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Capítulo 02
Capitulo 03
Capítulo 04
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 13
Malu escutou uma batida na porta e viu Maurício entrando.
Terminou de passar o batom, admirou-se frente ao espelho,
aprovando a escolha. Vestia um justo vestido de lã, cujo generoso
decote e uma fenda na coxa se destacavam. Saiu do quarto rumo
ao escritório, no piso inferior. Entrou no cômodo, viu Paola atrás da
mesa e o homem amarrado à sua frente.
— Uau, Sabichona! Você nunca me decepciona! – exclamou
Paola, percorrendo seu corpo com os olhos.
Malu sentiu cada músculo do corpo retesar. Não precisou
ver o rosto do homem amarrado, pois reconheceu a aliança do
marido, além da camisa e, principalmente, seu cheiro.
— O que é isso?
— Eu acho que isso é seu marido. Se não estou enganada,
é Murilo.
— O que você está fazendo?
— Estou me perguntando se consigo lhe fazer alguma
surpresa – respondeu, sorrindo e estendo a mão em sua direção. —
Vem aqui, linda.
Malu a olhou demoradamente, caminhou até detrás da
mesa, parando ao lado de Paola.
— Murilo não tem nada a ver com isso, Miriam, solta ele.
— Qual é, meu amor, você sabe que temos que tomar uma
decisão aqui. O que faremos com o Sabichão? – pegou uma arma
com o segurança.
— Para com isso, Miriam!
Malu, nervosa, deu a volta na mesa, indo em direção a
Murilo. Paola acenou para que seus seguranças não interferissem.
Tirou a venda dos olhos do homem, depois a mordaça e abraçou-o.
— Murilo! Oi, meu amor!
— Malu?! O que... Onde estamos, Malu? Por que estão
fazendo isso? – o homem, confuso e olhando para a esposa, não
parava de falar.
— Está tudo bem, ok?! Não fala nada e nem pergunta nada,
por favor! – pediu, tocando seu rosto. — Você está machucado?
— Não... Eu fui sequestrado, é isso?
— Você está bem. Só isso é importante – tranquilizou-o,
para depois se virar para Paola. — Solta ele Miriam, leva de volta
para São Paulo. Ele não tem nada a ver com isso.
— Ela não está linda, Sabichão? Esse cabelão, roupas
sofisticadas... Um mulherão! O que vamos fazer com ele, Malu? –
Paola, mantendo o sorriso no rosto, levantou, com a arma na mão.
— Nada! Você vai soltá-lo.
— O que está acontecendo aqui? Paola ou Miriam, Malu?
— Você falou seu nome pra ele? Que droga, Paola! Ele não
ficará de boca fechada se o pegarem! – perguntou Malu, incrédula.
— Ninguém vai pegá-lo. Resolveremos isso aqui.
— Não vamos resolver nada aqui, Paola. Você mandará ele
de volta e vamos esquecer isso!
— Não posso fazer isso e você sabe. Ele já viu coisas
demais.
— O que está acontecendo aqui? Quem são vocês? O que
está acontecendo, Malu?
— Manda ele embora, Paola. Murilo não pode falar nada do
que ele não sabe.
— Tira sua máscara, Malu, Deixa-me ver quem você é, de
verdade – pediu Paola, tocando seu rosto.
— Você acha que tudo não passou de um jogo, não é? –
perguntou Malu, tirando a mão do seu rosto. — Faz o que você
achar melhor, Paola. Me desculpa, meu bem. Eu sinto muito –
continuou, abaixando-se na frente de Murilo.
— O que você fez, Malu?
— Um julgamento errado, só isso. Eu te amo. Só confia no
que eu sinto por você – finalizou, beijando-o.
Paola olhou demoradamente para o casal à sua frente, com
os rostos colados, em silêncio. Devolveu a arma para o segurança e
acenou para que todos saíssem.
— Embarcaremos à meia-noite, Sabichona. Esteja pronta. E
faça uma mala com suas roupas de frio. O inverno já começou na
Europa – falou, saindo do escritório.
Malu nada respondeu, aguardou a saída de todos. Levantou
e procurou algo para cortar as cordas que prendiam o marido.
— O que está acontecendo aqui, Malu? – indagou Murilo,
acompanhando os movimentos da esposa. — Onde estamos? Que
lugar do sul?
— Não fala nada, Murilo.
Malu abriu as gavetas da mesa sem encontrar nada que
pudesse usar. Enxergou uma garrafa de uísque em um canto,
quebrou num móvel e cortou as cordas. Jogou o vidro de lado para
abraçar o marido, que já se levantava.
— Eu quero explicações, Malu. Se vou morrer aqui, hoje,
quero saber porquê e pelas mãos de quem.
— Aqui não, meu bem – respondeu, já se afastando para
pegar sua mão. — Vem comigo.
Malu saiu do escritório puxando a mão de Murilo, em
direção às escadas. Subiu rápida e entrou no quarto, trancando a
porta. O marido estava claramente perdido com tudo o que estava
acontecendo. Parou no meio do aposento, observando ao redor,
atentamente. Sorriu, discreta, ao constatar o óbvio: seu quarto
estava completamente grampeado.
— Que cabelo é esse, Malu? Isso você pode me responder?
— Gostou? Faz parte do meu novo visual – sorriu, ao se
virar para o marido.
— Você está diferente. Essas roupas... Nunca lhe vi assim.
Você está... sei lá, parecendo mulher de um mafioso. Faz parte do
seu disfarce? – baixou o tom de voz.
— Faz... Pode falar normal. Estamos seguros aqui.
— Você me disse que estava segura! Você mentiu pra mim.
— Estou segura, Murilo. Não se preocupe comigo.
— Você está infiltrada aqui para o governo, é isso?
— Isso, mas você não pode falar pra ninguém ou então me
coloca em risco, entendeu? Se Paola descobrir que contou pra
alguém, ela me mata.
— Vamos embora! Podemos fugir e pedir ajuda pra alguém
na estrada... Não sei. Podemos ir à polícia – chamou Murilo,
pegando suas mãos.
Malu suprimiu a vontade de rir da ideia do marido. Sabia que
ele era inocente, mas não a tal ponto.
— Não podemos. A casa está cercada de homens armados.
