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Direito
“O QUESTIONAMENTO DA
INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI MARIA DA
PENHA”
O questionamento da inconstitucionalidade da
Lei Maria da Penha.
Brasília - DF
2009
HILQUIAS NUNES SILVA
O questionamento da inconstitucionalidade da
Lei Maria da Penha.
Banca Examinadora:
______________________________
Presidente:
Universidade Católica de Brasília
_____________________________ ____________________________
Integrante: Prof. Integrante: Prof.
Universidade Católica de Brasília Universidade Católica de Brasília
Aos meus pais Maria Rita e Wanderval pela
confiança depositada, aos meus irmãos Calebe
e Rízia pela paciência, e à minha inesquecível
companheira Patrícia Mara pelo apoio
incondicional.
Aos meus colegas de curso e ao
orientador Márcio José de Magalhães
Almeida.
“[...]Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia
em que encontrares o direito em conflito com a
justiça, luta pela justiça”
Eduardo Couture.
RESUMO
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
8
INTRODUÇÃO
1.2 CONCEITUAÇÃO
Mesmo sendo a lei suprema do Estado, a Constituição não tem por finalidade
abarcar todos os assuntos de uma determinada sociedade e sim apenas estabelecer
a dinâmica do sistema deixando a cargo do legislador infraconstitucional se atentar
aos casos mais específicos.
Dessa mesma forma ensina o Ministro Gilmar Mendes, citando Konrad Hesse,
1
SILVA , José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2008,
p. 47 e 49.
2
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional.São Paulo:Saraiva 2008. p. 1003.
3
JOSÉ AFONSO DA SILVA, op.cit.
4
TAVARES, André Ramos. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo: Celso Bastos.
Disponível no site: <http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO>.
Acesso em 01 out. 2009.
12
5
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. São Paulo: Atlas, 2002. Disponível
no site:< http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO>.
Acesso em 01 out. 2009.
6
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva 2008. p. 1004.
7
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. S.l.
Almedina, 2006, p. 878.
13
(...) é certo que uma Constituição que, por não dispor de mecanismos de
anulação, tolera a subsistência de atos e, sobretudo, de leis com ela
incompatíveis, não passa de uma vontade despida de qualquer força
11
vinculante.
8
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007.p.690.
9
Ibidem.
10
TAVARES, André Ramos. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo: Celso Bastos.
Disponível no site:
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO Acessado em
01 out. 2009.
11
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva 2008. p.1003.
14
E ainda acrescenta o mesmo autor "A Constituição deve ter preservada sua
força ordenadora e deve ser efetivamente obedecida, gerando efeitos na realidade
social".13
Contudo, segundo André Ramos Tavares, é essencial que a noção de
constituição seja estabelecida para que se entenda a necessidade do controle de
constitucionalidade das demais normas do ordenamento a que se referem
Por isso, tais atos são presumidamente constitucionais até que, por meio de
fórmulas previstas constitucionalmente, se obtenha a declaração de
inconstitucionalidade e a retirada de eficácia daquele ato ou a concessão de
eficácia plena (no caso de inconstitucionalidade por omissão).
A idéia de controle está ligada, também, à de rigidez constitucional.
De fato, é nas Constituições rígidas que se verifica a superioridade da
norma magna em relação àquela produzida pelo órgão constituído. O
12
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991.
Disponível no site:
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO Acessado em
01 out. 2009.
13
Ibidem.
14
TAVARES, André Ramos. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo: Celso Bastos.
Disponível no site:
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO Acessado em
01 out. 2009.
15
15
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 15ª ed., 1999.
Disponível no site:
<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO> Acessado
em 01 out. 2009.
16
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Método 2007. p 166.
17
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva 2008. p.1011.
18
Ibidem.
19
MENDES,2008. P.1011 apud, José Joaquim Gomes Canotilho, Direito constitucional, cit., p.738.
16
O texto constitucional pátrio no seu art.1º inc. III deixou bem claro a grande
preocupação com os direitos dos cidadãos estabelecendo como princípio
fundamental a dignidade da pessoa humana.
20
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva 2008. p.1013.
21
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007.p.9.
22
Ibidem.
