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CAPÍTULO 1

Andávamos a dias, a cada segundo uma farpa de esperança escorria de nossas mentes
e se dissolvia no ar. Nosso tempo estava acabando, e o que tínhamos de frutas não
daria para nos manter sustentas até chegarmos em casa.
Melhor eu situar vocês do que exatamente está acontecendo. Há 30 anos, as
terras humanas foram o cenário de uma guerra entre feéricos, alguns humanos se
juntaram à causa, mas não foi causada por nós. Meu pai era jovem quando essa guerra
eclodiu e voltou ileso fisicamente, mas seu psicológico nunca voltou ao normal. Em
volta da nossa lareira ele nos contava o horror que presenciou e o momento exato em
que ele achava que seria o extermínio final da humanidade, mas surgiu, como se fosse
um pássaro gigante, sobrevoando sobre aqueles campos de batalha e colocava um fim
a essa carnificina. A história da quebradora da maldição também não passava em
branco, ouvia desde pequena, mas um detalhe que descobri recentemente foi que meu
pai quase casou com a atual grã-senhora da corte noturna.

Adelle era filha de nossos vizinhos, que infelizmente não sobreviveram a uma doença
desconhecida anos antes, então ela vive conosco. Mas os dias mudaram, desde a
guerra não recebemos nenhuma ajuda dos feéricos, e a comida se tornava escassa,
ainda mais nos arredores do local da carnificina e parecia que a história estava prestes
a se repetir.
Já se passavam alguns dias desde que decidimos sair de casa para caçar em um
lugar mais afastado, uma vez que, depois da guerra, a fome se instaurou em quase
todas as vilas das terras humanas. Vários humanos começaram a ultrapassar o
território, onde antes habitavam apenas os feéricos. Mas após a queda da muralha...
bem, muitos se aventuravam, mas nunca voltavam. A razão pela qual Adelle e eu
estávamos nos arriscando por ali, era simples: ou morríamos caçando ou morríamos de
fome.
Toda nossa família se dividiu em 3 grupos; cada um com um destino de caça,
mas todos sem expectativas de voltar com vida para casa.
Ouvíamos histórias, mas não dá para saber ao certo o quão precisa e
verdadeiras elas são. Os humanos sempre foram descartados pelos feéricos. Nunca
cheguei a entender o motivo, mas uma raiva enorme assolava meu peito enquanto eu
pensava que eles estavam vivendo no luxo enquanto nossas terras destruídas, com a
guerra que eles iniciaram, estavam forçando a retirada dos moradores e a morte de
muitos outros. E não, eles não estão ligando pra isso. Não ligam que, a cada dia,
centenas de pessoas morrem sem condições de ir para outro lugar ou de conseguir
comida.
E aqui estávamos nós duas, sobrevivendo com apenas frutas das árvores que
encontrávamos, parecia que até mesmo os animais estavam se escondendo de nós, e
nos castigando de alguma forma.
-Não aguento mais isso- comentou Adelle enquanto colocava mais daquela
fruta estranha na mochila. Ela tinha a aparência deformada e era vermelha, não
sabíamos o que era, mas não morremos quando comemos, o que era um bom sinal.
-Sei disso, eu também não, se eu ficar mais um dia sem tomar um banho, capaz
de eu me jogar na frente da primeira besta que aparecer para ser devorada- comentei
arrancando uma gargalhada dela.
-Como se eles fossem querer essa porcaria fedida - diz ela rindo, mas parando
imediatamente ao se lembrar que também estava sem tomar banho por dias - Acha
que vamos conseguir montar um abrigo hoje?:
Antes que eu pudesse responder ouvimos um som que parecia ser de um passo
passando por cima de folhas. Se as histórias estiverem certas, não conseguiríamos fugir
de uma besta ou até mesmo de um feérico. Apontei para que Adelle escalasse a árvore
em silêncio, parecia que a cada respiração nossa os passos soavam mais perto. Quando
Adelle estava em segurança comecei a escalada, quando estávamos no topo nos
arriscamos a olhar em volta para ver se identificávamos alguma forma ou alguma
besta. Não conseguimos enxergar nada, mas tínhamos a sensação de estarmos sendo
observadas e isso com certeza era um sinal de alerta.
-Essa seria uma boa hora pra dizer que você poderia cumprir sua fala e se jogar
na frente da besta? - diz ela, sussurrando para quebrar aquele clima de tensão e
medo.Tive que reprimir uma gargalhada que teimava em subir pela minha garganta.
-Como você disse, querida amiga, eles não comem um humano que mais está
parecendo um saco de comida para porcos - respondi no mesmo tom.
Adelle estava ficando vermelha tentando segurar a risada. A situação era
desesperadora, e sabíamos que teríamos que passar a noite ali ou até mesmo mais
tempo, até arriscarmos a descer.
-Você acha mesmo que vamos conseguir voltar para casa? - Pergunto pra
Adelle, esperando ouvir palavras de conforto, mesmo sabendo que era uma situação
improvável.
-Eu acho que não, mas não consigo simplesmente não ter esperança. Nós
temos que sobreviver Jas, temos que continuar vivas! - ela disse segurando minha
mão. Adelle e eu sempre fomos muito próximas, como irmãs.
A noite pareceu se arrastar lentamente. Enquanto ficávamos atentas a qualquer
movimento estranho, a sensação de estarmos sendo observadas continuava, mas não
ouvíamos mais barulhos. Adelle, então, resolveu dormir um pouco e iríamos trocar no
meio da madrugada. Nosso tempo estava acabando, e o que tínhamos de frutas não
daria para nos manter sustentadas até chegarmos em casa. Observando melhor em
volta reparei que uma árvore ao lado da nossa era muito mais alta e que daria para ter
uma visão geral do local onde estávamos. Me certifiquei que Adelle estava segura e fui
até a ponta da árvore onde estávamos. A distância era de mais ou menos 1,5 metros.
Se não fosse um salto certeiro, eu acabaria no chão e com algum osso fraturado. Era
minha única chance. Saltei, me chocando diretamente com a árvore seguinte, quando
me desequilibrei. Por pouco, não fui direto pro chão. Com o baque, Adelle acordou
sobressaltada, procurando em volta o que tinha causado aquele barulho. Coloquei os
dedos sobre os lábios, indicando que ela não fizesse barulho e apontei para o topo da
árvore. Imediatamente, ela compreendeu que era para subir o máximo que
conseguisse. Escalamos até o topo com uma agilidade impressionante. Quando éramos
pequenas, costumávamos escalar a árvore das propriedades da vizinhança para nos
informarmos, por assim dizer, das histórias mais recentes que estavam circulando.
Éramos muito boas nisso.
Quando chegamos ao topo, nos certificamos que as duas árvores nos
sustentariam naquela altura. Me senti mais segura para falar. Dei uma rápida olhada
em volta antes de descer um pouco e ficar no mesmo nível que Adelle.
-Você enlouqueceu? - perguntou ela, com o cenho franzido- poderia ter caído e
quebrado uma perna, seria uma presa fácil – concluiu, colocando as mãos na cintura e
com o semblante fechado.
-Querida Adelle- floreei, porque sabia que ela não gostava- vamos morrer de
todo o jeito. Se não tomarmos uma atitude, com esse mínimo estoque que temos, não
passaríamos nem 4 dias alimentadas o suficiente para conseguir andar. – falei, sentindo
um peso estranho sobre os ombros - pensei em subir aqui para ter uma visão geral do
terreno. Não devemos estar tão longe das propriedades.
-Você viu alguma coisa? - essa pergunta era um sinal de que ela não iria me dar
um sermão.
-Não. Vou subir e olhar com mais atenção, mas é noite, melhor esperar
amanhecer. - Terminei a frase com um bocejo.
-Descansa, - disse Adelle - eu fico de olho agora.
Não pensei duas vezes, apenas agradeci e tentei, miseravelmente, encontrar
uma posição não tão péssima para descansar.
Acordei com o nascer do sol. Adelle estava sentada, adormecida: bela guarda,
pensei. Decidi deixá-la descansar e subir novamente para olhar em volta. Era
desesperador ver apenas árvores e árvores. Eu estava quase desistindo quando me
deparei, bem ao longe, com o que parecia ser uma chaminé. Não consegui acreditar no
que meus olhos viam e desci rapidamente, voltando para a árvore em que Adelle
estava. Ela se assustou com o baque e me deu um tapa no braço, dizendo que eu
deveria ter a chamado para que não se assustasse.
Contei o que vi a ela e percebi quando uma centelha de esperança passou por
seus olhos. Ela logo falou que precisávamos nos apressar. Descemos da árvore e
fizemos uma rápida averiguação no lugar. Pegamos nossas adagas e seguimos em
direção ao que podia ser uma chaminé.

CAPÍTULO 2

De acordo com Adelle, estávamos andando a mais ou menos cinco horas e


minhas pernas simplesmente não aguentavam mais.

- Parece que estamos andando em círculos – declarou Adelle, vindo se sentar


ao meu lado, no chão.
O pensamento que aquilo realmente poderia estar acontecendo me
desesperou. Olhei para Adelle, com aquela angústia crescendo no meu peito. Tentei
controlar minha respiração, porque ter um ataque de pânico ali não seria a melhor das
ideias. Adelle entendeu o que eu estava tentando evitar e me estendeu nosso cantil,
que estava quase no fim. Tomei um gole de água e foi como se aquilo clareasse minha
mente.

- Tem algum rio ou lago por aqui- declarei subitamente

Adelle apenas me olhou e quase fez uma piada, que eu apostaria minha vida,
que se tratava de perguntar se eu tinha tomado algo. Mas ao perceber a animação no
meu rosto ela se levantou e me puxou dizendo:

- Como assim? Aonde? – ela parecia eufórica e era entendível

Apenas comecei a caminhar por onde minha intuição pedia para que eu
seguisse. Parecia loucura, pois eu nunca tinha sido capaz de algo assim, mas com
quinze minutos de caminhada, chegamos a um lago cristalino. Parecia simplesmente
que tínhamos descoberto o paraíso.

Adelle simplesmente correu para o lago, pulando nele e sorrindo como uma
criança. Sorrindo também, enchi os nossos cantis antes que ela me puxasse para o
dentro. Lavamos como conseguimos nossas roupas e colocamos sobre algumas pedras
para secar um pouco:

- Isso é surreal- comentou Adelle sorrindo- como você sabia disso? – perguntou
realmente intrigada.

- Eu não sei, - respondi sincera – Pode parecer loucura, Adelle, mas algo me
guiava, como se fosse um fio me puxando para cá.

Adelle cheirou a água e depois bebeu dizendo:

- Essa água parece normal para mim, mas você deve ter comido algo que não
deveria para estar alucinando. Você está escutando a si mesma?- Ela começou a rir e
eu a acompanhei. Realmente parecia loucura uma coisa dessas, mas funcionou.

- A água tem que ser mágica para ter tirado aquele cheiro horroroso de você-
Disse a ela, desprendendo a gargalhar. Não vi mais nada, pois ela me puxou para baixo
da água, para tentar me “afogar”. Voltamos à superfície gargalhando. Sentamos na
beira, para pensar no que fazer e dar tempo das roupas que estavam nas pedras, e em
nós mesmas, secasse.

Vestimos nossas calças e fomos procurar algo parecido com um cantil.


Precisávamos de toda a água possível. Quando voltamos onde deveria estar o restante
de nossas coisas não havia mais nada sobre a pedra.
- Sério que você resolveu brincar com isso agora? - perguntou Adelle- onde
estão nossas coisas? - insistiu ela.

- Eu não saí do seu lado, não faço ideia de onde estão- respondi com uma
sinceridade que fez com que Adelle não retrucasse e sim, se preocupar.

Estávamos sendo seguidos esses últimos dias, mas será possível que por uma
pessoa? Por que uma besta levaria duas blusas e jaquetas sujas e imundas? Perguntas
rodavam por meu cérebro, e tinha certeza que Adelle pensava o mesmo.

Escutamos folhas sendo esmagadas como naquela noite, e estava muito


próximo, acho que pode se chamar de instinto, mas duas adagas já despontavam de
nossas mãos. Olhávamos com cuidado todo o ambiente para prevenir o ataque.
Estávamos de costas para duas árvores, à nossa frente um lago. Com apenas alguns
passos, chegamos ao outro lado. Era de lá que ouvíamos o barulho, tinha certeza disso.
Inclinei a cabeça, para que Adelle entendesse a mensagem. Acenando positivamente,
ela girou o corpo na direção que eu apontei. O medo estava expresso em nossos
olhares, posturas e respirações pesadas que tentávamos conter.

Mais um passo e não me contive, apenas lancei a adaga na direção do outro


lado daquele lago, cravando a centímetros do rosto de um homem. Fiquei surpresa,
pois não conseguia acreditar no que via. Aquele sujeito se recostou na árvore onde
havia a adaga, que era para ter cravado em sua testa, e sorriu, SORRIU. Eu estava
atordoada e não conseguia raciocinar o que fazer, até que vi uma adaga indo em
direção ao peito do sujeito. Sabia que era Adelle, e teria acertado caso outro homem
não tivesse surgido das cinzas e segurado a milímetros do peito do rapaz. Outro sorriso
presunçoso apareceu ali, mas em ambos os machos. Não tive tempo de pensar quando
a adaga que antes estava nas mãos do ruivo foi em direção a Adelle, em direção a seu
pescoço, empurrei ela para trás antes que a adaga acertasse a árvore a nossas costas e
ela se partir e cair. Aquele homem tinha feito tamanho estrago com apenas a força dos
braços e uma adaga? Eu estava perplexa. Corri para Adelle, para verificar que ela estava
bem.

Bem fisicamente ela estava, mas estava apavorada e em choque. Eu, quase
como um reflexo, puxei Ade para se levantar e comecei a correr, nós duas sabíamos
que seria em vão, mas não queríamos apenas sentar e esperar o que aconteceria com a
gente. Atravessamos os obstáculos daquela floresta, com muita dificuldade mas sem
parar de correr, escutamos barulhos de passos de cada um dos nossos lados, ótimo!
era tudo que faltava. Uma árvore, era isso, gritei para que Adelle subisse. Escalamos
para pensar no que fazer, ou apenas dificultar, um pouquinho, a vida dos nossos
caçadores. Meu coração palpitava tão violentamente que eu o sentia em meus
ouvidos, nossa respiração acelerada, aquilo era um pesadelo. Nas histórias diziam que
a audição, olfato, velocidade, e em muito mais, os feéricos eram superiores a raça
humana. Parecia que Adelle pensava a mesma coisa, ela me olhava procurando por
respostas que eu não tinha, ou não podia dar.

Resolvi me esgueirar para o topo, para olhar em volta, que belo dejavú, tinha feito a
mesma coisa de manhã e descoberto uma chance de sobrevivência, agora fazia com o
intuito de aproveitar meus últimos minutos de vida. Adelle surgiu ao meu lado
segundos depois, mas só consegui perceber sua presença por conta do grito estridente
que saiu dos seus lábios. Olhei para ela em completo desespero, ela olhava pro céu e
gritava. Ao virar na direção que ela apontava vi… um homem? um pássaro? Não tenho
certeza, mas em questão de segundos eu já estava no ar sendo levada cada vez mais
alto. O choque tomou conta do meu corpo, completo choque, eu estava nos braços de
alguém? Sim, com certeza era uma pessoa, mas com asas? Tentei olhar para cima mas,
o vento que batia em meus olhos, faziam com que eu não conseguisse abrir os olhos.
Pareceu uma eternidade até que comecei a planar, arrisquei abrir os olhos e ao olhar
para baixo veio o pânico. Um ataque de pânico, no céu, nos braços de alguém, que
finalmente arriscava olhar, um par de olhos azuis, como a água daquele lago, me
encaravam com divertimento.

- Você é muito mais burra do que imaginei, achou mesmo que, subindo em uma
árvore conseguiria fugir de nós? - Perguntou aquele misterioso homem, dono
dos olhos azuis mais lindos que eu já tinha visto. Ele sorria, arrogante, sabia
exatamente que minha vida estava, literalmente, em suas mãos.

- Tentando sobreviver - rebati - posso até ser uma humana burra, mas você é um
feérico que perde tempo com coisas estúpidas. Sua vida está tão sem emoção
assim?.

Meu coração martelava em meu peito, o vento uivava a minha volta, estava
com medo, muito medo, mas não admitiria isso a ele, nunca. A única saída para
mim seria de, alguma forma eu convencer aquele feérico a não me matar.

- Você está com medo, o cheiro do seu medo está impregnando meus sentidos..
Não está? - Disse ele me olhando com diversão.

Eu não confirmaria, mesmo que ele soubesse, não podia jogar fora o último
resquício de integridade que tinha em mim. Parecia que meus lábios tinham
sido grudados um no outro e que nenhuma palavra era capaz de se formar em
minha garganta.

-Eu prefiro morrer a confirmar algo que sai da sua boca. - Praticamente cuspi as
palavras em sua cara.
Ele ficou em completo silêncio antes de falar:

-Se você prefere assim.. tudo bem. - disse ele antes de me soltar, e eu começar
a cair, céus, aquilo realmente estava acontecendo? Eu gritava? Chorava? Não
sabia dizer, só sei que um pesar muito grande tomou conta de mim. Eu não
conseguiria sobreviver e ajudar Ade. Parecia que toda minha vida passava por
meus olhos, uma breve e miserável vida, sem dúvidas. O chão estava próximo,
sabia pois conseguia ouvir os gritos de desespero de Adelle, consegui olhar para
ela para tentar me despedir, nossos olhares se cruzarem e antes que eu
pudesse gritar algo, ou tentar, braços fortes me seguraram e pousaram comigo
em segurança no chão.

Eu estava viva, disso eu tinha certeza, mas não conseguia expressar nenhuma emoção
nem quando Adelle veio em minha direção me abraçando. Eu tinha quase morrido, em
questão de segundos atrás. Todos os dias esperando por uma morte certa, e às vezes
desejando-a, mas quase morrer…Uma confirmação passou pela minha mente como
um raio como se alguém falasse dentro dela; “você não quer morrer”. Parece que meus
sentidos finalmente retornaram, me senti tonta e enjoada, me desvencilhei dos braços
de Ade e corri para atrás de uma árvore, ela apareceu logo em seguida segurando
meus cabelos enquanto eu vomitava. Me entregando o cantil e uma frutinha doce em
seguida, enxaguei a boca e comi aquela fruta e a abracei, meu corpo chacoalhava.

-De pé humana inútil - Esbravejou o homem que impediu que a adaga cravasse no
peito daquele macho, infelizmente. Ele era alto e de longos cabelos vermelhos que iam
até o meio de suas costas.

Olhei para cima e percebi que ele dirigia aquelas palavras a mim. Não sei se conseguiria
ficar de pé nem se eu quisesse, e eu não queria. Simplesmente falei a ele:

- Não! - e olhei para o estranho de olhos azuis e completei - vossa majestade. -


finalizei com o floreio que Ade tanto odiava.

Ade segurou uma risada. Ele ergueu uma sobrancelha, e parecia surpreso, e
imediatamente tive a certeza que sim ele era alguém muito importante. Olhei para Ade
para ver se ela tinha pego aquela pequena informação, e sim, seu olhar me dizia isso.

Em um piscar de olhos, aquele homem ruivo, que mais parecia uma raposa, sumiu de
minha visão e apareceu atrás de Adelle, pressionando uma adaga em sua garganta.

- Se eu ordenar você se levantar agora, você levantaria?- Perguntou ele,com um


olhar que perfura o seu peito como uma espada. E pressionou um pouco mais
forte o pescoço de Adelle, que começava a ficar vermelho no lugar onde a
adaga entrou em atrito.

Olhei dentro do seus olhos e falando irônica o respondi:


-Antes que eu esteja completamente de pé, seu abdômen já estaria todo aberto. - O
homem olhou para baixo onde Adelle tinha uma pequena adaga friccionada em sua
barriga. Ele nos olhou surpreso e aquele homem dos cabelos pretos veio em nossa
direção.

-Basta! - Ordenou ele.

O ruivo surgiu, rapidamente, atrás de seu…amigo? Não sabia dizer com certeza.

Adelle tinha a língua afiada, e nunca deixava de implicar com alguém em uma situação
delicada, mas a situação, em especial, que estávamos, não era tão indicável fazer uma
piada.. mas ela fez.

- Que gracinha, ele obedece como um cachorrinho, deveríamos o chamar de


feérico obediente, o que acha Jas?- Perguntou ela para mim, se divertindo com
aquele momento.

Vimos o pescoço da raposa começar a avermelhar, ele estava se esforçando para não
nos matar nos próximos 5 segundos. E como eu também não poderia ficar de fora,
completei.

- Acho que combina mesmo, o que me diz de: Raposa obediente e Homem
pomba?- Adelle explodiu em gargalhadas, e o Homem pomba faltou se
engasgar de surpresa. Mas antes que eu pudesse dar meu sorriso de vitória, fui
lançada longe, indo de encontro a uma árvore, batendo as costas. O ar fugiu
dos meus pulmões, e parecia que não existia mais ar a minha volta, eu estava
sufocando mas com o quê? Como? A voz daquele homem falou em minha
cabeça, “magia”, o homem tinha seus braços erguidos em minha direção.
Percebi que Adelle tinha sido imobilizada pela raposa, e berrava em seus
ouvidos. Ela gritava algo como “eu vou te matar” e “tire suas mãos imundas de
mim”. Eu me debati em busca de ar e quando minha visão começou a
escurecer, foi quando todo o ar voltou para mim. “ Nunca mais repita isso”
trovejou aquela voz em minha mente.

- Homem pomba, você quis dizer né?- Ele me olhou como se eu o desafiasse, e
seu cenho foi se fechando, ele ergueu suas mãos no ar e soltou uma risada
sombria. - Eu não tinha planos de matar você, mas agora eu tenho.

CAPÍTULO 3
Antes que ele erguesse seus braços a raposa me pegou em seus braços e me tirou da
mira de seu amigo, vi o momento exato que a árvore, que antes estava amparando
minhas costas, começou a pegar fogo. Aquilo era demais para mim, aquele homem me
colocou no chão ao lado de Adelle e em segundos estávamos presas, uma de costas
para a outra com os braços amarrados. Ele partiu em direção ao seu amigo, que
esperava ansiosamente para me matar. Mas prevendo seus movimentos, a raposa
acabou o derrubando no chão, nos salvando, por muito pouco, de mais uma rajada de
fogo. Eles caíram na água, uma cena que me faria rir, mais tarde.

Os dois machos submergiram das águas, e o homem de cabelos pretos parecia outra
pessoa, como se aquela raiva súbita tivesse sido apagada de sua mente. Sua expressão
mostrava confusão e arrependimento. Ele veio em minha direção, suas mãos
estenderam em minha direção, e tive que forçar todo o meu corpo a não estremecer.
Não estava com medo dele, e sim do que era capaz. Parou a mão a centímetros de
minha bochecha, e seu rosto se retorceu em uma careta de nojo. Talvez seja nojo de
mim ou ele finalmente tomava consciências de seus atos anteriores.

-Você não deveria estar aqui, sabe disso!- Falou o ruivo se pondo ao lado dele, e
colocando a mão em seu ombro concluiu.- Vamos embora! - e abaixando seu tom de
voz em nada mais que um sussurro completou- Vamos deixá-las aqui, vão saber se
virar.

Adelle permanecia quieta até aquele momento, mas ao conseguir ouvir essa última
parte disse:

-Vocês nos fizeram perder horas, que eram cruciais para chegarmos naquela cabana,
para a NOSSA, sobrevivência. E agora vão simplesmente nos deixar aqui, amarradas, ou
melhor.. - Ela se levantou com as cordas cortadas em mãos. - não mais, e vamos, muito
provavelmente, morrer essa noite. - Completou ela jogando as cordas aos pés da
raposa.

O misterioso de olhos azuis parecia distante, não sei o que houve, mas ele não estava
bem. Era como se uma nuvem estivesse sobre seus olhos, o impedindo de enxergar ou
compreender o ambiente à sua volta. Após poucos segundos de silêncio, ele disse:

-Se conseguirem sobreviver a essa noite, ajudaremos vocês. - Falou ele com a voz ainda
distante.

-Não… - eu ia começar a recusar, estava na ponta da minha língua mas não conseguia
recitar o que minha mente gritava. E tomando aquilo como uma confirmação, os dois
desapareceram.

Adelle ria de nervoso.

- Agora eles desaparecem? Puft, sumiu. - Ela falava mais para si mesma.
Retomamos nossa caminhada, cada uma perdida em nossos próprios pensamentos.
Passadas algumas horas Adelle perguntou:

- Por que não recusou? - vendo a confusão tomar meu rosto, por ter
interrompido algum pensamento meu, completou - a oferta de ajuda, por que
não recusou?

Eu parei de andar, estava pensando nisso nas últimas duas horas e não conseguia
pensar em uma resposta lógica.

- Precisamos, Ade. Não sou tão otimista a ponto de, realmente, acreditar que
vamos viver muito tempo se continuarmos assim. - Era uma derrota admitir isso
em voz alta.

- Você é teimosa como uma mula, deve estar doendo ter que aceitar a realidade
de que não podemos fazer mais nada.- disse ela soltando aquela risadinha
irritante.

Em pouco tempo começaria a anoitecer, tínhamos que apertar o passo.

- Ade, - chamei ela, tendo sua total atenção continuei - temos que ir mais rápido.

Para poupar fôlego ela apenas assentiu e assim começamos uma corrida. Estávamos
ofegantes e com as pernas falhando quando chegamos a uma pequena cabana, em sã
consciência deveríamos dar meia volta e ir embora, mas o sol já dera lugar à lua.
Aquela casinha ficava em um pequeno campo aberto, com árvores à sua volta. Tinha
um pequeno jardim, já seco, na entrada, um caminho de pedrinhas que nos
conduziram até a porta principal. De frente para aquela pequena porta pensávamos se
era a coisa certa a se fazer, Adelle teve a iniciativa e bateu na porta. Apenas silêncio
dentro da casa, ouvíamos apenas o balançar das folhas nas árvores, sons de animais e
nossas respirações. Tentando mais uma vez, e não obtendo uma resposta, abrimos a
porta.

- Alguém em casa? Olá? - Adelle falou se esgueirando para dentro da casa. Ao


longe ouvimos o som que parecia um uivo de alguma besta, e sem esperar
convite prévio fui empurrada por Adelle para dentro daquela casa.

- Você enlouqueceu? - Perguntei a ela olhando para onde estava trancando a


porta.
- - Não quero estar lá fora quando aquela besta passar aqui na frente. -
respondeu ela, séria.

Resolvi não perguntar como ela sabia que aquela besta passaria por ali, mas coloquei o
meu foco a me ambientar. Por insistência de Ade, não acendemos nenhuma mini
fogueira, então estávamos suportando a atmosfera gélida daquele lugar. Sentadas
perto da porta, conversávamos sobre do que se trataria a ajuda.

- Engraçado mesmo seria se fossemos levadas como prisioneiras. - Disse minha


amiga tomando um gole da água.

- Não aguentei ficar dez minutos perto daqueles feéricos ridículos, imagina se
tiver que trabalhar para eles? Uma prisão é bem mais convidativa.- A água que
antes estava em sua boca a fez engasgar e Ade explodiu em gargalhadas.

Depois de um tempo tossindo, Adelle voltou a se sentir bem, estava tudo normal,
dependendo do que descrevemos como normal na nossa vida. Mas claro que a sorte
estava evidente na nossa rotina na última semana.

Um uivo, mais perto do que a última vez, ressoou sobre aquela cabana. Ade e eu fomos
agachadas até a janela mais próxima nos esgueirando apenas o suficiente para ver do
lado de fora, não víamos nada, mas tinha uma fera ali. Sentíamos isso. Um ranger de
algo contra o chão, atrás de nós, soou. Imediatamente nos viramos sentindo nossa
adrenalina correr pelos nossos ossos. Uma pequena lamparina se acendeu e havia um
homem sentado na cadeira, perto da parede. Ele estava ali esse tempo todo? Como
não percebemos?

- Olá garotas, estão se divertindo invadindo a casa de alguém assim? - perguntou


ele limpando a unha e nem se dando o trabalho de nos olhar. Ele tinha cabelos
loiros e curtos, apenas com a luz da lamparina não dava para saber com
certeza a cor de seus olhos, levando em conta que metade de seu rosto se
mantinha escondido nas sombras.

- Batemos na porta mas não houve resposta e… - ele lançou um olhar tão gélido
a Adelle que ela se calou.

Comecei a tremer e minha respiração começou a se acelerar.

- Quem é você?- minha voz saiu não mais como um sussurro, mas que foi
suficiente para ele ouvir.
- A besta de quem vocês, miseravelmente, tentaram esconder. - Respondeu ele
com um sorriso assustador se levantando e apagando a lamparina, antes de se
transformar na besta que minutos atrás ouvíamos apenas os uivos.

CAPÍTULO 4

O espaço era tão curto que em questão de segundos aquele bicho estava a centímetros
de nós duas, ele nos rondava como se preparasse para atacar, olhei para Adelle que já
ia em direção a porta para destrancá-la. Ele sabia o que estávamos tentando fazer, e o
olhar daquela fera emitia uma emoção e divertimento fora do comum, ele nos deixava
acreditar que conseguiríamos sair daquela cabana com vida. Adelle conseguiu
destrancar e correr para fora, consegui correr até a pequena estrada de pedrinhas, em
frente a casa, até que senti um baque como se alguém me empurrasse e caí de rosto
no chão, ralando boa parte dele. Deu tempo apenas de eu conseguir me virar antes
daquela besta ficar em cima de mim, ele grunhiu e sua boca estava indo em direção ao
meu pescoço, eu sentia seu focinho roçar no meu pescoço, me causando arrepios de
medo. Ele iria me morder? Me decepar? Ele me cheirou e, eu me sentiria
extremamente constrangida, se não estivesse morrendo de pavor. No momento que
ele abriu sua boca, para vir em minha direção novamente, ele foi erguido no ar. Estava
envolto em sombras pretas e violetas. Vi sua forma fera se dissipar, deixando apenas
aquele feérico loiro. Olhando em volta em busca da minha salvação, percebi o
momento exato em que aqueles pares de olhos azuis se cravaram no meu rosto, que
escorria sangue. Levei minhas mãos ao meu rosto, para tentar avaliar a situação, eu
estava com a adrenalina alta, mas quando passasse… eu não queria nem pensar na
dor que seria. Me levantei com dificuldade, o feérico loiro, que percebi naquele
momento, tinha olhos verdes, estava ajoelhado tentando se levantar.

- O que você fez com ele? - perguntei sem tirar os olhos daquele olhar felino, que
me causavam arrepios.

- Não consegue ficar alguns minutos sem se envolver em uma situação que
ponha em risco sua vida e a vida de sua amiga? - O homem pomba, disparou
aquelas palavras a mim como se eu estivesse desejando aquilo. - Tudo isso para
eu vir correndo te salvar? Conseguir minha atenção? Pois conseguiu.- disse ele
cruzando os braços.
Esperando que ele me salvasse? Aquelas palavras se repetiam em minha mente e eu
quis matá-lo naquele momento. Quem ele pensava que era para presumir que eu fazia
aquilo de propósito? Eu abria minha boca para retrucá-lo mas aquela besta disse:

- Que situação inusitada hein, um herdeiro se preocupando com uma humana


inútil. - Disse ele rindo para nós.

Não sei dizer como aconteceu, mas em um segundo eu estava querendo matar aquele
maldito dos olhos azuis, mas no outro eu ja desferia um soco no rosto daquele imbecil
de olhos verdes. Foi tão do nada que após ver o que tinha feito dei um passo para trás,
o que tinha dado na minha cabeça, para surgir essa brilhante idéia? Pela cara do
feérico aos meus pés, ele não tinha gostado. Eu dei mais dois passos para trás antes de
bater com as costas no peito daquele homem que estava a minha frente, ele apoiou as
mãos nos meus ombros e ronronou sobre meu pescoço:

- Um erro você dar um soco em um feérico e achar que ele não vai revidar
princesinha. - falou aquele macho, com um tom ameaçador na voz.

Ele colocou as duas mãos em volta de meu pescoço e olhou para o meu “salvador”
dizendo:

- Você não se importaria se eu a matasse aqui, na sua frente, não é Nyx? - falou
essas palavras como se recitasse uma declaração de amor.

Nyx, ele se chamava Nyx. As engrenagens do meu cérebro rangiam com essa nova
informação.

- Acho que você não tinha dado essas informações a ela né?- dirigiu essa
pergunta ao homem pomba.

Ele deu de ombros, como se não ligasse, e isso não passou despercebido pelo macho
loiro.

- Deixe que eu apresente a você pequena humana, o herdeiro da corte noturna


Nyx. Filho de Rhysand e Feyre - ele parou um pouco pensativo e concluiu-
provável que essa informação tenha chegado nas suas terras moribundas.

Herdeiro, a situação já estava bem ruim, mas tinha acabado de piorar em um nível
absurdo.

- Deixe a humana ir Ivar. - Nyx disse finalmente. - Volte para sua casa.

Meu corpo chacoalhava junto com o corpo de Ivar, que gargalhava daquela maneira
aterrorizante.
- Vossa alteza deseja mais algo? - disse ele fingindo uma reverência - que eu
saiba, você não tem permissão para perambular pelas terras da corte
primaveril… Ou tem ? - perguntou Ivar sério.

- Como você não tem a permissão para matar essa humana, ou você se esqueceu
do tratado entre cortes?- Nyx parecia muito diplomático, mas percebi que essa
pose servia apenas para irritar Ivar.

- Humanos não podem caçar em nossas terras. - Ivar cuspiu essas palavras como
se sentisse repulsa.

- Ivar, essas regras valiam a 30 anos atrás, e essas duas só conseguiram pegar
algumas frutinhas inofensivas.- deu um sorriso de canto - ou você é o fiscal das
frutas agora? Pensei que seu pai te desse um cargo mais elevado, nessa altura.

- Não quero você agindo como o Grão- Senhor dessas terras. A corte noturna por
si só não está sendo o suficiente?- Perguntou Ivar colocando a mão em minha
cintura, eu tinha me mantido neutra até então, pois suas mãos estavam muito
perto do meu pescoço. Mas naquele momento eu decidi reagir, e quando eu
iria acertar um chute no meio de suas pernas, ele segurou meu joelho
sussurrando no meu ouvido:

- Posso estar em uma discussão princesinha, mas consigo, praticamente, ler suas
intenções apenas olhando para você. Quer saber como? Muito simples, sua
respiração se acelerou e seu corpo se firmou mais no chão. Você se manteve
imóvel por segundos suficientes para que eu adivinhasse seu ataque. Boa sorte
na próxima! - disse ele dando um soco no meu joelho, que estava em suas
mãos, fazendo meu corpo se retrair de dor.

Um soco atingiu Ivar em cheio o fazendo cair de costas no chão. Nyx tinha feito o
estrago, agora ele estava em minha frente ficando entre mim e Ivar.

- Encoste nela de novo, e nunca mais será capaz de fazê-lo, com ninguém, te
garanto. - ele dizia com a ameaça pontuada em cada palavra. Estava tão sério
que eu não conseguia descrever o que se passava em sua cabeça.
- Creio que meu pai não vá achar legal, seu herdeiro chegar em casa com o
maxilar quebrado. - disse Ivar se levantando como se tivesse levado um soco de
uma criança, humana. Ele tinha o maxilar quebrado? Um soco, um soco…

- Seria uma honra conversar com seu pai, - disse Nyx deixando transparecer as
mentiras daquela frase.

- Por que simplesmente não diz para ele logo? - disse Ivar sorrindo - ele está
atrás de vocês.

Me virei rapidamente a tempo de ver um homem, igual ao Ivar, tirando o fato de


aquele homem ter os cabelos mais longos, encostado em uma árvore com os braços
cruzados. Ele parecia estar muito interessado no que acontecia ali.

Uma voz ressoou pelos meus ossos e me atingiu como se um raio me perfurasse:

- Olá Jasmin…

CAPÍTULO 5

Fiquei paralisada, algo naquele homem me deixava assustada, mas não sabia dizer
exatamente. Ele se moveu, vindo casualmente para perto de mim, segurou minha mão
e depositou um beijo nos nós dos meus dedos. Aquele toque fez-me percorrer um
arrepio na minha coluna. Ele andava como um felino, como se esperasse por uma
brecha para atacar.

- Que surpresa boa Nyx- Disse aquele homem, claramente mentindo.

- Digo o mesmo a você Tamlin.- respondeu Nyx na mesma falsidade.

- Bem, que situação inusitada temos aqui, o que tem a declarar Ivar?- perguntou
Tamlin ao filho, observando logo o hematoma que aparecia em seu rosto. – pelo visto
não conseguiu ficar longe de problemas. - disse ele o olhando com repreensão.

- Essa humana, estava caçando em nossas terras, juntamente de sua amiga, que não sei
ao certo onde está... – disse ele olhando em volta. E como se tivesse despertado em
minha mente, onde estava Adelle? Ela correu mas e depois? Ela estava bem?
Comecei a olhar desesperadamente em volta em busca dela, e percebendo minha
aflição Nyx colocou a mão em meus ombros dizendo:

- Ela está bem. – e soltou um assobio que fez com que a raposa aparecesse com Adelle
nos braços. Ela me olhou e parecia que saiu de um transe, veio correndo em minha
direção me pedindo perdão, mas que a culpa dela não ter me ajudado foi justamente o
homem que estava com ela nos braços. Comecei a rir, ela estava muito nervosa, com
medo que eu a culpasse. Segurei seu rosto com as mãos e depositei um beijo em sua
testa, era um gesto que significava que estava tudo bem entre nós.

- Elas não parecem muito ameaçadoras a mim Ivar. – Ergui o olhar e Tamlin nos
encarava, como se nos avaliassem. – O que vieram fazer aqui? Sabem que não são
todos os feéricos que aturam os humanos.

Fiquei um pouco surpresa com sua declaração, existiam realmente feéricos que se
importassem com os humanos?

-Era nossa única opção,- declarou Ade- onde morávamos já não tínhamos nada para
comer, se tornou escasso a ponto de termos que nos dividir em grupos para ter uma
chance de sobrevivência. – Concluiu ela.

Tamlin nos olhou surpreso e algo mais passou por seu olhar, não soube o que era, mas
parecia mais como uma lembrança.. O que ele teria pensado? Eu tinha mais perguntas
do que respostas.

Nyx se apressou em dizer:

- Vamos levá-las à corte noturna, elas não vão incomodar mais. – disse sério e com
convicção no que dizia.

Tamlin nem pensou na proposta quando rebateu:

- Seus pais com certeza estão a par desses últimos acontecimentos correto? E se sim,
gostaria que eles mesmos viessem buscá-las. Enquanto isso, elas permanecerão na
Corte Primaveril, sob os cuidados de minha corte. – concluiu Tamlin, Ivar chegou a
erguer as sobrancelhas com uma surpresa má contida. A raposa soltou uma risada
sombria e Nyx pareceu um tanto perturbado.

- Não queremos ir pra lugar nenhum, apenas caçar algo e voltar para casa. – tentei
dizer mas fui interrompida por Tamlin que me olhou como, se eu falasse algo mais, eu
iria conhecer a verdadeira natureza daquele homem.

- Como saberei que estarão seguras ao seu lado? E ao lado dele? – Concluiu acenando
na direção de Ivar. – a minutos atrás ele quase a matou. Tem algo a dizer sobre?
Tamlin olhou para Ivar com repulsa, como se ele tivesse feito tudo errado.

-Ainda me lembro da conversa que tive com sua tia rapaz, não tenho vontade de saber
se as ameaças eram verdadeiras ou não. – disse Tamlin com divertimento. – Vá
buscá-las amanhã e veja você mesmo se elas estão bem.

-Vocês sabem que não somos mercadorias para vocês negociarem, para onde vamos e
com quem vamos. – naquele momento obtive a atenção de todos, e quis cavar um
buraco no chão e me enterrar. Mas não ia deixar me intimidar, chega.

- Você sabe que não tem opção né coelhinho? – Ivar disse cruzando os braços, e dando
aquele sorriso de quem estava zoando com a minha cara.

-Você... coelhinho? – perguntei confusa.

-Ora , não é óbvio, vocês são presas fáceis, dócil e inofensivas. Quando menos
esperarem estarão mortas. – ele disse se agachando na minha frente e segurando meu
queixo. Minha repulsa foi tanta que cuspi em seu rosto. Nyx e o ruivo seguraram uma
risada. Do meu lado, Ade colocou as mãos sobre a boca com a surpresa do meu ato. E
Tamlin sorria de canto.

Vi a raiva tomar conta do seu rosto.

-Fechado, amanhã de tarde a buscaremos. Não as machuquem, ou eu juro… - Nyx


parou no meio da frase. Seu comportamento estava mudando igual mais cedo. Ele
respirou fundo e sorriu estendendo a mão a Tamlin que a apertou.

Não conseguia acreditar, estávamos sendo negociadas, eu olhava de um para o outro


confusa e com raiva. Tudo culpa daquela besta maldita, que naquele momento tinha os
olhos cravados em mim com um sorriso tenebroso nos lábios.

-Essa noite vai ser divertida. - Disse Ivar antes de desaparecer floresta adentro.

CAPÍTULO 6

Estávamos andando fazia alguns minutos e o cansaço começava a tomar conta de meu
corpo, naquele ritmo levaríamos uma noite inteira de caminhada. Aquele pensamento
me fez desanimar. Ade andava segurando meu braço:

- Não vou conseguir andar por muito tempo. - falou ela baixinho - minhas pernas
já estão falhando.
- As minhas também Ade, juro por Deus que se eu andar mais cinco minutos vou
ir de encontro ao chão e ficar. - Adelle sorriu e parou de andar. Os feéricos, que
com certeza, ouvia nossa conversa, pararam também.

- Só um segundo, por favor. - pediu Adelle curvando o corpo e respirando fundo.

- Nessa lentidão vamos levar uma eternidade. - disse Tamlin de costas para nós. -
Ivar. - chamou ele.

O feérico se materializou em nossa frente, olhando para o pai esperando a ordem.


- Leve Jasmin. - uma ordem clara que fez Ivar contorcer seu rosto em uma careta.
A minha não estava tão diferente pois fez Ade soltar uma gargalhada.

Ivar iria retrucar mas com apenas uma olhada de seu pai, o deixou quieto. Tamlin disse
que nos encontraria em sua casa e assim sumiu. Ivar veio em minha direção com uma
cara tão fechada que não aguentei:

- Poxa, mostre um pouco mais de animosidade. - disse isso, mesmo querendo


que aquela situação não se desenrolasse. Ele me ignorou e apenas continuou
chegando perto antes de falar: suba nas minhas costas coelhinho.
Assim se transformando naquela besta de momentos antes, eu olhei para os
outros com um olhar pedindo socorro. Ade, subiu nas costas do ruivo e disse se
divertindo com a minha cara:
- Podemos abusar da boa vontade desses feéricos não é?- e com isso a
raposa saiu correndo como um raio.

Olhei para Nyx que me olhava, inexpressivo, vendo meu medo ele disse:
- Estarei por perto. - falando isso ele sumiu também.
Subi nas costas daquela besta, relutante, pois no momento em que me estabilizei em
suas costas percebi que tinha cometido um dos maiores erros do dia. Ele começou a
correr, e eu não sabia como não tinha sido arremessada para os lados. A velocidade era
tanta que eu não conseguia abrir os olhos, pois o vento ia em direção a eles. Eu sabia
que ele o fazia de propósito. Mas não ia reclamar, de algum jeito, aquilo era melhor
que andar toda aquela distância. Minutos depois entramos em um campo florido, com
uma enorme casa ao fundo. Ele passou pelos portões com uma veracidade
assustadora, e, para minha alegria, ele simplesmente freou com tudo, fazendo eu ser
arremessada de suas costas e parando em sua frente. Naquele momento eu me sentia
tomada pelo ódio. Me levantei indo em sua direção, mesmo na forma de besta ele era
maior do que eu, apontando o dedo em sua cara esbravejando:
- Eu te odeio, juro pelo caldeirão que vou fazer você se arrepender disso. EU TE
ODEIO! - gritei em sua cara.
Ele simplesmente voltou a sua forma humana e me encarou. Me encarou por tanto
tempo que comecei a me sentir sem graça.
- Não vai cuspir em minha cara novamente? - perguntou ele sorrindo presunçoso
e dando um peteleco no meu nariz, ele seguiu em direção a casa.
Segundos depois Ade apareceu com o ruivo, ela tinha um sorriso tão grande no rosto
que me fez perguntar o que significava. Ela veio em minha direção, percebi que o ruivo
não a seguiu e ficou do lado de fora dos portões. Nyx pousou ao seu lado e também
não ultrapassou, aquilo soava como um pequeno alarme.
Olhando para a frente da casa vi que Tamlin e seu filho nos esperavam nos degraus,
olhei para trás e apenas movi a boca formando a palavra: “obrigada”. Nyx assentiu e os
dois machos desapareceram. Segurei firme a mão de Ade e seguimos em direção a
entrada daquela casa. A mansão era enorme, branca feita de pedra, na sua entrada
tinha uma grande porta branca, cravejada com alguns símbolos. Colunas enormes
sustentavam e adornavam a casa. Muitas janelas podiam ser vistas apenas do lado de
fora. Algumas plantas nasceram das paredes, e contornavam uma parte das paredes.
Parecia uma construção nova, como se tivesse sido construída a pouco tempo.
Eles nos guiaram para dentro e tivemos que prender o fôlego diante da visão que
tínhamos. Da porta principal víamos um corredor, o teto era todo feito de desenhos,
desenhos que contavam alguma história ao que parecia. O chão de um mármore claro,
os móveis eram de tons claros e neutros. Nos guiaram até a porta de um quarto, ao
abrirem a porta tivemos uma visão maravilhosa. O quarto era do tamanho da casa
onde morávamos, com cortinas grossas que iam do teto até o chão em um tom verde
menta.
Uma lareira estava acesa aquecendo o ambiente, e desde o momento que chegamos
aqui, um cheiro floral e cítrico tomou conta de meus sentidos.
Uma cama imensa, com um dossel de madeira a contornando. No chão jazia um tapete
tão macio que servia como uma cama. Acoplado ao quarto tinha um banheiro, com
uma enorme banheira de quartzo preto. Parecia um sonho.
Assim que voltamos ao quarto, tinha duas bandejas recheadas de comida nos
esperando em uma mesa.

- Espero que seja do agrado de vocês, espero que aproveitem a estadia, tem
roupas limpas no armário. Boa noite! - disse Tamlin saindo e fechando a porta
atrás de si.

Ade e eu não conseguimos acreditar que passaríamos a noite naquele luxo, ao invés de
em uma árvore. Decidimos tomar um banho decente e trocar de roupa. Ade foi a
primeira, enquanto eu olhava os vestidos e apreciava a vista. Nosso quarto tinha uma
visão para um labirinto, interessante, pensei. Após estarmos limpas e cheirosas,
encontramos um frasco que possuía uma essência de lavanda. Passamos pelo nosso
corpo e fomos direto no armário escolher uma roupa.
Escolhi um simples vestido de cetim branco , com um decote canoa, o comprimento ia
até os pés e era de mangas longas, que vinha com uma cordinha para acinturar. Já Ade
escolheu no mesmo modelo porém com o comprimento menor e na cor azul.
Sentamos de frente a lareira para nos aquecermos e apreciarmos aquela bela, e
convidativa bandeja.
- Isso é meio surreal, você não acha? - perguntou Ade pegando um pedaço de
pão com queijo e mordendo.

- Olha, tenho medo de acordar nesse exato momento e descobrir que ainda
estamos em uma árvore. - dei uma pausa pegando um pedaço de carne de
porco, e erguendo para ela, completei - e descobrir que tem um animal que vai
nos deixar como esse porquinho.

Ade que antes tinha o pão na boca, fez farelos voar por nós duas enquanto ria de
minha declaração. Ergui uma taça para que ela pudesse tomar uma água e se acalmar.

- Você não está com medo? Do que está por vir eu falo. - disse ela após uns
minutos. - Estamos entrando em um mundo completamente desconhecido,
com feéricos que não nos suportam. Fomos “negociadas”, não quero depender
de proteção e ajuda o tempo todo, mas sinto que a ajuda deles pode ser bem
vinda nesse momento.

- Estou com medo sim Ade, mais medo do que gostaria de admitir, talvez ajude
meus pais se simplesmente fossemos para outro lugar, seriam duas bocas a
menos para alimentar e… - Adelle colocou sua mão sobre a minha, era difícil
para ela também, tomar uma decisão dessas. Meus olhos se encheram de
lágrimas e a abracei, chorei pois não queria ser separada dela, a pessoa que
mais me entendia no mundo. Chorei, porque tinha medo do que estava por vir.
Chorei pois descobri que não era capaz de me proteger. Chorei pelo desespero
que vínhamos passando nos últimos dias, e foi como uma libertação. Ao nos
desvencilharmos percebi que Ade também chorava.
Apertei sua mão e disse:
- Vamos dar um jeito, como sempre damos. - e dei uma piscadela a ela,
que sorriu, antes de voltarmos a atacar a comida.

CAPÍTULO 7
Acordei tarde no dia seguinte, fazia tempo que não dormíamos tanto, e ainda mais sem
nos preocuparmos com nada. Era renovador, mas meu corpo doía, devido aos esforços
físicos dos dias anteriores. Adelle ainda dormia quando levantei, então decidi tomar
um banho antes de chamá-la. Entrei na banheira, que já havia sido enchida novamente
e a água estava quente, algumas bolhas cobriam a superfície, tinha um cheiro
adocicado e medicinal. Permaneci na banheira até que a água esfriasse. Ao sair, prendi
meus cabelos em um rabo de cavalo alto e vesti uma calça bege, que tinha um
suspensório, juntamente com uma camisa larga de algodão, branca. Cheguei perto de
Adelle, tomando o cuidado de não tocá-la, era mau humor na certa se acordassem ela
tocando-a. Chamei por seu nome algumas vezes antes de ela se remexer e começar a
esfregar os olhos. Ela se sentou e percebemos naquele momento que tínhamos
adormecido no chão. Sem falar uma palavra ela se dirigiu ao lavabo, onde
magicamente a água tinha sido trocada por uma nova, novamente quente e com as
bolhas cheirosas. Fui em direção às cortinas e abrindo-as sentei no parapeito da janela
para apreciar a vista. No meio do labirinto percebi um movimento, se movia com muita
naturalidade se misturando com os obstáculos, eu estava tentando reconhecer o que
era, ou quem, quando um barulho na porta chamou minha atenção.
Me virei na direção em que vinha o barulho e uma senhora de pequena estatura
entrou pelas portas.
Se assustando comigo encarando ela, deu um sorrisinho sem graça.
- Bom dia senhorita, não sabia que estava acordada. - ela remexeu em seu
avental e disse. - O almoço está servido, o meu senhor pediu para que eu
verificasse se vocês precisam de algo a mais.

Percebi que ela era humana, feéricos não envelheciam, e ela não tinha as orelhas
pontudas. Um alívio tomou conta de meu ser. Sorri para aquela mulher de pele clara, e
que tinha o cabelo meio grisalho misturado com mechas castanhas. Seus olhos, de um
verde como a pedra jaspe.

- Muito obrigada por vir me avisar, assim que minha amiga sair do banho vamos
nos juntar a vocês, e não, não precisamos de nada. Obrigada! - falei sorrindo.
Ela pareceu menos envergonhada e sem jeito, e fazendo uma pequena
reverência saiu.

Voltei meu olhar ao jardim, porém não havia movimento algum. Inclinei um pouco
mais meu corpo para fora da janela para procurar melhor. Até que me desequilibrei um
pouco, mas mãos fortes ampararam minhas costas. Deu um salto para trás, com o
coração galopando. Ivar, me olhava da janela com um sorriso presunçoso nos lábios.

- É feio ficar espiando os outros. - disse ele antes de pular da janela. Corri e olhei
para baixo a tempo de vê-lo andando em direção a frente da casa.
- Querendo saltar? - perguntou Adelle as minhas costas. Ela secava os cabelos
com uma toalha, já usava um vestido que ia até um pouco acima de seus
joelhos, ele era de um tom de laranja claro, que deixava sua pele em um tom
radiante. Tinha pequenas e delicadas margaridas bordadas em todo o seu
comprimento. Suas mangas curtas, um pouco bufantes, se encontravam com
um decote coração. Ela estava deslumbrante. Sempre foi uma mulher muito
bela, com olhos cor mel, pele escura e um cabelo cacheado que ia até o meio
de suas costas, tinha a boca em formato de coração e rosto redondo.
Costumava brincar quando éramos crianças que o formato de seus olhos
pareciam com uma amêndoa, e ela retrucava que os meus eram grandes
demais.

- Estava apenas observando a vista- respondi sorrindo,travessa.


Ela me deu uma olhada que significava que sabia que não era só isso, mas não se
atreveu a dizer nada, pois descobriria depois.

- Uma senhora, veio nos chamar para uma refeição. - completei, e arregalando os
olhos, percebi que não tinha perguntado seu nome. Uma pequena culpa surgiu
em meu peito, procuraria saber essa informação o quanto antes.

- Só vou finalizar uma trança, só um momento. - ela entrou no banheiro


novamente e voltou com uma escova e foi em direção ao espelho que tinha ao
lado do armário. Se sentou no chão e eu sabia o que viria a seguir. Deitei na
cama para observar enquanto ela trançava suas madeixas. Desde meninas, era
esse o ritual de Ade, ela se banhava e se sentava no chão enquanto sua mãe
produzia um penteado novo em seus cabelos. Eu sempre estava por perto
observando, elas eram muito próximas. A morte dos pais de Adelle mexeram
muito com ela, mas ela era uma mulher muito forte, e agora seguia os mesmos
costumes de antes, sabia que em parte era para sempre manter viva a memória
com sua mãe. Mas também que ela se divertia fazendo tranças e penteados.
Nesse dia em específico ela fez uma trança que atravessava sua cabeça, como
uma tiara. Ficou radiante, e com ar de meiguice, eu adoraria ter a calmaria de
Ade. Mas eu tinha certeza que meu ar tinha a mesma áurea que “problema” ou
“desequilíbrio”.

Assim que ela finalizou calçamos nossas botas e saímos do quarto, o tour que
recebemos ontem não incluiu a cozinha. Andando pelo corredor dos quartos avistei
aquela mulher novamente e a chamei. Ela veio rapidamente em nossa direção
sorrindo.

- Em que posso ajudar garotas?- perguntou ela abaixando a cabeça.


- Primeiramente qual seu nome? - perguntou Ade com um belo sorriso no rosto.
- Ariane, madame- respondeu ela, parecendo um pouco confusa.

- Um belo nome. - disse Ade - estamos um pouco perdidas, poderia nos ajudar a
chegar na cozinha?.

A mulher assentiu e inclinou a cabeça para seguirmos ela. Foi uma pequena caminhada
até chegarmos em um par de portas feitas e moldadas por cerejeiras. Tinham entalhes
em toda a porta que foi aberta, então tivemos a visão da sala de jantar, ou melhor,
salão? Era um ambiente enorme, com um piso também marmorizado. Grandes janelas
ficavam nas extremidades do salão com lindas cortinas na cor creme contornando-as.
Havia uma grande mesa no lado esquerdo, mais afastada, e possuía uma variedade
muito grande de receitas, em sua extensão. Daria para que elas se alimentassem por
um mês inteiro. Em uma ponta estava Tamlin, usando um terno sob medida na cor
palha, parecia vestido para um evento importante. Já à sua direita estava Ivar, bem
mais simples que o pai, usando uma calça marrom, um tanto surrada para um herdeiro
e uma blusa de manga longa branca com os primeiros botões abertos.Eles pareciam
discutir sobre algo importante. Quando entramos no recinto dois pares de olhos nos
encararam, sentamos na mesa um pouco desajeitadas por não sabermos como agir.
Tamlin apenas nos olhou e assentiu, reconhecendo nossa presença. Já Ivar nos
ignorava completamente.
Eles voltaram à discussão, sem se importarem que ouvíamos. Se resumia basicamente
a:
“A construção da praça da vila está em andamento e até o fim do mês os moradores
terão um lugar onde poderiam usar para lazer”
“O novo grupo de soldados estava pronto para iniciar os treinamentos no início da
semana seguinte”.
“Os locais de plantações ao sul da corte primaveril estavam encontrando alguns
problemas em relação à adaptação ao solo. E teria uma reunião com os responsáveis
para ser discutido uma solução”
Não conseguia encontrar nenhum traço de afeto do pai para com o filho, tirando
apenas um segundo de orgulho que passou por seu olhar, enquanto o filho descrevia
como andava os treinos dos soldados e como ele os estava supervisionando. Deu a
entender que Ivar era responsável pela parte militar da Corte Primaveril.
O resto do almoço ocorreu em um silêncio constrangedor, eles mal tocaram na comida
enquanto eu e Adelle experimentamos de tudo um pouco. Em certo momento em que
eu repetia uma torta de amora com uma calda, maravilhosa, de chocolate Ivar ergueu
seus olhos para mim e disse brincando:
- Parece que você nunca comeu uma torta assim.- disse ele colocando um
pedaço da mesma na boca.
Eu realmente nunca tinha experimentado, e o sabor daquela era espetacular. Mas
resolvi devolver a provocação dizendo:
- Já comi melhores por sinal. - respondi dando uma piscadela, o que o fez sorrir.
Mas foi diferente das outras vezes, era um sorriso sincero, sem se conter ou
trazer algo assustador por trás. Não tinha parado para reparar nele ainda, mas
ele tinha os olhos verdes como esmeraldas, com as bordas de um azul intenso.
Seu rosto tinha um maxilar bem marcado, com uma barba por fazer. Seus lábios
bem definidos e ao lado uma cicatriz marcava seu queixo e uma pequena em
seu supercílio. Talvez eu o tenha encarado por tempo demais pois Tamlin
pigarreou me tirando de um transe. Ivar era muito bonito, mas o nível de beleza
equivalia ao nível de ódio que eu tinha por ele. Olhei para Tamlin que tinha um,
quase, imperceptível sorriso no rosto.

- Mentirosa. - disse Ivar antes de voltar sua atenção a seu prato.

CAPÍTULO 8

Quando alguns criados apareceram para recolher os pratos, reparei que a maioria eram
humanos, e não contendo minha curiosidade perguntei a Tamlin:

- Se me permite a pergunta, mas porque tantos humanos trabalham aqui? Eles


recebem por isso? Ou apenas trabalham sob ameaças? . - Perguntei de uma
vez.

Ivar sorriu, parecendo, realmente, interessado em ouvir a resposta do pai.


Tamlin pousou as mãos sobre a mesa e respondeu olhando diretamente em meus
olhos:

- Após a guerra, muitos ficaram sem ter onde ir, então abriguei-os aqui. E desde
então eles ajudaram a reerguer essa corte, em troca de trabalho, comida e um
lugar para morar. Todos moram nas vilas nos arredores, pode ir verificar se
quiser. Ivar levará as duas a um passeio para conhecerem. Eles recebem, como
qualquer feérico receberia. E não, não sob ameaças mais. - Finalizou com um
olhar que dizia “mais uma pergunta?”. Eu não deixei de notar o “mais”,
ficava cada vez mais intrigada para saber mais sobre. Adelle perguntou:

- Por que nos ajudou? - foi uma pergunta considerada inocente, mas que Adelle
levaria como base para criar uma ideia da pessoa. Ela era assim.

- Acredita, senhorita Adelle em redenção? - ela assentiu e ele continuou - Eu não,


mas não preciso continuar cometendo erros. Fiz para manter minha consciência
limpa.
Aquilo serviu apenas para nos intrigar mais, quais erros ele falava? Perguntar a Ivar
seria inútil, pois ou ele não falaria ou simplesmente não sabia também. Pois quantos
anos teria Tamlin.

- Qual sua idade? - perguntei.

- Algo entre 500 e 600 senhorita Jasmin. Mas creio que perguntas assim, não
sejam da conta de vocês.- disse ele se levantando da cadeira e desejando que
tivéssemos um ótimo dia, concluiu pedindo a Ivar, para nos levar a um passeio.

- Só para constar. - disse Ivar vindo em nossa direção- eu tenho menos que 100. E
dando uma piscadela saiu da sala.

Eu e Adelle estávamos lotadas, mas não queríamos voltar ao quarto. Então decidimos
sentar em um banco perto das árvores que tinham em frente a casa. Conseguia ouvir o
som dos pássaros e sentia um aroma forte de flores, Ade ao meu lado mantinha os
olhos fechados respirando profundamente.

- Estamos presas em uma teia de dúvidas e mentiras. - declarou ela. - sinto que
ele errou muito, e se arrepende mas... Isso é possível? Quais atrocidades ele já
cometeu? E quantas vai cometer? Não consigo confiar nele. Nem um pouco,
mas a generosidade não foi fingida. - ela completou e eu olhava para ela
surpresa, como ela saberia descrever essas coisas? Ela tinha trocado 4 palavras
com Tamlin. Eu não confiava nele, mas sentia que não iria ser machucada. Mas
não com tanta convicção igual Adelle.

Respirei fundo o aroma e disse a ela:

- O aroma e ar a nossa volta parece normal para mim, você bebeu algo?- e
lembrando da nossa cena no lago ela gargalhou.

Continuamos em silêncio, ele era nosso amigo, sentíamos bem na companhia


uma da outra e sempre tentávamos fazê-lo, mas não precisávamos fazer algo,
necessariamente. Só de sentar lado a lado e ficar cada uma com seus
pensamentos já era o suficiente. Bem, ERA porque naquele momento eu via
Ivar vindo em nossa direção com três cavalos a suas costas. Lembrei do que seu
pai tinha exigido e cutuquei Ade que quase cochilava. Ela dirigiu o olhar para
onde ele estava e se levantou:

- Vai ser bom, conhecer outros lugares, e não só aqui. - e me puxando


completou. - e você trate de melhorar sua cara.
Resmungando a segui em encontro de Ivar, ele ajudou a subir na sela e montou em um
cavalo preto imenso e que com certeza fora criado para a batalha. Já para Ade, ele
escolheu um cavalo mais manso e um pouco menor, ele tinha a cor marrom. E para
mim, bem… Eu olhava aquela montanha de cavalo que estava na minha frente. Um
desespero fora do comum ameaçava tomar conta de mim. O cavalo que ele escolheu
para mim era do tamanho do seu, porém era branco. Eu estava paralisada, não
conseguia nem subir naquilo, eu iria estrangular Ivar quando tivesse a chance, ah como
eu ia. Ade perguntou se eu não queria dividir com ela, e eu estava prestes a aceitar
quando ele decidiu abrir aquela boca grande:

- Não é possível que você está com medo de andar nele,- disse ele alisando a
crina do cavalo. - Eu escolhi especialmente para você, ele é manso. Ade me
olhava já sabendo que eu não iria mais com ela, odiava ser desafiada, e ainda
mais por aquele loirinho.

PERSPECTIVA IVAR:

Aquela humana encrenqueira não desistia, ela olhava para o cavalo como se ele fosse
seu maior inimigo. Posso ser sincero quando digo que o escolhi justamente para ela,
ela me irritava num nível extremo, eu poderia fazer o mesmo não?
Cansado de esperar, desci do meu cavalo e a ergui pela cintura, entre chutes e
protestos, consegui colocar ela em cima. Comecei a trotar em direção a estrada que
nos levaria ao vilarejo, quando eu dei uma espiada vi Adelle mordendo os lábios para
não rir e Jasmin rangendo os dentes para não fazer nenhum movimento brusco.
Conseguia sentir através do seu cheiro e comportamentos, que ela estava fervilhando
de ódio por mim, e com medo do cavalo. Aquela tarde seria muito divertida, tinha
deixado de ir ao campo de treinamento para ficar de babá de duas humanas
intrometidas, eu tinha o direito ao entretenimento. A alguns minutos cavalgando,
percebi que Jasmin estava mais tranquila, e claro que eu não podia deixar assim, o
vilarejo estava próximo então…
Parei o meu cavalo e esperei que Adelle e a coelhinha me alcançasse, quando elas
pararam ao meu lado apenas assoviei, aquele era um som de alerta aos cavalos
treinados, Jasmin logo arregalou os olhos quando percebeu o que aconteceria em
seguida, ela ainda olhou para baixo e tenho certeza que pensou se valeria a pena pular.
Mas não deu tempo pois Trovão, era como eu o chamava, saiu em disparada com
Jasmin.

- Eu juro que se eu morrer eu volto pra te levar junto. - Gritava enquanto o cavalo
se afastava.
Ade tinha o queixo caído e a expressão de choque espalhada por seu rosto, ela apenas
deu um toque para seu cavalo avançar e foi, o mais rápido que pôde, em direção a
amiga. Eu esqueci de avisar a Adelle para não deixar Jasmin puxar as rédeas do cavalo
enquanto ele corria, só o deixaria nervoso e… a cena que tomou conta da minha visão
naquele momento seria impagável de minha memória. Jasmin estava no chão, e o
cavalo ao seu lado, ela tinha a calça, na altura dos joelhos, rasgadas e os cotovelos
ralados. Ela gesticulava para sua amiga com uma raiva palpável, desci do cavalo e dei
um tapinha em sua lombar antes de andar em sua direção. Quando me viu, ela me
encarou com uma fúria imensurável.
- Eu vou te matar Ivar. - gritava ela enquanto apontava o dedo em minha direção
e vinha andando. Ela estava gritando tanto, mas eu não conseguia prestar
atenção nas palavras que saiam de sua boca. Apenas no quanto ela parecia
intimidadora e extremamente mortal. Só voltei a realidade quando senti um
golpe no estômago seguido de um chute no meio de minhas pernas. Meu corpo
se curvou, e foi um sacrifício não ajoelhar de dor. Aquela coisinha tinha
conseguido me derrubar, com certeza foi um golpe que eu conseguiria prever, e
claro, desviar. Mas algo fez com que minha mente desligasse desses sentidos.
Eu estava mais surpreso por isso, do que frustrado.

Ade segurou Jasmin que ainda se debatia, mas se acalmava aos poucos. Quando me
senti seguro, e com meus sentidos intactos, levantei e vi Jasmin descansando a cabeça
no peito de Ade, ela mantinha os olhos fechados regulando a respiração.
- Pegou pesado dessa vez. - disse Adelle passando a mão pelos cabelos de Jas.

- Ela é forte, vai superar uma queda. - e me dirigindo a Jas falei - Não é
coelhinho? Quer que eu te carregue no colo, talvez sua queda a tenha deixado
incapaz.
3.2.1 ela abriu os olhos e se levantou, me olhando como se eu fosse uma
aberração. Deu as costas para mim e ergueu o braço para sua amiga que os
entrelaçou, elas começaram a caminhar em direção a uma feira, que acontecia
diariamente, um pouco antes do local de moradia.

Gostava muito de vir aqui, o cheiro de pães e doces recém assados o faziam flutuar,
flores de todos os tipos e tamanhos. Tapeçarias e objetos, tecidos e roupas.. Eram
pequenas barracas, dispostas lado a lado, eles tinham uma organização própria, a
maioria eram de humanos. As duas damas, se é que podemos chamá-las assim,
começaram a andar de banca em banca verificando os produtos.
Observei de longe Jasmin sussurrar algo no ouvido de Ade que a fez sorrir e acenar,
elas então foram em uma barraca de doces, e começaram a pedir vários, de sabores e
formatos diferentes. Eles foram colocando em uma cesta e quando estavam todos os
doces guardados, Jasmin olhou para o vendedor e sorriu, virando a cabeça em minha
direção e disse, em um tom que eu pudesse ouvir, ao homem:
- Tenho certeza, que vosso senhorio, herdeiro da Primaveril, ficaria honrado em
bancar essa cesta de doces, meu caro senhor. - achei tanto pomposo o título
sendo escorregando de seus lábios, mas não era isso que me incomodava e sim
a sua audácia em anunciar ao homem que quem bancaria era eu. Apenas
respirei fundo e fui em direção a barraca do homem, que já me esperava com
um sorriso nos lábios, e foi quando eu olhei para elas que percebi, já seguiam
para outra barraca. Minha fortuna certamente estava em risco nas mãos de
Adelle Fischer e Jasmin Hale.

CAPÍTULO 9

Perspectiva Jasmin:

Aquela tarde começou a ficar divertida no momento que tive a ideia de deixar o
herdeiro com algumas dívidas. Sabia que era errado, mas fazer o cavalo sair comigo em
disparada também foi.
Eu estava em uma tenda olhando alguns colares quando percebi Adelle namorando
alguns tecidos na banca ao lado. Achei que ela ficaria sem graça em pegar os tecidos e
colocar Ivar para pagar, mas ela pegou uma quantidade e se inclinou para o vendedor
apontando para ele, que estava nas bancas de pães, pagando o que tínhamos pego, sua
carranca evidente.
Naquele momento vi Ariane, que caminhava em direção a loja de vestidos, ela parecia
aflita, me aproximei até conseguir ouvir ela falar com uma moça, ela era feérica, de
longos cabelos pretos ondulados e olhos castanhos escuros.

- Mas tínhamos encomendado a semanas, - dizia Ariane remexendo em seus


vestidos- tem certeza que não possui nenhum com o nome Asa?

A feérica olhou para os vestidos que estavam a mostra, deu a volta na banca e voltou
momentos depois dizendo:

- Sinto muito Ariane, mas não tem nada aqui. Nunca cometemos esse erro antes.

Aquela senhora agradeceu e foi em direção às moradias, decidi ir atrás dela.

- Senhora Ariane. - gritei correndo em sua direção. Ela parou abruptamente


olhando na direção onde havia sido chamada.
- Lady Jasmin, poderia ajudar em algo?- perguntou com seu melhor sorriso, mas
percebi suas bochechas coradas e seus olhos marejados.

- Sim, para que é a encomenda que tinha feito? Me desculpe a ousadia, mas
acabei escutando sua conversa anteriormente.

Ela parecia magoada e aflita quando disse:

- Minha neta está prestes a se casar, eu fiquei de buscar seu vestido hoje. A
cerimônia ocorrerá amanhã. - disse ela olhando para o chão. Meu coração se
entristeceu naquele momento quando uma luz se acendeu em minha cabeça e
olhei em sua direção, ela estava distraidamente olhando algumas flores.

- Ade!. - gritei e ela se virou em minha direção e vindo em meu encontro, ela
cumprimentou Ariane e perguntou a mim qual o motivo de eu ter a chamado
lá. Contei o que tinha acontecido, e percebi que ela se simpatizou com a
história.

- Ariane, na casa de seu grão senhor tem as coisas necessárias para costura?-
perguntei. Mesmo sem entender direito o que eu tinha em mente ela assentiu,
então virei a Ade, que me olhou com cumplicidade, e anunciei: - Você poderia
costurar um vestido para a neta de Ariane? Mas o evento é amanhã, eu não sou
tão boa como você, mas poderia ajudar para agilizar.

Ade se iluminou diante a ideia, mas Ariane nos olhou e disse:


- Eu agradeço a ajuda mas, não há nenhuma maneira de bancarmos os tecidos, o
dinheiro já foi contado. - disse a mulher com tristeza.

Sorrindo de canto eu disse a ela:


- Temos um crédito com o seu grão- senhor, ou melhor com o filho dele. Vamos
às compras lady 's. - Disse dando o braço às duas.

Voltamos à banca e pedimos os melhores tecidos, mesmo contra os protestos de


Ariane, que insistia para pegarmos os mais baratos. Mas Ade estava mais do que
empolgada, então fomos atrás dos melhores tecidos, rendas e jóias. Decidimos que
faríamos um vestido para Ariane também, então pegamos uma quantidade de cetim na
cor verde oliva, dizendo que seria para outra roupa nossa, para fazer a surpresa a ela.
Então pedimos que ela falasse para a noiva que iria levar o vestido na manhã seguinte,
para que ela não desconfiasse, e que pegasse um vestido dela para tirar as medidas. A
mulher disse que antes de escurecer levaria o vestido para nós, e depois agradecendo
nós duas, por vários minutos, seguiu em direção às casas novamente.
Decidimos que estava na hora de ir e foi quando Adelle falou:
- Nyx não iria nos buscar essa tarde? - e foi como se aquilo tivesse se excluído de
minha mente. Teríamos que abusar de sua bondade, já tínhamos feito um
compromisso com aquela mulher e não seria desfeito.

- Ele vai ter que esperar por mais um dia. - disse ela indo em direção aos cavalos.
Decidimos levar conosco apenas as coisas para fazer os vestidos, pois o restante
chegaria apenas ao anoitecer.

Ivar nos seguiu e disse subindo no cavalo:

-Se divertiram garotas? Primeira e última vez, estejam cientes. - Disse ele assobiando
para seu cavalo começar a andar. Dessa vez meu cavalo estava ao lado de um tronco
que eu poderia usar para me ajudar a subir, devidamente estabilizada começamos o
caminho de volta a mansão.

Quando chegamos, Tamlin nos esperava na porta, eu entrei as coisas que carregava
para Ade antes de encarar a descida do cavalo, eu certamente não tinha pensado nisso.
Contei até três e saltei.

- Se divertiram ladys?- perguntou Tamlin erguendo uma sobrancelha para as


caixas em nossas braços.

- Certamente, - respondeu Adelle. - Você tem um filho muito gentil, ele se


ofereceu para bancar nossas compras.

Tamlin reprimiu uma risada, pois sabia que isso não era obra de seu filho.

- Como ele esbanja bondade senhor Tamlin, você tinha que ver! - Olhei para Ivar
que subia as escadas - Poderia levar essas caixas até nossos aposentos? -
perguntei de forma meiga, como Ade fazia quando queria algo. Ergui as caixas
para ele, que ponderou por alguns segundos antes de pegar de nossos braços e
entrar.

Tamlin acompanhou o filho com o olhar e depois nos olhou falando;

- Podemos ir ao escritório? Preciso falar algo com as duas. - disse ele nos dando
as costas. O seguimos, subimos por uma escadaria e viramos a direita, passando
por um corredor. No fim tinham duas portas em cada lado, ele abriu a que
estava à sua esquerda e entrou. Tinha uma aparência rústica mas refinada. Os
móveis eram de madeira crua, com contrastes nos tapetes e cortinas de um
amarelo suave.
Ele foi para trás de uma mesa e se sentou ergueu as mãos apontando para duas
cadeiras à sua frente, sentamos e ele começou:

- Houve algum contratempo com os Grão- senhores da noturna. Eles virão


amanhã no fim da tarde. - e observando nossa reação ele continuou- Vocês não
parecem tão desapontadas pela notícia, o que estão planejando?- perguntou
ele apoiando os cotovelos na mesa.

- Nada que envolva uma loucura - e olhando para Adelle completei. -


prometemos.

Ele assentiu, não acreditando nem por um segundo no que tínhamos dito, e disse:

- Se vocês não têm mais nenhuma dúvida, terminamos aqui.

- Amanhã será o casamento da neta de Ariane, a mulher que trabalha aqui.


Vamos fazer o vestido de noiva e gostaríamos de ir até o local do casamento
para ver como a noiva ficou.- disse Ade quase engasgando.

- Espero que vocês não estejam esperando uma permissão. - disse ele, e no seu
olhar passou como um vulto algo que o deixou incomodado e inquieto.

- Na verdade, não, apenas ajuda para chegarmos até lá. - completei tentando
mudar o rumo da conversa.

- Ivar as levará, agora se me derem licença. - disse ele mexendo em uma


papelada que estava em sua mesa. Saímos e antes de fechar a porta o vi cerrar
os punhos e apoiar a testa sobre uma mão. Erguendo o olhar e vendo que eu o
observava, consegui sentir como se soprasse em meu rosto, uma onda de fúria
e angústia. Fechei a porta atordoada demais para pensar em algo.

Assim que começamos a seguir em direção ao nosso quarto, Ivar passou, indo ao
escritório.

- É melhor você não… - escapou de meus lábios e ele me interrompeu.

- Eu sei. - disse isso e entrou naquele cômodo.

Aquilo me incomodou, mas eu não sabia dizer exatamente porque. Quando entramos
no quarto nos deparamos com uma cena que nos alegrou, tinha uma mesa no canto
lotada de pães, bolos e doces, inclusive, uma bandeja apenas com mini tortinhas de
amoras. Atacamos sem mais nem menos. Tomamos um banho e depois nos sentamos
na cama para desenharmos o modelo do vestido. O sol já dava lugar à lua,
precisávamos ser rápidas, achamos uma folha e uma caneta e Adelle fez um rascunho,
achamos que seria melhor mantermos em um modelo romântico e primaveril. Ele seria
um vestido cor creme, com um decote coração e com mangas longas ombro a ombro.
O vestido teria aplicações de renda no corpete, que o faríamos como um corset,
descendo para a saia e na barra costuraremos pequenas flores subindo pelo
comprimento. As mangas não seriam justas e teriam aplicações de pedras no tule.
Assim que batemos palmas para o modelo final e vencedor, uma batida soou na porta.
Adelle atendeu e Ariane entrou com um vestido nos braços e em seguida um homem
entrou carregando os utensílios para costura. Mostramos para Ariane o vestido da
noiva e ela chorou, dizendo que sua neta, Asa, a amaria. Perguntamos àquela senhora
onde seria a festa de casamento e ela ficou com vergonha dizendo que seria apenas
um ajuntamento em sua casa, pois uma festa não era uma opção. Pedi licença
enquanto Ade me puxava para fora do quarto.

- Você acha que Tamlin liberaria o espaço em frente a sua casa para realizarmos a
cerimônia? - Perguntou ela sem rodeios. Eu tinha pensado na opção, mas achei
que fosse apenas um sonho distante. - Ele tem esse espaço todo, e apenas com
coisas e decorações que ele tem aqui- Disse ela mostrando em volta.- Daremos
uma bela festa. Aquele casal merece esse momento de felicidade.

Segurei suas mãos, ela tinha razão, mas não achava que seria fácil convencê-lo disso,
estaríamos esbanjando muito? Era para ser apenas uma estadia de uma noite, e agora
queríamos planejar um casamento em seu jardim.

- Não sei se conseguimos, mas vou falar com ele, fique com Ariane de ajuda
enquanto eu volto, ela parece querer fazer parte da construção do vestido de
sua neta e com certeza ela será melhor nisso do que eu. Se não dermos a festa
que eles merecem, você fará o vestido mais belo de todos.- dizendo isso
comecei a procurar por Tamlin.

Voltei ao seu escritório que estava com a porta entreaberta, bati e entrei a tempo de
ver Tamlin lendo algum tipo de relatório com a testa franzida. Ao me ver ele passou a
mão pelo rosto e perguntou:

- Posso ajudar senhorita? Estou meio ocupado.- disse ele erguendo o relatório.

-Sim, mas primeiramente quero dizer que não vou tomar muito tempo. - ele acenou
para que eu prosseguisse. - Eu e Adelle, que está neste momento em nosso quarto
trabalhando no vestido da noiva, a pessoa que vai casar é a neta de Ariane, a senhora
que trabalha aqui.

-Eu sei o nome de meus ajudantes Jasmin, mas obrigado por me relembrar. - Disse ele.
Ok! Isso não seria fácil. - E o que um vestido de noiva tem haver comigo? Não me
digam que pretendem fazê-lo para mim. Sorri apenas imaginando aquele grão- senhor
em um vestido de noiva. Mas me recompus quando vi que ele me olhava, e estava
sério.

-A cerimônia de casamento será amanhã, mas ela não tem onde comemorar, e
pensamos se podíamos utilizar seu jardim por algumas horas amanhã, para uma festa
de felicitações. - Ao citar o casamento, Tamlin arregalou os olhos e uma solitária gota
de suor escorreu de sua testa. Ele fez um coque e foi em direção a janela e a abriu,
fazendo assim que entrasse uma brisa gelada pelo ambiente.

-Sem chances!- disse ele sem titubear. - Eu me dispus a acolhê-las, não a deixarem
orquestrar uma festa de casamento às minhas custas. E de uma pessoa que nunca
viram.

Não sei onde estávamos com a cabeça quando pensamos nisso, mas não ficaríamos
com a dúvida em nossa mente se tínhamos a chance de obter uma resposta positiva.
Fui andando em direção a porta e disse:

-Não quero que pense que estamos sendo ingratas, ou que queremos abusar da
hospitalidade da corte primaveril, só queríamos criar uma boa memória para o casal.
Se me der licença, tenho um vestido para ajudar a terminar. - E quando eu ia saindo
Tamlin me chamou, olhei para ele, não sabia o que diria em seguida.

-Três horas, é o tempo que vou disponibilizar a vocês para realizarem a cerimônia nos
jardins, se precisar de algo me avise, providenciarei. - Disse ele com um olhar distante.
- Três horas e não quero mais ninguém em meus jardins.

Assenti sem acreditar, tinha conseguido. A porta se bateu em minhas costas e corri ao
quarto, onde Ade estava no chão cortando o tecido e Ariane costurando um pequeno
corset. Pulei em seus braços gritando que tinha conseguido, e ela sorria comigo. Ari
não entendia do que eu estava falando mas tinha um sorriso em seu rosto vendo nossa
alegria. Explicamos a Ariane o que tínhamos conseguido e faltou ela infartar de
felicidade, mas teríamos que mudar o horário e ao invés de fazer de manhã seria ao
pôr do sol. Sentamos as três em frente a lareira planejando a festa, eu tinha uma
bandeja de tortinhas no colo, Ade segurava um pãozinho com geléia e Ariane comia
um bolo de chocolate.
Ficou decidido que seria no jardim, e colocaríamos as cadeiras circundando o centro
onde teria a cerimônia, faríamos um caminho de flores da entrada principal até o lugar
onde o casal trocariam os votos, que seria em frente a uma árvore imensa, que
adicionaremos algumas luzes e decorações. Nas cadeiras vamos deixar um botão de
lisianthus, uma flor de pétalas delicadas, na cor rosa, tinha um ditado que dizia que
significava amor eterno.
Após isso, vamos encaminhar os familiares a uma área, em frente ao labirinto, onde
montaremos tendas para que possamos servir as comidas, com o tempo estabelecido
pelo grão- senhor, não poderíamos cometer erros.
Montamos uma lista de tudo que precisaríamos fazer no dia seguinte, após preparar a
primeira camada do vestido, Ade chamava de base, Ariane se despediu da gente pois
precisava dar a notícia a família e a noiva. Ela nos avisou que seria por volta de 30
pessoas. Ficando apenas Ade e eu no quarto ela anunciou:

-Se nada der errado, vamos montar um ateliê de vestidos de noiva e organização de
festas, na corte noturna. - Disse Adelle concentrada nos pontos que dava.- Consegui
tirar as medidas de Ari enquanto você estava fora, ela não desconfiou.

-É isso ai amiga. - eu disse a ela que sorriu.

-Você poderia dar os pontos básicos para mim?- E acenando para o tecido verde oliva,
completou. - Sei que você consegue.

Peguei aquele tecido e segui as orientações de Adelle que me supervisionava


atentamente. Após 10 minutos, tentando costurar, observei meus dedos que já
estavam cheios de pontinhos, onde a agulha tinha se cravado, inúmeras vezes. Decidi
lavar e pegar uma flanela, para evitar que o sangue manchasse o tecido. O modelo
escolhido para Ariane, seria um vestido midi rodado, que pegaria abaixo de seus
joelhos, com um decote em “V” , com mangas médias e justas, e um pequeno caminho
de pedras seriam bordadas no colo.
Já se passava de meia noite quando Adelle parou de costurar, o vestido já estava
incrível mas..

-Está meio cru não acha?- disse ela quando abrimos ele na cama para analisar.

-Ainda não adicionamos as aplicações de flores e jóias, você não acha melhor darmos
uma pausa? Meu estômago já está roncando. - declarei a ela.

-Eu não queria parar, mas o meu também, já me incomoda. - Falou colocando a mão
sobre a barriga. - Acha que se formos até a cozinha terá algo? - Perguntou ela esticando
as costas.
-Talvez tenha algo na sala de jantar, vamos dar uma olhadinha. - Checamos o corredor,
que estava bem iluminado, e não vimos ninguém, então seguimos em direção a sala de
jantar. Chegamos lá e fizemos o possível para não fazer nenhum barulho, a última coisa
que queríamos era um Ivar mal humorado.

Entramos e várias luzes se acenderam em volta da mesa, fomos até lá e tinham duas
bandejas dispostas. Sentamos uma de frente para a outra e abrimos a bandeja, tinha
uma variedade de opções de carnes, caldos, massas e queijos. Começamos a nos
alimentar, tentando não chamar muito a atenção para onde estávamos, conversamos
sobre o horário que deveríamos estar de pé no dia seguinte para iniciar os preparos,
quando nos levantamos as louças desapareceram, seguimos em direção a porta e eu
pensei ter escutado um ruído, mas olhando em volta não vi nada. Na volta, reparei em
uma sala que não tinha visto antes, a porta estava meio aberta e espiei, era uma
biblioteca, imensa. Me animei só com aquela visão, eu adorava ler, tinha apenas um
livro em casa, mas apostava que conseguia citar cada frase de trás para frente. Chamei
Adelle e disse que pegaria apenas um livro, e pedi para ela vigiar. Ao entrar no recinto,
luzes se acenderam, queria admirar por horas cada pedaço daquele lugar, mas sabia
que Adelle viria me puxar pelos cabelos, se eu a fizesse esperar por horas, então me
adiantei para procurar um livro de aventuras, quando encontrei a fileira que tinham
esses livros me empolguei, comecei a folhear alguns, e escutei aquele ruído
novamente, era um som inumano, parecendo uma criatura faminta que caminhava
sem querer ser notada. Um arrepio percorreu a minha espinha e senti um cheiro forte
de podridão vindo dos fundos daquela biblioteca, meu coração galopava em meu peito
e um alerta gritava pelo meu cérebro, fuja, segurei o livro sob meu peito e comecei a
correr para a saída, como eu tinha ido tão longe? Quando olhei para trás, para verificar
se algo me seguia, trombei com algo, gritei de susto mas mãos taparam minha boca,
olhei para cima para ver quem era, Ivar, eu olhava desesperadamente para trás, com o
coração na minha garganta. Ele apoiou minha cabeça em seu peito até que eu me
acalmasse, segundos depois Ade entrou na biblioteca perguntando que grito era
aquele e se eu estava bem, sim? Eu não sabia dizer, aquele som.. era Ivar? Aquele
cheiro? Eu esperava que sim, me desvencilhei de Ivar e fui em direção a saída e ele me
disse:

-Não é possível que você acredite em bicho papão. - Ele disse me olhando com a testa
franzida, fazia uma brincadeira mas seu rosto não demonstrava que ele brincava.

Apenas ignorei, e atordoada segui Ade até nossos aposentos, enquanto andávamos
contei a ela o que tinha acontecido e ela disse que possivelmente era Ivar, me
pregando mais uma peça, queria acreditar nela, então deixei que esses pensamentos
tomassem conta de minha cabeça. Chegando lá começamos a adicionar as aplicações
de flores, estava ficando estupendo, Ade sorria enquanto observava a peça quase
pronta, tínhamos feito um trabalho e tanto, então enquanto eu aplicava as flores, na
calda, Adelle adiantou o vestido de Ariane. Em poucas horas o sol nasceria, então
decidimos cochilar um pouco. Ari mal deitou na cama e já apagou, deitei ao seu lado e
ao fechar os olhos minha mente me levou de volta a biblioteca, e o assombro me
encontrou, fazendo que eu me sufocasse, dentro de minha própria mente. O medo
queria tomar conta de mim, e eu lutava contra ele, meu corpo tremia e minha cabeça
latejava, até que como se ele estivesse sido empurrado, por uma brisa, para longe de
mim, eu me sentia mais calma, mas tinha medo de fechar os olhos novamente, então,
sentei no chão e me ocupei costurando as pedras no colo do vestido de Ari, depois que
finalizei fui para o vestido de Asa, percebi que tinha um tule longo sobrando, e decidi
fazer uma capa, cortei e comecei a costurar uma cascata de flores, que começavam
com poucas flores e a medida que ia descendo ia aumentando a quantidade. Não
percebi quanto tempo tinha se passado, até um filete de sol atravessar as cortinas e ir
de encontro a minha nuca. Fui até a janela e vi que o céu começava a clarear, minhas
costas ardiam, a posição que eu tinha ficado nas últimas horas não foi das melhores.
Abri as cortinas e fui tomar um banho para me despertar, dessa vez as bolhas
cheiravam a camomila, parecia que o banheiro sabia do que eu precisava, fiquei por
alguns minutos apenas apreciando a temperatura da água, após isso finalizei meu
banho e fiz um coque no cabelo, antes de pegar uma calça verde musgo e uma camisa,
sem mangas, preta. Fui ao quarto e vi Ade terminando de costurar as últimas flores da
capa, ela tinha os olhos inchados de cansaço, e sorriu quando entrei.

-Amei a ideia da capa, não conseguiu dormir? - perguntou ela, pois sabia que eu
demoraria mais tempo do que o necessário para bordar um a um.

-Não, então decidi adiantar. - Respondi apontando para ela ir logo. Ela se levantou e foi
andando, como se tivessem pesos em suas pernas a prendendo no chão,para o
banheiro. Quinze minutos depois ela estava pronta, a mesma calça que eu e uma blusa
azul, e com um rabo de cavalo.

Saímos do quarto e a casa parecia estar ativa, tinha pessoas andando de lá para cá,
chegamos em frente da casa onde iríamos realizar a entrada da cerimônia, e vimos
vários homens na frente. Fiquei um pouco sem graça, mas Ade saiu cumprimentando a
todos, que disseram pertencer a família de Ariane, e que estavam ali para ajudar.
Aquilo facilitaria muito nossa vida, pedimos então para que eles trouxessem algumas
cadeiras que estavam no salão de festas de Tamlin. Elas eram de madeira, com um
entalhe de roseira nas costas, foram pintadas de dourado. Começamos a distribuir as
cadeiras de maneira que circulassem a árvore, deixando livre um corredor para o
tapete de rosas, quando vimos que estava tudo simétrico, percebemos uma
movimentação incomum na mansão, parecia ter muito mais pessoas do que vimos
anteriormente, então foi quando Ade sugeriu que aumentássemos a quantidade de
assentos. Quando a última leva de cadeiras foram dispostas e organizadas, Tamlin
surgiu na escadaria, em frente a porta principal, e nos chamou. O seguimos até a
cozinha, e apresentou o cozinheiro, que seria o responsável pelo cardápio, graças aos
céus, Ariane chegou naquele momento, nos dando uma luz do que servir. De entrada
teriam pães, geleias, patês e frutas, em seguida seria servida uma sopa de verduras e
de prato principal javali ao molho de vinho, com alguns acompanhamentos. Na hora da
sobremesa eu quase gritei “torta de amora com chocolate”, quando me pediram uma
sugestão, então ficou decidido que seria essa torta, bolo de chocolate com calda de
mel e alguns doces com nozes e frutas. O cozinheiro quase nos expulsou de sua
cozinha, pois ele teria um trabalho e tanto para deixar aquilo pronto no horário, mas a
animação do homem era perceptível. Estávamos analisando a construção das tendas
quando Ivar apareceu, ele saía daquele labirinto, passou do nosso lado e observou o
que estávamos fazendo, e disse :

-Não sabia que vocês viraram organizadoras de festas, o que foram feitas daquelas
humanas amedrontadas?- perguntou Ivar zombando de nós.

-As humanas amedrontadas não estão aqui, mas as humanas que quase te faliram e se
divertiram muito torrando sua fortuna estão presentes na sua frente. - disse Ade. - E
você poderia nos ajudar na construção da última tenda, não acha?- completou Adelle.

Ele deu uma gargalhada divertida e foi para dentro da casa, ignorando completamente
o pedido. Quando deu o horário do almoço estava quase tudo pronto, tirando alguns
detalhes que tínhamos que resolver. Eu e Adelle estávamos sem fome, então pegamos
uma maçã e sentamos nos degraus da entrada, para comermos enquanto observamos
o que tínhamos feito. As luzes já estavam na árvore, as tendas estavam formadas, com
as mesas dispostas por baixo, os pratos, talheres e taças, seriam colocadas por último,
juntamente com as flores.

-E se fizermos uma coroa de flores para as mulheres e tirarmos um ramo de flor para
os homens? - falou Adelle mordendo sua maçã.

-Tem um jardim aos fundos.- disse Ari, chegando e sentando ao nosso lado. - Posso
levá-las lá. Boa ideia Adelle, bom que aproveitamos e já recolhemos as flores para as
cadeiras.

A seguimos então, para chegar nesse jardim teríamos que passar pelo labirinto, era
bastante confuso, mas após algumas voltas chegamos a um campo grande de flores, de
todos os tipos e cores. Pegamos flores amarelas para as tiaras e para as que seriam
postas na cadeira, um lírio branco. Após colocarmos tudo em uma cesta, tive uma
ideia.

-Ariane, por que não trazemos Asa para se arrumar aqui? Temos o nosso quarto, que
tem espaço mais que suficiente. - Perguntei a ela.
-Podemos ver com Tamlin em relação a isso. - falou Ade.

