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4º Ano – 1º Semestre
Ano letivo 2020/2021
Docente:
Discentes:
4T1E
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Ferreiro (2006) realizou estudos longitudinais nesta área com crianças dos 3 aos 6
anos e estudos transversais com crianças dos 4 aos 9 anos. A partir destes, identificou 3
fases fundamentais na conceptualização da escrita:
• Uma primeira fase em que há uma identificação de padrões distintos entre marcas
gráficas figurativas e não figurativas, uma constituição de séries de letras
enquanto objetos substitutos e uma procura de condições de interpretação desses
objetos substitutos. A criança ainda não utiliza caracteres convencionais para
escrever, nem distingue completamente as letras dos números.
• Na 2ª fase, há a construção de modos de diferenciação entre cadeias de letras,
sendo esta diferenciação alternativamente qualitativa e quantitativa. As condições
formais de legibilidade essenciais que marcam esta fase são existir uma
quantidade mínima de letras e não apresentar a mesma letra repetida.
• Por fim, a 3ª fase corresponde à fonética da escrita, esta começa com um período
silábico e culmina com o período alfabético.
Isto verifica-se para línguas como a portuguesa, cujos limites silábicos são claramente
marcados e os nomes mais utilizados são bi ou trissilábicos.
Martins e Niza (1998), por sua vez, fazem um paralelo entre os primeiros textos de
Ferreiro e as suas descobertas científicas, do qual surgem os três níveis seguintes:
Concluímos desta forma, que nem todas as crianças pensam da mesma forma
relativamente à natureza da linguagem escrita. Existem crianças que não relacionam a
linguagem escrita e oral, existem crianças que se guiam por critérios linguísticos,
analisando o oral e as sílabas, às quais fazem corresponder uma letra arbitrária e existem
ainda crianças que procuram representar os sons com letras convencionais (Martins et al.,
1998).
MÉTODO
Amostra
Material
Para a pergunta “Que letras é que conheces?”, foi ainda mostrada à criança uma
lista de letras, para que fosse mais fácil o menino identificar as letras conhecidas. Para a
pergunta nº20 da entrevista do Francisco, foram utilizados três cartões (um com apenas
uma letra, outro com quatro letras iguais e um terceiro com três letras diferentes) com a
finalidade de compreender quais as suas conceções acerca do tipo de palavras que são
possíveis de ler.
Por fim, foi utilizado também o telemóvel para gravar a entrevista (com a devida
autorização dos encarregados de educação da criança) de modo a que depois esta pudesse
ser transcrita. As gravações foram posteriormente apagadas.
Procedimento
Inicialmente, houve uma conversa com as crianças explicando o que se iria passar
e para que iriam servir as respostas delas. De seguida, foram feitas algumas perguntas em
relação ao lugar que a leitura ocupava na vida de cada criança, como por exemplo,
“Conheces pessoas que sabem ler?”. Esta primeira parte da entrevista (as cinco primeiras
perguntas) teve a finalidade de captar qual a funcionalidade da leitura para a criança,
explorar a sua rede de suporte social face à leitura e à escrita e ainda, compreender o seu
projeto de leitor/escritor. Mais tarde (a partir da pergunta número 6, em ambas as
entrevistas), foi pedido à criança que escrevesse algumas coisas da forma que achasse
melhor, como por exemplo, “Já sabes escrever o teu nome? Então escreve lá” ou “Escreve
lá como tu souberes, como fores capaz “gato””. Nesta segunda parte foi analisada a escrita
propriamente dita e as conceções das crianças sobre a mesma.
No final, agradecemos às crianças por terem respondido à entrevista e aos pais por
terem dado permissão para que tal fosse possível.
RESULTADOS
Quando foi pedido para escrever a frase “O gato é pai do gatinho”, o Tomás não
utilizou as palavras escritas anteriormente para “gato” e para “gatinho”, escreveu a frase
como se as palavras fossem juntas e ao ser questionado sobre o local de cada palavra,
apenas localizou a palavra “gato” e “gatinho”, não considerando os artigos e verbos. De
seguida, foi pedido que este escrevesse as palavras “formiga” e “formigas”, que ele
escreveu utilizando novamente as letras do seu nome e outras. Não se revelou grande
diferença entre a escrita destas duas palavras, mas utilizou uma configuração diferente de
letras para cada uma, formando palavras diferentes. Ambas estas respostas são
consideradas, novamente, características de um nível pré-silábico. Ao ser tapado a última
parte da palavra “formiga”, o menino primeiro leu a palavra inteira, mas depois respondeu
que esta se lia “for” corrigindo-se, esta correção do menino pode ser um indicador
relevante de que a criança já pensa sobre a linguagem.
