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Olá pessoal!
Nosso tema de hoje é “atos administrativos”. O assunto será abordado em duas aulas.
ATOS ADMINISTRATIVOS
No Direito, quando a manifestação da vontade humana produz efeitos jurídicos, é dito que se
formou um ato jurídico. Se este ato resulta de manifestações da Administração Pública, o que se
tem é um ato administrativo. Portanto, logo de cara, pode-se dizer que o ato administrativo é uma
espécie do gênero ato jurídico.
Os atos administrativos constituem a forma básica pela qual a Administração Pública
manifesta sua vontade. Tais atos materializam o exercício da função administrativa, a qual é típica
do Poder Executivo, mas que também pode ser exercida pelos demais Poderes. Em outras palavras,
os Poderes Legislativo e Judiciário também editam atos administrativos.
Todavia, os atos administrativos, por sua natureza, conteúdo e forma, não se confundem com
os atos emanados do Legislativo e do Judiciário quando desempenham suas atribuições específicas
de legislação (elaboração de normas primárias) e de jurisdição (decisões judiciais). Assim, na
atividade pública geral, podem ser reconhecidas três categorias de atos inconfundíveis entre si:
atos legislativos, atos judiciais e atos administrativos1.
(Questão de prova) Quando o juiz de direito prolata uma sentença, nada mais faz do que
praticar um ato administrativo.
Comentário:
O quesito está errado. O juiz quando prolata sentença está no exercício da função
jurisdicional, típica do Poder Judiciário; portanto, trata-se de um ato judicial, e não de um ato
1
Hely Lopes Meirelles (2009, p. 152)
Enfim, qual é então o conceito de ato administrativo? Quais as peculiaridades que o distinguem
dos atos legislativos e judiciais? É isso que veremos em seguida.
CONCEITO
Para conceituar ato administrativo, vamos nos valer da definição proposta por Maria Sylvia Di
Pietro, a qual é bastante similar à da maioria dos grandes administrativistas:
Ato administrativo - declaração unilateral do Estado ou de quem o represente que produz
efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob o regime jurídico de Direito Público
e sujeita a controle pelo Poder Judiciário.
Vamos destrinchar esse conceito.
Primeiramente, vale observar que a autora conceitua o ato administrativo como uma
“declaração” da vontade do Estado. Ao usar a palavra “declaração”, ela deixa claro que deve haver
uma exteriorização de pensamento para que exista um ato administrativo. Assim, o silêncio ou
omissão da Administração não pode ser considerado um ato administrativo, ainda que possa gerar
efeitos jurídicos (como no caso da decadência e da prescrição).
O conceito apresentado é restrito ao ato administrativo “unilateral”, ou seja, àquele que se
forma com a vontade única da Administração, independente da concordância daqueles que serão
atingidos por ele; o ato unilateral, segundo Hely Lopes Meirelles, é o ato administrativo típico. De
outra parte, os atos bilaterais, que se aperfeiçoam com mais de uma declaração de vontade,
constituem os contratos administrativos (ex: contrato de aquisição de bens celebrado pela
Administração com um fornecedor particular), que serão estudados em aula específica do curso2.
O ato administrativo é uma declaração unilateral do “Estado”. Estado, aqui, deve ser
compreendido como todas as pessoas que, de alguma forma, exercem funções públicas. Abrange
tanto os órgãos do Poder Executivo como os dos demais Poderes, que também podem editar atos
administrativos. Além disso, compreende os dirigentes de autarquias e fundações e os
administradores de empresas estatais.
2
Lucas Furtado ensina que, no Direito Privado, o conceito de ato jur’dico compreende tanto as
manifesta•›es unilaterais de vontade quanto os neg—cios jur’dicos, nestes inclu’dos os contratos. No
Direito Administrativo, ao contr‡rio, somente as manifesta•›es unilaterais de vontade do Poder Pœblico
podem ser conceitualmente reconhecidas como atos administrativos.
Exercício da função
administrativa
Declaração unilateral
Ato administrativo
ATOS DA ADMINISTRAÇÃO
A Administração Pública realiza inúmeras atividades, das mais variadas possíveis, desde a
limpeza de vias públicas até a sanção e veto de leis. Mas será que todas as atividades administrativas
podem ser caracterizadas como atos administrativos? Certamente que não.
Os atos administrativos possuem atributos e elementos próprios (vistos adiante), que
possibilitam a sua individualização como categoria especial no meio das demais atividades
administrativas.
Com efeito, a doutrina enfatiza que todo ato praticado no exercício da função administrativa
é ato da Administração, porém, nem todo ato da Administração é ato administrativo. Ou seja, a
expressão “ato administrativo” abrange apenas determinada categoria de atos praticados no
exercício da função administrativa, mas não todos.
Conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, dentre os atos da Administração incluem-se:
§! Atos de direito privado: são aqueles praticados pela Administração em igualdade de
condições com o particular, ou seja, sem se valer das prerrogativas de direito público.
Exemplo: contratos regidos pelo direito privado, como a doação, permuta, compra e venda,
locação etc.
§! Atos materiais da Administração: são atos que envolvem apenas execução material, de
ordem prática, como a demolição de uma casa, a apreensão de mercadoria, a instalação de
um telefone público, a desapropriação de terrenos etc. Alguns autores incluem os atos
materiais na categoria dos fatos administrativos, vistos em seguida. Em regra, os atos
materiais ocorrem como consequência de um ato administrativo. Por exemplo: para que
ocorra a demolição de uma casa (ato material) é necessário que a Prefeitura emita uma
ordem de serviço (ato administrativo); a desapropriação de um terreno (ato material) ocorre
como consequência da edição de um decreto (ato administrativo), e assim por diante.
§! Atos de conhecimento, opinião, juízo ou valor3: são atos que não produzem efeitos jurídicos
imediatos. Exemplo: atestados, certidões, pareceres, laudos, despachos de encaminhamento
de papeis e processos.
§! Atos políticos ou de governo: são atos praticados pelos agentes de cúpula da Administração,
em obediência direta à Constituição, isto é, com base imediata no texto constitucional.
Exemplo: iniciativa de leis, sanção ou veto a projetos de leis, celebração de tratados
internacionais, decretação de estado de sítio, indulto, entre outros.
§! Contratos administrativos e convênios: são atos em que a vontade é manifestada de forma
bilateral. Exemplo: contrato de concessão e permissão de serviços públicos e contrato de
fornecimento de material, ambos decorrentes de processo licitatório.
§! Atos normativos4: são atos dotados de generalidade e abstração, enfim, com conteúdo de
leis, e, só formalmente, são atos administrativos. Exemplo: portarias, resoluções, regimentos
etc.
§! Atos administrativos propriamente ditos: manifestação de vontade cujo fim imediato seja a
produção de efeitos jurídicos, regidos pelo direito público. Exemplo: nomeação de servidor,
concessão de licença, homologação de licitação etc.
Repare, acima, que o rol de atos praticados pela Administração Pública é bem mais amplo
que a edição de atos administrativos propriamente ditos.
Importa notar que, para se falar em ato da Administração, ele necessariamente deve ter sido
emanado da Administração. Vale dizer, não existem atos da Administração produzidos por
particulares.
Por outro lado, os atos administrativos podem ser produzidos mesmo por pessoas que não
pertencem formalmente à Administração Pública, mas que nem por isso deixam de qualificar-se
como tais, a exemplo dos particulares em colaboração (agentes honoríficos, delegados e
credenciados). Por exemplo, concessionárias e permissionárias de serviços públicos, quando atuam
sob regime de direito público, praticam atos administrativos5. Também são exemplos os atos
praticados pelos tabeliães, agentes delegados, no exercício da função notarial.
3
S‹o considerados atos administrativos em sentido formal.
4
S‹o considerados atos administrativos em sentido formal.
5
Carvalho Filho (2014, p. 99).
quando realizam licitações na atividade meio ou quando realizam concurso público para
contratação de pessoal.
Gabarito: Certo
FATOS ADMINISTRATIVOS
Como visto, o ato administrativo deve decorrer de uma manifestação de vontade do Estado.
Assim, fatos concretos, materiais, produzidos independentemente de qualquer manifestação de
vontade, ainda que provoquem efeitos no mundo jurídico e no âmbito da Administração Pública,
não são atos administrativos, e sim fatos administrativos.
Vamos lá. No Direito, se determinado fato produz efeitos no mundo jurídico, então é um fato
jurídico. Por exemplo, a queda de uma árvore no meio da floresta é um fato (independe da vontade
humana); já a queda de uma árvore sobre um carro é um fato jurídico, pois gera obrigações jurídicas
para a seguradora.
