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DISSUASÃO
. Assume-se como uma estratégia de intervenção global e integrada, extravasando a mera aplicação da Lei da

DISSUASÃO descriminalização.

A Lei nº30/2000, de 29 de novembro, vulgarmente chamada a lei da descriminalização, operou a conversão da


qualificação jurídico-legal de uma conduta de infração penal, crime, em infração de natureza administrativa,
contraordenação, estabelecendo um novo regime aplicável ao consumo de substâncias psicoativas ilícitas, com objetivos
de promoção da saúde e de proteção sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias e das comunidades.

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DISSUASÃO

DISSUASÃO . O paradigma descriminalizador reforça os meios e recursos disponíveis no âmbito da redução da procura, constituindo
mais um instrumento de operacionalização dos objetivos e políticas de combate ao uso e abuso de substâncias
Esta Lei descriminaliza o consumo e posse para consumo de substâncias psicoativas ilícitas, dentro dos limites fixados psicoativas ilícitas representando, também, uma medida de combate à exclusão social.
nos termos do nº 2 do art.º 2, atribuindo a competência para o processamento das contraordenações e aplicação das
respetivas sanções, as comissões especialmente criadas para o efeito, sediadas nas capitais de distrito, designadas . Indissociável das restantes áreas de intervenção, que constituem o reconhecido modelo português, a dissuasão opera
Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT), nos termos previstos no Decreto-Lei 130-A/2001, de 23 de numa rede de respostas articuladas trabalhando para a redução do consumo de substâncias psicoativas e dependências,
abril, que estabelece a sua organização, processo e regime de funcionamento. a proteção sanitária dos consumidores e das populações e para a prevenção da exclusão social.

. Valores como a inovação e o pragmatismo permitiram criar e manter em funcionamento esta resposta normativa, cuja
fortíssima componente de promoção da saúde tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida do cidadão e das
3 comunidades. 4

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DISSUASÃO DISSUASÃO

Metodologia de intervenção subjacente


A intervenção preconizada pelas Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT), serviços do Ministério da - Centra-se na valorização da avaliação e da motivação dos consumidores para a mudança de comportamento, na
Saúde que operacionalizam a lei da descriminalização, é de abrangência nacional. Estes serviços acolhem os indiciados dissuasão dos consumos, na promoção da saúde, numa maior qualidade de vida, e numa maior adesão aos apoios
(consumidores de substâncias psicoativas ilícitas) encaminhados pelas forças de segurança e pelos tribunais, procedem a especializados disponíveis, sejam eles de prevenção indicada, tratamento ou reinserção.
uma avaliação rigorosa da sua situação face ao consumo, valorizando sempre as suas necessidades psicossociais, sem
nunca descurar a razão pela qual foram criados: a premência em aproximar os consumidores de substâncias ilícitas dos Considera-se fundamental potenciar a intervenção das CDT, nomeadamente e entre outras, enfatizar e valorizar as
serviços da área saúde.
componentes de intervenção na esfera do indiciado no âmbito das diligências de motivação e da intervenção precoce,
diagnosticando, intervindo e/ou referenciando os consumidores de substâncias psicoativas para as respostas existentes
na comunidade.
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DISSUASÃO

As CDT..

Dotadas de um corpo técnico multidisciplinar com um vasto conhecimento em Comportamentos Aditivos e


Dependências, estas equipas promovem junto dos indiciados um ação que ultrapassa a esfera da mera
Prevenção - o que é?
descriminalização designadamente ao nível do desenvolvimento de Intervenções Breves, de carácter preventivo e
psicoeducacional, de respostas preventivas específicas e adequadas às necessidades dos indiciados.
Nos casos de abuso ou dependência que necessitem de ser encaminhados para serviços de apoio especializado, as
Intervenções Breves estruturadas e motivacionais, sem a pretensão de tratar, constituem-se como uma preparação para
uma eventual adesão à referenciação realizada.
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Prevenção do consumo de spa – uma definição Objetivos da prevenção do consumo de substâncias

- Evitar a experimentação;

Processo ativo de implementação de iniciativas destinadas a modificar e melhorar a formação integral e a - Atrasar a idade de início dos consumos;
- Limitar o número e o tipo de substâncias utilizadas;
qualidade de vida dos indivíduos, fomentando o autocontrole individual e a resistência coletiva perante a
- Evitar a passagem da experimentação para o uso e abuso;
oferta de drogas. (Martín, 1995, p.55)
- Educar para uma relação responsável com as substâncias;
-Promover os fatores de Proteção e diminuir os fatores de Risco;

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Prevenção Universal
Níveis operacionais da Intervenção Preventiva - Dirigida ao público em geral ou a um grupo da população (não identificado a partir de qualquer
fator de risco).

