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A PROMESSA DE NATAL

Vi um camião cheio de árvores de Natal e cada uma tinha uma história para contar. O motorista,
colocou-as em fila e ficou à espera que as pessoas as viessem comprar. Pendurou umas luzinhas
brilhantes e uma placa em que se podia ler em encarnado: ÁRVORES DE NATAL PARA VENDER. |
Quando o homem se servia de chocolate quente duma garrafa térmica fumegante, uma mãe, um pai e
um menino pararam o carro apressados e começaram a procurar a árvore mais bonita de
todas.
O rapazinho ia à frente e com um olhar reluzente, exclamou:
- Elas têm cheiro de Natal, mãe! Sinto o cheiro de Natal em todo lado. Vamos comprar uma árvore de
quilómetros de altura. A maior que pudermos encontrar. Uma árvore que chegue ao teto e nem dê para
carregar. Uma árvore tão grande que até mesmo o Pai Natal, quando olhar, se admire e diga: "Esta é a
árvore mais bela que já vi neste Natal!”
Para achar o pinheirinho perfeito procuraram com muito cuidado. Aqui e ali, e até mais de uma vez,
o pai examinou e balançou mais de seis.
- Mãe, mãe, encontrei, encontrei, o pinheirinho do que mais gostei! Tem um raminho partido, mas
pode ficar disfarçado. Do anjinho da avó tiraremos o pó e lá no alto ficará a guardar-nos.
- Podemos comprá-la? Por favor, por favor! - pediu com fervor.
- Que tal um chocolate quente? - perguntou o vendedor indulgente, enquanto abria o termo para aquela
gente.
- Isto sim vai aquecer o ambiente! E em três pequenos copos de papel serviu o chocolate quente.
Brindavam, esperançosos, a mais um feliz Natal.
- Escolheste muito bem. Esto é realmente o melhor pinheirinho. Feliz Natal - disse o homem,
amarrando o pinheiro com um cordão! Mas o rapazinho estava triste porque o preço era alto demais
para o que o pai podia pagar.
Foi então que o vendedor lhe fez uma proposta:
- A árvore é tua com uma condição: tens de manter uma promessa. Na noite de Natal, quando te fores
deitar e rezar promete guardar no teu coraçãozinho o encanto do Dia de Natal! E agora corre para casa,
senão este vento gelado as tuas bochechas vai queimar.
E assim foi, com o vento zunindo, durante toda a noite gelada. O bom homem ofereceu árvore, após
árvore, após árvore. Com cada pessoa que apareceu brindou com o chocolate quente.E quem jurou
manter a promessa de guardar no coração o encanto do Natal, saiu na noite contente, cantando canções
alegremente.
Quando tudo acabou só uma árvore restou. Mas ninguém estava lá para esta árvore adoptar. Então, o
homem vestiu o seu grosso casacão e partiu para a floresta com a última árvore da festa. Deixou o
pinheirinho perto de um pequeno riachinho, para que as criaturas sem casa pudessem fazer dela a sua
morada. E sorria enquanto tirava os flocos de neve que na sua barba encontrava. Foi então que por
detrás de um arbusto uma rena quase lhe pregou um susto. Olhou para ela e sorriu. Fazendo uma
festinha na grande criatura, pensou com brandura: "Parece que o Natal chegou novamente! Ainda
temos muito chão e muitas coisas para fazer! Vamos para casa, amiga, trabalhar neste Natal que vai
começar". Olhou para o céu, ouviu os sinos a tocar e, num pestanejar, já lá não estava o vendedor.

Howard D. Fencl

O SONHO DO PAI NATAL


O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E não queria acordar porque
neste ano os Humanos encheram-se de boa vontade e fizeram um acordo de Paz, que silenciou todas as
armas. Em todos os cantos do planeta, mesmo nos lugares mais recônditos da Terra, as armas calaram-
se para sempre e os carros de combate e outras máquinas de guerra foram entregues às crianças para
neles pintarem flores brancas de paz.
O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E não queria acordar porque
nesse sonho não havia fome: em todas as casas havia comida, havia até algumas guloseimas para dar
aos mais pequenos. Mesmo as crianças de países outrora pobres tinham agora os olhos brilhantes,
brilhantes de felicidade. Todas as crianças tinham acabado de tomar um esplêndido pequeno-almoço e
preparavam-se para ir para a escola, onde todos aprendiam a difícil tarefa de crescer e ser Homem ou
Mulher.
O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia
barracas, com água a escorrer pelas paredes e ratos pelo chão, nem gente sem tecto, a dormir ao
relento. No sonho do Pai Natal, todos tinham uma casa, um aconchego, para se protegerem do frio e da
noite.
O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia
instituições para acolher crianças maltratadas e abandonadas pelos pais nem pequeninos e pequeninas à
espera de um carinho, de um beijo… de AMOR. Todas as crianças tinham uma família: uma mãe ou
um pai ou ambos os pais, todas as crianças tinham um colo à sua espera.
O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia
palavrões e outras palavras feias, não havia empurrões, má educação e desentendimentos. Toda a gente
se cumprimentava com um sorriso nos lábios. Nas estradas, os automobilistas não circulavam com
excesso de velocidade, cumpriam as regras de trânsito e não barafustavam uns com os outros.
O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia
animais abandonados pelos seus donos, deixados ao frio, à fome e à chuva, nem animais espetados e
mortos nas arenas, com pessoas a aplaudir.
Mas, afinal, quando despertou verdadeiramente, o Pai Natal viu que tudo não tinha passado de um
sonho; que pouco do que sonhara acontecia de verdade. Ficou triste, muito triste, e pensou:
« – Afinal, ainda é preciso que, pelo menos uma vez por ano, se celebre o Natal!».
E, nessa noite, o Pai Natal começou os preparativos para dar, mais uma vez, um pouco de alegria a
todas as crianças do Mundo.

