegetais e algas e a fibra formada
por ela é amplamente utilizada na produção de papéis e tecidos.
Por fim, a quitina é um polissacarídeo com função estrutural para a formação do exoesqueleto
de artrópodes e da parede celular dos fungos.
Como apenas a “última” unidade do polímero de açúcar tem o carbono alfa livre, contendo
uma hidroxila, e por isso pode reagir com substâncias oxidantes. Essa porção do carboidrato
é chamada de extremidade redutora.
Entretanto, levando-se em conta que essa parte representa quase nada em comparação ao
resto da molécula que pode ter até milhares de monossacarídeos impedidos de participar da
reação de transferência de elétrons, fica fácil entender por que são considerados “açúcares
não redutores” junto com alguns dos oligossacarídeos.
47
Figura 10 – Caramelização
Fonte: Wikimedia Commons
Entretanto, em certas ocasiões as duas reações podem ser indesejáveis, quando contribuem
negativamente para o aspecto, sabor e odor de outros alimentos.
Na reação de Maillard, descrita em 1912 pelo pesquisador que lhe deu o nome, ocorre uma
fase de degradação de alguns componentes dos alimentos, chamada degradação de Strecker,
na qual são formados compostos voláteis como aldeídos e alfa-aminocetonas, que são
responsáveis por parte do aroma desenvolvido nesses alimentos, em outro momento, são
formados compostos de coloração escura que recebem o nome de maloidinas, e que são
responsáveis pela alteração na cor dos alimentos.
48
Fibras
O grupo das fibras alimentares ou fibras dietéticas incluem pectinas, celuloses e gomas, que
compreendem substâncias que passam pelo sistema digestório humano sem serem digeridas
e vale ressaltar que sobram evidências de que esses polissacarídeos exercem grande
importância para a boa funcionalidade dos intestinos.
Fibras solúveis
Fibras insolúveis
Fibras Solúveis
As fibras solúveis são representadas pelas pectinas e gomas, podendo ser encontradas em
alimentos como a aveia e outros cereais, laranja, mamão e diversas outras frutas, chia e outras
sementes mucilaginosas (Figura 12).
Aumentam o volume do bolo fecal, com isso, regulam o trânsito intestinal pois
aceleram ou reduzem a velocidade com que os alimentos passam pelo trato digestório;
Fibras Insolúveis
As fibras insolúveis são as celuloses e ligninas que podem ser encontradas sobretudo em
cereais integrais como trigo, centeio e arroz, talos de vegetais e algumas folhas como
brócolis, couve e couve-flor, além de cascas de frutas, leguminosas como feijão, soja e
lentilha, amaranto, quinoa, linhaça, entre outros (Figura 13).
Essa classe de fibras não forma gel como a primeira, visto que não solubilizam em água, mas
também são importantes na manutenção da boa função do trato gastrintestinal.
Por exemplo, sua atividade se assemelha a ação da serragem que é colocada em áreas onde
houve derramamento de óleo numa estrada, facilitando a remoção dessa substância da pista.
Sua presença nos alimentos ajuda a:
Vale lembrar que o consumo de fibras não deve ser, entretanto, exagerado, e deve
acompanhar o consumo de água para que não produza o efeito oposto e dificultar o trânsito
intestinal, a eliminação das fezes, portanto, o bom funcionamento do trato gastrintestinal.
50
Por conta do umedecimento e amolecimento das fezes, e consequente aumento na frequência
de eliminação das fezes, as fibras em geral, solúveis ou insolúveis podem reduzir os riscos
de se desenvolver hemorroidas e diverticulites, além de diminuir também as consequências
dessas doenças quando já estão presentes.
Estudos sugerem que uma ingestão controlada de fibras pode reduzir crises em pacientes
com Doença de Crohn, sendo contraindicadas apenas naqueles que apresentam estenoses (
51
Entre as principais funções dos lipídeos podemos citar que:
Saiba Mais
Na culinária, os lipídeos são frequentemente usados porque:
• Fornecem maciez, sabor e palatabilidade dos alimentos;
• Podem ser usados como agentes emulsificantes.
Saiba Mais
Um agente emulsificante ou surfactante é uma substância capaz de unir
moléculas hidrofílicas com moléculas lipofílicas, mantendo a estabilidade e
homogeneidade da mistura. Por exemplo, a maionese tem fosfolipídios que
permitem que a água e o azeite fiquem juntos formando uma emulsão
cremosa.
Apesar de existirem lipídeos com estruturas bem diferentes entre si, grande parte deles
contêm ácidos graxos em suas estruturas.
Os óleos vegetais (azeite de oliva, soja, amendoim, girassol, milho, canola, gergelim, dendê,
coco etc.) e as gorduras animais (sebo, banha, manteiga etc.) são misturas de triglicerídeos
contendo ácidos graxos saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados de diversos
tamanhos.
