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MERCADO DE

CRÉDITO E OS
PRODUTOS DE
CRÉDITO
MERCADO DE
CRÉDITO E OS
PRODUTOS DE
CRÉDITO
BOAS-VINDAS

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1a edição: junho/2021
Última atualização: 09/06/2021
APRESENTAÇÃO

CADERNO 1

Mercado de crédito e os produtos de crédito

Neste caderno serão demonstrados os conceitos essenciais do principal


macroprocesso das cooperativas financeiras, afinal o “crédito” envolve a
maioria das atividades cotidianas, interligando os processos de cadastro,
mensuração do risco, concessão do crédito, cobrança e até a recuperação
de créditos.

A seguir serão apresentados os fundamentos e os conceitos gerais do


crédito, bem como a pujança deste mercado e seus principais produtos.
Assim você poderá compreender e desenvolver suas atividades de forma
ainda mais alinhada com as melhores práticas do mercado financeiro.
SUMÁRIO

1.1 CONCEITOS 1.1.1 Origem das instituições financeiras 7


1.1.2 Conceitos preliminares de crédito 8
ESSENCIAIS DE 1.1.3 Necessidades econômicas atendidas
CRÉDITO pelo crédito 8
1.1.3.1 Crédito para consumo 8
1.1.3.2 Crédito produtivo 9
1.1.3.3 Crédito para investimento 10

1.2 MERCADO DE 1.2.1 Função do crédito 14


1.2.2 Recursos livres ou direcionados 16
CRÉDITO 1.2.3 Crédito para pessoas físicas 17
1.2.4 Crédito para pessoas jurídicas 17

1.3 PRODUTOS DO 1.3.1 Modalidades de crédito (SCR) 21


1.3.2 Carteiras de operações de crédito (Cosif) 23
CRÉDITO 1.3.3 Características específicas das linhas
de crédito 25
1.3.3.1 Adiantamento a depositantes 25
1.3.3.2 Empréstimos 25
1.3.3.3 Direitos creditórios descontados 27
1.3.3.4 Financiamentos 28
1.3.3.5 Financiamentos rurais 29
1.3.3.6 Financiamentos imobiliários 30
1.3.3.7 Outros créditos 31
1.3.3.8 Quadro-resumo das linhas de crédito 32

1.4 CRÉDITOS 1.4.1 Crédito rural 35


1.4.1.1 Público-alvo 37
ESPECIALIZADOS 1.4.1.2 Finalidades (TR) 37
1.4.1.3 Obrigatoriedades da IF 38
1.4.1.4 Condições operacionais 38
1.4.1.5 Fiscalização 39
1.4.2 Financiamento imobiliário 40
1.4.2.1 Subsistemas do mercado de
crédito imobiliário 41
1.4.2.2 Fontes de recursos 42
1.4.2.3 Condições operacionais 43
1.4.2.4 Agentes do SFH 43
1.4.3 Microcrédito 45
1.4.3.1 Público-alvo 45
1.4.3.2 Evolução do microcrédito no Brasil 46
1.4.3.3 Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo e Orientado 47
1.4.3.4 Condições operacionais 48
1.4.4 Crédito para capital de giro 48
1.4.4.1 Principais linhas 49
1.4.4.2 Indicadores para análise de
capital de giro (CDG) 50
a) Necessidade de capital de giro (NCG) 50
b) Capital de giro líquido (CGL) ou
capital circulante líquido (CCL) 52
c) Saldo de tesouraria (ST) 53
d) Efeito tesourac) 54
e) Prazos médios: PMPC, PMRE e PMRV 55
f) Ciclo operacional (CO) e ciclo financeiro (CF) 56
g) Índices de liquidez: geral, corrente, seca e imediata 58

1.5 VISÃO 1.5.1 Características do funding 61


1.5.2 Visão das fontes e das aplicações no
GERENCIAL Relatório APN 63
SOBRE AS 1.5.3 Margens financeiras (spread) 64
FONTES E AS 1.5.4 Análise de desempenho (taxa de juros,
APLICAÇÕES spread e custos) 65

DE RECURSOS 1.5.5 Precificação de produtos de crédito


(risco x retorno) 66

Referências 69
CONCEITOS ESSENCIAIS
DE CRÉDITO

1.1
1.1 CONCEITOS ESSENCIAIS
DE CRÉDITO

1.1.1 Origem das instituições financeiras

O SURGIMENTO DOS BANCOS foi uma consequência natural do crescimento e da


circulação da moeda, facilitando o comércio e as transações de compra e venda de bens
e serviços, além da utilização como instrumento monetário de papéis que circulavam no
mercado local, representando um título com valor de dinheiro.

FIQUE POR DENTRO

O nome “banco” foi criado pelos banqueiros judeus de Florença na época do Renascimento, designando
a mesa onde eram trocadas as moedas. Em 1406 foi criado aquele que é considerado o primeiro banco
moderno: o Banco di San Giorgio, em Gênova.

As instituições financeiras, como as conhecemos hoje, são fruto das necessidades existentes
na relação mercantil entre pessoas e empresas, que sempre buscaram um agente
intermediário de sua confiança para guardar seu dinheiro excedente. Em contrapartida,
esse agente empresta uma parte do dinheiro para aqueles que precisam de recursos
financeiros temporariamente, pagando o valor emprestado com juros. E assim nasceu o
Crédito como “ato de emprestar”.

Da ação de emprestar recursos com juros surgiram as operações financeiras conhecidas


como empréstimos1 e, posteriormente, as de financiamento,2 utilizadas para a compra de
bens e produtos. Atualmente, as instituições financeiras, de modo especial as cooperativas
de crédito, oferecem um portfólio completo de produtos e serviços financeiros que atendem
às mais diversas necessidades de seus cooperados e usuários.

1
Empréstimo: recursos liberados ao tomador sem a obrigatoriedade da comprovação da destinação de seu uso perante o credor.

2
Financiamento: recursos liberados ao tomador com a obrigação de comprovar a destinação perante o credor por meio de nota
fiscal de aquisição, projetos técnicos, laudos, etc.

7
1.1 CONCEITOS
DE CRÉDITO
ESSENCIAIS

1.1.2 Conceitos preliminares de crédito


A palavra “crédito” traduz em si mesma a confiança. Deriva da expressão “crer”, que
significa, num contexto mais amplo, “acreditar em algo ou alguém”. Como qualquer relação
comercial, o crédito pressupõe a existência de um pacto moral entre as partes credora e
devedora, de modo que tais partes formam um elo no qual uma não existe sem a outra. No
mercado em geral sempre haverá alguém que se disporá a entregar algo como um bem ou
serviço esperando o pagamento num futuro previamente pactuado entre as partes.

Nesse sentido, sempre haverá riscos envolvendo transações de concessão de crédito entre
partes credoras e devedoras. O maior risco, no entanto, é quase sempre do credor, que abre
mão de um recurso na expectativa de recebê-lo de volta no futuro com um ganho extra que
lhe compense tal risco, neste caso, os juros.

1 1.3 Necessidades econômicas atendidas pelo crédito


O crédito pode ser definido como um “processo de concessão de recurso financeiro cuja
finalidade é satisfazer e atender alguma demanda ligada à necessidade econômica do
tomador”. Ao conceder o recurso, a cooperativa financeira confia que o cooperado devedor
irá gerir o recurso de maneira adequada, cumprindo seu papel de fomento às atividades
econômicas das pessoas físicas e jurídicas.

Em toda necessidade de crédito, seja de um cooperado PF ou PJ, a demanda estará


intrinsecamente ligada a uma atividade econômica na qual o recurso será aplicado. Logo,
a principal função econômica do crédito é irrigar a “economia real”, conforme o uso do
recurso financeiro na finalidade do crédito. Tal recurso, aliás, será aplicado com vistas a
atender às necessidades econômicas com crédito para consumo, crédito para produção
e/ou crédito para investimento. Veja as diferenças entre essas necessidades e suas
características.

1.1.3.1 Crédito para consumo

Esse tipo de crédito destina-se ao consumo de bens e serviços que movimentam a economia,
satisfazendo as necessidades humanas. Tais demandas estão ligadas ao:

y consumo primário: crédito para consumo de itens de primeira necessidade, como


alimentação, saúde, vestuário, habitação, educação, segurança, entre outras;
y consumo secundário: crédito para consumo de itens de natureza complementar
às necessidades primárias, como lazer, cultura, transporte, viagens, entres outras;

8
y consumo terciário: crédito para consumo de itens ligados aos bens e serviços de
natureza supérflua, como artigos de luxo, carros esportivos, obras de arte, roupas
de grife e demais produtos dessa natureza.

Para atender às demandas por crédito de consumo, as instituições financeiras oferecem


produtos específicos para essas finalidades, tais como: CARTÃO DE CRÉDITO, CRÉDITO
PESSOAL, CHEQUE ESPECIAL, FINANCIAMENTOS DE BENS E SERVIÇOS , entre outros.

FIQUE LIGADO
Abordaremos os produtos de crédito mais adiante neste caderno.

Notadamente, as linhas de crédito para consumo possuem como característica natural


uma taxa de juros mais alta devido ao maior risco inerente ao seu uso, uma vez que sua
aplicação prática não gera divisas para o próprio recurso se viabilizar, como ocorre, por
exemplo, no caso do crédito produtivo.

1.1.3.2 Crédito produtivo

Esse tipo de crédito destina-se ao fomento das atividades produtivas, agregando valor ao
negócio e gerando divisas para se viabilizar no seu próprio ciclo produtivo. As atividades
econômicas produtivas dividem-se basicamente em três tipos, a saber:

y atividades econômicas primárias: são ligadas à produção de matérias-primas


agropecuárias e/ou extrativistas. Tais atividades dão origem ao ramo chamado
de rural;
y atividades econômicas secundárias: são ligadas à transformação de matérias-
primas em bens para consumo e/ou produção. Tais atividades dão origem ao
ramo chamado de industrial;
y atividades econômicas terciárias: são ligadas ao fornecimento direto de produtos
e serviços aos beneficiários e aos clientes finais. Tais atividades dão origem aos
ramos chamados de comércio e serviços.

Para atender a essas demandas por crédito produtivo, as instituições financeiras oferecem
produtos específicos, tais como: capital de giro, crédito rotativo, conta garantida, desconto
de títulos e recebíveis, crédito rural, microcrédito, compror/vendor, entre outros.

9
1.1 CONCEITOS
DE CRÉDITO
ESSENCIAIS

Como característica desses tipos de produtos, os créditos produtivos são normalmente


customizados ao ciclo operacional dos negócios. Nesse caso, o cooperado desenvolve
suas atividades econômicas de forma estruturada. Por conseguinte, gera-se um fluxo de
recursos ativos e passivos tanto para o tomador como para o credor, atendendo tanto a
necessidade do cooperado como a viabilização do pagamento da operação, culminando
em modelo sustentável para a cooperativa.

1.1.3.3 Crédito para investimento

Assim como ocorre com o crédito produtivo, no crédito para investimento o recurso do
tomador também agrega valor ao negócio e gera divisas. Porém, neste caso há normalmente
a vinculação do crédito a um bem de capital3 (ou de produção), que tem valores de
aquisição mais vultosos, sendo necessários vários ciclos produtivos para se viabilizar. São
exemplos desses tipos de bens de capital ou produção máquinas e equipamentos de grande
porte, implementos agroindustriais, ferramentas especializadas, instalações inovadoras,
benfeitorias em imóveis, montagens industriais, construções de armazéns, etc.

Para atender a essas demandas por crédito de investimento, as cooperativas financeiras


oferecem produtos específicos, tais como: linhas de crédito de fomento dos bancos de
desenvolvimento, crédito rural investimento, financiamento de bens de capital de longo
prazo, entre outros.

Os produtos de crédito para financiamento desses investimentos possuem características


especiais e diferenciadas, como prazos mais longos, taxas de juros subsidiadas e condições
de pagamento facilitadas, podendo ter até carências no plano de pagamento, financiamento
integral do bem, entre outros benefícios que objetivam viabilizar a geração de fluxo de
caixa suficiente para o pagamento do bem financiado.

3
Bens de capital: são utilizados no desenvolvimento de uma atividade econômica com o objetivo de transformá-los em bens de
consumo.

10
Para concluir, veja as principais características básicas dos três tipos de necessidades
econômicas atendidas pelo crédito.

CRÉDITO PARA CRÉDITO PARA


CRÉDITO PRODUTIVO
CONSUMO INVESTIMENTO
Destina-se ao fomento de
Destina-se ao consumo de
atividades e à aquisição de
bens e serviços que Destina-se ao fomento das
bens. O recurso ao tomador
movimentam a economia, atividades produtivas,
também agrega valor ao
Características satisfazendo as necessidades agregando valor ao
negócio e gera divisas.
essenciais humanas. Tais demandas negócio e gerando divisas
Porém, há normalmente a
estão ligadas aos consumos para se viabilizar no seu
vinculação do crédito a um
primário, secundário ou próprio ciclo produtivo.
bem de capital (ou de
terciário.
produção).

Linhas de crédito de
Capital de giro, crédito
fomento dos bancos de
Cartão de crédito, crédito rotativo, conta garantida,
Produtos de desenvolvimento, crédito
pessoal, cheque especial, desconto de títulos e
crédito mais rural investimento,
financiamentos de bens e recebíveis, crédito rural,
propensos financiamento de bens de
serviços, entre outros. microcrédito, compror/
capital de longo prazo, entre
vendor, entre outros.
outros.

11
1.2 MERCADO
CRÉDITO
DE

MERCADO DE
CRÉDITO

1.2

12
1.2 MERCADO
CRÉDITO
DE

O Sistema Financeiro Nacional (SFN) divide-se entre os mercados monetário, de câmbio, de


capitais e de crédito. Particularmente, o mercado de crédito é responsável pela indução de
grande parte do desenvolvimento econômico do país, disponibilizando recursos para suprir
as demandas de recursos dos diversos agentes econômicos engajados no investimento, no
consumo e na produção de bens e serviços, gerando prosperidade e bem-estar às pessoas
e às comunidades envolvidas.

Entretanto, quando se compara o crédito no Brasil ao mercado de países desenvolvidos,


segundo especialistas em análise econômica, o mercado brasileiro tem muito potencial
para crescimento ainda reprimido, em que pese o grande movimento de concessão de
crédito ocorrido em meio à pandemia da Covid-19, quando, segundo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil atingiu 54,2% de representação do crédito x PIB, valor
ainda muito aquém dos mercados dos países da OCDE , por exemplo, cujo mercado de
crédito equivale a 122% do PIB, e dos Estados Unidos, onde o crédito corresponde à 192%
do PIB (data-base: 12/2020).