Não conta pra ninguém, Murilo. Se você for à polícia, colocará
minha segurança em risco. Eu terminarei meu trabalho, aí a
Segurança Nacional prende Paola e tudo voltará ao normal.
— E se você não conseguir?
— Conseguirei, não se preocupe. Pode demorar um tempo,
mas não faça nada.
— Você está transando com aquela mulher?
— Você sabe que nunca gostei de mulher, Murilo. Eu fui pra
cama ontem com ela, mas eu fingi que gostei. Nem cheguei a sentir
prazer com isso.
— Você transou com aquele homem também?
— Eu faço qualquer coisa para me manter viva. Eu preciso
ganhar a confiança deles.
— Você diverte quem eles quiserem? É isso? Você é o que?
Uma puta de luxo?
— Não fala desse jeito, Murilo, não você!
— Você é minha mulher e transa com um monte de gente,
você quer que eu fale o que?
— Eu sei que é difícil entender, mas foi o único meio que
encontrei para me infiltrar. Eles são muito perigosos, você viu, não
posso simplesmente falar que sou uma agente do governo e pedir
um cargo dentro da organização, entende?
— Eu não consigo entender, Malu! Por que você aceitou um
trabalho desses?!
— Esquece o que você viu e o que eu falei. Estamos juntos
agora, vamos aproveitar esse momento... – pediu Malu, abraçando-
o.
— Eu não consigo – respondeu Murilo, desviando-se da
mulher para sentar na beira da cama. — Agora você não consegue
sair mais, não é?
— Não. Eu não quero sair. Vou conseguir destaque dentro
da Agência de Inteligência. É o meu sonho, Murilo – ajoelhou-se na
sua frente, passando as mãos nas suas pernas. — Confia em mim.
Só você tem meu coração e isso é o mais importante.
Por alguns segundos, Murilo observou a esposa, inerte. De
maneira inesperada, puxou-a para um beijo, que foi totalmente
correspondido. Afastou-a carinhosamente, para fitar seus olhos.
Estava confuso.
— Não sei o que pensar nesse momento. Não sei quando
vou lhe ver de novo, nem se quando isso acontecer vai ter uns
quatro caras armados me sequestrando, não sei se vou conseguir
conviver com isso...
— Pensa com calma – pediu Malu, mordendo seu lábio
inferior. — Prometo que tudo vai se ajeitar – finalizou, descendo a
boca para o seu pescoço e, com as mãos, abrindo a camisa que ele
usava. Desceu a boca pelo seu peito e abriu a calça, para alcançar
o pênis.
Capítulo 14
Capítulo 15
Paola se afastou, mirou os olhos cinzentos que a encaravam
com desejo. Tirou os óculos e beijou os lábios rosados, deixando
uma mão deslizar pela coxa desnuda de Malu e, depois, pelo seu
bumbum. O corpo logo se encaixou no da morena e as bocas
continuavam em uma exploração intensa. Sugou a língua que ela
oferecia, suas mãos a apertavam contra seu corpo, aumentando
ainda mais seu desejo. Sabia que sucumbir seria uma estupidez.
Não precisava se machucar novamente, com sentimentos
desnecessários, ainda mais com uma mulher casada e que não
tinha certeza se queria sua cabeça ou não.
— O que foi? – perguntou Malu ao sentir Paola se
afastando, abruptamente.
Paola apenas balançou a cabeça, em sentido negativo,
saindo da cama. Ficou de costas para Malu, ajeitando a roupa e os
cabelos. Calçou os sapatos e saiu do quarto, acenando para um
segurança entrar, e seguiu para o quarto ocupado por Mateus.
— Algum problema, Paola? – quis entender o que estava
havendo, pois a chefe entrou sem nem ao menos bater na porta.
— Preciso de algumas garotas. Tem pino ai?
— Tenho. Quer falar sobre o que aconteceu? – pegou três
pinos e uma nota de dinheiro, entregando à morena.
— Entra em contato com Oliver. Certamente, ele sabe de
algum contato ou local seguro, onde eu possa me divertir –
continuou, ignorando a pergunta.
— É claro.
Mateus entendeu a recusa, pegou o telefone e ligou,
conforme a chefe queria. Anotou as informações que Oliver passou
e esperou a reação de Paola, que mantinha a cabeça erguida
depois de inalar a droga.
— Quer que eu vá buscar ou você vai até a casa?
— Arrume um hotel e leve duas garotas. Depois, venha me
buscar. Aliás, irei com você. Me deixa no hotel e busca as garotas.
— Ok, vou me trocar e já saímos – finalizou, vendo Paola se
abaixar cheirando mais cocaína. Mateus preferiu não comentar,
mas, em seu íntimo, sabia que a ideia de dividir a cama com a
agente não foi boa.
Malu se sentou na cama, aturdida, observando Paola sair
do quarto e o segurança entrar. Deixou o corpo cair nos lençóis,
respirando fundo, passando as mãos na cabeça. Levantou e foi para
o banheiro, se jogando em um banho morno, quase gelado. Até a
morena voltar, já estaria com o controle do corpo novamente.
Paola não retornou para o quarto no restante da noite. Malu
demorou a dormir e acabou sonhando com Paola tocando seu corpo
de maneira tão intensa que acordou excitada, optando bom um
banho relaxante, aproveitando para se masturbar e aliviar, um
pouco, todo o tesão reprimido. A mente, de forma perigosa aos seus
planos, se concentrou em Paola e na curiosidade, ou ciúme, acerca
de seu paradeiro.
O café da manhã estava sendo entregue quando finalmente
Paola retornou. Ao entrar no quarto, mirou a agente por alguns
segundos, antes de acenar para que o segurança saísse do quarto.
— Bom dia, Paola – cumprimentou Malu, sentindo o
perfume estranho e analisando as olheiras de uma noite em claro.
— Bom dia, Sabichona. Se quiser fazer turismo pela cidade,
fique à vontade. Esteja de volta às duas da tarde. Nosso encontro
com Pierre está marcado para as quatro.
— Certo – assentiu, observando Paola ir para o banheiro e
fechando a porta em seguida.
Malu tomou o café da manhã, sem pressa, em meio aos
seus pensamentos. Certa de estar no caminho correto, esperava ter
Paola apaixonada o quanto antes, para que pudesse chegar ao
sucesso almejado.