Saiba Mais
Nas gorduras animais predominam os ácidos graxos saturados, como o palmítico e o
esteárico.
Os ácidos graxos insaturados têm uma ou mais duplas ligações e são geralmente líquidos à
temperatura ambiente (Figura 3).
Saiba Mais
Nos óleos de origem vegetal (Ex. óleo de
soja, azeite de oliva), predominam os
ácidos insaturados como o oleico e o
linoleico.
Saiba Mais
Quando o ácido graxo não apresenta insaturações (ligações duplas entre carbonos) é chamado
saturado, quando apresenta uma insaturação é chamado monoinsaturado e quando apresenta
duas ou mais ligações duplas é chamado de poli-insaturado.
A “transificação” das gorduras pode ser obtida a partir do aquecimento das gorduras
insaturadas “cis”.
Algumas indústrias alimentícias adicionam gorduras trans a seus alimentos porque estas
conferem mais consistência a cremes, dão aspecto mais “sequinho” e “crocância” ao
alimento e aumentam a “validade” de biscoitos, batatas fritas, bolos confeitados e
salgadinhos, mas essa prática vem caindo em desuso, por legislação específica ou por
preferência/exigência dos consumidores.
Saiba Mais
Na nomenclatura oficial IUPAC, a notação cis é substituída por Z (zusammen) e a trans é
descrita por E (entgegen).
Leitura
Ácidos Graxos Trans: Documento de Base para Discussão Regulatória
Para conhecer mais sobre os ácidos graxos trans e seus riscos à saúde, acesse o documento de
base para discussão regulatória da Gerência Geral de Alimentos da ANVISA (Agência Nacional
De Vigilância Sanitária).
54
Ácidos Graxos “Ômega”
Uma forma de representar insaturações em uma gordura insaturada é por meio da letra
grega ômega, seguido do número do carbono onde a última insaturação ocorre, contado a
partir de seu último carbono, ou seja, da extremidade oposta ao grupo carboxílico.
#ParaTodosVerem: O
desenho mostra duas figuras
representando ácidos graxos
com os textos “Convenção 1”
e “Convenção 2” sobre cada
um deles, representando
duas formas de se nominar
um ácido graxo. O primeiro
desenho representa um ácido
graxo insaturado, com linhas,
contendo 18 vértices
numerados de um a dezoito,
da esquerda para direita,
partindo do carbono que
possui a função ácido
carboxílico, que está à
esquerda do desenho. O
primeiro e o último vértices
estão destacados com a
numeração um e dezoito, respectivamente, na coloração azul. Todos os outros números estão escritos na coloração
preta. No carbono nove da cadeia há uma ligação dupla conectando-o ao carbono dez, destacada em um retângulo
vermelho. Acima do retângulo há um símbolo da letra grega delta, semelhante a um triângulo. Abaixo do desenho
está escrito “18, dois-pontos, 1 (delta 9) ácido cis-9-octadecacenoico”. No segundo desenho temos um ácido graxo
poli-insaturado, curvo, contendo vinte carbonos numerados de um a vinte, da esquerda para direita, de forma
semelhante ao desenho anterior. Nesse, destacam-se em azul os números um, cinco e vinte. Além disso, há ligações
duplas entre os carbonos cinco e seis, oito e nove, onze e doze, quatorze e quinze e dezessete e dezoito. Abaixo do
desenho pode-se ler “20, dois-pontos, 5 (delta 5, 8, 11, 14, 17) ácido eicosapentaenoico (EPA) um ácido graxo ômega-
3”. Fim da descrição.
Importante!
Algumas espécies de peixes e vegetais fornecem grandes quantidades desses ácidos graxos
insaturados protetores do sistema cardiovascular, e que deveriam fazer parte da dieta regular
de todo ser humano para ter uma vida mais saudável.
55
Saiba mais
Além das fontes naturais, ácidos graxos Ômega 3 são frequentemente adicionados a produtos
industrializados como margarinas, leite e derivados, massas, pães, biscoitos, ovos, ração
animal, entre outros, por conta do apelo mercadológico que as propriedades biológicas
benéficas apresentam.
Esteroides
Além dos derivados de ácidos graxos, alguns lipídeos são derivados de esteroides, como o
colesterol.
O principal lipídeo esteroide é o colesterol que, por apresentar em sua estrutura a função
álcool, pertence à subclasse dos esteróis.
Figura 5 – Representação do
ciclopentanoperidrofenantreno, molécula precursora
dos esteroides
Fonte: Adaptada de Wikipédia
56
dos sais biliares e da vitamina D.
