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CURSO DE DIREITO
QUIXADÁ - CEARÁ
2017
Niely Martins de Sousa
QUIXADÁ - CEARÁ
2017
Niely Martins de Sousa
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Esp. Marcos Vinícius dos Santos Júnior
Orientador
______________________________________
Prof. Esp. José Ivan Calou de Araújo e Sá
Membro
______________________________________
Prof. Me. Sandro Luis Brito Novais
Membro
Dedico este trabalho a Deus e minha família,
que garantem a base primordial para alcançar
os meus objetivos: força. Dedico os
professores e coordenadores do Curso de
Direito da Unicatólica, com quem aprendi a
pensar, profissionalmente, sobre a arte do
direito.
AGRADECIMENTOS
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................09
2.1 CONCEITUAÇÃO.............................................................................................................11
2.1.1 Direitos Fundamentais e Direitos Humanos: confusão terminológica...................12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................49
ANEXOS
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1. INTRODUÇÃO
2.1 CONCEITUAÇÃO
A Constituição Brasileira de 1988 é, até o momento a que melhor acolhida faz aos
Direitos Humanos em geral. Tanto em termos da quantidade e da qualidade dos
direitos enumerados, como da concepção embutida no texto constitucional, a Carta
de 1988 é inovadora.
Nesse sentido, observa-se o quão importante é a Carta Magna de 1988 para a garantia
dos Direitos Fundamentais como se vê atualmente. No entanto, para contextualizar o leitor
acerca do conteúdo dos direitos fundamentais, faz-se importante analisar a evolução da
terminologia e história de como se deu a evolução dos referidos direitos, como se verá
posteriormente.
1
Embora muitos doutrinadores considerem direitos humanos e direitos fundamentais como expressões
sinônimas, outra parte dos autores entende que existem algumas diferenças entre elas como, por exemplo, em
relação à conceituação de cada uma.
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A expressão, direitos humanos, tem sido utilizada pelos autores para a identificação
dos direitos inerentes ao homem, considerados de forma universal, enquanto que, direitos
fundamentais referem-se a ordenamentos jurídicos positivados, que reconhecem os direitos
inerentes aos seres humanos, geralmente por uma constituição.
No mesmo sentido, o termo direitos fundamentais, deve ser considerado apenas após a
positivação, que ocorre no ordenamento jurídico de cada Estado, normalmente, através de
constituição, conforme salientado anteriormente.
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Os direitos que são essenciais ao ser humano, para a garantia de uma vida confortável
em sociedade, como dito anteriormente, são frutos de gradativa e constante evolução no
decorrer dos anos, que consistiram, basicamente, em lutas contra a opressão do Estado, que,
desde os primórdios da vida do homem em sociedade, demonstrou forte poder sobre o povo.
A compreensão do homem de que não seria possível uma vida digna e justa em
sociedade, impulsionou a essa constante busca por proteção dos direitos inerentes ao ser
humano ao longo dos anos. A partir dessa visão, foi possível vislumbrar a necessidade de
direitos que servissem como norte para o ordenamento jurídico, já que deveria proteger o bem
mais precioso, a vida, como forma de fazer perdurar uma sociedade justa ao longo dos anos.
Nesse sentido, por meio de mobilizações sociais, o ser humano cogitou a incorporação
desses direitos no ordenamento jurídico, que deveriam atender a função primordial da garantia
de uma vida digna em sociedade, e acompanhar as constantes mutações pelas quais as
necessidades do ser humano, como ser social, passavam ao longo dos anos.
Assim, pode-se concluir que o reconhecimento de direitos humanos e a positivação
dos direitos fundamentais só foram possíveis por meio da constante evolução histórica,
através de descobertas e lutas do homem por maior proteção e garantia de uma vida digna em
sociedade, sendo possível observar, que a luta pela limitação do poder político foi um dos
principais fatores para a evolução desses direitos (Comparato, 2003, p. 40).
Uma das primeiras limitações do poder do estado que se tem conhecimento, aconteceu
no século X a.C. quando foi instituído o reino de Israel. Rei Davi, que era o responsável por
aplicar a lei divina sobre o povo, auto denominou-se delegado de Deus, diferente do que
ocorria nas monarquias da época, nas quais os reis se declaravam deus e autoridade para
decidir nas situações em que fosse necessária a avaliação do que seria justo ou injusto
(Comparato, 2003, p. 40).
Seguindo a mesma toada, uma das primeiras manifestações no reconhecimento dos
direitos humanos aconteceu na Grécia Antiga, onde, posteriormente, foram efetivamente
positivados, quando surgiu a ideia do antropocentrismo, que colocou o ser humano como
centro de todas as reflexões filosóficas e políticas. Nessa época, estava perdendo espaço, a
explicação do mundo de forma mitológica, e passou-se a usar o homem como centro das
discussões (Martins, 2003, p. 21).