A RENA
Era uma vez uma renazinha que queria ser grande e forte para puxar o trenó do Pai Natal.
Por isso, durante todo o ano, tinha-se portado muito bem, tinha comido como um lobo e deitara-se
cedo todas as noites. Deste modo crescera muito.
«Já estou crescida, já posso agora puxar a toda a velocidade o trenó do Pai Natal», pensava. Todos os
dias perguntava à mãe se o Pai Natal a tinha mandado chamar.
— Não — dizia a mãe. — Hoje não.
Na véspera de Natal, à hora de ir para a cama, o Pai Natal continuava sem chamar a renazinha
ambiciosa.
Esta foi deitar-se, porque era muito ajuizada. Mas não conseguia adormecer.
Esperou durante muito tempo, de olhos abertos, e com o coração a bater. O Pai Natal também estava à
espera. Não se resolvia a partir, sabendo que a renazinha estava acordada à espera dele.
— Vou chegar atrasado — disse por fim o Pai Natal — e aquele «ninguém de gente» ainda não
adormeceu. Que hei-de fazer?
— Eu sei — disse a mulher do Pai Natal.
E segredou qualquer coisa ao ouvido do marido.
— Talvez tenhas razão — respondeu o Pai Natal, pensativo. — Porque é uma renazinha muito
ajuizada, e que cresceu muito este ano. Mas tenho de partir sem demora, senão as minhas renas ficam a
cair de sono. — Então levantou o auscultador do telefone, marcou o número da renazinha e perguntou
à mãe.

— Quer fazer o favor de mandar a sua filha? É


ainda muito pequena para puxar o meu trenó, mas já tem idade para ir ao meu lado e ajudar-me a
distribuir os brinquedos.
— Com certeza, Pai Natal — respondeu a mãe. — Vou já acordá-la.
Mas não foi preciso ir a correr. Porque, de olhos bem abertos, a renazinha tinha ouvido também a
campainha do telefone. Dali a pouco descia a escada e os seus pequenos cascos batiam no chão como
verdadeiros cascos de rena, e os guizos da sua coleira dos somingos tilintavam tão alegremente como
os dos trenó do Pai Natal.

UM VERDADEIRO NATAL
Era uma vez uma menina que se chamava Ana.
Tinha nascido numa terra onde os dias eram bonitos durante todo o ano, e ali tinha vivido cinco anos.
Mas, algum tempo antes do Natal, o pai e a mãe tinham-na levado para a serra da Estrela. Que
mudança!
A Ana teve de vestir imediatamente um anorak e um par de calças compridas. O ar glacial picava-lhe
o nariz, e todos os charcos estavam gelados.
E ao dar as suas primeiras lições de esqui, a Ana perguntava-se a si mesma se alguma vez seria capaz
de gostar daquela paisagem triste e nua.
Muita vez pensava nos seus amigos, sem dúvida entretidos a fazer um castelo de areia numa bela
praia doirada lá naquela terra onde fazia sempre calor.
«A esta hora andam eles com certeza a tomar banho», pensava ela.
Era véspera de Natal, estava um dia escuro e frio. Nesse instante, a Ana viu uma coisa maravilhosa.
Grandes flocos brancos desceram do céu em remoinho e começaram a cobrir a paisagem escura e
triste.
Cobriram os telhados, amontoaram-se sobre as árvores despidas, e de repente brilharam luzes na
bela árvore verde onde o pai da Ana tinha prendido centenas de velas de Natal.
Daí a pouco acenderam-se luzes em toda a cidade.
A Ana nunca tinha visto um espectáculo tão lindo.
A neve silenciosa caiu durante todo o jantar. A seguir contaram-se histórias de Natal e a Ana ajudou
os pais a embrulhar os presentes. Nunca, na sua terra, a Ana se divertira tanto como naquela noite.
Lá, nunca caía neve!
Por isso, quando lançou um olhar à janela antes de se meter pela cama abaixo, a Ana sentiu que ia
gostar da sua nova terra.
Sorriu e pensou que o seu primeiro Natal na serra da Estrela era o mais lindo de todos.