17
Tal princípio deixa transparecer que o Estado brasileiro deve ter como foco a
manutenção dos direitos dos cidadãos frente às atitudes do próprio Estado ou das
ações de outros cidadãos.
Assim leciona também Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino
23
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007. p.86.
24
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas 2003.
p.60.
25
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007.p.86.
26
BASTOS, Celso 1988, p.425 apud TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2006. p.501.
18
27
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007.p.87.
28
Ibidem. p.110.
29
Ibidem.
19
30
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus 2007.p.110.
31
MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:Saraiva 2008. p.257
32
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas 2003.
p.60.
33
Ibidem. p. 269.
34
Ibidem. p. 60.
20
35
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas 2003.
p.60.
36
FRANCO, Afonso Arinos de Mello. Curso de direito constitucional brasileiro. Rio de Janeiro:
Forense, 1958. p. 188.
21
O presente capítulo tem por objeto apresentar a Lei Maria da Penha, Lei nº.
11.340/2006, desde sua origem, em que condições foi gerada - como resposta à
evolução social e resposta também aos anseios de dias melhores para diversas
mulheres que sofriam dia após dia as mais variadas formas de violência, muitas
vezes agressões estas que eram respaldadas por lei. Agressões comumente
encontradas no seio social brasileiro, principalmente motivadas por fatores externos
que têm maculado as estruturas familiares, como por exemplo, o uso de bebidas
alcoólicas e de entorpecentes.
A nova mens legis, de forma clara e expressa, visa garantir a proteção de
apenas um segmento da sociedade, a mulher. Essa proteção especial da mulher
atende a uma política internacional contra a violência doméstica.
A edição da lei veio para o Estado buscar o alcance do previsto no artigo 226,
§8º, da Constituição da República, e cumprir com seus compromissos, assumidos no
cenário internacional de proteção dos direitos humanos, notadamente com a
ratificação da Convenção para a Erradicação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência contra a Mulher.
Até 2006 o Brasil não dispunha de legislação específica a respeito da
violência contra a mulher, então, aplicavam-se as disposições contidas na Lei no
9.099 de 1995, tratando as agressões às mulheres como crimes de menor potencial
ofensivo.
Essa disciplina também gerou algumas críticas, alegou-se que sua aplicação
geraria confronto com o princípio da isonomia, trazido pela Constituição Federal de
1988. A isonomia formal ou a isonomia material que deve ser garantida e observada
(interrogação)
Muito ainda se discute acerca de sua viabilidade e conformidade com o
ordenamento pátrio. Sua inaplicabilidade estaria mitigando a real finalidade e
essência social da norma.
22
A lei em tela possui múltiplos institutos, mas será analisada sob a ótica de sua
constitucionalidade, indo de encontro com os princípios constitucionais, ressaltando-
se a isonomia ou igualdade, fundamental para a verificação da validade ou eficácia,
e segurança ou certeza da aplicação da norma jurídica, numa visão técnico-jurídica
do assunto.
Portanto, faz-se importante elucidar o tema.
Todos esses dados darão condições ao leitor de compreender o papel que a
Lei Maria da Penha tem desempenhado na sociedade brasileira atual e ainda o
capacitará para entender o paralelo que existe entre este novo diploma e a
Constituição Federal e os seus respectivos direitos e garantias fundamentais.
2.2 IMPORTÂNCIA
37
Trajetória Da Luta Da Mulher. Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=2&url=http%3A%2F%2Fwww.icieg.cv%
2Fdownload.php%3F%26id%3D376&ei=u1SsSp_iHdeJtgfd_NWwCA&rct=j&q=Confer%C3%AAncia+
do+M%C3%A9xico+de+1974+mulher&usg=AFQjCNF5p41mJ4DKconF5yZcSzEDGiA2Lg.> Acessado
em 12 out. 2009.
23
38
FILHO, Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha, Comentários a Lei de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher. São Paulo: Mundo Jurídico, 2007. p. 21.
39
Trajetória Da Luta Da Mulher. Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=2&url=http%3A%2F%2Fwww.icieg.cv%
2Fdownload.php%3F%26id%3D376&ei=u1SsSp_iHdeJtgfd_NWwCA&rct=j&q=Confer%C3%AAncia+
do+M%C3%A9xico+de+1974+mulher&usg=AFQjCNF5p41mJ4DKconF5yZcSzEDGiA2Lg>. Acessado
em 12 out. 2009.