Ari parecia um pouco desconfortável, pois imaginava que já estava indo além, mas
respondeu:

-Se o Grão senhor aceitar, eu assino embaixo. Disse ela nos guiando para fora do
labirinto.

Assim que saímos fomos ao salão de jantar e encontramos Ivar e Tamlin ainda sentados
na mesa, mas não havia nada por cima, tirando um pequeno copo de cristal que tinha
um líquido âmbar, em frente a Tamlin. Ao nos ver, ele virou o líquido de uma vez ,e
colocando por cima da mesa nos disse, antes de falássemos qualquer palavra:

-Precisam do que agora? Meus cavalos? Meu filho? Meu escritório?- falou ele, de bom
humor, o que parecia estranho.

-Seu filho é a única coisa de que não precisamos. - Eu disse, arrancando uma risada
rouca do grão senhor. - Mas não, precisamos apenas de sua permissão para levarmos a
noiva ao nosso quarto, para que ela se apronte! E como o senhor deve saber, não virá
apenas a noiva. - Finalizei.

-Que o caldeirão nos proteja. - Disse ele rindo pra si mesmo, enquanto dedilhava a
borda do copo. - Vocês têm minha permissão, mas lembrem-se apenas…

-Três horas. - completou Ade, o interrompendo. - Não vamos passar do horário.

Na verdade, esse recado já tinha sido passado aos convidados, pelo menos 50 vezes,
Ariane tinha dito a cada um deles pessoalmente. Então acreditamos que não dará nada
errado. Saímos dali saltitantes, indo procurar Ariane, que estava finalizando sua
terceira tiara de flores, falamos a ela que dera certo, e que era para ela buscar a noiva e
as demais mulheres, ela nos deixou por conta de finalizar as tiaras e saiu para
encontrá-las.
Passado duas horas elas chegaram e finalmente conhecemos a noiva, já tínhamos
tomado banho e Adelle tinha trançado todo seu cabelo, ela estava deslumbrante. Ela
tinha insistido para arrumar o meu e fez duas tranças que começavam dos lados da
minha cabeça e ia até o fim, deixando o meio solto, realmente ficou lindo. Decidimos já
ficarmos pré prontas, para darmos atenção à noiva. Ela desceu do cavalo e de cara já
percebemos que ela era linda, tinha os olhos verde jaspe de sua avó, e os cabelos de
um castanho claro lindo. Tinha sardas que salpicavam todo seu rosto, e tinha um
sorriso encantador. Quando se estabilizou, olhou em nossa direção e veio correndo,
nos abraçando e chorando, ela agradecia, e dizia que nunca iria se esquecer disso.
Após alguns minutos Ariane veio, junto com sua filha, mãe da noiva, que era idêntica a
Asa, tirando o fato de ter cabelos ruivos. Devidamente apresentadas fomos ao quarto
onde estávamos, e quando ela viu o vestido sobre a cama, ela chorou, disse que nunca
tinha visto um vestido tão lindo e perfeito. Ade se ofereceu para arrumar seu cabelo,
então Asa seguiu para o banheiro a fim de tomar um banho para relaxar, abrindo o
armário de roupas, vimos um vestido azul claro que ficaria perfeito em sua mãe, que se
chama Aila, entregamos a ela que ficou em choque, era um modelo longo, que tinham
mangas que caem sobre seus ombros e um decote reto, com aplicações de rendas do
mesmo tom. Ela nos agradeceu e experimentou o vestido, que serviu perfeitamente.
Finalmente tiramos o de Ariane do armário, que ficou atônita quando anunciamos que
era para ela, lágrimas solitárias rolaram por seu rosto, e ela nos deu um beijo na
bochecha nos agradecendo.
Enquanto Adelle prendia o cabelo de Aila em um coque, com uma trança que adornava
sua cabeça como uma tiara, eu passava um batom de um rosa mais fechado, em seus
lábios, e uma sombra marrom, em sua pálpebra.
No cabelo de Ari, foi feito apenas uma trança começando de sua raiz e não deixando
escapar nenhuma mecha sequer. Em Asa, Adelle fez duas tranças laterais e as juntou
atrás, prendendo na ponta uma flor. E em sua cabeça, uma coroa de diamantes. Em
seus lábios, uma cor nude se destacava, e em seus olhos sombreados, também
marrom.

Asa se olhou no espelho e disse que nunca tinha se sentido tão linda, a hora de colocar
o vestido era íntima e especial, então eu e Adelle nos vestimos e saímos do quarto,
para recepcionar os convidados, que deveriam estar chegando.
Adelle tinha seus lábios pintados de um vermelho sangue, em seu olho ela puxou um
delineado preto. Seu vestido era de um azul escuro, longo, sem mangas, ele tinha um
grande decote em “V”, com uma fenda em sua perna. Ela estava deslumbrante, tinha
um colar de prata com um diamante na ponta, e nas orelhas, pequenos diamantes.
O meu era preto, tomara que caia, com o decote que começava mais alto na altura do
meu ombro direito e descia. Tinha uma fenda, e o comprimento ia até o meio de minha
canela, eu apostei nas pedras e joias azuis.
Fomos até o portão onde os convidados iam entrar, olhando em volta vi que a
passarela de flores estava pronta e que as flores solitárias já estavam postas nas
cadeiras. Olhando para a entrada, vi em umas janelas acima, Tamlin olhando para seu
quintal, não sabia se ele compareceria, mas ele parecia lembrar de algo, como se
sentisse que estava sendo encarado, ele me olhou e acenou antes de sair de perto da
janela. Começaram a chegar os convidados, e ainda bem, que tínhamos adicionado
lugares extras. Estava quase na hora de fecharmos o portão quando escutamos:

-Não sabia que Tamlin tinha virado um casamenteiro.- Disse uma voz grave e
masculina. Quando nos viramos vimos um casal, eles exalavam poder e autoridade, e
aquela mulher, ela era linda, e passava bondade pelo seu olhar, antes que
conseguíssemos falar ou entregar a coroa de flores ouvimos Tamlin falar às nossas
costas:

-Feyre, Rhysand, é um prazer tê-los em minha corte novamente.

E diante de nós estava o Grão Senhor e a Grã- Senhora da corte noturna.

CAPÍTULO 1O

Perspectiva Nyx:

Havia se tornado uma rotina, ter meus treinos todas as manhãs, passar um tempo com
meus pais, entre outras obrigações, e ir na primaveril, geralmente eu voltava sem ter
visto nada fora do comum, meus pais não sabiam dessas escapadas para outra corte,
se soubessem eu estaria um pouco encrencado. Um dia em específico, Zayn, filho de
minha tia Elain e tio Lucien, foi comigo, ele era meu companheiro desde pequeno, e
acabou descobrindo para onde eu ia todos os dias, quando me seguia em outra
ocasião. Não sabia explicar o motivo exato que me fazia ter esse costume, até porque
eu não podia ter contato com a corte, diretamente, e em pouquíssimas ocasiões eu
tinha me encontrado com o Grão-Senhor e seu filho, mas era como se algum lado de
minha mente emitisse esse pequeno alerta para que eu fosse. Nesse dia eu as vi pela
primeira vez, duas humanas, que se atreviam a esgueirar pela floresta feérica. Seria
algo que eu facilmente deixaria para lá, apenas humanas, que mal poderiam fazer? Até
sentir o desespero e tristeza que emanava delas, Zayn insistiu que fossemos embora,
mas eu não conseguia me mover. Por três dias, as segui de longe e as observei, a
maioria do tempo elas faziam piadas com a situação ou discutiam maneiras de sair da
mesma. Certa vez, tentei me aproximar, o que faria com esse contato? Eu não sabia
dizer, mas nesse dia, nessa tentativa, pisei em um monte de folhas e elas se assustaram
e subiram em uma árvore, e ouvindo seus planos que, na manhã seguinte, que elas
tinham a intenção de ir a chaminé, decidi que deveria pensar antes de tomar alguma
decisão precipitada. Apenas chegar com duas humanas em casa, omitindo a parte de
como as encontrei… bem, seria difícil, então continuei as seguindo, até que elas foram
em direção ao lago, vendo a alegria delas, pelo simples fato de terem encontrado água,
senti uma empatia assustadora, quando elas estavam devidamentes vestidas, decidi
agir, mas quase levei uma adaga no peito, se não fosse por Zayn, que a segurou. Aquele
mal entendido poderia ter sido resolvido facilmente caso Zayn não tivesse jogado de
volta a adaga e quase arrancado a cabeça de Adelle, e claro, elas fugiram, não sei ao
certo porque peguei Jasmin e a levei até o céu, mas estava me divertindo vendo sua
raiva e medo.. e sim, eu não a deixaria morrer, mas quando em seus olhos eu vi que ela
aceitava o que a esperava segundos a seguir, um desespero fora do comum tomou
conta de mim. Ao colocá-la no chão, ela parecia fora de si, e quase senti pena, quase,
pois minutos depois me vi tomado de uma raiva surreal, que tomou conta de minha
mente, e a ataquei. Se não fosse por Zayn, eu a teria matado, pelo caldeirão, eu teria
matado uma humana inocente, sem motivos. Aquilo já tinha acontecido anteriormente
mas não chegou ao ponto de eu atacar alguém, eu conseguia me controlar. Depois
disso sabia que eu não podia simplesmente as deixar naquela situação, era culpa
minha quase ter matado Jasmin, mas naquele momento eu tinha que manter distância,
quando o descontrole vinha, acontecia em períodos consecutivos, então falei que se
elas sobrevivessem aquela noite as ajudaria, mas pedi para Zayn acompanhá-las
enquanto eu usaria aquela energia negativa, que tomava meu corpo e mente, com o
meu tio Cassian, que me passaria um treino exaustivo. Horas depois, quando voltei,
apenas vi um vulto de Zayn levando Adelle para longe enquanto gritava para eu ajudar
Jasmin, que tinha presas a centímetros de seu pescoço. O resto, bem, vocês já sabem,
quando sugeri que as levaria a corte noturna, não tinha sido uma ideia muito bem
elaborada e pensada anteriormente, mas eu não tinha outra saída. Aceitei
relutantemente, que elas ficassem na primaveril, mas sabia que Tamlin não as feririam,
então ao deixá-las na porta voltei à Corte Noturna.
Quando cheguei em casa, fui atrás de meus pais, que estavam na sala de reuniões com
todo seu círculo íntimo, cumprimentei cada um, dando um beijo na barriga de tia
Nestha, que já marcava em seu vestido.

-Preciso falar com vocês, acho que tive um pequeno contratempo. - Anunciei de uma
vez, Zayn entrou e se sentou no fundo, apenas observando. Sabia que podia conversar
abertamente com meus pais, tios e tias, mas não tirava o fato de eu estar nervoso
naquele momento. Tio Cass já ficou alerta como se esperasse por uma ameaça
próxima.

-Pode dizer Nyx, o que houve meu filho?- Perguntou minha mãe que estava sentada ao
lado de meu pai em um sofá próximo a lareira, ele apoiava suas mãos no ombro da
parceira. Então contei a eles, de forma resumida, o que tinha acontecido. Todos se
calaram de repente, e cada um pensava em uma forma de lidar com aquilo.

Meu pai parecia um pouco desconfiado com isso, ele não parecia nem um pouco feliz
com o fato de eu ter ido a corte primaveril, mas claro que guardei para mim a
informação de que tinham sido muitas vezes. Minha mãe tinha estampado em seu
rosto uma empatia, que eu sabia que vinha por ela quase ter morrido passando pela
mesma situação. Ela olhou para meu pai, e eles conversavam em pensamento, como
faziam quase sempre, sim, meu pai faria o que minha mãe pedisse, até os pedidos mais
impossíveis. Mas não significava que ele estava de acordo, mas claro, se Feyre tivesse
dito que queria ajudar, ele faria o que pudesse para ver sua esposa satisfeita.

-O que você estava fazendo na primaveril? Sabe que é para evitar. - Disse meu pai em
seu tom autoritário. E antes que eu pudesse responder, minha mãe disse algo a meu
pai que o fez sorrir. Então ela veio em minha direção, segurou em minhas mãos e olhou
em meus olhos perguntando:

-Por qual motivo você quer ajudá-las? - Eu poderia criar uma desculpa, ainda mais
porque não tinha dito sobre meu surto, mas era quase impossível esconder coisas da
grã-senhora.

Então deixei que ela visse através de minha mente, o que eu tinha feito e o horror nos
olhos de Jasmin quando ela se debatia a procura de ar. E quando quase a pulverizei, se
não fosse por Zayn.. eu não queria pensar nisso. Ela cobriu a boca com as mãos, sabia
que ela queria me passar confiança, e dizer que ia ficar tudo bem, mas até mesmo ela
sabia que eram mais frequentes esses ataques, e que ficavam cada vez mais agressivos.
Meu pai a amparou, e eu sabia que nesse momento Feyre deixou que seu marido
visse.

-Eu quase matei uma humana, não sei o que ocasionou esse ataque, mas aconteceu. -
anunciei para o restante do grupo que nos olhava tentando entender o que houvera.-
Por isso eu sinto que preciso ajudá-las. - finalizei, me sentindo esgotado. - Disse que as
buscaria na corte primaveril amanhã.

Amren me olhava como se tentasse desvendar um quebra cabeça, muito complicado,


Elain tinha os olhos tristes, Nestha acariciava sua barriga enquanto olhava ao marido
que tinha os olhos focados no chão. Azriel estava muito mais quieto, mas suas sombras
estavam agitadas.

-Vamos ajudá-las. - anunciou Feyre. - Mas seu pai ainda pensa que possa ser alguma
armadilha, então vamos conversar com elas quando chegarem aqui, e se elas se
provarem confiáveis para morar conosco as receberemos de braços abertos. Alguém
tem algo a acrescentar?- perguntou ela no tom de grã senhora.

Todos balançaram a cabeça em negativa e seu pai falou:

-E só para constar, elas serão de responsabilidade sua e do Zayn. - no fundo da sala


Zayn resmungou. - Não se esqueça que você lançou uma adaga que quase decapitou
uma inocente, não sei o que teria acontecido se Jasmin não tivesse jogado a amiga pro
lado. - Elain olhou para o filho com espanto e Lucien, que se manteve quieto até então,
balançou a cabeça em reprovação.

-Antes de vocês chegarem, conversávamos sobre uma intimação inesperada que


recebemos da corte invernal, eles estão tendo que lidar com uma certa “praga” e
pediram nossa ajuda. É muito estranho, e temos que ficar em alerta, por isso
buscaremos as meninas depois dessa visita. Creio que o início de uma epidemia seja
mais importante. - Disse o Grão- senhor. Assenti para eles e agradeci, fazendo uma
breve reverência saindo da sala com Zayn em meu encalço.

-Nunca vou te perdoar, agora somos babás. - disse Zayn colocando o braço sobre o meu
ombro. Sorri diante a cena de Zayn cuidando de duas humanas, e com esse
pensamento surgiu algo em minha mente.

-Você trate de tirar esse sorrisinho prepotente do rosto. - disse Zayn.- Sei que você está
prestes a falar um plano, que eu com certeza não irei gostar.

-Vamos dar um pouquinho de trabalho aos nossos tios. - eu disse. - Elas serão
introduzidas aos treinos de defesa. - declarei e vi de relance o cenho de Zayn franzir,
antes de ele abrir seu sorriso de raposa, ele tinha gostado da ideia.

- Assim, não teremos que nos preocupar com elas por uma boa parte do dia. - disse
ele.

Bem, esse não era o exato motivo para eu ter proposto, e sim, porque vi como elas
ficaram arrasadas quando percebiam estar em desvantagem, e um treino com tio Az e
Cass com certeza aumentariam suas chances, mesmo sendo humanas.

Segui para meus aposentos, e o que não saia de minha cabeça era o estranho convite
da corte invernal, geralmente esses assuntos eram tratados entre sua própria corte,
para não causar desespero generalizado. Então para chegar nesse ponto, era algo
muito além do que eu podia pensar. Sairíamos pela manhã então fui me organizar para
descansar, ou melhor, tentar, pois sabia o que viria quando eu fechasse meus olhos.

“Eu andava sem rumo por um campo de lírios, tinha um


ferimento em meu braço, minha visão começava a ficar turva,
e no fim do campo tinha um homem, de cabelos pretos e olhos
igualmente pretos, ele recitava algo, mas eu não conseguia
compreender, quando ele para de falar uma dor aguda atinge
meu cérebro, me fazendo curvar sobre a grama e me agonizar
no chão. Minha pele parecia ser mastigada de dentro para
fora e após longos minutos de agonia, um vento soprou e
aquela dor passou, como se não passasse de uma lembrança.
Olhando para frente aquele homem me encarava”
Acordei suando e tremendo, me levantei da cama, sabia que ,mesmo insistindo, eu não
conseguiria pegar no sono novamente. Fui até meu banheiro e molhei o rosto, e me
olhei no espelho, minha aparência estava deplorável então saí rapidamente dali, decidi
dar uma caminhada para ver se passava aquela sensação de estar sendo controlado e
vigiado. Aqueles pesadelos me assombravam desde que eu me lembrava, eu
costumava correr em direção ao quarto dos meus pais procurando por segurança. E só
assim conseguia dormir. Eu caminhava pelas ruas de Velaris perdido em pensamento
quando vi, ao longe, uma movimentação em algumas ruas abaixo, então resolvi
segui-la. Velaris era um lugar muito seguro, mas não podíamos acreditar que nada
poderia acontecer aqui. Seguindo aquela sombra, que mais parecia um borrão preto,
acabei chegando no ateliê de pintura, onde minha mãe ajudava algumas crianças. Abri
a porta e olhei por todo o espaço, mas não tinha nada, então quando eu ia saindo ouvi
uma respiração e deixei meus instintos me guiarem e quando percebi já tinha
derrubado o fugitivo.

-Estou preocupado com você cara. - disse Zayn no chão. Era Zayn, apenas meu amigo.
Decepcionado e aliviado, ao mesmo tempo, me levantei revirando os olhos. Ajudando
ele a se levantar. - Não conseguiu dormir novamente né? Eu vi você saindo, e decidi ir
atrás antes de você fazer uma besteira, e ainda bem que vim não é?

Era apenas Zayn, mas meu corpo se recusava a sair da postura de alerta, tinha algo
errado.

CAPÍTULO 11

Perspectiva Nyx:

Na caminhada de volta para casa, eu consegui me acalmar, Zayn me fazia companhia,


mas permaneceu calado, ele sabia apreciar um momento de silêncio.

-Você acha que elas vão se acostumar? - perguntou Zayn olhando para os próprios pés.
- Isso claro, se elas se provarem dignas.

Me surpreendeu o fato dele ter questionado isso, ele se manteve contra essa atitude
desde o início.

-Muito difícil, mas elas vão acabar se adaptando - respondi, querendo acreditar
naquelas palavras.
-Acho que será quase impossível. - disse Zayn parando e me encarando. - se elas
vierem morar aqui, não será por uns dias, e sim anos, ou a vida toda. Como será para
elas estarem ao lado de pessoas que nunca vão envelhecer? Como será que elas vão
sentir quando perceberem o quão inferior as habilidades humanas são, e você sabe
que não minto quando digo isso. Mesmo com todo o treino do mundo, será muito
difícil elas superarem um feérico, pelo simples fato de habilidades sobrenaturais. - Ele
parecia preocupado? Não era muito de seu feitio.. mas se não fosse preocupação era o
que? Pesar?

-Espero que elas não precisem de tais habilidades, vai ser complicada a adaptação, e se
elas quiserem, voltarão para sua casa e vamos dar todo o apoio para que sobrevivam
em seu mundo. - Aquelas palavras tiveram um peso anormal em minha cabeça, eu
queria realmente que elas voltassem para lá? Perguntas, perguntas.

Eu observava o sol nascer, voltei para casa com Zayn que se apossou da minha cama, já
que ele sabia que eu não dormiria mais. Estava quase na hora do treino com o tio
Cassian, iríamos para a invernal apenas mais tarde, e eu precisava de algo me
distraindo, mesmo que fosse os socos de ferro de Cassian. Coloquei meu couro
illiryano,e me transportei para o acampamento, minutos depois. Ele já me esperava no
campo de treinamento, ninguém havia chegado, ainda, então eu aproveitava aquele
momento para me aquecer, ele me observava, calado e sério demais, ele parecia
incomodado com algo. Eu poderia imaginar com o que seria, cada vez menos mulheres
iam para os treinos, minha mãe e Nestha se revezavam, para dar as aulas, mas não
queria dizer que meu tio não notasse. Aquela pequena luta durava há boas décadas, e
quando pensava que teria uma melhora, a baixa surgia.

-Quero que as humanas treinem com você e o tio Az. - disse de repente. Seu rosto se
iluminou de empolgação e também curiosidade.

-Eu poderia saber o motivo do meu sobrinho, quase favorito, estar tão preocupado
com o treino de duas humanas? Você sabe que eu sou muito requisitado, não tenho
tanto tempo assim para treinar duas humanas. - ele disse sorrindo, ótimo, seu bom
humor está intacto.

-Não confio em mais ninguém para isso, e se alguém conseguiria fazer com que
humanos tivessem alguma vantagem em uma luta, esse alguém seria você. Por favor! -
eu sabia que ele adorava ser elogiado, mas eu tinha sido sincero, as únicas pessoas
capazes desse pequeno milagre eram Cassian e Azriel.

-Falarei com Azriel, o treino delas terá de ser passado com as outras pouquíssimas
mulheres restantes. - e me dando um soco brincalhão, ele completou - Em poucos
meses elas conseguirão derrubar um feérico.
Aquilo eu pagava para ver, ia revidar com alguma provocação, mas os outros feéricos
começaram a chegar, então o sorriso divertido de Cassian se transformou em um
sombrio e autoritário sorriso.

-Espero que tenham aproveitado esse descanso, vocês terão desejado não ter
levantado da cama hoje. - e assim ele começou com o treino.

Quatro horas depois, estava junto de meus pais no salão principal, meu pai conversava
com Amren, que ficaria no comando enquanto eles estivessem fora, minha mãe
segurava Eva nos braços, ela era um pacotinho de amor, filha de minha tia Mor e tia
Emerie, elas tinham adotado ela a poucos meses. Seria sua primeira vez atravessando
para outra corte, ela tinha cinco anos e era muito falante, nesse momento ela
perguntava a minha mãe por que ela não tinha asas como o tio Az. Tia Mor despedia
de sua amada, que ficaria para supervisionar a loja, eu me sentia anestesiado, como se
estivesse vendo eles através de um vidro. Minha mente voltou ao presente quando
senti um cutucão, Eva erguia seus braços para que eu a pegasse no colo, ela amava que
eu a girasse até ela ficar tonta, mas tia Mor me mataria se visse a cena, então cochichei
que quando sua mãe não estivesse olhando ele a levaria para voar e rodopiar no céu.
Os olhos da pequena se arregalaram de uma empolgação mal contida, e saltou do meu
colo, indo correndo na direção de Emerie contando em seu ouvido o que eu tinha
prometido. Morrigan escutou o que a filha disse e me olhou de cara feia enquanto
Emerie e Eva caíram na risada. Para minha sorte, meu pai anunciou que, finalmente,
partiríamos. Eva deu um beijo em sua mãe Emerie e pulou nos braços de Mor gritando
que estava louca para ir, e que contaria tudo à mãe depois. Emerie beijou sua testa e
disse que a amava, meus pais observavam a cena com uma alegria cravada em seus
olhos, suas mãos estavam juntas e eu sabia que eles se comunicavam apenas com esse
toque singelo. Era admiração pura que eu sentia quando olhava para os dois, queria
viver algo tão intenso assim, um dia. Minha mãe segurou minha mão me tirando de
meus devaneios, e em questão de segundos a corte noturna, minha casa, ficou para
trás e em minha visão surgiu uma das cenas mais lindas que eu já vira, uma cidade feita
de gelo.
Era umas das cenas mais lindas que eu já tinha visto, o chão coberto de neve,
uma propriedade, que parecia mais um castelo, de gelo, era surreal demais para
que eu não ficasse chocado, não tinha lembranças de algum dia ter visitado a
corte invernal, não conseguia deixar de admirar cada pedacinho daquele lugar
enquanto andava em direção à porta principal.
Entramos naquele lugar, e nos deparamos com um casal e sua filha no alto da
escadaria. Kallias e Viviane, e sua filha Aurora. Ela tinha os mesmos cabelos
brancos e olhos azuis dos pais, sua pele se assemelhava com a cor da neve,
tirando o fato de suas bochechas estarem rosadas.
-É bom ver vocês novamente. - disse Kallias, vindo em nossa direção. Sua
esposa já disparou correndo em direção a minha mãe, que a abraçou,
parecendo que havia séculos que elas não se viam, e após isso deu um longo
abraço em minha tia Mor, e quando ela se separou, vi que seus olhos estavam
marejados, ela olhava para Eva com um carinho imenso. Abraçando a amiga
novamente, ela deixou escapar algumas lágrimas antes que Eva a abraçasse,
fazendo assim, Vivianne se recompor e erguer a menina do chão. Percebi que
Aurora observava a cena com o cenho franzido, fiz menção em ir na sua direção
para cumprimentá-las mas uma pequena frase que saiu da boca de Kallias
prendeu minha atenção:

- Ele não é nada com o que já tivemos que enfrentar antes Rhys, pelo menos
não aqui, não tinha outro jeito e…- ele parou de falar quando foi surpreendido
por sua esposa que pediu calmamente para que ele tratasse desses assuntos
longe dos ouvidos de uma criança. E foi nesse momento que Kallias reconheceu
a presença de Eva, ele sorriu, acho que pela primeira vez até aquele momento,
e assentiu para sua esposa, nos guiando a uma sala mais privada. Mor tinha ido
colocar Eva para dormir, enquanto seguíamos para aquele cômodo, ao fechar a
porta, Mor se juntou a nós minutos depois, quando sentamos na mesa
Vivianne falou:

- Pedimos perdão por termos os intimado assim, tão depressa, mas não
sabemos como controlar essa situação. - dando uma pausa e olhando para seu
marido, que apoiou as mãos em seus ombros, ela continuou: - Já faz um tempo
que percebemos e ouvimos, alguns relatos dos moradores do norte da nossa
corte, eles relatam ter uma praga à solta na região, fazendo com que os seus
parentes e amigos adoecessem. Fomos verificar, porque algo assim, poderia se
alastrar, porém os infectados estavam desaparecidos, e ninguém tinha noção de
onde eles poderiam estar. - ela nos observou atentamente e seguiu- até que um
surgiu na capital, ele mancava e mantinha o semblante caído, como de uma
pessoa doente, ele seguiu até o nosso castelo, nessa hora já tínhamos ficado
sabendo dele, mas queríamos saber o que aconteceria caso ele chegasse aqui,
no segundo em que ele colocou os pés dentro do salão seu comportamento
mudou, e ele ficou animalesco, como uma fera que estivesse acabado de sair de
uma jaula, estávamos nós três presentes. - disse ela apontando para a filha- ele
foi em sua direção, não me entenda a mal, mas aqui não prezamos pela
proteção extrema, até então. - um pesar passou pelos seus olhos. E quando ela
ergueu para olhar para minha mãe, seus olhos tinham uma tristeza
imensurável. Kallias deu um beijo no topo da cabeça da esposa e continuou :

- Ele atacou Aurora, - nossos olhares passaram para ela, e parecia que ela
queria se esconder, por ter tanta atenção sobre si mesma.- por pouco ele não
conseguiu arrancar sua cabeça, ele foi domado, e está nos calabouços, sob o
olhar de um grupo seletivo de guardas. Ele não fala, apenas grunhe como uma
besta. Não parece ser a mesma pessoa, pensamos que talvez… - Kallias deu
uma pausa e continuou.- talvez vocês pudessem olhar na mente deles;
precisamos de uma resposta, nosso povo está aterrorizado. Deve existir alguma
razão para esse comportamento tão hostil. - ele finalizou se sentando. Meus
pais se entreolharam e acenaram com a cabeça.

- Vamos ajudar! - declarou Rhys- Isso pode se alastrar para as outras cortes, e
não queremos o desespero generalizado, se pudermos frear isso aqui, assim
faremos. - minha mãe olhou com solidariedade para os grão -senhores.

- Mais uma coisa. - disse Viviane- queremos que vocês levem Aurora para a
Corte noturna. O silêncio caiu sobre a sala, Aurora parecia surpresa com aquela
informação, com certeza não tinha sido comunicada sobre, anteriormente. E
sim, ela recusaria, dava para ver no seu olhar de resignação. Seus pais não a
olhavam, sabiam o que estaria escrito nos olhos da garota, ela se levantou e se
retirou da sala sem falar nada. Os ombros da sua mãe caíram, como se estivesse
esgotada, mas eu sabia o motivo daquela decisão, eles queriam manter ela em
segurança, se o foco daqueles infectados era ela, qual o sentido de deixar ela
lá?? Ainda mais depois de admitir que a força militar da Corte invernal não era
tão poderosa.

- Eu te entendo.- disse Feyre, olhando com compaixão, sua amiga. Viviane


assentiu, e disse em seguida:

- Vamos levá-los até lá.- ela se levantou, junto de seu marido, que a acompanhou
até a porta, andamos em silêncio até o subterrâneo daquele lugar, descemos
algumas escadas, em espiral, antes de nos depararmos com uma grande porta
de gelo, que se abriu com o toque de Viviane. E o que vi a seguir, foi palco para
os pesadelos das noites seguintes.

Perspectiva Feyre:

A porta foi aberta, Rhys segurava minha mão, e quando olhei para o homem, que
estava em uma cela transparente, com uma mordaça e com algemas pesadas, nas
mãos e pés, um arrepio involuntário correu por minha coluna. Ele não parecia humano,
Viviane franziu o cenho, algo estava errado.
“Ela ficou tensa, algo mudou enquanto eles não estavam aqui” - disse Rhys em minha
mente. Kallias deu um passo para trás no momento que uma mão quase acertou seu
rosto, os guardas estavam contaminados. Três deles haviam sido erguidos no ar, Nyx os
erguia, tentando mantê-los imóveis, meu parceiro cuidou dos outros três. Em segundos
eles foram dispostos em mais duas celas. Eu ouvi o coração de Vivi acelerado, Kallias a
envolveu em seus braços para acalmá-la.

- Não sabemos como isso aconteceu, tínhamos vindo aqui minutos antes de
vocês chegarem, - disse Kallias parecendo muito confuso. Me aproximei da cela,
a pessoa mantinha a cabeça baixa, deu um toque no vidro, para chamar sua
atenção, ela foi erguendo a cabeça aos poucos, e quando me encarou o fôlego
escapou de meu corpo, não conseguia distinguir suas íris, seu olhos estavam
tomados por um preto impenetrável, veias pretas subiam por seu pescoço, e
contornavam seu rosto, aquilo não era uma doença qualquer. Kallias se
aproximou do vidro e disse:

- Ele não estava assim, ainda conseguíamos ver seus olhos, eram azuis, o que
está acontecendo?

Ele estava inquieto, andava de um lado para o outro, pedi para que eles
abrissem uma fresta para eu entrar. “cuidado” - aquela voz,que eu tanto amava,
sibilou em minha cabeça, dei um curto aceno como concordância. Quando
entrei, um vento gélido, de congelar os ossos, passou por mim, aquela pessoa
grunhiu para mim, e parecia querer se soltar, realmente, como um animal. O
cheiro era insuportável.Me aproximei, com cautela, e fazia perguntas para
aquela coisa, e como eu imaginei, sua mente já não era capaz de formular
respostas. Fiquei em sua frente e me concentrei, o muro de seu subconsciente
estava escancarado, eu poderia olhar o que quisesse. Procurava por algo,
qualquer coisa, qualquer indício de vida, mas só havia a escuridão, escuridão
pura, e morte. Quebrei aquele elo com ele, dei as costas para poder falar com
eles, mas o olhar de assombro de meu filho fez com que eu canalizasse meus
sentidos, a tempo de desviar de um ataque, aquela pessoa tinha se soltado das
algemas e vindo em minha direção, em um golpe fatal. Rhys rapidamente
entrou na sala prendendo aquilo no chão, Viviane veio logo em seguida ver se
eu estava bem, meu coração galopava, como eu não previ isso? Nyx esperava
do lado de fora, me olhando com os olhos brevemente arregalados, aí que
minha ficha caiu, tinha sido questão de milésimos de segundos que tinha
acontecido.

- Como ele conseguiu se soltar?- disse agachando e segurando as correntes. - são


indestrutíveis, eram na verdade.

- O ataque não foi premeditado, que velocidade, e força. - dizia Rhys, perdido em
seus pensamentos.
- Foi por isso que consegui me desviar por pouco. - disse uma voz feminina, que
vinha da entrada. Era Aurora. - parece que essa praga se desenvolve com o
passar dos dias, e se as pessoas desaparecidas estão com isso, nos próximos
dias, o caos vai se instalar nesta Corte.

- Aqueles guardas, foram infectados em questão de minutos - disse Nyx. - Nessa


altura, quantas outras pessoas já não foram infectadas? E qual foi a origem?

- Temos muitas perguntas jovem, e pouquíssimas respostas, terei que falar com
Helion. Ele pode ter alguma noção do que se trata.Ou uma solução, que seja.

- Alguma chance de eles estarem sendo controlados? Por algo? Por alguém?-
disse Aurora. Sua fala destravou em nossa mente um medo antigo, mais
conflitos entre cortes, externamente e internamente. O início de uma
pandemia, após poucas décadas depois de uma guerra, que geraram baixas
consideráveis para as cortes, e o desequilíbrio econômico… Nosso pior medo
estava prestes a se concretizar, de uma maneira diferente, mais uma guerra
estava a caminho, e dessa vez, não tínhamos um inimigo conhecido…

CAPÍTULO 12

Perspectiva Aurora:

Surreal, meus pais simplesmente decidiram que eu iria para outra corte, sem o meu
consentimento. O pior foi todos me encararem para ver minha reação, eu queria
simplesmente enfiar minha cara em um buraco. Nesse momento eu estava no pequeno
espaço que usava para disparar facas e adagas em um alvo, quando estava estressada,
aquilo servia como distração, passados alguns minutos, eu não conseguia acertar o
centro do alvo, e estava me incomodando o fato da minha incapacibilidade de acertar
um simples boneco de gelo.

- Seu corpo está desestabilizado. - disse uma voz às minhas costas, sem me virar,
sabia a quem pertencia, Nyx.

- E quem seria esse “experiente”na arte de atirar facas? - perguntei a ele sendo
sarcástica. Uma adaga passou a milímetros do meu rosto, acertando a cabeça
do boneco.
- O garoto que teve treinos exaustivos desde os treze anos. - rebateu ele de um
jeito irônico.

- Muito interessante. - disse com um desinteresse notável. Senti mãos em minha


cintura e sua voz em meu ouvido:

- Fácil, fácil, você precisa treinar mais seus sentidos, princesa. - Tentei acertá-lo
com meu cotovelo, mas ele conseguiu desviar, segurando-o. Girei meu corpo na
tentativa falha de fazê-lo desequilibrar, mas ele sorria, sabia que eu não seria
capaz de derrotá-lo, prepotente e exibido eu diria. Eu iria dizer algo para tirar
aquele sorrisinho do rosto quando Mor surgiu ao nosso lado dizendo:

- Não queria atrapalhar, mas seus pais a chamam Aurora. - Olhei para ela
agradecendo por ela me salvar de mais uma humilhação. Apenas o encarei
fazendo uma cara feia e saí dali. Mas não antes dele soltar:

- Foi um prazer princesa, sempre que precisar. - revirei os olhos e segui em


direção onde meus pais provavelmente estariam. Nos calabouços, assim que
comecei a descer senti que tinha algo errado, quando pus os pés ao lado de
meus pais percebi, aquele homem parecia se deteriorar, seus olhos em uma
completa e infinita escuridão, por sua pele, surgiam veias pretas. Arqueei as
sobrancelhas, o que estava acontecendo?

- Não sabemos filha. - disse minha mãe, ela conseguia ler minhas expressões com
facilidade. - está mais agressivo também,o corpo parecia desacordado, sombras
violetas o contornavam, aquilo era obra de Rhysand.

- Você entende agora o quão risco você está certo?Nós não queríamos ter
tomado essa decisão sem te consultar, mas sua recusa seria certa, não temos
um treinamento pesado, mas eu e sua mãe já vivemos há séculos, sabemos nos
defender e .. - o interrompi, eu entendia suas razões e concordava, só não
queria aceitar.

- Eu vou, mas gostaria de fazer um pedido. - meus pais e os grão- senhores


arregalaram de leve os olhos, não esperavam que eu aceitasse sem resistência.
- Eu gostaria de obter o treinamento que Nyx teve, por favor.
Odiava pronunciar aquelas duas últimas palavras, mas eu não podia
simplesmente exigir, então, com muita dificuldade, aquelas palavras saíram de
minha boca.

- Se esse é o único pedido lady, considere feito. - disse Rhys, com um pequeno
sorriso nos lábios. Olhando em volta, minha ficha caiu:
- O que acontecerá a eles? - disse apontando para os prisioneiros.

- Vamos alertar a sociedade e ir atrás dos familiares, para ver se eles liberam a
execução, tenho certeza que, vendo eles, vão aceitar, mas caso não.. bem, não
pensamos a respeito. - disse meu pai.

Não conseguia medir a tristeza de cada familiar, ou conhecido, confirmar a


execução de uma pessoa importante. Mas o que poderíamos fazer?

- Por favor, se juntem a nós para uma refeição antes de irem. - minha mãe disse
nos guiando para fora. Meu pai e Rhysand permaneceram, e logo iriam nos
encontrar.
Elas foram conversando sobre assuntos distintos, quando chegamos na sala de
chá dois ajudantes apareceram trazendo alguns bolinhos e xícaras, sentei em
uma poltrona, enquanto minha mãe e Feyre dividiam um sofá, poucos minutos
depois, eu comia um bolinho de canela, Eva chega correndo em direção a mesa
de doces, pegando vários bolinhos e se escondendo atrás do sofá. Mor
apareceu momentos depois, provavelmente estava atrás da filha fugitiva, ela se
esparramou no meio das mulheres, e pegou o bolinho que estava na mão de
minha mãe, comendo em um bocado só. Eva me olhava, com o olhar
brincalhão, eu apontei para ela em direção a porta e me levantei, indo para o
lado oposto, fingindo um tropeço, três pares de olhos se voltaram para mim, no
segundo que um pequeno corpinho saia correndo pelas portas. Decidi segui-la.
Disfarçando sai pela porta, correndo atrás de Eva. Ela estava no cantinho de
uma sala, agachada, eu estava prestes a falar algo quando vi que ela sorria para
alguém. Era Nyx, encolhido ao seu lado, com a mão cheia de bolinhos.

- Bom saber que temos uma ladra entre nós. - falei chegando de surpresa,
arrancando um gritinho de surpresa e em seguida uma risada, de Eva.

- Ouvi você a dez passos daqui, deveria aprender a ser mais silenciosa alteza. -
disse Nyx me encarando e sorrindo.

- Não esperava que você coagisse uma criança a roubar doces. - disse séria.
Eva pareceu se divertir, pois olhava para mim e para Nyx com um sorriso
travesso nos lábios. Decidi me divertir um pouco, em um piscar de olhos eu
tinha os bolinhos em minhas mãos, eles olharam para suas mãos, agora vazias e
me encaravam.

- Já mencionei que sou bastante rápida? - Coloquei um doce inteiro na boca. -


Quem conseguir me alcançar eu entrego todos esses bolinhos e um doce de
chocolate que eu escondi. Os olhos de Eva e Nyx brilhavam, Nyx pelo desafio e
Eva por ter a chance de ganhar mais doces, e só para si mesma. Então sem aviso
prévio desapareci de suas vistas. Que a brincadeira comece.

Perspectiva Nyx:

Não acreditava, que, estava correndo atrás de uma feérica, atrás de doces, era
algo que eu e Zayn fazíamos com frequência, quando tínhamos cinco anos. Mas
o brilho de desafio que surgiu em seu rosto quando propôs a brincadeira, era
impossível não aceitar. Estava procurando por um dos corredores quando ouvi
uma risadinha, era Eva, segui na direção, mas ela rapidamente se calou, Aurora
estava com ela, e se meus sentidos apontassem para a direção correta, elas
estavam no último quarto à esquerda, daquele corredor. Escancarei a porta
procurando freneticamente por elas, não achando nada no quarto vi uma
janela aberta, olhando para baixo, vi que se parecia com um pequeno abismo, a
queda poderia ser bem feita. Olhando para cima vi um pezinho balançando na
beira. Aurora tinha escalado com Eva nos braços?Uau!
Decidi ir em outra direção, então pulando da janela voei até estar atrás delas, e
tudo indicava que elas não repararam, pois devoravam todos os doces. Cheguei
por trás das duas empurrando como se fosse jogá-las. Eva arregalou os olhos e
engasgou, já Aurora deixou escapar um grito entrecortado. Caí na risada, e
quando elas viram que tinha sido eu, Eva me olhou fazendo beicinho e
colocando a língua para fora, para mim. Eu apertei seu nariz até ela soltar
aquele risinho, que todos amavam. Elas saíram da beirada e foram mais para o
centro, dividindo, relutantemente, os restantes dos doces até acabar. Passou
alguns minutos e a pequena se deitou no colo de Aurora, que fazia carinho em
seus cabelos cacheados, e adormeceu. O vento da corte invernal era cortante,
então pedi para que Aurora me passasse Eva, aninhei ela nos meus braços e a
protegi, do vento, com minhas asas, que a abraçaram.

- Minha impressão sobre você melhorou um pouco, herdeiro da noite. - disse


Aurora olhando para o horizonte, onde o sol desaparecia. Apreciei aquela vista,
era surreal o tanto que o pôr do sol, contrastando com a neve dava uma visão
surreal, minha mãe adoraria pintar essa cena, então com um pensamento
enviei aquela visão a ela, que a recebeu imediatamente. “Não vejo a hora de
chegar em casa e ensinar essa paisagem às crianças" - sua voz soou em minha
mente, suave como sempre. Sorri de leve, só de imaginar a cena.
Ficamos naquela posição, sem conversar, por mais duas horas, até que minha
mãe surgiu voando até onde estávamos, dizendo que Mor estava morrendo de
preocupação com medo de sua filha se adoecer. Ela pegou Eva no colo, que
ainda dormia, e voltou ao saguão. Percebi que estava na hora de descer, então
me levantei, Aurora percebendo a movimentação se levantou.

- Se eu pular você me segura?. - disse ela, e antes que eu respondesse ela foi até
a beira e pulou. A visão de Jasmin surgiu em minha cabeça e uma dor aguda
passou por ela, curvei meu corpo, agora não, pulei em direção a Aurora que
caía, com um sorriso no rosto. Aquelas dores voltaram a me atingir, e minha
visão começou a embaçar, nos meus últimos segundos de consciência, gritei
socorro pelo laço com meus pais. Consegui manter os olhos abertos até que
minha mãe conseguiu pegar Aurora, a alguns palmos do chão. Então desmaiei,
em queda livre eu ia em direção ao chão, até que senti, ao longe, braços fortes
me segurando, pai. E o apagão veio em seguida.

CAPÍTULO 13

Perspectiva Aurora:

O que estava acontecendo? Nyx caía muito rápido, e parecia ter perdido a consciência,
me sentia culpada por aquilo. Feyre me pegou nos braços no momento que Rhys
segurou seu filho, ele estava inerte nos braços do pai. Onde eu estava com a cabeça?
Assim que fui colocada no chão meus pais me cercaram, me enchendo de perguntas,
balbuciei algo como, não sei o que houve, escorreguei. Parecia que Feyre sabia que eu
estava mentindo, mas estava mais preocupada com seu filho, Rhys pousou com Nyx,
Feyre correu em sua direção. Escutei Rhys dizer que ele tinha apenas desmaiado, que
iria levá-lo para um quarto. Meus pais os guiaram, segui para o meu quarto, precisava
tomar um banho e colocar meus pensamentos em ordem, fiquei um bom tempo na
banheira tentando assimilar o porquê dele ter desmaiado, seria algo comum? Qual o
motivo? A culpa já tomava conta de meu ser, se ele tivesse morrido, eu jamais me
perdoaria. Tremendo saí da banheira, me troquei e fui ao quarto onde Nyx deveria
estar deitado, mas chegando lá, vi a cama vazia. Olhei em volta e o vi no canto, em uma
poltrona, com a cabeça apoiada no encosto.
Cheguei mais perto, esperando ele desferir alguns insultos a mim, eu merecia, se não
tivesse pulado ele não teria ido atrás de mim, e bem.. Mas suas palavras não vieram,
ele apenas continuava, fingindo, não me notar ali. Um pedido de desculpas se formou
em minha língua e morreu em meus lábios.

- Dizer desculpa não é tão difícil Aurora. - disse ele erguendo a cabeça para me
encarar, tinha um singelo sorriso no rosto. Não parecia nem um pouco irritado
pelo o que tinha acontecido. - Me perdoe, não conseguir segurá-la, mas minha
mãe chegou a tempo suficiente para você não se estatelar no chão.- Ele me
pediu perdão?Eu tinha pulado para que ele me seguisse…

- Não se preocupe, faço saltos de lugares muito mais altos e perigosos que esse.
Meus tios me prepararam bem para essas situações. - Ele deu uma risada,
como se estivesse dito uma piada muito boa. - Bem, eles certamente não
contavam que eu desmaiasse no meio do percurso, você não sabe o que eu vou
sofrer na mão daqueles dois caso descubram, - ainda sorrindo ele deu uma
pausa de finalizou. - Não se culpe! Não foi culpa sua. Minha cara estampava
uma perplexidade imensa, minha boca estava aberta, não conseguia acreditar
no que ouvia. Eu ia dizer algo mas Mor entrou no quarto dizendo que estava na
hora de irmos, aparentemente minha mãe já tinha cuidado das minhas coisas,
então assenti e fui para o hall de entrada.
Meus pais estavam lado a lado, no pé da escadaria, eles pareciam chateados, os
grão-senhores estavam de frente para eles, abracei cada um deles, e murmurei
que amava eles, e que mesmo de longe tentaria ajudar. Eles me abraçaram e
beijaram minha testa, eu não gostava de despedidas, e de alguma forma,
aquela foi a mais doída. Fui para o lado de Feyre que me deu um sorriso
encorajador e segurou minha mão, Nyx foi para o lado do pai. Rhysand olhou
para os meus pais e disse:

- Tratei notícias o quanto antes, cuidaremos bem dela, você tem minha palavra. -
parecia que ocorria um certo tipo de conversa entre aqueles machos, pois após
alguns minutos meu pai assentiu, sério, para Rhysand. Mor veio para o meu
lado, e com Eva no colo, segurou minha mão. E em um piscar de olhos, eu já
não estava mais em casa, e sim na Corte noturna. Aquilo era… bem, vamos
esperar para descobrirmos juntos certo?

Perspectiva Nyx:

Desde que chegamos à Corte Noturna, eu não parava de pensar no que tinha
acontecido, minha cabeça estava a mil, e como sempre eu não consegui dormir.
Quando nos teletransportamos para o hall de nossa casa, Aurora ainda tentava
assimilar como chegamos tão rápido, ela parecia meio enjoada, o que era muito
comum nas primeiras vezes dessas passagens. Meus pais a levaram em um pequeno
tour e em seguida a acomodaram em seu novo quarto, ela agradeceu e disse que
descansaria. Eu estava na beira da janela, contando, pela décima vez, a Zayn, o que
tinha acontecido. Ele estava deitado no meu tapete brincando com suas mechas de
cabelo, parecia se divertir, mas eu sabia que também estava muito preocupado.
- Você precisa contar ao nossos tios.- disse ele me encarando. Se isso acontecer
novamente, você precisa ter algo em mente para não morrer quando chegar ao
chão. Eu sabia disso, e iria conversar com eles, mas não queria continuar
naquele assunto então tentei mudar:

- Como você acha que elas estão?. - Ele me olhou meio confuso, pela mudança
abrupta de assunto, e eu completei. - As humanas.

- Espero que, colocando o terror naquela corte, porque quando chegarem aqui,
não vai sobrar muitas ideias para nos atormentar. - disse ele rindo e vindo se
sentar no parapeito da minha janela. - Você acha que elas vão morar aqui?. -
perguntou ele.

- Muito provavelmente, mas eu não me surpreenderia se elas resolvessem ir


morar no bairro mais distante e simples possível, não acho que elas gostam de
dever favores. - era atormentador pensar tanto nelas, e em como tudo isso
aconteceu, e agora tinha Aurora, uma praga nova e desconhecida..

- Você parece preocupado, em relação a elas, o que houve? - Zayn me conhecia


bem o suficiente para saber que algo me incomodava, além do que ele já
soubesse. - Por que essa preocupação extrema com a adaptação delas?. Uma
resposta exata eu não tinha, eu só sentia que era o certo a se fazer, e não queria
que minha intuição estivesse errada.

- Pode parecer estranho, mas algo me diz que elas vão nos ajudar, em algo
grande. Mesmo sendo “apenas duas humanas” para muitos. - eu disse, e Zayn
apenas assentiu. Continuamos conversando até o sol raiar, ele também tinha
dificuldades para dormir, então não foi um sacrifício me fazer companhia.
Quando deu o horário descemos para o café, era um costume, toda a família
reunida, tia Amren não estava presente, tinha ido a Corte de Tarquin, ver seu
amante e procurar saber se algum indício dessa praga havia chegado lá. A longa
mesa estava composta por meus pais que se sentavam lado a lado, Aurora
estava do lado de minha mãe, na ponta da mesa. Tio Cassian e Nestha
ocupavam os lugares de frente para os meus pais, Elain estava ao lado de Rhys,
com Lucien ao seu lado, Azriel e Gwyn estavam de frente a eles. Ao lado de
Gwyn estava Mor e Emerie, Eva ainda dormia. Zayn foi em direção aos seus
pais, os cumprimentou e se sentou ao lado de Lucien. Sentei ao seu lado, de
frente para Emerie. Como estávamos, quase, todos presentes meu pai
anunciou:
- Amren foi tratar de outros assuntos na corte Estival, e deve estar de volta pela
noite, não fomos informados de nenhum outro caso dessa praga, mas não quer
dizer que não tenha atravessado as fronteiras, não sabemos de onde, como e
por que. São muitas perguntas, assim que possível, quero que você Lucien. -
meu pai encarou Lucien que assentiu. - Vá para a corte Outonal descobrir se
houve algum incidente parecido com esse, seu irmão ficará feliz com a visita. -
tio Lucien assentiu e meu pai continuou. - Azriel, vá a corte Crepuscular e faça o
mesmo. Mor, tome conta da diurna. Hoje, Feyre e eu iremos a corte primaveril,
traremos duas humanas.
Naquele momento um suspiro conjunto soou, Aurora ergueu o olhar de seu
prato e encarou meu pai, sem entender nada. Assim como as outras pessoas
que não estavam na sala quando eu os comuniquei.

- Não se preocupem, antes de as ajudarmos, faremos perguntas e veremos se


elas são sinceras e verdadeiras, se tudo correr bem, vamos abrigar elas. Os
motivos que fizeram meu filho nos fazer esse pedido, não foi claro o suficiente,
mas acredito que há algo maior e puro por trás.
Azriel mantinha o cenho franzido, depois de ser pai, seu sentido protetor
estava em alerta, ele não aceitaria ninguém que fosse uma ameaça. Emerie e
Mor se olhavam em uma conversa silenciosa.

- Vamos treiná-las. - disse Cassian, fazendo a atenção ir para ele. - penso que
pode ser bom para elas, e claro, Aurora, recebemos o seu pedido, você também
passará por esse treino. Ela sorriu, recatadamente, agradecida.

- Então é isso. - disse minha mãe.- os recados foram passados, façam uma boa
refeição.

CAPÍTULO 14

Perspectiva Feyre:

Antes de abrir meus olhos já sabia onde estava, o cheiro de flores encheu o ar e
preencheu meus sentidos.
Segui, de mãos dadas, com Rhysand até o portão, onde Jasmin e Adelle
estavam, tinham um belo sorriso no rosto.
- Não sabia que Tamlin, tinha virado um casamenteiro. - disse meu parceiro,
fazendo com que as meninas nos olhassem um pouco confusas, antes de elas
falarem algo Tamlin surgiu. Elas apenas ergueram, timidamente, a coroa de
flores em minha direção e uma flor solitária a Rhysand, que sorriu e agradeceu.
Tamlin nos guiou pelo corredor, e elas fecharam os portões. A decoração estava
sublime, um tapete de flores naturais, que começava abaixo das escadas
principais e seguia até o meio de uma grande árvore, supus que a noiva sairia
por ali, em segundos decidi que gostaria de presenciar aquele casamento. Puxei
de leve a manga de Rhysand que me olhou, com um olhar questionador. “Quero
participar da cerimônia, fale com Tamlin, e venha me acompanhar”. Uma
gargalhada passou entre nosso laço e ele falou em minha mente “sempre tão
mandona”. E me puxou para si dando um beijo rápido em meus lábios,
seguindo Tamlin para dentro da propriedade.
Aguardei até que as moças chegassem ao meu lado, continuamos andando em
silêncio, elas estavam sem graça e com vergonha, conseguia sentir isso. Assim
que eu iria abrir a boca para elogiar o trabalho delas, uma senhora veio
correndo em nossa direção.

- Graças ao caldeirão vocês estão aqui, alerta vermelho. - disse a senhora já


ofegante, e percebi as garotas ficarem em alerta.- A noiva, está tendo uma crise
de choro, a maquiagem está borrando. - Quando eu ouvi aquilo, reprimi uma
risada, mas as duas começaram a gargalhar. Jasmin disse:

- Eu analisaria esse fato como um alerta amarelo Ari. - disse ela abraçando a
mulher.- vou dar um jeito nisso. - E olhando para Adelle completou: - Poderia
levar a senhorita para algum lugar com uma vista privilegiada?
Nesse momento a senhora parece ter se dado conta de minha presença e fez
uma reverência antes de partir em disparada enquanto Jasmin a seguia, e como
pediu, Adelle me levou a uma das primeiras fileiras, agradeci e ela seguiu para
dentro da casa para ver se precisavam de ajuda extra.

Perspectiva Rhysand:

Desde a última vez que estive aqui, esse lugar estava em construção, e Tamlin
tinha feito um bom trabalho, por incrível que pareça. Não forçamos uma
conversa, não precisávamos disso, ele apenas me passaria as informações das
minhas, quase, e, possivelmente, protegidas. Eu também teria uma reunião
com ele sobre os acontecimentos da invernal, combinamos que ele deveria
saber, já que a maioria dos estrangeiros atravessavam seus limites. Assim ele
precisaria estar em alerta, aquilo não poderia se estender.
Chegamos ao seu escritório e ele foi até a janela, olhou para fora, dava de
frente para o jardim, e me indicou uma poltrona à mesa. Pensei que ele se
sentaria do outro lado, mas ficou de pé, e manteve seu rosto para a janela.

- Acho que não vai precisar se preocupar com elas. - disse ele seco. - Apenas
tome cuidado para, elas, não acabarem com seu dinheiro e dar umas de
casamenteira. - disse ele com uma risada sem humor. - Elas são muito curiosas
e diretas. Talvez seja bom para elas terem algum treino.
Ele dizia aquilo em um tom manso, o que era nada usual vindo de Tamlin,
acenei positivamente.

- Tenho um assunto mais urgente, mas podemos retomar sobre as garotas, em


instantes. - eu disse, e ele meneou a cabeça e respirando fundo foi em direção a
sua cadeira. Se sentou e franziu o cenho. - Temos um problema. - fui direto, não
valia a pena criar jogos naquele momento.

- Fale. - disse ele antes que eu contasse de tudo que sabia, podia ser estranho a
alguns anos atrás, mas um acordo de sinceridade entre essas duas cortes foram
selados, e até então, não tínhamos tido problemas com isso. Ele prestou
atenção calado, e pensativo, parecia que vinha se perguntando caso tivesse
deixado alguma informação importante passar. Quando finalizei ele tinha um
vinco em sua testa, de preocupação, sem dúvidas.

- Não estamos preparados para isso Rhysand. - disse ele. - Essa praga pode trazer
o caos, faz poucos anos desde a guerra e…
Eu entendia a confusão e medo que ele estava sentindo, ele pensava com a
cabeça apoiada nos pulsos.

- Vou cuidar para que tropas sejam distribuídas na fronteira, assim eles terão
controle de quem se arrisca a passar pela floresta, mas será isso? Não sabemos
de onde vem, através de magia?. - pergunta ele.
Eu realmente me perguntava isso desde que soube.

- Eu espero que não Tamlin. Sabemos a única fonte de poder capaz de fazer isso,
e não creio que queiramos enfrentar novamente. Então torcemos para que seja
uma epidemia que seja controlada, já passamos por isso algumas vezes.
Ele riu, realmente, havíamos passado por várias situações desesperadoras, mas
assim como eu, ele não acreditava que se tratava apenas de uma doença
transmissível, e tínhamos que estar preparados para o pior. Os nossos exércitos
eram recentes, porém maiores, mas eu tinha a impressão que para enfrentar
esse mal, não seria preciso exércitos.

- Me fale sobre elas, o que você descobriu?. - Tamlin me avaliou por instantes
antes de abrir a boca e falar…

Perspectiva Adelle:

Jasmin tinha me deixado, SOZINHA, com a grã- senhora, e eu quase tive um


pequeno infarto. Eu marchava para dentro da mansão com a intenção de torcer
aquele pescoço, mas esse plano se desmoronou quando entrei no quarto e me
deparei com uma cena decadente. Jasmin tentava, sem sucesso, acalmar a
noiva, parecia que ela queria dar um tapa nela, para fazê-la parar de chorar, e
antes que chegasse a tanto, tomo seu lugar. Jasmin entendeu o recado e foi
retocar a maquiagem da mãe e da avó, da noiva, que tinham se emocionado
também. Segurei o rosto da noiva em mãos e encarei seus olhos, não sei por
que, mas funcionou, ela foi se acalmando até não haver nenhuma lágrima em
seus olhos. Sequei seu rosto úmido e Jasmin se pôs em ação, consertando a
maquiagem.

- Você está deslumbrante. - disse a ela quando minha amiga se afastou da noiva e
mostrou o resultado final. - Com certeza a noiva mais linda que eu já vi.
Ela sorriu para mim e se olhou no espelho novamente, admirando o seu reflexo.

- Eu tenho crises de ansiedade e pânico, constantes, obrigada por me ajudarem


com isso. É um dia especial, mas ao mesmo tempo, de grande mudança, e isso
costuma me apavorar. - ela gargalhou para si mesma.

- Somos assim. - eu disse a ela. - Eu e Jasmin somos experts em ajudar a outra


com as crises. Jasmin sorriu e anunciou:

- Creio que seja a hora de irmos, a entrada da noiva será em minutos. - beijamos
sua bochecha e saímos.
Fomos com os braços entrelaçados, e sentamos na primeira fileira, como Asa
pediu, e pouco tempo depois os músicos começaram a tocar, foi uma canção
suave, que envolvia seu corpo e mente, o noivo entrou, e parecia prestes a
chorar, quando ele chegou no centro, foi a vez da mãe e pai de Asa entrarem,
eles pareciam estonteantes. Assim que eles pararam a direita do altar, uma
música, suave mas que trazia uma energia inebriante, começou a tocar. Era Asa.
Nos levantamos para ver sua entrada, assim que a porta foi aberta, perdi o
fôlego, ela estava deslumbrante, com seus braços enlaçados com sua avó. O sol
começou a ir embora, no momento que ela atravessava a passarela, o sol
refletiu em sua coroa, e um brilho celestial tomou conta do ambiente, todos
pareciam chocados, a cena era simplesmente magnífica, como se ela estivesse
saído de um pote de diamantes. Seu noivo foi em sua direção, dando um beijo
carinhoso em sua testa e a levando para o altar, a música cessou e todos nos
sentamos. Eu via Ivar sentado em uma das cadeiras ao fundo, parecia
entediado, e quando me pegou o encarando ele apenas sorriu e voltou o olhar
ao casal, olhei para a janela onde vi Tamlin, ele observava a cena, mas tinha os
olhos cravados nos grão-senhores, ele teve alguma história com Feyre, percebi,
uma com um final infeliz, ao contrário do casal, que pareciam dois jovens
apaixonados.
Foquei na cerimônia a minha frente, Jasmin ao meu lado parecia muito
animada, estranho, ela nunca gostou de casamentos. Foi rápido, eles trocaram
os votos,e foi difícil não deixar algumas lágrimas rolarem, vi de canto de olho, a
Grã-senhora enxugar seus olhos. Jasmin não chorou, mas tinha um sorriso
genuíno nos lábios. Tinha começado a ficar escuro quando uma brisa passou
por nós e envolvendo o casal, como um pequeno redemoinho, e quando
passou, acendeu várias luminárias que estavam penduradas nas árvores, e nas
estruturas de madeira, que cercavam as cadeiras. E essas luzes foram se
acendendo até criar um caminho, para onde seria o banquete. Os noivos foram
na frente, fiquei com Jasmin até ter sobrado nós duas nas cadeiras. Ela parecia
chateada, e eu entendia, estava frustrada por que teria que ir para outro lugar,
eu também estava gostando dessa corte, mais uma mudança,em pouco tempo.
Onde isso iria dar…

Perspectiva Jasmin:

Demos um tempo para os noivos e seus familiares estarem bem alimentados e


confortáveis até irmos para o lugar do buffet nos servir, pegamos nossos pratos
e voltamos para as cadeiras, o jantar estava delicioso, conversávamos sobre
como foi divertido planejar o casamento e fazer os vestidos. Estávamos alegres
e tristes, foram dois dias, e já tínhamos nos sentido mais em casa do que nunca.
Mas, vamos superar. Ficamos bastante tempo conversando até sermos
surpreendidas por Ariane que nos informava que os homens iriam ajudar a
desmontar as coisas e guardar, pois estava dando o horário que tínhamos que
seguir. Tiramos os saltos e ajudamos, desmontando as tendas, levando cadeiras,
e em pouco tempo estava tudo como antes. Todos se despediram de nós, e
quando foi a vez dos noivos e Ariane, eles nos deram um abraço em conjunto
agradecendo pelo casamento, um milhão de vezes, dava para ver a alegria
naquelas palavras. E então todos se foram, e ficamos eu e Adelle olhando para
o jardim, que momentos antes, estavam cheios de vida. Decidimos tomar um
rápido banho para partirmos, aquele casal, já tinham sido pacientes o
suficiente, não poderíamos ficar enrolando. Então coloquei uma calça de couro
e uma blusa de botões preta, Adelle colocou um vestido midi, de botões,
rodado, na cor rosa. Não tínhamos o que levar, então com um olhar de
despedida fomos para o hall de entrada.
Tamlin, Ivar, Rhysand e Feyre nos esperavam, olhei para Tamlin e Ivar e disse:

- Obrigada pela hospitalidade. - e olhando para Ivar completei sorrindo. - E me


jogar do cavalo. Ele sorriu com uma ponta de diversão. - Nunca vou me
esquecer disso. Espero conseguir compensar de alguma forma, a pequena
dívida, que vocês ficaram na feirinha.
Adelle já ria do meu lado e proferiu alguns agradecimentos, feito isso Rhysand
disse:

- Está na hora. - e estendeu a mão, assim como Feyre, então peguei na mão de
Rhys enquanto Adelle fez o mesmo com Adelle. Meu olhar parou em Ivar, ele
me olhava com uma intensidade avassaladora, mas sua expressão continuava
neutra. Sua boca se mantinha em uma fina linha.

- Obrigada por cuidarem delas. - disse Feyre olhando para aqueles dois machos. -
Vamos para casa querido. Olhei para Ivar uma última vez e então, não vi mais
nada.

Perspectiva Nyx:

Estávamos todos reunidos, TODOS, meu tio Cass e Azriel estavam em um canto da sala
conversando, enquanto Azriel balançava o pequeno Cardan em seus braços, ele tinha
apenas alguns meses de vida. Gwyn, estava sentada no sofá junto das outras mulheres,
ela tinha um livro em seu colo, Amren tinha uma taça de vinho em mãos, Elain
conversava distraidamente com Emerie, Nestha conversava animadamente com Mor e
Gwyn, e Zayn brincava com Eva e Aurora. Eles estavam atrasados, e isso começou a me
preocupar.

- Se você não parar de andar eu vou te amarrar nesse sofá. - disse Amren
enquanto tomava de seu vinho.
Fui em direção a Zayn e sentei no chão, me entretendo por poucos minutos
antes que a voz de minha mãe soasse em minha cabeça “Estamos indo.”
Levantei de supetão, fazendo todos aqueles pares de olhos se virarem em
minha direção, avisei que eles estavam vindo, Eva e Cardan foram levados por
Nuala e sua irmã, a um cômodo ao lado, a conversa não seria para seus
ouvidos. Todos se sentaram nos sofás e poltronas daquele hall.
Uma luz surgiu no meio do espaço então eles surgiram, todos se levantaram,
encarando aqueles dois seres que seguravam as mãos dos meus pais. Jasmin
arregalou os olhos quando viu quantas pessoas estavam presentes, e Adelle
parecia querer enfiar sua cabeça em um buraco, de vergonha. Elas soltaram as
mãos e ficaram lado a lado, rapidamente Jasmin se recuperou do choque e
ficou séria, e Adelle mantinha um olhar tímido.

- Família, conheçam Jasmin e Adelle. - disse Feyre apontando para as duas.

Perspectiva Jasmin:

Eu estava em choque, por que tantas pessoas estavam presentes?Evitei encará-los, pois
poderia parecer ofensivo, mas era impossível não espiar, tinha um homem, que parecia
uma muralha, em pé no canto da sala, abraçado a uma feérica, que tinha o semblante
mais assustador possível, ao lado vi a cópia de Zayn, mas com uma cicatriz e um olho
de metal, com as mãos sobre o ombro de uma mulher parecida com Feyre, que tinha
um sorriso no rosto. O resto foi como um borrão, sorrisos, olhares precavidos e
desconfiados. Achei melhor mirar o chão, maldita hora que aceitamos vir para cá.
Adelle mantinha seu olhar cravado em Zayn, como se ele fosse seu porto seguro, um
ponto que ela não desviou por um segundo.
Os nomes de cada um foram devidamente apresentados, mas não me lembro muito,
estava nervosa demais para isso. Após alguns minutos torturantes fomos instruídas a
seguir aquele casal até uma parte mais afastada, de frente a dois tronos. Eles se
sentaram e quando olhei em volta, vi que os outros estavam de pé e com os olhos
cravados em nós, segurei a mão de Adelle, que a apertou de volta. Então Feyre
começou a falar:

- Para aceitarmos vocês aqui, precisarão responder apenas uma pergunta. E


sejam sinceras, não toleramos mentiras. - ela disse essa última frase com um
tom estranho, de autoridade, não tinha ouvido isso dela até então.

- Sejam verdadeiras e não tentem nos enrolar. - disse Rhys antes de perguntar. -
Por que vocês foram em direção e encararam o perigo da floresta feérica?. Um
suspiro conjunto foi despejado pelo salão, acho que ninguém esperava por
aquela pergunta.
Aquilo nos atingiu como um baque, não esperava por isso, eu iria responder, como
tinha feito das outras vezes, mas dessa vez um gosto amargo tomou conta de minha
língua.
Adelle percebeu que eu tinha travado e abriu a boca para falar algo mas se conteve, ela
não conseguia também.

- Precisávamos de comida. - consegui falar entredentes, eu estava suando?

- Minhas protegidas, por que vocês mentem para nós? - disse Rhys com uma voz
sombria.

CAPÍTULO 15

Perspectiva Adelle:

Como? Não tinha como eles saberem, tinha? Uma gota de suor escorria pela
testa de Jasmin, falar tinha tomado um esforço muito grande, o que estava
acontecendo? Veneno. A resposta veio clara em minha mente, uma voz
feminina, reconhecida: Feyre.
“Apenas um tônico da verdade, não vai fazer mal algum”. Aquela voz trovejou
na minha cabeça.

- Eu.. eu não.. - Jasmin tentava falar mas não conseguia respirar, percebi que eu
só não estava pior pois não tinha dito nada.

- Jasmin pare, PARA. - dei um chacoalhão nela, ela tremia. Ela me olhou
assustada, veneno, disse para ela, as palavras saíram normalmente, porque era
uma verdade.

- Não me façam perguntar de novo! Por que? Última chance. - disse Rhys se
levantando. - Jasmin, me conte a verdade. - ele vinha em sua direção.
Todos olhavam a cena, alguns com pena, outros com um olhar indecifrável.
Jasmin queria dizer algo, mas seu pescoço estava ficando vermelho pelo
esforço, ela não conseguiria mentir, não mais, era o fim da linha..
Quando ele percebeu que ela não diria nada ele olhou em minha direção,
quando eu comecei a falar Jasmin tapou minha boca, com lágrimas nos olhos.
- Minha paciência chegou ao fim, menina. - disse Rhys olhando fixamente para
Jasmin. Eu não sabia o que estava acontecendo. Mas Elain, mãe de Zayn, gritou
vindo em nossa direção:

- RHYSAND, NÃO! - ela gritou mas era tarde demais, pois o grito mais macabro e
assustador que eu já tinha ouvido, escapou dos lábios de Jasmin. Ela começou a
se contorcer, gritando para parar. Rhys deu um passo para trás assustado.

- SAIA DA MINHA CABEÇA! - seu grito era estridente,. - VOCÊ ESTÁ ME


QUEIMANDO! SAI DA MINHA CABEÇA!!!!!. - ela segurava sua cabeça e apertava,
o que estava acontecendo?

- Rhys o que você.. - Feyre começou a dizer mas se calou quando sentiu o chão
tremer, as janelas tremiam, parecia que tudo iria desabar. Os móveis
começaram a balançar, sons de água vinham do lado de fora, e batiam nas
janelas, O QUE ESTAVA ACONTECENDO? Eu tentava me aproximar de Jasmin
mas ela gritava alto, mais alto do que achei que seria possível. Sombras roxas e
pretas envolveram seu corpo e ela foi erguida, era Nyx, ele a controlava, ele
segura ela em seus braços e segura seu rosto, ela está quase desacordada.

- Por favor, acabe com isso, isso dói- diz ela antes de perder a consciência em
seus braços. Os tremores pararam, eu estava de boca aberta. Não conseguia
pensar em como aquilo tinha acontecido, o que Rhys tinha feito com ela?

- O que você fez? - eu gritei para ele, com lágrimas que queimavam minha pele.
Ele tinha um olhar atordoado, e não respondia.

- Elain. - chamou Feyre. - O que foi isso?

- Eu tentei avisar, segundos antes de Rhysand invadir a mente dela eu tive a visão
do que aconteceria. - e virando para mim ela completou. - Me desculpe! Não
consegui ajudar a tempo.

- Nunca vi algo assim antes. - disse Amren vendo Jasmin nos braços de Nyx. Ela a
analisava como se fosse um quebra-cabeça.

- O que você fez Rhys?- perguntou Feyre com um pesar nos olhos.

- Nada! Eu juro querida, eu ia ler seus pensamentos como o de qualquer um de


vocês, sem intenção de machucá-la. Ela não tem escudos mentais, então não
teria como saber que eu estava lendo sua mente. - disse ele, encarando minha
amiga, que estava desmaiada, tinha arrependimento em seu olhar.
- Olhe minha mente! - ordenei. - Quero saber se isso é verdade.

- Mas e se.. - Feyre começou a dizer.

- Eu quero!- falei séria, Rhys assentiu antes de se concentrar em mim, não senti
nada. Comecei então a pensar no casamento, na cena da noiva, quando o sol
batia em sua coroa e…

- E foi como se Asa fosse um diamante em formato de pessoa.. - completou Rhys,


e eu fiquei chocada.

- O que ela tem?- perguntei mais para mim mesma, e fui em direção de Jasmin,
ela parecia descansar.

- Adelle. - uma voz me chamou, era masculina, quando olhei em volta


procurando pelo dono vi que era Azriel. - Por que vocês saíram de casa?- ele
tinha um olhar acusador.
Respirei fundo, e quando comecei a contar, Jasmin deu um solavanco nos
braços de Nyx respirando profundamente, como se tivesse perdido o oxigênio e
estava tentando recuperá-lo.
A abracei, ela afagava meus cabelos, todos a encaravam, mas ela estava normal,
ainda era minha amiga irmã ali. Ela massageou as têmporas e se levantou, ficou
um pouco tonta no início mas foi até o centro, a segui, aquilo não seria fácil.

- Jasmin eu.. - Rhys tentou falar mas Jasmin apenas o encarou, ele entendeu que
era para deixá-la falar.

Perspectiva Jasmin:

- Meu nome é Jasmin Hale. - Algumas pessoas ergueram as sobrancelhas,


reconhecendo o sobrenome. - Fui nascida e criada, em uma vila humana,
próxima a fronteira. Meu pai, Isaac Hale, era como um chefe na vila, respeitado
por todos, minha mãe morreu quando eu ainda era pequena, então passava a
maior parte do tempo na casa de Adelle, nossa família era amiga, então não
havia problema nisso, quando os pais de Ade morreram, o último pedido deles
ao meu pai, era que cuidassem dela, então Ade veio morar conosco assim que
aconteceu. Meu pai era um homem violento, ele participou da guerra de vocês.
- disse com ironia. - Minha mãe me dizia que ele era estressado antes, mas
após a guerra, tudo piorou. Ele era um homem assombrado, era medroso, e
descontava esse medo em sua filha e em sua mulher, queria parecer estar no
controle da situação, quando percebia que estava desesperado. E bem.. esse
era o jeito que ele encontrou para obter o controle.
Um dia, tinha ido passar a noite na casa de Ade, porém esqueci meu livro,
então voltei para buscar, ouvi uma discussão, até aí, nada fora do normal. Entrei
escondida pela minha janela e fui arrastando até pegar meu livro, eu iria dar as
costas caso não tivesse ouvido o som de um vaso quebrando, e o silêncio
absoluto que se seguiu, me esgueirei pela escada e vi meu pai com metade de
um jarro na mão, e minha mãe caída. Devo ter feito algum barulho pois Isaac
ergueu a cabeça para as escadas, em direção ao meu quarto, e começou a subir,
desesperada saí pela janela aos tropeços, e fui para a casa de Adelle. Eu estava
em choque, contei o que tinha visto, e ela sabia o que aconteceria caso alguém
soubesse, então ela ficou abraçada comigo o resto da noite. No dia seguinte
meu pai veio na casa de Ade e disse aos seus pais que minha mãe estava muito
doente, e perguntando se eu poderia ficar na casa deles, pois ele não queria
que eu adoecesse. Fingi preocupação quando ele disse aquilo, e falei que iria lá
todos os dias para saber como ela estava, três dias depois ele voltou dizendo
que ela não tinha resistido, minha ficha caiu, eu ainda tinha esperanças que ela
estivesse viva, eu nunca mais veria o sorriso doce de minha mãe, e não passaria
horas conversando sobre o único livro que eu tinha. Foi devastador, e por dias
eu não conseguia comer, ou conversar, o castigo era constante, mas eu não
ligava mais. E isso servia para que aquele homem ficasse mais nervoso e
agressivo. Até que anos depois eu não aguentei,nessa época Adelle já morava
conosco, ele brigava comigo por eu ter feito a comida do jeito errado, ou algo
do tipo, e que se acontecesse novamente eu iria me encontrar com minha mãe.
Eu perdi o controle.

- O que você fez Jasmin? - perguntou Feyre me olhando, parecia que ela
conseguia ler minha alma. Não desvio o olhar do dela quando respondo:

- Eu o matei.. - e um sorriso surge nos meus lábios.


CAPÍTULO 16

Perspectiva Aurora:

Soltei um suspiro surpreso, achei que realmente elas estivessem caçando, por que
decidiram sair, ou melhor, fugir? Quando Jasmin gritou, tivemos que tampar os
ouvidos, a casa começou a tremer, vi o momento que as asas de Cassian cercaram sua
esposa, e Azriel apareceu em segundos segurando as crianças, se fosse necessária uma
fuga.. mas não era como se a casa fosse rachar ao meio, certo? As águas batiam na
janela, como uma tempestade, minha cabeça rodava. Não sei o que Nyx fez, ou se a
dor foi o bastante para ela perder a consciência, mas assim que aconteceu tudo se
acalmou, como se nem tivesse ocorrido. E agora ela tinha acabado de anunciar o que
estava se recusando. Ela havia matado seu pai, quando essa declaração saiu pelos seus
lábios, Feyre parecia mais relaxada.

- Eu não sei ao certo como aconteceu. - continuou ela, Adelle mantinha a cabeça
baixa. - Mas em um momento eu me via cega de ódio e em segundos, a faca
estava cravada em seu peito, vi a vida se esvair daqueles olhos, ele caiu com um
baque, e fui levada ao dia em que ele tinha matado minha mãe. Adelle chegou
minutos depois e com uma expressão de horror andava de um lado ao outro.

- Você se arrepende do que fez? - perguntou Rhys, ainda tenso. Ela sorriu, mas
estava carregada de amargura.

- Não, nem por um segundo. - disse ela encarando cada um de nós, quando seu
olhar caiu sobre mim, ela sorriu e continuou. - Faria novamente, quantas vezes
necessário. Nunca deixei que ele encostasse em Adelle, mas sei que isso não
duraria por muito tempo.

Feyre e Rhysand conversavam pelo olhar, e assentindo um para o outro Feyre se


levantou e se dirigiu a pequena multidão:

- Você se lembra do que aconteceu? - Feyre perguntou e Jasmin assentiu. - Já


tinha acontecido antes?

- Não que eu me lembre. - disse Jasmin. - Foi como se tivesse ateado fogo em
meus órgãos e cabeça. Nunca senti dor igual.

- Não sabemos o que houve aqui, e nem os motivos. Mas prometo que vamos ir
mais a fundo nisso. - disse Rhys. - e me perdoe por tentar entrar em sua mente.
- Às vezes Jasmin. - disse Feyre chamando a sua atenção. - Tem pessoas que não
valem o ar que respiramos. Estou orgulhosa de você. Assim que aquelas
palavras foram ouvidas por Jasmin, sua expressão relaxou, parecia que se sentia
grata.

- Bem-vindas à Corte noturna. Essa reunião acabou, vamos apresentar seus


aposentos. Por gentileza, Aurora, Nyx e Zayn, peguem as crianças e me sigam. O
restante segue para a sala de reuniões. - dito isso, peguei na mão de Eva e fui
acompanhando com Feyre nos guiando. Jasmin estava muito quieta, e Adelle
parecia perdida em seus pensamentos. Quando Feyre mostrou onde elas
ficariam, no quarto ao lado do meu, elas entraram em silêncio.

Perspectiva Rhys:

Estávamos a postos na sala de reunião, todos pareciam querer dizer algo, mas se
continham, Feyre ainda não estava presente. Assim que ela entrou, fechou a porta
atrás de si. Todos viraram para ela, com perguntas na ponta da língua. Amren foi a
primeira a quebrar o silêncio:

- O que você viu? - perguntou ela. - Enquanto esteve conectado em sua mente, o
que você viu ou sentiu Rhys?
O meu olhar sombrio se prendeu no rosto de minha imediata e respondi:

- Nada, apenas escuridão. Pura escuridão.

Todos estávamos digerindo aquela resposta, e Feyre olhou para mim, com a
testa franzida.

- Igual quando você sentiu naquele dia, com Nestha? - perguntou Cassian.

- Não! Foram sensações diferentes, Nestha emanava a morte encarnada, na


mente de Jasmin só existe a escuridão, como um abismo sem fim. - disse a eles.

- Não sei se acredito que ela é apenas uma humana que matou o pai. A casa
tremeu Rhysand. Não sei como, apenas com um grito, parecia que a casa iria
desmoronar sobre nossas cabeças. - disse Azriel se exaltando, vi o momento em
que Gwyn colocou a mão em suas costas e ele relaxou.

- Nunca vi algo do tipo. Não podemos deixá-la sem supervisão, até descobrirmos
o que ela tem. – disse Mor, que estava no canto da sala.
- Já ouvi histórias de humanos com poderes, mas a fonte de um poder assim, não
pode vir de um lugar bom. E fazem séculos desde que trombei com um humano
que manipulava o fogo, e era em uma escala muito pequena. - disse Amren, se
ela não soubesse de nada sobre isso, estávamos no escuro mais uma vez, sem
saber por onde começar.

- Percebemos que a causa foi a dor, mas talvez não seja apenas isso. - disse
minha parceira. - Temos que analisar ela, principalmente durante os treinos,
não pegue leve, leve-as à exaustão. Assim teremos uma ideia de
comportamento.
Cassian e Azriel assentiram.

- Vocês acham que têm algum tipo de ligação? O Nyx e.. - começou Lucien, mas
eu o cortei.

- Não! Impossível, seria como reviver um dos meus pesadelos, e está em


segurança- eu disse.

- Precisamos verificar Rhysand, não tivemos notícias desde a guerra, algo pode
estar acontecendo. - Falou Nestha. Ela estava certa, mas aquilo de novo… eu
não podia aceitar.

- Amren. - chamou minha esposa. - O que você acha que devemos fazer?
Não tínhamos problemas em pedir conselhos e ajuda uns aos outros, mas
naquela situação, Feyre só fez aquela pergunta porque ninguém mais tinha uma
noção clara do que fazer, certamente, nunca passamos por isso, então
precisávamos de toda ajuda disponível.

- Não sei até onde minha ajuda será válida, não passei por situação parecida em
toda minha existência, e temos duas complicações agora. Duas direções e dois
problemas distintos, não sei se….
Ela se calou, os olhos dela brilhavam, mas não de alegria ou lágrimas e sim de
surpresa, aquilo não era boa coisa…
- Amren o que.. - Elain começou a dizer mas Amren a interrompeu:

- Eu espero estar muito enganada, muito mesmo, mas, e se não for dois
problemas e apenas um só. - Ela refletia sozinha.

- Amren, pelo caldeirão desembucha. - Ralhou Azriel


- Essa praga pode estar interligada com Jasmin, - o peso daquelas palavras
fizeram todos vibrarem de surpresa. - Vocês mesmos disseram que não viam
nada na mente daqueles infectados, mas que eles agiam como animais, Jasmin
age normalmente para mim, e parece tomar suas próprias escolhas, mas no
momento em que teve contato com o seu poder..

- Era como um animal sendo ferido.. - completou Feyre.

- Ela pode ser apenas uma hospedeira. - disse Cassian. - Que se manteve forte o
suficiente para sobreviver à praga.

- Ou… ela pode ser a parasita. - disse Nestha.

- Mas ela estava na primaveril. - Lucien disse. - Como pode ter infectado as
pessoas na Invernal? E porque ninguém na primaveril teve o mesmo fim?

- Ela não precisa ser necessariamente a única. - Disse Mor, com preocupação.

- É muito perigoso ela ficar aqui, as crianças… - disse Gwyn. - É uma ameaça.

- Essas ameaças têm como base uma teoria, uma teoria sólida, mas não
podemos simplesmente largá-la, como vamos monitorar seus passos ou ações?
Vamos simplesmente passar esse perigo para outro? - disse Feyre, com sua voz
de Grã- Senhora.- Lançaremos o feitiço de proteção de Helion sobre as crianças,
isso as manterá seguras.

- A pergunta é, quem é tão poderoso a ponto disso?- perguntou Nestha. - Não é


possível que quem carrega esse poder não possa fazer ele mesmo, sozinho. Só
há uma razão para que use “mensageiros”.

- Ele está longe o suficiente para não conseguir. - disse Elain, e seus olhos se
assombraram. Lucien sabia o que a esposa falaria a seguir:

- Estamos lidando com uma praga, e a origem dela, é o próprio Caldeirão.

CAPÍTULO 17

Perspectiva Adelle:
Foi um dia bem tumultuado, eu tinha que admitir, Jasmin estava mais quieta que o
normal, e eu entendi completamente, quando ela começou a gritar, algo em mim se
quebrou. Agora ela estava na janela com os olhos fechados, pensando no que tinha
ocorrido, com certeza. Andei pelo quarto, ao contrário da corte primaveril, ali o quarto
era escuro, me lembrava um céu estrelado. Cortinas no tom ameixa contornavam as
janelas, um tapete preto cobria todo o chão, a cama era imensa, com um dossel preto.
Tinha um lavabo, com um mármore preto, grandes espelhos que ficavam de frente
para o espaço de banho, o único item de cor chamativa era banheira, de rubi. No
quarto tinha uma grande lareira de madeira ficava de frente a cama, tinha um grande
escaparate espelhado, ao lado da cama, e ao abrir, estava vazio. Fui até o lado de
Jasmin que tinha ido até a sacada, tinha um sofá e uma pequena lareira de chão, o frio
estava cortante, ela estava aninhada no chão com a cabeça apoiada nos joelhos, sentei
ao seu lado, sabia que nós duas congelaríamos ali, mas aquilo não importava, ela
precisava de apoio. Então sentei ao seu lado e a envolvi em meus braços e foi como um
estopim, ela começou a chorar. Não sei por quanto tempo ficamos naquela mesma
posição, mas o choro de Jasmin já havia cessado, e agora ela descansava a cabeça em
meus ombros, eu já não sentia meus dedos dos pés, o vento congelante soprava a
nossa volta. Segurei suas mãos, e ela ergueu os olhos para mim, eu apontei com a
cabeça o quarto, ela se levantou e seguiu em direção a cama, se deitou e nem se
mexeu. Entrei em seguida, fechando as portas da sacada, quando eu estava prestes a
fechar as cortinas, uma sombra passou em frente ao vidro, quase destranquei as portas
e fui para fora procurar o que era, mas quando fixei meu olhar no ponto onde vi aquele
borrão, já não tinha mais nada, então fechei as cortinas e fui para o lado de Jasmin, e
não vi mais nada.

Acordei cedo, o motivo pelo qual eu sabia daquilo era simples, o sol tinha entrado
pelas frestas da cortina, quando olhei para o lado Jasmin já não estava ali. Fui correndo
em direção ao banheiro e a vi cochilando na banheira, vapor de água quente saía da
banheira, quase tive um infarto e a culpada era ela. Ela abriu os olhos e sorriu, deve ter
visto minha expressão de susto, e ela ainda teve a audácia de rir da minha cara.

-Bom dia flor do dia. Parece que você está mais mal humorada do que o costume, o
que houve?- Ela sabia exatamente o que eu tinha, e começou a rir.

-Parece que quase congelar ontem te fez bem. - Eu disse, sentando na beira da
banheira.

-Sim! Eu precisava daquilo. Obrigada. - Ela me deu um olhar tão sincero e verdadeiro
que eu nem percebi que comecei a chorar. Ela passou a mão pelas minhas bochechas e
foi minha vez de desabar:
-Eu tive tanto medo de perder você. - Eu disse entre um soluço e outro. - Parecia que
você ia se desintegrar diante dos meus olhos, e eu não pude fazer nada. Me desculpe
por não conseguir ajudar.
Era isso, era a culpa que me assolava, eu agi como no dia em que me deparei com Isaac
Hale morto no chão da própria casa. Não consegui fazer nada, porque estava com
medo, e quando ela mais precisava de mim, o medo veio e tomou conta dos meus
sentidos.
Senti mãos em torno de mim, Jasmin tinha saído da banheira e colocado um roupão,
ela me abraçou como se fossemos partir a qualquer instante.

-Eu também tive medo. - disse ela. - Mas sabe de uma coisa? Eu me senti aliviada por
você não ter sentido aquilo. Não sei o que eu teria tentado fazer caso visse você
daquela maneira. Acho que foi bom você ter travado, melhor do que uma humana
furiosa, indo em direção a um grão- senhor, querendo extirpá-lo.
Soltei uma gargalhada, aquilo realmente teria sido pior.

-Não a culpo. - disse ela erguendo meu queixo. - Eu te amo minha amiga irmã, sei que
você teria feito de tudo para ajudar.
“Eu te amo”, uau, aquelas palavras eram raras de se ouvir, ainda mais saindo da boca
de Jasmin, e eu me sentia sem culpa naquele momento, e grata ao mesmo tempo.

-Eu também te amo. - falei antes de ela me erguer do chão e me jogar na banheira, não
sei de onde ela tirou forças e agilidade para fazer aquilo, mas deu certo, pois agora eu
estava ensopada.

-Você precisa de um banho. - disse ela brincando, o momento fofo tinha acabado. -
Vou separar alguma coisa para usarmos.

-Mas o armário está vazio. - a alertei.

-Você o verificou quando acordou? - e com uma piscadela ela saiu.

Após dez minutos eu saí do banheiro e esperava encontrar dois vestidos estendidos na
cama, mas ao invés disso, tinha duas calças de um couro, que de longe pareciam muito
reforçadas. E duas blusas de manga longa, do mesmo couro. Jasmin tinha uma
expressão de insatisfação no rosto.

-Para que são essas roupas?. - Perguntei.


-Bateram na porta, e quando abri tinha essas roupas dobradas com um bilhete acima,
ela apontou para a cômoda, fui em direção e peguei o bilhete, que tinha escrito:

“Para os planos de hoje, vocês precisam vestir isso, venham logo tomar café”
-Bem.. - Comecei a falar. - Dos grão-senhores não foram, duvido que seriam tão diretos.

-Vamos logo com isso. - disse Jasmin revirando os olhos, ela tentava colocar a calça e
dava pulinhos para entrar, eu não consegui evitar rir da situação cômica. Mas na minha
vez, percebi que era difícil mesmo, e foi a vez dela rir de mim. Quando FINALMENTE,
nos vestimos, saímos em direção a sala de jantar, quando entramos todos estavam
presentes, pareciam nos aguardar, vários pares de olhos se grudam em nossa direção.
Zayn nos olha com um sorriso brincalhão e Nyx tinha um olhar cúmplice. Jasmin logo
sacou o que tinha acontecido.

-Eu juro que vou matar vocês, se vocês decidiram enviar roupas menores do que
vestimos só para passarmos raiva. - Disparou na direção dos dois, que nesse momento
arregalaram os olhos.

-Jamais faríamos algo assim. - disse Zayn, tentando manter a pose seriamente.

-Então me diz por que eu estou custando andar com essa roupa apertada? - perguntou
Jasmin apontando para suas pernas.

-Talvez elas encolheram na lavanderia, vai saber. - disse Nyx erguendo uma
sobrancelha.

-Seu.. - Quando percebi que ela avançaria segurei seu braço e ela aquietou, todos
tentavam não nos encarar e rir. Fomos andando até o fim da mesa e sentamos, e foi
quando percebemos que Feyre e Rhysand nos encaravam.

-Tem algum ritual que tenhamos que fazer antes? Nos curvar ou sei lá.. - perguntei, e
um indício de sorriso brotou nos lábios de Feyre.

-Claro que não! Fiquem tranquilas, vamos arrumar roupas mais certeiras para vocês,
antes do treino com Cassian. - disse ela apontando para o homem que Jasmin
apelidou, carinhosamente, de “muralha”.
Ele sorriu, mas não foi um sorriso muito agradável, o treino não seria leve.

-Treinos? - perguntou Jasmin. Ela parecia confusa, não tínhamos sido comunicadas
sobre isso.

-Apenas para auto defesa. - Disse a muralha, e nesse momento o café começou a ser
servido. - Vocês vão aprender a manejar armas e a se defenderem.
-Uma pergunta. - disse Jasmin, olhando diretamente para Cassian. - Esses treinos
podem me deixar apta a enfrentar e matar um feérico?

Todos se viraram para ela, TODOS ali eram feéricos. Rhysand engasgou com um café
que estava tomando e começou a gargalhar dizendo:

-Foi uma pergunta e tanto. Ainda mais quando se está na presença de feéricos. E muito
poderosos por sinal. - ele deu uma piscadela brincalhona para Jasmin, que se virou
novamente para Cassian, esperando uma resposta.

-Sim! - disse ele, olhando no fundo dos olhos dela, parecia que era uma promessa.

-Ótimo. - finalizou ela animada, e atacando a comida que estava a sua frente.

O resto do café da manhã seguiu normalmente, sem muitas conversas, percebi que em
certo momento Aurora observava Jasmin com uma curiosidade contida, ou Jasmin não
percebeu, ou fingiu não saber que estava sendo observada. Após, Feyre pediu para
seguirmos ela, então ela nos entregou outro conjunto, daquele couro, mas em
números maiores. Nos trocamos e fomos levadas em seguida para o hall, Jasmin ficou
mais tensa, mas Feyre colocou a mão em seu ombro, e ela pareceu relaxar. Azriel,
Cassian, Nyx, Aurora e Zayn estavam ali.

-Vocês já tiveram a experiência de voar ladys?- perguntou Cassian se divertindo.

-Creio que não quero repetir a experiência tão cedo- disse Jasmin. - Ainda mais quando
quem está te levando não consegue te segurar. - completou olhando fixamente para
Nyx.

-Aí está uma cena que eu adoraria rever. - disse Zayn sorrindo.

-Qual cena exatamente? - perguntou Rhysand aparecendo ao lado de sua parceira.


Os garotos ficaram calados, e vi que Jasmin não deixaria passar uma chance de
pequena vingança.