Saiba Mais
Os vegetais nunca produzem colesterol! Essa é uma molécula exclusiva dos animais.
Importante!
O excesso de colesterol no sangue é um dos principais fatores de risco para o
desenvolvimento das doenças cardiovasculares, por causa da formação de depósitos nas
artérias que podem obstruir vasos causando isquemia e infarto.
Saponificação
Quando são adicionados a bases fortes como a soda cáustica (NaOH) e aquecidos, os
triglicerídeos, os cerídeos, os fosfolipídios e os glicolipídios produzem sabões que podem ser
utilizados em detergentes, xampus, sabonetes, sabão em pó, sabão em barra e cremes e o
glicerol (glicerina) que também pode ser utilizado na indústria de cosméticos e de alimentos.
Hidrogenação
Na hidrogenação, temos a introdução de moléculas de hidrogênio nas ligações duplas de
ácidos graxos insaturados, na presença de catalisadores, diminuindo, deste modo, seu grau
de insaturação (Figura 6).
57
Rancificação
Rancificação é uma reação que ocorre pela oxidação dos lipídeos e está diretamente ligada à
deterioração dos alimentos ricos em lipídios, porque resulta em alterações indesejáveis de
cor, sabor, aroma e consistência do alimento.
A oxidação lipídica envolve uma série extremamente complexa de reações químicas entre o
oxigênio atmosférico e ácidos graxos insaturados, que formam unidades menores de álcoois,
aldeído, cetonas e outras moléculas que conferem gosto ruim e cheiro desagradáveis aos
alimentos que contêm esses lipídeos rancificados.
Saiba Mais
Um exemplo de oxidação lipídica é o que ocorre com a manteiga quando se torna rançosa.
Antioxidantes
São substâncias capazes de inibir ou retardar a oxidação de um substrato, ou seja, são
utilizados para preservar os alimentos através do retardamento dos processos de
deterioração, descoloração e rancidez causados pela oxidação dos alimentos.
A indústria de alimentos conta com antioxidantes naturais e sintéticos que podem ser
aplicados de acordo com o tipo de alimento que se quer melhorar.
Saiba Mais
Atualmente há um forte apelo para a utilização de antioxidantes para prevenir
envelhecimento precoce, o que movimenta um grande mercado de produtos naturais e
sintéticos, cosméticos e dietéticos.
Vitaminas
Vitaminas são substâncias orgânicas utilizadas no metabolismo celular atuando como
coenzimas em nosso metabolismo.
O corpo humano não sintetiza vitaminas, com exceção da vitamina D, então, é necessária sua
obtenção por meio dos alimentos consumidos.
58
Figura 7 – Vitaminas
Fonte: Adaptada de Getty Images
#ParaTodosVerem: A
ilustração contém figuras
semelhantes a cápsulas
coloridas de medicamentos.
Cada cápsula tem o nome de
uma vitamina do lado
esquerdo e um desenho com
alguns alimentos no lado
direito. Da esquerda para a
direita temos a vitamina A
numa cápsula rosa, com o
desenho de cenoura, tomate
e maçã. A vitamina B1
numa cápsula vermelha,
com o desenho de laranja,
batata e feijão. A vitamina
B2 numa cápsula laranja,
com o desenho de ovo e
champignons. Na fileira de baixo temos a vitamina B3 numa cápsula amarelo-escura, com o desenho de carne e
frango. A vitamina B5 numa cápsula amarelo-clara, com o desenho de beterraba e ovo. A vitamina B6 numa
cápsula verde, com o desenho de brócolis, vagem e alho. Na fileira de baixo, a vitamina B9 numa cápsula verde-
escura, com o desenho de castanha, banana e abóbora. A vitamina B12 numa cápsula azul-clara, com o desenho
de leite, peixe e caranguejo. A vitamina C numa cápsula azul-escura, com o desenho de morango, pimenta e
pimentão. Na última fileira, a vitamina D numa cápsula azul-escura, com o desenho de peixe, queijo e ovos. A
vitamina E numa cápsula
roxa, com o desenho de azeite, abacate e milho e, finalmente, a vitamina K numa cápsula marrom, com o desenho
de cebolas, couve e pera. Fim da descrição.
As vitaminas são compostos altamente sensíveis, que podem sofrer degradação pelo calor,
oxigênio, luz, pH e umidade, por isso, existe uma crescente busca por métodos de
processamento dos alimentos, para que se reduza a perda desses e de outros nutrientes
durante o seu preparo e armazenamento.
59
Importante!
Vale salientar, que as vitaminas hidrossolúveis são excretadas pela urina, não representando,
deste modo, risco de se acumularem no organismo, mas as vitaminas lipossolúveis podem
produzir efeitos deletérios quando são ingeridas em doses elevadas, por causa da
possibilidade de se acumularem no organismo, sobretudo no tecido adiposo, trazendo risco
de produzirem hipervitaminoses.