Os fatos jurídicos, mesmo que independam da vontade e de qualquer participação dos
agentes públicos, podem ser relevantes para o Direito Administrativo, desde que produzam efeitos
sobre a Administração. Neste caso, passam a ser chamados de fatos administrativos.
Por exemplo, a morte de um servidor público não decorre de qualquer manifestação de
vontade, mas pode gerar inúmeros efeitos jurídicos para a Administração – direito de terceiro de
receber pensão, vacância do cargo etc. Ou seja, a morte de um servidor público é um fato
administrativo.
Outro exemplo de fato administrativo é a queda de uma ponte, que gera para a Administração
obrigação de repará-la, indenizar eventuais vítimas, organizar o tráfego etc. Também seriam fatos
administrativos: uma colisão acidental entre um veículo oficial e um veículo particular; a queda de
um raio sobre uma repartição pública; uma enchente que cause danos a bens públicos etc.
Parte da doutrina também considera fato administrativo as omissões da Administração que
produzam efeitos jurídicos, de que seria exemplo a inércia do agente público que tenha resultado
na decadência do direito de anular um ato administrativo ilegal. Ressalte-se que o silêncio, ainda
que produza efeitos jurídicos para a Administração, não é ato administrativo, afinal, não há ato
administrativo sem a declaração expressa de vontade6.
Detalhe é que os fatos administrativos não necessariamente produzem consequências
jurídicas para a Administração. Alguns autores chamam os fatos que não produzem qualquer efeito
jurídico no Direito Administrativo de fato da Administração.
6
Sobre o tema, Maria Sylvia Di Pietro assinala que atŽ mesmo o sil•ncio pode significar forma de
manifesta•‹o de vontade, quando a lei assim o prev•; normalmente ocorre quando a lei fixa um prazo,
findo o qual o sil•ncio da Administra•‹o significa concord‰ncia ou discord‰ncia. Entretanto, mesmo
nesses casos, o sil•ncio n‹o Ž considerado um ato administrativo, pois, embora haja manifesta•‹o
de vontade, n‹o h‡ Òdeclara•‹oÓ de vontade, ou seja, n‹o h‡ exterioriza•‹o do pensamento, elemento
essencial do ato administrativo (corresponde ao elemento ÒformaÓ).
Fatos Fatos da
administrativos Administração
Ex: servidor se
Ex: morte de
machuca sem
servidor
gravidade
Vale lembrar que alguns autores também classificam os atos materiais da Administração (ex:
apreensão de mercadorias, demolição de prédios, realização de serviços) como fatos
administrativos.
A distinção feita neste tópico entre atos e fatos administrativos é relevante porque os fatos
administrativos não estão sujeitos à teoria geral dos atos administrativos. Isso significa que, ao
contrário dos atos administrativos, os fatos administrativos, por exemplo, não têm como finalidade
a produção de efeitos jurídicos (embora possam produzir); não podem ser anulados nem revogados;
não gozam de presunção de legitimidade; não possuem atributos e requisitos; e não faz sentido falar
em fatos administrativos discricionários ou vinculados.
(Questão de prova) Os fatos administrativos não produzem efeitos jurídicos, motivo pelo
qual não são enquadrados no conceito de ato administrativo.
Comentário: A questão está errada. Não há uniformidade na doutrina acerca da definição de fato
administrativo. Alguns autores não fazem distinção entre fato administrativo e fato da
Administração, conforme o evento produza ou não efeitos jurídicos. Nesta questão, a banca
adotou o entendimento da professora Di Pietro, para quem fatos administrativos são eventos
que produzem efeitos jurídicos, diferentemente dos fatos da Administração, que não produzem,
daí o erro do item. Não obstante, ressalte-se que tanto fatos administrativos como fatos da
Administração não são enquadrados no conceito de ato administrativo.
Gabarito: Errado
ATRIBUTOS
O ato administrativo constitui exteriorização da vontade estatal e, por isso, é dotado de
determinadas características não presentes nos atos jurídicos em geral. São características inerentes
aos atos administrativos e que decorrem do regime de direito público ao qual se submetem, e que
outorgam certas prerrogativas ao Poder Público.
Os atributos do ato administrativo apresentados pela doutrina são:
§! Presunção de legitimidade
§! Autoexecutoriedade
§! Tipicidade
§! Imperatividade
Vejamos.
PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE
A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei; por esse atributo,
presumem-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com observância
da lei8.
7
Quanto ˆ tipicidade, a doutrina informa que o atributo est‡ presente apenas nos atos unilaterais, mas
n‹o nos bilaterais. Ora, os atos administrativos s‹o, por defini•‹o, atos unilaterais e, portanto, sempre
apresentam o atributo da tipicidade.
8
Maria Sylvia Di Pietro (2009, p. 197).
9
Idem (p. 198).
Ressalte-se que a presunção de veracidade não é absoluta, e sim relativa (iuris tantum), ou
seja, admite prova em contrário. Assim, o administrado que se sinta prejudicado pelo ato do Estado
tem o direito de se socorrer junto à própria Administração (mediante a interposição de recursos
administrativos) ou perante o Poder Judiciário, nos termos da lei.
Porém, um efeito importantíssimo do atributo em tela é a inversão do ônus da prova, vale
dizer, quem deve demonstrar a existência de vício no ato administrativo não é a Administração, e
sim o administrado.
Por exemplo: quando a pessoa recebe uma notificação de infração de trânsito, significa que
a Administração está alegando que o indivíduo cometeu alguma falta; a princípio, essa “alegação” é
legítima, mesmo que houvesse alguma irregularidade aparente no radar que flagrou o motorista. Ou
seja, para todos os efeitos, deve-se tomar como verdadeiro que a infração indicada, de fato, foi
mesmo cometida. Se o motorista quiser contestar a notificação, ele é que terá de provar o erro da
Administração, caso contrário, será multado, em razão da presunção de veracidade do ato
administrativo.
Em relação a esse ponto, cumpre anotar que, mesmo nos casos em que o ato da
Administração contenha forte aparência de ilegalidade, o Judiciário não pode se pronunciar de
ofício, devendo aguardar a provocação do administrado.
Ademais, a inversão do ônus da prova não exime a Administração de, caso requisitada pelo
Judiciário, apresentar informações e documentos que comprovem a correspondência do ato à
realidade e a veracidade dos fatos alegados10.
10
Maria Sylvia DI Pietro (2009, p. 199).
(Questão de prova) Suponha que determinada secretaria de Estado edite ato administrativo
cujo conteúdo seja manifestamente discriminatório. Nessa situação, podem os
administrados recusar-se a cumpri-lo, independentemente de decisão judicial, dado que de
ato ilegal não se originam direitos nem se criam obrigações.
Comentário:
O item está errado. Pelo atributo da presunção de legitimidade, os atos administrativos
são tidos como legais desde sua origem e, por isso, vinculam os administrados por ele atingidos
desde a edição. Por conseguinte, o particular é obrigado a cumprir as determinações do ato ainda
que, aparentemente, ele esteja eivado de ilegalidade. É claro que o ato poderá ser questionado
judicialmente ou perante a própria Administração. Porém, enquanto ele não for invalidado,
continuará a produzir efeitos normalmente, obrigando os administrados, que não podem recusar-
se a cumpri-lo. De outra parte, se o ato for invalidado judicialmente (ou pela própria
Administração), aí sim deixará de originar direitos e obrigações. Abre-se um parêntese para
destacar que é possível a sustação dos efeitos dos atos administrativos através de recursos
internos ou de ordem judicial (medidas liminares ou cautelares); nesse caso, o ato permanece
válido mas sem produzir efeitos, continuando assim até o pronunciamento final de validade ou
invalidade do ato ou até a derrubada da liminar.
Gabarito: Errado
ela só atue quando a lei autoriza, ou seja, trata-se de um princípio rigoroso, o que permite deduzir
(presumir) que tudo o que ela faz estará imediatamente em conformidade com a ordem jurídica.
Gabarito: Certo
(Questão de prova) Caso seja fornecida certidão, a pedido de particular, por servidor público
do quadro do MTE, é correto afirmar que tal ato administrativo possui presunção de
veracidade e, caso o particular entenda ser falso o fato narrado na certidão, inverte-se o
ônus da prova e cabe a ele provar, perante o Poder Judiciário, a ausência de veracidade do
fato narrado na certidão.
