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Resumo: Este artigo visa investigar as principais manifestações do estilo da prosa poética, na
obra A Gaia Ciência, de Friedrich Nietzsche. Recordando que este livro pertence ao período
intermediário do autor, no qual inova na apresentação de temas e personagens, que iriam ter
desenvolvimento em obras posteriores. Consideramos, o texto em análise ímpar no contexto
do autor, pois inicia e finaliza com coletâneas de poesias. Entre as quais se encontram vasto
conjunto de aforismos distribuídos em cinco capítulos. Sendo a definição mais comum de
prosa poética a junção de prosa e poesia. Vemos aqui, um exemplo exuberante no estilo, ao
qual encontramos referência direta no aforismo 92, da mesma. Iremos abordar, além da
apreciação geral da obra, tópicos sobre outros pensadores aos quais ele refere no supracitado
trecho. Dentre eles: Walter Savage Landor, Giácomo Leopardi, Prosper Mérimée e Ralph
Waldo Emerson. Sendo estes, escritores que, em algum momento, influenciaram sua escrita.
Destacamos ser este tema da relação entre Filosofia e estilo literário um tópico ainda a ser
aprofundados nas pesquisas acerca do filósofo alemão. Havendo ainda que explorar a intenção
do mesmo e transmitir suas ideias e conceitos de maneira pouso usual. Sendo tema destacado
em obras de pesquisadores contemporâneos, tais como: Alexander Nehamas e Babete Babich.
Desvelando assim profícuo campo de diálogo interdisciplinar entre filosofia e literatura.
Abstract: This article aims to investigate the main manifestations of the poetic prose style in
Friedrich Nietzsche's The Gaian Science. Remembering that this book belongs to the author's
intermediate period, in which he innovates in the presentation of themes and characters, which
would be developed in later works. We consider the text under analysis to be unique in the
author's context, as it begins and ends with collections of poetry. These include a vast
collection of aphorisms spread over five chapters. The most common definition of poetic
prose is the combination of prose and poetry. Here we see an exuberant example of this style,
to which we find a direct reference in aphorism 92. In addition to a general appraisal of the
work, we will also discuss other thinkers to whom he refers in the aforementioned passage.
These include Walter Savage Landor, Giácomo Leopardi, Prosper Mérimée and Ralph Waldo
Emerson. These are writers who, at some point, influenced his writing. We emphasize that the
relationship between philosophy and literary style is a topic that has yet to be explored in
depth in research into the German philosopher. His intention to convey his ideas and concepts
in an unusual way has yet to be explored. This theme has been highlighted in works by
1
Doutorando em Filosofia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Bolsista CAPES. E-mail:
sociologiabrasil@yahoo.com
contemporary researchers such as Alexander Nehamas and Babete Babich. This reveals a
fruitful field of interdisciplinary dialog between philosophy and literature.
1 INTRODUÇÃO
Uma questão relevante para o saber filosófico é a delimitação entre este campo de
conhecimento e as fronteiras com outras manifestações culturais com as quais desde os
tempos primordiais dialoga. Este tema, por vezes denominado de a antiga querela, costuma
ter suas origens atribuída a Platão. Este pensador, fundador da Academia de Atenas, a
primeira escola perene e formal de Filosofia, ocupou um lugar ímpar nesta tradição. Discípulo
de Sócrates e Mestre de Aristóteles, pode ser lido como uma espécie de delimitador ou árbitro,
a propor a separação entre o que deve ser considerado um saber próprio de outras artes ou
manifestações. Estas distinções podem ser encontradas em obras como A República. Em um
dizer resumido, podemos destacar a sofística, a polimatia e a poesia. Sabendo, desde já, que
os gregos eram mestres nesta arte, tendo mesmo, nos grandes poemas épicos, referências a
construção de seus modelos morais e de virtude, entendida no mundo grego como areté
(JAEGER, 1995). Muito do que se escreveu em termos de filosofia, ao longo dos últimos
vinte séculos, têm sido produzidos em estilos prosaicos, tais como as formas dissertativas,
argumentativas ou dos grandes tratados, preocupados com o rigor dos conceitos, o
concatenamento lógico dos argumentos e o rigor no emprego de termos, por vezes oriundos
de tradições precedentes. As teses acadêmicas de nosso tempo, costumam ir um pouco além
neste formalismo, seguindo um rigor maior e fixo em seus modelos de apresentação.
Incluindo aí os tipos e tamanhos das letras e a forma de expor autores, citações e referências
bibliográficas. Sendo a poesia, farta no uso de figuras de retórica que subvertem o sentido
lógico do texto, tais como a metáfora, a metonímia e a hipérbole. No entanto, encontramos na
filosofia de Friedrich Nietzsche (1844-1900), manifestações exuberantes dos recursos
poéticos. Notáveis a despontar em seu período intermediário, composto por três livros
principais: Humano, demasiado humano; Aurora e A Gaia Ciência. Esta última, objeto da
investigação deste artigo, cujo foco estará em verificar o emprego do estilo conhecido como
Prosa Poética, beste último livro de sua fase mediana. Destacando ser este, precedente ao
Assim Falava Zaratustra, na qual o pensador germânico atingiria a maestria no emprego de
recursos literários refinados, aplicando-os a questões de profundo interesse filosófico. Neste
artigo visamos demonstrar a adesão de Nietzsche ao estilo da prosa poética em sua obra do
período intermediário: A Gaia Ciência.
2 A PROSA POÉTICA EM A GAIA CIÊNCIA
Não obstante este início crítico, esse longo aforismo irá conceder razões de utilidade a
poesia, ao permear o discurso de ritmo, oferece no reordenamento das frases, o que o autor
denomina de: “Nova cor ao pensamento” (NIETZSCHE, 2009, p. 111). Depois, ironicamente,
o autor ainda questiona, no mesmo interlúdio aforismático: “Não é divertido que mesmo os
filósofos mais sérios, normalmente tão rigorosos em matéria de certezas, recorram a citações
de poetas para dar força e credibilidade a seus pensamentos?” (NIETZSCHE, 2009, p. 113).
Pode ser observado, o teor das observações nietzschianas, neste ínterim, que pode ser
entendida como uma crítica a própria possibilidade do conhecimento, reconhecendo que
verdades não existem, somente boas e poéticas construções e interpretações (AZEREDO,
2002). Não podemos esquecer a frase de encerramento do aforismo oitenta e quatro de A Gaia
Ciência: “Pois como diz Homero: ‘mentem demais os cantores” (NIETZSCHE, 2009, p. 113).
Sem adentrarmos, na vasta e controversa seara da questão da verdade e do perspectivismo
nietzschiano, encaminhamos nossas considerações finais, que visa propor, simplesmente, que
a obra a qual foi estudada representa uma manifestação do estilo da prosa poética.
Manifestação literária usual no período em que viveu, e por ele incorporada no último livro da
sua fase intermediária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERARDINELLI, Alfonso. Da poesia à prosa. Trad. de Maurício Santana Dias. São Paulo:
Cosac Naify, 2007.
BABICH, Babette. Words in Blood, Like Flowers: Philosophy and Poetry, Music, and Eros
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JAEGER, Werner. Paidéia: A Formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
JULIÃO, José Nicolao. O sentido histórico nas fases intermediária e tardia do pensamento de
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__________. Aurora: Reflexões sobre preceitos morais. Tradução, notas e posfácio Paulo
César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2004.
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