FIQUE POR DENTRO


A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é formada por países membros
que se dedicam a promover o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.
A OCDE é constituída por países e parceiros estratégicos dedicados ao desenvolvimento econômico. Seus
membros discutem políticas públicas e econômicas que os orientem. Esses países apoiam os princípios da
democracia representativa e as regras da economia de mercado.
Essa organização também é conhecida como Clube dos Ricos, pois seus integrantes apresentam elevado
PIB per capita (produto interno bruto por habitante) e também elevados indicadores de desenvolvimento
humano, representando cerca de 80% do comércio mundial e investimentos.
OCDE corresponde à sigla em português. Em inglês, a formação é denominada Organisation for Economic
Co-operation and Development (OECD).

Fonte: Brasil Escola (UOL)

A maior disponibilidade de empréstimos permite que a demanda efetiva se expanda e,


consequentemente, gere uma aceleração da trajetória de crescimento da renda e do
emprego. O acesso ao crédito permite às famílias aumentar seu consumo de bens duráveis
e investir, em especial, em residências e educação.

A maior disponibilidade de financiamentos de longo prazo, por sua vez, permite que as
empresas se lancem em empreendimentos de maior escala, o que realimenta o processo
de crescimento econômico. De fato, em países com mercados de crédito e de capitais

13
1.2 MERCADO
CRÉDITO
DE

pouco desenvolvidos, a ampliação da capacidade produtiva fica basicamente limitada


ao autofinanciamento das empresas, à capacidade do governo de disponibilizar fundos
de longo prazo e aos movimentos de expansão e contração da liquidez internacional –
determinantes no volume de captações externas.

A experiência internacional mostra que os mecanismos predominantes de financiamento de


longo prazo podem variar muito entre os países. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por
exemplo, esse papel é basicamente cumprido pelo mercado de capitais, com a colocação de
ações e títulos de renda fixa das empresas diretamente para o público. Em outros países, como
Alemanha, Japão e no próprio Brasil, os bancos têm um papel mais importante nesse processo
por meio do financiamento indireto por intermédio das instituições financeiras públicas e
privadas. No Brasil as instituições públicas assumiram esse protagonismo, particularmente
após a crise econômica mundial de 2008, conhecida como “crise dos subprimes4 americanos”.

1.2.1 Função do crédito


No contexto das instituições financeiras, o crédito pode ser definido como um processo de
concessão de recurso financeiro cuja finalidade é satisfazer e atender alguma demanda
ligada à NECESSIDADE ECONÔMICA DO TOMADOR , o qual se torna a parte devedora, e
a instituição financeira figurará como a parte credora.

FIQUE LIGADO
Conforme visto, as necessidades econômicas podem ser atendidas com as linhas de:

• crédito para consumo;


• crédito produtivo; e
• crédito para investimentos.

Uma das funções de um mercado de crédito desenvolvido é transformar poupança (estoque


de recursos) em “investimento” via seleção dos melhores projetos, que serão apoiados por
meio das soluções financeiras existentes.

Pelo lado das famílias, o crédito também tem o papel de transferir renda de forma
intertemporal, permitindo padrões de consumo mais estáveis ao longo do tempo e a
aquisição de bens de alto valor, como imóveis e veículos, por exemplo, financiados com
pagamentos futuros, mas gerando consumo e ganhos de bem-estar já no tempo presente.

4
Subprime: termo do inglês subprime loan ou subprime mortgage, que no contexto do mercado financeiro significa um “crédito
de risco” concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa (prime
rate).

14
Quanto melhor a capacidade do mercado de canalizar os recursos para os projetos com
maior retorno, maiores serão os impactos positivos na produtividade, no crescimento
econômico e no bem-estar da sociedade. Observe esta ilustração:

1o MECANISMO:
Avaliar e escolher os
projetos mais promissores
para investir (relação
risco-retorno)
% CRÉDITO / PIB
Quanto maior o volume
de crédito, melhor tende
a ser o crescimento
econômico (PIB) e
melhorando o bem-estar

2o MECANISMO:
Diversificar, pois quanto
maior o mercado, mais
espaço para investir em
projetos com melhor
potencial de retorno

Diversos estudos apontam uma relação causal positiva entre crédito e PIB: quanto maior o
mercado de crédito, maior o crescimento da economia. Essa causalidade, entretanto, só se
materializa sob mecanismos de transmissão específicos.

O primeiro mecanismo consiste no fato de o sistema financeiro avaliar adequadamente


as alternativas de negócios e escolher os projetos mais promissores para investir, ou seja,
aqueles com melhor relação risco-retorno. Afinal, não basta apenas emprestar, é importante
emprestar para aqueles que vão fazer melhor uso dos recursos. Além disso, as instituições
financeiras também exercem a função de monitoramento dos projetos financiados, gerando
incentivos que aumentam a probabilidade de sucesso dos projetos selecionados.

O segundo mecanismo está ligado ao conceito de diversificação. Quanto maior o mercado


de crédito, maior o espaço para investir em projetos mais arriscados, que possuem,
portanto, maior potencial de retorno. Como projetos de inovação têm maior probabilidade
de fracasso, possuem também um retorno elevado em casos de sucesso. Nesse contexto,
um mercado de crédito amplo, com carteiras maiores abre espaço para projetos mais
arriscados e mais inovadores. Desse modo, o mercado de crédito tem a importante
função de selecionar os projetos e monitorar os riscos a fim de impactar positivamente as
atividades empresariais e aumentar a produtividade.

Todavia, um mercado de crédito com distorções reduz o ritmo de inovação e impacta


negativamente no crescimento econômico. Ademais, países que restringem o acesso ao crédito
possuem um mercado de capitais menos desenvolvido, ocasionando um maior custo de capital
aos empreendimentos. Destarte, pode-se afirmar que um ambiente legal e regulatório que
fomente o desenvolvimento do mercado de crédito é uma condição necessária para se garantir
o aumento da produtividade, o crescimento econômico e o bem-estar social de um país.

15
1.2 MERCADO
CRÉDITO
DE

A seguir, veja as diferenças entre os recursos livres e os direcionados no mercado de crédito,


focado nas necessidades das pessoas físicas (PF) e jurídicas (PJ).

1.2.2 Recursos livres ou direcionados


Dentre as linhas crédito utilizadas para fomentar as atividades econômicas destacam-se aquelas
cuja fonte/aplicação é diferenciada entre os chamados recursos livres e recursos direcionados.

Os recursos direcionados são caracterizados pela indução promovida pelos agentes públicos
por meio de políticas de crédito com condições especiais, geralmente taxas subsidiadas,
carências e prazos de pagamentos mais vantajosos, sendo estes créditos direcionados para
alguns segmentos bem específicos da atividade econômica mediante interesse público dos
agentes governamentais. São exemplos de linhas de crédito direcionadas:

y crédito rural;
y crédito imobiliário;
y microcrédito;
y crédito estudantil;
y além de programas como:
y Proger;
y Finame;
y Moderfrota;
y Pronaf, entre outros.

As operações de crédito oriundas de recursos direcionados são regulamentadas pelo CMN


ou estão vinculadas a recursos orçamentários de fundos especiais sustentados com recursos
do Tesouro Nacional. Também podem ser utilizadas as fontes de recursos de captações em
depósitos à vista e a prazo (LCA, LCI, etc.) e de caderneta de poupança, administrados por
instituições financeiras, sejam públicas ou privadas.

Os recursos livres, como se pode deduzir, são caracterizados pela livre negociação entre
os agentes financeiros e suas partes signatárias mediante acordo aos termos de contratos
e títulos de crédito utilizados nas operações. Nos recursos livres, as instituições financeiras
têm preservada sua autonomia sobre o uso e a destinação dos seus recursos captados no
mercado. Em ambos os casos, os recursos livres e os recursos direcionados atendem às
necessidades de crédito para pessoas físicas e jurídicas, conforme demonstrado a seguir.

1.2.3 Crédito para pessoas físicas


O mercado de crédito para pessoas físicas é bastante dinâmico, sendo objeto de interesse
de diversos agentes financeiros, especialmente em decorrência do maior spread alcançado
nas modalidades de crédito ofertadas a este perfil de público.

16
No crédito para pessoas físicas, em geral, o tomador busca recursos para satisfazer
suas necessidades imediatas de consumo e aquisição de bens, em sua realidade social,
conforme sua renda e suas expectativas pessoais e profissionais. Em geral, as linhas de
crédito mais propensas ao perfil de pessoas físicas são aquelas oriundas de recursos livres,
disponibilizados na forma de:

y crédito pessoal;
y crédito consignado;
y cheque especial;
y cartão de crédito;
y financiamento de veículos, entre outras.

Algumas linhas de crédito com recursos direcionados também são ofertadas ao público de
pessoas físicas, como, por exemplo:

y financiamento habitacional/imobiliário;
y financiamento estudantil;
y financiamento rural, entre outras.

É importante destacar que as pessoas físicas com atividades produtivas particulares, tais
como empresários, profissionais liberais e produtores rurais, também são demandadores
de créditos específicos que se assemelham aos créditos para pessoas jurídicas, a depender
da sua origem e da aplicação do recurso em um propósito de finalidade empresarial, como
é o caso das atividades agropecuárias, por exemplo.

Segundo o Banco Central (data-base: 01/2021), o crédito para pessoas físicas (PF) acumulava
a volume em carteira de R$ 2,3 trilhões, perfazendo 56,69% do total de cerca de R$ 4 trilhões
de operações de crédito concedidas.

1.2.4 Crédito para pessoas jurídicas


O mercado de crédito para pessoas jurídicas tem como principal característica o fomento às
necessidades produtivas e de investimento, viabilizadas em decorrência de suas atividades
econômicas desenvolvidas em seus mais diversos mercados e nichos de atuação existentes nos
ramos das atividades primárias (rural), secundárias (industrial) e terciárias (comércio e serviços).

Da mesma forma que existe uma diversidade e uma pluralidade muito grandes entre
as atividades desenvolvidas pelas pessoas jurídicas, as linhas de crédito também têm
se tornado cada vez mais complexas, visando atender às crescentes expectativas por
soluções financeiras ainda mais assertivas e alinhadas com a realidade deste mercado, que
é pujante tanto em potencial de ganhos como em possibilidade de perdas decorrentes das
operações de crédito concedidas.

17
1.2 MERCADO
CRÉDITO
DE

Se observarmos apenas as modalidades de crédito ofertadas, veremos que elas se resumem


a operações de crédito na forma de:

y cheque empresarial;
y conta garantida;
y antecipação de recebíveis;
y crédito rotativo;
y financiamento para aquisição de bens; e
y capital de giro.

Esta última, particularmente, é uma linha de crédito cujo objetivo é atender à conhecida
necessidade de capital de giro (NCG), sendo esta a principal demanda das pessoas jurídicas,
que, em sua maioria, são dependentes de recursos financeiros para sustentar as atividades
produtivas em seu CICLO OPERACIONAL (CO) .

FIQUE LIGADO
Mais adiante neste caderno abordaremos os conceitos relacionados ao capital de giro, tais como NCG,
CO, CF, PMPC, PMRE e PMRV.

Notadamente, também existem linhas de crédito com recursos direcionados criadas para
atender às especificidades das pessoas jurídicas, especialmente subsidiadas por PROGRAMAS
GOVERNAMENTAIS , tais como:

y Programa de Geração de Renda (Proger);


y Financiamento de Máquinas e Equipamentos. (Finame5);
y Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
(Pronampe);
y Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), entre outros.

5
Finame: fundada em 1966 com a constituição da Agência Especial de Financiamento Industrial (empresa subsidiária do BNDES),
foi criada para gerir o então Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos Novos, cunhando a sigla
Finame. Suas atividades são desenvolvidas sob a responsabilidade e com a colaboração do BNDES. Destina-se ao financiamento
de operações de compra e venda de máquinas e equipamentos de produção nacional e de exportação e importação de máquinas
e equipamentos.

18
FIQUE POR DENTRO
Programas governamentais para financiamento às pessoas jurídicas

As linhas de financiamento e programas refletem as prioridades e as diretrizes da política de


desenvolvimento do governo federal, que constitui fundos de recursos constitucionais e condições
especiais em caráter fixo ou temporário visando atender às demandas de segmentos específicos da classe
empresarial.

São exemplos de programas governamentais:

• Proger: seu objetivo é promover geração de renda por meio da oferta de linhas de crédito com recursos
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) no investimento de longo prazo a pequenos negócios,
cooperativas e associações de produção.
• Finame: é um financiamento do BNDES destinado à produção e à aquisição de máquinas e
equipamentos novos e de fabricação brasileira. As operações do Finame são realizadas por intermédio
de agentes financeiros intermediários públicos ou privados.
• Pronampe: destina-se ao desenvolvimento e ao fortalecimento dos pequenos negócios, especialmente
aqueles afetados pela crise resultante da Covid-19. Os recursos são garantidos parcialmente pelo
Fundo Garantidor de Operações (FGO), sendo aplicados por intermédio de agentes financeiros públicos
e privados.

Existem outros diversos programas governamentais para fomento e apoio às atividades econômicas
desenvolvidas pelas pessoas jurídicas.
Fonte: BNDES/Banco do Brasil

Segundo o Banco Central (data-base: 01/2021), o crédito para pessoas jurídicas (PJ)
acumulava a volume em carteira de mais de R$ 1,7 trilhão, perfazendo 43,31% do total de
cerca de R$ 4 trilhões de operações de crédito concedidas.

Para concluir, veja no quadro-resumo as principais características que diferenciam o


crédito para pessoas físicas e jurídicas.

CRÉDITO PARA PESSOAS FÍSICAS CRÉDITO PARA PESSOAS JURÍDICAS


O tomador busca fomentar suas necessidades produtivas e
O tomador busca créditos para satisfazer suas
de investimento, com o crédito viabilizado em decorrência
necessidades imediatas para o consumo e a
de suas atividades econômicas desenvolvidas em seus mais
aquisição de bens, em sua realidade social,
diversos mercados e nichos de atuação existentes nos
conforme sua renda e suas expectativas pessoais e
ramos das atividades primárias (rural), secundárias
profissionais.
(industrial) e terciárias (comércio e serviços).

A seguir serão abordadas as modalidades de crédito e as características de seus produtos e


processos, assim como os aspectos de risco envolvidos nas operações de crédito tanto para
pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.

19
PRODUTOS DE
CRÉDITO

1.3
1.3 PRODUTOS DE
CRÉDITO

Na função de conceder créditos para atender às diversas finalidades econômicas de seus


associados, as cooperativas captam recursos de fontes próprias ou de terceiros e os aplicam de
forma racional em operações financeiras para seus tomadores. A seguir, veja como se configuram
os produtos de crédito pelas suas modalidades, tipos de carteiras e suas respectivas linhas.

1.3.1 Modalidades de crédito (SCR)


Quando estiverem efetivadas, as transações devem ser comunicadas mensalmente
pelas instituições financeiras ao Banco Central do Brasil por intermédio do SISTEMA
DE INFORMAÇÕES DE CRÉDITOS (SCR) , no qual ficam registrados todos os débitos e
responsabilidades considerados crédito. Conforme o art. 3º da Resolução nº 4.571/2017,
devem ser comunicadas ao Bacen pelo SCR obrigatoriamente as seguintes transações:

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

O Sistema de Informações de Crédito (SCR) foi estabelecido inicialmente pela Resolução CMN nº
3.658/2008, sendo posteriormente substituída pela Resolução nº 4.571/2017.