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naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião
dos que forem submetidos a condições indignas.
Importante contribuição na teoria se deu com os escritos de São Tomás de Aquino, que
ressaltou a necessidade da garantia de dignidade e igualdade entre os seres humanos, uma vez
que este foi criado à imagem e semelhança de Deus. Por fim, distinguiu quatro tipos de lei, a
lei eterna, a lei natural, a lei divina e a lei humana, sendo a última, oriunda da expressão de
vontade do detentor de poder político, o soberano, devendo estar nos limites da razoabilidade
e de acordo com a vontade de Deus (Magalhães, 2000, p. 18-19).
As características da Idade Média, como a descentralização política, a predominância
da Igreja Católica, com o clero, e a vida feudal, deixam de existir de forma progressiva, e a
sociedade evolui gradativamente à sociedade moderna, a qual trouxe consigo diversas
mudanças, como a criação da classe da burguesia, que eram diferentes dos senhores feudais, e
o surgimento do Estado Moderno, a centralização do poder político, fazendo com que os
direitos fossem garantidos a todos, de forma igual, dentro do mesmo reino.
Com a evolução da sociedade, começou a surgir a mundialização da cultura, trazendo
novas formas de pensar, de forma mais científica, não se pautando apenas na religião. Nessa
toada, vários documentos com regramentos que deveriam ser seguidos, e garantidos ao povo,
foram surgindo e se tornaram instrumentos importantíssimos para a construção dos direitos
como são na atualidade.
Na Inglaterra, o Petition of Rights, de 1628, foi um dos importantes documentos que
serviram como marco para a positivação das normas, no qual, reconhece, dentre outros
importantes direitos, o da proibição das detenções arbitrárias. Trouxe em seu bojo também, a
Lei de habeas corpus, de 1679 que protegia a liberdade de se locomover e foi como um norte
para todo o ordenamento jurídico mundial.
No entanto, mesmo com grandes avanços na garantia dos direitos do homem, nessa
época, os mesmos não podiam ser considerados universais, tendo em vista que não limitavam
a atuação do poder político do período, podendo ser revogadas, pois os direitos eram meras
concessões reais.
Dentre as revoluções movidas pela sociedade, em todo o mundo, e em diversas épocas,
foram de suma importância e é válido citar, as revoluções francesa, inglesa e americana que
reconheceram vários direitos da pessoa humana e tiveram grandes contribuições para
constituições do século em que ocorreram, XIX (Rubio, 1998, p. 82).
O Bill of Rights de 1689, reconheceu alguns direitos inerentes ao ser humano, como
por exemplo, o direito à liberdade, à segurança e à propriedade privada, que já haviam sido
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previstos em outros documentos, porém foram reconhecidos mais uma vez, devido a
constante violação por parte do poder público.
Em contrapartida, apesar de garantir tantos direitos importantes ao cidadão, trouxe
como imposição aos súditos do rei da Inglaterra, que seguissem a religião oficial estabelecida,
o que demonstra ofensa ao direito de liberdade de crença, reiterando o entendimento de que o
poder pode ser utilizado como forma de imposição da vontade de quem o detém.
Reforçando o que fora explicitado, Fabio Konder Comparato (2003, p. 92) afirma que:
A Revolução Inglesa apresenta, assim, um caráter contraditório no tocante as
liberdades públicas. Se, de um lado, foi estabelecida pela primeira vez no Estado
moderno a separação de poderes como garantia das liberdades civis, por outro lado
essa fórmula de organização estatal, no Bill of Rights, constituiu o instrumento
político de imposição, a todos os súditos do rei da Inglaterra, de uma religião oficial.
A efetividade é mais uma característica dos direitos fundamentais, uma vez que o
Estado e a Administração Pública devem buscar meios de efetivar esses direitos; a
limitabilidade, pois mesmo sendo inerentes ao homem e protegerem valores de grande
importância, os direitos não são absolutos, podendo sofrer proporcionalidade, sopesamento,
de acordo com os casos concretos em que estejam em conflito com outros direitos igualmente
importantes.
Por fim, a característica que será analisada mais profundamente no presente trabalho é
a vedação do retrocesso, tendo em vista que os direitos fundamentais não podem retroceder,
sendo diminuídos ou tendo seu aspecto protecional reduzido, após terem sido garantidos.
São direitos oponíveis, sobretudo, ao Poder Público, e marcam a nítida separação entre
o Estado e a sociedade. Tem caráter negativo, pois não exigem do Estado uma prestação, e
sim uma abstenção, tendo como titular o indivíduo.
Exemplos dos direitos de primeira dimensão são os direitos à vida, à liberdade, à
propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, entre outros.
Seguindo essa toada, é possível observar que os direitos de quarta dimensão são a
maior prova de que os direitos fundamentais devem, e acompanham a constante evolução
pelas quais passa a sociedade.
