Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Geométricas
Cleuber Eduardo do Nascimento Silva(Instituto Federal Fluminense)
cleuber.silva@iff.edu.br
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar ao leitor dois exemplos de aplicações do polinômio de
Lagrange em situações problema, como por exemplo, as desigualdades geométricas. A ideia surgiu
a partir de aulas ministradas, por um dos autores, visando a preparação de alunos para olimpı́adas
cientı́ficas de matemática. Considera-se que dispor dessa ferramenta na solução de problemas, torna
cada abordagem um importante meio pelo qual o leitor tem a oportunidade de se aprofundar no
tema.
1 Polinômio de Lagrange
A ideia de uma interpolação é aproximar uma função contı́nua por um polinômio. Assim, a partir de
uma quantidade finita de pontos conhecidos, pode-se definir polinômios interpoladores que passam por
estes. Considere dados, por exemplo, pontos (x0 , f (x0 )) e (x1 , f (x1 )), onde f (x0 ) = y0 e f (x1 ) = y1 ,
afirma-se que existe um polinômio de grau 1 que passa por esses pontos. De fato definindo:
x − x1
L0 (x) =
x0 − x1
e
x − x0
L1 (x) = ,
x1 − x0
cujo L0 (x) e L1 (x) são chamados de Polinômios Interpoladores. Assim definindo o polinômio:
P (x0 ) = y0
e
P (x1 ) = y1
Portanto temos que o polinômio P (x) passa de fato pelos pontos dados. Por isso, segue o teorema
abaixo:
Teorema 1 Se x0 , x1 , x2 , ..., xn são n + 1 pontos arbitrários de uma função contı́nua f (x), tais que:
f (x0 ) = y0
f (x1 ) = y1
...
1
f (xn ) = yn
Então existe um polinômio P (x) satisfazendo:
n n
X Y x − xj
P (x) = yi
i=0
xi − xj
i6=j
de grau no máximo n.
Vamos omitir ao leitor a prova desse teorema. No entanto, o mesmo poderá ser encontrado em [2].
2 Aplicações
Exemplo 1 Seja G o baricentro do ∆ABC de modo que as circunferências que passam pelos vértices de
∆GAB , ∆GBC e ∆GAC tem raios R1 , R2 e R3 respectivamente. Prove que:
R1 + R2 + R3 ≥ 3R,
em que R é o raio da circunferência circunscrita ao ∆ABC.
Solução.
Considere a figura abaixo:
Vamos a priori observar o polinômio de Lagrange dado que: x1 = a , x2 = b , x3 = c, todos não nulos,
podemos escrever:
2
(x − b)(x − c) (x − a)(x − c) (x − a)(x − b)
P (x) = f (a) + f (b) + f (c)
(a − b)(a − c) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b)
Tomando f (a) = 1, f (b) = 1 e f (c) = 1, temos:
P (x) ≡ 1, ∀x ∈ R
De fato, se existir um polinômio g(x) tal que:
g(x) = P (x) − 1,
tem grau 2.
Assim,
g(a) = g(b) = g(c) = 0
Portanto g(x) ≡ 0.
Nesse caso temos a seguinte identidade:
bc ac ab
+ + =1 (1)
(a − b)(a − c) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b)
Aplicando a desigualdade triangular nessa equação temos:
−−→
GB = b
−−→
GC = c
Assim temos:
−−→
AB = b − a
−→
AC = c − a
−−→
BC = c − b
Observe ainda que:
|a||b||b − a|
SAGB =
4R1
|a||c||c − a|
SAGC =
4R2
|b||c||b − c|
SBGC =
4R3
|b − a||b − c||a − c|
SABC =
4R
Substituindo na inequação 2, temos:
3
4R3 SBGC 4R2 SAGC 4R1 SAGB
+ + ≥1
4RSABC 4RS ABC 4RSABC
Como G é baricentro temos que:
1
SAGB = SAGC = SBGC = SABC
3
Portanto, segue
R1 + R2 + R3 ≥ 3R.
O exemplo 1, mostra o quão forte é o uso dessa ferramenta. O próximo exemplo ratifica essa afirmação.
Solução.
Considere a figura abaixo:
−−→
|BM | = |b|
−−→
|CM | = |c|
Precisamos provar que:
4
|a − b||a − c|senA
S=
2
|c − b||a − b|senB
S=
2
|c − b||a − c|senC
S=
2
Podemos escrever:
a3 b3 c3
P (0) = + + (3)
(a − b)(a − c) (b − c)(b − a) (c − a)(c − b)
De fato, observa-se primeiro que:
a b c
+ + =0 (4)
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b)
Multiplicando 4 respectivamente a, b, c e somando as três desigualdades temos:
a2 b2 c2
ab ac ab
+ + + + + +
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b) (a − c)(a − b)
bc ac bc
+ + + =0
(c − a)(c − b) (a − c)(a − b) (b − a)(b − c)
Portanto temos:
a2 b2 c2
ac bc ab
+ + − − − =0
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b) (a − b)(c − b) (c − a)(b − a) (a − c)(b − c)
Por 1 temos:
a2 b2 c2
+ + =1 (5)
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b)
Da mesma forma, multiplicando 5 por a, b, c temos:
a3 b3 c3 ab2 ac2 a2 b
+ + + + + +
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b) (a − c)(a − b)
bc2 a2 c b2 c
+ + + =a+b+c
(c − a)(c − b) (a − c)(a − b) (b − a)(b − c)
Portanto,
a3 b3 c3
+ + =a+b+c
(a − c)(a − b) (b − a)(b − c) (c − a)(c − b)
5
Logo temos de 3,
P (0) = a + b + c
Assim aplicando a desigualdade triangular em 3 temos que:
3 Referências
1. ANDREESCU, T.; FENG, Z.: Complex Numbers from A to Z. Boston, Besel, Berlim: Birkhauser,
2006.
2. ULISBOA - https://www.math.tecnico.ulisboa.pt/ calves/courses/interp/capiii11.html - acesso em:
12/08/2019.