Paola saiu do banho meia hora depois, envolvida num
roupão. Aproximou-se da mesa do café e pegou o copo de suco que
Malu tomava, indo para a cama. A agente suspirou e providenciou
outro copo, sem deixar de prestar atenção aos movimentos de
Paola, que se preparava para dormir. Precisava neutralizar a
proteção que Paola estava criando ao seu redor.
Depois do café da manhã, Malu saiu para conhecer Dijon,
acompanhada por um segurança. Na portaria, perguntou aos
senhorios o que poderia fazer na cidade. Algumas recomendações
não eram viáveis, uma vez que não dispunha de tempo. Optou por
fazer o percurso da Coruja, encantada com as construções que via.
Da mesma forma como fora em Canela, lamentou não poder
fotografar e guardar aquele cenário em algum lugar, além das suas
lembranças. Seguiu para o Palácio de Belas Artes e se permitiu
desligar de tudo o que estava acontecendo, admirando as belas
obras de Monet e Rodin. Só se deu conta do horário quando o
segurança a chamou para ir embora.
De volta ao hotel, encontrou Paola ainda dormindo. Parou
na frente da cama, observando-a por longos minutos e foi para o
banheiro.
Paola abriu os olhos depois de ouvir Malu fechar a porta.
Passou a mão no cabelo, olhando para o teto, tentando não pensar
em nada. Malu saiu do banho enrolada em uma toalha e parou na
frente do armário, escolhendo uma roupa. A morena não conseguiu
se manter imóvel quando a toalha foi lançada ao chão.
— Achei que estava dormindo – falou Malu, ao escutar o
barulho de Paola. Virou-se para enxergar os olhos castanhos sobre
seu corpo.
— Não estou – disse secamente, tirando o edredom para se
levantar. Andou até um casaco, pegou um pino de cocaína e
derramou no tampo da mesa, fazendo as fileirinhas com o próprio
pino.
— O que está acontecendo, Paola? Fiz alguma coisa que
lhe desagradou para me tratar desse jeito?
— Não – Paola aspirou a droga.
— Olha pra mim, Paola. O que está acontecendo? – Malu se
aproximou.
— Para, Malu – repeliu o contato, inalando mais droga.
— Se isso for algum tipo de confusão, saiba que eu também
não sei o pensar...
— Pense que sairemos às quatro da tarde. Esteja
impecável.
Paola cortou o assunto, olhando Malu por poucos segundos.
Desviou-se, indo para o banheiro e fechando a porta, com estrondo.
Naquele momento, decidiu que iria eliminar aquele problema, assim
que retornasse ao Brasil.
A casa de Pierre ficava em um local afastado do centro de
Dijon. Malu não fazia ideia de qual direção tomaram, mas as
paisagens eram deslumbrantes. A propriedade ficava em uma área
arborizada, longe de qualquer vizinhança. Enquanto o carro se
aproximava, viu as construções de pedra, arremetendo à era
medieval. No centro, um pequeno palacete se destacava,
imponente. Daria a construção, por baixo, trezentos anos. Tinha a
nítida impressão que estava entrando em um cenário de Tolkien.
— Bem-vinda à minha casa, Paola e Luiza – cumprimentou
Pierre, aparecendo no hall, ao lado de Oliver. — Acabei de
perguntar por vocês.
— Aqui estamos. Meu ponto forte é a pontualidade! –
respondeu Paola, cortês, se adiantando para abraçá-lo.
— Isso é muito importante no nosso ramo de negócios. Eu
prezo a pontualidade como um grande atributo.
— Eu sei, por isso vamos nos entender muito bem –
finalizou, indo cumprimentar Oliver.
— Acredito que sim – pegou a mão de Malu. — Ah, que
bela jovem! Quem me dera ter trinta anos a menos.
— Galanteador desse jeito, certamente, esses trinta anos a
mais não são nada! – respondeu Malu, simpática.
— Deixo para Oliver. Meu coração já não aguenta essas
aventuras. Vamos entrar, por favor.
Paola trocou um olhar com Malu, para depois notar que
Oliver não parava de admirar a morena. Seguiu Pierre, para dentro
da exuberante propriedade, atenta à movimentação do lugar. Tudo
parecia calmo e silencioso, mas pode perceber uma tensão quase
palpável no ar.
Durante a hora seguinte, Paola conversou sobre o mercado
francês e sua inclusão nele. Oliver se sentou do outro lado da sala,
travando uma conversa animada com Malu. A concentração em
fechar negócio, aos poucos, foi se desviando para o casal. Mais
ainda quando Oliver se levantou e ofereceu a mão para Malu,
puxando-a para outro canto da sala, em frente a um grande vitral.
— Algum problema. Paola? – quis saber o anfitrião, notando
a desatenção da morena.
— Espero que não. Bom, não faço mudanças na minha
produção, não vou mexer na qualidade do meu produto para
diminuir preços.
Paola tentou se concentrar na negociação, mas acabou
desviando o olhar para Oliver e Malu, novamente.
— Entenda, confio na sua palavra de que estamos falando
de cem por cento de pureza, porém a Europa é um mercado mais
acessível que o brasileiro...
— Você conheceu meu pai, me conhece. Sabe que não vou
mexer em qualidade. Se quiser fazer seu produto render, não me
envolvo, é uma escolha sua – finalizou, séria.
— É claro – assentiu Pierre, observando Paola, que olhava
para Malu. — Vejamos, vamos fazer um teste. Creio que podemos
conversar com mais formalidade sobre negócios na próxima
semana. Um dos meus homens...
— Afaste seu filho de Maria Luiza.
— Desculpa, não entendi.
— Sim, você entendeu. Sou muito cuidadosa com meus
funcionários e não gosto de misturar as coisas. Podemos fechar
esse negócio quando quiser, mas, se na próxima vez seu filho
chegar perto de Maria Luiza, certamente teremos um grande
impasse.
— Isso é uma ameaça, Paola?
— Não, é um aviso. Espero um representante no Brasil, na
próxima semana – respondeu, ao se por de pé.
— Você está sendo impulsiva, Paola. Não é o estilo dos
Chernicchiaros.
— É o meu estilo. Obrigada pelo seu tempo, Pierre.
Após o cumprimento formal, Paola se dirigiu à saída, sem se
despedir de Oliver. Parou por um segundo para olhar, de soslaio,
percebendo Malu andando, apressada, até alcançá-la.