Comentário:
O quesito está correto. Trata-se de situação que ilustra muito bem a aplicação concreta do
atributo da presunção de veracidade dos atos administrativos.
Gabarito: Certo
IMPERATIVIDADE
Conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, a imperatividade não existe em todos os atos
administrativos, mas apenas naqueles que impõem obrigações ou restrições.
Por outro lado, não existe imperatividade nos atos que conferem direitos solicitados pelo
administrado (como na licença ou autorização de uso do bem público) ou nos atos apenas
enunciativos (certidão, atestado, parecer), uma vez que, nesses casos, não há a criação de
obrigações ou restrições a terceiros.
AUTOEXECUTORIEDADE
11
Carvalho Filho (2014, p. 124)
12
Lucas Furtado (2014, p. 218).
Autoexecutoriedade
Segundo Maria Sylvia Di Pietro, na exigibilidade (coerção indireta), os meios de coerção vêm
sempre definidos na lei; já na executoriedade (coerção direta), podem ser utilizados
independentemente de previsão legal, para atender situação emergente que ponha em risco a
segurança, a saúde ou outro interesse da coletividade.
Para Celso Antônio Bandeira de Melo, nem todos os atos exigíveis são executórios.
Por exemplo: a multa administrativa é exigível pela Administração, sendo uma forma indireta
de o Estado forçar que o particular cumpra a obrigação. Porém, a multa não é executória, já que a
Administração não poderá compelir o particular a pagar o valor correspondente, devendo, para
tanto, ir a juízo.
Outro exemplo: a intimação para que o administrado construa calçada defronte de sua casa
ou terreno não apenas impõe esta obrigação, mas é exigível porque, se o particular desatender ao
mandamento, poderá ser multado sem que a Administração necessite ir ao Judiciário para que lhe
seja atribuído ou reconhecido o direito de multar. Entretanto, a determinação de construir a calçada
não é um ato executório, eis que a Administração não pode, ela própria, fazer a calçada, tampouco
obrigar direta e materialmente o particular a fazê-lo; ela só pode usar meios indiretos de coerção, a
exemplo da aplicação da multa pelo descumprimento da ordem.
TIPICIDADE
6
Tipicidade é o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas
previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados13.
Esse atributo decorre diretamente do princípio da legalidade, impedindo que a
Administração pratique atos inominados, vale dizer, atos sem previsão legal. Afinal, para cada
finalidade a ser perseguida pela Administração o ordenamento jurídico estabelece, previamente, o
ato específico (típico).
A tipicidade impede, também, a prática de atos totalmente discricionários (que seriam, na
verdade, arbitrários), pois a lei, ao prever o ato, já define os limites em que a discricionariedade
poderá ser exercida.
Maria Sylvia Di Pietro ensina que a tipicidade só existe com relação aos atos unilaterais. Isso
porque, nos contratos (atos bilaterais), não há imposição de vontade da Administração, que
depende sempre da aceitação do particular. Segundo a autora, nada impede que as partes
convencionem um contrato inominado (sem previsão legal), desde que atenda melhor ao interesse
público e ao do particular. Não obstante, cumpre observar que, em alguns casos, o atributo da
tipicidade se fará presente mesmo nos contratos administrativos, regidos pelo direito público, como
nos contratos de concessão de serviços públicos, já nomeados, tipificados, na Lei 8.987/1995.
13
Di Pietro (2009, p. 201).
(Questão de prova) O IBAMA multou e interditou uma fábrica de solventes que, apesar de
já ter sido advertida, insistia em dispensar resíduos tóxicos em um rio próximo a suas
instalações. Contra esse ato a empresa impetrou mandado de segurança, alegando que a
autoridade administrativa não dispunha de poderes para impedir o funcionamento da
fábrica, por ser esta detentora de alvará de funcionamento, devendo a interdição ter sido
requerida ao Poder Judiciário.
Em face dessa situação hipotética, julgue o item seguinte.
Um dos atributos do ato administrativo executado pelo IBAMA na situação em questão é o
da autoexecutoriedade, que possibilita ao poder público obrigar, direta e materialmente,
terceiro a cumprir obrigação imposta por ato administrativo, sem a necessidade de prévia
intervenção judicial.
Comentário:
O item está correto. Em razão do atributo da autoexecutoriedade, o Ibama pode,
independentemente de autorização judicial, compelir materialmente o administrado a cumprir a
lei (no caso, mediante a interdição da fábrica), bem como impor multa (nesse caso, trata-se de
coerção indireta, visto que, se o particular não pagar, a cobrança deverá ser feita junto ao
Judiciário).
Gabarito: Certo
(Questão de prova) A autoexecutoriedade dos atos administrativos ocorre nos casos em que
é prevista em lei ou, ainda, quando é necessário adotar providências urgentes em relação a
determinada questão de interesse público.
Comentário:
O quesito está correto. A autoexecutoriedade não existe em todos os atos administrativos.
Conforme a doutrina, só há autoexecutoriedade quando expressamente prevista em lei ou
quando tratar-se de medida urgente que, acaso não adotada de imediato, pode ocasionar prejuízo
maior para o interesse público.
Gabarito: Certo
ELEMENTOS
Os elementos do ato administrativo são as partes que o compõem, a sua infraestrutura.
Também são chamados de requisitos ou pressupostos.
Os elementos do ato administrativo podem ser divididos em (i) essenciais e (ii) acidentais ou
acessórios.
Os elementos essenciais são aqueles sem os quais o ato administrativo não existe, ou seja,
são elementos necessários à validade do ato. A doutrina, aproveitando-se do que está previsto na
Lei de Ação Popular14, indica que os elementos essenciais dos atos administrativos são:
competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
Ao lado dos elementos essenciais, os atos podem contar com elementos acidentais, isto é,
componentes que podem ou não estar presentes nos atos administrativos, ampliando ou
restringindo os seus efeitos jurídicos; são eles: o termo, a condição e o modo ou encargo. Segundo
Maria Sylvia Di Pietro, os elementos acidentais referem-se ao objeto do ato (elemento essencial) e
só podem existir nos atos discricionários, porque decorrem da vontade das partes.
Elementos Essenciais (DEVEM existir) Elementos Acidentais (Podem ou não existir)
COM - FI - FOR - M - OB ECT
§! COMpetência
§! FInalidade §! Encargo ou modo
§! FORma §! Condição
§! Motivo §! Termo
§! Objeto
14
Lei 4.717/1965, art. 2¼: ÒS‹o nulos os atos lesivos ao patrim™nio das entidades mencionadas no
artigo anterior, nos casos de: a) incompet•ncia; b) v’cio de forma; c) ilegalidade do objeto; d)
inexist•ncia dos motivos; e) desvio de finalidadeÓ.
ato, bem como o meio de exteriorização do ato em si, sendo a escrita a forma mais comum;
motivo é o pressuposto de fato e de direito que fundamenta a prática do ato; e objeto é o
conteúdo do ato, ou seja, seu efeito jurídico.
Gabarito: Certo
COMPETÊNCIA
15
Carvalho Filho (2014, p. 107).
(Questão de prova) A competência para a prática dos atos administrativos depende sempre
de previsão constitucional ou legal: quando prevista na CF, é denominada competência
primária e, quando prevista em lei ordinária, competência secundária.
Comentário:
Tanto as competências previstas na CF quanto as previstas nas leis são denominadas
competências primárias, daí o erro. São chamadas de competências secundárias aquelas
previstas em normas infralegais.
Gabarito: Errado
A norma define a competência dos agentes públicos segundo alguns critérios de distribuição
e organização, quais sejam16:
Ü!Matéria: a competência é definida segundo a especificidade da função a ser exercida. Por
exemplo: na esfera federal, cada Ministério possui competência para tratar de determinada matéria
(saúde, educação, cultura, economia etc.).
Ü!Hierarquia: as competências são escalonadas de acordo com seu nível de complexidade e
responsabilidade. Assim, por esse critério, as competências mais complexas e de maior
responsabilidade são atribuídas aos agentes de plano hierárquico mais elevado.
Ü!Lugar: a competência é distribuída entre órgãos localizados em pontos territoriais
distintos. Inspira-se na necessidade de descentralização ou desconcentração territorial das
atividades administrativas. Por exemplo: determinadas competências da Receita Federal são
desempenhadas por Superintendências espalhadas nos Estados-membros.
Ü!Tempo: a competência é conferida por determinado período de tempo. Por exemplo: a
competência do servidor público tem início a partir da investidura legal e término com o fim do
16
Carvalho Filho (2014, p. 108)
exercício da função pública. Também é exemplo a proibição de certos atos em períodos definidos
pela lei, como de nomear ou exonerar servidores em período eleitoral.