-Eles não contaram?Seu filho me pegou de surpresa e me levou o mais alto que
conseguiu e me soltou. - Rhys comprimiu os lábios e fechou o cenho.

-E acho que você quer repetir a experiência. - disse Nyx, seu olhar brilhava com
desafio.

-Não se atreva. - disse Jasmin, firmando os pés no chão, ela com certeza tentaria correr
se isso atrasasse sua captura.
Nyx sorriu, e desapareceu.

-Mas que m…- Jasmin se calou e esquivou, milésimos de segundos antes de Nyx
aparecer ao lugar onde ela estava.

-Como você.. - começou Azriel, mas foi silenciado por um olhar de Rhysand, não sabia
dizer o que significava, mas tinha algo acontecendo ali.

-Acho que alguém está mais esperta, mas não o suficiente. - disse Nyx antes de agarrar
Jasmin e a levar ao alto daquele hall.
Ela chegou a tocar o teto daquela mansão, berrando para ele colocá-la no chão, mas
dessa vez ela não largava Nyx, ela não deixaria que ele a jogasse novamente. Era
engraçado ver ela, super brava, querendo descer, mas sem coragem de se soltar, ela se
agarrou a seu pescoço e falava algo no ouvido dele que eu não conseguia ouvir, mas os
outros riam, então deveria ser algum tipo de ameaça. Nyx gargalhava e a colocou no
chão novamente, faltava sair fumaça de seus ouvidos naquele momento.

-Bem, acho que deveríamos seguir para o acampamento, o primeiro dia de treino nos
aguarda. - disse Cassian estendendo a mão para Zayn, que a segurou.
Nyx veio em direção de Jasmin que foi, rapidamente, para o lado de Feyre e segurou
em sua mão.

-Medrosa. - sibilou ele.

-Frouxo. - rebateu ela.

-Chega de voos por hoje. - disse Rhysand. Demos as mãos uns para os outros e fomos
parar em um acampamento, coberto de neve. Agora eu entendia o motivo daqueles
couros reforçados.

-Ora, ora, ora, o que temos aqui. - um homem balbuciou, quando nosso pequeno
grupo surgiu em sua frente.

CAPÍTULO 18

Perspectiva Zayn:

Aquilo seria muito interessante, Aurora não demonstrava o que estava achando da
ideia do treino, Adelle parecia cautelosa e Jasmin.. empolgada, até demais.
Para minha infelicidade, Devlon fez questão de ser a primeira coisa a tomar conta de
minhas vistas, meu aborrecimento se intensificou, ele era um homem bruto e raivoso,
odiava a todos nós, isso ficava claro toda vez que éramos obrigados a interagirmos, sua
carranca estava sempre presente. INCRÍVEL.

-Devlon. - disse Cassian despretensiosamente, mas seu rosto não era amigável. - Espero
que tenha erguido mais um ringue, separado e afastado dos demais. Temos presentes
visitas dos Grão-Senhores, não gostaria de aborrecê-los, certo?. - ele finalizou de forma
ácida.

Devlon encarou de cima a baixo as três garotas, aquilo tinha me deixado um tanto
incomodado, principalmente quando seu olhar pousou em Adelle, que manteve o rosto
erguido e a expressão indecifrável. Uma pontada de orgulho passou por mim, mas eu a
detive. Aurora tinha um olhar gélido direcionado ao homem, e Jasmin tinha desafio
puro estampado em seus olhos.

-Uma perda tempo, devo alertá-los. - disse Devlon, se virando para o restante do
grupo. - Essa aí. - disse ele apontando para Aurora. - Talvez você consiga fazer com que
ela tenha alguma habilidade, apenas por ser uma feérica, mas essas outras duas. - ele
encarou Jasmin e Adelle, e começou a gargalhar.

Adelle foi em direção a Devlon, todos ficamos em alerta, ela ia com um andar inocente,
parou ao lado do homem e começou a rodeá-lo como se o avaliasse. Ele parou de
sorrir e sua carranca surgiu novamente. Ela parou, após cinco voltas, colocou uma mão
na cintura e uma no queixo, como se pensasse no que dizer, Devlon estava claramente
incomodado, sua postura estava rija e seu maxilar rangia.

-Vocês poderiam ter caprichado um pouquinho mais, se me permitem dizer. - disse ela
colocando a mão no ombro do homem. - Se eu for ter essa visão durante toda a manhã
e todos os dias, não sei se aguento muito tempo. Talvez eu tenha que arrancar meus
próprios olhos. - ela finalizou dando tapinhas na barriga dele.

Devlon parecia furioso, para dizer o mínimo. Jasmin continha uma gargalhada com a
mão, Aurora tinha um sorriso e um olhar de divertimento.

-Meu objetivo aqui não é ser agradável aos seus olhos,princesa. - ele disse com
desgosto, e eu fiquei mais em alerta.

-Ainda bem, se fosse, estaria fazendo um péssimo trabalho. - disse ela indo para o lado
de Jasmin novamente, e se virando para Cassian disse:

-Espero que os treinos sejam apenas com você, tenho que dizer, é bem melhor olhar
para você do que para o carrancudo. - ela disse fazendo uma careta, que tentava imitar
a expressão de Devlon.
Cassian soltou uma gargalhada que poderia tremer o chão.

-Vou levar isso como um elogio, senhorita Adelle. - disse ele enquanto Devlon dava as
costas ao nosso grupo e saía bufando. Mas antes quando já tinha se afastado um
pouco ele acrescentou:

-Se for para elas treinarem aqui, não treinarão separadas dos demais. Elas não são
melhores que eles.

Cassian parecia furioso, mas se conteve. Não queria se estressar com Devlon mais uma
vez.

-Bem, acho que as apresentações ficarão para depois. - disse Feyre, e se virando para
as meninas completou:

-Qualquer coisa, taquem um sapato na cabeça deles. - disse ela e Rhys gargalhou, uma
piada interna dos dois, tinha certeza.

-Uma espada seria mais útil, mas aceito o conselho. - Brincou Jasmin.

Rhys e Feyre retornariam 12:00 para buscá-las. Então se despediram e partiram.

-Zayn, Nyx. - comandou Cassian. - Se juntem aos outros. Já encontro vocês e levo as
meninas.

Seguimos então em direção ao grupo, que crescia cada vez mais, à medida que chegava
a hora do treino.

Perspectiva Cassian:

Levando as meninas para onde fariam os alongamentos, longe dos outros, meus
pensamentos retornaram nas outras fêmeas, que desistiram de seus treinos, ou por
conta dos maridos ou pela intolerância dos outros machos dali. Era revoltante, mas não
poderia eu forçá-las a fazerem aquilo. Por vários anos, tentamos, no início, elas
animavam, mas com o passar dos dias iam diminuindo a frequência, até que não
restasse nenhuma.
Adelle verificava todo o lugar, Aurora se mantinha quieta e com os braços cruzados,
Jasmin analisava as espadas e armas dispostas em uma parede de madeira.
-Antes de vocês terem o contato com as espadas, adagas, e outros, vamos fortalecer o
corpo de vocês. Será um processo longo, mas necessário. Apenas não desistam no
meio do caminho, uma vez na semana vocês terão contato com algum objeto da
parede. Mas vamos com calma. Passarei três exercícios de alongamento antes de nos
juntarmos ao restante.

Elas se dirigiram para o meio de uma pequena arena, improvisada, em silêncio,


aguardando as ordens.

Após alguns minutos de alongamento, apontei para o grupo de machos que se formava
um pouco distante de onde estávamos.

-Eles vão começar a corrida, vocês participarão também. - eu disse, tentando disfarçar
meu desconforto com aquela situação;

-Isso é realmente necessário? Não podemos treinar nós três sozinhas?- perguntou
Aurora com o cenho franzido.

-Eu acredito que não, Devlon tem maior poder aqui, posso conversar com Rhysand
sobre isso, mas não creio que será fácil tirá-lo de ideia. Ele irá testá-las, vai chegar no
limite de vocês, mas não desistam. - Elas precisavam entender que declarar derrota
para Devlon, era a pior coisa que poderia ser feito.

Elas assentiram e começaram a marchar em direção a toca dos lobos.

Perspectiva Jasmin:

Aquilo não era uma boa ideia, era uma péssima ideia na verdade, esse pensamento se
intensificava à medida que chegava mais perto daquele grupo. Pouco a pouco aqueles
rostos foram se virando em nossa direção, meus sentidos gritavam para que eu desse a
volta e saísse correndo. Mas meu orgulho? Continuava intacto. Fui para a última fileira,
e as meninas me seguiram, eu queria ficar o menos visível possível.
Devlon se materializou na frente de todos ali, Cassian tinha seus braços cruzados, e
uma expressão que eu nunca tinha visto antes, era um comandante, parecia pronto
para destruir qualquer um.

-Como vocês podem ver. - Começou Devlon. - Temos três damas presentes, elas
começarão os treinos hoje, mas não se animem, não dou uma semana até as três
desistirem.
Alguns riram e nos encararam, mantive meu olhar em Cassian, que parecia querer
esganar Devlon, Adelle tinha a cabeça baixa, a cutuquei com o pé, ela não abaixaria a
cabeça para nenhum feérico patético. Mas quando ela ergueu o olhar, vi que tinha um
sorriso em seus lábios, um sorriso feroz, meu olhar se direcionou a Devlon, que tinha
um sorriso de resposta para ela. Um sorriso que, gelou,minha espinha, Aurora estava
com a cabeça erguida e seus olhos eram como lascas de gelo.

-Vamos começar com uma corrida.Peguem seus pesos. - ele apontou para um monte
que estava ao seu lado.

Claro que não seria uma simples corrida.

-Vocês formarão duplas, e azar de quem ficar com as humanas. - brincou ele.

Então ele começou a citar as duplas, uma por uma, para meu alívio, Adelle tinha ficado
com Zayn e Aurora com o Nyx. Só eu que teria que aturar um brutamontes, não
poderia ser tão difícil, né?

-Jasmin e Brandon. - Anunciou Devlon e todos suspiraram, mas de horror.

OK! PÉSSIMA IDEIA!

Brandon tinha os cabelos pretos, eram mais escuros que os de Nyx, e ele tinha um olho
azul e o outro era preto, completamente preto. Era estupidamente alto, e um
acoplador de músculos.
Ele tinha um cenho tão sombrio que me fez querer sair correndo. Andando em minha
direção ele simplesmente não disse uma palavra quando parou ao meu lado, eu me
sentia um saco de estrume, inútil e intrusivo.

-Cada dupla pegue dois pesos. Não parem de correr, a última dupla que se mantenha
até o fim, não receberá nada, apenas meu descontentamento será um pouco menor
para com eles. - disse Devlon sorrindo, mas sem humor algum.

Fui em direção ao monte de pesos, primeiro que eu custei tirar do chão, e quando
tentei jogar o peso para minhas costas, quase tombei para trás. O pensamento de que
eu poderia ter ido ao chão na frente de todos, da maneira mais vergonhosa possível,
me fez gargalhar. Mas não era uma gargalhada feliz.
Dei alguns passos onde seria o ponto de partida, o peso era suportável, mas comigo
parada, correr era outra história. Quando ele deu a largada, senti aquele peso diminuir
a intensidade e eu correr com mais facilidade, eu olhei para Adelle que estava
correndo, quase parando, Aurora corria mas com certa dificuldade. O que estava
acontecendo? A segundos atrás eu nem conseguia segurar aquele saco sem tombar, e
agora eu estava correndo? Muito mais lento que os feéricos, óbvio, mas mesmo assim,
era de se surpreender.
Primeiramente tínhamos que correr alguns minutos na montanha para depois descê-la,
CORRENDO, eu previ minha morte ali. Era íngreme e a maior parte estava coberta de
neve, minha dupla nem me olhava, fato, eu achava ser melhor assim, já que estava
temerosa com o que sairia da boca dele caso ele tentasse dizer algo. Na hora de descer,
fomos a última dupla, ele parecia deslizar pela neve, surreal, eu tinha que admitir.
Comecei a descer, mas teve uma hora que me desestabilizei, após pisar em uma pedra
que estava coberta de musgo escorregadio, meu corpo tombou para frente e agora eu
não conseguiria me equilibrar a tempo.
Um puxão em meu ombro, me fez voltar e firmar os pés novamente, era Brandon, ele
apenas revirou os olhos, como se eu fosse uma perda de tempo, o que eu não
discordava. Ele voltou a descer, mas dessa vez no meu rumo, para que se caso eu
tivesse outra “quase queda” ele estaria atento, imagino eu.
Quando chegamos na base da montanha, demos de cara com uma floresta, densa, e
muito úmida.

-Escondi um pequeno rubi nessa floresta, pode estar em qualquer lugar, não voltem se
não tiverem encontrado. Retire os pesos, podem descartá-los.Tudo é válido, menos a
morte. Boa sorte. - disse Devlon subindo a montanha novamente.

Olhei para Adelle que estava ofegante, Zayn tinha as mãos em suas costas, Aurora
conversava em baixo som com Nyx, estavam planejando por onde começar.

-Por onde você quer começar a procurar? - Perguntei a Brandon.

-Você decide onde quer ir, eu vou encontrar sozinho. - disse ele ríspido, disparando
para a floresta.

-ÓTIMA DUPLA. - gritei. Atraindo alguns olhares para mim, apenas ignorei, olhei para
Adelle e Aurora e sibilei para que ficassem bem.Peguei minha adaga e comecei a andar.
Se fosse para desbravar essa floresta sozinha, e encontrar esse rubi, eu o faria.

Não sabia onde eu estava, ou como voltar, tinha ido parar ali de algum jeito, andando
em linha reta sem parar, algum lugar eu tinha que chegar. E eu cheguei, no meio de
árvores, imensas, que tampavam quase toda a luz do sol, grandes arbustos
espinhentos por todo lado. De vez em quando eu escutava alguns barulhos em volta,
poderia ser qualquer coisa, ou qualquer um, estava espumando de raiva por Brandon
ter me deixado sozinha, para uma tarefa que era para ser realizada em conjunto.
Continuei a avançar.
Já tinham se passado o que? Duas horas? Três? E eu estava prestes a desistir, mais
cinco minutos e eu me sentava no chão e começava a chorar, que humilhante, mas
aquela floresta estava me deixando doida. Me encostei em uma árvore para pensar no
que fazer em seguida, fechei os olhos por alguns momentos e quando tornei a abri-los
tinham dois feéricos, perto demais, de mim. Quando eu ia gritar de susto um deles
tapou minha boca, aquele que tinha os cabelos castanhos claros e olhos azuis. Era
proibido a morte, mas apenas isso. Tem muitas coisas piores que ela… Como pude ser
tão estúpida e ter me deixado levar por alguns minutos de descanso?

-Que achado interessante. - o outro sibilou, esse tinha o cabelo de um castanho escuro
e olhos da mesma cor.

-Meio bobinha devo admitir. - disse aquele que tapava minha boca.

Comecei a avaliar minhas opções, e elas eram… deprimentes. Tentar correr? Pega.
Tentar revidar? Pega. Provocar? Ficar sem língua. Sofrer sem tentar fugir?Nunca.
Mordi sua mão com toda a força que consegui, ele sacudiu a mão por segundos
suficientes para que eu tentasse me mover. Um passo para a esquerda e acabei sendo
empurrada para a árvore pelo outro. Ele tinha segurado minha cintura e rumado ela na
droga de árvore, aquilo ficaria marca. Droga, droga,droga.

-Humana, mas tem uma mordida…dolorosa?Eu poderia dizer isso? - pergunta aquele
que eu mordi, ele analisava sua mão, que sumia rapidamente a marca.

-Será que vão sentir falta dela? - perguntou o de olhos castanhos.

-Acho que… - ele parou de falar quando escutou algo.

Meus ouvidos, inutilmente humanos, não foram capazes de detectar o que era, mas
eles se afastaram de mim rapidamente, sumindo assim. Me recuperei respirando
profundamente, levantei a blusa apenas o suficiente para ver onde sua mão havia
friccionado. Estava começando a ficar roxo, só me faltava isso. Arrumei novamente
colocando-a no lugar, e comecei a traçar um plano, mas dessa vez, não fechei os olhos.
Olhando um pouco para minha esquerda, aquele fio invisível me puxou, novamente.
Como no dia em que encontramos o lago. Decidi seguir essa intuição, era a única coisa
que eu tinha no momento. Segui por longos, e intermináveis minutos, até encontrar,
novamente, um lago. Estranho, muito estranho. Do outro lado dele tinha uma caverna,
estava clara, pois o sol batia exatamente dentro dela, e eu vi, sutilmente e com um
relance, um brilho. Eu teria encontrado o rubi? Estava eufórica por isso, olhei para os
lados, para fazer uma varredura e ter certeza de que ninguém tinha visto. Pisei no lago,
a água batia em meus joelhos, ele não estava cheio completamente, mas não duvidaria
se começasse a encher logo. Eu tinha que me apressar. Comecei a atravessar, tomando
cuidado com possíveis buracos que poderiam me “engolir”, vai saber. Quando cheguei
do outro lado esperei alguns segundos antes de entrar nela, o sol iluminava quase todo
o espaço. Mas aquelas paredes de pedras, pareciam que iriam me esmagar, a qualquer
momento. “Rápido, rápido” eu falava para mim mesma, segui em direção a onde eu
tinha vislumbrado aquele brilho, e realmente, uma pequena pedrinha, do tamanho da
ponta do meu mindinho. Peguei e rapidamente a guardei, senti as mãos no meu
ombro. Me virei com toda agilidade, rapidez, e força, que a adrenalina me
proporcionou, tentando acertar, qualquer parte, de quem estivesse atrás de mim. Era
Brandon. Ele segurava a lâmina com as palmas fechadas, sangue escorria, mas não
apenas dele, a lâmina dele também estava cravada em meu ombro.

CAPÍTULO 19

A visão, de uma adaga cravada em mim, e sangue escorrendo, me deixou tonta. Apoiei
nas paredes da caverna e segurei-a, não tinha entrado muito em minha pele, o que era
bom. Arranquei de uma vez, estremecendo. Sangue jorrou antes que eu pressionasse
para parar.

-Por que você fez isso? - perguntei com o maxilar travado.

Ele simplesmente, teve a audácia de me mostrar a mão, que antes, tinha um corte, mas
agora, apenas uma linha branca, que sumia rapidamente.

-Em minha defesa, você atacou primeiro. - respondeu ele pegando um pedaço de pano
branco, e estendendo pra mim.

Encolhi, mesmo sem querer, não queria que ele encostasse em mim.

-Melhor você estancar isso direito. Droga. Esqueci que é apenas uma humana. Já
volto.- Disse ele, mais para si mesmo do que pra mim. Ele saiu da caverna e eu pedi
mentalmente que permanecesse assim.

Dois minutos, ou menos, depois ele retornou. Tinha um punhado de plantas na mão e
na outra segurava uma espécie de cantil.

-Retire sua blusa, preciso verificar o ferimento. - disse ele fazendo uma pasta com
aquelas plantas e folhas.

-Perdão? - minha voz saiu mais como um chiado.


-Pelo caldeirão, tenho que desenhar? É preciso limpar o ferimento, anestesiá-lo e
enfaixar. Se preferir faça você mesma. Vou esperar do lado de fora. - disse ele irritado.

-Jogue essa bebida, vai arder, muito, então passe essa pasta, e após enfaixe seu ombro.
Entendido?- Explicou ele, como se estivesse de frente a alguma criança.

Resmunguei qualquer coisa para ele e apontei para que ele saísse. Ficando sozinha
decidi terminar com a tortura logo. 1,2,3 puxei a camisa, reprimindo um grito, peguei
aquele pequeno cantil e respirei fundo, despejando uma boa parte em meu ombro
ferido. Mordi os lábios para conter a queimação que atingiu aquela região, senti um
gosto de cobre tomar conta de minha boca. Passei a pasta e já senti um alívio imediato,
a hora de cobrir a ferida de forma firme, eu não consegui, foram dez minutos tentando
até que desisti. Me obriguei a ir para fora da caverna e estender o pano para que
Brandon o fizesse.
Ele sorriu, o que foi.. esquisito de certa forma, não imaginava essa reação dele, nem
em mil anos.

-Estava apostando comigo mesmo quanto tempo demoraria até você dar o braço a
torcer. - Ele disse pegando aquele pedaço de tecido.

-Quanto tempo você estava apostando?- perguntei,deixando que ele segurasse meu
braço.

-Três minutos. - ele olhava com concentração para meu braço e franziu a testa.

-Que pouca fé em sua dupla. - disse constrangida.

-Isso vai doer. - avisou ele.

Não tive tempo de questioná-lo antes dele enfiar um dedo dentro da ferida, minhas
unhas fincaram em seu braço, QUE DOR INSUPORTÁVEL, nem tinha sido um corte tão
feio.

-Você ficou louco? - Berrei assim que ele finalizou o curativo. Meu braço atingido
estava imobilizado, e dormente.

-Você passou esse anestésico errado, não ajudaria em nada ele estar apenas em
contato com sua pele, e não na ferida. - disse ele mexendo em meu braço, verificando
algo.
-Poderia ter especificado como era a forma certa. Nem precisaríamos estar nessa
situação se você não tivesse me apunhalado. - disse dando de ombros e indo em
direção ao lago.

-Quando alguém te ataca, o que você faz? - perguntou ele com um olhar prepotente
que me irritou.

-Eu dou as costas para a pessoa e vou embora, igual agora.. - quando eu dei meu
primeiro passo em direção a água ele me segurou.

-Entregue o rubi. - disse ele, como se discutisse um assunto banal e sem importância.

-Eu que encontrei. Eu vou devolver. - eu disse sem pestanejar.

-Eu disse para entregar o rubi.

Estava de costas para o lago ele estava a centímetros de mim. Ele parecia irredutível
em seu pedido.

-Somos uma dupla, não faz muita diferença quem vai entregar, mas eu achei primeiro
que você, então se você me der licença. - Eu ia dar as costas para ele e seguir meu
caminho quando um trovão cortou o céu. Que mudança de clima louca foi essa? O céu
rapidamente escureceu,escuras e pesadas nuvens tomaram conta de todo o céu.

-Mas que.. - fui puxada para o lado, antes que uma árvore caísse no exato local onde eu
estava.

-Humanos.. - murmurou ele voltando para a caverna.

-Ei, temos que ir embora. - gritei para ele, ainda assustada.

-Uma tempestade imensa está prestes a acontecer, se você encarar essa floresta agora,
antes de chegar na metade do caminho pegará uma hipotermia, e sabe se lá o que.
Não seria mais inteligente ficar quieta na caverna até que passe? - disse ele apoiando
na entrada.

Encarei as árvores que balançavam ruidosamente, nem sabia como tinha chegado ali,
de certa forma ele tem razão, mais uma vez sendo obrigada a concordar com algo que
saía da boca dele, segui em direção da caverna novamente, momentos depois uma
forte chuva começou a cair.
Estava encolhida olhando para fora, o vento estava tão forte, que levava várias coisas
com seu contato, a minha visão do lago foi completamente substituída por um branco
total. Era como se tivessem colocado uma cortina branca sob o buraco da caverna.
Brandon estava no fim daquela gruta, apoiado na parede afiando sua adaga. Agora que
minha ficha caiu, o quão perigoso aquilo poderia ser, o pânico começou a se formar,
mas eu o detive. Engoli em seco e tentei parar de encará-lo como se ele fosse um
monstro, mas era difícil, por que todos tinham suspirado de horror quando viram que
ele seria minha dupla?

-Como conseguiu chegar aqui? Como encontrou o rubi? - perguntou ele.

-Eu não sei. - e fui mais sincera do que nunca. - Simplesmente cheguei nesse lago, e
olhando para a caverna vi um brilho, não estava acreditando que tinha achado, e bem..
o resto você viu. Eu só saí caminhando em linha reta e mais tarde, segui minha intuição
que dizia para eu seguir pela esquerda. - finalizei o relato.

-Intuição? - indagou ele.

-Sim, como você. - disse eu acenando para onde a árvore caída deveria estar;

-Mas era meio óbvio que aquilo ia acontecer, somos ensinados desde pequenos a nos
preparar para todas as situações que envolvam riscos. Então afloramos nossos sentidos
de uma forma que nos ajuda a “prever” certos acontecimentos. - disse Brandon
guardando as adagas.

-Nunca pensei que ouviria tantas palavras vindo de você, em uma única frase. - disse a
ele, que sorriu e balançou a cabeça em negativa.

-Sério que o fato que te impressiona sou eu ser capaz de formular algumas frases
longas e manter uma conversa civil? - perguntou ele curioso.

-Sim! Pensei que você só se comunicava através de bufos e rosnados. Caretas também,
e não se esqueça da revirada de olhos. - Ele revirou os olhos e me fez gargalhar.

-Essa revirada de olhos. - eu disse, ele sorriu e deixou escapar uma curta gargalhada,
mas sua expressão logo se transformou em uma feição sombria e medonha.

Aquilo fez com que eu entrasse em alerta, ele se levantou, e vindo em minha direção
disse:

-Você pode se impressionar com outras coisas. - ele pegou a adaga polida, e apontou
em minha direção.
-Eu posso ser bem mortal e divertido ao mesmo tempo. Já imaginou? Eu te matando
enquanto me divirto? - ele jogava a lâmina para cima, como se brincasse.

Engoli em seco, meu braço ferido era inútil, a chuva e ventania que estava ali me
levaria com certeza, o que parecia uma opção melhor.

-Me responda uma coisa: Você está com medo? - Ele colocou a faca encostando em
meu pescoço enquanto perguntava.

-Não!- Eu consegui dizer, era uma mentira absurda, mas…

-Você é uma ótima mentirosa, quase acreditei. - Ele simplesmente voltou para onde
estava sentado anteriormente.

-Você está brincando com a minha cara, né? Brandon, você me ameaçou por pura
diversão?-Perguntei, querendo voar em seu pescoço.

-Talvez eu tenha feito isso. - ele respondeu encostando a cabeça na pedra em suas
costas, e fechando os olhos, acrescentou:

-Nem tente me matar, você vai acabar com um ferimento pior que esse em seu ombro.
- disse ele.

-Mas eu nem estava pensando nisso. - Respondi inocentemente.

-Mentirosa. - disse ele antes de se calar.

Me aninho no chão, estava me sentindo sonolenta desde que aquelas ervas entraram
em contato com meu corpo, seria isso? Eu me recusava a fechar os olhos novamente,
não com uma ameaça evidente a alguns metros de mim.
Mas quanto mais o tempo passava, mais sonolenta e zonza eu me sentia.

“Durma, nenhum mal acontecerá a você”.

Aquelas palavras ressoavam em meu cérebro. Quando dei por mim eu já estava
deitada no chão, com as pálpebras se fechando, se isso acontecesse, eu estaria
vulnerável. “Vamos, levante Jasmin” eu dizia para mim mesma. Mas não adiantou,
assim que meus olhos se fecharam, eu mergulhei em um sono tão profundo que senti
que jamais acordaria novamente.

“Levante”, “você precisa caminhar”, “eles estão esperando por você”.


Abri meus olhos, pisquei algumas vezes para minha visão se ajustar ao ambiente em
volta. O sol tinha aparecido novamente, eu senti algo gelado e escorregadio onde eu
estava sentada, analisei o ambiente e notei que eu estava escorada em uma árvore, no
chão de musgo com uma pequena camada de neve. Olhei para trás e não vi nem o
lago, nem a caverna. O que tinha acontecido? Como eu tinha sido levada? Onde estava
Brandon?
Não consegui pensar em mais questionamentos pois ouvi algumas vozes, reconheci a
de Adelle, sai correndo, ainda meio abalada, em direção a sua voz. Ela estava um pouco
dentro da floresta, perto do pé da montanha. Me joguei em seus braços, ela me
envolveu em um abraço que quase esmagou meus ossos. Assim que ela teve contato
com meu ombro eu dei um pulo para trás.

-Onde você estava? - ela gritou.

-Eu.. é.. - Alguns outros feéricos que estavam em volta, juntamente com Nyx, Zayn e
Aurora, se juntaram para ouvir o relato.

-Eu encontrei o rubi, mas me perdi no meio do caminho, teve a tempestade e eu fiquei
em uma caverna até passar. E agora estou aqui. Fim. - Contei rapidamente olhando em
volta procurando um rosto.

-Você encontrou o rubi? - Perguntou um dos feéricos.- Eu peguei do lugar onde havia
guardado e mostrei para todos.

-Jasmin olhe para mim. - Disse Adelle segurando meu rosto, e me forçando a olhar em
seus olhos.

-Quem você está procurando? - Perguntou ela aflita. Eu teria que dar explicações mais
detalhadas mais tarde.

-Brandon. Onde está ele? - Perguntei em voz alta para todos que estavam ali.

-Quem? - Aurora me perguntou, confusa.

-Brandon, o brutamontes que foi sorteado para fazer dupla comigo. - Respondi
impaciente.

Adelle me olhou, como se eu tivesse aparecido com um nariz de tucano, olhos de


peixe, em um corpo de cavalo. E disse com um olhar preocupado:

-Do que você está falando?


CAPÍTULO 20

Perspectiva Nyx:

Jasmin já tinha perguntado sobre algum Brandon algumas vezes, eu claramente não
estava entendendo nada, e meus companheiros muito menos.

-Jasmin calma. - pediu Adelle apertando sua mão. - Posso contar minha versão dos
fatos? - pergunta ela calmamente. Jasmin assente e conta:

-Todos olharam com horror para você aquela hora, porque foi decidido que você faria
isso sozinha, e com peso duplo.

A expressão de Jasmin se transformou em uma máscara de confusão.

-Mas eu não carreguei dois pesos. - disse ela olhando para nós, alternando de um para
outro.

-Sim você carregou. - interviu Zayn.- Não sabemos como, mas parecia que você levava
dois sacos apenas com penas dentro.

-Mas.. - a frase morreu nos lábios dela, ela balançou a cabeça como se livrasse de
alguns pensamentos. Sorriu em seguida falando:

-Acho que peguei vocês bonitinho. Onde está Cassian? Preciso mostrar essa belezinha
aqui. - Disse ela girando o rubi nos dedos.- Bem, vou indo. - anunciou ela.

Ela estava mentindo quando falou que tinha nos pegado, consegui ver através de seu
olhar, seu sorriso pareceu convencer os outros, mas eu tinha a mesma reação quando
tinha meus surtos. Era como uma forma de defesa.

Ela começou a escalar a montanha e em certo momento ela parou para respirar fundo,
olhou para o lado e murmurou algo, revirando os olhos em seguida, e retomou sua
caminhada.

Já tinha passado de 12:00 e Jasmin ainda não tinha retornado, Adelle estava muito
preocupada e queria entrar mais a fundo na floresta para procurá-la. Mas a
tempestade chegou, e rapidamente nos recolhemos em uma cabana improvisada na
floresta. Adelle ficava o tempo todo olhando para a entrada da tenda que estávamos,
com a esperança de ver a amiga viva, e bem.
Assim que a chuva passou, nos dividimos em grupos e fomos em sua procura, os outros
ainda patrulhavam e caçavam o rubi, mas nós quebramos ordens diretas de Devlon
apenas para achar Jasmin.
Decidimos voltar para a base da montanha, prontos para notificar seu
desaparecimento quando ela apareceu, parecendo confusa e procurando por alguém.
Eu precisava saber com detalhes o que tinha acontecido, Brandon, aquele nome não
saía de minha cabeça, era como se fosse familiar de certa forma.
Seguimos Jasmin, e quando chegamos no topo do acampamento, Devlon parecia
perplexo, segurando um pequeno rubi. Minha mãe tinha as mãos no ombros de
Jasmin, que sorria satisfeita.
Chegando mais perto deles, consegui ouvir os bufos de indignação de Devlon.

-Mas isso era impossível, ainda mais vindo de você. - dizia ele com sua postura
intimidadora, apontava o dedo na cara de Jasmin.

-Espero que isso não seja uma declaração aberta, sua, que trata Jasmin como inferior
aos feéricos. Devo lembrá-lo da história de sua própria Grã-Senhora?. - Perguntou
Feyre de forma firme e autoritária.

-Mil perdões, senhora. - disse ele mal humorado, curvando de leve antes de sair.

-Quero saber da história depois. Com detalhes. - murmurou Jasmin para Feyre, que
sorriu e prometeu contá-la em outra hora.

Cassian chegou perto das duas e olhou para Feyre, eu conhecia aquele olhar, era
quando ele abria sua mente para que minha mãe ou meu pai vissem o que era
necessário. Jasmin pareceu perceber a mudança de ânimos e seu corpo começou a
tensionar. Cassian logo tratou de melhorar aquela situação.

-Sabia que você ia dar um baile neles. Toque aqui. - disse ele erguendo a palma.

Jasmin o olhou com indignação para a altura que ele tinha erguido o braço, dando um
pulinho ela acertou sua mão.
Decidi que era um bom momento para chegar perto. Então fomos eu, Zayn, Aurora e
Adelle até o trio.

-Você encontrou isso sozinha? - Perguntou Cassian analisando o rubi. Era uma jogada
que eu reconheci, ele em forma de perguntas divertidas e para muitos “inocentes”,
fariam com que você contasse o que ele queria.
-Sim, mas o… - ela parou de repente e continuou rapidamente. - A minha intuição fez a
maior parte do trabalho, só não me pergunte como. - disse ela dando um sorriso
amarelo.

Antes que Cassian continuasse com as perguntas eu falei:

-Mãe? Creio que seja hora de irmos.

Ela saiu de um transe, piscando duas vezes antes de sorrir e estender as mãos para nós.
Novamente nos juntamos, antes que o grupo se completasse, Jasmin me encarou e era
como se ela pudesse ler minha alma. Sustentei seu olhar até passarmos para casa.

Já estava no fim da tarde quando pisamos no hall da propriedade, meu pai nos
esperava, sério, eu reconhecia aquele olhar, algo estava errado. Nosso grupo se
dispersou, Adelle, Jasmin e Aurora seguiram para seus respectivos quartos. Minha mãe
seguiu meu pai e Cassian para a sala de reuniões. Zayn e eu decidimos seguir para a
cozinha, com certeza Elain tinha preparado algum prato delicioso.
Quando chegamos no recinto, tinha uma torta de maçã recém assada na mesa, não
sabíamos se estava liberado para comermos, então fomos nos limpar para comer na
hora do jantar.
Assim que tomei meu banho, encontrei Azriel me esperando do lado de fora do quarto,
era a hora. O segui até a Casa de Vento, era o nosso lugar para treinos.
Esse treino era pesado, para liberar a raiva, tensão, ansiedade e todos os sentimentos
acumulados, me ajudava a não ter ataques frequentes ou pesadelos.
Nos aquecemos e ele, sem dizer uma palavra, começou com os ataques. Ele se movia
com uma rapidez surpreendente, era complicado o acompanhar, mas quase conseguia.
Ele girava com duas adagas na mão, e o cabo de uma atingiu meu abdômen.

-Você está no mundo da lua hoje. - disse ele, atacando novamente.

Dessa vez eu consegui desviar, mas logo fui impedido com um soco no queixo, fiquei
em posição de defesa, desviando o máximo que conseguia dos golpes, que vez ou
outra me atingiam. Algo realmente estava errado, eu não tinha o nocauteado nenhuma
vez. Desviei de um soco, que pegaria em meu rosto, e ataquei, abaixei o suficiente para
fazê-lo ter alguns segundos de confusão, antes que eu preparasse o golpe que acertaria
seu nariz. Ele segurou meu pulso e me jogou no chão, assim que minhas costas
atingiram a superfície de pedra, o ar sumiu de meus pulmões. Minha visão começou a
escurecer, e murmúrios começaram a passar em minha mente.

-Está acontecendo. - Murmurei antes de a escuridão total tomar conta de mim.


“Eu estava preso, parecia embaixo d’água, como se minha boca tivesse
sido costurada e meus olhos arrancados. Não via ou conseguia falar nada,
apenas ouvia um balançar de águas leves.
Em minha mente vinha a cena de meu nascimento, minha mãe morrendo, meu
pai sendo segurado, Nestha falando algo no ouvido de minha mãe. Após isso, as
imagens eram borradas e manchadas, como se fosse tinta preta caindo naquela
cena. E uma frase repetia: "Um acordo foi feito, mas uma consequência foi
lançada.”
“-Nyx. - uma voz distante soou, como uma súplica”
“-Por favor acorde, você sabe que é capaz, vamos lá” - aquela voz se repetiu,
era familiar mas não ficou claro de quem pertencia.”

Após ouvir essas palavras era como se minha visão tivesse retornado, os pontos que
me impossibilitava de falar, se arrebentaram, e como mágica eu estava novamente no
chão do ringue de treino. Meu tio Az estava me chacoalhando, e chamando por meu
nome, ele tinha um corte na sobrancelha que sangrava.

-Dessa vez foi pior? - perguntei me sentando. Já sabia a causa do corte, eu ficava
incontrolável e estupidamente mortal.

-Você sabe com quem está falando né? - disse Azriel tentando descontrair.

Eu o olhei sério, mas não disse nada, se estava começando a evoluir para um grau
maior de perigo, eu deveria avisar meus pais.

-Como foi dessa vez?- perguntou meu tio apontando a mão para que eu a apanhasse.

-O mesmo de sempre, a mesma cena, mas dessa vez, eu ouvi uma voz, implorando
para eu levantar. - Falei me erguendo do chão.

-Uma voz? Você a reconheceu? - perguntou ele curioso.

-Não, mas soou familiar. Nas outras vezes, eu só saía dessa escuridão quando parecia
que ela tinha se cansado de mim, mas hoje foi mais rápido não foi? - perguntei
esperançoso.

-Sim, foram três minutos. Exatos. - Ele ergueu uma sobrancelha. - Você sempre fica de
quinze a trinta minutos, eu diria que é um tempo extraordinário, de quem quer que
seja essa voz, é sua salvação garoto. - finalizou ele indo em direção a beira, este gesto
significava fim de treino.
Suas palavras se repetiam em minha cabeça “sua salvação”, era estranhamente
reconfortante. Pousei em minha janela, e fui direto para o banho, Zayn não disse nada
quando entrei silencioso e me dirigi ao banheiro, apenas quando eu saí ele fez seu
interrogatório.

-Três minutos? Uau, isso… - os olhos dele brilhavam enquanto ele dizia isso. - Pode
significar de alguma forma que você tem “conserto”? - brincou ele.

-Sim, mas não sei como, porém vou descobrir. Preciso. Está se alastrando rápido e
piorando a agressividade. - falei massageando a minha têmpora.

-Você precisa descansar irmão. - disse ele colocando as mãos em meus ombros. -
Vamos jantar e depois direto pro seu quarto, você vai dormir.

Após uma carranca, mal contida, que dirigi a ele, Zayn apenas gargalhou enquanto me
guiava para a sala de jantar.
Todos estavam presentes, tirando minha tia Amren e tia Mor. Elas estavam em missão
nas outras cortes.
Jasmin estava mais quieta e inicialmente julguei ser pelo cansaço, mas depois vendo
seus olhos ansiosos e cautelosos, sabia que algo estava acontecendo. Adelle tagarelava
com Aurora que parecia interessada no assunto.
Me juntei à direita de meus pais, Zayn ao meu lado, e o jantar foi servido. Eu tinha
ficado de frente para Jasmin, que não ergueu o olhar uma vez sequer. Eu comia
cordeiro, com molho de hortelã e verduras grelhadas, estava delicioso, não disfarcei
quando encarei a menina à minha frente, que mal tocava na comida, e que vez ou
outra respirava fundo, como se controlasse a si mesma para não dizer nada.
Quando a sobremesa foi servida, o prato de Jasmin estava intocado mas quando foi
posta a torta de maçã em sua frente, seus olhos brilharam. Foi posto um pedaço
generoso em seu prato e ela começou a comer, soltando alguns suspiros de satisfação
de vez em quando.
Tudo corria bem, algumas conversas cruzadas até que minha tia Nestha disse:

-Não deveríamos estar treinando Jasmin. - Jasmin deu um pulo na cadeira, como se
esquecesse que era visível.

-Por que trazer esse assunto a tona agora minha irmã? - Perguntou minha mãe
calmamente, mas não era uma pergunta ingênua.

-Não sabemos o que ela tem, não podemos simplesmente fingir esquecermos do que
ela fez quando chegou aqui.- disse ela colocando um pedaço do doce na boca.
-Você tem medo? - perguntou Jasmin, mas não era como se ela desafiasse Nestha, mas
sim, ela tinha receio das pessoas em sua volta estarem com medo de acontecer
novamente.

Minha tia pareceu sem palavras por um momento até que Cassian interviu:

-A única coisa de que temos medo é do bicho papão que vive na biblioteca. - E dando
uma piscadela para Jasmin, sorriu.

-Fale por você. - Quase todos nós falamos em uníssono.

O ambiente voltou a ficar descontraído, e não tocamos mais no assunto que Nestha
tinha trago a tona, mas Jasmin parecia ainda mais incomodada do que antes. Deixou o
restante da sobremesa no prato, agradeceu a gentileza e se recolheu alegando estar
cansada. Pediu para a amiga não se incomodar em ir junto com ela que estava tudo
bem. Ela não estava bem. Fiz questão de esperar alguns minutos e segui-la. Voei por
fora da propriedade até que avistei a janela de seu quarto, me escondi, para que ela
não me visse ali e aguardei.

Ela estava na sacada enrolada no cobertor olhando para o céu, parecia perdida em
pensamentos, quando algo chamou sua atenção, e a minha também. Ela levou a mão
ao peito, como se recuperasse de um susto, fiquei em posição de alerta, eu não via
ninguém mas ela olhava para o canto da sacada como se visse alguém. Agucei minha
audição e consegui ouvir o que ela dizia:

-Você tem que parar com isso. - Começou a dizer ela para algo/alguém.

Ela gesticulava dizendo, “eles acham que eu sou louca”, “talvez eu esteja”, “mas eu
consigo ver e ouvir você” “Você me atazanou o jantar todo”, “saia daqui”. Essa última
frase foi dita com cansaço, ela encostou na sacada e soltou um suspiro longo.
Ela abriu um pouco os olhos e semicerrou seus olhos, como se ouvisse com atenção
algo.
Aquilo estava me deixando louco. Ela logo tentou se equilibrar na ponta da sacada,
quando conseguiu ficar totalmente de pé, ela tombou seu corpo para trás. Por um
milésimo de segundo que eu não voei até ela, porque algo a segurou, eu não consegui
ver quem era, mas tinha certeza de que tinha alguém ali. Seu corpo estava tombado no
ar, algo que sustentava apenas segurando sua mão. E ela sorria, como se provasse a si
mesma que não tinha enlouquecido. Ela deu o outro braço e foi puxada para o local
seguro novamente, um clique tirou minha atenção de Jasmin por um momento. Adelle
tinha chegado no quarto, quando olhei para aquela garota, louca, que tinha confiado
sua vida a alguém qualquer, ela tinha o olhar confuso, e procurava por aquela pessoa.
“Você sumiu de novo, como quer que eu ache que isso não é um sonho?”- ela sibilou
para o céu, antes de entrar para o quarto e fechar a porta e cortinas atrás de si.

CAPÍTULO 21

Perspectiva Jasmin:

Assim que comecei a subir a montanha para mostrar o rubi para Devlon e Cassian,
Brandon apareceu do meu lado, eu olhei em volta para ver se alguém percebia, via ou
ouvia, mas pelo visto não. Então comecei a ignorá-lo, eu achava que estava maluca,
pois quando Feyre colocou as mãos em meus ombros ele desapareceu, e seguiu assim
até que chegamos na Corte noturna, fui para o quarto com Adelle, tomamos um banho
e ficamos conversando até que foi anunciado que o jantar seria servido.
Falei para Adelle ir na frente, pois eu precisava organizar algumas coisas no quarto, era
uma mentira, eu só queria ficar um pouco sozinha.
Ela deve ter percebido isso, pois disse apenas para eu não demorar.
Me joguei na cama e comecei a pensar nos acontecimentos recentes, Brandon não saía
da minha cabeça, se eu fechasse meus olhos, era ele que preenchia minha mente.
E como se eu o tivesse invocado uma voz ecoou pelo quarto:

-Você não é louca. - Brandon. Sabia que era ele.

Me levantei apressada, minha visão escureceu, pelo movimento brusco, mas logo me
recuperei e apenas o encarei. Ele me encarou de volta até que eu desistisse, decidi não
falar nada e seguir para a sala de jantar para ver se era apenas uma alucinação
passageira. Ele me seguia, eu escutava seus passos, eu o observava, e ninguém o via ou
ouvia. Cheguei e sentei na mesa, percebi que Brandon ficou atrás da cadeira onde Nyx,
mais tarde, se sentou para comer.

-Olhar para mim vai te tornar suspeita? - perguntou ele, eu sentia seu hálito em meu
pescoço.

Engoli em seco e continuei mexendo na comida que preenchia meu prato, estava com
fome, mas temia falar algo ou deixar escapar qualquer coisa que parecesse errado. Não
sabia como eles reagiriam se soubessem que eu via fantasmas. Então mantive minha
boca lacrada.
-Me responda Jasmin, porque você me ignora? Sabia que o herdeiro desta corte não
para de te encarar? Ele sabe que tem algo de errado com você, uma péssima mentirosa
e atriz devo dizer. - Ele falava isso rondando, de longe, cada um da mesa. Eu não
acompanhei com o olhar, mas sentia sua presença em todos os lados. Ele ficou mais
tempo atrás de Nestha e Elain, eu não sabia bem o porquê, aliás eu não estava
olhando, mas consegui sentir seus passos parando em direção às duas.
Após essa pausa, ele desapareceu, e foi quando a sobremesa foi servida, só de ver
aquela bela torta fez meu apetite aparecer com força. Um grande pedaço foi servido
para mim, e eu comia com muito gosto, estava divina, até Nestha soltar aquele
comentário.
A comida pesou em meu estômago, e comecei a tremer, não queria que eles tivessem
medo, eu poderia estar sendo estúpida em pensar que eles,que já estavam vivos a
décadas, teriam medo de uma humana descartável. Mas não consegui me controlar
quando a pergunta escorreu de meus lábios. Nestha arregalou um pouco os olhos, eu
não sabia que era considerada uma ameaça, Cassian tentou mudar o clima e
conseguiu, estava grata a isso, mas agora minha cabeça parecia prestes a explodir.
Sentia um corpo atrás da minha cadeira e eu não precisava olhar para saber de quem
se tratava. Apenas me retirei daquele local e fui andando até meu quarto, quando
entrei e fechei a porta pedi:

-Me deixe sozinha, por favor. - Então Brandon sumiu.

Agradecida por isso, peguei minha coberta e segui em direção a sacada.


Fiquei poucos minutos quieta e pensando em de que forma eu poderia ser perigosa
quando um assobio surgiu, no canto da sacada. Faltou meu coração saltar para fora,
que susto.
Coloquei a mão sobre o coração e disse:

-Você tem que parar de fazer isso. - disse para minha atormentação.

-Você deveria se acostumar com isso. - rebateu ele, fazendo um rabo de cavalo.

-Todos devem achar que eu sou louca, e obrigada por arruinar meu jantar. - dirigi a ele.

-Louca você não é. - disse ele.

-Você já me falou isso duas vezes, Brandon, mas eu devo estar. - disse com um suspiro,
indo em direção a sacada.

Respirei fundo quando ele parou em minha frente.


“Confia em mim?” - a voz de Brandon soou em minha mente.

“Eu perdi minha cabeça só pode” - pensei.

“Eu já disse que isso não aconteceu”- a voz dele rebateu

“Não, não confio em você nem em minha mente” - pensei.

“Ótimo, você só pode estar doida, então que tal fazermos um teste?”- ele perguntou

“Qual?” - pensei, respondendo no mesmo instante.

“Suba nesta sacada e tombe seu corpo, se você estiver realmente louca, vai cair mas
não morrerá, por pouco. Agora, se eu for real, você será segurada”- disse ele, sua voz
gritava diversão

“Eu só poderia estar completamente….” - ele me encarou como se dissesse ‘louca?’.

Ergui minha sobrancelha, eu corria risco de morrer, ou quase isso, mas por que aquela
ideia maluca tinha surtido tanto efeito? Comecei a subir pela beirada da sacada, o
vento chicoteava meu corpo, quando consegui me equilibrar, não pensei naquela
péssima decisão que eu havia tomado e tombei meu corpo, nem deu tempo de eu
gritar porque a mão de Brandon me segurou, a única reação que eu tive foi sorrir, eu
não estava doida, de certa forma. Ele me puxou para a sacada de volta mas
desapareceu assim que firmei meus pés no chão.

-Você sumiu de novo, como quer que eu ache que isso não é um sonho?- Sibilei para o
céu, antes de entrar para o quarto e fechar a porta e cortinas atrás de mim.

Perspectiva Aurora:

Adelle tinha embalado uma animada conversa comigo no jantar, mas nem aquele
tempo foi suficiente para conversarmos o bastante. Então agora eu a seguia para o
quarto onde ela e Jasmin dividiam, quando ela pediu para que eu a seguisse eu pensei
em negar, mas algum lado do meu consciente queria desenvolver uma amizade com
elas. Assim que ela abriu a porta, Jasmin estava na sacada e sorriu ao ver a amiga,
então ela entrou no quarto fechando a porta e cortina, vindo em nossa direção.

-Diga que trouxe comida. - suplicou Jasmin brincando, ela parecia menos tensa do que
mais cedo.
Agora eu sabia o motivo de Adelle ter colocado tanta comida extra em seu prato,
quando ela finalizou de comer, e dois pedaços de tortas. Jasmin nos chamou para
sentarmos em frente à lareira enquanto ela comia. Era surreal a conexão das duas,
Jasmin não tinha dito uma única palavra para Ade, mas ela sabia exatamente do que a
amiga precisava.

-Como você está? - Perguntei, me dirigindo a Jas.

-Bem, só cansada até os ossos, eu poderia dormir por dias. - respondeu ela sorrindo,
enquanto mordia mais um pedaço da carne.

-Odiei ter que treinar com aqueles brutos. - disse Adelle imitando a pose de um deles.

Não aguentei e comecei a gargalhar, Jas também, e quase se engasgou com a comida,
ficamos um momento as três rindo, e pareciamos apenas boas amigas em uma noite
qualquer. Mas não era bem assim..

-Vocês viram a expressão que Rhysand estava quando chegamos? - perguntei para as
duas. A mudança abrupta de assunto deixou as duas atentas.

-Ele parecia preocupado. - disse Jasmin comendo sua torta.

-Eu queria ter consciência do que está acontecendo, parece que eles escondem algo de
nós, não podemos nem pensar em exigir uma explicação,mas ficar no escuro, sem
nenhuma direção é difícil.- Completou Adelle.

Pensei no que ela tinha dito e quando percebi eu já tinha falado:

-Vou contar o que eu sei. - Não tinha mais volta, então contei em detalhes sobre a
praga.

Quando finalizei as duas tinham uma expressão neutra, até que Jasmin me perguntou:

-Eles cheiravam mal? Os infectados.- Ela tinha uma expressão sombria, e preocupada.

-Quando me atacaram não.. - pensei um pouco e completei:

-Mas quando Feyre e Rhysand foram nos calabouços o cheiro estava muito
desagradável, mesmo fora das celas. - Jasmin arregalou os olhos. - Por que? Jasmin, por
que?
Eu já estava nervosa, ela não conseguia formular uma frase sequer. Ela saiu correndo
do quarto, fomos atrás dela, chamando-a, mas ela não escutava.
Ela corria em direção a sala de reuniões, quando ela chegou na porta ela praticamente
gritou:

-A Primaveril está sob ataque da praga. - Mas ela não foi a única, nesse mesmo
momento um feérico de cabelos loiros tinha dito a, exata, mesma frase.

-Ivar. - Ela sussurrou sorrindo para o feérico em sua frente.

CAPÍTULO 22

Perspectiva Ivar:

Jasmin me encarava da porta da sala, tínhamos dito a mesma frase, ao mesmo tempo.
Quando meu pai me comunicou o motivo da pequena reunião com o Grão-Senhor da
Noturna, quando as meninas ainda estavam aqui, eu fiquei em estado de alerta desde
então, nossas fronteiras foram reforçadas e patrulhas não permitiam entradas em
nossa corte, pelo menos por um tempo. Mas da noite para o dia, na vila perto da nossa
residência, tivemos nosso primeiro registro de infectados. Entramos em uma epidemia,
isolamos as outras pessoas, não contaminadas,em nossa residência, aquelas que
ameaçavam o bem estar das outras foram postas em uma cela, ninguém entrou ou
saiu, desde então.
Fui avisado de que teria que fazer uma visita à corte noturna, pois trazê-los aqui
poderia gerar perigo para eles, então assim eu fiz. Uma carta rapidamente foi enviada
para os Grão senhores que responderam com prontidão, Rhysand tinha me esperado
nos limites da Primaveril, para realizarmos a travessia.
Assim que cheguei, fui encaminhado para a sala de reunião, e assim que abri minha
boca para falar sobre a pauta daquela situação urgente, Jasmin surgiu e a proferiu.

-Como você sabe disso? - Perguntou Rhys erguendo uma sobrancelha.

Jasmin ia responder quando uma garota, que eu não conhecia, falou:

-Eu contei a elas o que tinha ocorrido na Invernal. Não sabia que era confidencial nesse
nível. - Disse ela em uma postura autoritária.

-Como você sabe que a praga atingiu a Primaveril Jasmin? - Perguntou novamente
Rhysand.
-Eu… - ela olhou em volta, e algo como medo, cintilou em seus olhos. - Eu estava na
biblioteca de Tamlin, procurando um livro, quando um cheiro insuportável de podridão
veio tomando conta de meus sentidos, e um som.. não era um som humano, parecia
uma besta faminta.- Ela me encarou e continuou:

-Saí correndo dali, e trombei com você, então pensei que fosse algo que minha
imaginação criou. Então quando Aurora nos contou sobre a praga me veio na cabeça,
se não teria nada haver, então perguntei sobre o cheiro que emanava dos infectados da
invernal. - Finalizou ela, olhando para cada um presente.

-Algo mais aconteceu de estranho enquanto vocês estavam lá?- Perguntando Feyre
para Adelle e Jasmin.

Adelle respondeu prontamente que não, já Jasmin demorou alguns momentos


refletindo e negou em seguida.

-Qual a situação Ivar? - Perguntou Azriel.

-Quinze infectados, foram postos em uma cela, ninguém tem acesso a ela. O restante
estamos mantendo em nosso território, mas ninguém entrou ou saiu, desde o alerta
que vocês emitiram. - Respondi, olhando para todos ali.

-Por que a praga já estava lá, não precisava de um contato de fora. - disse a grã-senhora
pensativa.

-Mas a situação está controlada? - perguntou Lucien.

-Por enquanto sim, meu pai irá redigir um relatório diariamente, mas não sabemos o
que fazer com os infectados. - massageei as têmporas, não andava dormindo muito
bem, e minha cabeça começou a doer.

-Eles precisam ser mortos. - Disse Aurora. - A humanidade não existe mais neles.

Isso não podia estar acontecendo… o que eu diria..

-E a Ari? - perguntou Adelle com medo em sua voz.- Por favor me diz que ela está bem.
- insistiu ela.

Jasmin me olhou de forma ansiosa.

-Sim ela está, mas sua neta e seu marido foram infectados. - disse, sem rodeios.
-Essa não. - disse Adelle.

Parecia que elas desabariam nos próximos segundos, Adelle respirou fundo e saiu da
sala. Aurora teve a intenção de sair da sala para segui-la, mas ela foi parada por Jasmin
que segurou sua mão, dê um tempo para ela, foi o que ela quis dizer com a ação.

-Sinto muito. - sibilei para Jasmin, que apenas assentiu e ergueu os olhos para Feyre.

-Eu tenho alguma conexão com isso? - perguntou ela.

Eu estava surpreso, o que tinha acontecido ali que eu não tinha conhecimento?

-Temos uma teoria, mas não se passa disso. - começou Feyre, ela olhou para seus
conselheiros, sua família, que assentiram. - Você pode ter algo haver com o que está
acontecendo, mas não sabemos como ou por que. Você deveria ser apenas uma
humana comum, seus pais são completamente humanos, o que vimos no dia que você
chegou foi indescritível.

Nessa hora as imagens daquele momento começaram a passar na minha mente, olhei
para Nyx, ele estava me passando as imagens que ele viu, então eu assistia a cena
através dos olhos dele. Assim que ela gritou algo em mim partiu , a casa tremeu… o
que ela era?

-Mas vocês suspeitam de que? - insistiu ela na pergunta.

-Que você pode ser quem está espalhando a praga. - respondeu Rhysand.

Surpresa pura correu por sua expressão;

-Mas ela não estava na Invernal. - Falou Aurora.

-Não existe apenas um parasita, certo? - perguntei olhando para Rhysand.

-Se estivermos certos, não. - respondeu ele.

-Eu não posso continuar aqui, eu deveria estar isolada. - falou Jasmin. - Tenho que
evitar contato com os outros, não podemos arriscar. Se realmente for isso, vocês
correm perigo.

-Estamos protegidos aqui Jasmin. - Disse a grã-senhora tentando aliviar a sensação.

-Vocês não tem plena certeza disso, certo? - perguntou Jasmin.


Todos pareceram refletir na pergunta, mas foi Nestha que disse:

-Não! Não temos.

-Me perdoem se isso está vindo de mim. - Com pesar nos olhos Jasmin fez uma
reverência e saiu.

Quis segui-la, uma parte de mim gritava para que eu fizesse, mas eu tinha meu dever. E
ela precisava de um tempo sozinha.

-Você acha que a execução pode ser uma alternativa? - Perguntou Rhysand, sentando
na mesa.
-Se todos da corte estiverem de acordo, sim. - Respondi, pois sabia que uma decisão
dessas meu pai não tomaria sozinho.

Alguns minutos de silêncio se seguiram, até Morrigan aparecer na porta, seu rosto
estampava más notícias.

-Eles sumiram!. - disse ela parando no batente da porta.

Não sabia o que era, mas pela expressão de horror, de todos presentes, eu soube:
Eu levaria de volta, apenas notícias ruins.

Perspectiva Zayn:

Após alguns momentos que Adelle saiu da sala eu a segui, ela estava com o semblante
abatido e eu não aguentaria vê-la naquela situação sem tentar amenizar de alguma
forma. Ela estava do lado de fora da propriedade, sentada nas escadas principais, com
as pernas juntas de seu peito, tinha o queixo apoiado em seus joelhos, e seu olhar
fixava na rua que se seguia, mas seus pensamentos estavam longe.

-Um pedido pelos seus pensamentos. - disse, chamando sua atenção.

Ela soltou um fraco sorriso e respondeu:

-Uma volta pela cidade, ainda não a conheci.

-Considere feito. - Então estendi minha mão em sua direção, que a pegou de bom
grado.
Seguimos pelas ruas de Velaris em um silêncio confortante. De vez em quando ela
soltava um suspiro ou outro.

-Pelo que combinamos, era um pedido por uma confissão. - brinquei com ela.

Ela me olhou por um segundos, parou onde estava, em frente a um restaurante, e me


disse:

-Ari, ela é uma pessoa tão bondosa, a praga não deveria ter atingido sua família. Ela era
muito apegada à neta, e amava muito seu marido. Queria estar ao seu lado,
confortando-a. Já Asa, ela parecia celestial em seu casamento, a mulher mais feliz do
mundo, sinto uma dor aguda ao pensar que seu conto de fadas acabou rápido demais.
Parece palpável a dor deles,para mim, eu.. -

Então ela começou a chorar, a abracei, seu corpo chacoalhava, ela agarrou em minha
camisa, como se quisesse tirar aquela tristeza à força. Aninhei Ade em meus braços,
esperei que ela se acalmasse, aquela mulher era tão gentil e bondosa, nunca conheci
um ser que se simpatizava das dores alheias, de forma tão intensa. Afaguei seus
cabelos, aqueles cachos me hipnotizaram desde o momento em que os vi, era um
passatempo bastante proveitoso, admirar cada cachinho que ela tinha. Após alguns
minutos senti seu choro se dissipar, e só sobrou pequenos soluços silenciosos. A guiei
para uma das mesas que estavam postas, do lado de fora, daquele restaurante. Eu
tinha costume de vir aqui, sempre que dava, com meus pais.
Ela colocou seu braço por cima da mesa, com a palma para cima, como se convidasse
minha mão a se enlaçar com a sua, e foi isso que fiz. Ela sorriu de leve quando o calor
de minha palma se chocou com a sua.

-Obrigada. - disse ela, olhando fixamente para meus olhos.- raposa. - completou ela.

-Por nada, cachinhos.- respondi e ela gargalhou.

-Então gosta do meu cabelo? - perguntou ela, fungando.

-Não me leve a mal, acho você uma obra de arte, da cabeça aos pés. Seus olhos me
lembram o mel, são da cor exata. Sua pele parece que foi polida, da forma mais
delicada e perfeita possível. Seu sorriso, capaz de manter longe todo o mal que nos
espreita. As sardinhas salpicadas em suas bochechas e nariz, me lembram as estrelas,
seu corpo foi esculpido, pelo artesão mais habilidoso, seu rosto é capaz de hipnotizar
qualquer ser vivo. Nem em meus melhores sonhos, poderia imaginar alguém mais
surreal. E seus cabelos… que caem como cascatas pelas suas costas, com cachos tão
alinhados que parecem que foram pintados. Acho que durante minha existência nunca
vi um ser tão belo como você, Adelle.

Ela estava sem palavras, sua boca estava aberta em um pequeno “o”, seus olhos
cintilavam de uma felicidade e surpresa indescritível, ela se esforçava para dizer algo,
mas sem sucesso.
Adelle apenas se ergueu do banco que estava sentada e veio em minha direção,
segurou meu rosto e fitou meus olhos, parecia que ela me via, e através de seus olhos
eu também a via. Algo em meu peito, como ondas,começou a surgir. Ondas perfeitas,
que vibravam como uma música pura, e que procurava por sua metade, para os
acordes finais soarem.
Olhei para Adelle, mas dessa vez, foi diferente, pareciamos estar em uma sintonia
única e inquebrável, seu olhar dizia que ela também sentia essas vibrações. Me esforcei
para conseguir dizer:

-É uma boa hora para acrescentar que sua boca parece muito convidativa?

Ela gargalhou, e sem aviso prévio tomou meus lábios no beijo mais delicado e cheio de
emoção possível. Aquelas ondas pareceram nos cercar, como se a música finalmente
estivesse completa. Parecia mágica.
Meu peito se encheu de uma certeza que jamais tive, com ninguém. E eu poderia estar
louco, ou isso que senti foi uma confirmação de algo que eu tinha em mente desde que
vi Adelle. Ela era minha parceira.

Perspectiva Adelle:

Parecia loucura suficiente eu conhecer uma pessoa a menos de duas semanas e sentir
algo tão estupendo, que não consigo nominar.
Não previ beijá-lo, vamos concordar, Zayn é lindo, do tipo surreal, mas nossas
interações foram sucintas até o momento em que ele veio até mim para me confortar.
Me senti em casa quando seus braços me cercaram. E quando ele disse aquelas
palavras para mim, meu impulso foi querer tê-lo, e quando eu encarei aqueles lindos
olhos castanhos, como uma música começou a me preencher, e eu tinha a sensação
que faltava apenas algumas notas para ela se finalizar, e como um empurrão eu sabia o
que precisava fazer para isso acontecer. Quando meus lábios se tocaram aos seus, foi
como uma explosão, a última parte da música soou em meu coração e sabia que ele
sentia a mesma coisa. De uma forma menos teatral, parecia que nossas almas, nossos
corações, tinham se fundido. Assim que me afastei dele, Zayn parecia espantado.
-Não sabia que eu beijava tão mal assim. - Brinquei e dei dois passos para voltar para
minha cadeira antes de sentir um puxão, ele tinha se levantado, e segurou meu queixo
fazendo que eu o encarasse.

-Talvez isso ajude você a saber. - Ele me beijou, de forma tão apaixonada que fez meu
coração saltar, a delicadeza dos momentos anteriores foram substituídas por uma
veracidade, como se o mundo fosse acabar ali mesmo. Minutos depois, quando eu me
afastei, por pura falta de ar, o olhei e exclamei:

-O que foi isso? - Sentei sorrindo, minha cabeça estava um turbilhão.

-Meu beijo te deixou tão impressionada assim cachinhos? - perguntou ele, se juntando
a mim na mesa, sorrindo de forma insolente.

-Não, já tive melhores. - Falei de forma descontraída e ele gargalhou, aquele som se
reverberou em meus ossos, como se fizesse parte de mim.

-Isso é estranho. - falei por fim.


-O que minha doce Adelle? - perguntou ele apoiando seus cotovelos na mesa, e
juntando suas mãos, me olhando atentamente.

-Parecia que estávamos conectados, pareceu que quando eu te beijei, me senti


completa. Como se ali fosse o lugar que eu deveria estar, meu lar.- Olhei para ele, que
tinha uma impressão ilegível.

-Pode ser coisa da minha cabeça desculpe. - Completei envergonhada, como eu pude
dizer isso para ele? Mal tínhamos uma relação de amizade. Burra, burra, burra.

Ele segurou minha mão e disse:

-Me senti da mesma forma, e Adelle, eu não quero te assustar. Mas neste momento,
você quer que eu seja inteiramente sincero com você?

O olhar dele era tão profundo, e comecei a me apavorar, mas se eu precisava saber de
algo,
era aquele o momento.

-O que tem de errado? - perguntei em um fio de voz.

-Errado? Nada, apenas uma surpresa. Nós feéricos, quando encontramos a pessoa que
queremos passar o resto da vida juntos, temos como se fosse um instinto, acho que
será mais fácil de você entender, que é “ativado” quando é a pessoa certa, então temos
a certeza, que é ela, e para o resto de nossas vidas. Chamamos de parceria, é um laço,
que não pode ser quebrado ou desfeito. - disse ele, meio sem graça e continuar.

Mas eu entendi sua teoria.

-Você acha que somos parceiros. - Declarei.

Ele parecia aliviado, mas com medo.

-Humana e feérico, isso é possível? - perguntei

-Sim. - ele me olhou com tanta ternura que eu queria que aquele momento congelasse,
e eu pudesse guardar em um desenho.

-Eu.. - eu realmente não sabia o que dizer.

-Você não está presa a mim Adelle, você sabe dizer o que quer, se não quiser ter nada
comigo vou entender e me afastar. É sua vida, suspeito que você é minha parceira, mas
não pense que eu farei você acreditar que está conectada para mim para sempre sem
escolhas. Se quiser ir com mais calma, tudo bem por mim. Eu só não consigo aceitar
que o que tivemos aqui foi uma simples interação e interesse de ambas as partes.
Quando eu te beijei..

-Parecia certo, mais certo e correto que tudo. - Completei.

-Confesso que me pegou de surpresa, e estou confusa, mas não quer dizer que eu vou
querer me afastar, vamos com calma pode ser? Até porque em quarenta anos você vai
estar com essa carinha linda e eu serei uma velha rabugenta. - Disse

Mas apesar de estar brincando com isso, meu peito se apertou, por saber que, apesar
de tudo, eu não tinha o luxo do tempo.
E provavelmente lendo meus pensamentos, ele veio até mim, me abraçou e sussurrou
para mim:

-Não era para estarmos indo com calma? - Eu sorrio diante dessa pergunta. E resolvo
deixar para me preocupar com isso depois.

-Você tem espaço no estômago para experimentar a melhor torta de chocolate da sua
vida? - Perguntou ele.

-Com certeza. - respondi.


Ele seguiu até a porta do estabelecimento, para fazer o pedido, mas antes virou para
mim e disse:

-Então você acha que eu tenho um rosto bonito?

-Idiota. - Disse apenas isso, olhando para a cara dele e apontando a língua, ele encheria
meu saco pela eternidade por isso.

Quando ele entrou, eu me permiti olhar para o céu, as estrelas pareciam olhar para
mim de volta. Um vento passou por mim, balançando meus cabelos e uma voz celestial
falou em meu coração. “Você não viverá para sempre, curta os seus momentos com
seu parceiro antes que seja tarde”
A confirmação do que estava, apenas, em uma suposição, veio. E com essa fala meu
corpo se estremeceu, eu era uma mortal, que estava começando a se apaixonar por
um imortal. Será que o meu conto de fadas acabará cedo demais?

CAPÍTULO 23

Perspectiva Rhysand:

Meu pior medo veio a se concretizar quando Morrigan entrou na sala e falou aquilo.

-Tentei contatá-los de todas as formas, mas eles sumiram, sem sinal algum. Isso está
errado, combinamos com os dois que em casos de emergência, um tipo específico de
contato seria testado. E eles prometeram responder. Conheço eles, jamais fariam isso.

Ela já tinha dito aquilo quatro vezes, mas não tínhamos pensado em uma forma que
fizesse sentido. O que poderia ter acontecido? O caldeirão tinha sido controlado, eles o
estavam usando para um plano próprio? Tantas perguntas;

-Precisamos contatar as outras cortes. - A voz de minha parceira se sobressaiu.

-Tarquin provavelmente já foi avisado, pedimos a Amren para passar as informações.


Mas concordo com a Feyre, isso tem que ser de conhecimento de todos. - Eu falei, era
uma situação muito delicada, mas não tínhamos o direito de esconder isso.

-Não podemos criar alarde para os moradores, como uma reunião dessas passaria
despercebido? Pelo menos agora, temos que manter a descrição. - Morrigan disse
mexendo em seu cabelo.
Ela estava cansada e queria ver sua família, mas estava segurando as pontas por ser
uma reunião de urgência.

-Temo que cheguei na hora certa. - A voz de Amren atravessou e se estabeleceu em


toda aquela sala.

-Alguma boa notícia? - Perguntei, cansado.

-Não tiveram casos, mas estão atentos. E sobre onde pode ter essa reunião, em duas
semanas, Tarquin fará uma festa de aniversário para sua filha, Serena, e disse que seria
uma honra nos juntarmos lá. Ele também me alertou que precisávamos de uma
reunião. Não preciso nem dizer que ele criou essa súbita festa apenas para isso, certo?
- Falou Amren.

-Boa Tarquin. - Sussurrou Feyre, parecia aliviada.

-Mas tem uma coisa. - Continuou Amren.

-Eles querem ver Adelle e Jasmin. Não pude deixar nenhum detalhe de fora, Não tenho
ideia do por que dessa curiosidade repentina, mas achei melhor os comunicar. Os
comunicados para as outras cortes já foram enviados, mas não possuem nada do que
falaremos. - Finalizou ela olhando para os nossos olhares desolados.

-Não conseguiram encontrar Miryam ou Drakon, certo? - perguntou.

Assentimos e ela bufou, um problema a mais, fato.

-Precisamos descansar, amanhã nos reuniremos aqui após o almoço, o relatório de


Tamlin terá chegado, vamos discutir os próximos passos. Por gentileza Nyx, leve o
nosso convidado para o quarto onde ele ficará.- Disse Feyre.

-Azriel. - Chamou ela. - Me desculpe, mas você poderia buscar os relatórios de toda
Velaris?

Azriel logo levantou, assentiu e saiu. Eu sabia por que minha parceira tinha dito aquilo,
ele estava passando cada vez menos tempo ao lado de seu bebê e esposa, mas sabia
de seus deveres. E se afastássemos ele, seria pior.

-Até amanhã. Todos. - Falei, dando aquela reunião por encerrada.

Quando todos saíram fui até minha esposa e beijei seu ombro.
-E aí, pronto para mais uma aventura? - perguntou ela, relaxando.

-Ao seu lado? Com certeza. - Respondi a beijando.

Perspectiva Ivar:

Nyx me levou pelos corredores daquela propriedade, e foi como se um estalo soasse
em meu cérebro. Meus passos cessaram e Nyx olhou para trás para conferir o motivo
de eu estar parado.

-Jasmin não voltou ainda, nem Adelle, certo? - perguntei.

-Não vi movimentação, mas vou procurá-las, assim que você estiver bem estabelecido.
- respondeu ele.

-Vou com você, pode não ser minha corte e eu não tenho autoridade aqui, mas me
entenda quando eu digo que também tenho responsabilidade por elas. - Murmurei,
pensando no quanto teria que argumentar com Nyx para que ele cedesse.

Mas me surpreendi quando ele apenas assentiu e deu meia volta nos levando até a
porta principal. Ao começar a andar pelas ruas, o vento gelado se apossou de meus
poros, aquela brisa que parecia cortar, em contato com sua pele, era instigante, na
minha corte não era assim. O cheiro de chocolate quente e chá tomava conta das
casas, era acolhedor. Postes de luz iluminavam toda aquela rua, poucas lojas e
restaurantes se mantinham abertas naquele horário. Olhávamos atentos a qualquer
movimentação, procurando por elas. Quando chegamos em uma rua um pouco
distante, vimos , Adelle e Zayn em uma mesinha, do lado de fora de um restaurante,
conversando e rindo. Quando nos aproximamos as conversas cessaram e Zayn olhou
em alerta para nós.

-O que aconteceu? - Perguntou ele.

Com esse questionamento, Adelle arregalou um pouco os olhos olhando em volta,


provavelmente procurando por sua amiga.

-Onde está Jasmin? - Ela nos perguntou.

-Estávamos à procura de vocês, ela saiu alguns minutos depois de Adelle. - Respondeu
Nyx olhando para o casal.
Naquele momento eu percebi, como suas mãos estavam próximas, como se eles
tivessem enlaçado e eles as soltaram rapidamente. Um rubor estava presente em sua
bochecha, um brilho diferente estava em seu olhar, e constatei que no de Zayn
também. Respirei fundo, aguçando meus sentidos, e um sentimento estava presente,
como uma surpresa? Parceiros! Constatei, Zayn me olhou, como se soubesse o que eu
tinha descoberto, e em seu olhar, um pedido silencioso para que eu não contasse a
ninguém. Apenas acenei distraidamente.

-O que estão esperando? Vamos encontrá-la; - Adelle se levantou e começou a


caminhar chamando por Jasmin.

Zayn a seguiu, e eles foram para a esquerda, eu e Nyx fomos para o lado oposto. Já
faziam trinta minutos que não tínhamos sinal de Jasmin. Minha preocupação se
intensificava a cada minuto, o que era muito estranho, eu não deveria me sentir
preocupado por conta daquela humana irritante.
Nyx estava quase convencido que deveria fazer a varredura aérea até que um grito
estridente, bem ao longe, foi dado. Não controlei meus sentidos, minha forma besta já
estava tomando conta de mim. Nyx disparou pelos céus e eu o acompanhei, Zayn nos
encontrou correndo com Adelle nas costas, que parecia perdida.
Quando chegamos ao ponto que tínhamos ouvido o grito, já era nas bordas da cidade,
Jasmin estava escorada em uma parede, como se fosse o fim da linha. Não entendi o
que estava acontecendo até que sentimos passos se aproximando, e a visão que tomou
conta de minha mente me assombrará por um bom tempo. Um grupo de cinco feéricos
se juntaram em volta de Jasmin, mas não para atacá-la, e sim proteger. Ela suava frio, o
medo estava presente em sua expressão. Aqueles feéricos, tinham a pele tomada por
veias pretas, e seus olhos já estavam completamente pretos.

-O que está acontecendo? - Sibilou Jasmin, atordoada.

Fiz menção de ir até ela, mas erguendo os braços ela me impediu. Jasmin pareceu
refletir e finalmente se desencostou da parede, chegou perto do primeiro feérico, que
estava imóvel, de joelhos, e tocou em sua mão na face dele. Ele pareceu sair de um
transe e tombou para trás, as veias pretas que antes estavam nele, se agarraram as
mãos de Jasmin, subindo por seu braço. Ela se arrepiou, com essa invasão, mas seguiu
para o segundo, aquilo parecia exigir muito dela, Nyx foi até ela, que se desvencilhou
de seu toque, e fez o mesmo com o restante. Que pareciam desacordados, Nyx e Zayn
ficaram responsáveis por avaliar o estado de cada um, me ofereci para carregar os
corpos para suas respectivas casas, mas eles recusaram. Jasmin estava sentada no
chão, as veias pretas tomando conta de todo seu braço, seus olhos estavam fechados.
Adelle se aproximou e a chamou, quando ela abriu os olhos, Ade deu um pulo para trás
tampando sua boca, chegando mais perto de Adelle, a puxei para os meus braços, ela
enterrou o rosto em meu peito e tremia, olhei para a feição de Jasmin que permanecia
a mesma, se não fosse por seus olhos, que estavam tomados, inteiramente, da cor
preta, de um escuridão tão profunda que fez com que eu me arrepiasse.

-Olá Ivar. - sibilou ela, com o olhar inexpressivo. Mas o que mais me assustou não
foram seus olhos, e sim sua voz. Não pertencia a Jasmin, eu escutei minha própria voz
saindo de seus lábios.

CAPÍTULO 24

Perspectiva Zayn:

Quando eu e Nyx voltamos para onde o restante do grupo estava, me deparei com uma
cena que fez meu sangue ferver. Adelle nos braços de outro macho, ela tremia, estava
aterrorizada. Olhei para Ivar, meus punhos cerrados, e como um ímã, Adelle me olhou
e se desvencilhou dele, correndo em minha direção, como se estivesse prestes a
desabar. A segurei e Nyx, vendo o que eu pretendia fazer, quebrou o silêncio
perguntando o que tinha acontecido.

-Jasmin, está estranha. - Sibilou Adelle, sua voz estava trêmula.

Nyx se aproximou de Ivar, e seu corpo tenciona.

-Herdeiro. - Nyx falou, mas ao perceber como seu corpo deu um solavanco, percebi
que aquela voz não tinha vindo dele, e sim da humana em sua frente.

Cheguei perto para visualizar a cena, e me arrepiei, era aterrorizante. Jasmin não era
ela mesma, Adelle se recusava a olhar sua amiga naquela situação;

-Faça isso passar, por favor. - pediu Adelle, para ninguém em específico.

-Ade, me ajude. - A voz de Jasmin soou, fraca e distante.

Ivar se agachou ao seu lado, seguindo de Nyx. Adelle se soltou de meus braços e olhou
em direção de sua amiga, segurei sua mão, poderia ser perigoso. Ela apenas me olhou,
com uma grande coragem, e ficou frente a frente com sua irmã.
-Oi Min, estou aqui, volte para nós, sei que está aí em algum lugar, por favor. - Ela
olhava na dimensão preta dos olhos de Jasmin, esperando encontrar novamente os
pares de olhos verdes, que ela tanto conhecia. Um soluço escapou de seus lábios
quando Adelle a agarrou e a acolheu em seus braços. Jasmin fechou os olhos por
alguns momentos e quando tornou a abri-los, aquelas órbitas pretas, tinham sido
substituídas pelo verde esmeralda.

-Estou com frio. - Ela sibilou, sua voz rouca,como se tivesse gritado por horas, ela
tremia, parecia ter entrado em um lago gelado durante o mais cruel inverno, seus
lábios estavam roxos.

Ivar a colocou em suas costas e sem aviso prévio disparou com ela de volta à
propriedade, em sua forma de besta. Quando chegamos na casa, ele já tinha a levado
para o quarto, ninguém parecia ter percebido a movimentação, então seguimos o
mesmo caminho, sem criar alarde. Ao chegarmos lá, parecia uma sauna, o vapor já
tinha preenchido todo o ambiente, Aurora estava cobrindo Jasmin, que ainda tremia.
Ivar fechava as persianas, para não entrar nenhum vento frio.

-O que aconteceu? - Perguntou Aurora, realmente preocupada.

Fiz uma rápida explicação, enquanto Adele se aconchegava ao lado de sua amiga, e a
abraçava, tentando conter os tremores.
Aurora fez a mesma coisa, do outro lado, aos poucos os tremores foram passando, até
que ela dormiu profundamente.
Ivar abriu novamente uma das portas para um vento gelado entrar.

-Ela era considerada a transmissora da praga, como que ela conseguiu curá-los? -
Perguntou Aurora, tirando alguns fios que se grudaram na testa de Jasmin.

-Estavam errados sobre ela, ou ela consegue realizar os dois feitos. - Sibilou Nyx, se
escorando na parede que dava pra sacada.

-Isso não tem muita lógica, por que ter uma maldição e uma dádiva? - perguntou Ivar,
se esticando por cima da cama para tocar a testa de Jasmin.

-Ela está em sua temperatura normal, mas vamos manter a lareira acesa para garantir. -
disse ele para as meninas que cercavam a amiga, que assentiram.

-Melhor irmos dormir. - Falei. - Podemos revezar uma vigia, para que as meninas
descansem.

-Podemos revezar todos. - Disse Adelle.


-Eu fico de vigia no primeiro turno, a cada duas horas trocamos.- Disse Nyx, encarando
Jasmin.

Ivar meneou a cabeça em concordância, seguido de Adelle e Aurora. Tínhamos que ir


para nossos aposentos, mas ninguém deu sequer um passo.

-O tapete é muito confortável. - Disse Adelle, de forma doce. Ela tinha percebido nossa
relutância em sairmos dali, e teve uma ideia que não nos forçava a fazê-lo. Aquilo fez
meu peito se encher de amor.

Ivar se estirou no chão, Adelle e Aurora não se moveram e fecharam os olhos. Me


sentei em uma poltrona de frente para Ade, e escorei a cabeça para trás. Em poucos
minutos o cansaço tomou conta de minha mente e adormeci.

Perspectiva Aurora:

Era minha vez de vigiar, nada de anormal ocorreu enquanto dormíamos, estava
amanhecendo. Percebi um movimento na cama,e da sacada, estiquei meu corpo para
ver o que era, vi que Jasmin tinha saído da mesma e olhava em volta, se acostumando
com a claridade. Ela parou de frente a Nyx, que estava adormecendo no chão,
parecendo inquieto. Esticou a mão até seu rosto, fiquei em alerta, ela tocou o dedo
indicador na testa dele e fechou os olhos respirando fundo. Dez segundos se passaram
e ela seguiu para o banheiro, parecia que ela não tinha reconhecido minha presença,
ou me ignorou, fui até Nyx que agora dormia com um semblante tranquilo e pacífico.
O que você é, Jasmin Hale?

Horas depois estávamos todos na mesa para o café da manhã, depois do episódio com
Nyx, tudo correu normalmente.

Amren e Mor estavam presentes, com Eva e Emerie. A pequena brincava com seu tio
Cass, Jasmin estava conversando normalmente, ninguém tinha tocado no assunto
depois de ontem. Estava um ambiente muito agradável, por enquanto.

Perspectiva Jasmin:

Minha mente estava nublada, o objetivo de encontrar Ade já tinha ficado para trás a
algumas ruas. Percebi que andava nos arredores da cidade, mesmo que minha mente
gritasse para que eu retornasse, meu corpo não correspondia e minhas pernas me
levavam cada vez mais longe.
Quando cheguei perto de alguns prédios, em uma área mais humilde, foi como se eu
retomasse o controle de mim mesma. E olhando por onde eu tinha vindo, percebi que
iria me perder antes de encontrar o caminho de volta. Mas mesmo assim comecei a
retornar, andando a algumas quadras percebi um grupo de cinco feéricos jogando
cartas na entrada de casa. Quando passei em frente eles me encararam, e um frio
subiu pela minha espinha. Um deles levantou, um baque sugeriu que a cadeira tinha
tombado, apertei o passo e comecei a avançar mais rapidamente.
A iluminação ali era pouca, e o pânico ameaçou me consumir. Meus pensamentos e
temores fizeram com que eu me descuidasse e uma mão me puxasse para trás, me
fazendo desequilibrar. Me recuperei rapidamente e tentei me debater, mas o grupo me
cercou. Cruzei meus braços em frente ao meu rosto, esperando pelo pior, mas
nenhuma movimentação se seguiu. Quando decidi erguer meu rosto vi cinco faces me
encarando, mas paradas como estátuas, seus olhos, impossíveis de enxergar suas íris,
as veias pretas subiam por suas peles. Infectados! Fiquei em dúvida do que fazer, mas
decidi me arrastar por um vão entre suas pernas. Assim que me afastei eles formaram
uma barreira em minha frente, nunca deixando seus olhares se direcionarem a outra
coisa senão meu rosto. Dei um passo para trás, eles deram um em minha direção.
Outro passo meu, outro deles. No terceiro passo esbarrei em alguém, e um grito
escapou de minha garganta, não me permiti olhar quem era, apenas corri, corri o
máximo que consegui. Cheguei a um ponto que tive que me escorar na parede mais
próxima, mas os passos se aproximaram, mas não apenas dos feéricos.
Foi então que vi, meus amigos, todos ali.

-O que está acontecendo?. - Sibilei.

Eu estava apavorada, quando pensei que era o fim para mim, um relâmpago passou
por minha mente, “eles não estão te atacando, estão te protegendo”, foi como uma
confirmação. Ivar ia se aproximar, mas ergui minha mão o impedindo. O resto foi como
um borrão, em um momento eu estava com medo, no outro eu já ergui minha mão
para tocar na testa dos feéricos. Foi como se uma estaca de gelo fosse fincada desde os
meus dedos até meu coração, mas vi que o feérico estava “curado”, a dor era
excruciante, ainda assim, segui fazendo o mesmo até o último. Nesse momento fui
presa, presa ao meu próprio corpo. A única coisa de que me lembro foi de eu pedir
ajuda para Adelle, e de uma brisa suave que chicoteava meu rosto momentos depois, e
um cheiro suave de primavera que preencheu meu olfato.

Na mesa, pronta para tomar café da manhã, eu me esforçava para não parecer que eu
não fazia ideia de como tinha chegado em casa, e por que todos estavam dormindo
juntos, só me lembro de levantar e ir direto para o banho, quando saí, me dei conta
que Aurora estava acordada, e parecia perdida em pensamentos. A cumprimentei de
longe e deitei novamente. Fora isso, havia um breu no lugar de minhas memórias.
Tinha pego um croissant de chocolate, que estava prestes a colocar em minha boca
quando Azriel entrou na sala, como uma tempestade, e quando percebi que ele vinha
em minha direção engoli em seco e me levantei.
Ele apontava o dedo para o meu rosto, transtornado. Rhysand e Feyre se levantaram
preocupados.

-O que é VOCÊ?- Ele berrou na minha cara.

Eu me encolhi, não queria, mas não esperava tal comportamento, e não sabia ao que
ele se referia.
Senti braços me amparando, a presença de Azriel não era tão sufocante assim, pois
quando ergui os olhos Cassian tinha o puxado para longe, e Aurora estava posta em
minha frente, enquanto Nyx me segurava pela cintura.
Minha cabeça girou.

-Mas que comportamento é esse Azriel? - Ralhou Gwyn, parecendo assustada.

Ele parece ter se dado conta do que tinha feito e sua expressão se suavizou um pouco.
Mas ao se lembrar de algo, sua fúria voltou com tudo.

-Você infectou cinco dos nossos ontem. - disse ele, borbulhando de raiva.

-O que? - disseram todos em uníssono, chocados com a declaração.

-Não, eu… - comecei a falar mas parei, eu realmente tinha infectado eles? Não tive
contato algum, apenas os olhei. Era possível que eu os tivesse infectado apenas
estando no mesmo ambiente que eles?

-Ela também tirou a praga deles, tenho certeza que você também viu isso. - disse Ivar
passando geleia de amoras em sua torrada.

-Como? - Rhysand perguntou.

Nyx perguntou para mim se ele poderia mostrar para eles o que tinha visto, eu
confirmei, incapaz de falar algo que nem eu mesma me lembrava com todos os
detalhes.
Após alguns minutos, todos viraram sua atenção para mim.

-Do que você se lembra Jas? - Então eu contei de tudo que eu me lembrava.
-Como você não está morta?- Sibilou Amren, mais para ela mesma, mas que fez um
arrepio subir por minha coluna.

-O que você quis dizer? - Encontrei forças o suficiente para perguntar.

Ela me encarou por alguns momentos antes de responder:

-Um homem, feérico, em contato com a praga já tem seu corpo e mente controlados,
como você tirou isso deles, sugando para você, de cinco feéricos, e não teve
consequências? Isso é impossível.

-O que mais você viu Azriel? - Perguntou Gwyn.

-Eles estavam protegendo você, mesmo “Jasmin”- disse ele com sarcasmo. Fazendo
aspas, no ar - Sendo a pessoa que os infectou. O que você quer, um exército de
infectados?. - Perguntou ele, de forma ácida.

-Como você tem tanta certeza de que foi ela? - Perguntou Nestha.

-Ela era a única ali, a ÚNICA. - Berrou Azriel.

-Tem certeza?- Perguntou Ivar.

-Eu trombei em alguém, e me assustei, por isso gritei. Não era você? - Perguntei,
olhando em seus olhos, e percebi que ele não tinha visto ninguém, pois um vinco se
formou no meio de suas sobrancelhas.

E foi aí que me dei conta, se eu não trombei em Azriel, quem estava lá? Essa seria a
pessoa responsável pela transmissão da praga, e não eu? Ou eu estava delirando, e
aquilo era apenas meu cérebro querendo me pregar mais uma peça?

CAPÍTULO 25

Perspectiva Jasmin:

Silêncio. Puro e absoluto. Azriel tinha a expressão fechada, tentava, sem sucesso, se
lembrar em quem eu tinha trombado.

-Não tinha ninguém lá Jasmin. - disse Azriel.


-Eu gritei justamente porque trombei em alguém, como não teria ninguém presente
Azriel? - Devolvi, sem paciência.

-Me deixe ver sua mente Azriel. - pediu Feyre, e Azriel assentiu.

Algo pareceu se contorcer em minhas entranhas, aquelas palavras me atingiram de


uma maneira muito negativa. Me lembrei da dor que senti no momento em que Rhys
invadiu meus pensamentos. Minha respiração começou a acelerar, eu queria sair dali o
mais rápido possível. Um aperto em minha cintura me fez voltar a realidade, nesse
exato momento percebi que Nyx ainda a segurava, olhei para ele, que me encarava,
como se tentasse me entender. Ele chegou sua boca perto de meu ouvido e sussurrou,
de maneira que ninguém mais ouvisse:

-Eu acredito em você, sei que tinha mais alguém ali!.

E por uma fração de segundo, pensei em contar a ele de Brandon, e despejar todas
minhas dúvidas e medos, mas um grande “pare” soou em minha mente. Fechei minha
boca, para que não corresse nenhum risco de eu falar demais. Apenas assenti e
agradeci.
Me desvencilhei de seus braços, me sentando novamente, meio desnorteada ainda.

-Não vi ninguém também, pareceu que você apenas se assustou pela situação que
estava e disparou a correr. - disse Feyre, se sentando e colocando a cabeça apoiada em
suas mãos.

-Deve ter sido apenas coisa da minha cabeça. - eu falei, tentando tirar o foco desse
assunto.

-Precisamos ver na prática. - Disse Rhysand.

Todos pareciam ansiosos, pelo o que o Grão-Senhor diria em seguida.

-O que você quer dizer? - Perguntou Elain.

-Vamos levá-la para vermos ela curar um infectado. E faremos o teste, se ela consegue
infectar algum feérico. - Todos suspiraram, surpresos, com a última frase.

-Não podemos colocar ninguém de cobaia. - Disse Nestha, na defensiva.

-Por isso mesmo, não vou colocar em risco a vida de nenhum súdito. Eu serei a cobaia.
- Declarou ele.
Meu queixo caiu, o Grão Senhor mais poderoso, estaria sendo a cobaia de uma
humana descontrolada, era irônico.

-Não! - Afirmou Nyx. - Não vou aceitar!

-Filho, precisamos saber o que Jasmin é capaz, essa decisão é dela. Apenas dela. - Ele
disse essa parte me encarando.

-Mas, eu não faço ideia de como aconteceu, nem toquei neles. Como saberei se,
realmente, tentei te infectar? - Perguntei. Não sei por que eu estava concordando com
aquela ideia claramente estúpida.

-Tente usar suas emoções, queira me infectar, e veremos se é através de suas emoções,
se não for, pensaremos em outras formas. - Disse ele se levantando e indo até o meio
do lugar.

Mor prontamente levou Eva para fora, e todos se afastaram dando espaço, não era
possível que ele queria que eu tentasse neste exato momento.
Ele queria.
Me levantei, meio trêmula, e sem saber o que faria. O tocaria? Apenas idealizava que
eu o queria infectado? Faria alguma maracutaia de gente mágica? E se ele se infectasse
e eu não conseguisse o trazer a sua volta normal? Minha cabeça latejava por conta das
opções e medos.

-Não tenha medo, você não vai me machucar. - Disse Rhysand sorrindo, mas eu sabia
que não era completamente sincero.