De seguida, foi perguntado que letras o Tomás conhecia e, a partir destas, foi
pedido que este escreve-se a palavra “águia”, dado conhecer a letra “A”. O menino
utilizou a letra “A” para iniciar a palavra, embora depois tenha acrescentado novamente
letras do seu nome. Isto também pode ser considerado um indicador de que o menino
pensa na linguagem e começa a ligar o som da letra conhecida à palavra escrita, embora
o facto das restantes letras serem letras do seu nome revele ainda um nível pré-silábico.
Por último, foi dito ao menino que se conhecia outro rapaz chamado Tomás e
perguntou-se se a criança sabia escrever o nome desse rapaz. O Tomás apontou para o
local onde tinha escrito o seu próprio nome. Tal revela que o menino já compreende que
o seu nome se refere à linguagem oral e escrita e não é apenas parte da sua identidade.
No caso do Francisco, este escreve o seu nome também sem dificuldades. Ao ser
pedido para escrever a palavra “pato”, este analisa primeiro o som da mesma por sílabas
e depois escreve a letra “A” relativa ao som “pá” e a letra “O” relativa ao som “to”, mas
depois acrescenta outras letras de forma arbitrária. Quando lhe foi pedido para ler a
palavra que escreveu, ele expressou que a palavra escrita por ele não era a palavra “pato”.
Aqui observamos que a criança analisa o som e faz uma escrita silábica com fonetização
mas depois acrescenta outras letras.
Ao ser pedido que escrevesse a palavra “patinho”, o Francisco mostra
compreender que esta palavra tem mais letras que a palavra “pato”, mas de seguida
escreve a palavra utilizando letras aleatórias. Quando pedido para ler, ele leu
silabicamente, dividindo a palavra, embora não a tenha escrito dessa forma. De seguida,
foi perguntado porque é que “patinho” tinha mais letras que “pato”, ao que o Francisco
respondeu que “patinho” tinha três e “pato” tinha dois, referindo-se às silabas.
Característica esta, do nível silábico.
Quando lhe foi pedido para escrever a fase “O pato é pai do patinho”, este escreve
as palavras todas juntas e sem pensar no que está a escrever, quando perguntado o local
das palavras, ele já nem se lembra bem da ordem das mesmas. Não analisa o som, nem
põe as letras correspondentes ao mesmo. Também não respeita a ordem das palavras da
frase na escrita. Isto são características pré-silábicas.
Foi dito ao menino que se conhecia outro rapaz chamado Francisco e perguntou-
se se a criança sabia escrever o nome desse rapaz. O Francisco, à semelhança do Tomás,
apontou para o local onde tinha escrito o seu próprio nome. Tal revela que este já
compreende também que o seu nome se refere à linguagem oral e escrita e não é apenas
parte da sua identidade.
De seguida, foram mostrados três cartões ao Francisco (Um com apenas uma letra,
um com 4 letras iguais e um com 3 letras diferentes) e foi perguntado qual destes servia
para ler. O menino respondeu que só dava para ler o último cartão referido porque “esta
tem palavras e as outras não”, ao explorar esta resposta percebemos que ele se referia ao
facto de haver várias letras e estas serem diferentes. Esta é uma conceção do nível pré-
silábico.
Por último, foi perguntado que letras o Francisco conhecia e, a partir destas, foi
pedido que este escreve-se a palavra “águia”, à semelhança do Tomás, dado este também
conhecer a letra “A”. O menino utilizou a letra “A” para iniciar a palavra, de seguida põe
a letra “I” para a sílaba “gui” e a letra “A” para a última sílaba da palavra. Aqui é
demonstrada uma escrita de nível silábico com fonetização.
CONCLUSÃO/REFLEXÃO
No caso do Tomás podemos observar esta teoria, no sentido de que com apenas 5
anos, este escreve o seu nome sem dificuldade e já apresenta alguns indicadores de pensar
na linguagem e na correspondência do som às letras. O Tomás tem quatro irmãs mais
velhas e deseja aprender a ler como elas, o que revela um bom suporte social neste sentido
e um projeto pessoal de leitor/escritor motivador. No caso do Francisco, estando este a
iniciar o 1º ano do 1º ciclo, embora já tenha 7 anos, consideramos que este está num nível
adequado. Isto vai também de encontro à teoria, pois o menino refere uma rede de suporte
também adequada, assim como um projeto de leitor/escritor igualmente positivo.