. Universal
- Assume-se que toda a população partilha de um mesmo risco geral, ainda que este possa variar
. Seletiva
muito de indivíduo para indivíduo pode incluir estratégias como campanhas de informação,
. Indicada promoção de competências ou modificação de aspetos ambientais.

- Tem como objetivo evitar ou retardar o uso e o abuso de drogas licitas e ilícitas
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Prevenção Seletiva Prevenção Indicada


- Dirigida a subgrupos específicos da população geral identificados como de risco na medida em que
têm uma maior probabilidade de iniciar ou acentuar consumos de SPA; - Dirige-se a indivíduos com comportamentos de risco, que exibem sinais de uso de substâncias ou
que apresentam outros comportamentos problemáticos;
- Os grupos de risco são identificados em função dos fatores de risco a que estão expostos:
biológicos, psicológicos, sociais e ambientais associados ao abuso de substâncias; - Os programas de prevenção indicada são definidos pela avaliação do nível de risco individual;

- O objetivo dos programas de prevenção seletiva é prevenir, deter ou retardar o uso e o abuso de - O objetivo dos programas é reduzir os primeiros consumos e/ou a severidade do abuso de
substâncias licitas e ilícitas; substâncias;
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Fatores de Proteção
Fatores de Risco
Um atributo ou caraterística individual, condição
Certas situações, circunstâncias ou características situacional e/ou contexto ambiental que inibe, reduz
individuais que estão associadas a uma maior ou atenua a probabilidade de ocorrência de
probabilidade de ocorrência de determinada determinada situação problemática.
condição problemática.
Promovem comportamentos positivos, saudáveis, de
bem-estar e sucesso pessoal
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Resiliência Fatores de Risco e de Proteção


- Os fatores de risco e de proteção estão presentes nas relações que o indivíduo estabelece

Conceito da física, capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sofrido com os outros e com a sociedade;
tensão “processo e resultado de se adaptar com sucesso a experiências de vida difíceis ou
desafiadoras, especialmente através da flexibilidade mental, emocional e comportamental e - A sua natureza pode ser biológica ou psicossocial;
ajustamento a demandas externas e internas” (APA, 2010)

- O que pode constituir-se como risco/proteção numa fase do desenvolvimento pode não o
“o grau de resiliência de um indivíduo é considerado uma função de fatores e processos protetores,
ser noutra;
internos e externos e, nesse sentido, uma questão importante é, então, conhecer os mecanismos
individuais, familiares ou sociais que lutam contra a trajetória do risco para a Psicopatologia, e que
- No caso do consumo de spa os fatores de risco e proteção são comuns a outras
contribuem para resultados adaptativos mesmo em presença da adversidade” (Soares, 2000).
17 problemáticas: gravidez precoce, abandono escolar, suicídio juvenil e delinquência; 18

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Domínios dos Fatores de Risco e de Proteção Fatores de Risco Individuais

. Individual - predisposições biológicas e psicológicas, atitudes, valores, conhecimento, . Sexo e idade I Caraterísticas de personalidade;
competências, comportamentos problema;
. Baixa tolerância à frustração -Procura de sensações fortes;
. Família - função, gestão, vinculação
. Temperamento “difícil” Depressão, ansiedade, problemas de saúde mental;
. Pares - normas, atividades
. Comportamentos anti-sociais precoces I Problemas de comportamento;
. Escola - vinculação, ambiente, politicas, desempenho
. Baixa autoestima;
. Comunidade - vinculação, normas, recursos, mobilização
. Dificuldades de relacionamento;
. Sociedade/ambiente- normas, politicas/sanções
. Vítima de abuso físico, sexual ou emocional;
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Fatores de Risco Individuais Fatores de Proteção Individuais

. Baixas expectativas de sucesso; . Crenças de autoeficácia e autoestima positiva;

. Desvalorização das normas; . Capacidade de adaptação e de resolução de problemas;

. Competências de relacionamento interpessoal;


. Atitudes favoráveis aos consumos;
. Capacidade de tomada de decisões;
. Experimentação precoce de drogas.
. Capacidade de gestão do stress e da agressividade;

. Capacidade de ser empático;

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Fatores de Proteção Individuais Fatores de Risco Familiares


. Sentido de humor;
. Famílias desagregadas ou em rutura, conflitos familiares;
. Crenças e estilos de vida saudáveis;
. Famílias com disfunções ao nível da comunicação afetivo-emocional;
. Pertença a grupos positivos;
. Estilo educativo permissivo ou autoritário;
. Expectativas de sucesso.
. Uso de drogas por parte dos pais;

. Atitudes favoráveis em relação às SPA.

