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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

SERGIO ALFREDO MACORE

PROCEDIMENTOS PARA A CONCESSÃO DE CREDITO

MAPUTO, 2021
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SERGIO ALFREDO MACORE

PROCEDIMENTOS PARA CONCESSÃO DE CREDITO

Trabalho de carácter avaliativo da


disciplina de Gestão de Credito 1, a ser
entregue na Universidade São Tomas de
Moçambique, como requisito parcial para
obtenção de nota.

Docente:

MAPUTO, 2021

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ÍNDICE

1.Introdução................................................................................................................................3
1.1.Objectivos..........................................................................................................................4
1.1.1.Objectivo geral...........................................................................................................4
1.1.2.Objectivos específicos................................................................................................4
2.Metodologia da pesquisa..........................................................................................................4
3.Revisão de literatura................................................................................................................5
3.1.Conceito de crédito............................................................................................................5
3.1.1.Conceito de risco........................................................................................................5
3.1.1.1.Factores de risco......................................................................................................6
3.1.2.Garantias.....................................................................................................................6
3.1.3.Tipos de garantias...........................................................................................................7
3.1.3.1.Aval.........................................................................................................................7
3.1.3.2.Caução de duplicatas...............................................................................................8
3.1.3.3.Caução de cheques...................................................................................................8
3.2.Os C’s do Crédito..............................................................................................................9
3.3.Os C’s Tradicionais do Crédito.......................................................................................10
3.4.Os C’s Modernos do Crédito...........................................................................................10
3.5.As demonstrações financeiras e a concessão de crédito.................................................11
4.Procedimentos para uma operação de crédito........................................................................11
4.1.O Início da Avaliação do Crédito....................................................................................12
4.2.A Decisão de Crédito......................................................................................................14
4.3.Um critério para a decisão do crédito..............................................................................14
Conclusão..................................................................................................................................16
Bibliografias..............................................................................................................................17

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1.Introdução

O trabalho de pesquisa tem como tema ‘’Procedimentos para a concessão de Credito’’.


Como se pode ver pelo tema, uma das questões mais importantes a que está exposto o
executivo financeiro é a de conceder e obter crédito. A avaliação do crédito coloca em jogo
uma decisão tomada hoje, que poderá trazer sérias consequências futuras. Assim a avaliação
da concessão do crédito deve ser feita com exame detalhado do risco que se está correndo. A
própria origem da expressão crédito significa confiar. Assim, todo crédito baseia-se na
confiança, ou seja, na esperança de que o devedor pague, no futuro, pelo que lhe é fornecido
no presente. Dessas considerações decorre que a concessão de crédito significa confiança,
troca de coisas de valor económico, futuridade e risco.

Nas transacções mercantis, na venda de mercadorias a crédito a um cliente, a companhia


confia que este venha a pagar sua dívida no futuro. No caso dos bancos, essas questões são
sempre mais complexas, pois podem gerar problemas de liquidez que, muitas vezes, irão
custar muito caro ao accionista, quer pela elevação da taxa de captação do banco, quer pela
necessidade de chamada de capital ou, na pior das hipóteses, com a própria liquidação do
banco. Naturalmente estamos falando de operações de crédito a pessoas jurídicas, que podem
chegar, em conjunto, a volumes significativos, que nos levam às situações descritas.

Essa questão é tão importante que o Banco Central estabelece limite para as operações de
crédito, tais como: "Fixar em 30% do respectivo património líquido, ajustado na forma da
regulamentação em vigor, o limite de diversificação de risco por cliente; Determinar que os
10 (dez) maiores clientes não poderão, em conjunto, ser responsáveis por mais de 30% do
total das operações activas da Instituição e Fixar o limite de endividamento para os Bancos,
em 15 vezes o património líquido...

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1.1.Objectivos

1.1.1.Objectivo geral

 Analisar os procedimentos para a concessão de crédito.