O SCR é um banco de dados com informações sobre operações de crédito e garantias contratadas por
clientes com bancos e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central.

Ele permite à supervisão bancária a adoção de medidas preventivas, com o aumento da eficácia de
avaliação dos riscos inerentes à atividade. Por meio dele, o Bacen consegue verificar operações de crédito
atípicas e de alto risco, sempre preservando o sigilo bancário.

O SCR é um mecanismo utilizado pela supervisão bancária para acompanhar as instituições financeiras
na prevenção de crises.

Fonte: Bacen

y empréstimos e financiamentos;
y adiantamentos;
y operações de arrendamento mercantil;
y prestação de aval, fiança, coobrigação ou qualquer outra modalidade de garantia
pessoal do cumprimento de obrigação financeira de terceiros;

21
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

y compromissos de crédito não canceláveis incondicional e unilateralmente pela


instituição concedente;
y créditos contratados com recursos a liberar;
y créditos baixados como prejuízo;
y operações de crédito que tenham sido objeto de negociação com retenção
substancial de riscos e benefícios ou de controle:
y operações com instrumentos de pagamento pós-pagos;
y outras operações ou contratos com características de crédito que sejam assim
reconhecidos pelo Banco Central do Brasil.

Atualmente são identificadas no SCR as dívidas, em dia ou em atraso, que, no conjunto,


tenham valor igual ou superior a R$ 200,00. Também são informados ao SCR os valores a se
tornarem dívidas (créditos a liberar) e os limites de crédito.

Mediante os valores lançados no SCR, o Bacen apura a evolução do endividamento financeiro


das pessoas físicas e jurídicas que operam com as instituições autorizadas a atuar no mercado
de crédito, efetuando análises por tipo de modalidade de crédito e suas submodalidades,
sendo assim alocadas para fins de monitoramento do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

MODALIDADES DE RECURSOS LIVRES


PESSOAS JURÍDICAS PESSOAS FÍSICAS
Desconto de duplicatas e recebíveis. Cheque especial.
Desconto de cheques.
Crédito pessoal:
Antecipação de faturas de cartão. y não consignado;
y consignado.
Capital de giro:
y prazo menor que 365 dias; Aquisição de veículos.
y prazo maior que 365 dias; Aquisição de outros bens.
y teto rotativo.
Cartão de crédito:
Conta garantida. y rotativo;
Cheque especial. y parcelado;
y à vista.
Aquisição de veículos.
Aquisição de outros bens. Arrendamento mercantil:
y veículos;
Arrendamento mercantil: y outros bens.
y veículos;
y outros bens. Desconto de cheques.

Vendor. Composição de dívidas.


Compror.
Cartão de crédito:
y rotativo;
y parcelado;
y à vista.
ACC.
Financiamento de importações.
Financiamento de exportações.
Repasse externo.

Fonte: Banco Central do Brasil

22
MODALIDADES DE RECURSOS DIRECIONADOS
PESSOAS JURÍDICAS PESSOAS FÍSICAS
Crédito rural: Crédito rural:
y taxas de mercado; y taxas de mercado;
y taxas reguladas. y taxas reguladas.
Financiamentos imobiliários: Financiamento imobiliário:
y taxas de mercado; y taxas de mercado;
y taxas reguladas. y taxas reguladas.
Crédito com recursos do BNDES: Crédito com recursos do BNDES:
y capital de giro; y financiamento investimentos;
y financiamento investimentos; y financiamento agroindustrial.
y financiamento agroindustrial. Microcrédito

Fonte: Banco Central do Brasil

1.3.2 Carteiras de operações de crédito (Cosif)


Mediante normas padronizadas, os saldos das modalidades de crédito são agrupados
por carteiras de operações, seguindo uma codificação e uma nomenclatura adequada
à natureza das transações realizadas com os respectivos tomadores. Para tanto, os
lançamentos contábeis devem estar em conformidade com as orientações do PLANO
CONTÁBIL DAS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (COSIF) .

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

O Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif) foi criado pela Circular Bacen
n. 1.273/1987 com o objetivo de unificar os diversos planos contábeis existentes à época e uniformizar
os procedimentos de registro e elaboração de demonstrações financeiras, o que veio a facilitar o
acompanhamento, a análise, a avaliação do desempenho e o controle das instituições integrantes do
Sistema Financeiro Nacional.

O Plano Contábil tem por finalidade uniformizar os registros contábeis dos atos e dos fatos
administrativos praticados, racionalizar a utilização de contas, estabelecer regras, critérios e
procedimentos necessários à obtenção e à divulgação de dados, possibilitar o acompanhamento
do sistema financeiro, bem como a análise, a avaliação do desempenho e o controle, de modo que
as demonstrações financeiras elaboradas expressem, com fidedignidade e clareza, a real situação
econômico-financeira da instituição e dos conglomerados financeiros.

Fonte: Bacen

No Cosif, as carteiras de operações de crédito estão dispostas por meio de códigos racionais
e nomenclaturas de agrupamentos por níveis do elenco de contas contábeis, realizando a
consolidação dos saldos devedores de todos os tomadores de recursos que operam no
mercado de crédito. Veja a seguir essa disposição.

23
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

1.6.0.00.00-1 OPERAÇÕES DE CRÉDITO

1.6.1.00.00-4 Empréstimos e direitos creditórios descontados


1.6.1.10.00-1 ADIANTAMENTOS A DEPOSITANTES
1.6.1.20.00-8 EMPRÉSTIMOS
1.6.1.20.10-1 Crédito pessoal
1.6.1.20.15-6 Crédito pessoal – consignado
1.6.1.20.20-4 Cartão de crédito – rotativo
1.6.1.20.22-8 Cartão de crédito – compras parceladas e parcelamentos de faturas
1.6.1.20.25-9 Cartão de crédito – saques, transf., pagamentos de contas e outras transações
1.6.1.20.30-7 Cheque especial
1.6.1.20.31-4 Cheque especial – MEI
1.6.1.20.35-2 Cheque especial – pessoa jurídica
1.6.1.20.40-0 Capital de giro
1.6.1.20.50-3 Conta garantida
1.6.1.20.60-6 Empréstimos com garantia de bens imóveis
1.6.1.20.65-1 Empréstimos com garantia de bens imóveis residenciais – carteiras de ativos – LIG
1.6.1.20.99-8 Outros
1.6.1.30.00-5 DIREITOS CREDITÓRIOS DESCONTADOS
1.6.1.30.10-8 Títulos de crédito
1.6.1.30.90-2 Demais direitos creditórios
1.6.1.40.00-2 RENEGOCIAÇÃO ESPECIAL – PESSOAS JURÍDICAS

1.6.2.00.00-7 Financiamentos
1.6.2.10.00-4 FINANCIAMENTOS
1.6.2.15.00-9 FINANCIAMENTOS A AGENTES FINANCEIROS
1.6.2.20.00-1 FINANCIAMENTOS À EXPORTAÇÃO
1.6.2.25.00-6 FINANCIAMENTOS EM MOEDAS ESTRANGEIRAS
1.6.2.30.00-8 FINANCIAMENTOS COM INTERVENIÊNCIA
1.6.2.40.00-5 FINANCIAMENTOS AGROINDUSTRIAIS
1.6.2.40.10-8 Custeio
1.6.2.40.20-1 Investimento
1.6.2.40.30-4 Comercialização
1.6.2.40.40-7 Industrialização

1.6.3.00.00-0 Financiamentos rurais


1.6.3.05.00-5 FINANCIAMENTOS RURAIS – APLICAÇÕES COM RECURSOS LIVRES
1.6.3.05.05-0 Custeio – agricultura
1.6.3.05.10-8 Custeio – pecuária
1.6.3.05.15-3 Investimento – agricultura
1.6.3.05.20-1 Investimento – pecuária
1.6.3.05.25-6 Comercialização – agricultura
1.6.3.05.30-4 Comercialização – pecuária
1.6.3.05.35-9 Industrialização – agricultura
1.6.3.05.40-7 Industrialização – pecuária
1.6.3.15.00-2 FINANCIAMENTOS RURAIS – APLICAÇÕES COM REC. DIREC. À VISTA (OBRIGATÓRIOS)
1.6.3.25.00-9 FINANCIAMENTOS RURAIS – APLICAÇÕES COM REC. DIREC. DA POUPANÇA RURAL
1.6.3.35.00-6 FINANCIAMENTOS RURAIS – APLICAÇÕES COM RECURSOS DIRECIONADOS DE LCA
1.6.3.45.00-3 FINANCIAMENTOS RURAIS COM RECURSOS DE FONTES PÚBLICAS

1.6.4.00.00-3 Financiamentos imobiliários


1.6.4.10.00-0 IMÓVEIS NÃO RESIDENCIAIS
1.6.4.10.10-3 Aquisição
1.6.4.10.20-6 Construção
1.6.4.10.30-9 Produção
1.6.4.10.40-2 Reforma e ampliação
1.6.4.30.00-4 IMÓVEIS RESIDENCIAIS
1.6.4.40.00-1 FINANCIAMENTOS IMOBILIÁRIOS – CARTEIRAS DE ATIVOS – LIG

1.6.8.00.00-5 Operações de crédito vinculadas a cessão


1.6.8.10.00-2 OPERAÇÕES DE CRÉDITO CEDIDAS
1.6.8.20.00-9 OPERAÇÕES DE CRÉDITO VINCULADAS A OPERAÇÕES COMPROMISSADAS

1.6.9.00.00-8 (-) Provisões para operações de crédito

Fonte: Banco Central do Brasil/Cosif

24
1.3.3 Características específicas das linhas de crédito
Mediante o tipo da transação financeira realizado com o cooperado tomador, as operações
de crédito devem ser classificadas no elenco de modalidades, conforme instruções do
Banco Central do Brasil, possuindo as seguintes características essenciais em cada uma
das respectivas linhas de crédito passíveis de registro:

1.3.3.1 Adiantamento a depositantes

Na rubrica (1.6.1.10.00-1) ficam registrados os saldos devedores em contas de depósito,


conceituados como ADIANTAMENTOS A DEPOSITANTES . Vale destacar que esta prática
não possui respaldo legal mediante o uso excessivo de valores em conta corrente para
além da eventual cobertura por limite de cheque especial.

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Circular n. 1.273.

1.3.3.2 Empréstimos

Nas rubricas (1.6.1.20.00-8 e 1.6.1.40.00-2) intituladas EMPRÉSTIMOS , ficam registradas


as operações de crédito sem vinculação à aquisição de bem ou serviço ou de finalidade
específica para aplicação dos recursos. São consideradas linhas de empréstimo:

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Carta Circular n. 3.896;


• Carta Circularn n. 3.998.

25
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

LINHAS DESCRIÇÃO
(Subtítulo 1.6.1.20.10-1) – devem ser registrados os empréstimos a pessoas naturais
Crédito pessoal sem vinculação à aquisição de bem ou serviço.

(Subtítulo 1.6.1.20.15-6) – devem ser registrados os empréstimos a pessoas naturais


Crédito pessoal – com retenção de parcela dos salários, proventos, soldos, vencimentos,
consignado aposentadorias, pensões ou similares do devedor para o pagamento das
prestações do empréstimo, nos termos da legislação em vigor.

(Subtítulo 1.6.1.20.30-7) – devem ser registrados os empréstimos rotativos a


pessoas naturais vinculados à conta corrente nos quais determinado limite de
Cheque especial crédito é disponibilizado ao cliente para utilização de acordo com suas
conveniências, sem necessidade de comunicação prévia à instituição financeira.

(Subtítulo 1.6.1.20.31-4) – devem ser registrados os empréstimos rotativos


Cheque especial – MEI vinculados à conta de depósito à vista titulada por microempreendedor individual
(MEI).

Cheque especial – (Subtítulo 1.6.1.20.35-2) – devem ser registrados os empréstimos rotativos


pessoa jurídica vinculados à conta de depósito à vista titulada por pessoa jurídica.

(Subtítulo 1.6.1.20.40-0) – devem ser registrados os empréstimos voltados ao


financiamento das pessoas jurídicas vinculados às necessidades de capital de giro
do tomador e a um contrato específico:

y capital de giro com prazo de vencimento até 365 dias: operações de crédito
voltadas ao financiamento de curto prazo (igual ou inferior a 365 dias) das
pessoas jurídicas vinculadas às necessidades de capital de giro e a um contrato
específico que estabeleça prazos, taxas e garantias;
y capital de giro com prazo de vencimento superior a 365 dias: operações de
Capital de giro
crédito voltadas ao financiamento de médio e longo prazos (superior a 365
dias) das pessoas jurídicas vinculadas às necessidades de capital de giro e a um
contrato específico que estabeleça prazos, taxas e garantias;
y capital de giro rotativo: operações de crédito voltadas ao financiamento de
capital de giro vinculadas a um contrato que estabeleça linha de crédito rotativo,
de forma que à medida que a empresa devedora amortize os empréstimos já
tomados o limite disponível para utilização seja restituído, e amortizações com
datas predeterminadas, podendo ser facultado ao devedor repactuar o fluxo de
pagamentos ao longo da vigência do contrato.

(Subtítulo 1.6.1.20.50-3) – devem ser registrados os empréstimos rotativos a


pessoas jurídicas nos quais determinado limite de crédito é disponibilizado para
Conta garantida utilização pelo cliente por meio de simples movimentação da conta corrente ou
solicitação formal à instituição financeira, sem data definida para a amortização
do saldo devedor, exceto a estabelecida para vigência do contrato.

(Subtítulo 1.6.1.20.60-6) – devem ser registrados os empréstimos de qualquer


natureza ou modalidade, com garantia hipotecária ou com cláusula de alienação
fiduciária de bens imóveis do próprio devedor, exceto aqueles cujos créditos
Empréstimos com
integrem carteiras de ativos garantidores de Letra Imobiliária Garantida (LIG):
garantia de bens
imóveis
Home Equity: empréstimo a pessoas físicas garantido por hipoteca ou por
alienação fiduciária de bens imóveis residenciais sem vinculação à aquisição de
bens.

(Subtítulo 1.6.1.20.99-8) – devem ser registrados os empréstimos para os quais não


Outros empréstimos
haja conta específica.

Fonte: Banco Central do Brasil

26
Essas são as linhas que se caracterizam como empréstimos no elenco de operações de
crédito do Cosif. A seguir, veja a classificação das contas intituladas “direitos creditórios
descontados”.