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Fatores de Proteção Familiares

Fatores de Proteção – Grupo de Pares


. Famílias com envolvimento afetivo, coesa e apoiante;

. Padrões de comunicação e fronteiras claros;


. Resistência à pressão dos pares;
. Estilo educativo democrático: regras claras e adequadas;
. Vinculação a um grupo de pares “convencional”;
. Expectativas de sucesso (próprios e filhos);
. Normas de grupo que não aprovem o uso de substâncias;
. Oportunidades de participação e reforço.

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Fatores de Proteção Escolares


Fatores de Risco Escolares
. Escolas promotoras de um clima educacional positivo

. Insucesso escolar e fraca ligação à escola;


Oportunidades de participação:
. Organização escolar negativa: ausência de regras e conflitos constantes;
• Comunidades educativas ativas, fomentando a discussão e a utilização de estratégias para
. Dificuldades nas transições de ciclo. implicar todos nas decisões e iniciativas da escola

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Fatores de Risco Comunitários Fatores de Proteção Comunitários

. Acessibilidade da substância Leis e normas favoráveis ao consumo;


. Oportunidades de participação na vida comunitária;
. Privação económica e social extrema;
. Valores dominantes desfavoráveis ao consumo;
. Transição e mobilidade;
. Existência de redes sociais e sistemas de apoio;
. Desorganização comunitária.

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Fatores de risco – Sociedade/Ambiente Comportamentos de Risco e Adolescência


. Empobrecimento, desemprego; - Período de transição / mudança;

. Discriminação; - Construção da identidade, autonomia e interdependência;

. Mensagens favoráveis ao uso de drogas veiculadas pela comunicação social; - Autonomização parental / reformulação das imagens parentais (importância do grupo de pares /
alargamento a outras figuras significativas);
Fatores de Proteção – Sociedade/Ambiente
- Experimentação de papeis;
. Legislação e políticas públicas
- Período de grandes oportunidades de crescimento (físico, intelectual, social, maior autonomia, …) mas
P.ex.: Dificultar a acessibilidade: também período de maiores riscos (gravidez precoce, distorção da imagem corporal, comportamentos de
• Aumentar a idade de acesso e compra (ex. álcool e tabaco) risco, abuso de SPA, …);

• Aumento da carga fiscal desses produtos (aumento do preço final) - Grande susceptibilidade às pressões do meio;
– Leis restritivas no que se refere à condução sob o efeito de substâncias
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Comportamentos de Risco e adolescência


A intervenção preventiva deve ser operacionalizada através da avaliação do

•Necessidade de integração em grupo de pares; risco dos indivíduos para o consumo de substâncias psicoativas, sendo

•Sensação de omnipotência e invulnerabilidade; proposto um modelo operacional para o desenho das intervenções

•Necessidade de transgressão de regras e limites; preventivas que contempla os níveis universal, seletivo e indicado (IOM, 1994,
2009).

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Variáveis sobre as quais deve incidir a Intervenção:


• a impulsividade, o imediatismo e a baixa capacidade de autocrítica, procura de sensações, a rebeldia e
a necessidade de pertença (variáveis críticas na fase prévia);
• a capacidade de escolher ambientes promotores de saúde em detrimento dos ambientes de risco;
• as competências sociais e a promoção da autoeficácia e do autoconceito (variáveis críticas na fase de
conhecimento);
• as atitudes, normas e valores em relação ao consumo de drogas e as competências de resolução de
problemas (variáveis críticas na fase de experimentação);
• a regulação emocional (variável crítica nas fases de experimentação e de consolidação);
• Intervenção no ambiente escolar e nas práticas parentais educativas como complemento;

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Orientações para aumentar a eficácia dos programas . devem melhorar competências pessoais, sociais e escolares (comunicação, relações de pares,
eficácia, assertividade e hábitos de estudo) (Botvin et al.,1995;Scheier et al., 1999);
O que funciona?

