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Educação
Cristã
Perry G. Downs
Uma Introdução à Educação Cristã
ISBN 85-86886-24-6
CDITOIM CUlTUflfl CmSTA
S
Rua Miguel Teles Júnior, 382/394 - Cambuci
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Educação Cristâ/Crescimento espiritual
Introdução à
Perry G. Downs
CRESCIMENTO
Ensino e Crescimento - Uma Introdução à Educação Cristã © 2001 Editora Cultura
Cristã. Originalmente publicado nos EUA pela Zondervan Publishing House - Grand
Rapids,Michigan, USA, comotitulo TeachingforSpiritualGrowth © 1994byPerry
Downs. Todos os direitos são reservados.
Tradução:
Marcelo Cliffion Tolentino
Revisão:
Claudete Agua de Melo
Arlinda Madalena Torres Marra
Editoração:
Gilson da Silva Oliveira Filho
Capa:
Magno Paganelli
C D IT O n n C U L T U R A C R IS T A
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Fairfield, Connecticut
ÍNDICE
Prefácio 7
i
Criação Palavra
t
Ciência Social
í
Teologia
QUESTIONAMENTO
HUMANO
Figura 1
Deus revela
Como criador de tudo o que há. Deus é a fonte de toda a realidade. Deus
revela a verdade de duas maneiras; pela criação (revelação geral) e pela Palavra
(revelação especial). Tanto a criação como a Escritura devem ser respeitadas
como fontes da revelação de Deus e devem ser estudadas para que se entenda
as m aravilhas da sabedoria e da expressão de Deus.
Q uestõe‘s B ásicas 15
A Educação Cristã deve ser guiada por um a visão de mundo que valoriza
tanto a revelação geral quanto a especial. Questões claramente teológicas, como
a natureza da maturidade espiritual, devem ser consideradas a partir de uma base
teológica. Mas questões a respeito das funções normais do homem, tal como de
que m odo as pessoas aprendem devem ser abordadas de um ponto de vista
científico. N aturalm ente, nenhum desses assuntos é puramente teológico ou
puramente científico; portanto uma abordagem integrada deve ser mantida. Mas
porque toda a verdade vem de Deus, idealmente não deve haver nenhum conflito
entre boa Ciência e boa Teologia, e nenhuma distinção entre verdade “sagrada” e
“secular”.
A im plicação é que os cristãos devem valorizar tanto a Ciência quanto a
Teologia. E indo além da pergunta, “isto é bíblicoT' nós devemos perguntar
“isto é verdadeiroT' Toda Escritura é verdadeira, mas nem toda verdade está
contida na Escritura. Educadores responsáveis estudam tanto a revelação
especial quanto a geral para entenderem a criação de Deus e projetarem um
m inistério de acordo com o modo como Deus projetou seu mundo.
Estruturando as perguntas
Como as questões são estruturadas é algo crítico. Dois sacerdotes estavam
debatendo se era admissível orar e fumar ao mesmo tempo ou não. A discussão
deles tornou-se tão controversa que eles decidiram pedir ao papa para ser o
m ediador da questão. Cada um deles escreveu ao Santo Padre, perguntando a
sua opinião, mas eles ficaram impressionados quando compararam as respostas
as suas questões. O papa concordava com ambos sacerdotes! “ Com o você
colocou a questão?”, o primeiro perguntou. O outro respondeu, “Eu perguntei
se era adm issível fumar enquanto se ora. Sua Santidade afirmou que não era,
porque orar era uma coisa muito séria. Como você fez a sua pergunta?”
O primeiro explicou, “Eu perguntei se era admissível orar enquanto se fumava,
e Sua Santidade afirmou que sim, pois a oração é sempre aceitável” .
A m aneira como a questão é feita determ inará a resposta que obterem os.
Questões sobre Educação Cristã podem ser estruturadas de maneira que sejam
teológicas ou científicas. A chave de tudo é manter um equilíbrio que perm ita
que ambas as fontes passem inform ação para nossa filosofia de educação.
A m pliar as questões para além de “Qual é a maneira bíblica de ensinar?” per
mite que perguntemos, “Como as pessoas aprendem e crescem ?” e nos capa
cita a usar tanto as Ciências Sociais quanto a Teologia para construir a nossa
filosofia de educação.
Q uestões B ásicas 17
M inistério
A Educação Cristã é um ministério, um meio de servir a outros. O foco do
m inistério educacional é servir ao corpo de Cristo por meio do ensino. Há
obstáculos éticos sobre o que podemos fazer em programas educacionais. Os
métodos não devem nunca ser manipulativos ou autoritários; antes, eles devem
servir aos outros ao capacitá-los a aprender. Quando Jesus viu a multidão, como
relatado em Marcos 6.34, ele teve
A Educação Cristã, definida de
compaixão deles porque ele os viu
maneira simples, é o ministério
como ovelhas sem pastor. Ele ex
de levar o crente à maturidade
pressou sua compaixão ao ensiná-
em Jesus Cristo.
los. O coração do educador cristão
deve ser motivado pelo amor. Ainda que ninguém tenha uma motivação absoluta
mente pura, mesmo assim o crescente desejo de nosso coração deve ser o de ver
pessoas crescendo na fé. Nosso ministério educacional não deve ser egoísta, mas
um serviço aos outros. O ensino deveria ser apresentado como um dom de amor
aos outros. Somente essa motivação é digna do adjetivo cristã.
Crentes
A definição sugere que a Educação Cristã deve ser orientada em direção
aos crentes. Em sua forma pura, a Educação Cristã começa onde aevangelização
term ina, ajudando crentes a crescer na fé. O foco e projeto dos m inistérios
educacionais deve ser direcionado aos crentes.
Há uma história um tanto quanto longa de evangelização por meio da Educa
ção Cristã. O fato de se convidar não-cristãos para os programas educacionais
da igreja para ouvirem o Evangelho tem trazido resultados significantes. No en
tanto, a igreja não pode se esquecer de que ela funciona prim eiro por causa
18 E nsino e C rescimento
Propósito
A definição tam bém sugere que o propósito do m inistério educacional é
levar crentes à maturidade espiritual. Talvez a m aioria das pessoas concorde
com isso na teoria, mas parece que há tantas definições de maturidade espiritu
al quanto há grupos cristãos.
Para alguns, maturidade espiritual significa conhecer a Bíblia. Quanto mais
uma pessoa conhece a Bíblia, mais espiritual ele ou ela é. Para outros, m aturi
dade espiritual significa a habilidade de louvar e adorar. Se as pessoas valori
zam e amam o louvor a Deus, elas podem ser consideradas maduras. E ainda
para outros, maturidade é piedade. Quanto mais “profundamente” alguém anda
com Deus, mais maduro ele é. Para outros, maturidade significa ação social.
Maturidade espiritual é estar envolvido com o pobre e oprimido, aliviando seus
problemas. E outros dizem que maturidade significa ganhar almas. A pessoa
verdadeiramente espiritual será um evangelista pessoal. E, para outros, maturi
dade significa experimentar a totalidade do Espírito Santo e exercitar os dons
do Espírito de maneira espetacular.
Sem dúvida, então, os crentes discordam sobre o que significa ser cristão e
o que significa ser maduro espiritualmente. Mas o modo como os propósitos
são definidos determinarão como os ministérios educacionais serão projetados.
O mais desgastante é que alguns educadores cristãos nunca consideraram a
questão de definir cuidadosamente maturidade espiritual. Além de atrapalhar a
caminhada de uma pessoa com Deus, essa omissão também limitará a habilida
de de essa pessoa conduzir outros à maturidade. E crucial que os educadores
cristãos considerem como definirão maturidade espiritual.
A Bíblia usa uma variedade de termos e metáforas para descrever maturida
de espiritual. Termos tais como provado (2 Co 9.13), maduro (E f 4.13), santo
(1 Ts 4.3), e completo (Tg 1.4) referem-se ao conceito de maturidade espiritu-
Q uestões B ásicas 19
al. Metáforas tais como Cristo habitando nos crentes (E f 3.17), permanecendo
em Cristo (Jo 15.5), e crentes andando como Jesus andou (1 Jo 2.6) tam bém
descrevem o conceito de maturidade. Mas nenhuma definição única e simples é
oferecida. Portanto um a definição teológica dever se estabelecida no sentido
de reunir os diferentes dados bíblicos de um modo que seja significativo.
Para os propósitos da Educação Cristã, o conceito de fé ou crença pode
ser usado para determ inar a natureza da m aturidade espiritual. É claro, com
base nos evangelhos, que nosso Senhor valorizava a fé e que ele queria que
seus seguidores tivessem fé. Ele elogiava a fé onde quer que a encontrasse, e
censurava a falta de fé. A Bíblia declara que nós somos salvos por meio da fé
(Rm 1.17) e que sem fé é im possível agradar a Deus (Hb 11.6). O term o fé é
usado de diversas form as para descrever o que Deus deseja em seu povo e é
útil ao descrever o que é maturidade espiritual.
A NATUREZA DA FÉ
Educar para maturidade espiritual significa educar para a fé. Mas qual é a
natureza e a substância da fé? O que a Bíblia quer dizer com o termo fé l
A Escritura fala da fé em três modos diferentes mas de ação interativa. Um
entendimento teológico próprio de maturidade espiritual inclui cada um destes
aspectos de fé: o cognitivo, o afetivo e o volitivo.
Cognitivo
A fé tem um aspecto intelectual {notitia) ou cognitivo. Há um elemento do
conhecimento ou conteúdo da fé. A Escritura afirma que fé significa crer que
certas coisas são verdade. Há um conteúdo para ser crido, e esse conteúdo
tem detalhes. Por exemplo, em 1 Tessalonicenses 4.14 Paulo diz, “Nós cremos
que Jesus m orreu e ressuscitou”, e João 20.31 declara que o propósito do
Evangelho é: “creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus . . . ”
A fé é mais do que um a esperança superficial que não tem substância. A
noção popular de que “você tem de crer” está longe do ensino bíblico segundo
o qual verdadeira fé tem como seu objeto o Deus vivo e sua palavra revelada
na Escritura. Não é suficiente que as pessoas tenham fé. Em quê as pessoas
crêem é tão importante como o fato que elas crêem.
Para alguns cristãos, conteúdo é substituído pela forma. A experiência de fé
20 E nsino e C rescimento
Relacionai
A B íblia tam bém fala de fé como em ocional {assensus) ou relacionai. A
epístola de Tiago adverte contra os perigos de se ter uma fé que é somente
conteúdo e nos diz que ortodoxia sozinha não é suficiente. O conteúdo que é
crido deve tam bém capturar o coração e a vontade do crente.
A verdadeira fé faz com que concordemos com a veracidade do objeto da
fé e nos faz ter o coração controlado. A B íblia descreve isso como crer em
Deus ou em Jesus. Essa construção lingüística {pisteuo eis) é particular do
Novo Testamento, implicando um diferente tipo de crença, diferente da noção
helenística tradicional que separa crença do compromisso.
João 1.12 refere-se “aos que crêem em seu nom e” . Em Gálatas 2.16 Paulo
diz que “também temos crido em Cristo Jesus” . Assim “crença em” vai além do
aspecto intelectual da crença e apela para um a crença que acarreta um com
promisso emocional com o objeto da fé de alguém.
O m aior de todos os m andam entos é que amem os ao Senhor nosso Deus
Q uestões B ásicas 21
com todo 0 nosso coração e com toda a nossa alm a e com toda a nossa força
(Dt 6.5). Isso requer um a fé que é relacionai e viva para com D eus, não um
intelectualism o desinteressado. O que um a pessoa crê é im portante, mas o
comprometimento de coração é igualmente importante. O crente maduro terá
um coração que am a a Deus, deleita-se em conhecê-lo e deseja agradá-lo de
todas as m aneiras. Não é possível falar de m aturidade espiritual sem essas
qualidades do coração.
Ministérios educacionais que ajudam pessoas a crescerem na fé devem ajudar
pessoas a m overem o coração em direção à Deus. Elas não devem som ente
entender a verdade, mas também serem capturadas pela verdade. Fé significa
um com prom etim ento com a verdade de Deus e um coração que se alegra na
verdade. A distinção entre conteúdo e emoção em fé é a distinção entre crença
passiva e ativa. A igreja deve ensinar de m aneira que as pessoas abracem
ativamente o Evangelho como verdade e significativo para a vida.
Volitivo
A Bíblia também fala da fé como volitiva {fiducia). Esse elemento final da fé
traduz-se em estilo de vida. Fé verdadeira fez com que as pessoas ajam baseadas
no que elas crêem, empregando não somente coração e mente, mas tam bém a
vontade. Nosso Senhor ensinou, “Se me amais, guaifiareis os meus mandamentos’’
(Jo 14.15). O resultado da fé salvadora é obediência a Deus. O teste final sobre
se a fé de alguém é verdadeira é que ela seja expressa por boas obras.
■Em um esforço para proteger a doutrina da justificação pela fé som ente,
algumas pessoas têm entendido mal a natureza da fé, removendo dela qualquer
entendimento ou inclusão de obras. Mas ninguém é justificado por um a fé que
está só, sem boas obras. Efésios 2.8, 9 ensina que a salvação é som ente pela
graça . Mas o versículo 10 enfatiza que “nós somos feitura dele, criados em
Cristo Jesus para boas obras as quais Deus de antem ão preparou para que
andássem os nelas” . N osso Senhor advertiu que se nossa fé não está sendo
expressa em obediência, não é fé verdadeira de maneira alguma (Mt 7.21-23).
As pessoas não podem dizer verdadeiramente que crêem em Jesus a menos
que tenham um com prom isso com ele que se traduz em obediência ativa.
Parte do am or a Deus é um desejo de agradá-lo com obediência. Paulo
descreve seu m inistério como chamando pessoas à “obediência que vem da
fé” (Rm 1.5). A fé bíblica verdadeira finalmente afeta a vontade, levando uma
pessoa a desejar obedecer a Deus. O processo de santificação é aprender a
22 E nsino e C rescimento
tornar-se cada vez mais obediente à Deus. Um a fé que ju stifica deve ter um
aspecto desse desejo por obediência residindo dentro de si. Tiago diz-nos
enfaticamente que “assim como o corpo sem o espírito é morto, assim também
a fé sem obras é m orta” (Tg 2.26).
Proclamando o Evangelho
Um entendimento completo da fé tem implicações profundas sobre o modo
como o Evangelho é proclamado. Quando pessoas são convidadas a aceitar o
dom da salvação, deve ser com um entendimento de que fé em Cristo relaciona
crença com comportamento. Receber a Cristo significa mais do que receber os
benefícios da expiação; significa recebê-lo. Significa crer que ele morreu pelos
pecados da hum anidade, am á-lo, e estar determ inado a esforçar-se para
obedecer aos seus mandamentos.
A lgum as igrejas são fracas parcialm ente porque não têm proclam ado o
Evangelho de modo correto. Elas têm convidado pessoas a crerem que Jesus
m orreu por elas (notitia) sem convidá-las a recebê-lo. H á pessoas que pen
sam que são cristãs porque seus sistem as de crença são ortodoxos. M as os
dem ônios têm um a crença ortodoxa e não são salvos (Tg 2.19)! Deixar de
ensinar que fé não é somente intelectual, mas também afetiva e volitiva, tem
produzido igrejas fracas.
Educadores cristãos devem ensinar o que significa ter fé em Cristo. Nós
devemos entender que pode haver pessoas na igreja que conhecem o conteúdo
da crença cristã, mas não conhecem a Cristo verdadeiram ente. Elas não têm
um coração que se alegra nele, nem uma vontade que seja submissa a ele. Elas
crêem que obediência é para um a classe especial de cristãos que querem ir
mais além com Cristo. Elas reduziram a fé a uma afirmação em forma de credo,
rem ovendo dela o poder de transform ação que tem. Como resultado, a vida
delas não foi mudada, e elas não experim entam o poder de Deus.
Uma educação digna do adjetivo cristã deve ser fiel à Bíblia, proclamando
a totalidade de sua mensagem. Por muito tempo a igreja se conformou em ensinar
um a teologia popular que faz cócegas nos ouvidos, m as que não transform a
vidas. A igreja deve ensinar o que significa ser cristão, seguir a Cristo e ser sal
e luz num mundo faminto. Isto acontecerá somente quando o conceito bíblico
total de fé for ensinado.
Q uestões B ásicas 23
ENTRADA
Pois que grande nação liá que tenha deuses tão chegados a si como o
SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande
nação há que tenha estatutos e juízos tão Justos como toda esta lei que eu
hoje vos proponho? (Dt 4.5-8)
lhas sem um pastor (v. 34). Ele estava movido pela compaixão por elas porque
ele as via tanto como vulneráveis quanto sem direção. Ele olhou para eles com
olhos de amor.
Como Jesus expressou sua com paixão para com a m ultidão? M arcos nos
diz que “ele passou a ensinar-lhes m uitas coisas” (v. 34). Desde que Jesus
expressou seu am or pelo ensino, o que se deduz é que uma das coisas mais
am áveis que nós podem os fazer pelos outros é ensiná-los. A judar pessoas a
conhecer a Deus e serem obedientes a ele é talvez o m aior presente que
possam os dar a alguém. Entendida deste modo, a Educação C ristã pode ser
um dos ministérios mais misericordiosos da igreja.
A Grande Com issão de Jesus em M ateus 28.18-20 fornece um a m aior
compreensão de seu entendimento da importância do ensino. Ele começou por
afirm ar que toda a autoridade era sua de direito, proclam ando seu senhorio
sobre toda a criação. Baseado nessa verdade, a tarefa prim ária de todo cristão
é fazer discípulos de todas as nações. O Evangelho com eça com senhorio de
Cristo e é motivado por ele. Qualquer evangelho que não proclame seu senhorio
é um falso evangelho.
Um discípulo é alguém que está comprometido com o Senhor com lealdade
e devoção. O imperativo do mandamento é que devemos estar envolvidos com
0 fazer discípulos. Ao vivermos a vida, nossa tarefa é sempre a mesma.
Sobre esses versículos, D. A. Carson observa:
Batizar e ensinar não são os meios para fazer discípulos, mas eles o
caracterizam. Tem-se em vista a proclamação do evangelho que resultará
em arrependimento e fé, pois matheteuo (“eu discípulo”) envolve tanto
pregação quanto resposta. A resposta do discipulado é o batismo e a
instrução. Portanto, batismo e instrução não são coordenados— seja
gramaticalmente ou conceitualmente— com a ação de fazer discípulos...
O NT dificilm ente pode conceber um discípulo que não seja batizado ou
não seja instruído. De fato, a força desse mandamento é fazer discípulos
de Jesus responsáveis por fazer outros discípulos, uma tarefa caracteriza
da pelo batismo e instrução.-
CONCLUSÃO
Essa breve visão geral demonstra que o ensino não é opcional na igreja, mas
um imperativo bíblico a ser obedecido. A forma do ensino pode variar. Escolas
dominicais, por exemplo, não são mandatos bíblicos. Elas são uma forma cul
turalmente estabelecida nos dois últimos séculos para cumprir o mandato bíbli
co. Como a igreja ensina está aberto para uma variedade de expressões cultu
rais, mas que a igreja ensine é algo não-negociável. As Escrituras ordenam que
a igreja eduque seu povo para a maturidade espiritual.
CAPÍTULO 3
MODELANDO NOSSO ENSINO CONFORME
O DE JESUS
Jesus continua sendo o principal exem plo de um professor eficaz. Sua
influência é sentida tão poderosamente hoje como ela foi há dois mil anos. Sua
capacidade de tocar vidas com seus ensinam entos e ajudar pessoas a ver e
entender as questões espirituais serve como um ideal que nós devem os lutar
para atingir. Os métodos e ensinamentos de Jesus eram culturalmente apropriados
para seu contexto, mas eles continuam sendo instrutivos para nós em nosso
contexto. M uitas das coisas que ele fez e disse servem como um modelo para
os educadores cristãos na idade moderna.
si mesmo sugere que, enquanto ele estava na terra, suas limitações devem ter
sido semelhantes às nossas,
Uma segunda consideração é que a cultura de Jesus era completamente diferente
da nossa. Jesus ensinou em ambientes abertos, viajando de um lugar para outro,
levando seus discípulos consigo. Porque os rabinos itinerantes eram muito comuns
naquele tempo, a abordagem de Jesus não era incomum. M as poderia essa
abordagem de algum modo ser transferida para a nossa cultura de hoje?
A lguns autores acreditam que havia um plano específico para os seus
ensinamentos, especialmente a respeito do treinamento dos apóstolos— um plano
que é transferível para o nosso contexto. Por exemplo, no seu livro With Chrisl
in lhe School o f Discipleship [Com Cristo na Escola do D iscipulado], Carl
W ilson argumenta que há um modelo definido nos trabalhos de Jesus com os
Doze. Para encontrar o modelo, ele diz, nós devemos primeiro obter um a har
monia dos evangelhos. Cada um dos quatro evangelhos deve ser integrado dentro
de um todo para que cheguemos a uma clara história da vida de Cristo. Uma
vez que tenhamos feito isso, acredita Wilson, poderemos estudar o modelo das
experiências para os Doze e descobrir o m étodo do discipulado de Jesus.
A abordagem de W ilson é em basada num a harm onização bem -sucedida
dos evangelhos. Mas a harm onia dos evangelhos por melhor que seja é frágil
porque os evangelhos não foram escritos para fornecer a história da vida de
Cristo. Antes, os evangelhos foram escritos como um a declaração teológica
sobre Cristo e são mais bem compreendidos quando lidos independentemente,
procurando a m ensagem interna de cada um. Q uando eles são lidos como
afirm ações teológicas sobre Cristo, nenhum padrão claro da abordagem de
Jesus sobre o treinam ento dos D oze em erge; em vez disso, cada escritor
apresenta um a descrição singular de Cristo que revela os princípios usados
por Cristo como professor. A ssim , procurar por um padrão cronológico do
qual nós possam os derivar um padrão específico para o discipulado é
provavelmente algo inapropriado.
Procurar por princípios em lugar de padrões é uma atitude mais fiel ao modo
como os evangelhos foram registrados. Pareceu bem ao Pai não nos fornecer a
história da vida de Cristo de forma cronológica, e portanto nós não precisamos
procurar por isso. Mas nós podem os pegar a informação que cada escritor
fornece e usá-la para entender os princípios principais que parecem guiar nosso
Senhor como professor.
A Escritura nos ensina que Jesus serve como um exemplo para nós. E-nos
dito que devemos andar “como Jesus andou” (1 Jo 2.6), vivendo nossa vida de
acordo com os princípios que o guiaram. Além do mais, Lucas nos diz que ele
M odelando N osso E nsino C onforme o de J esus 37
registrou “tudo o que Jesus com eçou a fazer e ensinar” (At 1.1). Lucas não
estava preocupado somente com o que Jesus disse, mas também com o que ele
fez. Um estudo de Jesus como professor deve considerar tanto o que ele ensinou
quanto ao modo como ele ensinou. H á pelo menos quatro áreas principais nas
quais Jesus serve como modelo para os professores modernos.
Por ser essa uma questão difícil de responder, é melhor primeiro respondê-la
negativamente— isto é, determinar quais não eram seus objetivos. Parece claro
que não era objetivo de Jesus deixar somente um corpo de verdades. Jesus estava
preocupado com a comunicação do conteúdo, mas isto não parece ter sido sua
preocupação primária. Houve muitas vezes em q u e , como professor, ele pai'ecia
estai' procurando algo mais do que a comunicação de novas informações.
Jesus reinterpretou o Antigo Testamento, oferecendo uma visão mais proflinda
dos significados que ele contém. Mas ele não estabeleceu um a nova teologia.
A ntes, 0 ensino de Jesus era uma extensão da teologia existente enquanto
mostrava ao povo todo um modo inteiramente novo de pensar sobre as verdades
do Antigo Testamento e revelar quem ele era e o seu papel no plano redentivo
do pai. Ele se ateve ao cum prim ento da Lei, e não a um a nova interpretação
teológica dela.
Jam bém não era objetivo de Jesus como professor a sistem atização da
Teologia. Claramente ele estava interessado na verdade coerente e congruente e
no pensam ento lógico, mas não a ponto de isso se tornar sua preocupação
principal. Não há exemplos dele organizando uma verdade teológica de novas
maneiras.' Ele seguiu a interpretação tradicional do Antigo Testamento de acordo
com os costumes judaicos, mas nós nunca lemos que ele formou “classes bíblicas”
para ensinar todo o conselho de Deus.^
' Isso de forma alguma deve ser interpretado como significando que a Teologia Sistemática é
algo sem importância. Devido ao fato de que os humanos são seres lógicos e que as leis de
comunicação requerem lógica, é absolutamente necessário para a igreja sistematizar seu enten
dimento da revelação divina. O único ponto que eu quero enfatizar é que essa não era uma
preocupação essencial de nosso Senhor como professor.
■'Novamente, eu não quero dizer com isso que o ensino sistemático das Escrituras seja sem
importância ou não-bíblico. Isto serve somente para destacar que essa não era a preocupação
principal de nosso Senhor.
38 E nsino e C rescimento
Jesus seguiu a tradição normal de sua época, que presumia o estudo da Torá,
mas não ofereceu um comentário ou interpretação sobre o Antigo Testamento
em qualquer ordem lógica ou seqüencial.
Qual, então, era seu objetivo como professor? Jesus disse, “eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Seu objetivo como professor
era mudar a qualidade de vida de seus alunos, colocando-os num patamar mais
alto de obediência a Deus e num nível maior de santidade. Por ter dado sua vida
por eles (v. 11), Jesus pôde ensiná-los e capacitá-los a viver de uma nova maneira.
O propósito de Jesus como professor era influenciar as experiências de seus
alunos para que a vida deles fosse diferente. Ele queria que eles experimentassem
a Deus como Pai e vivessem na realidade desse relacionamento. Jesus queria
que eles vivessem retamente em obediência aos m andam entos de Deus e
experimentassem a vida completa em relação a Deus. Seu objetivo como professor
era tocar a vida de seus alunos.
Alguns professores confundem NÓS não podemos mudar vidas,
m eio s com fin s. E les som ente mas nossa responsabilidade é
enfocam os métodos e se esquecem ensinar para que Deus possa
dos objetivos. Ensinar a Bíblia é um usar nossos esforços para levar
método; mudar vidas é um objetivo. nossos alunos à maturidade.
A razão pela qual nós ensinamos na Maturidade, bem entendida,
igreja é que vidas sejam transforma significa uma vida mudada.
das. A razão pela qual nós promove
mos estudos bíblicos é que vidas sejam transformadas. A razão pela qual nós
estabelecemos Escolas Dominicais, grupos de jovens, grupos de solteiros, e ou
tros programas educacionais é que vidas sejam transformadas.
Quando o objetivo se tornar mudar a vida dos alunos, o foco e as atividades
do professor serão influenciados. Jesus não era obcecado pelo “cumprimento
do conteúdo”, pois este não era seu objetivo. Ele podia gastar tempo ouvindo
seus alunos e interagindo com eles porque sua agenda era a vida deles, e não
um conteúdo a ser cumprido.
Professores atuais devem aprender com esse exemplo. Nós devem os nos
lem brar que nossos objetivos vão além da com unicação de um conteúdo e
deve chegar até à resposta do aluno àquele conteúdo ensinado. N ós não
podemos nos satisfazer apenas com o fato de que nossos alunos “conhecem a
verdade”. Nossos alunos devem viver a verdade. Somente então podemos dizer
que nosso ensino foi bem-sucedido.
Mas é algo realista esperar que nosso ensinamento traga mudanças de vidas?
Podemos esperar tocar a vida de outros, levando-os a serem mais retos e mais
M odelando N osso E nsino C onfoilmh o de J esus 39
obedientes a Deus? Podemos realm ente causar esse tipo de resposta em nos
sos alunos? A resposta é simples; nós não podemos m udar vidas. M as o con
teúdo da Escritura ensinada no poder do Espírito Santo muda vidas. Deus pode
usar nosso ensinamento para fazer mudanças.
A Educação Cristã é mais bem entendida como uma parceria educacional
com Deus. Nós somos responsáveis por ensinar outros fazendo o m elhor que
pudermos, esforçando-nos para ajudá-los a entender a Palavra de Deus e obe
decer a ela. O Espírito Santo é responsável por usar nossos esforços para
tocar o coração de nossos alunos e conduzi-los a um relacionamento obediente
com 0 Pai. Nós devemos ensinar como se isso dependesse de nós, entendendo
que se os alunos de fato responderem ao ensino é por causa da graça de Deus
na vida deles. Nós não podemos m udar vidas, mas nossa responsabilidade é
ensinar para que Deus possa usar nossos esforços para levar nossos alunos à
maturidade. Maturidade, bem entendida, significa uma vida mudada.
são foi tão profunda que mesmo sua carteira foi afetada! A aceitação de Zaqueu
por parte de Jesus enquanto todos os outros o rejeitaram foi um a afirm ação
poderosa que tocou Zaqueu profundamente.
O texto sobre a mulher pega em adultério (Jo 8.3-11) é bastante discutido,
que não aparece nos manuscritos mais antigos, mas ainda assim é considerado
confiável por muitos estudiosos do Novo Testamento.'’ Quase todos concordam
em que a história é autêntica; é a localização e a colocação das palavras que
estão em questão. Mas a história nos ajuda com mais informação sobre como
nosso Senhor se relacionava com as pessoas.