1.3.3.3 Direitos creditórios descontados

Na rubrica (1.6.1.30.00-5) ficam registradas as operações realizadas sob a modalidade de


DESCONTO DE DIREITOS CREDITÓRIOS , inclusive as formalizadas como aquisição de
recebíveis comerciais de pessoa não integrante do Sistema Financeiro Nacional e nas quais
tal pessoa seja devedor solidário ou subsidiário dos recebíveis. São consideradas linhas
para desconto de direitos creditórios:

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Circular n. 1.273;
• Carta Circular n. 2.723;
• Carta Circular n.3.769.

LINHAS DESCRIÇÃO

Operações de crédito para adiantamento de recursos com base em


Desconto de duplicatas
fluxo de caixa futuro vinculado a duplicatas mercantis.

Desconto de cheques Operações de crédito para adiantamento de recursos com base em


fluxo de caixa futuro vinculado a cheques custodiados.

Operações de crédito para adiantamento de recursos às pessoas


Antecipação de fatura de cartão de
jurídicas com base em fluxo de caixa futuro vinculado a direitos
crédito
creditórios sob a forma de faturas de cartão de crédito.

Operações de crédito para adiantamento de recursos com base em


Outros títulos descontados outros títulos não relacionados aos demais itens.

Fonte: Banco Central do Brasil

Conforme visto, essas linhas compõem o elenco das contas do Cosif, dentro das rubricas
Títulos de Crédito (1.6.1.30.10-8) e Demais Direitos Creditórios (1.6.1.30.90-2). A seguir, veja
as características das linhas intituladas “financiamentos”.

27
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

1.3.3.4 Financiamentos

As operações registradas nas rubricas como FINANCIAMENTOS (1.6.2.10.00-4, 1.6.2.15.00-


9, 1.6.2.40.00-5, 1.6.2.50.00-2 e 1.6.2.60.00-9) caracterizam-se pela liberação de recursos ao
tomador mediante a obrigatoriedade da comprovação da destinação de seu uso perante
o credor, havendo vinculação com a aquisição de bem ou serviço ou com a finalidade
específica de aplicação dos recursos. São consideradas linhas de financiamento:

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Circular n. 1.273.

LINHAS DESCRIÇÃO

Aquisição de bens –
Operações destinadas a financiar a compra de veículos automotores.
veículos automotores

Aquisição de bens – Operações destinadas a financiar a aquisição de bens, serviços, máquinas e


outros bens equipamentos, exceto veículos automotores.

Operações destinadas a pessoas físicas e jurídicas para financiamento de


atividade agroindustrial, ou seja, que tenha como finalidade o investimento em
Financiamentos
estruturas e/ou insumos necessários ao beneficiamento, à armazenagem, ao
agroindustriais
processamento e à comercialização agrícola, extrativista, artesanal e de produtos
florestais.
Operações de financiamento de vendas baseadas no princípio da cessão de
crédito, permitindo à empresa tomadora do financiamento (fornecedor/
vendedor) vender seus produtos a prazo, recebendo o pagamento da instituição
financeira à vista. A empresa compradora assume o compromisso de efetuar o
Vendor pagamento a prazo, destinado a liquidar a operação junto à instituição
financeira. Em geral, a instituição financeira ficará com os direitos creditórios da
empresa vendedora, à qual caberá o risco da operação. O registro dessas
operações é efetuado tendo como cliente o sacado, sendo o cedente/
interveniente.

Operações de crédito a pessoas jurídicas voltadas ao financiamento de suas


compras (produtos e serviços); o desembolso inicial ocorre com o pagamento à
Compror
vista das compras pela instituição financeira diretamente ao fornecedor. As
operações de Floor-Plan6 também devem ser registradas nessa modalidade.

Financiamentos relativos à compra de créditos decorrentes da negociação de


bens e serviços mediante pagamento a prazo, com os referidos créditos não
Recebíveis adquiridos
identificados devidamente. Nessas operações, o cedente será informado como o
cliente devedor da operação.

Financiamento de Operações contratadas com prazo superior a 360 dias, com vínculo entre o fluxo
projeto de caixa gerado pelo projeto e o pagamento da linha de crédito concedida.
Utilizados apenas quando inexistir submodalidade adequada para a operação
Outros financiamentos sob registro.

Fonte: Banco Central do Brasil

6
Floor-Plan: trata-se de um produto específico para atender demandas entre concessionários e montadoras de veículos.
O concessionário abre um limite de crédito para financiamento rotativo, dando garantias ou fiança (inclusive o próprio bem
financiado), e o veículo é faturado ao concessionário. A instituição financeira paga a montadora e recebe do concessionário
28 depois de vender a unidade no varejo, fechando o ciclo.
Essas são as linhas que se caracterizam como financiamentos no elenco de operações de
crédito do Cosif. A seguir, veja a classificação das contas intituladas “financiamentos rurais”.

1.3.3.5 Financiamentos rurais

Na rubrica intitulada FINANCIAMENTOS RURAIS (1.6.3.00.00-0) ficam registrados,


em seus adequados subtítulos, os financiamentos concedidos com recursos livres ou
obrigatórios, inclusive os transferidos por meio de repasse interfinanceiro ou de depósito
interfinanceiro vinculado ao crédito rural, atendendo às demandas dos beneficiários de
operações conhecidas como “crédito rural”, sejam eles produtores rurais ou demais pessoas
físicas e jurídicas que satisfaçam as condições para contratação.

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Carta Circular n. 3.767.

Para uma melhor distinção dos recursos, o Cosif segrega as linhas de financiamento rural
conforme o tipo de sua fonte de recursos, sendo sua aplicação destinada com origem de:

y recursos livres (1.6.3.05.00-5);


y recursos direcionados de depósitos à vista – obrigatórios (1.6.3.15.00-2);
y recursos direcionados da poupança rural (1.6.3.25.00-9);
y recursos direcionados de LCA (1.6.3.35.00-6); e
y recursos de fontes públicas (1.6.3.45.00-3).

Em cada rubrica de aplicação de recursos estão as linhas específicas de financiamento


rural, a saber:

LINHAS DESCRIÇÃO

Custeio Financiamentos concedidos para custeio agrícola e pecuário.

Investimento Financiamentos concedidos para investimento agrícola e pecuário.

Comercialização Financiamentos concedidos para comercialização agrícola e pecuária.

Industrialização Financiamentos concedidos para industrialização agrícola e pecuária.

Fonte: Banco Central do Brasil

29
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

Essas são as linhas que se caracterizam como financiamentos rurais no elenco de operações
de crédito do Cosif. A seguir, veja a classificação das contas intituladas “financiamentos
imobiliários”.

1.3.3.6 Financiamentos imobiliários

Na rubrica intitulada FINANCIAMENTOS IMOBILIÁRIOS (1.6.4.00.00-3) ficam registradas


as operações de crédito destinadas à aquisição, à construção, à reforma, à ampliação e à
produção de unidades imobiliárias, sendo segregadas as subcontas entre os tipos de imóveis:

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa Bacen:

• Carta Circular n. 3.896;


• Carta Circular n. 3.874.

y imóveis residenciais (1.6.4.30.00-4);


y imóveis não residenciais (1.6.4.10.00-0); e
y imóveis com garantia de carteira de ativos – LIG7 (1.6.4.40.00-1).

São consideradas linhas de financiamento imobiliário as seguintes modalidades de crédito:

LINHAS DESCRIÇÃO

Financiamento para aquisição ou construção de unidades


Financiamento habitacional – SFH
habitacionais enquadradas no Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

Financiamento para aquisição ou construção de unidades


Financiamento habitacional – habitacionais com taxas de juros livremente pactuadas entre a
exceto SFH instituição financeira e o mutuário. Geralmente estas operações estão
enquadradas no âmbito do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).

Financiamento imobiliário –
Financiamento imobiliário para aquisição ou construção de unidades
empreendimentos, exceto os
não habitacionais.
habitacionais

Financiamento imobiliário não enquadrado nas modalidades


Financiamento de projeto anteriores em que exista vinculação entre o fluxo de caixa gerado pelo
projeto e o pagamento da linha de crédito concedida.

Fonte: Banco Central do Brasil

7
LIG: é a sigla para Letra Imobiliária Garantida, que é um título lastreado por créditos imobiliários que pode ser emitido por
bancos, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento ou investimento, companhias hipotecárias e associações de
poupança e empréstimo.

30
Essas são as linhas que se caracterizam como financiamentos imobiliários no elenco de
operações de crédito do Cosif. A seguir, veja a classificação das contas intituladas “outros
créditos”.

1.3.3.7 Outros créditos

Na rubrica de outros créditos (1.8.0.00.00-9) estão os registros de “direitos a receber” da


cooperativa que não podem ser diretamente alocados nas carteiras de crédito, mas, por
suas especificidades, são caracterizados como créditos. Segundo o Bacen, são consideradas
transações com características de crédito:

LINHAS DESCRIÇÃO

(1.8.1.00.00-2): créditos honrados decorrentes de avais, fianças e outras


Avais e fianças honrados
coobrigações.

Devedores por compra de valores (1.8.8.35.00-9): débitos de terceiros resultantes da alienação, a prazo,
e bens de valores e bens.

(1.8.8.80.10-2): valores a receber representados por títulos de crédito,


notas promissórias ou contratos que não se caracterizem como
Títulos e créditos a receber
operações de crédito ou avais e fianças honrados, mas possuam
características de concessão de crédito.

Valores a receber representados por compras efetuadas com cartões


de crédito, tanto à vista como parceladas, pelo lojista no ato da
compra, sem incidência de encargos financeiros. Nesse caso, a data de
Cartão de crédito – compra à vista
contratação deve ser a data de emissão do cartão de crédito, e a data
e parcelado lojista
de vencimento reportada será igual à data de vencimento da última
parcela ou igual à data da próxima fatura, caso não haja compras
parceladas.

Compra de direitos creditórios devidamente especificados em que não


Recebíveis adquiridos haja coobrigação por parte do cedente. O cliente informado será o
sacado da operação original.

Outros com características de Deve ser utilizada apenas quando inexistir submodalidade adequada
crédito para os valores a receber sob registro.

Fonte: Banco Central do Brasil

31
1.3 PRODUTOS
CRÉDITO
DE

Essas são as transações que se caracterizam como outros créditos no elenco de operações
de crédito do Cosif.

1.3.3.8 Quadro-resumo das linhas de crédito

Modalidades de Base
Submodalidade das linhas
linhas normativa

Adiantamento a
Não existe (sem respaldo legal). Circular n. 1.273.
depositantes

y Crédito pessoal
y Crédito pessoal – consignado
y Cheque especial
y Cheque especial – MEI
y Cheque especial – pessoa jurídica
y Capital de giro Carta Circular n.
y capital de giro com prazo de vencimento até 365 dias 3.896
Empréstimos
y capital de giro com prazo de vencimento superior a Carta Circular n.
365 dias 3.998
y Capital de giro rotativo
y Conta garantida
y Empréstimos com garantia de bens imóveis
y Home Equity
y Outros empréstimos

y Desconto de duplicatas Circular n. 1.273


y Desconto de cheques Carta Circular n.
Direitos creditórios
y Antecipação de fatura de cartão de crédito 2.723
descontados
y Outros direitos creditórios descontados Carta Circular n.
y Outros títulos descontados 3.769

y Aquisição de bens – veículos automotores


y Aquisição de bens – outros bens
y Financiamentos agroindustriais
y Vendor
Financiamentos Circular n. 1.273
y Compror
y Recebíveis adquiridos
y Financiamento de projeto
y Outros financiamentos

Financiamentos rurais
y recursos livres
y depósito à vista –
obrigatórios y Custeio
y recursos direcionados y Investimento Carta Circular n.
da poupança rural y Comercialização 3.767
y recursos direcionados y Industrialização
de LCA
y recursos de fontes
públicas

32
Financiamentos
imobiliários
y Financiamento habitacional – SFH
y imóveis residenciais Carta Circular n.
y Financiamento habitacional – exceto SFH
y imóveis não 3.896
y Financiamento imobiliário – empreendimentos, exceto os
residenciais Carta Circular n.
habitacionais
y imóveis com garantia 3.874
y Financiamento de projeto
de carteira de ativos
(LIG)

y Avais e fianças honrados


y Devedores por compra de valores e bens
y Títulos e créditos a receber
Outros créditos Circular n. 1.273
y Cartão de crédito – compra à vista e parcelado lojista
y Recebíveis adquiridos
y Outros com características de crédito

Fonte: Banco Central do Brasil

33
CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

1.4
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

Dentre as linhas de crédito disponíveis no mercado, há os créditos de natureza especializada,


ou seja, que exigem um maior grau de especialização dos agentes envolvidos por possuírem
condições operacionais bastante específicas e com regramento próprio. Como créditos
especializados destacam-se:

y crédito rural;
y financiamento imobiliário;
y microcrédito;
y crédito para capital de giro.

Veja a seguir quais as condições essenciais para que essas linhas de crédito sejam diferentes
das demais.

1.4.1 Crédito rural


Conforme visto, o financiamento rural tem especificidades que tornam sua operacionalização
mais complexa do que as demais operações de crédito realizadas pelas cooperativas junto
aos seus cooperados.

Todas as orientações essenciais para o gerenciamento desta modalidade de crédito


estão contidas no Manual de crédito rural – MCR (BACEN, 2021), que codifica as normas
aprovadas pelo CMN e aquelas divulgadas pelo Bacen relativas ao crédito rural, às quais

35
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

devem subordinar-se os beneficiários e as instituições financeiras que operam no SISTEMA


NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR) , sem prejuízo da observância da regulamentação
e da legislação aplicáveis.

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e tem
entre seus principais agentes os bancos e as cooperativas de crédito.

O crédito rural foi institucionalizado pela Lei n. 4.829, de 5 de novembro de 1965. Durante trinta anos, sua
gestão coube ao Banco do Brasil, por meio da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial.

Em 1965, o assunto passou à responsabilidade do Conselho Monetário Nacional (CMN), com a


implementação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).

As normas sobre o crédito rural são aprovadas pelo CMN. O Banco Central faz parte desse órgão e auxilia
na tomada de decisão sobre o crédito rural.

As instituições financeiras seguem essas normas e as colocam em prática no dia a dia com seus clientes.
Existe fiscalização de todo o processo por determinação legal.

Por isso, o BC verifica com as instituições financeiras se a liberação do dinheiro e seu uso estão de acordo
com as normas publicadas, dentre outras providências.

Fonte: Bacen

A Lei n. 4.829/1965 institucionaliza o crédito rural e especifica que o CMN estabeleça as


normas operativas de acordo com as seguintes situações:

y análise, origem e dotação dos recursos que devem ser aplicados;


y diretrizes sobre a aplicação e controle;
y critérios seletivos e prioritários para a distribuição do crédito;
y fixação e ampliação dos programas de crédito agropecuário para abranger todas
as formas de suplementação, incluindo o refinanciamento.