40
Ibidem.
41
Ibidem.
42
Ibidem.
24
43
Quebrando Silêncios, Construindo Mudanças. Disponível em:
<http://www.pagu.unicamp.br/files/colenc/ColEnc1/colenc.01.a11.pdf>. Acessado em 13 set. 2009.
44
Trajetória Da Luta Da Mulher. Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=2&url=http%3A%2F%2Fwww.icieg.cv%
2Fdownload.php%3F%26id%3D376&ei=u1SsSp_iHdeJtgfd_NWwCA&rct=j&q=Confer%C3%AAncia+
do+M%C3%A9xico+de+1974+mulher&usg=AFQjCNF5p41mJ4DKconF5yZcSzEDGiA2Lg>. Acessado
em 12 set. 2009.
45
Presidência da República. Constituição Federativa de 1988. Disponível no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. acessado em 12 set.
2009.
25
feminina - "em mulher não se bate nem com uma flor...". No entanto, a
46
violência contra a Mulher corria solta.
Tão verdadeira era a pouca preocupação com esse tipo de violência que não
existia nenhum tipo de pesquisa sobre o assunto até 1988, quando foi feita pelo
IBGE a primeira pesquisa com dados sobre vitimização, em âmbito nacional, a qual
representou, durante muito tempo, a única referência disponível para qualquer
estudante da violência, ao lado dos dados de mortalidade do Sistema de Saúde.47
A violência doméstica no Brasil até esse momento não era vista como um
aspecto de segurança, e sim de um problema social e cultural. Característica essa
que enfraquecia seu combate. 48
Essa pesquisa mostrou que 63% das vítimas de violência no espaço
doméstico eram mulheres e em mais de 70% dos casos, o agressor era seu próprio
marido ou companheiro. A veiculação desses dados foi fundamental, naquele
momento, para revelar uma outra dimensão da violência e para desmistificar a
49
imagem da família, como um nicho de paz e harmonia. Mesmo com todas suas
falhas, ou melhor, sua falta de especificação sobre o agressor, foi considerada
essencial para conscientizar a sociedade da violência doméstica.
O grande marco nessa conscientização foi a pesquisa em 2000, A Mulher
Brasileira nos Espaços Públicos e Privados, que tivemos novas informações
nacionais, com algum nível de complexidade, a respeito da vitimização feminina,
dentro e fora do ambiente familiar. Contudo, apesar de produzir dados mais
aprofundados, essa pesquisa propiciou uma visão apenas parcial da violência
doméstica, na medida em que contemplou somente a perspectiva das vítimas
femininas.50
46
Quebrando Silêncios, Construindo Mudanças. Disponível em:
<http://www.pagu.unicamp.br/files/colenc/ColEnc1/colenc.01.a11.pdf>. Acessado em 13 set. 2009,
47
IBGE. Participação político-social (subtema: Justiça e vitimização). Suplemento da PNAD
1988. Amostra: 81.628 domicílios.
48
SOARES, Bárbara Musumeci. A Violência Doméstica E As Pesquisas De Vitimização,
Disponível em <http://copodeleite.rits.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/noticias.shtml?x=691>.
Acessado em 23 set. 2009.
49
Ibidem.
50
A Mulher Brasileira nos Espaços Públicos e Privados. Disponível no site:
<http://www.google.com.br/#hl=pt-
BR&source=hp&q=A+Mulher+Brasileira+nos+Espa%C3%A7os+P%C3%BAblicos+e+Privados&btnG=
Pesquisa+Google&meta=&aq=f&oq=A+Mulher+Brasileira+nos+Espa%C3%A7os+P%C3%BAblicos+e
+Privados&fp=57687b67342fd1b9>. Acessado em 23 set. 2009.
26
A Lei Maria da Penha vem com uma natureza social, mesmo trazendo
inovações no campo penal, efetivar direitos básicos às mulheres e criar medidas de
assistência e de proteção, conforme seu próprio texto legal.
