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2.1 Introdução
1 FUX, Luiz; SANTANA, Irapuã. A construção de um Código de Processo Civil Cidadão. In: MIRZA, Flávio. Direito Processual: coleção 80 anos
da UERJ. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2015. p. 21-23.
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2 A constitucionalização do processo civil é um dos traços distintivos do CPC de 2015, que contou com a inluência marcante do Min. Luiz Fux em
suas comissões e debates. O Min. Fux é um dos líderes contemporâneos da escola carioca de processo civil, que tem na UERJ um forte reduto do
neoconstitucionalismo e da constitucionalização do direito. Há mais de 15 anos estudos que aproximam o Processo (e outros ramos do direito)
com Constituição têm sido sistematicamente produzidos no âmbito da pós-graduação. Exemplificativamente, cf. FUX, Luiz; NERY JR, Nelson;
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo e Constituição: estudos em homenagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006. FUX, Luiz. Processo constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2013. FUX, Luiz; FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno (Org.).
Repercussão geral da questão constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
3 Enunciado n. 460 do FPPC – Fórum Permanente de Processualistas Civis: “(arts. 927, §1º, 138) O microssistema de aplicação e formação dos precedentes
deverá respeitar as técnicas de ampliação do contraditório para amadurecimento da tese, como a realização de audiências públicas prévias e participação de
amicus curiae. (Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de competência)”
4 NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Precedentes no Novo CPC: é possível uma decisão correta? Publicado em 08 jul. 2015. Disponível em: <htp://
justiicando.com/2015/07/08/precedentesnonovocpcepossivelumadecisaocorreta>
5 ZANETI JR, Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 346.
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6 Nesse sentido, posiciona-se Luiz Guilherme Marinoni comentando o art. 926 do Capítulo I, do Título I do Livro III. In: DIDIER JR, Fredie. et al.
Breves comentários ao novo código de processo civil. Revista dos Tribunais, 2015.
7 Para uma contextualização mais ampla do sistema de precedentes do Brasil sob a inluência francesa e angloamericana, cf. MEDINA, José
Miguel Garcia; FREIRE, Alexandre; FREIRE, Alonso Reis. Para uma compreensão adequada do sistema de precedentes no projeto do novo
código de processo civil brasileiro. In: FUX, Luiz. et al (Orgs.). Novas tendências do processo civil. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 677 et seq.
8 Sobre a diferença entre Cortes de correição e Corte de precedentes, Cf. BRAVO-HURTADO, Pablo. Recursos ante las Cortes Supremas en el civil
law y en el common law: dos vías a la uniformidade. International Journal of Procedural Law, v. 2, p. 323-339, 2012.
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9 TARUFFO, Michele. Institutional factors inluencing precedents. In: MACMACORMICK, Neil; e SUMMERS, Robert S (Orgs.). Interpreting
precedents: a comparative study. London: Ashgate Publishing Company, 1997. p. 437 e ss.
10 ZANETI JR, Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: Editora Juspodivm, 2016. p. 290.
11 Ver voto do Min. Luís Roberto Barroso na STF, Rcl 4335, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 20.03.2014.
13 ALEXY, Robert. Precedent in Federal Republic of Germany. In: MACMACORMICK, Neil; SUMMERS, Robert S. (Orgs.). Interpreting precedents:
a comparative study. London: Ashgate Publishing Company, 1997. p. 17 et seq. Importante avanço nesse sentido tem sido desenvolvido ao
se incorporar a moderna teoria da argumentação para pensar os precedentes também de forma pós-positivista. Nessa linha, por ex., tem se
proposto que quando for possível citar um precedente se deve fazê-lo e para afastá-lo se tenha um ônus argumentativo maior. Cf. ALEXY,
Robert. Teoria da argumentação jurídica. São Paulo: Landy, 2001. p. 258 et seq. Entre nós Cf. BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do
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precedente judicial: a justiicação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 2 et seq. Para uma revisão crítica da teoria de
Robert Alexy, sugerindo uma revisão do código de razão prática, especialmente quanto aos aspectos institucionais e não institucionais de sua
argumentação, vale conferir o cap. 3. Cf. BUSTAMANTE, Thomas. Argumentação contra legem: a teoria dos discursos e a justiicação jurídico nos
casos mais difíceis. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 139 et seq.
14 STRECK, Lênio Luiz. Jurisdição, fundamentação e dever de coerência e integridade no novo CPC. Disponível em: <htp://www.conjur.com.br/2016
abr-23/observatorio-constitucional-jurisdicao-fundamentacao-dever-coerencia-integridade-cpc >.