Ü!Fracionamento: a competência é distribuída por diversos órgãos ou agentes, cuja
manifestação é imprescindível para a completa formação do ato. Trata-se dos chamados atos
complexos. Por exemplo: a redução de alíquotas de IPI para alguns refrigerantes depende da
aprovação do Ministério da Agricultura e do Ministério da Fazenda.
Características
Delegação e Avocação
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Como se vê, a regra geral é a possibilidade de delegação, a qual não é admitida somente se
houver impedimento legal17.
O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do
delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de
exercício da atribuição delegada (Lei 9784/1999, art. 14, §3º).
Conforme assinalam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, a delegação deve ser de apenas
parte da competência do órgão ou do agente, e não de todas as suas atribuições.
Poderão ser impostas condicionantes (ressalvas) ao exercício da competência delegada, por
exemplo, determinação de que a autoridade delegante deverá ser previamente consultada em
situações específicas.
Ressalte-se que a delegação geralmente é feita para órgãos ou agentes subordinados (ou de
mesma hierarquia), mas também é possível mesmo que não exista subordinação hierárquica. É o
que ocorre, por exemplo, na descentralização por colaboração, em que o Estado, mediante
contrato, transfere (delega) a execução de determinado serviço público a uma pessoa jurídica de
direito privado, conservando o Poder Público a titularidade do serviço (ex: concessões e permissões
de serviço público).
Importante destacar que o ato de delegação é um ato discricionário, revogável a qualquer
tempo pela autoridade delegante.
O ato de delegação não retira a competência da autoridade delegante, que continua
competente cumulativamente com o agente delegado18. Afinal, a delegação apenas transfere a
responsabilidade pelo exercício de determinada tarefa; a titularidade permanece com quem
delegou.
Segundo o art. 14, §3º da Lei 9.784/1999, “as decisões adotadas por delegação devem
mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado”. Ou seja, a
responsabilidade pela prática do ato é do agente delegado.
O art. 13 da Lei 9.784/1999 dispõe que não podem ser objeto de delegação:
Essas funções são indelegáveis e, acaso transferidas, acarretam a invalidade não só do ato de
transferência, como dos praticados em virtude da delegação indevida. A doutrina também aponta
17
Frise-se, porŽm, que parte da doutrina entende que a delega•‹o de compet•ncia s— Ž poss’vel nos
casos em que a norma expressamente autoriza (Carvalho Filho 2014, p. 109)
18
Carvalho Filho (2014, p. 109).
que as competências de ordem política19 não são passíveis de delegação, salvo se expressamente
autorizada pela Constituição.
Avocação, por sua vez, é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para
si o exercício de funções que a norma originariamente atribui a um subordinado.
A doutrina é pacífica no sentido de que não é possível haver avocação sem que exista
hierarquia entre os agentes envolvidos. Aliás, é isso que está previsto na Lei 9.784/1999:
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação
temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
A lei informa, ainda, que a avocação é medida de caráter excepcional, devendo ser feita
apenas “temporariamente” e “por motivos relevantes devidamente justificados”.
Vale destacar que a avocação não é possível quando se tratar de competência exclusiva do
subordinado.
Avocação:
Atrai o exercício de competência pertencente
a órgão ou agente subordinado (apenas).
Ato discricionário.
Medida excepcional.
Não é possível: atos de competência exclusiva.
Delegação:
Transfere o exercício de competência a outro
órgão ou agente, subordinado ou não.
Ato discricionário.
Delegar é regra, somente obstada se houver
impedimento legal (entendimento majoritário)
Não é possível: atos normativos, recursos
administrativos e atos de competência exclusiva.
Por fim, deve ficar claro que a revogação de um ato de delegação não se confunde com a
avocação. É que, na delegação, a titularidade da competência delegada é do delegante; já na
avocação, a competência avocada é do subordinado.
19
Por exemplo, compet•ncia para editar leis, para proferir decis›es judiciais, para iniciar a a•‹o penal
pœblica, para julgar as contas dos administradores pœblicos etc.
FINALIDADE
20
Carvalho Filho (2014, p. 121).
FORMA
A forma é o modo como o ato administrativo se exterioriza, isto é, o como ele sai da cabeça
do agente e se mostra para o mundo. É a base física que permite aos destinatários o conhecimento
do conteúdo do ato administrativo.
De regra, os atos administrativos devem ter a forma escrita. Diz-se que, no direito público,
vale o princípio da solenidade das formas, pelo qual o ato deve ser escrito, registrado (ou arquivado)
e publicado21.
Entretanto, existem atos administrativos praticados de forma não escrita, a exemplo de
ordens verbais, gestos, apitos, sinais sonoros ou luminosos (semáforos de trânsito), placas (proibido
fumar, proibido estacionar, etc.). Esses elementos não escritos expressam uma ordem da
Administração Pública (uma manifestação de vontade) e, como tais, são considerados atos
administrativos. Frise-se, porém, que são meios excepcionais de exteriorização do ato, que atendem
a situações especiais.
Para Maria Sylvia Di Pietro, o elemento forma também pode ser visto a partir de uma
concepção ampla, abrangendo não só a exteriorização do ato, mas também todas as formalidades
que devem ser observadas durante o processo de formação da vontade da Administração, e até os
requisitos concernentes à publicidade do ato.
No Direito Administrativo, o aspecto formal do ato possui grande relevância, pois representa
uma garantia jurídica para o administrado e para a própria Administração; é pelo respeito à forma
que se possibilita o controle do ato administrativo pelos seus destinatários, pela própria
Administração ou pelos demais Poderes22.
Não obstante, a doutrina tem evoluído no sentido de se moderar as exigências quanto às
formalidades. O entendimento que se busca é que, para a prática de qualquer ato administrativo,
devem ser exigidas tão somente as formalidades estritamente essenciais, desprezando-se
procedimentos meramente protelatórios. É o chamado formalismo moderado.
Nessa linha, o art. 22 da Lei 9.784/1999 dispõe que “os atos do processo administrativo não
dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir”.
Não obstante, como regra, a forma ainda é vista pela doutrina como um elemento vinculado
do ato administrativo, visto que ele deve ser exteriorizado na forma que a lei exigir. Por exemplo, a
própria Lei 9.784/1999 (art. 22, parágrafo único), exige que os “atos do processo devem ser
produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
autoridade responsável”. Outras normas prescrevem formas específicas, como decreto, resolução,
portaria etc.
Por outro lado, quando a lei não exigir forma determinada para o ato administrativo, a
Administração pode pratica-lo com a forma que lhe parecer mais adequada. Nesse caso, a forma
21
Carvalho Filho (2014, p. 112).
22
Maria Sylvia Di Pietro (2009, p. 208).
seria um elemento discricionário do ato. Ressalte-se, porém, que a forma escolhida pela
Administração deve sempre assegurar segurança jurídica e, na hipótese de atos restritivos de
direitos e sancionatórios, possibilitar o exercício do contraditório e da ampla defesa.
(Questão de prova) Incorre em vício de forma a edição, pelo chefe do Executivo, de portaria
por meio da qual se declare de utilidade pública um imóvel, para fins de desapropriação,
quando a lei exigir decreto.
Comentário:
O quesito está correto. No caso, o decreto é a forma prevista na lei para que ocorra a
exteriorização da vontade do Chefe do Poder Executivo. Assim, o ato de declaração de utilidade
pública para fins de desapropriação deveria ser emitido mediante decreto, e não portaria. Logo,
houve vício de forma.
Gabarito: Certo
MOTIVO
23
Di Pi
etro (2009, p. 210)
Todo ato administrativo deve ter um motivo lícito, ou seja, baseado na lei. Não é permitido
que um ato seja feito por mero capricho do agente público, sem nenhum fundamento.
O motivo, ademais, deve guardar congruência, isto é, relação lógica com o objeto e a
finalidade do ato; caso contrário, o ato será nulo.
Por exemplo: suponha que a Administração revogou várias autorizações de porte de arma
invocando como motivo o fato de um dos autorizados ter se envolvido em brigas; nessa hipótese, o
ato só será válido em relação ao indivíduo que se envolveu nas brigas; em relação aos demais, que
não tiveram esse envolvimento, o ato será nulo, pois o motivo não guarda compatibilidade lógica
com o resultado do ato 24.