É importante compreender que a classificação das vitaminas está diretamente ligada à sua
solubilidade e não às suas funções desempenhadas, que estão listadas no Quadro 1.
Boas Fontes
Vitamina Benefícios
Alimentares
Essencial para a visão. Podem diminuir o risco
de câncer de próstata. Mantém os tecidos e a
pele saudáveis. Desempenham um papel
Fontes de retinoides: fígado bovino, ovos,
Retinóides e Caroteno importante no crescimento ósseo e no sistema
camarão, peixe, leite fortificado, manteiga,
(vitamina A; retinol, retinal, imunológico. Dietas ricas em carotenoides
queijo cheddar, queijo suíço. Fontes de
ésteres de retinol, alfacaroteno e licopeno parecem diminuir o
betacaroteno: batata doce, cenoura,
ácidoretinóico e betacaroteno) risco de câncer de pulmão. Os carotenoides
abóbora, espinafre, manga, nabo.
atuam como antioxidantes. Alimentos ricos nos
carotenoides luteína e zeaxantina podem
proteger contra a catarata.
Ajuda a converter alimentos em energia. É
Costeletas de porco, arroz integral,
necessária para a saúde da pele, cabelo,
Tiamina (vitamina B1) presunto, leite de soja, melancias, abóbora
músculos e cérebro e é fundamental para a
bolota.
função nervosa.
Ajuda a converter alimentos em energia. É Leite, ovos, iogurte, queijo, carnes,
Riboflavina (vitamina B2) necessária para pele, cabelo, sangue e cérebro vegetais de folhas verdes, grãos integrais e
saudáveis. enriquecidos e cereais.
Ajuda a converter alimentos em energia. É Carne, aves, peixe, cereais fortificados e
Niacina (vitamina B3, ácido
essencial para uma pele saudável, células integrais, cogumelos, batatas, manteiga de
nicotínico)
sanguíneas, cérebro e sistema nervoso. amendoim.
Ajuda a converter alimentos em energia.Ajuda Grande variedade de alimentos nutritivos,
Ácido Pantotênico (vitamina a produzir lipídios (gorduras), incluindo frango, gema de ovo, grãos
B5) neurotransmissores, hormônios esteroides e integrais, brócolis, cogumelos, abacate,
hemoglobina. produtos de tomate.
Auxilia na redução dos níveis de homocisteína
e pode reduzir o risco de doenças cardíacas.
Ajuda a converter o triptofano em niacina e
Piridoxina (vitamina B6, Carne, peixe, aves, legumes, tofu e outros
serotonina, um neurotransmissor que
piridoxal, piridoxina, produtos de soja, batatas, frutas não
desempenha papéis fundamentais no sono,
piridoxamina) cítricas, como bananas e melancias.
apetite e humor.Ajuda a produzir glóbulos
vermelhos.Influencia as habilidades cognitivas
e a função imunológica.
Auxilia na redução dos níveis de homocisteína Carne, aves, peixe, leite, queijo, ovos,
Cobalamina (vitamina B12)
e pode diminuir o risco de doença cardíaca. cereais fortificados, leite de soja
60
Auxilia na produção de novas células e na fortificado.
quebra de alguns ácidos graxos e
aminoácidos.Protege as células nervosas e
estimula seu crescimento normal.Ajuda a
produzir glóbulos vermelhos e DNA.
Ajuda a converter alimentos em energia e
sintetizar a glicose. Ajuda a fazer e Muitos alimentos, incluindo grãos integrais,
Biotina
quebrar alguns ácidos graxos.Necessário vísceras, gema de ovo, soja e peixe.
para ossos e cabelos saudáveis.
Alimentos ricos em vitamina C podem diminuir
o risco de alguns tipos de câncer, incluindo os
de boca, esôfago, estômago e mama. O uso
prolongado de vitamina C suplementar pode
proteger contra a catarata.Ajuda a produzir
Frutas e sumos de fruta (especialmente
colágeno, um tecido conjuntivo que une as
Ácido Ascórbico citrinos), batatas, brócolos, pimentos,
feridas e sustenta as paredes dos vasos
(vitamina C) espinafres, morangos, tomates, couves-
sanguíneos.Ajuda a produzir os
debruxelas.
neurotransmissores serotonina e
norepinefrina.Atua como antioxidante,
neutralizando moléculas instáveis que podem
danificar as células.Fortalece o sistema
imunológico.
Ajuda a produzir e liberar o neurotransmissor
acetilcolina, que auxilia em muitas atividades Muitos alimentos, especialmente leite, ovos,
Colina
nervosas e cerebrais. Desempenha um papel no fígado, salmão e amendoim.
metabolismo e transporte de gorduras.