Esta lei surge com o intuito de diminuir os altos índices de violência doméstica
no Brasil, auferidos em 2006 números alarmantes como: a cada 16 segundos uma
mulher é agredida por seu companheiro e 70% das mulheres assassinadas foram
vítimas de seus próprios maridos, entre outros números alarmantes conforme quadro
a seguir:
- 33% da população feminina admite já ter sofrido algum tipo de violência doméstica;
- 80% das mulheres que residem nas capitais e 63% das que residem no interior reagem
51
BRASIL. Planalto. Lei 11.340/06. Disponível no site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acessado em 02 out. 2009.
52
Ibidem.
27
- 11% das mulheres foram vítimas de violência durante a gravidez e 38% delas receberam
socos e pontapés na barriga;
53
Sobre Números De Violência Doméstica. Disponível no site
<http://www.tudoagora.com.br/noticia/14280/Sobre-numero-de-denuncias-de-violencia-
domestica.html>. Acessado em 02 out. 2009.
54
Brasil É Campeão Da Violência Doméstica Num Ranking De 54 Países. Disponível no site
<http://www.actionaid.org.br/Portals/0/Releases/DireitoMulheres/Mulheres_2006.pdf>. Acessado em
02 out.2009.
55
Sobre Números De Violência Doméstica. Disponível no site
<http://www.tudoagora.com.br/noticia/14280/Sobre-numero-de-denuncias-de-violencia-
domestica.html> Acessado em 02 out. 2009.
56
Ibidem.
57
Ibidem.
28
o
Art. 7 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
59
FILHO. Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha Comentada. São Paulo: Mundo Jurídico,
2007, p. 46.
60
Ibidem.
30
fé; 12) limitação do direito de ir e vir e por último qualquer meio que gere prejuízo à
saúde psicológica.61
É de grande importância especificar o que seria essa violência, porque um
leitor inexperiente poderia achar que a lei estaria tratando de crimes como calúnia,
difamação e injúria. Esse crimes foram classificados em violência moral no inciso (v).
Apesar de alguns equívocos do legislador no uso de termo aditivo (e) quando
deveria ser usado um alternativo (ou) a Lei Maria da Penha62, nos incisos em
comento busca redirecionar a cultura brasileira no sentido que a mulher se
fundamente na referida lei para não se sujeitar mais a esses abusos, mesmo não
trazendo nenhuma novidade para o aspecto jurídico, já que essas violências já
deveriam ser reprimidas por irem de encontro a outras leis penais.
A Lei fixa como sujeito passivo a mulher em todo seu texto, mas o que cabe
destacar que esta não firma como sujeito ativo do crime apenas o homem, mas sim
o companheiro ou companheira agressor, amparando assim também as relações
homo afetivas, como pode se notar no seguinte artigo:
Deverá ser traçada uma política pública com participação de todos os entes
federativos, essa ordem, que parte dessa Lei, tem por objetivo demonstrar que o fim
da violência contra mulher deve ser alvo em comum de todos, pois o problema
também é nacional.64
As mudanças no âmbito penal possibilitam que agressores sejam presos em
flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada. Acabam as penas pecuniárias
em que os agressores eram condenados ao pagamento de multas ou cestas básicas
que normalmente não tinha nenhum peso punitivo, já que era revestido ao agressor,
pois a vítima da agressão não se separava.65
61
FILHO. Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha Comentada. São Paulo: Mundo Jurídico,
2007, p. 34.
62
Ibidem.
63
BRASIL. Planalto. Lei 11340/06. Disponível no site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acessado em 03 out. 2009.
64
Ibidem.
65
Lei Maria da Penha: das discussões à aprovação de uma proposta concreta de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível no site
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8764&p=1>. Acessado em 04 out. 2009.
31
A Lei Maria da Penha, em seu art.6°, coloca a violência contra a mulher como
uma forma de violação dos direitos humanos.
Sua intenção com isso é estabelecer como prioridade para o Estado o devido
combate à essa violência e dar mais seriedade ao assunto. Colocando no mesmo
patamar dos direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
66
Lei Maria da Penha: das discussões à aprovação de uma proposta concreta de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível no site
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8764&p=1>. Acessado em 04 out. 2009..
67
Ibidem.
68
Ibidem.
32
69
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 33.
70
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas 2003.
p.61.
71
DIAS, Maria Berenice. Manual Do Direito Das Famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais p.60.