Os líderes religiosos levaram a Jesus uma mulher que tinha sido pega em ato
de adultério. Eles deixaram o homem ir embora, mas a mulher ímpia deveria ser
punida. (Já naquela época era aceito o padrão duplo em relação ao m odo de
tratar as mulheres e os homens.) Os líderes estavam somente usando a mulher
como um a peça no jogo que eles estavam fazendo para apanhar Jesus numa
armadilha. Eles queriam colocar Jesus na difícil posição de ter escolher entre a
lei judaica, que mandava apedrejar, e o governo romano, que tinha a aplicação
da pena capital como direito exclusivo seu. Se Jesus concordasse que ela fosse
apedrejada como a lei judaica exigia, ele estaria em conflito com Roma. Se ele
pedisse tolerância e complacência, ele estaria em conflito com a lei judaica.
Quando confrontado com esse desafio, Jesus se abaixou e com eçou a
escrever no chão com o dedo. Ele então se levantou e virou a acusação contra
os líderes religiosos, mostrando a hipocrisia da ação deles. Ele desafiou-os ao
dizer que aquele que não tinha pecado atirasse a prim eira pedra. N ovam ente
Jesus se abaixou e começou a escrever no chão.
Não nos é dito o que ele estava escrevendo. O dr. Rufus Jones, ex-
superintendente-geral da Conservative Baptist Home M ission Society, sugere
que talvez Jesus estivesse escrevendo os nomes e as datas de quando aqueles
hom ens acusadores tinham com etido adultério! O convite de Jesus para que
aquele que não tivesse pecado atirasse a prim eira pedra serviu para silenciar a
multidão e fazer com que fossem embora.
Deixado só com a mulher, Jesus teve grande pena dela. Dá para imaginar a
grande humilhação que ela tinha sofrido. Jesus perguntou se havia ainda algum
acusador para condená-la, e quando ela disse que não, Jesus ofereceu seu
perdão, dizendo a ela para ir e deixar sua vida de pecado. Isso não quer dizer
que Jesus simplesmente perdoou o pecado, mas que, embora a lei tivesse vindo
por M oisés, a graça e a verdade vinham por Jesus (Jo 1.17).
^Ver, por exemplo, R. V. G. Tasker, The Gospel According to John (Grand Rapids: Eerdmans,
1960), 1i 0; D. A. Carson, The Gospel According to John (Grand Rapids: Eerdmans, 1991),
M odelando N osso E nsino C onforme o de J esus 41
Que efeito isso teria tido nas pessoas com uns? Pessoas que eram acostu
madas a ser condenadas e rejeitadas pelos líderes religiosos viram -nos sendo
feitos de tolos pelo novo rabino. Elas tinham de com em orar o que Jesus fize
ra, vendo finalmente alguém que podia se levantar conta a tirania religiosa que
elas tinham sofrido. A quelas pessoas haviam sido pisadas por muito tem po
pelos hipócritas fariseus que colocavam m ais e m ais peso sobre elas sem
levá-las para mais perto de Deus. Afinal havia alguém que podia ser o advo
gado deles contra a religião organizada e opressora.
Parece que Jesus não se sentia ofendido pelas pessoas pecadoras. N ão há
dúvida de que tanto Zaqueu quanto essa mulher eram pecadores e que estavam
dolorosamente cientes de suapecaminosidade. Mas Jesus ofereceu-lhes o perdão
em meio à dor que eles sentiam. Enquanto os líderes religiosos pediam a
condenação deles, ele ofereceu-lhes redenção.
O mesm o tipo de história é contada no incidente da m ulher no poço,
registrada em João 4. Enquanto todos evitavam a mulher porque ela tinha tido
cinco m aridos e estava agora vivendo com um outro homem, Jesus teve uma
conversa natural e aberta com ela. Ele a tratou com respeito e lhe disse que ele
era o M essias (v. 26).
Jesus era um ‘‘amigo de pecadores'’ (Mt 11.19), aceitando-os mais do que
aos líderes religiosos. Os pecadores sabiam que Jesus era um homem de Deus,
e mesmo assim eles se sentiam à vontade com ele. Os coletores de impostos e
as prostitutas vinham a ele livremente, e ele era o amigo dessas pessoas. Mas
Jesus tiiúia fortes conflitos com os líderes religiosos.
O evangelho de Marcos registra a degeneração do relacionamento de Jesus
com os líderes religiosos. Marcos 2.1-12 nos conta a cura do paralítico. Todos
se alegraram com a cura do homem, exceto os m estres da lei que estavam
ofendidos porque Jesus tinha afirm ado ser capaz de perdoar pecados. Para
eles, assuntos da lei e da propriedade religiosa eram mais importantes do que o
sofrim ento e a cura. As tradições religiosas eram superiores às questões
humanitárias e a resposta misericordiosa diante do sofrimento humano. De fato,
a tradição deles eram mais im portantes do que mesmo os milagres. Eles não
podiam ou não queriam ver os milagres por causa da sua posição teológica.
M arcos 2.13-17 registra o chamado de Levi. Ele era um coletor de im pos
tos, um colaborados dos opressores romanos. Mas Jesus chamou-o e o esco
lheu para com er com ele. Quando Jesus foi criticado por com er e beber com
pecadores, ele explicou que ele tinlia vindo para os pecadores, usando a analogia
de que o doente é que precisa de médico e não o são. Mas os hipócritas mestres
da lei e os fariseus não aceitaram essa explicação. Ele não se viam como
necessitados de redenção.
42 E nsino e C rescimento
Os líderes judeus também desafiaram Jesus porque ele não seguia os rituais
de jeju m (vs. 18-22). Outros rabinos ensinavam e praticavam o jeju m , mas
Jesus ensinou que enquanto ele estava presente era tem po para festejar. Isso
também ia contra os padrões religiosos e teológicos deles.
A m aioria dos conflitos de Jesus com os fariseus estava centrada nas leis
referentes ao sábado. Ele perm itia que seus discípulos colhessem grãos no
sábado, e fínalmente Jesus desafiou completamente os líderes religiosos sobre
0 assunto. M arcos 3.1-6 diz como ele levou o hom em que tinha um a mão
ressequida para diante da congregação. Os olhos de todas as pessoas estavam
fixos nele porque elas entenderam que um confronto direto estava prestes a
acontecer. Suas leis declaravam que nenhum trabalho poderia ser feito no
sábado, e uma cura era classificada como trabalho.
Jesus elevou a confrontação ao nível dos valores básicos ao perguntar, “ E
lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas
eles ficaram em silêncio” (Mc 3.4). Não se tratava de um conflito sobre tradições
religiosas, mas sobre valores básicos. As pessoas e suas necessidades eram
mais importantes do que as leis humanas e as tradições? M arcos registra que
Jesus '‘olhou para eles indignado e condoído com a dureza do seu coração”
(Mc 3.5). A observância rígida do sábado era m ais im portante do que a
deformidade daquele homem. Eles defendiam aquela posição com tanto fervor
que após Jesus curar o homem eles saíram do lugar e com eçaram a tram ar
como o matariam.
E evidente que conquanto Jesus fosse um amigo de pecadores, ele não
tolerava hipocrisia religiosa. Quando as pessoas afirmavam amar a Deus, mas
estavam controlando os outros com seu legalismo em nome da religião, isso era
mais do que ele podia tolerar. A atitude hipócrita destes pessoas causou em
Jesus ira em vez de complacência.
N ós, educadores cristãos m odernos, deveriam os aprender, a partir disso,
que nunca devem os rejeitar as pessoas porque são pecadoras. A ntes, para
serm os verdadeiram ente educadores como Cristo, nós devem os aprender a
am ar as pessoas como Jesus o fez. Os program as educacionais deveríam ser
um refúgio para pessoas que têm sido desprezadas pelas religiões oficiais e
pelos líderes religiosos. A educação que é cristã traz perdão e redenção, não
condenação e lei.
E triste que em algumas igrejas os pecadores sejam tratados como objetos—
alm as para serem ganhas em vez de pessoas para serem am adas. Eles são
humilhados, criticados, e tratados com desrespeito, tudo em nome de Cristo.
Q uando eu era professor de faculdade, estava entrevistando pessoas para
M odelando N osso E nsino C onforme o de J esus 43
O nível mais baixo é uma simples lembrança, pela qual o aluno é capaz de
lem brar o que foi ensinado. Esse é um sim ples exercício cognitivo, não
relacionado com a vida. A lem brança é necessária para níveis m ais altos de
aprendizado mais tarde, mas é dificilmente capaz de penetrar na vida do aprendiz.
M uitos estudantes desenvolvem uma boa memória e são bem-sucedidos nesse
tipo de aprendizado.
Aprovação envolve não somente a m ente do estudante, mas tam bém seu
com prom isso emocional com o que foi aprendido. O estudante gosta do que
ele lembra, e tem um sentimento positivo sobre a informação. Um aprendizado
eficaz que traz m udança de vida requer um envolvimento tanto afetivo como
cognitivo do aluno.
Especulação é um envolvimento cognitivo com o conteúdo. N esse nível o
aluno pensa sobre como essas idéias podem ser aplicadas em seu contexto.
Ainda não há uma resposta de vida ao conteúdo, mas há um pensamento ativo
sobre o que tem sido aprendido. O envolvimento afetivo do nível dois conduziu
à atividade cognitiva do nível três.
No nível da aplicação, o aluno experimenta o conceito num a situação da
vida real como um resultado do pensam ento do nível três. Esse passo serve
como um campo de teste para a validação da verdade aprendida. A aplicação
pode conduzir à rejeição do conteúdo, ou ao nível final do aprendizado se o
conceito '‘funcionou” na experiência crucial da vida.
A adoção ocorre quando o aluno incorpora o conceito em sua vida. O teste
do nível quatro provou ser positivo, e o aluno agora escolhe integrar esse conceito
na estrutura do seu próprio raciocínio e ação. Este é o últim o passo para o
aprendizado eficaz.
Conteúdos formais de aprendizado são poderosos para ajudar os alunos a
atingir os três prim eiros níveis de aprendizado. Os conceitos podem ser
com unicados de m aneiras agradáveis, e os alunos podem ser conduzidos a
considerar as possíveis aplicações na vida diária. Mas a educação formal tende
a ser m enos eficaz que a educação informal para ajudar os alunos a alcançar
níveis mais altos de aprendizado. Os passos da aplicação e adoção são mais
bem criados por um modo mais informal de ensino. O contato pessoal da
46 E nsino e C rescimento
cidadãos respeitáveis. Mas quando o Verbo se fez carne, ele escolheu entrar em
relacionamento com ela, dizendo-lhe que ele era o Messias prometido (Jo 4.26).
Nenhum judeu tinha negócios com samaritanos, ainda mais alguém da classe
dela. Apesar disso, ele foi até ela, e foi para ela que ele falou sobre a água viva.
O resultado desse relacionamento foi que muitos samaritanos acreditaram
nele. Eles-primeiro ouviram a descrição que a mulher fez do encontro, e então
experimentaram a Jesus por si mesmos. Eles ouviram suas palavras no contexto
de seu relacionam ento com eles e isso provou a verdade de seu ensino.
O capítulo 5 registra sua entrada em Jerusalém. Parece lógico que quando o
Verbo entrou na história humana ele deveria ir para o trono de poder na região
onde ele vivia. Mas João nos diz que quando ele entrou em Jerusalém ele foi à
piscina de Betesda e conversou com um paralítico, um homem que tinha estado
naquela condição há 3 8 anos! Mesmo no centro urbano de seu mundo, ele escolheu
entrar num relacionamento com uma das pessoas mais simples que lá havia.
O educador cristão m oderno deve aprender com esse exem plo que um
ministério eficaz envolve tanto relacionamentos como conteúdo. Ministérios de
ensino desprovidos de contato pessoal são somente parcialmente bem-sucedidos
em seu poder de m udar vidas. Com unicadores poderosos podem se eficazes
em instruir outros sobre assuntos de doutrina e vida cristã, mas os resultados
de m udança profunda de vida norm alm ente ocorrem no contexto dos
relacionam entos humanos. Porque somos chamados para amar. nós som os
chamados a um envolvimento relacionai com os outros. E impossível amar as
pessoas sem nos envolvermos com elas.
Há um a tentação sutil de estabelecer program as educacionais em nossas
igrejas, exigir que as pessoas os apóiem, e insistir em que a freqüência será
um a marca de espiritualidade. Essa atitude inverte a noção de educação como
serviço ao povo; isso força as pessoas a servirem à educação. A educação
que é cristã procede da base do amor às pessoas, procurando seus m elhores
interesses e preocupações, não exigindo que sirvam aos programas.
Embora para Jesus deixar um corpo doutrinário organizado não fosse uma
questão primária, ele tinha uma verdade proposicional a comunicar. O conteú
do teve um importante papel em seu ministério enquanto procurava alcançar
sua geração e as gerações que viriam . Várias observações podem ser feitas
sobre o uso do conteúdo em seu ministério de ensino.
Jesus referia-se ao Antigo Testamento regularmente e é evidente que ele eria
48 E nsino e C rescimento
que ele fosse verdadeiro. Ele aceitava a autoridade da Escritura sobre a conduta
humana, regularmente exortando, “Está escrito... ”, assim indicando a natureza
autoritativa da Palavra de Deus. Além do mais, ele cria na fidelidade das histó
rias do Antigo Testamento. Por exemplo, ele ensinou sobre a sua própria ressur
reição dos m ortos ao usar a analogia de Jonas na barriga do peixe (M t 12.39-
42). Ele regularmente ensinava com base nas Escrituras. Não há qualquer indi
cação de que ele duvidasse da veracidade ou exatidão histórica do texto.
.Tesus acreditava que o testemunho da Escritura era o testemunho de Deus,
que Deus era o verdadeiro autor da Escritura. Ele reconhecia os autores humanos
mas cria que atrás deles estava o autor divino. Portanto ele poderia tanto dizer,
“M oisés disse” ou “Deus disse,” porque para ele os dois eram o mesmo. Além
do m ais, ele argum entou que a “Escritura não pode falhar” (Jo 10.35) e que
“ até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jam ais passará da Lei, até
que tudo se cum pra” (M t 5.18).
Talvez ele tenha feito os ataques mais mordazes aos líderes religiosos quando
perguntou-lhes, “Não lestes. . . ?” (M t 12.3, 5). Sua m ensagem era clara: se
eles deviam conduzir as pessoas, eles deveriam conhecer a Escritura. Se eles
eram povo de Deus, deveriam co
Uma Educação Cristã eficaz
nhecer a Palavra de Deus.
conduz o povo para o estudo da
Um conflito também se levantou
Bíblia como um meio de
sobre a questão de autoridade. Os
crescimento, não como um fim
fariseus nivelaram suas tradições
em si mesmo. Um estudo fiel da
com a autoridade das Escrituras,
acreditando que ambas deveriam ser
Bíblia deve ser um meio de
obedecidas. Mas nosso Senhor fez
aprendizado para conhecer e
distinções fortes entre as tradições
obedecer a Deus.
dos homens e os mandamentos de Deus (Mc 7.1-12), distinguindo entre o que
M oisés havia dito (v. 10) e o que os fariseus diziam (v. 11). Os fariseus criam
que M oisés e “os anciãos” (os fundadores históricos do Farisaísmo) eram não
só comparáveis, mas exatamente iguais. Jesus via isso como um conflito entre a
autoridade de Deus e a autoridade humana.
Jesus estava interessado no conteúdo do ensino, mas o conteúdo teria de
ser a Palavra de Deus revelada na Escritura. N um a era em que alguns cristãos
estão questionando a veracidade da Escritura, é instrutivo lembrar que nosso
Senhor tanto acreditava na veracidade da Escritura como tam bém ensinava
isso. Ele não se im portava com questões da “baixa ou alta crítica” , mas
acreditava no significado manifesto da Escritura. Além disso, ele fez uma distinção
entre as tradições religiosas dos fariseus e a Palavra de Deus. A prim eira era
humana e a última divina.
M odelando N osso E nsino C onforme o de J esus 49
’ John R. W. Stott, Christ, the Contwversialist (Downers Grove; InterVarsity, 1972), 90.
CAPÍTULO 4
ENTENDENDO DEUS, ENTENDENDO AS
PESSOAS
Educadores cristãos trabalharam duro para entender o ser humano— como
nós aprendem os, como nós nos desenvolvem os, por que reagim os do m odo
como reagimos. O educador cristão moderno claramente deve entender alguma
coisa de Psicologia, procurando com preender a natureza das pessoas. M as
não tem havido um esforço igual para entender a natureza do D eus que nós
servim os e cujas características nós devem os imitar. Não é de adm irar que a
nossa fé seja freqüentemente frágil e nossa adoração não inspirada. Tendemos
a colocar maior ênfase em entender as pessoas do que em entender Deus. Nós
devemos aprender a fazer ambos com igual fervor.
Tentativas de construir uma teologia de Educação Cristã têm normalmente
c o m e ç a d o n a a re n a de ^
^ . . . O entendimento de como Deus e dara
Eclesiologiaporque aigreia , x ■
. X j ■
e o contexto do crescimento
: forma ao nosso entendimento do que
. - -x . , .
^ ^ X X ' significa
e sp iritu a l.' O contexto e ^
ser espiritualmente maduro e
importante, mas essa ênfase ''«vemos ajudar os crentes a
tem sido feita à custa de
assuntos mais profundos— a natureza da m aturidade espiritual e o caráter de
Deus. Prim eiro devem os explorar o conceito mais básico de como Deus é,
então nós poderem os nos mover para considerar o contexto. O entendimento
de com o Deus é dará form a ao nosso entendim ento do que significa ser
espiritualm ente m aduro e como nós devem os ajudar os crentes a crescer em
direção à maturidade. Além do mais, o conhecimento de como Deus é ajuda os
crentes a manterem -se longe da idolatria, especificamente a idolatria de criar
Deus à nossa imagem, em lugar de aceitá-lo como ele é.
A SANTIDADE DE DEUS
Em um sentido, o atributo da santidade de Deus é central para todos os seus
outros atributos. A santidade de Deus pode ser entendida como o modificador
ou o identificador de tudo o que Deus é. Seu amor é um amor santo; sua graça,
uma graça santa; sua ira, uma ira santa, sua justiça uma justiça santa.
' Ver, por cxemp\o, SharpeningtheFociis qfíhe Church, de Gene Getz (Chicago: Moody, Press.
1974) ; A Theology ofChrislian Education, de Lawrence O. Richards (Grand Rapids; Zondervan,
1975) .
52 E nsino e C rescimento
A teologia contem porânea tende a enfatizar o amor de Deus como sua ca
racterística central. De fato a Escritura enfatiza a maravilha da profundidade e
am plitude e altura do amor de Deus (E f 3.18-19). Mas nós tem os enfocado
tanto o amor de Deus que nós deixamos de entender que sob seu amor está sua
santidade. Seu amor é tão impressionante porque é um amor santo.
Talvez a santidade de Deus tenha sido ignorada nos últimos anos por causa
de sua associação necessária com sua justiça. Se Deus é totalm ente santo, ele
deve ser também justo, punindo o pecado como uma afronta a sua pureza moral.
Parece m ais seguro acreditar num Deus amoroso e gentil do que num Deus
santo e justo que julga o pecado de acordo com sua justiça. Pode ser que por
e ssa ra z ão a sa n tid ad e de D eus te n h a sid o ig n o ra d a nas te o lo g ia s
contem porâneas da Educação Cristã. Mas o que diz a Escritura?
A visão de Isaías da presença de Deus incluía serafins que clam avam ,
“ Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; toda terra está cheia de sua
glória” (Is 6.3). Similarmente, quando João olhou para dentro das cortinas do
céu, ele ouviu as quatro criaturas ao redor do trono dizendo incessantemente,
“ Santo, santo, santo é o Senhor Deus poderoso, aquele que era, que é, e que
há de v ir’' (Ap 4.8).
O enfoque da adoração nos céus é Deus e sua santidade. E o atributo da
santidade, acima de todos os outros, que estimula a adoração celestial. Somente
o atributo da santidade é elevado ao nível do triplo pronunciamento, mostrando
a im portância colocada nela. A Escritura usa a repetição como um recurso
literário para enfatizar a santidade. R. C. Sproul observa:
lugar santo e santo dos santos. . ., pelas ofertas prescritas que deviam ser
levadas quando um israelita quisesse se aproximar de Deus. . . , pela
instituição de um sacerdócio especial para mediar entre Deus e o povo . .
. , pelas diversas leis sobre impureza. . . , e pelo isolamento de Israel na
Palestina.’
O lugar central dado ao conceito de santidade faz com que esse atributo
seja o princípio regulador de tudo o que Deus é. Ele estabelece seu trono baseado
em sua santidade (SI 47.8), e a santidade define acim a de tudo como Deus é.
Há dois aspectos do conceito de santidade, ambos os quais são centrais ao
entendimento da idéia principal. O primeiro aspecto é que a santidade indica a
posição de Deus ou o relacionamento com tudo o mais. Ela denota que Deus é
separado e absolutamente distinto de toda a sua criação.
O salm ista se refere à M ajestade de Deus (SI 93.1) e Pedro usa esse term o
para se referir à grandeza de Cristo (2Pe 1.16). Referências à majestade divina
são baseadas no conceito deste primeiro significado da santidade e sempre são
convites à adoração. A preender algo da m ajestade de Deus requer adoração
como a resposta mais apropriada.
O segundo aspecto da santidade de Deus, intimamente relacionado com o
prim eiro, é o da absoluta perfeição m oral, isto é. Deus é diferente de tudo o
mais porque ele é completamente sem pecado e é moralmente puro e reto em
tudo o que ele é e faz. A ética da santidade de Deus significa que ele é
absolutam ente separado de qualquer mal ou injustiça. Esse é o m otivo pelo
qual ele exige que seja tratado de modo especial— para relem brar-nos de que
ele é diferente de tudo o mais que nós podemos encontrar.
E im pressionante contrastar as orientações rígidas do Antigo Testamento
para se aproxim ar de Deus com o modo tão despreocupado e quase arrogante
com que as pessoas se aproxim am dele hoje. Em algum as adorações
contem porâneas não há quase o senso de que Deus é santo, que ele deve ser
reverenciado e temido por causa de sua terrível santidade. Antes, o domesticado
Deus de alguns cristãos pode ser abordado de qualquer forma e com qualquer
atitude que se deseje. Como resultado, as pessoas não têm a im pressão de
Deus e o vêem quase como secundário na vida diária. O enfoque se move para
o eu. A felicidade e a realização se tornam exaustivas, e as chamadas bíblicas
para negar-nos a nós mesmos e seguir a Deus quase não são ouvidas.
total frustração quando eles o acusaram de injustiça e pecado. Jó, irado, fmal-
mente clama a Deus dizendo que se ele descesse ele iria discutir pessoalmente
seu caso diante de seu criador. A im plicação era que Deus estava tratando Jó
injustamente.
Deus respondeu a Jó subm etendo-o a um a terrível inquisição. N ós lemos
capítulo após capítulo como Deus questionou a Jó, desafiando-o a defender-
se. O ponto do questionamento com Jó era “Quem é você para me questionar?”
perguntou Deus, “Acaso anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás,
para te justificares?” (Jó 40.8).
Então Jó entendeu sua pequenez diante de Deus e não fez m ais tentativas
para se justificar. Mas o sofrimento continuou quando Deus novamente questionou
a Jó. Finalmente, quando ele respondeu, foi com desespero de alguém que se
encontrou com um Deus santo. Sua réplica em parte foi “Eu te conhecia só de
ouvir, mas agora os meus olhos tevêem . Por isso, me abomino em e arrependo
no pó e na cinza” (Jó 42.5-6).
Experiências sim ilares são registradas no N ovo Testam ento. Quando as
pessoas se encontravam com a santidade de Cristo, elas dolorosamente também
ficavam cientes de sua própria pecam inosidade. Lucas 5 registra o chamado
dos primeiros discípulos. O contexto eram as praias do Mar da Galiléia. Depois
que os discípulos tinham pescado a noite toda e não tinham pego nada, Jesus
disse a Pedro para afastar o barco um pouco e lançar as redes. Um tanto quanto
cético, Pedro obedeceu, e a pesca foi fenom enal. R econhecendo que Jesus
não era um rabino comum, a resposta de Pedro foi “ Senhor, retira-te de mim
porque sou pecador!” (Lc 5.8). Pedro reconheceu que Jesus era santo, distinto
de todos os outros hum anos, e ao fazer isso ele foi forçado a confrontar sua
própria pecam inosidade. A resposta um tanto estranha de Pedro torna-se
inteligível à luz do trauma do encontro com a santidade.
Uma resposta sim ilar é vista no povo que testem unhou a cura do hom em
endem oninhado cuja história está registrada em Lucas 8. D epois que Jesus
restaurou o homem ao normal, o povo “estava possuído de grande m edo” (Lc
8.37). Eles pediram para Jesus ir em bora daquele lugar. Os gerasenos
reconheceram a santidade de Jesus como um a am eaça para eles porque de
alguma forma sua sublimidade os fazia cientes de sua própria pecaminosidade.
Se eles soubessem — como Pedro e os outros discípulos descobriram — que a
m aravilhosa santidade de Deus era contrabalançada com a maravilhosa graça
de Deus, eles teriam implorado para que Jesus ficasse com eles.
56 E nsino e C rescimento
A GRAÇA DE DEUS
Graça e Temor
Em cada um dos encontros mencionados acima, a resposta de Deus é m ise
ricordiosa. Para Isaías, ele manda um dos serafins (uma das criaturas que rode
avam 0 trono) retirar um a brasa quente do altar. Com ela os lábios de Isaías
foram purificados, seu pecado expiado e sua culpa retirada (Is 6.7). Deus res
ponde ao arrependim ento de H abacuque e Jó tam bém com m isericórdia. No
entanto, o tem or de Deus é uma resposta apropriada ao conhecimento de sua
santidade. E um dom de Deus, porque é essencial para a mudança espiritual e
crescimento maduro. De fato, “O tem or do Senhor é o princípio do saber, mas
os loucos desprezam a sabedoria e o ensino’' (Pv 1.7).
O ponto de partida para um relacionam ento com Deus é um verdadeiro
temor. O tem or de Deus serve para purificar a vida de seu povo. Quando Deus
revelou-se no terrível trovão e na fum aça na m ontanha, em Êxodo 19 e 20,
M oisés encorajou o povo ao dizer, “O seu tem or esteja diante de vós a fim de
que não pequeis” (Êx 20.20).
Há pelo m enos dois resultados prejudiciais no fato de não se ter um real
tem or de Deus. Primeiro, o pecado abundará mais facilmente sem o tem or de
Deus para refreá-lo. Quando o apóstolo Paulo estabeleceu que todo o povo,
judeu e gentio igualmente, estava condenado diante da santidade de Deus, ele
resumiu seu argumento com citações selecionadas do Antigo Testamento. Ele
concluiu declarando, “Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm 3.18).
A terrível ladainha dos pecados registrada em Romanos 1.1-3.20 revela que o
ser humano havia perdido qualquer noção do tem or de Deus.
E a graça de Deus que nos perm ite tem ê-lo do modo como devem os. A
tentação é às vezes vencida simplesmente porque nós temos medo de pecar. O
temor pode ser uma motivação importante para fazer o bem. Em última análise
nós devem os servir a Deus com o coração agradecido, mas essa resposta é
aprendida prim eiro por meio do processo de tem er a Deus.
Segundo, não tem er a Deus reduz nossa apreciação da m isericó rd ia de
D eus. A té que nós entendam os a condição desesperada de pecadores ante
um Deus santo, não podemos entender a magnitude e m aravilha da graça que
ele nos tem m ostrado em Cristo. A triste verdade é que algum as pessoas não
se im pressionam com sua salvação, não agradecendo propriam ente pelo que
Deus fez por elas. Essa falta de gratidão está enraizada na falta de entendi
mento do que foi feito a favor delas. Quando crescem os no entendim ento de
quem Deus é. nós tam bém crescerem os no entendim ento das m aravilhas de
sua graça para com aqueles que crêem.
E ntendendo D eus, E ntendendo as P essoas 57
Graça e gratidão
D esde que a m eta do m inistério educacional da igreja é produzir pessoas
espiritualm ente maduras, os educadores cristãos devem entender que o tem or
de Deus é o ponto de partida necessário para um relacionam ento com Deus.
Porque Deus é santo e nós somos pecadores, nós naturalm ente respondem os
com temor a quem ele é. Mas o temor é redentivo porque produz pureza espiritual
e gratidão em nosso coração.
U m a grande frustração para m uitos educadores cristãos é tentar m otivar
pessoas a servirem a Deus. Alguns cristãos parecem acreditar que Deus existe
para sei-vi-los. em lugar de verem a si mesmos como servos do Deus Altíssimo.
O m otivador prim ário para servir a Deus é um coração agradecido.
A narrativa a respeito da visão que Isaías tem de Deus mostra que depois de
Isaías ter sido esm agado pelo terror ao ver a santidade de Deus, o Senhor
responde em graça, oferecendo expiação por seus pecados e chamando-o para
o serviço. A resposta de Isaías diante de tudo isso foi seu clam or agradecido,
“Eis-me aqui, envia-me a m im !” (Is 6.8).
As dimensões do amor de Deus tornam-se mais aparentes quando nós enten
demos que sua justiça requer a punição do pecado e que em sua graça ele enviou
seu Filho para morrer em nosso lugar. A misericórdia da cruz torna-se absoluta
mente incompreensível quando parece estar contra um pano de flindo de um san
to e fiarioso Deus. Quando o temor de Deus está em nosso coração, nós entende
mos sua graça mais completamente, e a gratidão então nos conduzirá ao serviço.
O apóstolo Paulo fundamentou seu apelo a seus leitores para que servissem a
Deus no fato de que Deus havia sido misericordioso para com eles (Rm 12.1 -2).