Malu seguiu para o carro, atrás de Paola, com um olhar
desconfiado para os seguranças de Pierre. Não tinha entendido
muito bem o que ocorrera, mas, obviamente, houve um atrito entre
os dois. Dentro do automóvel, Paola apenas trocou um longo olhar
com Mateus, que deu ombros. Pensou em perguntar o que
aconteceu, mas a postura de Paola indicava que o melhor era se
calar.
Paola desceu, apressada, na hospedaria, indo direto para o
quarto de Mateus. Antes de entrar, indicou um segurança para
seguir Malu até o quarto que ocupavam.
— O que foi aquilo, Paola? Ameaçar o filho de Pierre, no
território dele? Quer cometer suicídio? – perguntou Mateus, assim
que ficaram a sós.
— Entra em contato com Gustavo. Mandarei Malu para ele.
Quero que ele mande somente o corpo dela para a Abin.
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 20
Em Goiânia, Malu ainda ficou internada na UTI por mais oito
dias. Depois, foi transferida para um quarto, por mais seis dias.
Ansiava pela sua alta, supondo que quanto mais dias ficasse longe
de Paola, mais seria difícil encontrá-la. Após vinte e quatro dias,
entre emboscada, transferência e hospitais, finalmente, foi liberada.
Ao entrar na nova casa, num bairro classe média, a agente
não se sentia num lar, reparando, em cada detalhe, a ausência de
conforto e aconchego. A seu ver, tratava-se de um lugar frio.
Percebeu o desconforto em Murilo, que se sentia deslocado, fora de
seu ambiente. Entretanto, Malu pode perceber que havia algo
incomodando o marido, muito além da mudança de casa. Ao mesmo
tempo em que parecia tão carinhoso e atencioso, estava distante,
perdido em alguma preocupação que não quis compartilhar, muito
provavelmente por causa do seu quadro de saúde. Malu não quis
pressionar, preferia aguardar o momento que ele se sentiria a
vontade para expor o que lhe afligia.
— O que achou da casa? – perguntou Murilo, colocando a
mala em um canto.
— Fria. Não tem um toque familiar.
— Nós daremos o seu toque.
— Eu não quero ficar aqui. Essa não é a nossa casa, nossa
vida!
— Você não pode voltar para São Paulo enquanto Paola não
for presa. Você sabe que se ela descobrir que está viva, sem
dúvida, mandará alguém lhe matar.
— Ela já sabe que estou viva. Paola tem olhos em toda
parte. Se me quisesse morta, eu estaria morta.
— Ela quase conseguiu isso!
— Mas não fez. Ela não virá atrás de mim, de nós! – insistiu,
sentando no sofá. — Goiânia não tem nada pra nós. Não temos
amigos aqui, familiares.
— A Agência vai pegá-la. Quando isso acontecer,
voltaremos para casa.
— A Abin nunca vai prendê-la. Paola não comete erros.
— Você está torcendo por ela? Pra que se saia livre de
todos os crimes que cometeu? – indagou, atento a esposa.
— Você não conhece os crimes dela. Eu convivi com ela e
não sei a metade dos crimes que ela cometeu. Vou procurá-la,
Murilo. Terminarei esse trabalho! – respondeu Malu, sustentando
seu olhar.
— Você está brincando, não é? Como você vai voltar? Ela já
sabe que é da Agência, assim que lhe ver enfiará uma bala na sua
cabeça, para que não tenha chance de escapar de novo!
— Ela está apaixonada por mim. Meu trunfo é esse
sentimento que ela nutre por mim! Eu me tornei um peso morto
dentro da Abin. Não vou ficar me escondendo o resto da vida. Sei
que não está curtindo essa vida, eu também não estou. Não posso
fazer isso com a gente. Eu comecei tudo isso e vou terminar.
— Você não fará isso, Malu. Eu sempre lhe apoiei em todas
as decisões, mas eu jamais apoiarei isso. Você quase foi morta e,
por um milagre do destino, sobreviveu. Não vou permitir que passe
por isso de novo.
— Isso não é uma escolha sua, Murilo, eu sinto muito.
Terminarei meu trabalho, sim. Não posso lhe condenar a uma vida
em uma cidade que não gosta. Um emprego qualquer. Vou me
recuperar e irei atrás dela. Com o seu consentimento ou não.
— Você devia ser menos egoísta e pensar um pouco mais
em nós. Estamos casados há três anos e, nos últimos 24 meses,
não consegui passar mais de um mês com você, como um casal
normal. Primeiro a faculdade, ok. Totalmente compreensivo. Depois
o curso e agora isso? Essa missão suicida! Você está me
abandonando Malu, a mim e a nossa vida.
— Conversaremos sobre isso mais pra frente, Murilo. Por
enquanto, tenho que me recuperar bem. Não estragarei nossa vida.
Sua vida.
— Não sei qual é a percepção de vida que tem, mas a nossa
vida como casal já não existe há, pelo menos, oito meses.
Malu passou a mão na cabeça, vendo o marido se afastar
pelo corredor. Encostou-se ao sofá e deixou a mente vagar nos
acontecimentos dos últimos dias. Havia jurado que não ia fracassar
na sua primeira missão. Não permitiria que isso acontecesse.
Capítulo 21
Capítulo 22
— Como assim? Malu está ai? – perguntou Mateus,
sentindo o corpo gelar. — Impossível ela ter ficado durante tanto
tempo aí dentro e ninguém ter visto, Maurício! ... Vocês são todos
incompetentes! ... Vou arrumar minhas coisas e reservar o voo.
Devo chegar na parte da tarde, se conseguir um jato de última
hora... Vou arrumar isso – desligou o telefone.
Mateus esmurrou a parede, respirando fundo. Agora seria
mais complicado ainda atingir Malu, por conta de seu “ato heroico”.
Se o atirador não tivesse morrido, ele mesmo o mataria. Havia dado
a visão perfeita de Malu e o imbecil conseguiu errar o tiro. Precisava
pensar em como tiraria a agente do lado de Paola. Quanto mais
tempo juntas, mais a agente teria influência, ameaçando o posto
que ele ocupava. Percebeu que Malu seria um problema desde o
dia em que Paola demonstrou sua fraqueza por ela, na França.
Discou o número de Linda, pois precisava de carta branca para agir.
— Oi, Linda. Malu encontrou Paola... Maurício me ligou.