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Esses direitos seriam aqueles necessários à boa convivência entre os homens e a busca
pela paz tão almejada em tempos de instabilidade de relações. Conduzindo os direitos a todas
as formas físicas e plásticas, de modo a impedir a fixação de um estereótipo de beleza que
acaba por induzir a diversas formas de preconceito com raças ou padrões que são tidos como
inferiores ou fisicamente imperfeitos.
Para tanto, essa é a divisão doutrinária dos direitos fundamentais, que os dividem em
dimensões, conforme os direitos protegidos por cada dimensão, e retratam, de forma didática,
os direitos individuais, sociais e coletivos, demonstrando também o quanto a sociedade está
em constante evolução, e junto com ela, os direitos fundamentais sofrem mutações, em
constante evolução histórica.
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Nesse sentido, são aqueles direitos que têm por objetivo a garantia de condições
mínimas para uma vida com dignidade e igualdade aos indivíduos e por isso exige do Estado
uma prestação de ordem social. Assim, diferente dos direitos à liberdade, os direitos sociais se
realizam por meio de atuação estatal positiva visando a diminuição das desigualdades sociais.
Acerca da conceituação tida pela doutrina, André Ramos Tavares (2012, p. 837)
preleciona que são direitos “que exigem do Poder Público uma atuação positiva, uma forma
atuante do Estado na implementação da igualdade social dos hipossuficientes. São, por esse
exato motivo, conhecidos também como direitos de prestação, ou direitos prestacionais”.
O rol de direitos sociais elenca direitos essenciais à garantia de uma vida digna ao ser
humano em sociedade e dentre eles, se destacam os direitos que serão objetos de análise
posteriormente: os direitos à saúde e educação.
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Os direitos fundamentais não são ilimitados e podem sofrer restrições, somente após
autorização da Constituição Federal, por normas constitucionais ou infraconstitucionais. No
entanto, essa medida não pode ser utilizada pelo legislador para suprimir a essência do direito
fundamental, o seu mínimo existencial, principalmente aos que se referem a direitos sociais.
A essência do direito diz respeito às necessidades básicas do ser humano, aquelas de
suma importância à sua existência e bem estar, como os direitos à vida, saúde, educação,
segurança, dentre outros que asseguram o mínimo de dignidade ao cidadão.
O núcleo essencial, apesar de não ser previsto explicitamente na Constituição Federal
de 1988, é inserido no rol de cláusulas pétreas, que fixam limites materiais para a alteração da
Constituição. E, através de uma interpretação sistemática, tendo por base o princípio da
dignidade humana, os direitos sociais estão incluídos nesse rol do artigo 60, no parágrafo 4º.
Há, no entanto, divergências doutrinárias acerca da inserção desses direitos,
especificamente ao que é disposto no inciso IV, parágrafo 4º, do artigo 60 da Carta Magna de
1988, tendo em vista que o mesmo estabelece limitação material para alterações aos direitos e
garantias individuais.
Aqueles que defendem a interpretação restritiva e literal do dispositivo constitucional
entendem não estarem, os direitos sociais, elencados no rol. Por outro lado, de acordo com
uma interpretação extensiva, maior parte da doutrina entende que os direitos sociais integram
o rol de cláusulas pétreas, e Paulo Bonavides (2006, p. 641-642) assevera o que segue acerca
da temática:
A nova hermenêutica constitucional se desataria de seus vínculos com os
fundamentos e princípios do Estado democrático de Direito se os relegasse ao
território das chamadas normas-programáticas (...). Sem a concretização dos direitos
sociais não se poderá alcançar jamais ‘a Sociedade livre, justa e solidária’,
contemplada constitucionalmente como um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil (art. 3º) (...) Em obediência aos princípios
fundamentais que emergem do Título I da Lei Maior, faz-se mister, em boa doutrina,
interpretar a garantia dos direitos sociais como cláusula pétrea (...) Tanto a lei
ordinária como a emenda à Constituição que afetarem, abolirem ou suprimirem a
essência protetora dos direitos sociais (...) padecem irremediavelmente da eiva de
inconstitucionalidade.
caso dos direitos sociais significa dizer que a prestação deve ser assegurada e qualquer forma
de usurpá-la por via legislativa está suscetível de incidir em inconstitucionalidade.
Apesar de não haver na Constituição de 1988 meios explícitos da proteção do mínimo
existencial dos direitos fundamentais, entendimento jurisprudencial já sustenta a necessidade
de proteção com base na dignidade da pessoa humana e segurança jurídica, dentre outros
princípios, conforme parte do julgado da ADPF 45/DF, Rel. Ministro Celso de Mello,
Informativo/STF 345/2004:
[...] A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular,
pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo
ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que inclui,
além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de
existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo
existencial), estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos
públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá discutir, relativamente aos
recursos remanescentes, em que outros projetos se deverá investir. O mínimo
existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades orçamentárias,
é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível [...].