O PROBLEMA DA PECAMINOSIDADE
HUMANA
Porque todas as pessoas são criadas à imagem de Deus, elas têm dignidade
e valor. Mas a Escritura e a experiência também ensinam que os seres humanos
são pecadores, não conseguindo viver no nível do potencial que Deus lhes deu.
A Escritura relata não somente a narrativa da Criação, mas também a história
da Queda. Portanto qualquer teologia de santificação e crescimento espiritual
deve incluir uma visão apropriada da pecaminosidade humana.
Na era moderna, tanto a educação como um todo e a Educação Cristã em
particular têm-se inclinado a reduzir ou a ignorar o ensino bíblico sobre o peca
do. Mas é essencial para uma abordagem bem-desenvolvida da Educação Cristã
um entendimento apropriado da pecaminosidade humana. Isso ajudará a m o l
dar tanto como nós vemos o processo educacional quanto nosso entendimento
da obra de Deus na vida de seu povo.
A Escritura declara que "Todo aquele que pratica o pecado, também trans-
g rid e a le i: porque o pecado é a transgressão d a le i” (IJo 3.4). Deus nos deu
leis para obedecer, e o pecado é a quebra da lei de Deus. Propriamente enten
dido, o pecado é uma traição cósmica à autoridade de Deus. É um desacato
deliberado de sua autoridade.
O pecado pode ser tanto uma desobediência ativa a Deus quanto uma igno-
E ntendendo D eus, E ntendendo as P essoas 59
contra Deus; é tam bém um a condição que é com partilhada por toda a ra ç a /
Contrário à avaliação contem porânea que os humanos são por natureza bons
ou reagem passivamente ao ambiente, a Escritura argumenta que somos peca
dores em nosso coração, sempre nos rebelando contra Deus.
A Escritura apresenta uma descrição gráfica de nossa condição. Por exemplo.
Gênesis relata, “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado
na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5).
■íeremias disse, “Enganoso é o coração, m ais do que todas as coisas, e
desesperadam ente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).
A Escritura ensina que os seres humanos estão infeetados totalm ente pelo
pecado e que não há bem algum em nós. O resultado é que som os culpados
diante de D eus, totalm ente condenados e sem esperança. De fato nós somos
inim igos de Deus e “por natureza, filhos da ira” (E f 2.1-3). A indicação mais
forte da seriedade de nosso peeado é a morte de Cristo, M uito séria deve ser
nossa culpa pois somente o sangue de Cristo poderia purificar-nos do pecado!
A agonia de Cristo na cruz indica não somente a extensão do amor de Deus por
nós mas tam bém a seriedade de nossa condição diante dele.
A sociedade m oderna tem -se tornado eom pletam ente adepta da negação
da pecam inosidade. Nós usamos as categorias da Psicologia e da Sociologia
para descrever nossa pecam inosidade. As pessoas são descritas como tendo
fraquezas ou cometendo, ou sofrendo erros em lugar de serem descritas como
pecando contra Deus. M as a Escritura expõe o pecado do jeito que ele é—
rebelião contra Deus e uma força destrutiva na vida dos seres humanos.
A Teologia descreve a pecaminosidade humana como uma corrupção radical
ou depravação total. O uso desses term os é uma tentativa de capturar a
força do ensino da Bíblia sobre pecado. Os termos não significam que os seres
humanos são tão maus quanto possivelmente conseguem ser. Antes, eles querem
dizer que a pecaminosidade se estende ao ser total. Berkhof descreve-o assim:
■* Algumas pessoas consideram isso como injusto porque estamos sendo acusados de algo
que não fizemos. A suposição é que Deus fez uma "escolha errada” quando designou Adão
como nosso representante no jardim. Mas a verdade é que nós teríamos feito exatamente o
mesmo se estivéssemos no lugar dele. Além do mais, se rejeitamos a idéia da liderança federal
de Adão com relação ao pecado, temos de rejeitar também a idéia de liderança federal de Jesus
no tocante à salvação.
E ntendendo D eus, E ntendendo as P essoas 61
Louis Bevkhof, Systeinatic Theology’, 2 ed. (Grand Rapis; Eerdmans, 1941), 225-26.
62 E nsino e C rescimento
Todo homem por ser uma criatura moral, e porque é um pecador, tem
portanto em sua própria consciência o conhecimento do pecado. . . . Ele
sabe que o pecado não é simplesmente uma limitação de sua natureza;
nem meramente um estado subjetivo de sua própria mente, não tendo caráter
diante de Deus; que não é somente algo que não é sábio, ou derrogatório
para sua própria dignidade; ou simplesmente inadequado porque é prejudicial
aos seus próprios interesses, ou injurioso ao bem-estar dos outros.'’
A depravação hum ana não é somente uma doutrina abstrata; ela tem uma
relevância direta em relação ao modo como as pessoas se com portam e como
nós devemos pensar e abordar o ministério da educação cristã.
^Charles Hodge, Systematic Theolog}!, vol. 2 (Grand Rapids: Eerdmans, 1977), 81.
64 E nsino e C rescimento
come gatos” e que precisaria de unhas afiadas para sobreviver. Eu creio que
sofás são para sentar e que afiar unhas neles era um comportamento inaceitá
vel. Eu e Dolores nunca nos comunicamos claramente sobre esse assunto por
que ela tinha o espírito de um gato, e eu tinha o espírito de um homem em mim.
D a m esm a form a, nunca haverá um a clara com unicação sobre assuntos
espirituais entre aqueles que têm o Espírito de Deus e aqueles que não têm.
Não é um a questão de truque educacional ou persuasão poderosa. A m enos
que o Espírito de Deus entre em uma pessoa, ele ou ela é incapaz de entender
uma verdade espiritual.
Eu gastei horas explicando o Evangelho para uma amiga, colocando os fatos
da salvação do modo mais simples possível. A resposta dela f o i : “Eu não sei o
que você quer dizer” . Sem o Espírito de Deus nela, ela não poderia entender
mesmo as m ais sim ples verdades sobre a cruz de Cristo. Para ela, a cruz era
uma tolice.
Segundo, tem de haver uma intervenção sobrenatural em nosso ministé
rio para que vidas sejam tocadas. Como educadores nós podem os distrair,
iluminar, ensinar e guiar pessoas, mas para capacitar uma pessoa para crescer
na fé é necessário o toque de
A Educação Cristã é mais bem
Deus. Seres humanos não podem
entendida como um processo
fazer com que outros seres huma
tanto natural quanto sobrenatural.
nos cresçam na fé. N ós podemos
somente criar um contexto no qual um a pessoa pode crescer.
Educação Cristã é mais do que um projeto educacional; é uma batalha espi
ritual. Não nos atrevamos a trivializar a obra ao criar pequenos efeitos bobos
para ajudar as pessoas a aprender. Antes, nós devem os entender que nós
dependem os do Pai para ser m isericordioso para com seu povo e enviar seu
Espírito para ajudá-lo a aprender.
A oração no ministério educacional da igreja não é opcional; é uin imperativo.
Quando nós entendem os que a menos que Deus esteja trabalhando, nossos
esforços são vãos, então nós entenderemos o lugar essencial que a oração tem
no ministério de ensino da igreja.
Terceiro, a Educação Cristã é uma parceria entre Deus e o educador.
Embora nós sejamos absolutamente dependentes de Deus para nossos resulta
dos, ainda assim nós temos a responsabilidade de ensinar da m elhor form a
possível. Deus usa os esforços dos seres humanos para edificar seu povo. Nos
somos intimados a ensinar, com o entendimento de que Deus usará nossos es
forços e com seu Espírito causará o crescimento do seu povo.
A Educação Cristã é mais bem entendida como um processo tanto natural
E ntendendo D eus , E ntendendo as P essoas 65
quanto sobrenatural. Deus criou o mundo para funcionar de acordo com a lei
natural; e nós somos responsáveis por estudar e descobrir a ordem natural das
coisas. O aprendizado é uma parte da ordem natural e portanto requer que nós
entendam os o processo de aprendizado. Quando o aprendizado é entendido,
os princípios de ensino podem ser extrapolados. Atrás desse processo está a
compreensão de que Deus criou o ser humano para aprender de certas maneiras
e que o educador é responsável por entender e trabalhar de acordo com os
modos em que as pessoas aprendem.
Portanto, estando com pletam ente cientes do fato que eles são totalm ente
dependentes do trabalho sobrenatural de Deus para deixar seu ensino tocar
uma pessoa espiritualmente, os educadores cristãos são responsáveis por ensinar
bem e orar bem. Eles estão em parceria dinâmica com Deus, trabalhando tanto
nos aspectos naturais como sobrenaturais simultaneamente.
Parte 2
A RENOVAÇAO
DA MENTE
CAPÍTULO 5
A RENOVAÇAO DA MENTE
“Nós não tem os nenhuma teologia; nós somente amamos o Senhor” , disse
um jovem cristão recentemente. Ele explicou que seu grupo “não esquentava a
cabeça” com discussões sobre a fé que professavam. O que um a pessoa acre
ditava era de pouco conseqüência para eles— eles som ente queriam am ar a
Jesus. Essa perspectiva é adequada e útil no que diz respeito a ser cristão?
A fé cristã é um a questão do que nós crem os, quem am am os, e com o nós
n o s c o m p o rta m o s. S eus c o m p o n e n te s são ra c io n a is , re la c io n a is e
comportamentais, todos combinados para formar a substância da fé. A m aturi
dade espiritual, então, é um a questão de ter as crenças corretas, am ar a Deus
mais profundamente e viver em crescente obediência a Deus. Juntos, esses três
aspectos são necessários para a maturidade espiritual.
Infelizmente, o Cristianismo experimentou um período altamente “escolástico”,
quando a fé foi reduzida a um a série de proposições teológicas e filosóficas
intrincadas que deveriam ser memorizadas, dominadas e discutidas. A acusa
ção de “ortodoxia morta” foi merecida porque era inteiramente possível jogar
esse tipo de jogo acadêmico e nunca ter o coração tocado pelo am or de Deus
e a profundidade de sua graça. Além do mais, esse tipo de pensam ento levou
as pessoas a um a fé desprovida de com paixão e alma; antes, o C ristianism o
tornou-se, para alguns, a habilidade de discutir eficazmente uma d o u trin a.
Infelizmente, vestígios dessa tradição permanecem em alguns grupos, onde
a E ducação C ristã eficaz é entendida como treinar pessoas para que elas
aprendam esses argum entos para depois usá-los contra aqueles que acredi
tam de form a diferente. A Teologia é reduzida a assuntos de nenhum a
consequência— assuntos que podem ser debatidos e discutidos, mas dificil
m ente vividos. Como um recuo contra esse tipo de religião, o C ristianism o
para muitos têm-se tornado qualquer coisa menos uma questão para a mente.
Para essas pessoas, as crenças são arraigadas na experiência pessoal e não
na auto-revelação de Deus na Escritura. Assuntos de ortodoxia (crença cer
ta) são considerados irrelevantes contanto que as pessoas “amem a Deus” . A
m aneira como Deus é percebido não é considerado im portante; som ente o
fato de que se ama a Deus é que importa. O resultado é que a m ente é deixa
da fora da fé cristã e da experiência e o julgam ento é considerado periférico
para que se seja um cristão. Q uando as pessoas consideram as questões
sobre ortodoxia e heresia como sendo de nenhuma importância, elas abrem a
porta a todos os tipos de problem as.
70 E nsino e C rescimento
' João Calvino, Calvin s Commentaries on Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1947), xxix.
A R enovação D a M ente 71
A ssim como faz em todos os seus escritos, o apóstolo Paulo conduz seus
leitores das bases teológicas para a mudança do estilo de vida. A palavra “por
tanto” indica que a seção seguinte se forma com base no ensino precedente.
Há sempre um perigo quando se sustenta uma teologia não relacionada com a
prática, ou de se seguir uma prática não relacionada com a Teologia. A teoria e a
prática devem sempre estar juntas, tanto na educação quando na vida. A Escritura
não conhece nada sobre uma discussão teológica abstrata, nem de exigências
para a vida que sejam infundadas. A verdade teológica deve ser expressa
basicamente na vida que é consistente com ela. Depois de desenvolver as doutrinas
da misericórdia de Deus, Paulo agora atenta para os assuntos da vida.
Seu apelo aos romanos é, em últim a análise, que eles devem experim entar
tal m udança radical que sejam transformados. A transformação deve ser uma
metamorfose, literalmente uma “mudança de forma”. Quando uma lagarta muda
sua forma para uma borboleta, é transformada em uma nova criatura. Assim o
cristão dever ser transformado de pecador em santo. Lutero comentando sobre
essa idéia, observa que
que podem os entender algo sobre os m istérios de sua graça. Se nós com pre
endem os que Deus é m isericordioso para nós como pecadores, a gratidão
funciona com o um a m otivação para servi-lo. M as se nós vem os sua graça
como barata e inconseqüente, dificilm ente somos m otivados a transform ar a
nossa vida.
O problem a contemporâneo é, naturalmente, que nós perdemos a noção da
santidade de Deus, da nossa pecaminosidade e da magnitude da graça de Deus.
R adicada num vácuo teológico a respeito da santidade de Deus, a Teologia
contem porânea tem pouco a dizer sobre a m isericórdia de D eus. Como
resultado, os crentes não são altamente motivados para servir a Deus em função
de um coração agradecido. Eles se voltam para a questão pragmática, “O que
é que eu vou ganhar cora isso?”, em vez da questão mais apropriada, “Como
posso servir a Deus?” Os crentes devem ser ensinados a entender e a responder
à misericórdia de Deus.
A vida transform ada deve ser expressa por um a nova dedicação radical à
Deus. Paulo usa a terminologia de oferta sacrificial, encorajando-nos a oferecer
nosso corpo como “sacrifício vivo,” o qual ele vê como uma forma sensata de
adoração. Stuart Briscoe observa;
’ D. Stuart Briscoe, The Communicator 's Commentary: Romans (Waco Texas: Word, 1982),
215.
A R enovação D a M ente 73
Barclay escreveu;
A lém disso, Paulo nos cham a à pureza m oral, lem brando-nos que nosso
sacrifício a D eus deve ser santo. A lguns cristãos crêem que podem estar
relacionados a Deus e ainda assim continuar pecando. Mas crentes de verdade
serão santos— lutando para agradar a Deus em tudo o que eles fazem, evitando
o pecado e reconhecendo a imoralidade em todas as suas formas modernas.
U m a dedicação radical a Deus requer não-conform idade com o m undo.
Aqui o term o mundo se refere aos sentim entos e à m oral da sociedade.'
Significa que não devem os aceitar nem ser controlados por aqueles valores
de n o ssa so cied ad e que são o p o sto s aos v alo res do reino de D eus.
M undanism o é ser controlado pela m alícia, pela avareza, pelo poder ou por
qualquer valor com um ao pecado hum ano. M as aqueles que estão sendo
transform ados estão resistindo a esses valores e lutando para buscar em
prim eiro lugar o reino de Deus e a su aju stiça (Mt 6.33).
É perigoso reduzir o conceito de mundanismo a assuntos de vestim enta ou
entretenimento sem confrontar a questão maior dos valores. É lamentável que
haja pessoas que nunca pensariam em fumar ou beber bebida alcoólica, mas que
são racistas ou materialistas e não vêem conflito algum entre esses valores e sua
vida cristã. Mas tais valores vêm do mundo e não têm lugar no reino de Deus.
A questão educacional em jo g o aqui é que essa transform ação deve
acontecer pela renovação de nossa m ente. Q uando as pessoas aprendem a
pensar de novas m aneiras, com valores novos e categorias novas, a m ente
delas é renovada. A tarefa da Educação C ristã é ensinar para que a m ente
das pessoas possa ser renovada.
Num sentido, o ato divino da regeneração cria uma m ente renovada no
momento do novo nascimento. Mas é também verdade que renovação deve ser
um processo contínuo na vida dos crentes. Esse processo contínuo de renovação
é expresso diversas vezes na Escritura.
■*William Barclay, The Letter to the Rornans {VW?iàé\f\íí\ Westminster, 1975), 157.
Calvino, Romans, 453
74 E nsino e C rescimento
Segundo Coríntios 4.16 se refere a ser renovado interiorm ente dia a dia, e
Colossenses 3.10 diz: “e vos revestistes do novo hom em que se refaz para o
pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” .
O m inistério educacional na igreja não existe somente para a aquisição de
conhecimento, mas também para que as pessoas possam aprender a pensar de
m odo cristão sobre todos os assuntos da vida. Ter a mente renovada significa
aprender a pensar de maneiras novas, de acordo com o ensino das Escrituras,
sobre todas as coisas, para que possam os “levar cativo todo pensam ento à
obediência de C risto” (2 Co 10.5).
Se as pessoas não absorvem ou não entendem as categorias bíblicas sobre a
realidade e sobre as questões éticas, elas dificilm ente podem pensar em
conformidade com essas categorias bíblicas. Se uma pessoa nunca ouviu sobre
a ju stiça, por exem plo, não é surpresa algum a que ela não pense sobre uma
questão como sendo relacionada a assuntos de justiça. N ós não podem os
esperar que pessoas pensem ou ajam de m aneira cristã se elas nem mesmo
conhecem as categorias cristãs.
Por exemplo, alguns podem dizer, “Nós queremos amar a Deus” . Mas qual
é a natureza do Deus que eles querem amar? Se eles não conheçam a Bíblia,
não podem ter qualquer senso da ira de Deus para com o pecado e podem
om itir totalmente este aspecto do caráter de Deus. Então quando eles deparam
com sua justiça para com aqueles que se opõem a ele, eles não terão categorias
em que pensar ou se fundam entar diante da realidade da ira de Deus. M as se
eles tiveram a mente renovada pela instrução em idéias bíblicas e m odos de
pensar, eles serão capazes de entender melhor como Deus age em seu mundo.
O resultado da transform ação e da dedicação radical é que o crente será
capaz de “experimentar a vontade de Deus” (Rm 12.2). Muitos crentes aceitam
na teoria a idéia da vontade de Deus, mas na prática eles não têm a m ínim a
idéia de qual possa ser essa vontade. A vontade de Deus é entendida como
uma realidade mística que alguém nunca pode encontrar completamente ou seguir,
algo como a trama de uma novela de mistério. Paulo resiste a essa idéia, insistindo
em que a vontade de Deus é inteligível e com provável por meio do processo
de dedicação radical a Deus. Aqueles que serão transform ados, radicalm ente
dando-se a si m esm os a Deus em pureza moral, resistindo às influências do
mundo ao redor deles, conhecerão com certeza a bondade da vontade de Deus.
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
M uitas im plicações para a Educação C ristã podem ser tiradas dessa
passagem, mas quatro parecem especialmente desafiadoras. Cada uma é ampla
em seu escopo, m as serve para dar um a base para a educação que conduz à
uma maturidade espiritual.
Primeiro, a instrução na Palavra de Deus é essencial para ajudar pessoas
a renovar a mente. Se as pessoas devem aprender a pensar e agir de acordo
com a Palavra de D eus, é óbvio que elas devem conhecer sua Palavra. Nós
deverm os aprender a obedecer tanto o estím ulo do Espírito Santo dentro de
nós quanto os mandamentos claros da Escritura. Em seu excelente ensaio, “Pondo
a mente renovada para trabalhar”, Douglas Moo observa:
' Robert Coles, The Spiritnal Life of Children (Boston: Houghton Mifflin, 1990).
80 E nsino e C rescimento
CONCLUSÃO
A fé cristã nunca pode ser reduzida som ente a questões da m ente; mas
tam bém não pode desconsiderar a mente em relação à fé. O m odo como nós
pensam os sobre as coisas de fato im porta, e como crentes nós devem os ter
nossa m ente renovada para que nossa vida seja transform ada. A tarefa
educacional da igreja começa com ajudar as pessoas a terem a mente renovada,
ensinando-as que a Teologia interage com tudo que há na vida e que nós devemos
pensar de modo cristão sobre tudo que vemos e que fazemos.
A Educação Cristã tem falhado por um longo período não comprometendo
a mente do povo. A maneira como pensamos sobre as coisas é muito importante.
M aturidade espiritual é mais do que como pensamos; nunca é menos do que
isso. Ensinar as pessoas a pensar de modo cristão é um aspecto importante de
ajudá-las a aprender a viver como cristãs.
CAPITULO 6
A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
U m a educação cristã eficaz diz respeito não somente ao que a Bíblia ensina,
m as tam bém ao modo como Deus fez as pessoas. Os educadores cristãos de
vem entender tanto a Teologia como as pessoas se quiserem mn ministério edu
cacional produtivo. A rraigada na teologia da criação, que ensina que as
pessoas têm valor e dignidade, a educação que é distintamente cristã evidenci
ará um respeito pelo sexto dia da criação de Deus e os educadores cristãos
tentarão entender como as pessoas aprendem e o que m otiva o m odo como
elas se comportam. E um incrível desrespeito assumir que as pessoas são sim
plesmente vasos vazios que devem ser enchidos com conhecimento, mesmo se
esse conhecimento seja o conteúdo da Escritura. A teoria do desenvolvimento
fornece um a estrutura para o entendim ento do processo de educar para um
crescimento espiritual.
A Educação Cristã está interessada em ensinar para o crescimento espiritual,
entendendo que o aprendizado é um a parte integral de se tornar m aduro
esp iritualm ente. D esde que aprender é um fenôm eno humano^ é uma
incum bência do educador entender como as pessoas aprendem. Essa questão
poder ser Julgada como puramente psicológica; Como as pessoas aprendem?
Pode ser também julgada mais integrativamente; Como Deus criou as pessoas
para aprenderem? Ao julgar a questão da última maneira, nós estamos entendendo
que toda verdade é verdade de Deus e que tanto as Ciências Sociais quanto a
Teologia são importantes para um entendimento dos seres humanos.
Uma verdade que existe fora da Escritura deve ser considerada. Por exem
plo, ninguém tenta desenvolver uma abordagem bíblica em relação à eletrônica.
O estudo da eletrônica está arraigado na Física, que é um estudo da ordem
criada por Deus. O cristão entende que a criação é ordenada, e parte do divino
mandato aos humanos é que nós entendamos a criação de Deus.
M as pode a m esm a abordagem ser feita em relação à Psicologia? O estudo
' das pessoas é o mesmo que o estudo da eletricidade? Em um sentido é, porque
ambos são questões dentro da A chave para o cristão é primeiro
ordem criada de Deus. M as a entender as pressuposições do
questão fica confusa quando
cientista, e depois, integrá-las de
os cientistas que conduzem
maneira correta. É responsabilidade
um a investigação aderem a
dos educadores cristãos
pressupostos que controlam o
usar as Ciências Sociais com
m odo como eles conduzem
sabedoria, integrando a psicologia
suas pesquisas. Se, por exem
dentro de sua filosofia de educação
plo, o psicólogo é um natura-
cristã de modo correto.
lista comprometido, seria im
possível para ele reconhecer que ocorre qualquer coisa sobrenatural. Para ele,
todo fenômeno tem de ser explicado naturalmente.
Existem três correntes ou abordagens psicológicas principais. Cada uma delas
tem elem entos de verdade, mas uma se destaca em relação às outras em ter
mos de validade de suas pressuposições e utilidade para a Educação Cristã.
Em cada uma dessas há muitas variações, mas todas as abordagens podem ser
colocadas dentro de um a das três seguintes posições.
Behaviorismo
Primeiramente apresentada pelo psicólogo russo Ivan P. Pavlov e então apli
cada à Psicologia por John B. W atson e Edw ard L. Thorndike, a “ segunda
força” psicológica do behaviorismo chegou ao primeiro plano sob a influência
de B. F. Skinner (1904-1990). A hipótese principal do behaviorism o é que o
com portam ento humano é explicado em termos de estímulos am bientais. As
pessoas são mais bem descritas como sendo reativas em relação ao ambiente.
Primeiro há o estímulo ambiental, que é seguido pelo comportamento humano.
Os behavioristas oferecem uma abordagem empírica à Psicologia. Eles es
tão interessados somente naqueles fenômenos que podem ser empiricamente
observados. Os aspectos não observáveis como m otivos, em oções e valores
não são considerados porque eles não são passíveis de observação empírica.
As pressuposições dos behavioristas imediatamente dificultam a sua utilidade
porque são lim itadas por suas próprias regras. Não há espaço para o interior
84 E nsino e C rescimento
' Para uma boa explicação e crítica do behaviorismo, ver Mark P. Cosgrove, B.F. Skinuer 's
Behaviorism: AnAnalysis (Grand Rapids: Zondervan, 1982).
A T eoria do D esenvolvin4ENto 85
De fato, Skinner ensinou diretamente que nós devemos ir além das noções
rom ânticas da liberdade e dignidade hum ana e entender que as pessoas não
são diferentes de animais. Skinner cria que as pessoas podem e devem ser
controladas pela manipulação do ambientes manipulados.-
Infelizmente, o behaviorismo está tão impregnado em nossa sociedade que
tem sido usado inadvertidamente em muitos ministérios cristãos. Abordagens
de ministérios radicadas em métodos de recompensa e punição, ou abordagens
altamente individualizadas em relação ao ensino e ao aprendizado estão sendo
controladas pelo behaviorism o. Claram ente as Escrituras apelam aos seres
h u m a n o s ao o fe re ce r re c o m p en sa s e p u n iç õ es por co m p o rta m e n to s
correspondentes, mas esse não é o único meio de ensino sugerido pela Escritura.
Conquanto alguns aspectos do behaviorismo possam ser úteis, os cristãos devem
ad o tar um a abordagem m ais co m p leta para en ten d er as p esso as e o
comportamentos delas.
Psicologias Humanísticas
A “terceira força” psicológica, geralmente categorizada como abordagens
“hum anísticas”, oferece um a perspectiva mais equilibrada.-^ Essas psicologias
são chaiuadas humanísticas porque, mais do que o behaviorismo e a psicologia
profunda, valorizam os seres hum anos como sendo sérios e intencionais.
Populai’izada primeiramente por Carl Rogers, Abraham Maslow e Erich Fromm,
essas psicologias tam bém incluem os trabalhos de .lean Piaget, Lawrence
Kohlberg e James Fowler.
Os psicólogos da terceira força entendem os seres hum anos com o
interativos em relação ao am biente, reconhecendo que as pessoas não são
apenas influenciadas pelo am biente, mas também exercem influência sobre
ele. Um entendim ento orgânico reconhece que há vezes em que as pessoas
estão definitivam ente reagindo ao ambiente e outras vezes em que elas estão
agindo sobre o ambiente.
Dessa perspectiva emerge uma imagem mais completa do motivo pelo qual
as pessoas fazem as coisas do modo como fazem.
Alguns dos movimentos dentro da psicologia humanista têm tido divergên
cias com a visão cristã de mundo e têm sido destrutivos à nossa sociedade. O
m ovim ento do “esclarecim ento dos valores”, por exemplo, com seu m ito da
educação destituída de valores, tem sido prejudicial às estruturas sociais e
precisa ser confrontado pelas pessoas sérias. M as nem todas as abordagens
incluídas nesse grupo de psicologias são negativas. Por exemplo, a teoria do
desenvolvimento é uma abordagem que é altam ente com patível com um a
perspectiva cristã e oferece inform ações úteis para o m inistério educacional
da igreja.
HIPÓTESES DO DESENVOLVIMENTO
Há várias abordagens à psicologia do desenvolvimento, com ênfases dife
rentes em cada abordagem. Em termos gerais, no entanto, todas as abordagens
do desenvolvimento conterão a maioria, se não todas, das dez seguintes hipó
teses.'' Essas são pressuposições sobre a natureza dos seres humanos, e para o
cristão, podem ser entendidas como descrições de como Deus projetou as
pessoas para que se desenvolvessem.
Essas hipóteses são adaptadas de palestras e discussões com Ted Ward e são usadas com a
sua permissão.
A T eoria do D esenvolvimento 87
m esm o, e os bebês não nascem com três m etros de altura. Isso é verdade por
causa da estrutura genética dos seres bumanos.
Veja, por exemplo, o capítulo de Robert E. Clark em Christian Education Foundatiomfor the
Future, organizado por Robert E. Clark, Lin Johnson e Allyn K. Sloat (Chicago; Moody Press,
1991), 233-48. Clark descreve o “desenvolvimento espiritual” de crianças no ensino fundamental.
90 E nsino e C rescimento
tanto realista quanto respeitador das pessoas, o desenvolvim ento deve ser
entendido holisticamente.®
Quando isto foi escrito, o termo holístico era muito popular entre certos grupos da Nova Era.
Embora esta associação possa ser confusa, eu escolho usar a palavra porque é bem descritiva
em relação ao conceito e não necessariamente carrega em si qualquer conotação imprópria dos
movimentos da Nova Era.
92 E nsino e C rescimento
Eles são seres humanos completos mas limitados pelo seu desenvolvim en
to. E mais apropriado pensar sobre o processo de desenvolvimento como per
der as limitações do que pensar em term os de acrescentar algo às pessoas.
Elas obtêm conhecimento e habilidades, mas já são pessoas completas.
O preform acionism o nos ajuda a olhar as pessoas com respeito, vendo-as
como completas, ainda que limitadas. As crianças precisam perder as limitações
do pensamento infantil— e não se tornar de alguma forma mais humanas. Nossa
tarefa é ajudar as pessoas a perderem as lim itações dos estágios m ais baixos
para que elas possam apreciar a totalidade do potencial humano dado por Deus.
O preform acionism o pode também ser útil para o cristão maduro. Quando
as pessoas nascem novamente em Cristo, elas também já são com pletas, mas
limitadas. Elas podem não saber como orar, com partilhar a fé com outros ou
andar por meio do Santo Espírito, e são portanto limitadas como cristãs. Mas
elas são completas em Cristo e precisam somente ser “libertadas” das limitações
da im aturidade espiritual. Nós não “acrescentam os” nada a elas quando as
ensinamos; antes, nós ajudamos as pes
Ê o desejo de Deus que as
soas a serem “livres” em Cristo.
pessoas feitas à sua imagem
se desenvolvam em todos os
9. O desenvolvimento pode ser
aspectos de sua
paralisado por condições adversas.
personalidade.