Pelo que me contou, ela ficou escondida na casa de Canela,
esperando o retorno de Paola. Estou indo pra lá agora, mas preciso
da sua autorização para agir. Paola não vai tirar ela da Organização,
pelo contrário, colocará Malu para cuidar da segurança... É claro
que é um desatino! Quanto tempo ela ficou junto com a Agência?!
Protegerei Paola, não se preocupe. Certo, te mantenho informada.
A chamada seguinte foi para reservar o voo e, com sorte,
conseguiu um para sair em uma hora. Foi até o quarto, trocou de
roupa e pegou a maleta que sempre carregava. Em pouco tempo
estaria no sul.
Capítulo 23
— Preciso me reunir com alguns deputados, amanhã –
anunciou Paola, depois de fazerem amor. Estavam na casa de
Goiânia. — Costumamos fazer essas reuniões no Cullinan. Preciso
que deixe um andar vago e limpo. Vamos nos encontrar às duas da
tarde.
— Cuidarei disso. Quero fazer uma geral nas casas noturnas
e playgrounds de lá, também. Tem muita gente do governo que usa
suas casas e alguma informação pode ser colhida num desses
encontros.
— Acho que tem que fazer uma faxina geral na
Organização. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e não
consigo enxergar onde pode ter um desvio, mesmo que pequeno.
— Eu faço isso. Sua mãe ainda está relutante com a ideia
de me ter cuidando da segurança?
— Ela está mais tranquila, agora. Expliquei pra ela duas
vezes os motivos e parece que, finalmente, aceitou. Mateus também
não será mais um problema.
— Vamos torcer para que não seja mesmo. Sairei pela
tarde, vou organizar as coisas da reunião. Sei que é relutante
quanto a isso, mas preciso de um telefone e um computador
pessoal.
— Eu já providenciei. Só estou esperando mudar as
configurações necessárias para lhe entregar. Todo nosso acesso e
ligações não podem ser rastreados. Depois de Brasília, pegamos as
coisas em São Paulo.
— Ok – concordou, se ajeitando nos seus braços. — Ainda
temos mais um tempinho. Que tal me ensinar aquela coisa com a
boca, mais uma vez? – pediu, rolando para cima da morena.
Capítulo 24
— Pra onde estamos indo, Paola? – inquiriu Mateus, assim
que entraram na aeronave.
— Para São Paulo. Sobre a reunião de hoje, quero que faça
um levantamento de cada um dos presentes e o que estão fazendo
de útil na Organização. Se for necessário, cobre isso de maneira
mais incisiva. Se não cooperarem, faça uma visita à família de cada
um.
— Certo, cuidarei disso amanhã. Vai me contar sobre o
vazamento do local da informação?
— Sim. Alguém ligou para o 190 e deixou um recado para a
Abin, entregando a reunião no Cullinan. Maria Luiza está em contato
com a Agência, conseguiu pegar a informação a tempo.
— Sabem quem passou a informação?
— A Agência não sabe. Foi uma denúncia anônima, feita
num orelhão, no centro de Goiânia.
— Não tem como identificar quem fez a denúncia?
— Eu sei quem fez e estou bem curiosa com isso – rebateu,
encostando-se à poltrona.
— Como você sabe? – investigou, sem demonstrar
preocupação.
— Explica pra ele, Sabichona – pediu Paola, ainda o
encarando.
— Pedi que a Agência me passasse o endereço do orelhão.
Lá, encontrei uma clínica com câmeras de segurança. Uma delas
captou uma boa imagem daquela esquina.
— Naquele dia, naquele orelhão, para quem você ligou,
Mateus? – perguntou Paola, séria.
— Pra ninguém, Paola, eu...
— Eu pedi a gravação da ligação, mais tarde me enviarão
por email. Posso ligar e apressar o envio. Preciso fazer isso? –
blefou Malu.
— Não – respondeu Mateus, rendido. — Jamais pisaria na
bola com você, Paola, só quero que abra os olhos! Está cometendo
um grande erro ao se colocar nas mãos da Malu!
— Deixa-me entender sua lógica – iniciou Paola, inclinando-
se para frente. — Você faz uma denúncia sobre o meu trabalho, pois
preciso ver que Malu vai me entregar para Agência. Só que Malu,
que me entregará para Agência, descobre sua denúncia a tempo e
evita que eu seja entregue para a Agência. Essa é a sua lógica?
— Eu sei que parece errado, agora, mas estou tentando
fazer você acordar de um erro que vai lhe custar muito caro no
futuro!
— Você já está comigo a tempo suficiente para saber que
um absurdo desse não passaria em branco. Não tomarei uma
atitude drástica porque levarei em consideração o tempo que
trabalha com a minha família. Você está cometendo uma sequência
de erros que me faz não lhe reconhecer, Mateus.
— É só preocupação, Paola. Serei mais cauteloso com
meus atos, daqui em diante – respondeu, com olhar fixo em Malu.
— Se você tentar prejudicar Malu de alguma forma, nossa
próxima conversa será um pouco mais séria. Não teremos mais
problemas, entendido?
— Sim.
— Ótimo. Estamos negociando uma fazenda no Tocantins,
para fazer um laboratório, Malu. Quero que veja a estrutura do lugar
e como montar a segurança de lá.
— Certo. Depois de São Paulo, posso ir pra lá. Antonieta vai
nos enviar Fabiola?
— Sim. Quero que cuide dela de uma maneira especial.
Vamos ver o que consegue fazer para conseguir informações.
— Eu cuido. Pode ficar tranquila.
— Quem é Fabiola? – perguntou Mateus, sem entender a
conversa.
— Uma agente do governo. A Abin tentou a inserção de
outra garota, depois que fui baleada.
— Outra?
— Outra, mas já será resolvido, em breve.
— Faça o seu melhor.
A resposta fria de Mateus deixava evidente seu
descontentamento. Mirava o horizonte, absorto em seus
pensamentos, calculando o quanto seu ato falho havia beneficiado a
agente. De fato, Paola começava a duvidar de sua capacidade de
gerenciar a segurança da Organização, delegando a Malu as
atribuições que sempre foram suas. Amaldiçoou, mais uma vez, a
mira do atirador, disposto a, caso fosse necessário, efetuar de
próprio punho os próximos disparos. Dessa vez, sem erro.