Nesse sentido, é possível discernir que os direitos sociais devem ser assegurados pelo
Estado, através de ações do Poder Público que viabilizem que os cidadãos tenham acesso a
esses direitos, bem como, que estes sejam protegidos, sem sofrer arbitrariedades legislativas,
tendo em vista serem essenciais para a garantia de uma vida digna.
Em suma, acerca dos aspectos dos direitos sociais que se fazem mais importantes para
o presente trabalho, vale salientar que, além da prestação positiva do Estado, este deve se
abster de suprimir o núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais, de forma a garantir o
mínimo de condições para uma vida digna e com igualdade ao ser humano.
O princípio não possui um simples conceito delimitado, e nesse sentido, como forma
didática de conceituação, assevera Ingo Sarlet (2009)2 que o princípio da proibição de
retrocesso social significa “toda e qualquer forma de proteção de direitos fundamentais em
face de medidas do poder público, com destaque para o legislador e o administrador, que
2
SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um direito
constitucional comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte,
ano 3, n. 11, jul./set. 2009.
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tenham por escopo a supressão ou mesmo restrição de direitos fundamentais (sejam eles
sociais, ou não)”.
Seguindo a mesma toada, é válido citar Luis Roberto Barroso (2007, Prefácio), que
preleciona acerca do conceito do princípio da vedação do retrocesso social:
Trata-se, em essência, de um limite à liberdade de conformação do legislador,
retirando-lhe a possibilidade de revogar total ou parcialmente determinadas leis
quando isso decorra da paralisação ou considerável esvaziamento da eficácia de
dispositivos constitucionais dependentes de regulamentação. (...) A vedação do
retrocesso operaria em um segundo momento, impedindo que, uma vez criada
norma regulamentadora, esta viesse a ser suprimida, devolvendo a ordem jurídica ao
vazio anterior, contrário à Constituição.
Nesse sentido, os direitos sociais não podem ser simplesmente restringidos por
medidas retrocessivas tomadas pelo Poder Público, salvo se estas vierem acompanhadas de
uma previsão que compense a diminuição e que mantenha o mesmo nível de proteção social.
No entanto, essa compensação não pode se fazer apenas com meras promessas, deve ser real e
específica. Jorge Miranda (2000, p. 397) aponta como princípio material dos direitos sociais o
“não retorno da concretização”. Além disso, defende que estes dependem de normas
infraconstitucionais para que sejam efetivados, sendo atuantes por meio dos chamados
direitos relativos às prestações.
Ademais, existe uma forte relação entre a proibição do retrocesso social e o princípio
da segurança jurídica, e no entendimento doutrinário de Ingo Wolfgang Sarlet (2007, p. 436-
437), é possível analisar que a Vedação do Retrocesso Social pode se apresentar como um dos
aspectos do Princípio da Segurança Jurídica, conforme segue:
A problemática da proibição de retrocesso guarda íntima relação com a noção de
segurança jurídica. (...) a idéia de segurança jurídica encontra-se umbilicalmente
vinculada também à própria noção de dignidade da pessoa humana. Com efeito, a
dignidade não restará suficientemente respeitada e protegida em todo o lugar onde as
pessoas estejam sendo atingidas por um tal nível de instabilidade jurídica que não
estejam mais em condições de, com um mínimo de segurança e tranqüilidade,
confiar nas instituições sociais e estatais (incluindo o Direito) e numa certa
estabilidade das suas próprias posições jurídicas.
3
SARLET, Ingo Wolfgang. Notas sobre a assim designada proibição de retrocesso social no constitucionalismo
Latino-americano. Rev. TST, Brasília, v. 75, n. 3, jul.-set. 2009.
30
Vale salientar, ainda, que os direitos sociais não são apenas normas programáticas, e
sim, com fundamento no princípio da vedação do retrocesso, são normas que concretizam
direitos fundamentais para a sociedade, não devendo ser encarados como obrigação moral, e
sim plenos direitos. O direito à proibição de retrocesso social consiste em uma importante
conquista civilizatória, como refere Dayse Coelho de Almeida (2007, p. 122):
O conteúdo impeditivo deste princípio torna possível brecar planos políticos que
enfraqueçam os direitos fundamentais. Funciona até mesmo como forma de
mensuração para o controle de inconstitucionalidade em abstrato, favorecendo e
fortalecendo o arcabouço de assistência social do Estado e as organizações
envolvidas no processo. [...] Em um país tão marcado pela desigualdade social como
o Brasil, os impactos do processo de globalização econômica e as matizes
neoliberais políticas fazem brotar no constitucionalismo contemporâneo a
necessidade de elaborar formas de proteger os direitos sociais, em especial os
trabalhistas, (aqui em especial acrescentaria também o direito a saúde) garantindo o
mínimo necessário à dignidade da vida.