72
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 34.
73
BRASIL. Planalto. Lei 11340/06. Disponível no site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acessado em 03 out. 2009.
33
Este capítulo tem por objetivo tratar a Lei Maria da Penha sobre o enfoque de
conformidade ou não com as regras estabelecidas na Constituição Federal,
especificamente apresentando ao leitor seus aspectos constitucionais e
inconstitucionais.
Também trará uma nova possibilidade de controle constitucional sobre a lei
em questão, Inconstitucionalidade Progressiva, figura esta do controle de
constitucionalidade que tem se caracterizado como meio termo entre a
constitucionalidade plena e inconstitucionalidade absoluta.
Por fim, vem expor os aspectos doutrinários que envolvem a presente Lei,
Assim como toda norma para vigorar em um sistema jurídico, a Lei Maria da
Penha deve ser colocada na balança constitucional para que seja verificada se está
em equilíbrio com a Carta Magna vigente de onde tira sua validade.
Utilizaremos como conceito de constituição o mesmo conceito utilizado por
José Afonso da Silva
Segundo Hans Kelsen a norma para ser válida deve se apoiar em uma norma
superior
Esse controle faz-se de extrema importância, pois este serve como filtro para
impedir abusos muitas vezes discriminatórios como o caso em foco, no qual se
questiona a possibilidade de se fazer diferença entre os sexos com o intuito de
tornar a diferença entre o gênero menor.
Entende assim também o mestre Zeno Veloso, que o controle de
constitucionalidade "serve também como barreira para os excessos, abusos e
74
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. p. 41. Disponível no site
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/612/A-Supremacia-da-Constituicao-e-o-Controle-de-
Constitucionalidade> acessado em 06 out.2009.
75
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. p. 246. Disponível no site
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/612/A-Supremacia-da-Constituicao-e-o-Controle-de-
Constitucionalidade> acessado em 06 out. 2009.
76
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. p. 969. Disponível no site
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/612/A-Supremacia-da-Constituicao-e-o-Controle-de-
Constitucionalidade> acessado em 06 out. 2009.
36
77
VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. p. 19. Disponível no site
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/612/A-Supremacia-da-Constituicao-e-o-Controle-de-
Constitucionalidade> acessado em 06 out.2009.
78
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 20.
79
Ibidem, p. 63.
37
(...) o respeito à igualdade está a exigir, portanto, uma lei específica que dê
proteção e dignidade às mulheres vítimas de violência doméstica. (...) Os
direitos à vida, à saúde e à integridade física das mulheres são violados
quando um membro da família tira vantagem de sua força física ou posição
de autoridade para infligir maus-tratos físicos, sexuais, morais e
83
psicológicos.
80
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 20.
81
Ibidem.
82
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006.
São Paulo: Método 2008. p. 65
83
Ibidem.
38
Além disso, há que se destacar que a própria Constituição traz como objetivo
fundamental da República, em seu artigo 3º, inciso IV
Logo, pode-se extrair desse dispositivo legal que válida será a exteriorização
estatal, por meio de legislações, quando a intenção for possibilitar a melhoria de
determinada classe sem, contudo, deixar outras em detrimento.
Conforme ensinamento de Silvia Pimentel e Flávia Piovensan a Lei Maria da
Penha efetivar essa melhoria evitando uma inconstitucionalidade pela sua ausência
84
BRASIL. Presidência da República. Constituição Federativa de 1988. Disponível no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acessado em 10/10/2009.
85
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas 2003.
p.34.
86
PIMENTEL, Silvia; PIOVESAN, Flávia. Lei Maria da Penha: inconstitucional não é a lei, mas a
ausência dela. Disponível no site:
39
<http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/noticias/ultimas_noticias/not_artigo_flavia
_silvia/view?searchterm=convenção%20interamericana%20para%20prevenir,%20punir%20e%20erra
dicar%20a%20violência%20contra%20a%20mulher>.Acesso em: 10/10/09.
87
PIMENTEL, Silvia; PIOVESAN, Flávia. Lei Maria da Penha: inconstitucional não é a lei, mas a
ausência dela. Disponível no site:
<http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/noticias/ultimas_noticias/not_artigo_flavia
_silvia/view?searchterm=convenção%20interamericana%20para%20prevenir,%20punir%20e%20erra
dicar%20a%20violência%20contra%20a%20mulher>.Acesso em: 15 out. 2008.