O compadre leão prepara os presentes

— Este ano — disse um dia a Comadre Leoa ao marido — faz o favor de ter cuidado com o tamanho
das caixas que comprares para meter os presentes de Natal. Lembras-te dos embrulhos horríveis que
fizeste o ano passado?
— Lembro — respondeu o Compadre Leão. — Lembro-me muito bem, entre outros, daquela girafa de
borracha que foi preciso dobrar ao meio para caber dentro da caixa.
Por isso, quando o Compadre Leão chegou à Baixa, enquanto toda a gente fazia as suas compras de
Natal, foi direito ao grande bazar e correu à secção de caixas. Comprou das grandes e das pequenas,
das compridas, das estreitas, das largas… Havia-as de todos os tamanhos.
«Que carregamento! — pensou o Compadre Leão. — Como vou eu transportar tudo isto?»
Realmente, o Compadre Leão tinha os braços carregados de caixas e nem sequer podia ver o caminho.
Por isso, era impossível escolher os presentes que havia de meter dentro daquelas caixas.
Se as pousasse no chão, as pessoas que andavam aos encontrões uma às outras pisavam-nas. Mas, com
semelhante carrego, o Compadre Leão também não podia aproximar-se de qualquer
secção e gritar à caixeira:
— Gostava de ouvir o que toca aquela caixinha de música que está ali.
Só lhe restava tomar um táxi e voltar a toda a pressa para casa.
— Despachaste-te muito depressa! — maravilhou-se a Comadre Leoa, enquanto ele pousava o
carregamento de caixas. — Tens a certeza de não ter esquecido ninguém?
— Hum! — respondeu ele, atrapalhado. — Em todo o caso, há uma coisa de que tenho a certeza: não
comprei nenhum presente.
Saboreou uns bolinhos que a Comadre Leoa acabara de fazer, e sentiu-se mais encorajado.
— De qualquer forma — disse ele — temos quatro dias para fazer as nossas compras, e este ano que
importância tem o feitio dos presentes! Temos a certeza absoluta de arranjar uma caixa de bom
tamanho para cada um.

A ÁRVORE PEQUENINA
Era uma vez uma espessa camada de neve com uma árvore pequenina no meio.
E a árvore pequenina tinha frio.
— Vai-te embora! — dizia ela à neve.
Mas a neve não se mexia. Continuava sem se derreter e cada vez se tornava mais espessa em volta da
árvore pequenina.
— Que linda neve! — diziam as pessoas e as árvores grandes da floresta. — Está tudo branquinho, e
com ar de festa para o Natal.
Mas a árvore pequenina, sozinha no seu lugar, pensava: «Esta neve é má! Daqui a pouco tapa-me toda,
e estou perdida!»
Nesse instante, com grande tilintar de guizos, passou um pequeno trenó a deslizar sobre a neve.
Dentro vinha um rapazinho que exclamou:
— Olha aquela árvore pequenina! Era exatamente de uma assim que eu andava à procura!
E enterrou os pés na neve, também.
Cavou a neve em volta da árvore pequenina, tirou-a da terra, sem se esquecer das raízes.
Colocou-a em cima do trenó.
Depois, levou-a para casa para fazer uma árvore de Natal.
E a neve continuava sem se derreter, caía, caía, tornando tudo branco, espesso e silencioso. Mas em
toda aquela brancura já não havia sinais da árvore pequenina.

A BONECA

Havia na loja muitas bonecas, mas aquela era exatamente a que a Sofia queria que lhe dessem pelo
Natal. Era uma boneca exactamente do tamanho que lhe convinha, com o cabelo escuro
exactamente como a Sofia gostava e um sorriso a que a Sofia correspondia logo.
Além disso, aquela boneca perfeita tinha não sei quê no olhar que se percebia que ela queria
pertencer à Sofia e a mais ninguém.
Por isso a Sofia falou nela ao Pai Natal.
Mas depois dessa conversa, durante a qual se mostrara um bocadinho envergonhada (é tão
emocionante, tão extraordinário, falar com o Pai Natal!) não ficou muito convencida de se ter
explicado bem.
— O Pai Natal vai pensar talvez que eu me contento com uma boneca parecida — disse para a mãe.
Iam dentro do elevador, que continuava a subir. Era uma preocupação terrível. A Sofia tinha a
certeza: se não recebesse aquela boneca, da qual já gostava tanto, ficaria cheia de pena para toda a
vida.
Pediu à mãe que a levasse outra vez junto do Pai Natal. Só um minuto. Parecia tão desgostosa que a
mãe disse que sim.
Subiram, portanto, à secção de brinquedos, e a Sofia correu direita ao Pai Natal. Havia uma grande
bicha de meninos e meninas à espera de falar com ele. Por isso, a Sofia não demorou um segundo a
procurar a sua boneca.
Mas a boneca, com o seu cabelo encaracolado, o seu sorriso, os seus adoráveis olhos escuros, tinha
desaparecido. No lugar onde ela sorria, pouco tempo antes, havia outra.
— Oh! — disse a Sofia à caixeira — Se faz favor, onde está a boneca que estava ali há um instante?
— Está embrulhada — respondeu a caixeira. — Foi vendida.
— Tem a certeza? — perguntou a Sofia com os olhos cheios de lágrimas.
— Tenho — respondeu a caixeira, estendendo-lhe uma grande caixa.
«Vendida», foi o que a Sofia leu na caixa. Mas havia mais coisas escritas.
«Para a Sofia, uma menina com muito juízo», leu ela em voz alta.
Soltou um grande suspiro de alívio, agarrou a mão da mãe e dirigiu-se para o elevador.
— Então, Sofia — perguntou-lhe a mãe —, já não queres ir falar com o Pai Natal ? Já não tens mais
nada a pedir-lhe?
— Agora já não — respondeu a Sofia. — Acho que o Pai Natal sabe muito bem tudo o que é preciso.