24
Carvalho Filho (2014, p. 120)
25
O Decreto 8.737/2016 estende tal prazo por mais 15 dias ao servidor que requeira o benef’cio no
prazo de 2 dias œteis ap—s o nascimento ou a ado•‹o, totalizando, assim, 20 dias de licen•a paternidade.
critério de conveniência e oportunidade, irá definir o conteúdo do ato, importando dizer que,
mesmo que o servidor cumpra os requisitos legais, poderá ter seu pedido negado.
Segundo Maria Sylvia Di Pietro, o motivo será discricionário quando:
§! a lei não o definir, deixando-o ao inteiro critério da Administração, como no exemplo acima,
em que não há qualquer motivo previsto na lei para justificar a prática do ato.
§! a lei definir o motivo utilizando noções vagas, imprecisas, empregando palavras que podem
ter vários significados, os chamados conceitos jurídicos indeterminados; é o que ocorre
quando a lei manda punir o servidor que praticar “falta grave”, “procedimento irregular” ou
“conduta escandalosa na repartição”, sem definir em que consistem; ou quando a lei prevê o
tombamento de bem que tenha valor artístico ou cultural, também sem estabelecer critérios
objetivos que permitam o enquadramento do bem nesses conceitos.
No caso dos conceitos jurídicos indeterminados de valor, a Administração, em regra, usará
sua discricionariedade para definir se o fato concreto se enquadra ou não na hipótese prevista na
norma (por exemplo, definir se a conduta do servidor é ou não escandalosa ou, ainda, se o bem
possui ou não valor artístico).
Contudo, a discricionariedade poderá ficar afastada nos casos em que a lei usa conceitos
técnicos, que podem ser confirmados mediante laudos e pareceres (ex: para concessão de
aposentadoria por “invalidez”, a Administração deve se fundamentar em laudo médico), ou
conceitos de experiência ou empíricos, que podem ser objetivamente extraídos da experiência
comum (ex: expressões como “caso fortuito e força maior”, “jogos de azar” e “bons antecedentes”).
Por exemplo, para punir, a Administração precisa demonstrar, comprovar que o servidor
realmente praticou a conduta proibida pela norma. Assim, a motivação do ato deve descrever a
conduta do servidor, apresentar evidências e demonstrar que o fato se enquadra na previsão da
norma legal (ou seja, expor os motivos do ato).
A motivação, regra geral, deve ser prévia ou concomitante à expedição do ato. Assim, não é
admissível a motivação apresentada a posteriori, ou seja, após a prática do ato, especialmente nos
casos em que a motivação é apresentada apenas após a validade do ato ser contestada.
Carvalho Filho esclarece ser possível distinguir duas formas de exteriorização do motivo, vale
dizer, de motivação:
§! Motivo contextual: a motivação é expressa no próprio ato, como é o caso de atos cujo
preâmbulo apresenta justificativas iniciadas por “considerando” (ex: considerando que o
servidor fez isso, isso e aquilo, decido aplicar a punição tal).
§! Motivo aliunde ou per relationem: a motivação se aloja fora do ato, como é o caso de
justificativas constantes de processos administrativos ou em pareceres prévios que serviram
de base para o ato decisório, hipótese em que o ato faz remissão a esses atos precedentes
(ex: no ato de punição, a motivação pode estar no relatório da comissão apuradora; assim, a
autoridade julgadora poderá afirmar que os motivos da sua decisão estão expostos no
referido relatório).
Em regra, a Administração tem o dever de motivar seus atos, discricionários ou vinculados.
Afinal, todo ato administrativo tem que ter um motivo, sob pena de nulidade (seja pela não
ocorrência do fato, seja pela inexistência da norma). A motivação é importante para que haja um
controle mais eficiente da prática administrativa, tanto pela sociedade como pelos demais Poderes
e pela própria Administração.
Todavia, podem existir atos administrativos em que os motivos não precisam ser declarados,
ou seja, atos que não estão sujeitos à regra geral de obrigatoriedade de motivação.
Com efeito, só se poderá considerar a motivação obrigatória se houver normal legal
expressa nesse sentido26.
Por exemplo, a Lei 9.784/1999 enumera expressamente atos administrativos que exigem
motivação. Vejamos:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
26
Carvalho Filho (2014, p. 116)
A doutrina assevera que, ao indicar expressamente os atos que necessitam ser motivados, a
Lei 9.784/1999, ainda que implicitamente, reconhece que pode haver atos que dispensem
motivação.
Exemplo clássico de ato que não precisa ser motivado é a nomeação/exoneração para cargos
em comissão.
Ressalte-se, todavia, que a lista de atos que exigem motivação apresentada na referida lei é
bastante ampla. É só observar que ela contém, por exemplo, os atos que afetem “direitos e
interesses” (inciso I), abrangendo, assim, praticamente todos os tipos de atos. Ademais, a boa
prática administrativa recomenda a motivação de todos os atos administrativos, a fim de garantir a
transparência e de aumentar as possibilidades de controle pelos cidadãos e órgãos competentes.
27
Knoplck (2013, p. 263)
Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que não se deve confundir motivo, situação objetiva,
real, com móvel, isto é, intenção, propósito do agente que praticou o ato.
Para o autor, motivo é a realidade objetiva e externa ao agente, servindo de suporte à
expedição do ato. Móvel é a representação subjetiva, psicológica, interna do agente e corresponde
àquilo que suscita a vontade do agente (intenção).
Motivo Móvel
A teoria dos motivos determinantes estipula que a validade do ato está adstrita aos motivos
indicados como seu fundamento, de maneira que, se os motivos forem inexistentes ou falsos, o ato
será nulo28.
Por outras palavras, quando a Administração motiva o ato (fosse ou não obrigatória a
motivação), ele só será válido se os motivos forem verdadeiros. Caso seja comprovada a não
ocorrência da situação declarada (pressuposto de fato), ou a inadequação entre a situação ocorrida
e o motivo descrito na lei (pressuposto de direito), o ato será nulo.
28
Di Pietro (2009, p. 211).
29
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 499).
O poder legal conferido ao agente público para o desempenho específico das atribuições
de seu cargo é a definição de competência, e não de motivação. Esta é a declaração expressa dos
motivos que justificaram a prática do ato.
Gabarito: Errado
(Cespe – MIN 2013) Considere que um servidor público tenha sido removido de ofício pela
administração pública, com fundamento na alegação de excesso de servidores no setor em
que atuava. Nessa situação, provando o servidor que, em realidade, faltavam funcionários
no setor em que trabalhava, o ato de remoção deverá ser considerado inválido.
Comentário:
O item está certo. Pela teoria dos motivos determinantes, se os motivos da prática do ato
forem expostos, deverão ser existentes e verdadeiros, sob pena de invalidação do ato. Na
situação apresentada, a remoção do servidor foi amparada em motivo falso, por isso é certo que
deverá ser considerada nula.
Gabarito: Certo
OBJETO
Objeto é o efeito jurídico imediato que o ato produz30. Em outras palavras, o objeto
compreende os direitos nascidos, transformados ou extintos em decorrência do ato administrativo.
O objeto do ato identifica-se com o seu conteúdo. Para encontrar esse elemento, basta
verificar o que o ato enuncia, prescreve, dispõe31, indagando: “para que serve o ato?” Por exemplo,
no ato de demissão de servidor público, o objeto é a própria demissão, ou seja, o desfazimento da
relação jurídico-funcional entre o servidor e a Administração; na concessão de alvará de construção,
o objeto é a própria autorização para edificar, e assim por diante.
Segundo Maria Sylvia Di Pietro, o objeto do ato administrativo deve ser lícito (conforme a lei),
possível (realizável no mundo dos fatos e do direito), certo (definido quanto ao destinatário, aos
efeitos, ao tempo e ao lugar), e moral (em consonância com os padrões comuns de comportamento,
aceitos como corretos, justos, éticos).
30
Di Pietro (2009, p. 206)
31
Idem
doação simples); mas também pode fazer a doação impondo ao Município o encargo de construir
uma escola naquele terreno (seria uma doação com encargo); se o Município não construir a escola,
a União poderá cancelar a doação.
O termo é a cláusula que indica o dia de início ou de término da eficácia do ato. Por exemplo:
a Administração pode conceder uma autorização de funcionamento que entrará em vigor daqui a
60 dias e que terá vigência pelo prazo de 5 anos, ou seja, o ato produzirá efeitos jurídicos apenas
durante o período indicado.