1.1.2.Objectivos específicos

 Apresentar soluções para tomada de decisão no momento da solicitação do crédito, por


meio da análise de índices financeiros, proporcionando condições para analisar
situações de empréstimos;
 Seleccionar indicadores de análise de balanço para concessão de crédito e ressaltar a
importância de cada indicador.
 Identificar a relevância da análise dos indicadores para a concessão de crédito na
opinião de analistas de crédito.

2.Metodologia da pesquisa

Para elaboração deste trabalho foi feito uma revisão bibliográfica. Onde foi usado o método
indutivo, que é um método responsável pela generalização, isto é, partimos de algo particular
para uma questão mais ampla, mais geral. A Indução é um processo mental por intermédio do
qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral
ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objectivo dos argumentos
indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas
quais nos baseia-mos.

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3.Revisão de literatura

3.1.Conceito de crédito

Segundo SCHRICKEL (2000) – crédito é todo acto de vontade ou disposição de alguém


destacar ou ceder, temporariamente, parte de seu património a um terceiro, com expectativa
de que esta parcela volte à sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado.

Esta parte do património pode estar materializada por dinheiro (empréstimo monetário) ou
bens (empréstimos para uso, ou venda com pagamento parcelado, ou a prazo). Pelo facto de
esta cessão patrimonial envolver expectativas quanto ao recebimento da parte cedida, é
imperativo reconhecer que a qualquer crédito está associada a noção risco, portanto o gerente
de crédito deve lembrar-se que, ao vender um crédito, está automaticamente comprando um
risco com todos os problemas e benefícios que a transacção envolve.

Numa visão macroeconómica, o crédito cumpre importante papel económico e social, pois
possibilita às empresas aumentarem seu nível de actividade, estimula o consumo,
influenciando assim a demanda, ajuda as pessoas a obterem moradia, facilita a efectivação de
projectos para os quais as empresas não disponham de recursos suficientes. Por outro lado, o
crédito pode tornar empresas e pessoas físicas altamente endividadas, como pode ser forte
componente de um processo inflacionário.

3.1.1.Conceito de risco

O risco sempre estará presente em qualquer empréstimo Não há empréstimo sem risco.
Porém, o risco deve ser razoável e compatível ao negócio da instituição financeira e à sua
receita mínima almejada.

A incerteza quanto ao futuro torna a análise de crédito, e por consequência o risco,


extremamente desafiador e exige capacitação técnica específica, tornando-a mais que
certamente dependente do elemento humano, não podendo jamais ser substituída por qualquer
meio cibernético, melhor dizendo; não existem modelos matemáticos que eliminem o risco,
será sempre indispensável o parecer do comité de crédito.

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3.1.1.1.Factores de risco.

Os factores identificados como responsáveis pelas perdas bancárias em concessões de


créditos, usualmente são divididos em duas partes: internos e externos.

A fraca qualidade no processo de análise de crédito (factor interno) e o agravamento da


situação macroeconómica (factor externo), podem resultar na escassez de tomadores
saudáveis. Essa situação tende a influenciar na maior concentração de empréstimos com
tomadores de alto risco, o que pode resultar na diminuição da receita e da lucratividade.
Factores internos independem da economia e estão relacionados com as características de uma
empresa.

Os factores internos são decorrência de:

 Profissionais desqualificados;
 Controlo de Política de crédito;
 Volatilidade das taxas de juros;
 Taxa de inflação;
 Carácter dos tomadores;
 Taxa de desemprego.
 Riscos inadequados;
 Ausência de modelos estatísticos;
 Concentração de empréstimos em tomadores de alto risco.

Factores externos estão directamente ligados a situação económica, os quais determinam o


nível de actividade económica e de taxa de juros. Os factores externos são decorrência de:

3.1.2.Garantias

A finalidade da garantia é evitar que factores imprevisíveis, ocorridos após a concessão do


crédito, impossibilitem a liquidação do empréstimo, por mais que a parte tomadora seja
idónea com suas obrigações, sempre haverá o risco, seja por factores climáticos, cambiais,
política fiscal, morte do principal dirigente da empresa, incêndio, entre outras causas. A
garantia é considerada pelo Banco Central, como uma das regras de boa técnica bancária, e
estabelece que os bancos comerciais, na realização de operações de crédito, exijam uma
garantia adequada ao crédito.