Olhei em volta, no olhar de Feyre ela implorava, silenciosamente, para que eu não
machucasse o amor de sua vida. No olhar dos outros, tinha desconfiança, muita, e eu
não aguentei olhar por muito tempo. Apenas encarei Rhysand, respirei fundo e dei um
passo à frente. Fechei meus olhos e tentei pensar nele infectado, eu o infectando, mas
não funcionava, eu me sentia apenas tosca, tentando fazer algo de que não era capaz.
Raiva foi tomando conta de mim, mas eu não sabia de onde vinha exatamente.
Circundava entre todos ali desconfiarem de mim, por talvez eu ser a culpada pela
tristeza de várias famílias, por não ser capaz de saber o que sou, por ninguém acreditar
em mim. Quando por último pensei em meu pai, naquele homem que transformou
minha vida em um completo terror. Aquele foi o estopim para mim. Ergui minhas mãos
para Rhysand, que me olhava, com um olhar curioso, mas quando menos eu esperava
fui sugada. Minha visão escureceu, e meu corpo era uma casca, uma que eu não fazia
mais parte. Parecia que eu tinha caído na água, mas ao invés de emergir eu apenas me
afundava. Mas lutei contra isso, contra a correnteza, impulsionei meu corpo para cima,
mesmo que pesos invisíveis me puxassem para baixo. O fôlego foi roubado de mim, e
eu comecei a sufocar, mas continuei nadando, meus pulmões queimavam, ergui minha
mão como se alguém pudesse me puxar. Como um último pedido, antes que eu
desmaiasse. E assim que a escuridão iria tomar conta de mim, fui puxada de volta.

-O que está acontecendo?

-Rhysand, você está bem?

-O que ela fez?

-Ela vai sobreviver?

Eu ouvia essas perguntas, mas parecia que eu estava nos bastidores, com uma cortina
de vidro me separando deles. Tentei falar que estava bem, mas não consegui
pronunciar uma palavra sequer. Meu corpo era chacoalhado. “Jasmin acorde” , “vamos
você consegue”.

-Rhysand. - Um berro saiu dos lábios de Feyre, e foi como um puxão.

Meu corpo se impulsionou para frente, e eu tinha voltado, olhei em volta rapidamente,
vendo o que estava acontecendo, mas meus olhos se fixaram em Rhysand que se
contorcia de dor, tentei chegar perto dele, mas Cassian me impediu.
Feyre o chamava, ele parecia quase desacordado, tentei mais uma vez chegar perto,
mas Azriel segurou meus braços.

-Me deixe ajudar. - Berrei.

-Mas você fez isso com ele. - Gritou Nestha de volta. Vindo em minha direção de
forma, bastante, ameaçadora.

-Você sabe o que fazer para ajudar? - Devolvi a pergunta, estava cansada de tanta
desconfiança. Eu nem o tinha tocado.

-Deixe-a. - Disse Feyre, que se segurava para não chorar.

Cheguei perto de Rhys, que suava e parecia com frio, coloquei a mão em sua testa, e
pensei em coisas boas, como o momento do planejamento do casamento, eu e Ade
costurando o vestido, decorando o quintal de Tamlin, minha alegria em comer as
tortinhas de chocolate com amoras, a satisfação de uma tarde de compras, e a alegria
em ver Asa entrando da forma mais bela em seu casamento. E como resposta para
aquelas lembranças, Rhysand voltou a si.
Feyre o abraçou, ele me encarou, não nervoso, como eu imaginaria.
-Me desculpe! - Eu pedi.

Ele apenas balançou a cabeça sorrindo.

-Eu que deveria pedir desculpas, já adicionei na lista, nunca tentar ajudar você com
meus poderes, durante um surto. - Brincou ele.

-O que? - Perguntou Nestha.

Naquela hora eu também estava confusa, ele realmente tinha dito que tentou me
ajudar?

-Quando vi que você saiu de si, tentei usar meus poderes para te puxar de volta, você
não tem barreiras mentais, então, ouvi seu subconsciente gritar por ajuda. Eu não
podia apenas ignorar isso então…

-Você que me puxou de volta. - Terminei.

Ele assentiu. Eu o abracei, com tanta gratidão que poderia ser palpável.

-Obrigada, obrigada, obrigada. - Ele afagou minhas costas.

Abracei Feyre.

-Obrigada por confiar em mim. - Olhei em seus olhos, e ali vi que ela era uma
confidente.

“Mesmo quando nem você mesma acreditar de que é capaz, lembre-se de que eu
confio em você” - Sua voz suave veio como uma brisa fresca no dia de verão.

-Então o contato do seu poder com Jasmin, fez com que você tivesse essa reação; -
Falou Amren, encarando Rhysand.

Ele meneou a cabeça e se levantou.

-Acho que seus sentimentos são a chave para isso Jasmin. Para descobrirmos até que
ponto você pode chegar. - disse ele.

-Levarei ela para um treinamento. - disse Azriel.

E do jeito que Nyx se pôs diante dele, percebi que não era para eu me animar.
-Não seria melhor cancelar os treinos hoje? - Argumentou ele.

-Não! Você, Zayn e Ivar irão com Cassian. Aurora e Adelle terão o dia de treinamento
com Gwyn, Emerie, Nestha e Feyre. Jasmin virá comigo. E sem espaço para discussão.
-Finaliza ele.

-Você se sente preparada Jasmin? - Feyre me perguntou. Eu sabia que dependendo da


minha resposta, ela não me forçaria a ir.

Mas eu precisava, eu tinha que ir, mesmo que quisesse estar junto de minhas amigas.

-Eu vou! - Declarei.

-Já vamos sair, garotos, Cassian estará esperando vocês em poucos minutos, não se
atrasem. - Disse Azriel, parecendo satisfeito.

Corri no meu quarto e vesti o conjunto de couro, igual ao primeiro dia, porém percebi
que esse em específico tinha uma camada a mais, trazendo um aconchego. Me dirigi
até o saguão e logo parti com Azriel, Feyre nos atravessando.
Estávamos na ponta de uma montanha, mais alta do que eu gostaria, nevava e a
camada de neve nos pés já estava muito proeminente. Cheguei na beirada do
penhasco e olhei para baixo, ok, eu definitivamente tinha pavor de altura.
Azriel permitiu que eu avaliasse o local, para depois me chamar até o meio daquela
“arena” de treino. Ele me ensinou alguns movimentos básicos, esquivar, defender,
atacar. E agora eu realizava os movimentos de maneiras consecutivas, a palavra mágica
para o meu descanso era “Praga”, e diziam que ele não tinha senso de humor.
Estava no movimento de ataque quando ele intervem:

-Firme mais o braço, assim fará que a força que atingirá seu inimigo seja maior.

-Suas pernas estão muito afastadas, uma rasteira poderia facilmente te levar pro chão,
NUNCA deixe que te levem pro chão durante uma luta. Vai ser o fim da sua vida se isso
acontecer. Firme eles no chão.

-Você se esquivou de forma muito lenta, facilmente você seria pega no meio do
movimento.

-Se você o atacar assim, ele fará um quebra- cabeça com os ossos de seu tornozelo.

Eu já estava sorrindo com escárnio, eu só errava, eu não fazia um movimento correto.


O que não era de se surpreender.
Continuamos com essa sequência sem parar por mais quarenta minutos até que:

-Praga. - Ele disse, e eu me joguei para trás, indo de encontro à neve.

Meus músculos ardiam.

-Se você continuar assim, vai conseguir lutar com um adulto, humano, e muito bêbado,
aí sim você terá uma chance contra ele. - Aqueles palavras me atingiram de forma
muito ruim, mais do que eu esperava. Sabia que, se eu fosse uma feérica aguentaria
muito mais tempo, e teria mais agilidade e força. Mas não constava esses requisitos em
minhas especialidades humanas.

-Se você continuar tão falante, vai acabar sem língua. - murmurei, mas para minha
infelicidade ele ouviu.

Uma risada baixa escapou de seus lábios , suas sombras apareceram, e ele jogou uma
adaga que acertou a milímetros de meu rosto, ri de forma desacreditada, aquilo tinha
acontecido com Nyx, mas quem atirou a adaga fui eu.

-Tire um filete de sangue meu,e finalizamos esse treino. - disse ele se colocando em
posição de combate.

Me levantei, aquilo seria uma piada, me coloquei na pose de defesa, mas ele esperava
que o primeiro golpe viesse de mim. Então dei um passo em sua direção, ele me olhava
de forma divertida, corri em sua direção, mas fui para o chão em seguida, senti o gosto
de sangue em meus lábios. Ótimo, tudo que eu precisava, um soco no queixo. Me
levantei, mas fui surpreendida com uma rasteira, bati a cabeça no chão, que ainda
bem, estava coberta de neve, o que diminuiu o impacto. Girei meu corpo e me
levantei, com muito custo, ele me olhava com os braços cruzados. Atirei minha adaga
em sua direção, ele desviou como se ela tivesse passado por ele em câmera lenta, a
lâmina se prendeu na neve atrás dele, na ponta do penhasco. Eu tinha que chegar até
ela, e Azriel tinha plena consciência de meus planos.
Tentei avançar, mas ele me atacou com um soco, que tinha como alvo, meu estômago.
Desviei, por pouco, correndo em direção a adaga. Meu queixo foi de encontro ao chão,
e urrei de dor. Ele segurava meus tornozelos, concentrei toda minha força em minhas
pernas e chutei, ele desviou seu rosto mas acertou seu ombro, o fazendo me soltar
pelo tempo que eu precisava para correr. Como eu estava perto, deu certo, porém eu
não parei de correr, peguei a adaga, e virei para ele, Azriel estava confuso, pois nesse
exato momento não tinha montanha alguma embaixo dos meus pés. Então eu comecei
a cair.
Como o esperado, e graças ao caldeirão, ele pulou junto, pronto para me pegar. Então
lancei minha primeira adaga, o vento não estava ao meu favor, mas, consegui. Ele
desviou, mas não o suficiente para escapar da ponta da segunda adaga que eu lancei,
aquela que ele não fazia ideia de que eu possuía. Raspou sua bochecha, fazendo o
vermelho carmesim brotar em seu rosto. Ele conseguiu segurar meu braço e nos levou
de volta à terra firme.
Assim que ele me pôs no chão eu gargalhei, eu tinha conseguido. Ele se pôs ao meu
lado, um sorriso singelo tinha brotado em seus lábios.

-Você é inteligente, até para uma humana. - Ele estava brincando com minha cara, eu
tinha plena noção disso. Apenas concordei.

-Você é um péssimo professor, até para um feérico. - Ele gargalhou e me estendeu a


mão, hora de ir embora.
Missão do treino: Concluída.

Quando chegamos a casa estava vazia, ele se despediu e saiu rapidamente dali. Segui
para o meu quarto. Fui direto no armário e peguei um vestido midi verde claro, ele
tinha mangas longas e um corset preto embutido. Então segui para a sala de banho. A
banheira estava borbulhando, com um cheiro de hortelã maravilhoso. Tomei um banho
demorado, e me vesti logo em seguida. Fui dar um jeito em meus cabelos, e quando
bati o olho no espelho vi como estava horrendo o local onde fui atingida pelo soco,
estava roxo, e quando toquei, desejei não ter feito. Decidi que seria melhor perguntar
para alguém se tinha algum tônico que ajudaria na dor. Fiz duas tranças,com o cabelo
molhado, que iam da raiz até as pontas. Segui até a sacada, o vento estava um pouco
friozinho, então decidi pegar um casaco. Quando o peguei no armário, pensei se não
teria uma biblioteca por ali, eu adoraria ter um livro para ler durante o dia. Fui
andando pelos corredores a procura de alguém para perguntar, quando percebi um
corpinho se esgueirando entre os vasos de flores. Fui até lá e vi Eva segurando uma
bandeja de tortas.

-Que susto! - disse a pequena colocando a mão no coração.

Mas sabia muito bem que ela percebeu que eu estava indo até ela.

-Que coisa feia Eva, esses doces não deveriam estar na cozinha? - Perguntei.
-Mas eles estavam tão lindos Lady Jasmin, que não resisti. - Respondeu ela fazendo
beicinho.

-Podemos fazer um acordo, o que me diz? - Perguntei.

Ela ergueu os olhos até mim, curiosa e cautelosa.


-Você me ajuda a achar a biblioteca, se tiver alguma, e eu não conto para ninguém das
tortas. - Falei colocando as mãos na cintura. - O que me diz?

-Só se você me fizer companhia. - disse ela, com os olhos de cachorrinho abandonado.

-Fechado. - Respondi segurando sua mão, como se estivéssemos selando um acordo


importante.

Ela me levou até lá, e quando chegamos ela brincou que eu tinha no máximo cinco
minutos para pegar um livro para mim e outro para ela, que queria ler sobre fadas
encantadas.
Fui andando pelas prateleiras e achei uma que tinha o foco, romance. Peguei alguns
volumes até que encontrei um volume bastante instigante, tinha a capa preta, e apenas
uma frase escrita na primeira página: “um amor trágico, até mesmo para uma história
fantasiosa”
Peguei, deixando o plano de olhar toda a biblioteca para outro dia. Fui em direção a
ala infantil procurar um livro de fada. Achei um ilustrado que Eva poderia gostar, então
levei para a pequena. Seguimos para meu quarto, peguei um cobertor e coloquei em
volta da menina, que comia as tortas em uma mão e folheava o livro com a outra.
Deitei em um outro sofá que tinha ali e comecei a ler. Viajei para aquele mundo
instantaneamente, e me perdi nele pelas próximas duas horas. Quando ergui os olhos,
caindo na real, vi Eva com a cabeça tombada para frente, ela tinha adormecido
sentada. Tirei o livro e os farelos de seu colo e a peguei, levando ela até a cama, peguei
um pano umedecido em seguida e limpei suas mãos, para que ela pudesse descansar
sem o grude do doce em seus dedos. Fechei as janelas e a porta, para manter o
ambiente escuro e agradável. Segui para o banheiro e na pia tinha um pote com um
creme laranja e um bilhete escrito com uma letra bastante distinta, de criança, “Isso vai
ajudar a tirar a dor, esse roxo deve estar incomodando”. Assim que o abri, o cheiro de
pêssego preencheu o ar ao meu redor. Passei uma generosa camada e senti a anestesia
imediata. Voltei para a sacada, mas antes, chequei se Eva estava confortável.
A leitura estava muito boa, eu me encontrava viciada naquele livro, até que o ronco do
meu estômago me tirou desse transe. Olhei para a bandeja e percebi que havia
algumas tortinhas. Comi todas que sobraram e segui para o banheiro para lavar as
mãos, Eva dormia profundamente, e a vontade repentina de descansar bateu. Peguei
as coisas que levamos para o lado de fora e trouxe para o quarto, guardei os livros em
uma mesinha e fui no guarda roupa procurar um conjunto de calça e blusa de frio.
Achei um, de camurça no tom azul marinho, me troquei e guardei o vestido. Me
aconcheguei na cama, e puxei as cobertas sobre mim. Assim que minha cabeça
alcançou o travesseiro o sono me derrubou.

-Lady Jas, Lady Jas.. - uma vozinha me chamava, e sacudia meu corpo.
Evangeline.. me levantei de prontidão, procurando por qualquer ameaça em volta.

-O que foi minha linda? - Perguntei após ver que não tinha ninguém ali.

-Cansei de te olhar dormir, faz uma hora que estou te observando, vamos fazer algo
mais divertido. - disse ela dando pulinhos.

-Você quer matar de susto Eva? - E imitei a pose que ela fez quando a peguei
aprontando.

-Assim não vale. - disse ela gargalhando.

Peguei o travesseiro e acertei em seu rosto, ela ficou alguns segundos imóvel, pensei
tê-la machucado, mas quando menos esperei um meio ser humano veio pra cima de
mim, com toda garra para me acertar de volta. E essa foi nossa brincadeira pelos
próximos minutos.
Quando cansamos, fomos até as janelas e a abrimos, deixando a brisa entrar. Deitamos
na cama para nos recuperarmos.

-Eu queria ser uma princesa Lady Jasmin. - disse ela, com um tom sonhador.

-Ter asas de fadas, e ser a princesa delas. - completou ela.

-O que faria se você fosse essa princesa fada? - Perguntei.

Então ela se empolgou, me contando TUDO que ela faria caso tivesse tal oportunidade,
desde como seria seu reino, até em como ele seria comandado, como seriam as festas,
e como a única regra seria “seja feliz”. Sorri diante desse sonho, era algo que eu
facilmente desejaria quando mais nova.
Então ela me perguntou qual era meu sonho, e me pegou desprevenida, os olhos
atentos e ansiosos de Eva me encaravam.

-Nesse momento, que as coisas voltem a ficar boas novamente. - Ela não gostou muito
da resposta mas não insistiu.

-Todos estão demorando a voltar hoje. - disse ela. - Já são 14:00 e eu estou com fome.

-Todas aquelas tortas não foram suficientes? - perguntei, me divertindo com a


expressão de sofrimento que ela fez.
-Claro que não Jas, venha comigo, vamos ver se tia Elain deixou algo na cozinha,
qualquer coisa vou te levar pra conhecer um ótimo restaurante. - Ela correu no armário
e pegou o vestido que eu estava usando anteriormente e me entregou.
Ela disse que meu cabelo tinha ficado muito lindo naquelas tranças então me ofereci
para ficarmos iguais, ela topou na hora.
Estávamos sentadas em frente ao espelho, os cabelos de Eva iam até abaixo de seus
ombros, eram loiros, como os de sua mãe Mor. Finalizei a trança e coloquei algumas
pérolas para decorar. Ela ficou valsando sozinha dizendo o quanto tinha amado,
enquanto eu me trocava.
Então seguimos para a cozinha, não tinha nada e Eva já tinha começado a ficar mal
humorada, então prometeu que iríamos para o tour depois que fossemos no
restaurante. Ela me guiou pelas ruas até que entramos em uma muito movimentada,
abarrotada de lojas de todos os tipos. Em um dos últimos estabelecimentos tinha um
que me chamou a atenção, era totalmente de madeira, desenhos tinham sido feitos
nela, quando entramos o ambiente e o cheiro da comida recém assada encheu meus
sentidos. Eva foi logo me puxando para seu cantinho favorito, que tinha uma enorme
parede de vidro, que dava para um pequeno jardim. Uma feérica, alta, com cabelos
crespos pretos, pele escura e olhos azuis veio nos atender, ela era filha da dona do
local, me explicou Eva. Seu nome era Zuri, e como o significado do nome, ela era uma
mulher muito bela.
Estendendo o cardápio para nós, Zuri ficou de prontidão para anotar os pedidos.

-Vou querer o de sempre Zuzu, macarrão..

-Com bastante queijo. Anotado pequena. - completou ela, virando para mim esperando
que eu fizesse o mesmo.

-Vou querer essa massa com cogumelos e ricota por gentileza. - respondi, ainda meio
indecisa.

-Meu favorito, boa escolha, senhorita… - ela esperou que eu completasse.

-Jasmin. - respondi, e ela assentiu.

-Jasmin. - repetiu ela. - E de bebida?

-Um suco de morango Zu, e você, Jas? - Perguntou Eva.

-Pode ser uma taça de vinho branco por favor. - Pedi educadamente.

Nunca tive esse luxo, então estava a fim de aproveitar todas as oportunidades.
-Feito! Em alguns minutinhos chega para vocês.- Disse Zuri indo atender outras mesas.

Eva não estava falante, com certeza tinha a ver com o fato de estar com fome, mas que
melhorou quando outra pessoa trouxe para nós torradas com geleias e patês.
Eva atacou as torradas, então deixei que ela degustasse. Chegou nossas bebidas e
tomei um longo gole do vinho, que era muito bom. Olhei para o jardim, e me perdi em
pensamentos, Evangeline respeitou meu espaço e não disse nada, fui interrompida
apenas com Zuri colocando os pratos na mesa. Agradecemos e ela perguntou se já
podia anotar as sobremesas.
Cochichei no ouvido de Eva que concordou.

-Vamos deixar que você traga as suas duas favoritas Zuri, nos surpreenda. - Respondi
sorrindo.

Ela pareceu feliz, seus olhos brilharam, então começamos a comer. E na primeira
colherada que coloquei na boca, meus olhos se arregalaram de leve, escutei uma
gargalhada, vinda de Zuri, que tinha me pego no flagra, apreciando aquele sabor
divino.
Tentei me conter para não acabar com tudo em segundos, e apreciei aquelas nuances
de sabores que se misturavam em minha boca.

-Eu sabia, eu sabia, eu sabia. - disse Eva dando pulinhos.

-Sabia o que pequena? - perguntei, colocando outra garfada na minha boca.

-Que você ia gostar da comida. - disse ela, soando vitoriosa.

-Evangeline, você terá o cargo de minha pessoa favorita aqui da corte noturna. - disse
para ela. - Mas que seja nosso segredinho. - Completei falando em seu ouvido.

Os olhos da pequena se arregalaram e ela acenou com a cabeça, descontroladamente,


e ficou com seu olhar de cúmplice.
Assim que finalizamos o prato principal, Zuri já trouxe as sobremesas.
Colocou de frente a Eva um bolo de chocolate no formato de um coração, com ganache
de chocolate branco por cima, e sorvete de baunilha, com alguns morangos decorando,
os olhos da menina quase saltaram para fora. Ela logo começou a comer, e falar, com a
boca toda lambuzada, que era a melhor coisa que ela já tinha comido.
Para mim, foi posto um mil folhas de pistache com chocolate branco, Zuri ficou ao meu
lado abraçando a bandeja, esperando minha reação. Peguei com a mão mesmo e levei
aos lábios e a explosão de sabores veio, misturando com o gosto de vinho que eu tinha
tomado.
-Hmmm, o que é esse doce Zuri? Eu PRECISO vir aqui todos os dias a partir de hoje. -
Ela gargalhou e fez uma reverência, como se dissesse “eu sei que tenho um bom
gosto”.

Ela nos deixou para que terminássemos a refeição, quando nos demos por satisfeitas
pegamos nossas coisas e fomos até o caixa, eu não sabia como iria pagar, deveria ter
pensado nisso antes de sair por aí com uma criança. Mas Evangeline apenas se apoiou
no balcão e disse que a Casa do Grão Senhor seria responsável pelo pagamento. Então
saímos.
Então o tour começou, com uma garotinha muito mais animada e disposta, ela me
levou pelas lojas, padarias, floriculturas, e tudo que tínhamos direito. Quando vi que
ela começou a bocejar, decidi que estava na hora de irmos. Ofereci para carregá-la, que
aceitou de bom grado. Ela colocou a cabeça em meu ombro e fechou seus olhos.
Comecei a caminhada de volta para casa, já estava quase chegando no fim das ruas do
comércio quando senti puxarem a barra de meu vestido. Um menininho que não
deveria ter mais de 3 anos a segurava.

-Posso te ajudar pequenino? - Perguntei, abaixando e afagando seus cabelos


cacheados.

-Aquele moço pediu para que eu te entregasse isso. - Ele me entregou uma rosa verde,
e um papel, que tinha um desenho meu, de momentos antes, quando eu estava
olhando pela janela, no restaurante.

Quando olhei para onde o menino apontava vi um feérico, tinha os cabelos grandes,
um pedaço cobrindo seu olho esquerdo, e um olho tão azul quanto o céu em um dia
ensolarado. Mas algo nele me incomodava, eu não sabia o que era até que um vento
bateu em seu rosto e moveu aquela mecha o suficiente para que eu visse, seu olho
preto.. igual a….
Fechei os olhos por alguns segundos até que olhei novamente até onde ele estava, mas
não vi mais nada. Um alerta veio à minha mente.

-Vamos embora um pouco mais rápido Eva. - Murmurei para a criança que estava
quase adormecendo em meus braços.

CAPÍTULO 26

Perspectiva Jasmin:
Cheguei com Eva em tempo recorde eu diria, a adrenalina ajudou de certa forma. A
casa já estava com um movimento, que horas antes não possuía. Assim que atravessei
a grande porta principal, uma Morrigan, bastante brava, veio em minha direção.

-Eva. - disse ela, pegando a pequena que estava em meus braços.

-Passamos a tarde juntas, chegou em um ponto que ela estava com muita fome, e
como não tinha nada na cozinha ela me levou para comer em um restaurante aqui
perto, e depois teve o “tour da Eva”. - Expliquei, antes que ela arrancasse minha cabeça
por ter saído com sua filha sem permissão.

-Fique longe dela. - Murmurou ela, de uma forma ameaçadora.

E foi como um balde de água fria, o que eu estava pensando? Que eles me tratariam
como se eu fosse da família? Uma deles?
Claro que não, apenas uma humana de interesse, uma ameaça.
Meus olhos começaram a arder, e lágrimas encheram meus olhos, desviei de Mor e
segui para meu quarto. Tinha dois objetivos: um banho e meu livro.
Quando eu ia empurrar a porta escutei risadas vinda de Adelle e Aurora, e eu não
queria interrompê-las com meu mau humor e sentimentos aflorados. Então dei meia
volta, seguindo para a biblioteca, certamente era um local que eu amaria ficar, e de
bônus, eu poderia fazer minha inspeção pelo local, olhando cada detalhe.
O cheiro amadeirado se fez presente assim que pus meus pés ali, era como se eu
entrasse em outra realidade apenas entrando na biblioteca.
Fui desde a primeira fileira até a última, trazendo uma pequena montanha de livros nos
braços. Pinturas cobriam todas as paredes, e tinham o mesmo padrão das outras da
casa. Eram lindas.
Acomodei os livros em uma mesinha que tinha no canto, acendi uma luminária e sentei
na poltrona ao lado para folhear o primeiro livro da pilha.
Após alguns minutos, ouvi um suspiro. Olhei em volta procurando de onde vinha e
percebi, do outro lado da biblioteca, Nestha deitada em um dos sofás com um livro
sobre a barriga.
Ela me encarava, sustentei seu olhar, até parecer muito desconcertante para mim e
para ela.

-Como você está se sentindo? - Foi provavelmente a pergunta mais improvável, e que
eu jamais imaginaria, sair de seus lábios.

-Ótima. - respondi de maneira que ela entendesse o que eu queria realmente dizer.
-Essa família pode te deixar louca, e fazer com que você queira acabar com a raça de
cada um. Mas confie em mim, é a melhor. Eles não são pessoas ruins, mesmo que eles
se façam parecer que sim. - disse isso de forma pensativa, parecia que ela mesma tinha
passado por isso.

-Sua família é intrigante. Você não se dava bem como eles no início? - Deixei bem claro
a questão de ser a família dela, não a minha, mas logo emendei com uma pergunta.

-De fato ela é. E não, Rhysand já quis me matar, e acredite, eu mereci. Mas são águas
passadas, hoje consigo perceber o que estava perdendo enquanto me esquivava de
todos.- Disse ela rindo. A primeira vez que vi um sorriso sincero dela. - Qual livro você
está lendo? - Perguntou ela, claramente tentando me deixar mais confortável.

-Uma humana que se apaixona por um feérico, mas sabe que é um amor impossível,
então ela decide acabar com isso antes que fosse mais doloroso. Em uma noite eles
combinaram de se encontrar sob as estrelas para jurarem seu amor eterno, e unirem
suas almas. Porém ela não aparece. Bom, parei nessa parte. - Finalizei.

-Aconteceu tudo isso em poucas páginas? O que vai sobrar para o restante do livro? -
Brincou Nestha.

-Talvez a cura de um coração partido, ou a chama da vingança. Ou a amargura da


solidão, pode seguir vários caminhos, mas nenhum deles feliz. - Falei, e veio Adelle e
Zayn em minha mente, eles se conheciam a pouco tempo, mas era notável que eles
tinham algo, eu só não tinha como dizer com palavras o que era.

-Um humano pode se transformar em feérico? - Perguntei. Mas me arrependi logo em


seguida.

Feyre e suas irmãs eram humanas, e eu não sabia se era um ponto sensível ou não.

-Conheço duas formas, com a benção de todos os grão-senhores ou pelo caldeirão. -


Disse ela, a última foi como um sussurro, então decidi não dizer mais nada.

-E o livro que você está lendo? A história é menos trágica do que a minha?- perguntei,
torcendo para que ela aceitasse essa mudança de assunto.

-Certamente é! Mas que história de amor não tem seus altos e baixos não é mesmo? -
Respondeu ela, e em seu semblante vi que ela parecia agradecida por eu não ter
estendido o assunto.

-De fato, precisamos de um pouco de drama literário já que nossa vida real anda tão
pacata. - Irônica, brinquei.
Nestha gargalhou e pôs a mão na barriga, a acariciando. Ficou um tempo assim, então
decidi voltar minha atenção ao livro.
Passou alguns minutos e arrisquei olhar para Nestha que dormiu no sofá, sua mão
ainda na barriga, provavelmente ela pegou no sono enquanto fazia o carinho em seu
bebê. Os hormônios durante a gravidez alteravam tudo, pois presumi que ela não tinha
o costume de tirar alguns cochilos no final das tardes.
Ela tinha um, perfeito, coque na cabeça. Pensei que poderia estar incomodando, fiquei
tentada em chegar perto dela. Cedi a esse desejo e me aproximei, esperando um
momento para ver se ela levantaria, como não aconteceu nada fui até onde sua cabeça
estava apoiada e soltei o coque, com todo o cuidado possível, após suas mechas
estarem soltas, fiz uma rápida massagem para aliviar a sensação dolorida que fica em
nossa cabeça após soltar algum penteado. Em silêncio, voltei para a poltrona onde eu
estava anteriormente, e mergulhei naquela história.

-Jasmin, Jasmin. - Mãos delicadas, porém firmes, me chacoalharam de leve.

-Oi, eu, é. - Falei, tropeçando nas palavras e tentando me situar.

-Eu que estou grávida, e você que está com os sintomas? - Perguntou Nestha,
brincalhona.

Será que ela não percebeu que adormeceu momentos antes, em minutos?
Olhei em volta e não conseguia dizer por quanto tempo tinha dormido, Nestha estava
inclinada para mim, e estava divina. Seus cabelos castanhos estavam pendidos para
frente com ondas perfeitas. Seus olhos estavam um pouco inchados, então ela tinha
acabado de acordar, ou fazia pouco tempo. Suas bochechas estavam coradas, e um
sorriso maroto brotou em seus lábios.

-Você é linda Lady Nestha. - Declarei para ela, que pareceu confusa e por, um segundo,
com vergonha, pois o rubor em suas faces se intensificaram.

-Muito obrigada Lady, Jasmin. - Respondeu ela, meneando a cabeça em minha direção
como agradecimento.

-Por quanto tempo eu dormi? Ou melhor, nós dormimos? - Perguntei, estreitando


meus olhos em sua direção.

-Algumas horas? Eu não tenho certeza, mas já deve ser noite. Me surpreende não
terem vindo até aqui te procurar. - Disse ela indo em direção a porta.
-Um pouco de sossego é necessário às vezes.- Falei, em baixo tom, mas o suficiente
para que ela entendesse, e ela me entendia.
-Sempre que precisar. Farei visitas frequentes a esta biblioteca. - Disse ela indo na
direção oposta a qual eu seguiria.

Segui para meu quarto, e dessa vez estava vazio, quando ia para o banheiro, me
lembrei da rosa e do desenho que eu havia esquecido por cima da pilha dos livros.
Voltei rapidamente, correndo, até a biblioteca. Por cima daqueles livros havia apenas
um colar, em formato de rosa, e o desenho. Achei aquilo bizarro, era para ter uma flor,
não um pingente da mesma. Peguei, receosa, eu não sabia o que era, mas não iria
colocar no pescoço para descobrir.
Voltei aos meus aposentos, escondi no fundo do armário, o pingente, e deixei o
desenho no meio da mesa de centro.
Ao pisar no banheiro, o aroma de limão com eucalipto encheu minhas narinas, estava
com bastante vapor, deixando bem aconchegante. O espelho estava embaçado, então
o limpei com o braço, e verifiquei o ferimento em meu maxilar, que não estava doendo,
apenas roxo.
Me despi, e entrei na banheira, a temperatura da água estava perfeita, com bolhas a
cobrindo, permiti a mim mesma um tempinho apreciando aquele banho antes de dar
continuidade. Bocejei, aquilo estava saindo de controle, pensei. Não era para eu ficar
tão sonolenta assim. Não era normal, sentia que se fechasse os olhos por um segundo
eu adormeceria novamente. Então lavei meu rosto, tentando empurrar a exaustão para
lá. Peguei um sabão, que possuía cheiro de melancia, e lavei meus cabelos. O hidratei
com um creme da mesma essência, e enquanto eu deixava por um tempo em minhas
madeixas, lavei meu corpo, o esfoliando. Em minutos eu já marchava para o quarto, a
casa estava barulhenta, mas a minha vontade de encarar todos estava zerada. Não sei
como Adelle ainda não veio me puxar pelos cabelos. Ignorei isso e peguei uma
camisola de linho branca e a vesti. Passei um hidratante corporal, na fragrância de
frutas vermelhas e penteei os cabelos. Tentei lutar contra o sono, mas meus passos
foram pesando e a última coisa de que me lembro foi de meu rosto afundando no
travesseiro.

O ar da noite adentrou minhas janelas e salpicou em minha bochecha, o sereno,


embalou meu corpo, em uma camada fina de frescor. O cheiro de lírios estava por toda
a parte, mesmo com os olhos fechados eu poderia distinguir o campo de flores imenso
que se seguia. Ao abri-los, tive a confirmação de minhas suspeitas, eu realmente estava
em um campo de flores, em uma noite fresca. Mas eu não estava sozinha, duas
sombras se distinguiam em um ponto daquele campo. Me senti dividida entre duas
ações, sair correndo ou investigar quem era. Algo estava errado e estranho, a dimensão
era diferente, não me sentia totalmente em minha própria pele. E foi como um
pequeno estalo, eu precisava sair dali. Aquelas duas figuras estavam de costas,
banhados apenas pela luz da lua, então aproveitei a deixa e fui andando na direção
contrária. Mas parecia não ter fim, eu me sentia dentro de uma arena sem saída, que
tudo é igual. Olhei em volta, começando a me desesperar, o cheiro dos lírios já
grudavam em minha pele e em meus sentidos, ao invés de um cheiro agradável,
começou a parecer sufocante. Segurei minha respiração, mas minha pele já formigava.
Olhei para trás novamente e aquelas duas figuras estavam perto demais, eu não
conseguia distinguir os rostos, pareciam apenas duas sombras andando, por uma
fração de segundo consegui ver, seus olhos, como duas pedras de Lápis Lazúli,
brilhando para mim, e foi a única coisa que consegui discernir daquelas sombras antes
da escuridão me tomar.

-Acorde! - Uma ordem, não um pedido.

Uma voz masculina, e não a voz aveludada de Nestha. Abri meus olhos, estava
novamente no meu quarto, foi apenas um pesadelo.

-Ivar! - Bradei. - O que você está fazendo aqui? - Perguntei me sentando na cama.

-Você estava tendo pesadelos, não parava de gritar por ajuda. Eu não poderia
simplesmente ficar te escutando atrapalhar minha noite. - Disse ele, com o tom de voz
tedioso.

-Eu não ligo se estraguei sua noite ou não, mas obrigada por me acordar mesmo assim.
- Falei, fazendo esforço para me levantar.

Meus músculos se retorceram, maldito Azriel, me sentei novamente e fiquei encarando


a parede, tentando lembrar em que momento rídiculo que eu aceitei que ele me
treinasse, por um momento bem curto, pois um farfalhar de tecidos me chamou a
atenção.
Ivar estava sentado na ponta da cama e esticou as pernas por cima dela.

-Mas o que você pensa que está fazendo? - Perguntei, pronta para expulsá-lo dali.

-Se vou ter que passar essa noite maravilhosa ao seu lado, o que não é nada agradável,
pelo menos que eu fique confortável. - Disse ele retirando os sapatos e colocando, um
ao lado do outro, no chão.

-Primeiro, eu não pedi para que você ficasse comigo. Segundo, eu não quero que você
passe sua noite aqui, e terceiro, não pretendo te deixar confortável. - Disse a ele,
tentando o empurrar para o chão.
-Quarto, a sua terceira declaração deixa claro então que você permitiu que eu ficasse
aqui sob a condição de me deixar desconfortável? - Perguntou ele, fingindo, uma falsa
empolgação, igual quando você descobre a resposta para um enigma.

-Eu não falei que você… - Parei no meio da frase, eu realmente tinha ficado sem saída.

-Feito. Pode voltar a dormir igual a um coelhinho assustado, estou aqui para ser o herói
e acabar com o bicho papão que está causando seus pesadelos. - disse ele com uma
mão sobre o peito, como se fizesse um juramento real.

-Então você realmente faria isso por mim? - Perguntei, com, obviamente, falsas
lágrimas nos olhos. E um olhar, que eu apostava, que algumas protagonistas faziam
para fingir que estavam totalmente agradecidas por algo, o famoso olhar “inocente e
frágil”.

Ele arregalou os olhos de leve, dei um sorriso de lado, pondo o fim em minha atuação.

-Muito fácil ser manipulado por você coelhinha. - Disse ele fechando os olhos,
apoiando a cabeça na cama.

-Onde estão os outros? - Perguntei.

-Em algum bar por aí, levaram Aurora e Adelle para conhecerem. - Senti uma pontada
de algo, inveja? Ciúmes? Ou mágoa?

Devo ter feito alguma expressão esquisita, pois Ivar logo ficou em alerta e completou:

-Adelle queria te acordar, mas acharam melhor você ficar e descansar.

Então esse era o motivo dele estar ali.

-Então você está apenas bancando a babá enquanto eles se divertem? Você deveria ter
ido, eu ainda estaria dormindo. Não é como se eu fosse uma ameaça até quando
durmo! - As palavras saíram ácidas, carregadas de um veneno que eu não reconheci, e
eu percebi que estava quase gritando.

Por que eu falava tanto perto dele? Ninguém sabia que eu me sentia assim, ou fingiam
que não. Agora de bandeja eu entreguei a ele um sentimento meu que eu lutava para
manter escondido.
Esperei seu comentário maldoso sobre o que eu o confidenciei, mas ele apenas deu de
ombros e disse:
-Trocar uma noite de bebidas, de graça, e feéricas lindas, para olhar uma humana
dormir? Eu sempre sonhei com isso, coelhinha. - E deu uma piscadela.

-Sua noite vai se tornar um pouco menos tediosa. - Brinquei.

Ele ergueu uma sobrancelha esperando que eu explicasse o que quis dizer.

-Você gosta de ler? -Perguntei.

Pela revirada de olhos e careta que ele me olhou eu tive minha resposta.

-Ok, essa vai ser a noite mais tediosa do mundo para você. E eu vou aproveitar muito. -
disse encarando ele.

Ele me encarou de volta, como se estivesse de frente a um novo desafio.

-Vou buscar os livros, já volto. E eu que vou escolher o que você lerá. - Disse a ele
enquanto corria para fora do quarto.

Chegando na biblioteca peguei os livros e fui me equilibrando de volta a porta, quando


a fui fechar, no fundo da biblioteca, no canto direito entre duas estantes, duas sombras
surgiram, e em cada uma eu vi, como no pesadelo, um olho azul. Balancei a cabeça e
olhei novamente, nada estava lá. Apenas voltei para o quarto, mas com um pouco de
medo.
Ivar tinha acendido a lareira, e estava sentado no tapete. Me aproximei dele e joguei
um livro no seu colo, era o mesmo que eu lia enquanto estava com Nestha. Eu peguei
uma cópia para mim continuar de onde tinha parado.

-Romance? - Perguntou ele, avaliando as primeiras páginas.

-Daqueles que vão fazer você querer vomitar, de tão meloso. - Brinquei.

-Que o caldeirão me ajude. - disse ele começando a ler a primeira página.

Deitei de bruços e retornei a leitura, só que eu não tinha lido nem vinte páginas
quando Ivar declarou:

-Como assim ela não apareceu no encontro?

-Oi? - Perguntei atônita.


-No livro coelhinha, porque ela não apareceu? - Insistiu ele, parecendo realmente
intrigado.
-Ivar, como você leu 150 páginas tão rápido? - Perguntei.

-E isso importa? O que acontece? Você está na minha frente, pode me contar. - disse
ele, parecendo ofendido, que eu tenha duvidado de suas capacidades de leitura.

-Eu estou apenas vinte páginas na sua frente, não tenho nenhuma explicação para isso
ainda. - Respondi, de uma forma mais mal humorada, do que eu pretendia.

-Vou acabar esse livro em minutos e te contar todo o final. - Provocou ele,com aquele
sorriso convencido.

-Não se atreva Ivar. - Resmunguei, mas a raiva já ameaçava dar as caras. E eu não
falaria por mim se ele me contasse o final.

-Vamos ver então. - Disse ele, e voltou a leitura.

Eu tinha que me apressar, por que eu não tinha pego um livro onde eu já sabia o final?
A resposta veio simples e clara: Você lia apenas o mesmo livro, durante toda a vida até
chegar nas cortes. Ok, foco! Vamos terminar logo!
Meia hora se passou, eu já tinha ativado o “modo turbo” de leitura, e minha visão
começou a cansar.

-Terminei! - Disse Ivar se espreguiçando.

-Não diga uma palavra. - Falei em tom ameaçador.

-Te dou quinze minutos, se você não terminar eu irei contar cada detalhe. - Retrucou
ele, deitando no tapete.

Ok, 50 páginas, quinze minutos. Eu consigo!


Faltava cinco minutos, e dez páginas, eu estava apenas passando meus olhos pelas
frases, Ivar me encarava, com aquele maldito sorriso insolente cravado em seu rosto.
Finalizei segundos antes de Ivar anunciar o fim do tempo, deixei minha cabeça tombar
no travesseiro que eu antes apoiava meus braços. E minha cabeça viajou pelo final
daquele livro, meus olhos começaram a arder, mas não por ter forçado as vistas na
hora da leitura, e sim porque lágrimas brotaram neles. Morta! Ela não apareceu pois
foi morta, e durante o restante da leitura fomos iludidos por cartas, de alguém que se
passava por ela, para dar a impressão de que ela ainda vivia, e que iria reencontrar
com o amor de sua vida.
Mais lágrimas, Ivar, surpreendentemente, não me zoou por estar chorando.
-O final mais previsível de todos. Não sei como você chorou com essa baboseira. - Disse
ele se levantando.

Comemorei cedo demais, fato!

-Nem todos são insensíveis como você loirinho. - disse fungando e enxugando as
lágrimas.

-Você não faz ideia docinho. - Disse ele, com uma falsa delicadeza.

-Estou com fome.- Declarei, tentando mudar de assunto, muito humilhante da minha
parte chorar na frente daquele macho.

-Eu não sou comestível, docinho. - Devolveu ele.

-Se fosse, seria um “docinho” estragado, e horrível. - Eu disse me levantando e


alongando meus braços.

Ele gargalhou, olhou no fundo dos meus olhos e respondeu:

-Como eu disse, você não faz ideia. Vamos à cozinha ver o que podemos arrumar.

Fomos, em silêncio, e chegando lá a despensa e os reservatórios estavam abarrotados.


Mas não tinha nada pronto, então teríamos que pôr a mão na massa.

-Vou arrumar algo para mim comer, vossa majestade gostaria de algo? - Perguntei, com
deboche.

-O que você preferir, aceitarei com agrado. Até se você despejar o veneno de suas
palavras coelhinha. - Ele deu uma piscadela, eu tenho ódio desse garoto.

-Acho que você não entendeu, se quiser comer algo venha você e faça, o que eu
duvido que você saiba. Você deixa que seus empregados coloquem a comida na sua
boca também?- Perguntei fazendo biquinho.

Ele sorriu, mas foi como um predador. Ele odiava ser desafiado, e eu usaria isso ao meu
favor. Ivar andou até mim, e parou a centímetros de meu corpo, colocou seus braços
um em cada lado, me impedindo de andar, pois eu estava encostada no balcão de
mármore. Olhei naqueles olhos verdes e por alguns momentos permiti que eu me
perdesse neles. Ele chegou sua boca perto de meu ouvido e falou:
-Você não sabe de nada do que sou capaz de fazer, Lady Jasmin. - E assim ele raspou
suas presas em meu lóbulo, me fazendo estremecer.

O empurrei e saí de perto dele, sentando do outro lado, tentando me recompor.

-Te deixei sem palavras coelhinha? - Perguntou ele, procurando algo nos armários.

-Sério que você vai preparar todo o jantar? Pensei que não fizesse nada sem ajuda. -
Falei, tentando conter o rubor que queimava minhas bochechas.

-Apenas sente e assista, depois de hoje você terá tirado várias conclusões boas de
mim!- disse ele, colocando alguns ingredientes na bancada.

-As melhores eu imagino. - Resmunguei.

Ele me encarou por alguns segundos e depois declarou:

-Quem usa isso nos dias de hoje? Parece que você furtou essa roupa do guarda roupa
da sua avó.

Meu queixo caiu, como assim estávamos falando da comida e ele me jogou uma
dessas?
Mais uma gargalhada, que me deixou zonza de vergonha, mas eu não ia aceitar aquilo.

-Ainda bem que estou usando para manter machos como você, muito longe. O que
está funcionando, e sobre o jantar, ainda bem que você vai fazer, eu sou péssima na
cozinha! - Ele estalou a língua e começou a sovar uma massa, que chutava ser para
alguma torta.

-Como eu disse no seu quarto, é muito fácil ser manipulado por você. - E finalizou com
uma piscadela, que fez, o teimoso, do meu coração acelerar. E ele ouviu, pelo sorriso
que escapou de seus lábios.

Nas duas horas seguintes eu apenas observei ele pela cozinha, se movia com uma
familiaridade impressionante, não com o local em si, mas com os utensílios e
ingredientes.
Ele ficou sério todo esse momento, e agradeci mentalmente por isso, o silêncio foi
muito bem vindo. Em certo momento eu fui ao quarto buscar outro livro para iniciar,
eu o sentia atrás de mim lendo uma citação ou outra de vez em quando.
Ele tinha feito a maior parte dos processos da sobremesa enquanto eu lia, então eu
apenas podia chutar o que era pelo cheiro, mas em um instante me perdi no livro e
quando percebi a sobremesa estava pronta, esfriando, e eu não fazia ideia do que era.
Tentei espiar mas ele me impedia.

Mas o prato principal eu já tinha acompanhado um processo, ele estava fazendo


camarão com aspargos, purê de batata e molho de ervas. O cheiro me atropelou, e eu
não conseguia voltar a ler, meu estômago dava piruetas, e não duvidava que ele
escutava cada ronco que surgia dele.
Ele montou dois pratos idênticos, pincelou uma boa quantidade de purê de batata em
formato de “x” no prato, colocou os camarões no centro, e os aspargos em pé apoiados
no camarão, e pincelou o molho por cima do prato.
Tinha uma pequena adega na cozinha, ele pegou uma garrafa de vinho branco e serviu
em duas taças.

-Servido. - Anunciou ele, após apoiar a garrafa à nossa direita.

-Finalmente! - Falei, quase dando pulinhos de felicidade.

Peguei o prato e o apreciei antes de degustá-lo. Peguei um pouco de cada elemento e


coloquei na boca, o purê era aveludado e sem gruminhos, o camarão macio e
temperado, eu podia sentir a pimenta e o limão, que foram usados no tempero. Os
aspargos traziam textura e tudo estava muito saboroso, mas o que deixou tudo
magnífico foi o molho de ervas, que trouxe um teor de gordura, por conta do azeite
usado, e o frescor que o prato precisava. Fechando assim uma festa de sabores em
minha boca.
Sem pensar e calcular o que faria, me levantei e fiz uma rápida dancinha, o que
significava que estava muito bom. Não perguntem o motivo, era apenas uma mania
boba.
Ivar riu, e eu percebi o que tinha feito em sua frente, foi impossível não sentir minhas
bochechas esquentarem.

-Acho que alguém queimou a língua, e está gostando do que eu preparei. - disse ele de
forma provocadora.

Era ridículo tentar retrucar, porque realmente estava muito bom.

-Nossa, me surpreendeu muito. Eu não esperava isso. - Disse, tomando um gole do


vinho em seguida.

-Espere para ver a sobremesa então. - Disse ele.

-Convencido. - Eu o tentei provocar, mas ficou claro no tom que eu disse, que eu estava
ansiosa para comer a sobremesa logo.
Em poucos minutos eu já estava com o prato vazio, nem a folhinha de hortelã que ele
colocou para decorar sobrou.

-Hora da sobremesa! - Falei, quase cantando.

-Pelo amor, você está parecendo uma criança prestes a ganhar um presente. - disse ele
indo em direção onde ele tinha reservado o doce.
Quando ele colocou a bandeja na minha frente, eu tive que me conter para não gritar
de felicidade. Era a torta de amoras com chocolate que eu tinha comido na Corte
Primaveril, e que me viciei desde então.
Abri e fechei a boca algumas vezes, eu não estava crendo que dentre todas as
sobremesas existentes, ele tinha acertado, exatamente, qual eu queria.

-Obrigada Ivar, seria um bom começo. - Brincou ele.

Eu bati palmas e gargalhei, igual a uma criança, ele entendeu que aquele seria meu
agradecimento. Então nos serviu, ele pegou um pedaço tão grande para mim que
parecia ser quase ¾ da torta.
Não reclamei, quando experimentei, a massa era crocante e logo se dissolveu em
contato com o calor da minha boca, o recheio envolveu logo em seguida. O azedo junto
com o doce da fruta, e a camada de chocolate que envolveu tudo.
Peguei o prato com a torta e comecei a valsar com ela, me sentia tão feliz que nem
ligava que Ivar olhava.

-Eu quero casar com você. - Declarei para a torta.

Ivar se engasgou enquanto uma gargalhada escapou de seus lábios, seu corpo
chacoalhava e eu ria dele. Foi um momento inesquecível de fato.

-As vezes eu penso que essa torta é melhor que muita gente por aí, para você. - Disse
ele depois de um tempo.

-Você tem dúvidas? Está sensacional Ivar, não quero ferir seus sentimentos, mas a do
seu cozinheiro é melhor. - MENTIROSA, MENTIROSA, MENTIROSA.

Ivar fez uma cara triste, como se eu o tivesse magoado, e a culpa me consumiu, quase
retirei o que eu havia dito quando ele me deu seu olhar zombeteiro e disse:

-Parece que não sou o único, facilmente manipulável nessa cozinha.

-Eu te odeio. - Falei sorrindo.


-Eu te odeio também, então vamos falar isso até nos convencermos que essa é a
verdade.

Eu não entendi a profundidade daquelas palavras naquele momento exato, mas em


pouco tempo eu entenderia, e não seria da melhor forma.

Terminamos de comer em silêncio, e organizamos a cozinha da mesma forma. Quando


finalizamos, eu resolvi quebrar o silêncio:

-Vai voltar lá para cima para continuarmos com nossa super noite? - Falei em tom de
gracinha e ele respondeu:

-E perder a chance de te irritar? Jamais. - Disse ele apertando minha bochecha.

Eu quis dar um tapa em sua mão, e gritar para que ele não fizesse aquilo, mas senti
seus dedos rígidos em minha pele, e logo fiquei em alerta. Ele via, ouvia ou sentia algo
que eu não, mas me esforcei mesmo assim.
Ele colocou um dedo sobre os lábios, pedindo silêncio, logo uma lâmina despontava de
suas mãos. Eu ficaria impressionada depois, não era hora para isso. Fui até o faqueiro
que estava na bancada e peguei uma faca, média mas muito afiada.
O segui, da forma mais silenciosa que pude.
Fomos até o segundo andar, mais especificamente, no meu próprio quarto. Como
deixamos a porta meio aberta, tínhamos uma visão de uma parte do mesmo. E foi
dessa fresta que vimos um animal, no canto do quarto farejando algo, ele estava bem
no canto do armário. Ele era um lobo, mas não era apenas isso, o animal tinha o corpo
coberto por algo espesso, líquido, longos caninos despontavam, e sombras o
rodeavam. Por um momento pensei que ele não tivesse sentido nossa presença, mas
eu estava enganada, pois sua cabeça se virou em nossa direção, de maneira lenta e
assustadora. Seu rosto era como de um lobo comum, tirando o fato que ele não tinha
olhos. Mas parecia sentir nossa presença como se nos enxergasse. E foi assim que
percebi, aquele animal flutuava, só ficava mais bizarro. Ele uivou, e mais cinco
entraram pela janela. Olhei para Ivar que avaliava nossa situação, nem sabíamos o que
era aquilo, como iríamos lutar? Pelo olhar que ele direcionou a mim percebi que não
iríamos, ele iria.

-Corra Jasmin! - Foi a última coisa que ouvi dele antes de ele me jogar para longe da
porta e entrar no quarto, selando-a em seguida.
CAPÍTULO 27

Perspectiva Ivar:

Sim eu poderia deixar que Jasmin me ajudasse a lutar contra aquilo, porém eu não
suportava a ideia de colocá-la em perigo.
Ela batia na porta com uma força impressionante, berrando para que eu abrisse, mas
eu não faria isso.
Encarei a situação em que eu me meti, eles tinham me cercado, nenhum deles tinham
olhos, mas possuíam uma pedra preta, que quase se camuflava em sua pele, cravada
na testa.
Eles pareciam esperar por uma ordem, minha forma besta seria mais útil, porém um
alvo mais fácil. Atirei a adaga, que atravessou direto pelo lobo, como se ele fosse uma
miragem. Como que se mata algo que não é corpóreo?
Reuni as forças que eu consegui e soltei ondas de ar pelo cômodo, as formas deles se
misturavam, como partículas pretas e saíam da figura inicial de lobo, eles se adaptavam
às condições e formatos que desejassem. Quando todos tinham se dissolvido no ar, os
atirei para fora do quarto, fechando a porta da sacada, não adiantaria nada, porém eu
teria um pouco mais de tempo para planejar o que fazer. Um estrondo soou naquele
quarto e vi Jasmin parada na porta, gotas de suor pingava de seu rosto, e seu olhar, ela
estava com muita raiva, ela tinha arrombado a porta no chute, eu não sabia
exatamente como me sentir.
Seu olhar desviou para a porta de vidro que estava às minhas costas e correu em minha
direção, me empurrando para o lado a tempo de me tirar da mira de um bote de cobra.
Que desapareceu em seguida.
A cobra era toda preta, e possuía a mesma pedra em sua cabeça.

-Precisamos tirar essa pedra deles, eles podem se transmutar entre corporaturas
distintas. Não são palpáveis, mas seus ataques são. - Falei, ainda surpreso, como me
deixei distrair e dar as costas ao inimigo?

-E como fazemos isso? Não conseguimos tocá-los. - disse ela olhando atenta para todos
os pontos do quarto.

-Temos que atrair um, e ver como, se vier vários como os lobos, estaremos em uma
desvantagem absurda. - Disse, tentando me lembrar de algo dos livros sobre criaturas
assim, que fui obrigado a ler. Mas não tinha nada em mente.

-Como você os tirou daqui? - Perguntou ela, cautelosa porém curiosa.

-Ar. - respondi.
Ela me lançou um olhar incrédulo.

-Não é possível que você achou que meu único dom é me transformar em uma besta
Jasmin. - Perguntei, fingindo incredulidade.

-Jamais, pensei que seu dom também fosse cozinhar. - disse ela me lançando uma
piscadela.

-Como você… - Parei a frase ai.

Um jaguar, pulou para atacar as costas de Jasmin. Ergui minhas mãos e o joguei para
longe, mas dessa vez ele não se dissolveu. Ela olhou horrorizada para o que tinha
acabado de acontecer e seu semblante ficou sério. O animal parecia desacordado,
Jasmin chegou perto dele e me olhou, se ele acordasse era bom que eu não deixasse
que ele a matasse, foi esse o olhar dirigido a mim. Ela pegou a adaga, que eu tinha
tentado acertar o lobo, e a posicionou perto da pedra.

-Espero que esteja certo. - disse ela antes de cravar bem abaixo, na base da pedra, e
puxar para cima. A pedra saltou e o animal soltou um som que estremeceu todo o
chão, era dor, ele sabia que a morte viria, mas parecia também aliviado. Assim que a
cabeça do jaguar tombou, Jasmin acariciou, pedindo desculpas. E em seguida seu
corpo começou a desconfigurar até desaparecer por completo.

-Como esse não se desconfigurou? Você disse que não dava para tocá-los. - Perguntou
ela, levemente abalada.

-Pelo visto eles podem sim ter a forma substancial. - Falei. - Temos que sair daqui.

Um uivo soou, seguido por mais um, e depois vários outros. Jasmin levantou de
imediato correndo até o armário e pegando algo no fundo dele, foi até a janela e seu
corpo se tensionou.

-T-tem um exército deles, Ivar.

Fui até a janela e um frio incomum correu pela minha coluna. Fileiras e mais fileiras de
lobos estavam nos céus, em posição de combate, como se fossem humanos.

-Acho que sei o que posso fazer. Mas temos apenas uma chance, você confia em mim?
- Perguntou ela, a voz trêmula denunciou que nem ela mesma confiava tanto assim em
sua teoria.

-Não, mas é nossa única chance, seja lá o que você tem em mente. - respondi, tenso.
Ela me avaliou por alguns segundos antes de dizer:

-Vamos ao telhado!

Aquilo nos deixaria cara a cara com aquelas sombras, ou ela tinha ficado louca ou tinha
uma ideia genial em mente.
Acreditei na segunda opção, fomos andando pela casa, pelos caminhos até chegar no
térreo.
Para chegarmos no ponto em que ela queria precisaríamos escalar uma curta parede,
Jasmin não tinha o treinamento suficiente para escalar sem uma queda fatal, a peguei
e prendi em minhas costas, flexionando o suficiente para ter estabilidade para saltar,
Ela não gritou, mas o aperto em minhas costas deixou claro seu susto. Escalei sem
dificuldades até o telhado.
Ela logo desceu, o exército a poucos metros de nós, as bestas não se moveram nenhum
milímetro.

-Você consegue me dar um impulso para que eu fique cara a cara com eles? -Perguntou
ela, avaliando a altura que seria.

Fiz o mesmo.

-Consigo, o que mais? - Perguntei.

-Vou precisar me manter no ar por alguns instantes, consegue me manter? - Ela


questionou, me olhando com medo.

-Sim! O que quer que você esteja pensando, tome cuidado. - Falei.

-Eu sempre tomo. - disse ela com um sorriso confiante.

-Vou precisar ficar na minha forma animal. Quando chegarmos a três metros deles vou
te lançar, mantenha as pernas flexionadas, como se fosse pular. Impulsione o seu corpo
para ir mais alto. - Passei as instruções, ela acenou.

Assim que minha forma animal tomou conta, ela subiu, ficando nas minhas costas, as
pernas flexionadas, como eu pedi. Deu um tapinha em minha lombar, um sinal para
irmos. Disparei correndo com ela, quando chegou no ponto exato a lancei nos ares, ela
também impulsionou o corpo, rapidamente voltei a pele humana e ergui os braços a
mantendo no ar.
Parecia que ela voava, o esforço que aquilo me tomava era grande, mas eu aguentaria
aquilo por nossa sobrevivência.
Ela estava cercada, o pingente de rosas que ela tinha no pescoço brilhava, eles
circulavam, eu só conseguia enxergá-la por conta do pingente que disparava luzes
douradas em sua volta.
Até que eles foram para cima dela, ergui mais os braços, guiando o ar para que ela
fosse mais pra cima.
Eles se misturaram, mas logo começaram a correr para cima no ar, para onde ela
estava, Jasmin abriu os braços e a luz que estava em seu pescoço explodiu ao mesmo
tempo que os primeiros animais chegaram perto dela.
Em contato com a luz eles viraram pó, e a legião que estava na linha de frente também
se fora. Um pequeno grupo veio em minha direção, Jasmin continuava dizimando
fileira atrás de fileira, de todos os lados. Com uma mão, mantive ela no ar e com a
outra projetei um pequeno tornado, para mantê-los longe.
Foi quando tive uma ideia, expandi aquela tempestade até que ela tomou uma
proporção tão grande que todos estávamos no centro dela. O vento à nossa volta
uivava, criando uma barreira entre nós e o exterior. Um após o outro caiam, virando
cinzas.

-Jasmin. - Gritei. - Não vou aguentar por muito tempo.

-Me solte. - Ela gritou de volta. - Confie em mim, me solte.

Minha cabeça doía, o sangue escorria pelo meu nariz, confiei nela, mantive apenas a
tempestade, estava pronto para pegá-la na queda, mas não aconteceu, ela se manteve
no ar. Os braços abertos, a luz dourada criou uma esfera à sua volta.

-Disperse a tempestade. - Ordenou ela. - Quando eu pousar, você vai projetar a


tempestade para mim, no meu comando. Está me ouvindo?

“Sim senhora coelhinha”, pensei. Aquele plano era suicida, mas não tínhamos tempo
para isso.

Dispersei a tempestade no momento em que ela começou a descer, em uma


velocidade muito alta, quando achei que ela se arrebentaria no telhado, a esfera se
formou novamente a protegendo. Ela parou ajoelhada, com os olhos fechados, os
animais restantes estavam correndo em sua direção, sua retaguarda estava
desprotegida. Eles vinham de todos os lados. Rápido Jasmin, dê a maldita ordem.
Quando estavam a centímetros dela, ela abriu os olhos, suas órbitas estavam douradas,
elas brilhavam como o sol, era impossível olhar por muito tempo, e não apenas seus
olhos, veias brilhantes atravessaram seu corpo.

-Agora. - Bradou a ordem.


Lancei a tempestade em direção aos animais, ela lançou aquela luz, no mesmo
segundo, e quando se chocaram, criou uma explosão em larga escala.Fechei meus
olhos, aquele brilho era capaz de me cegar. A explosão conseguiria destruir aquela
residência, e as propriedades à sua volta, mas quando cessou e eu consegui olhar ao
redor, apenas uma chuva de cinzas era visível. A casa e o ambiente em volta se
mantinham intactos. Nenhuma sombra sobreviveu.
Jasmin estava na mesma posição, e respirava com dificuldade, disparei em sua direção,
a preocupação me consumia, o que era uma sensação muito estranha para mim.

-Jasmin. - disse enquanto me ajoelhava ao seu lado.

Seu corpo chacoalhou de leve, e pensei que ela choraria, mas quando reparei, ela
estava gargalhando. Rindo muito, provável que a adrenalina ainda estava presente.

-Nós fazemos uma boa dupla loirinho. - disse ela, enxugando as lágrimas que
escaparam de seus olhos, enquanto ela ria.

-Não quero repetir a experiência, mas sim, fazemos sim. - disse, afagando seus cabelos.

-Vem, vamos descer. Consegue ficar de pé ? - perguntei, com uma falsa delicadeza

Ela bufou e se levantou sozinha, e colocou a mão no pescoço, franziu as sobrancelhas e


olhou para onde sua mão estava apoiada. Segui seu olhar e entendi o motivo da
confusão, o colar que estava ali tinha desaparecido e no lugar tinha apenas uma
pequena rosa gravada, como uma tatuagem.

-Isso é bizarro. - disse ela.

-Acabamos de derrotar uma legião de sombras em formatos de animais, e o bizarro é


você ter uma tatuagem de flor?? - Perguntei atônito.

-Exatamente. - respondeu ela, no seu tom cínico.

Antes que eu pudesse retrucar, barulho de asas nos chamaram a atenção. Rhysand,
Azriel, Cassian e Nyx apareceram.
Prontos para combate, a explosão deve ter chamado a atenção deles.

-Pombinhos, agradeço muito a presença de vocês, mas o show já acabou. Da próxima,


cheguem um pouquinho antes, para não perderem a festa. - disse Jasmin.
Ela provavelmente estava meio fora de si ainda, pois nunca vi ninguém desafiá-los de
maneira tão insolente e sobreviver para contar a história.

-Minha agradável lady Jasmin, a festa está só começando. - Disse Azriel vindo em sua
direção.

Jasmin projetou a esfera em volta de nós, como proteção. Azriel parou onde estava
com os olhos arregalados, surpreso.

-Não me toque! - Disse ela.

Seu corpo tremia, mas ela mantinha a esfera. Sangue começou a escorrer de seu nariz
e ouvidos.

-Coelhinha. - Chamei em seu ouvido. - Ele não é uma ameaça, vamos Jasmin, você está
sangrando.- Insisti quando ela não desfez a esfera.

Azriel tentou tocar nela, com curiosidade, mas foi lançado para onde Cassian, Nyx e
Rhys aguardavam com o semblante franzido.

-Ei, já chega de poderes por hoje o que acha? - Sussurrei em seu ouvido, fazendo como
na cozinha, raspando minhas presas em sua orelha.

Ela suspirou e aquela proteção cedeu. Seus joelhos falharam, e rapidamente segurei
sua cintura, a mantendo de pé.

-Posso me aproximar, Jasmin? - Perguntou Nyx.

Jasmin apenas acenou enquanto limpava o sangue que tinha manchado sua face. Nyx
se aproximou dela, e arrumou uma mecha de seu cabelo que grudou em sua bochecha
e segurou seu rosto.
Algo se contorceu em minhas entranhas, aquele toque parecia íntimo demais. Ela o
olhou, um tanto envergonhada.

-O que aconteceu aqui, e que poder é esse? - Perguntou ele, enquanto segurava seu
queixo.

-A propriedade foi tomada por criaturas animalescas, que eram intocáveis, transmutam
entre corpos e espécies. Tentamos conter como pudemos, eles tinham uma pedra
preta cravada na testa. O único animal que conseguimos conter em sua forma palpável,
foi morto assim que retiramos a pedra. E o poder, apenas veio uma ideia repentina na
minha cabeça, que talvez eu conseguisse resolver a situação. - Disse ela, parando para
tossir.

-E que rosa é essa? - Perguntou Nyx, circulando o local onde a tatuagem estava
cravada.

Jasmin deu um pequeno solavanco por conta do toque, suas bochechas coraram e ao
contrário do que o seu rosto demonstrava, ela disse confiante:

-Foi uma história bizarra, uma criança me entregou uma rosa verde hoje na rua dos
comércios, quando cheguei, a coloquei sob os livros, e quando retornei para buscá-los
tinha um pingente no mesmo formato da rosa. Eu acho que o poder veio dele, senti
uma tentação em colocá-lo desde o momento em que o segurei. Pareceu a coisa certa
a se fazer, e de certa forma foi. - Ela riu e finalizou. - E depois que conseguimos
derrotá-los, o pingente se transformou na tatuagem.

-Então os animais não são as únicas coisas que mudam de forma e corpos não é
mesmo? - Disse Cassian aos demais, o grupo já estava próximo dela.

-Pelo visto, várias coisas mudam de forma e corpos por aqui. - Disse Jasmin, de forma
ácida.

-Como você se sentiu quando liberou o poder Jasmin? - Perguntou Rhys.

Azriel se mantinha de longe, apenas observando e estudando Jasmin.

Ela olhou para cada um de nós, pensando na resposta correta. Quando um pequeno
sorriso desafiador surgiu no canto de seus lábios eu soube que a resposta viria, eu só
não esperava que fosse.

-Invencível!- Disse ela, sílaba por sílaba, abrindo um sorriso, que eu gostaria de nunca
mais ver.

Capítulo 28

Perspectiva Jasmin:

-Invencível!

Eu realmente tinha dito aquela palavra? E a dúvida que mais me perturbava, por que a
resposta parecia tão correta?
“Por que é verdade” - sibilou uma voz em minha mente.

Durante todo aquele momento, eu sentia que estava sendo guiada, as ideias surgiam
em minha mente mas vinham com uma convicção que era o que nos ajudaria. Não
vinham de mim, isso eu tinha certeza, era como se eu desse espaço a uma “Jasmin
corajosa e imbatível”. No momento que pedi para Ivar me soltar, eu estava em plena
consciência, sentia que as ideias vinham de mim, a verdadeira Jasmin, apenas
implorava inconscientemente para eu ter forças e poder suficientes para acabar com
aquilo. Foi tudo muito estranho.

-Quem estava aqui? - Perguntou Nyx.

(Sem tirar a mão de mim)

-Apenas eu, Ivar e uma legião de pesadelos. - Brinquei.

-O que disse? - Perguntou Rhysand, se intrometendo.

-Que estava eu.. - Ele me cortou.

-Legião de pesadelos. O que quis dizer com isso?- Questionou.

-Sejamos sinceros, eles pareciam pesadelos. Não eram animais “normais”- Eu disse
fazendo aspas no ar.

-Parecia como o conto do bicho papão, eles não possuíam olhos, uma pele estranha. A
definição que Jasmin usou realmente se encaixa, pareciam mesmo pesadelos. - Disse
Ivar, interferindo.

-Vamos nos encontrar com os outros. - Disse Rhys, não deu nenhuma explicação a
mais, apenas projetou suas asas, sendo seguido por Azriel e Cassian.

-Um voo para relaxar, topa? - Perguntou Nyx, de forma debochada.

Ele sabia que eu acharia tudo menos relaxante. O aperto se intensificou e me dei conta
que Ivar ainda segurava minha cintura, e que Nyx estava próximo demais. Tentei me
afastar de maneira pouco alarmante.

-Te vejo com os outros Ivar. - Dei uma piscadela para ele antes de sair correndo pelo
telhado e pular em queda livre.

Nyx soltou uma gargalhada antes de me seguir, para evitar uma morte, novamente.
A sensação de estar caindo foi mais divertida dessa vez, e não me preocupei pois logo
vi Nyx a um braço de distância de mim. Eu gargalhava, realmente me sentia um pouco
melhor.
Ele me segurou a poucos centímetros do chão e pousamos. Desci agradecendo e
completei prendendo meu cabelo em uma trança:

-Isso não perde a graça nunca.

-Acho você muito propensa a cometer um suicídio. - Mas não foi Nyx que disse, e sim
Cassian, que estava de guarda na porta;

-Vocês não sentiriam minha falta se isso acontecesse né muralha? - Perguntei, mas
travei em seguida. Eu tinha dito o apelido, na frente dele. Céus, como eu não me
segurei?

A gargalhada que ele soltou chegou a reverberar pelas paredes e chão, era uma risada
que não findava. Acho que ao contrário do que eu pensei, ele não tinha ficado bravo.

-Acho que estou em minha melhor forma então. - Disse ele contraindo os músculos e
se exibindo em várias poses.

-Pode apostar que você ganhou um fã. - Disse Nyx.

Sorri, mais tranquila.

-Vamos humana, todos estão reunidos. - disse Cassian, ainda secando as lágrimas que
escorreram de seus olhos.

O segui para dentro, Ivar chegou logo em seguida. Adelle me olhava, questionadora,
eu teria que passar por um longo interrogatório depois. A ignorei e procurei o
semblante calmo de Feyre, que sempre me passava confiança.

-O que aconteceu dessa vez? - Perguntou Amren, bocejando. Uma coberta estava a sua
volta, provavelmente tinha sido acordada.

-Outra aparição, de um elemento que imagino que seja originado do caldeirão. - Ele
deu uma pausa e olhou para Ivar. - Eu poderia olhar em sua mente para ver como foi
exatamente, e compartilhar com os outros? - Perguntou, de forma que ficava implícita
a ordem.
-Você vai olhar o que aconteceu durante toda a noite ou apenas esse momento em
específico? - Perguntou Ivar, soando despreocupado e desinteressado.

-Por que? Está com medo dele descobrir o que os dois pombinhos fizeram em nossa
ausência? - Perguntou Cassian sorrindo, de forma feroz.

Minhas bochechas ameaçaram queimar, continuei encarando Feyre, que tinha uma
expressão leve no rosto, parecia se divertir.
Como não respondemos Cassian insistiu:

-Outra coisa, o que esse grupo jovem, e cheio de hormônios fizeram, dormindo no
mesmo quarto noite passada? - Perguntou ele, passando o braço em volta de Nestha.

Suspiramos, todos juntos. Esquecemos do detalhe que alguém poderia ter nos visto.
Mas não por conta de termos dormido no mesmo quarto, e sim o motivo que levou a
isso.

-Está precisando de ideias Cassian? - Perguntou Ivar, afiado.

Cassian apenas gargalhou, mas sua risada não continha humor.


Rhysand interveio, antes que aquilo virasse um jogo de provocações, estávamos
fugindo do foco da conversa. Mas agradeci mentalmente a Cassian, por ter
descontraído o ambiente.

-Vou ver desde o momento em que o primeiro animal apareceu. - Disse Rhysand,
soando impaciente.

-Então tudo bem! - Devolveu Ivar, ainda soando entediado.

Após alguns minutos, Rhysand estava passando essas imagens para sua parceira e
ambos mostraram para cada um que não estava presente naqueles momentos. Apenas
eu e Ivar esperávamos, ansiosos.

-Uau. - Gwyn tinha dito aquilo. Ela segurava o bebe, e estava rodeada pelas asas de
Azriel.

-Como você fez isso menina?- Perguntou Amren.

-Eu apenas senti que podia. Não estava totalmente consciente de meus atos, na maior
parte eu assistia, pela pele de uma Jasmin que desconheço. Era como se parte de mim
estivesse nos bastidores enquanto a outra tomava conta do “palco”. - Amren assentiu
e começou a pensar.
Ao meu lado, percebi Nyx tensionar os ombros. Eu não sabia se tinha dito algo errado,
ou era uma postura usual. Mas resolvi não questioná-lo sobre aquilo.

-Essas criaturas, podem ser responsáveis por espalhar a praga? Certo? - indagou
Lucien.

-É o que pensei, não são palpáveis, como sombras, podem se adaptar a qualquer
ambiente. Seria muito mais simples infectar uma multidão, e aquela legião que estava
aqui, poderia infectar toda Velaris em minutos. - Disse Rhysand, parecendo
preocupado.

-Mas se eles tinham uma cidade que poderiam infectar, pois teoricamente esse é o
objetivo deles, porque perderam tempo aqui na propriedade? - Perguntou Elain.

-Ela. - Disse Amren, apontando para mim. - Eles queriam ela. - Finalizou.

Parecia que tinham colocado blocos e mais blocos de concreto em minhas costas, a
culpa me preencheu. Se a teoria estiver correta, e eles estavam aqui por mim, onde eu
estivesse as pessoas à minha volta não estariam seguras.

-Mas por que? - Consegui reunir fôlego suficiente para perguntar.

-Isso ainda é uma incógnita pra mim menina.- Disse Amren, seus olhos me encaravam
de forma cuidadosa.

-Então onde ela estiver, essas coisas a perseguirão? - Perguntou Mor.

-Não só isso, não sabemos o objetivo exato, nem os meios que o caldeirão está usando.
Seu plano deve envolver algo grandioso. A praga está conectada diretamente, esses
pesadelos também, mas Jasmin? O que não estamos enxergando? O que estamos
deixando passar? Esse poder não pode ser sem fundamento, ela é humana, mas nunca
foi visto algo assim antes. Tem alguma ponta dessa história que não estamos
conseguindo juntar.

-E se ela foi feita do Caldeirão? - Perguntou Adelle. O silêncio absoluto que preencheu
o local.

Vou ser sincera, eu não sabia direito a história das décadas anteriores ao meu
nascimento, as guerras que ocorreram. Mas se o caldeirão estava causando isso, e eu
imaginava que era de um lugar distante, ele não seria capaz de intervir em pessoas?
Dar algum poder, tirar algum poder, não sei. Adelle tinha um ponto muito convincente.
A quietude continuou, e eu arrisquei um olhar para Nestha, que tinha o rosto
petrificado, Elain se encolheu nos braços de Lucien.

-Para alguém ser feito do Caldeirão, a pessoa tem que estar dentro dele. Desde o
nascimento de Jasmin, ele já estava a mares de distância. O que torna impossível. Ela
seria feérica caso tivesse sido feita por ele. E está claro que Jasmin é humana.- Disse
Feyre, seu olhar estava gélido, mas as palavras traziam conforto.

-É a única maneira então?- Insistiu Adelle.

O silêncio voltou, mas dessa vez foi por que eles não tinham certeza da resposta.

-Você irá para a Corte Primaveril. - Disse Rhysand, de repente.

Todos os olhares se voltaram para ele.

-Temos infectados lá, você fará o que fez aqui na nossa corte, retirar a praga deles.
Precisamos usufruir do seu dom, Tamlin diz que apenas ele está tendo acesso aos
infectados, para não colocar outras pessoas em risco, e que eles estão cada vez mais
agressivos. Não sabemos qual o nível máximo que eles chegam. Então temos que
correr contra o tempo. Aurora, seus pais disseram que está tudo bem na invernal, os
familiares liberaram a execução daqueles que tinham sido infectados primeiramente.
Enviei notícias sobre Jasmin, não sei se receberão a tempo, mas talvez seja capaz de
fazê-los esperar por mais alguns dias. - Disse Rhysand.

-Você tem total direito de negar. Sei que estamos pedindo muito, porque não sabemos
de onde seu poder vem, e nem como administrá-lo; Você não sabe como controlar,
mas podemos tentar ajudar com isso. Se aceitar, enquanto estiver fora, procuraremos
saber mais sobre seu poder. - Disse Feyre, seu tom era calmo, mas eu sabia que por
mais que ela dissesse que eu tinha uma escolha, eu não tinha.

-Claro, o que pode dar errado. - Falei, forçando um sorriso.

Tudo podia dar errado, literalmente. Desviei o olhar para a parede atrás, e fixei-o ali, se
eu encarasse alguém veriam descaradamente a mentira de minhas palavras.

-Ivar, vamos enviar a notificação a seu pai. Amanhã cedo vocês partem. Fique a
vontade de ir com eles, Adelle. - Disse Rhysand se virando para minha amiga.

Olhei para ela, Ade estava em um impasse, queria ir mas algo a impedia. Me virei para
Zayn que a olhava, com muito carinho, parecia que estava sendo um sacrifício para ele
ficar sem tocá-la. Em um rápido gesto de Adelle eu soube. Ela encostou o dedo
indicador na pontinha do nariz e o apertou. Passou despercebido por todos, mas eu
sabia o que significava.

“Não vou a lugar algum”. Ela fazia esse movimento da janela de seu quarto, toda vez
que eu tinha que voltar para casa, Ade sabia o que eu passava lá, então para me
acalentar dizendo que nunca me deixaria, criou esse movimento. E eu sabia que para
Zayn, o gesto era de um carinho e amor puro.

-Está tudo bem, eu volto em pouco tempo. Ela pode continuar com os treinos aqui. -
Anunciei, ela me olhou, e pura gratidão transbordava de seus olhos.

Abri um pequeno, e fraco sorriso.

-Nossa reunião de hoje está encerrada, todos se retirem por gentileza, Jasmin, se puder
esperar um pouco. - Disse Feyre.

Assenti e permaneci no mesmo lugar. Um a um eles foram saindo até que sobrou
apenas Rhysand, Feyre e eu.

-Onde está a tatuagem? - Perguntou Feyre.

Fiquei um pouco envergonhada pela presença do grão-senhor, então Feyre pediu que
ele se retirasse. Assim que ficamos sozinhas, abri os primeiros botões da camisola, que
eu ainda vestia.
Ela a analisou por um tempo, pensativa.

-Essa que eu tenho nas mãos. - Me mostrou ela. - Foi o primeiro acordo que fiz com
Rhysand, se eu não o tivesse feito, teria morrido. Você sabia que essas são marcas que
surgem apenas após um acordo feito entre feéricos?- Ela perguntou.

-Não sabia. Estranhei quando a vi, não fiz acordo com ninguém, e eu sou humana. Era
para ser apenas um pingente de rosa. - Disse, desanimada.

-Isso é tudo tão estranho. Mas estamos tentando descobrir o máximo que pudermos
para te ajudar. - O seu tom maternal aqueceu meu coração.

-Obrigada. - Sibilei.

-Pode-me mostrar a esfera que projetou? - Perguntou, se animando.

-Eu .. - travei, eu nem sabia o que tinha feito para aquilo acontecer. - Eu não sei como a
fiz. - Admiti.
-Apenas deseje que ela se projete, vamos começar por aí. Nossos sentimentos são
armas poderosas, não se esqueça disso. - Disse ela;

Me concentrei, tinha que provar que eu dava conta. Tinha que ser útil em algo.
Comecei a relembrar do momento exato em que eu a projetei pela primeira vez, eu me
sentia desesperada por uma solução, e pedia por ajuda em meu interior, como se
buscasse dentro de mim mesma uma resposta. Naquele momento, quando vi Ivar
sangrando pelo esforço, uma força dentro de mim despertou, e foi movida a aquela
força que eu tive coragem para pedir que ele me soltasse. Aquela força continuou
crescendo, até que tomou conta de mim totalmente. A Jasmin que matava aqueles
pesadelos um a um não era eu, poderia ser parte minha mas..

-Jasmin. - Uma voz sussurrou.

Pisquei e saí de um transe, Feyre me olhava, o cenho franzido, Rhysand também estava
na sala, o semblante sério.

-O que eu fiz? - Perguntei baixinho.

Me sentei na poltrona que estava perto, me sentia cansada, exausta. Mas eu não tinha
feito nada. Certo?

-A esfera foi projetada, suas veias, seus olhos… - Feyre balançou a cabeça, parecendo
confusa.- Não consigo entender de onde vem esse poder. E por que.

Disse ela, parecendo confusa.

-Jasmin, precisamos saber, precisamos de alguma pista. Queremos ajudar, mas isso
está sendo novo e desafiador para nós. Mais algo estranho aconteceu nesses últimos
dias? - Perguntou o Grão-Senhor.

Pensei em contar a eles sobre Brandon e o outro homem estranho, meus pesadelos,
mas aquilo só traria mais confusão e desconfiança para eles. Então engolindo seco,
balancei a cabeça negativamente.

-Pode seguir para os aposentos, você precisa descansar antes de sua partida. Tudo dará
certo! - Disse Feyre.

*
-Quero estar muito enganado meu amor, mas eu acho que esse poder de Jasmin está
vindo do caldeirão. - Disse Rhysand assim que Jasmin sai da sala.
-Como Nestha e Elain? Elas também herdaram poderes dele. - Disse Feyre.

-Minha querida Feyre, estamos lidando com uma magnitude de poder muito superior
ao de suas irmãs, e isso sim, é motivo suficiente para que comecemos a tomar cuidado
com ela.

Segui para o quarto pensativa, quando entrei no corredor dos quartos, Ivar entrou em
meu campo de visão, ele estava encostado na parede, os braços cruzados, a cabeça
apoiada para trás e seus olhos fechados. Me aproximei e ele me fitou, seu olhar estava
distante e cauteloso.

-Como você está? - Perguntou ele, a voz mais ríspida do que eu gostaria de ouvir.

-Estou bem. - Não fiz questão de devolver a pergunta.

-Ótimo. - Ele me encarou por alguns segundos, como se quisesse falar algo mais, mas
desistiu, pois me deu as costas e foi embora.

Estranhei muito aquele comportamento, eu definitivamente não o entendia. Ao chegar


na porta respirei fundo, contei até três e a abri. Adelle provavelmente estava no banho,
pois eu ouvia ela cantarolar da sala de banho. Retirei meus sapatos, fui até a mesa
onde eu tinha deixado o desenho e o peguei. Sentei na cama e comecei a encarar a
imagem, era uma imagem limpa, como se tivesse gravado o momento, o foco era meu
rosto, perdido em pensamentos.

-O desenho não vai conversar com você, sabia disso?

Meu coração saltou, que susto, era Brandon mas eu não o via, quando olhei para cima
o vi no dossel da cama.

-O que era aquilo? - Perguntei, sem rodeios. Na minha cabeça, Brandon estava
conectado com a praga e os pesadelos, eu precisava tirar informações dele.

-Aquilo o que? - Perguntou, se fazendo de desentendido.

Cansada daquele joguinho, apenas o ignorei e continuei a encarar o desenho.


Após um tempo, a cantoria de Adelle tinha parado, eu tinha certeza que em minutos
ela sairia do banheiro.
-Responda a pergunta. - Exigi.

Ele apareceu ao meu lado, a poucos centímetros de mim.

-Se não o que ? - Perguntou ele, com um ar debochado.

-Sai daqui - Falo, e foi em um tom mais alto do que gostaria.

-Jas? - A voz de Ade veio até mim. - Está aí?

Ela ainda estava no banheiro, mas iria sair para checar se era eu.

-Sou eu sim princesa. - Disse, tentando soar calma. - Estava pensando alto.

E então ela apareceu, radiante, ela estava mais linda nesses últimos dias, parecia
brilhar com um simples sorriso.

-O que tem entre você e o Zayn? - Perguntei, a única coisa que eu estava desconfiando
que poderia ser o motivo daquela felicidade repentina, era ele.

Ela arregalou os olhos e começou a brincar com seus cachos.

-Nem pense em mentir para mim. - Completei. Eu sabia que quando ela fazia isso era
porque estava pensando em uma mentira plausível.

Ela mordeu a pontinha do lábio, ajeitou seu roupão e veio em minha direção, se sentou
ao meu lado e falou sem rodeios:

-Eu acho que estou me apaixonando.

Fiquei em choque, eu realmente esperava que fosse apenas um flerte passageiro, mas
uma paixão? Aquilo foi demais pra mim. Pensei em como ela estava se sentindo, pelo
caldeirão, ela é uma mortal. Meu coração murchou com esse último pensamento, eu
nunca saberia a intensidade disso. Mas fiquei muito feliz por ela, encontrar um amor,
tão jovem, deveria ser uma das melhores sensações. Pela sua expressão tensa, sabia
que o que eu dissesse sobre, seria levado em consideração por ela, independente do
quesito.
Eu tinha muitas coisas a dizer, mas prezei por sua felicidade acima de tudo.

-Se ele quebrar seu coração, eu quebro a cara dele. - E dito isso, a puxei para um
abraço.
Ela gargalhou e disse que se ele a machucasse ela mesma faria o trabalho sujo. Em
seguida fomos até a frente do espelho, peguei um pote de creme, de morango, e a
ajudei a finalizar os cachos de seu cabelo. No meio desse processo, Aurora apareceu
trazendo três xícaras de chocolate quente.
Assim que ela entrou o aroma encheu nossas narinas. Minhas mãos e as de Adelle
estavam meladas de creme, então Aurora nos ajudava a tomar alguns goles vez ou
outra. Parecia uma mãe alimentando as filhas.
Conversávamos nesse meio tempo, Aurora expressou sua tristeza em estar longe dos
pais, ainda mais com sua corte sob risco. Tentamos acalentá-la, também contamos um
pouco de nós. Foi um momento muito agradável, Aurora não tinha a facilidade em se
abrir como Adelle, mas parecia disposta a isso. Ao finalizar os cachos de Adelle, fui ao
banheiro lavar as mãos e decidi tomar um banho rápido.
Voltei ao quarto e vi Adelle trançando as mechas brancas de Aurora.

-Deveríamos costurar nossas fantasias. - Disse Adelle animada.

-Perdi alguma coisa? - Perguntei enquanto secava meu cabelo na toalha.

-A festa a fantasia da corte Estival, Feyre e Nestha estavam comentando conosco hoje
de manhã. - Disse Aurora.

-Vocês já pensaram em uma fantasia? - Perguntei.

-Não faço ideia, e tem que combinar com a máscara. - Respondeu Adelle.

-Eles realmente querem uma reunião discreta. Será que seremos incluídas nela?
-Perguntou Aurora.

-Provável que você sim, quem será o representante da Corte Invernal? - Falei.

-Meus pais sempre vão juntos, por conta da praga, não sei o que farão, ainda não
recebi notícias sobre esse assunto em específico, mas ao longo dos dias espero receber.
- Percebi o quanto ela se chateia falando de seus pais, a saudade que ela sente, então
tratei de mudar de assunto.

-Temos que arrasar nas roupas, faremos igual na primaveril Ade. - Meu sorriso surgiu
tão rapidamente, ao mesmo tempo que o removi do meu rosto. Lá estava, Corte
Primaveril, foi um aconchego para nós, mas na minha volta, será a mesma coisa? Ou
apenas o caos e horror estavam à espreita apenas aguardando?

-Faremos melhor! - Disse Ade, e eu percebi a dualidade de significados daquela frase.


Um singelo sorriso surgiu em meus lábios, Aurora tentou nos animar, e conseguiu, nos
embalando numa conversa de supostas fantasias.
Chegou num ponto que eu senti uma necessidade muito grande de escutar uma
música, não sei por que, mas foi um desejo muito forte.

-Vocês já ouviram música aqui? Em qualquer lugar? Na cidade em si eu ouvi o tempo


todo em que passeei pelas ruas, porém nessa casa não. - Elas pararam para refletir se
tinham ouvido e negaram em seguida.

-Por que? Vontade repentina de dançar igual fazíamos? - Perguntou Adelle.

-Me conte essa história, as duas. - Pediu Aurora, animada.

-Não é nada demais, mas quando éramos mais novas, em uma festa que juntou toda a
vila, vimos casais valsar em volta da fogueira pela primeira vez. Como não tínhamos
par, decidimos dançar nós duas, foi um desastre, pisávamos nos pés uma da outra, um
martírio. - Disse Ade, sorrindo com a lembrança.

-Então fizemos um acordo de no ano seguinte sabermos dançar pelo menos uma
música decentemente. Todos os dias antes de eu voltar, fazíamos a valsa de despedida.
E demorou, mas aos poucos fomos evoluindo como dançarinas mirins. Nos anos
seguintes, foram menos pisões. Virou uma “Tradição”. - Finalizei.

Aurora gargalhou, tenho certeza de que ela imaginava a cena em sua cabeça.

-Eu já vi uma sala de piano aqui, o que acham de darmos uma ida lá? - Perguntou
Aurora, um sorriso sacana surgiu em seus lábios.

Os olhos de Adelle brilharam, eu sabia como ela amava o instrumento, lembrava de seu
pai, que a ensinou. Ela nunca mais tocou em nenhuma tecla após sua morte.

-Se vamos fazer isso, tem que ser da forma correta. - Disse ela correndo até o armário e
o abrindo.

-Vamos fazer um baile particular. - Disse ela, nos lançando um olhar cúmplice.

Nos entreolhamos e colocamos a mão na massa, naquele momento, eu não pensava na


minha missão do dia seguinte. Não me permiti temer os dias depois daquela noite, não
pensei no Brandon, os pesadelos ou a praga. Ignorei, por algumas horas, quantas
pessoas contavam comigo. Naquele segundo era apenas Jasmin, Adelle e Aurora, um
trio de amigas que iriam vasculhar a casa dos Grão- Senhores da Corte Noturna, apenas
para montar um baile improvisado. E eu não poderia estar mais feliz.
Adelle retirou três vestidos e os estendeu na cama. Para Aurora, ela escolheu um
vestido com decote de coração, estruturado com um espartilho transparente com
aplicações de estrelas. As mangas de tule,lilás, começaram no meio do braço, seguiram
até os pulsos, o tecido tinha estrelas bordadas, e eram bufantes. A saia se abria logo
acima de seu umbigo, com camadas de tons de azul, lilás e rosa claro. A penúltima
camada era de tule nude com estrelas. O tecido final era um tecido furta-cor, e uma
fenda até o meio de suas coxas era disposta.
O de Adelle era um vestido também em decote coração, mas tinha renda de folhas que
fechavam seu pescoço, como um colar, e descia até onde o decote finaliza, ao contrário
do de Aurora. O tecido era de um tom verde oliva com as aplicações em um tom de
ouro envelhecido. As mangas longas, eram justas, e possuíam folhas bordadas no
mesmo tom de verde do tecido; Sua saia era menos rodada, na altura da cintura ramos
de flores foram dispostos, a saia tinha rendas de flores por toda ela, se concentrando
no centro e indo diminuindo a quantidade a medida que o comprimento do vestido
seguia. A primeira camada de tecido da saia era na cor dourada, e o tule verde nas
camadas seguintes.
O meu era em tule Preto, o corpete do vestido parecia uma armadura prateada, que
era acinturado até o início de meus quadris. Parecia uma armadura, mas abaixo da
cintura pareciam no formato de asas mariposas. Eram detalhes delicados. O tule de
manga seguiu até o comprimento dos meus pés, com um pequeno corte nas laterais
para meu braço ficar livre daquela quantidade de tecidos. O decote em “V” foi
abraçado por detalhes em prateado no formato de folhas. Era uma das coisas mais
lindas que eu já tinha visto.

-Uau! Vou querer levar isso para minha corte. - Disse Aurora encarando seu vestido.

-Uma maquiagem? O que acham? - Perguntei, não poderíamos usar aqueles vestidos
sem estarmos impecáveis.

-Ainda bem que finalizei meus cachos, precisamos estar perfeitas. - Disse Adelle
correndo ao banheiro para pegar os cosméticos.

Combinamos de cada uma fazer sua própria maquiagem para acelerar, já estava
entrando na madrugada, e precisávamos descansar.
Aurora apostou em uma maquiagem branca, um delineado branco duplo foi feito em
suas pálpebras, colou pequenas pedras ao redor do delineado superior, seus lábios
foram pintados pela cor vermelho sangue. Adelle fez um olho dourado, e apostou em
um batom nude. Fiz um delineado preto e coloquei algumas pedras abaixo da
sobrancelha, na boca um batom preto fechou a maquiagem.
Aurora já tinha as tranças, Adelle fez apenas uma meia trança lateral, eu fiz um rabo de
cavalo alto. Descalças seguimos Aurora para onde ela tinha dito ter visto essa sala de
piano.
Chegando lá, a porta estava fechada, com muito cuidado a abrimos e entramos. As
luzes se acenderam, e mais parecia um salão de baile do que uma sala de piano;

-Por favor, dançarinas sigam ao palco. - Brincou Aurora, indo em direção ao piano.

Segurei na mão de Adelle e fomos até o centro.

-Serei seu cavalheiro essa noite, senhorita Adelle. Me conceda a honra dessa dança?-
Disse, me curvando.

Ela cerrou os olhos e soltou uma risadinha.