Se os direitos civis e políticos devem ser assegurados de plano pelo Estado, sem
escusa ou demora – têm a chamada auto-aplicabilidade, os direitos sociais,
econômicos e culturais, por sua vez, nos termos em que estão concebidos pelo Pacto,
apresentam realização progressiva. [...] No entanto, cabe realçar que tanto os direitos
sociais, como os direitos civis e políticos demandam do Estado prestações positivas
e negativas, sendo equivocada e simplista a visão de que os direitos sociais só
demandariam prestações positivas.
Para tanto, ao passo que o princípio da proibição de retrocesso tem relação direta com
a proteção e a concretização dos direitos fundamentais sociais, tem estreita ligação, da mesma
forma, com o dever da progressiva prestação e evolução por parte do Estado.
legislador não pode ser considerado como poder de mera execução das decisões
constitucionais.
Além disso, assevera que a proibição do retrocesso, de forma absoluta, daria aos
direitos fundamentais e às prestações concretizadas, maior força do que a atribuída aos demais
direitos de defesa, já que poderiam ser restringidos pelo legislador. Vale ressaltar, que o
direito constitucional lusitano já consagrou a juridicidade reforçada dos direitos, liberdades e
garantias fundamentais.
De acordo com os ensinamentos de Jorge Pereira da Silva (2003, p. 281), a proibição
de retrocesso social, sendo relativa, não deve abrir margem ao questionamento acerca da
maior proteção dos direitos sociais em face das liberdades, tendo em vista que seria absurda a
consideração da vedação do retrocesso como absoluta, pois poderia gerar um efeito paradoxal:
o legislador dificilmente progrediria nas prestações sociais, com relevante receio de assumir
compromissos que, em tempos de instabilidade econômica, o Estado não pudesse honrar.
Em termos práticos, parte da doutrina defende que a proibição do retrocesso não deve
ser tida como uma regra geral de caráter absoluto, tendo em vista o risco de engessar a
atividade legislativa, o que iria prejudicar o próprio direito, como um todo. O princípio da
vedação do retrocesso deve ser tido como um princípio constitucional fundamental implícito,
que pode ser aplicado ao Estado de Direito, ao passo que protege e tem íntima relação com a
segurança jurídica, e ao princípio do Estado Social, quando tem o condão de proteger as
condições mínimas para o ser humano, normas de direitos fundamentais sociais.
Nesse mesmo contexto, vale ressaltar o que já fora explicitado acerca da proteção do
núcleo do direito, tendo em vista que, a legislação se limita a alterar a concretização dos
direitos até o seu núcleo essencial.
Porém, a vedação do retrocesso deve ser considerada relativa, na medida em que, pode
haver a substituição de legislações, com a proteção do núcleo essencial dos direitos, como
prevê Barroso (2003, p. 218 e SS):
A própria possibilidade de substituição, em determinados casos, da disciplina legal
por outra, ainda que referente ao núcleo essencial do direito social regulamentado,
aponta para a relatividade da proibição de retrocesso social, de tal maneira que a
modificação da disciplina infraconstitucional de um direito fundamental social pode
ocorrer, desde que preservado o nível de concretização legislativa já alcançado. Para
além do núcleo essencial, o princípio da proibição do retrocesso será perfeitamente
suscetível de ponderação com outras normas constitucionais, observado, para tanto,
o princípio da proporcionalidade.
O princípio da proibição do retrocesso social não poder ser visto como regra absoluta,
tendo em vista sua natureza principiológica, que demanda maior cuidado em sua aplicação,
devendo haver a relativização frente ao caso concreto. As situações que envolvam direitos
34
sociais, em que não está em discussão o seu núcleo essencial, merece ponderação de
princípios, sendo aceitável, em alguns casos, redução de conquistas sociais. Esse caráter
relativo do princípio é vislumbrado ao analisar a própria realidade, ao passo que deve se
adequar à realidade da sociedade na qual os direitos são inseridos, não podendo dissociar-se
desta.
Nesse sentido, a vedação do retrocesso não é absoluta, e é objeto de ponderação, salvo
nos casos em que a medida atente contra o núcleo essencial do direito. A própria Constituição
brasileira prevê em seu bojo, casos em que pode haver restrições de direitos, como é o caso do
estado de defesa ou de sítio, sendo situações extremas na qual há a relativização da vedação
do retrocesso enquanto dure a situação delicada do país.
Seguindo a mesma toada, não é aceitável, na realidade atual, que passa por diversas
modificações constantes, sociais e econômicas, que haja um princípio absoluto, que verse
sobre a absoluta inviabilidade de retrocesso em matéria de direitos sociais. Fazendo
importante ressaltar que o que deve prevalecer é o sopesamento entre o princípio que protege
os direitos sociais a ser atingido pelo retrocesso e o outro que protege o direito de retroceder,
para atingir a finalidade de chegar à solução mais adequada.