Os recursos disponibilizados variam conforme as projeções de cada ano-safra8 mediante


um planejamento das fontes de recursos e suas aplicações, utilizando as regras de
direcionamento de crédito junto aos agentes públicos e privados. As principais fontes para
aplicação do crédito rural são:

y depósitos à vista;
y depósitos de poupança rural;
y emissão de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA);
y fontes fiscais: BNDES e fundos constitucionais;
y recursos próprios das instituições financeiras.

8
Ano safra: segundo normas contidas no MRC, considera-se ano agrícola o período de 1º de julho de cada ano a 30 de junho do
ano seguinte.

36
1.4.1.1 Público-alvo

O crédito rural é destinado aos seguintes beneficiários:

y produtor rural (pessoa física ou jurídica);


y cooperativa de produtores rurais;
y pessoa física ou jurídica que, mesmo não sendo produtor rural, se dedique a uma
das seguintes atividades:
y pesquisa ou produção de mudas ou sementes fiscalizadas/certificadas;
y pesquisa ou produção de sêmen para inseminação artificial e embriões;
y prestação de serviços mecanizados de natureza agropecuária em
imóveis rurais, inclusive para proteção do solo;
y prestação de serviços de inseminação artificial em imóveis rurais;
y atividades florestais.

Não são beneficiários do crédito rural:

y estrangeiro residente no exterior;


y sindicato rural;
y parceiro, se o contrato de parceria restringir o acesso de qualquer das partes ao
financiamento;
y pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas que exerça
atividade agropecuária ou extrativa em áreas indígenas.

Na concessão de crédito rural deve ser observada a seguinte classificação do beneficiário,


pessoa física ou jurídica, de acordo com a Receita Bruta Agropecuária Anual (RBA):

y pequeno produtor: até R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais);


y médio produtor: acima de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) até R$ 2.400.000,00
(dois milhões e quatrocentos mil reais); e
y grande produtor: acima de R$ R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).

1.4.1.2 Finalidades

Segundo o Banco Central, o crédito rural é um financiamento destinado ao segmento


rural por meio do qual os beneficiários utilizam os recursos concedidos pelas instituições
financeiras de diversas maneiras na sua propriedade. Por exemplo, podem investir em novos
equipamentos e animais ou custear matéria-prima para o cultivo, ou podem ainda utilizar
esses recursos para comercializar e industrializar a produção. Estas são as chamadas
finalidades do crédito, que podem ser descritas como:

37
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

y crédito de custeio: destina-se a cobrir as despesas normais dos ciclos produtivos,


da compra de insumos à fase de colheita;
y crédito de investimento: destina-se a aplicações em bens ou serviços cujo
benefício se estenda por vários períodos de produção. Por exemplo: a aquisição
de um trator;
y crédito de comercialização: destina-se a viabilizar aos beneficiários os recursos
necessários à comercialização de seus produtos no mercado;
y crédito de industrialização: destina-se à industrialização de produtos agropecuá-
rios quando efetuada pelos beneficiários na sua propriedade rural.

1.4.1.3 Obrigatoriedades da instituição financeira (IF)

Para atuar em crédito rural, a IF deve obter autorização prévia do Banco Central do Brasil,
cumprindo no mínimo as seguintes condições:

y comprovar a existência de setor especializado, representado por carteira de


crédito rural, com estrutura, direção e regulamento próprio e com elementos
capacitados;
y difundir normas básicas entre suas dependências e mantê-las atualizadas com o
objetivo de ajustar as operações aos critérios legais pertinentes e às instruções do
Bacen, sistematizando métodos de trabalho compatíveis com as peculiaridades
do crédito e uniformizando a conduta em suas operações;
y manter serviços de assessoramento técnico em nível de carteira, à sua conta
exclusiva, visando à adequada administração do crédito rural, bem como
assegurar a prestação de assistência técnica em nível de imóvel ou empresa,
quando devida;
y indicar previsão dos recursos livres que serão destinados às modalidades de
crédito rural; e
y designar, entre os administradores homologados pelo Banco Central do Brasil, o
responsável pela área de crédito rural.

1.4.1.4 Condições operacionais

Algumas exigências devem ser cumpridas pela instituição financeira para poder
operacionalizar a liberação do crédito rural para um tomador, como, por exemplo:

y comprovação da idoneidade do tomador;


y apresentação de orçamento, plano ou projeto, salvo em operações de desconto;

38
y oportunidade, suficiência e adequação dos recursos;
y observância de cronograma de utilização e de reembolso;
y fiscalização pelo financiador;
y liberação do crédito diretamente aos agricultores ou por intermédio de suas
associações formais ou informais ou ainda por organizações cooperativas;
y observância das recomendações e das restrições do zoneamento agroecológico.

Ao tomador são exigidas documentações comprobatórias (obrigatórias) conforme as


especificidades de cada linha de crédito e as características da atividade rural na respectiva
região geográfica onde será aplicado o recurso, como ocorre nos municípios do Bioma
Amazônico, por exemplo.

1.4.1.5 Fiscalização

Segundo a Resolução CMN n. 4.641/2018, a instituição financeira é responsável pela


fiscalização das operações de crédito rural, cabendo-lhe definir os procedimentos mediante
os quais essa fiscalização será aplicada, observadas:

y as exigências estabelecidas no MCR;


y a efetividade do procedimento adotado em vista das características do
empreendimento financiado; e
y a aplicação de critérios e métodos consistentes, verificáveis e passíveis de
avaliação pelo Banco Central do Brasil em suas atividades de supervisão.

A fiscalização das operações de crédito rural tem por finalidade:

y verificar a correta aplicação dos recursos liberados em vista do que dispõe o


contrato de financiamento;
y avaliar:
y a adequação da condução do empreendimento pelo mutuário;
y a situação das garantias vinculadas à operação de crédito rural;
y a compatibilidade do empreendimento ou do mutuário com o programa
ou a linha de crédito objeto do financiamento;
y recomendar ao mutuário a adoção de providências em vista dos resultados da
fiscalização;
y elaborar laudo em que constem as observações e as conclusões sobre a
fiscalização.

39
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

Conforme visto, são muitas as condições operacionais que fazem do financiamento rural
um crédito especializado, exigindo da instituição financeira e de seus operadores um nível
de qualificação compatível com o porte e a complexidade da carteira de crédito rural a ser
administrada.

1.4.2 Financiamento imobiliário


O FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO é, dentre os recursos direcionados, um dos que mais
movimenta a economia nacional, em razão da sua capacidade de geração de divisas por
toda a cadeia produtiva da construção civil, desde a fabricação de materiais, insumos e
componentes até a entrega final de bens imóveis acabados para seus proprietários.

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

O Brasil iniciou seu sistema imobiliário tardiamente, apenas em 1964 cria-se o Sistema Financeiro de
Habitação (SFH), o Banco Nacional de Habitação (BNH), as Sociedades de Crédito Imobiliário (SCI) por
meio da Lei n. 4.380, antes disso não havia um sistema de crédito imobiliário regulamentado.

Em 1968 é regulamentado o uso da caderneta de poupança para crédito imobiliário, tornando-a a


principal fonte de recursos (funding) para o setor. Antes disso, os recursos vinham do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço).

Em 1997 é regulamentada a Lei n. 9.514, sendo criado o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) após
anos de estudos que revelaram ser esse novo modelo muito melhor para o Brasil do que o anterior, pois
não há mais dependência de um funding direto, como era a poupança no SFH. Junto com o SFI foi criada a
alienação fiduciária, outra questão muito importante para o setor.

O aperfeiçoamento da regulamentação é constante, e em 2004 a Lei n. 10.931 melhora a Lei n. 9.514.


Foram criados novos títulos: as Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI) e as Letras de Crédito Imobiliário
(LCI). Esses instrumentos ajudam a dar mais agilidade ao setor, pois por seu intermédio uma instituição
pode comprar de outra uma operação que queira receber o pagamento, ou até revendê-la a uma terceira
instituição.

Fonte: Abecip (BARROS, José Roberto Mendonça). Uma avaliação do mercado imobiliário no Brasil: a evolução da
demanda e da oferta de financiamento imobiliário nos próximos cinco anos.

Neste importante mercado, as instituições financeiras oferecem operações de crédito


destinadas à aquisição, à construção, à reforma, à ampliação e à produção de unidades
imobiliárias residenciais e não residenciais.

Assim como ocorre no crédito rural, o financiamento imobiliário é amplamente regulado e


possui um regramento específico que obriga os agentes financeiros, públicos e privados, a
cumprirem uma série de obrigações pertinentes a esse tipo de transação financeira junto
aos mutuários e aos beneficiários do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE),
do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).

40
1.4.2.1 Subsistemas do mercado de crédito imobiliário

O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) tem por finalidade promover o


financiamento imobiliário em geral por meio da captação e do direcionamento dos recursos
de depósitos de poupança. Por intermédio do SBPE, são estruturadas as operações de crédito
imobiliário no país por meio do SFH e do SFI, conforme LEGISLAÇÃO EM VIGOR .

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


Base normativa:

SFH Resoluções CMN 1980/93, 3157/03 e


SFI Lei 9514/97
4676/18

FGTS Lei SBPE - Poupança Resoluções CMN CH Resolução


Mercado de Capitais Lei 9514/97
8036/90 1980/93, 3157/03 e 4676/18 4676/18

Integram o SBPE os bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário, as caixas


econômicas, as sociedades de crédito imobiliário, as associações de poupança e empréstimo
e as cooperativas de crédito autorizadas a captar depósitos de poupança na forma da
regulamentação vigente. A seguir, veja as principais características dos subsistemas do
mercado de crédito imobiliário que compõem acessoriamente o Sistema Financeiro
Nacional (SFN):

y Sistema Financeiro da Habitação (SFH): destina-se a facilitar e a promover a


construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas
classes de menor renda da população.
y Integram o SFH, além dos citados anteriormente no SBPE, as entidades
fechadas de previdência complementar.

y Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI): tem por finalidade promover o


financiamento imobiliário em geral, segundo condições compatíveis com os
fundos respectivos.

y Integram o SFI, além dos citados anteriormente no SBPE, as demais


instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo BC com carteira
de crédito imobiliário.

41
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

1.4.2.2 Fontes de recursos

Os recursos do SFH e do SFI são captados pelos bancos e por outras instituições financeiras
integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) principalmente com
DEPÓSITOS DE POUPANÇA .

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

A caderneta de poupança surgiu no Brasil Império, quando D. Pedro II assinou o Decreto n. 2.723 (de 12 de
janeiro de 1861) estipulando a criação da Caixa Econômica Federal e da caderneta de poupança.

Ao longo do tempo surgiram mudanças nas regras que determinam o funcionamento da caderneta de
poupança, principalmente em relação ao índice de juros pagos sobre o valor depositado.

Desde 2012, a legislação brasileira determinou que os depósitos na caderneta de poupança realizados
até 3 de maio de 2012 (que passaram a ser conhecidos à época como poupança antiga) continuassem
recebendo remuneração adicional de 0,5% ao mês (além da remuneração básica); e os depósitos
realizados a partir de 4 de maio de 2012 (a então nova poupança) receberiam remuneração adicional
variável de acordo com a meta da Taxa Selic, mas mantendo-se limitada a 0,5% ao mês durante períodos
de altas taxas de juros.

Fonte: Infoescola (Fatos Históricos)

Nesse caso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece os percentuais mínimos


de recursos que serão obrigatoriamente aplicados pelas instituições financeiras como
recursos direcionados em operações para financiamento imobiliário, residencial ou não.

Especificamente no caso do SFH, os recursos também provêm do FUNDO DE GARANTIA


DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS) , sendo destinados exclusivamente aos financiamentos
imobiliários destinados às pessoas físicas, conforme legislação em vigor.

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado pela Lei n. 5.107, de 13 de setembro de 1966 e
vigente a partir de 1o de janeiro de 1967, para proteger o trabalhador demitido sem justa causa.

O FGTS é constituído de contas vinculadas, abertas em nome de cada trabalhador, quando o empregador
efetua o primeiro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos depósitos mensais efetivados
pelo empregador, acrescidos de atualização monetária e juros.

Fonte: Governo Federal/FGTS

42
Em ambos os sistemas (SFH e SFI), as instituições financeiras também podem direcionar
recursos para financiamento imobiliário de outras fontes, como aqueles captados junto aos
seus clientes por meio dos seguintes instrumentos financeiros:

y Letras de Crédito Imobiliário (LCI): são títulos de renda fixa lastreados em créditos
imobiliários garantidos por hipoteca ou por alienação fiduciária de um bem
imóvel, conferindo aos seus tomadores o direito de crédito pelo valor nominal,
juros e, se for o caso, atualização monetária;
y Letras Hipotecárias (LH): são títulos de renda fixa lastreados em créditos
imobiliários garantidos por hipotecas. O instrumento é emitido por instituições
financeiras que emprestam recursos do SFH. A remuneração do papel pode ser
prefixada ou pós-fixada, por exemplo, pela TR, pelo IGPM ou pelo INPC;
y Letras Imobiliárias Garantidas (LIG): é um título lastreado por créditos imobiliários
que conta com uma carteira de ativos que lastreia e garante os títulos, uma
vez que se torna um patrimônio apartado da instituição emissora, dedicado
exclusivamente à LIG. A rentabilidade fica atrelada à Taxa Selic, ao IPCA, à
variação cambial ou outro tipo de indicador.

1.4.2.3 Condições operacionais

O SFH é regulamentado pelo governo federal, que estabelece algumas condições para
o financiamento imobiliário, como: valor máximo de avaliação do imóvel igual a R$
1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) e custo efetivo máximo igual a 12% a.a..
Para o SFI, essas condições não estão preestabelecidas, sendo permitida a livre negociação
entre os clientes e as instituições financeiras.

Quanto ao limite máximo de 12% a.a. de juros, esse percentual não inclui: custo de
contratação de apólice de seguros de morte e invalidez permanente, danos físicos ao
imóvel e responsabilidade civil do construtor; tarifas relativas à análise de proposta de
apólice de seguro habitacional individual e à taxa de administração mensal (esta última
limitada a R$ 25,00 por mês).

Além disso, a critério das instituições financeiras, os contratos podem prever atualizações
por índices de preços de conhecimento público e regularmente calculado, os mais comuns
são: poupança, INCC, IPCA e Taxa Referencial (TR).

1.4.2.4 Agentes do SFH

Podem atuar como agentes intermediadores do Sistema Financeiro da Habitação (SFH)


bancos, caixas econômicas, cooperativas de crédito e demais instituições financeiras
autorizadas a funcionar pelo Banco Central, e ainda:

43
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

y companhias de habitação;
y fundações habitacionais;
y institutos de previdência;
y carteiras hipotecárias dos clubes militares;
y caixas militares;
y montepios estaduais e municipais;
y entidades de previdência complementar;
y companhias securitizadoras de crédito imobiliário; e
y cooperativas habitacionais, fundações e outras formas associativas para
construção ou aquisição da casa própria sem finalidade de lucro.