As vezes, o am biente pode ser tão
destrutivo que o processo de desenvolvim ento pára. As crianças que são
maltratadas ou passam fome podem ser tão profundamente prejudicadas pelo
am biente que seu desenvolvim ento em alguns aspectos é interrom pido. Os
vários aspectos da personalidade humana diferem quanto à suscetibilidade à
influência do ambiente. A força relativa do processo de desenvolvimento avança
num a ordem descendente, com o físico sendo o menos suscetível à influência
do am biente e o ser m oral o m ais suscetível. Essa é a razão, por exem plo,
pela qual o clim a moral em nossa nação é pobre. O ambiente de queda moral
está fazendo com que o crescim ento m oral das pessoas seja dem orado ou
mesmo paralisado.
De modo geral, o processo de desenvolvimento pode ser confiável, vendo-
se a possibilidade de progredir apesar do controle do ambiente. Mas em situações
extremas, o desenvolvimento pode ser frustrado.
que esse potencial foi escrito pelo dedo de Deus. Ser humano significa, entre
outras coisas, tomar-se maduro, totalmente desenvolvido em todos os aspectos
da p e rso n a lid a d e . É algo te rrív e l v er as p e sso a s e stag n ad as no seu
desenvolvimento, porque há um grande potencial em todos os seres humanos.
Colocando isso em termos cristãos, é o desejo de Deus que as pessoas feitas
à sua imagem se desenvolvam em todos os aspectos de sua personalidade.
Certas doenças inibem o desenvolvim ento, e há pessoas que, não por sua
própria culpa, nunca se desenvolvem . Isso é parte do fato de viverm os num
mundo caído. M as deve ser visto como uma patologia e um m al, não como
parte da ordem desejada de Deus. Cumprir os privilégios da humanidade significa
cumprir nosso potencial para o desenvolvimento.
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
Se é verdade que Deus criou as pessoas para se desenvolverem de acordo
com padrões previsíveis e que esses padrões são inerente às pessoas, m uitas
im plicações importantes podem ser tiradas. Primeiro, os educadores cristãos
devem entender o processo de desenvolvimento. Em bora não sejam psicólo
gos do desenvolvim ento per se, os educadores cristãos devem entender os
padrões do desenvolvimento. Os vários estágios moldam o modo como as pes
soas aprendem e também influenciarão como elas experimentam a fé. Entender
os padrões ajudará o educador a projetar as experiências de aprendizado que
são apropriadas ao estágio do desenvolvimento da pessoa.
Segundo, o processo de desenvolvimento deve ser respeitado. Em vez
de apressar as pessoas pelos vários estágios de desenvolvim ento, ou impedi-
las de se desenvolverem naturalm ente, deve-se perm itir que o processo pro
grida de acordo com seu curso norm al. As pessoas precisam de tem po para
viver e experim entar cada estágio do desenvolvim ento. A sociedade am eri
cana tende a acelerar o processo, tentando acelerar o desenvolvim ento. As
crianças são em purradas para frente, quase im pedidas de serem crianças.
Infelizm ente, os cristãos tam bém caem nessa arm adilha, preocupados que
seus filhos sejam deixados para trás se tam bém não forem em purrados para
frente em seu desenvolvimento.
Por outro lado, algumas pessoas querem se opor ao processo do desenvol
vimento, não permitindo que outros cresçam e se desenvolvam. Especialmente
durante a adoleseência, alguns pais têm medo do progresso social natural de
libertação do controle paterno, e tentam segurar seus filhos. A luta entre o
94 E nsino e C rescimento
' Ronald Goldman, Religious Thinkingfrom Childhood to Adolescence (Nova York; Seabury,
1964).
- De Ronald Goldman, Readinessfor Religion (Nova York; Seabury, 1965), citado em Lawrence
O. Richards, A Theology ofChrislian Education (Grand Rapids; Zondervan, 1975).
98 E nsino e C rescimento
JEAN PIAGET E O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
^ Esta visão geral é baseada na excelente apresentação de Piaget, de Mary Ann Spencer
Pulaski, ü n d e r s t a n d i n g P i a g e t Harper&Row, 1971).
o D esenvolvimento C ognitivo 99
Adaptação
Piaget acreditava que a adaptação é a essência de como a pessoa funciona
cognitivamente, assim como é a essência do funcionamento biológico. A adap
tação é a capacidade de organizar o estím ulo sensor que nós recebem os em
um a certa ordem e então nos adaptar ao nosso contexto.
A adaptação consiste de dois processos, a assimilação e a acomodação.
A assimilação é o processo pelo qual nós incorporamos idéias, pessoas, costu
mes, m aneiras, e toda sorte de coisas em nossas atividades. Por exem plo, a
criança pequena que deseja levar uma Bíblia para a igreja porque a mamãe e o
papai o fazem, assimilou esse costume à sua vida.
A acomodação é o equilíbrio à assimilação, o ajuste de como nós nos rela
cionamos com nosso ambiente. Pode-se dizer que a criança pequena que apren
deu a levantar suas mãos em louvor, acomodou-se ao seu ambiente ao apren
der o com portam ento das pessoas ao seu redor.
A população de veados no norte de Illinois, onde eu m oro, estava fora de
controle por causa do crescimento do tam anho dos rebanhos e o decréscim o
da área em que viviam. Como resultado, o veado teve de acomodar seu com
portamento e pastar ao longo das estradas, diante dos humanos; eles também
aprenderam a assimilar novos tipos de alimento, já que suas áreas comuns de
alimentação tinham desaparecido.
Da mesma forma, os seres humanos aprendem a se acomodar ao ambiente e
a assim ilá-lo. Bebês aprendem a colocar novas coisas na boca quando seus
pais tentam lhes ensinar a comer comida sólida. Mas eles devem também apren
der que nem tudo o que eles encontram deve ir para a boca. Portanto, à medida
que os bebês atuam se adaptando ao ambiente, eles também se desenvolvem
cognitivam ente quando estabelecem categorias de coisas que posso colocar
na boca e coisas que não podem ir para a minha boca.
As crianças continuam a se relacionar e a explorar ativamente o ambiente.
Pode-se praticam ente vê-las aprendendo enquanto exploram seu mundo e o
organizam cognitivamente em sistemas significativos. Enquanto isso, eles adap
tam seu comportamento ao que eles estão aprendendo, sempre tentando m an
ter um equilíbrio entre o que eles estão aprendendo e como se comportam.
Equilíbrio
A força reguladora entre a assimilação e a acomodação é o equilíbrio.
A mente humana procura entender para manter as idéias em equilíbrio; assim as
o D esenvolvimento C ognitivo 101
de que o bebê cresceu e se tornou um homem que morreu nma cruz. O equilí
brio é restabelecido quando o nível mais alto de pensamento é conseguido.
Período Sensorimotor
Os dois primeiros anos de vida são caracterizados pela aquisição sensorial
crescente sofisticada e pelo início rudimentar do pensamento cognitivo.
^ Piaget usou o modo filosófico do estruturalismo, que nunca havia sido usado antes na
Psicologia. O estruturalismo procura entender as partes em relação ao todo, que é o oposto
à pesquisa científica normal. Ele procura padrões de relacionamentos, procurando encontrar
a estrutura de uma cultura, linguagem ou trabalho literário, ou, no caso de Piaget, a
epistemologia da criança. Seu amplo uso de equações algébricas para explicar o produto da
lógica de uma criança é uma tentativa para definir os relacionamentos de pensamento na
mente da criança. Seu poder de análise estrutural permitiu-lhe tirar conclusões excepcionais.
Quase sempre, as literaturas sobre os estágios de Piaget descreverão quatro estágios do
desenvolvimento cognitivo—o sensorimotor, o pré-operacional, operações concretas e ope
rações formais. Nos escritos de Piaget, o estágio pré-operacional é na verdade um subestágio
importante das operações concretas. No entanto, a maioria dos escritores que discutem sua
teoria separa as pré-operações num subestágio distinto por causa da quantidade de atividade
incluída ali. Eu escolho seguir esse caminho e descrever quatro estágios do desenvolvimen
to cognitivo.
o D esenvolvimento C ognitivo 103
Período Pré-operadonal
rem, e elas aprendem a pensar sobre as coisas em vez de sempre precisar delas
em seu ambiente imediato. Piaget e Inhelder escreveram:
Quando um a das bolas foi transform ada num a salsicha, as crianças criam
que agora continha m ais barro do que antes, por ser “m ais longa” . Elas não
podiam conservar o fato de que somente a forma havia mudado e não o volume.
Centi'alização é a tendência de enfocar somente certos aspectos de um objeto,
idéia ou evento e ignorar o resto. As crianças neste estágio tendem a centralizar
sua perspectiva em um aspecto de seu campo de percepção, não conseguindo
perceber outros aspectos ou relacionamentos do fenômeno sob investigação.
Os pais podem perguntar à criança o que ela fez na Escola Dominical. Ela diz,
“Nós comemos biscoitos”. “Sim, mas o que você aprendeu?” replicam os pais.
“Os biscoitos estavam bons!”, é a resposta da criança. “Mas vocês conversaram
sobre Jesus?” o pai pergunta (indicando um interesse crescente pela falta de
conteúdo do que está sendo ensinado na Escola Dominical). “Os biscoitos eram
de chocolate”, é a resposta final da criança sobre o assunto. Papai e mamãe
decidem que ou a Escola Dominical tem de ser mais eficiente ou que a criança
não se interessa por coisas espirituais. Claramente algo tem de ser feito.
E claro que o que realmente aconteceu é que a criança centralizou, enfocando
som ente aquele aspecto na Escola D om inical que foi mais sensório e mais
prazeroso para ela. Ao amadurecer, ela aprenderá a “descentralizar” , ou
focalizar-se em complexidades maiores em seu ambiente de percepção. Mas
no momento, seu estágio de desenvolvimento cognitivo limita sua capacidade
de perceber o quadro mais amplo.
O período pré-operacional é um tempo de reaprender coisas previam ente
aprendidas no estágio sensorimotor. Agora essas coisas são percebidas de
m aneiras novas e podem ser pensadas sim bolicam ente, em vez de serem
expressas somente por meio da atividade motora. M as uma outra revolução
epistemológica está à frente à medida que a criança se desenvolve para aprender
as operações concretas.
Operações Concretas
o período de operações concretas envolve as crianças de 7 a 11 anos.
Neste período de suas vidas as limitações da centralização, do egocentrismo e
da in-eversibilidade (a inabilidade de raciocinar ao contrário partindo do efeito
para a causa) são rem ovidas pela assim ilação contínua, pela acom odação e
pelo equilíbrio. Mai‘y Ann Spencer Pulaski escreveu.
A habilidade lógica das crianças neste estágio permite que elas entendam o
m undo de m aneiras novas e im pressionantes. Com essas novas habilidades
cognitivas, conceitos que eram previamente misteriosos, conlrecidos somente
por crianças m ais velhas e adultos, agora podem ser entendidos. Operações
Concretas é um estágio de entusiasmo e intenso aprendizado. Neste estágio as
crianças não são mais limitadas a dados perceptuais para fazerem julgam entos
sobre problem as concretos e reais; elas agora podem usar pensam ento
operacional lógico que é capaz de percepções reversíveis descentralizadas.
M uitas habilidades cognitivas novas servem para liberar o pensam ento no
estágio das operações concretas. Grupo é a idéia m atem ática que se refere a
um grupo de elementos que utilizam os princípios de composição, associatividade,
identidade e reversibilidade. Aqueles que estão familiarizados com a lógica da
“nova m atem ática” reconhecerão esses termos. Piaget usou essas idéias para
explicar a lógica das operações concretas.
Pulaski explicou o conceito desta forma:
Operações Formais
IMPLICAÇÕES PARA A
EDUCAÇÃO CRISTÃ
Quando Goldman entrou em cena defendendo uma abordagem revisada da
educação religiosa das crianças, ele havia sido estimulado pelo estado da edu
cação religiosa na G rã Bretanha.
Lá o treinamento religioso é parte do currículo da escola pública. O proble
m a era que as crianças pareciam se tornar menos religiosas como resultado
desse treinamento. Tentando falar sobre este problem a e levando Piaget a sé-
rio, ele term inou defendendo que a Bíblia não deveria ser ensinada até que as
crianças tivessem desenvolvido uma adequada “prontidão para a religião”.
A perspectiva de Goldman era baseada fortemente tanto na Teologia como
na Psicologia. Sua pressuposição sobre a Escritura era que ela é um documento
humano, registrando mitos, lendas e percepções antigas de como Deus se comu
nicou com o ser humano. Não é a Palavra inspirada e autoritativa de Deus.
Dado esse entendim ento, não é surpresa que ele considere desnecessário o
treinam ento religioso das crianças. Ele escreveu, “uma educação religiosa
bibliocêntrica enfatiza que a Bíblia deve ser ensinada porque ela é a Bíblia. Uma
educação religiosa centrada na criança, no entanto, enfatiza que a criança como
um a pessoa em crescimento é que deveria ser nossa preocupação” .
Goldman montou uma falsa dicotomia, pedindo ao leitor para escolher entre
a Bíblia e a criança. Em lugar de fazer uma escolha, o que é inapropriado, nós
devemos determ inar como considerar ambos — a importância da teologia da
Bíblia e o desenvolvimento cognitivo da criança. Goldman está correto ao tentar
tomar seriamente o trabalho de Piaget, mas está errado em sua conclusão. Quais
são então as im plicações do desenvolvimento cognitivo para a educação que
visa o crescimento espiritual? Como nós podemos usar as informações de Piaget
para nos ajudar a ensinar as crianças mais eficazmente? As seguintes im plica
ções podem ser tiradas:
do, “eu não quero ser desequilibrado.” O professor sábio é sensível sobre o
nível correto de desconforto apropriado para um aprendizado eficaz.
Terceiro, o professor ajuda o aluno a criar novas estruturas cognitivas que
podem assimilar as novas idéias. Ensinar é uma questão de ajudar as pessoas a
pensar de maneiras mais adequadas sobre o assunto em questão.
As parábolas de Jesus serviram a esse propósito. Ele com eçava falando
sobre um conceito familiar, apresentava um a nova idéia que rom pia com as
categorias religiosas de sua audiência, e então resolvia o conflito ao sugerir
m elhores formas de pensar sobre o reino de Deus. Da m esm a form a, ensinar
é um a questão de apresentar novas inform ações ou novos conceitos e ajudar
os alunos a reestruturarem o pensam ento para incluir a nova inform ação de
maneira responsável.
veio a ter verdadeiro significado para e la ... .embora seja limitado seu enten
dimento de “Jesus,” de “sempre,” ou de “com” .'^
A Teologia nos diz sobre o conteúdo que nós precisam os ensinar, m as a
Psicologia nos ajuda a saber quando e como nós devem os ensiná-lo. Paulo
relem brou a Tim óteo, “e que, desde a infância sabes as sagradas letras, que
podem tom ar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Tm 3.15).
M as nós devemos também lembrar que quando o menino Jesus foi ao templo
aos 12 anos e sentou-se entre os m estres para ouvir e questionar, “ ... todos
os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas”
(Lc 2.47). O que foi im pressionante nesse encontro foi que o m enino não
pensava como um a criança.
A Educação Cristã precisa respeitar a Escritura, valorizando-a como a Pa
lavra de Deus. Mas deve também respeitar as crianças, reconhecendo que Deus
projetou-as diferentes dos adultos. Certamente o Espírito Santo pode dar um
entendimento incomum às crianças, mas no fluxo normal dos acontecimentos,
nós não devemos esperar que ele viole o modo como os projetou.
idem, 186.
o D esenvolvimento C ognitivo 113
Conhecer Fazer
Figura 3
Às vezes nós não temos um a idéia real de qual é a coisa certa a fazer. Aí
preeisamos de conhecimento moral para nos dizer o que é bom e certo para se
fazer. M as em outros m omentos nós sabemos o que devem os fazer, mas por
medo ou por pura pecam inosidade, sim plesm ente não querem os fazê-lo. A
Escritura nos avisa dessa possibilidade e conclui, “Portanto, aquele que sabe
que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17).
M as 0 problem a é mais complicado ainda quando nós tanto sabemos o que
deveriamos fazer quanto queremos fazê-lo, mas não temos a habilidade para
fazê-lo. Paulo falou dessa condição quando escreveu, “Porque eu sei que em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está
em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm 7.18). Seu problem a não era no nível
do desejo, mas no nível da habilidade. Para que as pessoas façam a coisa
certa, elas devem ter (1) conhecimento moral do que é certo, (2) estar desejosas
de fazer o que é certo, e (3) ter força moral para de fato levar adiante seu
D esenvolvimento M oral 117
desejo. A linha do conhecimento moral para a ação moral não é direta; estão
tam bém incluídos o desejo e a força para fazer a coisa certa (ver figura 3).
Educacionalm ente, não é suficiente ensinar valores morais. C ertam ente a
igreja tem um conteúdo para comunicar, mas ela deve também falar à vontade e
ao poder de fazer o que é certo. H á necessidade de uma estratégia educacional
que capacite as pessoas a crescerem em uma ação moral.
ABORDAGENS INADEQUADAS AO
DESENVOLVIMENTO MORAL
As crianças nascem separadas de Deus por causa do pecado, mas sem qual
quer consciência moral. Elas nascem sem a capacidade de compreender assun
tos morais por causa de suas limitadas habilidades cognitivas. M as elas devem
aprender a tornar-se seres morais. Os adultos que são amorais são sociopatas,
incapazes de alcançar as idéias de moralidade e portanto incapazes de deter
minar o certo do errado. Eles atuam na sociedade do lado de fora dos limites
do comportamento moral aceito, geralmente como terríveis criminosos, desli
gados de qualquer código moral. Se as pessoas devem atuar na sociedade, elas
devem desenvolver-se como seres morais capazes de raciocínio moral e dese
jo de se com portar moralmente.
A questão do desenvolvimento moral é, Como iim infante amoral se torna
capaz de iim comportamento moralV Como essa questão é respondida servi
rá para form ar o modo em que nós educamos para a moralidade. Várias abor
dagens à educação moral têm sido oferecidas pelos educadores e psicólogos.
Educação do caráter
Provavelmente a abordagem mais antiga à educação moral seja a educação do
caráter. Este é um método de doutrinação que procura transmitir um certo grupo
de valores à geração seguinte. A tarefa dos adultos é dizer às crianças o que uma
boa moral é. As vezes referida como a abordagem da “sacola de virtudes” à educa
ção moral, esta abordagem enfatiza distinguir o certo do errado e a transmissão
dos valores de uma geração para a seguinte.
O problema mais difícil com esta abordagem é determinar quais as virtudes
que devem ser ensinadas. Em sociedades governadas por tradições firmes, a
seleção das virtudes ou valores a serem transm itidos já está pronta. O papel
da educação, de acordo com aqueles que adotam esta abordagem, é transm itir
esses valores para a geração seguinte.
M uitas instituições cristãs usam essa abordagem para o desenvolvim ento
moral. Acreditando que seus valores são bíblicos, elas se sentem constrangidas
a transm iti-los à geração seguinte. A dificuldade aparece quando diferentes
grupos cristãos ensinam diferentes valores, cada um defendendo seus próprios
como sendo bíblicos. Isto se tor- ., . ,_
Alguns cristãos caem na
na um problem a herm enêutico,
armadilha de acreditar que a vida
para ser resolvido no âmbito da
cristã é somente uma questão de
Teologia.
estilo de vida. Mas,
M as na sociedade de hoje as
teologicamente, retidão é uma
tradições têm sido colocadas de
lado, e m esm o os cristãos estão
questão de ação e motivação.
interpretando a Escritura de no Deus quer que seu povo faça a
vas m aneiras. A lém do m ais, os coisa certa pela razão certa.
cristãos estão enfrentando dilem as m orais nunca enfrentados pelas gera
ções anteriores. R espostas tradicionais não existem porque essas questões
nunca foram enfrentadas antes. As pessoas precisam pensar sobre assuntos
m orais para que possam decidir corretam en te sobre as questões que se
apresentam a elas na sociedade contem porânea.
Comportamento Moral
A terceira abordagem, o comportamento moral, é baseada no entendimento
de que a moralidade é somente uma questão de comportamento. Enraizada na
D esenvolvimento M oral 119
psicologia do com portam ento, esta abordagem enfoca o com portam ento
observável, tomando uma abordagem de aprendizado em relação à moralidade.
As crianças devem ser ensinadas a fazer o certo para que elas possam ser morais.
Alguns cristãos caem na armadilha de acreditar que a vida cristã é somente
uma questão de estilo de vida. Mas, teologicamente, retidão é um a questão de
ação e motivação. Deus quer que seu povo faça a coisa certa pela razão
certa. Um ato justo é um ato que está em com pleto acordo com a vontade de
Deus e procede de um coração que deseja somente agradar a Deus. Qualquer
coisa m enos que isso não pode ser considerada correta.
As vezes os pagãos vivem melhor do que os cristãos, sendo bons, gentis, e
mais complacentes do que aqueles que chamam a si mesmos de cristãos. Mas
porque suas ações são m ais “cristãs” do que as nossas possam ser, não signi
fica que eles são mais “justos” . Eles podem ser motivados pelo egoísmo e não
pelo desejo de agradar a Deus.
A abordagem do com portam ento m oral pode ajudar a form ar com porta
m ento, mas não pode ser aceita pelos cristãos como a resposta final para a
educação moral.
Conflito Moral
Brotando de um entendimento psicanalítico do comportamento humano, a
abordagem do conflito moral para o desenvolvimento moral é baseada na crença
de que dentro de todas as pessoas reside um conflito entre o idi, ou os instintos
e desejos básicos da pessoa, e o superego, que aprende as expectativas da soci
edade. Este conflito é regulado pelo ego, que é aquela parte da personalidade
interior que deve na verdade lidar com o contexto real no qual a pessoa vive. O
método psicanalítico ajuda as pessoas a desenvolverem uma “combinação favo
rável das características do ego e do superego para que a pessoa seja capaz de
enfrentar tanto o mundo da realidade quanto a esfera da moral” .-
H á m uito pouco de educativo nesta abordagem do desenvolvim ento m o
ral. A ntes, o interesse é in d iv id u alizad o , enfocado nas p ersp ectiv as
fenom enológicas de cada indivíduo. Pode ser útil como um m odo de terapia
para aqueles que estão passando por dificuldades, mas não é especialm ente
benéfica para os educadores.
-ldem;26.
120 E nsino e C rescimento
A ABORDAGEM COGNITIVA
DES ENVO LVIM ENTISTA
Lawrence Kohlberg (1927-1987) foi o diretor do Centro para o D esenvol
vim ento M oral na Universidade de Harvard, de 1968 até 1987, quando m or
reu. Seguindo a linha de Dewey e Piaget, Kohlberg foi o primeiro a identificar
estágios claros no desenvolvimento do raciocínio moral. Sua pesquisa foi saudada
por alguns como o trabalho mais influente no desenvolvimento moral jam ais
visto e ao mesmo tempo atacada por outros como completamente incompetente.
A verdade está em algum lugar entre essas duas posições.
Criado num lar privilegiado, Kohlberg foi educado numa escola preparatória
particular. Em vez de ir para a faculdade, ele escolheu servir na marinha mercante
e terminou ajudando a levar judeus ilegalmente da Europa para a Palestina. Ele
foi preso na ilha de Chipre por causa disso e lá enfrentou a questão sobre como
o que ele entendia ser ético (salvar judeus dos alemães nazistas) poderia ser
declarado ilegal pelos ingleses. Ele se perguntou, Como se pode justificar
uma desobediência à lei e às autoridades constituídas?
Seus interesses em assuntos morais o conduziram à Universidade de Chicago
onde ele com pletou seu bacharelado em um ano. Ele continuou seus estudos
em Psicologia, interessado na possibilidade dos estágios morais do raciocínio,
defendidos mas nunca confirm ados por John Dewey. Sua dissertação de
doutorado tornou-se a base para o trabalho de sua vida, o estudo dos estágios
do desenvolvimento moral.
Terminologia da Pesquisa
Para entender a abordagem do desenvolvimento cognitivo deve-se entender
o que está sendo estudado. K ohlberg distinguia entre julgamento moral e
ação moral, reco n h ecen d o a p o ssib ilid a d e d isc u tid a acim a de um a
discrepância entre o pensamento moral e a ação moral. Sua pesquisa era feita
no campo cognitivo, concentrando-se sobre o modo como as pessoas pensam
sobre as questões m orais.
O julgamento moral tem tanto um conteúdo moral quando uma estrutura moral.
O conteúdo moral enfoca o que uma pessoa acredita ser certo ou errado. "Rou
bar é errado"' é uma afirmação de conteúdo, declarando o aspecto do “que” do
julgamento moral. A estrutura moral enfoca o raciocínio que apóiaum conteúdo
moral, afirmando porque um conteúdo particular é certo ou errado. "Eu creio
que roubar é errado por que é contra a le i” é uma afirmação estruturada.
Kohlberg estudou o desenvolvimento da estrutura moral, identificando seis está-
D esenvolvimento M oral 121
’ Lawrence Kohlberg, The PhHosophy ofMora! Development (São Francisco; Harper & Row,
1981)101-89.
■'John Rawls, A Theory qf Justice (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1971).
’ Craig Dykstra, Vision and Character (NovaYork: Paulist Press, 1981).
Paul Vitz, Psychology as Religion: the Ciilt ofSelf-Worship (Grand Rapids: Eerdmans, 1977).
122 E nsino e C rescimento
’ Jean Piaget, The Moral Jiidgement of the Child (1932; reimpressão, Nova York; Free Press,
1965).
®Carol Gilligan, InAnother Voice: Psychologicat Theory and Women's Development (Cambridge,
Mass.: Harvard University Press, 1982).
” Lawrence Kohlberg, The Psychology of Moral Development (São Francisco: Harper & Row,
1984), 320-86.
D esenvolvimento M oral 123
MORALIDADE PRÉ-CONVENCIONAL
Estágio Um—Moralidade Heteronômica'^
N este estágio as pessoas fazem julgam entos morais baseados nas conse-
qüências físicas de suas açÕes, procurando primeiramente evitar a punição. Sen
tindo-se vulneráveis à retribuição das autoridades poderosas, eles tentam so
breviver ficando longe de problem as. A obediência em si mesm a, como um
meio de evitar a punição, é o fator controlador na tomada de decisões morais.
O conteúdo moral “é errado roubar” é apoiado pela estrutura “você entrará
numa enrascada se roubar” . A justiça ou o erro de um ato é determinado pelas
conseqüências que podem trazer ao indivíduo.
N ão há virtualm ente nenhum a consciência dos aspectos da ju stiça neste
estágio do desenvolvimento.
Vários nomes foram usados por Kohlberg e outros para este estágio. Eu estou escolhendo
usar os nomes designados por Kohlberg no The Psychology of Moral Development.
124 E nsino E C rescimento
MORALIDADE CONVENCIONAL
Estágio Três—Expectativas Interpessoais Mútuas
Como o primeiro estágio distintamente sociável em sua orientação, o está
gio três raciocina a partir das concepções convencionais e estereotipadas de
bondade, com a pessoa procurando ser percebida como “boa” . Às vezes eha-
mado de orientação “bom garoto - boa m enina” quanto à m oralidade, as ex
pectativas de outros se tornam muito importantes. Uma nova consciência de
relacionamento com outros agora significa que assuntos de lealdade, respeito e
gratidão devem ser considerados.
“E errado roubar” é agora apoiado por uma lógica que diz, “todos iriam pen
sar que você é um bandido” . A intenção por trás de uma ação agora entra em
cena, e “ele fez por bem” tom a-se uma consideração ao julgar as ações.
ao bem -estar do grupo, e suas regras estão ligadas porque elas servem para
prescrever a natureza e extensão da obrigação moral de um a pessoa.
Roubar é errado porque “roubar é contra a lei, e a anarquia é o resultado se
o roubo for tolerado” . O ponto de vista da sociedade é m antido sobre a
perspectiva do indivíduo, e as regras podem ser quebradas som ente quando
elas conflitam com outras regras de igual ou maior importância.
MORALIDADE PÓS-CONVENCIONAL
Estágio Cinco—Contrato Social e Direitos Individuais
o estágio cinco m arca a transcendência das expectativas sociais pela
descoberta dos princípios de ética universal. Um contrato social e os direitos
individuais tornam-se todos importantes, com a possibilidade da realização de
m udanças nas leis para torná-las m ais justas. Os padrões sociais devem ser
exam inados criticam ente e eles devem ser aceitos por toda a sociedade.
Conquanto as pessoas neste estágio reconheçam que a maioria das regras sociais
é relativa a um a dada cultura, elas estão agora cientes de que certos direitos,
tais como aqueles de vida e liberdade devem ser m antidos em qualquer
sociedade, apesar da opinião da maioria.
“E errado roubar” pode ser colocado em questão se o roubo possibilitar a
proteção dos direitos do indivíduo. H averá m om entos em que roubar é uma
justificativa par um bem maior. Se o roubo pode aum entar o bem -estar do
grupo como um todo, o princípio da bondade maior ultrapassaria a lei.
'' Ver, por exemplo, R. Shweder, “Review of Lawrence Kohlberg’s Essays on Moral Development,’
em Contemporary Psychology (Junho de 1982).