Já a condição é a cláusula que subordina o efeito do ato a evento futuro e incerto; pode ser
suspensiva, quando suspende o início da eficácia do ato, ou seja, se a condição suspensiva não
acontecer, o ato nem começa a produzir efeitos (por exemplo, o Governo pode editar ato de
concessão de benefício social a determinadas famílias, mas condicionar a efetiva liberação do
dinheiro ao resultado da análise da situação psicossocial dos beneficiários); e resolutiva, quando a
cláusula prevê que, se determinada situação ocorrer, a produção de efeitos jurídicos do ato será
cessada, ou seja, se a condição resolutiva não acontecer, o ato continua a produzir seus efeitos
normalmente (por exemplo: o Governo pode conceder benefício social a determinadas famílias e
estabelecer que, se os filhos forem reprovados na escola, o benefício será cessado).
Assim como o motivo, o objeto é um dos elementos que permitem verificar se o ato
administrativo é vinculado ou discricionário.
Com efeito, nas atividades vinculadas, o objeto do ato deve ser exatamente aquele que a lei
estabeleceu. Trata-se, portanto, de objeto vinculado.
Por exemplo: se o indivíduo preenche todos os requisitos legais para a obtenção de licença
para exercer determinada profissão em todo o território nacional, o objeto do ato de concessão da
referida licença deve ser exatamente este; dessa forma, o agente não pode, ao concedê-la, restringir
o âmbito do exercício da profissão a determinado Estado, porque tal se põe em contrariedade com
a lei32.
Já nas atividades discricionárias, admite-se a escolha do objeto, dentre os possíveis
autorizados na lei, mediante a avaliação dos critérios de conveniência e oportunidade. Constitui a
parte variável do ato, sendo admissível a fixação de encargos, condições e termos. Trata-se, aqui,
de objeto discricionário,
Por exemplo: no ato de suspensão do servidor, há liberdade de escolha do conteúdo
específico (número de dias da suspensão), dentro do limite legal de 90 dias, conforme a valoração
da gravidade da falta cometida. Outro exemplo: a autorização para funcionamento de um circo em
praça pública pode fixar o limite máximo de horário, ainda que o interessado tenha formulado
pedido para funcionamento em horário mais elástico; no caso, a Administração irá avaliar as
circunstâncias envolvidas (impacto na vizinhança, normas locais de silêncio, efetivo disponível para
promover a segurança pública etc.) e moldar o objeto do ato conforme sua discricionariedade.
32
Carvalho Filho (2014, p. 111).
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA
Todavia, o excesso de poder nem sempre acarreta a nulidade do ato: em regra, o vício admite
convalidação33, ou seja, a autoridade que detém a competência pode ratificar o ato praticado pelo
agente incompetente, exceto quando se tratar de competência em razão da matéria ou de
competência exclusiva, hipóteses em que o ato deverá ser anulado.
Por exemplo: seria nulo um ato praticado pelo Ministro da Saúde em matéria de competência
do Ministro da Fazenda, ou, ainda, um ato praticado por Ministro de Estado em matéria de
competência exclusiva do Presidente da República. Por outro lado, caso um Auditor da Receita
pratique ato de competência não exclusiva do seu superior hierárquico, este poderá convalidar o
ato, ao invés de anulá-lo, simplesmente apondo sua assinatura embaixo da do Auditor.
A função de fato ocorre quando a pessoa que pratica o ato está irregularmente investida no
cargo, emprego ou função, mas a sua situação tem toda a aparência de legalidade.
Exemplos: inexistência de formação universitária para a função que a exige; idade inferior ao
mínimo legal; o mesmo ocorre quando o servidor está suspenso do cargo, ou exerce suas funções
depois de vencido o prazo de sua contratação, ou continua em exercício após a idade-limite para
aposentadoria compulsória.
Os atos praticados pelos funcionários de fato, segundo a teoria da aparência, são
considerados válidos e eficazes, perante terceiros de boa-fé, precisamente pela aparência de
legalidade de que se revestem.
33
Estudaremos o que vem a ser convalida•‹o na pr—xima aula.
Por exemplo: imagine que, no exemplo anterior, o servidor X, ao invés de cônjuge, fosse
amigo da servidora Y. A lei registra que a amizade, para ser motivo de suspeição, deve ser íntima.
Ora, não é tão simples assim afirmar, categoricamente, se a amizade entre os dois é ou não uma
amizade íntima. Nesse caso, se a suspeição não for alegada e provada, o processo segue seu rumo
normalmente.
VÍCIOS DE FINALIDADE
Trata-se do desvio de poder ou desvio de finalidade, que ocorre quando o agente pratica ato
visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na lei.
Ocorre desvio de finalidade quando o agente pratica ato com inobservância do interesse
público (finalidade geral) ou com objetivo diverso daquele previsto na lei para o tipo de ato praticado
(finalidade específica).
Em qualquer caso, o vício de finalidade configura vício insanável, ou seja, não pode ser
convalidado, devendo ser sempre anulado.
VÍCIOS DE FORMA
Detalhe interessante é que a falta de motivação (declaração escrita dos motivos que
ensejaram a prática do ato), quando obrigatória, representa vício de forma, acarretando a nulidade
do ato.
Por exemplo: determinado servidor praticou falta disciplinar grave e foi demitido (portanto,
existe motivo para a demissão); no entanto, a autoridade competente, ao emitir o ato de demissão,
não declarou de forma expressa as razões que a levaram a tomar aquela decisão; nesse caso, o ato
de demissão sem motivação expressa é um ato com vício de forma.
VÍCIOS DE MOTIVO
O vício de motivo ocorre quando a matéria de fato ou de direito em que se fundamenta o ato
é materialmente inexistente. Diz-se, então, que o motivo é inexistente.
Além da hipótese de inexistência, o vício também pode ocorrer pela falsidade do motivo, ou
pela incongruência entre o fato e a norma, ou seja, o motivo é ilegítimo ou juridicamente
inadequado ao resultado obtido.
Por exemplo: se a Administração pune servidor, mas este não praticou qualquer infração, o
motivo é inexistente; por outro lado, se ele praticou infração diversa da apontada, o motivo é falso;
finalmente, se ele realmente praticou a conduta apontada, mas essa conduta não é definida na lei
como infração disciplinar, o motivo é ilegítimo ou juridicamente inadequado.
• Motivo inexistente
• Motivo falso
Vícios de motivo
• Motivo ilegítimo ou juridicamente inadequado
• Leva à anulação do ato
Em qualquer hipótese, o vício de motivo acarreta a invalidade do ato, sendo obrigatória a sua
anulação.
VÍCIOS DE OBJETO
Como visto, o objeto é o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Ocorrerá vício do objeto
quando este for:
§! Proibido pela lei; por exemplo, um Município que desaproprie bem imóvel da União.
§! Com conteúdo diverso do previsto na lei para aquela situação; por exemplo, a
autoridade aplica a pena de suspensão, quando cabível a advertência; a autoridade
suspende servidor por 120 dias, quando a lei prevê que a suspensão será por, no
máximo, 90 dias.
§! Impossível, porque os efeitos pretendidos são irrealizáveis, de fato ou de direito; por
exemplo, a nomeação para um cargo inexistente; a instalação de antena de
concessionária em terreno pantanoso; a desapropriação de terras produtivas pela
União para fins de Reforma Agrária.
§! Imoral; por exemplo, a emissão de parecer sob encomenda, contrário ao
entendimento de quem o elabora.
§! Incerto em relação aos destinatários, às coisas, ao tempo, ao lugar; por exemplo,
desapropriação de bem não definido com precisão.
O vício de objeto é insanável, ou seja, invariavelmente acarreta a nulidade do ato.
VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE
Por conta do princípio da legalidade, a atuação da Administração Pública deve sempre
respeitar os limites da lei.
Em alguns casos, os atos administrativos são vinculados, pois a lei estabelece uma única
solução possível de atuação para a Administração, não lhe concedendo nenhum grau de liberdade
para manifestação de sua vontade.
Em outras hipóteses, a lei deixa certa margem de liberdade de decisão diante do caso
concreto, de tal modo que a autoridade poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis,
podendo também decidir o momento mais apropriado para agir. Nesses casos, os atos
administrativos são discricionários, e são editadas em decorrência do poder discricionário que a
Administração detém.
Nos atos administrativos vinculados, todos os elementos (competência, finalidade, forma,
motivo e objeto) são vinculados, não restando ao agente público nenhuma liberdade para avalia-
los, justamente porque estão todos rigidamente previstos na legislação.
Por outro lado, nos atos administrativos discricionários somente são estritamente
vinculados os elementos competência, finalidade e forma34. Já motivo e objeto serão
discricionários.