15 §4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos
observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção, da
confiança e da isonomia.
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16 MEDINA, José Garcia; FREIRE, Alexandre; FREIRE, Alonso. Vivemos um sistema de stare (in)decisis na análise de ações repetitivas. Disponível em:
<htp://www.conjur.com.br/2012out17/vivemossistemastareindecisisanaliseacoesrepetitivas?imprimir=1>.
17 MACCORMICK, Neil. Retórica e estado de direito. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 204 e ss.
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18 SUNSTEIN, Cass. Legal reasoning and political conlict. New York: Oxford University Press, 1996. p. 71 et seq.
19 Conirase um excelente artigo sistematizando as três visões e reletindo a partir de decisões do direito brasileiro: MAUÉS, Antônio Moreira.
Jogando com os precedentes: regras, analogias, princípios. Revista Direito GV, n. 16, p. 597 et seq , 2012.
21 ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. São Paulo: Landy, 2001. p. 219 et seq.
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23 DWORKIN, Ronald. Law’s Empire. Cambrigde: Havard University Press, 1986, p. 225 e ss
24 Explicando as duas correntes sobre os precedentes, destacadas no pensamento de Dworkin, a corrente estrita e a corrente atenuada. Cf.
DANTAS, Bruno. Concretizar o princípio da segurança jurídica: uniformização e estabilidade da jurisprudência como alicerces do CPC
projetado. In: FUX, Luiz. et al (Orgs). Novas tendências do processo civil. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 123 et seq.
25 Conirase o capítulo 13 de DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 429 et seq.
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26 STRECK, Lênio Luiz. Novo CPC terá mecanismos para combater decisionismos e arbitrariedades? Disponível em: <htp://www.conjur.com.
br/2014-dez-18/senso-incomum-cpc-mecanismos-combater-decisionismos-arbitrariedades>.
27 STRECK, Lênio Luiz. Por que agora dá para apostar no projeto do novo CPC! Disponível em: <htp://www.conjur.com.br/2013out21/leniostreck
agora-apostar-projeto-cpc>.
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28 ZANETI JR, Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 366.
29 456. (art. 926) Uma das dimensões do dever de integridade consiste em os tribunais decidirem em conformidade com a unidade do ordenamento
jurídico. (Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de Competência).
30 457. (art. 926) Uma das dimensões do dever de integridade previsto no caput do art. 926 consiste na observância das técnicas de distinção e
superação dos precedentes, sempre que necessário para adequar esse entendimento à interpretação contemporânea do ordenamento jurídico.
(Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de competência)
31 NERY JR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Comentários ao código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 1156 et seq.
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O art. 926, §2º determina que para editar súmulas, o que inclui
tanto a de jurisprudência dominante, quanto a vinculante, os tribunais
devem atentar para as circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.
Em primeiro lugar, súmulas não são precedentes. No máximo,
as súmulas podem ser enxergadas como uma tentativa de extrair a ratio
decidendi, na mesma linha Luiz Guilherme Marinoni. Não existe um
conceito homogêneo de ratio decidendi. No clássico estudo de Arthur
Goodhart, há mais de dez deinições. Simpliicando e resumindo o tema,
é possível estabelecer três eixos: (i) a norma extraída do caso concreto
e que vincula os tribunais inferiores, seja como condição necessária,
seja como condição suiciente para resolver o caso; (ii) norma jurídica
contextualizada para os fatos aos quais a norma será aplicada;32 e (iii)
elemento essencial que consubstancia a argumentação da decisão
judicial para concretizar a ponderação entre regras e princípios.33
Há diversos conceitos e inúmeras teorias explicativas, como vimos
anteriormente. Em nenhuma delas, a súmula pode ser compreendida
diretamente como precedente, ignorando a sua relação com os casos
de origem, os fatos ou as ponderações efetuadas.
Na clássica e sempre atual lição do Min. Victor Nunes Leal,
súmulas são métodos de trabalho. Aliás foram criadas pelo Ministro,
sob inspiração nos assentos da Casa de Suplicação, a partir de suas
anotações em seu caderninho preto, como uma forma de evitar decisões
contraditórias no STF. Essa inovação institucional constituiu uma
importante estratégia para ampliar o respeito da Corte às suas próprias
decisões. O Min. Victor Nunes Leal, consciente ou inconscientemente,
talvez tenha sido um dos primeiros a se preocupar com a dimensão
horizontal dos precedentes no Brasil. Não é exagero dizer que na
ditadura o STF poderia ser descrito como a “Corte” Victor Nunes Leal
32 Uma importante referência no tema é o artigo de Arthur L. Goohart que considera a ratio decidendi não como o princípio em si ou as razões ali
presente, mas sim como os princípios extraídos do caso baseado em fatos e as decisões extraídas dele. Cf. GOODHART, Arthur L. Determining
the ratio decidendi of a case. The Yale Law Journal, v. 40, n. 2, p. 161-183, 1930.