- O prazer será todo meu em dançar com você, Sir Jas. - Disse ela segurando a ponta do
vestido e curvando a cabeça.

Aurora soltou uma risada animada antes de começar a dedilhar.

A música começou de forma suave, e aos poucos foi entrando em um ritmo animado.
Segurei a mão de Ade, e a outra segurei sua cintura. Ela colocou a mão que sobrou em
meu ombro, e começamos a dançar, não tínhamos tido aulas de dança, então os passos
ou eram inventados ou eram iguais aos das mulheres e homens que víamos nas festas.
A girei, erguendo-a em seguida. Aurora tocava muito bem e mantinha seus olhos
fechados, apreciando aquele momento.
Nos separamos para fazer o famoso “teatro”, durante a música, estava em uma
melodia triste mas presente, então rodeamos uma a outra, fingindo atuar a cena de
um casal que apesar das brigas ainda se amavam e queriam um ao outro como nunca.
Quando retornou para o refrão nos juntamos e finalizamos a música com Ade inclinada
enquanto eu a segurava. Quando Aurora parou de tocar, Adelle riu, e foi um som tão
contagiante que tomou eu e Aurora, que sorrimos como bobas.

-Minha vez de tocar. - Disse Ade, correndo até onde o piano estava.

Aurora se posicionou em minha frente, colocou uma mão nas costas e a outra ergueu
no ar, e repeti a pose. Aguardamos as primeiras notas soarem, e como eu esperava, a
melodia triste encheu o ambiente. Começamos a andar em círculos, nossas mãos a
centímetros de se juntarem. Aurora sorriu e deu um passo para frente, colando nossas
mãos, levei minha mão, que estava nas costas, até sua cintura e começamos a valsar. A
música ia passando de melancólica para animada, até que chegou em um ponto onde
eu e Aurora girávamos sem parar, o meu fôlego sendo arrancado, mas eu não
conseguia parar, segurei minhas saias com uma das mãos e me juntei a Aurora
novamente. Íamos para trás e para frente, giros e passos não nomeados. Continuamos
a dançar mesmo quando Ade saiu do piano e se juntou a nós. Mas o estranho foi que
em todo o momento, a música não parou. Mas elas não pareceram notar, e
continuaram dançando. Eu joguei esse pensamento pra longe e me juntei a elas, e foi
assim pelas próximas duas horas. Dançamos sozinhas, em trio, em dupla. Foi uma das
experiências mais incríveis que eu já tive. Acabou que estávamos suadas e destruídas
após essas sessões, então voltamos para o quarto. Nos revezamos no banho e
chamamos Aurora para pousar ali pelos próximos dias. Ela abriu um sorriso tão
iluminado que encheu nossos corações de alegria. Assim que estávamos devidamente
acomodadas na cama, o cansaço tomou conta de nosso consciente, e adormecemos.

Horas depois, eu estava na pia da sala de banho, encarando meu reflexo. Aurora e
Adelle ainda dormiam. Aurora tinha os pés por cima do corpo de Adelle, e Ade cobria
os olhos de Aurora com o braço. Peguei um bloco de notas e fiz um desenho básico da
posição em que elas estavam e escrevi logo abaixo “Que fofas”. Já tinha tomado banho,
colocado um vestido leve na cor azul claro. Estava apenas criando coragem para sair.
Inspirei e expirei dez vezes e saí do banheiro. Beijei a face de Adelle e a testa de
Aurora. Elas ficariam possessas por eu não acordar elas, mas era mais fácil assim.
Deixei o quarto e Rhys já me esperava, juntamente de Ivar no hall.

-Vamos? - Perguntou Rhysand.

Meneei a cabeça e segurei sua mão, Ivar foi do outro lado e repetiu o gesto. Respirei
fundo e fechei os olhos, quando os abri já estávamos na Corte Primaveril, e um rosto
conhecido preencheu minha visão.

-Seja bem vinda de volta. - Tamlin disse assim que seus olhos se encontraram com os
meus.

Um arrepio subiu por minha coluna, tinha chegado a hora.

Capítulo 29

Perspectiva Jasmin:

Sorri um pouco sem graça com a situação, será que ele pensava que eu havia
provocado aquilo?O que Ariane pensava de mim? Aqueles pensamentos duvidosos
começaram a me apavorar.
Senti uma mão em meu ombro, era Rhysand. Um toque genuíno porém que me passou
confiança.

-É bom estar de volta, apesar da situação atual. - Murmurei, ainda tímida.

-Vamos entrar. - Disse Tamlin.

Percebi que Ivar já não estava conosco, dei uma breve procurada por ele, porém
desisti. Rhysand me perguntou se eu estava bem e se eu tinha certeza daquilo, apenas
murmurei que sim. Ele olhou no fundo dos meus olhos, enxergando a mentira.

-Você tem a bravura de Feyre e a cabeça dura de minha cunhada.- Ele pareceu dizer
isso mais para si mesmo.

-Espero que seja um elogio. - Brinquei, antes de me despedir e seguir Tamlin para
aquela mansão.

Assim que entrei, comecei a andar em direção ao quarto onde fiquei anteriormente,
mas fui barrada por Tamlin que disse:

-Tem alguns moradores da vila dormindo no quarto. Você deve saber os motivos. -
Disse ele, estreitando os olhos.

-Ah, claro, me desculpe! - Falei envergonhada, eu deveria ter perguntado antes de


simplesmente sair andando. - Onde ficarei?

-No quarto de Ivar. - Respondeu.

Arregalei os olhos, e tentei me recompor antes que ele percebesse mas tarde demais.
Ele sorriu, se divertindo.

-Algum motivo para que isso não possa ocorrer lady Jasmin? -Perguntou ele,
debochando.

-Durmo lá sob uma condição. - O desafiei, me divertindo.

-Tudo menos meu título. Qual condição? - Perguntou ele, entrando no jogo.

-Ivar terá que dormir com o Senhor. Na mesma cama. Abraçadinho. Olha que fofo, o
amor paternal. - Falei, fingindo uma falsa inocência.
A cara que ele fez foi impagável, certamente não esperava por isso. Passou alguns
segundos antes que ele se recuperasse. Gargalhei diante da cena.

-Maldita barganha com humanos. - Brincou ele.

Então começamos a seguir até o quarto de Ivar, ele já estava no quarto. Sua camisa
estava jogada em uma poltrona próxima a janela. Ele olhava com uma expressão
encabulada, o seu armário. Assim que me aproximei para certificar o que tinha deixado
ele daquela forma, vi o seu guarda-roupa abarrotado de vestidos.
Cobri a boca com as mãos para que nenhum comentário desnecessário ou uma risada
involuntária escapasse.

-Mas o que é isso? - Perguntou ele, tentando raciocinar.

Passei a mão pelas roupas e retirei do cabide um vestido de baile, voluptuoso, na cor
laranja e o estendi. Analisei por alguns momentos e disse:

-Acho que seu pai desaprova suas vestes usuais. Esse vestido aqui. - Falei, entregando
para ele. - Vai dar certinho com seu tom de pele.

-Você só pode estar de brincadeira. - Bradou ele, jogando o vestido na cama.

-Ela ficará no seu quarto, pelo tempo necessário até que as coisas se resolvam. - Disse
Tamlin, com calma.

-Claro. -disse Ivar, mas o tom foi de aversão.

Ele saiu do quarto e fiquei sem saber o que fazer.

-Tomaremos café da manhã em poucos minutos, pode descansar um pouco. - Disse


Tamlin, saindo do quarto, parecendo incomodado com a atitude de Ivar.

Deitei em sua cama e respirei fundo. Minha cabeça começou a latejar, tentei cochilar
um pouco, virei várias vezes na cama até finalmente pegar no sono.
Assim que acordei fui direto ao banheiro lavar meu rosto. Segui até a cozinha e percebi
que haviam passado horas. No salão estava lotado de pessoas sentadas no chão com
um prato vazio em mãos. Pensei que talvez o cozinheiro estivesse precisando de ajuda.
Voltei à cozinha e o procurei. Ele bradava ordens para seu único ajudante.

-Me diz o que precisa ser feito. - Falei sem rodeios.


Ele se sobressaltou com o susto, mas logo me estendeu um avental e touca pedindo
para eu ir picando os legumes. Tentei ir o mais rápido possível, foram muitas remessas
de legumes. Assim que terminei de fatiar a última batata, o chef já me puxou para que
eu lavasse algumas louças que acumularam. Pelos próximos cinquenta minutos, eu
fatiei, misturei, lavei louças e finalmente tinha ficado pronto a tempo. A fila de pessoas
já era extensa então ajudei a servir a comida. Eu fiquei responsável por servir a salada
de verduras e o arroz. Philippe, o ajudante, servia a carne e uma sopa de ervilhas. O
chef estava na cozinha, de olho nos outros preparos para a noite, e repunha o que
precisava. Mais meia hora se passou até que todos estivessem bem servidos e
alimentados. Então peguei meu prato e segui para o restante de comida que tinha
sobrado, assim que ia pegar na colher para me servir Tamlin surgiu. E um vinco se
formou no meio de sua testa.

-O que você está fazendo aqui? - Perguntou, curioso.

-Vi, que eles precisavam de ajuda aqui. E eu estava sem fazer nada então..- falei, meio
incerta.

-Se sirva e me siga. - Falou ele.

Fiz o que foi pedido e o segui para fora da propriedade. Debaixo da árvore, onde
montamos o altar do casamento, foi posta uma mesa redonda e tinham três cadeiras. A
mesa, lotada de comida.
Me sentei e comecei a comer, estava faminta.

-Acha que meu povo está sendo bem alimentado? A demanda é alta, e como os
trabalhos pararam, está ficando cada vez mais difícil arranjar bons alimentos. - Disse
ele.

-Seu cozinheiro é incrível, se ele fizesse apenas uma sopa eu teria certeza absoluta de
que seria a melhor sopa de nossas vidas. E eles parecem bastante satisfeitos. - Disse,
entre uma garfada e outra.

-Fico aliviado. - Disse ele.

O restante do almoço foi silencioso. E isso me preocupava. Pois eu sabia que após o
término da refeição seria a hora de conversarmos sobre o real motivo que me levou ali.
Assim que pousei os talheres no prato e limpei minha boca, Tamlin falou:

-Não podemos demorar, está piorando. - A preocupação tomou seus olhos. - Ninguém
mais tem acesso a eles, não sei o que aconteceria se isso acontecesse. Mas nem eu
mesmo consigo entrar naquele calabouço, está infestado. Você realmente consegue
encarar isso? Não quero que entre em perigo atoa. - Disse ele, se virando pra mim.

-Não sei como, mas eu consigo, fiz isso na corte noturna. Tenho que fazer de tudo para
ajudar essas pessoas Tamlin. Para ajudar… - Minha garganta se fechou.

-Ariane não vai culpá-la se você não conseguir. Nem eu, nem ninguém, Jasmin. Uma
responsabilidade assim não deveria ter sido passada para você de forma tão repentina.
Mas se você diz que consegue, confio em você. - Ele parecia reflexivo.

-Eu.. - “não consigo”, quis completar, mas as palavras se estagnaram. - Vou conseguir.

Ele assentiu e se manteve em silêncio por três minutos antes de dizer:

-Quando estiver pronta me avise.

“Quanto antes eu fizer, mais cedo eu volto para a noturna e o pesadelo acaba”, pensei.

-Vamos então. - Me levantei e o encarei, segurei naquele rápido lapso de coragem e


me mantive irredutível.

-ok.

Ivar se juntou a nós, e seguimos em encontro ao cavalariço que estava com três
cavalos. As lembranças encheram minha cabeça, o fim não tinha sido muito agradável,
e Ivar lembrava da mesma coisa, dado o sorriso que não saía do seu rosto.
Em silêncio seguimos pelos primeiros quilômetros. Em certo ponto não aguentei o
silêncio perturbador, e o nervosismo que estava tomando conta de mim.
Comecei a murmurar uma música que minha mãe costumava cantar para mim quando
eu estava com medo de algo.
O efeito foi imediato, e comecei a me acalmar. Repeti a música várias vezes, baixinho,
para não perturbar os meus companheiros de viagem.
Respirei fundo, e observei a paisagem em volta, contar também me deixava calma,
então comecei a contar as árvores pelo caminho. E assim tudo passou mais rápido.
Chegamos a uma grande torre, em meio a um campo imenso. Guardas cercavam toda a
área, a uma distância segura da entrada. Então descemos dos cavalos e começamos a
andar até a porta, que era trancada por dois blocos de ferro, que foram necessários
quatro homens para abri-la, certamente ninguém conseguiria sair dali por aquela
entrada sem ninguém perceber. Ivar e Tamlin entraram comigo, o lugar era seco, e
muito quente, era todo feito de pedras. Andamos por um longo corredor estreito, e
mal iluminado. No final dele tinha uma grande porta de ferro. Tinha um pequeno
retângulo de vidro que permitia a visão do interior do ambiente. Relutante aproximei
até aquele local, e olhei, temerosa.
Não vi nada, enxergava o lugar vazio. Fechei os olhos e quando retornei a abrir um
rosto me encarava do lado de dentro. Um grito escapou de meus lábios, e meu corpo
com um impulso foi para trás. Coloquei a mão no peito para tentar acalmar meu
coração que batia acelerado.
Ivar chegou perto de mim mas não fez mais nada, parou ali. Tamlin esperou que eu me
acalmasse antes de dizer:

-Teremos que entrar. Ivar e eu manteremos eles longe, mas não podemos nos segurar
por tanto tempo assim. Eles estão muito fora de controle. Assim que você der o sinal
eu abro.

Acenei e respirei fundo, contei até cinco e disse:

-Pode abrir.

Perspectiva Nyx:

Faziam algumas horas que Jasmin havia ido embora e eu já notava o ambiente
estranho. Todos esperavam ansiosos qualquer notícia. Receosos, de que algo poderia
ter dado errado.
Tinha acabado de sair do treino com Cassian, Aurora e Adelle se sentiram mais
confortáveis treinando com as valquírias. E nesse momento estavam na Casa do Vento.
Percebi Zayn muito disperso naquela manhã, na verdade, nos últimos dias. Quis
questioná-lo sobre isso, mas achei melhor esperar que ele se sentisse confortável o
suficiente para se abrir.
Nesse momento seguíamos aos nossos aposentos, iríamos tomar um banho e descer
para almoçar.
Me despedi de Zayn com um aceno e entrei no quarto, assim que a porta fechou, segui
em direção a banheira, que já saía vapor, mas era do frio intenso que estava a água.
Xinguei Cassian em meus pensamentos, era por ordens dele que eu tinha que tomar
banhos frequentes em temperaturas baixíssimas. Tinha certeza que no cômodo ao
lado, Zayn pensava o mesmo. Me despi e entrei na banheira, o primeiro contato com
aquela água me fez trincar os dentes, porém logo mergulhei todo meu corpo na
banheira. Cobri minha cabeça e fiquei alguns minutos embaixo d’água. Quando emergi,
minhas bochechas queimavam e meus lábios tremiam. Já era hora de um banho digno.
Ao meu toque, a água começou a se aquecer, aos poucos, para não causar um choque
térmico tão agressivo. Mergulhei mais uma vez e apenas senti, senti a água mudando a
temperatura aos poucos, as pequenas ondulações embalando meu corpo. O som de
pequenas ondas vindo de encontro aos meus ouvidos. Esvaziei minha mente, tentei
não pensar em nada, nos últimos dias os ataques tinham diminuído, e eu estava tenso,
apenas esperando a próxima vez. Quando acontecia, a única coisa que eu pensava era
que eu queria ser qualquer outra pessoa naquele momento. Nunca me senti tão
necessitado de querer trocar de pele, trocar de vida, com qualquer um, apenas no
meio de minhas crises.
Eu tinha uma opinião de onde isso vinha. Era para meus pais estarem mortos, e eu
também, mas uma barganha foi feita, e isso que mantinha nossas vidas intactas. Mas,
qual o preço daquela troca? Eu não saberia dizer com precisão.
Após momentos de reflexão, comecei a ensaboar meu corpo e a lavar meu cabelo. O
que eu mais queria era ficar ali, pelo resto do dia, mas tinha assuntos pendentes. O
descanso fica para depois..
Saí da banheira e com um simples gesto de mão o quarto se aqueceu, eu achava
ridículo como uma pessoa poderia possuir tanto poder assim e não ficar acomodada.
Me vesti, colocando uma camisa preta de algodão, e uma calça de couro, meus
coturnos pretos e perfeitamente engraxados completavam. Saí do quarto e Zayn me
esperava do lado de fora do seu próprio, ele vestia a mesma coisa que eu mudando
apenas a cor da camisa, ele usava uma branca. Fomos juntos à sala de jantar, apenas
meus pais estariam em casa para o almoço. Os cumprimentei com um abraço, e beijei
o topo da cabeça de minha mãe.
Me sentei e Zayn me acompanhou. O alimento foi servido e no momento em que os
coloquei no prato um pequeno desconforto surgiu em minhas têmporas, era como um
choque de baixa intensidade. Paralisei, meus pais me olharam, preocupados. Pisquei
algumas vezes e a dor passou. Balancei a cabeça e comecei a comer. Após algumas
garfadas meu estômago se revirou, tomei um gole de água e me esforcei para terminar
de comer, mas só aumentava, parecia que algo crescia em meu estômago, migrando
para outras partes de meu corpo. A tontura me tomou, e cambaleei para frente, Zayn
me puxou e logo meus pais estavam à minha volta. Eu queria falar mas minha garganta
se fechou e eu não consegui pronunciar nada. A única coisa que vi, antes da
inconsciencia me tomar, foi Jasmin, no centro de uma cela, sua mão estava tomada por
veias pretas, ela suava e rangia os dentes, tentei chamá-la, gritar seu nome para que eu
pudesse dizer para ela parar, era como se meus pensamentos tivessem sido lidos, ela
virou a cabeça e me olhou, como se estivéssemos cara a cara, seus olhos estavam
sendo tomados pelo preto. Pela última vez tentei gritar, mas meu corpo caiu e meus
olhos se fecharam, me levando às profundezas de minha mente.

Perspectiva Jasmin:

A porta tinha sido aberta, e uma lufada de ar varreu todos aqueles infectados, que se
grudaram na parede, e foram mantidos presos assim. Eles grunhiam como animais
prestes a atacar. Nem pareciam humanos, eram iguais aos homens que eu encontrei na
corte noturna. Então me lembrei daquela noite, mas esses não pareciam querer me
proteger e sim me matar. Ou aquele comportamento hostil se dava por conta da
presença de Ivar e Tamlin?

-Vocês conseguem manter a barreira de ar do lado de fora? - Perguntei.

Ivar me olhou como se eu tivesse perguntado se o céu era mesmo azul ou se cavalos
tinham quatro patas.

-O que você está pensando? - Perguntou Tamlin, desconfiado.

-Na corte noturna, eles não agiram assim, você estava lá Ivar, e se apenas eu
permanecer com eles? Talvez fiquem calmos novamente e eu…- Fui interrompida por
um Ivar, muito furioso.

-Não, nunca. - Ele disse quase espumando de nervoso.

-Mas você viu e… - interrompida.

-Não vou te colocar em risco a troco de uma teoria. - Disse ele, cuspindo aquelas
palavras.

-Eu decido se vou enfrentar esse risco ou não. - Falei séria. - Quanto tempo até vocês
saírem e eles me atacarem? - Perguntei a Tamlin.

-Milésimos de segundos eu diria. - Disse ele, avaliando os riscos.

-Seria o suficiente para vocês intervirem antes deles me atacarem? Se isso acontecer,
claro. - Completei.

-Eu diria que a probabilidade é baixíssima, mas não impossível. -Respondeu ele.

-Já é alguma coisa. - Respondi.

-Vocês não podem estar falando sério. - Disse Ivar.

-É nossa única chance, a não ser que você queira tentar retirar a praga deles assim. -
Disse Tamlin.

-Vou tentar, se não der certo, vão seguir meu plano. - Disse aos dois.
Eles assentiram, então me virei para os infectados e tentei me aproximar. Eles se
agitavam mais à medida que eu chegava cada vez mais perto. Ficando mais agressivos,
Tamlin e Ivar que antes mantinham suas mãos nos bolsos, controlando apenas pela
mente, tiveram que erguer os braços e as mãos para contê-los. Quando tentei tocar a
testa de um quase perdi um dedo, e isso não seria nada legal.

-Ok. Meu plano tem que funcionar. - Disse dando alguns passos para trás.

-Saiam. - ordenei.

-Jasmin, assim que a porta se fechar, nossos poderes não vão poder atravessar ela. -
Disse Tamlin, sua voz tinha um falso tom de calma.

-Faça. - Aumentei o tom.

A adrenalina corria por todo meu corpo, era a hora. Eles relutantemente foram indo
em direção a porta, ainda os prendendo. Assim que eles chegaram a porta eu
sussurrei:

-Espero que vocês sejam rápidos. - E lancei uma piscadela para eles, antes de me virar
para aquelas pessoas.

-Agora. - Falei em um tom baixo.

O barulho do trinco da porta e os corpos caídos no chão me confirmaram, eu não


estava mais sob a proteção do poder deles. Era apenas eu, e um grupo considerável de
pestes.
As coisas ficariam muito divertidas por aqui.

Como imaginei, eles não me atacaram, apenas me cercaram, como se averiguasse o


corpo estranho que entrou em seu covil, sem permissão. A esfera se projetou em meu
torno, e por alguns momentos eu me repreendi mentalmente por esquecer que
possuía essa habilidade, como Ivar não se lembrou também?Era normal eu não me
lembrar disso? Acho que não, mas resolvi pensar na questão depois. Eles formaram um
círculo em torno de mim, ajoelhados, e quando ergui minha mão para tocar o homem
à minha frente, um baque soou na porta, era Ivar, ele me olhava pelo pequeno
retângulo e fazia o sinal de não com a cabeça, e depois passou um dedo pelo pescoço,
e me dei conta, se eu os tocasse enquanto a camada de proteção estivesse ativa, a
pessoa viraria pó. Bom, minha única experiência foi com as criaturas não palpáveis,
mas eu não queria testar se o mesmo aconteceria com aqueles ao meus pés. Então
novamente desprotegida, e sem a esfera, ergui minha mão. Respirei fundo e minha
mente projetou uma pequena palavra “venha”. Como da primeira vez, a dor
excruciante tomou conta de minha mão, e subiu pelo meu braço. Veias pretas saíam
daquele humano e vinham para mim. Assim que quebrei o contato, o corpo
desacordado do rapaz tombou. Segui pelos próximos três, sentindo apenas a dor tomar
conta de mim, e quando a quebra do contato acontecia, ela ia embora. Quando andei
até o quinto, minha visão começou a escurecer, pisquei algumas vezes para ver se
passava, mas não foi o que aconteceu. Olhei para meus braços, veias pretas
despontavam por eles, o pânico tomou conta de mim, respirei fundo e fui para o
seguinte, minha testa e minha nuca pingava de tanto suor. O esforço era muito, no
sétimo a dor foi quase insuportável, rangi meus dentes, o contato não podia ser
quebrado, estava quase lá, quase lá. Minha visão estava quase inexistente, e um puxão
me fez olhar para o lado, e vi, ou imaginei, ver Nyx, caído, parecendo à beira de um
desmaio. Ele parecia querer dizer algo, e por um segundo pensei em ouvir ele dizer
“Jasmin”, então ele desapareceu. Jasmin, aquilo me fez despertar.
Minha visão tinha voltado quase toda ao normal. Quebrei o contato e mais um corpo
desmaiado caiu. Tinham pelo menos mais vinte pessoas ali, eu não conseguia, me
sentia exausta, mas não podia parar ali, não até… Olhei para a última pessoa da roda,
e se não fosse pelo seu cabelo inconfundível eu nunca a reconheceria, Asa, era Asa.
Meu coração parou por alguns segundos, parecia apenas a casca dela ali. Segui até ela,
e rapidamente toquei em sua testa, a dor me fez curvar o corpo. Quando finalizei ela
tombou, e fui ao seu lado, tomei sua mão e murmurei um pedido de desculpas.
Dezenove, faltavam apenas dezenove. Aquele pensamento me fez seguir adiante por
mais quatro pessoas até que meu corpo pesou, pesou tanto que tombou para frente
caindo por cima dos corpos.
“Levante”, eu pensava, “levante”, mas eu simplesmente não tinha mais forças para ficar
de pé.

-Me ergam, me ajudem a ficar sentada- Sibilei, para ver se minha voz surtia efeito.

E aconteceu, quatro deles se levantaram e me ergueram, me colocando sentada,


apoiada na parede. Não conseguia nem mexer os braços.

-Deite. - Falei para um que estava à minha frente.

Era uma mulher, feérica, de cabelos castanhos, deveria ser muito bonita. Toquei sua
testa e a dor não veio, eu esperei que viesse, mas não aconteceu. Eu me sentia como
se estivesse boiando em uma superfície de água fria. Como se ela anestesiasse meu
corpo.
Repeti aquele processo até faltarem cinco pessoas. Algo estava errado, o “certo” seria
eu sentir uma agonia gigante, estava fácil demais.
E foi como um estalo, algo foi arremessado para cima de mim, não algo qualquer, mas
um dos infectados. Consegui me arrastar para o lado pouco antes dele atingir a parede,
com sua cabeça. O que foi aquilo? Eu olhei para a cena e meu estômago revirou, o
sangue tinha espirrado na parede e escorregou até o corpo do homem caído. Sua
cabeça estava destroçada, mas nenhum vestígio da praga foi encontrado nele, sua pele
estava normal sem veias pretas. O choque tomou conta de meu corpo, passei a mão no
rosto para me acalmar, mas quando eu as olhei, estavam lotadas de sangue, eu tinha
me machucado? De onde veio tanto sangue, olhei à minha volta e foi quando a
realidade veio com tudo. Um homem, a centímetros de você, cometeu suicídio
acertando sua cabeça na parede, o sangue espirrou te ensopando toda. Não tive
tempo para chorar ou nada do tipo pois outro infectado fez algo inesperado, segurou
seu pescoço com as duas mãos e o torceu, o barulho dele se quebrando se
assemelhava com o da noite em que eu e Adelle estávamos na floresta, e o barulho de
um galho quebrando, foi ouvido. O baque do corpo veio logo em seguida. Levei as
mãos aos lábios.

-Parem com isso. - Berrei.

Eles apenas me olharam mas não tiveram reação, fiquei de pé me apoiando na parede,
por pouco não escorregando no sangue ainda fresco. Tentei andar até eles, para
curá-los, mas apenas cambaleei e caí de joelhos. “Malditas pernas”, Eu pensava
enquanto me esforçava para me levantar.

-Me ajudem. - Implorei. Mas não aos infectados e sim para Ivar e Tamlin.

Quando olhei em direção a porta, consegui ver pelo pequeno retângulo eles tentando
abrir a porta, berrando um com o outro, não conseguia ouvir, mas li em suas
expressões, eu estava presa ali.
Estava prestando tanta atenção nos dois homens que estavam do lado de fora, que me
distraí por tempo o suficiente para ouvir outro barulho. Quando olhei, mais um corpo
estava caído, um corte profundo em sua garganta e o sangue que esguichou delataram
a causa da morte, na mão da humana tinha uma placa de vidro.
O que estava acontecendo?
Sobraram dois infectados, um deles eu demorei a reconhecer mas percebi que se
tratava do esposo de Ariane. Me arrastei até a parede mais próxima e me ergui, dei um
passo relutante, me apoiando, em direção a ele, que estava imóvel, assim que cheguei
perto o suficiente para tocá-lo, caí de queixo no chão, se não quebrou eu ficarei
surpresa. O infectado número dois, tinha puxado meu pé. Por que eles estavam agindo
como suicídas?
Tentei me levantar mas levei uma cotovelada na costela, arfei de dor, consegui sentar a
tempo suficiente do infectado número dois me dar um chute no estômago. Implorei
para que a esfera se projetasse, a imaginei em volta de mim, mas nada aconteceu.
Assim que o infectado número dois ia me dar mais um soco, dessa vez no rosto, eu
desviei e segurei seu pulso, encostando meu dedo em sua testa. Ele tentava se soltar
mas eu o segurava, a dor veio, mas eu não poderia soltá-lo naquele momento. Quando
eu via suas veias pretas quase sumindo, o marido de Ariane me acertou um chute no
braço, quebrando assim nosso contato, e foi como se o homem se transformasse em
um animal, um animal que estava dias sem comer e encontrou a presa perfeita.

-Fiquem imóveis. - Tentei pela última vez, falhando miseravelmente.

Eu tinha perdido o controle deles, estava em um covil de leões, e tinha quase certeza
que não sairia viva dali.

Capítulo 30

Perspectiva Jasmin:

Um punho veio em direção ao meu rosto, ergui meus antebraços, protegendo assim
minha face, uma sequência de socos foi disparado mas eu os bloqueava enquanto
tentava me afastar deles. Eu não morreria ali, não podia, não permitiria isso.
“Por favor”, implorei a mim mesma, “eu preciso de ajuda”. Com um impulso me
levantei, os golpes deram uma pausa suficiente para que eu ficasse a uma distância
segura deles. Fiquei na posição que Azriel me ensinou, tomara que aquele pombo mal
humorado tivesse me ensinado algo que se preze. O engraçado era que eu estava me
sentindo observada o tempo todo, mas ignorei a sensação. Sentia minhas mãos se
esquentando, como se eu estivesse as colocando em chamas. As chacoalhei para ver se
aquela sensação passava, e o infectado número dois veio em minha direção, rugindo
como uma besta, assim que ele chegou perto suficiente, ficando no alcance de minhas
mãos, eu desferi um golpe em seu estômago, o impacto foi tão grande que ele foi
arremessado para a outra extremidade da cela, batendo seu corpo na parede e caindo
desacordado, eu precisava aproveitar aquela deixa para o desinfectar, mas tinha
apenas um empecilho, o marido de Ariane. Ele vinha em minha direção de forma lenta
e ameaçadora, me dirigi novamente ao infectado um verificando se ele ainda respirava,
e vi ao longe uma fumaça saindo de sua roupa, no mesmo local onde o acertei. Tentei
entender o que era, mas o marido de Ari atacou, ele me empurrou em direção a
parede, eu me desequilibraria e bateria a cabeça naquelas pedras, então tomei o
impulso suficiente para me virar, o colocando em direção a parede, seu corpo se
chocou nela e o meu nele. Coloquei meu braço atravessando seu pescoço, o
prendendo na parede e com a outra levei a sua testa, mas para minha sorte, ele
conseguiu se soltar e me empurrar para trás, eu caí de costas no chão e antes que eu
conseguisse levantar ele veio por cima de mim, tentando agarrar meu pescoço, eu
mantinha meus braços o empurrando, deixando o mais longe possível, tentei o afastar
com os pés mas só serviu para que ele tivesse uma chance de me encostar, como usei
toda minha força nas pernas, meus braços vacilaram, abrindo a brecha. Ele segurou
meu pescoço, me ergueu um pouco e me jogou para baixo, o choque no meu corpo foi
grande, como minha cabeça foi atingida, minha visão escureceu por tempo suficiente
para que minhas defesas vacilassem por completo. Comecei a sufocar, tentei acertá-lo
em qualquer lugar para que eu conseguisse respirar. Então minhas mãos começaram a
esquentar novamente, e lembrei do que aconteceu com o primeiro infectado, segurei
em seus braços e deixei que aquele calor passasse para ele, me queimava e eu
esperava que esse efeito fosse transferido para ele também. Ele soltou um grito de dor,
e eu consegui empurrá-lo para o lado, me levantei ainda meio zonza e comecei a
respirar fundo, minha garganta ardia. Ele estava agachado, no meio da cela, rugindo de
dor, não pensei duas vezes e corri em sua direção, colocando a mão em sua testa.
Quando as primeiras linhas pretas começaram a dissipar de seu corpo, eu disse:

-Ariane vai ficar feliz ao te ver, Ariane, sua esposa, sabe quem é não é?

Sabia que ele não poderia responder, mas eu esperava que ele pelo menos ouvisse e
soubesse que alguém que o ama muito estava esperando por ele.

-Ela é uma mulher muito doce, sua neta também ficará bem.

As últimas veias estavam sendo passadas para mim, quando finalizou ele murmurou:

-Ariane, minha amada passarinha…- ele iria dizer algo mais, porém sangue jorrou de
sua boca.

Um grito assustado saiu da minha boca, o corpo do homem tombou para frente, uma
mancha de sangue começou escorrer em sua camisa, na região do abdômen, e a ponta
afiada de uma placa de vidro era visível. Segurei seu corpo, e vi então o infectado
número um atrás dele. Ele tinha o apunhalado.
O marido de Ariane tossiu, e eu ouvi sua voz fraca:

-Diga que eu a amo. - E a morte tomou conta de seu corpo.

Não, não, não. Eu falhei, falhei com a única pessoa que eu não me permitia errar. O
corpo sem vida do homem estava em meus braços, um soluço saiu de meus lábios,
lágrimas escorreram pelo meu rosto. Olhei para aquele infectado, aquele assassino, e
eu só senti raiva, a raiva se espalhou por cada canto de meu corpo. Eu fiquei cega de
ódio quando tudo veio à tona, o olhar desolado que Ariane dirigiria a mim ao saber da
morte de seu amado, a repulsa que sentiria por eu não ter salvo ele. Então gritei.
E depois disso, me lembro apenas de flashes, eu por cima do corpo do infectado,
socando seu rosto já ensanguentado, braços me arrastando dali, algo sendo aplicado
em meu braço e então.. escuridão.
Perspectiva Nyx:

Meus olhos se abriram de supetão, e já me levantei olhando em volta, meus pais se


sobressaltam por aquele movimento brusco mas logo me cercaram.

-Ela está com problemas. - Disse, poupando palavras pois minha garganta arranhava.

-Quem está com problemas meu amor?- Perguntou minha mãe, contendo sua
preocupação.

-Jasmin, ela.. - Comecei a dizer, mas parei quando vi seus olhares perdidos.

-Antes de desmaiar eu a vi, ela estava retirando a praga das pessoas mas, não estava
bem, tem algo de errado, muito errado. - Disse após tomar um longo gole de água que
Zayn pegou para mim. - Precisamos ir para lá.

-Filho.. - Meu pai começou, mas eu o cortei.

-Pai, essa ideia foi de vocês, não se sentiria culpado se algo acontecesse com ela? Ou
ela é tão descartável assim? Vocês não são assim, mas por que parece que não se
importam com o que acontece com ela; Quando Jasmin retira a praga ela... - Mas parei
de falar, ao meu lado Zayn suspirou.

Não podia ter dito que algo acontecera com ela naquela noite, estávamos guardando
segredo até aquele momento.

-Nyx, o que acontece? -Perguntou Feyre cobrindo a boca com as mãos. E quando a
resposta não veio, ela emendou - Rhysand, o que fizemos?

-Filho eu preciso que me diga, qual foi o efeito colateral?- Perguntou Rhysand, com a
testa franzida.

-Ela.. - Comecei a falar, mas as palavras não vieram.

-Parece que Jasmin sai de si, não parece a mesma pessoa, como se a praga que ela
retira fosse para ela mesma. E naquele dia foram cinco infectados. - Disse Zayn.

-Rhysand, quantas pessoas infectadas Jasmin teria que curar? - Perguntou Feyre,
erguendo a voz.

-27. - A voz de Rhysand era quase inaudível.


O choque atravessou meu corpo, ela poderia morrer, e já teria morrido nesse exato
momento.

-Por quanto tempo eu apaguei? - Perguntei, angustiado.

-Três horas. - Respondeu minha mãe.

-Pelo caldeirão. - Murmurei, o abatimento tomando conta de mim.

-Vamos para a Primaveril. - Disse Feyre indo para fora do meu quarto.

-Eu vou junto. - Anunciei para ninguém em específico.

-Não. - Meu pai disse. - Você está fraco.

-Não vou ficar aqui apenas esperando por notícias pai. Você consegue me entender, eu
sei que consegue. - Disse, cansado demais para discutir.

-Vamos logo. - Ele disse me pegando e jogando meu corpo sob seus ombros e me
levando até onde Feyre estava.

Em poucos segundos estávamos na Primaveril. Meu pai me colocou no chão e


seguimos até a mansão. Muitas pessoas estavam do lado de fora, parecendo inquietas
e ansiosas, olhavam para a porta principal, que estava aberta, como se esperassem
respostas. Nem se incomodaram com nossa presença.
Seguimos diretamente para dentro da residência, procurando por Tamlin, estávamos
indo até seu escritório quando um barulho de algum objeto se quebrando foi ouvido
no corredor dos aposentos, seguido por um grito, Jasmin. Corri até onde vinha o
barulho e entrei, a cena era um caos, Jasmin gritava e jogava tudo ao seu alcance na
parede, seus olhos estavam tomados por preto, sua pele estava mais pálida do que o
normal. Ivar segurava seus braços, tentando mantê-la quieta, mas ainda sim tomando
cuidado para não machucá-la. Tamlin estava no canto do quarto colocando algo em
uma seringa.

-Eu vou matá-lo. - Rugia Jasmin. Ela dizia isso sem parar.

Notei uma senhorinha ajudando Tamlin com o que quer que ele fosse fazer, ela tinha
os olhos marejados.
Eu e meus pais ficamos quietos, não sabíamos o que fazer sem que piorasse tudo.

-Segure-a. - Ordenou Tamlin.


Porém Ivar não conseguiu contê-la. Meu pai projetou as sombras para acalmá-la e
imobilizá-la. Mas nem mesmo isso a parou por completo, porém foi o suficiente para
que Tamlin se aproximasse e aplicasse o conteúdo da agulha em seu pescoço.
Ela parou de resistir, mas não dormiu de imediato, ao invés disso ficou murmurando
com a voz chorosa:

-Eu não consegui salvá-lo, eu vou matar aquele homem, eu vou… - Então desabou.

Tamlin prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, arregaçou as mangas e sentou na


cama, massageando a testa.

-O que aconteceu? - Perguntou Feyre.

Ivar tinha colocado Jasmin na cama, e a mulher que estava junto já passava um pano
úmido em seu rosto.

-Perda de controle. - Respondeu Tamlin.

-Você precisa ser mais específico que isso. - Disse meu pai, um pouco impaciente.

-Vão conversar fora daqui, ela precisa descansar. - Disse a mulher, em tom firme.

-Claro que sim, me perdoe. Qualquer coisa nos chame, vamos estar no escritório em
frente. - Respondeu Tamlin, nos guiando para fora.

Ivar fez questão de ficar, porém foi expulso pela senhora.


Entramos no escritório, e Tamlin se esparramou em sua cadeira, servindo cinco copos
com uma dose de conhaque. Ele nos estendeu e logo já virou o seu.

-Foi bizarro, ela perdeu total controle lá dentro. - Disse Tamlin.

-Primeiramente, porque ela estava sozinha lá dentro? E por que vocês não entraram
quando viram que as coisas estavam saindo do controle? - Perguntou meu pai, tenso.

Tamlin riu, mas seu sorriso não continha humor algum.

-Ela estava sozinha pois, conosco lá dentro eles ficaram hostis, agressivos, e quando
estava apenas ela, os infectados se acalmaram. Era como se eles a venerassem.
Observamos ela o tempo todo, e claro que em qualquer sinal de problema íamos
intervir, a questão é. Assim que ela começou a curá-los a porta foi selada, tentamos
abri-la antes que ela perdesse o controle, quando Jas ainda estava curando a sétima
pessoa, seus olhos ficaram pretos e Ivar disse que tínhamos que entrar. Os guardas que
estavam do lado de fora, somados conosco, não conseguiram abrir a porta. Era como
se o que estivesse acontecendo lá dentro, não permitisse interrupções ou intrusos. Em
certo momento, os infectados começaram a se matar. O primeiro estourou sua cabeça
na parede, ao lado dela, o segundo cortou seu próprio pescoço, o terceiro quebrou seu
próprio pescoço. Ela não conseguia andar, nem se mexer direito, o esforço foi mais do
que seu corpo poderia aguentar. - Tamlin deu uma pausa, e fechou os olhos com força,
como se revivesse a cena.

-Ela se arrastou para se manter longe deles, ela conversava com eles, como se bradasse
ordens, que claramente não estavam sendo ouvidas e obedecidas mais. Foi então que
um dos últimos dois infectados que sobraram, se virou contra ela e a atacou. Ela se
esquivou de alguns golpes, mas apanhou muito. Até que ela conseguiu ficar em uma
distância mínima dele e com um golpe certeiro o arremessou do outro lado da cela, a
roupa do homem começou a sair fumaça, não sei de onde essa força surgiu, mas foi o
que a ajudou. Quando me virei para olhá-la percebi o último infectado já agarrando
seu pescoço, ela apenas segurou seus braços e ele a soltou, como se seu toque
queimasse, foi então o momento que ela conseguiu tocar em sua testa para curá-lo. E
ela conseguiu, ele falou alguma coisa antes de ser apunhalado pelo outro, que antes
estava caído desacordado no chão da cela. Foi então que Jasmin perdeu o controle, um
grito sobrenatural saiu dela, e ela o atacou, desferindo golpes e mais golpes em seu
rosto. Assim que ela gritou, percebemos o chão, as paredes e o teto tremerem, tinham
muitas pessoas ali, desacordadas, se Jas não parasse a estrutura iria desabar por cima
de todos, foi quando a porta rangeu e caiu, apenas com seu grito, a porta de aço caiu.
Os guardas já começaram a retirada das pessoas enquanto tentávamos conter ela. O
homem já estava desacordado a essa altura, meu pai projetou uma ventania que
conseguiu mover Jasmin de cima do infectado, mas parecia que nem isso a continha.
Foi quando precisamos usar o calmante nela, meu pai tinha levado por precaução.
Então ela apagou, mas assim que a colocamos na cama, ela despertou e o surto veio
mais forte. Quando vocês chegaram, estávamos tentando controlar a situação,
esperávamos que ela acordasse no mínimo em doze horas. -Finalizou Ivar.

-Essa pessoa, que foi apunhalada, tem alguma conexão com Jasmin? - Perguntou
minha mãe, em sua postura de Grã-Senhora.

-Ele é marido da mulher que as acolheu quando chegaram aqui na Corte. - Disse Ivar. -
Elas planejaram o casamento da neta daquele homem. Mas tenho certeza que o que
mais a abalou foi o que ele disse a ela antes de morrer, e o que a tirou do controle foi
imaginar como dar a notícia a Ariane. - Completou ele.

-Já contaram aos moradores sobre os infectados? - Perguntou meu pai.


-Ainda não, gostaria que Jasmin pudesse estar presente quando o anúncio for
repassado. E além do mais, aqueles que estavam infectados precisam se recuperar,
então já estávamos prontos para levá-los a uma casa de campo que temos. Nesse
momento, eles estão sob todos os cuidados possíveis, mas preciso ir verificar se não
deu nenhum problema, pode ter voltado.. Não sei. Mas quero ter certeza de que todos
estão se recuperando bem. - Disse Tamlin olhando em uma folha em suas mãos.

-Esse surto repentino pode ter sido consequência dos sentimentos dela terem tomado
conta, naquele momento a raiva. Saber controlá-los será a chave. - Disse Rhysand.

-E a questão dela estar com os olhos pretos e as veias pretas? Não pode ser normal. Ela
absorve aquela praga e é isso? Nada acontece com ela? - Questionou Tamlin.

-Não temos certeza das consequências, o tempo dirá, assim que ela acordar
poderemos fazer uma investigação mais profunda dos danos. - Disse Feyre.

-Da primeira vez, percebi que a esgotou, Ivar estava lá. Ela ficou por quase um dia
inteiro apenas dormindo, é como se drenasse suas forças. - Disse, finalmente abrindo a
minha boca durante todo aquele tempo.

Antes que alguém pudesse dizer algo mais a mulher, que estava no quarto com Jasmin,
entrou no cômodo em que estávamos e dirigiu um olhar aflito ao seu Grão-Senhor.
Tamlin levantou de supetão e foi para fora da sala, sendo seguido por Ivar e o restante
do grupo. Ao chegarmos no quarto, Tamlin estava com a mão sobre a bochecha de
Jasmin e sua testa estava franzida.

-O que houve? - Perguntei.

-Ela está ardendo de febre. - Respondeu ele, dando espaço para que a mulher retirasse
os cobertores que embalavam o corpo de Jasmin.

-Ariane, prepare um balde de água fria, precisamos abaixar a temperatura dela. - Disse
Tamlin, abrindo as cortinas e janelas.

A mulher assentiu, retirou o último lençol de cima de Jasmin e saiu do quarto.


Me aproximei dela, que parecia tão impotente naquela cama, e graças aos poderes que
herdei de minha mãe, eu tive uma ideia.
Ergui minhas mãos sobre seu rosto e o toquei, uma brisa congelante escapou de meus
dedos, minha mãe percebendo minha iniciativa, e me ajudou a esfriar o quarto. O
esfriamos o suficiente, até que saísse fumaça de nossas bocas. Chequei a temperatura
dela, que começava a baixar.
Alívio tomou conta de mim.
-Se me permitem, Rhysand, Feyre. -Disse Tamlin, e assim que meus pais concordaram,
para que ele continuasse ele falou:

-Gostaria de pedir para que Ivar e Nyx fossem até nossa casa de campo checar os
nossos súditos. Eu faria o trabalho, até porque como Grão-Senhor é meu dever. Porém
preciso acalmar os curiosos e aflitos e ter uma conversa com os Grão-Senhores da
noturna.

Ivar fechou o semblante porém assentiu, concordei em ir também, então Ivar me guiou
para fora do quarto, mas antes que saíssemos demos uma última olhada em Jasmin,
que parecia estável. Deixamos ela aos cuidados de três Grão-Senhores, não tinha o que
dar errado.
E quando chegássemos onde os pacientes se recuperavam, tudo estaria bem. Era o que
pensávamos;
Pegamos nossos cavalos e cavalgamos em silêncio até estarmos longe o suficiente de
qualquer ouvido curioso.

-Foi muito pior dessa vez. -Disse Ivar quebrando o silêncio.

-Me permite? -Perguntei.

Queria ver como foi exatamente, Ivar balançou a cabeça permitindo, então procurei
por suas memórias de horas atrás. Foi agoniante ver eles do lado de fora e não
conseguindo entrar enquanto Jasmin era enforcada. Ivar esbravejava com todos,
rugindo ordens para que derrubassem aquela porta, ele mesmo tentou sozinho até
que seu pai o parou, antes que ele quebrasse seus ossos tentando entrar. Então senti
ele agonizando o tempo todo depois disso, pedindo silenciosamente que ela
conseguisse sair dessa. As imagens passaram brevemente, quando ele viu o estado em
que Jasmin se encontrava não sentiu medo dela, mas sim preocupação o atingiu.
Terminando de ver os acontecimentos me desconectei de sua mente e o encarei, ao
longe cavalgando. Quando fiquei ao seu lado, perguntei:

-O que espera que aconteça quando ela acordar?

Ele pareceu refletir na pergunta e ficou alguns minutos calado. Aproveitei para me
distrair com o ambiente em volta, campos de flores seguiam de ambos os lados da
estrada, campos de… meu coração acelerou. Eram campos de lírios. Minha respiração
começou a acelerar, maldita coincidência. Ivar desacelerou e trotou vindo em minha
direção.
-O que houve? - Questionou ele, mas eu estava em meio a um ataque. - Nyx, o que
você..

Mas eu não o ouvi mais, apenas cavalguei, rápido, muito rápido, queria que aquela
sensação sumisse, ele me alcançou e não fez perguntas, assim que a visão do campo de
lírios ficou para trás pude respirar fundo e me controlar.

-Odeio lírios. - Disse, tentando descontrair o ambiente.

-Não vai me dizer que é alérgico a flores. Seu ponto fraco é muito mais ridículo do que
o de qualquer outro feérico. - Ele riu enquanto dizia isso.

Eu gargalhei, alergia a flores, que piada.

-Não cheguei nesse ponto ainda Ivar; - Devolvi a brincadeira, mas quando olhei para o
seu rosto vi que estava sério.
Olhei para frente, para onde ele encarava e vi uma grande propriedade de madeira,
pessoas andavam por todo o local, provavelmente curandeiros.

-Tem algo de errado. - Disse Ivar, antes de seguir em frente, em alerta.

Capítulo 31

Perspectiva Adelle:

Feyre, Rhysand e Nyx tinham ido a primaveril, Zayn me contou assim que cheguei na
residência após o treino. Hoje tinha sido puxado, tivemos o primeiro contato com as
espadas, Aurora parecia uma guerreira já treinada, se movia como água e tinha uma
destreza impressionante, eu por outro lado não tinha habilidade alguma. Nestha não
parou de falar durante todo o treino o quanto eu estava distraída. Ela tinha uma pose
muito parecida com a de seu parceiro,autoritária e irredutível, mais até. E o motivo de
meus pensamentos estarem longe, estava justamente em outra corte. E quando ouvi
Zayn dizer que os grão senhores e herdeiro foram de repente, eu soube que algo de
muito errado tinha ocorrido. Perdi totalmente meu apetite e segui ao meu quarto,
entrando na sala de banho, eu retirei aqueles couros do treino e entrei na banheira.
Lavei meus cabelos, e os hidratei com um creme com cheiro de mel. Esfoliei meu corpo
e ao finalizar o banho, passei um hidratante por todo ele, este tinha cheiro de avelã.
Fiquei enrolada na toalha me olhando no espelho por um tempo, respirei fundo
algumas vezes e saí do banheiro. Zayn estava deitado em minha cama, brincando com
as mechas de seu próprio cabelo. Fui até o armário e puxei um vestido de flores,
amarelo, e andei de volta ao local de banho.

-Você sabe que pode se trocar na minha frente né? - Perguntou Zayn, com um sorriso
presunçoso.

-E dar esse privilégio assim, de graça? -Devolvi em tom brincalhão.

Ele bufou e eu me virei novamente, sabia que ele me seguia com o olhar então fiz
questão de demorar mais que o necessário para entrar no banheiro. Assim que fechei a
porta, ouvi sua risada do lado de fora. Me troquei, a toalha ainda envolvia meus
cabelos, mas decidi desembaraçá-lo antes de sair. Assim que saio Zayn está logo na
porta, ele agarra minha cintura e me puxa para si. Colocou seu nariz na curvinha de
meu pescoço e cheirou, fazendo com que eu me arrepiasse inteira.

-Mel. - Foi a única coisa que ele disse.

O olhei de forma confusa, tentando entender o que ele quis dizer com isso. Vendo meu
olhar ele completou:

-Mel e avelã, o seu cheiro.

Foi então que minha ficha caiu, sorri meio sem graça, estar em sua presença me
despertava alguns sentimentos controversos.
Ele deslizou a pontinha de seu nariz do meu pescoço até minha clavícula. Murmurei
algo sem sentido e ele soltou uma risada, uma que eu poderia escutar para sempre.
Levei minha mão aos seus cabelos e puxei de leve, ele permaneceu imóvel. Quase me
afastei dele para ver o que tinha acontecido, porém seus lábios se chocaram contra os
meus, foi como um choque, o beijo era suave porém firme, um beijo completamente
apaixonado. Nos separamos apenas para recuperar o fôlego. Seus lábios estavam
inchados, rosados e convidativos, seus cabelos estavam desgrenhados e suas pupilas,
dilatadas.
Ele beijou minha testa e me puxou para um abraço, um abraço desesperado, como se
não quisesse me perder.

-Você não vai me perder raposa. - Sussurro o encarando.

-Não diga algo que você não possa prometer, abelhinha. - Disse ele de forma
descontraída, apertando a ponta do meu nariz.

Mas vi que apesar de sua tentativa de mudar o clima pesado que se instalou, seus
olhos transpassaram medo.
Segurei seu queixo e o encarei, ficamos assim por alguns momentos até que Zayn
umedeceu os lábios com a ponta da língua, não sei o porque mas isso bastou para que
eu colasse meus lábios aos seus. Ele sorriu contra minha boca e retribuiu o beijo, suas
mãos passeavam por minhas costas, até que ele as prendeu em minha cintura me
empurrando em direção a parede. Arfei em surpresa quando minhas costas se
chocaram contra o gelado da parede, prendi minha mão em seu pescoço e o puxei para
mais perto. O beijo era como uma dança, uma dança ritmada e animada.

-Tem gente vindo. - Disse ele de repente com a voz rouca, se afastando e indo para a
sacada.

Segundos depois Aurora entra no quarto, eu ainda estava um pouco atordoada por
conta dos momentos anteriores, involuntariamente levei minhas mãos aos lábios e
ainda podia sentir seu gosto, canela.

-Vocês precisam disfarçar melhor, sinto o cheiro de vocês a muitos metros daqui. -
Brinca ela pegando um livro em cima da mesa.

Sorrio de forma nervosa, será que todos desconfiavam?

-Vai cuidar da sua vida gelinho. - Disse Zayn irritado.

-Gelinho? Sério que vai usar o mesmo apelido que me deu quando você visitou a
minha corte, há 23 anos atrás?

-Pera ai, 23?- Perguntei, um pouco atordoada. - Quantos anos vocês tem?

-Er.. - Aurora não respondeu de imediato.

-Eu tenho 26. - Disse ela, meio envergonhada? - Nyx tem 28 e Zayn 26.

O olhei um pouco espantada, eu imaginava que eles seriam mais velhos, até porque
não tem como adivinhar a idade exata por conta dos feéricos não envelhecerem.

-Quantos você tem? - Pergunta Aurora, tentando fazer daquela conversa uma comum.

-Dezoito, assim como Jasmin. - Respondi, eu estava atordoada mas não por conta das
idades, e sim o que elas representavam. Quando eu estivesse com 26, não teria a
mesma carinha de dezoito, mas Zayn… Aurora e todo o resto me veriam envelhecer e
morrer enquanto eles não terão nenhuma mudança.
-A diferença não é tão gritante assim.. Segredo nosso, mas meus pais tem mais de
quatrocentos anos.. Então assim. - Disse Aurora, conseguindo arrancar um sorriso meu.

-Realmente perto de seus pais, ou de outros feéricos, estamos em vantagem. - Brinquei


de volta.

Mas meu coração afunda a cada segundo, seria isso que Zayn temia? Não que eu fosse
deixá-lo por conta própria, e sim porque minha fase idosa chegaria, eu espero, e a
dele.. não. Respirei fundo e sentei em frente ao espelho, Aurora saiu, silenciosa como
sempre.
Comecei a passar um creme nos meus cachos e a defini-los aos poucos, minha mente
viajou a pensamentos distantes. Momentos depois senti alguém atrás de mim, era
Zayn, ele sentou e me aninhou no meio de suas pernas, pegou um pouco de creme e
começou a passar em meu cabelo, imitando meus movimentos para definir os
cachinhos, um a um. Ficamos assim pelos próximos trinta minutos, até que ele disse
que buscaria algo para nosso almoço. Apenas acenei a cabeça, tinha que contar a
Jasmin, ela ficaria magoada caso soubesse por alguém, tenho certeza que todos
desconfiam, tive essa confirmação após Aurora dizer. Então me decido, assim que ela
chegar na noturna, a contarei.
Fui ao banheiro lavar as mãos e guardar o creme que utilizei. Parei em frente a pia e,
como mais cedo, encarei meu reflexo e uma imagem passou pela minha mente. “Zayn
ajoelhado no chão abraçando o próprio corpo, chorando muito, Nyx vinha em sua
direção e tocava seu ombro, seu corpo chacoalhava por conta dos soluços violentos."
Saí desse transe e assim eu desabei. Meu choro saiu, engasgado, eu soluçava. Nosso
laço de parceria tinha data de validade, eu só conseguia chorar, chegaria um dia em
que eu morreria e o deixaria sozinho pelo resto da eternidade. A dor que atravessou
meu corpo foi avassaladora. As minhas pernas cederam mas braços fortes me
ampararam. Ele foi se agachando comigo, até que eu sentei em seu colo ele me
abraçou e embalou meu corpo como se eu fosse uma criança, e naquele momento eu
realmente não ligava para isso. Ele afagava meus cabelos, e dizia:

-Não fique assim, minha doce abelhinha.

-Eu não quero te deixar. Não quero envelhecer e morrer enquanto você continua
bonitão. - Falei me engasgando em uma pequena risada. - Não quero que me
substitua, mas não quero que fique sozinho pra sempre. - Minha voz eleva o tom por
eu estar chorando, e ela fica mais fina a cada palavra.

-Você acha que eu penso em outra pessoa ao meu lado? Abelhinha, quando você está
comigo eu não consigo dirigir meus pensamentos a mais nada, e a mais ninguém. E se
o tempo que tivermos juntos for apenas algumas décadas, vamos fazer desses anos os
melhores de nossas vidas, e mesmo... - sua voz embargou- mesmo que você parta,
bemmm velhinha, ainda te acharei a mais preciosa joia do mundo. E nunca vou querer
outra pessoa, pois sei que a única que tem a dádiva de ter tudo de mim é você. Apenas
você, Adelle, tem a chave do meu coração e da minha alma. E se eu tiver que me
contentar pelo resto da eternidade com meras lembranças, pode ter certeza que serei
muito feliz, por que mesmo quando estamos longe um do outro e eu penso em você,
nesse sorriso lindo, nesse corpo de tirar o fôlego, desse rosto que me hipnotiza, nesses
olhos que me prendem, e nesse cabelo espetacular, eu me sinto feliz. Temos concedido
80, 90 anos? Então eu viverei satisfeito, porque por todo esse tempo eu viverei ao lado
da única mulher que serei capaz de amar. Minha mulher, minha abelhinha.

Se seu discurso foi para me acalmar ele errou feio, agora eu chorava mais ainda, suas
palavras atingiram meu coração e acalmaram a tempestade que tomava meu corpo.
Aos poucos eu fui me tranquilizando, o tempo todo ele ficou ali, não se moveu um
centímetro, não parou de me fazer carinho.

-Você é a melhor coisa que poderia ter acontecido a mim. - Disse eu, limpando meu
rosto e minhas lágrimas.

-Sei que é recente abelhinha, sei que todos podem achar muito rápido e apressado, sei
que muitos podem não entender, mas aqui com você nesse momento, uma
confirmação encheu meu coração. Eu te amo Adelle. E agora, nesse banheiro, o lugar
menos romântico da terra, sentado no chão com você em meus braços, eu juro, que
pelo resto da eternidade eu serei seu, e apenas seu.

Meus olhos se arregalaram, cobri a boca com as mãos, assim que o choque inicial
passou eu me impulsionei para abraçá-lo, ele acabou se desequilibrando e caindo e fui
junto. Nós dois gargalhamos.

-Eu também te amo, minha raposinha. E agora, nesse banheiro, o lugar menos
romântico do mundo, eu juro pelo resto de minha vida, ser sua e apenas sua.

Nos entreolhamos por um momento, senti um puxão e após isso ondulações a nossa
volta nos envolveram, uma música soou, mas não uma música tocada, aquela era
especial, era única. Aquela música, era a música de nossas almas, e foi a coisa mais
linda que eu poderia ouvir. Quando Zayn prendeu sua mão e puxou minha cabeça em
sua direção, e nossos lábios tocaram, a música chegou ao fim.

-Você precisa saber de uma coisa. - Diz ele, horas depois.

Já estávamos deitados na cama, abraçados, curtindo um momento a sós.

-O que? - Falei me espreguiçando.


-Tem um “ritual”, que ocorre quando a parceira aceita a parceria. - Diz ele, parecendo
incerto e sem jeito.

-Por que não me disse antes? Não envolvendo nada que me machuque.. - Brinquei
com ele.

Mas o sorriso que ele me lançou não foi um sorriso divertido e sim de pura expectativa
e satisfação.

Perspectiva Nyx:

-O que você quer dizer? O que tem de errado? - Perguntei, porque para mim, estava
tudo bem.

Ele não respondeu, apenas continuou cavalgando, assim que chegamos na porta
daquele casarão descemos do cavalo e fomos até o hall de entrada. Uma curandeira já
veio ao seu encontro, ela parecia aflita, mas mesmo assim se forçou a sorrir, fez uma
rápida reverência e antes de falar algo Ivar já a questionou:

-O que aconteceu?

Ela pareceu aliviada por ele já saber que algo não estava nos eixos.

-São os curados senhor, eles estão agitados. Estão todos dormindo, mas parece que
estão presos em algum pesadelo que não conseguem acordar. - Disse ela nos guiando
para onde eles estavam.

-Já foram três doses de anestesia, mas não foram suficientes, não podemos dar outra,
o corpo está fraco demais para isso. - Disse ela abrindo a cortina que separava os
pacientes um dos outros.

O curado estava amarrado à maca, mexia freneticamente para ambos os lados.


Nenhuma marca preta era visível. Apenas um pequeno pontinho preto estava ao lado
de suas têmporas, achei aquilo estranho, Ivar também tinha visto e foi até o leito ao
lado para verificar se o outro tinha também. Ele voltou e disse, apontando para o local
onde aquele ponto se encontrava:

-Está vendo essa marca Jayla? - A curandeira assentiu e ele continuou. - Chame os
outros e verifiquem se todos possuem ela.
Ela assentiu e começou a bradar ordens para o restante de ajudantes que estavam no
local. Rapidamente eles começaram a examinar os curados.
Em menos de cinco minutos Jayla e mais um feérico, deveria ter menos de vinte anos,
vieram com uma prancheta.

-Todos possuem a marca senhor, menos uma. - Ela apontou para o nome em uma
planilha.

-Asa. - Ivar falou em tom baixo, como se fizesse um pequeno esforço para se lembrar.

Seus olhos se iluminaram e ele exigiu que fossemos vê-la.

-O que ela tem de especial? - Questionei.

-O que, exatamente, eu não sei. Mas Jasmin ajudou a montar o casamento dela aqui na
Corte Primaveril, dentre todos lá dentro ela apenas conhecia Asa, neta de Ariane, e o
marido de Ariane. Deve ter alguma resposta subentendida, seria uma grande
coincidência, a única pessoa viva dentro daquela cela que Jasmin conhecia, ser
também a única que está estável.

Ao chegarmos no leito de Asa, ela dormia de forma tranquila, como se descansasse.


Verificamos se ela tinha alguma marca, nada.

-Você acha que por haver essa conexão entre a Jasmin e ela, fez com que isso
acontecesse?- Perguntei.

-Pode ser que sim. Mas não consigo ter certeza de nada, você consegue contatar seus
pais? Passar tudo que vimos aqui, e nossas teorias? Acho bom ter toda ajuda. - Disse
ele, analisando Asa.

-Farei isso.

Me afastei um pouco das pessoas e me concentrei em falar com meus pais, após
algumas tentativas eles abaixaram as paredes mentais e eu os passei tudo que vi.

“Isso é instigante, mas qual a conexão? Não estou conseguindo pensar com clareza.” -
Disse a doce voz de minha mãe em minha mente.

“Confesso que eu também não, mas alguma chance de Jasmin estar conectada com
eles?” - Perguntou meu pai, mas não foi uma pergunta retórica.
“Ela está dormindo de forma calma?” - Perguntei, e eu poderia ver um vinco se
formando em suas testas pela pergunta repentina.

“Vamos checar” - Disse Feyre.

“Vocês não estão com ela?”- Questionei.

Silêncio.

-O que houve? - Perguntou Ivar, parando na minha frente.

“Ela não está na cama, Jasmin sumiu”. - Foi o que meu pai disse em minha mente antes
de erguer os seus muros novamente.

-Jasmin, ela sumiu. -Falei de uma vez.

Ivar empalideceu.

-Onde está o infectado? -Perguntei, minha cabeça finalmente começou a funcionar.

-Infectado? - Perguntou ele ainda atordoado.

-O que Jasmin disse que mataria. Onde ele está? - Perguntei, impaciente.

-Ainda na torre, o levamos para outra cela, está sob controle até onde sei. - Disse Ivar,
finalmente entendendo onde eu queria chegar.
-Não acho que ela estava brincando quando disse que iria matá-lo. - Falei, minha voz
soando mais sombria do que eu planejava.

O cenho de Ivar se fechou.

-A torre fica a vinte minutos daqui, avise nossos pais no caminho, vamos. - Disse ele já
caminhando em direção a estrada.

Não pegamos nossos cavalos, Ivar foi em forma de besta e eu fui voando, chegaríamos
mais rápido assim. Ao chegarmos na torre, os guardas que deveriam estar vigiando o
infectado não estavam ali, e sim jogamos em um monte nas extremidades do campo.
Fomos em direção a eles que ainda respiravam e não tinham qualquer sinal da praga.
Então os deixamos ali e entramos, caso a cena da entrada não tivesse mostrado que
algo tinha ocorrido, ao entrar no interior pensaríamos que tudo estava bem. Até que
ouvimos um rugido misturado com um grito. Chegamos na cela e a porta estava aberta,
entramos e vimos Jasmin no fundo da cela, limpando as unhas, escorada na parede. O
infectado estava no meio da cela, sangue escorria de sua boca, os hematomas que Ivar
disse que Jasmin deixou nele mais cedo, já haviam sumido. Algo estranho, já que o
homem era humano.
Ela apontou um dedo em nossa direção e fomos arremessados para trás, e quando dei
por mim, percebi que tínhamos ficado presos, costa a costa, cordas invisíveis nos
amarravam.
Jasmin nem nos olhou, como se fossemos insignificantes, e andou para perto do
homem que também não se movia.

-Sabe, meu marido sempre me dizia que eu era uma mulher linda, a mais bela de
todas. Você acredita? - Perguntou Jasmin, sorrindo.

Ivar retesou o corpo, e eu franzi a testa. Marido?

Ela continuou rondando o homem e falou:

-Uma vez eu pedi ajuda para minha amada me ensinar a cozinhar, então preparei um
belo banquete para ela, e ela valsou comigo até o amanhecer após isso. - Ela falou.

Aquilo não estava fazendo sentido algum.

-Lembro da vez em que meu pai levou eu e meus irmãos até uma parte da floresta para
caçarmos, fiquei tão feliz. - Disse ela.

-O dia em que escolhi o vestido de meu casamento, foi o melhor momento de todos
-Sussurrou Jasmin.

-São memórias. - Disse Ivar.

-Mas memórias de quem? - Perguntei. - Dela mesma? Não faz sentido algum.

-Memórias dos infectados. Esse tempo todo pensávamos que ela estava os curando,
mas e se na verdade ela estava os roubando?- Disse ele.

-Jasmin roubou suas memórias felizes, e eles estão vivendo agora em seus traumas e
pesadelos. E ela está contemplando as lembranças deles como se fossem suas-
Completei.

-Temos que pará-la. - Disse ele tentando se soltar.


-Minha tia fez um bolo de canela uma vez e estava divino, eu e minha irmã pegamos a
bandeja escondido e fomos até o porão de nossa casa comer. - Disse Jasmin segurando
o ombro do infectado, e o atingindo na costela após isso.

-Eu disse que te mataria. - Diz ela antes de chutá-lo.

Usei meus poderes, de todas as maneiras para tentar nos soltar, Ivar também, mas não
ajudou em nada.

Jasmin segurou o pescoço do infectado, quando estava prestes a quebrar Ivar disse:

-Eu me lembro do dia em que você entrou na cabana, sua determinação em salvar sua
amiga foi admirável, devo admitir.

Ela o olhou, paralisada, e um relance de reconhecimento passou por seus olhos.

-Me lembro do dia em que você chegou na noturna e deixou todos com medo quando
fez a casa tremer. - Eu disse sorrindo.

-Teve a vez em que você caiu do cavalo, e pare de me culpar por isso, por mais que eu
merecesse uma bela surra. - Ivar falou, sorrindo.

-Seu primeiro treino, passando por todos os obstáculos sozinha, foi impressionante. -
Confidenciei.

-Você dizendo que casaria com a torta, nunca vi algo tão fofo e ridículo ao mesmo
tempo. - Disse ele, ao perceber que ela estava se afastando do infectado.

Percebi que realmente estava ajudando, ela estava retornando ao controle de suas
próprias lembranças.

-Você pulando de uma altura relativamente assustadora após derrotar uma legião de
sombras, uau. - Falei, animado.

-Asa em seu casamento, estava tão feliz, você e Adelle fizeram isso? Claro, com o
auxílio do meu bolso. - Ivar falou, relaxando.

As feições de Jasmin foram se apaziguando, ela já estava longe do infectado. Não


parecia tão irada e determinada a matá-lo. Ela piscou e foi como se um véu fosse
retirado de seus olhos.
Ela nos olhou assustada por estarmos presos e veio em nossa direção, olhou cada um
de nós verificando se estávamos machucados e colocou a mão por cima de onde
estávamos unidos. E apenas com seu toque aquelas cordas invisíveis nos soltaram. Ela
se levantou e ficou frente a frente com o homem, antes que pudéssemos explicar para
ela o que estava acontecendo, ela tocou a testa do infectado.

Perspectiva Adelle:

Despertei de repente, tinha adormecido ao lado de Zayn, ele ainda tinha as mãos em
torno de minha cintura. Fiquei com dó de mexer com ele e acordá-lo, mas eu precisava
sair da cama, a inquietude me despertou assim que abri os olhos. Então ao verificar
que ele ainda dormia, saí do quarto. Comecei a andar meio sem rumo pela casa, estava
ansiosa, as palmas de minhas mãos suavam, mas eu não conseguia entender o motivo.
Era fim de tarde, o pôr do sol logo logo daria as caras. E pensei que talvez isso se desse
por eu estar preocupada com Jasmin, para ser sincera não sei como consegui
descansar estando tão pilhada, mais um dos mistérios que meu parceiro tem sobre
mim, me deixar relaxada mesmo nas mais improváveis horas.
Pisquei algumas vezes e estava diante de uma porta, novamente eu me perdi em
pensamentos. Olhei em volta tentando me situar, mas aquela parte eu ainda não
conhecia. A porta era toda talhada em madeira, e era preta. Parecia ser proibido estar
ali, a sensação que eu tinha era essa pelo menos. E justamente por esse motivo decidi
entrar. Assim que abri, uma ampla sala surgiu, toda em mármore branco, estava vazia a
não ser por alguns objetos que estavam no meio do cômodo. Me aproximei, aqueles
objetos pareciam que cantavam para mim. Meu olhar se prendeu em uma espada que
estava acima de uma estrutura de mármore branco. A analisei por longos segundos,
era como se ela implorasse para que eu a tocasse, tentei dar as costas e ir embora, eu
já tinha visto demais, mas um pensamento como um raio me atingiu “Só tocar não vai
fazer mal algum…”
Então a consciência voltou para mim apenas quando minha mão tocou na face gelada
da lâmina daquela espada. Era como se me puxasse, peguei em seu cabo e a ergui, ela
era linda, tinha o tamanho médio e o punhal era talhado com desenhos. Mas a cor dela
começou a mudar, começando na ponta da lâmina, uma cor que imitava a lava ia
tomando conta de toda ela. No punhal também, uma luz muito forte surgiu, fechei
meus olhos e quando os abri novamente vi a espada na cor bronze, onde seguramos a
espada, os detalhes estavam na cor vermelha, como se fosse cravejada por rubi. A
lâmina tinha talhada várias espirais, como se estivesse ali por puro detalhe e beleza,
mas por que aquilo me instigou tanto? O mais estranho e animador disso tudo, foi a
forma que eu me senti enquanto segurei aquela espada. Me senti poderosa, mais
forte. Levantei meu vestido e a prendi por baixo dele, de agora em diante essa espada
seria minha, e se alguém quiser tirá-la de mim, terá sua mão decepada antes de
tocá-la.
Capítulo 32

Perspectiva Jasmin:

Ao abrir os olhos a claridade me atingiu com tudo, pisquei algumas vezes para me
acostumar, olhei em volta e percebi Nyx e Ivar dormindo lado a lado em um pequeno
sofá perto da cama onde eu estava deitada. Gargalhei diante daquela cena, Nyx estava
com a cabeça encostada perto do ombro de Ivar, e a perna de Ivar estava escorada na
de Nyx. Eles prontamente ergueram a cabeça, assustados talvez, pelo barulho que eu
fiz ao rir.

-Vocês seriam péssimos guardas. - Disse procurando algum copo com água pois minha
garganta arranhava.

-Diga isso após saber que passamos cinco dias inteiros de vigia aqui, nesse sofá. - Disse
Ivar jogando as mechas de seu cabelo para trás.

Meu corpo ficou em transe por alguns segundos, e meus olhos se arregalaram. Cinco
dias, cinco dias dormindo. O que houve nesse meio tempo? Uma enxurrada de
lembranças encheram minha mente, eu não consegui processar na ordem certa e
aquilo estava me deixando à beira de uma crise. Peguei a jarra de água e entornei em
minha boca, era como se eu tentasse lavar tudo que minha mente me forçava a
lembrar. Os meninos já estavam em volta de mim tentando me acalmar, eles falavam
algo mas eu não conseguia escutar. Corri para o banheiro e tranquei a porta, me sentei
no chão, coloquei a cabeça entre as pernas e comecei a inspirar e expirar, aos poucos
fui me acalmando.
Minutos depois bateram na porta.

-Estou sem roupa. - Gritei, para que ninguém entrasse.

-Como se nunca tivéssemos visto uma fêmea nua antes. - Falou Nyx de forma baixa,
seguido por uma risada de Ivar.

-Eu consigo escutar você Nyx. Então se você já viu, sabe que ela deseja privacidade
nesse momento. - Falei de forma mal humorada.

-Se ela estiver comigo? Não mesmo. - Retrucou ele.

Eu conseguia ouvir a risada ininterrupta de Ivar.

-Me deixe sozinha, pombo pervertido e besta enjaulada. - Resmunguei.


Houve um longo momento de silêncio e logo em seguida escutei o trinco da porta se
fechando.
Fiquei ali, naquela posição, por mais alguns instantes antes de retirar, de fato, minhas
roupas e seguir para a banheira. Fechei meus olhos mas as memórias se chocavam
contra mim, então os deixei abertos para que não ocorresse isso, comecei a murmurar
uma canção baixinho, usei um sabão com cheiro de cereja, e nos meus cabelos usei
uma máscara e shampoo na essência de baunilha. Perdi as contas de quanto tempo
havia se passado quando decidi sair da banheira, mas a água já tinha esfriado. Enrolei
meu corpo na toalha e em meus cabelos e me esgueirei para fora do banheiro. Assim
que abri a porta vi Nyx e Ivar ,de costas para mim, conversando. Foi quase em câmera
lenta, eles começaram a virar a cabeça em minha direção assim que bati a porta
novamente, o estrondo foi ensurdecedor, mas meu pânico foi maior.

-SAIAM DAQUI. - Berrei do banheiro.

Em resposta ouvi a risada de ambos, que pareciam chacoalhar as paredes.

-Calma coelhinha, não vamos te morder. - Disse Ivar, brincando.

-Se me lembro bem, você quase destruiu minha garganta no dia em que nos
conhecemos, não imagino que seus modos tenham mudado desde então. - Devolvi a
implicação.

-Essa foi boa Jas. Perdeu nessa Ivar. - Disse Nyx de forma descontraída.

E desde quando eles tinham se tornado tão “próximos”? Bom, dúvida para outro
momento.

-Poderiam vazar do quarto por gentileza? - Pedi, fingindo educação.

-Pelo que eu saiba esse quarto é meu. - Disse Ivar.

-Era. - Falei já me irritando.

-Vamos Nyx, deixe a cerejinha aí. - Ivar falou de forma que fingia compreensão.

-Cereja? Eu senti baunilha. - Disse Nyx.

Então ouvi passos pesados até a porta, ela abriu e se fechou novamente. Abri um
pouco a porta do banheiro e observei em volta, sem sinal de feéricos chatos. Corri até
a porta principal e a tranquei, como se isso os impedisse, e segui até o armário à
procura de alguma roupa confortável. Encontrei uma calça de algodão verde, a peguei
e vasculhei algumas gavetas à procura de uma camiseta, encontrei uma na cor branca
de mangas longas, a vesti. Ficou um pouco grande e larga, porém não me incomodou.
Penteei meus cabelos e fiz duas tranças as juntando na parte de trás da minha cabeça.
Mais acontecimentos anteriores ameaçavam invadir totalmente minha cabeça, porém
eu os brecava o máximo que conseguia. Mas enquanto eu passava um batom vermelho
nos lábios, sim vermelho, eu precisava me sentir viva, e o que melhor que um batom
para dar uma ajudinha? Uma lembrança estranha me atingiu, eu segurava uma criança
em meus braços, ela dormia tranquilamente, a minha frente tinha uma bela mulher de
cabelos loiros, e olhos verdes em frente a uma lareira. Estávamos em uma casa simples
mas aconchegante. Ela encarava a lareira com um olhar distraído, observei mais
atentamente a mulher então percebi, seus olhos estavam fundos, suas bochechas se
pronunciavam, ela parecia fraca e doente, muito doente. A criança em meus braços
chorou, e a mulher aos poucos se virou para encarar o bebe, ela criou pequenos
animais que pareciam ser feitos de fumaça. A criança logo parou de chorar e soltou
uma gargalhada, a mulher sorriu e meu corpo chacoalhou enquanto eu também
soltava uma risada. Minhas mãos foram levadas até o rosto da mulher, que me olhou
de forma apaixonada, e disse que me amava. Meus lábios se projetaram para dizer que
também a amava. Olhamos para nosso filho que estava em meus braços e então me
senti em paz, como se em muito tempo eu buscasse por isso.
Pisquei e estava de volta ao quarto, com meu corpo congelado, como se eu tivesse
congelado no tempo. Balancei a cabeça para fazer com que aquela situação esquisita
sumisse de minha mente, finalizei de passar o batom e saí do quarto.
Algumas pessoas me cumprimentavam à medida que eu me aproximava da cozinha,
estava praticamente vazio se comparado a quando cheguei ali. Fui até a área de serviço
e não encontrei ninguém, então continuei a procurar por um rosto familiar por ali.
Assim que entrei no salão de baile vi Tamlin, Nyx e Ivar conversando.
Me aproximei com cautela.

-Olha só quem finalmente acordou. - Disse Tamlin, cruzando os braços ao me ver.

-Digamos que eu estava precisando de um descanso. - Brinquei.

-Minha camisa? - Foi a única coisa que Ivar falou.

Olhei para baixo e foi aí que me dei conta de que tinha ficado grande e largo por que
não foi deixado ali para mim, e sim para o dono do quarto.

-Ficou bem melhor em mim, não acha? - Respondi. - Eu gostaria de tirar algumas
dúvidas sobre o que houve, porém estou faminta. - Disse, sendo sincera.
-Esperávamos que dissesse isso. - Disse Nyx apontando para uma mesa no canto do
salão, entupida de vários pratos.

-Bendito seja o cozinheiro que preparou isso. - Brinquei antes de correr até a mesa.

Eles me deram a liberdade e privacidade de passar o almoço sozinha, e agradeci


mentalmente a quem teve a ideia. Meu prato estava cheio, purê de batata, frango
grelhado com um delicioso demi glace, mix de folhas com molho de hortelã, verduras
assadas, grãos cozidos e uma massa divina com bacon e queijo. Adelle me bateria se
visse a quantidade absurda de comida em meu prato, mas eu estava com fome
acumulada, ela entenderia. Assim que esvaziei o recipiente, peguei um guardanapo e
limpei meus lábios. Como um chamado os três machos apareceram, o cozinheiro logo
em seu encalço, ele trazia uma cloche, a colocou em minha frente e saiu sem dizer
nada. Eu adorava surpresas, mas estava ficando sem graça com os três parecendo
corujas observando cada movimento meu. Ergui a tampa e vi uma torta que logo
reconheci, amoras e chocolate. E por um segundo me arrependi de ter comido tanto na
refeição anterior. Peguei uma faca e peguei um pequeno pedaço e levei a boca, a
massa se desfazia e o recheio cremoso juntamente com o toque de chocolate me
levaram ao delírio.

-Essa é muito melhor. - Disse, encarando a torta em minhas mãos.

Ivar soltou uma risada baixa, confirmando que ele tinha entendido a provocação
implícita.

-Vamos conversar?- Perguntou Tamlin.

-Sim. - Respondi.

-Vamos ao meu escritório. - Disse ele, nos dando as costas.

Peguei a bandeja da torta e o segui levando comigo. Nyx e Ivar andavam atrás de mim,
estava distraída, comendo mais um pedaço daquela pequena maravilha quando
passamos em frente a biblioteca, um arrepio subiu por minha nuca e
involuntariamente meus olhos se dirigiram aquele ambiente, as portas estavam
abertas, a minhas costas Nyx e Ivar tinham parado de andar. Tentei voltar minha
atenção para o caminho que eu deveria seguir, porém não consegui, meus olhos se
moveram procurando por algo e encontraram, um par de olhos Lápis Lazuli me
encarando.
Nyx tocou em meu braço mas não foi como se averiguasse se eu estava bem, mas sim
para me colocar atrás dele, como forma protetora. Os dois vasculharam a entrada da
biblioteca e, provavelmente, procurando o motivo de eu ter paralisado, quando não
viram nada me olharam de forma desconfiada.

-Foi aqui que senti a presença daquela coisa, pela primeira vez. - Disse tentando me
explicar. - Vamos, tenho muitas perguntas. - completei.
Então continuei minha caminhada, e os senti andando comigo.
Ao entrar no escritório, Tamlin já estava sentado atrás de sua grande mesa, me
encarando atentamente.

-Você é uma incógnita Lady Jasmin. - Disse ele.

-Eu já devo ter escutado isso uma ou duas vezes. - Tentei descontrair, falhando.

-Você dormiu por cinco dias. Já sabe disso, mas você se lembra da última coisa que
aconteceu?- Perguntou ele.

Me concentrei em achar as memórias daquele dia, estavam confusas mas consegui me


lembrar de tocar na testa do último infectado.

-Eu curei o último infectado. - Falei.

Nessa hora Ivar e Nyx já tinham entrado e sentado em duas cadeiras à minha esquerda.

-Sobre isso, descobrimos que na verdade você não os estava curando como
imaginávamos. -Começou Tamlin, parecia meio duvidoso de como me passar a notícia.

Me senti confusa, muito confusa, se eu não os estava curando, o que eu fiz?

-Eu os matei? - Perguntei, aflita.

-Quase matou um. - Disse Ivar.

O olhei atordoada e foquei em me lembrar disso, e ali estava, o corpo do homem caído,
eu o socando, seus lábios escorrendo sangue e depois eu abaixando em sua frente para
curá-lo.

-Há lacunas, não me lembro de tudo, mas sim, me lembro de socar um homem. -
Confessei.

-Sabe por que fez isso? -Perguntou Nyx.


Pensei por um instante mas as memórias se misturaram com lembranças e minha
mente não conseguia separar o que realmente tinha ocorrido.

-Não, não consigo me lembrar. - Já estava ficando ansiosa.

-Espero que esteja pronta pra ouvir tudo, não vamos ocultar nada e se precisar de
tempo para processar daremos ele a você. - Disse Tamlin, como se visse minha
confusão.

Acenei para confirmar, e ele começou:

-Inicialmente nós apostamos que você seria a chave, a solução para essa praga, e de
certa forma você é. Mas quando você tirou a praga daquelas pessoas, você roubou algo
junto.

-As memórias. - Completei.

Era por isso que eu estava tão confusa com lembranças que não eram minhas.

Tamlin confirmou e continuou:

-A praga se foi, mas com ela as memórias. E desde então aqueles com quem você teve
contato, estão vivendo em seus piores pesadelos ou lembranças, parece simplesmente
que você levou todas as boas e os deixou à deriva da agonia. Apenas uma ficou imune
a isso, está se recuperando bem, Asa, você se lembra dela? - Perguntou ele, batucando
os dedos na superfície áspera de sua mesa.

-Sim, organizamos seu casório, mas, por que ela foi a única?- Questionei, eu realmente
não fazia a menor ideia do motivo que a tornou “especial”.

-Acreditamos na teoria de que quando você tem um vínculo com a pessoa, por menor
que seja, sua conexão é maior, fazendo com que a cura seja bem sucedida. Não vimos
outra explicação, por mais lúdico que pareça, seus sentimentos guiaram a esse
caminho, não que você quisesse roubar as memórias dos outros, mas digamos que,
você puxar a praga para fora do corpo automaticamente leva também as coisas boas
dessa pessoa, por você ter envolvimento com Asa, inconscientemente você brecou
essa transferência e assegurou que ela mantivesse suas lembranças e mente intactas. -
Explicou ele, pacientemente.

E realmente fazia sentido, ou pelo menos era a única teoria que eu conseguia imaginar
que seria a correta.
-Por que eu quase matei aquele feérico? - Perguntei.

Só me lembrava de um corpo caído em minha frente, o sangue respingando em mim e


o ódio tomando conta.

-Ele matou o marido de Ariane. - Disse Ivar, sem rodeios.

E então a lembrança se chocou contra meus sentidos, e me lembrei de suas palavras:

“Diga que eu a amo”

Cobri a boca com a mão, um soluço violentamente saiu de meus lábios, tudo ficou
claro, todo o sofrimento naquela cela. Cada pessoa que se matou ou foi morta, eu
perdendo o controle sobre eles. É como se o destino estivesse me testando enquanto
ria da minha cara. Era até palpável, me lembro das sensações, parecia ter mais alguém
ali, o tempo todo. O óbvio seria pensar que se tratava dos homens que estavam do
lado de fora, tentando derrubar a porta ou até mesmo Nyx, que me lembrava de ter
visto seu rosto em algum momento, mas era diferente. Me lembro do sangue, minha
respiração começou a pesar, pisquei várias vezes para voltar a realidade.

-Ela já sabe? - Perguntei enquanto uma lágrima solitária escorreu pela minha
bochecha.

-Não. Achamos melhor você estar consciente quando a notícia fosse dada; Tiveram
outras vítimas, porém queremos resolver sobre aqueles que não estão 100%
recuperados. - Disse Tamlin, então notei as olheiras profundas sob seus olhos, olhei
para Nyx e Ivar e eles tinham as mesmas sombras escuras.

-E por que vocês não abriram a porta e interviram? - Perguntei, desesperada para
dividir a culpa que sentia com mais alguém.

-Tentamos, ela apenas cedeu quando seu grito a derrubou, assim que você começou a
curar o sétimo infectado nós tentamos intervir, mas a porta havia sido selada. - Disse
Ivar.

-Você deve ter milhares de perguntas e dúvidas e esclareceremos todas elas à


senhorita. Mas eu preciso perguntar Lady Jasmin, você acredita que conseguirá ajudar
a devolver as lembranças aos curados? - Pergunta Tamlin, ansioso pela resposta.

Pensei neles, presos em um pesadelo eterno, a agonia em não conseguir abrir os olhos,
a ansiedade corria por minhas veias. Eu precisava tentar, pela última vez, trazer a vida
normal para eles.
-Consigo. - Respondi.

Horas mais tarde, estávamos cavalgando até o local onde os curados estavam. Ivar e
Nyx me acompanhavam. Fazia alguns minutos que eu apenas escutava a conversa
tática sobre exércitos, que ocorria entre os dois machos. Minha animação para me
envolver no assunto era negativa. Então ocupei meus pensamentos com Ariane e
Adelle. A segunda, pelo o que me disseram, foi notificada apenas que a “missão” se
estenderia por mais alguns dias. Conhecendo ela como eu conhecia, sabia que ela não
aceitaria essa explicação por muito tempo. Ariane, eu estava evitando vê-la, sabia que
desmoronaria caso a visse, tão alheia a real situação de seu marido.
Começamos a passar por um lindo campo de lírios, respirei fundo e foi como se um
soco me atingisse. Lírios, um campo de lírios. O campo se estendia a quilômetros de
distância. Meu estômago começou a embrulhar, olhei para trás para pedir que
fossemos mais rápido. Mas a imagem que meus olhos captaram me paralisou.
Brandon estava ao lado de Nyx, enquanto aquele homem que eu tinha visto na cidade
estava próximo a Ivar. Todos os quatro me encaravam, as feições sombrias. Um indício
de sorriso brotou nos lábios de Brandon.

-Ivar, Nyx? - Chamei. - Estão me ouvindo? - Perguntei.

Eles nem se mexeram, seus olhos me encaravam mas pareciam vazios.

-Eles não te escutarão Jas. Nem lembrarão de nada quando acordarem. - Disse o outro
dando um tapinha na cabeça de Ivar, que permaneceu imóvel.

-O que você fez? - Perguntei olhando diretamente a Brandon, minha voz quase
sumindo.

-Não foi nada, não se preocupe, isso é apenas um teste. - Respondeu ele.

-Um teste? - Perguntei confusa. - Qual teste? - Emendei.

-Nunca me disse que humanos eram tão impacientes, irmão. - Disse o outro, que eu
ainda não sabia o nome.

Ok, irmão de Brandon, no que aquela informação me seria útil? No momento? Em um


grande nada. Não sabia de que teste eles estavam falando, preocupação
transbordavam de meus poros. Como os dois herdeiros super poderosos tinham
chegado a essa situação. Minha cabeça girava com as dúvidas, o medo e o desespero.
-A maior parte pelo menos são Aric. - Confirmou Brandon, e me entregou de bandeja
mais uma informação inútil, o nome de seu irmão: Aric.

-Não seja por isso. - Disse Aric sorrindo como uma águia. - Você terá mais informações
se sobreviver. - Falou ele, como se estivesse me contando como a água que ele tomou
banho mais cedo estava quente, como se minha vida fosse como uma informação
irrelevante.

-Sobreviver?- Repeti, fazendo com que Aric e Brandon rissem de mim.

Não que eu não tivesse entendido de primeira o que ele quis dizer com aquilo, mas
tentei fazer meu cérebro aceitar que precisava criar uma rota de sobrevivência,
rapidamente.

-Além de impaciente é surda. - Brincou Aric. - Mas vamos lhe dar o crédito, pois ainda
não saiu fugindo como uma covarde.

Ainda, eu não tinha fugido como uma covarde, ainda.

-Rapazes. - Cantarolou Brandon.

Ivar e Nyx desceram do cavalo e ficaram lado a lado, como soldados que esperam
ordens de seu superior.

-Ivar, Nyx, por favor. - Supliquei.

Mas então, nada, nem um mexer de sobrancelha, um olhar desdenhoso, uma


movimentação de lábios. Eles estavam sendo controlados.

-Peguem ela. - Bradou Aric.

Comecei a cavalgar e levei o cavalo ao limite de velocidade, olhei pela última vez para
trás e foi quando vi, Nyx voando pelos céus, e uma besta correndo atrás de mim.

-Que o caldeirão me ajude. - Murmurei antes de me virar para frente e começar a


pensar em alguma solução para aquela situação decadente.

Capítulo 33

Perspectiva Adelle:
Há cinco dias que eu não tinha notícias atualizadas de Jasmin, Zayn me disse que algo
de errado tinha ocorrido, porém não estendeu a explicação, o que me deixou nervosa e
ansiosa. Eu tinha decidido naquela manhã, enquanto treinava com Feyre, que iria para
a Corte Primaveril caso eu não recebesse mais informações sobre Jasmin, nem que eu
tivesse de ir andando até lá. Mas não precisou que eu estendesse meus planos de
caminhada entre cortes, pois na hora do almoço quando nos sentamos todos à mesa,
Rhysand nos comunicou que hoje finalmente iriam a Primaveril, eles estavam se
comunicando por cartas, mas vez ou outra eu tinha a impressão que eles iam lá em
uma visita rápida. Os grão-senhores tentavam disfarçar, mas os semblantes
constantemente fechados os denunciavam.

-Eu quero ir, preciso ver Jasmin. - Pedi, assim que finalizei minha refeição.

-Pensamos mesmo que você diria isso, vamos nós três. - Disse Feyre apertando a mão
de seu parceiro. - Sairemos em uma hora. - Anunciou ela simplesmente, se levantando
e saindo da cozinha, seguida de seu marido.