Apesar da relativização da vedação do retrocesso, é válida a ressalva de que nos casos
em que seja envolvido o núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais, o legislador não
pode, após a concretização de um direito social no plano da legislação infraconstitucional,
suprimi-lo, afetando o seu núcleo essencial concretizado. Sendo assim, deve ser observado se
o núcleo essencial do direito social está protegido.
O núcleo essencial do direito social está intimamente ligado ao princípio da dignidade
da pessoa humana, tendo em vista discorrerem sobre o conjunto de prestações indispensáveis
para uma vida digna, bem como com a noção do mínimo existencial, que se refere ao
conjunto de prestações que garantam ao indivíduo uma vida digna, saudável, transcendendo a
sobrevivência apenas física.
A dignidade da pessoa humana é o princípio máximo da ordem jurídica e social, e é
plenamente possível asseverar que as medidas e políticas públicas do Estado que se destinam
à garantia de uma vida digna não podem ser suprimidas ou reduzidas. Sendo assim, conclui-se
que em cada caso concreto, em que não estejam sendo confrontados os núcleos dos direitos
sociais, mas que verse sobre medida que venha a trazer retrocesso a outros direitos sociais,
merece maior atenção e ponderação de interesses, para se alcançar a solução mais adequada
que atinja a finalidade do princípio da dignidade da pessoa humana.
35
Para tanto, para que medidas retrocessivas, por parte do Poder Público, não violem o
princípio da vedação do retrocesso social, devem ter, além de uma justificativa com base
constitucional, proteger o núcleo essencial, em qualquer hipótese, dos direitos sociais,
principalmente naquilo que garante às prestações materiais indispensáveis para uma vida com
dignidade para todas as pessoas.
Concluindo, tendo o conhecimento de que a dignidade da pessoa humana e a noção de
mínimo existencial não são os únicos critérios a serem analisados para a aplicação do
princípio da vedação do retrocesso social, mas também são consideradas as noções de
segurança jurídica, que pressupõe a confiança na estabilidade de uma situação atual. Em
assim sendo, a partir do princípio da proteção da confiança, qualquer medida que venha a
interferir na concretização de direitos sociais deve gerar uma ponderação de valores entre a
agressão provocada pela medida que restringirá o direito e o objetivo do legislador, que deve
ser sempre justificado, sendo um dos pressupostos indispensáveis à legitimação do respectivo
procedimento do poder público.
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4
Despesas primárias são aquelas que o governo dispõe para executar suas políticas públicas, são os gastos com
saúde, educação, assistência social, cultura, defesa nacional, entre outras.
5
Variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, que leva em conta os dados para o período de doze meses encerrado em junho do
exercício anterior a que se refere a lei orçamentária.
37
O artigo 110 do ADCT dispõe, especificamente, sobre as limitações impostas aos gastos
com saúde e educação, nos seguintes termos:
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É possível auferir, a partir da análise do dispositivo legal, que esta é a única previsão
expressa, incluída ao ADCT através da EC 95/2016, que trata sobre as limitações das
despesas com os serviços públicos de saúde e educação, e no caso do último, apenas o que diz
respeito à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino.
Vale notar que não houve nenhuma previsão que revogue ou altere a determinação
constitucional de se observar limites mínimos em ações e serviços públicos de saúde e em
manutenção e desenvolvimento do ensino. Esses limites mínimos foram mantidos e serão
corrigidos, a partir de 2018, pela variação do IPCA, diferente do que ocorria antes da EC
95/2016, quando se pautava na variação da Receita Corrente Líquida.
Esses limites mínimos estão previstos no inciso I do § 2º do artigo 198 da Carta Magna
de 1988 que estabelece que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da
aplicação de percentuais calculados sobre: I – no caso da União, a receita corrente líquida do
respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento)”.
Já o artigo 212, do mesmo dispositivo, estabelece que “a União aplicará, anualmente,
nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”.
Nesse sentido, nota-se que a limitação prevista para as despesas com a concretização
dos serviços de saúde e educação se aplicam a partir do ano de 2018 e tem certas
peculiaridades.
O percentual de atualização será aplicado ao cálculo da despesa mínima, prevista
constitucionalmente, do exercício imediatamente anterior como explicitado anteriormente. A
peculiaridade que se observa é a de que, a atualização é feita sobre o valor das despesas
mínimas calculadas para o ano anterior. Ou seja, no ano de 2018, o limite das despesas com
saúde e educação corresponderá a esse valor mínimo calculado para o ano de 2017, acrescido
do percentual do IPCA.
39
6
Também não são passíveis de limitação, o programa de financiamento, FIES, e o financiamento através de
renúncia de receita, PROUNI, por serem despesas financeiras e não despesas primárias.
41
Os direitos que se encontram em conflito no presente caso, são aqueles que dizem
respeito à garantia da concretização dos serviços públicos de educação e saúde e a efetividade
dos demais direitos.