Ajuda a manter os níveis sanguíneos normais
de cálcio e fósforo, que fortalecem os ossos. Leite ou margarina fortificados, cereais
alciferol (Vitamina D)
Ajuda a formar dentes e ossos.Suplementos fortificados, peixes gordos.
calciferol podem reduzir o número de fraturas.
Atua como antioxidante, neutralizando Grande variedade de alimentos, incluindo
moléculas instáveis que podem danificar as óleos vegetais, molhos para salada e
AlfaTocoferol
células. Protege a vitamina A e certos lipídios margarinas feitos com óleos vegetais,
(Vitamina E)
contra danos.Dietas ricas em vitamina E podem gérmen de trigo, vegetais de folhas verdes,
ajudar a prevenir a doença de Alzheimer. grãos integrais, nozes.
Vital para a criação de novas células.Ajuda a
prevenir defeitos congênitos do cérebro e da
coluna quando tomado no início da gravidez;
deve ser tomado regularmente por todas as
mulheres em idade fértil, uma vez que as
mulheres podem não saber que estão grávidas
Ácido Fólico (Vitamina
nas primeiras semanas de gravidez.Pode Ácido Fólico (Vitamina B9, folato, folacina)
B9, folato, folacina)
diminuir os níveis de homocisteína e pode
reduzir o risco de doença cardíaca.Pode reduzir
o risco de câncer de cólon. Compensa o risco de
câncer de mama entre mulheres que
consomem álcool.
Filoquinona, Ativa proteínas e cálcio essenciais para a Repolho, fígado, ovos, leite,
Menadiona (Vitamina coagulação do sangue.Pode ajudar a prevenir espinafre, brócolis, couve, e outros
K) fraturas de quadril. vegetais verdes.
A ciência que cuida desses critérios é a Análise Sensorial, que atua na análise das reações
frente à percepção dos órgãos dos sentidos de visão, audição, olfato, tato e paladar.
O doce está associado aos compostos orgânicos, como açúcares, amidos, ésteres e álcoois.
O azedo está associado aos íons hidrogênios livres como aqueles do ácido acético, ácido lático,
ácido butírico, ácido oxálico e ácido cítrico.
62
Saiba Mais
Acredita-se que nem todas as pessoas possuem a mesma capacidade para reconhecer o gosto
umami e que isso estaria relacionado com características genéticas.
Saiba Mais
A fragmentação e o aquecimento dos alimentos liberam mais moléculas aromáticas, tornando
o aroma mais pronunciado.
Flavor é um conceito de análise sensorial que engloba tanto o gosto quanto o aroma
de um alimento.
Saiba Mais
Compostos voláteis são substâncias de várias classes químicas presentes em quantidades
bastante reduzidas nos alimentos, mas que são responsáveis pelo aroma, contribuindo assim
para a definição do sabor. Eles também estão presentes nas fragrâncias e essências,
ingredientes básicos para a indústria cosmética e de alimentos.
63
Corantes Naturais, Artificiais e Sintéticos
Por definição química, pigmentos e corantes são substâncias que conferem cor a um
material ao serem aplicadas nele.
A aceitação de um produto alimentício pelo consumidor tem ligação direta com sua cor,
por isso, as indústrias de alimentos têm grande preocupação com a cor dos alimentos.
De fato, a aparência do alimento pode exercer efeito estimulante ou inibidor de apetite.
Segundo o Item 1.2 da Portaria SVS/MS nº 540/97, corantes são aditivos alimentares
definidos como toda a substância que confere, intensifica ou restaura a cor de um alimento,
e de acordo com a Resolução nº 44/77 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para
Alimentos (CNNPA), do Ministério da Saúde, os corantes permitidos para uso em alimentos e
bebidas são classificados em:
Uma vantagem dos corantes artificiais sobre os naturais é que fornecem ampla gama de
cores, proporcionando praticamente todas as tonalidades do espectro visível de cor.
64
O fabricante de alimentos dispõe de infinitas variações de misturas de corantes de diferentes
composições de acordo com o meio que pretende colorir.
Além disso, a maioria dos corantes artificiais apresenta alta estabilidade (luz, oxigênio, calor
e pH), uniformidade na cor conferida, alto poder tintorial, isenção de contaminação
microbiológica e custo de produção relativamente baixo.
Amarelo crepúsculo;
Azul brilhante FCF;
Bordeaux S ou amaranto;
Eritrosina;
Indigotina;
Ponceau 4R;
Tartrazina;
Vermelho 40.