A ESTRELA DE NATAL

— Este ano — disse o senhor Bontempo no fim do pequeno-almoço — havemos de fazer uma árvore
de Natal enorme, magnífica.
— Pois claro — respondeu a senhora Bontempo, toda risonha, olhando para o tecto da sua grande casa
nova. — Pois claro, podemos arranjar uma muito grande.
Os cinco meninos Bontempo fecharam os olhos para poderem imaginá-la à sua vontade. E à noite,
quando o senhor Bontempo trouxe para casa caixas e caixas cheias de enfeites novos para a árvore,
toda a família o rodeou imediatamente.
Deve dizer-se que eram enfeites magníficos! Grandes bolas prateadas capazes de fazer inveja a todas
as árvores da terra, frutos de vidro, sininhos brilhantes que tocavam a valer, e pássaros cor do arco-íris,
de asas abertas. E, por fim, o mais belo, o mais cintilante dos anjos.
— O anjo irá para o cimo da árvore — disse o senhor Bontempo com orgulho. — A estrela que
costumávamos lá pôr serviu durante muito tempo; agora quero uma coisa diferente.
A senhora Bontempo já não sorria, e os cinco meninos também não.
— O quê! — pensava ela com tristeza. — Aquela estrela que sempre vi no cimo de todas as árvores de
Natal da minha infância!
«Aquela estrela é a primeira coisa em que nós pensamos quando falamos em Natal», disseram consigo
os dois mais velhos.
A Maria e o Miguel, os mais novinhos, também pensavam que ficariam muito tristes se a estrela não
estivesse no seu lugar no cimo da árvore.
E a Marta, a mais pequenina, exclamou:
— Ó pai, eu quero a estrela!
Então o senhor Bontempo teve uma ideia luminosa. Com muito cuidado, pousou o anjo em cima da
chaminé e disse:
— O lugar dele é aqui. Não fica bem? Afinal, parece-me que se a árvore de Natal for muito rica
deixará de ser a nossa árvore de Natal.
E toda a família Bontempo soltou um suspiro de alívio. Sentaram-se à mesa com os olhos a brilhar,
como se a velha estrela tão querida de todos se reflectisse em cada olhar.

NATAL EM FAMÍLIA

Era uma vez dois irmãos que gostavam muito um do outro: o Beto e a Luísa.
Todos os anos eles ficam muito felizes quando se aproxima o aniversário de Jesus.
Beto e Luisa eram crianças muito alegres e amigos de todos sempre, mas no Natal sentiam- se ainda
mais felizes.
Os irmãozinhos sabiam que Jesus é Espírito e que seus ensinamentos deviam ser vividos todos os dias
e, portanto, quando nós aqui na Terra comemoramos o Seu aniversário, não há como fazer-lhe ofertas,
mas sabiam que Ele ficava muito mais feliz com as pessoas bondosas e amorosas
Assim, Beto e Luísa, que guardavam o ano inteiro uma parte da mesada que recebiam do pai num
cofrezinho, nesta época abriam- no e saiam para comprar presentes.
O dia feliz, como chamavam ao dia das compras, era sempre muito festivo, os irmãos iam à zona
comercial perto de casa. A sua Mãe ficava na esquina sempre de olho, e lá havia um coral que cantava
cânticos Natalícios.
Os cânticos ajudavam as pessoas a sentirem-se mais felizes.
Os irmãos, quando regressavam das compras guardavam os presentinhos que compravam.
Uhmmm. .!!! que será que eles compraram este ano de presente? E para quem?
Vocês sabem? Não? Vamos ver?
Finalmente chegou o dia de Natal! Beto e Luísa acordaram cedo e correram para a sala para dar beijos
e abraços grandes ao Pai e à Mãe e todos muito felizes sentaram- se e fizeram juntos uma prece
agradecendo a Jesus por Ele ter vindo à Terra ensinar como devemos ser: bondosos, amigos, ajudando
sempre a todos os nossos irmãos e a amar, amar muiiito muito.
Depois da prece, tomaram o café da manhã e aí cada um foi buscar os seus presentes.
Saberemos agora para quem eram os presentes, que eles compraram este ano, não é?
Então, enquanto a Mãe, Beto e Luísa foram buscar os presentes, o Pai foi buscar algumas cestas
grandes, já enfeitadas com flores e fitas.
Para que serão as tais cestas?
Depois de todos chegarem com seus pacotes, foram ordenadamente, arrumando as cestas, o Pai e Mãe
colocaram: arroz, feijão, óleo, farinha, macarrão, leite em pó, achocolatado, café, carnes, ovos, etc. e
quando chegou a vez dos irmãos colocarem os seus presentes eles depositaram: biscoitos, doces,
chocolates, rebuçados, caramelos e alguns brinquedos.
Depois de tudo arrumado, os quatro – Mãe, Pai, Beto e Luísa – partiram em direção à casa da D. Anita,
da D. Maria e da D.Celina; que eram senhoras muito necessitadas, pois apesar de trabalharem muito,
ganhavam pouco dinheiro e tinham filhos pequeninos. Este ano foram as escolhidas por eles – Beto e
Luísa – para serem visitadas.
Foram cantando felizes e quando lá chegaram foi uma festa só: abraços, sorrisos e felicidade para
todos.
Depois retornaram a casa com o coração cheiiiinho de felicidade e assim agradeceram a Jesus por
terem podido levar um pouquinho de alegria ás famílias visitadas.
Era assim o Natal na casa de Beto e Luísa. Cada ano eles comemoravam junto a alguém que precisava
muito de carinho: no ano anterior eles tinham levado bolos para a casa de repouso dos avôs no outro
ano comemoraram junto das crianças da casa abrigo.