Elementos
Com Fi For Mo Ob
Ato vinculado V V V V V
Ato discricionário V V V D D
Analisando o quadro acima, pode-se afirmar que não existe ato administrativo inteiramente
discricionário, afinal, nos atos discricionários os elementos competência, finalidade e forma são
sempre vinculados; a discricionariedade ocorre apenas no motivo e no objeto, elementos que,
juntos, constituem o chamado mérito administrativo.
MÉRITO ADMINISTRATIVO
34
Quanto ao elemento forma, h‡ de se ressalvar que algumas leis permitem certo grau de
discricionariedade, admitindo mais de uma forma poss’vel para praticar o mesmo ato. Por exemplo, a
comunica•‹o de determinado ato ao interessado pode, quando a lei permite, ser dada por meio de
publica•‹o ou de notifica•‹o direta; nesse caso, existe discricionariedade com rela•‹o ˆ forma.
35
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 494).
(Questão de prova) Embora tenha competência para analisar a legalidade dos atos
administrativos, o Poder Judiciário não a tem relativamente ao mérito administrativo desses
atos.
Comentário:
O item está correto. O controle judicial sobre os atos administrativos se restringe à aferição
da legalidade e da legitimidade. O Poder Judiciário não pode entrar no mérito do ato, quer dizer,
não pode fazer juízo de conveniência e oportunidade em relação a atos discricionários praticados
dentro dos limites da lei e com observância aos princípios administrativos. Caso a Administração
ultrapasse esses limites, o Judiciário poderá invalidar ato, sem que isso caracterize controle de
mérito; uma vez rompidos os limites da lei, o controle passa a ser de legalidade.
Gabarito: Certo
36
Di Pietro (2009, p. 219).
(Questão de prova) Mérito administrativo é a margem de liberdade conferida por lei aos
agentes públicos para escolherem, diante da situação concreta, a melhor maneira de
atender ao interesse público.
Comentário:
Definição correta. O mérito administrativo consiste na avaliação da conveniência e da
oportunidade relativas ao motivo e ao objeto dos atos discricionários. Ressalte-se que essa
liberdade é limitada, pois o agente público deve observar os contornos da lei e os princípios da
Administração Pública.
Gabarito: Certo
*****
Pronto, chegamos ao fim do conteúdo teórico da aula de hoje. Lembrando que ainda não
esgotamos o assunto. Continuaremos a estudar os atos administrativos na aula seguinte.
Vamos resolver questões?!
QUESTÕES DE PROVA
1. (Cespe – INSS 2016)
A autoexecutoriedade é atributo restrito aos atos administrativos praticados no exercício do
poder de polícia.
Comentário:
A autoexecutoriedade é atributo geral dos atos administrativos, não restrito aos atos praticados no
exercício do poder de polícia.
Gabarito: Errado
O ato de delegação não retira a competência da autoridade delegante, que continua competente
cumulativamente com o agente delegado. A delegação apenas transfere a responsabilidade pelo
exercício de determinada tarefa; a titularidade permanece com quem delegou.
Tanto é verdade que o ato de delegação é um ato discricionário, revogável a qualquer tempo pela
autoridade delegante.
Gabarito: Errado
raio que destrói um bem público ou uma enchente que inutiliza equipamentos pertencentes ao
serviço público são fatos administrativos decorrentes de fenômenos natureza, e não de atos
administrativos. Em outras situações, ainda, é o fato administrativo que precede o ato: é o caso da
apreensão de bens, em que o agente primeiro produz a operação material de apreender, e depois é
que a descreve no auto de apreensão, este sim o ato administrativo.
Gabarito: Certo
são classificadas pela doutrina como fatos administrativos, pois são despidas das características dos
atos administrativos (ex: a negociação, em si, não produz um efeito jurídico imediato; o registro da
escritura é um ato de direito privado).
Gabarito: Certo
a Secretaria do STF realiza licitação para adquirir uma nova frota de veículos para o Tribunal; ou de
quando o Presidente do TCU demite servidor do órgão.
Gabarito: Certo
aplicado esse entendimento da doutrina, a assertiva deveria ser tida como correta. Mas esse não
parece ser o entendimento do Cespe. Veja, por exemplo, a questão anterior, em que a banca, ao
listar os atributos do ato administrativo, citou a autoexecutoriedade e a exigibilidade
separadamente. Nessa mesma linha, o gabarito da questão ora em comento é errado,
demonstrando que a banca prefere distinguir os conceitos de autoexecutoriedade e exigibilidade.
Portanto, muita atenção na prova.
Gabarito: Errado
Comentário:
Um dos atributos do ato administrativo é a presunção de legitimidade e de veracidade. A
legitimidade refere-se à conformidade do ato com a lei. A veracidade, por sua vez, diz respeito aos
fatos alegados pela Administração, que são tidos como verdadeiros até que se prove o contrário (o
ônus da prova é do administrado).
Em decorrência do princípio da presunção de legitimidade, os atos administrativos operam efeitos
imediatamente, vinculando os administrados por ele atingidos desde a sua edição. Por conseguinte,
o administrado não pode negar-se a cumpri-lo. Isso não significa, contudo, que o administrado não
possa buscar amparo junto ao Poder Judiciário visando à anulação do ato ou à sustação liminar dos
seus efeitos. Enquanto, porém, não sobrevier o pronunciamento de nulidade ou de suspensão
liminar, os atos administrativos terão plena eficácia.
Como ensina Maria Sylvia Di Pietro, a presunção de legitimidade e veracidade acompanha todos os
atos estatais, quer imponham obrigações, quer reconheçam ou confiram direitos aos administrados,
e decorre da própria ideia de “Poder” que permite ao Estado assumir posição de supremacia perante
os particulares. O quesito está correto, portanto.
Gabarito: Certo
que, se este for inexistente ou falso, o ato é nulo. Portanto, no caso concreto, o deferimento ou não
das férias dos servidores no mês julho ficou vinculado à falta ou não de pessoal no período, daí a
correção do item.
Gabarito: Certo
sim quem a norma determinar que é”. Todavia, há de ressaltar que Maria Sylvia Di Pietro salienta a
possibilidade de omissão do legislador quanto à fixação da competência para a prática de
determinados atos. Segundo a autora, a rigor, não havendo lei, entende-se que é competente o
Chefe do Poder Executivo.
b) CERTA. No nosso ordenamento jurídico, as competências para a prática de atos administrativos
são atribuídas originariamente aos entes políticos (União, Estados, Municípios e DF). A partir daí, as
competências são distribuídas entre os respectivos órgãos administrativos (como os Ministérios,
Secretarias e suas unidades) e, dentro destes, entre seus agentes, pessoas físicas. Para a distribuição
das competências são utilizados vários critérios, dentre eles: matéria, hierarquia, lugar, tempo e
fracionamento.
c) CERTA. A competência é inderrogável (intransferível), pois não pode ser transmitida por mero
acordo entre as partes; também é improrrogável, pois não pode ser assumida por agente
incompetente sem a autorização de norma expressa.
d) CERTA. A autoridade administrativa pode, a seu critério, delegar o exercício de competências de
sua titularidade ou avocar o exercício de competências da titularidade de seu subordinado. A
doutrina majoritária entende que a possibilidade de delegação é regra, não sendo admitida apenas
se houver impedimento legal. Porém, parte da doutrina entende que a delegação de competência
só é possível nos casos em que a norma expressamente autoriza, ou seja, tratar-se-ia de medida
excepcional, como afirma o item. Quanto à avocação não há dúvida: constitui medida de caráter
excepcional, devendo ser feita apenas “temporariamente” e “por motivos relevantes devidamente
justificados”.
e) ERRADA. Para dar a assertiva como errada, a banca deve ter considerado que, ao afirmar que a
“competência para a prática do ato administrativo deixa de pertencer à autoridade delegante”, o
item se referiu à transferência da titularidade da competência, e não do seu exercício. De fato, a
delegação transfere apenas o exercício, mas não a titularidade da competência, a qual permanece
com a autoridade delegante.
Gabarito: alternativa “e”
Em regra, os atos administrativos devem ser motivados, sejam eles discricionários, sejam vinculados.
Afinal, estamos tratando da coisa pública, e o uso que se faz dela deve ser bem explicado e justificado
aos seus verdadeiros donos: a sociedade.