. os programas de prevenção devem promover os fatores de proteção e reverter ou reduzir os fatores . a informação veiculada deve ser neutra, factual e realista e adaptada ao grupo-alvo

de risco (Hawkins e tal, 2002);


. os programas devem ser de longo prazo, com repetição das aplicações (sessões de reforço dos

. os programas de prevenção devem ter como objetivo todas as formas de abuso incluindo as drogas objetivos preventivos iniciais) (Scheier et al, 1999)

legais (Johnston e tal, 2002);


. os programas de prevenção são mais eficazes quando aplicam técnicas interativas, como role-play

. os programas de prevenção devem dirigir-se a riscos específicos da população ou a características ou a discussão em grupos, que permitem o envolvimento ativo na aprendizagem e o reforço de

do público alvo, tais como: idade, género e contexto cultural (Oetting e tal 1997) competências (Botvin et al, 1995)
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. os programas sustentados em evidência científica podem ser eficazes do ponto de vista da relação
custo/benefício.
. Promover o aumento da participação na vida da escola;
. A investigação mostra que por cada dólar investido em prevenção é possível poupar 10 em
. Promover atitudes positivas em relação aos outros, à escola e ao futuro;
tratamento (Aos et al, 2001; Hawkins et al, 1999; Pentz, 1998; Spoth et al, 2002

. Ensino Básico: aprendizagens académicas e sócio - emocionais: autocontrolo, comunicação,


consciência emocional

. 2.º e 3.º ciclos e secundário: competências académicas e sociais Hábitos de estudo | Comunicação |
Relação com os pares | Autoeficácia e Assertividade Capacidade de resistência ao consumo de SPA
(Botvin et al., 1995; Scheier et al., 1999) 39 40

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Em suma…
Promover Fatores de Proteção e Reduzir Fatores de Risco

• Ser específicos e adequados à idade


https://www.youtube.com/watch?v=Y8hs9VFf96M
• Contemplar a participação dos professores

• Fazer parte do projeto educativo da escola

• Incluir estratégias cientificamente validadas

• Utilizar estratégias interativas

• Valorizar a transição de ciclo


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https://www.youtube.com/watch?v=UF7BIkNuCkY
REDUÇÃO DE RISCOS E MINIMIZAÇÃO DE DANOS

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ENQUADRAMENTO

ENQUADRAMENTO Desenhando um quadro genérico, dir-se-ia que tradicionalmente, a população alvo desta abordagem tem consistido nos
consumidores de heroína e cocaína de longa data, particularmente marginalizados, fragilizados a nível social e da saúde,
A abordagem da Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD) foi inicialmente concebida
que não pretendem ou não conseguem abandonar o consumo e que não contactam os serviços da rede de apoio,
para intervir junto de consumidores inacessíveis, para os quais o serviço de tratamento tradicional
nomeadamente serviços de tratamento da dependência.
não estava disponível ou que, estando disponível, não estava acessível ou não era motivo de
intenções.
Ao longo dos últimos anos, em Portugal tem-se verificado que, através de respostas de proximidade (como por exemplo,
Pretendia-se chegar aos consumidores que não queriam ou não conseguiam deixar de consumir,
as Equipas de Rua) que atuam nos contextos onde os consumidores de substâncias psicoativas se encontram, tem sido
fornecendo-lhes informações de redução de riscos e danos.
possível estabelecer contacto e intervir junto de pessoas que não procuravam serviços de saúde, concorrendo para uma
maior procura de serviços, nomeadamente de tratamento.
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ENQUADRAMENTO
ENQUADRAMENTO
A expansão desta dinâmica de consumos, bem como a da própria diversidade de substâncias disponíveis, com uma
população em muitos aspetos distinta da que classicamente havia sido alvo da intervenção em RRMD, mas
No entanto, conjuntamente com as respostas a esta população há que considerar um outro
simultaneamente de difícil acesso, fomentou a necessidade de identificar necessidades e de definir e implementar
fenómeno: “desde há alguns anos a esta parte, tem-se observado uma transformação na dinâmica
estratégias específicas.
das atividades noturnas, nomeadamente no que diz respeito ao consumo de substâncias, sendo
este mais alargado do que o clássico consumo de álcool e tabaco.
A extensão dos designados “consumos em contextos recreativos”, caracterizados por uma representação social
positiva deste tipo de comportamento, aliada a uma baixa perceção do risco dos mesmos e uma grande diversidade e
oferta de substâncias, traduzem-se na pertinência de atuação nesta realidade segundo uma abordagem de RRMD.