65
UNIDADE IV: Minerais e Aditivos
Os Minerais
Os minerais são substâncias homogêneas, de origem inorgânica e natural, de composição
química definida e que ocorrem na natureza na forma de sais livres, encontrados em todos
os animais e plantas em quantidades variadas. Esses compostos participam ativamente das
funções enzimáticas e metabólicas, além de serem constituintes celulares para formação e
estruturação dos órgãos, tecidos e fluídos (COZZOLINO, 1997; PINHEIRO; PORTO;
MENEZES, 2015; FANI, 2015).
De acordo com Pereira (2015) e Santos (c2023), podemos classificar os minerais em:
Elementos Traços: necessidade diária menor que 1 mg/dia, não apresentam função
bem definida, mas seu desequilíbrio interfere nas funções metabólicas.
Quando falamos de elementos provavelmente essenciais,
falamos daqueles que apresentam alguma função biológica de
forma indireta e são necessários em infimas quantidades. São
Importante! eles o Silício, Titânio, Arsênio, Bromo, Níquel e Vanádio.
Elementos traços são elementos essenciais ao ser humano para manter a homeostase do
organismo, tais como: H, N, O, P, Ca, S, Cl, K, Mg, Na, Fe, I, Zn, Se, Mn, Cu, Cr, Mo, Co, Ni, F,
Sn, Si, V e As. Tais elementos são associados à saúde e a doenças, uma vez que a deficiência ou
o excesso delas pode alterar condições fisiológicas do nosso corpo. Esses elementos podem
ser divididos em três grupos:
Para manter a homeostase do organismo, precisamos atentar para a interação entre todos
os nutrientes, sendo eles os carboidratos, as proteínas, os lipídios, as fibras, as vitaminas, os
minerais e a água. Os nutrientes são compostos bioativos presentes nos alimentos, que, por
66
intermédio das reações químicas, são responsáveis por manter, equilibrar e realizar todas as
funções orgânicas e metabólicas. Os nutrientes estão biodisponíveis nos alimentos
derivados dos animais, das plantas e na água, variando sua composição. Por isso, um
equilíbrio na ingestão é fundamental. A partir de 1997, no Congresso de Biodisponibilidade,
realizado em Wageningen, na Holanda, foi redefinido o conceito de biodisponibilidade como
sendo “a fração de qualquer nutriente ingerido que tem o potencial para suprir demandas
fisiológicas em tecidos alvos” (COZOLLINO, 1997; COZZOLINO, 2009; CARREIRO, 2015).
Ainda conforme Cozzolino (1997), há
diversos fatores que interferem na biodisponibilidade de um mineral, conforme Tabela 1.
Os minerais não são sintetizados pelo organismo e necessitam ser obtidos pela alimentação.
Uma alimentação balanceada, normalmente é suficiente para suprir as necessidades não só
de minerais como dos outros nutrientes. Entretanto, estudos apontam um aumento
significativo, no Brasil e no mundo, da aquisição de alimentos industrializados para o
consumo humano, especialmente os ultraprocessados, em detrimento dos in natura desde
os primeiros meses de vida. Isso interfere diretamente na biodisponibilidade dos nutrientes,
levando ao desequilíbrio nutricional e aumentando os índices de Doenças Crônicas Não-
Transmissíveis (DCNT), como a obesidade, o desequilíbrio imunológico, entre outras
(ARNOPP, 2017; VANDEVIJVERE et al., 2019).
No Brasil, por exemplo, o aumento da obesidade infantil está relacionado a diversos fatores,
como o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento de doenças
psicoemocionais, como a ansiedade. O estudo de Frontzed et al. (2017) discorre que a
percepção das crianças em relação ao ato de comer é fator importante e com visão distorcida
67
pelos próprios pais atualmente. O ato de comer, conforme os autores, pode ser dividido em
dois principais campos: o de necessidade e o de prazer, em que um retroalimenta o outro.
Por questões como tempo e facilidade de cozinhar, aparentemente, os pais do século XXI
vêm aumentando a oferta de alimentos não saudáveis aos filhos e criando uma sensação de
ansiedade tanto para obtenção quanto em relação ao próprio ato de comer (FRONTZED;
BERNARDES; MODENA, 2017).
Aditivos Alimentares
Nos alimentos, os ingredientes desempenham funções úteis. Durante séculos, nossos
ancestrais usaram o sal para conservar peixes e carnes, o açúcar para as frutas, o vinagre
para algumas verduras e temperos para melhorar o sabor. Com o advento da tecnologia
alimentar, em torno da metade do século XX, os aditivos alimentares foram introduzidos,
sendo considerados qualquer substância adicionada ao alimento com a finalidade de tornar
essa prática mais segura, melhorando o valor nutricional desses alimentos, tornando-os
convenientes, coloridos ou acessíveis (BRASIL, 1997).
