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2º semestre de 2023.
tenta fazer corresponder a grafia a unidades menores decorrentes da análise oral da palavra. Trata-se de um grande
passo rumo à compreensão do princípio geral que rege o sistema de escrita alfabético. Esse período comporta um
grande problema a ser resolvido: já se sabe o que escrita representa, mas é preciso descobrir como a escrita
representa. O terceiro período comporta os estágios silábico, silábico-alfabético e alfabético. Em jovens e adultos,
devido as suas experiências com produções culturais escritas não se observam hipóteses relativas ao primeiro período,
portanto, em nossos indicadores, começamos com estágios ou hipóteses que dizem respeito ao segundo período.
A partir do estágio alfabético, as crianças se defrontam como novos desafios relativos à apropriação do sistema
ortográfico, à descoberta e aprendizado das regularidades ortográficas e das estratégias para lidar com os casos
irregulares. Além da ortografia, começam a lidar com outras questões relativas aos padrões de escrita tais como a
pontuação, a acentuação, a segmentação do texto em palavras, a concordância, a translineação1, o emprego de letra
maiúscula em nomes próprios e início de sentenças, por exemplo. Todos esses aspectos só podem ser aprendidos se
os alunos tiverem oportunidades planejadas de ensino e situações de sistematização desses padrões. A aplicação de
instrumentos para diagnóstico permite analisar e compreender os desvios que cometem, o que acontece e as razões
para esses desvios. De certo modo, analisando sua escrita e leitura, sistematizamos o que eles já sabem e o que
precisam aprender em relação à aquisição da escrita, aspecto fundamental para decidir sobre o que e quando ensinar.
Síntese dos Estágios e/ou Hipóteses de Escrita de Crainças
Pré-silábico 01
Nesse estágio, encontram-se crianças que não sabem o que a escrita representa, trata-se de uma hipótese bem elementar do
processo de apropriação da escrita. A criança diferencia desenhos (não podem ser lidos) de escritos (podem ser lidos), mesmo
que para grafar empregue grafismos que imitam a letra cursiva, pseudoletras, números e outros elementos. A escrita, nesse
estágio, não apresenta nenhuma relação com a fala. Ao ser solicitada a ler o que escreveu, ela o faz de modo global, sem identificar
unidades menores que compõe as palavras.
Pré-silábico 02
Nesse estágio, encontram-se crianças que não sabem o que a escrita representa. Em suas produções escritas, tentam lidar com o
eixo quantitativo e qualitativo: para escrever algo é preciso um número mínimo de letras/símbolos e uma variedade na grafia. No
entanto, esses critérios não são empregados para ajustar a pauta sonora ao que escrevem. Também se observa uma
correspondência global em relação aos seus escritos: nesse estágio, não identificam partes ou unidades menores que compõem
as palavras que grafaram; não há uma preocupação explícita em marcar as sílabas ou sons que compõem uma palavra ao lê-las.
Ao ler o que escreve, lê de modo global, as relações entre as partes e o todo não são foco de atenção.
Silábico
Esse estágio ou hipótese marca a entrada no processo de fonetização. Nesse período, a criança já solucionou o primeiro problema
colocado no processo de apropriação do sistema de escrita alfabética: o que a escrita representa. No entanto, não sabem ainda
como se produz essa representação. Em suas produções, podemos observar tentativas de fazer coincidir aquilo que escrevem ao
enunciado oral (aquilo que pronunciam). De modo geral, formulam a hipótese de que a quantidade de letras a ser grafada
corresponde à quantidade de segmentos silábicos que pronunciam: letras (ou sinais gráficos) são usadas para grafar unidades
sonoras identificadas nas palavras, as sílabas. Elas operam ainda com os eixos quantitativo (lidando ainda com um número mínimo
de letras para que algo possa ser lido) e qualitativo (tentando lidar com certa variação de letras para que algo possa ser lido). É
pouco comum usarem registros iguais para palavras diferentes ou escreverem palavras com menos de três letras. De modo geral,
nesse estágio, podemos observar produções que podem ser organizadas em duas grandes categorias. Na primeira, as crianças dão
atenção à correspondência entre quantidade de sílabas e quantidade de letras usadas para representá-las, preocupando-se em
não repetir as letras utilizadas que, em geral não apresentam um valor sonoro estável. Na segunda, essa correspondência torna-
se mais complexa, pois utilizam letras que, de algum modo, correspondem aos sons percebidos na pronúncia das sílabas
(consoantes ou vogais). A leitura deixa de ser global e, diante da necessidade de ler, elas tentam fazer corresponder as letras a
partes da expressão oral, por meio de recortes silábicos, o que pode causar conflitos, relacionados ao eixo quantitativo (a
impossibilidade de ler palavras grafadas com menos de três letras) e ao eixo qualitativo (a impossibilidade de ler palavras grafadas
com mesmas letras ou de ler palavras diferentes grafadas com as mesmas letras).
Silábico-alfabético
O estágio silábico-alfabético tem sido descrito com um estágio de transição entre o anterior, o silábico, e o posterior, o alfabético.
A escrita silábica está em vias de ser abandonada e os esquemas futuros, da escrita alfabética, em vias de serem construídos. À
medida que observam e analisam a própria escrita e a de outros, conseguem estabelecer relações entre letras e fonemas para a
maior parte dos casos do sistema alfabético ainda que possam oscilar na grafia de unidades menores que a sílaba (em seus escritos
é nítido a falta de letras para compor sílabas). A leitura de palavras baseia-se, de modo geral, na segmentação em unidades
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Separação de palavra no final da linha, com a inclusão de hífen.