33 Essa dimensão argumentativa da ratio decidendi nem sempre é evidenciada pelos autores brasileiros que a reduzem à uma concepção
normativista. Sobre o ponto, vale a pena conferir a teoria do precedente proposta que leva em conta a complexidade de incorporar fatores
empíricos, racionalidade prática e razões de autoridade para compreensão dos graus de vinculação ao precedente e a sua ratio decidendi. Cf.
BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do Precedente judicial: a justiicação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012.
p. 262 et seq.
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34 LEGALE, Siddharta; BARACHO, Eric. As cortes Victor Nunes Leal, Moreira Alves e Gilmar Mendes. Revista Direito GV, v. 9, 2013.
35 ZANETI JR, Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 351.
36 NERY JR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Comentários ao código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 1156 et seq.
37 NERY JR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p:
“Somente no caso da súmula vinculante, o STF tem competência constitucional para estabelecer preceitos de caráter geral. Como se trata de
situação excepcional – Poder Judiciário a exercer função típica do Poder Legislativo – a autorização deve estar expressa no texto constitucional
e, ademais, se interpreta restritivamente, como todo preceito de exceção. Observar decisão: a) em RE e REsp repetitivos, b) em incidente de
assunção de competência, c) em incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), d) entendimento constante da súmula simples do
STF em matéria constitucional, e) entendimento constante da súmula do STJ em matéria infraconstitucional (rectius: federal) e f) do órgão
especial ou do plenário do tribunal a que estejam vinculados os juízes signiica que esses preceitos vinculam juízes e tribunais, vinculação essa
de inconstitucionalidade lagrante. O objetivo almejado pelo CPC 927 necessita ser autorizado pela CF. Como não houve modiicação na CF
para propiciar ao Judiciário legislar, como não se obedeceu ao devido processo, não se pode airmar a legitimidade desse instituto previsto
no texto comentado. Existem alguns projetos de emenda constitucional em tramitação no Congresso Nacional com o objetivo de instituírem
súmula vinculante no âmbito do STJ, bem como para adotar-se a súmula impeditiva de recurso (PEC 358/05), ainda sem votação no parlamento.
Portanto, saber que é necessário alterar-se a Constituição para criar-se decisão vinculante todos sabem. Optou-se, aqui, pelo caminho mais fácil,
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mas inconstitucional. Não se resolve problema de falta de integração da jurisprudência, de gigantismo da litigiosidade com atropelo do due
process of law. Mudanças são necessárias, mas devem constar de reforma constitucional que conira ao Poder Judiciário poder para legislar nessa
magnitude que o CPC, sem cerimônia, quer lhe conceder.”
38 ZANETI JR, Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 367 et seq.
39 Realizando um balanço crítico da importação dos institutos da common law, como o leading case ao stare decisis, Cf. MEDINA, José Miguel Garcia.
Novo código de processo civil comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, livro eletrônico, comentários ao art. 926.
40 Sobre a diferença entre Cortes de correição e Corte de precedentes, Cf. BRAVO-HURTADO, Pablo. Recursos ante las Cortes Supremas en el civil
law y en el common law: dos vías a la uniformidade. International Journal of Procedural Law, v. 2, p. 323-339, 2012.
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41 A expressão pertence a CORTES, Osmar Mendes Paixão. A repercussão geral como instrumento de racionalização da prestação jurisdicional
no contexto da crise da recorribilidade extraordinária. In: FUX, Luiz; FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno (Coord). Repercussão geral da questão
constitucional.Rio de Janeiro Forense, 2014. p. 456 et seq.
42 VIEIRA, Oscar Vilhena. Que reforma? Estudos avançados, v. 18, n. 51, p. 202, 2004.
43 LEGALE, Siddharta. Recurso Extraordinário com repercussão geral como metadecisão. Disponível em: <htp://jota.uol.com.br/orecurso
extraordinariocomrepercussaogeralcomometadecisao#_edn18 >.