88
FILHO, Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha. São Paulo: Mundo Jurídico, 2007, p. 89.
40
I - aos tribunais:
91
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 65
89
FILHO, Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha. São Paulo: Mundo Jurídico, 2007, p. 89.
90
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método 2008. p. 70.
91
BRASIL. Presidência da República. Lei n° 11.340/2006. Disponível no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em 02 out. 2009.
41
92
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método2008. p. 71.
93
BERENICE DIAS, Maria. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da lei n° 11.340/2006
de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais,
p.57.
42
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.”
A natureza dessa norma é de eficácia plena - em alguns aspectos, e limitada
– em outros, senão vejamos:
Segundo Luiz Antônio de Sousa, essa diretriz
No que diz respeito à eficácia programada que deveria ser extensiva a todos
os membros que compõem a família e às suas respectivas relações, ainda
acrescenta o mesmo mestre que
Assim, a extensão traduzida pela LVM deve ser tida por constitucional e
atende não só o artigo 226 da Constituição Federal, mas também a todos os
94
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método2008. p. 73.
95
Ibidem.
96
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método2008. p. 74.
43
97
Ibidem.
98
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei 11.340/2006. São
Paulo: Método2008. p. 74.
99
Ibidem.
100
BERENICE DIAS, Maria. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da lei n° 11.340/2006
de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais,
p.57.
44
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição; (igualdade de gênero)
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei; (igualdade religiosa e de convicção filosófica)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; (igualdade jurisdicional)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: (igualdades trabalhistas)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de
critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios
de admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou
entre os profissionais respectivos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso.
101
BRASIL. Planalto. Constituição Federal. Disponível no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acessado em 15
out.2009.
45
Art. 1°: Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação
102
de violência doméstica e familiar.
Pois bem, da forma que a lei trata, parece só existirem vítimas de violência
doméstica apenas pessoas do sexo feminino, o que é uma inverdade. Toda lei,
como norma jurídica, deve buscar a generalidade e a abstração, alcançando a todos
que se encaixem em determinada conduta, principalmente no caso da referida lei
que possui características penais.
Noberto Bobbio leciona que as normas gerais
102
BRASIL. Presidência da República. Lei n° 11.340/2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em 15 out. 2009.
103
BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. 2ª ed., Bauru: Edipro, 2003. p. 180/181.
104
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 20ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997, 1 v. p 17/19.
105
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2004, v.1.p.32.
46
106
Igualdade Constitucional na Violência Doméstica. Disponível no site:
< http://www.apmp.com.br/juridico/santin/artigos/art_igualdade.htm >Acessado em 15 out.2009.
107
Ibidem.
47
Para que cesse tal conflito constitucional, deve-se mudar o termo “mulher” e
colocar qualquer termo que possa ter aplicação para ambos os gêneros ou ampliar a
interpretação de mulher para que alcance homem também, assim como é usada a
palavra homem que historicamente representa todos os gêneros.
O respeitável autor continua a esclarecer
E, por tudo isso, cabe ao legislador rever essa colocação para que seja
sanado esse vício constitucional.
Mais uma vez, a referida Lei causou polêmica ao dispor, em seu texto, sob a
inaplicabilidade da Lei 9.099/95.
Com isso, a mens legis proibiu toda e qualquer possibilidade de se aplicar ao
agressor, os benefícios trazidos por essa legislação, desde que sejam preenchidos
os requisitos objetivos previstos no art. 5º, incisos, I, II, e III da norma protetiva da
mulher. 110
Contudo, a Magna Carta trouxe em seu artigo 98, inciso I, a seguinte redação
108
Igualdade Constitucional na Violência Doméstica. Disponível no site:
< http://www.apmp.com.br/juridico/santin/artigos/art_igualdade.htm >Acessado em 15 out.2009.
109
Ibidem.
110
Art. 41 da L. 11340 - Inconstitucional. Disponível no site:
<http://promotordejustica.blogspot.com/2007/03/art-41-da-l-11340-inconstitucional.html> Acesso em
13 out. 2009.