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Para as instituições financeiras, as melhores garantias são aquelas que possuem maior
liquidez, ou seja, aquelas cuja conversão em caixa e respectiva liquidação do contrato de
crédito independem de sentença judicial, mesmo assim os gerentes de instituições financeiras
nunca deve considerar a concessão de um empréstimo exclusivamente em função da garantia.
Em toda concessão de crédito, o gerente deverá ter a convicção de que não será necessário
utilizar a garantia para liquidar o empréstimo.

3.1.3.Tipos de garantias

3.1.3.1.Aval

O aval é uma garantia oferecida por um terceiro, que por este ato se torna devedor solidário
do devedor principal. A relação que se estabelece entre o avalista e o avalizado é pessoal,
directa e intransferível. Diz-se comummente que o avalista, ao dar sua garantia, constitui-se
no principal pagador da obrigação, dada a solidariedade estabelecida entre o devedor e seu
garantidor em relação ao emprestador. (SCHRICKEL, P. 165)

O aval é caracterizado por ser uma garantia pessoal, ou seja, se o tomador da dívida não
cumprir com suas obrigações, quem responderá será a pessoal que assinou como avalista. O
aval é normalmente atrelado a todas as operações de crédito, por ser a forma de garantia mais
comum. Para a instituição financeira o aval é de boa norma bancária no que se refere a
diminuição do risco em casos de inadimplência do cliente ou de concordata ou falência da
empresa devedora, existem casos em que o avalista é o dono ou sócio da empresa, se esta
pede falência, o dono responderá de mesma forma sobre suas dívidas, porém na posição de
pessoa física, como avalista.

O aval garante apenas o valor que está expresso no título de crédito avalizado. Muitos bancos
após executarem o tomador e seu avalista pretendem que eles assumam também as
responsabilidades por obrigações que vão além das previstas na promissória, o que, às vezes
pode funcionar nos tribunais.

O que o responsável pela carteira de crédito deve tomar cuidado ao exigir assinatura de um
avalista é atentar para que o título esteja legível e bem formalizado, conferir, além da
assinatura, os poderes de quem assinou (mediante procuração, estatuto ou contrato social),
que o avalista e os dados sejam os mesmos citados no contrato e que o valor do título de
crédito seja suficiente para cobrir o valor do crédito, com os respectivos encargos.
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3.1.3.2.Caução de duplicatas

Duplicata é um título de crédito que se extrai em consequência de uma factura de venda


mercantil ou prestação de serviços. A caução de duplicatas só produz efeitos a partir da
efectiva entrega dos títulos ao credor. Portanto, na caução de duplicatas, somente podemos
considerar a existência da garantia, a partir do momento em que os títulos forem entregues ao
banco. (SANTOS, P. 37).

3.1.3.3.Caução de cheques

O contrato de empréstimo pode ter como forma de garantia a vinculação de cheques, o prazo
para a apresentação de cheques, para o pagamento, é de 30 dias a partir de sua emissão,
quando for emitido na praça (cidade) onde deve ser pago, e de 60 dias quando emitido em
outra praça.

O prazo de prescrição do cheque (perda do direito de cobrar judicialmente) é de seis meses a


contar do final do prazo de apresentação.

A análise de crédito é um instrumento essencial para um bom resultado de uma decisão de


crédito. A análise de crédito proporciona uma visão geral da empresa demandante, fornecendo
de forma clara e objectiva o seu desempenho económico-financeiro. O levantamento da
situação da empresa é feito com base na análise de suas demonstrações financeiras, do grupo
e sector em que faz parte e também de aspectos políticos e económicos.