Como exaustivamente mencionado, o princípio da vedação do retrocesso deve ser
analisado a cada caso concreto, utilizando da proporcionalidade e ponderação para que seja
possível concluir qual direito deve prevalecer.
No caso em questão, foi promulgada Emenda à Constituição de n° 95/2016, que
instituiu o Novo Regime Fiscal, o qual estabelece limites às despesas primárias, pelos
próximos 20 anos, na esfera Federal, não atingindo estados e municípios, com previsão
expressa de limitação aos gastos em saúde e manutenção e desenvolvimento do ensino.
Os direitos à saúde e educação são direitos sociais, previstos na Constituição Federal
de 1988 e, à luz do princípio da vedação do retrocesso social, devem ter o núcleo essencial
protegido, por normas que sejam editadas, caso contrário, pode a norma, incidir em
inconstitucionalidade.
Por outro lado, a finalidade da Emenda é resguardar a garantia dos demais direitos que
dependem de investimento público, uma vez que, se as contas públicas continuassem com os
elevados gastos a cada exercício financeiro, a economia do país entraria em colapso e todos os
demais direitos seriam prejudicados.
Nesse sentido, ao utilizar da proporcionalidade no presente caso, é possível analisar
que o núcleo essencial dos direitos à saúde e educação é mantido, à medida que os limites
43
mínimos constitucionais são garantidos e que a atualização do limite das despesas acontecerá
a cada exercício financeiro, garantindo um progressivo aumento do valor.
Bem como, é previsto como exceção, os repasses aos estados e municípios, e a
inexistência de um teto específico para essas áreas possibilita que o Poder Executivo
empregue um valor superior para a concretização desses direitos, caso necessário,
equilibrando o restante das despesas que compõem a despesa total. Além do que, a Emenda
prevê limitação para apenas parte da despesa com educação, qual sejam a manutenção e
desenvolvimento do ensino.
Para tanto, com essa limitação, é previsto que se chegue a um equilíbrio entre receitas
e despesas, de forma a manter a dívida pública sob controle, adequando o gasto público
federal à capacidade do governo em custeá-lo.
Ainda que a ADI em comento não verse, especificamente, sobre saúde e educação, é
possível utilizar o voto do ministro como base para a análise de que a intenção do princípio da
vedação do retrocesso não é empregar à norma que concretizou os direitos, um patamar
hierárquico superior, o que não pode ocorrer, é o retrocesso na prestação dos direitos, sem o
estabelecimento de nenhuma contraprestação.
Nessa sequência, após ter sido expressamente utilizado na jurisprudência, a vedação
ao retrocesso demonstrou liberdade ao legislador, respeitando o mínimo existencial, de forma
a garantir que, mesmo retrocedendo na concretização de direitos, não esvazie seu núcleo
essencial, para que esteja em consonância aos ditames constitucionais.
Após essa primeira previsão expressa, na ADI 3105-DF, no ano de 2004, de relatoria
do Ministro Cezar Peluso, o Supremo Tribunal Federal analisou a constitucionalidade da
Emenda n° 41, que autorizou a instituição de contribuição previdenciária sobre os proventos
dos servidores inativos. O Ministro Celso de Mello votou pela inconstitucionalidade da
emenda, com base na vedação ao retrocesso, conforme segue:
(...) a cláusula que proíbe o retrocesso em matéria social traduz, no processo de sua
concretização, verdadeira dimensão negativa pertinente aos direitos sociais de
natureza prestacional, impedindo, em consequência, que os níveis de concretização
dessas prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos ou suprimidos.
Por sua vez, o Ministro Joaquim Barbosa votou pela improcedência da Ação Direta de
Inconstitucionalidade, sustentando que “o princípio dos direitos adquiridos, do mesmo modo
que outros princípios constitucionais admitem ponderação ou confrontação com outros
valores igualmente protegidos pela nossa Constituição”, e que se estaria “diante de princípios
constitucionais relativos, que admitem ponderação com outros princípios, desse confronto
podendo resultar o afastamento pontual de um deles”.
A ADI foi julgada improcedente, tendo sido declarada a constitucionalidade da
Emenda n° 41, através da proporcionalidade e ponderação, com a justificativa de que essa
instaurou regime previdencial nitidamente solidário e contributivo, mediante a previsão
explícita de tributação dos inativos, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro
e atuarial.
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Para tanto, o princípio da vedação do retrocesso deve ser analisado a cada caso
concreto, visto que não é absoluto e pode ser relativizado com base na proporcionalidade. No
caso apresentado, mesmo não tendo sido julgada a Ação Direta de Inconstitucionalidade, foi
possível analisar a semelhança com a emenda n° 95/2016, que restringe direitos sociais com a
finalidade de resguardar os demais direitos.
Em suma, o Supremo Tribunal Federal já levou o princípio da vedação do retrocesso
social à pauta, por diversas vezes, sendo o mesmo utilizado além de uma mera justificativa, se
utilizando da proporcionalidade e ponderação para avaliar a constitucionalidade de normas de
cunho retrocessivo.