48
Nesse patamar, surge mais um embate, agora com relação ao artigo 41 da lei
protetiva de mulher:
111
BRASIL. Planalto. Constituição Federal. Disponível no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acessado em 13
out.2009.
112
Art. 41 da L. 11340 - Inconstitucional. Disponível no site:
<http://promotordejustica.blogspot.com/2007/03/art-41-da-l-11340-inconstitucional.html>.Acesso em
13 out. 2009.
113
Ibidem.
49
114
MOREIRA, Rômulo de Andrade. A Lei Maria da Penha e suas inconstitucionalidades (II).
Disponível no site: <http://promotordejustica.blogspot.com/2007/03/art-41-da-l-11340-
inconstitucional.html>. Acesso em 13 out. 2009.
115
JOSÉ AFONSO DA SILVA, op.cit. p. 49.
50
116
CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de constitucionalidade das leis no Direito
Comparado. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2ª ed., 1999. Disponível no site:
<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUICAO> Acesso em
01 out. 2009.
117
PAULO, Vicente. A problemática da lei ainda constitucional (inconstitucionalidade
progressiva). Disponível no site <www.pontodosconcursos.com.br>. Acesso em 19.04.2009.
51
118
DALVI, Luciano. Curso de direito constitucional, 2007, cit. p.236.
119
PAULO, Vicente. A problemática da lei ainda constitucional (inconstitucionalidade
progressiva). Disponível no site <www.pontodosconcursos.com.br>. Acesso em 19.04.2009
120
ALMEIDA, Patrícia Donati de. STF reconhece a constitucionalidade da Resolução do TSE
sobre fidelidade partidária. Disponível no site
<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=2008111317314164>. Acesso em 20 set. 2009.
52
121
Supremo Tribunal Federal. Voto: Min. Moreira Alves, prazo em dobro para recurso concedido ás
Defensorias Públicas, § 5º do artigo 5º, Lei 1.060/1950. EMENTA.
122
Supremo Tribunal Federal. RE 147.776-8, Rel. Sepúlveda Pertence, Lex- JSTF, 238-390.
EMENTA.
53
123
ALMEIDA, Patrícia Donati de. STF reconhece a constitucionalidade da Resolução do TSE
sobre fidelidade partidária disponível em
<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=2008111317314164>. Acesso em 20 set. 2009.
124
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n°19. Relator:
Ministro Marco Aurélio. p. 1. Disponível em:
<http://www.stf.gov.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADCN&s1=19&processo=19>.
Acesso em:13 out. 2009.
125
BRASIL. Presidência da República. Lei n° 11.340/2006. Diário oficial da União, publicado em
08.08.2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em: 14 out. 2009.
54
126
BERNARDES, Juliano Taveira. Novas perspectivas do controle da omissão inconstitucional
no Direito brasileiro . Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 539, 28 dez. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6126>. Acesso em: 18 out. 2009.
55
CONCLUSÃO
homicídio por parte de seu marido que só foi condenado 19 anos depois das
agressões que te deixaram paraplégica, permanecendo apenas 2 anos preso e
depois respondendo em liberdade. Assim recorreu ao Comitê Latino Americano e do
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher recorrer a Comissão Interamericana
dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, o qual condenou o
governo brasileiro a pagar uma indenização e recomendou a uma reforma em nossa
legislação que acabasse com a impunidade por violência contra a mulher.
Depois da criação da Lei Maria da Penha, com esse nome para a
homenagear, aumentou a preocupação com a proteção dos direitos humanos
fundamentais, pois a referida lei só amparava às mulheres vítimas desse tipo de
violência, enquanto homens na mesma situação continuavam sem proteção.
Então mesmo criando uma lei com claro tratamento desigual na busca da
igualdade se permitiu dar as costas a uma minoria, os homens que apanham, e foi
levantado o questionamento de até onde vai o limite para se desrespeitar ou
flexibilizar o princípio da isonomia com leis com natureza de ações afirmativas.
Em seguida colocou-se a Lei Maria da Penha perante a Constituição para que
fosse finalmente enfrentado o caráter constitucional dessa lei.