D esenvolvimen to M oral 127
somente aquelas partes da Escritura que parecera boas para eles, aquelas partes
que parecem prometer uma bênção ou sucesso. A Escritura nos chama a obede
cer a Deus porque ele é Deus, independentemente do resultado em nossa vida.
As vezes a obediência traz dor e sofrimento (Lc 14.25-35), mas mesmo assim
somos chamados a obedecer, porque ele é Senhor. N a moralidade de nível dois
as pessoas aceitam uma autoridade externa, reconhecendo que há questões mai
ores do que “O que eu vou ganhar com isso?”
A m oralidade pós-convencional vai além da letra da lei e procura o princí
pio subjacente que a lei expressa. A Escritura, no final das contas, inclui to
das as leis sob princípio, nos dizendo que se podemos viver por um princípio,
nós cumpriremos a lei. A instrução de Oséias “Pois m isericórdia quero, e não
sacrifício, e o conhecim ento de D eus, mais do que holocaustos” (Os 6.6—
repetida pelo Senhor em M t 9.13 e 12.7) e M iquéias 6.8, citada an terio r
mente, indicam a intenção final de Deus para com seu povo. M uito do im pul
so do Sermão da M ontanha é para ajudar as pessoas a irem além da letra da
lei até os princípios que ela está afirmando.
O conflito de Jesus com os fariseus envolvia principalmente o fato de eles
não com preenderem os princípios maiores da lei. Eles estavam tão fechados
em um pensamento legalista que não viam os aspectos maiores da justiça, mise
ricórdia e fidelidade (Mt 23.23).
Era várias ocasiões Paulo ensina que o “amor é o cumprimento da lei” (Rm
13, 10; G1 5.14). Além do mais, nosso Senhor ensinou que toda a lei de Deus
poderia ser resum ida em dois mandamentos em amar a Deus com todo o cora
ção e am ar ao próxim o como a nós m esm os (M t 22.37-40).
Os apelos essenciais da Escritura são feitos no nível de princípio. Depois que
Deus m uda nosso coração de modo a querermos agradá-lo, nós finalm ente
chegamos num lugar onde a lei cessa de ser a questão. O problem a com a lei é
que ela não cobre todas as possibilidades. Os fariseus acabaram criando leis
adicionais que falavam sobre questões não definidas claramente na Escritura.
Por exemplo, eles criaram regras extensas sobre o que constituía o “trabalho”,
para que tivessem certeza de não violar o sábado. Mas eles não viam o princípio
de que “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc
2.27). Eles nunca conseguiram se libertar e chegar ao nível da moralidade do
princípio; não descobriram que há uma ordem mais alta do que o código escrito.
Paulo instruiu os Romanos sobre esse aspecto, ensinando-os, “Agora, po
rém libertados da lei, estamos mortos, para aquilo a que estávamos sujeitos, de
modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra” (Rm
7.6). Quando Deus promete escrever sua lei no nosso coração (2 Co 3.3), é no
128 E nsino e C rescimento
nível do princípio que sua palavra atinge nosso interior. Esconder a Palavra de
Deus em nosso coração é muito mais do que uma questão de memorização— é
uma questão de interiorizar os princípio da Escritura e aplicá-los à vida diária.
A questão não é, “Kohlberg é bíblico?” (Ele não estudava as Escrituras; ele
estudava as pessoas.) Antes, a questão é, “Suas descobertas são compatíveis com
a Escritura?” Eu penso que sua pesquisa tem o “toque da verdade” tanto biblica-
mente quando experiencialmente e pode ser entendida numa perspectiva bíblica.
IMPLICAÇÕES PARA A
EDUCAÇÃO CRISTÃ
A Educação Cristã precisa ir além da abordagem da “ sacola de virtudes”
para uma educação moral e ajudar os crentes a aprender a pensar corretamente
sobre questões morais. A moralidade vai além do julgamento moral; considera
também a ação moral. Mas incluso na moralidade está o aspecto cognitivo do
julgamento moral. A respeito do relacionamento do julgam ento moral com a
ação moral, Koblberg escreveu:
Novamente eu estou em dívida com o meu colega Ted Ward por seu ensaio não publicado
“The Meaning of Value Development in Biblical Perspective” por ajudar-me a moldar meu
pensamento sobre este assunto. No entanto, ele não deve ser considerado responsável por
minha perspectiva sobre o assunto.
Lawrence Kohlberg, “The Cognitive-Developmental Approachto Moral Development”, Phi
Delta Kappa 56, n.° 10 (Junho 1975): 670-677.
D esenvolvimento M oral 129
a quem nós estamos ensinando sabem as respostas corretas mas não as praticam.
Ted Ward conta um a história muito boa sobre um pastor que foi convidado
para falar numa reunião de uma classe de primário na escola cristã de sua igreja.
“Eu estou pensando em uma das criaturas de Deus”, ele disse à classe. “Vive nas
árvores e ajunta bolotas para o inverno. Ele tem um rabo grande e peludo e é
cinza. Quem pode me dizer que animal é esse?” ele perguntou. Após um longo e
doloroso silêncio, ele se dirigiu ao filho de um diácono, e este disse “Eu sei que a
resposta é Jesus, mas que parece um esquilo, parece!”
O perigo de lidar som ente com o conteúdo e não com a estrutura é que se
não há estrutura adequada, o conteúdo pode ser abandonado. A dolescentes
podem sair para a faculdade bem -preparados com todas as respostas certas,
m as não preparados para defendê-las. Quando seu pensamento é atacado e
eles não desenvolveram um raciocínio adequado para dizer por que eles crê-
em, o conteúdo moral deles será abandonado rapidamente.
Q uando m inhas filhas estavam
Nós nunca devemos ensinar
crescendo, eu freqüentemente lhes
a Teologia sem considerar as
perguntava se elas usariam algum dia
implicações da vida e nunca fazer
drogas ilegais. “N ão, papai”, era a
exigências éticas sem base
resposta delas. “Mas por que não?”
teológica.
era sempre a minha pergunta seguin-
te. “Porque você nos m ataria!”, era a resposta delas de nível um, como crian
ças. Mas à m edida que foram ficando mais velhas, elas sabiam e eu sabia que
elas poderiam entregar-se às drogas e que eu ficaria tremendam ente desapon
tado, mas eu não as “mataria” . Elas precisavam de um nível mais alto de racio
cínio para não usar drogas. Perguntar o “por que” perm ite que os pais e os
educadores explorem e estimulem a estrutura do raciocínio moral.
Assim como uma estrela difere de outra, ou uma célula difere de outra,
assim também o espírito do iniciante, o espírito daquele que faz progresso,
e o espírito do maduro podem ser distintos. O estado do iniciante pode ser
chamado “animal”, o estado daquele que faz progresso “racional”, e o
estado do mais maduro “espiritual”.
Todas as instituições religiosas são compostas destas três categorias
de homens. Aqueles no esta
E importante entender que ter
do “animal” são os que ainda
fé não é o mesmo que colocar
não são governados pela ra
zão nem pelas afeições. Eles nossa fé em Cristo.
são estimulados pela autoridade e pelo bom ensino e são conduzidos pelo
ensino. Mas eles são ainda como homens cegos conduzidos pela mão,
aceitando o bem onde o encontram, e seguindo e imitando outros.
Depois há o “racional”, que julga com a razão e o discernimento que
vêm do aprendizado natural. Eles conhecem o bem e o desejam. Mas eles
ainda não têm amor.
Finalmente, há os espiritualmente maduros, que são conduzidos pelo
espírito e são mais abundantemente iluminados pelo Espírito Santo. Eles
são chamados “espirituais” porque o Espírito Santo está neles assim como
estava com Gideão.'
' Bernai-d de Clairvaux, The Love ofGodandSpiritiial Friendship, versão resumida (Portiand,
Ore.; Multnomah Press, 1983), 9.
- Sharon Parks e Craig Dykstra argumentaram que uma teoria de estágios da fé pode ser mais
um modismo, mais reflexivo de nossa sociedade contemporânea do que de uma pesquisa
profunda. (Ver Craig Dykstra e Sharon Parks, org., Faith Development and Fowler [Birmingham,
Ala.; Religious Education Press, 1986].) Mas eles não olharam adequadamente os precedentes
históricos.
o D esenvolvimento DA F é 137
^Para uma discussão muito útil dos precedentes históricos da atual teoria do desenvolvimento
da fé ver Friedrich Schweitzer, “Developmental Views ofthe Religion ofthe Child: Historical
Antecedents” em Fowler, Nipkow e Schweitzer, org., Stages qfFaith andReligious Development
(Nova York; Crossroad, 1991), 67-81.
“Hora Bushnell, Views of Christian Nurture andSubjects Adjacent Thereto (Hartford: E. Hunt,
1849), 17.
138 E nsino e C rescimento
Até a época em que este livro estava sendo escrito, os livros de Fowler incluíam To See the
Kingdom: TheTheological Vision ofH. Richard Niebuhr (HashmWe: Abmgàon, \ 91A)\Stages
ofFaith: The Psychology ofHiiman Development and the Qvestfor Meaning (São Francisco:
Harper & Row, 1981); BecomingAdult, BecoiningChristian: Adult Development andChristian
Faiíh (São Francisco: Harper & Row, 1894); Faith Development and Pastoral Care (Filadélfia:
Fortress, 1987); Weaving the New Creation: Stages of Faith and the Public Church (São
Francisco: Harper & Row, 1991).
^ Essa descrição e as características que seguem são tomadas da apresentação de Fowler à
National Association of Professors of Christian Education, agora conhecida como North
American Association of Professors of Christian Education, de 22 a 25 de outubro de 1987, em
Danvers, Mass.
140 E nsino e C rescimento
Fé Primária (Infância)
pessoas não têm problem a em acreditar que Deus tem uma espaço perfeito
para eles estacionarem bem em frente da loja porque ele os am a profunda
mente e está interessado em seus melhores interesses. Deus não ama somente o
indivíduo, mas também o grupo todo com quem essa pessoa se identifica. Aqueles
com uma fé sintética/convencional tem total certeza sobre quem são as verda
deiras pessoas de Deus e quem não são.
U m a limitação deste estágio é a superdependência de pessoas importantes
dentro da com unidade da fé. Os pastores, líderes de jovens, ou pessoas de
destaque são im portantes tanto quanto ao julgam ento em relação à verdade
(“ Sobre o que nós crem os ...?”) quanto sobre o valor pessoal. Falta a “pers
pectiva de uma terceira pessoa” , então o indivíduo não consegue ver a si m es
mo e seu grupo como outros podem vê-lo. E m ais, no estágio três as pessoas
são muito suscetíveis à tirania do "eles ”, perm itindo que o controle externo
se torne o mais importante de tudo.
Pode haver um grande conforto na fé convencional/sintética porque há
um senso de com unidade e um senso de pertencer que está m uito em falta
na sociedade contem porânea. Também, as categorias tendem a se seguras,
com claros delineam entos sendo feitos entre a verdade e o erro e “os m oci
n h o s” (nós) e “os v ilõ e s” (eles). U m a teo lo g ia eclesiástica que en fatiza a
com unidade e os relacionam entos e fortes líderes pode criar e segurar as
pessoas no estágio três da fé.
m ais paradoxal. Torna-se axiom ático que a verdade seja m ultidim ensional e
torna-se razoável entender que outras pessoa tenham visões que nós não te
mos. Encontros significantes com outras pessoas e grupos são vistos e valori
zados, à medida que um a nova busca por entendimento tem início.
Aqueles que atingem uma fé conjuntiva se tornam cada vez mais cientes das
possibilidades de idolatria mesmo dentro de suas próprias afirmações doutri
nárias, assim eles são marcados por
Aqueles que atingem uma fé
um a grande tolerância para com as
conjuntiva se tornam... cientes
perspectiva externas.'® As pessoas
das possibilidades de idolatria...
'‘obtém ” este estágio pelo trabalho
mesmo dentro de suas afirma
árduo de viver de m odo ponderado
ções doutrinárias.
através dos estágios anteriores.
Há uma novo senso de humildade na fé conjuntiva que diminui a autoconfiança
do estágio quatro. A nova abertura perm ite e procura um diálogo com grupos
fora da própria comunidade e esta abertura pode ser essencial para os esforços
cooperativos entre uma variedade de grupos. Quando combinado com concei
tos bíblicos apropriados o estágio cinco pode ser profundamente útil ao perm i
tir que as pessoas vejam as m últiplas facetas da verdade e as lim itações de
qualquer perspectiva humana.
Há questão crucial sobre a extensão da tolerância necessária para se estar claramente dentro
dos limites do estágio cinco. O próprio conteúdo teológico de Fowler permite que ele seja
bastante indulgente a esse respeito, muito mais do que o seriam as posições teológicas mais
conservadoras. Ele insiste, no entanto, que é possível aderir a uma teologia evangélica e ainda
assim ter uma fé conjuntiva.
146 E nsino e C rescimento
É difícil estar totalmente correto, assim como é difícil estar totalmente errado.
Fowler fez um trabalho excelente ao juntar uma variedade de questões e conectá-
los numa descrição do construto da fé. Além do mais, ele trabalhou muito para
eselarecer a pesquisa e marcar os procedimentos para determ inar o estágio de
fé de um a pessoa. Ele oferece descrições dos estágios que permitem uma vari
edade de conteúdos e ouviu atentamente seus críticos, avaliando e responden
do às questões deles de form a razoável. Ele tam bém está ciente do papel
determinante que sua própria teologia tem em suas construções teóricas.
É precisam ente neste ponto que nós devemos nos separar de Fowler. Seu
uso de Tillich e Niebuhr, com suas pressuposições a respeito de Deus, o papel
da experiência humana e a substância do Evangelho, o conduziu, nos estágios
m ais altos, a conclusões que não são com patíveis com a auto-revelação de
Deus na Escritura. Em última análise nós não somos chamados à identificação
com a Razão de Ser, mas a um a profunda gratidão pela graça de um Deus
santo que tanto buscou quanto executou nossa redenção. Nós somos chamados
para conhecê-lo (Jo 17.3) e servi-lo (Rm 12.1) com o coração agradecido.
Fow ler corretam ente reconhece, como nós tam bém devem os reconhecer,
que um a teoria do desenvolvimento da fé não pode ser totalm ente eientífíca e
desprovida de valores. A ntes, deve necessariam ente com eçar com uma
descrição do ponto final da fé, aquele estado norm ativo em direção ao que
toda fé deve eonduzir. Ele reeonhece que “qualquer teoria do desenvolvimento
que envolva uma descrição das transformações qualitativas no conhecimento,
valorização, comprometimento e ação humanos, deve derivar sua Tendem (in
tenção) e direção normativa de alguma visão de fé da exeelência para a qual os
hum anos são chamados e para a qual nós somos capacitados” .'-’
Em suma, os evangélicos devem oferecer uma forma corrigida da descrição
dos estágios e validá-los empiricamente para tornar essa teoria com patível
com um a perspectiva distintam ente bíblica. U m a visão mais biblicam ente
Fowler, Nipkow e Schweitzer, Stages of Faith, 33.
" Idem, 36.
148 E nsino e C rescimento
derivada dos estágios essenciais da fé ofereceria uma teoria mais útil para nos
sos propósitos, mas que seria exclusivista em sua orientação. Isso não quer
dizer que nós não temos nada a ganhar com a teoria de Fowler no estágio em
que ela se encontra. Significa, no entanto, que algo mais precisa ser feito a
partir de um ponto de vista evangélico.
' Wilford Cantwell Smith, The Meaning andEndofReligion (Nova York: Macmillan, 1962).
150 E nsino e C rescimento
O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
U m a conseqüência dos anos 60 é a aplicação do pensam ento relativista a
virtualm ente todos os aspectos da vida. O grito dos anos 60, “Faça você m es
mo suas coisas”, estava embasado num sentido do individualismo que era es
tendido a todas as áreas da vida. A lém dos mais óbvios enfeites dos estilos dos
vestidos e dos cortes de cabelo (ou falta deles), a relatividade daqueles anos
também influenciou am oral, a ética, e por último a metafísica.
As pessoas foram ensinadas não somente a fazer suas próprias eoisas, mas
tam bém a pensar do seu próprio m odo. A relatividade da época foi tam bém
estendida à moral, com o “esclarecimento de valores“ que assegura às pessoas
que todos os valores morais são relativos e portanto iguais. Mas talvez ainda
mais destrutivo tenha sido o fato de que a relatividade epistemológica (as pes
soas só podem “saber” a partir de suas próprias perspectivas) foi estendida de
modo a tornar todas as verdades relativas. Não poderiamos mais falar sobre a
Verdade; agora nós devem os falar sobre o que é a verdade para você versus
o que é a verdade para mim. A Verdade (com letra maiúscula, denotando uma
verdade absoluta) foi reduzida a verdades (com um v minúsculo, designando
uma verdade relativa).
A relatividade moral resultou num caos ético, com nossa sociedade agora
brigando sobre como deve ser decidido o que é certo errado. Essa batalha é a
m ais ruidosa quando se trata da questão do aborto. Os cham ados advogados
156 E nsino e C rescimento
pró-life argumentam que o direito à vida de uma criança não nascida é o maior
de todos. Os chamados advogados pró-escolha argumentam que o direito que
a m ulher tem de escolher continuar ou não com a gravidez é o correto. Mas na
ausência de um acordo sobre como estabelecer os valores de um a forma abso
luta, não há possibilidade de resolver o conflito.
A relatividade moral tem criado um a variedade am pla de estilos de vida
conflitantes. Se não há absolutos para um com portam ento certo e errado, as
pessoas podem escolher virtualmente qualquer modo de vida. Absolutos m o
rais ditavam que relações sexuais fora do casamento eram erradas. A relativida
de moral diz que as pessoas devem decidir por elas mesmas como elas querem
viver. Absolutos morais ditaram que a
A perda dos absolutos morais
prática homossexual era errada. A re
(ética) tem criado divisões e
latividade moral diz que todas as pes
confusões dentro da
soas devem ser livres para decidir como
sociedade americana,
elas querem viver a vida.
conduzindo não
A perda dos absolutos morais (éti
somente à destruição das
ca) tem criado divisões e confusões
estruturas sociais, mas
dentro de nossa sociedade, conduzin
também à grande confusão
do não som ente à destruição das es
no nível pessoal.
truturas sociais, mas também a gran
de confusão no nível pessoal. Sem absolutos, como se determ ina o certo e o
errado? Como se pode saber se um comportam ento é aceitável ou não?
O único absoluto que está sendo m antido agora é da tolerância, isto é, o
único valor sobre o qual a sociedade está certa é que nós não devem os ter
qualquer absoluto. Um pensam ento “politicam ente correto” é aquele que de
maneira nenhuma ofende, confronta ou limita a liberdade de uma outra pessoa
ou grupo. Os sentimentos de outras pessoas devem ser protegidos a todo
custo, mesmo que seja à custa da mente. A tolerância, argumenta-se, é o cam i
nho para a liberdade e a felicidade para todos.
A tolerância deve ser exercida não som ente no que se refere ao estilo de
vida, mas também na esfera das idéias. Assim como todos os valores são rela
tivos e iguais, o clim a atual argumenta que todas as idéias são relativas e, por
tanto iguais. Nós devemos ser livres para fazer o que quisermos e devemos ser
livres para crermos no que quisermos.
A tolerância sobre as idéias é boa se a verdade for relativa. Se não há tal
coisa como certo e errado ou verdade e erro, então perm itir que todas as pes
soas pensem o que desejam é apropriado. Mas se há um a verdade absoluta, e
o A prendizado e o C rescimento E spiritual 157
se ela pode ser conhecida, a m elhor coisa a fazer é corrigir as idéias para que
elas sejam congruentes com a verdade.'
O clim a contem porâneo da tolerância e da relatividade penetrou na igreja,
por isso uma ampla diversidade de pensamentos teológicos é aceita. “Todas as
pessoas devem decidir por si mesm as o que elas crêem ” tem -se tornado uma
norma, em nome da tolerância cristã. Seria indelicado corrigir a crença de ou
tras pessoas, especialm ente se o Senhor revelou essa crença a elas. Devem os
ser tolerantes e não “colocarmos Deus numa caixa”.
O im portante é determ inar quando a tolerância é necessária, e quando nós
devemos ser intolerantes. J. Gresham M achen saiu do Seminário de Princeton
para formar o Seminário de Westminster baseado em questões de intolerância.
Machen cria na liberdade civil e na necessidade de tolerância religiosa. Mas ele
tam bém acreditava que, no tocante à doutrina, a igreja deveria ser intolerante.
D. G. Hart explica;
' É claro que outro tipo de dúvida é se algum indivíduo ou grupo de fato conhece a
verdade. Em uma sociedade pluralista assume-se que cada pessoa conhece somente
parte da verdade. O ponto central do pluralismo, propriamente entendido, não é a tole
rância em relação a visões que competem entre si, mas permitir que as visões que compe
tem entre si contendam uma contra a outra para que a verdade possa ser descoberta.
Mas 0 pluralismo deveria fundamentar-se na possibilidade tanto da existência quanto na
possibilidade de se conhecer a verdade. O pluralismo baseado na relatividade está con
denado ao fracasso.
- D. G. Hart, “J. Gresham Machen: The Politically Incorrect Fundamentalist,” Tahletalk
17, n° 3 (Março de 1992): 14-15.
158 E nsino E C rescimento
coletivam ente e seu povo individualmente. Jesus ensinou que a verdadeira li
berdade seria conseguida por meio do compromisso com a verdade.
No prólogo de seu evangelho João observa que Jesus era “cheio de graça e
de verdade” (Jo 1.14) e que “ a graça e a verdade vieram por m eio de Jesus
Cristo” (v. 17). Ele estabeleceu uma ligação entre a graça e a verdade de Deus
que é sustentada por todo o evangelho.
Jesus ensinou a N icodem os que “Quem pratica a verdade aproxim a-se da
luz, a fim de que as suas obras sejam m anifestas, porque feitas em Deus” (Jo
3.21). Além do mais, ele ensinou à mulher samaritana que “Deus é espírito; e
im porta que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24).
A verdade para o nosso Senhor era tanto possível quanto funcional; é aquilo
pelo que nós vivemos, e deve controlar nossa adoração.
Em um a declaração mais im pressionante, Jesus prom eteu aos judeus que
creram nele e o seguiram que: “conhecereis a verdade, e a verdade vos liberta
rá (Jo 8.32). E continuou, ao con- A educação cristã deve abordar
trastar seu ensino com as mentiras do e tratar a Escritura como a
diabo: “Porque nele não há verdade” verdade se ela quer produzir
(Jo 8.44). A verdade que nos liberta crescimento espiritual,
é a de Jesus como o Filho de Deus
que nos livra da ira de Deus para com o pecado e do poder do pecado em
nossa vida.
N a afirm ação talvez m ais conhecida a respeito da verdade, Jesus afirm a
que ele in co rp o ra a verdade sobre D eus, e que tam bém é o cam inho para
D eus e a vida em relação a Deus (Jo 14.6). Ele então prom ete o m inistério
do E sp írito Santo, que é “ o E spírito da v erd ad e” (14.17; 15.26; 16.13),
para guiar seus discípulos a toda a verdade (16.12). C laram ente Jesus viu a
verdade tanto com o um a força libertadora quanto um a força capacitadora
na vida de seus discípulos.
N a oração sacerdotal registrada em João 17, Jesus orou por nós dizendo,
“ Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (v. 17). Em referência a
esse versículo, Carson comenta,
Isso só pode significar que o meio que Jesus espera que seu Pai use
para santificar os seguidores de seu Filho é a verdade. O Pai imergirá os
o A prendizado e o C rescimento E spiritual 159
Finalmente, quando ele foi levado ante Pilatos, Jesus afirmou; “Tu dizes que
sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testem unho
da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a m inha voz” (Jo 18.37).
O evangelho de João esclarece o papel central da verdade na vida do crente.
Nós devem os viver pela verdade, adorar em verdade, ser conduzido pelo
Espírito da verdade e conhecer a verdade. Em troca, o envolvim ento com a
verdade tanto nos liberta como é usado pelo Pai para nos santificar. Em essência,
a verdade é incorporada no Senhor Jesus Cristo e na Palavra escrita de Deus.
As im plicações para a Educação C ristã são profundas. N ão há liberdade
nem crescim ento espiritual à parte da verdade. Tanto a salvação quanto a
santificação vêm pela proclamação da verdade e pela obediência a ela. A Palavra
de Deus é a verdade. A Educação Cristã deve abordar e tratar a Escritura
como verdade se quer produzir um crescimento espiritual.
Aprender significa, para o cristão, compromisso com a verdade de Deus e
submissão a ela. A Educação Cristã se separará da educação m oderna em sua
busca apaixonada pela verdade. Abordagens educacionais atuais abandonaram
a possibilidade da verdade, deixando a educação sem um a base. N o capítulo
de abertura de seu livro, The Closing o f the American M ind [O fecham ento
da mente americana], que critica a educação americana, Allan Bloom observou,
‘D. A. Carson, The Gospel According to John (Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 566.
160 E nsino e C rescimento
’Allan Blooin, The Closing of the American Mind(Nova York; Simon e Schuster, 1987), 25-26.
o A prendizado e o C rescimento E spiritual 161
’ Richard Baxter, The Reformed Pastor, resumido e editado por James M. Houston (Portland,
Ore.: Multnomah Press, 1982), xiii.
®Idem, 106.
162 E nsino e C rescimento
De minha parte, estudo para falar tão claramente e eficazm ente quanto
posso. Depois do meu estudo particular, essa é minha primeira prioridade.
Mesmo assim freqüentemente encontro alguns dos meus ouvintes, que
têm me acompanhado por oito ou dez anos e que ainda não sabem se
Cristo é Deus ou homem. Eles ficam em dúvida quando eu lhes falo sobre
o nascimento, vida e morte de Jesus. Eles ainda não sabem que os infantes
têm o pecado original. Nem conhecem a natureza do arrependimento, da
fé ou da santidade requerida deles. A maioria deles tem somente uma
vaga crença em Cristo, esperando que ele os perdoará, justificará e salvará.
E 0 coração deles ainda pertence ao mundo.’
PREGAÇAO E ENSINO
M uitas congregações entendem a im portância do ensino, e então elas
procuram um pastor que possa ensinar. Mas a expectativa é que o ensino deve
ser feito do púlpito para toda a congregação. O resultado é que a pregação se
perde, e o ensino fica lim itado a um m onólogo de um a via, do pastor para a
congregação. De um ponto de vista educacional, isso não é ideal.
Um pastor m estre pode cuidadosam ente explicar cada verso, mas acabará
soando como um com entário transm itido por um alto falante. O pastor se
“colocará junto ao texto”, oferecendo explicações sobre o significado, mas
sacrificando a habilidade do texto de elevar e revelar enquanto fala aos corações
e vidas da congregação.
’ Idem, 114.
o A prendizado e o Crescimento E spiritual 163
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
portantes para nós se quiserm os viver como povo de Deus. Se querem os que
nosso povo tenha a mente renovada, nossos program as educacionais devem
ensinar-lhes a Bíblia.
Karl Barth, o brilhante teólogo suíço, não tinha a mesma visão a respeito da
Escritura que os evangélicos modernos, mas ele valorizava a Bíblia. Quando
não ju ro u lealdade a A dolph Hitler, ele foi forçado a deixar sua posição de
professor na Universidade Bonn. Suas palavras finais aos seus alunos foram; “E
agora chegou o fim. Assim, ouçam o meu último conselho: exegese, exegese e
mais exegese! Permaneçam na Palavra, a Escritura que nos foi dada” .*
Karl B arth entendia que o Cristianism o é prim eiro um a religião do texto,
cuja identidade e autoridade são baseadas na doutrina da inspiração. N ossos
programas educacionais devem refletir essa convicção se queremos alimentar
espiritualmente crentes maduros.
A B íblia deve ser ensinada por aqueles que têm um a profunda confiança
nela. C onquanto a dúvida não seja um pecado em si m esm a, ela atrapalha a
eficácia de um professor da Bíblia. Uma pessoa que pergunta se a Escritura é a
verdade ou um a de um a variedade de opções de crença, dificilm ente poderá
conduzir outros a crescer na fé. Mas aqueles que têm convicção da infalibilidade
da E scritura serão capazes de conduzir outros a um com prom isso frutífero
com a Palavra de Deus.
Parece haver uma desconfiança assustadora da Escritura entre alguns evan
gélicos. Alguns estão preocupados em declarar a inerrância da Escritura por
causa de certos abusos dessa posição. Mas uma visão razoável da inerrância diz
que a Bíblia não tem nenhum erro em tudo o que ele afirma. Reconhece que há
figuras de linguagem que não devem ser tom adas literalmente, e que há erros
gramaticais no texto, que é um reflexo da personalidade e humanidade dos autores
humanos. Mas também afirma que Deus não mente, e que sua palavra é fidedigna
em tudo o que declara. Nós devemos tomar uma posição básica sobre a inerrância
(ausência de erro) e infalibilidade (incapacidade de falhar) da Palavra de Deus.
Eberhar Busch, Karl Barth: His Lifefrom Lellers and Auíobiographical Texts (Filadélfia:
Westminster, 1976), 259.
166 E nsino E C rescimento
Tal convicção faz com que o professor proclame com confiança os princípi
os e a m ensagem da Escritura. Quando os professores são convencidos de que
a Bíblia é a verdade, eles ensinarão seus alunos com confiança e autoridade. O
apóstolo Paulo pediu a Tito que nom easse presbíteros em todas as cidades.
U m a parte das qualificações de um presbítero era que devia ser “apegado à
palavra fiel, que é segundo a doutrina, de m odo que tenha poder tanto para
exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem ” (Tt 1.9).