É possível concluir, com a análise dos acórdãos mencionados, que no Brasil, a vedação
do retrocesso é exaustivamente invocada quando há risco de retrocesso na concretização dos
direitos, principalmente, direitos sociais. Além do que, o mesmo é encarado de forma relativa,
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tendo em vista que, ao avaliar os direitos que estão em conflito a cada caso concreto, pode
haver retrocessos pontuais, para que não restem prejudicados os demais direitos.
No caso em tela, a Emenda à Constituição n° 95/2016 estabelece um teto de despesas,
atualizado anualmente, com base no índice do IPCA. Essa limitação de gastos se aplica
apenas ao Governo Federal, não alcançando repasses aos estados e municípios. A grande
questão do presente trabalho se pauta na análise da constitucionalidade dessa emenda, tendo
em vista que estabelece, expressamente, os limites que serão aplicados aos gastos com saúde e
educação.
Ao expor as decisões exaradas em julgamentos de Ações diretas de
inconstitucionalidade, é possível auferir que o princípio à vedação do retrocesso é
amplamente explorado, nos casos em que direitos fundamentais são objeto de retrocesso.
Mesmo havendo abordagens diferentes acerca do princípio, vale ressaltar que um ponto é
denominador comum: o uso da proporcionalidade.
É nítida a aplicação do princípio e a análise de normas que versam sobre direitos
sociais, com base na ponderação e na consideração de que a vedação ao retrocesso não é
absoluta, com o risco de garantir maior efetividade ao direito social em detrimento de outros.
Nesse sentido, é possível o retrocesso pontual quando é visada a concretização de outros
direitos, como é o caso da Emenda n° 95/2016, que tem como finalidade o reequilíbrio das
contas, de forma a garantir a efetividade dos demais direitos.
Portanto, se fez necessária toda a análise conceitual dos direitos fundamentais, sua
esfera social de direitos, a previsão de proteção do núcleo essencial, de forma a ressaltar a
importância da proteção desses direitos das arbitrariedades legislativas. Bem como, analisar o
teor da emenda, à luz do Princípio da Vedação do Retrocesso Social e na jurisprudência, como
forma de analisar, através da proporcionalidade e ponderação, se o mínimo existencial dos
direitos à saúde e educação estava sendo assegurado, na forma dos ditames constitucionais,
para concluir acerca da constitucionalidade dessa norma.
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5. CONCLUSÃO
Vale ressaltar, que essas despesas não tem teto específico, são mencionadas pelo Novo
Regime Fiscal de forma a alterar o método de atualização das mesmas, que antes se dava
através da Receita Líquida e será feita a partir da variação do IPCA. Além do que, essas
despesas compõem a despesa total do Poder Executivo, não incidindo essa limitação de forma
absoluta, pois o Executivo, caso necessário, pode elevar os limites gastos com saúde e
manutenção e desenvolvimento do ensino, adequando as demais despesas primárias, de forma
que não seja ultrapassado o limite previsto pela Emenda.
Para tanto, analisei os direitos em conflito no presente caso, uma vez que a finalidade
da emenda é a proteção da efetividade dos demais direitos, tendo em vista que os altos gastos
sem limitação levariam a economia do país ao colapso, o que prejudicaria a efetividade dos
demais direitos.
Defendo, portanto, a constitucionalidade da Emenda à Constituição n° 95/2016, com
fundamento na proporcionalidade entre os direitos conflitantes, quais sejam: o direito à saúde
e educação e a efetividade dos demais direitos; uma vez que, o núcleo essencial dos direitos à
saúde e educação é protegido pela continuidade de investimento público na área, ou seja, não
há exclusão do direito, apenas restrição pontual para a garantia da efetivação dos demais
direitos; apresento fundamento no fato de não incidir na limitação, os repasses aos estados e
municípios, além do que, a limitação pode ser ultrapassada, caso necessário.
Entendo que, os gastos com os direitos sociais à saúde e educação serão
progressivamente elevados, na medida em que vão sendo atualizados, não permanecendo
engessados, de forma que pudesse prejudicar sua efetividade. Além do que, com a crise que
assola o país, decorrente de diversos fatores, a economia desenfreada tenderia a entrar em
colapso, prejudicando toda a concretização dos direitos previstos no ordenamento jurídico.
Portanto, a análise do dispositivo constitucional frente aos princípios e direitos
elencados, bem como, dos acórdãos da jurisprudência brasileira, no presente trabalho, me
fizeram concluir pela constitucionalidade da EC 95/2016, porém, se faz necessária a constante
análise, de cunho econômico, acerca dos valores que estão sendo aplicados pelos próximos 20
exercícios financeiros, bem como, a revisão se o índice é o mais adequado, no décimo
exercício de vigência, quando é facultado ao Presidente da República alterar o índice de
atualização.
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