Segundo Matarazzo (2003, p. 17):

O analista de balanços preocupa-se com as demonstrações financeiras que, por sua vez,
precisam ser transformadas em informações que permitam concluir se a empresa merece ou
não crédito, se vem sendo bem ou mal administrada, se tem ou não condições de pagar suas
dívidas, se é ou não lucrativa, se vem evoluindo ou regredindo, se é eficiente ou ineficiente, se
irá falir ou se continuará operando.

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Blatt (1999, p. 38) apresenta os seis pilares da concessão de crédito:

 Informação creditícia: Indica que as decisões de crédito são embaçadas nas


informações colectadas, as quais devem ser de fontes confiáveis e íntegras.
 Histórico de Pagamento: Neste pilar é analisado o histórico de pagamento do cliente
em relação a outros fornecedores. Uma vez que o cliente possui uma boa conduta de
pagamento com os credores actuais aumenta a probabilidade de ser um bom pagador
futuro.
 Identificação do Cliente: Neste pilar deve-se conhecer o cliente e a sua rede de
relacionamento.
 Análise das Demonstrações Financeiras: Neste pilar serão analisadas a
demonstrações financeiras da empresa, a fim de apurar sua saúde financeira e
influenciar a decisão de crédito.
 Qualidade de Cobrança: A qualidade no momento da análise de crédito será
fundamental em caso de futuras acções de cobrança.
 Fortalecimento da Venda a Crédito: O analista de crédito, além de ser responsável
por reduzir o risco de crédito e aumento do fluxo de caixa da cobrança, também é
responsável por gerar a venda a crédito.

Ainda Blatt (1999, p. 40), apresenta os elementos fundamentais na concessão de crédito:

Segurança: O credor ao conceder crédito, aceita correr um risco, por confiar no cliente... Para
saber se o cliente merece ou não, tem que se analisar seu carácter e capacidade por meio da
ficha cadastral e sua capacidade e capital mediante seus demonstrativos contabilísticas.
Liquidez: é a sua capacidade de pagamento... Esta certeza é reforçado pela análise da situação
financeira e capacidade de pagamento.

3.2.Os C’s do Crédito

Em se tratando de análise de crédito é indispensável citar os C’s do Crédito. A seguir será


demonstrada a definição de cada “C” e também uma divisão proposta por Blatt (1999), onde
cita, além dos C’s Tradicionais do Crédito, os C’s Modernos do Crédito e os Três Novos C’s
do Crédito.

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3.3.Os C’s Tradicionais do Crédito

Os C’s tradicionais são: Carácter, Capacidade, Capital, Colateral, Condições e Conglomerado.


A avaliação dos C’s do Crédito fornece informações que serão necessárias para identificar
uma possível perda no processo de concessão de crédito. Segundo Blatt (1999, p. 42): “Os C’s
de crédito fornecem uma visão da complexidade que uma avaliação de crédito pode assumir.
Tal complexidade frequentemente implica um grau de subjectividade elevado no que tange a
decisão propriamente dita.”

Quanto ao primeiro ‘’C’’ do crédito, Carácter, baseia-se ao risco moral. Indica a intenção do
tomador em honrar ou não o compromisso que foi assumido junto à instituição financeira. A
tendência é que as pessoas (físicas ou jurídicas) tendem a ser honestas principalmente quando
os negócios em que actuam estão prosperando. Porém, neste quesito é avaliado o
compromisso do tomador em pagar suas dívidas em tempos de crise. Segundo Blatt (1999,
p.43), ‘’ a pergunta-chave do ‘’carácter’’: a pessoa ou empresa tem reputação de honestidade
a ponto de fazer esforço para pagar suas obrigações?’’

Quanto ao segundo ‘’C’’ do crédito, Capacidade, segundo os autores que tratam desse
assunto, avaliar a capacidade do tomador de crédito é muito subjectivo e por isso é difícil de
mensurar. A capacidade avalia a habilidade de gestão do cliente, ou seja, no caso de empresas
avalia a habilidade administrativa de seus dirigentes em lidar com as constantes mudanças do
cenário económico em que faz parte.