A dupla responsabilidade de encorajar e refutar é baseada na convicção da
fidelidade da mensagem. Sem essa convicção, o ensino dificilm ente pode ser
encorajador.®
” Eu escrevo como alguém que Já lutou por um longo período com a questão da fidelidade da
Escritura. Eu incentivo as pessoas a enfrentarem resolutamente tais questões e determinar por
elas mesmas a fidelidade da Escritura. Mas também incentivo que elas não ensinem a Bíblia
publicamente até que essas questões estejam resolvidas. Não é de nenhuma ajuda passar as
nossas dúvidas aos outros.
o A prendizado e o C rescimento E spiritual 167
Richard Baxter mantinha registros cuidados sobre o que cada pessoa havia
aprendido, para que o conhecimento pudesse ser desenvolvido de maneira sis
temática. Certamente há um lugar para o planejamento de um cuitícuIo psicoló
gico, que deve se ajustar aos interesses e necessidades im ediatas do povo.
Mas há também um a necessidade do desenvolvimento de um currículo lógico
ajustado ao próprio conteúdo do que está sendo aprendido.
Porque a Escritura contém uma argumentação lógica e porque a Teologia é
um a disciplina altamente lógica, faz sentido oferecer um ministério de ensino
que se desenvolva logicamente. Algumas pessoas afirmam que a lógica é ocidental
em sua orientação porque é linear e que a B íblia é oriental e portanto m ais
circular em seu raciocínio. Tal distinção entre a lógica ocidental e a oriental é
tanto falsa quanto ilusória.
E falsa porque tanto a m ente ocidental quanto a oriental usam am bos os
tipos de lógica. Uma mente oriental, por exemplo, não trabalha com a matemática
ou a eletrônica de m odo diferente da m ente ocidental. A m bas as visões de
mundo e estruturas de pensamento raciocinam sobre essas disciplinas da mesma
o A prendizado e o C rescimento E spiritual 169
maneira. Além do mais, um a mente ocidental pode apreciar uma narrativa tão
bem quanto um a m ente oriental. Conquanto haja um a preferência por um
pensam ento linear no Oeste e circular no Leste, ambas as lógicas são usadas
em ambas culturas.
Essa distinção é ilusória pois tende a forçar as pessoas a escolherem como
pensar. Algumas pessoas rejeitam a Teologia com sendo ocidental, e portanto
falha, como se Deus não se comunicasse de forma lógica e linear. Outros vêem
as narrativas como algo de segunda classe e não tão importante quanto a pura
doutrina. Tal pensam ento fará com que as pessoas percam seções inteiras da
Escritura que não estão de acordo com o seu modo preferido de pensar.
M as uma visão apropriada da inspiração fará com que valorizem os toda a
Escritura igualmente e que lutemos por aprender dos diferentes tipos de literatura
e lógica encontradas nela. Porque é a Palavra de Deus, nós ouvirem os e
aprenderem os de todas as partes da Bíblia.
O planejam ento do program a educacional deve produzir um eistudo
sistemático dos temas e seções da Escritura. Há muito espaço para criatividade
ao se determ inar como e quando o conteúdo será estudado. M as deve-se
procurar estudar toda a Escritura fielmente. Porque o aprendizado é necessário
para o crescimento espiritual, nós devemos ensinar de maneira que pem iita que
o povo se com prom eta com toda a verdade da Escritura.
CAPÍTULO 11
O APRENDIZADO E AS INFLUENCIAS DA
PRIMEIRA INFÂNCIA
A Educação Cristã responsável requer que os filhos sejam educados na fé
desde os seus prim eiros dias. Isso quer dizer que devemos criar nossos filhos
“ na disciplina e na adm oestação do Senhor” (E f 6.4). Trata-se tanto de um
mandamento quanto de um privilégio para os pais cristãos.
Como é formada a fé na criança? Como é o processo e como nós podemos
perm itir que a fé cresça em nossos filhos? Como podem os obedecer ao
mandamento bíblico por meios que sejam compatíveis com o aprendizado das
crianças? O que nos dizem a Teologia e a Psicologia sobre o melhor modo de
ensinar nossos filhos?
A resposta teológica com respeito ao modo como a fé é form ada é que
prim eiro ela é um dom de Deus. A razão pela qual oram os pela salvação de
outros, crianças e adultos do mesmo modo, é que nós instintivamente entendemos
que Deus deve atraí-los para si mesmo e dar-lhes fé. E a razão pela qual damos
graças a Deus pela nossa salvação e pela salvação de outros é que entendemos
que a salvação é um presente dele. R ealm ente, qualquer cristão inteligente
entende que a fé é prim eiramente um dom de Deus.'
Porém , a verdade da soberania de Deus sobre a fé e a salvação não tira a
necessidade da responsabilidade humana. Os pais são ainda responsáveis por
criar seus filhos na fé, e a igreja é responsável por ensiná-los de forma que eles
possam crer. A soberania divina não elimina a responsabilidade humana. Ambos
os co n ceito s são ensinados nas E scritu ras, e essas v erd ad es não são
incompatíveis.-
A Teologia nos diz que a fé é um dom de Deus, e a Psicologia nos ajuda a
entender como as crianças aprendem. Como vimos no capítulo 2, a Bíblia ensina
que somos responsáveis por instruir nossos filhos a serem cristãos, e a Psicologia
nos ajuda a entender algumas das primeiras influências sobre o modo como as
crianças pensam.
' Tanto os calvinistas quanto os arminianos concordam nesse ponto. As diferenças surgem
quando se discute se Deus opera com todas as pessoas igualmente e se é possível resistir ou
recusar o seu dom da salvação. Mas todos os cristãos concordam que a fé e sua resultante
salvação são um dom de Deus.
- Para uma discussão muito interessante a respeito desses tópicos, veja D. A. Carson, Evangelism
and the Sovereignty of God{Atlmta-, John Knox,1981); e J. I. Packer, Divine Sovereignty and
Human Rexponsihi/iíy(Dov/nersGrove,U\:\nterVarshyPvess, 1961).
172 E nsino e C rescimento
O cristão não têm motivos para se queixar dos dados de Skinner. Skinner
descobriu algumas das leis de Deus que governam certos comportamentos
animais e humanos. O problema surge apenas quando Skinner generaliza
seus dados e faz amplas suposições a respeito da natureza da realidade que
não são apoiados por seus dados e estão em conflito com a revelação bíblica.^
O N ovo Testam ento tam bém dem onstra a im portância de recom pensas
externas. M esmo o apóstolo Paulo observou: “Combati o bom combate, com
pletei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas tam
bém a todos quantos amam a sua vinda'’ (2 Tm 4.7-8).
Se essa fosse a única m otivação para obedecer a Deus e servi-lo, seria
inapropriada. Entretanto, Paulo também deleitava-se em servir a Deus por ser
grato pela sua salvação. Os cristãos, em última instância, devem ser motivados
pela gratidão, não pelas recom pensas que eles possam receber. Contudo, há
um aspecto do coração humano que é interessado em resultados. Ignorar isso é
ignorar um importante aspecto de como Deus nos criou. De fato, Deus parece
apelar para essas características do coração humano para motivar seu povo em
direção àjustiça.
Se essa for a única motivação para que os adultos sirvam a Deus, a sua fé é
im atura. M as especialm ente para as crianças, as prim eiras m otivações e
influências podem ser mais bem entendidas em term os de recom pensas e
punições. E assim que Deus as projetou para aprender. E natural e norm al que
crianças se preocupem com recom pensas e punições. Essa é um a parte da
psiquê hum ana que está sempre presente.
feito é a im portância desses prim eiros anos . Cada criança vem com sua pró
pria personalidade e características (natureza) mas cada qual é tam bém pro-
fiindamente influenciada pelo ambiente (educação). Nossa tarefa ao educar esses
pequenos é dar-lhes um ambiente tal que permita que suas personalidades úni
cas venham a emergir, e a ensinar-lhes a diferença entre o certo e o errado.
A tarefa fácil é deixar emergir a personalidade deles. Semelhante a uma flor
que surge de um botão, assim um a m aravilhosa personalidade surge quando
esses pequenos se desenvolvem . E sem pre com um grau de espanto que
observamos essa pessoas fascinantes emergirem de uma uniformidade um tanto
previsível da infância.
A tarefa m ais difícil é ensinar a elas a diferença entre o certo e o errado.
M oldar valores e comportamentos nas crianças é uma tarefa complexa, do tipo
que requer sabedoria e oração. Mas há certos princípios que sempre parecem
ser aplicáveis na instrução de crianças.
O aprendizado da infância sempre começa com relacionamentos humanos.
N ossa prim eira tarefa quando trazem os do hospital para casa um a criança
(obviam ente além de alimentar e vestir) é estabelecer um laço emocional. Os
infantes precisam sentir-se seguros e amados. Abraçar, segurar, conversar e ter
contato visual ajudam a dar à criança um senso de segurança.
A m edida que as crianças amadurecem, há um desenvolvim ento contínuo
em seus relacionamentos humanos.^ Elas aprendem a confiar em outras pessoas
além de seus pais e aprendem a atuar como seres sociais. Esses aprendizados
vêm da im itação do com portam ento de outros e de recom pensas e punições
causadas pelo próprio com portam ento delas. Os pais aprendem a elogiar e
recompensar seus filhos quando eles comportam-se apropriadamente e a puni-
los pelo comportamento inapropriado. Por meio dessas experiências relacionais,
a criança aprende a agir em relação a outros e a dar e a receber amor.
E triste que algum as crianças nasçam em locais que não podem prover
ambientes amorosos adequados. Tal situação pode ser tão devastadora que as
crianças deixam de prosperar. Algumas das crianças que vieram a nós quase
desistiram de querer viver. Esta condição é gerabnente o resultado de negligência.
Nosso trabalho com esses pequenos é literalm ente am á-los retroativam ente
para despertar neles o desejo de viver. Isso é conseguido por meio dos próprios
meio físicos de abraçar, conversar, acariciar e responder quando eles choram.
■Muito mais do que simples padrões de reforço estão em jogo. Margaret Mahler forneceu uma
importante visão no nascimento psicológico de um bebê quando a simbiose e a individualização
acontecem. Para uma explanação veja Margaret Mahler, Fred Pine, and Anni Bergman, The
Psychological Birth of the Himan Infant (Nova York: Basic Books, 1975).
o A prendizado e as Influências da P rimeira Infância 177
N um sentido bastante real, ninguém pode aprender a ser cristão. Ser cristão
requer um a operação sobrenatural de Deus na regeneração e seu gracioso dom
de fé para salvação. Mas num outro sentido, nós devemos ensinar nossos filhos
a seguirem o Senhor e, nesse sentido, serem cristãos. Como vim os antes, a
Educação Cristã é tanto um a atividade natural quanto sobrenatural.
O Cristianismo tem um conteúdo para ser acreditado e um a visão de mundo
a ser adquirida. Parte dos ensinam entos para criança é provê-las com um a
perspectiva cristã da vida e das realidades nas quais todos vivem os. Para os
pais cristãos e a igreja, há várias realidades fundam entais que devem ser
aprendidas diretam ente por m eio de exem plos e ensinam entos dos adultos.
Inclusas nessas realidades estão preocupações cruciais sobre D eus, nossa
relação com ele e nossa relação com outros cristãos. As realidades seguintes
deveríam ser incluídas na instrução de nossos filhos.
As crianças não podem ver Deus, mas elas podem ver seus pais viverem na
realidade da presença de Deus. Oração, humildade, reverência a Deus e estilos
de vida que o honram são alguns m eios de instruir a criança com respeito à
o A prendizado e as Influências da P rimeira Infância 179
empenhando-se apenas para evitar serem punidas. Se houver apenas amor, sem
qualquer senso de temor, a relação delas com Deus pode tomar-se muito informal
e trivial. Com um a atitude adequada, elas entenderão que esse terrível e santo
Deus é um Deus de misericórdia e graça. O amor por Deus deve estar enraizado
apropriadamente no solo de nosso tem or a Deus.
A m aneira em que os pais falam a respeito de Deus m oldará a atitude da
criança. Se Deus é citado apenas em termos mais casuais (“Deus é tão legal!”)
e sem adequada reverência, a criança jam ais aprenderá a temê-lo. Ao contrário,
se Deus for apresentado apenas nos mais austeros termos (“Deus vai m andar
você para o inferno se você fizer isso!”) a criança jam ais aprenderá a am á-
lo. U m a teologia correta de Deus deve dar a m aneira como nós conversam os
a respeito dele.
As influências do início da infância são muito importantes para m oldar o
modo como as crianças sentem e pensam sobre Deus. Nossos cultos também
falam intensamente sobre como nos aproximamos de Deus e como pensamos a
respeito dele. As atitudes e práticas de nossas reuniões de adoração tam bém
formam a maneira de uma criança pensar sobre Deus. A Teologia é exercitada
nas práticas da igreja, tanto nas reuniões form ais de adoração quanto
informalmente na vida em família.
A obediência a Deus pode ser um a coisa enganosa um a vez que deve ser
obediência ao que Deus disse de fato. Algumas vezes a obediência a um a voz
interior ou revelação particular pode conduzir a m ais problem as do que
benefícios. A idéia “Eu acho que Deus quer que eu...” pode confundir tanto a
criança quanto os pais. Mas a obediência à sua Palavra como registrada nas
Escrituras é direta. Empenhar-se por viver um a obediência verdadeira ao que
Deus disse na Bíblia é a expressão mais apropriada de nossa fé.
U m a importante parte da criação de filhos na fé é ajudá-los a achar formas
de obedecer a Deus em suas vidas. Ensiná-los que a Palavra de Deus tem suas
implicações para o modo em que eles querem viver a vida servirá para colocar
o fundamento para uma vida de obediência.
As crianças pequenas precisam ser ensinadas a obediência em formas muito
diretas. “Deus quer que você obedeça à Mamãe e ao Papai” é muito apropriado
para ensiná-las. M ais tarde, quando as crianças se tornarem m ais m aduras
cognitivam ente, pode-se- lhes pedir que discutam suas próprias expressões
de obediência.
O início da infância pode ser um terreno fértil para se instilar a atitude de que
parte de ser um cristão é viver uma vida de obediência. Às vezes, a obediência
é cara. Em vez de ensinar as crianças que seguir ao Senhor é sem pre fácil e
divertido, os passos da obediência verdadeira ensinarão a realidade de que,
por vezes, a obediência machuca. M as nós obedecemos a Deus não porque é
divertido, m as porque o am am os e é correto. Tal instrução servirá para
estabelecer a base de um a fé m adura na fase adulta.
Nós devemos não apenas obedecer a Deus mas também servi-lo. Indo além
do que é ordenado, um coração agradecido serve ao Senhor com alegria. Um
verdadeiro estilo de vida que gloriflque a Deus (Rm 12.1-2) serve a Deus como
um ato de adoração. Novamente, essa é uma atitude a ser m odelada pelos pais
e instilada esperançosamente na criança.
É ilusório e insensato exigir das crianças m ais do que elas possam fazer.
Costum ava ser quase normal ouvir oradores de grande im portância pedir que
as crianças dedicassem suas vidas ao serviço de Deus. Crianças de apenas 8
ou 10 anos de idade assumiam o compromisso de serem missionários. Uma vez
tive de aconselhar um a estudante que estava se preparando para o trabalho
missionário, porque quando ela era criança havia prometido a Deus que o serviría
182 E nsino e C rescimento
dessa forma. N a juventude ela não queria mais fazer isso, mas sentia-se obriga
da pelo seu compromisso de infância. Pedir às crianças tal compromisso é um
grande desserviço.
Porém não é um desserviço ensinar as crianças a servir a Deus de uma forma
imediata. É apropriado dar-lhes tarefas que elas possam fazer no trabalho ao
Senhor. Instilar um a atitude de que devemos servir a Deus, e não que ele está
aqui para nos servir, formará uma base para o desenvolvimento teológico posterior.
Uma atitude para servir é m oldada na idade jovem . Pedir que as crianças
ajudem e requerer delas isso pode ser lição importante para a vida mais tarde.
Os pais sempre devem ser precavidos em não intimidar as crianças a fazerem o
que elas na verdade não querem fazer; mas eles devem encorajar seus filhos a
desenvolverem uma atitude de serviço.
R ecom pensar as crianças por servirem a Deus é apropriado. Em vez de
solapar o m otivo formal (expressar nosso am or por D eus), as recom pensas
reforçarão, em linguagem que elas entendem, que fizeram uma coisa hoa. Não
é apropriado usar recompensas com adolescentes, mas é altamente apropriado
usá-las com crianças. Isso é característico do modo como aprendem.
N em sem pre os serviços precisam ser recom pensados. Os behavioristas
falam de reforço intermitente, o qual significa que comportamentos apropriados
necessitam ser recompensados apenas periodicamente. Mas quando as crianças
praticam atos de serviço, recompensas verbais ou de outra espécie ajudam-nas
a entender que elas procederam de m aneira correta.
O im portante aqui é não prom eter a recom pensa antes do serviço mas
oferecê-la após a ação ter sido feita. M elhor do que dizer às crianças; “ Se
vocês fizerem isso, eu lhes darei...”, nós podem os dizer-lhes: “Porque vocês
fizeram isso, poderão ter...” Quando respondem os com um elogio tal como
“Fico orgulhoso de vocês quando vocês ajudam desse je ito ”, nós podem os
instilar uma atitude de serviço em nossos filhos.
A realidade final que deve ser ensinada às crianças - que Jesus nos ama - é
estabelecida contra o cenário dos cinco itens anteriores. Elas devem aprender
não apenas que Deus o Pai deve ser tem ido e am ado, obedecido e servido,
mas também que seu Filho Jesus nos ama. A grande verdade: Sei que Jesus me
quer bem pois a Bíblia assim me diz, está no coração do Evangelho e é um a
verdade que as crianças podem entender. M uito em bora não possam ver a
Deus, as crianças podem conhecer o amor de Deus por meio de Cristo.
A realidade da experiência cristã está no dia de descanso, descansar no
cuidado de Deus para com os seus. N ós podem os parar de trabalhar para
184 E nsino e C rescimento
obter a salvação e descansar no fato de que somos salvos pela graça, à parte
das ações da lei. Esta verdade deve penetrar fundo no coração dos crentes,
modelando o modo de eles viverem, pensarem e sentirem em relação a Deus. E
essa verdade que nos liberta para servi-lo com o coração agradecido.
As crianças têm um a grande necessidade de serem amadas e de saber que
são amadas. Deus projetou-as exatamente dessa forma. Ensinar uma criança sobre
o amor de Deus, manifestado por meio de Jesus, é uma das grandes alegrias de
criar filhos. Corações bondosos respondem à verdade do amor de Deus.
O am or de D eus é ensinado tanto em atitudes quanto em ações. Os pais
devem tom ar tem po para m ostrar as graciosas provisões de Deus para seus
filhos. É por causa da m isericórdia de Deus que temos alim ento para comer,
casas aquecidas, amigos, famílias e igreja. Mesmo nos tempos difíceis a bondade
do am or de Deus para com os seus pode ser vista. Todavia é responsabilidade
dos pais m ostrá-la aos seus filhos.
U m a das coisas m aravilhosas sobre as crianças é sua habilidade era nos
m ostrar o amor de Deus. Por mais de uma vez minhas próprias filhas foram os
veículos das instruções de Deus para me ajudar a obter a perspectiva adequada.
Quando instruímos nossos filhos a verem a mão amorosa de Deus, eles também
nos ajudam a ver através dos olhos infantis .
Descansar no amor de Deus parece ser uma luta para a vida inteira. Talvez
seja a nossa própria maldade, ou a estratégia do inimigo, mas às vezes todos
nós acham o-nos perguntando se Deus realm ente nos ama. A verdade de que
ele de fato nos ama deve estar profundamente enraizada no coração dos pais e
deve ser ensinada aos filhos.
Quando os pais aprendem a viver na realidade do amor de Deus e a mostrar
o am or de Deus para seus filhos, os filhos aprenderão a aceitar seu am or por
eles mesm os. A hum ildade das crianças perm ite que elas aceitem o am or de
Deus m ais facilm ente do que os adultos. Conquanto possam os estar lutando
com o conceito, as crianças acreditam nele. Mais tarde, conforme suas vidas se
tornam m ais com plicadas, a questão se tornará m ais relevante para elas. O
livro devocional para adolescentes Se Deus me ama, por que não consigo
abrir meu armário?^ é uma expressão das complexidades que podem causar
confusão na adolescência. Elá outras realidades que podem e devem ser
ensinadas aos filhos. M as essas servem para ilustrar com o, por m eio de
formação e instrução, junto com recompensas apropriadas, as crianças podem
receber logo na infância influências que m odelem a sua fé.
Lorraine Peterson, If GodLoves Me, Why Can 't I Gel My Locker Open? (Minneapolis; Bethany
House, 1980).
o A prendizado e as Influências da P rimeira Infância 185
PADRÕES DE REFORÇO
H á um a variedade de m eios pelos quais as crianças pequenas podem ser
instruídas em seu crescimento como cristãs. As sugestões seguintes são algumas
das mais óbvias aplicações do uso do reforço para ajudar a edificar a fé cristã
em nossos filhos.
Aprovação Paternal
De longe, a m ais poderosa influência na vida dos filhos é a aprovação de
seus pais. Os filhos desejam muito agradar seus pais e querem saber que seus
pais os aprovam . O elogio de um pai é um reforço poderoso para um bom
comportamento.
N ós estávam os jantando com am igos quando o pequeno K urt, de 5 anos,
derram ou o leite. Seu pai, com m áxim a sinceridade, o elogiou, dizendo: “ Ô,
Kurt, você derramou só metade do copo dessa vez!” O que m inha esposa e eu
observamos foi que esse era um pai que tinha o hábito de elogiar seus filhos.
Elogio demais pode ser ineficiente. Depois de algum tempo a criança pára
de ouvi-lo. M as o elogio genuíno, sincero, especialm ente em questões de fé,
pode fazer muito para instruir um filho a ser cristão. Abraços, tapinhas e palavras
que expressam aprovação dos pais são a linguagem que os filhos entendem e as
recompensas que eles mais buscam.
vam nas atividades da igreja. D essa form a, pode-se agir com coerência, e a
criança saberá e entenderá os limites aceitáveis de comportamento.
Deus não ignora o comportamento negativo e nem nós devemos ignorar. Se
devemos ser modelos do Pai para nossos fdhos, nós precisamos ensiná-los que
há consequências ao comportamento negativo e que os am arem os o bastante
para discipliná-los. Disciplinar os filhos é uma tarefa difícil, mas também um
esforço que compensa.
' Lawrence O. Richards, Christian Education: Seeking to be Like Jesus Christ (Grand Rapids:
Zondervan, 1988); John Westerhoff III, Valuesfor Tomorrow’s Children (Filadélfia; Pilgrim
Press, 1970); idem, Will Oiir Children Have Faith? (Nova York; Seabury, 1976).
- Albert Bandura, SocialLearning Theory (Morristown, NJ.; General Leaming Press, 1977). Ver
também Albert Bandura e R. Walters, Social Learning and Personality Development (Nova
York; Holt, Rinehart e Winston, 1963).
A prendendo P ela Interação e P ela O bservação 191
' C. Ellis Nelson, Where Faith Begins (Louisville: John Knox, 1967).
A prendendo P ela I nteração e P ela O bservação 195
brigando ou mesmo se dividindo? O que está sendo modelado para elas sobre
a verdade do Evangelho e o que significa ser um cristão?
Por causa de abusos dos modelos instrutivos de ensino, alguns educadores
cristãos querem conduzir a Educação Cristã quase totalmente a partir de uma
a b o rd a g e m s o c ia l. L a w re n ce
A combinação de um bom
Richards tem discutido com muita in
caráter cristão e a Escritura é a
tensidade a favor do modelo social,
chave para a influência de um
porque ele crê que as abordagens ins
professor.
trutivas são incapazes de comunicar
vida, o que ele vê como a m arca singular do Cristianism o verdadeiro.’ A res
peito da aplicabilidade de um m odelo formal de instrução, Richards afirma,
“U m a educação formal pode ser eficaz ao lidar com os símbolos e conceitos
abstratos da vida, mas quando se deseja a m udança e o desenvolvim ento na
personalidade total, uma educação não-formal tem toda a vantagem .”®
Considerando-se a longa história da socialização como um modelo de ensi
no, e a óbvia ênfase bíblica no modelar e em seguir o exemplo de outros, será
correto, como Richard sugere, fazer da socialização nossa ênfase principal na
Educação Cristã? Quais são as vantagens e as desvantagens da socialização
como modo principal de Educação Cristã?
ASPECTOS POSITIVOS
Há quatro aspectos positivos principais da socialização que devem ser man
tidos para um a Educação Cristã eficaz.
A socialização enfatiza que deve haver algo a ser observado na vida do crente.
O professor deve ser modelo de maturidade, e o aluno deve imitar. Um modo de
ensino e aprendizado pela observação requer categoricamente que algo esteja
acontecendo tanto na vida dos professores quanto na dos alunos. A possibilida
de de uma fé divorciada da vida é eliminada. Uma discussão abstrata da verdade
desprovida de obediência não é possível num modelo apropriado de socializa
ção. A palavra e a atitude devem estai' integradas.
ASPECTOS NEGATIVOS
C onquanto haja óbvias vantagens num m odelo de socialização do en si
no, abandonar totalm ente um modo instrutivo é perigoso. D evem ser con
sideradas algum as fraquezas inerentes ao m odelo de socialização quando
tom ado com o único m odelo para nutrir o povo.
George Albert Coe, A Social Theoty of Religous Education (Nova York: Scribners, 1929), 140.
A prendendo P ela Interação e P ela O bservação 199
tinha sido criada num lar cristão, tinha freqüentado o ensino prim ário e o
secundário em escolas cristãs, e estava agora se preparando para o m inistério
profissional. A sua vida e seu testemunho eram exemplares. Ela retomou à facul
dade para uma visita cerca de um ano após a formatura. Eu estava na época no
corpo docente e nós conversamos. E lam e contou que enquanto estava fazendo
sua graduação entendeu que não era cristã! Quando eu protestei, dizendo-lhe
que eu havia visto a sua fé, ela me interrompeu, “Eu conhecia a linguagem e o
estilo de vida, mas eu não conhecia Deus”, foi a sua simples resposta.
Pode haver um perigo real de induzir as pessoas a “viver como cristãs,” mas
nunca apresentar-lhes Jesus. A
o professor deve modelar a maturida
salvação é uma questão de fé e
de, e o aluno deve imitar. Um modo de
fé inclui um relacionamento com
ensino e aprendizado pela observa
Deus. A socialização pode en
ção requer categoricamente que algo
sinar uma pessoa a fazer parte
esteja acontecendo tanto na vida dos
da comunidade cristã sem ter um
professores quanto na dos alunos.
relacionamento vivo com Deus.
Essa crítica não é só à socialização. Isso pode acontecer em qualquer modo
de ensino, porque nós não podemos medir, ou conhecer com certeza o relaci
onam ento de alguém com Deus. M as há um perigo inerente e específico em
confundir a adaptação a uma subcultura, tal como a cristã, com ter um relacio
namento redentivo com Deus. Os defensores de um modelo puro de socializa
ção devem reconhecer esse perigo.
Nós devemos nos lembrar da mensagem do profeta M alaquias a Israel. Ele
disse-lhes que Deus não queria suas festas, seus sacrifícios e suas ofertas. Por
intermédio do profeta Deus disse, “Tomara houvesse entre vós quem feche as
portas, para que não acendésseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho
prazer em vós, diz o SEN HO R dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a
oferta” (Ml 1.10).
M esm o que Deus tenha ordenado as festas e os sacrifícios, ele agora os
recusa, porque eles estavam sendo oferecidos sem o com prom isso. O povo
estava praticando rituais vazios, sem significado, e eram portanto um a abomi-
nação ao Senhor. Eles tinham sido socializados em sua religião, mas não ti
nham fé, não tinham um relacionamento verdadeiro com Deus.
timento que quem nós realmente somos é compartilhado. É no nível dos senti
mentos que nós somos mais vulneráveis, mas é também nesse nível que estamos
sendo mais honestos.
É assustador com partilhar nossos sentim entos com outros, porque isso
nos torna mais vulneráveis. E como tirar as roupas em público. A inda que nos
vistam os novam ente, todos se lem brarão de como som os som ente com as
roupas de baixo!
No m eu ensino na Trinity, freqüentemente compartilho com minhas clas
ses no nível sentim ental. Eu lhes digo como me sinto sendo um professor de
sem inário, ou um pai adotivo, ou um escritor. Isso é m ais profundo do que
aquilo que eu penso sobre es
sas c o isa s p o rq u e quando
Se as pessoas são autênticas, dei
com partilho m eus sentim en
xando que os alunos vejam o pro
cesso de redenção acontecer nelas,
tos, eu com partilho quem eu
e se sua fé é real, elas têm as quali
realmente sou. Mas é também
dades de bons professores.
n esse n ív el que a obra de
Deus pode ser vista mais claramente.
É desconcertante admitir que às vezes eu sinto medo de ensinar, ou me sinto
frustrado com m eu papel de pai adotivo ou inseguro como escritor. M as ao
dizer para m inha classe quem eu realm ente sou, estou deixando-os ver quem
Deus escolheu para usar. Eles descobrem que eu não sou perfeito, m as um
pecador tentando fazer a obra de Deus. Tais confissões são difíceis de fazer,
mas necessárias se eu quero ser autêntico.