Senti uma mão pressionar minha coxa, meu coração acelerou, como sempre acontecia
quando Zayn estava por perto. Ele fez pequenos círculos em meu joelho me distraindo.
Minutos mais tarde me levantei e fui ao meu quarto, já sabendo quem eu encontraria
do lado de fora do banheiro quando eu saísse. Levei uma troca de roupa para a sala de
banho, me despi e entrei direto na ducha, a pressão da água era forte e massageava
assim que entrava em contato com cada parte de meu corpo. Apoiei meus antebraços
na parede fria de mármore à minha frente, e descansei minha cabeça ali. Meus olhos
se mantinham fechados, algo em meu interior se contorcia, estava acontecendo
alguma coisa, como se fosse meu instinto tentando me avisar algo, mas poderia ser
facilmente confundível com ansiedade ou alguma coisa nesse sentido. Resolvi deixar as
perguntas para quando eu estivesse cara a cara com Jasmin, apenas em pensar no seu
nome me deixava aflita, mas, foco Adelle, me repreendi mentalmente e foquei em não
me abalar. Terminei meu banho e passei uma fina camada de meu hidratante favorito,
avelã. Minhas vestes de treino, o habitual couro, estavam jogadas no cesto de palha no
canto do banheiro, por conta do meu banho do pós treino eu ainda não tinha tido
tempo de lavá-las, peguei um vestido azul claro, de alcinhas e botões na altura do seio
com estrelas bordadas na cor azul marinho, a saia era rodada e uma delicada renda foi
aplicada na barra. Mas ao olhar aquela peça em minhas mãos, meu olhar foi puxado
para a vestimenta de batalha, como se implorasse para ser escolhida. Ignorei a
sensação e passei o vestido por cima da cabeça, ajeitando meus cabelos em um rabo
de cavalo alto e logo em seguida finalizei dois cachinhos que ficaram soltos em cada
lado de meu rosto, passei um unguento de mel em meu pescoço, organizei o que eu
tinha tirado do lugar e segui até a porta, a abri e antes de sair olhei mais uma vez para
onde minhas roupas de treino estavam devidamentes dobradas no cesto, aquele
sentimento de necessidade se apossou de mim, e sem pensar por mais um segundo saí
do banheiro indo diretamente ao armário e pegando uma exata cópia do mesmo
uniforme, porém limpo, e coloquei em uma bolsa feita de couro, com algumas pinturas
de um céu estrelado. Não sabia para que eu talvez precisaria daquilo, mas quis
acreditar que meus instintos tentavam me avisar algo. Zayn, milagrosamente, não
estava ali, então aproveitei e levantei o colchão da cama, e puxei aquela espada que eu
tinha pego escondido. Isso era roubar, então eu prefiro usar a expressão “peguei
emprestado”, por um tempo indeterminado claro. A prendi por baixo do vestido, um
pouco acima de minha cintura, mas o punhal da espada estava marcando por cima do
delicado tecido. Então peguei uma jaqueta longa, que tamparia aquele relevo suspeito,
verifiquei no espelho se realmente estava imperceptível, ao confirmar que sim, fui em
busca a um par de coturnos de cano alto. Terminei de calçar o segundo par e Zayn
entrou no quarto, sorrindo, como sempre.
Ele paralisou ao meu ver, eu estava sentada na ponta da cama e sorri sem graça diante
o olhar de fascínio que ele lançou em minha direção.

-Acho que estou delirando, você é o ser mais lindo que já existiu, minha parceira. -
Disse ele vindo calmamente em minha direção.

Ao chegar perto o suficiente, ele segurou meu queixo e o ergueu, trazendo seus lábios
até minha boca, depositando ali um carinhoso beijo. Suas mãos passeavam por meu
pescoço, seu corpo começou a se curvar sobre o meu, até que eu deitei sobre aquele
colchão macio, ele colocou um braço de apoio ao lado de minha cabeça e começou a
beijar meu pescoço, raspando seus dentes logo abaixo do lóbulo da minha orelha, suas
mãos agora brincavam em minha panturrilha exposta e foi quando ele capturou minha
boca em um beijo apaixonado mas também urgente, e não pensei em mais nada me
entregando ao momento, ele tinha gosto de hortelã. Estava tão absorta em seus
toques que não percebi que ele tinha subido mais a mão e agora eu sentia a ponta da
espada sendo apertada contra minha perna. Zayn manteve a mão ali e beijou minha
orelha e disse de forma manhosa:

-Eu consigo ver em seu rosto quando você esconde algo abelhinha, mas você sentada
denunciou a espada que tentou esconder.

Minha garganta secou, não sabia o que responder, será que ele sabia de onde provinha
aquela espada? Me denunciaria?

-Eu não tenho um bom pressentimento sobre o que vou encontrar por lá, e assim me
sinto mais segura. - Admiti, jogando um verde para descobrir o quanto ele sabia sobre
a espada, por mais que ele não tivesse visto ela, tinha alguma diferença entre as outras
espadas? Eu não sabia dizer, então não arrisquei.
-Caso mate alguém não faça tanta sujeira, não estarei lá para esconder o corpo para
você. - Disse ele salpicando beijos por todo o meu rosto.

Gargalhei com sua fala, e ele sorriu em resposta, mas seus olhos gritavam
preocupação.

-Ninguém vai encostar um dedo em mim, e se tentarem, perderão junto sua mão. -
Brinquei com ele, segurando seus cabelos entre os dedos.

-Eu te amo abelhinha. - Sussurrou ele contra meus lábios.

-Eu também te amo raposa. - Respondi, selando nossos lábios pela última vez.

-Eca. - A voz animada de Aurora veio em direção da porta. - Os grão senhores estão
esperando você Ade, a não ser que queira que eles sejam notificados que os
pombinhos precisam de um tempo a mais. - Disse ela com uma piscadela brincalhona
em nossa direção.

Ruborizei e Zayn beijou cada uma de minhas bochechas antes de se levantar e estender
a mão em minha direção, me levantei e arrumei meu vestido e meu cabelo novamente,
segurei em sua mão e segui para onde Feyre e Rhysand me aguardavam. É melhor que
você esteja bem, Jasmin.

Perspectiva Jasmin:

Eu estava ferrada, era isso que eu estava. O cavalo já tinha perdido velocidade depois
que cavalgamos no limite por alguns quilômetros. Ele não aguentaria por muito tempo,
e eles nos alcançariam em breve. Eu não arriscaria matar o animal por uma fuga mal
sucedida.
Tinha a sensação de que eles estavam brincando comigo, como se não tivessem me
alcançado ainda por não terem sido autorizados. Observei o ambiente à minha volta e
estávamos chegando a uma parte de mata, apenas uma pequena estrada se seguiria
ali, a besta era muito grande para passar entre as árvores com facilidade e agilidade, e
as árvores com sua grande quantidade de folhas espessas, me esconderiam. Foi
quando um início de plano foi se formando em minha mente. Quando passei alguns
metros da entrada daquele bosque vi um grande tronco caído no chão, impedindo a
passagem, dei um tapinha de leve no pescoço do animal e pedi para que ele confiasse
em mim, como se ele fosse capaz de me entender. Estávamos em uma velocidade alta,
e não daria para parar antes que batêssemos no tronco, então me agachei na lombar
do cavalo e esperei até que a distância entre nós e o obstáculo fosse mínima.
“Pule, por favor pule” - Pensei e implorei mentalmente.

Eu precisava que o animal pegasse o impulso necessário como no dia da luta com as
sombras, que Ivar me ajudou. Então eu conseguiria alcançar o topo da árvore ao lado.
Em segundos parecia que eu estava voando, impulsionei meu corpo para cima e meu
corpo se chocou com a árvore, agarrei no galho mais próximo e flexionei meu corpo até
conseguir me apoiar totalmente. O cavalo tinha aterrissado em segurança e agora eu
só escutava o barulho de seu casco contra o chão bem ao longe.
Como estava totalmente exposta, a estrada estava a centímetros de mim, comecei a ir
de árvore em árvore apenas me engalfinhando mais e mais no centro daquele bosque,
mas não muito ao longe eu escutava os rugidos da besta e o bater de asas de Nyx.
Foram sete minutos de pulos entre árvores, quando precisei parar para respirar fundo,
ficar cinco dias em um coma não fez muito bem as minhas articulações. Meu coração
martelava em meu peito, e tive receio de que eles escutassem.
Um barulho alto de algo se chocando contra o chão soou, no início da estrada vi uma
árvore sendo tombada, seguida por outra, e mais outra. Minha esperança evaporou, se
não tinha como Ivar andar por ali em forma de besta, ele abriria o caminho sozinho;
Eu voltaria a fugir caso não estivesse escutado Nyx muito próximo de onde eu estava,
mais um pulo e eu me entregaria, ao longe, as árvores continuavam caindo.
Fiquei imóvel, eu daria tudo para ser aquele galho de árvore onde agora eu me
apoiava, suas audições quilométricas me captariam a qualquer ruído.
Os estrondos pararam, virei minha cabeça lentamente para onde Ivar deveria estar, e o
enxerguei, porém em sua silhueta humana.

-Jasmin, Jasmin. - Ele gritou.

Meu coração quase saltou do peito, seria possível que ele tivesse recuperado o
controle de si mesmo? Aguardei.

-Eles vão nos achar, vem logo, precisamos te levar de volta a mansão. Lá você estará
segura. - Seu tom de voz denunciava desespero.

-Vamos logo Jasmin. - Disse ele, mas já se irritando.

Então um estalo, ele nunca me chamava de Jasmin. Minhas pernas ficaram trêmulas e
foi quando eu senti uma respiração em minha nuca. Cobri minha boca com as mãos,
fim da linha para mim. Virei a cabeça devagar, como se quisesse adiar o final certo que
ele me traria. Quando encarei Nyx, frente a frente, seu nariz quase tocando no meu,
pela primeira vez eu senti medo. Medo puro e absoluto.
Ele sorriu de forma medonha, o pavor tomou conta de mim, estava ficando difícil de
respirar. Nyx segurou meu pescoço e o acariciou com seu polegar antes de o agarrar e
bater com minha cabeça no tronco às minhas costas. Minha visão embaçou com o
choque, fui abruptamente erguida e levada aos ares.
Brandon e Aric só poderiam estar brincando comigo. Eles usarão tudo que aconteceu
em nosso primeiro contato contra mim? Pois agora eu tinha certeza de que, dessa vez,
Nyx não impediria minha queda fatal.
Íamos cada vez mais alto, mas ele me levava para longe das árvores, em direção a uma
montanha. Ele ia me chocar contra aquela montanha, e eu pensando que nada seria
pior do que cair até a morte.

-Nyx por misericórdia, ACORDA. - Berrei, o desespero aumentando à medida que


chegávamos perto daquele local.

Ele me olhou, mas antes que eu criasse esperanças, fui lançada em direção aquele
monte, no meu primeiro encontro eu já teria meus ossos destroçados. Mas então me
lembrei, do escudo!
Quase sorri com o fiapo de chance que o destino soprou pra mim, mentalizei aquela
proteção e foi quando o encontro veio. Esperei a dor excruciante, esperei a queda, mas
nada disso veio. Funcionou! Agora eu flutuava com a esfera me envolvendo. Mas eu
não contava com Nyx investindo contra mim, ele não parava de desferir golpes na
esfera, o que já tinha provado ser inútil anteriormente, porém, eu tinha aquela
proteção graças a Aric que me entregou aquela maldita flor, e se Aric e Brandon Que
estavam controlando-os… a esfera começou a rachar, como se fosse uma grande bola
de vidro, sensível como uma. Quando ele foi para trás para dar um impulso para
acertar mais um golpe eu levei aquela proteção até o chão, onde eu estaria mais
segura, ou pelo menos teria onde me apoiar. Assim que pousei, uma grande fera cobriu
minha visão, e Ivar estilhaçou a esfera. Sua boca parou a centímetros de meu pescoço,
malditos irmãos, e então me lembrei da cela, e automaticamente minha mão
esquentou, chegou ao ponto de queimá-la, mas desferi um soco no pescoço do animal
que foi jogado para longe. Tentei recriar a esfera, fazer com que ela surgisse
novamente, porém não adiantou nada. Ergui os punhos e fiquei em posição de defesa,
NYx pousou e suas asas desapareceram, Ivar se levantou com certa dificuldade e tinha
uma grande marca vermelha em seu pescoço, ambos em sua forma feérica comum.
NYx pegou uma adaga que estava escondida em sua bota e lançou, me esquivei, por
pouco não acerta minha coxa direita. A segurei, precisava de algo mais do que apenas
meus pulsos, Ivar puxou duas espadas de suas costas e jogou uma para NYx. Ótimo!
Maravilhoso!
Pensei em minhas opções, e não eram animadoras. Meu único treino tinha sido corpo
a corpo, e era com um adversário que não poderia me matar, mas ainda assim tinha
me dado muito mal.
Pense, pense, pense. Os dispersar seria uma boa estratégia, eu não conseguiria lutar
nem com um sozinho, imagine com os dois ao mesmo tempo. Porém não seria tão
simples assim. Os instantes que levei para pensar fez com que o primeiro ataque viesse
sem que eu percebesse. Uma rasteira me levou ao chão, Nyx conseguiu se aproximar
como se fosse apenas uma sombra. Segurei a adaga com mais força e rolei para o lado
a fim de sair de sua mira certeira, me levantei assumindo a posição de defesa
novamente porém senti algo se cravar ao lado do meu quadril, algo pegajoso e quente
escorreu por minha blusa. Não queria olhar, não podia. Minha atenção estava em NYx
quando Ivar aproveitou e atirou a adaga. Respirei fundo e prendi um pedaço da blusa
nos dentes antes de rasgá-la, arranquei a adaga e pressionei o tecido no ferimento, um
grito de dor saiu de meus lábios. Eles esperavam, pacientes, que eu desse um jeito no
machucado. Prendi o cós da calça no local exato da ferida, para pressionar, mesmo que
de forma menos intensa do que deveria.
Agora eu tinha duas adagas em minhas mãos, sem nem pensar no meu plano direito,
lancei-as uma em cada direção. E corri, sabia que tinha errado ambos os alvos, mas eu
precisava de uma distração. Por mais estupido que pareça, já que agora, eu estava sem
arma alguma. Andei por alguns metros, e a dor latejava no local do golpe. Com um
pensamento minha mão começou a queimar, esperei chegar em um ponto
insuportável e puxei o tecido deixando à mostra o corte, e apoiei meu dedo, que
parecia pegar fogo, naquele local, as lágrimas escorreram por meu rosto e mordi meus
lábios com força por conta da dor, o gosto metálico encheu minha boca. A ferida se
fechou, não completamente, mas me daria um tempo a mais para que eu não me
preocupasse com alguma hemorragia. Eu tinha me esgueirado novamente para o
bosque e parecia que meus pés já conheciam o caminho, era como se eu já tivesse
passado por ali antes, mas ali estava mais úmido e denso, sem tempo para imaginar
quando eu passei por ali, apenas continuei deixando que meus pés me guiassem, foi
quando eu cheguei na beira de um lago, e do outro lado tinha uma caverna. E foi como
se um balde de água fria tivesse sido jogado em minha cabeça, era o mesmo local onde
eu tinha conhecido o Brandon. O mesmo local onde eu encontrei o rubi. Um rugido e
um bater de asas, por mais improvável e louco que aquela cena parecia, eu não
conseguia idealizar a explicação para aquilo, era possível que existissem lugares
parecidos entre cortes, porém iguais? Eu tinha minhas dúvidas. Comecei atravessar o
lago para entrar na caverna, vai que eu achasse minha salvação ali, quando escutei
como se algo tivesse sido lançado pelos ares em minha direção. Olhei em direção ao
barulho e vi apenas uma lâmina cortando os ventos e vindo em direção ao meu
pescoço, era impossível eu desviar a tempo, minha vida acabava ali, eu sentia isso.
Fechei os olhos apenas esperando o momento que a espada cortaria minha carne e
finalizaria com o teste. Mas então… barulho de choque de lâminas.

-Não consegue ficar um dia sem se meter em encrenca, não é mesmo irmã?- Disse
Adelle, enquanto ela secava o suor que escorria de sua testa.
Capítulo 34
Perspectiva Adelle:

Assim que atravessamos a barreira e chegamos na Primaveril minha mente se


silenciou, e foi como se eu ouvisse o grito de Jasmin através dela. Tinha um cavalo
próximo a onde estávamos apenas corri em sua direção o montando rapidamente,
gritei para Rhysand e Feyre que voltaria em breve. O cavalo começou a galopar e eu
segui reto por um longo caminho, quando cruzei um campo de lírios meu coração se
apertou, algo estava muito errado, muito mesmo. Após alguns minutos o cavalo
começou a cansar, mais a frente tinha um bosque, desci daquele cavalo e iniciei uma
corrida, e que surpreendentemente, foi mais rápido do que eu imaginava que
conseguiria, os treinos realmente estavam ajudando. Parei próximo a uma árvore e me
troquei rapidamente. Agradeci mentalmente aos meus instintos, desembainhei a
espada e olhei para o ambiente em volta, algumas árvores estavam caídas ali, grandes
pegadas cobriam o chão. Outro grito, e dessa vez era de dor, avancei às cegas por
aquelas árvores, meus pés se adaptaram ao relevo rapidamente, e em segundos os
obstáculos a minha volta se tornaram apenas um borrão. Meus pulmões pareciam
eclodir a qualquer momento, mas eu não parei. Percebi que chegava perto de uma
abertura, onde as árvores acabavam e um pequeno lago se estendia, e as suas costas,
uma caverna. Desacelerei, ouvi alguns sons e não queria ser o alvo sem ao menos
saber com o que ou quem estava lidando. Vi Ivar, em sua forma de besta, de costas
para mim, ainda escondido na mata, ele começou a farejar o ar, então me escondi
atrás da árvore mais próxima. Um som acima denunciava que Nyx planava, os passos
pesados da fera se aproximaram de mim, não tive tempo para pensar o porque eles
estavam ali, ou agindo de forma estranha pois vi o som de um arremesso e uma lâmina
indo em direção… em direção a Jasmin, e ela não desviaria a tempo. Adrenalina pura
correu por meu corpo, e foi como se uma faísca se acendesse. Em milésimos de
segundos eu estava na frente de minha irmã, bloqueando aquela espada. Ela abriu os
olhos e quando me viu ficou surpresa, e espantada. Meu coração martelava em um
compasso descontrolado, minha mente inundou meus sentidos de dúvidas, por que
eles a estavam atacando? Meus olhos se nublaram, e só senti o baque do meu corpo
no chão e o grito estridente de Jasmin. Ivar tinha lançado uma adaga em minha
direção, porém Jasmin me tirou da mira mas não foi rápida o suficiente para se safar do
golpe, já que agora ela sangrava enquanto tinha uma adaga cravada no ombro.

-Eu juro pelo Caldeirão que, se vocês me causarem mais um corte, eu vou esfaqueá-los.
-Berrou ela.

Mais um corte? Aqueles canalhas a tinham machucado? Minha cabeça girava, ela
arrancou aquela adaga de uma vez, sangue esguichou mas ela não parecia se
preocupar com isso. E arremessou, a adaga raspou a ponta no rosto de Nyx, que já se
aproximava de nós, causando um corte superficial e sua bochecha. Me coloquei de pé
e vi Jasmin apoiando um dedo no machucado, ela rugiu de dor, mas quando retirou a
mão o corte tinha se fechado. Mas não era momento de ficar em choque, peguei
minha espada, que havia escapado de minhas mãos quando caí, e fiquei lado a lado de
Jas em posição de batalha. O vento começou a nos circundar, a água do lago começou
a se agitar. Nyx e Ivar trabalhavam juntos para criar aquelas barreiras à nossa volta,
parecia uma tempestade que nos rodopiava e nos prendia naquele pequeno círculo,
me lembrei da noite das sombras que Jasmin me contou como ocorreu, mas duplicado
porque agora Nyx ajudava a fortalecer.

-Péssima maneira de morrer não acha? - Balbuciei, tentando criar tempo.

-Tenho dó de quem vai encontrar meu corpo. - Disse Jasmin sorrindo.

-Você não está tão mal, vai. - Brinquei, mesmo que estivesse apavorada por dentro.

Antes que ela respondesse, Nyx e Ivar entraram pelas barreiras e ficaram ali naquele
círculo conosco. Ambos parecem descontraídos e tranquilos.

-Espero que não estejam criando nenhum plano para fugirem. - Disse Nyx parando a
dois metros de nós, suas mãos estavam no bolso da calça.

-Não esperávamos que se juntasse ao show, Adelle. - Disse Ivar se posicionando ao


lado de Nyx.

-Touche. - Disse revirando os olhos.

-Plano de fuga? De vocês 2? Jamais faríamos algo tão estúpido. - Disse Jasmin de forma
provocante, imitando a pose de Nyx.

-Duas donzelas indefesas, quem virá nos salvar. - Disse colocando uma mão na cintura e
tombando o corpo para trás, a mão que estava livre coloquei na testa, e investi na
expressão de desespero. Foi teatral, eu sei.

Palmas vieram dos dois machos, que nos olhavam com um falso ar de admiração.

Quase imperceptivelmente, percebi Jasmin levar suas mãos às costas de forma que não
os alertasse.

- Conte para nós os planos que tem para nosso fim. - Desafiou Jasmin.

Ela estava tentando ganhar tempo.


-Não destruam meu belo rostinho, por favor. - Ajudei, fazendo um biquinho.
Nem percebi quando Ivar apareceu atrás de Jasmin, prendendo seu braço, que tentava
apanhar uma adaga.

-Hm você é forte. - Disse ela de forma manhosa.

Ele chutou a parte de trás do joelho e ela caiu no chão.

Nessa hora Jas olhou para uma direção, assustada, mas quando segui seu olhar não vi
nada.

-Me digam que esse teste estúpido acabou. - Gritou ela.

Ela ficou calada por um tempo, Ivar a soltou e voltou para o lado do herdeiro.

-Por favor, não machuquem ela. - Implorou ela, me olhando.

Sua feição se contorceu em uma careta de dor, e percebi que parecia que alguém a
tinha golpeado. Mas eu não via ninguém, ou nenhuma arma.

-Acabaremos com isso logo. - Interviu Nyx.

Então, silêncio total.

Minha nuca formigou e virei com tudo, levando minha espada junto, que quase, acerta
a jugular de Nyx. Sou lançada pelos ares direto para a parede de água e vento, e foi
como se eu tivesse me jogado em uma placa de pedra. A espada ficou firme em minhas
mãos e eu ataquei, Jasmin desviava de golpes que Ivar a infringia. Minha espada tinha
como alvo sua perna, mas desferi o golpe, ele chutou a espada para baixo e a
prendendo no chão, meu corpo pendeu para frente e Nyx aproveitou da abertura para
socar meu estômago. Não satisfeito, arrancou totalmente o ar de meus pulmões,
comecei a me debater no chão. Estava sendo sufocada, não poderia ser meu fim, a
espada estava perto o suficiente de minha mão, a puxei a enfiei em sua barriga, ele se
desestabilizou e o oxigênio voltou para mim, me levantei ainda respirando com
dificuldade, Nyx olhava para a espada como se nem fizesse cócegas, em um humano
aquele corte seria fatal, ele colocou a mão no punhal para puxar e tirar a espada de
onde estava presa porém a espada brilhou e queimou sua mão. A retirei sem pudor
algum e mirei em sua cabeça, preparei o golpe quando Ivar berrou:

-Faça isso e ela morre. - Ele tinha uma adaga pressionada no pescoço de Jasmin.
Ela tinha um corte no supercílio, sua boca sangrava, entre outros hematomas em seus
braços.

-Deixe a espada no chão e chute-a até aqui.- Disse ele.

Nessa hora, Nyx já tinha se recuperado e suas sombras o rodeavam.

-Não largue a merda da espada. - Exigiu ela, com cuidado para que a lâmina não a
cortasse.

Ivar pressionou um pouco mais, e um filete de sangue brotou da fricção feita. Soltei a
espada e chutei para ele. Nyx me golpeou e eu caí de cara no chão, Jasmin mordeu o
braço de Ivar e correu em minha direção, ela me envolveu em seus braços e então eu
senti como se estivéssemos atravessado para outro lugar. Quando abri os olhos
estávamos do outro lado do lago, mas como?

-A caverna, corra para caverna. - Disse Jasmin me puxando.

Segundos depois, os dois apareceram onde tínhamos surgido, entramos na caverna


mas era isso, não tinha mais o que fazer.

-Sua espada, pegue-a. - Disse ela jogando para mim.

-Precisamos tapar a entrada Jasmin. -Praticamente berrei com ela.

Eles se aproximavam a passos lentos, como se brincando conosco.

-Confie em mim Adelle. Ao meu sinal, crave a espada no solo. - Disse ela.

Estávamos perto da abertura da caverna, ela encostou em meu braço direito, o mesmo
que eu segurava a espada. Senti como se algo como gelo perfurasse meu ombro, olhei
para onde sua mão estava apoiada e vi veias pretas subindo por seus braços.

-Não olhe em meus olhos, se concentre. -Suplicou ela.

Me concentrei, eles estavam a um palmo de distância, um passo e eles nos pegariam.

-Agora. -Sussurrou ela.

Finquei a espada no solo, ela soterrou até a metade, não sabia de onde veio tanta
força, o chão começou a tremer, Jasmin puxou a espada de volta segurou em minha
mão e correu para o fundo da caverna. Os dois machos avançaram porém grandes
pedras começaram a cair violentamente naquela abertura e a lacrar, a única coisa que
vimos, antes que a entrada da caverna se fechasse completamente, foi Nyx e Ivar nos
olhando, mas seus olhos brilhavam Lápis Lazuli.

Perspectiva Jasmin:

O breu tomou conta daquele cubículo, não entrava nenhuma fresta de luz do exterior.
Aquele dia estava insano, não sabíamos nem se sairíamos dali com vida. Estava
escorada na parede no fundo daquela caverna, Adelle estava deitada próxima a mim.

-Que merda foi aquela? -Questionou Adelle minutos após estarmos presas ali.

Expliquei de forma resumida, tudo o que aconteceu, desde o dia em que conheci
Brandon até os momentos atuais. Ela se manteve quieta durante todo o relato,
parando poucas vezes para me questionar uma coisa ou outra. Quando finalizei ela
ficou longos e insuportáveis 5 minutos quieta, parecia que eu estava ali sozinha. Não
comentei nada, pois sabia que ela precisava desse tempo. Eu literalmente despejei
incontáveis informações nela, era compreensível que estivesse tentando processar
tudo.

-Zayn e eu somos parceiros. - Soltou ela, simplesmente.

Meu choque seria visível em meu rosto caso ela conseguisse vê-lo. Mas a risada que
soltou mostrou que ela sabia exatamente qual expressão estava em meu rosto. E foi
minha vez de ficar quieta por um tempo.

-Uau. - Foi a única coisa que saiu de meus lábios.

-Uau? Você consegue ser mais criativa do que isso, Jas. - Brincou ela, mas eu conseguia
sentir a ansiedade em sua voz.

-Estou tão feliz por você, quem diria que nessa loucura que nos enfiamos tenha trago
um presente tão grandioso assim para você, minha irmã. E você merece ser feliz ao
lado do seu parceiro. - Disse de forma sincera.

-Presente? As vezes sinto como se fosse uma maldição. - Disse, com sua embargada
com as lágrimas que ela lutava para não derramar.

Foi nesse momento que analisei a situação geral, a imortalidade, esse era o “x” da
questão, como eu tinha pensado no dia em que ela me contou que estava se
apaixonando por ele.
Cegamente fui tentar chegar perto dela, quando a senti, deitei ao seu lado.
-Quando passarmos dos trinta, nós fugimos e nos isolamos em uma cabana no meio da
floresta. Não quero ser humilhada com todos à minha volta sendo mais velhos do que
eu mas continuarem mais bonitos. - Falei indignada.

Ela gargalhou, o que era bom sinal.

-Imagina nós duas com os cabelos brancos e cheias de rugas, e os feéricos continuando
irresistíveis e novos, não aceito. - Brincou ela de volta.

-Você gostaria de ter a imortalidade?- Questionei-a.

-Sim e não. - Respondeu ela, pensativa. - Não envelhecer parece uma ideia tentadora,
viver o resto da eternidade com meu parceiro também. Mas não chegaria em um
ponto onde você queira morrer? Viver pela eternidade, fazer de tudo, não cansaria?
Mas sim, acho que as coisas boas se sobressaem as ruins. - Finalizou ela.

Fiquei pensativa com a minha própria pergunta. Ficamos caladas por tanto tempo que
pensei que Adelle tinha adormecido, se tinha ou não eu não precisaria descobrir pois
um baque acertou em cheio a parede de pedras, e vinha do lado de fora. Nos sentamos
e assustamos com aquilo, eles estavam tentando derrubar para conseguirem entrar.
Droga, Droga, Droga.
Adelle apalpava o chão procurando por sua espada, ela encontrou pois aquele objeto
em suas mãos brilhou. Nos ajudando de certa forma a enxergar melhor o ambiente.
Pedras menores começaram a rolar, os impactos não diminuíram, e aos poucos o único
obstáculo entre eles e nós estava se sucumbindo.

-Nos teletransporte, você fez isso uma vez. - Disse Adelle desesperada ao ver que um
buraco já tinha sido aberto, seria questão de segundos, e se fossemos otimistas,
poucos minutos.

-Eu não sei o que eu fiz. - Disse ansiosa, eu realmente falava a verdade, minha mente
nublou quando joguei meu corpo contra o seu, depois disso eu não tive controle de
nada.

-Tente por favor. - Disse ela com a voz mais aguda que o normal.

A passagem já seria possível para uma criança atravessar. Mentalizei aquilo, o que
queríamos, mas nada, sentia apenas gargalhadas maléficas em minha mente.

-Eu não consigo. - Disse entredentes.


-Jasmin, Jasmin. - Adelle gritou, erguendo a espada.

Mais três impactos e a parede cairia.

E foi como se um sopro viesse até mim, com a resposta. Isso não é real.

-Isso não é real. - Falei sobressaltada.

-Não é hora de querer mudar a realidade Jasmin. - Disse Adelle, brava.

-Adelle, é impossível que esse lugar exista, pois é o mesmo da Corte Noturna,
exatamente igual, aquele lago não pertence a Primaveril. - Tentei explicar de forma
rápida, mas Ade apenas me olhava como se eu tivesse enlouquecido de vez.

-Não é real. - sibilei baixinho, seguido por mais um estrondo.

-Não é real. - Mais um baque. E uma risada em minha mente.

Desliguei minha mente, e busquei aquela risada dentro de minha cabeça, era como se
meu corpo vagasse na imensidão de minha consciência, e a segui, não fiquei surpresa
quando descobri o dono dela. Aric.

“Não é real”. - Falei a ele.

A minha visão dele mudou então, em lugar de seus olhos Lápis Lazuli, o preto tomou
conta.

Mais um baque, o som das pedras caindo aos montes veio logo em seguida, com o
grito de Adelle, eles tinham entrado. Mas então, quando abri meus olhos, não
enxerguei dois herdeiros caminhando em nossa direção, querendo nos matar, e sim o
céu, em um tom alaranjado surreal de lindo, o cheiro dos lírios me atingiu logo em
seguida.
Ao tentar me levantar fui amparada por delicados, porém firmes, braços.

-Fique tranquila querida. - Dizia uma voz, que naquele instante eu ouvia de forma
distante -Você ficará bem.

E então a inconsciência me chamou.

Capítulo 35
Perspectiva Jasmin:
Abri meus olhos e de supetão vieram todos os acontecimentos do dia em minha
mente, levantei rápido procurando por Ivar e Nyx dormindo no sofá ao lado, torcendo
para que tivesse sido apenas um sonho, mas eu encontrei apenas Adelle deitada ao
meu lado, olhando em direção a janela, perdida em seus próprios pesadelos. O céu
estava azul e completamente sem nuvens, imaginei que seria próxima a hora do café
da manhã. Deixei-a ali e segui ao banheiro para fazer minhas higienes matinais e tomar
um banho rápido. Quando voltei ao quarto Adelle já tinha se trocado, e usava uma
calça justa de couro e uma blusa de manga curta branca. Coloquei a mesma roupa e
me sentei na beirada da cama, ela se juntou a mim e deitou sua cabeça em meu
ombro, respiramos fundo ao mesmo tempo, o que fez escapar uma risada de ambas.

-Não foi um sonho né? -Perguntou ela, parecendo cansada.

-Eu gostaria que fosse, você já viu alguém? -Questionei.

-Não tive coragem de sair e encará-los, nem sei como os meninos estão. -Respondeu
ela. - O que foi que aconteceu quando você tocou meu ombro e veias pretas surgiram?
- Emendou ela em outra pergunta.

-Eu quis passar minha força a você, foi um pensamento que surgiu do nada então algo
guiou minha mão a seu ombro e aconteceu. - Respondi tentando me lembrar de mais
detalhes.

-E que espada é aquela? Nyx queimou a mão ao tentar segurá-la, isso não é comum
pelo o que eu saiba. - Dirigi a pergunta a ela, que ficou inquieta.

-Prometa que não contará a ninguém, ou eu corto sua cabeça. - Ameaçou ela.

Eu sorri e prometi que não contaria a ninguém. Ela então me contou tudo que ocorreu
desde o momento em que ela viu a espada e o sentimento de posse que veio junto.
Não deixou nenhum detalhe para trás, quando terminou seu relato ela abaixou a
cabeça pronta para receber o julgamento, mas apenas uma pergunta veio em minha
mente:

-Sua espada. - Ela ergueu a cabeça franzindo o cenho. - Onde está sua espada Adelle?

Ela levantou da cama e começou a procurar por todo quarto, a ajudei, e em cinco
minutos de procura ela sentou no chão e disse:

-Não, Não, Não. Eles descobriram. - Ela parecia nervosa.


Agachei ao seu lado e prometi que pegaríamos de volta o que era dela, não por direito,
mas se tornou. Decidimos sair do quarto, porque enfurnadas ali não descobriríamos
nada, fomos direto na cozinha, mas como não encontramos ninguém, fomos andando
por toda a mansão procurando por uma alma viva. Chegamos ao escritório de Tamlin,
que tinha as portas fechadas, e batemos. Ele nos chamou e disse que poderíamos
entrar.
Ao entrar Rhysand e Feyre estavam ali, os três com semblantes tão sérios que fez com
que eu tivesse receio de continuar andando para dentro daquela sala. Adelle segurou
minha mão e me puxou para que fossemos juntas.
Assim que nos sentamos, Feyre foi a primeira a falar:

-O que aconteceu? - Perguntou ela. Percebemos que a espada de Adelle estava


escorada na cadeira de Rhysand, o que sugeria que ela deveria dar uma explicação
sobre aquilo também.

Comecei a contar desde o momento em que vi Brandon pela primeira vez, eles se
calaram durante todo o tempo, assim que finalizei foi a vez de Adelle contar desde a
conexão dela com a espada até o que aconteceu com os herdeiros. Quando finalizamos
eles ficaram em silêncio por alguns segundos, confusos.

-Nyx, Ivar. -Bradou.

Então eles apareceram, parecendo deslocados.

-Isso não faz sentido algum, Adelle chegou aqui conosco e seguiu para dentro da
propriedade para procurar por Jasmin, e quando não a encontrou perguntou a direção
que ela tinha seguido e então pegou um cavalo para encontrar com o grupo no
acampamento. - Sibilou Feyre.

-Não, eu corri diretamente em direção ao cavalo que estava próximo a propriedade,


não entrei nela por nenhum momento. - Disse Adelle, sem entender o que estava
acontecendo.

-Vocês não se lembram de nada?- Perguntei a Ivar e a Nyx.

Os dois balançaram a cabeça em negativa.

-Acordamos ainda naqueles campos de lírios, pouco tempo depois de meus pais as
levarem de volta à mansão. - Disse Nyx.

-A última coisa que eu me lembro era de falarmos sobre você, antes de tudo nublar. -
Disse Ivar.
-Falarem de mim? Vocês estavam conversando sobre táticas de batalha, e eu estava no
tédio por estarem falando daquilo. - Retruquei-o confusa.

Um singelo rubor preencheu o rosto dos dois machos, pois eles foram pegos no pulo.

-Seus muros mentais estavam abaixados, não estavam? -Perguntou Rhysand.

O rosto de Nyx se assombrou, mas ele afirmou.

-Então vocês estão dizendo que esse Brandon e Aric entraram na mente deles e os
controlaram para matarem Jasmin? - Perguntou Tamlin. - E por que esse teste?

-É exatamente o que eu acho que fizeram, aproveitaram do momento de distração para


atacar. - Respondeu Rhys.

-Por que vocês tem um lago e uma caverna iguais a corte noturna? - Questionei.

-Caverna? - Perguntou Ivar.

-Nossas memórias, olhem nossas memórias. - Disse Adelle.- Conseguirão ver que tudo
que dissemos é verdade.

Aquele maldito medo veio com tudo, medo de acontecer novamente o que houve na
Corte noturna semanas atrás.
Nyx olhou em meus olhos e então eu senti segurança, como se com ele não fosse
acontecer igual a seu pai.
Adelle olhou para Rhysand dando sua permissão, e eu fiz a mesma coisa com Nyx.
Então eu senti cócegas, mas mais do que isso, sentia uma presença em minha cabeça,
como se ele fosse de um lado para o outro procurando por algo em específico. Minutos
se passaram e o elo se quebrou, fazendo com que Nyx piscasse algumas vezes para
voltar ao mundo real, logo ele já mostrou o que viu aos outros, todos pareciam
chocados e sem palavras quando viram tudo que se passou.

-Mas e a mente de vocês? Não acharam nada? - Perguntou Adelle. -Talvez assim vocês
vejam o que fizeram.

-Nada, já tentamos olhar, de ambos. É uma grande tela branca. - Disse Feyre.

-Como você não surtou como da primeira vez? - Perguntou Rhysand, o seus olhos fixos
aos meus.
-E-eu não sei. - Respondi um tanto incomodada, pensei que passaria despercebido.

-Como na primeira vez ela não tinha ideia que possuía poderes, talvez por eles estarem
se tornando parte dela, não haja mais esse choque. - Disse Feyre.

-Sim, pode ser. E por que não conseguimos vê-los, Brandon e Aric, mesmo através das
visões da própria Jasmin? - perguntou ele, desconfiado.

-Isso não faz sentido algum, é como se não existissem para nós, nem mesmo em sua
mente. - Respondeu Tamlin. -E sua super velocidade? - Perguntou Tamlin, ele encarava
Adelle.

-Minha o que? - Disse ela sorrindo sem graça.

-A velocidade em que você chegou a Jasmin foi inumana, seria impossível que um
humano comum conseguisse chegar a tempo de salvá-la. - Explicou Feyre.

-Eu não faço a menor ideia. - Admitiu Adelle. - Eu ouvi a lâmina sendo lançada então
em um piscar de olhos eu já estava lá.

-Como você ouviu a lâmina? A audição humana não é tão potente assim. - Disse Nyx.

-Olha eu não sei, mas eu consegui salvar Jas. Enquanto vocês quase a mataram. - Disse
Adelle se irritando.

Nyx e Ivar ficaram com expressões sombrias.

-Precisamos que nos mostrem qual caminho fizeram, vamos vasculhar a área a procura
de algo, alguma pista ou informação. - Disse Tamlin.

-Nós precisamos daqueles dois malditos, é disso que precisamos, se eles foram capazes
de criar uma realidade paralela a nossa, como saberemos se nesse exato momento eles
não estão nos controlando, ou nos mantendo aqui para nos distrair. - Soltei,
exasperada.

-É isso! - Exclamou Rhysand. - Uma realidade modificada para que apenas eles
tivessem controle sobre nós, mas por que não pensamos nisso antes? - Ele andava de
um lado para o outro.

-Eles estão ganhando tempo. - Sussurrou Adelle. - Os curados! - Quase gritou.


Eles tinham nublado nossa mente para que demorássemos a chegar no cerne da
questão, pois assim que tivéssemos noção da habilidade deles, ficaria mais difícil de
nossa mente ceder a magia.

-Vamos logo. - Disse Feyre.

Perspectiva Adelle:

Atravessamos até o acampamento, Tamlin e Rhysand já seguiram direto ao local onde


os curados estavam, mas eles sentiam algo que eu não. Sobre minha "super
velocidade" ou “super audição” eu ainda estava meio pensativa sobre. E se eu tivesse
algumas habilidades feéricas? Nunca saberia se eu não as colocasse a prova, então me
concentrei olhando para a entrada daquele acampamento como se tentasse ouvir o
que estava atrás das paredes e obstáculos, tentei três vezes e fracassei, na quarta, um
grito. Me sobressaltei e comecei a correr até lá, Jasmin ficou para trás com uma
expressão confusa.
Quando entrei, o caos estava instalado, curandeiros andavam apressadamente
assustados, enquanto os outros que estavam menos apavorados passavam as
informações a Rhysand e Tamlin. Os curados estavam acordados, e não paravam de se
debaterem ou gritarem para que os soltassem dali.
Ivar e Nyx chegaram perto dos corpos, os avaliando, Nyx projetou suas sombras para
que os embalasse e Ivar conseguisse os analisar de mais perto sem correr o risco de ser
atacado.

-O ponto se espalhou. - Disse Ivar.

-O que significa? E que ponto é esse? -Perguntou Feyre logo atrás de mim.

-O que significa, nós não sabemos, mas quando viemos aqui, pela primeira vez, eles
tinham um pequeno ponto preto ao lado das têmporas e parece que se espalhou para
o restante do rosto.- Explicou ele.

Um baque, não percebi Jasmin entrando ali, ela agora estava no chão apertando sua
cabeça, como se fosse a arrancar.

-Vocês que fizeram isso não foi? Seus malditos. - Gritava ela.

Ela levantou com certa dificuldade e foi em direção a um leito vazio, e começou a
conversar, presumimos que fosse Brandon e Aric.

-Mais uma fase não, por favor. - Pediu ela.


Nos sobressaltamos, todos em alerta para o que viria a seguir.

-Me deixem em paz. - Diz ela antes de um grito irromper sua garganta e ela tombar
para frente.

Por incrível que pareça ela não caiu, parecia ter um corpo a apoiando, vimos um
movimento em seu cabelo, como se alguém o afagasse.
Ela chorava baixinho enquanto segurava sua cabeça, Nyx avançou mas parou logo em
seguida, como se trombasse em uma parede transparente. Fomos até onde ele estava
e também estávamos impedidos de passar, foi quando tivemos um estalo, estávamos
presos em um cubículo projetado por aqueles dois, todos os curandeiros estavam do
lado de fora, disse Rhysand, presos em algo igual a nós. Enquanto os outros pensavam
em uma forma de sairmos dali, eu não tirava os olhos de Jasmin. Que agora andava em
direção ao primeiro leito ocupado, todos tinham se acalmado, como se a presença de
Brandon e Aric tivesse esse efeito sobre eles.
Assim que ela parou em frente ao leito daquele feérico, ele estendeu a mão para
frente, para que ela segurasse.

-Vejam isso. - Sibilei. Eu assistia a cena sem piscar, e senti a presença dos outros à
minha volta.

Ela ergueu o braço direito e segurou a mão do curado, e então sorriu, agucei minha
audição e escutei as palavras que saíram de sua boca em seguida:

-De volta a você o que jamais deveria ter sido arrancado. - Então o semblante do
curado se inundou em paz infinita e seu corpo, sem nenhuma marca ou sinal da praga,
tombou na cama.

Jasmin segurou na borda da cama, como se o esforço fosse grande. Seu corpo foi
puxado para o lado, Brandon ou Aric deveriam ter segurado sua cintura para levá-la ao
próximo leito. Um pesado suspiro veio de Nyx, Feyre olhava para a cena preocupada,
Tamlin e Rhysand eram indecifráveis, os olhos gélidos de Ivar não se desgrudaram de
Jasmin por um segundo.
Ela foi de cama em cama, curado em curado, até que todos estavam dormindo
profundamente. Jasmin tremia, nesse momento ela já não conseguia andar, Brandon
provavelmente a carregava, a colocou na única cama vazia e então as paredes
cederam, corri até ela, que tinha suor em todo o rosto, mas tirando o cansaço ela
parecia estar bem, sem sinal das marcas pretas ou algo do tipo.
Os curandeiros apareceram segundos depois e começaram a examinar as pessoas que
estavam ali.
-Todos parecem estáveis, ao longo desses dias conseguimos repor os nutrientes e
vitaminas em seus organismos, em menos de uma hora eles devem acordar, finalmente
levaremos boas notícias aos familiares de cada um. - Disse uma curandeira chamada
Jayla.

Tamlin a chamou para que eles passassem os últimos detalhes sobre cada paciente,
Jasmin já parecia melhor, tomava um copo de água quando viu Asa, parada na porta
daquela ala. Corremos até ela, e Asa nos envolveu em um abraço amoroso. Não sei
porque, mas foi sem igual, a gratidão que emanava dela era perceptível.

-Eu estou tão feliz em ver vocês. - Dizia ela com a voz embargada.

-Estamos felizes por você estar bem. -Disse Jasmin, acariciando o rosto da menina.

-Eu acordei a alguns dias atrás, porém não pude sair daqui, estava ficando maluca
nesse mar de jalecos brancos e cheiro de doentes. - Desabafou ela soltando uma
risadinha.

-Você deveria ganhar um bônus por isso. - Brinquei.

-Não vejo a hora de voltar para meu marido. - Falou ela sussurrando. - Vocês sabem
como acaba sendo solitário. - Diz ela fazendo beicinho.

Jasmin gargalhou diante da fala implícita.

-Asa sua pimentinha. - Disse eu.

Suas bochechas coraram e ela ficou sem ter o que dizer, até que Jasmin voltou a rir e
nos juntamos a ela.

-Jasmin e Adelle. - Chamou Tamlin. - Poderiam me acompanhar?Senhorita Asa, siga


Jayla, ela fará os últimos exames com você antes que seja liberada.

Nos despedimos e seguimos o Grão senhor até um cômodo privativo, os outros já


estavam ali.

-Então, o que aconteceu?- A pergunta foi direcionada a Jasmin.

-Eles disseram que eu passaria por mais um teste, que eu teria de devolver as
memórias aos curados, quando entrei aqui elas me atingiram com força, criando uma
dor de cabeça insuportável, enfim, eles me disseram qual frase eu teria que repetir a
cada curado, e qual mão erguer. Então me apoiavam quando eu perdia minhas forças.
-Disse ela resumidamente, finalizando que poderiam olhar em sua mente de uma vez.

-Qual o sentido de querer te matar e depois ajudarem você a pôr um ponto final na
praga?- Questionou Ivar, mais para si mesmo.

-São testes, no primeiro eu tinha que descobrir a falha naquela realidade e sair dela, o
segundo eu teria que adquirir a capacidade de devolver memórias roubadas aos donos.
Esses testes não se conectam, mas não quer dizer que esse foi o último, se ao longo
dos dias eu tiver que passar por outros, poderemos juntar os pontos e descobrir o
plano por trás. -Disse Jasmin, parecia amedrontada pela chance de ter que passar por
mais um teste.

-Mas, e se for tarde demais Jas? - A pergunta escapou de meus lábios antes que eu a
segurasse.

Todos viraram em minha direção, seus olhares presos ao meu rosto, ninguém tinha
uma resposta ou explicação para tudo isso estar acontecendo.

-Temos que dar o anúncio aos familiares, já enviei um cavaleiro para cada família,
vamos voltar para a mansão e partir os planejamentos do lugar certo. - Disse Tamlin,
sendo prático.

Antes que pudéssemos responder, Jayla apareceu pela porta ofegante.

-Eles acordaram. - Disse apenas, antes de sair de lá.

O resto da tarde foi banhado a conversar com os pacientes, explicar que a praga tinha
passado, que eles estavam curados, que poderiam ter contato com sua família entre
outras dúvidas que eles tinham. Um grande banquete para todos estava sendo
preparado na mansão, carruagens foram trazidas para transportar os curados até lá,
onde eles reencontrariam a família e celebrariam, em contrapartida alguns receberiam
uma notícia não tão boa assim. Chegamos um pouco antes, então tomamos um rápido
banho e saímos para vermos a chegada do restante. Choro, gritos, palmas, abraços e
beijos, tudo isso foram distribuídos entre os curados e seus entes queridos. Aqueles
que perderam alguém, estavam sendo chamados para dentro da residência, de onde
saíam aos prantos e atordoados. Caso não quisessem permanecer ali, uma carruagem
já estava pronta para levá-los para casa. Quando Ariane e sua família foram chamados,
Jasmin os seguiu, minutos depois ela saiu de lá com os olhos inchados e rosto
vermelho. A notícia finalmente tinha sido dada, e não tinha nada que eu pudesse fazer
para amenizar.
Ariane e seus familiares demoraram mais do que os outros para voltar, mas quando
saíram, tinham um singelo sorriso em seus rostos, era visível que estavam sofrendo,
mas ficamos sabendo depois que Ariane já sentia que seu marido se fora a alguns dias,
e tentava preparar os outros para receberem a notícia. Todos seguiram ao banquete,
nos juntamos a cada um, Jasmin me contou que Ivar e Nyx se ajoelharam para ela em
certo momento, rogando por seu perdão por tentarem matá-la. O mesmo pedido
chegou a mim tempos depois.
Quando a lua já brilhava, majestosa nos céus, fomos para o lado de fora para voltar à
noturna. Finalmente eu estaria a salvo nos braços de meu parceiro. Descemos as
escadas, e vimos todos os curados, familiares e amigos ajoelhados. Demorei alguns
segundos para perceber para quem aquela reverência se dirigia. Jasmin deu um passo
à frente, seus olhos estavam marejados. Ela ficou de frente a todos e rogou o perdão
para a família daqueles que ela não conseguiu salvar. Jasmin paralisou por alguns
segundos, olhando para uma árvore ao longe, uma figura masculina estava parada,
observando a pequena multidão. Ela olhou sob o ombro para Ivar mas logo desviou o
olhar novamente.
Ela curvou o corpo em reverência a eles, seu cabelo pendeu para frente mostrando um
pequeno pedaço de seu pescoço, meu corpo estagnou, ali um pequeno ponto preto
estava marcado.

Capítulo 36
Perspectiva Adelle:

Fazia três dias que estávamos de volta, desde o dia em que chegamos, Elain não teve
nenhuma visão o que estava preocupando o círculo íntimo mas eles não tocaram mais
no assunto. Retomamos os treinos, Jasmin nos acompanhava agora, mas todas as
tardes saía com Feyre para treinar seus poderes recém descobertos, ou pelo menos
replicá-los como no dia em que lutamos com Ivar e Nyx. Mas Jas chegou a me contar
que não conseguia conjurá-los mais, era como se um bloqueio surgisse. Estávamos eu,
Jas e Aurora finalizando uma sequência de abdominais quando Cassian chegou por ali,
Nestha estava tomando conta da maior parte dos treinos, Gwyn era mais maleável
porém não estava indo por conta de Cardan. Emerie também, mas estava se ocupando
com o papel de dona da loja e mãe, o que nos deixava à deriva de Nestha. Ele disse
algo no ouvido da parceira, arrancando um sorriso da mesma, que tampou a boca com
uma das mãos e respondeu algo que não consegui ouvir.

-Não queiram saber o que é. - Disse Aurora, finalizando seu último abdominal.

Jasmin sorriu, o suor escorria pela nossa pele e estávamos longe do fim daquele treino,
aproveitamos o foco de nossa treinadora em seu marido e nos afastamos para tomar
água e descansarmos um pouco. O vento ali era forte, o que era ótimo para refrescar
nosso pós treino, mas algo parecia diferente, fechei os olhos e me concentrei na
conversa que acontecia ao longe, e foquei minha mente nela, aos poucos minha
audição foi expandindo.

-Essa noite? Não é muito recente? - Perguntava Nestha.

-Sim, essa noite e sem discussão. -Respondeu Cassian.

Soltei uma gargalhada diante o sentido que poderia ser aquela conversa, todos se
viraram pra mim, tentei disfarçar mas foi tarde demais, inventei uma desculpa qualquer
e me ocupei tomando água para dissolver aquele embaraço.
Aurora se aproximou de mim, junto de Jasmin e disse:

-O que será que terá essa noite?

-Espero que não seja o que estou pensando. - Respondi, sendo sincera.

-Do que vocês estão falando? - Perguntou Jasmin, confusa.

-Escutamos Cassian dizer para Nestha que algo acontecerá hoje a noite. - Respondeu
Aurora, com um sorriso travesso nos lábios.

-Ew. - Disse Jasmin fazendo uma careta.

Rimos da cara dela por alguns instantes, até escutarmos Nestha ao longe:

-Espero que estejam se divertindo, quero mais três séries de cem abdominais, sem
conversa e sem descanso, AGORA. - Berrou ela.

Caladas voltamos ao ringue de treino, mas uma pergunta silenciosa estava cravada nos
olhos verdes de Jasmin, “o que você é?”. A cada momento que consigo usar a
habilidade, me faço a mesma pergunta, mas não sei o que dizer ou responder. Quero
procurar alguém que saiba mais do assunto e possa me dar uma explicação, desde a
luta eu consegui aguçar minha audição apenas hoje, e não foi por falta de tentativa,
mas o mesmo bloqueio que Jasmin sentia eu também senti.

Ao fim do treino estávamos destruídas, completamente, não tinha um lugar em meu


corpo que eu não sentisse dor, meus músculos falharam e eu quase não conseguia
andar, minhas companheiras se encontravam da mesma forma. Fomos levadas de volta
a casa e todas intimadas a entrar em uma banheira lotada de gelo para diminuir nossas
dores musculares e acelerar a recuperação das pequenas lesões provocadas pelo
exercício. Era a pior parte do pós treino, eu sentia como se fosse uma pequena e longa
tortura. Quinze minutos, era o tempo que deveríamos ficar ali. Ao término desse
tempo, esperamos a temperatura do nosso corpo se estabilizar antes de irmos para a
água quente e finalizarmos o banho.

Quando sentamos à mesa para almoçar, apenas Rhysand, Feyre e Amren se juntaram a
nós, achei curioso pois geralmente enchia a casa nesse horário. Os pratos foram
servidos, para mim, Jasmin e Aurora vieram condimentos diferentes dos demais.
Cassian nos informou que passaríamos por uma dieta com um único objetivo: ganhar
massa muscular. Então proteína e carboidrato era o que comeríamos em grande
quantidade dali em diante, não reclamei, não mesmo.

Minha mente não relaxava, nem mesmo durante a refeição, o que me deixou muito
incomodada, quando chegou em um ponto insuportável eu questionei:

-O que eu sou?

Feyre, Rhysand e Amren mantiveram seus olhos fixos na mesa, já esperando aquela
pergunta. Ao contrário de Jasmin e Aurora que me olhavam um tanto impactadas.

-Acreditamos que seja meio feérica. - Respondeu Amren, tomando um gole de seu
vinho.

A olhei incrédula, eu precisaria de mais informações para acreditar naquilo que estava
ouvindo.

-Não é tão comum ver um, a linhagem feérica de sua família que estava adormecida,
despertou com você. Não sabemos se você possui algum poder ou se herdou apenas
nossas habilidades naturais. Caso tenha herdado alguma parte da magia feérica será
em uma escala inferior do que um herdeiro que tenha apenas sangue feérico em suas
veias. - Disse Amren, olhando em meus olhos, essa mulher me causava arrepios de
terror.

-Você é meio humana e meio feérica. Não sabemos se herdou de seu pai ou sua mãe,
mas descobriremos algo a mais à medida que os treinos forem evoluindo. - Disse Feyre,
resumindo tudo.

Minha mente remoía esses resquícios de informações, eu tinha perguntas, mas não
sabia se estava pronta para receber as respostas.

-Ela é imortal? - Mas essa pergunta não veio de mim, e era a que eu mais temia escutar
o desenlace. Foi Aurora que a fez.
-Não, por ter sangue feérico ele retarda o envelhecimento, mas em uma proporção
muito pequena. Nunca vi um meio feérico passar dos duzentos anos. - Disse Amren,
sem emoção alguma na voz.

O sangue congelou em minhas veias, no fundo de meu peito, eu queria que a resposta
tivesse sido positiva, por mais egoísta que possa parecer.

-Não sabemos de tudo menina, mas o que pudermos esclarecer para você, não exite
em perguntar. - Disse Amren se retirando do local.

Parecia que eu tinha grudado na cadeira, e que o tempo a minha volta tinha parado,
senti uma mão em meu braço e vi as tatuagens cravadas em sua pele.
Feyre se abaixou em meu ouvido e disse:

-Não deixe que isso te pare.

E para as outras, em sua voz doce, disse em bom tom:

-O baile de máscaras e fantasia, será em seis dias, eu gostaria de acompanhá-las para a


compra das fantasias e acessórios porém estarei lotada de pendências para resolver
nos dias seguintes, mas qualquer dúvida venham me procurar, deixamos uma quantia
para cada uma em seus quartos. Caso precisem de mais, deixem a cobrança no nome
de Rhysand. - Disse ela dando uma piscadela.

Rhysand a segurou pela cintura a ergueu e colocou-a sobre seu ombro, ela gargalhou e
completou sorrindo:

-Abusem nas joias mais caras também.

Rhysand saiu correndo da sala de jantar com ela ainda gargalhando, eles pareciam dois
adolescentes apaixonados.

-Quero encontrar alguém para ter esse tipo de conexão. - Disse Aurora, um tanto
sonhadora.

-Seus pais são apaixonados assim?-Perguntou Jasmin, coçando sua nuca.

-Se não são assim, são piores. - Brincou ela. - Eles são rendidos um pelo outro. -
Finalizou;

-Crescer em um lar com tanto amor assim, deve ter sido majestoso. - Falei.
-Sim, realmente foi, o amor deles por mim é incondicional, isso nunca faltou em meu
lar. - Respondeu ela.

Jasmin ficou muito quieta, quando a olhei vi que ela observava Aurora com um sorriso
nos lábios.

-Você já teve alguém? - Perguntou Jasmin.

-Apenas uma paixão de adolescência, ela era a garota mais incrível que eu já tinha
conhecido. - Disse Aurora suspirando, parecendo lembrar dos momentos.

-Ela era de sua corte? E Como ela era? - Perguntei.

-Não, ela é da corte Estival. E nossa, sua pele preta é a coisa mais linda, seus olhos
azuis, minha nossa.- Suspirou ela. - Parece o céu, límpido e incomparável, parecem
guardar mistérios que eu era louca para desvendar. Ela tem o cabelo cacheado como o
seu Adelle, tirando o fato de que os cachos dela são mais soltos, marcados por curvas
largas, e seu cabelo era curto na época em que a conheci. Seus lábios eram redondos, e
ela tinha um rosto que uau, ela é alta, e bem maravilhosa em todos os sentidos. -
Finalizou ela.

-Tem certeza que foi apenas uma paixão de criança? - Perguntou Jasmin, porque
claramente Aurora ainda sentia algo por ela.

-Gosto de pensar que sim, sermos de cortes diferentes não facilita nossas vidas. -
Respondeu ela. - Mas enfim, águas passadas. Vamos pensar em nossas fantasias. O que
vocês estavam pensando? - Perguntou ela.

Percebemos que ela estava desviando do assunto pessoal e entendemos, ela estava se
abrindo aos poucos, e não queríamos que ela se sentisse pressionada a contar mais do
que gostaria, então começamos a conversar sobre o baile e o quão animada eu e
Jasmin estávamos por ser nosso primeiro. Juntamos as louças usadas e levamos a
cozinha para lavarmos.

-Estava pensando aqui, temos que planejar para já nossas próprias fantasias. -Disse
Jasmin, já começando a ensaboar os pratos.

-Temos mesmo. - Admitiu Aurora.

- Nós pensamos no modelo e Ade faz o resto. - Brincou Jas, me jogando um pouco de
água.
-Injustiça. - Respondi sorrindo. - Mas ótimo, vamos planejar os modelos, os desenhar e
depois irmos atrás dos tecidos. - Disse, já planejando em minha mente tudo que
teríamos que fazer.

Nesse momento Zayn e Nyx entraram na cozinha, em seus couros habituais, ambos
com uma maçã em mãos. Zayn me segurou pela cintura e depositou um beijo em meus
lábios. As meninas se entreolharam e depois me encararam, diversão brilhava no olhar
de ambas, ali eu já entendi o que fariam em seguida.

-Bem, já que vocês chegaram. - Disse Jasmin antes de sair em disparada da cozinha,
Aurora foi logo em seguida.

Quando fui correr Zayn apertou minha cintura e sussurrou em meu ouvido:

-Sua pestinha atrevida. - O ronronar de sua voz me deixou arrepiada. Mas eu sabia que
era uma tática dele.

-Vê se deixa tudo limpinho. - Respondi me soltando de seu aperto e correndo em


direção às minhas amigas.

Entramos no quarto sem fôlego pela corrida e pela gargalhada que explodiu de nossas
gargantas. Ficamos bons cinco minutos daquele jeito, por fim não conseguimos nem
respirar direito, minha barriga já doía e lágrimas escapavam de nossos olhos.
Parecíamos crianças naquele momento, mas felizes, muito felizes. Quando nos
acalmamos fui pegar um bloco e uma caneta que estava em uma mesinha no canto do
quarto. Me sentei no chão, e as meninas logo sentaram à minha volta.

-Vamos lá ladys, temos vestidos para planejar. - Falei colocando a ponta da caneta no
papel e criando o primeiro rascunho.

Após três horas, finalizamos os modelos, queremos ir inspiradas em alguma ave,


Aurora apostaria em uma fantasia inspirada em um cisne, e seria totalmente branca
com detalhes em prateado. O decote seria em formato de “V” e seria bem acinturado,
um cinto de correntes e pedras prateadas seriam bordadas e postas na altura da
cintura, a saia do vestido seria justa até o meio de suas coxas, e o restante do
comprimento seria solto. A manga seria longa e da própria manga sairia a asa, uma de
cada lado, indo até o chão, com penas, falsas, aplicadas. Uma ombreira prateada seria
colocada em cada um dos lados. A máscara seria prateada com detalhes iguais ao cinto
e teriam penas criando uma altura na parte de cima. Jasmin quis algo inspirado no
corvo, o vestido seguiria a proposta de Aurora, justo até o meio das coxas e depois se
abriria em um saia solta, uma fenda seria implementada em sua perna esquerda,
desde sua panturrilha a sua coxa. Apenas a parte do busto e a manga seria na cor
vinho, a manga seria solta e se ajustaria apenas no pulso, o restante seria preto com
singelos detalhes no dourado. Um corpete estaria logo abaixo de seu peito, com duas
tiras de tecido bordadas no formato de “x”, e estariam ligadas, cada lado, em um
círculo dourado, que seria apenas um detalhe. A área do pescoço estaria totalmente
coberta, uma camada de gola alta preta seria adicionada, com bordados delicados em
dourado e ao invés das asas, vamos fazer uma capa, presa aos seus ombros, com uma
plumagem preta que se estenderia até o meio de suas costas e após isso a capa seria
lisa e sem detalhes. Para finalizar, sua máscara acompanharia a capa, e seria feita com
aplicações de penas pretas, cobrindo toda a área de seu rosto, e pequenas correntes
pretas cairiam dessa máscara, tampando mais de sua face. Por fim eu quis que minha
fantasia tivesse características da ave uirapuru-laranja que tem a penugem laranja e
amarela. Teria um profundo decote em formato de “v” mas como eu não me sentiria
muito confortável com meus seios mais à mostra, alguns ramos, como se fossem
galhos secos, subiriam pelo meu pescoço. Uma luva preta iria até acima de meu
cotovelo, e uma fina manga imitando asas seria adicionada ali se juntando ao corpete.
Usaria um collant preto por baixo do corpete que seria em degradê, do vermelho ao
amarelo, esse corpete se abriria e desenharia meu quadril como se o abraçasse e
desceria diretamente para um cauda, que seria recortada em vários tamanhos, como
camadas de uma asa, que iria até o chão. Essa cauda seguiria exatamente o degradê do
corpete. Para que eu não ficasse sem uma “parte de baixo” usaria uma meia calça
preta, que já tinha uma bota em junção, com detalhes laranjas bordados na altura de
minhas coxas, duplas linhas, com o detalhe de ramos e abaixo duplicaria o detalhe mas
na cor amarela e sem os ramos. Minha máscara deixaria apenas o lado direito da
minha boca, e um pedaço de minha bochecha, livre. Seria completamente
ornamentada com detalhes em dourado.

Jasmin encontrou uma aquarela e cada uma de nós pintamos e acrescentamos os


detalhes em nossos desenhos. Colocamos no chão com um pequeno peso, para secar,
e deitamos na cama nos sentindo exaustas. Foi Aurora que nos puxou para que
fossemos direto às compras dos tecidos, mesmo a contragosto, fomos. Jasmin disse
que nos levaria em um restaurante para comermos um lanche, o que me animou.
Passamos por algumas lojas e compramos uma coisa ou outra de cada uma. Estávamos
com as mãos abastecidas de caixas, então pagamos para que um cavaleiro
transportasse aquilo para a mansão em sua carroça. Como sobrou uma certa quantia
seguimos ao restaurante. Jasmin nos guiou, ela parecia animada.
Assim que entramos ela acenou para uma feérica, linda, a mulher acenou de volta e
veio em nossa direção. Nos levou a um cantinho, muito bem decorado e aconchegante.
Quando sentamos Jasmin já disse:

-Zuri, eu ainda sonho com aquele mil folhas.


A mulher sorriu e respondeu:

-Sei como agradar meus clientes. E essas belas mulheres, quem são? - Perguntou ela,
trazendo sua atenção diretamente a nós.

-Essas são Aurora e Adelle, elas vieram experimentar a comida divina do lugar. - Disse
Jasmin.

-Que possamos proporcionar uma experiência ótima a vocês. - Disse Zuri, sorrindo. -
Posso anotar os pedidos?- Perguntou a moça.

Então Jasmin nos contou sobre o dia que veio aqui com Eva e decidimos fazer a mesma
coisa, deixar com que Zuri escolhesse o que iríamos comer. Então minutos depois Zuri
trouxe três bandejas, contendo, uma torta de frango cremosa, três croissants
recheados de creme de avelã e mais três com creme de ricota e azeitonas e para
finalizar, um bolo de limão. Tomamos um chá com especiarias, que estava muito bom.
Comemos até dizer chega, estava tudo tão delicioso que quando decidimos ir embora,
encomendamos três tortas e um brownie, que Jasmin queria dar a Eva. As tortas
seriam para os outros que estivessem na casa. Quando chegamos na mansão, já estava
escurecendo, deixamos as tortas na bancada e o brownie de avelã, Jasmin escreveu um
bilhete dizendo a quem pertencia e deixou ali também. Quando passamos pelo
escritório a porta estava aberta, iríamos passar direto caso Rhysand não tivesse nos
chamado. Nestha, Cassian, Azriel, Feyre, Rhysand, Nyx, Zayn, e Ivar, estavam na sala. O
que o Ivar estava fazendo ali?

-Preparamos um desafio para vocês, e acontecerá hoje a noite. - Disse Cassian de


supetão.

Então era isso que Cassian falava com Nestha? Sobre o desafio?

-Que tipo de desafio? - Perguntou Jasmin, desconfiada.

-Levaremos vocês a uma ampla arena.- disse Feyre apontando para Nyx, Zayn, Ivar,
Jasmin, Aurora, e por fim eu. - para que realizem-no.

-Separaremos vocês em trios, e bem… - Começou Nestha, e quando ela nos olhou
tinha pura diversão ali. - Vocês lutarão contra si.

O silêncio caiu na sala, O QUE?

-O trio que permanecer em pé por mais tempo, vence. - Disse Rhysand de maneira
séria e determinada.
Capítulo 37
Perspectiva Jasmin:

-Espera aí, o que? - Aurora perguntou.

-Precisamos descobrir o limite dos poderes de cada um, e que melhor forma de
testarmos isso do que um desafio mortal? - Disse Azriel, com um sorriso ácido.

-Mortal? - Perguntou Adelle.

-Bem, mais ou menos, apenas a morte não é permitida. - Disse Rhysand, como se
aquilo fosse pouca coisa.

-Mas que merda vocês estão pensando? Eu sou uma humana com instintos ridículos. E
vocês querem que eu encare feéricos imortais e FORTES? - Perguntei, me alterando.

-Adelle também é humana Jasmin. - Disse Ivar, como se apontasse o óbvio. Outra
dúvida, o que ele estava fazendo ali.

Mordi o cantinho da minha bochecha, eles ainda não sabiam.

-De todo modo, não vejo justiça nisso. - Adelle completou antes que eles teorizassem
sobre o meu súbito silêncio.

-Uma luta raramente será justa. - Começou Azriel. - Veja eu e Cassian, jamais ele
venceria de mim, mas não quer dizer que ele não lutará até sua derrota.

E pela primeira vez aquele homem tinha dito algo que me fizesse rir apenas de
imaginar a cena.

Cassian soltou uma risada e retrucou que depois que deixássemos a arena, eles
lutariam e tirariam a prova a limpo.

-Isso é seu. - Disse Nestha, levando a espada para Adelle e depositando-a em suas
mãos. - Use-a com sabedoria.

Adelle ficou em choque, ela tinha comentado que não sabia se poria suas mãos na
espada novamente. Ade sorriu e agradeceu, parecendo estonteante, como se a notícia
do para que ela usaria aquela espada, não importasse mais.
-Montamos os dois trios ponderando como ficaria mais nivelado e justo para todos. -
Rhysand falou. - Trio um: Nyx, Aurora e Jasmin. O segundo: Ivar, Adelle e Zayn.

-Esperamos vocês no hall em dez minutos, se vistam, as armas vocês pegarão na arena,
e caso as humanas se machuquem, nossa magia pode dar um jeito nisso. - Disse Feyre
nos dando uma risada irônica e nos dispensando.

Alguns minutos depois estávamos todos reunidos novamente, fomos atravessados até
um lugar que eu nunca tinha ido antes, uma arena gigantesca apareceu diante de
minha visão, em volta dela tinham arquibancadas, um local que acomodaria facilmente
mais de 1000 pessoas. A arena não era completamente aberta, algumas árvores,
rochas, pedras ou obstáculos a preenchiam, não estaríamos completamente
desprotegidos.

Algo me chamou a atenção assim que observei o local, seria possível que aquela ideia
tivesse surgido genuinamente da curiosidade de estudar nossos poderes? Bem, eu
torcia para que sim.

Me juntei ao grupo e seguimos para o armário onde tinham diversas espadas, adagas,
uma besta, arco e flecha entre outros. Percebi tarde demais que não possuía
habilidade alguma para manusear de forma certeira aqueles objetos. Peguei duas
adagas e as prendi uma em cada bota, uma espada nas minhas costas, mais quatro
adagas de reserva que as escondi em meu braço, cintura e cós da calça. Cada um se
armou de acordo com sua preferência e fomos encaminhados ao meio da arena, foi
explicado que um apito soaria e a partir daí o jogo estaria oficialmente iniciado. Tudo
era permitido, exceto pela regra principal “sem mortes”.
Planejamento? Não tivemos nem tempo para conversar, seria permitido o diálogo
apenas após o soar do apito, ou seja, teríamos que improvisar e confiar um nos outros
para nos protegermos até conseguirmos montar um plano que nos levaria a vitória.

O som soou, e imediatamente uma cortina de areia foi criada por Ivar, para que nossa
visão fosse abalada. Todos pensamos na mesma coisa e fomos para trás de uma rocha.
Mentalizei minha esfera protetora, nada.

-Ivar pode criar tempestades facilmente, você também tem esse dom certo? -
Perguntou Aurora, frenética.

-Do elemento que preferir. - Disse Nyx dando uma piscadela divertida, aquilo para ele
seria nada mais nada menos do que o usual.
-Metido. - Sibilei. Tentando criar aquela proteção maldita, estava me sentindo mal por
não saber controlar aqueles poderes.
Antes que pudéssemos dar continuidade no plano, uma bola de fogo veio em nossa
direção, Zayn, ela se dividiu em três, nos cercando de todos os lados, Aurora
prontamente revidou com esferas de gelo que se chocaram contra o fogo e o extinguiu.
Saímos dali, Aurora já criava lanças de gelo e as arremessava na direção de Zayn, que
usava uma parede de fogo para se proteger. Nyx sabia que Ivar usaria o foco de Aurora
em Zayn para atacá-la, então quando uma tempestade foi criada em direção a ela, Nyx
a dissipou e revidou. Eu me sentia uma barata tonta ali, não sabia o que fazer para
ajudar, segurei minha adaga pois sentia que era o correto a se fazer.
Uma dúvida: Zayn lutava com Aurora, Nyx com Ivar, onde estava…
Dei um passo para o lado ao mesmo tempo em que a lâmina de Adelle passou rente ao
meu abdômen, por um milésimo de segundo eu teria sido desmembrada. Com o cabo
da adaga que estava em minhas mãos a acertei nas costas, ela tombou para frente mas
logo se equilibrou e atacou. Seus movimentos estavam rápidos demais, eu não
conseguia acompanhar, sua espada virou um borrão em minha visão, meus braços já
estavam cheios de cortes, mas foi quando eu me lembrei, Adelle nunca seria tão
agressiva assim, estavam controlando minha mente. Pisquei algumas vezes e vi Ivar ao
longe, me encarando, ele sorriu e deu uma piscadela. Maldito. Por quanto tempo eu
tinha ficado presa naquela miragem?
Olhei em volta, Aurora estava em um combate corpo a corpo com Ivar, em seu rosto
tinha um corte quase cicatrizado, Nyx lutava com Zayn. Mas Adelle?
Um arrepio em minha nuca e ergui a esfera de proteção no exato momento em que
Adelle deu o golpe que rasgaria minha coxa, em contato com a esfera ela foi
arremessada para longe. Eu iria até ela, porém, Aurora estava se debatendo no chão,
imóvel. Ivar estava roubando seu oxigênio, juntei minhas mãos e quando as separei
uma luz dourada a preenchia, lancei em direção a Aurora e minha proteção a acolheu.
Porém não foi erguida uma esfera, a proteção tinha se adaptado ao formato de Aurora,
ergui minha mão esquerda e lancei essa mesma proteção a Nyx. Uma luz dourada
agora os envolvia, minha esfera foi dividida em três partes, seria mais fácil de
penetrá-la por ter sua força em três corpos diferentes, mas seria uma ajudinha extra.
Uma pancada, e caí de joelhos, Adelle já tinha se recuperado e agora me desferia
chutes para que eu permanecesse no chão, minha mão esquentou, e deixei que
chegasse no limite e pela primeira vez me senti no controle. Desejei que aquele fogo
tomasse forma para fora de meu corpo, e foi o que aconteceu quando chamas
começaram a sair de minha mão, o chão abaixo de mim começou a queimar, rolei para
o lado e disparei aquele fogo em direção ao rosto de Adelle, que desviou, mas ficou
surpresa, essa reação fez com que eu tivesse tempo de me levantar e me estabilizar.
Um grito na arena, me virei e vi que era Aurora, estava caída com uma adaga cravada
em sua perna, a luz dourada estava ruindo, já tinha sido sobrecarregada e em pouco
tempo se destruiria. Uma pequena parede de gelo a protegia de Ivar, Nyx estava
ocupado demais com Zayn o atacando, eu teria de ajudá-la sozinha, projetei uma
parede de fogo e a lancei em direção a Adelle que recuou, corri pela arena e senti um
fio puxar minha mente, Aurora não era a única que tinha o poder da invernal. Olhei
para Nyx, que estava no chão, recebendo vários golpes em seu rosto, lancei uma
labareda de fogo em direção a Zayn que o distraiu para que Nyx pudesse se
desvencilhar e o acertar um soco no queixo. Ergui meu braço esquerdo em direção a
ele com as palmas abertas e fechei os olhos, quando o gelo cortante acertou minha
mente eu fechei minha mão e ergui a mão direita, que estava fechada, em direção a
Aurora, quando meu punho se abriu o gelo escapou do centro de minha palma e
disparou em direção a parede que Aurora tinha erguido, a fortalecendo enquanto ela
se recuperava. Eu era uma ponte entre o poder de Nyx e Aurora, e eu não poderia
vacilar enquanto ela não estivesse de pé novamente.

-Jasmin. - O grito de Nyx chegou até mim.

Como eu tinha dito, instintos estúpidos, meu corpo foi lançado para frente e bati meu
queixo no chão, Zayn já estava por cima de mim, me deixando presa em um casulo de
fogo, se eu me mexesse um centímetro me queimaria. Lembrei da adaga que escondi
na manga e fui a puxando de maneira discreta, quando ele virou para o lado para
verificar sua equipe, chutei sua virilha e cravei a lâmina em seu abdômen. O fogo se
dispersou e eu me levantei, dando uma joelhada em seu queixo, ele tombou para trás,
porém eu também caí.
Uma longa e fina adaga estava enfiada em meu braço esquerdo, olhei em volta e vi
uma Adelle furiosa, vindo em minha direção. Certamente nocautear o parceiro dela
não fez com que ela ficasse muito amigável. Com a lâmina ainda presa ao meu braço
comecei a correr na direção de Aurora, que estava lutando contra Ivar em um combate
de espadas. Ele acertou um golpe em seu estômago que a arremessou longe dali, Ivar
concentrou toda sua atenção em mim, o que era terrível por sinal. Olhei em volta e vi
Nyx escorado a uma árvore respirando pesadamente, Zayn estava se levantando e
Adelle vinha andando em minha direção com sua espada em mãos, e por incrível que
pareça, Ivar parecia uma opção menos mortal então corri até ele projetando uma lança
de fogo em sua direção, mas antes que eu a lançasse fui erguida do chão, aos poucos
comecei a sufocar, de novo não, parecia que tinha uma corda amarrada ao meu
pescoço, eu me debatia no ar porém não estava dificultando o controle de Ivar. Olhei
em volta e vi os quatro restantes lutando entre si, o que indicava que eu não teria uma
ajuda. Ergui minha mão até Ivar e procurei pelo fio do seu poder, quando senti uma
brisa à minha volta, fechei o punho, o ar ao meu redor que antes me sufocava se
dispersou. E eu caí. Quando minhas costas atingiram o chão uma dor excruciante
passou por todo meu corpo em uma corrente elétrica. Me esforcei para levantar, puxei
a adaga que ainda permanecia em meu braço e queimei o local onde sangrava. Zayn
andou em minha direção com sua espada em mãos, quando coloquei a mão para trás
para puxar minha própria espada, senti uma mão por cima da minha. Meus dedos
foram esmagados e meu braço torcido, Ivar, ele me virou de frente para ele, ainda
prendendo meu braço as minhas costas, sua adaga pressionava minha garganta.

“Não exite”.
Virei meu pescoço com tudo, o corte foi inevitável, e o acertei em sua virilha, ele
curvou e eu projetei a proteção à minha volta. O sangue jorrava de meu pescoço,
profundo demais, apoiei a uma árvore próxima e pressionei minha garganta. Meu olhar
correu para toda a arena, mas um pontinho na arquibancada me fez travar. Brandon e
Aric me observavam como falcões.

“Mostre do que é capaz”. - A voz de Brandon bradou em minha mente.

Senti um formigamento em minha nuca e depois no meu pescoço, quando soltei a mão
o corte tinha se fechado.

-Jasmin. - Gritou Aurora, mas era por ajuda. Estava encurralada por Adelle e Ivar.

Dividi minha proteção e a lancei para Aurora, corri em sua direção, quando Zayn
percebeu que eu me aproximava lançou uma chuva de lanças em minha direção, eram
feitas de fogo, continuei correndo, quando eu já sentia o calor próximo ao meu corpo
ergui os braços e as lanças pararam no ar, as direcionei em direção ao próprio Zayn,
que arregalou os olhos quando viu seu truque virar contra si. As lancei, e ele se afastou
de Aurora, e assim ela conseguiu travar um duelo com Adelle.
Puxei minha espada e corri em direção a ele, Zayn ergueu uma proteção de fogo, se
protegendo em seu próprio casulo.

“Tomara que a magia seja realmente eficiente”. Pensei.

Atravessei aquele escudo fervente sentindo minha pele arder, minha lâmina cortou o ar
até que seguisse seu alvo, ele bloqueou e diminuiu ainda mais aquele casulo,
estávamos a menos de um metro um do outro, ele jogou a espada no chão e mostrou
os punhos em chamas, fiz a mesma coisa e sorri para ele. Ele atacou e eu desviei para a
direita desferindo golpes em seu rosto, Zayn se protegia de todos, ele tentou me dar
uma rasteira mas eu não caí, apenas me distrai por alguns instantes o que foi suficiente
para que ele contornasse meu corpo e me prendesse de costas para ele.

-Seria uma pena se seu rostinho fosse queimado, você não acha? - Perguntou ele, de
forma ameaçadora.

-Você acha? Não traria um ar maléfico e misterioso? Os mais poderosos sempre levam
consigo alguma marca. - Impliquei de forma sarcástica.
-Vamos ver se você vai gostar de sua nova aparência. - Disse ele segurando meu rosto e
me empurrando para aquela parede de fogo. - E aliás, nunca mais toque em minha
parceira. - E seu tom ameaçador foi muito mais sombrio dessa vez.
-Foi só uma queimadura poxa. - Disse, fazendo beicinho.

Ele riu, e sua risada chacoalhou meu corpo junto.

-A sua também será uma queimadura, poxa, mas será permanente. - E assim ele
empurrou meu rosto direto no fogo.

A dor, o cheiro de pele queimada não veio, ele não esperava que eu conseguisse soltar
uma de minhas mãos a tempo de controlar seu poder.
Comecei a rir, e era uma risada diabólica. O cerco começou a se fechar a nossa volta, o
fogo estava nos consumindo vivos, mas para mim, apenas um calor agradável soprava
ao nosso redor. Ele gritou e eu pisquei fazendo aquelas labaredas sumirem em uma
velocidade incrível.

Andei até o centro da arena, onde estava Aurora, pelo visto todos tinham parado para
ver meu showzinho.

-Ainda dá tempo para mudar de lado Ade. - Gritou Aurora.

Adelle nos deu um sorriso selvagem e veio em nossa direção. Ela balançava sua
espada, estava majestosa como se fosse a dona do lugar. Quando ela parou ao nosso
lado, virou para os machos que estavam naquela arena e disse:

-Vamos fazer esses feéricos sangrarem Lady’s.

Nos deu uma piscadela, e ergueu sua espada que brilhou em suas mãos, Aurora soltou
um uivo de animação e lobos de gelo se criaram à sua volta, esfreguei minhas mãos e
as ergui com o punho cerrado para aqueles homens.
Fechei os olhos e procurei pelo fio que me conectaria a eles, quando os encontrei,
agarrei firme e mantive as mãos fechadas, o calor seguido do gelo cortante, a
ventania, visões, cura, tudo me atingiu de uma vez. Quando abri meus olhos meus
lábios se ergueram em um sorriso, eles estavam lado a lado, cada um com uma parte
da magia ativada.

-Vamos ver como vocês vão se comportar sem seus poderes. - Falei, mas minha voz
parecia diferente.

Quando ouviram isso, suas faces se nublaram, eles não pareciam entender o que eu
estava dizendo.
-Jasmin. - Sussurrou Adelle, tinha algo de errado comigo, e eu apostava que meus olhos
já estavam totalmente pretos.

Pisquei algumas vezes, afastando as sombras. A olhei, meus olhos já estavam voltando
ao normal.
Um arrepio na nuca e encarei onde Brandon e Aric estavam, uma feição satisfeita
cruzava o olhar de ambos.

-Boom. - Falei antes de abrir minhas mãos, e inibir o acesso dos machos aos seus
próprios poderes.

Então o caos se instalou.

Capítulo 38
Perspectiva Nyx:

Senti meu poder sendo bloqueado, olhei em volta e vi os meninos também com essa
dificuldade. Mais cedo eu senti o puxão quando Jasmin roubou minha magia da
invernal e canalizou para ajudar Aurora, mas depois voltou para mim, dessa vez ela me
impediu 100% de ativar qualquer partícula de magia.

-O que vamos fazer? - Perguntou Zayn sacudindo as mãos.

-Teremos que lutar à moda antiga. - Respondi tirando minha espada das costas.

Ivar também pegou sua espada e Zayn o seguiu.

Os lobos de Aurora já vinham em nossa direção, eles atacavam como se fossem


animais de verdade, mas nossas espadas os estilhaçavam se os acertássemos com a
força e ângulo corretos, caso contrário eles se reintegravam e voltavam a atacar.

-O ponto está no pescoço. - Gritei para os meninos que rapidamente derrotaram o


primeiro grupo que surgiu.

Aves de fogo vinham em nossa direção, nos acertando em pontos estratégicos.

-Estão focando onde os lobos não alcançam. - Disse Ivar.

Mentalizei mais uma vez meu poder mas nada aconteceu, foquei minha atenção nos
pássaros mas eles evaporaram e senti algo quente rastejando em minha perna. Cobras.
Elas queimavam minha roupa à medida que se arrastavam na minha perna. Cortei uma
delas pela metade, ela sumiu e depois a nossa volta surgiram inúmeras direto do chão.
Elas davam o bote, os meninos tentavam cortá-las mas não saíram totalmente ilesos.
Corremos para a outra ponta da arena, as queimaduras já estavam cicatrizando.

-Não temos o que fazer para escapar dos ataques mágicos. - Falei, já estava cansando.

-Jasmin não vai aguentar por muito tempo, está usando sua energia rápido demais e
ela não sabe controlar por longos momentos. - Disse Ivar com o olhar técnico sobre a
situação.

-Então já temos o nosso alvo. - Disse Zayn se preparando.

-Deixa ela comigo. - Falei.

Os dois me olharam e acenaram.

-Ivar, imobilize Adelle, Zayn seu foco é Aurora. - Ordenei.

-Sim senhor. - Disse Ivar de forma debochada e se tornou um borrão em nossas vistas.

-Vamos detê-las. - Falei antes de correr até Jasmin.

Ela estava parada perto de uma árvore, de costas para mim, seria a oportunidade
perfeita para atacar, ela prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo e quando mostrou
sua nuca, vi ao longe pequenas veias pretas surgindo. Aquilo me fez travar, mas logo
ataquei, quando cheguei onde ela estava, percebi que Jas não estava de fato ali.
Um chute em meu joelho fez com que eu curvasse o corpo e apoiasse as mãos na
árvore à minha frente.

-Acha mesmo que eu ficaria parada de costas para vocês?- A voz de Jasmin veio por
trás de mim.

-Você não é lá uma pessoa tão observadora assim. - Falei, a implicando.

Um soco flamejante atingiu meu estômago, ela empurrou minhas costas na árvore e
chegou perto de mim, eu sentia o calor de sua pele, ela colocou o joelho entre minhas
pernas, aproximou seus lábios em meu ouvido e falou:

-Continue pensando assim mesmo, homem pomba. - Então ela mordeu o lóbulo da
minha orelha, e por segundos eu fiquei desnorteado.
E ela se aproveitou disso e me prendeu, correntes de gelo me envolveram quase que
me esmagando. Então Jasmin deu as costas para mim e saiu andando, porém olhei
para onde Zayn estava lutando e vi Jasmin com ele, minha mente deu um nó. “Controle
de mente”. Eu deixei que ela mudasse o ambiente à minha volta e não percebi. Não
era Jasmin me provocando e sim uma miragem.
Indignação preencheu cada poro da minha pele, e raiva, muita raiva. Me mexi e vi que
seria impossível eu me soltar daquelas correntes, então como meu pescoço era a única
coisa que se movia facilmente eu lancei minha cabeça até que se chocasse contra a
árvore, e repeti essa ação por mais três vezes, a árvore se rachou e caiu ao meio,
facilmente me soltei das correntes e corri atrás de Jasmin que estava lutando com Zayn
e Adelle.
Puxei minha espada e cortei sua panturrilha, o sangue de sua perna esguichou mas
logo o corte foi fechado, ela devolveu o golpe e mirou em minha barriga, dei um pulo
para trás e bloqueei com minha própria lâmina.

-Jasmin. -Gritou Adelle.

Ela estava caída, sua espada jogada longe de si. Quando Jasmin virou o rosto em
direção a amiga, eu chutei seu quadril, ela caiu de costas mas não me olhou, com o
vento trouxe de volta a espada de Adelle. Ade segurou a espada e a fincou no chão,
Zayn deu uma rasteira na mesma e imobilizou seu corpo, Jasmin se arrastava até lá,
puxei suas pernas a deixando longe da espada. Ela chutou meu punho e se levantou
correndo até a espada, suas mãos brilharam e quando ela colocou a palma encostada
no punhal da espada fomos arremessados todos para o centro da arena, o chão
começou a rachar, e foi rachando em um perfeito círculo, quando o círculo se fechou
Jasmin arrancou a espada do chão e jogou para Adelle que a segurou e bateu com ela
na cintura de Zayn. O chão começou a tremer e ficamos todos imóveis, aquela
plataforma começou a planar, e a cada segundo subia mais e mais. Quando estávamos
a mais de vinte metros do chão eu tive coragem para encarar a nova situação em que
estávamos. Ninguém mexia um músculo, aquilo era demais para processarmos. Aquela
arena flutuante tinha menos de dez metros de comprimento, seis pessoas lutando
nesse espaço não daria certo.

-Admitam que vencemos. - Disse Aurora sentada no chão.

-Mas vocês não venceram. - Retrucou Ivar.

-Vocês não querem travar uma luta aérea não é? - Perguntou Adelle, acariciando o
pescoço de Zayn de forma suspeita.

Luta aérea, eu precisava apenas que Jasmin desistisse para que o trio se
desestabilizasse, Ivar deve ter visto algo em meu olhar pois ele segurou o pescoço de
Jasmin e o apertou. Adelle logo começou outra luta com Zayn e Aurora foi na direção
de Jasmin para ajudá-la, voei em sua direção a peguei e joguei para fora da plataforma,
ela caiu aqueles vinte metros e demoraria alguns segundos para voltar.

-Desista Jasmin. - Disse Ivar, com um polegar passando em sua bochecha.

-Tudo bem. - Respondeu ela, deixando que seu semblante caísse, e seu corpo se
curvasse um pouco.

-Boa garota. - Disse Ivar.

Mas ele não previu que ela usaria dessa oportunidade para enfiar uma adaga em seu
peito. Ele tombou para trás e o uivo que saiu de seus lábios foi animalesco. Tirei Jasmin
dali e voei com ela para longe da plataforma.
Ela gargalhava, seu pescoço estava quase totalmente preto, ela estava perdendo o
controle.

-Jasmin olhe para mim. - Falei a prendendo em meus braços.

Quando ela me encarou, aquela camada negra estava quase chegando perto de suas
íris, em minutos seus olhos verdes se transformariam em uma cortina preta.

-Você tem que parar. - Falei novamente chamando sua atenção para mim.

-Parar?Mas eu nem comecei, herdeiro. - Respondeu ela colocando sua mão ao meu
redor.

-Jasmin. - Falei segurando seu rosto. - Você precisa parar. Agora.

-Mas, está divertido, você não acha? - Falou ela de forma insolente.

-Você quase matou Ivar, isso é divertido para você? - Acusei.

As sombras começaram a recuar de seus olhos, e preocupação tomou conta de seu


cenho.

-O que? - Perguntou ela olhando para a plataforma, onde Ivar estava caído de joelhos
enquanto Feyre o curava.

Seus lábios tremeram e sua respiração começou a pesar.

-Eu desisto. - Sussurrou ela.


-Ele vai ficar bem Jas, não precisa se culpar. - Reconfortei-a, parecia o mais correto a se
fazer.

Ela ficou calada então comecei a descer com ela, mas ela empurrou meu peito com
força e se soltou, ela fechou os olhos e quando os tornou a abrir grandes asas saíram
de suas costas, chamas e luz pareciam vir dela, mas não eram asas como as minhas ou
dos meus tios e meu pai, a penugem era branca, e parecia ser tão macio e delicadas.
Ela planou, era como um pássaro que finalmente encontrou a liberdade, ela pousou no
chão e as asas sumiram, seu corpo tombou e ela caiu para frente imóvel, sombras a
rodeavam. Um trovão passou pelo meu peito, disparei em sua direção, quando estava
prestes a tocá-la, algo familiar me atingiu e encheu meu corpo, olhei novamente em
sua direção, as sombras tinham sumido, e ela estava com a mão erguida para mim,
aquela sensação familiar eram meus poderes sendo devolvidos.
Ela respirava com dificuldade e seu corpo tremia, quando andei em sua direção eu caí,
mas eu não encontrei o chão, ao invés disso, eu continuei caindo em uma escuridão
infinita.
Ao longe consegui escutar Jasmin gritar por mim, porém eu não conseguia responder,
novamente, eu tinha perdido o controle de meu corpo e mente. E pela segunda vez eu
temi que fizesse mal a ela enquanto eu era levado ao ápice da inconsciência.

Perspectiva Ivar:

Jasmin tinha me dado uma facada, no peito, NO PEITO! Sorte que ela é péssima de
pontaria e errou o lado. Mas me enfraqueceu como nunca tinha ocorrido antes, agora
eu a observava cair dos céus, e estava desejando ter forças para ajudá-la, ótimo, ela me
dá uma facada e o que mais me preocupa é a vida dela naquele momento.
Mas foi quando ela surgiu voando, majestosa, me hipnotizando, e pousou logo em
seguida. Nunca tinha visto algo parecido antes, parecia irreal.
Fui levado de volta ao chão, assim como os outros, o desafio tinha acabado. Estávamos
andando em direção a Nyx e Jasmin quando ele caiu no chão, Feyre e Rhysand
avançaram mais rápido, mas quando chegaram a cinco metros dele, eles deram de cara
com uma proteção invisível, Jasmin estava custando se levantar, ela chamava por Nyx,
que não se mexia.
Ela foi se arrastando até ele, e o chacoalhou, como se tentasse o acordar.

-Saia de perto dele agora Jasmin. - Gritou Feyre, batendo no vidro.

Jasmin virou para nós, devagar, apertou os olhos como se tentasse focar sua visão. Mas
ela ouviu, e quando foi se afastar, Nyx segurou seu pescoço e a enforcou. Ela se debatia
e tentava o desestabilizar furando seus olhos com as unhas, porém ele a jogou contra a
proteção antes que conseguisse. Jas respirou fundo e colocou a mão por cima do
machucado, ele balançou a cabeça e atacou mais uma vez, dessa vez a proteção de
Jasmin surgiu, impedindo o ataque de Nyx.
Feyre e os demais tentavam destruir aquele cubo invisível enquanto pensavam o que
Jasmin poderia fazer para sobreviver.