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menores, podendo recorrer a recortes silábicos (leitura silabada) ou a soletração (pronúncia de letras uma a uma para formar
sílabas e palavras).
Alfabético
No estágio alfabético, as crianças conseguiram compreender o princípio geral que rege esse sistema, que cada letra corresponde
a valores menores que a sílaba, e realiza sistematicamente a análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever. Dominam
o mecanismo básico de formação de sílabas. Nesse estágio, vão se confrontar com as convenções ortográficas, a segmentação em
palavras, a acentuação, a pontuação, entre outros aspectos. Mas já conseguem produzir escritas legíveis. Ao ler seus escritos,
podem decodificar palavras ou reconhecê-las de modo global, relacionando-a a seu sentido.
c. Em seguida, explique que fará um ditado e que a criança pode escrever do jeito que achar, se não sabe,
pode brincar de escrever, sem medo de errar ou acertar. Explique que quer conhecer o jeito como ela
pensa, não importa se certo ou errado
Então, dite a primeira palavra, atentando-se para não a segmentar em sílabas ao pronunciá-la (por
exemplo JA– BU – TI – CA – BA). A cada palavra ditada, solicita-se que a criança leia o que
escreveu, apontando para a escrita.
Durante a leitura, é importante observar se ele lê globalmente a palavra, se estabelece alguma
relação entre o que escreve e o que lê em voz alta, se ajusta/corrige sua escrita após a leitura
etc.
É recomendável ter em mãos um caderno para registrar como a criança reage, o que diz ao
escrever, como se comporta e lê e, ainda as percepções do professor sobre a realização dessa
tarefa. Ao final, pode-se ainda fazer anotações na folha da criança, sem a presença dela. Seguem
algumas sugestões de ditados:
Sugestões para sondagem (escolha apenas um conjunto de palavras)
Após a aplicação, use a planilha e caracterize as escritas dos estudantes. Observe os indicadores que constam
na tabela abaixo e responda às questões.
Quadro 01 – Grade de indicadores para avaliação diagnóstica do sistema de escrita alfabética e ortográfico
Pré-silábico
Escreve criando escritas diferenciadas em função do número mínimo de letras e da variação interna e lê globalmente.
1. Usa formas gráficas próximas das letras convencionais (pseudoletras, letras, números...)?
2. Revela forte influência do modelo do nome próprio?
3. Faz uso de um bom repertório de letras?
4. Usa muitas letras para escrever?
5. Apresenta variação interna (intrafigural) nos grafismos produzidos?
6. Apresenta variação externa (interfigural) nos grafismos produzidos ao escrever palavras diferentes?
7. Reproduz a estrutura linear da escrita?
8. Apresenta realismo nominal, isto é, acredita que se escreve guardando as características do objeto representado
pelo nome?
9. Lê globalmente?
Silábico
Escreve controlando a produção pela segmentação silábica da palavra, com ou sem valor sonoro convencional; lê
analisando as notações.
10. Controla a quantidade de sílabas que devem ser escritas apenas ao ler?
11. Controla a produção pela quantidade de sílabas que devem ser escritas?
12. Emprega letras com o valor sonoro apenas no início das palavras (ou em alguma outra posição) com regularidade?
13. Emprega letras com o valor sonoro de vogais?
14. Emprega letras com o valor sonoro de consoantes?
15. Lê analisando as notações gráficas?
16. Ao ser solicitado a ler o que escreveu, não reconhece a palavra ou a soletra?
Silábico-alfabético
Escreve ora controlando pela segmentação silábica da palavra, ora pela alfabética (completar a planilha)
17. Escreve ora representando os elementos sonoros que compõem a sílaba e ora representando os fonemas?
18. Escreve silabicamente em contextos nos quais a sílaba corresponde ao nome da letra?
19. Acrescenta uma letra “curinga” para acomodar sua exigência de que a sílaba precisa ter 2 letras?
20. Ao ler em voz alta, inicia o processo de conversão dos sinais gráficos em representações fonológicas ?
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Alfabético
Escrever controlando a produção pela correspondência letra / som, mesmo que a escrita não esteja ortograficamente
correta.
21. Compreende que as sílabas são compostas por unidades menores, mas é fortemente influenciado pela estrutura da
sílaba canônica (CV)?
22. Representa as unidades que compõem sílabas com estruturas do tipo CVC e CCV (em que a segunda consoante é
‘R’ ou ‘L’)?
23. Representa as unidades que compõem sílabas empregando dígrafos (CH, LH, NH) e vogais nasais marcadas pelo ‘M’
ou ‘N’ em final de sílaba, no interior da palavra?
24. Ao ler em voz alta, converte os sinais gráficos em representações fonológicas para chegar à forma fonológica das
palavras e, dessa forma, ao seu significado. (via indireta)?
25. Conecta diretamente a forma ortográfica da palavra com a sua representação fonológica, isto é, “numa olhada”
reconhece a palavra escrita (via direta)?
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Referências
FARACO, C. A. Escrita e alfabetização. São Paulo : Contexto, 2012.
FERREIRO, E. A escrita antes das letras. In: SINCLAIR, H. (Org.) A produção de notações na criança: linguagem,
números, ritmos e melodia. São Paulo : Cortez, 1989, p. 19-70.
NÓBREGA, M. J. Ortografia. Coleção Como eu ensino. São Paulo : Melhoramentos, 2013.