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A evolução da intervenção em RRMD pode ser analisada segundo três


Tornou-se igualmente necessária uma intervenção específica ao nível desta população, procurando-se investir numa
fases:
abordagem de proximidade, utilizando como atores privilegiados profissionais com formação adequada ao nível deste
tipo de intervenção e ao nível dos efeitos secundários das substâncias psicoativas em geral, com particular incidência nas . Numa primeira fase, esta contemplou ações de saúde pública relativamente a substâncias ilícitas
e disponibilização de metadona a heroinómanos;
mais utilizadas em contextos recreativos (álcool, cannabis, cocaína e Novas Substancias Psicoativas ou outras).
. Num segunda fase, focalizou-se sobretudo na população de consumidores por via endovenosa e
prevenção da transmissão do VIH/SIDA;
Assim, as intervenções em RRMD aplicam-se e são necessárias para uma população heterogénea, seja em termos de
faixas etárias, estilos e histórias de vida, contextos que oferecem o enquadramento para o consumo e diferentes . A terceira fase contempla a atuação no domínio da saúde pública de uma forma integrada tanto
ao nível do consumo de substâncias ilícitas como no consumo de substâncias lícitas;
substâncias consumidas, nomeadamente o contexto recreativo, bem como em termos de diferentes substâncias
psicoativas e de formas de consumo.

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A abordagem tem consistido, assim, em promover a mudança do comportamento dos


- Cidadania;
consumidores de substâncias psicoativas, a fim de diminuir os riscos nos casos em que não é
possível impedir o consumo ou conseguir a abstinência. Neste sentido, o modelo de intervenção, - Diálogo;

que implica frequentemente trabalhar com pessoas com comportamentos aditivos e dependências - Relação;
com muitos problemas psicossociais e enfrentar contextos problemáticos e situações imprevisíveis,
- Negociação;
deve orientar-se por princípios como:
- Abordagem holística; - Educação para a Saúde;

- Abordagem de proximidade - Mudança;


- Gradualismo;
- Acessibilidade aos Serviços de Saúde e Sociais.
- Autonomia;
- Enraizamento na comunidade;
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Abordagem holística Abordagem de proximidade

Considerar que existem variáveis de ordem individual e contextual que são mediadoras das Intervir, no âmbito das políticas de RRMD, junto de populações específicas de consumidores de
mudanças de crenças, atitudes e comportamentos relativos ao consumo de substâncias e que substâncias psicoativas que não sejam efetivamente abrangidos pelos serviços convencionais, bem
importa ter em consideração na definição da melhor estratégia de atuação com cada pessoa com como a necessidade de realizar intervenções específicas no domínio da promoção da saúde
comportamentos aditivos e dependência com vista a sensibilizá-la para a eliminação de pública, exige um esforço de valorização, de alargamento e de aperfeiçoamento contínuo de um
comportamentos de riscos e adoção de comportamentos de proteção. modelo de intervenção em proximidade.

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Gradualismo Autonomia

Salvaguardar os interesses, motivações e prioridades da pessoa, definindo objetivos e metas em


Propiciar acompanhamento e orientação na mudança, que é em regra um processo com várias
conjunto.
etapas com avanços e recuos, e preparar o processo de mudança adequado às condições da
pessoa, promovendo uma avaliação rigorosa, a definição de estratégias específicas e
Trata-se de uma questão ética – liberdade de escolha e dignidade da pessoa – e técnica – as
concretizáveis, o compromisso e favorecendo melhores expetativas de autoeficácia.
pessoas mudam apenas o que querem mudar.

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Enraizamento na comunidade
Cidadania
Considerar aspetos comunitários mais próximos – normas sociais e comportamentais entre os
consumidores, natureza e estrutura das relações sociais na rede de consumidores, contexto social e Criar condições que permitam à pessoa uma estruturação de vida com o mínimo de dignidade, ou

físico imediato na qual as substâncias psicoativas são consumidas, vizinhança local e contexto no seja, reconhecer o consumidor como um todo, o que implica reconhecer-lhe uma dignidade, uma

qual os consumidores vivem no quotidiano – e outros mais abrangentes – contexto público, político humanidade enquanto indivíduo desenvolvendo assim uma consciência de cidadania.

e legal do consumo, aspetos económicos, entre outros).