3.4.Os C’s Modernos do Crédito

Segundo Blatt (1999), ainda existem mais três “C’s” que podem ser avaliados no processo
decisório de crédito gerando mais informações no processo da análise. O primeiro é
Consistência, que indica a escolha do alvo de mercado, estando directamente ligada a política
do credor, da conjuntura económica, etc. O segundo é a Comunicação, que se refere à
agilidade na obtenção e análise das informações necessárias ao processo de concessão crédito.
E por último o Controlo, que trata basicamente da gestão do crédito que foi concedido.
Supervisionar constantemente a situação do cliente para evitar problemas futuros.

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3.5.As demonstrações financeiras e a concessão de crédito

Várias razões levam a analisar as demonstrações financeiras das empresas, uma delas é a
verificação da capacidade de manutenção e aquisição de créditos junto a instituições
financeiras.

Segundo Assaf Neto (2010, p.40):

Os intermediários financeiros, basicamente bancos comerciais e de investimento, constituem-


se tradicionalmente no principal usuário da análise de balanços... Os interesses dos bancos,
em geral, incluem o conhecimento da posição de curto e longo prazo da empresa.

A análise das demonstrações financeiras engloba um conjunto de instrumentos e métodos que


permitem diagnosticar a situação financeira de uma empresa e também prever seu
desempenho futuro, tornado então uma ferramenta essencial na análise de crédito, pois
oferece subsídios de qual será o limite máximo de empréstimos e financiamentos cedidos ao
cliente.

4.Procedimentos para uma operação de crédito

Como os bancos avaliam o crédito das empresas com quem pretendem operar? Qual o risco
assumido ao fazerem uma operação de empréstimo? Será que existe perfeita noção destas
condições?

Para quem vive junto ao sistema bancário, é fácil perceber que existe grande preocupação
acerca do crédito. O executivo de um banco sempre estará preocupado com o risco de crédito,
o que é atitude no mínimo preventiva. Em momentos da conjuntura econômica, quando
ocorrem apertos da liquidez, essa preocupação é maior, e os bancos ficam mais restritos em
suas operações de crédito, principalmente se ocorrerem algumas concordatas ou falências.

Na economia Moçambicana, com tantas mudanças, as preocupações são sempre mais


contundentes, visto que podem levar o banco a sérios problemas.

O facto é que, passados os momentos críticos, os bancos e seus executivos sabem que uma
das suas principais fontes de receitas são as operações de crédito, e que os riscos por elas
representados são inerentes ao negócio Banco. Todos sabem desses riscos, os banqueiros e
seus executivos, e o chefe do departamento de crédito, enfim todos os participantes da
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avaliação do crédito. No entanto, há algo que os preocupa em relação ao risco das operações
de crédito. Examinemos os procedimentos para avaliação de crédito em um banco e
procuremos detectar a origem das preocupações.

4.1.O Início da Avaliação do Crédito

Uma operação de empréstimo de uma empresa nasce do contato entre o executivo de conta do
banco com o representante da empresa, em geral seu diretor ou gerente financeiro. De início,
são expostas as necessidades da empresa, a utilização dos recursos e a capacidade de
pagamento dela. O executivo da conta, convencido dos argumentos, passa a operação para a
análise de crédito.

A primeira questão que se pode colocar é com relação ao grau de convencimento do executivo
da conta. Muitas vezes não existe essa preocupação, mas a de operar, a de obter resultados. A
defesa mais comum dessa questão é a observação de que os bancos A, B ou C estão operando
com a empresa, porque não o nosso banco? Esse procedimento do executivo da conta deve,
naturalmente, ser revisto, mas de certo modo o banco já possui antídoto natural, que é seu
departamento de crédito. Os homens de crédito sabem deste viés e procuram, sempre, por
meio de um conjunto de informações, detectar eventuais problemas da empresa.