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44 A classiicação parece ter sido adaptada e aclimatada à realidade brasileira a partir do pensamento de determinados autores estrangeiros
que consideram as experiências de seus países com os precedentes. Em geral, os autores que perilham essa classiicação inspiramse em:
SUMMERS, Robert. Precedent in the United States (New York State). In: MACMACORMICK, Neil; SUMMERS, Robert S. (Orgs.) Interpreting
precedents: a comparative study. London: Ashgate Publishing Company, 1997. p. 368 e PECZENIK, Aleksander. The binding for of precedent.
In: MACMACORMICK, Neil; SUMMERS, Robert S. (Orgs.) Interpreting precedents: a comparative study. London: Ashgate Publishing Company,
1997. p. 463. Um dos primeiros e mais competentes trabalhos a fazê-lo foi CAMPOS MELLO, Patrícia Perrone. Precedentes: o desenvolvimento
judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
45 Os autores começam a trabalhar com ambas as dimensões: fatores institucionais (instituições, contexto, normas constitucionais) e
extrainstitucionais (discurso jurídico, dogmática, normas, jurisprudência, cadeias de sustentação, fundamentação, número de casos,
correção substancial da decisão). Cf. BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justiicação e a aplicação de regras
jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 250-368. Para um maior aprofundamento dos fatores extrajudiciais interferem na decisão judicial,
vale a pena conferir a profunda tese de doutorado do Prof. Marcelo Novelino, que, além de trabalhar com um modelo multifatorial, expõe os
modelos legalista e atitudinal, sugere uma série de enunciados probabilísticos da inluência de fatores cognitivos individuais e de grupo no
raciocínio judicial, como o colegiado, a mídia e a opinião pública. CAMARGO, Marcelo Novelino. Como os juízes decidem: a inluência de fatores
extrajurídicos sobre o comportamento judicial. Tese (Doutorado) – UERJ, Rio de Janeiro, 2014
46 DUXUBURY, Neil. The nature and authority of precedent. Cambridge: Cambridge University Press, 2008
47 Ibidem, p. 63.
48 Conhecido crítico do instituto, o autor posicionase nesse sentido STRECK, Lênio Luiz; ABBOUD, Georges. O que é isso: o precedente judicial e
as súmulas vinculantes. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014. p. 69. No mesmo sentido, o autor chega a airmar que “No Brasil não existem
precedentes no sentido de que fala a common law. (...) Logo, por que ainda tem gente que pensa que as SV têm parecência com os precedentes
da common law?” Cf. STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 679.
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49 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 491.
50 Um excelente trabalho crítico, com dados estatísticos, atenção a datas de edição das súmulas e precedentes que lhes deram origem,
demonstrando cada um dos desvios procedimentais, como a inexistência de decisões reiteradas, foi elaborado quando da conclusão de curso,
sob a orientação do prof. Fernando Gama de Miranda Neto. Infelizmente o trabalho ainda não foi publicado. Cf. CIRAUDO, Mário Henrique
de Araújo. Autoritarismo sumular no pós-emenda 45. Monograia (Conclusão de curso) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2011.
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pois tratam somente de mais um dos fatos trazidos pelas partes para o
convencimento do juiz. Embora sejam a característica marcante da civil
law, também estão presentes no common law, como no caso das decisões
de primeira instância em relação aos tribunais superiores. Há quem
airme que a inexistência de efeitos vinculantes tornaria o caso um
mero exemplo e não um “precedente” no sentido próprio do termo. No
entanto, parece que admitir esse degrau vinculativo na escalada como
fontes reais do direito, porque a força persuasiva de tais decisões não se
confunde, na prática, com o mero exemplo.51 Trata-se, por exemplo, das
decisões tomadas no âmbito do controle difuso de constitucionalidade
com efeitos interpartes apenas. Mesmo sem efeitos vinculantes, as cortes
de primeira e segunda instância costumam segui-las normalmente e não
raro não conhecem/julgam improcedente recursos das partes, porque
tais casos constituem importantes repositórios argumentativos.
51 Ibidem, p. 66.
52 CAMPOS MELLO, Patrícia Perrone. Precedentes: o desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
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32 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL E DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL
53 Ibidem, p. 65.
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54 CAMARGO, Luiz Carlos Volpe. Art. 932. In: STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle; CUNHA, Leonardo Carneiro da; FREIRE, Alexandre (Orgs.).
Comentários ao Código de Civil Processo. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 1206.
57 Fizemos um ensaio sobre o tema. Estamos aguardando a publicação do artigo sobre o tema, já submetido à avaliação da Revista Cientíica.
Disponível em: <htps://www.academia.edu/10984323/O_que_%C3%A9_um_superprecedente_Um_ensaio>.
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2.8 Conclusão