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Diálogo Relação

Valorizar e, em alguns casos, restaurar a importância da comunicação pressupondo a escuta, a Privilegiar o estabelecimento de relações sociais próximas e a construção de bases de confiança e

reflexão e a intervenção, abrindo um espaço onde se podem colocar questões. respeito mútuo, ou seja, entender que é uma relação diferente da relação terapêutica tradicional e
que se baseia numa relação de parceria, de ajuda e de confiança/confidencialidade.

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Educação para a Saúde


Negociação
Focar o interesse do consumidor de drogas, habitualmente centrado nas substâncias e no seu uso, na noção
de saúde.
Constituir modelos de negociação como processo essencial para chegar a uma intervenção que seja
satisfatória e exequível para todas as partes envolvidas (técnicos, grupo-alvo, traficantes, Mudança
população em geral, promotores de eventos, parceiros, entre outros).
Promover a alteração de comportamentos de risco e hábitos de consumo considerando, na interação com o
consumidor, aspetos como a empatia enquanto determinante para fomentar a motivação e a mudança, a
consciencialização da dissonância entre o comportamento atual e os objetivos definidos, a importância de
evitar argumentar ou fomentar o confronto direto, a utilização da própria resistência à mudança para gerar
condições para que ela aconteça, bem como a promoção da crença de que a pessoa pode mudar.
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PROGRAMAS E ESTRUTURAS SÓCIO SANITÁRIAS


Acessibilidade aos Serviços de Saúde e Sociais

Promover a aproximação e o acesso do indivíduo aos serviços de saúde e sociais disponíveis, . Os programas e estruturas sócio sanitárias desenvolvidas em Portugal, que fazem parte da Rede
fornecendo informação sobre alternativas existentes, estabelecendo e promovendo uma de Intervenção de Redução de Riscos e Minimização de Danos, têm um enquadramento normativo
articulação concertada de forma a facilitar o relacionamento do indivíduo com estes serviços. legal desde 2001, expresso no Decreto-Lei n.º 183/2001, de 21 de junho e destinam-se “à
sensibilização e ao encaminhamento de toxicodependentes bem como à prevenção e redução de
atitudes ou comportamentos de risco acrescido e minimização de danos individuais e sociais
provocados pela toxicodependência.”

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Gabinetes de apoio a Toxicodependentes sem enquadramento sociofamiliar

São gabinetes de triagem, apoio e encaminhamento sócio terapêutico que funcionam 24 horas por dia, 7 dias Centros de Acolhimento
por semana. Podem funcionar em instalações fixas ou móveis, sendo que as instalações fixas podem ter caráter
Espaços residenciais temporários, que funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana, destinados a
provisório de acordo com as necessidades e a mobilidade da intervenção, situando-se sempre na proximidade
contribuir para o afastamento de ambientes propícios ao consumo, bem como para encaminhamento
de locais de consumo e reunindo as condições sócio sanitárias necessárias à fidelização dos consumidores.
social e terapêutico de consumidores em exclusão sócio familiar.

Tratam-se de estruturas de proximidade onde se torna possível a prestação de cuidados básicos de saúde,
Estes Centros devem fornecer aos utentes alojamento, garantir a higiene e a alimentação mínimas,
cuidados de higiene e alimentação mínimos, cuidados de enfermagem, apoio médico e psiquiátrico, a troca de
disponibilizar apoio psicológico e social e cuidados de enfermagem, rastrear doenças infeciosas, fornecer
seringas de acordo com a lei, o rastreio de doenças infeciosas, apoio psicossocial que permita uma efetiva
preservativos, bem como assistência médica e psiquiátrica, podendo executar programas de substituição
aproximação às estruturas de tratamento e que podem fornecer o acesso a programas de substituição de
de baixo limiar de exigência de acordo com a lei.
metadona de baixo limiar nos termos legais.
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Pontos de contacto e de informação