Em um primeiro momento apresenta-se os aspectos constitucionais,
principalmente relacionados ao desrespeito ao princípio da isonomia entre os
gêneros, porém se contra argumenta que a aplicação cega da lei ou totalmente
formal apenas evidenciariam os abismos já existentes entre aqueles que se
encontram em posição desigual.
Procurou demonstrar que a referida lei só busca efetivar a isonomia material
marcada pela primazia da realidade e muitas vezes em “aparente conflito” com a
isonomia formal, tendo como argumento fundamental tratar os iguais de forma igual
e os desiguais na medida de sua desigualdade, conforme ensinamento aristotélico.
Depois foram apontados os aspectos inconstitucionais com argumento
principal na afirmação da clara inconstitucionalidade de uma norma
infraconstitucional estabelecer desigualdade, mesmo que na busca uma igualdade
real, se a própria Constituição já ordenava tal igualdade entre os gêneros.
Argumentou ainda que o legislador ao confeccionar a lei em questão foi infeliz
em alguns trechos, pois a criação dela aparenta ter sido muito mais com um caráter
meramente político do que com um fim técnico legislativo.
58
Pois como possui um caráter penal deveria tentar permanecer com requisitos
essenciais ao bom funcionamento desse tipo de norma, como a generalidade,
diverso daquilo que ocorre na Lei Maria da Penha que tomou uma postura de
singularidade, pois direciona os seus destinatários, que é típica das ações
afirmativas, marcadas por sua função social de utilizar a potencialidade de tratar de
forma diferente que só é permitida a norma fazê-lo.
Mas o que aumenta o debate é que diferente de outras normas como o
Estatuto do Idoso ou da Criança e do Adolescente o termo utilizado exclui um dos
gêneros, o que não acontece nos diplomas citados, que o coloca de total
desamparo.
Por causa desse embate, é apresentado por derradeiro uma forma
diferenciada de julgamento sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha que
será enfrentada na verificação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da Ação
Declaratória de Constitucionalidade n° 19/2007, conhecida como
Inconstitucionalidade Progressiva.
Esse nova forma de enquadramento à Constituição vigente, caracteriza-se
pela relativização da inconstitucionalidade, pois altera posição antes totalmente
radical de plena constitucionalidade ou inconstitucionalidade absoluta, hoje o STF
com uma postura social acaba por estabelecer que determinadas normas devem
permanecer vigentes, ainda que flagrantemente inconstitucionais, por causa da sua
importância social e reconhecendo que sua retirada do ordenamento causaria maior
dano do que sua permanecia em aparente conflito com o texto Constitucional.
E, por fim, apresenta a Inconstitucionalidade Progressiva que poderia ser a
solução para a uniformização interpretativa em todo o país sobre a
constitucionalidade da Lei Maria da Penha, mas por enquanto é só uma hipótese
que ficará em aberto até o julgamento da referida ADCON nº 19/2007.
Diante o exposto fica clara a necessidade de manter a Lei Maria da Penha em
plena vigência, porém é de fundamental importância que cesse o conflito existente,
no aspecto interpretativo nos juízos pátrios, por meio de um posicionamento do STF
que poderia, sem sombra de dúvida, considerar a presente Lei um caso de
Inconstitucionalidade Progressiva, hipótese utilizada para declarar
inconstitucionalidade sem declarar nulidade da norma.
59
REFERÊNCIAS
BASTOS, Celso 1988, p.425 apud TAVARES, André Ramos. Curso de direito
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Voto: Min. Moreira Alves, prazo em dobro para
recurso concedido às Defensorias Públicas, § 5º do artigo 5º, Lei 1.060/1950.
EMENTA.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2004, v.1.
60
______. Manual Do Direito Das Famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais.
FILHO. Altamiro de Araújo Lima. Lei Maria da Penha Comentada. São Paulo:
Mundo Jurídico, 2007.
<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1505/SUPREMACIA_DA_CONSTITUIC
AO>. Acessado em 01 out. 2009.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 20ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997,
v.1.
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. São Paulo:
Atlas 2003.
<http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/setembro/a-lei-maria-da-penha-e-suas-
inconstitucionalidades-ii >. Acesso em 13 out. 2009.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 2008.
SOUZA, Luiz Antônio de. Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei
11.340/2006. São Paulo: Método 2008.