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Orixá regente

Dezembro 30, 2012 por Fernando D'Osogiyan

Este é um
artigo que possui objetivo esclarecedor. Tentarei tornar compreensível um assunto que
surge todo princípio de ano. A imprensa faz reportagens e as pessoas indagam umas as
outras ou perguntam a si mesmas sobre o orixá que influenciará o novo ano que surge.
Fazem isso na tentativa de adivinhas o que é preciso ser divinado. Adivinhar é fazer
conjecturas sobre um tema usando a intuição, o que todo ser humano pode fazer.
Divinar, todavia, é entrar em comunicação com o sagrado, através de rituais guiados por
sacerdotes. É claro que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se
conectar com os deuses. Mas a utilização de oráculos, os quais fornecem informações
mais precisas sobre o destino da comunidade, requer uma preparação especial e um
estilo de vida que propicia à intuição inerente a todos apresentar-se de maneira muito
mais clara. A intuição se transforma aqui em revelação: quando os véus que encobrem
os mistérios são retirados pelos deuses, a fim de que nossa jornada aconteça de uma
maneira orientada e, assim, possamos cumprir a tarefa que nos foi legada com o mínimo
de percalços possível, o que torna a vida bem mais leve.

Os leitores acostumados com os artigos que escrevo poderão estranhar a formalidade


deste texto. É que “há tempo para tudo”: para contar anedotas, falar poesias, refletir
sobre a vida… Esse tema pede seriedade! Faço isso porque creio ser a imprensa o meio
ideal para esclarecer assuntos, que só não só melhor comentados por falta de
oportunidade e conhecimento. Tendo agora esta oportunidade que me é dada pelo jornal
A TARDE, não quero desperdiçá-la. Mesmo tendo eu a consciência de que nada se
modifica de um dia para o outro, aproveitarei o momento para tentar fazer com que a
população melhor compreenda as respostas do oráculo trazido pelos africanos para o
Brasil, esperando que as sementes aqui jogadas possam um dia florescer e dar bons
frutos.
A pergunta correta não é qual o orixá que rege o ano e, sim, qual o orixá que rege o ano
para aquelas pessoas que cultuam as divindades e estão vinculadas à comunidade em
que o jogo de búzios foi utilizado. Se isso não for bem esclarecido e, consequentemente,
bem compreendido, parece que todos os sacerdotes erram em suas respostas, uma vez
que uma iyalorixá diz que o orixá do ano é Iyemanjá, enquanto outra diz que é Oxum,
ou um babalorixá diz que é Oxossi. Mesmo correndo o risco de o texto ficar enfadonho,
insistirei em alguns pontos, a fim de elucidá-los melhor. No nosso terreiro, o Ilê Axé
Opô Afonjá, o regente do ano 2012 é Xangô. A referida divindade, que se revelou no
jogo feito por mim, não esta comandando o mundo inteiro, nem mesmo o Brasil ou a
Bahia. Ela é o guia das pessoas que, de uma maneira ou outra (mais profunda – como é
o caso dos iniciados; ou mais superficial – os devotos que freqüentam a “Casa”), estão
vinculadas a mim enquanto iyalorixá, ou ao terreiro em questão.

O leitor, diante dessa explicação, poderá ficar confuso e sentir necessidade de perguntar:
“E eu, que não cultuo orixá e não tenho relação com o candomblé, não serei orientado
nem protegido por nenhuma divindade?” A resposta é: “Claro que sim! Por aquela que
você cultua ou acredita”. Um católico, ou um protestante será guiado pelos
ensinamentos de Jesus; um budista, pelas sábias orientações de Buda… Outra pergunta
ainda poderá surgir: “E quanto às pessoas que não são religiosas, elas ficarão à toa?”.
Não, é claro que não. Essas serão guiadas e orientadas pela natureza, que é a presença
concreta do Deus abstrato. Seus instintos, protegidos por suas cabeças e corações,
conduzirão suas vidas de modo que seus passos sigam sempre na direção correta.

Que Xangô – divindade da eloquência, da estratégia, do fogo que produz o movimento


necessário a todo tipo de prosperidade – possa receber, de meus filhos espirituais, cultos
suficientes para que fortalecido possa torná-los cada vez mais fortes para enfrentar as
intempéries que todo ano traz consigo. Obrigada, Ano Velho, pelas experiências
passadas para o Ano Novo.

Maria Stella de Azevedo Santos


Iyalorixá de Ilê Axé Opô Afonjá
Jornal A TARDE 04/01/2012

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