O avião pousou na capital de São Paulo às vinte e três
horas. Malu desceu, ao lado de Paola, alcançando o carro que já
estava à espera. Seguiram direto para o apartamento da morena.
Depois da refeição, foram para as casas noturnas, fazendo uma
verificação das contas, e, depois, visitaram um comprador. O dia já
estava amanhecendo quando retornaram ao apartamento.
Malu acordou no início da tarde, procurando Paola na cama
e no quarto, supondo que a morena já estava trabalhando. Tomou
um banho e, arrumada, desceu para procurá-la.
— Bom dia. Onde está Paola? – indagou a um dos
seguranças
— No escritório.
Malu agradeceu, passou pelo corredor e bateu na porta,
anunciando a entrada, mas sem esperar resposta. A morena estava
atrás da mesa, com a cabeça encostada na cadeira, coçando o
nariz.
— Bom dia, linda – cumprimentou, sorrindo.
Reparou, em cima da mesa, algumas fileiras de cocaína e a
cédula de cem reais. Inclinou-se para beijar a morena.
— Está tudo bem?
— Sim, só estou dando uma relaxada – respondeu,
enlaçando sua cintura.
— Por que não me acordou?
— Você estava em um sono profundo. Não quis lhe
incomodar.
— Deveria ter me acordado. O que faremos hoje? – Malu
sentou no colo de Paola.
— Fabiola está vindo. Deve chegar daqui uma hora, mais ou
menos.
— Marina. O nome dela é Marina.
— Sabe de mais coisas?
— Não, mas descobriremos juntas. Quero encontrar Murilo –
concluiu, sentindo Paola ficar tensa.
— Ainda tem seu maridinho lento... – revirou os olhos. — O
que você viu nele?
— Eu o amei, Paola. Foi um amor intenso, mas não é mais a
mesma coisa.
— O que aconteceu com esse amor?
— Eu te conheci. As coisas mudaram de ângulo.
— E o que pretende fazer?
— Vou colocar alguns pontos nos is.
— Ok. Me mantenha informada dos seus passos – finalizou,
dando um tapinha na perna de Malu para que ela se levantasse. A
ruiva permaneceu no mesmo lugar, encarando-a atentamente. — O
que foi?
— Tenho tudo o que quero com você. Não preciso de mais
ninguém. Só não posso deixar uma porta aberta, preciso tirar Murilo
da minha vida. Aliás, ele já não faz mais parte dela – respondeu,
acariciando seu rosto.
— Não faça nada no calor do momento. As coisas mudam
de uma hora para outra.
— Não estou fazendo “nada no calor do momento” ou talvez
esteja, não sei – virou-se para o segurança, dentro do escritório,
dispensando-o. —Não me deixa na cama sozinha – pediu, tirando a
saia, revelando o restante do body.
Paola sorriu, afastando a cadeira em poucos centímetros,
para admirar a mulher a sua frente. Percorreu visualmente o corpo
bem desenhado no body colado, as pernas bem torneadas,
finalizando no scarpin de salto alto. Esticou uma mão, puxando-a
para o seu colo novamente, encaixando o corpo da agente na sua
cintura.
Uma hora depois, Mateus bateu na porta, informando a
chegada de Fabiola. Arrumaram-se rapidamente e foram encontrar
a bela morena de olhos verdes na sala. Malu a observou
detalhadamente, tentando reconhecê-la, mas a garota era uma total
desconhecida. Certamente, era uma agente mais antiga, pois não
houve tempo de formar uma nova turma.
— Boa tarde, Fabiola – cumprimentou Malu, polida.
— Boa tarde – respondeu a garota, aparentemente tímida.
— Fabiola é seu nome, não é?
— Isso mesmo – concordou, olhando para Mateus, ao seu
lado, e os homens espalhados pela sala.
— Sabe meu nome, Fabiola? – inquiriu Paola, sorrindo, já
perto da garota.
— Sei. Paola. Ouvi sendo pronunciado pela Antonieta. Ela
me disse que você quer uma mulher para uma ocasião especial,
hoje.
— Exatamente. Conhece Maria Luiza?
— Só de vista, num dia que foi lá na casa. Tem um mês,
mais ou menos.
— E antes, quando ela ainda estava loira? No curso da Abin,
por exemplo.
— O que é Abin?
— Eu realmente já não tenho mais paciência para isso! –
suspirou Paola, abrindo os braços. — Você é linda, Marina, uma
pena. Serviria muito bem para uma casa de luxo na Holanda.
— O que... – começou a falar, olhar fixo em Malu.
— Eu sei quem você é – esclareceu Malu. — Eduardo me
passou suas informações. Quero saber qual era seu plano, como
pretendia chegar perto de Paola e tudo o que a Agência lhe passou
a respeito dela.
— Não sei do que estão falando...
Malu interrompeu a garota, dirigindo-se ao segurança:
— Faz uma revista nela e amarra. Preciso sair, volto mais
tarde. E, garota, facilite as coisas. Quando se experimenta alguns
níveis de dor, numa tortura simples, o corpo vai se acostumando,
principalmente com quem é treinado. Mas quando a dor é intensa e
de uma única vez, a mente fica meio dopada. É nessa hora que
você começa a falar. Precisamos passar por isso?
— Você está infiltrada no governo! É o contrário do que eles
pensam.
— Certo, você já entendeu. Vamos pular essa parte, então.
Primeira coisa. Qual seu nome completo?
— Marina Reis.
— De onde você é?
— Minas.
— Eu preciso de mais.
— Teófilo Otoni.
— Mais.
— Não vou lhe falar. Sei que vai me matar de qualquer jeito!
– respondeu, desafiadora.
— Você tem razão. Ligarei para Eduardo e pegarei as
informações. Amordacem-na.
Malu pegou o telefone que Paola oferecia e discou para a
Agência, sendo prontamente atendida por Eduardo.
— Agente Maria Luiza. Temos um problema com Marina.
Pedi que a trouxessem para São Paulo, para facilitar seu encontro
com Paola, mas o transporte sumiu. Vocês precisam identificar se
houve algum acidente na rodovia. Ela tem algum contato por aqui?
— Verei o que consigo. Com que propósito pediu para ela ir
até São Paulo? – inquiriu, tenso.