-Façam alguma coisa logo. - Berrei.

Estava sem poderes, com as forças drenadas, mas me recusava a ficar ali parado
apenas olhando.

-Jasmin. - Chamei, indo até onde ela estava encostada. - Me escute, você pode detê-lo,
crie uma prisão usando os poderes. O prenda Jasmin, você não pode enfrentá-lo.

-Ivar, o que está acontecendo? - Perguntou ela baixinho.

-Eu não sei coelhinha, mas só você é capaz de pará-lo. Eu confio em você.- Disse
colocando a mão naquela parede.

Ela me olhou por poucos segundos antes de colocar a mão por cima da minha e
respirar fundo. Colocou sua outra mão com a palma aberta e encostou em outra
extremidade daquele lugar, em direção ao grupo que estava do lado de fora, Nyx a
rondava como um animal.

-Me avise quando ele atacar. - Disse ela.

Ela se concentrou e fechou os olhos, sua mão tremia, olhei para os grão- senhores e
demais que tinham uma careta estampada em seus semblantes. Quando ela fechou o
punho e abriu os olhos, eles levaram as mãos ao peito, aquela ladrazinha. A mão que
antes estava escorada por cima da minha mirou Nyx, ela fechou os olhos e uma luz azul
escuro e brilhante escapou de sua palma em direção a ele. Ele desviou, mas um portal
de fumaça foi criado no lugar que ele estava, o portal se movia como pequenos
redemoinhos.

-Você tem que levá-lo até lá. - Falei.

-Mas não sabemos onde aquilo vai dar. - Bradou Azriel.

Todos pareciam chocados demais.

-É um tiro no escuro, e temos apenas uma chance. - Disse Jasmin.


Nyx lançou sombras que envolveram Jasmin, chegou em um ponto em que não a
enxergávamos mais, aquelas sombras iam diminuindo o tamanho. Estavam esmagando
a esfera de proteção, uma luz dourada saiu pelas frestas e uma pequena explosão
ocorreu, a camada protetora caiu, e agora Nyx já ia em direção a ela, com uma espada
em mãos.

-Ele está indo com a espada, à sua esquerda. - Gritei para ela.

Ele atacou, e ela desviou do golpe que tinha alvo sua garganta, mas não se safou do
que atingiu suas costas. Ele atacava e ela apenas tentava desviar, o levando cada vez
mais perto do portal. Jasmin nem tentava revidar, não era esse o plano, e quando eles
estavam a um braço de distância ela deu a volta nele e atingiu um soco em sua barriga,
o que o lançou diretamente para dentro daquele portal, que aos poucos foi se
fechando. Ela se virou para vir em nossa direção, mas foi quando eu vi, Nyx se
arrastando pra fora.

-JASMIN. - berramos.

Mas foi tarde demais. Nyx a puxou pelos tornozelos fazendo com que ela caísse, e a
arrastou para dentro do portal, ela gritava por ajuda e se debatia tentando se agarrar a
qualquer coisa, quando seu corpo estava pela metade a proteção que nos separava
deles ruiu, então corremos até eles, ela apenas ergueu o braço em nossa direção e em
segundos a magia me preencheu novamente. Porém não fomos rápidos o suficiente. O
portal sumiu.

Nyx a tinha levado para uma prisão, que a mesma criou com nossos poderes e o seu
próprio. Para onde quer que aquele portal fosse, o plano de Jasmin não era deixar Nyx
escapar e sair de lá, pelo contrário.

Ela desistiu da única chance de fazê-la voltar no segundo que nos devolveu os poderes,
Jasmin tinha se condenado a uma prisão com Nyx por um tempo indefinido, apenas
para que ninguém mais se colocasse em risco.

Eles se foram, e não sabemos se voltarão, e se voltarem, estarão com vida? Ainda serão
Jasmin e Nyx?

Minha nuca arrepiou e meu olhar seguiu para um local em específico nas
arquibancadas, alguém estava ali.

“Ainda estou aqui”. Uma voz suave porém convicta me atravessou a mente.
“Onde quer que esteja coelhinha, se mantenha a salvo e traga de volta nosso herdeiro
pomba” - Respondi.

Uma brisa suave atingiu meu rosto, e uma risada arranhou as paredes de minha mente.

Capítulo 39
Perspectiva Jasmin:

Não sei por quanto tempo eu fiquei ali, sentada no chão, parada, tentando raciocinar a
maior burrice que eu já tinha cometido na vida.
Era como estar em um quarto, com qualquer fio de luz incapacitado de entrar pelas
frestas da janela. Era um breu total, onde eu não enxergava nem minhas mãos. Assim
que entrei no portal minhas esperanças acabaram. Por que eu tinha devolvido os
poderes, sendo que eles poderiam me salvar? Não sei, mas eu sabia que Nyx estava
fora de controle e precisava ser contido, então não me arrependia de ter me
condenado a essa situação.
Antes do portal me prender aqui totalmente eu pensei ter tido uma conversa mental
com Ivar em que ele me dizia para ficar a salvo e levar Nyx de volta, mas agora eu
achava que tinha sido apenas minha mente me pregando uma peça.
Ainda não tinha tido coragem de me levantar e procurar por ele, ou me aventurar
naquele lugar. Mas não havia outra opção, então me levantei e coloquei minhas mãos
para frente, para evitar que eu batesse a cabeça nos obstáculos que se seguiriam,
comecei a andar, e após poucos metros avançados bati com o joelho em uma quina,
tateei e percebi se tratar de uma cama. Fui apalpando até chegar ao fim dela, andei
mais um pouco e minhas mãos tocaram em uma estrutura de madeira, uma porta,
alisei aquele local até encontrar a maçaneta, girei, e uma luz ofuscante atingiu meus
olhos e depois a escuridão foi tomando conta do ambiente a minha volta novamente,
mas antes que eu perdesse a visão, vi que se tratava do corredor dos quartos da casa
de Nyx. Comecei a andar pelo corredor, mesmo que não conseguisse usar minha visão
para me guiar eu poderia usar minha memória do local e meus instintos. Já tinha
andado bons quinze metros e o corredor parecia não ter fim, virei meu corpo para trás
e não via nada, o desespero quis tomar conta, nunca fui uma apreciadora do escuro.
Parei por alguns segundos e escutei um choro, um bebê. Vinha de algum lugar as
minhas costas, então meu impulso foi correr até onde vinha esse som. Esbarrei contra
uma porta e desesperadamente procurei pelo puxador, quando encontrei congelei
diante a cena. Nestha tinha o corpo curvado sobre Feyre, Cassian segurava Rhys que
tinha em seu semblante puro medo e tristeza, Mor segurava um bebê em seus braços e
era dali que vinha o choro, eles estavam congelados, peguei a criança dos braços dela e
comecei a cantar uma música para que ele se acalmasse. Cheguei perto da cama onde
Feyre estava e vi sua feição, pálida, morta. Um soluço escapou de meus lábios, fazendo
meu corpo estremecer e o bebê se assustar com o movimento e voltar a chorar. Nyx,
era ele quem eu segurava.
Em poucos segundos aquela criança começou a desfalecer em meus braços, me
desesperei, o que estava acontecendo?

“Veja” uma voz falou em minha mente.

Então a imagem congelada daquele momento voltou a rodar, como se estivesse


acontecendo naquele exato segundo.
Fiquei em choque enquanto via Nestha barganhar pela vida de Rhysand, sua irmã e seu
sobrinho.
Agora eu via Nestha se ajoelhar em frente a Rhys, o abraçar e chorar. Estava imóvel
vendo aquilo, lágrimas molhavam meu rosto.

-Não foi sorte eu ter sobrevivido. - A voz de Nyx soou.

O bebê em meus braços já se remexia.

Olhei para onde ele estava, com os braços cruzados e encostado no batente da porta,
mas não era Nyx ali.

-Isso me atormenta todas as noites, é isso que eu vejo quando sou puxado para cá. -
Continuou ele, sombrio.

-Minha mãe escolhendo morrer para que eu vivesse, meu pai morreria junto segundos
depois. Você sabia disso? E se ele sobrevivesse, destruiria o mundo por sua parceira
morta, me olharia com desgosto por eu ter sido quem tirara sua vida, me odiaria, teria
repulsa ao olhar para mim, pois veria ali um sacrifício que custou sua felicidade. - Falou
ele indo até o lado de seu pai.

Que estava ajoelhado abraçando Nestha. A cena já congelada novamente.

-Ele nunca culparia você, e ele te amaria incondicionalmente, assim como te ama hoje.
- Tentei consolar.

-MENTIROSA. VOCÊ NÃO SABE DE NADA. - Berrou Nyx.

Meu corpo retesou, e o bebê em meus braços começou a se agitar.

-Ela me condenou quando fez essa barganha, sabia? - Continuou ele, segundos após a
súbita raiva passar.
-Ela salvou vocês. - Falei, minha voz não passava de um sussurro.

Ele veio em minha direção, ameaçador, uma veia saltou em sua testa, seu maxilar
estava travado. Ficou em uma distância muito curta entre mim e o bebê. Nyx passou a
mão pelo meu rosto e falou em meu ouvido:

-Não. Ela salvou meus pais e condenou o resto da minha existência a uma vida
medíocre, onde eu não tenho controle de NADA. Onde eu machuco qualquer um que
está na minha frente, e sabe o que eu fico com vontade de fazer quando isso
acontece?- Perguntou ele passando seus dedos pelo meu braço.
Olhei em seus olhos, eu já tremia, o bebê Nyx chorava, e eu apenas balançava os
braços em uma tentativa inútil de fazê-lo acalmar.

-Matar. - Respondi em um fio de voz.

Ele sorriu, suas covinhas se intensificaram, mas seu olhar estava gélido.

-Você é esperta. - Disse ele apertando o braço do bebê com força demais.

-Nyx, você vai machucar o bebê. - Falei, tentando o convencer a não tocar na criança.

-Não posso machucar eu mesmo, ou posso?- Perguntou ele, puxando o bebê Nyx dos
meus braços.

Eu agarrei o bebê com mais força e corri daquele quarto, o corredor estava pouco
iluminado mas mesmo assim eu teria de dobrar o cuidado por conta da criança.

-Não adianta fugir Jasmin, essa é minha jaula.- Gritou Nyx do quarto, com as mãos no
bolso.

-E eu sou a presa. - Falei para mim mesma.

Continuei correndo e entrei no primeiro cômodo que encontrei.

-Por favor Baby Nyx. - Choraminguei. - Shhh. - Falei balançando ele.

Comecei a murmurar a mesma música que o acalmou mais cedo, e o efeito foi
imediato. O coloquei com a cabeça em meu ombro e acariciei suas costas.

Tratei de pensar no que eu faria, mas nenhuma ideia surgiu. Comecei a procurar por
alguma lareira para ver se eu conseguiria ligá-la. Quando encontrei, projetei chamas
para acendê-la, após isso fui para um poltrona perto dela para aquecer o bebê. Ainda
murmurando a música percebi um movimento dentro do quarto. Vi Nyx no canto
daquele lugar, me encarando.

-Por favor, isso não pode ser real. - Murmurei, segurando o neném com mais força.

-Por favor, por favor. -Repeti para mim mesma.

-É real Jasmin, apenas pare de tentar. - Disse ele de forma debochada.

-Deixe o bebê deitado nessa poltrona e me siga. - Disse Nyx indo até a porta e abrindo.

-Não o deixarei sozinho aqui. - Retruquei.

-Sim, você vai. - Simplesmente respondeu antes das sombras arrancarem o bebê de
meus braços, e o levarem em direção a Nyx.

-Tudo bem. - Falei. - Eu vou, mas me devolva.

O baby Nyx foi devolvido a mim, o levei ao centro da cama, ele já se remexia sentindo
falta do contato humano e calor da lareira.

-Eu volto para te buscar. - Sussurrei segurando sua mãozinha.

Projetei minha proteção total sobre ele, e então ele adormeceu. Fiz um cerco de
travesseiros para que ele não caísse e segui Nyx para fora do quarto.
Ele andou pelo corredor e parou de costas para mim.

-Foi você quem criou essa prisão para mim. - Disse ele simplesmente.

-Eu não…- Comecei a negar, mas realmente tinha sido eu a criar o portal, mas foi
apenas dessa vez, como ele poderia titular como prisão?

-E o que você vai fazer? - Perguntei.

-Se eu lutar com você, sei que não vai revidar, o que me entediaria muito devo admitir.
- Falava ele mexendo no seu cabelo.

-Mas se eu ameaçar aquele bebê você vai protegê-lo com sua vida, nem que morra
tentando. - Completou ele.

Fiquei calada. Tinha medo que ele usasse isso para machucar a criança, e por que eu
me preocupava com um bebê que na teoria estava na minha frente me ameaçando? Eu
não sabia responder. Mas sim, eu morreria mesmo que aquilo fosse uma grande
pegadinha de Brandon, Aric ou do destino.

-Estranho você não acha? Pois aquela criatura deitada na cama, dormindo, sou eu, e
você quer protegê-la dela mesma. - Disse ele projetando uma parede de ar às minhas
costas que me empurravam em sua direção.

-Esse não é você. - Respondi com o resto de coragem que tinha.

-Sim Jasmin, esse sou eu, apenas não mostro esse lado para todos. - Disse diminuindo
nossa distância.

-Não, essa é apenas uma parte sua que você não tem culpa de possuir. - Retruquei.

-Eu deveria me vingar de quem me concedeu ela, você não acha? - Perguntou.

-Não foi sua tia que fez isso Nyx, foi o caldeirão. - Apressei em dizer.

-MAS FOI ELA QUEM BARGANHOU. - Explodiu ele.

Me encolhi, próximo demais, ele estava próximo demais.

-Talvez eu deva me vingar daquela coisinha que cresce dentro dela. - Disse ele, com um
olhar psicopata.

-NÃO, NÃO E NÃO. - Gritei. - NINGUÉM TEM CULPA DISSO.

Ele apertou meu maxilar, chegou tão perto de meu rosto que nossos narizes se
tocaram, e falou:

-Sabe o que eu ouço desde criança, quando caio nesses transes? - Perguntou ele, mas
logo emendou a resposta. - Que eu era fraco demais, incapacitado, que era um
objetivo frustrado, que eu nunca estaria pronto para a próxima fase, e isso se repetia
todos os momentos em que eu ficava preso.

-Você não é fraco Nyx. - Falei, segurando seu rosto e olhando em seus olhos.

-Sim, eu sou, e por mais que eu queira te matar para acabar com isso, com essa
diminuição, eu ainda não posso. - Falou ele, com sua boca quase encontrando a minha.
-Mas eu não sou mais forte que você Nyx. - Falei em tom de desespero. - E eu nunca
serei. Por favor, esse não é você, o que você fez com o verdadeiro Nyx? - Completei
dando socos em seu peito, e com lágrimas já brotando em meus olhos.

-Ele está bem, não se preocupe. - Disse ele me abraçando, mas sua voz tinha um tom
doentio e desesperado.

-Nyx por favor. - Disse em seu ouvido, passando meus braços por seu pescoço. -Volte
para nós, volte para mim.

Ele me empurrou e eu caí de costas no chão, sua feição se contorceu e ele parecia
travar uma luta contra si mesmo. Me levantei e corri até o quarto, peguei o baby Nyx e
fugi por aquele corredor, procurando por uma saída. O corredor mudou, e agora
estávamos em um interminável paralelepípedo, mas continuei correndo, o peso em
meus braços começou a aumentar e quando olhei para o bebê ele parecia ter
envelhecido alguns meses, aquilo me apavorou e eu continuei correndo até que o peso
foi tanto que tive que parar. Nyx me olhava com seus grandes olhos azuis, mas tinha a
aparência e tamanho de uma criança de cinco anos e não de um recém nascido.

-Não se apavore, continue fugindo. - Disse ele com uma voz dócil.

Segurei em sua mão e continuei correndo, a cada metro que corríamos Nyx parecia
envelhecer ao meu lado. Até que arrisquei olhá-lo e ele já estava com a mesma
aparência e altura dos dias atuais. Parei de correr, seu olhar era amável, bem diferente
do que eu vi minutos atrás.

-Ele está chegando. - Disse ele colocando uma mecha atrás da minha orelha.

-Você precisa me ajudar. - Supliquei.

-Eu não existo Jas,pelo menos não apenas essa parte, estou escondido e preso dentro
dele. - Disse Nyx olhando para trás.

O Nyx raivoso vinha em nossa direção com os olhos totalmente pretos.

-Me encontre dentro dele e me salve. - Disse ele, sua voz calma me alcançando,
quando olhei para onde ele estava, Nyx havia desaparecido;

-Você não vai conseguir salvá-lo Jasmin. Desista. - Uma voz que não pertencia a Nyx sai
daquele corpo.
-Uma pena que pense isso. - Falei, criando a proteção a minha volta, a esfera não
surgiu, eu a moldei ao formato de meu corpo.

-Mas é muito teimosa mesmo, não é? - Continuou ele.

-Pensei que você fosse observador. - Usei suas palavras de mais cedo.

Ele travou por alguns segundos e as sombras em seus olhos tremeluziam, mas logo ele
se recuperou e me atacou.
Eram movimentos limpos e bem direcionados, parecia uma dança, mas uma dança
onde eu não tinha noção dos passos e ritmo. A proteção que me protegia da maior
parte dos golpes, mas ela não era indestrutível, e minhas tentativas de acertá-lo não
foram bem sucedidas.
Suas sombras me envolveram e eu sabia o que fariam em seguida, mas canalizei minha
energia naquela camada reluzente e ela respondeu a mim exterminando as sombras de
Nyx.
Ele sorriu e usou todos seus poderes para criar uma barreira ao meu redor, eu sentia o
calor escaldante, o frio cortante, ondas agressivas e o vento uivando a minha volta.
Estava sendo sufocada pelos elementos. Tentei canalizar minha energia a tempo de
restaurar a proteção mas não foi suficiente e ela se rachou. Quando as luzes douradas
explodiram eu aproveitei a distração e me joguei para cima de Nyx que caiu no chão,
prendi minhas pernas à sua volta para que ele não se movesse, ele foi com as mãos
para minha cintura para me tirar dali mas coloquei minha mão sobre sua testa e
respirei fundo, ele ficou imóvel debaixo de mim.
Procurei em sua mente um resquício daquele garoto amável que todos queriam por
perto.
Usei minhas lembranças boas com ele como uma rede, buscando por algo. Cheguei tão
fundo naquele abismo até que encontrei um garotinho, encolhido e com a cabeça
encostada nos joelhos cantando baixinho.

“Nyx?” Chamei.

Aquele garoto procurou de onde vinha a voz, mas parecia confuso. Assim como no
corredor, ele começou a envelhecer até chegar na idade atual.

“Quem está ai?” - Perguntou ele.

“Venha comigo” - Pedi.

“Estou preso, não posso” - Respondeu.


“Você consegue, Nyx.” - Falei me apressando, eu sentia que meu tempo estava se
esgotando.

“Quem é você?” - Perguntou ele, com o cenho franzido.

Antes que eu respondesse, fui jogada para o lado, e Nyx já estava por cima de mim,
com uma faca fincada em meu abdômen. Tossi e sangue escorreu de minha boca.

-Nyx por favor. - Falei, fraca.

-O NYX NÃO EXISTE MAIS. - Aquela coisa berrou.

-Sou eu Nyx, Jasmin. - Falei sentindo minha visão escurecer. Tinha perdido muito
sangue.

-Quem é Jasmin? - Ele perguntou. Sua voz tinha voltado, mas seus olhos permaneciam
pretos.

-A humana que você salvou, que você deu a chance de viver uma vida digna. -
Respondi, tossindo.

-Jasmin? - Chamou ele, suplicando.

-Estou aqui homem pomba. - Disse usando toda minha força para erguer minha mão e
tocar em seu rosto.

Então sua feição voltou ao normal, era ele mesmo ali e não senti mais medo.

-Tire isso de mim. - Suplicou ele, chorando.

Coloquei a mão em sua testa novamente e procurei pela raiz daquilo, vasculhei e
encontrei como se fosse um monte preto enraizado em seu cérebro. Mergulhei naquilo
e me senti em uma banheira de gelo, quanto mais eu chegava no centro mais eu me
sentia arrepiada e temerosa.
Encontrei, pulsava como um coração e suas raízes se agarravam à mente de Nyx como
se fossem parasitas.

“O que veio fazer aqui?” - Escutei uma voz antiga falar.

“Salvá-lo”. - Falei antes de puxar aquilo para mim.


Nyx gritava, eu gritava, a dor da facada foi inibida e uma luz saiu do corte expelindo a
lâmina e curando-o , essa mesma luz se apossou de Nyx que desabou sobre meu corpo,
o levantando e colocando-o ao meu lado.

Minha cabeça parecia queimar, como se algo estivesse sendo derramado por ela.

“Parabéns, você passou no teste”. - Aquela voz antiga falou.

-Nos leve de volta. - Pedi.

Um portal surgiu acima de nós, Nyx não conseguia se mexer, procurei por sua mão e a
apertei.

-Feche os olhos. - Falei antes do portal nos envolver.

Capítulo 40
Perspectiva Nyx:

Flashes, apenas flashes do que poderia ter acontecido encheram minha mente. Jasmin
ainda segurava minha mão, mesmo depois de aparecermos novamente na arena. Ela
continuou segurando, como se assim ela me mantivesse a salvo daquele abismo. Ela
continuou segurando minha mão mesmo quando todos nos cercaram e despejaram
suas perguntas para nós. Eu me mantinha quieto, processando tudo e Jasmin não
respondia a nenhuma das perguntas, apenas olhava para o nada.

-Obrigado. - Falei.

Todos se calaram, e nos encararam, esperando.

-Eu não fiz nada. - Disse ela, sua voz estava rouca.

-Você me salvou. - Respondi, ela finalmente mirou meu rosto e lágrimas brotaram em
seus olhos.

Me ajoelhei e a abracei, e então eu transmiti toda minha gratidão naquele abraço.

Eu me sentia livre, minha mente estava livre, e era tudo por conta dela.
-Você merece ser feliz Nyx. - Sussurrou ela.

Abri minha mente para que o restante do grupo visse o que ela tinha feito, eu apenas
conseguiria mostrar do momento em que ela me trouxe de volta em diante, o que
aconteceu anteriormente ficaria guardado para mim e Jasmin. E eles entenderam isso.
Meus pais caíram de joelhos e a abraçaram, minha mãe chorava e agradecia sem parar
o que ela tinha feito por mim.
Minhas tias tinham os olhos marejados, meus tios também se emocionaram, um
indício de sorriso surgiu nos lábios de Azriel e Cassian tinha a feição de satisfação.
Ficamos assim por cinco minutos antes de eu a soltar.

-Sem surtos? Nunca mais?- Perguntou Cassian animado.

-É o que espero que aconteça, me sinto livre, como nunca antes. - Respondi.

-Temos que comemorar. - Minha mãe disse animadamente.

Jasmin se levantou e abraçou Adelle que a apertou como se não acreditasse que ela
tinha voltado bem.

-Então você voltou. - Disse Ivar chegando perto dela.

-Você tinha dúvidas? E ainda trouxe o garotão de volta, como solicitado. - Diz ela se
abaixando em uma reverência debochada.

Ele sorriu de forma contida, mas seus olhos mostravam alívio.

-Vamos, vocês precisam descansar um pouco. - Disse Rhysand antes de nos atravessar
de volta a nossa casa.

A cidade permanecia silenciosa, todos provavelmente tinham ido dormir. Nos


separamos cada um seguindo ao seu respectivo quarto, um banho cairia muito bem e
era isso que eu faria. Enquanto eu relaxava na banheira me lembrei dos
acontecimentos do dia, Ivar tinha sido solicitado aquela tarde, apenas para aquele
teste, mas permaneceria ali até o dia do baile, onde iria representar a Corte Primaveril.
Era uma mistura louca de acontecimentos, e claro, o dia não poderia terminar de forma
melhor.
Mas eu me senti receoso, Jasmin puxou aquilo para si mesma, quão mal ela poderia
ficar com isso? Tinha certeza que ela pensava na mesma coisa, mas não preocuparia os
outros, contanto que eu estivesse bem ela fingiria que nada a atormentava, mas era
impossível ficar totalmente bem após tudo aquilo. Meus pensamentos me seguiram
pelo restante do banho, amarrei minha toalha na cintura e saí para o quarto, Zayn
estava em um jogo de xadrez contra Ivar, ambos sem camisa e com os cabelos úmidos,
provavelmente tinham saído do banho a pouco tempo.

-Você é péssimo nisso. - Anunciou Ivar.

-Eu confesso que sou melhor com espadas. - Disse Zayn sorrindo.

Fui até o armário para pegar uma troca de roupa quando bateram na porta, mas logo
em seguida foi aberta por ninguém mais ninguém menos do que Adelle, que não
esperou por uma permissão e marchou quarto a dentro. Aurora e Jasmin entraram
logo atrás dela carregando algumas bandejas nos braços.
Os olhos de Jasmin se prenderam em meu corpo por três segundos antes de desviar o
olhar disfarçadamente.

“Eu sei que tenho um físico incrível Jasmin, cuidado para não babar.” - Falei em sua
mente.

“Creio que Ivar tenha um ou outro músculo a mais.” Respondeu ela encarando o tronco
desnudo de Ivar.

Pigarreei e olhei para Adelle:

-Por que não esperaram por uma resposta antes de invadirem meu quarto? - Perguntei.

-Ah por favor Nyx, não finja descontentamento, trouxemos duas tortas que compramos
na cidade mais cedo e pensamos que seria bom dividir com vocês, e claro, vinho. -
Disse ela se aninhando no colo de Zayn, fazendo com que ele se desconcentrasse
totalmente do jogo.

-Xeque-Mate. - Anunciou Ivar em seguida.

Jasmin gargalhou e Aurora disse:

-Adelle você tem mais poder do que imagina. - Ela entregou uma taça a Jasmin e
completou - Entregue ao nosso vencedor.

Jasmin prontamente levou a taça até Ivar, quando foi entregar, ela tomou em um gole
só a bebida escarlate.
Uma gota escorreu por sua boca e ela prontamente passou a pontinha da língua para
limpar, e me vi hipnotizado na cena.

-Uh-hum. - Fez Aurora.


Percebi que todos esperavam eu me vestir para comermos, peguei uma calça de
moletom e segui para o banheiro novamente. Em dois minutos eu estava de volta,
sentamos em volta da lareira e comemos em um silêncio agradável.
Quando estávamos satisfeitos Zayn nos serviu o vinho, começamos a conversar e
quando percebemos já tínhamos tomado cada um o equivalente a uma garrafa. Adelle
já estava falando de forma enrolada, Zayn tinha suas bochechas coradas, Ivar parecia o
mesmo, como se não tivesse colocado nenhuma gota de álcool na boca. Aurora falava
algo no ouvido de Jasmin que a fazia sorrir genuinamente.

-Um jogo. - Falei, de repente, fazendo todos olharem para mim interessados.

-Qual jogo?- Perguntou Zayn, desconfiado.

-Caça as presas. - Respondi me levantando de forma rápida, tendo que parar por um
momento pois o movimento fez minha cabeça rodar.

-Depois nós que parecemos crianças. - Disse Adelle levantando, sendo amparada por
Zayn.

-Vai me dizer que não quer. - Provocou Jasmin.

-Eu topo. - Falou Aurora também ficando de pé.

-Regras?- Perguntou Ivar, prático como sempre.

-Giramos a garrafa. -Falei pegando uma vazia. - A pessoa que for apontada será o
caçador e o restante terá 3 minutos para se esconder em toda a propriedade, o
primeiro a ser encontrado será punido, o último ganhará um bônus e será o próximo
caçador.

-Qual punição e qual prêmio?- Perguntou Aurora.

-Sabendo de tudo assim perderia toda a graça. - Respondi.

-Ok, vamos logo com isso. - Disse Adelle já se animando.

Coloquei a garrafa no chão e girei, ela rodou por sete vezes antes de parar. Zayn seria o
primeiro caçador.

-Melhor se esconderem bem. - Disse ele antes de dispararmos para fora do quarto.
Zayn conhecia todos os esconderijos daquele lugar e procuraria por eles primeiro, eu o
conhecia, ele nunca ia ao local mais óbvio antes. Então corri para a dispensa, tinham
várias prateleiras, me esgueirar por uma delas seria simples, e caso ele passasse pelo
andar de cima ou pela cozinha eu o escutaria e usaria a porta secreta como fuga.
Estava a alguns minutos parado ali quando ouvi passos, porém eram indecisos mas
firmes. Zayn sabia se mover como sombras quando queria, então não era ele. Um feixe
de luz se apossou do lugar pelo tempo estritamente necessário para que uma silhueta
se esgueirasse para dentro da despensa. Jasmin.

Ela andou de costas para mim, olhando para a porta o tempo todo, provavelmente não
me viu ali quando entrou.
Quando suas costas se chocaram contra mim tapei sua boca reprimindo o grito que
provavelmente sairia de seus lábios. Seu coração acelerou e aos poucos ela foi se
virando para ver quem era, quando viu meu rosto seu semblante se tranquilizou e sua
respiração se normalizou.
Coloquei um dedo sobre meus lábios pedindo silêncio e retirei minha mão de sua boca,
ela se encolheu ali no canto comigo e ficou estática. Mais três minutos se passaram e
ouvi Zayn por perto, cutuquei seu braço, ela ergueu os olhos para mim então apontei
para uma porta secreta a nossa esquerda, usei meu poder para extinguir nosso cheiro,
e Zayn não seguir nosso rastro, e para abafar o barulho da pesada porta ao se abrir.
Quando acenei positivamente Jasmin abriu a porta e entrou na passagem, e eu entrei
em seguida já selando-a. Aquela passagem se dividia em cinco corredores, cada um
dava acesso a uma parte da casa. Achei melhor evitarmos um lugar muito aberto, o
que sobrava o corredor que daria acesso ao quarto de visitas ou a biblioteca.

“A biblioteca pode ser uma boa ideia” - Ouvi a voz de Jasmin em minha cabeça.

Confirmei, ela acendeu uma chama para iluminar o caminho e apontei para qual
corredor Jas deveria seguir. Andamos em silêncio por cinquenta metros e chegamos a
uma parede de pedra, coloquei minha mão sobre ela que brilhou com o toque e abriu
uma passagem. Ao passarmos por ela, a porta se fechou. Estávamos de fato na
biblioteca.
Inspecionei o local e procurei por esconderijos, Jasmin fazia o mesmo. Ouvimos um
ranger de madeira contra o assoalho e me esgueirei para ver do que se tratava, Jas me
seguiu de perto, a biblioteca tinha uma porta que dava a um local mais privativo de
leitura, onde Nestha geralmente ocupava quando estava na casa, e era dali que o
barulho vinha. Abafei o som à nossa volta e entramos, Ivar estava sentado na cadeira,
de costas para a porta, folheando um livro.

-Silêncio. - Disse Jasmin de onde estava.


-Espero que tenha algum local seguro nesta sala, pois Zayn vai aparecer aqui em menos
de quarenta segundos. -Disse ele simplesmente. - Ele estava me rastreando. -
Emendou.

Comecei a procurar por um livro específico na estante, e Jasmin me olhava com um


ponto de interrogação na testa. Quando encontrei aquele com capa em couro preto e
escritas douradas o inclinei, um espaço de menos de um metro e meio de largura foi
exposto. Logo entrei e pedi para que Jasmin viesse.

-Ele me encontrará, vê se disfarça o cheiro de vocês. - Disse ele.

Jasmin revirou os olhos, pegou em sua mão e o puxou para aquele cubículo conosco.

-Disfarce o cheiro de nós três. - Ordenou ela.

A porta se fechou e segundos após ouvi passos do lado de fora.


Dessa vez estavam agitados, como se esperasse encontrar alguém ali.

-Sei que está aqui em algum lugar, Ivar. - Gritou Zayn. - Você tem sorte de eu ter faltado
no dia do tour dessa ala.
Jasmin continha uma risada e esperamos até que ele estivesse fora dali para
arriscarmos a dizer algo.
Minutos se passaram e então me dei conta de como estávamos, Jasmin estava
espremida entre eu e Ivar. Ele olhava para o teto com a cabeça apoiada na parede,
batucando os dedos no ombro de Jas. Ela apenas encarava os pés e suas mãos
pendiam do lado de seu corpo.
Seu peito começou a subir e a descer mais rápido, ela não gostava de lugares
apertados, deu para perceber. Sem que o pânico ameaçasse crescer,então, Ivar criou
uma brisa que nos refrescou ali, Jas respirou fundo e começou a se acalmar.

-Qualquer outra pessoa estaria aproveitando esse momento, não é? - Perguntou ela,
com uma ironia contida.

-Talvez… - Respondeu Ivar.

-Claro que sim, somos incríveis, não finja que não vê isso. - Debochei.

-Já vi machos mais bonitos. - Disse ela, de forma cínica se virando de frente para mim.

-Eu duvido muito. - Falei, entrando na onda.

-Cuidado, não se sinta ameaçado. - Jasmin disse dando de ombros.


Minha respiração vacilou diante da provocação contida.

-Não tenha tanta certeza disso, Jasmin. - Disse Ivar diminuindo a distância entre ela, a
empurrando contra mim.

Jas espalmou as mãos sobre meu peito para se equilibrar enquanto Ivar segurava sua
cintura. Uma carga elétrica passou por todo meu corpo e eu me arrepiei, não fiz nada
esperando a reação dela, sabia que Ivar estava apenas a provocando e se ela não
quisesse mais brincar ele não a tocaria. Porém o olhar travesso que ela nos lançou
disse outra coisa.

-Ainda estou em dúvida, no acampamento tem machos muito interessantes. - Disse ela
de forma manhosa.

Ivar tirou o cabelo do pescoço de Jasmin e começou a passar os lábios ali, ela se
arrepiou e intensificou seu aperto. Inclinei minha cabeça pra frente segurei seu maxilar
a fazendo olhar para mim, passei meu dedo por seu lábio inferior, ela o umedeceu me
fazendo perder um pouco o controle. Mordi o lóbulo de sua orelha e senti que seu
rosto se aqueceu.
Minhas mãos começaram a passear por seus braços, uma das mãos de Ivar
permaneceram em sua cintura e a outra segurava seu cabelo enquanto ele beijava toda
a extensão de pele desnuda de Jasmin na região do pescoço.
Ela encarou meus lábios e suas pupilas dilataram, Jas então puxou Ivar para que ele
ficasse ao meu lado, ela beijou meu pescoço trilhando um caminho de beijos até o
lóbulo de minha orelha e repetiu a mesma ação em Ivar, minha respiração já estava
descompassada, Ivar tentava se controlar assim como eu, mas vê-la nos provocando e
provando dessa forma não ajudava. A empurrei de costas para Ivar que a segurou e
parei minha boca a centímetros dela.

-Vocês são definitivamente os machos mais lindos que eu já vi. - Disse ela com a voz
rouca, antes de uma voz familiar soar:

Não percebemos que a porta havia sido aberta, provavelmente me distrai pelo tempo
necessário para que o nosso cheiro se espalhasse.

-Ora ora ora, deveriam ter me convidado para a festinha. - Disse Zayn com um sorriso
debochado no rosto.

Jasmin logo se desvencilhou de nós dois e saiu dali com o rosto queimando de
vergonha, e pela primeira vez em toda minha vida eu desejei matar Zayn.
Capítulo 41
Perspectiva Jasmin:

O que tinha dado em mim? De onde eu tirei que essa seria uma boa ideia? E a
pergunta principal, por que eu havia gostado? Por que fiquei brava quando Zayn
interrompeu?
Eu bebi muito, provavelmente seja por isso que eu tinha agido daquela maneira, e é
claro que eu culparia a bebida por isso.

Acabou que Aurora foi a última a ser encontrada e Adelle a primeira. Jogamos mais três
rodadas, onde Ivar, Adelle e eu fomos os caçadores. Fugi de Ivar e Nyx de todas as
maneiras, nem saberia como olhar em suas caras depois disso.
Quando o cansaço nos alcançou fomos direto para o quarto de Nyx onde dividi a cama
com Aurora enquanto Adelle dormiu com Zayn em um sofá cama que tinha por ali e
Nyx e Ivar dormiram no chão. A punição cairia sobre mim, Adelle, Zayn e Aurora, pois
tínhamos sido os primeiros a sermos encontrados nas rodadas, porém só saberíamos o
que aconteceria na manhã seguinte.

Acordei e senti cada articulação do meu corpo doer, não tinha uma parte que se livrou
da dor, o quarto permanecia escuro e todos dormiam, era um milagre não terem nos
chamado para os treinos matinais, então algo de muito errado estava acontecendo. Me
olhei no espelho e vi profundas olheiras marcando meu rosto, ali não tinha meus
pertences pessoais então apenas segui para o quarto onde estava ficando. Chegando lá
fui direto para a sala de banho, escovei meus dentes, passei uma máscara hidratante
de mel e cidreira no cabelo e entrei na banheira para relaxar. Sentia que a casa estava
cheia, murmúrios preenchiam cada canto dela, e eu me perguntava o por que. Enrolei
ali por alguns minutos antes de criar a coragem necessária para finalizar meu banho, e
foi isso que fiz. Agora eu me olhava no espelho enquanto desembaraçava minhas
mechas já hidratadas.
Ouvi passos vindo do quarto e imaginei que se tratava de Adelle querendo utilizar o
banheiro, então apertei o nó do roupão em minha cintura e saí dali.

-Finalmente. - Disse uma voz, mas que não pertencia a Adelle.

Aric.

Travei no mesmo instante, o que ele estava fazendo ali?


-O que você quer? - Disparei.

-Apenas te dar os parabéns, não foi inteligente o que você fez ontem na arena mas de
alguma forma deu certo. - Disse ele.

-Ok, você já disse, agora saia daqui. - Falei dando um passo à frente.

-Se prepare Jasmin, estaremos de olho em você nos próximos dias, você passou em
todos os testes até agora, porém ainda tem mais um, aproveite os seus últimos dias da
melhor forma. - Soltou ele simplesmente, e sumiu.

O que?

O que ele quis dizer com meus últimos dias? Qual era o teste final? Onde estava
Brandon?

Entrei em estado de choque, minha cabeça começou a latejar e de repente aquele


quarto estava pequeno demais, me sufocando. Corri até a sacada, abri as portas e
fiquei por ali. Respirei fundo várias vezes, me obrigando a não entrar em pânico.

-Está tudo bem, está tudo bem, ele só está tentando te apavorar. - Falei para mim
mesma.

-Nada vai acontecer comigo, e eu vou passar no último teste e eles me deixarão em
paz. - Continuei conversando comigo mesma.

“Sinto seu desespero daqui, está tudo bem?” - A voz de Feyre falou em minha mente.

Pensei em mentir, céus como eu queria fingir que estava tudo bem, mas chega de
esconder as coisas deles, eles mereciam a minha honestidade.

“Tenho que aproveitar meus últimos dias, ainda não acabou, o teste final virá” -
Respondi simplesmente.

Em um minuto, Feyre entrou no quarto com o semblante aflito, eu ainda estava parada
na varanda como uma estátua.

-Jasmin… - Começou ela, a bondade em sua voz vacilando com o medo.

-Não conte a eles. - Pedi simplesmente. - Não quero que olhem para mim e enxerguem
apenas meus dias contados. Quero viver, apenas isso, por favor me permita guardar
isso deles pelo menos até o teste final. - Falei com lágrimas molhando meu rosto.
Ela me abraçou e me permitiu chorar, eu sentia que estava me desfazendo aos poucos,
como se pequenas partes de mim se perdessem através dos dias. Eu era como uma
barragem prestes a romper, e traria muita destruição por onde quer que passasse e
isso me assombrava. Não queria simplesmente machucar aqueles que fizeram tanto
por mim, mas porque esse sentimento se apossava de mim?

-É sua vida, seu direito de guardar isso. Mas se você aceita um conselho, não esconda,
jamais, algo que está te destruindo das pessoas que a amam. - Disse ela segurando
meu rosto. - Não sabemos o que está acontecendo Jasmin, nem que teste é esse, ou
por que te ameaçaram dizendo dos seus dias, mas de uma coisa eu sei bem, sempre
tenha esperança, mesmo que a situação na qual você se encontre esteja querendo
arrancá-la de você. Você é forte, nunca vimos tamanho poder, e faremos de tudo para
ajudá-la a superar isso. Não tenha medo de enfrentar seu destino Jasmin, apenas você
pode dar um basta nisso.

Suas palavras atingiram meu coração em um ponto onde mais doía, e me


reconfortaram. Ficamos abraçadas até que eu me acalmasse.

-Como você sentiu meu desespero?- Perguntei.

-Seus muros mentais são fáceis de penetrar, então eu saberia como você estava
sentindo apenas de atravessar por eles. Mas dessa vez seu desespero cantou para mim,
não precisei entrar em sua mente para saber, eu simplesmente soube. - Respondeu ela
dando um beijo em minha testa.

Pensei naquela resposta, mas preferi mudar de assunto do que descobrir como meu
desespero cantou para Feyre.

-Por que a casa está cheia? - Questionei novamente.

-Bem, você libertou meu filho de uma prisão que durava a décadas, não podíamos
simplesmente deixar de agradecer da maneira apropriada. - Disse ela alisando a saia de
seu vestido roxo.

-E o que vocês entendem como maneira apropriada? Me jogarem para treinar com
Azriel outra vez? Por que eu vou, educadamente, recusar o agradecimento. - Falei
sorrindo.

Feyre gargalhou e disse, saindo do quarto, que eu iria gostar da surpresa. Aproveitei
aqueles momentos sozinha do lado de fora na sacada por mais dez minutos e quando
eu iria entrar novamente para colocar uma roupa, bateram na porta.
-Ade? - Chamei.

Como ninguém respondeu, abri apenas um pouco e vi Ivar parado ali, com o rosto
amassado e cabelos desgrenhados me encarando.

-Pois não? - Perguntei colocando as mãos na cintura.

-Preciso usar sua ducha. - Respondeu ele, abrindo a porta e entrando no quarto.

-Ei. - Falei segurando seu braço. - Você tem seu quarto.

-Dessa vez eu iria dividir com Zayn, mas ele resolveu me chutar e levar Adelle para lá,
creio que ela seja uma companhia mais agradável. - Respondeu ele se soltando do meu
aperto.

-Tem mais de dez quartos nessa mansão, porque você está justamente nesse? -
Perguntei novamente me colocando em sua frente e tentando o empurrar para fora do
quarto.

-Fiquei com vontade de vir aqui, e saiba que percebemos você fugindo de nós ontem. -
Disse ele com um sorriso presunçoso nos lábios.

Minha força vacilou por um momento e bastou para que ele me empurrasse para o
lado e entrasse no banheiro. Meu rosto esquentou apenas de lembrar da minha
atitude embaraçosa.

-Eu não fugi. - Falei tentando mascarar o óbvio.

-Podemos fingir que não, caso você se sinta melhor, mas vai me dizer que não disse
para nós que éramos os machos mais lindos que você já vira? - Disse ele do banheiro.

-Vocês alucinaram. - Gritei, disfarçando uma risada.

Ouvi sua risada do banheiro e depois silêncio. Aproveitei a paz momentânea e fui até o
armário procurar por uma troca de roupa.
Peguei um vestido verde claro de manga curta com um pequeno decote coração na
parte da frente, era rodado e fresco. Me troquei rapidamente e coloquei o roupão
dentro de um cesto que tinha por ali, e resolvi pegar um livro para iniciar a leitura.
Sentei em uma poltrona e me perdi nas palavras. Trinta minutos depois deixei o livro
de lado e percebi que Ivar não tinha feito um barulho sequer, andei até a porta do
banheiro e chamei por ele. Não houve resposta. Esperei por uns segundos e bati
novamente, nada.

-Ivar sua besta loira responde. - Disse bufando.

Nada.

Respirei fundo algumas vezes e girei a maçaneta, e o vi com o corpo todo submerso na
banheira coberta de espumas com apenas a cabeça apoiada na borda e seus olhos
fechados.

-IVAR. - Gritei.

Nada.

Como ele era engraçadinho. Cheguei bem perto dele e puxei sua orelha, seus olhos
verde esmeralda me encararam e um sorriso travesso surgiu em seus lábios. Ah,
merda.
Quando percebi eu já estava dentro da banheira encharcada da cabeça aos pés.

-Seu ridículo. - Berrei, saindo da banheira e deixando um rastro de água por onde eu
andei.

Ele gargalhava, e era um som tão incrível de se ouvir, mesmo que eu estivesse
querendo matá-lo.

-Você tinha que ver sua cara. - Dizia ele quando conseguiu parar de rir.
Cruzei meus braços e o olhei com a forma mais ameaçadora que conseguia.

-Amo sua cara de brava, nem adianta tentar me intimidar assim. - Disse ele dando de
ombros e levantando da banheira.

Virei de costas o mais rápido possível, meu rosto queimando de vergonha. Ele passou
direto por mim e foi para a ducha, eu poderia olhar, eu sabia que podia…

FOCO JASMIN, FOCO.

Respirei fundo e comecei andar até a porta, quando estava prestes a sair ouvi a voz de
Ivar:

-Vai molhar o quarto todo, e você está cheia de sabão.


-E o que você sugere? Que eu entre nessa ducha e tome um banho com você? -
Perguntei de forma irônica virando-me para olhá-lo.

Me arrependi no segundo em que lembrei da maneira em que ele se encontrava, mas


Ivar estava a metros de mim, vestido com sua calça moletom encharcada. Seu olhar
dizia que não seria uma má ideia, e o sorriso em seu rosto mostrava que se eu quisesse
ele faria.

-Não seria uma das piores ideias que você já teve. - Zombou ele.

-Hahaha. - Falei olhando em seus olhos, esforçando ao máximo para não analisar seu
corpo.

-Olhar não arranca pedaço Jasmin, e sério que você pensou que eu estaria nu? - Disse
ele de forma implicante.

-Não sabia que feéricos tinham costume de tomar banho de roupa. - Devolvi.

-Não seja por isso. - Disse ele levando a mão ao cós da calça.

-OK, CHEGA. - Falei me virando mais uma vez.

Em um milésimo de segundo senti sua presença muito próxima a mim, e o calor de seu
corpo emanava no meu, meu coração acelerou, eu estava ansiosa pelo o que viria a
seguir.

-Sabe de uma coisa? - Perguntou ele beijando meu pescoço, e prensando seu corpo
contra o meu.

-Hmm. - Respondi tentando pensar com clareza.

-Eu não sou nada ciumento. - Continuou ele.

-E por que você pensou que eu gostaria de saber disso? - Rebati.

-Não sei coelhinha, quem sabe essa informação sirva para algo no futuro. - Disse ele
me virando de frente para ele.

Sua boca pairava a centímetros da minha, e o encarei com um súbito impulso se


formando.
Ele beijou o canto de minha boca o que me fez estremecer de surpresa, e disse em
meu ouvido:
-Nunca mais me provoque daquela maneira.

E sumiu.

-SEU MALDITO. - Gritei para o banheiro já vazio.

Quarenta minutos depois, tive coragem de sair do quarto e andar pela casa, na
verdade foi a fome que eu estava que me levou a sair dali. Quando cheguei na sala de
jantar, ela já estava sendo organizada para o almoço, Adelle não tinha dado as caras e
eu imaginava bem o porquê. Aurora tinha ido no quarto porém logo saiu dizendo que
Rhysand e Feyre finalmente a levariam para ver seus pais por alguns minutos, já que a
praga por lá estava apenas se alastrando. Me senti culpada pois o plano era eu voltar
da primaveril e ir para a invernal ajudar na causa, porém primeiro eu precisava
encontrar um jeito de não roubar as memórias deles junto. Ela estava radiante por
matar a saudade deles mesmo que rapidamente, e me animei por ela.
Eles já deveriam estar voltando nesse momento.
Um cheiro delicioso de bacon entrou por minhas narinas e fui atraída até a cozinha
onde Elain preparava algo por lá.

-Olá Jasmin, como você está? Espero que com fome. - Falou ela de forma meiga, seu
avental estava sujo, parecia que ela estava com a mão na massa a algum tempo.

-Sempre com fome, estou bem, e você ?- Devolvi a pergunta.

-Estou muito bem, confesso que o acontecimento de ontem me deixou ansiosa e


cozinhar me acalma. - Disse ela sorrindo de forma contida.

-Eu costumo comer para a ansiedade passar, eu diria que nos completamos. - Brinquei.

Ela sorriu e olhou em meus olhos, pela primeira vez, e me encarou por um momento
antes de curvar seu corpo sobre a bancada com uma careta de dor estampada em seu
rosto. Avancei até ela perguntando se estava bem, e se eu podia fazer algo para ajudar.

-Está tudo bem, só me ajude a sentar um pouco, sim? - Ela falou forçando um sorriso
pacifista.

Ajudei Elain a se acomodar em uma cadeira e peguei um copo de água para ela. Ela
acenou em agradecimento e ficou quieta por uns instantes. Fui até o local onde ela
preparava a receita com bacon e vi que ele estava quase no ponto.
-Diga o passo a passo e eu assumo daqui. - Falei de forma autoritária.

-Está tudo bem Lady Jasmin, estou melhor. - Mas percebi em sua voz a mentira.

-Posso não sentir a emoção como os feéricos, mas sei que está mentindo Elain, e está
tudo bem, não sou um desastre completo na cozinha. - Tentei descontrair.

Ela me analisou por alguns segundos antes de aceitar minha ajuda e me passar o passo
a passo do creme de bacon que estava terminando de preparar.
Assim que finalizei batemos palmas pois o cheiro estava incrível, levamos para a mesa
onde todos nós poderíamos degustar daquele banquete. A sala de jantar estava
abarrotada de pratos e condimentos diferentes, sem falar das incontáveis sobremesas
dispostas.

-Ok, ou eles chegam em dois minutos ou comeremos sozinhas aqui Elain. - Falei
olhando para ela.

-Eu apoio essa ideia Lady Jasmin. - Emendou ela apertando meu ombro.

Em cinco minutos todo o círculo íntimo estava reunido ali, parecia um almoço em
família, ou pelo menos eu sentia isso. Aurora estava mais calada que o normal, mas
respeitei seu espaço e não me intrometi. Amren parecia me analisar demais, e me senti
incomodada por alguns momentos, mas julguei que era algo natural dela. Quando
todos nos sentamos à mesa Rhysand disse:

-As comemorações do dia começaram, não tiramos vocês da cama para treinar pois
imaginávamos que precisariam de um descanso maior, mas não se acostumem. - Disse
ele arrancando uma risada de cada um ali.

-Tudo isso está acontecendo graças a você Jasmin, e agradecemos de todo nosso
coração pelo resto da eternidade. - Disse Feyre sorrindo.

-Você libertou meu filho de sua cela mental, e jamais poderemos expressar tamanha
gratidão. - Disse Rhysand, se ajoelhando.

Feyre seguiu o exemplo do marido, seguido por Nyx e o restante das pessoas, até Eva
estava ajoelhada olhando com sua carinha sapeca.
A cena me deixou sem palavras, todos naquela sala se curvaram para mim por eu ter
salvo o herdeiro daquela Corte. Eu tinha ajoelhado aos meus pés os Grão-Senhores
mais poderosos do mundo, os guerreiros mais temidos, a imediata sombria, a morte
encarnada, todos curvando seus corpos para mim. Uma humana. Uma ninguém.
-E-eu. - Tentei falar. - Eu faria isso por cada um de vocês, sem pensar, por mais que
tenha um ou outro que não goste tanto assim de mim. - Brinquei olhando para Azriel,
que sorriu sem graça.

Eles permaneceram ajoelhados e eu estava me sentindo deslocada e estranha, então


disse:

-Por favor se levantem, me sinto feliz por ter ajudado. - Falei, me atrapalhando nas
palavras.

Feyre e Rhysand se levantaram e o restante seguiu o exemplo, se sentando novamente


à mesa.

-Temos uma dívida infinita com você, por favor nos diga o que precisa e faremos. -
Disse Feyre sorrindo antes de se sentar e começar a se servir.

Em minutos estávamos envoltos em uma animada e descontraída conversa. Mas minha


mente estava focada em um ponto que me causava admiração sem limites. O amor dos
pais pelo filho, tinha plena certeza de que eles não se curvaram a ninguém durante
suas vidas, mas pelo filho, eles se curvaram sem remorso. Foi com felicidade e
contentamento, o sofrimento do filho era duplicado nos pais que não conseguiram
fazer nada para impedir. Os tios e tias, se curvaram não apenas para seguir o exemplo
dos Grão-Senhores, mas para expressarem sua gratidão por eu ter colocado um ponto
final naquilo, finalmente. Que amor era esse? Eu me perguntava se em algum
momento meu pai faria algo nesse sentido por mim, minha mãe faria, eu tinha plena
certeza disso. Meu pai? Provavelmente me deixaria viver na agonia por toda minha
miserável vida. O que ele diria caso me visse agora? Com os seres mais poderosos de
joelhos para mim… a cara que ele faria, eu daria tudo para ver. Mas por que eu me
sentia tão inútil? Como se não fosse merecedora daquela gratidão e agradecimento.
Viver toda minha vida envolta a um ambiente hostil, onde palavras agressivas eram
lançadas a cada minuto dos meus dias, onde a agressão física era recorrente,
certamente poderia ter influenciado em como me sinto insegura hoje. Mas se eu
passasse pelo teste final, e tinha planos de continuar viva, essa insegurança teria que
sumir. Então coloquei um sorriso no rosto e fingi contentamento, talvez fingindo com
certa frequência essa sensação se tornaria real.

“Aproveite seus últimos momentos”- Lembrei.

E eu faria isso, com classe.

-Tem alguma costureira que vocês conhecem por aqui? - Perguntei.


Todos da mesa me olharam, curiosos do porquê daquela pergunta.

-Criamos o projeto de nossas fantasias para o baile, porém o nível de dificuldade está
acima do que conseguiríamos fazer com o tempo que nos resta. - Expliquei.

-Tenho a pessoa certa para isso. - Respondeu Morrigan sorrindo animada.

-Podemos ver os projetos? - Perguntou Nestha.

-Claro. - Respondi me levantando e indo até o quarto onde estavam guardados sob a
escrivaninha.

Trouxe de volta e mostrei a elas, que se empolgaram com a ideia de irmos inspiradas
em pássaros, e perguntaram se poderíamos fazer alguns desenhos para todas, e que
deixariam em nossas mãos. Adelle logo se empolgou fazendo perguntas de seus gostos
pessoais, até Amren parecia inclinada a ideia de usar uma fantasia criada por Ade. Os
homens se levantaram da mesa nos deixando a sós para planejarmos. Adelle pegou seu
caderno e sua pena para começar a desenhar, enquanto eu e Aurora íamos dando
ideias, as mulheres não deram um pio durante todo o tempo que ficamos discutindo
sobre o que colocar ou não, cores, detalhes. Percebi o empenho de Adelle em fazer
com que elas gostassem do que ela desenhasse, então quis ajudar minha amiga o
máximo que pude. Aurora também percebeu, e usou sua memória fotográfica para
montar uma paleta de cores que se lembrava de cada uma ter usado no tempo em que
conviveu com elas. Ao fim de duas horas tínhamos mais oito projetos e meio. Amren,
Elain, Nestha, Feyre, Gwyn, Emerie, Morrigan e Evangeline receberam seus desenhos e
o sorriso no rosto de cada uma aqueceu meu coração.
Para Elain, pensamos em seguir um tema mais floral, um collant nude seria usado
como parte de baixo, um tecido rosa seria colocado por cima cobrindo apenas seu
ombro esquerdo, fazendo uma manga solta, e descendo como uma saia lateral,
deixando suas pernas à mostra, uma meia no tom da pele de Elain seria bordada com
ramos de flor, como se estivessem subindo por sua perna esquerda. No braço esquerdo
seria adicionada uma longa luva do mesmo tom do collant. Uma flor seria
ornamentada em seu cabelo. Elain seguia uma proposta mais simples e disse que amou
a alternativa do sexy porém romântico que a roupa trouxe.
Descobrimos que Nestha dançava, então Ade criou um modelo inspirado no ballet. O
tecido seria preto, usaria um espartilho preto, com um decote coração e tomara que
caia. Correntes pretas atravessariam seu pescoço em camada largas. Suas pernas
estariam à mostra, dando destaque às sapatilhas de ponta, que teriam as tiras maiores,
subindo até quase seus joelhos. Ao invés da saia de tutu, Ade desconstruiu colocando
duas saias laterais, as tiras teriam início abaixo de seus seios e se dividiriam quando
chegassem na altura do quadril, e desceriam como cascatas por suas pernas, trazendo
um movimento extra.
Para Amren apostamos em um look sexy, usaríamos um tecido que lembra a textura da
pele de cobra, seria na cor prata, como um macacão desconstruído, uma perna direita
ficaria desnuda com apenas duas faixas presas a sua coxa, enquanto a esquerda seria
coberta até seus pés, o lado que sua perna ficaria coberta, contaria com uma manga
longa que teria luva já implementada. No braço direito, algumas faixas seriam presas
ao braço de Amren, uma gargantilha de couro preto e correntes pratas seriam
adicionadas. Uma jóia de corpo, que contornaria sua cintura e perna direita, na cor
prata, também comporiam o look.
Feyre era a rainha das estrelas, como gostava de imaginar, pensei em uma fantasia
inspirada no anjo da noite, A parte de cima do vestido seria no preto, mas de suas
coxas para baixo entrariam em um degradê passando do roxo a um azul escuro, com
brilhos representando as estrelas. O vestido seria justo na parte de cima, e na saia ele
seria muito rodado, mas em camadas, com uma fenda que deixaria sua perna esquerda
toda exposta. A parte de cima teria um profundo decote em “v”, as jóias seriam pretas,
e uma grande asa seria adicionada a suas costas, por mais que ela pudesse conjurar
uma real, as penugens seriam pretas e na pontinha também teria o degradê.
Gwyn, foi a que menos tivemos contato durante todo o tempo que estivemos aqui,
então foi um pouco mais difícil, mas pensamos que ela combinaria com borboletas. As
cores principais seriam azul e rosa. O vestido seria curto e justo, em seu busto, faixas
coloridas seriam colocadas, a parte da saia seria apenas plissada na cor branca,
seguindo o sentido das faixas. Seria um vestido tomara que caia, de suas costas, teria
uma cauda em camadas, iria do azul, descendo pro rosa e por fim, branco. Asas
coloridas seriam adicionadas na fantasia, seriam divididas em duas de cada lado.
Morrigan gostava da cor vermelha, então pensamos no elemento principal ser o rubi.
Apostaríamos nos detalhes bordados com a pedra, seria um vestido sereia, com uma
fenda enorme na perna esquerda, as luvas seriam do mesmo tom avermelhado,
subindo com o bordado dando um toque único. O decote em “v” traria a sensualidade
que Mor exalava, um bordado de rubi desceria por seu busto, no mesmo formato do
decote. Seus ombros e pescoço teriam correntes vermelhas simulando uma manga,
descendo assim até a metade de seu antebraço e depois essas correntes seriam
alongadas para trazer movimento.
Emerie era mais misteriosa e evitava os holofotes, achamos que uma fantasia de pirata
daria conta de enaltecer sua personalidade, mas tomamos cuidado para ficar
impecável e não parecer desleixado. O ponto alto seriam as ombreiras bem marcadas,
juntaríamos uma capa mas decidimos fazer ela compactuada em toda a roupa, então
por baixo teria um vestido no mesmo tom de vermelho de Morrigan, com um decote
mais fechado, a parte da frente seria mais curta e a de trás alongada. Teriam botões na
parte da frente do vestido. A parte do busto mostraria uma singela faixa da pele de
Emerie, pois logo em seguida a capa se fecharia em seu pescoço em uma gola alta, com
detalhes bordados em dourado. Na barra da capa seriam adicionados os mesmos
detalhes. Uma bota de cano longo em couro, e ponto.
Me lembrei do sonho que Eva havia compartilhado comigo e criamos um vestido digno
da realeza, rosa e dourado, para ela. O vestido não iria até o chão para evitar quedas, e
uma asa sublime cor de ouro seria colocada. Flores adicionais desceriam em cascatas
pela saia rodada, o corpete seria todo bordado com mini borboletas que brilhavam.
Pegamos os desenhos, os tecidos que havíamos comprado, e fomos todas a costureira
onde tiramos nossas medidas, fizemos os ajustes necessários em cada modelo e
deixamos nas mãos talentosas daquela feérica, que nos garantiu que ficaríamos
belíssimas.

Enquanto andávamos pela cidade eu percebi a admiração daquele povo por seus
senhores, todos sorriam e cumprimentavam Feyre após uma rápida reverência, alguns
trocavam conversas com ela, que sempre sorria atendendo a todos, pareciam tão
felizes ali que era bonito de ver.
Outros pareciam meio receosos por conta do grande grupo que andava pelas ruas dali,
mas sempre muito educados, cumprimentando a todas nós.
Quando retornamos para a mansão já estava na metade da tarde, e foi anunciado que
teríamos um dia de princesa. Fomos encaminhadas para uma gigantesca sala, com
onze banheiras, todas formando um círculo, bolhas coloridas estavam sobre a água, e o
vapor era notado de longe. Nos trocamos e cada uma entrou em sua respectiva
banheira, assim que meu corpo entrou em contato com a água o senti relaxar
automaticamente.

-Isso era tudo que eu precisava. - Comentei com Adelle que estava ao meu lado,
radiante.

-Nem me fale. - Respondeu ela.

Alguns minutos se passaram, com algumas conversas paralelas, todas pareciam muito à
vontade, o que era ótimo.

-Qual foi o primeiro contato de vocês com seus parceiros? - Perguntou Aurora.

Feyre sorriu e prontamente respondeu:

-Ele me salvou de ser a presa de dois feéricos, nada romântico.

Rimos e Nestha disse em seguida:

-Eu o vi com minha irmã, quando eu era apenas humana e eles visitaram nossa casa, a
única coisa que eu sentia era raiva.
-Quando fui transformada Lucien disse na frente de todos que eu era sua parceira. -
Disse Elain com um sorriso contido.

-Ok, Zayn definitivamente faria algo assim. - Disse Adelle sorrindo.

-Eu vi Emerie treinando, e algo nessa gatinha fez com que eu me intrigasse para
conhecê-la melhor. - Disse Morrigan mandando beijos para Emerie, que sorriu e
retribuiu os beijinhos.

-O meu me salvou do pior momento de minha vida. - Disse Gwyn de forma quase
inaudível.

-Bem, o meu quase me matou, e logo em seguida ele quase ficou sem as tripas. - Disse
Adelle passando a mão por cima das bolhas.

Nestha gargalhou e disse que todas tinham histórias incríveis para contar.

Então começaram a compartilhar histórias hilárias sobre seus relacionamentos, eu não


conseguia parar de rir, uma pior que a outra.
Algumas moças entraram no local e iniciaram uma massagem em nossos ombros, e foi
assim a tarde inteira, sendo paparicada até dizer chega. Eu poderia viver pelo resto da
eternidade assim sem me incomodar. Quando o sol começou a se pôr, Feyre disse que
tínhamos um compromisso às 20:00, para irmos nos arrumar, que seria a
comemoração final.
Aurora,
Adelle e eu, seguimos para nosso quarto. Ao chegar lá tomamos um banho apenas
para retirar o creme usado em nosso corpo durante a massagem. Aurora não parecia
animada, então enquanto Adelle estava no banheiro eu perguntei:

-O que te incomoda?

Ela me encarou por alguns instantes antes de dizer:

-Me sinto culpada por estar vivendo da melhor maneira aqui, enquanto meus pais
lutam contra a praga.

-Acho que posso te entender um pouquinho. - Falei. - Eles planejaram sua vinda, e você
está honrando com o combinado, está se tornando mais forte a cada dia, é exatamente
o que eles queriam. Eu prometo a você que encontrarei uma solução o mais rápido
possível e vou acabar com a praga da Invernal, eu juro. - Emendei, segurando suas
mãos.
-Você é um anjo. - Disse ela me abraçando.

Ficamos assim por alguns instantes antes de Adelle aparecer e começarmos a


produção.
Escolhi um vestido justo verde jaspe de seda, e as alças dele eram feitas de pedras, e
desenhava todo o meu corpo, seu comprimento era longo, com uma ousada fenda nas
laterais, permitindo que apenas uma tira de tecido no meio de minhas pernas
escondesse algo.
Adelle ainda escolhia algo do armário quando um toque suave na porta fez com que
ela fosse atraída até lá, quando abriu, viu uma caixa preta com um grande laço amarelo
e um bilhete.

“Para minha abelhinha”

Quando abriu, reprimiu um grito e pulou de felicidade retirando um vestido dourado


dali.
Ela o colocou sobre o corpo e seus olhos se iluminaram, uma palavra descreveria
aquele vestido, impecável.
Ele era um vestido justo, curto, com um decote generoso, uma fenda se iniciava logo
em seu quadril com três correntes atravessando a coxa, em ambos os lados, a alça do
vestido também era de pedras.
Aurora quis usar um vestido midi azul que tinha o busto no formato de “x”, que deixava
parte de seu abdômen de fora e a saia do vestido cobria apenas sua perna direita, na
parte esquerda um pequeno laço estava logo no início de sua coxa.
Adelle apostou em um olho mais leve mas colocou um batom vinho que a destacou,
Aurora já usava preto nos olhos, e na boca apenas um gloss. Delineei meus olhos com a
cor do vestido, e na boca apostei no vermelho.
O meu cabelo estava solto, com apenas duas mechas presas para trás de minha cabeça,
Aurora fez um coque alto, intocável, e Adelle finalizou seus cachos de maneira que eles
ficassem volumosos.
Quando nos olhamos no espelho pulamos de empolgação, nos pés eu usava uma
sandália prata que circulava minha panturrilha. Adelle quis seguir a proposta dourada e
usou um sapato do mesmo tom, Aurora escolheu uma bota branca de cano curto.
Quando o relógio marcou 19:40, descemos ao hall de entrada para esperarmos os
demais.
Lembrei que havia esquecido de passar um creme e voltei ao quarto para isso, quando
virei no corredor dos quartos vi Nyx parado à porta.

-Olá, homem pomba, em que posso ajudar?- Perguntei entrando no quarto e indo
direto ao banheiro pegar o hidratante.

-Queria te entregar algo. - Falou ele depois de alguns segundos.


Sentei na poltrona, de frente para ele e puxei as tiras do vestido para deixar minhas
pernas à vista para que eu pudesse passar o creme.

-O que? - Perguntei distraída enquanto passava o hidratante com essência de avelã, nas
pernas.

A resposta não veio, e quando olhei para cima para ver o por que disso, Nyx apenas
encarava onde minha mão estava.

-Velaris chamando Nyx. - Falei, estalando os dedos na minha frente.

Ele piscou, pigarreou e me estendeu uma pequena caixinha, me levantei e a peguei de


suas mãos. Era de um camurça preto, quando abri meus olhos brilharam, uma
gargantilha de pedras com um pingente verde esmeralda em formato de gota.

-Pelo Caldeirão. - Murmurei passando o dedo pela jóia. - Obrigada, muito obrigada.

Agradeci me jogando em seus braços.

-Me ajude a colocar. - Falei rapidamente, me virando de costas para ele e tirando o
cabelo do rumo do meu pescoço.

Lembranças atingiram minha cabeça e meu corpo inteiro se arrepiou, ele soltou uma
risada e colocou o colar em meu pescoço. Eu não sabia se era minha ansiedade ou o
próprio Nyx, mas senti que ele demorou mais tempo do que o necessário para fechar
aquele fechinho.

-Prontinho. - Disse ele.

Corri até o espelho e gostei do que vi, aquele presente deu um up em todo meu visual.
Nyx me seguiu e ficou atrás de mim, observando meu reflexo.

-Você está deslumbrante. - Disse ele segurando minha cintura e me trazendo para si.

-Você também não está nada mal. - Falei tentando manter minha respiração normal.

-Não precisa se controlar sempre Jasmin. - Falou ele enquanto raspava seus dentes em
minha orelha.

-Eu poderia dizer a mesma coisa. - Respondi de súbito.


O aperto em minha cintura se intensificou, eu o encarei pelo espelho, suas pupilas
estavam dilatadas, o azul de seus olhos não se passava de um pequeno detalhe. Suas
mãos começaram a passear pelo meu corpo, seu olhar não se desgrudou do meu em
momento algum. Quando sua mão chegou em meu pescoço ele apertou, me fazendo
arfar. Um sorriso surgiu em seus lábios, mas dessa vez ele não olhava para mim, e sim
para onde o espelho refletia a porta do quarto. Uma figura masculina estava ali, de
braços cruzados encostado no batente da porta nos encarando, uma feição satisfeita
gravada em seu rosto.

-Essa noite será divertida. - Disse Ivar saindo dali com as mãos no bolso.

Capítulo 42
Perspectiva Nyx:

Havíamos chegado no Rita´s a pouco mais de quinze minutos, e eu estava me


segurando para não ficar em volta de Jasmin o tempo todo. Meus pais e tios ficaram
em um local mais privado, de onde poderiam ver todo o bar, e todos que estavam ali.
Ivar tinha o mesmo olhar predatório para qualquer um que chegasse perto dela para
conversar, achei engraçada a situação, nunca pensei que uma mulher mexeria com
minha cabeça de maneira tão louca e imaginava que Ivar pensasse o mesmo.
Adelle já estava no seu segundo copo de bebida enquanto Zayn ficava por perto, como
uma escolta. A música estava muito animada, certamente os músicos daquele dia
sabiam como animar o público, várias pessoas já dançavam de onde estavam. Percebi
Aurora conversando com Zuri, a filha da proprietária do meu restaurante favorito.
Adelle fazia companhia a Jasmin que estava sentada na mesa do bar bebendo seu
primeiro e único drink até então. Mas uma música eufórica começou a tocar e Adelle
puxou Zayn para um espaço destinado à dança e se soltou com as batidas daquele som.
Zayn nunca foi um bom dançarino, mas acompanhava bem sua parceira.
Quando fiz menção de me juntar a Jasmin, Aurora apareceu a abraçando e puxando-a
para o círculo de dança. Jasmin terminou seu drink em um gole e seguiu a amiga, uma
dança tradicional começou a ser feita por grupos, elas se esgueiraram para um e logo
entraram no ritmo. Era ótimo vê-la dançando de maneira solta, Jas sorria de forma livre
e parecia estar se divertindo, sorri junto diante a cena. Fui ao bar e sentei ao lado de
Ivar que já tinha um copo em mãos, logo fui servido do mesmo conteúdo e
entornamos juntos.

-Os rapazes estão sozinhos? - Uma voz feminina chegou aos nossos ouvidos.

Nos viramos no mesmo instante e vimos uma feérica com seus grandes olhos pretos e
cabelos do mesmo tom. Era muito bonita, a analisei pensando em uma forma educada
de recusar qualquer coisa quando um movimento atrás dela fez com que o ambiente a
minha volta se paralisasse.
Não tinha percebido que a música já tinha sido trocada, as luzes estavam mais baixas
agora e o som que preenchia aquele lugar era mais calmo e sensual.
Jasmin dançava de forma lenta aproveitando cada toque da música, seus cabelos
estavam soltos e ela já estava descalça a essa altura, mas não estava sozinha. Um
homem com cabelos pretos e olhos mel, a acompanhava. As mãos daquele macho a
circulavam e quando vi meu sangue ferveu, Ivar do meu lado estava tão paralisado
quanto eu.
A mulher deve ter percebido o alvo de nossa atenção e saiu dali bufando. Em um
impulso fiquei de pé e fiz menção de ir até ela e arrancar as mãos daquele cara, porém
Ivar segurou meu pulso e disse:

-Vamos ver onde isso vai dar.

Me sentei novamente pedindo por mais uma dose de bebida, e assim que pus as mãos
no copo virei o líquido, que queimou minha garganta.
Voltei a olhá-la, Jasmin parecia alheia ao que causava em nós, não poderia ter feito isso
de propósito, não acho que ela chegaria nesse nível. Agora o homem a levava para um
local mais afastado, mas que ainda sim podíamos ver com clareza, ele segurou a
gotinha de esmeralda de seu pescoço e eu soube o que ele faria em seguida, Ivar se
levantou mas dessa vez eu o impedi quando vi o olhar sacana que Jasmin lançou ao
homem. Ele puxou seu pescoço para roubar a jóia no segundo que Jasmin acertou uma
joelhada em sua virilha, ele segurou sua perna, curvando o corpo, e Jas virou seus
corpos fazendo com que ele caísse de bunda em um sofá que tinha ali, ela ficou por
cima dele e prendeu as mãos do pobre garoto na parede e disse algo no ouvido dele
que não fui capaz de discernir porém o homem ficou branco e logo em seguida um
vapor suspeito começou a sair de seu peito. Ele arfou e Jasmin tapou sua boca e
tombou a cabeça para que o cabelo cobrisse o rosto do garoto e ninguém visse a feição
de dor do mesmo. Ela desceu de seu colo e quando se virou viu que eu e Ivar a
olhávamos como dois perseguidores, deu um sorriso cínico e veio em nossa direção.

-Cavalheiros. - Disse ela passando por nós e pedindo uma dose de conhaque no bar.

Como não falamos nada ela continuou:

-Acho que ele amou meu colar, deveria falar para ele onde comprar Nyx, ele não tirou
os olhos do meu pescoço desde o momento que falou comigo. - Disse ela passando a
mão pelo local.
Vi um vermelho ali, pelo atrito do puxão agressivo da jóia. E raiva me consumiu, como
ele ousava causar algum machucado nela? Olhei em volta procurando por ele, mas ele
tinha sumido.

-O que você disse a ele? - Perguntou Ivar, se divertindo.

-Que queimaria suas jóias reais caso ele tentasse me roubar novamente, e dei uma
demonstração de que a ameaça era verdadeira. - Respondeu ela colocando um relógio
e algumas moedas no balcão à nossa frente.

-Ele deve ter deixado cair. -Disse ela com a mentira estampada em sua cara antes de
voltar para onde dançava anteriormente.

Ela sabia que nós a acompanharíamos com os olhos durante toda a noite e se
aproveitou disso, sem esconder que sabia que a olhávamos. Dessa vez ela se divertia
olhando para nós dois, e não tinha como não se sentir atraído por Jasmin.
Aurora se juntou a ela em algum momento e elas dançaram uma valsa diferenciada
juntas, e gargalhavam por estarem inventando certos passos. Aurora girou Jas mas por
um descuido ela acabou se atrapalhando e tombando para trás, batendo as costas em
um feérico que estava de costas para ela. Ele se virou rapidamente segurando-a pelo
braço, ela sibilou um pedido de desculpas, mas o homem manteve seu semblante
fechado enquanto encarava-a. Ela puxou o braço se soltando de seu aperto, e o olhou
de forma irritada saindo de perto do feérico, porém o grupo do homem começou a
segui-la e tentar tocá-la mesmo que Jasmin pedisse para que saíssem. Ela também
percebeu que eles não a deixariam em paz, eu estava pronto para ajudá-la, mas Jas
apenas os olhou de forma provocante e começou a vir de forma calma em nossa
direção, enquanto se certificava que o grupo de brutamontes a seguia. Quando ela se
separou da multidão e veio a passos largos em nossa direção percebemos que o grupo
ficou ao longe, parados, quando nos viu. Ivar tomou toda sua bebida e tinha um olhar
tedioso, mas sabia que estava se segurando para não quebrar a cara de todos eles.
Jasmin parou no meio de nós dois e olhou para o grupo os desafiando a se
aproximarem e tentarem algo com ela. Eles recuaram e se dispersaram.

-Rídiculo que uma mulher só possa ter “ paz” quando tem um homem envolvido.-
Falou ela bufando e se virando.

-Você poderia tê-los matado, por que não o fez? - Perguntou Ivar olhando suas costas.

-Eu não iria presa? - Perguntou ela de forma inocente.

-Tenho certeza que os Grão-Senhores a perdoariam. - Disse Ivar com a voz mais baixa.
-Você queria ter a plena consciência de como os homens se comportariam se você
estivesse em nossa presença, e se somos intimidantes o suficiente para mantê-los
longe. - Concluí.

-Pelo visto a resposta é positiva. - Disse ela virando sua cabeça em minha direção
sorrindo.

E que sorriso.

-A música ainda está tocando, e vocês ainda não dançaram, venham comigo. - Disse ela
segurando nossas mãos, eu a guiei para um local de pouca visão mas que ainda estava
dentro do estabelecimento.

-Não vai me dizer que tem vergonha de dançar em público. -Brincou ela me encarando.

-Dançar? - Devolvi.

Ela ficou quieta e deixou de lado as gracinhas.

-Sabe o que eu quis fazer desde o momento em que a vi? - Perguntou Ivar indo em
direção a ela, de forma ameaçadora.

-Me matar… -Falou ela, fazendo graça, isso significava que ela ficou nervosa.

-Isso também, o que você está fazendo com nossa cabeça garota? - Perguntou Ivar a
puxando para ele.

-Me diz você. - Disse ela, o encarando e esperando sua ação.

Ele afundou a mão nos cabelos dela e beijou seu pescoço, ela arranhou suas costas e o
puxou mais para si.

-Nunca mais deixe outro macho tocá-la daquela maneira. - Ordenou ele em seu ouvido.

-Você disse que não era ciumento. - Retrucou ela, dando um sorriso vitorioso

Ivar apenas sorriu e me olhou, andei até eles e tomei o rosto de Jasmin em minhas
mãos, beijei o canto de sua boca, passei minha língua pelo seu lábio, e sua boca se
entreabriu.

-Você tem que pedir Jasmin. - Falei roçando meus lábios nos seus.
-Me beije. - Pediu ela em um fio de voz. - Por favor.

Capítulo 43
Perspectiva Jasmin:

Loucura, era o que tinha sido aquela noite. Loucura total.

“-me beije, por favor”

E foi isso que aconteceu, Nyx tomou meu rosto em suas mãos e colou seus lábios nos
meus, o choque que passou por cada partícula de meu corpo foi eletrizante. Ele tinha
gosto de conhaque e menta. Dei passagem a ele, e sua língua deslizou para dentro,
acariciando a minha. O beijo se intensificou e eu o puxei para mais perto, segurando
seu pescoço, assim que perdi o fôlego ele descolou sua boca da minha e começou a
beijar meu pescoço.
Me virei para Ivar que me fitava estático, enlacei seu pescoço e o puxei para mim
colando meus lábios aos seus. Seu beijo era urgente, como se ansiasse por aquilo a
muito tempo, ele segurava minha cintura com força, me prensando mais e mais a Nyx,
que mantinha seus lábios em meu pescoço.

-Pelo Caldeirão. - Uma voz soou perto de nós.

Interrompi o beijo e me virei em direção a voz, os dois machos à minha volta me


mantiveram perto. Era Adelle e Zayn, ela tinha a mão sobre a boca em total choque.
Zayn sorria diante o embaraço de sua parceira.

-Mais uma interrupção e sou capaz de cometer um assassinato. - Sussurrou Ivar


beijando o topo da minha cabeça.

-Poderia ter convidado sua amiga aqui poxa. -Diz Adelle fazendo beicinho.

Zayn a pegou no colo e a colocou sobre seus ombros, o que a fez gargalhar.

-Machos territoriais. - Sibilei sorrindo enquanto Zayn arrastava minha amiga para longe
dali.

-Por que você acha isso? - Perguntou Nyx me prendendo de frente para ele e
mordendo minha orelha.
-Simples, quando o parceiro descobre a parceria, fica cego de ciúmes e muito
territorialista, não toque em sua parceira caso queira viver. - Comentei tentando me
desvencilhar dos braços deles.

-E como você sabe disso? - Retrucou Ivar.

-Sabe como são as mulheres, elas comentam. - Devolvi de forma inocente.

-Bom, não somos territorialistas. - Disse Nyx, como um diplomata, quase gargalhei
diante a mentira.

-Não? - Perguntei olhando para os seus olhos.

-O que está pensando em aprontar coelhinha? - Perguntou Ivar me dando um selinho.

-Eu poderia muito bem testar e ter certeza se vocês não são territorialistas. - Respondi
como se não fosse nada demais.

-E como pretende fazer isso? - Perguntou Nyx, fingindo que não sabia a resposta para
aquela questão.

-Apenas observem rapazes.

Falei me desvencilhando do toque deles, procurei por algum rosto bonito na multidão
e não me surpreendi quando me deparei com uma quantidade acima do normal,
realmente os feéricos, em sua maioria, eram lindos. Fitei um rapaz loiro com os olhos
azuis, que ironia que ele tivesse características de ambos os machos que eu tinha
acabado de beijar. Claro que eu não tinha escolhido ele de propósito. Assim que
avancei dois passos, uma mão me impediu, Ivar.

-Quer fazer o favor de me soltar? - Bufei, irritada.

-Não. - Disse ele simplesmente, sua voz estava mais baixa do que de costume.

Ele me puxou para si e prendeu meus braços para trás. Nyx surgiu em minha frente e
tapou minha boca, aquilo me assustou. Mas que merda era aquela?

-Prometo que não vou machucá-la. - Disse Ivar antes de cravar seus dentes na parte de
trás do meu pescoço.

Agora eu entendi o motivo de tapar minha boca, abafar meu grito. Me debati nos
braços de Ivar, ele apenas beijou o local onde tinha mordido e me virou de costas para
Nyx e foi a vez dele tapar minha boca. Tentei morder sua mão e falhei, miseravelmente.
Nyx raspou as presas perto do local onde Ivar tinha mordido e então cravou os dentes,
ao invés de me debater decidi devolver a marca. Quando eles me largaram, ambos com
um sorriso arrogante no rosto, dei um tapa na cara de cada um.

-Bom, agora você não vai ter ninguém, não até que essa marca suma. - Disse Nyx,
massageando o local onde eu o tinha atingido.

-Ou até nosso cheiro sair dela. - Caçoou Ivar.

-EU ODEIO VOCÊS. - Berrei. - Eu vou esfregar cada centímetro do meu corpo para tirar
o cheiro de vocês de mim, nem que eu tenha que deixar minha pele na carne viva para
isso. - Ameacei.

-Me chame para ver essa cena eu imploro. -Diz Ivar se ajoelhando.

-Palhaço. - Falei, prendendo meu cabelo de forma que tampasse aquela marca idiota. -
Vocês não são meus parceiros ou algo do tipo para agirem de forma tão
protetoramente ridícula assim.

-Não somos? -Perguntou Nyx de forma debochada.

-Não, não são.

-Essa doeu. - Disse ele colocando a mão sobre o coração.

Apenas os encarei, incapaz de pronunciar mais uma palavra sequer. Meu pescoço
latejava em dois pontos diferentes, tudo culpa daqueles dois machos a minha frente,
como um impulso eu empurrei Nyx na parede e mordi seu pescoço, coloquei toda
minha força mas ele parecia sentir cócegas, assim que me afastei vi que a marca já
sumia. Malditos feéricos.
Foi então que uma ideia estúpida veio à minha mente, ridícula e quase tão territorial
igual a deles, talvez pior.

-Sentem-se. - Ordenei, apontando para duas cadeiras que tinham por ali.

-E por que acha que obedeceremos você?- Perguntou Nyx me rondando.

Apenas sorri e falei novamente:

-Sentem-se.
Eles se aquietaram e se sentaram. Por dentro sorri de forma vitoriosa.

-Bons garotos.

Eles reviraram os olhos mas ficaram calados.

-Apoiem o antebraço na mesa, e arregacem as mangas. - Falei de forma calma.

A desconfiança atravessou a feição de ambos, mas eles fizeram o que foi pedido. Apoiei
uma mão em cada um e falei com diversão brilhando nos meus olhos:

-Espero que gostem de brincar com fogo rapazes.

Mas sem esperar o questionamento que viria a seguir, chamas surgiram de minha
palma e atravessaram direto para suas peles, Ivar e Nyx se assustaram mas não
recuaram, ponto para os machos. Dez segundos depois os soltei, assim que a fumaça
sumiu tinha apenas uma marca em cada um, idênticas. Um desenho que continha uma
estrela, um sol e uma lua entrelaçados. A marca era dourada. Eles analisavam chocados
aquele marco.

-Isso foi muito mais territorial. - Diz Ivar, fascinado pelo desenho que agora cobria uma
pequena parte de seu antebraço.

-Rapidamente cicatrizará, e vocês se verão livres disso. - Anunciei de forma satisfeita.

-Eu gostei. - Retrucou Nyx, ele sabia que aquilo me irritaria já que o objetivo central
não era eles apreciarem, mas realmente o desenho tinha ficado bonito.

-É claro que gostou. - Murmurei bufando de leve.

-Isso significa que enquanto essa marca permanecer somos parceiros de mentirinha? -
Brincou Ivar.

-Não.

-Sim.

Eu e Nyx respondemos ao mesmo tempo, e pela resposta contraditória Ivar começou a


rir.

-Por que não Jasmin? O que você tem a perder? - Perguntou Nyx.
Nada. Essa era a resposta. Eu não tinha nada a perder, pelo contrário, seria divertido.
Mas eu tinha medo de apenas uma coisa: me apaixonar.
Eu não era parceira de nenhum dos dois, e quando eles encontrarem seus parceiros? O
amor deles será tão superior que eu me veria desolada.
Não poderia deixar meu coração ser capturado por eles, pois no segundo em que isso
acontecesse eu nunca mais poderia deixar de desejá-los.

-Jasmin… está tudo bem? - Perguntou Nyx de forma contida.

Ivar já segurava minha mão me confortando.

-Eu… - Comecei a falar, porém nada veio, a tristeza me atingiu com tudo.

Por que me deixei levar? Tem duas pessoas bem na minha frente que encontrarão o
amor de sua eternidade a qualquer momento, o que eu era em comparação a isso?
Nada.
Apenas dei as costas e comecei a caminhar em direção a saída do local, ouvi ao longe
os dois chamando por meu nome, talvez Adelle tenha me gritado porém eu já não
tinha certeza disso.
Andei sem rumo por alguns minutos, quando dei por mim já estava na rua de
comércios, pelo menos a partir dali eu conseguiria me localizar e voltar a mansão de
forma segura.
Eu chutava pequenas pedrinhas que estavam no caminho, minha mente em um vazio
total.

-Acho que consigo tocar sua tristeza. - A voz de Brandon soou atrás de mim.

Por mais receosa que eu ficasse na presença dele e de seu irmão, eu não me assustei
ou o temi naquele momento.

-Só estou tentando blindar meu coração. - Respondi, sem coragem para mentir.

-Pensamos que demoraria mais para que você fizesse isso.

“Pensamos”, olhei em volta e encontrei Aric encostado a uma casa, seu olhar mirava o
chão, incomum, devo admitir.

-O que há de errado? - Perguntei.

-Por que a pergunta?


-Seu irmão está calado, não me insultou nem me fez medo até agora. - Respondi
apontando para Aric.

Uma risada curta veio de Aric, e não consegui esconder a expressão de surpresa por
aquela cena, nem em mil anos eu pensei que o faria soltar uma risada.

-Não se anime, eu ficar calado é pior do que você imagina. - Disse ele me encarando.

Eu sabia disso, mas resolvi continuar calada e dar continuidade em minha caminhada.

-Por que tem tanto medo de se apaixonar por eles? - Perguntou Brandon, me
acompanhando.

-Sinto que não tenho tanto tempo de vida para gastá-lo com amor. - Respondi, odiando
o gosto que aquelas palavras tinham.

-Mentirosa. - Disse Aric com escárnio.

-Ou você não quer que usem isso contra você em algum momento. - Comentou
Brandon ignorando a fala do irmão.

-E isso importa?

Após dizer isso apertei o passo para chegar em casa mais rápido. O silêncio que se
seguiu foi amedrontador, olhei em volta e não vi Brandon ou Aric. As ruas estavam no
mais completo breu, as vozes animadas dos moradores tinham ficado para trás. E por
um segundo desejei que aquela dupla de irmãos estivesse ali.

“Está chegando” - Uma voz ressoou à minha volta.

-Olá? - Perguntei já projetando minha esfera protetora.

“Em poucos dias… está chegando”- A voz surgiu novamente.

A falta de ar me atingiu, comecei a tremer e sufocar, minha visão escureceu enquanto


aquelas palavras se repetiam sem parar. Vi Brandon e Aric se aproximando de mim,
gritei por ajuda, ou tentei. Brandon me segurou e aquela sensação horrível passou,
então começou a caminhar comigo enquanto Aric o seguia de perto. Comecei a ficar
sonolenta, mas me forcei a manter os olhos abertos até que visse para onde eles me
levariam, após eles entrarem comigo na mansão e me levarem diretamente ao meu
quarto eu me lembro apenas de flashes.
Eu sendo colocada na banheira, acomodada na cama, cobertores macios e quentes
entrando em contato com minha pele, Brandon e Aric sentados na cama me
observando e a voz:

“Está chegando”

Capítulo 44
Perspectiva Jasmin:

Era manhã? Tarde? Eu não saberia dizer, as grossas cortinas bloqueavam qualquer
filete de luz que poderia entrar pelo quarto. Me sentei na cama alongando meu corpo,
cocei meu pescoço e senti um pequeno desconforto, mas ignorei.Retirei os cobertores
que estavam sobre mim e fiquei de pé, não conseguia enxergar muita coisa mas segui
ao banheiro, ali a claridade era maior, me olhei no espelho e meu reflexo me mostrou
como eu andava dormindo mal. Resolvi olhar meu pescoço onde senti o desconforto
antes, e vi as marcas das mordidas, mas não foi isso que me assustou, foram as veias
pretas mais grossas tomando conta de todo ele na parte de trás. Elas sumiam e
apareciam desde quando voltei da primaveril, mas nunca tinha ficado daquele jeito. Eu
falaria com Feyre sobre isso, assim que eu tomasse um longo e relaxante banho. Aos
poucos minha mente foi despertando e fui me recordando dos últimos acontecimentos
da noite passada. Essa sonolência que me atinge com grande frequência, estava
começando a me preocupar. Adicionaria esse tópico em minha conversa com Feyre,
talvez ela tivesse uma resposta.
Assim que a banheira encheu, coloquei sabão de lavanda para criar as espumas, então
entrei e escorei minha cabeça na borda. Todas as lembranças dos toques, ou frases
ditas começaram a encher minha mente e a tristeza quis me invadir novamente, mas a
impedi. Uma brisa soprou todas as recordações para longe e meu consciente se
aquietou. Era tão pacífico, como estar deitada na beira de um lago, apenas com o
balançar das águas me embalando. Paz, eu sentia paz.

Passados alguns minutos, percebi que tinha cochilado, a água estava morna e meu
pescoço doía pela má posição que fiquei. Pisquei algumas vezes para minha visão focar
e vi Brandon e Aric na parede à minha frente, ambos com os braços cruzados e me
observando.

-O que querem?- Disparei. - Não poderiam esperar eu sair do banho primeiro?

Mas eles não responderam, apenas continuaram me encarando. Olhei em volta


procurando por uma toalha ou alguma roupa para que eu pudesse me vestir.
-Poderiam olhar para o lado, por gentileza? - Pedi.

Nada.

Então a água que estava em contato com minha pele pareceu fria demais, densa
demais, quando olhei para onde a maior parte do meu corpo estava submergido, a
água estava preta. Fiz menção de me levantar, mas era como se puxassem minhas
pernas para o fundo da banheira. Me agarrei à beirada da mesma e impulsionei meu
corpo para cima, nada. Eu continuava presa ali.

-Me tirem daqui, por favor.

Nem um mover de sobrancelhas, nada. Parecia grudar em minha pele aquele líquido
preto, me debati ali mas só piorava, então fiquei imóvel, senti como se pequenas mãos
me segurassem no fundo. Meu coração disparou, meu instinto de sobrevivência rugiu e
eu fiz o que pude para sair dali. Já estava ofegante e suando quando os dois machos
vieram em minha direção, um lampejo de esperança atravessou meu corpo, mas que
foi esmagado quando as mãos de Brandon seguraram minha cabeça e Aric meus
braços. Então eles me forçaram a ficar debaixo d 'água. Me debati, gritei, esperneei,
qualquer coisa que poderia me tirar daquela situação eu fiz. Mas não adiantou, em
segundos aquele líquido já entrava por minha boca e comecei a sufocar. Não seria
necessário que eu lutasse, meu corpo já não me obedecia mais então eu relaxei e
deixei que acabassem com minha vida ali. Então quando eu não via mais nada além de
escuridão, dei meu último suspiro.

Capítulo 45
Perspectiva Ivar:

Ergui a cabeça, assustado, uma dor cortante vinha do local onde havia a tatuagem que
Jasmin nos presenteou, aquilo com certeza não era normal, parei de andar e me virei
ficando cara a cara com Nyx.

-Você também sentiu? - Perguntou ele.