Centros de Abrigo
Espaços que se devem situar na proximidade de locais associados ao consumo, em locais frequentados por
São espaços de pernoita que funcionam no período noturno, durante 7 dias por semana, e que se destinam a jovens, especialmente os espaços noturnos de diversão, em estruturas autárquicas ou em estruturas de
contribuir para a melhoria das condições de dormida de consumidores sem enquadramento sociofamiliar e apoio a consumidores. Estes podem ser fixos ou móveis e estão destinados a evitar ou atenuar o consumo
para a sua aproximação aos sistemas sociais, procurando o afastamento de meios propícios ao consumo, bem de drogas e respetivos riscos e a informar e auscultar as populações sobre os riscos e efeitos das
como o seu encaminhamento social terapêutico. dependências, bem como sobre outros temas que possam contribuir para a prevenção do consumo.
A título experimental, os pontos de contato e de informação podem ser autorizados excecionalmente a
Estes Centros devem fornecer a possibilidade de garantir a higiene e de beneficiar de alguma alimentação e prestar informação adequada sobre a composição e os efeitos, particularmente, das novas substâncias
podem proporcionar o tratamento de doenças infeciosas, apoio psicológico e social, cuidados de psicoativas, devendo a autorização ser objeto de renovação anual, sendo que para o efeito da prestação da
enfermagem, rastreio de doenças infeciosas, preservativos, substituição opiácea de baixo limiar e informação podem ser equipados com instrumentos destinados a testar a composição e os efeitos de drogas
instrumentos de consumo endovenoso por troca de seringas, de acordo com a lei. (Piil Testing).
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Espaços móveis de prevenção de doenças infeciosas


Programas de substituição em baixo limiar de exigência
São estruturas sócio sanitárias que funcionam em instalações necessariamente móveis, situando a
Estes Programas destinam-se a promover a redução do consumo de heroína por via da sua substituição por
sua atividade na proximidade de locais associados ao consumo de substâncias psicoativas e à
metadona, a ser dispensada através de programas de grande acessibilidade, sem exigência imediata da abstinência e
prostituição.
em instalações adequadas para o efeito, fomentando o aumento e regularidade dos contactos do consumidor com
os profissionais de uma equipa socio sanitária, podendo concorrer, nomeadamente, para futura abstinência.
Estes Espaços destinam-se ao rastreio e tratamento das doenças infeciosas mais frequentes nos
consumidores, à vacinação da população em risco e a concorrer para a redução do consumo
A administração de metadona é presencial e feita por um técnico de saúde, na dose e periocidade fixada por
endovenoso ou fumado de heroína na rua, por via da substituição por metadona, a ser dispensada
prescrição médica, sendo que o horário de funcionamento deve ser adaptado população alvo e previamente fixado.
nas instalações afetas aos projetos, de acordo com a lei.

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Programa de troca de seringas


Equipas de rua
Funcionam em instalações fixas ou móveis, sendo que as instalações fixas podem ter caráter provisório de acordo com
As Equipas de Rua destinam-se a promover a redução de riscos no espaço público onde o consumo de
as necessidades e a mobilidade do projeto, situando-se sempre na proximidade de locais de consumo e reunindo as
substâncias psicoativas seja vivido como um problema social, podendo prosseguir esse objetivo através do
condições sócio sanitárias necessárias à fidelização dos consumidores.
desenvolvimento de ações de divulgação de utensílios e programas de redução de riscos, de prestação de
informação no âmbito das dependências, de promoção do encaminhamento adequado das pessoas em
Estes programas têm como objetivo a prevenção da transmissão de doenças infeciosas por via endovenosa através do
situação e risco, de intervenção nos primeiros socorros face a situações de emergência ou negligência, e
incremento da assepsia no consumo endovenoso, destinando-se, para tanto, a promover a acessibilidade à troca de
substituir seringas e acordo com a lei.
seringas e agulhas, bem como a filtros, toalhetes, água destilada, ácido cítrico e outros materiais adequados.
Estes utensílios são distribuídos manualmente e a pedido e, sempre que indicado, acompanhados de informação
A área geográfica de intervenção da equipa de rua deve corresponder a locais associados ao consumo e
escrita sobre os danos e a redução de riscos associados ao consumo de substâncias psicoativas
tráfico de drogas.
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24/10/2023

Programas para consumo vigiado


https://www.youtube.com/watch?v=S-RkAOz9mxU
Os programas para consumo vigiado visam o incremento da assepsia no consumo intravenoso e
consequente diminuição de riscos inerentes a esta forma de consumo, bem como a promoção da
proximidade com os consumidores, de acordo com o respetivo contexto sociocultural, com vista à
sensibilização e encaminhamento para tratamento, através da criação de locais de consumo. (Ex:
Salas de Consumo Assistido)

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