— Paola pediu uma terceira garota. Respondi que só
aceitava ela, que já tinha visto na casa de Antonieta. Ela disse a
Antonieta que era de Minas. Preciso ajudá-la sem comprometer sua
identidade.
— O que aconteceu com o local da reunião? Grampeamos
todo o andar, mas ela não apareceu.
— Não. Eu falei pra Paola da reunião e mudamos de lugar.
Preciso dar provas de que sou leal a ela.
— Podíamos ter provas para indiciá-la!
— E jamais saberiam onde pegá-la. Tenho certeza que não
teria valia alguma. O tempo está correndo, Eduardo. Se quiser que
eu salve a vida dessa agente, me diga onde posso encontrá-la,
antes de Paola.
— Ela mora em Volta Redonda. Os pais moram no São
João. Se ela conseguiu escapar, certamente irá para São João.
— Aconteceu algum acidente na Dutra?
— Não. O tráfego está normal.
— Descobrirei o que está acontecendo e lhe mantenho
informado. Obrigada.
Malu desligou o telefone e entregou para Paola, que a
apreciava com um meio sorriso. Percebeu que a colega deixava
uma lágrima escorrer pelo canto do olho.
— Agora é com a gente, Marina. O que a Agência lhe
passou da Organização?
— Você entregou Alonso, também. Por isso ninguém mais
teve notícias dele! Não toca na minha família!
— Tudo depende de você! – com evidente prazer, Malu
ordenou aos seguranças. — Busquem os pais dela, imediatamente!
Tragam aqui ainda hoje!
— Falarei tudo o que quiser saber. Deixe meus pais fora
disso.
— Sua vez, Paola – finalizou, saindo de perto.
— Já que concordou em nos ajudar, me diga, o que a
Agência tem contra mim? – Paola começou o interrogatório,
sentando no sofá.
Malu passou a meia hora seguinte escutando o relato de
Marina. A Agência, em resumo, pouco sabia sobre as atividades da
Organização. Paola obrigou Marina a responder várias vezes a
mesma pergunta, testando a confiabilidade das respostas, ao passo
que Mateus ensinou Malu a pesquisar elementos pessoais na
internet. Após conferir os dados coletados e cruzar com as
informações dadas por Marina, Malu encerrou o questionário,
deixando-a sob guarda de quatro seguranças. Reiniciaria depois de
um novo contato com Eduardo.
No início da noite, acompanhada por dois seguranças, Malu
se dirigiu ao seu antigo endereço, pois sabia que Murilo havia
retornado de Goiânia. Havia sido honesta com Paola ao falar que as
coisas no seu casamento mudaram, mas estava ansiosa para rever
o homem a quem jurara amor eterno no altar.
O carro parou na frente da casa que, naquele instante,
pouco lhe parecia familiar. Desceu, olhando a movimentação da
pacata rua, e acenou para uma vizinha parada no portão, cuja
expressão de surpresa era evidente. Destarte, Malu sequer deu
importância, pois, de fato, era uma pessoa completamente diferente
da que comprara aquela casa, anos atrás.
Entrou pela porta lateral, dando no quintal, com os
seguranças no seu encalço. O barulho de vozes indicava que Murilo
estava em casa, com visitas. Ajeitou o justo vestido e o cabelo,
antes de chegar ao quintal, deparando-se com cerca de dez
pessoas. Alguns dos amigos de Murilo lhe viram, mas não a
reconheceram. O marido estava na churrasqueira, ao lado de uma
velha amiga.
— Boa noite – anunciou alto, chamando a atenção de todos,
inclusive de Murilo.
— Malu! – exclamou surpreso. Ele parou por alguns
segundos, analisando-a. — Diferente. De novo.
— Ruiva! Não vai me dar um beijo?
— Claro! Você está linda. Parecendo uma atriz.
Malu percebeu o desconforto de Murilo ao lhe beijar, de
maneira breve e contida.
— Obrigada – agradeceu, correspondendo ao beijo. Virou-se
para a amiga que não via desde início de sua missão. — Jéssica,
quanto tempo! Quantos meses de gravidez?
— Quase seis meses – respondeu, trocando um rápido olhar
com Murilo. — Nossa! Você está linda! Toda sofisticada.
— Obrigada! A gravidez está lhe fazendo muito bem.
Pessoal, não interrompam a comemoração por mim. Vou roubar
Murilo por poucos minutos.
Malu mandou os seguranças ficarem no quintal e entrou
pela porta da cozinha, em direção à sala, com Murilo. Parou,
observando o marido, esperando que ele se manifestasse.
— Você voltou pra ela, não é?
— Voltei.
— Devia ter se dignado ao menos em se despedir.
— Você é o pai?
— O quê?
— Você é o pai do filho de Jéssica?
— Do que você está falando?
— Jessica estava solteira, seis meses atrás, e agora
aparece grávida. Você está desconfortável com minha presença, os
olhares que trocaram... Enfim, quando você ia me contar que, abre
aspas, fez um filho em uma amiga minha?
— Não tente mudar o foco, Malu! Você ficou fissurada nessa
mulher! Paola é seu mundo! – falou Murilo, irritado.
— Não repete o nome dela – pediu Malu, calmamente, sem
desviar o olhar. — Quando você ia me dizer que fez um filho na
Jéssica enquanto eu ainda estava no curso?
— Você acha que pode me cobrar alguma coisa? Eu te amo,
Malu, mas não consigo viver essa vida que quer! Eu nem lhe
reconheço mais! A cada dia você aparece de um jeito diferente,
deixando mais claro ainda que se tornou uma boneca de luxo para
uma criminosa!
Malu não respondeu, saiu da sala e retornou ao quintal.
— A reunião acabou – anunciou, secamente. — Se
certifiquem de que todos saíram – continuou, falando com os
seguranças. — Jéssica, venha comigo.
Na sala, encontrou Murilo estático, cuja veia latejando no
pescoço indicava o quanto estava tenso.
— Agora, vamos nos entender. Quando vocês iam me
contar que vão ter um filho?
— Olha só, Malu, você fugiu da casa, em Goiânia, me
deixou somente uma carta, insistindo que faz tudo isso para seu
destaque dentro da Agência, coisa que, sinceramente, duvido muito.
Você parece cada vez mais ligada nessa mulher, encantada com o
que ela pode lhe proporcionar! Só esse sapato deve ter custado um
mês do meu salário! Acha mesmo que consegue convencer alguém
de que “está fazendo o melhor pelo seu país”?