O PÓ DA PAZ

Na véspera de Natal, a cidade estava cheia de gente. As pessoas corriam de um lado para o outro para
comprar os últimos presentes.
A minha prima e eu precisávamos de encontrar um presente muito especial para oferecer ao nosso avô.
Por isso, decidimos entrar numa loja com um nome esquisito: «Ajuda de Natal precisa-se», com
esperança de encontrarmos o presente ideal.
Mal entrámos, a porta fechou-se com um estrondo e, de imediato, apercebemo-nos que estávamos num
Mundo irreal de duendes, com milhões de prendas e com um homem de barba branca, vestido de
vermelho e com um ar aflito!
— Sara, estás a ver o mesmo que eu? — perguntei para me certificar de que não estava a dormir.
— O Pai Natal existe!!! — disse a Sara perplexa.
— Olá meninas, o que fazem por aqui? — perguntou o homem que naquele momento tinha notado a
nossa presença. — vieram ajudar-me?
Não conseguimos responder, estávamos boquiabertas!
— Sabem, é que todos os Natais é a mesma coisa: ofereço carrinhos, Barbies, puzzles, chocolates, o
que é muito fácil, porque conheço as lojas onde comprar tudo isto, mas, este ano, um menino escreveu
a pedir a PAZ, e eu não sei onde a comprar, por isso, fiz um cartaz a pedir ajuda.
— A paz não se compra. — afirmou a Sara.
— A paz conquista-se, se os Homens, neste mundo, conseguirem ser amigos.
— Acho que já percebi! Duendes! Renas! — ordenou o Homem. — Vamos trabalhar, já.
E num abrir e fechar de olhos estavam todos, em cima de um trenó, a sobrevoar o mundo e a espalhar
o pó da Paz sobre a cabeça dos Homens.
— Meninas! — Vocês tiveram uma excelente ideia. — disse o duende Zeca. Esta era a melhor prenda
que alguma vez o Pai Natal ofereceu!
— É mesmo ele! — gritámos as duas em uníssono.
— Inês! Inês! Acorda filha! Porque é que dormiste na varanda? E porque é que estavas a gritar?!
— Eu não estava a ………………
E, nesse momento, apercebi-me que tudo não tinha passado de um sonho.
Infelizmente, não há Paz no Mundo!
Então, voltei para o meu quarto e vi, sobre a minha cama, o chapéu do duende Zeca. Corri para a
janela e disse:
— Continua a tentar, Pai Natal, um dia o teu pó da Paz irá surtir efeito na cabeça dos Homens!!!