Relativamente ao Francisco, concluímos que este está entre dois níveis referidos
pelas autoras Martins et al. (1998), o nível pré-silábico e o nível silábico com fonetização,
embora se encontre mais no nível silábico com fonetização. Ou seja, são características
pré-silábicas, o facto de o Francisco acrescentar letras arbitrárias às suas palavras escritas,
não analisar o som ao escrever a frase solicitada, nem respeitar a ordem das palavras da
frase na escrita. Também o facto de este demonstrar que acredita que as palavras só
podem ser lidas se tiverem várias letras e se estas forem diferentes, é uma característica
deste nível. Isto é verificado não só na questão nº20, quando o menino diz que apenas se
pode ler o cartão que tem três letras diferentes, como também quando ele faz uma escrita
silábica com fonetização mas acrescenta letras arbitrárias à palavra até esta ter 3 ou 4
letras, aqui verifica-se que a criança procura aquele número de letras que ele considera
que uma palavra deve ter.
Por outro lado, são características de uma escrita silábica com fonetização, o
Francisco fazer oralizações que acompanham a escrita e que são formuladas antes da
mesma, dividir a palavra silabicamente nessas oralizações, compreender quando as
palavras têm mais sílabas e por isso, mais letras, compreender que ao tapar uma parte de
uma palavra esta é lida de forma diferente e, por fim, escrever a palavra “águia” com cada
letra escolhida especificamente para o som de cada sílaba (“AIA”).
Por fim, ambos os meninos consideraram que o nome deles não era uma
característica unicamente deles próprios, associando o mesmo à palavra em si, que pode
se referir a vários meninos. Isto revela uma consciência de que a escrita corresponde à
linguagem e não ao referente.
REFERÊNCIAS
Niza & Martins. (1998). Em I. Niza, & M. Martins, Capítulo 2 - Conceções precoces
acerca da linguagem escrita. Em Psicologia da aprendizagem da linguagem escrita
(pp. 43 - 95). Lisboa: Universidade Aberta.
ANEXOS
Conheço
Quem?
E a mãe e o pai?
Ele primeiro leu a palavra toda “formiga”, e depois eu perguntei só este bocadinho
e ele disse “for”.
19. Sabias que eu tenho um menino na minha escola que se chama Tomás? Sabes
escrever o nome dele?
Apontou para a folha onde escreveu no início o seu próprio nome.
Enquanto ia-lhe fazendo as perguntas ele desenhou isto (O gato e gatinho)
Desenho o gato maior e o gatinho mais pequeno.
17. Se eu agora chegar aqui e tapar este bocadinho de “focas” como é que tu
achas que se lê? (Tapei as últimas duas letras que ele escreveu)
“Fó”
Só “Fó”?
Sim
18. Ok, então e porque é que “focas” tem mais letras do que “foca”?
Porque “foca” tem “foca” (diz rápido, como se fosse uma só silaba), tem só um,
depois “focas” tem “fo-cas”, é dois (mostra com os dedos à medida que diz a
palavra).
19. Agora se eu te disser que conheço outro menino que se chama Francisco, tu
sabes escrever o nome dele?
Sim, sei! (vai buscar a folha onde escreveu o próprio nome) Está aqui!
Ah! É igual ao teu?
Isto não (aponta para o apelido), só este (aponta para onde escreveu “Francisco”)
- Mostrar 3 cartões, um com apenas uma letra, um com 4 letras iguais e um com
3 letras diferentes –
20. Então e destas palavras que eu tenho aqui, qual é que tu achas que dá para
ler? Servem só algumas, servem todas, não serve nenhuma… ?
Esta (aponta para o cartão que tem 3 letras diferentes)
Porquê?
Porque esta tem palavras e as outras não
Palavras? Como assim?
Palavras para ler
Ah, as letras?
Sim, as letras
Porquê? São diferentes?
Sim! E assim podemos ler
Ah, está bem!
- Mostrar uma lista de letras –
21. Diz-me lá aqui que letras é que tu conheces bem
A, B, C, D, E, F, G. Estas todas
Então escreve lá, por exemplo, “águia”
“Á”, “á-gui-a”, (escreve o “A” e o “I”) e é um “ah”, “ah”… (fica em dúvida se
será a letra “A” no final, mas acaba por pôr)