Os aditivos alimentares podem ser de origem natural e artificial, diretos ou indiretos (BRASIL,
1997; FDA, 2010):
Importante!
Os aditivos naturais se tornaram uma opção promissora na indústria de alimentos na
atualidade, possuindo diversas aplicabilidades. Também chamados de aditivos zootécnicos,
dentre as substâncias que compõem esse tipo de aditivo destacam-se as enzimas, prebióticos,
probióticos e extratos. Tais aditivos melhoram a absorção de nutrientes, além de ter efeitos
adicionais à saúde.
Os aditivos alimentares não são utilizados ou consumidos como alimentos típicos nas
preparações, entretanto são adicionados intencionalmente para fins de melhoramento
tecnológico. É proibida a utilização dos aditivos alimentares nas seguintes situações:
Os critérios para a ingestão e uso são estabelecidos mundialmente, pelo Codex Alimentarius,
um programa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da
Organização Mundial da Saúde (OMS) que desenvolve padrões e diretrizes relacionados a
alimentos e estabelece os critérios para ingestão e uso de aditivos nos alimentos
industrializados por meio da assessoria de um Comitê Científico Internacional formado por
especialistas de diversos países: o Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA)
(BRASIL, 1997; FAO, 1995).
A Food and Drug Administration (FDA) mantém uma lista de mais de 3.000 ingredientes em seu
banco de dados "Everything Added to Food in the United States". A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta o registro do uso, controle e segurança dos aditivos
Agente de Massa: proporciona o aumento de volume e/ou massa dos alimentos, não
contribui para o valor energético;
Edulcorante: substância diferente dos açúcares que confere sabor doce ao alimento;
70
Melhorador de farinha: substância que, agregada à farinha, melhora sua qualidade
tecnológica para os fins a que se destina;
Os aditivos são classificados de acordo com grupo de alimentos, seguindo o que preconiza a
portaria 1.003 de 11 de dezembro de 1998:
71
Uso de Minerais como Aditivos Alimentares
A utilização de minerais em sua forma elementar é permitida quando recomendada pelo Codex
Alimentarius e comprovada biodisponibilidade, como sal, cálcio, cobre, ferro, fósforo, iodo,
zinco, selênio, molibdênio, cromo, flúor, manganês, magnésio, e outros minerais
(BRASIL,1997; FAO, 1995; PEREIRA, 2013).
Sódio
O sódio, na sua forma de cloreto de sódio (sal), tem grande importância para o
funcionamento do organismo, agindo principalmente como cátion do fluido extracelular e
auxiliando na manutenção do potencial elétrico da membrana celular. A recomendação é que
se consuma < 2,3 g/dia, 100 mmol, e no máximo 5,8 g/dia de sal. É utilizado para desidratar
ou amolecer alguns alimentos, dar textura, controlar processos de fermentação, acentuar o
sabor dos alimentos, bem como conservá-los, devido à diminuição da atividade de água
(PEREIRA, 2013; HE et al., 2020). Lembrando que o baixo consumo de sódio está associado,
tanto para normotensos quanto para hipertensos, a uma redução no risco de acidentes
cardiovasculares, e, de maneira indireta, à redução da pressão arterial (HE et al., 2020).
A literatura científica mostra que, diminuir o consumo de sódio, está relacionado a uma
redução no risco de doenças cardiovasculares. Outro ponto importante, segundo He et al.
(2020), que ao reduzir a ingestão de sódio, a população reduz índices de mortalidade, reduz o
agravamento de doença renal crônica (DRC), osteoporose e neoplasias. Na Figura 1, abaixo, é
possível observar os riscos de consumir um alto teor de sal em sua dieta. Vale lembrar que, o
organismo possui o sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA), responsável por
uma série de reações concebidas para ajudar a regular a pressão, interferindo diretamente no
sistema cardiovascular, renal e nervoso.
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Figura 1 – Riscos do alto consumo de sal
Fonte: Adaptada de HE et al., 2020
#ParaTodosVerem: na parte superior da Figura há um retângulo azul descrevendo a sequência envolvida dos
riscos que o consumo de sal pode causar até finalizar nos impactos na saúde global, em letras de coloração branca.
O centro da imagem, correspondendo à informação mais importante dela, apresenta, à sua esquerda, as palavras
“Aumento no consumo de sal”. À direita, há diversos fluxogramas descrevendo os riscos que esse consumo
ocasiona. O primeiro fluxograma leva a um conjunto de retângulos escuros, descrevendo alterações fisiológicas
que o consumo excessivo de sal causa, como aumento da pressão arterial, alterações renais, gástricas e
imunológicas. Esse conjunto de retângulos pretos leva a um outro conjunto de retângulos. Um primeiro,
relacionado às alterações cardiovasculares, em coloração vermelho-escura. Um segundo retângulo descreve as
alterações neurológicas, na cor azul. No terceiro retângulo, há a descrição das alterações nos rins, em coloração
verde. Os últimos retângulos estão em tonalidade amarelo/laranja e descrevem alterações no estômago, nos ossos
e nos adipócitos. Por último, esse fluxograma leva a um retângulo azul, à direita da imagem, que descreve o número
de mortes e doenças ocasionadas pelo alto consumo de sal. Fim da descrição.