Inês Cosme, 2001

VERDURINHA, A PEQUENA ÁRVORE DE NATAL

Era uma vez uma linda floresta e nela existia uma linda árvore, era tão pequenina que a chamavam de
Verdura rasteira, ela era encantadora, gentil, simpática e alegre. Ela fica mesmo na encosta da grande
clareira, onde sempre era protegida do vento e do sol, a hiena gostava de dormir encostada a ela,
sempre conversavam, ao som das estrelas e dos ruídos estranhos da noite.
Verdura era bastante brincalhona, nunca se zangava quando faziam piadas sobre ela, às vezes as outras
árvores gozavam, dizendo:
- Verdurinha, quando é que cresces? Só serves para fazer sombra as minhas raízes.
Verdurinha ria e fazia graça, dizendo:
- Pois, queridas amigas, eu realmente sou pequenina sim, mas cuidado que ainda vou crescer e ser bem
mais alta que todos vós.
A hiena ria a bom rir, naquela gargalhada irritante e chata, a propósito seu nome era a Fitas a
fedorenta, pois ela não gostava de água, ela fugia sempre que precisava de tomar banho.
Sempre que fazia frio e chovia, a Verdurinha e suas amigas retinham em seus galhos muita água
mesmo, para quando a Fitas, a fedorenta da hiena tomasse um bom banho. Claro que ninguém na
floresta perdia tamanho divertimento, os amigos davam umas boas gargalhadas com tudo isso.
Um dia, a Fitas, estava muito triste, mesmo muito triste, triste demais, Verdurinha não sabia o que se
estava a passar, brincou, fez piadas, nada fazia rir aquela hiena, nada mesmo.
Ela já sentia falta das suas estrondosas gargalhadas. Querendo descobrir, o que deixava sua amiga tão
triste, ela decidiu ir atrás dela. Claro que as árvores mais velhas, logo ralharam com ela, dizendo que
iria correr grandes riscos.
Decidida e sem medo , de manha bem cedinho, foi atrás da sua amiga, escondendo-se atrás de galhos
de outras árvores.
Quando chegou junto ao rio ouviu risos estranhos, bastante confusos e estridentes. Curiosa,
aproximou-se e o que viu?
Ela viu a sua amiga com muitos bebés da sua raça, tão pequeninos e engraçados.
Nisto ouviu um estrondo, bem do seu lado, era uma grande árvore caindo, assustada ela corre para se
esconder, mas já era tarde demais.
….O filho do lenhador ao ver a árvore disse ao pai que tinha encontrado a árvore perfeita para levar
para casa…
A Fitas e os bebés que viram tudo, chorava por não ter contado o seu segredo, afinal a sua amiga
estava ali por sua causa.
Que podia fazer? Nada, apenas avisar os seus amigos.
Logo a Verduras se sentiu enjoada, sentia que lhe estavam tirando as entranhas, depois sentiu ser
atirada para um grande carro. Chorando e sem poder sair dali, ela lembrou-se dos conselhos dos mais
velhos, afinal eles estavam eram certos, não devia ter saído do seu lugar.
Escutou o ruído de um motor, via as estrelas a fugirem dela, as suas amigas acenavam tristes e
choravam, era a sua despedida da floresta.
Chegada a uma grande mansão, o filho do lenhador chamou de patrão, este veio à porta e disse:
- Alfredo era mesmo isto que eu procurava, a minha mulher vai ficar muito feliz.
A Verdurinha ficou muito linda, toda enfeitada, com bolinhas, estrelas, luzinhas e outros enfeites, ela
pensou para si, afinal não era tão mau.
Os dias passavam e a Verdurinha estava a ficar seca, sem cor, perdendo os seus galhos, perdendo a sua
força beleza, chorando e com saudades dos seus amiguinhos na floresta ela lembrava-os para acalmar o
seu coração já doente.
Dias depois ela foi jogada fora, na rua por não ter mais beleza e o Natal acabou, um menino olhou para
a pobre árvore, morrendo no lixo, com pena levou-a e plantou-a no seu quintal.
Todos os dias a regava com o maior carinho, a Verdurinha foi ficando forte e bela de novo e cresceu a
olhos vistos para alegria do rapazinho.
Feliz ela agradeceu ao seu Pai, o criador do universo pela segunda oportunidade de voltar a viver feliz
e prometeu nunca mais desobedecer aos mais velhos. Afinal eles eram os mais sábios e amigos.

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O Espírito do Natal | Jorge Letria


Estava o Senhor Teotónio, que era rico, muito gordo e grande fumador de charutos, a carregar o carro
com os presentes que passara a manhã a comprar para os filhos, para os sobrinhos e para as muitas
pessoas com quem fazia negócios, quando se aproximou dele um homem pobre, idoso e magro, que
prontamente obteve dele esta resposta:
— Comigo não perca tempo porque não tenho dinheiro trocado, nem alimento falsos mendigos.
— Mas eu não lhe pedi nada — respondeu o homem idoso serenamente, com um sorriso que desarmou
o Senhor Teotónio e a sua bazófia de novo-rico.
— Então se não me quer pedir nada, por que motivo está tão perto de mim enquanto eu carrego o meu
carro? — perguntou o Senhor Teotónio entre duas baforadas de charuto que fizeram o homem idoso e
magro tossir convulsivamente.
— Estou aqui, meu caro senhor — respondeu ele, já refeito da tosse — para tentar perceber o que as
pessoas dão umas às outras no Natal.
— Com que então — concluiu ironicamente o Senhor Teotónio, grande construtor civil com interesses
de norte a sul do País — temos aqui um observador! Deve ser, certamente, de uma dessas organizações
internacionais que nós pagamos com o nosso dinheiro e que não sabemos bem para que servem.
— Está muito enganado. Mas já agora responda à minha pergunta: o que é que as pessoas dão umas às
outras no Natal? — insistiu o homem pobre, idoso e magro.
— Bem, se quer mesmo saber, eu digo-lhe. Quem tem posses como eu pode comprar uma loja inteira,
deixando toda a gente feliz, a começar nos comerciantes e a acabar nas pessoas que vão receber os
presentes. Quem é pobre como você fica a assistir. Percebeu a diferença?
O homem magro e idoso reflectiu uns instantes sobre a resposta seca e sarcástica do Senhor Teotónio e
depois respondeu-lhe com uma nova pergunta:
— Então e o espírito do Natal?
— O que vem a ser isso do espírito do Natal? — quis saber, cheio de curiosidade, o Senhor Teotónio.
— O espírito do Natal — respondeu o homem idoso e magro — é aquilo que nos vai na alma nesta
altura do ano e que está muito para além dos presentes que damos. Para muitas pessoas, o melhor
presente pode ser um telefonema, uma carícia ou um telefonema quando se está só.
— Era só o que me faltava agora — desabafou, enfastiado, o Senhor Teotónio, enquanto arrumava os
últimos presentes na mala do automóvel — ter agora um filósofo, ainda por cima vagabundo, para aqui
a debitar sentenças.
O homem magro e idoso afastou-se do carro, mostrando que não queria esmolas nem qualquer outra
coisa que lhe pudesse ser dada pelo Senhor Teotónio, e encaminhou-se para um grupo de crianças que
o esperavam.
Quando o Senhor Teotónio passou por eles no carro, ouviu uma voz de criança a dizer:
— Vamos, Espírito do Natal, porque hoje ainda temos muito que fazer.
Dizendo isto, o grupo ergueu-se no ar a esvoaçar com destino incerto, largando um pó luminoso
enquanto ganhava altura no céu cinzento de Dezembro.