Passada a operação para o departamento de crédito, este irá solicitar a apresentação da


documentação de praxe. Os três últimos balanços, balancetes, detalhamento do
endividamento, suas fontes e aplicações, os estatutos da empresa, informações sobre os
administradores e controladores, enfim os documentos habituais. Muitas vezes a análise dessa
documentação é complementada com visita à empresa por um dos homens de crédito do
banco e, algumas vezes, até por um dos directores. Em geral, os departamentos de crédito dos
bancos são muito competentes e minuciosos em suas análises de forma que o trabalho
realizado é, na maioria das vezes, de muito boa qualidade.

Colhidas as informações e sanadas as dúvidas, é elaborada a análise de crédito, que irá


compor, junto com a documentação, o dossiê da empresa. O passo seguinte é o de expor a
operação aos comitês que irão aprovar ou não o crédito solicitado. Conforme o banco, haverá
um ou mais comitês que examinarão a questão, atuando segundo um critério passa não passa
em relação à operação de empréstimo.

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Vejamos a seguir, a actuação desses comités.

 O Comité de Crédito do Banco

Em geral, existem pelo menos dois comités de créditos em um banco. O primeiro comité
decide sobre a concessão do crédito até um limite pré-fixado; o segundo, ouvido o parecer do
primeiro, decide sobre crédito acima dos limites pré-fixados.

O manual de crédito de um banco estrangeiro, para operações em Moçambique, caracterizava


este fato ao escrever: "o conselho de crédito tem autorização de recomendar a aprovação de
operações de crédito de até 1.000.000,00 MT por 1 (um) ano, e operações com garantia do
Banco - capital de giro, venda de CDB, compra e venda de papéis, etc. - de até 1.000.000,00
MT por até 1 (um) ano". O conselho de crédito, neste caso, era formado pelos "participantes
deste comitê: o presidente do conselho de administração do banco, o presidente executivo, o
vice-presidente executivo e os diretores das divisões multinacional, comercial, internacional e
de crédito".

Como se observa o comitê é formado da cúpula diretiva do banco em Moçambique e seu


limite de atuação é de 1.000.000,00 MT por empresa. É muito interessante um dos trechos
deste manual, quando comenta as responsabilidades dos diretores quanto ao crédito:
"Responsabilidade da Diretoria - além das responsabilidades normais dos diretores, os
membros devem assegurar que as operações feitas em Moçambique obedeçam às normas do
Banco e cumpram com os altos padrões de qualidade de crédito. Dentro desta
responsabilidade pelo controle do risco, os diretores devem estabelecer um esquema de
revisão de créditos ativos, de limites e de fiscalização das responsabilidades dos próprios
gerentes de conta" .

Como se observa, não se espera que a responsabilidade do comitê pela aprovação de crédito
dilua a responsabilidade de um diretor, o que na prática sempre acaba ocorrendo. Haverá
sempre um responsável, em maior ou menor grau, pelo crédito inconvenientemente
concedido.

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4.2.A Decisão de Crédito

Consideremos um comité de crédito formado por um conjunto de pessoas. O responsável pela


área de crédito apresenta a operação e o dossiê sobre a empresa em estudo. O representante da
área de crédito poderá fazer ou não a sua recomendação a solicitações de crédito.

O processo seguinte é o de reexame do dossiê da empresa, discutindo-se os vários aspectos


dela. Após essa discussão, em geral minuciosa, competente, estritamente profissional,
chegamos à questão do sim ou não, ou sim condicional, ou ainda não provisório, aberto para o
preenchimento de novas informações solicitadas pelo comité.

Examinemos particularmente o aspecto da reunião que dará a decisão final em relação ao


empréstimo. Tal decisão será sempre ou um sim, e estaremos assumindo algum nível de risco,
ou um não e poderemos estar perdendo uma oportunidade. Não importa se a decisão ocorre
por maioria simples, maioria absoluta ou por consenso. O fato é que a decisão ocorrerá por
um critério passa não passa, sim ou não, apesar de todos os cuidados que antecederam a
decisão.

É este sim ou não, do momento da decisão, que nos preocupa: como transformar um conjunto
de informações em sim e outro conjunto de informações em não. Quantas vezes, no momento
da decisão, um boato, que não se sabe direito de onde vem, poderá transformar a decisão em
não; quantas vezes um membro do comité diz sim, porque os demais o disseram.