A lém de falar de suas vidas os professores devem tam bém deixar que os
alunos vejam-nos na vida real. O relacionamento com os nossos alunos signifi
ca tê-los em nossos lares, levá-los conosco quando m inistram os e deixar que
eles nos vejam em ambientes não-restritos da educação formal. Parte da tarefa
de m odelar a verdade significa deixar a verdade ser vista à m edida que ela
está sendo trabalhada na arena de nossa vida. Requer que os alunos vejam seus
professores nas situações da vida real.
saber algo sobre ele. Em ordem de seqüência, a B íblia prim eiro apela para a
m ente, pedindo-nos para fazerm os julgam entos racionais para a partir deles
moldarmos nossa vida.
Entretanto, a Bíblia não pára no nível da mente. E perfeitamente possível en
tendermos algo sem que isso esteja agarrado a nós e nos controlando. E possível
ter uma fé que seja toda intelectual, sem que o coração esteja envolvido.
O coração tem a prim azia em im portância porque é por meio dele que res
pondem os e obedecemos a Deus. A mente é ensinada de modo que o coração
possa amar. Jesus ensinou: “Amarás o Senhor, teu D eus, de todo o teu cora
ção, de toda a tua alm a e de todo o teu entendim ento” (M t 22.37). Para ele,
não devia haver separação entre coração e mente.
Mas, por alguma razão que eu não consigo decifrar completamente, o ambi
ente moderno rejeita a mente como, de alguma maneira, sem importância para
a fé. As pessoas orgulhosamente proclamam que não querem estudar, porque
querem am ar ao Senhor com um a fé inocente. Elas parecem pensar que ino
cente e infantil são a mesm a coisa. Elas se esquecem da observação de Paulo
para a igreja de Corinto: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia
como menino pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das
coisas próprias de m enino” (1 Co 13.11).
Mais adiante, na mesm a carta, o apóstolo repreendeu-os, escrevendo: “Ir
mãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao
juízo, sede homens amadurecidos” (1 Co 14.20). Claramente, a idéia de Deus
a respeito de um a fé inocente não é uma fé que seja desinformada ou simplória.
Seu desejo é que nós raciocinemos e pensemos como adultos.
A B íblia apresenta um a ligação direta entre como pensam os e como nos
com portam os. Paulo descreve os inim igos da cruz como aqueles que “só se
preocupam com as coisas terrenas” (Fp 3.19), em oposição aos crentes, os
quais devem pensar nas “coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra” (Cl
3.2). O foco da mente (aquilo em que pensam os) e a atitude da m ente (como
pensam os sobre as coisas) devem ser diferentes para o crente.
Paulo torna essa questão mais convincente para a igreja em Roma:
O apóstolo faz um a ligação direta entre como nós pensam os e como nos
com portam os, instigando a igreja em Rom a a pensar corretam ente. É nesse
contexto que mais tarde ele os insta a renovarem a mente (Rm 12.2). As liga
ções entre pensar e com portar-se estão dem onstradas m ais am plam ente no
verso seguinte quando ele escreve: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a
cada um dentre vós que não pense de si mesm o além do que convém ; antes,
pense com moderação, segundo a m edida da fé que Deus repartiu a cada um ”
(Rm 12.3). Sua argum entação é que o m odo como nós pensam os sobre nós
mesmos moldará o nosso comportamento.
U m a vez que a m aturidade cristã é m oldada em parte pelo com o p en sa
m os, é incum bência do educador cristão responsável entender com o D eus
nos tem designado a pensar. Se ensinar inclui form ar m entes de m odo que
pensam ento correto possa conduzir ao viver correto, como as pessoas p en
sam de form a racional?
A raiz dessa idéia é seu entendim ento da percepção e dos m odelos para
educação. Provocando Piaget e competindo com ele, Bruner argumenta que se
um conceito é apresentado de um a forma apropriada, ele pode ser com preen
dido em qualquer nível do desenvolvimento cognitivo.
Em seu trabalho sobre percepção, “ele ajudou a mostrar que a maneira como
um estímulo é identificado depende da necessidade e dos desejos do observa
dor.... Ele sustentou que a percepção era um processo de categorização” .^ É o
processo de categorização que nos ajuda a entender o modo como as pessoas
pensam sobre as idéias.
B runer estava preocupado com conceitualização, que é tornar-se ciente
dos conceitos. E por meio de conceitualização que um a pessoa pensa. Um
conceito é um a abstração que fazemos em nossa mente que representa objetos
ou eventos que percebemos terem propriedades similares.
A categorização é o termo de Bruner para conceitualização. Quando pen
samos, nós ajustamos conceitos em categorias que formamos em nossa mente.
Para se encaixar numa categoria, um conceito deve ter atributos e valores simi
lares àqueles conceitos já incluídos na categoria. Assim, por exemplo, a cate
goria “animal de fazenda” incluirá aqueles animais normalmente encontrados
numa fazenda, tais como vacas, cavalos, porcos e galinhas.
N ovas experiências ou percepções nos fazem m udar o m odo como
categorizamos os conceitos. Talvez nosso conceito de “lhama” se encaixe numa
categoria de “ animais estranhos da América do Sul” . Mas depois descobrimos
por meio de leituras ou observação direta que algumas pessoas criam lhamas
em suas fazendas. Agora nós podemos colocar o lhama em nossa categoria de
“animais de fazenda” .(Ou nós podemos colocar o fazendeiro na categoria de
“pessoas estranhas que devem ser evitadas” !) N osso pensam ento é parcial
m ente um a questão de percepções e categorização.
A categorização, de acordo com Bruner, é absolutam ente necessária para
pensar e funcionar cognitivamente. Ela executa pelo menos cinco funções im
portantes para nós."* Primeiro, ela serve para reduzir a complexidade do ambi
ente. Se pudermos pensar em categorias em vez de específicos, o ambiente se
torna muito menos complexo. Os pais podem dizer aos seus filhos: “ Não aca
riciem cães estranhos” , usando a categoria de “cão”, em vez de usar os nomes
de raças específicas de cães. É m ais fácil pensar e conversar em categorias
mais vastas do que em específicas.
ta l” m e ajuda a entender que este pode ser com estível, pode ser bom para
m im e pode se tornar um a parte regular de minha dieta. M esmo que eu nunca
mais volte a com er alcachofras, posso agora reter o conceito de que alcacho-
fra é um vegetal.
E o sistema de codificação cognitivo que torna a percepção possível. Quan
do nós reunim os idéias, eventos ou experiências, nossa resposta m ental é
conceituá-las por meio do processo de categorização, o qual é percepção.
Para Bruner, perceber é categorizar.
O aprendizado mais elevado envolve a formação de categorias e sistemas
de codificação. Essas categorias e sistemas de codificação perm item percep
ção acurada, prom ovem descobertas, facilitam a transferência de aprendiza
do e ajudam na memória. N ossa mente funciona cognitivamente pelo proces
so de categorização.
Ensinar envolve ajudar as pessoas a estabelecerem categorias cognitivas mais
precisas e mais significativas. Se levarmos uma criança pequena a uma fazenda
e lhe mostrarmos uma vaca, ela pode muito bem exclamar: “Cachorrinho!” A
razão para isso é que o animal diante dela se encaixa em sua genuína categoria
de “cão” . E grande e peludo e tem quatro patas - tem de ser um cachorro.
Todavia nós a corrigim os, dizendo-lhe: “N ão, isso é uma vaca”. “Vaca” , ela
repete, curiosa para estabelecer uma nova categoria.
M ais tarde ela vê um cavalo. “Vaca!” , ela exclam a, com um óbvio prazer.
Este novo animal se encaixa na categoria que ela estabeleceu porque é muito
grande, peludo, vive numa fazenda e tem cheiro desagradável. Q ualquer tolo
pode ver que aquilo é um a vaca. M as novam ente nós a ajudam os com suas
categorias, explicando que esse é um cavalo, m ostrando-lhe as diferenças. E
assim seu aprendizado progride, amadurecendo através de categorias m ais e
mais complexas e sofisticadas.
às pessoas de forma que elas possam viver biblicamente. A ligação entre conhe
cer a Bíblia e pensar biblicamente está enraizada no processo de categorização.
U m a vez perguntaram-me se eu realizaria a cerimônia de casamento de um
casal cristão que “tinha entrado em dificuldade” . A m ulher estava grávida de
cin co m eses, m as eles se am avam e q u eriam se casar. N o m eio do
aconselhamento pré-marital eu lhes perguntei: “Se vocês pudessem voltar atrás,
o que vocês fariam de diferente?” Eles pensaram por um m om ento e então
responderam refletidamente: “Usaríamos um método anticoncepcional”. Depois
de algum tempo eu lhes perguntei a respeito dessa resposta, dizendo-lhes estar
surpreso que eles, como cristãos, não estivessem arrependidos e que não tives
sem dito que não desejariam ter pecado em sua conduta sexual. A mulher olhou-
me um tanto surpresa e disse: “Mas eu nunca pensei nisso como pecado!”
A qui estava um casal, am bos reivindicando ser cristão s, que sim p les
m ente não pensava em categorias bíblicas. Eles tinham violado o sétim o
m andam ento e estavam se apressando para um m atrim ônio para o qual não
estav am p reparados, porém nunca h av ia ocorrido a eles verem -se com o
pecadores e seu com portam ento como pecam inoso. Eu não os censuro pela
sua falta de entendim ento, mas me espanto a resp eito da educação cristã
que os fez pensar daquela forma.
U m a educação cristã sistem ática, tal como aquela praticada por Richard
Baxter, levará o povo a modos crescentem ente mais bíblicos de pensar. C o
m eçará com amplas categorias teológicas e ajudará as pessoas a desenvolver
m eios crescentem ente m ais adequados de pensar a respeito do m undo e de
suas vidas. “M ais adequado” im plica o uso m ais cuidadoso de percepções
bíblicas e teológicas.
N ossa sociedade nos ensina como pensar, mas as categorias que ela usa
estão longe daquelas da Palavra de Deus. A sociedade nos Estados Unidos
pensa basicam ente em categorias psicológicas e econômicas. As pessoas são
treinadas para pensar em termos de auto-realização e resultados. Essas cate
gorias são psicológica e econômica, respectivamente.
Q uando as pessoas procuram um a carreira, elas perguntam : “O que vai
me realizar e o que vai dar dinheiro?” M esmo alguns cristãos assum em que
Deus os quer realizados e Deus quer que eles tenham dinheiro. Suas catego
rias operativas e formas de pensar são as do mundo. Eles são então batizados
num a perspectiva pseudocristã. É triste imaginar que esse pode ser o resulta
do de nossos program as educacionais, porque esse é o m odo como in stru í
m os o povo a pensar.
Naturalmente, Jesus tinha uma perspectiva diferente, que requeria abnega-
212 E nsino e C rescimento
’ João Calvino, Institutas da Religião Cristã, 2 vols., org. John T. McNeill (Filadélfia:
Westminster, 1960), 1:97.
A prendendo por M eio do D esenvolvimento L ógico 213
O PAPEL DO PROFESSOR
Ensino Exposítivo
zer isso de modo significativo, eles não precisam mais depender da expe
riência concreta-empírica anterior e assim podem ignorar completamente
o tipo intuitivo de entendimento reflexivo de tal dependência. Por meio de
um ensinamento expositivo apropriado eles podem avançar diretamente
para um nível de entendimento abstrato que é qualitativamente superior
ao nível intuitivo em termos de generalidade, clareza e precisão. Nesse
estado de desenvolvimento portanto, parece sem razão enfatizar um en
tendimento intuitivo pelo uso de técnicas de descoberta.*
David P. Ausubel, Education Psychology: A Cognitive View (Nova York: Holt, Rinehart and
Winston, 1968), 19.
A prendendo por M eio do D esenvolvimento L ógico 215
fornecer categorias nas quais a nova informação deverá ser colocada. Quando
um a pessoa ouve alguém falando, mas não entende o que está sendo discutido,
é porque não há um organizador. Quando nós dizemos, “Espere um minuto; eu
não entendo o que você está falando!” nós estam os pedindo um organizador
do qual tirar um sentido lógico da informação.
Segundo, deve haver diferenciação na informação que está sendo apresenta
da. Os estudantes devem ser capazes de ver como essa informação é diferente
das que eles já conhecem para que o novo material possa ser absorvido. A dife
renciação entre idéias é essencial para se entender e reter novas informações.
Terceiro, Ausubel acredita que os alunos devem estar num estado de pron
tidão para receber a nova informação, isto é, estruturas cognitivas existentes
devem estar no lugar e o aluno deve estar desenvolvimentalmente pronto para
receber a nova inform ação. Se, por exem plo, os alunos não têm estruturas
cognitivas de Jesus, eles dificilmente estarão prontos para uma discussão sobre
seu estado pré-incarnado.
O papel do professor, para Ausubel, é apresentar as informações de maneiras
lógicas, indo do conhecido para o desconhecido, ajudando os alunos a se desen
volverem e a processarem suas categorias. Isso é exatamente o que bons
palestrantes fazem. Ele fornecem ao aluno uma orientação sobre a informação
que eles receberão (nos termos de Ausubel um ^^organizadorprévio"), que vai
do familiar para as novas idéias, ajudando-os a organizar a informação de manei
ras significativas. Uma palestra eficaz é bem-organizada e apresentada de ma
neiras que são relevantes às experiências dos alunos e aos seus modos de pensar.
Há quatro fatores que são necessários para esse tipo de aprendizado. Pri
meiro, os alunos devem ser treinados a pensar em termos de relacionam entos
de idéias. Em vez de aprender conceitos isolados uns dos outros, os alunos
devem sempre ser incentivados a pensar de maneira integrada, relacionando
idéias com idéias.
Segundo, deve haver um a necessidade adequada por parte daquele que
aprende. Os alunos não quererão aprender a menos que haja um estímulo den
tro deles para aprender. Portanto, uma tarefa do professor é estim ular no estu
dante um interesse interior pelo material à mão.
Terceiro, o aprendizado por meio de descoberta requer algum grau de domí
nio da informação específica relativa ao que está sendo aprendido. Se, por exem
plo, nós pedirmos às pessoas para fazerem teologia sem que tenham qualquer
entendimento da informação bíblica, as descobertas que farão serão provavel
mente heréticas. Elas obterão somente uma gi'ande ignorância em vez de uma boa
teologia. M as se as pessoas têm conhecimento da informação bíblica, elas esta
rão prontas para chegar a conclusões teológicas bem fundamentadas.
Finabnente, a diversidade de ^ . . . . .
■ r ~ , O aprendizado pela descoberta im-
miormaçao pre-concebida per- .f , . .
^ ■ u plica métodos de ensino menos
mite um pensamento mais bem . . . _
. , ^ . , diretivos. Em vez de explicar, os
integrado. Quanto mais ampla- , . .
^ ^ , T professores perguntam. A motivaçao
mente definidas as categorias, , . , ...................................
^ ^ . r, sera intrínseca, vindo do desejo do
m ais eficaz a mtegraçao. Pes- . . „
, . , , aluno de encontrar uma resposta,
soas sem conhecim ento das ^
ciências políticas, por exemplo, dificilmente farão julgamentos sobre o proces
so político. Talvez o que é mais importante, pessoas sem categorias teológicas
não poderão fazer julgam entos teológicos sobre assuntos políticos.
A abordagem de Bruner funciona m elhor com alunos que estão predispos
tos a pensar sobre o relacionamento das idéias. O conhecimento sobre resolu
ção de problem as e habilidade para pensar por si mesm o perm ite aos alunos
atuarem bem num contexto de descoberta. M as alunos treinados para serem
receptores de informação do professor se vêem esperando pelo professor para
que lhes dê a “resposta certa” . Eles vêem os professores como gênios que
sabem tudo sobre o assunto e lhes explicarão tudo corretam ente. Para eles,
discussões de idéias são sem significados ou mesmo uma perda de tempo.
O trabalho na abordagem de B runer exige o que ele cham a de currículo
espiral, que repete idéias-chave em direção a níveis sucessivam ente m ais
altos. A repetição intencional das idéias perm ite que os alunos desenvolvam
códigos genéricos para a inform ação e para processá-la em níveis cada vez
A prendendo por M eio do D esenvolvimento L ógico 217
APRENDIZADO CENTRALIZADO NO
PROFESSOR E APRENDIZADO
CENTRALIZADO NO ALUNO
Tanto A usubel quanto B runer acreditam que alunos aprendem por
categorização. Am bos crêem que o papel do professor é ajudar os alunos a
desenvolverem e manterem eategorias para o pensamento e para a organização
da informação. O debate é sobre quem deve desenvolver as categorias. Ausubel
defende um a abordagem mais centralizada no professor, enquanto Bruner de
fende um a abordagem centralizada no estudante. Há pontos fortes e fracos em
ambas abordagens.
O ponto forte na posição de Ausubel é sua eficiência. Especialmente quanto
se ensina uma área abrangente e complicada como a Teologia, ajudar os alunos
com categorias parece apropriado. Em vez de ignorar dois mil anos de pensa
mento cristão, nós podemos conduzir os alunos através das doutrinas, ajudan
do-os a ver como as grandes mentes da igreja pensaram sobre os assuntos. Em
vez de fazê-los escolher as informações e idéias que podem levar anos para se
descobrir, nós podem os m ostrar-lhes a lógica e as conclusões, literalm ente
poupando-lhes muitos anos de trabalho.
Também, em quase todas as áreas de estudo há categorias já aceitas. E o
uso dessas categorias aceitas que faz a com unicação possível. Parte de qual
quer questão sistem ática está o uso da term inologia com um e das categorias
comuns. Se todas as pessoas desenvolvessem seus próprios termos e eategori
as, atrapalhariam grandemente a comunicação.
Eu uma vez tive um aluno que fez uma longa exposição sobre hermenêutica
e discutiu prolixamente como um sermão pode ser mais bem construído. Quan
do eu destaquei que ele estava discutindo homilética, sua réplica foi: “eu acho
que nós temos conceitos diferentes sobre a herm enêutica” . Até que pudésse
m os concordar sobre o que nossos term os significavam , nós não consegui
mos ter um diálogo significativo.
A fraqueza do ensino expositivo é que não ensina os alunos a pensar por
conta própria. O termo aprendizado receptivo im plica que o aluno é prim ari
am ente um receptor. A recepção não é um mau modo de começar. Reconhe-
218 E nsino e C rescimento
cer que outros sabem mais do que nós, e que nós precisam os ficar quietos e
ouvir pode ser o começo de um crescimento importante. Pode também poupar
muito tempo e esforço.
A medida que os alunos progridem, eles também devem se tornar pensado
res mais independentes, não mais necessitando de outros para terem inform a
ções. Eu uma vez observei um grupo de professores de faculdade, todos com
diplom a de doutorado, ligarem para um antigo professor para perguntar como
responder a uma questão básica. O que mais me assustou foi que a educação
que haviam recebido não os tinha conduzido a serem pensadores independen
tes. Eles ainda eram dependentes de seus professores!
N a Trinity eu leciono tanto para alunos de mestrado quando de doutorado.
Se o treinam ento que eu forneço para os alunos de doutorado fosse sim ples
m ente m ais palestras, eu estaria roubando deles o que m erecem por direito.
Eles não precisam que eu lhes dê m ais inform ação; eles precisam que eu os
ajude a pensar melhor. O pensam ento pode ser m odelado em um a palestra
bem preparada, mas os alunos devem tam bém ser capazes de praticarem o
processo por meio do diálogo e dos projetos em classe.
O ponto forte na abordagem de Bruner é que ela ensina os alunos a pensar.
Ao envolvê-los no processo de ensino e estimulá-los a estabelecer categorias e
trabalhar com elas, sua técnica serve para criar pensadores independentes. O
aprendizado pela descoberta ensina as pessoas a descobrirem idéias e o relaci
onam ento de um a com a outra. Ensina as pessoas a usar a m ente, para que
sejam mais do que arquivos de idéias de outros.
Um segundo ponto forte é que faz com que as pessoas fiquem mais respon
sáveis por sua própria educação. Em vez de simplesmente receber informação
de outros, os alunos devem pensar por si mesmos e tirar suas próprias conclu
sões. Os alunos devem assum ir a responsabilidade por suas posições nos as
suntos, porque eles tiveram de chegar às conclusões por conta própria.
A Trinity Divinity School é edificada parcialmente no entendimento de que
dentro do C ristianism o ortodoxo há um a variedade de crenças. O corpo do
cente é teologieamente diversificado, com uma variedade de posições ortodo
xas representadas. Como resultado, os alunos não são treinados som ente em
um a posição teológica. Antes, eles são expostos a várias opções, com a res
ponsabilidade pela posição que eles tom am como sendo a deles. Como resul
tado, nossos alunos se form am com um a variedade de posições teológicas,
mas eles se formam sabendo como pensar. Eu acho que esse é um dos pontos
fortes da educação que oferecemos.
M as a abordagem de Bruner tam bém tem várias fraquezas. A lguns alunos
A prendendo por M eio do D esenvolvimento L ógico 219
não chegam as conclusões claras até que se form am na Trinity. Para alguns
alunos leva mais tempo para descobrir as coisas por si mesmos e o aprendiza
do p ela descoberta é um processo lento. Especialm ente quando é usado na
igreja, nós devem os estar cientes de que as pessoas entram e saem de nossos
programas educacionais. Como resultado, elas podem não chegar a um a con
clusão firme, porque elas não ficam o tempo suficiente para chegar às conclu
sões. Elas podem apreciar o processo mas nunca encontrar o significado.
U m a segunda fraqueza é que o processo de descoberta é dependente de
um a busca constante. Não pode ser conseguida num curto espaço de tempo.
Se as pessoas entram e saem, elas podem nunca ver o quadro geral do que está
sendo estudado. Descobrir e organizar categorias requer experiências longas e
regulares de aprendizado para serem bem feitas.
Um fato a respeito das duas abordagens é que elas dependem de bons pro
fessores. N em todo professor é um exímio palestrante,’ e portanto nem todo
professor pode fazer um a boa exposição. E necessário certas habilidades e
certos traços da personalidade para dar uma boa palestra e nem todos os pro
fessores os p o ssu e m .
Por outro lado, nem todo professor é capaz de levar os alunos à descoberta.
Requer-se paciência, visão e m uita criatividade para obter meios eficazes para
estimular os alunos a descobrirem e encontrarem o significado. Alguns profes
sores não têm a habilidade nem a inclinação para ensinar assim.
Sem ser impertinente, eu sugeriría que o que os professores fazem é ensinar,
e o que os alunos fazem é aprender.^ O que eu quero dizer é que às vezes nós
como professores, estabelecemos as categorias para os estudantes, e às vezes
eles o fazem por si mesmos. Nós nem sempre sabemos exatamente o que está
acontecendo. Nós ensinamos e eles aprendem e o processo é muito complexo.
ram . Se as categorias de pensam ento usadas pelos estudantes não são dife
rentes das categorias do m undo ao redor eles, nós não estam os fazendo um
bom trabalho educacionalmente.
A solução de problemas é um meio eficaz de ouvir o que os alunos pensam.
Ao pedir que reflitam sobre um a situação ou um acontecim ento, o professor
pode perceber as categorias que eles usam, bem como os conceitos incluídos
nessas categorias. Se a Bíblia e a Teologia nunca aparecem em seu pensam en
to, nós não os estam os ajudando a usar estas categorias. Eles podem tê-las
somente memorizado, mas isto não é o mesmo que usá-las.
Atitudes para com outras etnias são geralmente moldadas primeiro pelos pa
drões do reforço na infância. Se nossos pais foram abertos e aceitaram as pesso
as de outras etnias, nós também faremos o mesmo. Mas se nossos pais criam que
as pessoas de diferentes etnias são inferiores, ou deve-se temê-las, nós teremos
essas perspectivas racistas inculcadas em nós, até que sejam contestadas.
Segundo, as crenças tendem a seguir nossos compromissos com as pesso
as. Quando nos comprometemos com um a pessoa, nós nos inclinamos a adotar
as crenças dessa pessoa. As crianças crêem do modo como seus pais crêem
porque as crianças estão comprometidas com seus pais. Uma criança pequena
perguntará, “M amãe, nós somos democratas ou republicanos?” De qualquer
form a que a mãe responder estará bem para a criança. “ O que quer que seja o
que mam ãe e papai crêem é o que eu creio tam bém ”, é o moto da criança.
N a adolescência os com prom issos tendem a m udar dos pais para os am i
gos. Como resultado, as crenças dos adolescentes tendem a mudar também.
Os adolescentes não crêem mais como seus pais. Eles agora começam a adotar
o sistem a de crenças de seus amigos.
O poder de um grupo jovem cristão está arraigado nessa verdade. Grupos
de jovens funcionam para fazer
Nós todos podemos olhar para
com que seus com ponentes se
trás e lembrar de certos professo
comprometam com o líder do gru
res que tiveram grande influência
po e uns com os outros. Se o gru
sobre nós e moldaram nossa
po tem crenças cristãs, os ado
crença. Para todos nós, nossas
lescentes que entram para o gru
crenças são um tanto quanto
po provavelmente adotarão cren
relacionadas com o relacionamen
ças cristãs também. Um m inisté
to que temos com as pessoas.
rio dejovens funciona mais efícaz-
mente por meio de relacionam entos porque é por meio dos relacionam entos
que a crença dos adolescentes será moldada.
Quando os alunos vão para a faculdade, não é estranho vê-los se tornarem
ligados a determinados professores. Quando eles agem assim, suas crenças se
inclinarão às crenças do professor favorito. N ós todos podem os olhar para
trás e lembrar de certos professores que tiveram grande influência sobre nós e
moldaram nossas crenças. Para todos nós, nossas crenças são um tanto quanto
relacionadas com o relacionamento que temos com as pessoas.
Os pais estão certos ao se preocuparem com quem seus filhos escolhem
como amigos. Os amigos influenciarão as crenças porque as crenças tendem a
seguir o relacionam ento com as pessoas. O apóstolo Paulo nos adverte dessa
verdade quando ele diz, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem
os bons costum es” (1 Co 15.33).
226 E nsino e C rescimento
Quando m inha esposa e eu nos casam os, m uitas das nossas crenças eram
completamente diversas. Sua formação era mais cristã e mais conservadora do
que a minha. Mas por causa de nosso relacionamento nossas crenças mudaram
e se assemelharam e agora na maioria das coisas elas são praticamente idênticas.
Terceiro, as crenças tendem a seguir as linhas do pensamento lógico, isto é,
nós acreditaremos somente no que faz sentido para nós. Se nossa crença parece
totalmente ilógica, nós geralmente as abandonaremos.
Para o cristão, por crerm os na existência de Deus, não é ilógico crer em
milagres. Um pensamento lógico não desacredita o que é miraculoso. Requer,
no entanto, que a crença nos milagres tenha um a base lógica.
Por essa razão, os adolescentes se preocupam com a form a apropriada de
crer em Deus. “Faz sentido crer em D eus?”, eles perguntam , porque querem
crer somente no que é lógico. A apologética é essencial para pessoas que estão
tentando decidir no que crer de acordo cora a lógica.
Especialmente para os adultos, as crenças devem fazer sentido lógico . Toma-
se impossível crer no que é absurdo e é fácil crer no que é razoável. As crenças
podem ser fortalecidas quando elas se mostram lógicas e consistentes.
Há um espaço para um discurso lógico e cuidadoso na Educação Cristã. A
racionalidade da fé pode ser um fator im portante ao m oldar a crença,
especialmente nos adultos. Nós não podemos convencer ninguém a fazer parte
do reino porque a fé é um dom de Deus. Mas Deus pode usar a força da lógica
para m oldar a crença de um a pessoa.
Finalmente, as crenças tendem a seguir comportamentos. Nós tem os uma
tendência m aior de crer no que nós fazem os do que fazer o que nós cremos,
Porque o poder das experiências m oldam a crença, nós organizaremos nossas
crenças de acordo com nosso comportamento. A maior parte do nosso sistemas
de crenças tende a ser um resultado de como nós temos vivido.
H á épocas que entendemos que nossas crenças e comportam entos não
combinam muito bem. Quando tal dissonância cognitiva acontece, nós geralmente
mudaremos nossa crença. “Eu não acredito mais nisso” será a nossa explicação
para o motivo pelo qual estamos agindo do modo como estamos agindo.
A razão pela qual nós nos inclinam os a um a m udança de crença mais
facilmente do que de comportamento é que o comportamento é público, mas a
crença é particular. E mais fácil dizer, “Eu não creio nisso” do que dizer, “Eu
estou sendo um hipócrita” . Portanto, nós mudam os nosso sistem a de crença
para combinar com nossos comportamentos.
A faculdade Harvard foi fundada sobre uma afirmação ortodoxa de crença.
Mas com o passar dos anos ela se desviou de suas afirmações iniciais. Em vez
A prendendo pela E xperiência 227
D. James Kennedy, Evangelism Explosion, 3“ed. (Wheaton, 111.; Tyndale House, 1983).
228 E nsino e C rescimento
eles dificilm ente podem usar as experiências deles para o aprendizado. O po
der da edueação não-form al é que ela perm ite um a liberdade m aior para usar
as vidas dos alunos para ensinar.
Há certas raras horas quando eu posso usar as experiências de vida em meu
ensino na Trinity. De vez em quando algo acontece na comunidade ou na nação
que fornece um a pequena contribuição para a lição. Nós podemos fazer teologia
considerando acontecimentos e usar isso para aprender a lição do dia. Mas essas
oportunidades são um tanto quanto raras, devida à natureza da educação formal.
M as no contexto da educação não-formal da escola dominical, dos estudos
bíblicos nos lares, dos grupos jovens, ou em meu grupo de conselheiros na
Trinity, eu sou livre para usar as experiências para ensinar. Eu posso perguntar
aos alunos o que está acontecendo em suas vidas e então pensar junto com eles
teologicam ente sobre suas experiências. O contexto perm ite esse tipo de
liberdade, uma liberdade raramente encontrada num contexto formal.