Dentre os AGENTES FINANCEIROS DO SFH incluem-se as instituições financeiras e as


instituições não financeiras que podem conceder crédito e, inclusive, meros repassadores
de recursos, além de outras entidades autorizadas. Todos esses agentes devem obedecer
às normas dos financiamentos imobiliários no âmbito do SFH, além das normas próprias de
sua categoria. Por exemplo, as entidades de previdência complementar podem fornecer
crédito imobiliário a seus clientes seguindo as normas do CMN e as regras específicas
editadas pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).

FIQUE POR DENTRO


Observação importante

Essa classificação de agentes financeiros é legado de determinações legais históricas que, apesar de
descreverem, em alguns casos, modelos não mais existentes, é ainda utilizada para o FGTS.

44
1.4.3 Microcrédito
O MICROCRÉDITO é uma modalidade que, apesar de ser amplamente difundida
como uma política pública que fomenta por meio do crédito os micros e os pequenos
empreendimentos de caráter formal e informal, de forma geral, ainda precisa ser melhor
desenvolvida, já que não possui grande apelo comercial por parte da maioria das
instituições financeiras bancárias, devido às suas características de fomento e assistência
por intermédio de um crédito produtivo e orientado aos seus públicos-alvo.

FIQUE POR DENTRO


Contexto histórico

A primeira notícia que se tem de microcrédito data de 1846, quando, no sul da Alemanha, foi criada pelo
pastor Raiffeinsen a Associação do Pão, que cedeu farinha de trigo aos camponeses endividados com
agiotas para que eles, com a fabricação e a comercialização do pão, pudessem aumentar sua renda.
Porém, a experiência de microcrédito mais conhecida internacionalmente foi desenvolvida em
Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Em 1976, o professor de economia Muhammad Yunus
constatou que ao retor da Universidade de Chinttagong, onde lecionava, as pessoas pobres não tinham
acesso a crédito dos bancos comerciais para financiar suas pequenas atividades produtivas, levando-as a
recorrer a agiotas.
Com seu próprio dinheiro e a ajuda de seus alunos, o professor Yuus iniciou um trabalho de concessão de
empréstimos a uma parcela daquela população pobre, cerca de U$ 27 para um grupo de 42 pessoas.

Ao provar que os pobres são merecedores de crédito, no sentido da confiança e de acesso a recursos
financeiros, e que pagam seus pequenos empréstimos destinados a atividades produtivas, o professor Yunus
conseguiu financiamentos e doações nos bancos privados e internacionais para criar o Banco Grameen.

No Brasil, a iniciativa mais bem-sucedida de microcrédito é desenvolvida desde 1997 pelo Banco do
Nordeste (BNB), quando lançou o Programa CrediAmigo, sendo atualmente o maior programa de
microcrédito produtivo e orientado da América do Sul.

Fonte: Banco Central/Banco do Nordeste

De modo geral, o microcrédito é direcionado àqueles que não têm fácil acesso aos recursos
financeiros provenientes de fontes livres das instituições. Por esse motivo, este crédito
possui características específicas, as quais exigem das instituições financeiras um nível de
expertise e atuação mais assertiva ao perfil do público desta modalidade.

1.4.3.1 Público-alvo

Segundo as experiências brasileiras mais bem-sucedidas, são considerados público-alvo do


microcrédito: empreendedores individuais ou reunidos em grupos solidários que atuam no
setor informal ou formal da economia, além de microempresas com faturamento bruto até
o teto estabelecido pela legislação em vigor, estabelecido atualmente em R$ 360 mil . São
alguns dos segmentos mais propensos ao microcrédito:

Ramo industrial:

y marcenarias, sapatarias, carpintarias, artesanatos, alfaiatarias, gráficas, padarias,


produções de alimentos, etc.

45
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

Ramo comercial:

y ambulantes, vendedores em geral, mercadinhos, papelarias, armarinhos, bazares,


farmácias, armazéns, restaurantes, lanchonetes, feirantes, pequenos lojistas,
açougueiros, vendedores de cosméticos etc.

Ramo de serviços:

y salões de beleza, oficinas mecânicas, borracharias, etc.

1.4.3.2 Evolução do microcrédito no Brasil

Segundo o Banco Central, o desenvolvimento do ambiente institucional do microcrédito


pode ser dividido em cinco fases, assim sumarizadas:

FASE FATOS IMPORTANTES


y Concessão de microcrédito exclusivamente por meio de organizações não
1972-1988 governamentais que priorizavam o fomento do segmento em relação ao retorno
financeiro do crédito concedido.

y Início da concessão do microcrédito por governos municipais por meio de


1989-1997
programas de suas secretarias de trabalho.

y Início da regulação do microcrédito.


y Criação das Sociedades de Crédito ao Microempreendedor, instituições
financeiras no âmbito do Sistema Financeiro Nacional.
1998-2002
y Criação da qualificação de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
para as entidades sociais – sem finalidade lucrativa e de natureza privada –
originadoras de crédito fora do sistema financeiro formal.

y Direcionamento do crédito.
y Criação do Programa Nacional do Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO).
2003-2018 y Ajustes normativos, definindo o foco exclusivamente nas atividades produtivas e
ajustando a metodologia das operações.
y Priorização dos segmentos de baixa renda.
y Redefinição do microcrédito como conjunto de 71 modalidades de operações de
crédito para um público-alvo estabelecido.
y Inclusão do estímulo ao microcrédito como um dos objetivos da Agenda BC#.
Aperfeiçoamentos normativos para a redução dos custos de originação.
Desde 2019
y Incorporação de novas tecnologias e entidades especializadas. Desenvolvimento
do Sistema Nacional de Garantias.
y Desenvolvimento do Programa de Simplificação do Acesso a Produtos e Serviços
Financeiros para microempreendedores individuais e microempresas.

Fonte: BCB – Estudo Especial nº 79/2020

Em síntese, o arcabouço institucional do microcrédito evoluiu de um ambiente inicial não


regulado e restritivo ao ambiente atual, no qual coexiste uma pluralidade de agentes,
propósitos, fontes de recursos e níveis de regulação. Em suas origens, o microcrédito era
limitado à atuação de entidades não governamentais, à margem do sistema financeiro e
exclusivamente focadas na inclusão produtiva de segmentos econômicos menos favorecidos.

46
Segundo o Banco Central do Brasil, a recente evolução da regulação promovida pela LEI
Nº 13.999/2020 visa ao crescimento quantitativo e qualitativo do segmento por meio
da ação coordenada de entidades públicas, privadas e não governamentais. A integração
da diversidade de objetivos (lucratividade, sustentabilidade, inclusão social, produtiva e
financeira) é o principal desafio a ser enfrentado.

NORMAS, LEIS E REGULAMENTOS


As medidas de iniciativa do governo federal para o aperfeiçoamento do quadro normativo do
microcrédito produtivo orientado foram adotadas por meio da Lei n. 13.999, de 18 de maio de 2020, que
alterou a Lei n. 13.636, de 20 de março de 2018.

1.4.3.3 Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado

O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO) foi instituído pela


Lei n. 11.110/2005, tendo os seguintes objetivos gerais:

y incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempreendedores


populares;
y disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo orientado (MPO); e
y oferecer apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo orientado,
visando ao seu fortalecimento institucional para a prestação de serviços aos
empreendedores populares.

No âmbito do PNMPO, o Microcrédito Produtivo Orientado (MPO) é o crédito concedido


para o atendimento das necessidades financeiras do seu público mediante utilização de
metodologia baseada no relacionamento direto com os empreendedores no local onde é
executada a atividade econômica.

Atualmente, o conceito de microcrédito corresponde às operações estabelecidas na forma


da Resolução CMN n. 4.854/2020 , em seu art. 2º:

Considera-se operação de microcrédito, inclusive para fins de classificação


no Sistema de Informações de Crédito (SCR), a operação de crédito
realizada para financiamento de atividades produtivas de pessoas naturais
ou jurídicas, organizadas de forma individual ou coletiva, com renda ou
receita bruta anual de até R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais).

O MPO é uma forma de crédito direcionado, portanto os bancos comerciais, os bancos


múltiplos com carteira comercial e a Caixa Econômica Federal são obrigados a destinar
o montante correspondente a 2% da média dos saldos dos depósitos à vista captados
nesta modalidade. Por serem classificadas como instituições financeiras não bancárias, as
cooperativas de crédito estão dispensadas do cumprimento dessa exigência.

47
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

1.4.3.4 Condições operacionais

Além das exigências para enquadramento como microcrédito no conceito amplo, as operações
de MPO devem atender a procedimentos e limites operacionais específicos, estabelecidos
pela Resolução CMN n. 4.713/2019, a fim de suprir as demandas dos microempreendedores.
Conforme o art. 3º dessa resolução, são condições operacionais mínimas:

y uso de metodologia específica de concessão e controle;


y acompanhamento por profissional especializado;
y taxa de juros efetiva máxima de 4% a.m ;
y valor máximo da taxa de abertura de crédito de até 3% do valor do crédito
concedido, vedada a cobrança de quaisquer outras taxas ou despesas;
y prazo da operação não inferior a 120 dias;
y somatório dos saldos devedores das operações de microcrédito produtivo
orientado do tomador na mesma instituição financeira não superior a R$ 21.000,00
(vinte e um mil reais); e
y somatório dos saldos devedores das operações de crédito do tomador contratadas
no âmbito do Sistema Financeiro Nacional, exceto as operações de crédito
habitacional, não superior a R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).

Quanto ao uso de metodologia específica para concessão e controle, segundo o art. 3º, § 2º,
o método deve compreender no mínimo:

y avaliação dos riscos da operação, levando em consideração a necessidade de


crédito, o endividamento e a capacidade de pagamento de cada tomador;
y análise de receitas e despesas do tomador; e
y mecanismo de controle e acompanhamento diário do volume e da inadimplência
das operações realizadas.

1.4.4 Crédito para capital de giro


Dentre os principais tipos de créditos especializados aqui citados, o crédito para capital de
giro9 é o único que não possui uma política governamental específica para tratar de seu
direcionamento de recursos pelas instituições financeiras, em que pese existirem diversos
programas de fomento ao desenvolvimento que também incluem uma parte dos recursos
para atender a necessidade de capital de giro das empresas.

9
Capital de giro: é um recurso necessário para sustentar as atividades operacionais do negócio, podendo ser formado por fontes
de recursos próprios ou de terceiros.

48
As modalidades de crédito destinadas ao capital de giro exigem das instituições um
atendimento bastante especializado, por se tratar de créditos destinados às pessoas
jurídicas de todos os portes e ramos de atuação, que possuem características específicas de
necessidade de recursos para capital de giro tão diversas quanto a variedade de atividades
econômicas desenvolvidas pelas empresas que utilizam tais recursos. À vista disso, a
seguir serão demonstrados os aspectos específicos que tornam esta demanda um crédito
especializado.

1.4.4.1 Principais linhas

Notadamente, ao avaliar as principais linhas de crédito voltadas ao atendimento das


necessidades de capital de giro, é possível perceber que a grande maioria dos recursos
demandados pelas pessoas jurídicas tem esta característica em comum.

Como visto anteriormente, dentre os produtos de crédito é possível identificar quais as


principais linhas que atendem especificamente a necessidade de capital de giro das
pessoas jurídicas:

y Modalidade de empréstimos:
y cheque especial – pessoa jurídica;
y conta garantida (crédito rotativo);
y capital de giro:
y capital de giro com prazo de vencimento até 365 dias;
y capital de giro com prazo de vencimento superior a 365 dias;
y capital de giro rotativo.

y Modalidade de direitos creditórios descontados:


y desconto de duplicatas;
y desconto de cheques;
y antecipação de fatura de cartão de crédito.

y Modalidade de financiamentos:
y Vendor;
y Compror.

À vista dessas especificidades, as instituições financeiras devem entender profundamente


da atividade econômica desenvolvida pelas pessoas jurídicas, visando portifolizar a linha
de crédito que melhor atenda a necessidade do cooperado desse segmento, conforme
política de crédito da própria cooperativa.

49
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

Essa política de crédito deve ser elaborada com base na realidade dos principais tipos de
empreendimentos assistidos com os recursos de capital de giro, mediante estudo técnico
que comporte a viabilidade da destinação dos recursos financeiros, em conformidade com
as condições operacionais de aplicação e retorno do crédito, inclusive tendo o respaldo da
política de apetite a riscos da instituição.

1.4.4.2 Indicadores para análise de capital de giro (CDG)

Para entender a dinâmica do capital de giro (CDG), e com isso indicar o melhor produto
financeiro, a instituição especializada em atendimento a pessoas jurídicas deve saber
interpretar algumas informações patrimoniais e financeiras, que podem ser geradas pelas
demonstrações contábeis ou até por relatórios de visita técnica, desde que possuam dados
fidedignos das políticas operacionais de curto prazo de uma empresa (política de compras,
política de estocagem e política de vendas).

Tais políticas determinam, consequentemente, a dinâmica do capital de giro em uma


empresa, podendo ser avaliada conforme os seguintes elementos financeiros e seus
indicadores para análise técnica (ASSAF NETO; SILVA, 2012):

a) Necessidade de capital de giro (NCG)

A NCG pode ser definida como o volume de recursos necessários para dar cobertura às atividades
operacionais de uma empresa. Entende-se por atividades operacionais o ciclo produtivo ou
operacional da atividade econômica, compreendido pelo somatório do prazo médio de
renovação da estocagem (incluindo eventual produção) + prazo médio de recebimento das
vendas. A fórmula utilizada para calcular a NCG em valores reais (R$) é a seguinte:

NCG = ativo operacional (AO) – passivo operacional (PO)

Para encontrar o ativo operacional é necessário entender os conceitos de:

y ativo circulante (AC): refere-se ao montante de recursos correntes (curto prazo),


geralmente identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa
no prazo máximo de até um ano (360 dias). Numa linguagem gerencial, pode-se
dizer que no ativo circulante encontram-se as aplicações (ou investimentos) de
recursos de curto prazo de uma empresa.

Estão contidos no ativo circulante, por exemplo:

y disponibilidades (D): saldos em caixa, contas correntes, aplicações financeiras e


seus equivalentes;
y créditos (C): valores a receber de clientes, créditos tributários, adiantamento a
fornecedores e outros equivalentes;

50
y estoques (E): saldos de recursos armazenados como estoque de matéria-prima,
bens em produção ou produtos acabados disponíveis para comercialização;
y despesas antecipadas (DA): recursos realizáveis no exercício social subsequente,
mas cujos pagamentos foram antecipados no exercício corrente;
y outros (O): valores que se caracterizam como bens ou direitos com realização de
até um ano, sem características de ativo de giro.