— Vocês já eram amantes antes de eu ir para o curso? –
quis saber, ignorando tudo que o marido falara.
— Eu não...
— Murilo, seja honesto comigo, não estou pedindo muito.
— Não – finalmente Jéssica se manifestou. — Pouco antes
de você voltar do curso, nos encontramos num churrasco na casa
de Pedro. Bebemos demais e acabou rolando.
— E depois disso?
— Nos vimos mais uma vez. Aí você voltou, mas viajou de
novo. Foi quando descobri que estava grávida.
— Pode ir, Jéssica. Meu assunto agora é com Murilo.
Malu ficou olhando a garota sair porta afora. Virou-se para o
homem parado à sua frente que a olhava desolado. Após a saída da
garota, Murilo tomou a palavra.
— Soube da gravidez duas semanas depois que você foi
fazer esse trabalho. Não foi planejado, não sinto nada por ela. Foi
atração física, só isso. Quem eu amo é você, mas você decidiu me
tirar da sua vida.
— Como você acha que ficaria nosso casamento depois que
eu voltasse do curso e fosse trabalhar em algum lugar por aqui
mesmo?
— Eu não sei. Passaria o resto da minha vida implorando
seu perdão. Eu errei Malu, não nego, só que você conseguiu elevar
o nível do conceito de erro a um patamar bem mais alto que o meu.
Ao contrário de você, não fiz nada de propósito.
— Um advogado entrará em contato com você para tratar do
divórcio. Boa sorte com sua família – informou, tomando a direção
da porta.
— É só isso que tem pra me dizer? Nada mais?
— Tem outra coisa. A partir de hoje, não faço mais parte da
sua vida. Tudo o que viu a respeito do meu trabalho, não fale a ser
algum! Simplesmente esqueça! É o melhor que pode fazer se quiser
ver seu filho crescer!
Murilo não esboçou reação alguma, percebendo o tom sério
da ameaça. Antes de atravessar a porta, viu um sorriso se desenhar
nos lábios de Malu, que parou ao lado de um segurança.
— Dê uma lição nele, mas não machuque muito. Faça de um
jeito que ele não esqueça. Espero no carro.
Capítulo 25
Paola terminou de fazer as fileiras de cocaína, conferindo,
pela milésima vez, o horário. Malu havia saído há duas horas e não
a contatou. Sabia que nada grave ocorrera, mas era inegável o
ciúme que sentia por conta do encontro de Malu com o marido.
Aspirou três fileiras de uma vez, erguendo a cabeça, abandonando
a cédula em cima da mesa. Pegou o copo de uísque, bebeu um
longo gole, sentindo o álcool rasgar sua garganta. Precisava se
ocupar para não pensar no que Malu fazia, naquele momento, com
Murilo.
No andar superior do apartamento, Fabiola ainda era
mantida amarrada, em cima da cama. Entrou, encontrando seus
seguranças vigiando. Parou no pé da cama, observando a morena
que a encarava, sem demonstrar nenhuma emoção.
— O que você estava pensando em fazer para chegar até
mim? – quis saber, sentando ao seu lado.
— Se for me matar, me mate logo. Não tem sentido me
manter aqui.
— Tem, sim! Mas deixarei isso com Maria Luiza. Ela vai
pegar todas as informações que queremos.
— E você confia nela? Uma agente do governo dentro da
sua Organização?!
— Confio. Ela está fazendo um trabalho excepcional.
— Na sua cama? – debochou. — Malu é uma das melhores
agentes da Abin. Uma inteligência acima do normal, aliada a uma
ambição fora do comum. Ela está lhe manipulando. Uma vez que
ela tiver tudo o que quer, vai lhe entregar de bandeja para a Abin.
Não é segredo pra ninguém que a maior vontade dela é atuar no
exterior. Ao lhe prender, terá passaporte livre para qualquer missão
dentro da Agência.
— E por que ela revelou seu disfarce, Marina?
— Porque ela não tem limites. Não importa por cima de
quem vai passar, desde que alcance os seus objetivos.
— Bela tentativa! Malu já sabe absolutamente tudo da
Organização. Nomes, lugares... Se ela quisesse, poderia acabar
tudo com apenas um telefonema.
— Ela vai. É só esperar um pouco.
— Que tal parar de falar de Malu? Nada do que disser vai
mudar minha opinião sobre ela. – sugeriu.
— E onde ela está? Com Murilo?
— Você conhece o maridinho lento?
— Não, mas eu sei que ela é casada. Sei que é louca por
ele e está lhe fazendo de trouxa, enquanto mantém o marido em
casa e vai pra cama com você, só para conseguir o que quer...
Marina não terminou de falar. O tapa desferido por Paola lhe
atingiu em cheio. Tombou para o lado, sentindo a mulher subir em
seu corpo, golpeando-a furiosamente. Aquele era o ponto onde
começou, de fato, a temer pela sua vida.
Capitulo 26
Capítulo 27
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Um ano depois
— Bom dia.
Dispensando a formalidade, o diretor da Abin se aproximou e
cumprimentou a linda morena, sentada em uma poltrona
— Não se levante! Desculpe a pressa com que tive que
buscá-la, mas é um assunto de extrema urgência. Conhece o nome
Chernicchiaro? — Não, senhor – respondeu a
morena, revelando uma leve ansiedade. — Paola
Chernicchiaro é uma poderosa traficante, atuante no Brasil e em
diversos países. Ela chefia uma Organização, fundada pela sua
família, há anos. Estão envolvidos com jogos, prostituição, extorsão,
além de vários outros crimes. Nessa pasta, temos algumas
informações sobre ela.
A agente permanecia calada, atenta às informações
passadas pelo diretor. Entregando-lhe a pasta, apontou:
— Essa morena é Maria Luiza Mendonça. Ela era agente da
Abin. Montamos uma operação e a infiltramos na Organização, dois
anos atrás. Contudo, Maria Luiza mudou de lado, se tornando braço
direito de Paola. Conseguimos essa foto ontem. O ex marido de
Maria Luiza viu as duas entrando em uma boate, em São Paulo, e
fotografou, fazendo a denúncia. A Organização se tornou
impenetrável com a chegada de Malu ao comando. Precisamos
encontrá-las.