Todavia, ainda que desejável, nem sempre a motivação prévia ou concomitante dos atos é
obrigatória. Com efeito, o art. 50 da Lei 9.784/1999 determina ser obrigatória a motivação dos
seguintes atos:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e
relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
Perceba que, embora seja bastante amplo o rol de atos que devem ser obrigatoriamente motivados,
a lei deixa espaço para que alguns atos sejam praticados sem motivação. Um deles é a exoneração
de servidor ocupante de cargo em comissão (alternativa “d”), ato que prescinde de motivação
prévia, eis que é tratado pela própria Constituição Federal como de livre nomeação e exoneração.
Todos os demais atos apresentados nas alternativas da questão estão previstos nos incisos do art.
50 da Lei 9.784/1999, portanto, devem ser obrigatoriamente motivados.
Gabarito: alternativa “d”
*****
Por hoje é só pessoal!
Bons estudos!
Erick Alves
LEGISLAÇÃO PERTINENTE
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o
praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades
indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro
ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato,
é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto,
explícita ou implicitamente, na regra de competência.
Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou privado, ou das entidades mencionadas
no art. 1º, cujos vícios não se compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis, segundo as
prescrições legais, enquanto compatíveis com a natureza deles.
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como
própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados
aos respectivos presidentes.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
****
RESUMÃO DA AULA
ATOS ADMINISTRATIVOS: praticados por todos os Poderes, quando exercem função administrativa.
Ø!ATRIBUTOS:
§!Presunção de legitimidade: presume-se que o ato foi praticado conforme a lei.
§!Presunção de veracidade: presume-se que os fatos alegados pela Adm são verdadeiros.
§!Permite que os atos produzam efeitos de imediato, ainda que apresentem vícios aparentes.
Presunção
de §!O administrado terá que se submeter ao ato, até que ele seja invalidado.
legitimidade §!Presunção relativa (admite prova em contrário).
§!Inverte o ônus da prova (o administrado é que deve provar o erro da Administração)
§!Presente em todos os atos administrativos.
§!Certos atos administrativos podem ser executados pela própria Administração, sem
necessidade de intervenção judicial.
§!Desdobra-se em:
ü! Exigibilidade: coerção indireta (ex: aplicação de multas);
ü! Executoriedade: coerção direta (ex: demolição de obra irregular)
Autoexecutoriedade
§!Está presente apenas quando:
ü! expressamente prevista em lei (ex: poder de polícia; penalidades disciplinares).
ü! tratar-se de medida urgente.
§!Não está presente quando envolve o patrimônio do particular (ex: cobrança de multa
não paga; desconto de indenização ao erário nos vencimentos do servidor).
Ø!ELEMENTOS:
VINCULAÇÃO e DISCRICIONARIEDADE:
Ø! Poder Judiciário não aprecia o mérito administrativo: caso a Administração ultrapasse os limites da discricionariedade, o
Judiciário poderá anular o ato (jamais convalidar), sem que isso caracterize controle de mérito; uma vez rompidos os limites
da lei, o controle passa a ser de legalidade.
LISTA DE QUESTÕES
1. (Cespe – INSS 2016)
A autoexecutoriedade é atributo restrito aos atos administrativos praticados no exercício do
poder de polícia.
2. (Cespe – TCU 2015)
A exoneração dos ocupantes de cargos em comissão deve ser motivada, respeitando-se o
contraditório e a ampla defesa.
3. (Cespe – TCU 2015)
Conforme a teoria dos motivos determinantes, a validade do ato administrativo vincula-se aos
motivos que o determinaram, sendo, portanto, nulo o ato administrativo cujo motivo estiver
dissociado da situação de direito ou de fato que determinou ou autorizou a sua realização.
4. (Cespe – TCU 2015)
Ao delegar a prática de determinado ato administrativo, a autoridade delegante transfere a
titularidade para sua prática.
5. (Cespe – TCU 2015)
É proibido delegar a edição de atos de caráter normativo.
6. (Cespe – MIN 2013)
O conceito de ato administrativo não se confunde com o conceito legal de ato jurídico.
7. (Cespe – MIN 2013)
A construção de uma ponte pela administração pública caracteriza um fato administrativo, pois
constitui uma atividade pública material em cumprimento de alguma decisão administrativa.
8. (Cespe – MIN 2013)
Todos os atos da administração pública que produzem efeitos jurídicos são considerados atos
administrativos, ainda que sejam regidos pelo direito privado.
9. (Cespe – Ibama 2013)
Ato administrativo corresponde, conceitualmente, a manifestação unilateral de vontade do
Poder Executivo, com efeito jurídico imediato, exarada sob o regime jurídico de direito público.
10. (Cespe – Bacen 2013)
Para concretizar a desapropriação de um imóvel, a administração toma providência para tomar
a posse desse imóvel, situação que constitui exemplo de fato administrativo.
11. (Cespe – Suframa 2014)
Caso a administração seja suscitada a se manifestar acerca da construção de um condomínio
em área supostamente irregular, mas se tenha mantida inerte, essa ausência de manifestação
Um oficial de justiça requereu concessão de férias para o mês de julho e o chefe da repartição
indeferiu o pleito sob a alegação de falta de pessoal. Na semana seguinte, outro servidor da
mesma repartição requereu o gozo de férias também para o mês de julho, pleito deferido pelo
mesmo chefe. Nessa situação hipotética, o ato que deferiu as férias ao servidor está viciado,
aplicando-se ao caso a teoria dos motivos determinantes.
23. (Cespe – Suframa 2014)
Considere a seguinte situação hipotética.
Determinado servidor público teve seu pedido de férias negado pela chefia competente e, em
que pese a possibilidade de indeferir a solicitação sem fundamentar sua decisão de forma
expressa, a autoridade competente o fez, sob o fundamento de falta de pessoal na repartição.
Nessa situação hipotética, caso o servidor consiga provar que, em verdade, havia excesso de
servidores onde trabalha, o referido ato será inválido.
24. (Cespe – MDIC 2014)
Se determinado servidor público for removido, de ofício, por interesse da administração
pública, sob a justificativa de falta de servidores em outra localidade, e se esse servidor
constatar o excesso de pessoal na sua nova unidade de exercício e não a falta, o
correspondente ato de remoção, embora seja discricionário, poderá ser invalidado.
25. (Cespe – AFRE/ES 2013)
No que se refere a atos administrativos, assinale a opção correta.
a) A ausência de manifestação da administração em situações em que deve pronunciar-se,
conhecida como silêncio administrativo, é considerada ato administrativo,
independentemente de lei, pois afeta direta ou indiretamente os administrados.
b) Os atos administrativos discricionários não exigem motivação e a motivação, se houver, em
nada afeta a validade do ato administrativo, ante a impossibilidade de vinculação dos motivos.
c) O atributo da imperatividade dos atos administrativos diz respeito à possibilidade de o ato
ser imediatamente executado, independentemente de solicitação prévia ou posterior do Poder
Judiciário.
d) Um fato administrativo não se preordena à produção de efeitos jurídicos, traduzindo-se em
uma atividade material no exercício da função administrativa.
e) A locação de um prédio pela administração traduz um ato da administração que, embora
regido pelo direito público, põe o particular em posição igualitária com o poder público.
26. (ESAF – CVM 2010)
Assinale a assertiva que não pode ser caracterizada como ato administrativo.
a) Semáforo na cor vermelha.
b) Queda de uma ponte.
c) Emissão de Guia de Recolhimento da União eletrônica.
d) Protocolo de documento recebido em órgão público.
*****
GABARITO
1. E
2. E
3. C
4. E
5. C
6. E
7. C
8. E
9. E
10. C
11. E
12. E
13. C
14. C
15. C
16. E
17. C
18. E
19. C
20. C
21. C
22. C
23. C
24. C
25. d
26. b
27. e
28. d
REFERÊNCIAS
Alexandrino, M. Paulo, V. Direito Administrativo Descomplicado. 22ª ed. São Paulo: Método, 2014.
Bandeira de Mello, C. A. Curso de Direito Administrativo. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
Borges, C.; Sá, A. Direito Administrativo Facilitado. São Paulo: Método, 2015.
Carvalho Filho, J. S. Manual de Direito Administrativo. 27ª ed. São Paulo: Atlas, 2014.
Di Pietro, M. S. Z. Direito Administrativo. 28ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014.
Furtado, L. R. Curso de Direito Administrativo. 4ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2013.
Knoplock, G. M. Manual de Direito Administrativo: teoria e questões. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
Justen Filho, Marçal. Curso de direito administrativo. 10ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
Meirelles, H. L. Direito administrativo brasileiro. 41ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
Scatolino, G. Trindade, J. Manual de Direito Administrativo. 2ª ed. JusPODIVM, 2014.
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