Logo, o ativo operacional (AO) será calculado pela seguinte fórmula:

AO = C + E + DA

Para encontrar o passivo operacional é necessário entender os conceitos de:

y passivo circulante (PC): refere-se ao montante de obrigações, dívidas, riscos (provisão


para garantias, por exemplo) e contingências (autuações fiscais ou trabalhistas, por
exemplo) realizáveis no exercício social com prazo de exigibilidade de até um ano
(360 dias). Numa linguagem gerencial, pode-se dizer que no passivo circulante
encontram-se as fontes financiadoras de recursos de curto prazo da empresa;

estão contidos no passivo circulante, por exemplo:

y fornecedores (F): saldos de contas a pagar pela prestação de serviços e aquisição


de matéria-prima, mercadorias e produtos para comercialização;
y obrigações trabalhistas (OT): são contas que contabilizam ordenados, honorários
e salários a pagar, assim como contribuições e encargos sociais (INSS, FGTS, entre
outras instituições de assistência ao trabalhador);
y obrigações fiscais (OF): são contas destinadas a contabilizar não só os impostos
federais, estaduais e municipais devidos, como também os impostos retidos pela
relação com autônomos e empresas prestadoras de serviço;
y financiamentos e empréstimos (EF): saldos de créditos obtidos em instituições
financeiras relativos a empréstimos e financiamentos com prazo igual ou inferior
a um ano (curto prazo).

Logo, o passivo operacional (PO) será calculado pela seguinte fórmula:

PO = F + OT + OF

Conforme visto, para o cálculo da NCG é necessário desconsiderar as contas transitórias do


ativo circulante (disponibilidades e outros créditos sem característica de giro) e do passivo
circulante (empréstimos e financiamentos em curto prazo), permanecendo no cálculo
apenas os recursos operacionais.

51
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

Nesse sentido, o montante necessário para capital de giro será resultante da subtração do
ativo operacional do passivo operacional, conforme demonstrado na ilustração:

ATIVOS CIRCULANTES PASSIVOS CIRCULANTES

Operacional
Fornecedor +
Operacional

Créditos a Receberr
Outros PCO
R$ 850.000
R$ 1.450.000

Estoques
NCG = 150.000
R$ 750.000

Financeiro
Financeiro

Empréstimos e
Caixa
Financiamentos
R$ 400.000
R$ 350.000

Para exemplificação, veja que nessa ilustração os créditos a receber (R$ 850.000) somados
aos estoques (R$ 750.000) totalizam o ativo operacional de R$ 1.600.000, enquanto as
rubricas de fornecedores e outros passivos circulantes operacionais (PCO) totalizam R$
1.450.000.

Logo, NCG = AO – PO; NCG = 1.600.000 – 1.450.000; NCG = R$ 150.000.

b) Capital de giro líquido (CGL) ou capital circulante líquido (CCL)

O CGL (ou CCL, ambas as nomenclaturas são adotadas e têm o mesmo sentido) pode
ser definido como um recurso disponível para o capital de giro da empresa, servindo de
termômetro para medir a liquidez da empresa no curto prazo.

Esse indicador é importante, pois mede a liquidez de uma empresa e significa que: quanto
maior o CGL da empresa, menor será seu risco de insolvência, isto é, risco de não conseguir
honrar seus compromissos no curto prazo. A fórmula utilizada para calcular o CGL em
valores reais (R$) é a seguinte:

CGL = ativos circulantes (AC) – passivos circulantes (PC).

Conforme essa diferença (ativo circulante menos passivo circulante), a empresa pode ter
capital de giro líquido positivo quando o ativo circulante supera o passivo circulante, ou
capital de giro líquido negativo quando o primeiro é inferior ao segundo.

A posição de liquidez pode ser decidida com base na estrutura que melhor satisfaça as
necessidades e os objetivos das empresas, podendo-se optar por capital circulante baixo
ou até negativo, desde que estas possuam um fluxo de caixa bastante previsível.

52
No entanto, constata-se que na maioria dos casos as saídas de caixa (pagamentos) são
eventos relativamente previsíveis, enquanto as entradas de caixa (recebimentos) são
geralmente de difícil previsibilidade. Assim, o CCL positivo deveria ser a opção da maioria
das empresas, conforme a ilustração:

ATIVOS PASSIVOS

Natureza Operacional
Não Onerosos
Ativos Circulantes Passivos Circulantes
R$ 2.000.000 R$ 1.800.000
CGL

Capital Circulante
Passivo Não
Líquido
Circulante

Financiamentos LP
Onerosos
Ativo Não
Circulante Patrimônio
Líquido
Ativo
Permanente

Curto Prazo Longo Prazo

Para exemplificação, veja nessa ilustração que os ativos circulantes totalizam R$ 2.000.000,
enquanto os passivos circulantes somam R$ 1.800.000.

Logo, CGL = AC – PC; CGL = R$ 2.000.000 – R$ 1.800.000; CGL = R$ 200.000.

c) Saldo de tesouraria (ST)

Segundo Vieira (2008), as incertezas inerentes a todos os tipos de atividades empresariais


exercem forte influência no capital de giro. Isso posto, justifica-se a necessidade de manter
uma reserva financeira (saldo em caixa) visando ao enfrentamento de imprevistos que
possam surgir no curso das atividades operacionais do negócio.

Manter um saldo de caixa adequado às necessidades do negócio também é uma finalidade


da gestão de caixa, que se faz necessária devido à incerteza associada aos fluxos de
pagamentos e, principalmente, de recebimentos.

Do ponto de vista da liquidez, deve-se dispor de capital de giro líquido (CGL) suficiente para
fazer frente às necessidades de capital de giro (NCG), ou seja, o saldo de tesouraria (ST)
deve ser positivo, tendo em vista que é calculado da seguinte maneira:

ST = CGL – NCG

53
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

O saldo de tesouraria é negativo quando o recurso disponível como capital de giro não
é suficiente para financiar a necessidade de capital de giro (CDG < NCG) ou quando a
empresa utilizar limites de créditos rotativos para uso imediato (ST < limites de crédito) e
de forma eventual a fim de dar cobertura a tais descasamentos pontualmente, recompondo
a utilização desses recursos tão logo se regularize a ausência de caixa.

Infelizmente, esses descasamentos ocorrem em grande parte das empresas brasileiras.


Porém, mesmo sendo um caso frequente, deve ser tratado como uma anomalia, pois utilizar
recursos do curto prazo para financiar aplicações de prazo mais longo demonstra certo
grau de risco oriundo da estrutura financeira da empresa. Para exemplificação, seguindo
os dados anteriores, tem-se a seguinte situação para o caso hipotético:

ST = CGL – NCG; ST = R$ 200.000 – R$ 150.000; logo, o ST = R$ 50.000.

No caso em tela, há saldo de tesouraria suficiente para a circulação dos recursos de forma
operacionalmente sustentável (sem descasamentos).

d) Efeito tesoura

Quando a empresa não consegue aumentar o capital de giro líquido (CGL) no mesmo ritmo
de aumento da necessidade de capital de giro (NCG), ocorre um processo de deterioração
da situação financeira conhecido como “efeito tesoura”, conforme explica Vieira (2008).

Esse descompasso entre a evolução das fontes disponíveis (CGL) e as aplicações que precisam
ser financiadas (NCG) faz com que o saldo de tesouraria (ST) se torne crescentemente
negativo. Nota-se, então, uma evidente dependência dos recursos de curto prazo para
financiamento das atividades da empresa cada vez mais acentuada. Veja a ilustração que
explica o efeito tesoura.

ST < 0

CGL (AC - PC) Tempo


NCG (AO - PO)

Conforme visto, essa expressão decorre do fato de que, visualizando o gráfico, tal processo
provoca o afastamento das curvas da NCG e do CGL, produzindo um efeito visual semelhante
às duas partes de uma tesoura, juntamente com seu efeito sobre o saldo de tesouraria (ST).

54
Segundo Vieira (2008), as principais fontes de distúrbios na situação financeira de uma
empresa capazes de facilitar o desenvolvimento do efeito tesoura podem advir de alguns
fatores:

y crescimento muito elevado de vendas: tem como consequência o aumento


da NCG, podendo causar o efeito tesoura se não acontecer um crescimento
equivalente do CGL;
y investimentos elevados em retorno de longo prazo: diminuem o CGL, mas não
o NCG, ocasionando o distanciamento entre eles, situação que evidencia o
distúrbio;
y crescimento expressivo do ciclo financeiro: provoca alterações nos prazos
operacionais de estoques, clientes e fornecedores, causando aumento da NCG e
necessitando de compatível crescimento do CGL.

Enfim, pode-se concluir que as empresas com esse descompasso mostram uma crescente
dependência dos recursos financeiros de curto prazo para o financiamento de sua demanda
operacional de recursos tanto permanentes como de longo prazo, indicando a deterioração
da sua liquidez (solvência).

e) Prazos médios: PMPC, PMRE e PMRV

Dentre os indicadores utilizados na análise de viabilidade financeira de uma empresa


ao crédito, destacam-se os prazos médios calculados em cada etapa de giro do processo
operacional. Os prazos médios são utilizados para medir a capacidade operacional de
geração de caixa e a necessidade de capital de giro de uma empresa.

Basicamente, busca-se encontrar o tempo médio, em dias, que o ativo levou para se
transformar, iniciando pelas compras (PMPC – prazo médio do pagamento das compras),
passando pela estocagem de matéria-prima até chegar ao estágio de produto final (PMRE
– prazo médio da renovação dos estoques), e ainda, passando pela venda aos clientes e
pelo efetivo recebimento em dinheiro no caixa (PMRV – prazo médio do recebimento das
vendas). Veja como é gerado cada um desses indicadores.

INDICADOR FÓRMULA
PMPC = (fornecedores x 360 / compras anuais*)

Prazo médio de pagamento das compras (PMPC) (*)Compras anuais = [(estoque final – estoque inicial)
+ custo das vendas anual]

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Nas atividades operacionais do negócio, a empresa


Significa quantos dias, em média, a empresa demora
demora, em média, “X” dias para pagar seus
para pagar seus fornecedores.
fornecedores a prazo.

CONCEITO

Quanto maior o prazo,


melhor para o caixa da empresa.

55
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

INDICADOR FÓRMULA
PMRE = (estoque x 360 / custo das vendas anual)
Prazo médio de renovação da estocagem (PMRE)

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO
Significa quantos dias, em média, a empresa leva Nas atividades operacionais do negócio, a empresa
para vender seu estoque de matéria-prima, seus demora, em média, “X” dias para girar seus estoques.
produtos em produção e/seus produtos acabados.
CONCEITO
Quanto menor o prazo,
melhor para o caixa da empresa.

INDICADOR FÓRMULA
PMRV = (títulos a receber x 360 / vendas brutas
Prazo médio de recebimento das vendas (PMRV)
anuais)

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Significa quantos dias, em média, a empresa leva Nas atividades operacionais do negócio, a empresa
para receber de seus clientes pelas vendas demora, em média, “X” dias para vender e receber de
realizadas a prazo. seus clientes com prazo.

CONCEITO

Quanto menor o prazo,


melhor para o caixa da empresa.

f) Ciclo operacional (CO) e ciclo financeiro (CF)

As atividades operacionais de uma empresa envolvem a produção de bens e serviços e,


consequentemente, a realização de vendas e respectivos recebimentos. Assaf Neto (2010)
reforça que tais atividades ocorrem de forma sequencial e repetitiva. Com essas operações
básicas, a empresa procura obter determinado volume de lucros, buscando remunerar as
expectativas de retorno de suas diversas fontes de financiamento (credores e proprietários).

Nesse processo natural e permanente podem ser identificados os ciclos de uma empresa,
que se dividem em ciclo operacional e ciclo financeiro.

INDICADOR FÓRMULA
Ciclo operacional (CO) CO = (PMRE + PMRV)

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Neste indicador apura-se quanto tempo a empresa Nas atividades operacionais do negócio, a empresa
demora, em média, para concluir seu ciclo produtivo. demora, em média, “X” dias para concluir seu ciclo,
desde o dia da compra, passando pela estocagem,
pela transformação em produto final e pela venda
até o efetivo recebimento.

CONCEITO

Depende da situação, mas geralmente quanto menor o prazo, melhor para a condição econômica da
empresa.

56
INDICADOR FÓRMULA
Ciclo financeiro (CF) CF = (CO – PMPC)

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Demonstra, em média, quantos dias a empresa Capital de giro (CDG): pode-se definir o CDG como
necessita de recursos financeiros para cobrir o ciclo “um recurso necessário para sustentar as atividades
operacional, utilizando recursos conhecidos como operacionais do negócio, podendo ser formado por
capital de giro. fontes de recursos próprios ou de terceiros”.

CONCEITO

Quanto menor o prazo, melhor para a condição econômica da empresa (gera menor necessidade de capital
de giro).

Para melhor exemplificação dos prazos médios e seus ciclos, veja a ilustração:

Ciclo Financeiro

90 Dias
Ciclo Operacional

135 Dias

Venda Recebimento
PMRE PMRV

Compra da 60 Dias 75 Dias


Mercadoria
PMPC Fornecedor

45 Dias

Percebe-se que o somatório do prazo médio de renovação dos estoques (PMRE = 60 dias)
mais o prazo médio de recebimento das vendas (PMRV = 75 dias) compreendeu um ciclo
operacional (CO = 135 dias), sendo este o prazo total da atividade produtiva desta empresa.

Logo, a diferença entre o ciclo operacional (CO = 135 dias) e o prazo médio de pagamento
das compras (PMPC = 45 dias) perfaz o ciclo financeiro (CF = 90 dias), que na prática
significa o tempo médio que a empresa necessita de recursos financeiros para cumprir suas
atividades produtivas, ou seja, o tempo que ela precisa de capital de giro para sustentar
seu ciclo operacional.

Conforme visto, essa necessidade poderá ser suprida por recursos próprios da empresa
(reservas financeiras) ou pela aquisição de recursos de terceiros, neste caso, as linhas de
crédito direcionadas à necessidade de capital de giro das pessoas jurídicas.

57
1.4 CRÉDITOS
ESPECIALIZADOS

g) Índices de liquidez: geral, corrente, seca e imediata

A utilização de indicadores é uma técnica de análise que consiste em relacionar contas


e grupos de contas para a extração de conclusões referentes a tendências e situações
econômico-financeiras de uma empresa.

Os índices de liquidez permitem que se realizem previsões da capacidade financeira da


empresa para liquidar seus compromissos financeiros no vencimento, revelando indicativos
de sua capacidade de manter seu capital de giro no volume necessário à realização de suas
operações. Veja nos quadros seguintes os indicadores de liquidez.

INDICADOR FÓRMULA
Ativo Circ. + Ativo Não Circ.
Liquidez geral Pas. Circ. + Pas. Não Circ.

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Proporção entre os bens e direitos de curto e longo Para cada $ 1 de dívida de CP e LP tem-se “$ x” de
prazos e as obrigações totais com terceiros. bens e direitos de CP e LP para fazer cobertura.

CONCEITO

Quanto maior, melhor.