José Jorge Letria


A Árvore das Histórias de Natal
Porto, Ambar, 2006

A Estrela de Prata

Numa árvore que eu cá sei – que nós sabemos – estão uma estrela de prata e uma bola de cristal.
- Que fazemos aqui? – perguntou a estrela.
- Estamos a enfeitar – respondeu a bola.
- O que é enfeitar? – perguntou a estrela.
- É fazer vista, ornamentar, alindar… – respondeu a bola de cristal.
Passou-se um tempo e a estrela perguntou de novo:
- Porque estamos a enfeitar?
- Porque esta árvore não é como as outras. Os frutos dela são raros. Aparecem um dia, luzem o seu
quê, conforme sabem ou podem, e depois são colhidos e guardados, até para o ano.
A bola de cristal tinha muita experiência de outros Natais, ao passo que a estrela era nova, de prata
fresca, e não sabia quase nada. Mas tinha ouvido falar que havia estrelas cadentes, estrelas que caem
do céu e no céu desaparecem, num sopro de luz.
- Não serei uma dessas? – perguntou à bola.
- Talvez sejas, talvez não sejas… Mas não experimentes.
Passou-se um tempo mais, e a estrela guardou para si aquela ideia, uma ideia pequenina. “Não
experimentes”, dissera-lhe a bola. E se experimentasse? Foi o que fez.
Caiu, num susto, mas como era leve, inocente e frágil, uma corrente de ar, vinda de uma porta aberta,
algures, levou-a consigo.
Levou-a consigo e fê-la poisar, sem estrago, no fofo musgo.
- Olha, é a estrela da gruta – disse alguém que estava a armar o presépio.
E estrela do presépio ficou.
Donde estava, onde a puseram, via o presépio, os pastores, os reis magos, as lavadeiras com a trouxa à
cabeça, as leiteiras com a bilha à cinta, os vagabundos, o moleiro, o azeiteiro e todo o povo do
presépio e mais as pessoas de carne e osso, que vinham admirar aquela lindeza, sorrir para o Menino
Jesus e olhar para a estrela, suspensa do alto da gruta.
Estrela de oito pontas que era, a apontar em todas as direcções, nem ela sabia para onde, brilhou
imenso. Brilhou o mais que pôde.
Para o ano, a estrela de prata já tem muito que contar à bola de cristal.

António Torrado
www.historiadodia.pt

O Bolo-rei

O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos.
Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês:
— Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
— Sorry! I don’t understand…
O que queria dizer, na língua dele, que pedia desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a
ornamentar-lhe a coroa.
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas.
— Flá, plefe, pflu, pfló…
Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou o mesmo ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu:
— Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de
gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que
fosse.
— São uns rebeldes estes meus súbditos — concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei. — Condeno-
os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.

António Torrado

Lenda da Aranha de Natal


Há muitos, muitos anos vivia na Alemanha uma família muito feliz.
Naquele dia era véspera de Natal e a mãe andava ocupadíssima a limpar a casa e a decorar a árvore.
Num canto da casa, lá mesmo junto ao teto, estava uma aranha que, ao ver a mãe com a vassoura na
mão a limpar, subiu escadas acima e foi esconder-se no sótão.
Quando já era noite e toda a casa estava em silêncio, a aranha desceu as escadas devagarinho e foi
então que viu a linda árvore de Natal brilhando de mil cores. Não conseguiu resistir à tentação e
apressou-se a subir pelo tronco acima e ao longo dos ramos. Sentia-se tão feliz que se esqueceu de que
era uma aranha, e que as aranhas andam sempre a tecer teias.
Pobre árvore! Quando a aranha chegou ao cimo da árvore, esta já estava toda coberta de poeirentas
teias de aranha cinzentas.
A aranha ficou triste e não sabia o que fazer quando ouviu um barulho e viu que era o Pai Natal que
chegava com os presentes para as crianças. Encheu-se de coragem e pediu-lhe humildemente para a
ajudar a reparar o que tinha feito.
O Pai Natal viu a árvore coberta de teias de aranha e ficou um pouco embaraçado. Mas pôs-se a
pensar e logo depois sorriu. Já sabia como resolver esta triste situação, deixando ao mesmo tempo a
aranha feliz e sem que a mãe visse a árvore coberta das desgraciosas teias.
O Pai Natal transformou pura e simplesmente as teias em fios de prata e de ouro!
E a árvore luzia e tremeluzia como nunca!
E foi assim que a partir daquele dia as pessoas passaram a enfeitar as árvores de Natal com grinaldas e
outras decorações cintilantes e a colocar uma aranha nos ramos para lhes dar sorte!