Iodo
O iodo é vital para o organismo, sendo o principal componente da tiroxina (T4) e da
triiodotironina (T3), hormônios essenciais para o crescimento físico e neurológico e para a
manutenção do metabolismo de base. Além disso, esses hormônios são importantes para o
funcionamento de órgãos vitais, como o coração, fígado, rins, dentre outros. O iodo tem uma
variedade de formas químicas, sendo as mais importantes o iodeto, iodato e iodo elementar
(PEREIRA, 2013).
73
É discorrido na literatura que a deficiência de iodo impacta diretamente na cognição e no
crescimento justamente por afetar os hormônios tireoidianos. Este é o principal motivo do
acréscimo desse elemento ao sal de cozinha consumido em diversas localidades do mundo:
diminuir o risco de doenças tireoidianas. Vale ressaltar que o sal iodado dificilmente e/ou
raramente está associado a casos de hipertireoidismo, ou a efeitos indesejados
(ZIMMERMANN e BOELAERT, 2015).
Ferro
O ferro é essencial para a formação das hemácias, a síntese de DNA, o metabolismo
energético, a transferência e fixação de O2 e CO2, a manutenção do sistema imunológico e a
produção e regulação de neurotransmissores cerebrais.
Falando de modo mais específico, o ferro participa na formação das cadeias globínicas da
hemoglobina, tendo papel importantíssimo no transporte de O2, pois ele é que terá afinidade
pelo ânion oxigênio. Assim sendo, a falta desse elemento causa complicações graves no
transporte de nutrientes para os tecidos, ocasionando, principalmente, a anemia ferropriva.
A anemia por deficiência de ferro é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil
e é caracterizada por ser microcítica e hipocrômica, afetando o metabolismo de diversos
outros sistemas do corpo humano (WHO, 2008; BRASIL, 2009; BRASIL, 2013).
Leitura
Recomendações Nutricionais para Treinos em Altitude
Atletas que treinam em altitudes elevadas devem realizar
suplementação de diversos minerais, principalmente o ferro. Os treinos em altitude visam
maximizar a performance de atletas de elite desde a época das Olimpíadas do México, em 1968.
Esse tipo de treino é caracterizado por um ambiente hipóxico, ou seja, com baixa oferta de O2.
Tal fato diminui a disponibilidade de massa hemoglobina (Hb), podendo ocasionar quadros
anêmicos, fazendo-se necessária a suplementação de ferro para suprir essa demanda.
ACESSE
Vitaminas
As vitaminas são micronutrientes que cumprem um importante papel no metabolismo para
o crescimento normal do corpo, além de favorecer diversas reações bioquímicas do
organismo. As vitaminas hoje podem ser obtidas por fermentação, e são ingeridas na forma de
provitaminas na alimentação, como ocorre com o betacaroteno convertido em vitamina A. A
maioria dos animais não consegue sintetizar as vitaminas, sendo indispensável uma dieta
rica e com variedade desse tipo de nutriente.
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No que diz respeito ao uso das vitaminas como aditivos alimentares, a fortificação ou
enriquecimentos de alimentos é aprovada quando há justificativa de ordem nutricional, desde
que 100 ml ou 100 gramas do produto pronto para o consumo forneçam pelo menos 15% da
Ingestão Diária Recomendada, quando se trata de líquidos, ou 30% da IDR no caso de sólidos.
Visando regular o consumo seguro dos aditivos alimentares, a principal ferramenta que
proporciona, orienta e direciona ao consumidor o conhecimento necessário acerca da
composição e do conteúdo do produto é o rótulo. Dessa maneira, o rótulo constitui a
principal forma de comunicação entre a indústria e o consumidor, que desempenha um
papel fundamental na escolha consciente e segura do alimento que pretende consumir. A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também desempenha um papel de suma
importância na sua regulamentação de uso, uma vez que o rótulo precisa conter informações
nutricionais, valores energéticos, ingredientes (listados de forma decrescente, isto é,
daquele que se apresenta em maior quantidade para aquele que está presente em menor
concentração) e nutrientes, tais como fibras, sódio e açúcares, além dos aditivos, que
também devem estar presentes, incluindo as alegações de saúde, quando pertinentes
(BRASIL, 2020).
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