Apenas assenti, então disparamos de volta à mansão. Tínhamos saído para uma
caminhada naquela manhã, estava inquieto mas não tinha uma razão para isso, porém
assim que senti aquela dor, percebi que algo estava errado. Em segundos atravessamos
a porta principal e corremos até o quarto de Jasmin, Adelle havia dormido no quarto
de Zayn na noite passada. Quando Jasmin saiu do bar, meu impulso foi segui-la, mas
entendia que ela precisava de seu tempo e espaço para pensar. O que me deixou
confuso foi a cortante tristeza que se apossou dela, de uma hora para a outra. Menos
de uma hora depois eu não aguentei ficar mais ali, segui para a mansão e a encontrei
dormindo profundamente, verifiquei se estava tudo bem e a deixei descansar. Agora
eu já sabia que não a encontraria em seu sono tranquilo e pacífico. Quase
arrebentamos a porta de seu quarto, vimos a cama vazia e uma onda de agonia vinha
do banheiro, invadimos sem nos importarmos com o que ela falaria. Não a vimos de
imediato, a água da banheira estava parada mas eu sentia que Jas estava ali, enfiei
meus braços e senti seu corpo no fundo, me desesperei e a puxei para cima, ela tinha
os lábios roxos e não respirava. Meu coração deu um salto.

-Coelhinha. -Chamei, desesperado.

Ela não se movia, estava morta. A chacoalhei, chamando por seu nome repetidamente.

-Por favor Jasmin. - Dizia Nyx, ele fazia respiração boca a boca nela. - Vamos lá
pequena, você tem que acordar.

Mas seu corpo não respondia, a dor atravessou a marca novamente, ela ainda estava
viva.

-Volte para cá Jasmin, você não pode achar que vai se livrar de nós de forma tão rápida
assim. - Brinquei, mas meu peito parecia prestes a estilhaçar.

-Ivar. - Nyx chamou, sua voz carregava tanta dor que eu não seria capaz de suportar.

-ELA ESTÁ VIVA. - Explodi.


Entrei na banheira e a segurei com mais força, porque se ela voltasse e visse que
tínhamos a retirado dali sem suas vestes, nossa cabeça seria servida em uma travessa.
Nyx me jogou sua camisa e a vesti delicadamente, ele se sentou na borda ao nosso
lado e acariciava seu cabelo. Seus olhos azuis límpidos pareciam apagados, assim como
sua esperança.

-Jasmin, estamos aqui com você, por favor volta. - Implorei.

A marca brilhou. Nyx se sobressaltou e um singelo sorriso surgiu em seus lábios.

-Está nos enlouquecendo pequena, não faça isso conosco. - Nyx pediu.

Pensei em algo que poderia ajudar.

-Me mostre seu antebraço.


Assim que Nyx apoiou o braço, segurei a mão de Jasmin e a coloquei sobre sua marca e
fiz o mesmo com a minha. Um formigamento surgiu no local, o brilho se intensificou, o
calor preencheu aquela tatuagem.

-Essa é nossa garota. - Falei beijando o topo de sua cabeça.

O corpo dela começou a esquentar, então ela abriu os olhos, um grunhido saiu de seus
lábios, seu corpo tencionou e Jasmin começou a tremer. Ela parecia desnorteada.

-Me soltem. Por favor me soltem. - Dizia ela se contorcendo.

-Está tudo bem coelhinha, somos nós, Ivar e Nyx. - Falei a segurando com mais força.

-Me deixem morrer em paz, vocês me afogaram, por favor me soltem. - Ela continuava
falando, parecia não nos enxergar ali.

Meu coração parou, quem a tinha afogado? O ódio tomou conta de minha mente.
Prendi sua cabeça em meu peito e Nyx começou a murmurar uma canção, não a
reconheci, porém acalmou Jasmin. Aos poucos os tremores foram passando e sua
respiração foi normalizando.

-Você está a salvo coelhinha, fomos os heróis da sua história. - Brinquei, e um tremor
veio de seu corpo, uma risada.

-Pelo Caldeirão Jasmin. - Disse Nyx antes de segurar seu rosto e distribuir beijos por
todo ele.

-Assustei vocês rapazes?- Perguntou, sua voz rouca.

Assustar? Não existia uma palavra que pudesse descrever como eu me senti quando vi
seu corpo inerte.

-Quer falar o que aconteceu? Ou prefere esperar? - Nyx a questionou, ainda


acariciando seu rosto.

-Estava tão frio, eu fiquei presa no fundo da banheira e era tão escuro, eu já não sentia
mais nada, meu corpo flutuava e era isso. Até que águas quentes aqueceram meu
corpo, e era uma sensação tão boa, aos poucos eu fui tomando consciência
novamente, eu nadava para a superfície, sentindo as ondulações aquecidas. Até que
ouvi a voz de vocês e foi como se abrisse uma rachadura no meio do breu, um filete de
luz atravessou e nadei mais e mais, meu pulmão ardia, meu fôlego estava quase no fim.
Foi quando senti minhas mãos se esquentando, quando olhei para minhas palmas, a
marca brilhava nelas, e sabia que não estava sozinha. O que antes era um filete de luz
se abriu como uma cortina, deixando a passagem aberta apenas para que eu voltasse.
Então eu voltei. - Disse ela, se aninhando mais ao meu corpo.

-Ah, minha pequena. - A voz de Nyx mostrava o quanto ele estava quebrado por saber
o que ela passou, e que não pode evitar.

-Está tudo bem, estou aqui com vocês. - Disse ela, sorrindo de leve.

-Você é a criatura mais forte que eu já vi. - Relatei.

Jasmin apenas me olhou, e a gratidão brilhava em seus olhos. Ela olhou em volta e
pareceu se dar conta de como estávamos. Ela olhou para seu corpo e alívio tomou
conta de si quando viu que a blusa de Nyx cobria sua nudez. Quando Jasmin prendeu
os olhos em Nyx o olhar zombeteiro, típico dela, atravessou sua feição.

-Vocês realmente são machos lindos. - Disse ela se levantando e saindo da banheira.

Nyx abaixou o olhar, e eu olhei para a parede à minha frente.

-Alguém me disse uma vez que olhar não arranca pedaço. - Disse ela com um tom
provocante em sua voz.

Gargalhei mediante a frase, então a olhei e fiquei paralisado com a visão. Jasmin era
uma mulher muito bela, mas era uma beleza tão única. A blusa se ajustou às curvas de
seu corpo, e se agarrava até o meio de suas coxas. Perdi o fôlego, caralho, que mulher
era aquela.
Nyx a olhava, vidrado, já não escondia que a observava da cabeça aos pés.
-Porra coelhinha. - Grunhi, estava muito próximo de perder o controle.

-Você volta a vida e a primeira coisa que pensa é em nos provocar? - Perguntou Nyx
,tentando, tirar os olhos dela.

-Funcionou, não é? - Respondeu ela andando até ele e ficando no meio de suas pernas.

Ele respirou fundo e agarrou as bordas da banheira. Jasmin o empurrou para dentro
dela, Nyx ficou desnorteado com a ação dela.

-Pervertidos. - Brincou Jas enquanto saía do banheiro, rindo.

Comecei a gargalhar, maldita coelhinha.


-Não é possível. - Disse Nyx enquanto ria comigo.

-Vamos ter que nos esforçar um pouco mais, meu amigo.

-Ela vai se arrepender disso. - Nyx parecia planejar algo, mas não o questionei.

-Jasmin não vai simplesmente esquecer que morreu por alguns minutos, e que ficou
presa dentro de uma banheira lacrada, sem consciência. - Falei, voltando ao assunto
sério.

-Não, ela não vai. -Respondeu ele, mas era como se ele soubesse exatamente a
sensação. - A hora do banho se tornará um pesadelo, quais garantias ela tem de que
não voltará a acontecer? Não sei como ela ainda não sucumbiu a todos os traumas que
viveu durante toda sua vida.

-Ela é mais forte do que imaginamos.

-Sim, ela é.

Então encaramos a porta que ela havia passado momentos antes, eu sentia como se
fosse minha obrigação fazê-la feliz todos os dias, e eu faria.

-Me diz que você tem algo em mente. - Pediu Nyx.

-Sempre. - Respondi apenas.

Perspectiva Jasmin:

Por quanto tempo eu tinha ficado morta? Era estranho pensar assim, já que agora eu
estava vivíssima, mas de que outra forma eu poderia nomear um corpo que já não
respondia? Uma consciência abafada? Assim que dei meu último suspiro, entrei em
transe, não era eu ali mais, uma casca vazia seria a exemplificação perfeita. Apenas as
ondulações da água eu conseguia sentir, mas era tão gelado, tão denso. Assim que
ondas aquecidas embalaram meu corpo eu fui despertando, apenas me lembro de
ouvir a voz de Nyx e Ivar ao longe, a rachadura se abrindo, eu nadando até ela, as
marcas em minhas mãos e eu saindo do meu caixão. Quando voltei eu me desesperei,
era como se meu corpo recordasse apenas do que aconteceu anteriormente ao meu
despertar.
Já havia me trocado e agora encarava o chão, pensando se aquilo tinha sido real ou
não, minha mente seria capaz de projetar isso? Ou melhor, de me influenciar a me
afogar? Talvez Aric ou Brandon nem estiveram ali. Talvez, talvez, talvez… é sempre um
talvez, NUNCA uma certeza. Como eu estava cansada disso.

“Está chegando”

-Eu não aguento mais. - Falei baixinho, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

Nyx e Ivar saíam do banheiro, suas vestes já secas. Realmente a magia ajudava muito.
Sequei meu rosto e virei para que não tivesse que me explicar.

-Que horas são Nyx? - Perguntou Ivar, mais alto que o necessário.

-Hora perfeita para tomarmos um delicioso café da manhã, talvez. - Respondeu o outro
macho.

-Esse café da manhã se chama Jasmin? - Ivar perguntou.

Gargalhei, sério isso?

-Poderia ser… - Disse Nyx.

Olhei para eles, com um sorriso nos lábios, idiotas.

-Ah, como eu amo esse sorriso. - Disse Nyx andando até mim.

Ele me beijou com voracidade, seu beijo transmitia palavras nunca ditas.

-Tive tanto medo de te perder. - Sussurrou ele beijando minha testa.

-Ainda estou aqui. - Murmurei.

-Assim eu fico com ciúmes, não ganharei um beijo? -Perguntou Ivar de onde estava.

-Quantos você quiser. - Brinquei.

Ele ficou calado por um momento e me virei em sua direção, seu olhar transmitia
paixão pura, minha boca secou, meu coração disparou. A pergunta que me fizeram na
noite anterior pairando sobre minha cabeça.

-Seu coração disparar assim significa que aceita ser nossa parceira de mentirinha até as
marcas sumirem?- Nyx questionou.
Olhei para aqueles dois machos, a resposta veio tão rápida e sincera que não consegui
pensar antes da palavra escapar de meus lábios.

-Sim.

Falei tão baixo que fiquei temerosa de que eles não tivessem escutado. O silêncio que
se seguiu foi constrangedor para mim, eu olhava para minhas mãos para não ter que
encará-los.

-Caramba coelhinha.

Ivar foi o primeiro a quebrar o silêncio e vir em minha direção.

-Vamos cuidar de você. - Disse Nyx em meu ouvido, antes de ambos me beijarem.

Capítulo 46
Perspectiva Zayn:

“Vocês nunca mais me verão, pensarão em mim e apenas escuridão tomará suas
mentes, escuridão eterna.”

Me levantei sobressaltado, Adelle que antes dormia calmamente sobre meu peito se
assustou e disse:

-O que foi minha raposa?

Sua voz estava sonolenta, mas seus olhos estavam atentos.

-Um pesadelo abelhinha, pode voltar a dormir agora. - Falei prendendo um cacho entre
meus dedos e acariciando sua cabeça.

-Sabe o que me ajuda quando tenho pesadelos? - Diz ela se levantando, Adelle não
voltaria a dormir, companheira até nisso.

-O que meu amor? - Questionei, curioso com sua resposta.

Ade saiu da cama e foi andando em direção ao banheiro, assim que chegou na porta se
virou para mim e com uma voz manhosa, respondeu:

-Você não vem?


Ah, como eu amava aquela mulher.

Duas horas depois decidimos sair do quarto para procurar algo para comermos, ainda
pensava no sonho que tive e aquilo me deixava inquieto.

-Ainda relembrando o pesadelo? - Perguntou Adelle, percebendo o motivo do meu


silêncio.

-Sim, geralmente eu não me lembro deles no dia seguinte, mas esse em específico está
me incomodando mais do que o normal.

-Se quiser me contar como foi, talvez ajude. - Ela parecia preocupada, então apenas a
abracei e disse que mais tarde contaria com detalhes, mas que não poderia fazer isso
com a barriga vazia.

Então entrelacei meus dedos aos seus e começamos a caminhar com o objetivo de
irmos até a cozinha, quando chegamos no final do corredor dos quartos uma porta foi
aberta e saíram Nyx, Ivar e Jasmin. Eles riam de algo e pareciam tão felizes, um suspiro
veio de Adelle, quando a olhei percebi que a mesma sorria diante a cena.

-Ela merece ser feliz. - Sussurrou minha parceira.

Antes que eu pudesse responder eles nos alcançaram e Jasmin foi a primeira a dizer
algo:

-Por favor, me digam que estão saindo para comer, estou faminta.

-Esse é o plano. - Respondeu Adelle beijando a bochecha da amiga.

-Então, o que estamos esperando?- Diz Jasmin, agarrando o braço de Adelle e


passando por mim.

Um arrepio subiu por toda minha coluna, me deixando desnorteado, enquanto eu via
Jasmin sair com Adelle.

-Está tudo bem Zayn? - Ivar perguntou.

-Sim, está tudo bem sim.

Seguimos as garotas até a cozinha, durante o caminho conversamos sobre


aleatoriedades mas que não me distraiam, nada me tirava da cabeça aquela sensação
estranha que senti antes. Quando chegamos lá, elas estavam sentadas na bancada
conversando, pelo visto não seriam as pessoas que fariam o café da manhã.

-Rapazes, já decidimos o cardápio. -Disse Adelle de forma séria.

Soltei uma risada baixa, espertinha.

-Panquecas de chocolate, bolo de chocolate, croissant com patê, torradas, e uma fruta
para balancear. - Jasmin dita o cardápio.

-Não se esqueçam do suco de abacaxi, por gentileza. - Emendou Adelle.

-Uma quantidade exorbitante de pratos, vocês não acham? - Perguntei, cruzando os


braços.

-Não, não achamos. - Responde Adelle, fazendo beicinho e me lançando o olhar de


“por favor”, que ela sabia que eu não resistia.

-Tudo bem, tudo por você abelhinha. - Respondi indo até a dispensa para procurar os
ingredientes necessários.

-Vocês estão esperando o que? - Ouvi Jasmin perguntar a Nyx e Ivar.

De resposta ouvi apenas a risada de ambos, enquanto eles entravam na dispensa para
me ajudarem. Nos minutos seguintes, dividimos as funções e preparos para que
finalizássemos o mais rápido possível. Adelle e Jasmin ficaram o tempo todo
conversando ou nos atrapalhando, Aurora se juntou a nós em certo momento e apenas
se inteirou do assunto com as meninas.
Em uma hora tudo estava pronto, nos sentamos na sala de jantar e realizamos a
refeição, em minutos acabamos com todos os pratos. Estávamos recolhendo as louças
sujas quando todo o círculo íntimo entrou no local, suas expressões não estavam das
melhores.

-Jasmin. - Chamou Rhys, em um tom que eu via com muito pouca frequência. - Venha
conosco.

Vi o momento em que Jasmin engoliu em seco, também tinha reparado no tom de voz
do Grão Senhor. O semblante de Nyx congelou e ele logo foi para o lado dela, Ivar se
mantinha sentado, porém seus olhos eram como lâminas. Todos em volta repararam
nas ações deles, mas não comentaram nada, Jasmin apenas foi até onde o restante do
grupo esperava e os seguiu até a sala de reuniões, obviamente nós fomos atrás, não
deixaríamos que ela fosse questionada sem nenhuma rede de apoio, independente do
assunto.

Assim que todos nos sentamos em volta da mesa, Feyre começou:

-A situação da Invernal piorou, precisamos saber se você pode ir até lá. - Sua voz não
falhou e se manteve firme, mas pelo seu olhar solidário, eu sabia que ela não obrigaria
Jas a nada.

-Como assim piorou? - A voz de Aurora se sobressaltou.

-Relatórios informaram que o número de infectados duplicou, não sabemos como, já


que os doentes estavam isolados do restante. Mas a questão é, se não controlarmos
agora uma epidemia se instalará na corte inteira. - Rhys explicou, um pouco mais
manso.

-Os pesadelos… - Sussurrou Jasmin, encarando Ivar.

-O que? - Perguntou Azriel.

-E se quando Ivar e eu lutamos contra as sombras, elas apenas se dissipassem e não


foram eliminadas completamente. Talvez elas sejam indestrutíveis, ou, realmente as
destruímos, mas tem outra legião com o foco total na invernal.- Explicou ela.

-Isso faz total sentido, podem se adaptar a qualquer forma, quase que imbatíveis. -
Disse Cassian, montando uma estratégia.

-Precisamos deter isso, urgentemente. - Completou Aurora, aflita.

-E nós vamos. - Afirmou Jasmin. - Qual o plano? Quando partimos?

Feyre suspirou, aliviada, e disse que a estratégia inicial seria curar os infectados, e
enquanto isso eu, Azriel, Cassian e Rhysand iríamos atrás de rastros, como se sombras
pudessem ter algum. Amren e Morrigan ficariam no comando enquanto estivéssemos
fora. O restante das pessoas seriam divididas entre ficar de olho em Jasmin, oferecer
qualquer suporte, e vasculhar por pistas dentro da cidade.

-Não é um plano sólido, não pensamos em todos os detalhes, foi o máximo que
conseguimos pensar desde que recebemos as informações. Mas faremos isso dar
certo. Exigimos comprometimento total de todos vocês, muitas vidas estão em risco
aqui. - Finalizou Feyre.
Após todos os avisos, seguimos para os quartos a fim de nos prepararmos, pegarmos o
armamento e proteções necessárias. Em pouco tempo nos reunimos novamente no
salão principal, e sem enrolação atravessamos a invernal.

Perspectiva Jasmin:

A travessia tinha sido muito mais agradável dessa vez, Rhys e Feyre nos deixaram na
entrada da mansão e logo entraram, o pouco que vi daquela corte já foi o suficiente
para me deixar maravilhada. Viviane e Kallias nos aguardavam no centro, Aurora correu
até eles e em um único abraço despejou toda sua saudade e tristeza. Apenas
esperamos, a família precisava desse momento, não estava sendo fácil para eles
ficarem longe da filha e ainda lidar com uma possível epidemia. Assim que eles se
afastaram, Kallias voltou a sua postura autoritária nos dirigiu um breve aceno e falou:

-Qual o plano?

Rhysand passou para o Grão-Senhor, que liberou o grupo que seguiria os rastros, para
que começassem o quanto antes.

-Onde estão os infectados? - Perguntou Nestha.

-Os isolamos na prisão de gelo, fica a algumas horas de viagem, mas como vocês
conseguem atravessar, será imediato. - Explicou, Viviane.

-Quem está mandando os relatórios? Se fica a horas de viagem, não são imediatas as
informações que chegam. - Perguntou Feyre, um tanto preocupada.

Os grão senhores da invernal não responderam, então essa era a emergência.

-Vocês não sabem, se essa informação chegou agora, pode ter piorado muito.
Precisamos nos apressar. - Elain.

-Helion lançou um feitiço que mantém os infectados ali, porém ele avisou que não era
cem por cento de garantia que eles ficariam incapacitados de sair dali para sempre. -
Explicou Kallias.

-Vamos torcer para que ainda esteja intacto. - Murmurou Nestha.

Atravessamos a prisão, e de fora parecia não haver ninguém, teorizei que seria por
conta do feitiço de Helion.
-Ele disse que apenas quatro pessoas podem entrar, para que não sobrecarregue a
proteção. - Viviane avisou.

As irmãs Archeron se entreolharam e decidiram por bem irem todas juntamente a


mim.

-Você está grávida Nestha. - Intervi. - Pode ser perigoso ao bebê.

-Não se preocupe comigo, menina, sou mais mortal do que você imagina. - Respondeu
ela, dando de ombros. Mas seus olhos escondiam um receio.

-Eu posso ir em seu lugar, tia. - Nyx tentou.

-Já estou decidida, fiquem aqui, qualquer sinal de fuga, impeçam. - Retruca Nestha,
irredutível.

Olhei para Ivar e Nyx e disse que voltaria logo logo, não tinha tido tempo de contar
sobre minha morte para todos, nem do aviso que recebi.

“Assim que eu começar a desinfectá-los, mostre a todos o que aconteceu comigo. Eu te


dou um sinal”.

Nyx recebeu a mensagem, apenas assentiu, seu olhar era gélido e tenso. Forcei um
sorriso e segui para a entrada daquele lugar.

-Tomem cuidado, e Jasmin. - Chamou Kallias. - Obrigado.

Virei para trás e gratidão transbordava de seu agradecimento.

-Não se preocupem, tudo dará certo. Adelle e Aurora, qualquer coisa coloquem ordem
no local. - Brinquei antes de seguir em frente.

Projetei minha proteção e envolvi as irmãs, usei a minha proteção para fortalecer a de
Nestha, ela e o bebê precisavam sair dali sem um arranhão. Todas nós sairíamos dali,
vivas.
Elas perceberam o que eu tinha feito, porém não comentaram nada, em parte por ser
uma burrice eu, humana, querer proteger 3 das mais poderosas feéricas que existem.
Mas era o certo a se fazer, sendo uma idiotice ou não.
Assim que atravessamos a aura do lugar mudou, já não era pacífico como do lado de
fora, era o caos puro ali. Uma atmosfera densa e esquisita, como se aquela praga
grudasse nas paredes, teto e chão.
Nos mantivemos caladas pelos primeiros segundos, até que Elain disse:
-Consigo sentir a presença deles, todos juntos, e são muitos.

-Quantos você curou na Primaveril? - Nestha perguntou.

-Menos de trinta.

-Sinto a presença de no mínimo cento e oitenta.

A fala de Elain me fez travar. 180 infectados? No mínimo?

-Não teria como você curá-los, todos juntos? Ao invés de se esgotar retirando a praga
um por um? - Perguntou Nestha.

-Não tentei dessa maneira, mas pode ser que dê certo.

-Daremos um jeito, claro que vamos. - Feyre queria se certificar que eu não me
abalasse, agradeci mentalmente por isso, mas eu já tinha me afligido.

Seguimos em frente e passamos por centenas de celas que estavam vazias,


continuamos acompanhando Elain que parecia se conectar com eles. Até que
chegamos a um salão imenso, poderia dizer facilmente que era uma arena de luta, os
infectados se amontoavam em todo o lugar. Estávamos em uma plataforma acima de
tudo, como se fosse uma sacada, e o chão seria a arena.

-Mas o que… - Começou a falar Nestha, porém se calou diante o choque.

-Duzentos infectados. - Sussurrou Elain.

-Pelo Caldeirão. - Murmurei.

Eu conseguia sentir o feitiço de Helion, como uma bolha, era uma camada invisível que
os impedia de fugir dali, ou escalar as paredes até a plataforma. Simplificando, eles
estavam dentro de uma arena, coberta por uma esfera de proteção. E era exatamente a
mesma esfera de proteção que eu projetava.

-Vocês também sentem, não é? - Perguntei.

Elas apenas assentiram, eu não poderia curá-los dali de cima, teria que atravessar a
proteção. Pequenos tremores deram início dentro daquele lugar.

-Bom, acho que isso é um sinal para eu me apressar.


Então pulei da plataforma, caindo direto no meio deles.

Perspectiva Rhysand:

Seguimos primeiramente para o local onde o último infectado tinha sido visto,
vasculhamos por toda a área daquela propriedade, e não encontramos nada fora do
normal. Ficava a uma hora da cidade, estávamos cada vez mais longe do centro.

-Encontrei algo. - Gritou Azriel.

Assim que nos aproximamos ele mostrou um rastro de patas, que determinamos ser de
um lobo.

-Pelo visto, eles não podem ficar o tempo todo invisíveis, uma hora ou outra eles
tomam forma de algum animal, e estamos diante nossa primeira e única pista, até
então. - Disse ele.

Começamos a seguir o rastro, que nos levava cada vez mais ao sul, longe da capital, e
foram dez metros onde tinham pegadas que pertenciam apenas a um animal.

-Céus. - Murmurou Zayn, um pouco à nossa frente.

De onde ele estava, o que eram apenas pegadas de um animal se tornaram centenas,
uma alcateia passou por ali.

-Onde fica a prisão? - Perguntou Cassian.

-Mais duas horas ao sul. - Azriel apontou.

Aflição se apossou de mim, eles não estavam se afastando da cidade por vontade
própria, eles estavam seguindo sua presa principal.

-Jasmin. - Zayn exclamou. - Eles estão indo até a prisão, onde Jasmin e os outros estão.

-RHYSAND. - Berrou Cassian. Sua parceira e bebê estavam lá, nossa família estava lá.

Não precisei de outro estímulo para nos transportarmos para lá.

Perspectiva Jasmin:
Projetei minha proteção total quando estava prestes a pousar, elas ficariam seguras
pelo tempo necessário para que eu chegasse ao solo em segurança. Assim que meus
pés tocaram o chão, devolvi a camada de proteção a elas.
Os infectados não se mexeram, na Primaveril eles permaneceram calmos no início mas
depois ficaram hostis. Aquilo não poderia acontecer novamente.
Que Nestha estivesse certa, abri os braços e me concentrei, esperei sentir aquele fio
gélido que me conectava à praga, e assim que ele atingiu meus dedos o agarrei com
força. Dezenas de estacas de gelo começaram a me perfurar, ótimo, estava
funcionando. Foquei em deixar vir para mim apenas o parasita, sem arrancar as boas
memórias daqueles que estavam ali. Assim que o elo foi quebrado, dez corpos caíram
no chão. Respirei fundo, indo verificar o pulso de cada um, vivos, apenas desmaiados.
Quase pulei de alegria, tinha dado certo, não tinha ficado exausta dessa vez e não
doera tanto como a primeira vez. Me contive e me concentrei novamente para repetir
a ação, quando trinta corpos estavam curados o cansaço e dor de cabeça começaram a
me abater.
Aguardei alguns segundos, para ver se melhorava antes que eu encarasse mais uma
leva de infectados. Olhei para cima, e vi Elain com o semblante preocupado, Nestha se
mantinha ilegível e Feyre parecia estar concentrada na situação no geral.
A dor estava mais presente agora, o que estava me enfraquecendo. Uma agitação
começou a atingir alguns infectados. Foi aí que me dei conta: o meu cansaço, minha
dor, tudo isso os atingia. Enquanto eu estava bem e sem dor alguma, ficaram quietos
como estátuas, a partir da segunda tentativa, eles começaram a caminhar de forma
lenta, e agora se remexiam de forma mais rápida. Até eu conseguir curar todos, aquilo
se transformaria em uma carnificina total. Eu me mantinha otimista que aguentaria até
o final, mas só tinham sido trinta feéricos e eu já me sentia cansada, mais 170
acabariam comigo, se eles não atacassem antes.
Quando decidi abrir a boca para perguntar se elas importavam de irmos mais
lentamente, para que nada saísse do controle, um estrondo veio do lado de fora. O
teto daquele salão era de vidro e nos permitia ver o que estava do lado de fora, uma
cortina preta cobriu toda a prisão. Olhei para a plataforma assustada, agora o grupo
todo estava ali.

-Os pesadelos, estão aqui. - Ouvi Rhysand gritar.

Ah não, não, não. Aquilo não poderia estar acontecendo. Minha agitação interna
refletiu nos infectados que começaram a ficar agressivos.
Respire Jasmin, se acalme. Comecei a respirar fundo, fui me acalmando e eles também.

-Saia daí Jasmin, eles vão entrar a qualquer momento.- Gritou Feyre.

-Não posso ir embora sem curá-los, saiam vocês, ficarei bem. - Gritei de volta.
Então me forcei a não escutar seus apelos para o que aconteceria em seguida se as
sombras entrassem ali. Foquei novamente e eu precisaria ir muito mais rápido, e em
uma quantidade maior.

“Vamos lá dom, fique comigo.”

Pedi mentalmente antes de abrir os braços e me conectar a mais infectados. A dor veio
com tudo, assim como uma tontura insana. Meu nariz começou a sangrar mas me
mantive calma, era isso a única coisa que refletiria nos infectados. Quando mais
cinquenta corpos caíram no chão eu tombei para frente, rapidamente me estabilizei e
controlei minha respiração. As sombras do lado de fora giravam em torno da prisão,
como redemoinhos. Mais rápido Jasmin, mais rápido. Não me permiti descansar por
mais tempo.

“Só mais essa leva, só mais essa”

Abri os braços e chamei pelo restante dos infectados, noventa estacas me perfurando
ao mesmo tempo, mordi os lábios para conter a dor, mas não foi suficiente, meu corpo
falava por mim. Os infectados começaram a se agitar, tentei me acalmar mas não seria
suficiente, meu corpo estava chegando perto demais à exaustão. Procurei pelo olhar de
Elain e vi pela expressão que ela fez, ela sabia que isso aconteceria. Não sabia porque
olhei diretamente para ela, mas foi como um direcionamento. E de certa forma me
ajudou, despertou uma ideia em minha mente, se eu conseguia pegar emprestado a
magia das pessoas, roubar um pouco de sua força não seria possível? Eu contava para
que fosse. Observei todos ali, e escolhi minhas vítimas. Azriel e Cassian, seus sifões
brilhavam e tinham histórias onde diziam que aquelas pedras os controlava, e que se
libertados eles perderiam o controle e o poder deles seria devastador. Fortes? Muito.
Mantive uma mão controlando os infectados e a outra ergui para a plataforma.

“Como a água, flua para mim força illyriana”

Ao invés do frio cortante, uma brisa refrescante me contornou e minha força se


restaurou, a potência muito superior ao que eu jamais teria. Os infectados se
abrandaram e eu já não sentia dor alguma. O elo estava quase no fim, logo logo eles
estariam libertos.
Um vidro se estilhaçou, mirei o teto que tinha caído e sombras que agora vinham com
toda a velocidade contra a proteção. Eu tinha menos de minutos antes que elas
invadissem.
Cassian e Azriel estavam de joelhos, pareciam fracos, eu tinha pego força demais mas
eu não podia fraquejar, devolvi a fração necessária para que eles corressem ou
voassem caso necessário e me conectei a Rhysand e Kallias para roubar uma fração de
suas forças. O elo se quebrou e os noventa corpos restantes caíram. Ergui uma barreira
protetora na plataforma, que eu torcia para que os protegesse caso os pesadelos
mudassem os planos e os atacassem. A prisão tremia, o choque das sombras com as
proteções me lembrou de quando Ivar e Nyx tentavam entrar na caverna. As fases,
minhas pernas fraquejaram, hoje eu usei um aprendizado de cada fase e situações que
tive que passar, todas elas serviram apenas para que eu conseguisse finalizar a missão?
Eu não conseguia acreditar no quão certeiro Brandon e Aric foram. Mais um estrondo,
se essa fosse de fato a última fase, eu não conseguiria passá-la se não utilizasse tudo
que eu tinha ao meu dispor. Que todos me perdoassem, me conectei a todos,
roubando grande parte de suas forças, eu não precisava de seus poderes, o meu
próprio acabaria com aquela legião, mas meu corpo não suportaria uma dimensão tão
grande. Peguei uma pequena parte da força de Nestha, ela tinha sido a única que eu
me recusaria a roubar mais do que o mínimo necessário.

-Jasmin. - Nyx gritou.

Todos se escoravam em paredes ou no corrimão, longe demais. A culpa quis me invadir


porém a reprimi. Peço perdão depois. A proteção cedeu, e os pesadelos atacaram com
um único alvo.

“Exílio, voltem aos seus criadores e não voltem”.

Uma luz dourada explodiu em mim e então fiquei cega, apenas sentindo aquele poder
me consumir extinguindo pouco a pouco aquele exército, minha pele começou a
queimar porém não me importei, era uma sensação boa estar no controle pela
primeira vez na vida. Quando o último lobo foi destruído, olhei em volta, e o que meus
olhos contemplaram me perturbaram. A prisão tinha desaparecido, a minha volta tinha
uma cratera e eu estava em seu centro. Eu tinha sumido com a prisão? Destruído ela?
Olhei em volta procurando todo o grupo que segundos antes estavam na plataforma e
os curados. Uma esfera pairou a metros de mim, contendo nela todo mundo. Os
curados foram postos um a um no chão, ainda enquanto dormiam. Devolvi o que tinha
roubado de cada um, e todos respiraram fundo quando sentiram suas forças de volta
em seus corpos.
Eu tinha ultrapassado um limite, e não teria como voltar atrás.

Capítulo 47
Perspectiva Adelle:

Surreal, essa era a palavra correta, como ela tinha feito aquilo? Todos pareciam
atônitos, as sombras tinham sido dizimadas, a prisão sumiu, e os curados estavam
bem. Mas Jasmin havia roubado as forças de todos nós, foi como se eles se
transformassem em humanos por alguns minutos, a vulnerabilidade presente em suas
estaturas. Deixar um Grão Senhor indefeso não parecia uma atitude muito sábia, mas
que ditaria o cuidado que cada um agiria com Jasmin dali para frente. Ela mostrou seu
limite, e ele era muito superior ao que qualquer pessoa poderia ter imaginado.

-Você roubou nossas forças. - Acusou Kallias, sua expressão era neutra, mas sua voz
ameaçadora.

-Sim. - Respondeu Jasmin, ela analisava e contava cada curado, sem nos encarar.

-Olhe para mim. - Ordenou Kallias.

-Pai… - Tentou protestar Aurora, que foi silenciada com apenas um olhar.

Jasmin ergueu o semblante e o encarou, não parecia incomodada ou temerosa, pelo


contrário, sua expressão mostrava confiança.

-No que você estava pensando? Nos deixando indefesos daquela maneira. E qual
direito você tinha de arrancar nossas forças?

-Eu estava pensando justamente em como salvá-los, ou aqueles pesadelos os matariam


no segundo em que atravessassem a proteção. Me desculpe se você está tão
transtornado por eu ter feito isso, mas o que realmente o incomoda sou eu ter tanto
poder que é capaz de deixar um dos mais poderosos Grão Senhores, sem força para
sequer se levantar. - Jasmin disse calma.

O silêncio seguiu todo o grupo, ninguém sabia o que dizer pois ela disse justamente o
que todos pensavam.

-Não usarei isso em ninguém, se essa é a preocupação geral, nunca desejei ter esse
dom, e não tirarei vantagem de alguém simplesmente porque posso. - Continuou ela.

-Você colocará um alvo em suas costas se souberem do que é capaz. - Falou Nestha.

-Não pretendo exibir minhas habilidades recém descobertas, minha única vontade era
ter uma casa, e poder criar um lugar para planejar casamentos e vestidos de noiva. -
Diz ela sorrindo, mas a tristeza em sua voz cortou meu coração. - Quero apenas que
isso acabe logo e que eu possa deixar para trás, então não, eu não vou usar isso contra
vocês. - Finalizou olhando para cada um de nós.

Ninguém precisou falar um “a” para que ela soubesse exatamente nossos receios e
medos. Mas Jasmin foi sincera ao dizer aquelas palavras, eu sabia que ela nunca os
feriria, mas para construir uma base de confiança não é indicado começar retirando
tudo de seu provável aliado.

-É bom estar sendo sincera mocinha. - Disse Kallias antes de esconder sua opinião atrás
da máscara fria de seu rosto.

-Obrigada. - Disse Viviane indo em sua direção e abraçando-a, quebrando aquele clima
tenso.- Você salvou nossa corte, temos uma dívida eterna com você.

-Não vocês não tem, eu apenas gostaria de conseguir vir visitar minha querida amiga
de vez em quando. - Respondeu ela, de bom humor encarando Aurora.

Aurora correu até ela, a abraçou e com a voz chorosa disse:

-Você cumpriu a promessa.

Nunca a tinha visto de maneira tão emotiva assim, então era algo que realmente
mexeu com ela.

-Eu sempre cumpro. - Retrucou Jas.

Aos poucos nosso grupo foi se dispersando, Feyre e Rhysand foram transportando os
curados de volta à cidade, enquanto nós monitorávamos os arredores da prisão.
Vi em certo momento Jasmin ser cercada por Nyx e Ivar que pareciam preocupados,
agucei meus sentidos e ouvi Ivar brincar:

-Aquilo foi sexy coelhinha, mas você não precisa usar seus poderes para me deixar sem
forças. - Então deu um rápido beijo em Jas.

Mas logo a conversa agradável se dissipou e ouvi Nyx sussurrar:

-Não consegui mostrar a todos o que me pediu, fiquei desnorteado quando vi que você
encararia aquela legião sozinha e após perder minhas forças… - Ele deu um peteleco
em seu nariz e completou. - Ladrazinha.

Jasmin sorriu, mas respondeu que ao chegar à Corte Noturna contaria ela mesma.
Então se afastaram fazendo com que eu não escutasse mais nada.

-Abelhinha? - Zayn disse, chamando minha atenção.

-O que ela tem que nos contar? - Perguntei, pensativa.


-Pelo que entendi, Nyx iria nos contar enquanto ela estivesse lá dentro, mas não
conseguiu. O que significa que ela não planejava guardar segredos. - Disse ele, já
sabendo como eu me sentia em relação a segredos. - Mas sobre o assunto que será
abordado eu não faço ideia.

-Estranho. - Murmurei.

Após toda a extensão em volta ser verificada, percebemos que não tinham rastros dos
pesadelos ou infectados. Finalmente poderíamos respirar em paz. Fomos atravessados
a propriedade de Aurora, onde foi servido um banquete para nós. O jantar foi mais
tenso, muitas palavras e opiniões estavam sendo guardadas por cada um ali, e por
incrível que pareça, Jasmin era a menos tensa. Aurora decidiu por bem finalizar sua
missão na Corte Noturna, e voltar para casa após o baile, que seria em três dias. Nos
despedimos em certo momento e fomos levados de volta para casa.
Assim que chegamos, fomos cercados por Morrigan e Amren que despejaram as
perguntas para nós, andamos até a sala de reuniões onde foi mostrado tudo a elas.
Ninguém deu um pio enquanto elas não se inteirassem do assunto. Jasmin parecia
mais nervosa, e eu entendi que era por conta do que ela precisaria contar, então antes
que qualquer um dissesse algo e a discussão desse início ela falou:

-Eu morri essa manhã.- Meu coração quase parou. - Bem, era para eu ter morrido.

Então ela foi contando ao mesmo tempo em que Nyx nos mostrava o que ela tinha
passado, mas eu via apenas Jasmin tentando se afogar e de certa forma, conseguindo,
mas Ivar e Nyx, trouxeram-na de volta.

-Eu sei que vocês veem apenas eu me afogando, mas Brandon e Aric fizeram isso
comigo, eu tentei lutar contra eles de todas as formas, mas não foi possível. Por que
eles fizeram isso? - Perguntou ela.

-Não foi coincidência isso acontecer horas antes do comunicado da invernal chegar,
tem que existir alguma conexão. - Disse Azriel.

-Sim, isso é claro para mim também. Mas a morte? Qual a conexão dela com o teste
final? - Questionou Feyre.

-Muitos acreditam que morrer e voltar a vida pode ser uma forma de retornar mais
forte. Mas seria apenas um achismo de minha parte, quando realmente acontece é
extremamente raro e envolve outras coisas e não só a morte. Feyre morreu, mas
retornou poderosa com a benção dos Grão Senhores. Elain e Nestha “morreram” em
sua forma humana, mas voltaram imortais com a dádiva do caldeirão. Jasmin pode ter
voltado com uma extensão maior de seu poder, mas não porque ganhou enquanto
estava morta e sim despertou mais dele. - Refletiu Amren.

-Então simplificando tudo, existe uma grande chance deles terem feito isso apenas
para acordar mais uma parcela do poder de Jasmin. - Resumiu Zayn.

-Exatamente. - Confirmou a imediata.

-Foi tudo uma preparação. - Disse Jasmin. - E se passei no teste, pode significar que
acabou? - Perguntou ela, esperançosa.

-Sim pode ter acabado, mas só vamos ter certeza no dia do baile, as outras cortes não
costumam compartilhar que algo está errado até escapar de seu controle. Mas
finalmente estamos chegando no fim disso. - Feyre falou se sentando na poltrona.

-Então era isso, meu objetivo era apenas acabar com a praga? Mas por que eu,
qualquer um poderia ter sido agraciado com esses poderes, mas Jasmin Hale, ao meu
ver parece a menos provável de todos. Esse é mesmo o fim?

A pergunta de Jasmin pairou no ar, todos desejávamos que fosse o fim, mas também
sabíamos que era uma possibilidade muito instável. Uma força maior estava por trás, e
qual seria seu objetivo lançando essa praga? Escolhendo Jasmin? Alguma coisa não
estávamos enxergando, mas que no dia baile, esperávamos, que fosse esclarecidas.

Capítulo 48
Perspectiva Jasmin:

Na manhã do dia seguinte, durante o treino, Cassian e Azriel fizeram questão de


explorar cada partícula da minha resistência física. Foram as duas horas mais longas da
minha vida, e assim que finalizou, apenas tomei um banho rápido antes de que Rhys,
Amren e Feyre me convocassem na sala de reuniões.
Assim que entrei eles já começaram a dizer que examinariam a dimensão do meu
poder, e testariam o que eu poderia fazer ou não. Não retruquei, seria melhor assim.
Na noite anterior, a reunião durou por mais alguns minutos, até que fomos liberados
para seguirmos aos nossos aposentos e descansarmos, e assim que tomei um banho
adormeci quase imediatamente.

Tenho vagas lembranças de um sonho desconexo, onde um bebê chorava muito,


algumas vozes tomavam conta do ambiente, e depois ele era jogado em um lago. Mas
logo em seguida um grande campo de lírios surgia e uma mulher loira segurava um
bebê em seu colo enquanto girava com ele por aquela extensão de flores. Ela parecia
feliz, ao longe um homem observava a cena, mas quando eu tentava ver seus rostos
um apagão me atingia.
Eu sentia que tinham mais coisas naquele sonho, então muda para o acampamento
illyriano, novamente aquela caverna me assombrou mas sem nenhum motivo
aparente. Porém eu não conseguia me lembrar de nada concreto relacionado a ela.

Nesse momento Amren exigia que eu formasse minha esfera de proteção, adaptasse
ao meu formato de corpo, transferisse ela para Rhysand e Feyre, modelasse em suas
estaturas e repetisse o processo do zero. Fizemos isso até que eu implorasse por uma
pausa, era cansativo, e minha cabeça já começava a zunir. Eles esperaram por cinco
minutos até que Feyre pediu que eu mostrasse como eu conseguia controlar o fogo,
minhas mãos se esquentaram com apenas um pensamento,e aos poucos as labaredas
saltaram de minhas mãos e o modelei de forma que se parecesse com um arco e
flecha. Então ela requereu algumas formas em específico e depois disso perguntou se
eu tinha algum controle sobre a água.

-Não que eu saiba, não tenho lembranças de controlá-lo.

-Farei um lobo de água que terá um único objetivo, te atacar, quero que você o
controle. - Disse Feyre antes de um lobo d’água parar ao seu lado.

-Ok.

Então ele atacou, me desviei, erguendo minhas mãos para aquele animal, tentando o
controlar, mas era como se eu tentasse agarrar a uma besta descontrolada. Foram dez
minutos desviando e tentando adquirir o mínimo de contenção sobre aquele animal,
mas não consegui, Feyre apenas o desfez com um movimento de mãos então Rhys deu
início ao seu teste.
Precisei roubar seu poder, devolvê-lo, retirar suas forças e as entregar novamente. Usar
o poder de Feyre como uma ponte entre mim e meu obstáculo, e depois disso tudo, o
controle de mente, eu sentia a presença de Rhysand em minha cabeça, como se ele
vagasse por todos os lados a procura de algo, mas não havia incômodo ou dor dessa
vez.

-É como se sua mente estivesse blindada. - Falou Rhysand minutos depois.

-Isso é bom ou ruim?

-Curioso na verdade, já que você não teve preparo algum para fortalecer suas paredes
mentais.- Explicou Feyre.
-Muito provável que a entrada dela no plano morte tenha fortalecido isso
subconscientemente. Tantas coisas podem ter acontecido nesse período que ela ficou
morta, que é difícil saber que direção seguir. - Amren disse pensativa.

-Ou seja, apenas com o tempo poderemos saber a real situação que estamos lidando.

Rhysand parecia cansado, esgotado na verdade. E eu tinha plena certeza que era o
motivo para tal.

-Não tem nenhum feitiço que possa conter o que há em mim?- A pergunta saiu
rapidamente.

Os três me encaram, e por seus olhares eu já sabia que o trio já tinha estudado sobre
essa possibilidade.

-Helion acredita que alguns podem sim brecar seu poder, impossibilitando você de
usá-los permanentemente. - Falou Feyre sem rodeios.

-E por que não fazemos isso?

-É algo que você quer? Perder seus poderes recém descobertos? - Perguntou Rhysand.

-Poder esse que só está trazendo tragédia, para onde quer que eu vá. Pode ser a única
opção que teremos em um longo período, não vale a pena chegar a exaustão só por
conta de mim Rhysand.

-Você é muito sábia apesar da pouca idade, mas precisamos que tenha plena certeza
disso, quando nos deparamos com um nível tão absurdo de poder, é difícil desapegar
Jasmin. - Disse Feyre segurando minha mão. - Você tem até depois de amanhã para nos
dar sua resposta final, mas não vamos desistir de buscarmos por outra alternativa até
lá.

Apenas assenti, e deixei que meus pensamentos me levassem para longe dali. Assim
que acabou, fui direto ao meu quarto, Aurora e Adelle ainda estavam com Nestha no
treino. Zayn, Nyx e Ivar também estavam fora, então decidi por bem ir procurar por
algum livro para ler. Tentei ler algumas páginas, porém não estava conseguindo focar,
minha mente voltava no sonho da noite anterior e permanecia ali.
O acampamento illyriano se formou em minha cabeça e senti que precisava ir até lá
outra vez, poderia não ser tão inteligente devido ao que aconteceu da última vez,
pensei em pedir a Feyre ou Rhysand, mas realmente não queria incomodar mais do
que já estava, Nyx também não estava ali, o que complicou as coisas.
“Eu consigo atravessar?” - perguntei para minha própria mente.

“Sim”.

A resposta veio como um sopro.

Então me sentei no chão e respirei fundo, tentei manter minha mente vazia e chamar
por meus poderes, que fluiam por minhas veias implorando para serem libertados.

“Venham para mim, e me levem ao destino final”. - Invoquei.

Meu poder rugiu sob minha pele, fervendo meu sangue, assim que mentalizei o
acampamento, um clarão me seguiu e assim que abri os olhos lá estava eu, no meio da
floresta densa que semanas antes me levaram a Brandon. Meus próprios instintos me
guiaram entre as árvores, eu fluía como água entre os obstáculos, e quando dei por
mim já estava de cara para a caverna, com apenas um lago nos separando. Lápis Lazuli,
mesmo de longe eu conseguia enxergar, avancei entrando na água que logo cobriu
quase toda minha perna, o atravessei e quase corri para dentro da caverna.

-Você demorou. - Aric comentou de forma seca.

-Qual o sentido de me trazer até aqui? Quem era aquele bebê? Ou aquela mulher? O
que está acontecendo?- Perguntei olhando para Brandon, ignorando completamente a
fala de Aric.

-Você não pode abandonar seus poderes dessa maneira, eles fazem parte de você. -
Respondeu ele simplesmente.

-Então eu só tive aqueles sonhos para me induzir a vir aqui e ouvir vocês me falarem
que não posso deixar com que eles anulem meu poder?

-Sim. - Responderam em uníssono.

-E o que acontece caso eles fizerem isso hein? Além de me libertar? Vocês vão sumir?
Porque se a resposta for positiva eu vou sim arrancar isso de mim. - Falei me exaltando.

Eles arregalaram os olhos e um lampejo de medo passou por eles, mas do mesmo jeito
que veio, foi embora muito rápido.

-Você não vai entregar seu dom Jasmin. - Aric disse perdendo a calma.
-Dom? Vocês chamam isso de dom? É UMA MALDIÇÃO. - Gritei dando as costas para
eles.

-PARE. - Berrou Aric.

Ele perder o controle me fez travar, nunca o tinha visto daquela maneira.

-Você não pode Jasmin, todos esses testes para preparar você para finalmente atingir
cada extensão de seu poder, para simplesmente deixar que eles tirem isso de você? Ou
você pensa que eles estão tristes por conta da sua situação? Você mostrou que pode
derrotá-los sem tocar em uma espada, o que eles menos querem é que Jasmin, a
pobre humana, continue poderosa e imbatível.

Eu não conseguia acreditar em suas palavras, a adrenalina começou a correr solta por
todo meu corpo.

-Eles nunca procuraram por uma forma de te ajudar, e sim de te controlar, e depois do
que houve na invernal, eles não pararão enquanto não tiverem uma coleira sobre seu
pescoço. E você está se entregando de graça, como a boa menina que você é.

-Pare. - Pedi baixinho.

-Ninguém ali se importa com você, a não ser sua amiga, ela sim morreria por você.
Mas, você pensa que ela não temeu seu poder hora nenhuma? Que sempre confiou
em Jasmin? Você deveria ser mais realista, e nós estamos tentando te mostrar, então
vê se ENXERGA DE UMA VEZ.

A voz dele atravessou meu corpo e atingiu o objetivo, me deixou irada.

-VOCÊ ESTÁ MENTINDO, ELES SE IMPORTAM COMIGO SIM.

-É o que você pensa, perdedora.

-Aric. - Brandon alertou.

-Eles só querem seu poder, parar você, e claro que Jasmin irá obedecê-los. Jamais
decepcionaria os Grão-Senhores. Eles riem de você pelas costas Jasmin, é isso que
fazem.

O ódio me tomou de tal forma que só me dei conta de minhas ações quando minhas
mãos se fecharam em torno do pescoço de Aric. Ele gargalhava, se divertindo com a
situação, eu queria matá-lo, quebrar seu pescoço e destroçar seu corpo, eu pressionava
cada vez mais, liberando o fogo que se acomulou em minhas mãos.

-Jasmin, chega. - Pediu Brandon.

-Você não pode me matar sua inútil, eu sou uma extensão sua.

Então meu corpo despertou, as nuvens da ira se dissiparam e com isso apenas a
confusão reinou.

-O que?. - Perguntei com a voz embargada.

Capítulo 49

Perspectiva Jasmin:

Minha mente havia se nublado completamente, ‘uma extensão minha’ o que ele
estaria dizendo com isso? Fiquei longos minutos em frente ao lago pensando, minhas
pernas cobertas pela água. Eu não conseguia acreditar no que ouvi.

-O que você quer dizer? Explique. - Exigi ainda sem olhá-lo.

-Não podemos contar, não com você pensando em desistir de seus próprios poderes
pelo bem deles. - Disse Brandon sentado à minha direita.

-Meu bem. - Praticamente rosnei.

-Nem você mesma acredita nisso. - Sibilou Aric se sentando à minha esquerda.

Me calei, eles não me dariam nenhuma resposta concreta, então ouvir frivolidades era
algo que eu não queria no momento. Então apenas encarei meu reflexo, os dois irmãos
ficaram imóveis, e aos poucos onde estava a imagem de meu rosto começou a refletir
uma parte do meu sonho, onde um bebê era lançado no lago. Meu coração se partiu, o
choro da criança sendo cortado após seu pequeno corpinho ficar submerso.
Lágrimas brotaram em meus olhos, e não as impedi.

-Esse bebê. - Comecei a falar de maneira trêmula. - Sou eu?

Então um silêncio absoluto se seguiu.

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O dia do baile finalmente chegou, e junto com ele, meu medo. Quando me encontrei
com Brandon e Aric dois dias atrás, trouxe à tona uma lembrança que na minha cabeça
não fazia sentido algum, mas que eu sentia que era verídica. Aquele bebê era eu, mas
eles não afirmaram, me deram outra explicação ou direção sobre como era possível eu
estar viva. Então assim que atravessei novamente, fui falar com Amren sobre o que
tinha descoberto, ela ficou em choque por eu ter essa lembrança, ou melhor, por ter
sido enviada a mim.

“Nada está acontecendo por acaso”. Disse ela apenas, e desde então estou sem
respostas.

Tentei me distrair de todas maneiras que pude, mas não estavam sendo muito eficazes.
Brandon e Aric não tinham aparecido novamente, e eu não sabia se ficava feliz ou
preocupada com o que essa ausência poderia significar.

Adelle e Aurora estavam tão animadas com o dia do baile, que fomos na tarde anterior
buscarmos as fantasias, que ficaram belíssimas. As outras também amaram, ficou
evidente que foi posto nos trajes um traço da personalidade de cada uma.
Nesse exato momento estávamos hidratando nosso cabelo, Adelle cantava uma música
que a muito tempo eu não ouvia.

-‘O feitiço despertou a rainha das terras, e logo a aprisionou. Vamos, todos juntos,
nossas forças erguer, humanos e exilados, jamais irão se render.’

Eu adorava aquela canção, podíamos dizer que a única coisa que unia aquela vila, era a
paixão por essa música.

-‘Uns morrerão, outros vivos estão, outros trilham com pesar. Com as chaves da prisão
e com o rei de prontidão, esperando você chegar. Da cela profunda sobre o sino a tocar
com um som celestial, vem convocar para retornar a rainha ao seu lugar.’ - Continuei.

-Eu nunca tinha ouvido essa antes. - Murmurou Aurora.

-Dizem as histórias, que foi criada a partir de um acontecimento real. - Explicou Ade. -
Mas hoje é apenas uma canção onde entoamos em volta da fogueira uma vez no ano,
naquela festa que te contamos a alguns dias.

-Ainda quero participar de uma dessas festas, vocês acham que é possível?

-Se eu e Jasmin mudássemos de rosto, sim com certeza.


Aurora gargalhou e voltou sua atenção ao livro que lia anteriormente. Eu fui a primeira
a ir ao banheiro para retirar o creme de meus cabelos, e finalizar meu banho. Então
enquanto as meninas se banhavam eu fui à cozinha em busca de um lanchinho da
tarde. Assim que pus os pés no andar inferior o cheiro delicioso de torta me envolveu,
fui andando até que vi Ivar despejar a ganache de chocolate por cima da torta de
amoras. Quase gritei de satisfação, Nyx estava de frente a ele finalizando um bolo de
chocolate, e Zayn tinha uma torta de frango com queijo em mãos.

-Quanto cavalheirismo rapazes.- Falei tentando pegar um pedaço do bolo de chocolate,


aproveitando que Nyx tinha se distanciado para lavar as mãos.

Assim que ergui a mão para me servir de um pedaço, um tapa foi desferido nela.

-Onde estão seus modos?- Perguntou Nyx sorrindo.

-Eles não existem Nyx. - Respondi de forma mal-humorada. - Vai me dizer que essa
torta inteirinha é só para mim, né? - Perguntei a Ivar.

Ele apenas chegou para o lado, revelando mais cinco delas a suas costas.

-É por isso que eu te… - engoli em seco. - odeio. - Emendei rapidamente.

Fiquei sem graça pelo o que quase escapou de meus lábios, então dei as costas com a
desculpa que chamaria as meninas para comermos. E assim que entrei no quarto,
Aurora terminava de desembaraçar suas mechas.

-Eles fizeram comida, vamos rápido por favor. - Falei quase implorando.

-Sim senhora. - Responderam as duas em uníssono, me seguindo para fora do quarto.

Os últimos dois dias foram muito agradáveis, estava feliz, apesar de tudo que me
circula.
Assim que aparecemos novamente na cozinha, os pratos, talheres e copos já estavam
separados para cada um. Nos servimos e embalamos uma conversa muito
descontraída, quando Adelle deu a ideia de irmos para o salão de dança ‘aquecermos’,
para o baile que aconteceria em poucas horas. Então ajudamos a limpar toda aquela
bagunça antes de todos irmos para a sala do piano. Aurora prontamente se sentou no
banco e começou a dedilhar as teclas, criando um som muito envolvente.
Fizemos um círculo, e repetimos a dança tradicional da Estival que Morrigan tinha nos
ensinado no dia anterior. Era animada, e ninguém ficava sozinho por ser uma dança
grupal.
Cinco minutos de dança e tive que dar uma pausa, então quando retornamos foi a vez
de Adelle tocar, e era uma música mais sensual e romântica, Zayn se sentou junto de
sua amada, Ivar e Aurora fizeram um par enquanto eu e Nyx permanecemos juntos.
Logo ele já colou nossos corpos, e firmou uma de suas mãos em minha cintura nos
guiando para uma valsa mais lenta e com passos mais ousados. Quando ele girou meu
corpo, trocamos de par e foi a vez de Ivar conduzir a dança, era frenético, meu coração
batia descontroladamente, eu só queria girar e girar enquanto sorria para o mundo e
mostrasse através de meu sorriso toda minha felicidade naquele momento. E como se
lesse meus pensamentos, Ivar sussurrou em meu ouvido:

-Mostre ao mundo o quanto você brilha coelhinha.

Então me girou, e eu me libertei. Deixei que a adrenalina preenchesse cada poro de


meu corpo, e eu sorri, de verdade. Senti um puxão, Aurora tinha me tombado em uma
pose de ‘fim de espetáculo’. Pisquei para afastar tamanha emoção que tomou conta de
mim, Adelle tinha saído do piano e agora conduzia uma dança com seu parceiro, a
música deu continuidade, porém ninguém estava no piano, como naquele dia em que
estávamos apenas nós três.

-Tenho alguns dons musicais também. - Murmurou Nyx, tinha sido ele desde a primeira
vez.

-De fato você tem. - Sussurrei.

Antes de iniciarmos outra, Feyre apareceu dizendo que deveríamos já começar a nos
arrumarmos. Nos despedimos e seguimos aos nossos respectivos aposentos. Apenas
jogamos uma água no corpo para retirar o suor da dança e já demos início aos
preparativos.
Adelle fez um coque intocável em Aurora e colocou alguns diamantes para trazer um
brilho a mais. A maquiagem branca foi feita de forma delicada, contrastando com o
vermelho vivo em sua boca. Em meu cabelo, Adelle o prendeu de forma que quando
eu o soltasse antes de sair, estivesse com ondas simétricas. Ao contrário da delicadeza
de Aurora, minha maquiagem preta trouxe uma personalidade ao meu rosto pálido, e
um vermelho sangue foi posto em meus lábios. Já Ade fez uma trança lateral deixando
o restante do cabelo solto de lado, apostou em sombras coloridas, fazendo um degradê
entre vermelho, laranja e amarelo e nos lábios um batom marrom escuro.

Como se aproximava do horário de sairmos, colocamos as fantasias, e quando nos


olhamos no espelho era surreal ver como tinha ficado exatamente da mesma maneira
que imaginávamos. Descemos ao hall com as máscaras em mãos, e encontramos todo
o círculo íntimo reunido. As roupas dos parceiros, por mais simples que fossem,
contrastavam com a roupa de suas amadas. Ivar e Nyx tinham roupas que se
ornamentavam com minha fantasia, eles realmente levavam o papo de parceiros de
mentira a sério demais.

-Vocês estão deslumbrantes. - Falei para todos.

-Ah, eu sei, olha como valorizou meu corpo com essa roupa. - Brincou Cassian.

Todos sorrimos e damos as mãos.

-Preparados? - Perguntou Rhysand.

-Sim. - A resposta veio em um coro.

Então fomos atravessados a Corte Estival.


-Sejam Bem-vindos ao nosso lar. - Disse o Grão-Senhor Tarquin, ao lado de sua esposa e
sua bela filha.

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Perspectiva Ivar:

Parecia que meu coração iria explodir, Jasmin estava esplêndida. Eu não conseguia tirar
meus olhos dela, me faltaram palavras para descrever como ela estava naquele
momento.
Surreal seria a palavra mais próxima ao que Jasmin era, aquilo que se encontra para
além do real, apenas a admirei durante todo o tempo me esquecendo das outras
pessoas que estavam ali.
Após sermos atravessados fomos guiados ao palácio de Tarquin, toda a decoração
esbanjava riqueza e fazia referência ao mar. Mas o que prendia minha atenção era uma
humana poderosa que andava alguns metros à minha frente.
Me preocupava o fato que uma reunião sobre a praga e consequentemente, sobre ela,
seria conduzida. Minha presença contaria como representante da Corte Primaveril, e
caso necessário eu interferiria a favor de Jasmin. Eu não sei o que é, mas esse
sentimento de proteção se aflorou muito em mim nos últimos dias que passamos
juntos, e é tão óbvio que ela não precisa disso, seus poderes mostram por si só, mas
nessa reunião ela não terá uma voz tão ativa, e seus poderes não poderão ser
libertados completamente para que ela prove sua força, então além da Corte Noturna,
ela também terá a Primaveril, e talvez, a Invernal a seu lado. Não era a melhor chance,
mas existia uma.
Esses pensamentos começaram a me incomodar, mas se evaporaram no segundo em
que Jasmin chamou por mim e Nyx com um sorriso nos lábios. Me aproximei e ela
cochichou algo com Adelle do tipo “isso vai ser inesquecível”.

-Quero entrar com vocês ao meu lado, parceiros. - Brincou ela.

Nyx estendeu o braço a mão que Jasmin timidamente aceitou.

-Será uma honra, parceira. - Nyx respondeu com um brilho diferente nos olhos.

Segui sua deixa e também estendi minha mão que Jasmin também segurou e por baixo
de sua máscara eu podia ver seus olhos cintilando, era como se uma tempestade de
emoções estivesse presente naquelas órbitas verdes.

-Por favor coelhinha, deixe esse bando de feéricos hipnotizados com sua beleza.

Um sorriso brincalhão brotou em seus lábios, então chegou nossa hora de entrar. Mas
antes de eu dar o primeiro passo estagnei no lugar, assim como o Nyx.
Jasmin nos olhou confusa.

-Coelhinha, acha que estamos no mesmo nível que você?

-Por gentileza, deixe que se impressionem com você, apenas você. - Disse Nyx sorrindo.

-Estaremos logo atrás, parceira.

Ela arrumou sua postura e a confiança se apossou dela, quando ela começou a
caminhar, esperamos que se distanciasse um metro para que seguíssemos. A maior
parte do círculo íntimo já tinha descido, e todo o salão estava mais quieto, mas quando
Jasmin surgiu no alto da escadaria, silêncio absoluto correu pelo lugar. Eu conseguia
escutar claramente o crepitar do fogo, ou as respirações chocadas. Uma lufada de ar
correu por sua capa a erguendo enquanto ela descia os degraus e aos poucos foi
abaixando e se assentando no chão de maneira perfeita, e sim eu tinha sido o
responsável por isso, minha mulher tinha que se destacar, ela era a noite encarnada
naquele lugar, Nyx fez com que pequenas sombras envolvessem Jasmin como se a
abraçassem. Assim que ela parou no último degrau, olhou para nós como se nos
chamasse. Apenas quando paramos ao seu lado ela continuou andando, entrando no
meio da multidão que abria caminho por onde Jas passava, aos poucos os cochichos
foram voltando até que todos embalassem uma conversa animada e a música
retornasse.

-Nunca vi tantos olhares famintos direcionados a uma pessoa antes. - Murmurei.


-Claro que foram para mim. - Brincou Nyx deixando seu semblante com a expressão
“eu sou lindo”.

Jasmin gargalhou e antes que continuássemos a conversar ela foi puxada por Adelle
que sussurrou:

-Acho que descobri a pessoa que Aurora nos disse aquele dia.

Jas apenas deu uma piscadela que eu interpretei como “eu também acho que sei”.

Adelle deu pulinhos animados porém arrumou sua postura quando Aurora se
aproximou com um olhar desconfiado direcionado as amigas.

-Parece que a comitiva da corte Crepuscular chegou. - Murmurou Aurora.

-Faltam quantas cortes? - Perguntou Jasmin, ficando um pouco mais tensa.

-Se a Crepuscular chegou, faltam quatro. - Explicou Nyx.

-Meu pai não virá, diminua um.

-Creio que meus pais também não. - Comentou Aurora desanimada.

-Então na reunião teremos uma Grã Senhorita presente. - Uma voz brincalhona veio de
nossas costas.

Aurora ficou vermelha e percebi que tinha sido direcionado a fala para ela.
Ao me virar vi Serena, a herdeira da Estival e ‘aniversariante’. Jasmin e Adelle se
curvaram, fiz também uma simples mesura seguido por Nyx.

-Essa festa está impecável Serena, é tudo tão lindo. - Comentou Adelle trazendo a
descontração ao ambiente novamente.

-Muito obrigada senhorita Adelle, devo admitir que as fantasias de vocês são
impecáveis.

Adelle ficou sem graça ao ter seu trabalho elogiado.

-Ade, Aurora e Diana arrasaram mesmo. - Respondeu Jasmin pela amiga.

Diana eu achava que era a mulher que costurou as roupas.


-Você parece a rainha dos mares, Serena. - Disse Aurora, e quando o nome da herdeira
escapou de seus lábios foi com tanta emoção e mistério que cheguei a me arrepiar.

Serena não conseguiu formular uma resposta imediata mas um sorriso espalhou por
todo seu rosto.

-E você parece um anjo, Aurora.

Era nítido que elas mantinham escondidas as palavras que realmente desejavam
proferir. O olhar confidencial que elas lançavam de uma para a outra mostrou isso.
Começamos a dispersar, elas realmente tinham que se reconectar.
Vi Jasmin e Adelle comemorarem em silêncio pela amiga. Fomos aproveitando todo o
clima de festa antes que o real objetivo dela desse as caras. Havia momentos que
Jasmin parecia alheia a toda a pressão, mas em outros ela estava tensa ou com um
olhar preocupado. Quando ele surgia fazíamos algo para sua distração que funcionava
rapidamente. Aos poucos as outras cortes foram chegando, e de fato apenas meu pai e
os pais de Aurora não compareceram. Nós herdeiros não tínhamos tanto contato entre
nós, o que era ruim, quando ascendêssemos, não teríamos uma base de relação para o
bem entre cortes. A séculos as cortes andaram na corda bamba umas com as outras, já
passava da hora de isso mudar. Guardei meus pensamentos políticos para mim mesmo
e foquei na conversa que estava acontecendo à minha volta. Serena iria abrir o local de
danças e após isso o jantar seria servido, aos poucos o ambiente foi ficando um pouco
mais escuro e aconchegante.

-Me concede a honra, Aurora? - Perguntou a herdeira estendendo a mão para Aurora
que aceitou de bom grado.

As duas foram para o centro do salão e uma música suave começou a tocar, pelo o que
Serena nos explicou era um compilado de várias danças da Estival. Aurora estendeu a
mão que delicadamente Serena tocou, e elas começaram a valsar, até que a dança
começou a se animar, era um emaranhado de azul e branco em nossas visões. Elas se
completavam isso é um fato, todos observavam perplexos as duas mulheres dançarem
como se suas vidas dependessem disso. Eu conseguia ouvir o som de águas, como se
agitassem em volta de todo o lugar, e aos poucos era como se elas se alinhassem em
direção ao centro do salão, envolvendo Serena e Aurora. Uma brisa cortante também
as envolveu.
Era como se seus elementos também dançassem e acompanhassem os movimentos, se
fundindo. Ao final da música uma salva de palmas explodiu pelo lugar, mas elas não
pareciam ouvir. Estavam vidradas uma na outra, como se piscar quebraria aquela
ligação.
Serena foi a primeira a se mexer e fazer uma reverência a Aurora, que rapidamente
seguiu o gesto. Aos poucos os convidados presentes tomaram conta do lugar para
dançarem, e os primeiros acordes da música que dançamos juntos, horas atrás,
começaram a soar. Fui puxada por Jasmin que correu para participar, sua outra mão
puxava Nyx. Adelle já estava ao lado de Aurora e Serena, aos poucos nosso grupo foi
aumentando e todos os herdeiros se juntaram onde estávamos. Assim que a música
deu início nossos pés se moveram para frente e para trás em sintonia, e então nos
embalou, parecia que tínhamos ensaiado aquilo por dias do tão sincronizado que ficou.
Trocamos de lado e continuamos a dançar, risadas soltas escapavam de todos ali, era
algo eletrizante. Ao findar das últimas notas nós sorrimos diante a sensação.

-Ok isso precisa se repetir. - Brincou Serena, então todos confirmamos.

-Agora formem duplas, a próxima música é em par. - Anunciou ela segurando a cintura
de Aurora, que sorriu timidamente.

Olhei para minha parceira e Nyx, com um olhar brincalhão.

-“Dupla” de três pessoas, que tal? - Perguntou ela.


-Genial, parceira. - Sussurrou Nyx enquanto sorria.

-Nós ditamos as regras coelhinha. - Disse segurando sua cintura.

Ela soltou uma gargalhada nervosa mas deixou que a guiássemos, nos posicionamos de
forma que ela ficasse no meio de nós dois.
Eu segurei em sua cintura por trás enquanto Nyx a conduziu pelas mãos. E novamente
nossos passos se sincronizaram, foram momentos inesquecíveis. Jasmin sorria
largamente, como se aquilo fosse sua libertação. E quando a giramos pela última vez
ela brilhou, reluziu como uma estrela. Fiquei tão abismado pela visão que não consegui
raciocinar meus passos, simplesmente travei. Houve a troca de casais e rapidamente
ela foi segurada pela cintura por um moço de cabelos castanhos claros e olhos
amarelos, mas uma sensação ruim quis me invadir.
O pânico começou a se alastrar quando olhei para onde eles estavam anteriormente e
não os vi dançando.

-A saída. - Sibilou Nyx, frenético.

Então olhei para Jasmin saindo para a praia com aquele sujeito a guiando, meu coração
se apertou, e quando ela olhou para trás como se procurasse por nós vi no seu olhar
algo que eu não conseguiria suportar.

“Adeus” - sua voz soprou até nós.


Capítulo 50

Perspectiva Jasmin:

Durante toda a festa eu me sentia livre, tirando raros momentos em que a


preocupação me atingia. Mas rapidamente eu era distraída por meus amigos, agradeci
mentalmente a cada um que estava me ajudando a seguir em frente.
Eu não tinha dado minha resposta aos Grão-Senhores, e aquela dúvida se alastrava por
mim, no início eu teria respondido sem pestanejar que não permaneceria com os
poderes, mas depois de meu encontro com os irmãos, eu já não tenho tanta certeza.
Outra coisa que se passava por minha cabeça era como seria a reunião, nesse
momento todos já estavam presentes, e a ansiedade aflorava cada vez mais.
Porém minha cabeça foi direcionada ao lugar onde Serena e Aurora dançavam, como
duas rainhas. A visão era tão viciante e fascinante que não ousei piscar, como assim ela
teve apenas uma paixão de adolescência, aquilo ali não era um sentimento qualquer.
Logo em seguida fomos dançar e todas as preocupações à minha volta desapareceram,
eu dançava com Nyx e Ivar e me divertia como nunca. Assim que me giraram senti
minha prisão interior se destrancando e uma fera saindo dela com graça. Graça essa
que me envolveu iluminando meu corpo todo. Logo uma mão se posicionou em minha
cintura e um feérico de olhos amarelos e cabelo claro me encarou. Troca de casais,
pensei, dei continuidade a dança, até que em certo momento ele começou a me guiar
para uma saída que tinha por perto, daria na praia caso saíssemos por aquela porta.
Me senti meio confusa, já que a música não tinha terminado, mas eu não conseguia
simplesmente parar e dar meia volta, uma força maior me levava para lá.
Quando olhei novamente para o lado os olhos do homem haviam mudado.

-Se despeça. - Disse ele simplesmente.

Aric.

Procurei pelos rostos de meus parceiros com uma angústia crescente, e apenas uma
frase se formou em meus lábios:

-Adeus. - Sussurrei.

Eu não conseguia controlar meu próprio corpo, minhas ações eram teatrais, como se
eu precisasse seguir o roteiro. Quando descemos os primeiros degraus para pisarmos
na areia olhei novamente para Aric, que tinha assumido a aparência que eu já
conhecia.

“O que está acontecendo” - Quis perguntar, mas nada saiu.


Apenas o guiei por alguns metros até meus pés serem molhados pela água. Brandon
apareceu ao meu lado então o controle retornou para mim mesma.

-O que pensam que estão fazendo? - Questionei me sentindo desesperada.

-Ato final. - Os dois anunciaram juntos.

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Perspectiva Feyre:

Os Grão-Senhores e comitiva particular foram levados ao segundo andar do salão, dali


tínhamos visão integral de todo o local e a praia. Eu estava inquieta desde que
chegamos, algo não parecia certo, mas eu não sabia explicar com clareza o porquê.

“O que deixa minha bela esposa com esse semblante preocupado?” - A voz de Rhys
arranhou minhas paredes mentais.

“Algo está errado, consigo sentir.”- Respondi e ele logo me abraçou por trás.

“Apenas assista aos herdeiros dançarem como se não tivessem preocupações com
nada”. - Brincou Rhys.

Sorri e voltei minha atenção ao salão, eles dançavam como iguais e a preocupação
começou a se esvair.

-Jasmin. - Elain sussurrou apontando para a saída.

Uma onda de pavor me atingiu, consegui ler em seus lábios o que disse a Nyx e Ivar.

-Rhysand. - Apenas com seu chamado meu parceiro invocou suas sombras para
impedirem Jasmin de sair.

Mas foi inútil, assim que ela saiu eu pude sentir a presença das barreiras iguais da
Primaveril, apenas foi confirmado quando Nyx e Ivar tentaram sair mas não
conseguiram. Usei meus poderes para sentir a dimensão, e parecia que era apenas a
propriedade que estava envolta ao cubo de retenção.
Os convidados pareciam alheios a tudo que acontecia, mesmo que os herdeiros já se
amontoavam na extremidade e berravam para que Jasmin voltasse.
-Eles estão impedidos de enxergar o que está acontecendo do lado de fora. - Disse
Helion.

-Tarquin, leve-os para o salão secundário e libere esse. - Rhysand ordenou.

Todos os Grão Senhores se juntaram ali para ver o que acontecia, e suas comitivas
foram instruídas a saírem, já que também estavam alheios. Quando todos estavam
fora, descemos até o salão principal e fui até Nyx.

-Ela disse adeus. - Falou ele com um tom desesperado.

-O ato final. - Anunciou Elain.

O silêncio atingiu todo o grupo, não tinha mais o que fazermos.

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Perspectiva Jasmin: (Apenas aproveitem leitores… e se preparem para a despedida)

Olhei para trás e vi que todos estavam nas bordas da proteção, observando. O pânico
se alastrou por mim.

-Eles não podem ver. - Minha voz saiu como um sussurro.

-Eles podem, e verão Jasmin. Seu poder não foi feito para que você o jogasse fora. -
Falou Aric cruzando os braços.

-Eu prometo que não vou desistir deles, mas por favor não permita que eu faça isso.
Não posso. - A adrenalina praticamente rugia em meu corpo.

-Já foi decretado. - Disse Brandon.

Então ambos ergueram as mãos para o mar, que recuou mais de vinte metros. Um
tremor começou logo em seguida, ao longe uma onda gigante vinha em direção a
costa.

-Parem com isso, PAREM. - Eu berrei tentando empurrá-los, mas foi impossível fazer
com que eles se movessem.

A onda praticamente congelou, como se esperasse a ordem para seguir com sua
destruição.
-Use seu poder Jasmin. Impeça aquela onda, ou ela devastará essa corte. - Disse Aric
como se não fosse nada demais.

-Não consigo controlar a água. - O desespero não permitia que eu pensasse com
clareza.

-Talvez isso seja um incentivo para que você aprenda a controlá-la. - Respondeu ele
com escárnio.

Então em um piscar de olhos, Adelle, Nyx e Ivar estavam com o corpo metade
submerso na água. Eles não conseguiam se mexer, e pareciam fracos, seriam afogados.

-Não. - Falei sentindo a derrota.

-Deixe que seu poder a guie para a destruição. - Bradou Brandon antes daquela onda
avançar.

Eles desapareceram, em segundos aquilo acabaria com tudo, inclusive com a vida das
pessoas mais importantes para mim.

-Não. -Sibilei para mim mesma, eu não aceitaria aquilo.

Me concentrei e ajoelhei na areia, coloquei minhas palmas no chão, os tremores


estavam mais fortes. O poder rugia descontrolado em minhas veias, chamei pelo
semelhante da água e senti o momento que atingiu a ponta de meus dedos. Comecei a
andar em direção aos meus amigos, e deixei que o poder consumisse cada poro do
meu corpo. Eu sentia a água substituir o sangue em meu corpo. Mas eu não contava
que uma presença me preencheria junto, meu corpo tombou para frente e minha
cabeça foi novamente estilhaçada. Caí sentindo o sangue escorrer pelo meu nariz.
Ignorei e continuei agarrando a minha força interna para me levantar. A dor se
multiplicou, mas eu a jogava para longe, apontei uma mão em direção aos meus
amigos que lutavam contra as amarras invisíveis. Tentei empurrá-los para a praia mas
não consegui, era mais forte do que eu.
“Por favor” - implorava para meu interior. Eles já estavam submersos nesse momento,
eu conseguia sentir seus corpos se debatendo para se soltarem, “eles não”,
“eles sim”, aquela voz antiga bradou em minha mente como se divertisse com aquilo.

-ELES NÃO. - Berrei colocando toda minha força e poder com um único objetivo: Salvar
meus amigos.
E finalmente obtive controle sobre aquele elemento pois uma pequena onda os levou
para a orla da praia.

-JASMIN NÃO. - Berraram os três em conjunto, mas os lancei novamente para a esfera
de proteção da propriedade. Se eu falhasse, eles não seriam vítimas disso.

Então ergui as duas mãos para aquela onda que vinha com uma fúria irrefreável, ela
diminuiu a velocidade, e era tudo que eu precisava, tempo. Projetei uma onda da
mesma altura para que me deixasse cara a cara com toda sua dimensão. Minha mente
parecia que estava sendo rasgada, e eu usava o último fio de lucidez que ainda me
restava.

“Não vai ser fácil assim” -Aquela voz antiga rugiu em minha mente.

E mais uma onda de dor tomou conta de mim, a onda que me sustentava estremeceu.

“Fluam até mim, ventos do oeste” -Mentalizei puxando o fio do poder de Tamlin.

E em segundos o ar me sustentava acima daquele tsunami. Mas usar uma parcela de


outro elemento teve seu preço, porque agora a velocidade era muito superior à inicial.
Uma onda de náusea atingiu meu corpo. E foi o suficiente para me desnortear, as
águas já se aproximavam da areia, olhei para todos ali que pareciam desesperados, não
podiam sair, apenas aceitar o destino final. E quando a onda atingiu a primeira árvore
daquela propriedade eu explodi. Minha morte pela deles, eu me sacrificaria sem
pensar duas vezes, essa nunca foi uma luta a qual eu poderia vencer sem
consequências e eu estava pronta para encará-los.

“Caos, eu o liberto” - Rugi para meu poder.

Abri os braços e senti a descarga de energia imediata, foi como uma pequena explosão
passando por toda Corte Estival. Aquele maremoto paralisou, estava a um metro de
acabar com a construção, e se manteve assim. Ergui os braços aos céus e assim que os
abaixei toda aquela fúria foi dissipada, e a onda recuou e com um piscar de olhos as
águas já estavam tranquilas novamente.

-Finalmente… me sinto em paz. - Sussurrei para mim mesma.

Antes de começar a cair.

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Perspectiva Adelle:

-NÃO. - Gritei esmurrando aquela parede invisível, Jasmin conseguiu ter controle sobre
a onda mas estava claramente perdendo a consciência.

-Adelle. - Chamou Zayn me puxando para si.

-Não, não e não. - Eu não poderia deixar aquilo acontecer, não com ela.

-Enquanto estivermos aqui, com essa proteção, não podemos fazer nada para ajudar. -
Rhysand comentou tentando manter a calma.

-NÃO ME FALE PARA ESPERAR ENQUANTO ELA ESTÁ CAINDO DOS CÉUS. - Gritei mais
uma vez batendo na proteção que estremeceu, então cedeu.

Todos me olharam chocados, eu travei por alguns momentos antes de correr em


direção a praia, o choque do corpo de minha amiga na água foi ensurdecedor, era
como se eu tivesse ouvido seus ossos se quebrando. Um suspiro pesado saiu de meus
lábios, não. Entrei na água procurando por ela.

-JASMIN. - Berrei, tentando chegar no ponto que ela caiu. Lágrimas molhavam meu
rosto.

Senti uma ondulação calma naquelas águas, e observei em volta, estava tudo tão
tranquilo que eu poderia jurar que as cenas anteriores foram plantadas em minha
mente. Então vi o corpo inerte de Jasmin ser trazido para a beira da praia envolto em
uma esfera de água, que a trouxe até a segurança da areia antes de se desfazer. Corri
de forma desengonçada até ela que estava desmaiada e com os lábios roxos.

-Ei, acorde, volte pra gente sua garota teimosa. - Falei já chorando enquanto
chacoalhava seu corpo. Um grande grupo já se formava ao nosso redor, aquilo não
acabaria bem.

-Se afaste Adelle. - Falou Rhysand antes de envolver o corpo de Jasmin com suas
sombras, em segundos ela abriu os olhos e seu corpo se impulsionou para frente
expulsando toda água que tinha entrado em seus pulmões.

Chorei ainda mais pelo alívio que me atingiu naquele segundo, a envolvi em um abraço
apertado cheio de temor e alívio.

-Você está viva, Graças a mãe. - Murmurei beijando sua testa.


-Acho que estou. - Respondeu ela com a voz rouca tentando brincar.

-Venha aqui, ela precisa de espaço agora abelhinha. - Zayn murmurou me abraçando e
me afastando dela.

Jasmin olhou todos que estavam ali e seu olhar se encheu de medo, mas eu não
conseguia dizer exatamente. Tarquin e os outros Grão-Senhores se aproximaram, então
ele disse com uma voz sombria:

-Consegue andar senhorita Jasmin?

Ela apenas assentiu e se levantou, cambaleando um pouco mas antes de cair, foi
amparada por Nyx e Ivar que a seguraram.

-Não toquem nela. - Exigiu o Grão-Senhor.

-Não me diga o que fazer, ela quase morreu salvando sua corte, não quer que Jasmin
ande sozinha até a sala de reuniões para você despejar todas suas perguntas e
acusações nela, quer? - Perguntou Ivar com fúria em sua voz.

Tarquin deu de ombros e olhou para Helion, e não precisaria ser pronunciada a palavra
que escapou de seus lábios em seguida:

-Faça.

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Perspectiva Nyx:

Uma corrente inibidora foi lançada sobre Jasmin, impedindo que ela use seus poderes.
Tentamos impedir mas Os Grão-Senhores estavam irredutíveis, queriam ter controle
sobre ela, mas eles mal sabiam que isso era algo que nunca teriam. Então fomos
intimados a levá-la para a sala de reuniões assim como Ivar disse, a preocupação
tomava conta de mim pois, por mais que eu soubesse que ela aconteceria naquela
noite, não imaginava que seriam em tais circunstâncias.

-Vamos criar uma barreira mais potente envolta dela com a junção de nossos poderes.
- Tarquin disse para todos ali.

-Isso é realmente necessário? Já inibimos o poder dela. - Disse Feyre de maneira firme.
-Sim é realmente necessário, peço desculpas se estou tomando todos os cuidados
necessários para não ter minha corte destruída, então por favor… - Tarquin estava tão
pressionado que eu podia ver a ansiedade correr por suas ações.

Os próximos minutos foram angustiantes, Ivar se recusou a participar do feitiço o que


enfraqueceria em parte por não ser a junção de cortes completa, mas ninguém ousou
forçá-lo a isso. Helion conduziu e uma esfera preta cercou Jasmin que permanecia
estranhamente quieta. Assim que todos se certificaram que ela não perderia o controle
e mataria todos nós, que era o que a maioria esperava, nos sentamos à mesa para
começarmos a conversa. Meus pais, Aurora e Ivar compartilharam a situação das
pragas para os outros governantes que pareceram chocados demais para
pronunciarem alguma coisa, quando o relato terminou, permaneceram em completo
silêncio pelo o que pareceu horas.

-Então está me dizendo que o caldeirão, que deveria estar de posse com Miriam e
Drakon em segurança, está na verdade lançando pragas em nossas terras e a única
pessoa capaz de acabar com ela é essa garota?- Perguntou Thesan com uma voz
cansada.

-Exatamente, não espalhamos a notícia primeiramente pois tentamos achar uma cura
ou um modo de combater que não envolvesse Jasmin, e que não se espalhasse por
outras cortes. - Explicou meu pai.

-Recentemente uma onda de virose começou a atingir meu povo, mas já foram todos
curados. - Começou Helion. - Não tinha nenhum sinal que poderia ser algo a mais do
que isso, mas ao ouvir esse relato completo temo que posso ter me enganado.

-Viu? Se for a praga, não precisaremos de Jasmin e seus poderes, podemos


simplesmente seguir o que Helion fez. - Falou Tarquin inquieto.

-Vocês não estavam lá. - Ivar o interrompeu. - Não sabe a força que a praga tem, e
existe apenas uma pessoa capaz de nos salvar dela. E se retirarem seus poderes?
Estaremos condenados.

-Ela não parece conseguir controlar bem sua dádiva, pode me garantir que ninguém
inocente se machucará no processo? - Eris pergunta com o semblante fechado.

-Você também não conseguiria controlar em tão pouco tempo uma dimensão tão
grande de poder.

“Jogar na cara deles de que ela pode ser bem mais poderosa que todos aqui não é uma
boa jogada Ivar” - Falei em seu pensamento.
“Apenas de ver a destruição que ela interrompeu já foi capaz de mostrar um pouco da
realidade de Jasmin”. - Devolveu ele.

Silêncio. Eu estava incomodado com o fato de Jasmin estar quieta e calada desde a
praia, não se opôs ou tentou fugir de seu ‘destino’, apenas aceitou o que foi exigido a
si. Isso não era comum.

“Você está bem?” - Perguntei atravessando suas paredes mentais.


Nada, nem um arranhar de resposta, sua cabeça estava vazia. Por mais que ela
encarasse o centro da mesa sem nem piscar, parecendo atenta, em sua cabeça não
tinham resquícios de pensamentos ou sentimentos.

-Eii… - Chamei a encarando.

Demorou alguns segundos mas ela me olhou, e seus olhos pareciam tão vazios quanto
sua mente. Toquei o lugar onde tinha a marca de nossa parceria de mentirinha, e Ivar
que estava à minha esquerda fez a mesma coisa. Então Jasmin piscou e sorriu de forma
cansada, algo estava errado, mas o que poderia ser?

-Ela não pode continuar com tal poder, é instável e perigoso. Deveríamos votar e
decidir pela maioria o que fazer, prendê-la, conter seus poderes ou matá-la.

-Vocês não podem fazer isso. - Diz Jasmin de onde estava sentada, finalmente dando
um sinal de que prestava atenção e entendia o que estavam falando.

-Você não tem direito nenhum de escolher ou exigir algo. - Thesan falou de forma
antipática.

-NÃO? SÃO MEUS PODERES, MINHA DÁDIVA. - Falou a mesma aumentando o tom de
voz.

A sala pareceu estremecer, os Grão Senhores levaram as mãos à cabeça, como se


sentissem dor.

-Ela está lutando contra o feitiço. - Murmurou Helion rangendo os dentes.

-FAÇA ALGUMA COISA. - Berrou Tarquin, curvando a cabeça.

Helion se concentrou e ergueu os braços em direção a Jasmin que apenas os olhava


com ira nos olhos.
-Se contenha, meu poder sobre ti é maior do que o seu sobre nós. - Ele proferiu
aquelas palavras de olhos fechados, suas mãos brilharam e uma luz ofuscante dourada
escapou de suas mãos e se infiltraram na esfera de contenção, acertando o peito de
Jasmin que mordeu os lábios para conter um grito e logo após deixou os braços caírem
ao lado do corpo, ela mal se movia.

-PARE COM ISSO. - Ivar já estava indo para cima de Helion que tombou na cadeira com
o nariz escorrendo.

-HELION. - Minha mãe exclamou preocupada.

-Está tudo bem, mas vamos decidir logo, isso não a conterá por muito tempo. - Ele
falou ofegante, a dor provavelmente tinha passado, já que Jasmin mal mexia os olhos,
que dirá lutar contra o feitiço.

-Não pode existir tal ser onde pode atingir todos nós de uma vez só. Ou ela fica sem
poderes ou morre, não existe nada capaz de conter tal poder de maneira eficiente. -
Murmurou Thesan.

-Não façam isso. - Sussurrou ela, sua garganta arranhava. - Ele não vai gostar.

-Ele quem? - Perguntou Nestha de maneira dura.

Jasmin apenas a encarou e sorriu.

-Tic-tac o tempo de vocês está acabando. - Ela disse fechando os olhos.

-Votação, AGORA. - Bradou Tarquin.

-Quem vota para que tiremos o poder de Jasmin?

Eris, Thesan, Helion e Tarquin levantaram as mãos. Não deveria ser feito de maneira
tão rápida, não funcionava assim. Mas a última frase de Jasmin havia despertado
todos.

-Consegue fazer isso agora, Helion?

-Não foram todos que concordaram com isso.- Interviu Ivar. - Não podemos roubar
desse jeito.

-Não venha me dizer que está preocupado com moralidade agora, herdeiro. - Eris
acusou.
-Pai, mãe… - Murmurei para que eles pudessem dar algum apoio, eles eram
poderosos, poderiam mudar isso. Mas pelo olhar que lançaram a mim, eu soube que
fariam o que a maioria votou. Encarei Aurora que segurava a mão de sua amada, e pelo
olhar entre ambas, descobri que ela fará o mesmo apenas pela proteção da mesma.

-Não posso trancafiar o poder dela apenas em mim, é mais poderosa do que
imaginamos, precisamos dividir em partículas menores, entre os grão-senhores.

As luzes nesse momento começaram a tremular.

-Não temos tempo, vamos.

Ivar se recusou, não iria contribuir para arrancar de Jasmin seu bem mais precioso. Mas
não teve escapatória quando o forçaram contra sua vontade. Seu pai não estava ali,
então ele precisava cumprir o papel de Grão-Senhor. Cada um fez um corte em sua
palma direita e deixaram escorrer algumas gotas de sangue no centro da mesa, Helion
começou a recitar algumas palavras em uma língua antiga, que eu não tinha
conhecimento. Jasmin nessa hora começou a gargalhar, abriu os olhos tomados de
preto total e absoluto. Eu pude sentir a onda de dor que atingiu os Grão-Senhores que
cambalearam, Helion balançou a cabeça tentando se livrar da sensação esmagadora e
continuou a falar de forma mais fraca os versos.

-Eu pedi para que não fizessem isso. - Jas disse se levantando, o que era para ser
impossível por conta dos feitiços.

Deu um passo em direção ao limite da esfera.

-Deveriam tirar suas parceiras e filhos daqui. - Disse ela olhando em direção ao
restante do círculo íntimo que se encontrava no fundo da sala.

-Jasmin olhe para mim, pare com isso. - Tentei chamar sua atenção, aquilo não poderia
acontecer ali.

Mas ela ignorou, ergueu sua palma e tocou na esfera que se dissolveu, não tinha mais
nenhuma barreira entre ela e nós.

-HELION. - Gritamos em uníssono.

Por mais fracos que estavam com a dor aguda, os Grão Senhores se prepararam para
atacar.
‘desculpe Jasmin’ murmurei antes de deixar minhas sombras me cercarem.
-Seja banida magia antiga. -Terminou ele espalmando o sangue, e uma luz preta
explodir dali indo em direção a ela.

Jasmin abriu os braços recebendo o feitiço, porém, quando ela nos encarou, os olhos
tomados de preto eu soube.

-Não funcionou. - Sussurrei para mim mesmo.

A gargalhada voltou, mais alta, mais potente e mais perigosa.

-Quem é você? - Murmurou Feyre encarando Jasmin com pesar.

-Ah minha querida Feyre… - Uma voz que não pertencia a Jasmin disse.

-Eu sou o Caldeirão!

FIM!
Agradecimentos

Chegar no fim dessa história, é surreal, mas ao longo dela ter conquistado cada um de
vocês é tão gratificante que me faltam palavras. Obrigada a todos que confiaram em
mim, confiaram em Jasmin e se aventuraram conosco nessa trama de deixar cada um
com os neurônios pegando fogo. Vocês acenderam em mim aquele sonho que muito
eu tinha guardado dentro do meu coração; Ser uma escritora, e sou grata a cada leitor
que tirou um tempinho para ler essa história. Corte de Poder e Destruição faz parte de
mim agora, mas isso não teria acontecido sem o apoio de vocês. Não pensem que isso
é um adeus… vocês ainda acompanharão a jornada de Jasmin após a revelação final,
mas a pergunta que não quer calar: Vocês estão prontos para isso? Estão prontos para
se desligarem de alguns personagens? Espero que sim, pois quero tê-los
acompanhando a parte dois que em breve será escrita. Não desistam de mim…
prometo fazê-los chorar.. de amor claro. Minhas valquírias e guerreiros, nos vemos em
breve. E não se esqueçam… EU SOU O CALDEIRÃO!

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