Dulce Rodrigues

Os brinquedos do ano passado


Algum tempo antes do Natal, o Pedro e a mãe faziam sempre arrumação na arca e nas prateleiras dos
brinquedos velhos.
O Pedro separava-os: um monte daqueles que estavam partidos, outro monte daqueles com os quais já
não brincava. Em seguida, a mãe lavava e esfregava as prateleiras e a arca.
O Pedro arrumava depois os brinquedos velhos num caixote. Deste modo havia sempre muito espaço
para aqueles que o Pai Natal trouxesse-
«Pronto — dizia o Pedro de si para si, quando acabou o trabalho. — Se o Pai Natal me visse agora
com o seu óculo, havia de ficar satisfeito comigo.»
Um ano, o Pai Natal olhou precisamente pelo seu óculo para o quarto do Pedro. Viu as prateleiras
muito bem arrumadas e ficou satisfeito. Mas quando viu o que o rapazinho estava a fazer, a cara
iluminou-se-lhe com um sorriso. Porque o pai e o Pedro estavam a consertar os brinquedos partidos.
Davam também uma pintura naqueles que precisavam.
Quando os brinquedos ficaram prontos e tão lustrosos como brinquedos novos, meteram-nos no
automóvel e levaram-nos para o asilo. Naquela grande casa havia duzentos e doze meninos e meninas
sem pai nem mãe, e era um trabalhão para o Pai Natal distribuir prendas a todos.
Agora, graças aos brinquedos do Pedro, podiam encher-se os sapatos de todos os meninos.
— Olhem para aquilo! — dizia o Pai Natal com o mais feliz dos sorrisos. — O Pedro deu-me uma bela
ajuda!
E estava contentíssimo.
A neve caía, principiava a escurecer, e o Pedro, de regresso a casa, estava tão contente como o Pai
Natal.

Maria Isabel de Mendonça Soares


UM PRESENTE INESPERADO

Chovera toda a noite. As ruas eram autênticas ribeiras, arrastando na


enxurrada toda a espécie de detritos. Os carros passando a alta velocidade
espalhavam, indiferentes, água suja sobre os transeuntes, molhando-os, sujando-
os.
O Tonito seguia também naquela onda humana, sem destino. Tinha-se
escapulido da barraca, onde vivia. Os pais tinham saído cedo para o trabalho, ainda
ele dormia, os irmãos ficaram por lá brincando, chapinhando na lama que rodeava a
barraca. Ele desceu à cidade, onde tudo o deslumbrava. Todo aquele movimento
irregular, caótico, frenético. Os automóveis em correrias loucas, as gentes
apressadas nos seus afazeres. E lá seguia pequenino, entre a multidão, numa
cidade impávida, indiferente, cruel mesmo. Passava em frente às pastelarias,
olhava para as montras recheadas de doçuras, ele comera de manhã um bocado de
pão duro e bebera um copo de água. Vinha-lhe o aroma agradável dos bolos, o seu
pequeno estômago doía-lhe com fome! Chovia agora mansamente, uma chuva gelada,
levando uma cidade onde se cruzavam o fausto, a vaidade, o ter tudo, os embrulhos
enfeitados das prendas, com a dor a melancolia, o sofrimento, o ter nada e no meio
uma criança triste e com fome!
Mas o Tonito gostava era de ver as lojas dos brinquedos. Lá estavam os
carros de corrida, o comboio, os bonecos, enfim todo um mundo maravilhoso que
ele vivia, esborrachando o nariz sujo contra a montra. Lá dentro ia grande azáfama
nas compras de Natal. E os carros de corrida, o comboio, os bonecos eram
embrulhados em papeis bonitos para irem fazer a alegria de outros meninos. Uma
lágrima descia, marcando-lhe um sulco na sujidade da carita. Eis que os seus olhos
reparam num menino, que de lá dentro o olhava. Desviou-se envergonhado. Não
gostava que o vissem chorar. E afastou-se devagar, pensando nos meninos que
tinham Natal, guloseimas e carros de corrida para brincar. Ele nada tinha, além da
fome e a ânsia de ser feliz e viver como os outros. Pensou no Natal, no Menino
Jesus, que diziam que era amigo das crianças a quem dá tudo. Por que é que a ele o
Jesus Pequenino do presépio nada dava?
De repente, uma mãozinha tocou-lhe no ombro.
Voltou-se assustado. Era o menino da loja que lhe metia na mão um embrulho
bonito. À frente a mãe, carregada de embrulhos, fazia de conta que nada via.
Abriu-o e deslumbrado viu um carro de corridas, encarnado, brilhante, como os
olhos do menino que lá ao longe lhe acenava. Ficou um momento sem saber o que
fazer, mas depois largou a correr, mostrando bem alto a sua prenda de Natal.
Parara de chover. O sol tentava romper as nuvens escuras, lançando um raio
de luz brilhante e quente sobre o Tonito, que ria feliz, numa carita sulcada pelas
lágrimas.

Fernando Sequeira

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