Thomas Groome é o principal proponente desse tipo de reflexão intencional
nas experiências da vida.^ Sua abordagem da “praxis compartilhada” para com
a educação religiosa conduz os alunos a um a reflexão intencional sobre suas
vidas no contexto de um grupo e à luz do Evangelho. Há muita força na aborda
gem que ele defende, mas há tamhém uma fraqueza crucial.
A força está no fato de que ele conduz as pessoas para um pensam ento
intencional sobre suas próprias vidas. Ele ajuda as pessoas a contarem sua
própria história e refletir sobre ela criticamente à luz da história cristã. Ele ajuda
as pessoas a fazerem teologia na própria vida, perguntando se o lugar onde elas
estão na vida tem ligação com o lugar onde o Evangelho as cham a para estar.
Esse é um ensino intencional poderoso.
A fraqueza dessa abordagem está no uso da hermenêutica dialética, que
coloca a Teologia e a experiência como tese e antítese num relacionam ento
dialético um a com a outra. Ele quer que a Teologia critique a experiência, mas
ele tam bém quer que a experiência critique a Teologia. A síntese é um novo
entendimento do Evangelho, mediado pela Teologia e pela experiência.
A hermenêutica dialética nega a verdade absoluta das Escrituras. Há somente
a tensão entre a experiência e a Teologia e uma reforma continua da “verdade”
baseada parcialmente na experiência. Eu creio que é importante tanto criticar a
experiência com base na Teologia quanto remodelar uma teologia que deixa de
refletir na experiência verdadeira, mas nós nunca devemos criticar a Bíblia com
base em nossas experiências. A sua verdade não está sujeita à reform a com
base na experiência. N ossa única opção é nos dobrarm os diante de sua v er
dade e aceitar sua autoridade sobre nós. Ela pode e deve nos criticar, mas
nós não a criticam os. Com o, então, podem os usar a força da educação
experim ental sem cair na arm adilha de ju lg a r a E scritura? As seguintes
orientações são úteis para obter as experiências dos alunos sem p erd er a
autoridade da Escritura sobre eles.
Se nós som ente tentam os questionar a vida, perguntando, “Por que isso
aconteceu?”, abrimos caminho para respostas bobas e que não ajudam muito.
Nós começamos a especular, tentando explicar as coisas que não entendemos.
Todos nós já ouvimos o tipo de explicação que tenta fazer o que é mal soar
como bom. “Talvez o Senhor tenha deixado o pneu do seu carro furar para
protegê-lo de um acidente” é o tipo de especulação infrutífera que deve ser
evitada. Nós devemos encarar o fato de que não podemos entender ou explicar
as obras de Deus.
U m a abordagem melhor é deixar a vida questionar você. Com isso eu quero
dizer que nós devemos explorar como as experiências da vida têm afetado a
nossa fé. “O que isso faz sobre As experiências da vida podem e
como você entende D eus?” é uma
devem nos forçar a examinar
pergunta digna de exploração e uma
nosso entendimento do caráter
pergunta que pode ser respondida.
de Deus e da obra de Deus e nos
As experiências da vida podem e
levar de volta à Bíblia à procura
devem nos forçar a examinai- nosso
de ajuda. Quando a vida nos
entendimento do caráter de Deus e
questiona, nos ajuda a ver onde
da obra de Deus e nos levar de vol-
e como nós precisamos crescer.
ta à Bíblia à procura de ajuda. Quan
do a vida nos questiona, nos ajuda a ver onde e como nós precisamos crescer.
No exemplo acima, se o professor tentar apresentar várias explicações so
bre “o que Deus está fazendo” quando não responde às orações, o potencial
para respostas erradas é profundo. M as o professor pode perguntar, “O que
esta experiência está fazendo com o seu entendim ento de D eus?” e abrir o
caminho para um aprendizado essencial. Para essa pergunta há respostas para
serem exploradas e avaliadas à luz do ensino da Escritura.
que quando eu não tinha a m ínim a idéia sobre o que estava acontecendo. Tal
postura é pecado e precisa ser confessada como tal.
M ais tarde, quando eu tive experiências que eu não podia entender, m inha
teologia ignorante e meu discermimento fingido fez muito pouco para me ajudar
a entender as minhas experiências de vida. Eu vi que eu podia examinar o meu
próprio coração e ver como estava a minha fé enquanto eu lutava com dificul
dade com as situações da vida. Quando eu cresci em meu entendimento teoló
gico, algumas de minhas perguntas foram respondidas, mas nem todas.
Os alunos não precisam que ofereçamos respostas que nós não temos. Eles
precisam, antes, que ouçamos com empatia e modelemos para eles a confiança
em Deus diante das questões não-respondidas. Eles precisam saber que nosso
Deus não pode ser reduzido a respostas im ediatas e que parte da cam inhada
com Deus é aceitar os mistérios.
Há momentos quando nós devemos estar abertos a dizer, “eu não sei” . Nós
não podem os explicar teologicam ente tudo o que acontece na vida, mas nós
podem os confrontar as experiências através dos olhos da fé, confiando em
Deus mesmo quando nós não entendemos. Assim como Jó,temos de estar aber
tos a dizer, “Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo, defenderei o
m eu procedim ento” (Jó 13.15).
nunca recebemos Jesus. Exceto por isso, nós estamos indo muito bem. E claro
que isso é um exagero, mas não é com pletam ente destituído de verdade. O
falso evangelho que proclam a que nós podemos ser cristãos sem obedecer ao
senhorio de Cristo indica tanto a falha em reconhecer a Bíblia quanto a recusa
de receber aquele que recebeu toda autoridade no céu e na terra. Tal p en sa
mento me assusta como uma forma de embriaguês com a qual Deus aflige seu
povo em julgam ento (Jr 13.12-27). De que outra maneira podemos explicar o
ensino que nega a autoridade que é direito do Senhor? A responsabilidade da
Educação Cristã é ensinar ao povo de Deus a verdade de Deus e ensiná-la em
relação com a vida. A verdade deve ser vivida, não simplesmente entendida.
A m ensagem do profeta Malaquias precisa ser ouvida pela igrej a nos Esta
dos Unidos no final do século 20. Deus declarou, “Tomara houvesse entre vós
quem feche as portas, para que não acendésseis, debalde, o fogo do m eu altar.
Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da
vossa mão a oferta” (Ml 1.10). A razão do seu desgosto é que Israel estava
mantendo práticas religiosas sem qualquer compromisso com Deus. Deus per
guntou, “O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está
a m inha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para com igo? diz o
SENHOR dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome.
Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nom e?” ( Ml 1.6).
Por intermédio do profeta Malaquias, Deus colocou a culpa sobre os líderes
religiosos da nação, porque ele conduziram o povo pelo cam inho errado.
Malaquias proclamou:
Nós devemos ter a certeza de que nosso ensino produz crescim ento e não
escândalo. O professor carrega uma séria responsabilidade (Tg 3.1). Porque
Deus nos responsabiliza por nosso ministério educacional, nós devemos encará-
lo seriamente. As seguintes prioridades são questões que eu tentei enfatizar por
todo o livro— que pela graça divina podem nos ajudar a ensinar para o cresci
mento espiritual.
Primeiro, a centralidade da Bíblia deve ser mantida. Moisés ensinou que “Ele
E nsino e C rescimento E spiritual 241
te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhe-
cias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá
o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o hom em ”
(Dt 8.3). É possível conhecer a Bíblia e não ser espiritualmente maduro, mas é
im possível ser ignorante a respeito da Palavra de Deus e ser espiritualm ente
maduro. A maturidade espiritual começa com o conhecimento da Bíblia.
Em um a era de crescimento da desconfiança a respeito da Escritura— ^mes
mo entre aqueles que chamam-se a si mesmos “evangélicos”— nós devemos
ensinar a B íblia como a única regra de fé e vida. Enfocando as “necessidades
pessoais” como opostas à real necessidade pela Bíblia faz com que as pessoas
tropecem no final de tudo. Uma educação que leva ao crescim ento espiritual
deve ser profundam ente bíblica, porque é a Palavra de Deus que dá vida.
A Bíblia deve ser ensinada como verdade pai'a ser vivida, não simplesmente
como conhecimento para ser entendido. Ela deve ser ensinada em relação à vida
real, não como um informação acadêmica separada das experiências do povo.
M as a B íblia deve ser ensinada, ou o povo tropeçará como bêbados, não sa
bendo por onde ir ou qual o significado da vida de uma perspectiva bíblica.
Segundo, o contexto educacional deve ser a comunidade. A marca do cris
tão é o am or de uns pelos outros (Jo 13.35). U m a educação feita de form a
isolada é um a anomalia se afirma ser cristã. O crescimento espiritual acontece
na com unidade quando o corpo de Cristo m inistra para si mesmo e se edifica
por meio dos dons do Espírito.
Não somos o povo de Deus sozinhos. Somos chamados do mundo para um
relacionam ento uns com os outros. Somos novas criaturas, sendo ajustados
uns aos outros por Deus e equipados para o m inistério de uns para com os
outros. Nosso Senhor distribuiu graça para cada um de nós. Paulo nos ensina,
“ E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, ou
tros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoam ento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de C risto, até que todos cheguemos à unidade da fé
e do pleno conhecim ento do F ilh o de D eus, à p erfeita v aro n ilid a d e, à m e
d id a da estatura da p lenitude de C ris to ” ( E f 4. 11-13).
A NATUREZA DA FE SALVADORA
A raiz de m uitos dos atalhos das abordagens atuais sobre a salvação das
crianças (e isso m ostra um fraqueza geral nas igrejas evangélicas) é uma má
representação fundacional ou um mal entendido sobre a verdadeira natureza da
fé salvadora. E muito claro nas Escrituras que as pessoas são salvas pela fé. A
m ensagem é, “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). O
problem a é que a mensagem tem sido m udada para “Receba Jesus como seu
salvador pessoal e você será salvo” , ou “Convide Jesus para entrar em seu
coração e serás salvo”. Conquanto ambas as mensagens contenham elementos
da verdade, ambas falham diante da mensagem bíblica.
A questão é a natureza da fé salvadora. O que significa “receber” a Jesus no
sentido de João 1.21? Não significa sim plesm ente a recepção dos benefícios
de sua m orte vicária em nosso favor, mas antes a recepção dele, o Senhor
ressurreto e cabeça da igreja. A fé no sentido bíblico não pode ser separada da
obediência. Como o apóstolo João escreveu, um a vida não caracterizada pela
246 E nsino e C rescimento E spiritual
obediência nunca pode ser considerada uma vida redimida: “Ora, sabemos que
o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que
diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandam entos é m entiroso, e nele não
está a verdade” (1 Jo 2. 3-4). Se queremos levar João a sério, devemos entender
que não podem os dizer que recebem os Jesus se nossa vida é caracterizada
pela desobediência.
As im plicações para a apresentação do Evangelho são óbvias. Ao mesmo
tempo que proclamamos as boas-novas de que Jesus morreu por nossos pecados
de acordo com a Escritura, e que ele comprou nossa redenção com seu sangue,
nós devemos também proclamar que ele é Senhor. D evemos deixar claro que
recebê-lo implica que devemos aceitar não somente seu dom da redenção, mas
também sua autoridade de direito sobre nossa vida. Um aspecto importante da
Grande Comissão é que nós devemos ensinar os novos discípulos a obedecerem
a tudo o que Jesus ordenou (Mt 28.20). Nossa fé deve influenciar nossa atitude,
nosso com portam ento e nossos valores. Se todas essas áreas da vida não
estiverem sendo conduzidas sob o senhorio de Cristo, então nós não o “rece
bem os” . Em vez de o recebermos como salvador pessoal (que não é um a ter
m inologia bíblica), nós devemos recebê-lo como senhor, e ele então se tornará
nosso Salvador pessoal.
A questão em jogo é muito mais do que uma terminologia. Não há palavras
m ágicas que autom aticam ente resultem em salvação. Antes, há um a atitude,
que pode ser expressada em um a variedade de frases, que o Pai considera
como apropriada para a salvação. Porque as atitudes são difíceis de estudar,
ou até im possíveis de estudar, a Escritura descreve para nós o fruto da fé que
resulta em salvação. Tiago nos diz simplesmente que “assim tam bém a fé, se
não tiver obras por si só esta m orta” (Tg 2.17). Nosso Senhor coloca isso em
termos ainda mais fortes, quando ele ensinou, “Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de m eu Pai,
que está nos céus” (M t7.21).
A E sc ritu ra ap re se n ta a fé com o algo m uito sério. N ão h á m an eiras
suaves e fáceis dentro do reino. É verdade que as pessoas são salvas pela
fé, m as se essa fé não é e x p ressad a na v id a do crente p elas açõ es, não é
um a fé salvadora verdadeira.'
‘ Para um estudo mais completo sobre este assunto, ver Dietrich Bonhoeffer, The Cost of
Discipleship (Nova York; Macmillan, 1949); Juan Carlos Ortiz, The Disciple (Carol Stream, 111.:
Creation House, 1975); Walter Chantry, Today’s Gospel, Aiithenticvs. Synthetic (Carlisle, Pa.;
Banner of Truth Trust, 1970); John F. MacArthur, Jr., The Gospel According to Jesus, ed. rev.
(Grand Rapids; Zondervan, 1994).
A pêndice 247
O PECADO ORIGINAL
ABORDAGENS À EVANGELIZAÇAO DE
CRIANÇAS
Nos dois últim os séculos, nos Estados U nidos a questão de como uma
criancinha deveria ser conduzida a Cristo tem sido respondida de várias formas.
Cada abordagem tem em si forças e fraquezas específicas.
Avivalístas
Uma das posições mais extremadas foi defendida pelos dissidentes do sécu
lo 18 na Inglaterra e por alguns dos últimos avivalistas que seguiram suas tradi
ções. Vindo de um calvinismo extremado com uma forte ênfase na depravação
total, o avivalismo entendia que uma criança não era capaz de ter fé salvadora.
Com binada com uma ênfase na pecam inosidade das crianças era um aspecto
sério para as necessidades da fé na vida do indivíduo. Como resultado desta
perspectiva, os avivalistas criam que a responsabilidade da igreja para com as
crianças era convencê-las de que eram terríveis pecadoras e quando elas fos
sem mais velhas para se arrependerem apropriadamente, deveríam entregar a
vida para Cristo.
Talvez esta perspectiva seja melhor representada por um poema de Isaac
Watts, escrito quando criança:
A pêndice 249
O tipo de ensino que resultou nessa perspectiva era m uito extrem ado. Os
pais cristãos criam que era tarefa deles m ostrar a seus filhos seus pecados
sem pre que pudessem , assim inculcando neles um a consciência da terrível
condição em que se encontravam diante de um Deus santo. O pai seria cuidadoso
em mostrar que um desejo natural infantil de brincar em lugar de estudar era um
exemplo da natureza pecaminosa da criança. Além do mais, os pais ensinariam
seus filhos que eles não eram capazes de orar ou de qualquer outra prática
religiosa que agradasse a Deus.
A mensagem era simplesmente que as crianças são pecadoras condenadas
diante de Deus e não são capazes de ter um a fé salvadora. Os pais oravam
fervorosamente para que quando seus filhos alcançassem “a idade da sabedoria”
(a idade em que as crianças seriam capazes de exercitar um a fé verdadeira)
elas responderíam a Cristo.
E ntendia-se que a salvação era sem pre o resultado da eleição divina, e
portanto seria presunção para os pais cristãos supor que seus filhos seriam
salvos. A salvação era sempre um resultado da vontade de Deus, e não vontade
dos seres hum anos. N ovam ente, um a anotação do diário de Isaac Watts em
1688, quando ele tinha 14 anos, indica o resultado dessa perspectiva na mente
de um a criança; ele escreveu, “caí sob considerável convicção dos pecados e
fui ensinado a confiar em Cristo, eu espero?” .-’
O aspecto positivo dessa abordagem sobre a salvação das crianças era que
levava a sério a natureza pecaminosa da humanidade e a natureza radical da fé
salvadora. Porque a fé bíblica era entendida como exigência sérias sobre a vida
do crente, não era para se entrar nela de modo leviano. Os pais criam que a
responsabilidades deles era preparar seus filhos para a salvação, mas que estava
além do entendimento que eles tinham natureza da fé cristã ver a fé no coração
da criança. A fé cristã poderia vir somente após a “idade da razão” quando a
criança poderia entender corretamente a verdadeira natureza da fé bíblica.
- E. Paxton Hood, Isaac Watts: His Life and Writings, His Home and Friends (Londres;
Religious Tract Society, 1875), 7.
’ Idem, 342.
250 E nsino e C rescimento E spiritual
Horace Bushnell
'' Horace Bushnell, Christian Nurture (Grand Rapids: Baker, 1979), 10.
A pêndice 251
Idem, 342.
Idem, 22.
252 E nsino e C rescimento E spiritual
As fraquezas dessa abordagem são talvez um pouco mais sutis, mas elas preci
sam ser consideradas. Esse modelo é construído com base no conceito de que
todas as crianças devem se converter da mesma maneira que adultos pagãos. Não
considera a possibilidade de que as conversões registradas no livro dos Atos po
dem não ser normativas para as crianças. A Escritura não fornece nenhum exem
plo de crianças que se converteram separadas de suas famílias. É claro que na
igreja primitiva houve situações quando famílias inteiras se converteram (tal como
a família de Comélio em Atos 10), mas não há registro de crianças indo a Cristo
espontaneamente. Argumentar pelo silêncio não prova que isso não aconteceu.
Somente significa que não há exemplos claros para seguir na Escritura.
Um a segunda fraqueza muito mais importante da abordagem da conversão
da criança é que não leva em conta a singular situação dos filhos de pais crentes
que de alguma forma devem ser vistos como diferentes dos filhos daqueles que
não têm fé. Não é possível provar, de m aneira rápida e eficiente, o relaciona
mento entre a fé dos pais em relação aos filhos, mas a Bíblia fornece alguma
inform ação sobre isso. Ern 1 Coríntios 7 Paulo indica que as crianças são de
algum a form a afetadas pela fé de seus pais crentes. Também, a diferença de
ambiente deve ser considerada. Se as crianças vivem num lar em que oraram
por elas desde talvez antes que nascessem, e se desde cedo foram ensinadas a
honrar a Deus e a responder a ele com fé, parece que essas crianças não teriam
de ser evangelizadas da mesma forma que as crianças de histórico pagão. Se os
pais estão de fato criando seus filhos no tem or e no ensino do Senhor, parece
estranho e desnecessário convidá-los a um a resposta de fé a Cristo quando
esse foi 0 enfoque de seu ensinamento.
A natureza da conversão da criança que foi criada num lar cristão pode ser
significativamente diferente da natureza da experiência de conversão de um pagão
adulto. Em lugar de esperar o tipo de experiência de salvação que foi evidente na
vida do apóstolo Paulo, talvez os filhos dos crentes devessem ser considerados
mais como Timóteo, a quem Paulo escreveu, “e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus” (2 Tm 3.15). A salvação para tais crianças pode não ser uma crise na qual
um a decisão específica é feita, mas antes pode ser um processo de treinamento
pelo qual a fé em Cristo (no nível humano) é o resultado natural do ensino. Para
as crianças criadas nUm lar cristão, a fé pode sempre ter sido algo normal em sua
experiência e não o resultado de um a decisão específica. A conversão delas é a
experiência de um processo e não a experiência de uma crise.
254 E nsino e C rescimento E spiritual
]ohn Inchley
Um a quarta abordagem foi proposta por John Inchley em seu livro Kids and
the Kingdom, Inchley afirma;
‘ John Inchley, Kids and the Kingdom (Wheaton, 111.; Tyndale House, 1976), 33.
A pêndice 255
Deus para si. N o entanto, esse conceito não é especificam ente ensinado nas
Escrituras. Há uma narrativa sobre crianças menores de 20 anos que não foram
responsabilizadas por Deus quando a rebelião de Israel após a saída do Egito
(Nm 14.29). M as também há o caso das crianças do povo de Jericó que foram
mortas junto com seus pais por causa dos pecados do povo (Js 6.21). Portanto,
poderia ser argum entado que a idade da razão é aplicável som ente para os
filhos do povo de Deus, e não a todas as crianças. A idade da razão é um
conceito secundário que deriva de considerações teológicas. N ão é sempre
errado se apoiar numa doutrina derivada ou implícita; a doutrina da Trindade é
tam bém é um a doutrina derivada. M as em bora que a idéia da idade da razão
alivie o estresse emocional a respeito do destino das crianças, ela não é clara
mente baseada no ensino bíblico.
Um segundo problema com a visão de Inchley está intimamente ligado com
o prim eiro. A base bíblica prim ária para sua posição é o ensino de Jesus em
M ateus 18-19. Está claro que nos versículos do capítulo 18, Jesus está falando
em referência às crianças como um exemplo de hum ildade no reino. M as do
verso 6 em diante, pode-se demonstrar que a expressão “pequeninos que crêem
em m im” não se refere às crianças, mas aos discípulos de Jesus. A preocupação
de nosso Senhor era que seus seguidores não fossem desviados pelos falsos
mestres de Israel. Também, no capítulo 19 Jesus afirma que “dos tais é o reino
dos céus” (v. 14). E dem ais dizer, com base nesses versículos, que todas as
crianças, portanto, são membros do reino até que escolham rejeitar a Cristo. O
máximo que podemos concluir é que o reino pertence à pessoas que são humildes
e confiantes como aquelas crianças. Portanto, ainda que essa visão faça sentido
numa perspectiva puramente teológica, é difícil substanciá-la numa base bíblica.
Jesus certamente era muito aberto às crianças. Ele as valorizava e as usava
como m odelos para como um a pessoa do reino deveria ser. M as parece não
haver garantia para se dizer que todas as crianças pertencem a Cristo.
Ronald Goldman
U m a última abordagem ao problema da evangelização de crianças é basea
da n u m a p e rs p e c tiv a do d e se n v o lv im e n to . B asead a no tra b a lh o do
epistemologista genético Jean Piaget, refinado por Goldman,^ esta visão enfoca
Ambas as práticas são baseadas no conceito de que pelo fato de essas crianças
terem nascido num lar cristão, elas irão desde cedo, pela misericórdia de Deus,
ser de forma singular separadas como crianças que pertencem ao Senhor.
Essa linha de pensam ento deve afetar aquelas pessoas que trabalham com
crianças. E mais apropriado tratá-las como filhos de crentes e complementar o
ensino que acontece na casa deles. A judá-las a explorar a fé cristã será mais
importante do que tentar conduzi-las a uma outra decisão. Ensino mais do que
evangelismo deve ser o enfoque do ministério para as crianças de pais crentes.
D esde os prim órdios da igreja, o m inistério com as crianças tem sido um
assunto vital. Este interesse chegou até o nosso século, e positivam ente. Mas
infelizmente, às vezes a prática dos educadores cristãos de hoje, especialmente
em relação às crianças, não tem sido tão cuidadosa como poderiam ser. A
medida que a Educação Cristã continua a amadurecer dentro do evangelicalismo,
é im perativo que os envolvidos na área sejam guiados pelos princípios da
Escritura e da boa teologia.
índice de Nomes
A usubel, D avid, 213, 214, 215, Cosgrove, M ark R , 84, 172
217 Devaux, Roland, 28
Bakker, Jim e Tammy Faye , 235 Dewey, John, 120, 133
Bandura, A lbert, 190,192 Durkheim, Emil, 98
Barclay, William, 73,78 Dykstra, Craig, 121, 122,135
Barth, Karl, 165 Edwards, Jonathan, 222
Baxter, Richard, 160, 161, 162, Erikson, Erik, 82, 83 ,1 4 0
167, 168, 209 Fields, Bruce, 237
Bell, M. Robert, 44 Fowler, James, 85, 135, 137,138,
Benson, Warren, 8 139, 141, 144, 145, 146, 147,
Bergman, 176 149, 150
Bergson, Henri, 98 Francke, A ugust Herrmann, 136
Berkhof, Louis, 60, 61 Freud, Anna, 82
Bernard o f Clairvaux, 136 Freud, Sigmund, 82
Binet, Alfred, 99 Fromm, Erich, 85
Bloom, Allan, 159,160 Gerstner, John, 222
Bonhoeffer, Dietrich, 245 Getz, Gene, 51
Briscoe, D. Stuart, 72 Gilligan, Carol, 122
Bruner, Jerome S., 207, 209, 210, Goldman, Ronald, 97, 98, 109,
215 112,255, 256
Busch, Eberhar, 165 Groome, Thomas, 233
Bushnell, Horace, 78, 137, 195, Guyer, Jim, 72
250, 2 5 1 ,2 5 2 H art,D , G., 161
Calvino, João, 70, 73, 212 Elitler, Adolf, 165
Cannell, Linda, 8 Elodge, Charles, 62, 63
Cante, 98, 99 H ood, E. Paxton, 249
Carson, D. A., 30, 40, 158, 159, Inchley, John, 254,255
160 Inhelder, Barbei, 104, 107, 108
Chantry, Walter, 246 James, William, 139
Clark, R obert E., 89 Janet, Pierre, 98, 99
Clouse, Bonnidell, 117 Johnson, Lin, 89
Coe, George A lbert, 198, 199 Jones, Rufus, 40
Coles, Robert, 79 Jung, Carl, 82
Colson, Charles, 77,238 Kant, Immanuel, 8 4 ,1 2 1 ,1 3 9
Comenius, 137 Kennedy, D. Jam es, 227
Cornut, Samuel, 98 King, Rodney, 220
262 E nsino e C rescimento
Assuntos
Aprendizado
a ser cristão, 178-185
definição, 159
evidência do, 27
formal, 228
informal, 229
níveis de, 45
não formal, 229
pelo desenvolvimento lógico, 205-222
processo de, 27, 81, 111-114
teoria de aprendizado social, 189-204
C o ra çã o , 17, 20, 21, 22, 39, 49, 57, 60, 61, 69, 72, 111, 119, 126, 127,
137, 162, 174, 180, 181, 183, 184, 202, 205-207, 222, 237, 247, 249
C u rríc u lo , 13, 23
D eus
aprendendo sobre, 178-185
caráter de, 5 1 ,6 2 , 112, 143-145
graça, 56, 63, 72
justiça, 54, 57, 61, 110
m isericórdia, 56, 63, 71, 72
264 E nsino e C rescimento
Ensino
central, 30, 32, 33, 164
crianças, 108-114
conteúdo do, 32, 33, 47, 113, 114
e pregação, 162, 163, 168
propósito do, 49
E scola d om inical, 13, 33, 105, 183, 187, 189, 231, 233, 245
Escritura
autoridade da, 48, 163, 164
como verdade, 16, 163, 164, 169
conteúdo versus significado, 79
Índice 265
E s p írito S an to , 18, 23, 30, 31, 75, 84, 92, 111, 135, 200
como agente de m udança, 3 9 ,6 3 ,2 5 1 ,2 5 4
como Espírito da Verdade, 158,159
E v an g elh o , 18, 19, 30, 31, 32, 46, 64, 77, 110, 140, 144, 147, 148, 157,
183, 196, 202, 224, 233, 246, 250, 252, 258
requerimentos do, 256
F é/ C re n ça
características dos professores, 29
como um dom, 23
conteúdo da, 19, 69, 138, 148, 155
crianças capazes de ter, 111,247-260
e obras, 21, 25, 70, 197
estágios do desenvolvimento, 141-145
individual/reflexivo, 143
intuitivo/ projetivo, 141
mítico/literal, 141
primário, 140
sintético/convencional, 142
universalização, 145
essencial para crescer, 56,181
fatores que influenciam, 224-228
maturidade da, 151
natureza da, 19-22, 69, 139, 146, 148, 149
objetivo do ensinamento da, 27
salvação pela, 243, 256
versus credo, 149
versus religião, 198
Imagem de Deus
como base para o valor, 57
seres humanos criados à, 57
Maturidade Espiritual
como objetivo da educação cristã, 18, 57 ,1 6 2
definida, 18, 19, 39, 51, 69, 70, 79, 80, 136, 174
ensinamento central da, 164
falso entendimento da, 18
Moralidade, 174
definição, 115
desenvolvimento da, 117-126
educação do caráter, 117
abordagem cognitiva-desenvolvimentista, 120
comportamento moral, 119
conflito moral, 119
esclarecimento dos valores, 118
e Escritura, 126
e raciocínio, 129
e Teologia, 126-128
em educação, 115
estágios da, 122-126
relatividade da, 155
saber versus fazer, 116
Mudança de vida
arrependimento, 39
envolvida a da renovação da mente, 69
como evidência de aprendizagem, 27
Índice 267
Pecado
definido, 58-63
extensão do, 60
origem, 58
original, 247
Professor/educador
característica do, 29, 49,114
como exemplo ou modelo, 190-193, 201-204
função do, 25
Jesus como, 29-31,231-234
Paulo como, 31-33
responsabilidade, 29, 64, 9 1 ,9 3 , 224, 230, 258-260
Psicologia
behaviorismo, 83,172
do desenvolvimento, 86
humanista, 85
psicanálise, 82
S alv ação, 77, 78, 108, 111, 159, 171, 175, 178, 184, 193, 199, 212
268 E nsino e C rescimento
Temor do Senhor, 54
características dos professores, 28, 29
essencial para crescimento, 56, 179, 180
objetivo do ensinamento, 27
Teologia
da Educação Cristã, 51,63
definida, 15,210
e moralidade, 130
im portância da, 69, 76, 81, 111,256
influenciando a vida, 71,234, 235
popular, 22, 72
Verdade
conhecer a, 15, 110
do am or de Deus, 183-185
experiência como, 223,224
libertando as pessoas, 158,164
necessidade do ensino da, 110, 159
relatividade, 155-158
unidade da verdade, 1 4 ,8 1 ,2 2 3 , 224
viver a, 197