INDICADOR FÓRMULA
Ativo Circulante
Liquidez corrente Passivo Circulante

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Proporção entre os bens e direitos apenas de curto Para cada $ 1 de dívida de CP tem-se “$ x” de bens e
prazo e as obrigações de curto prazo com terceiros. direitos de CP para fazer cobertura.

CONCEITO

Quanto maior, melhor.

INDICADOR FÓRMULA
Ativo Circ – Estoques – Desp. Exerc. Seg.
Liquidez seca
Passivo Circulante.

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Semelhante à liquidez corrente, porém do ativo Para cada $ 1 de dívida de CP tem-se “$ x” de bens e
circulante, são excluídos os estoques e as despesas direitos de CP para fazer cobertura sem utilizar os
do exercício seguinte. estoques e os ativos não circulantes.

CONCEITO

Quanto maior, melhor.

58
INDICADOR FÓRMULA
Disponibilidades
Liquidez imediata Passivo Circulante

SIGNIFICADO INTERPRETAÇÃO

Proporção entre os bens e direitos já disponíveis em Para cada $ 1 de dívida de CP tem-se “$ x” de bens e
dinheiro e as obrigações de curto prazo com direitos disponíveis em dinheiro para fazer sua
terceiros. cobertura.

CONCEITO

Quanto maior, melhor.

Conforme visto, a utilização dos índices de liquidez é essencial para as instituições


financeiras, visando à avaliação de uma empresa para a qual se pretende conceder linhas
de crédito.

A interpretação de tais indicadores é essencial para a concessão de crédito, podendo


ser feita uma análise comparativa com outras empresas de mesmo ramo de atuação, ou
analisando a evolução da própria empresa ao longo dos tempos e sua tendência e seus
eventuais impactos sobre a capacidade de honrar compromissos com seus credores.

59
A seguir serão abordadas as modalidades de crédito e as características de seus produtos e
processos, assim como os aspectos de risco envolvidos nas operações de crédito tanto para
pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.

VISÃO GERENCIAL
SOBRE AS FONTES E
AS APLICAÇÕES DE
RECURSOS

1.5
1.5 VISÃO GERENCIAL
SOBRE AS FONTES E
AS APLICAÇÕES DE
RECURSOS

No contexto do mercado de crédito e seus produtos é fundamental entender como


funcionam as fontes e as aplicações de recursos a fim de garantir o melhor nível de
eficiência com a maior segurança possível.

Nesse sentido, faz-se necessário descrever as características da gestão de recursos pelos


fundamentos do funding para instituições financeiras que operam crédito.

1.5.1 Características do funding


Nos primórdios da atividade bancária, quando os empreendimentos a serem financiados
eram, em grande parte, a comercialização de produtos orientais na Europa, o banqueiro
sabia, de antemão, onde iria aplicar cada lote de recursos que captava e/ou onde iria
captar os recursos necessários para determinada empreitada.

Esse conhecimento prévio das fontes e das aplicações dos recursos facilitava, sobretudo, o
“casamento” entre as origens e os destinos dos diversos lotes de recursos transacionados.
No entanto, no mundo contemporâneo, a multiplicidade de opções em matéria de
operações financeiras (opções essas criadas pelas próprias instituições em atenção às
necessidades de seus clientes – aplicadores e tomadores), aliada à extrema rapidez das
comunicações, impõe certas dificuldades para manter esse “casamento” de forma estável
entre as captações e as aplicações de recursos. Afinal, há um contínuo fluxo e refluxo,
uma perpétua reacomodação entre as origens e os destinos dos recursos confiados às
instituições financeiras.

É notório que as situações de descasamento constituem ameaça à rentabilidade e à


própria sobrevivência das instituições financeiras, motivo pelo qual sempre se procura
acompanhar a evolução das origens e dos destinos dos recursos à disposição. Dessa forma,
segundo Hastings (2006), o objetivo de um sistema de funding é justamente:

[...] mapear os fluxos de recursos financeiros entre as carteiras de


captação e de aplicação, permitindo acompanhar os riscos de eventuais
descasamentos e, ao mesmo tempo, possibilitando a apuração da
margem e do spread de cada carteira.

61
1.5 VISÃO GERENCIAL SOBRE
AS FONTES E AS APLICAÇÕES
DE RECURSOS

Para poder montar um sistema de funding, os dados primários necessários serão,


simplesmente, as informações principais de cada carteira, expressas em termos de saldos
médios mensais e as respectivas receitas ou despesas referentes ao mês em questão.

No presente contexto, Hastings (2006) afirma que o tratamento dado ao sistema de funding
focalizará o banco como um todo, mas, é claro, nada impede que seja estruturado por
agência ou por grupo de agências, e se este for o enfoque desejado, os dados primários
deverão estar disponíveis por centro de responsabilidade. Portanto, quando combinado o
funding com o caixa central, realmente serão necessários a abertura e o desdobramento
das análises por carteira e por agência.

No Sicoob, a técnica de análise que utiliza as regras de funding pode ser percebida numa
visão gerencial na PLATAFORMA DE APOIO À DECISÃO (PAD) e particularmente por
meio do Relatório de análise de produtividade (APN), cuja visão pragmática das fontes
e das aplicações de recursos apresenta de maneira bem clara as taxas praticadas entre
ativos e passivos, bem como a visão interna de compra/venda de recursos entre as
agências eventualmente superavitárias ou deficitárias (na captação e na destinação
dos recursos), assim como seus impactos sobre a estrutura de resultados das agências e,
consequentemente, para toda a cooperativa singular.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

A Plataforma de Apoio à Decisão (PAD) é um aplicativo integrante do Sisbr 2.0 que disponibiliza
informações gerenciais referentes às cooperativas do Sicoob, o que possibilita responder, rápida e
acertadamente, às demandas de informações gerenciais para apoio à tomada de decisão.

A Plataforma de Apoio à Decisão é composta pelos seguintes módulos:

- Fluxo de Caixa;
- Gestão de Risco de Crédito;
- Gestão de Mercado e Liquidez;
- Mais Negócios;
- Análise de Produtividade de Negócios;
- Gestão de Metas;
- Repositório de Arquivos;
- Notas Explicativas.

Os sistemas atuam de forma integrada com os demais módulos do Sisbr 2.0 para controlar as informações
gerenciais pertinentes a cada produto.

Fonte: Base de Conhecimento Sicoob

Veja como são aplicados os conceitos de funding nos relatórios gerenciais do Sicoob.

62
1.5.2 Visão das fontes e das aplicações no Relatório APN
Segundo o Guia de orientações para análise de resultados por PA, manual interno do Sicoob
que explica como pode ser feita a leitura do RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PRODUTIVIDADE
DO NEGÓCIO (APN) na Plataforma de Apoio à Decisão (PAD), a metodologia de

VISÃO GERAL DO RELATÓRIO APN (PA)

63
1.5 VISÃO GERENCIAL SOBRE
AS FONTES E AS APLICAÇÕES
DE RECURSOS

apuração de resultado por Ponto de Atendimento separa dos PAs todos os bens e direitos,
obrigações, receitas e despesas que não possam ser atribuídos a eles, permitindo, assim,
um gerenciamento da singular mais elaborado, cuidadoso e conclusivo. Veja a ilustração:

PA O

PA 1

Unidade Administrativa Consolidado PA 2


Desmembrada - UAD Cooperativa

Fonte: Guia de orientações para análise de resultados (Sicoob)

Por meio desse relatório pode-se observar que são utilizadas informações para a
apuração dos resultados contábeis dos PAs, da UAD e do Caixa Central, sendo este último
(num conceito de tesouraria) utilizado pela UAD para a compra de recursos repassados
provenientes da centralização financeira de cada PA, obtendo-se um spread (%) ao custo
de oportunidade pelas taxas praticadas no mercado financeiro (CDI).

1.5.3 Margens financeiras (spread)


No Sicoob, para apuração das margens financeiras de cada PA adota-se por critério a
decomposição dos dados entre captação e aplicação de recursos, o que permite identificar
o balanço entre compra e venda interna de recursos, conforme demonstrado na ilustração.

64
Preço de transferência: A Receita/Despesa financeira com a
Aplicação/Captação de recurso na DG com base no CDI.

Recursos Recursos
UAD
Captação Caixa Central Aplicação
Preço Preço
Transf. Transf.

Margem Financeira
(Receita Financeira - Despesa Financeira)

Preço de Transferência:
CDI x SM do Ativo ou Passivo

Fonte: Guia de orientações para análise de resultados (Sicoob)

Logo, se o total das contas de origem do PA for maior que o total das contas de aplicação,
significa que este foi “vendedor de recursos”. Porém, se o total das contas de origem do
PA for menor que o total das contas de aplicação, significa que este foi “comprador de
recursos”.

Nessa visão gerencial apresentada pela APN, a Unidade Administrativa Desmembrada


(UAD) é a unidade da organização financeira que administra as decisões tomadas pela alta
administração, bem como gerencia os custos indiretos ou fixos da unidade administrativa.
Para tanto, faz-se necessária a separação desses eventos do restante da organização.

Por sua vez, as agências das cooperativas devem ter seu desempenho avaliado,
primeiramente, sob o aspecto operacional, ou seja, como estão captando e emprestando
recursos e vendendo serviços aos associados.

1.5.4 Análise de desempenho (taxa de juros, spread e


custos)
Por intermédio das avaliações comparativas entre taxas de juros, spreads e custos é
possível realizar uma análise de desempenho de uma cooperativa singular, sendo este um
dos elementos essenciais para a validação da eficácia na condução dos negócios.

65
1.5 VISÃO GERENCIAL SOBRE
AS FONTES E AS APLICAÇÕES
DE RECURSOS

Por sua natureza intermediadora de recursos e visando garantir sua sobrevivência no


mercado, toda instituição financeira deve gerar resultados sustentáveis (sobras), aplicando
os recursos captados de modo que seja obtido retorno suficiente para cobrir seus custos
operacionais e administrativos e, ainda, para constituir reserva contábil a fim de cobrir
eventuais perdas pelo não pagamento dos créditos concedidos (provisão de créditos de
liquidação duvidosa).

Considerando a visão gerencial apresentada pela APN, é possível avaliar todas as variáveis
a partir da segregação dos dados entre origem e aplicação, demonstrando as taxas médias
do passivo e as do ativo, bem como suas implicações na margem financeira (spread) de um
PA, como exemplificado a seguir.

Fonte: Relatório APN/PAD (Sicoob)

1.5.5 Precificação de produtos de crédito (risco x


retorno)
Para uma melhor performance das carteiras de crédito, de modo que seja garantida uma
melhor relação risco x retorno, é imprescindível elaborar uma análise para a precificação
dos produtos de crédito conforme as especificidades de cada linha de empréstimos e
financiamentos disponíveis aos cooperados tomadores de recursos.

66
Nesse sentido, segundo o Banco Central do Brasil, em seu Relatório de economia bancária
(REB – ano 2020), são elementos constituintes do Indicador de Custo do Crédito (ICC) no
Sistema Financeiro Nacional:

y custos de captação (C): despesas das instituições financeiras com o pagamento


de juros nas suas captações, como no caso de depósitos a prazo;
y inadimplência (I): perdas decorrentes do não pagamento de dívidas ou juros,
além de descontos concedidos;
y despesas administrativas (D): despesas diversas, como de pessoal e marketing,
incorridas pelas instituições financeiras para realizar as operações de crédito;
y encargos tributários e fundo garantidor (T): são os tributos sobre as operações de
crédito pagas pelos tomadores e pelas instituições financeiras;
y margem bruta, erros e omissões (M): englobam, além da margem bruta de lucro
das instituições financeiras, eventuais erros de estimação e/ou de mensuração.

Por essa composição do ICC pode-se deduzir que a taxa mínima que poderia ser praticada em
uma operação de crédito não deveria ser inferior à soma desses fatores, consequentemente
sua fórmula básica é:

Taxa Mínima = C + I + D + T + M

Para exemplificação, considere os seguintes valores que podem ser extraídos dos relatórios
gerenciais:

y C = 0,16% (referente à taxa média das captações a prazo, podendo também tomar
como referência o % do CDI no período);
y I = 0,20% (média dos ajustes de provisão nos últimos seis meses aplicados sobre
o total da carteira de crédito);
y D = 0,28% (percentual de representação das despesas administrativas mensais
sobre o total da carteira de crédito);
y T = 0,02% (percentual de representação dos encargos tributários sobre operações
e do fundo garantidor sobre o total dos depósitos totais captados);
y M = 0,43% (percentual de representação da margem financeira bruta sobre o
total dos ativos administrados – aplicar a margem real ou desejada).

Logo, a equação chegaria ao seguinte resultado:

Taxa Mínima = 0,16% + 0,20% + 0,28% + 0,02% + 0,43%

Taxa Mínima = 1,09%

Ainda sobre o conceito de taxa mínima, pode-se aplicar alguns fatores de ponderação de
cada linha de crédito e suas condições operacionais básicas, tais como:

y garantias vinculadas à operação (G);


y prazo em exposição ao risco (P).

67
1.5 VISÃO GERENCIAL SOBRE
AS FONTES E AS APLICAÇÕES
DE RECURSOS

Por meio desses fatores específicos estipulados em cada linha é possível definir uma taxa
de referência, devendo-se estabelecer uma escala de minoração para os melhores tipos
de garantia e outra escala de majoração para os maiores prazos, conforme demonstra a
fórmula:

Taxa de Referência = Taxa Mínima - %G + %P

Para efeito prático, considere que a garantia oferecida seja um imóvel por alienação
fiduciária cujo fator mitigatório sobre a taxa perfaça 0,40 p.p, enquanto o prazo a ser
praticado seja de 36 meses, com fator de majoração de 0,30 p.p. Logo, a taxa de referência
para esta hipotética linha de empréstimo com garantia de imóveis e prazo de 36 meses
seria de:

Taxa de Referência = 1,09% - 0,40% + 0,30%

Taxa de Referência = 0,99%

Partindo do princípio de que essa seja a taxa referencial para uma linha de crédito de
balcão, outros fatores também poderão influir sobre essa taxa, conforme o perfil do
proponente ao crédito, como, por exemplo, o nível de reciprocidade e o nível de risco.

Para tanto, a política de precificação da singular deverá prever essa condição baseada
na informação real e precisa do proponente ao crédito no ato da concessão, bem como
poderá aplicar indexadores para garantir sua margem bruta contra aspectos externos,
como a flutuação da taxa de juros padrão do mercado financeiro.

Enfim, esta simples apresentação teórica serve somente como racional hipotético para
uma cooperativa singular, partindo de uma análise detalhada e crítica de sua situação
a fim de realizar uma precificação coerente com sua estrutura de custos, alinhada com a
necessidade de retorno sobre o risco ao qual está exposta.

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REFERÊNCIAS

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www.sicoob.com.br
SIG, Quadra 06, Lote 2080, Sudoeste
Cep: 70712 900 Brasília-DF
+ 55 61 3217 5709

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