As questões relativas ao instante da tomada de decisão é que acabam por comprometer todo o
processo da avaliação de crédito. Não existe, explicitamente, relação clara entre avaliação do
crédito e risco.

4.3.Um critério para a decisão do crédito

Consideremos o exame de um crédito dado por um banco, onde F é o valor a ser pago no final
de um prazo de d dias, pela empresa que contraiu o empréstimo. A postura do banco em
relação ao crédito é a de examinar o que poderá ocorrer no dia do pagamento. Esta análise é
que irá avaliar o risco da operação de crédito, para a empresa em exame, e em seguida definir
a taxa de juros da operação.

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Para a elaboração do critério teremos de cumprir estas quatro etapas:

 Determinação dos eventos que poderão ocorrer na data de pagamento do empréstimo;


 Determinação das probabilidades de ocorrências desses eventos, por empresa;
 Determinação da taxa de juros da operação;
 Elaboração de um critério de corte do risco a que o banco deve estar sujeito

Examinemos detalhadamente cada uma destas etapas.

 Determinação dos Eventos que Poderão Ocorrer na Data de Pagamento do


Empréstimo

Feito o empréstimo, o banco deve, em princípio, receber a quantia F, pré-estabelecida pelo


contrato, como pagamento do principal, incluindo os juros pelos d dias de uso do capital
emprestado.

Naturalmente, o primeiro evento será:

Evento 1: liquidação da operação na data d, recebendo a quantia F, ou seja, a operação é


liquidada pontualmente.

Ocorre que muitos problemas poderão acontecer na data de liquidação da operação, tais
como: atrasos, pedidos de renovação da operação, cobranças litigiosas, ou mesmo concordatas
e falências. Devemos elaborar uma lista desses possíveis eventos e quantificá-los em termos
de valores recebidos na data d de liquidação da operação. Para se ter idéia dessa questão
consideremos, como exemplo, o caso de uma operação vencida na data d e que, apesar dos
esforços do banco, após 15 dias o pagamento não havia sido efetuado. Admitamos que em
uma negociação, após esse prazo, o banco se propôs a cobrar juros e multa pelo atraso..

Do exemplo apresentado, e admitindo-o como fato razoável, poderíamos pensar em um


evento que caracterizasse atraso de pagamento e sua correspondente perda, como segue.

Evento 2: liquidação da operação, após negociação, com perdas por atraso de pagamento. O
valor recebido, equivalente na data d, é dado por r1. F onde 0 < r1 < 1.

Na mesma linha devemos elaborar os demais eventos e estabelecer o valor recebido,


equivalente na data do vencimento da operação, como um percentual do valor F, para cada
evento fixado.
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Em nossa opinião e de acordo com nossa experiência estabelecemos como outros eventos
relevantes, os seguintes:

Evento 3: liquidação da operação após cobrança judicial. O valor recebido, equivalente na


data d, é dado por r2. F onde 0 < r2 < 1.

Evento 4: liquidação da operação após concordata da empresa. O valor recebido, equivalente


na data d, é dado por r3. F onde 0 < r3 < 1.

Evento 5: liquidação da operação com falência da empresa. O valor recebido, equivalente na


data d, é dado por r4.

F onde 0 < r4 < 1. Nesse caso podemos considerar r4 = 0, o que estará muito próximo da
realidade.

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Conclusão

Chegando o fim deste trabalho, percebe-se que, a análise de crédito em uma instituição
financeira é tarefa complexa e envolve a habilidade de fazer uma decisão de crédito,
raciocínio humano que trabalha com constantes informações incompletas e imprecisas.

A capacidade de agregar o conhecimento e experiência de muitos especialistas humanos ao


mesmo tempo faz com que o sistema especialista seja urna ferramenta não só de
racionalização operacional, como também de uniformização e controle de procedimentos.

No presente trabalho foi discutido os objectivos e preocupações ao se fazer a análise de


crédito assim como suas etapas.

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Bibliografias

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