Você está na página 1de 2

Estudo de caso

Conforme estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil tem quase 63 milhões de
pessoas vivendo em situação de pobreza e 33 milhões de brasileiros em condição de extrema
pobreza, tendo que sobreviver com apenas R$ 289 mensais. Quase todos os estados brasileiros
têm mais da metade da população vivendo em condições de privação de direitos. Esse é o pior
retrato do país desde 2012 e é esse cenário que terá de ser administrado pelo recém-eleito
presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Embora as medidas já anunciadas pelo
próximo governo, como recomposição do programa Bolsa Família e reajuste do salário mínimo
acima da inflação, sejam importantes para o combate à extrema pobreza, medidas a longo
prazo precisam ser adotadas e colocadas como políticas de Estado, devendo, cada novo
governo, dar continuidade a elas. O governo Lula acabará em quatro anos, porém a meta 10.1
da ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU se estende até 2030.
Em todos os estudos recentes sobre pobreza e desigualdade social, é unânime a conclusão de
que a pandemia de Coronavírus aumentou o abismo que separa ricos e pobres. Segundo a
ONG Oxfam, em artigo publicado pelo Observatório do Terceiro Setor, 263 milhões de pessoas
correm o risco de atingir a pobreza extrema neste ano, ao mesmo tempo que o número de
ultrarricos subiu. Neste contexto é que o discurso sobre o combate urgente à fome e às
desigualdades se torna tão relevante.
Uma pesquisa do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD) indica que
90% dos países recuou no Índice de Desenvolvimento Humano. De acordo com o artigo, é a
primeira vez em 32 anos que um declínio como esse é visto. “Durante a pandemia, a fortuna
dos bilionários aumentou, em 24 meses, o equivalente a 23 anos. O preço de bens essenciais,
como alimentos e energia, atingiu o nível mais alto em décadas, fazendo com que bilionários
desses setores vissem suas fortunas aumentarem um bilhão de dólares a cada dois dias.
Enquanto surgiram mais 573 bilionários no mundo, sendo 62 deles no ramo de alimentos, 263
milhões de pessoas entraram na extrema pobreza em 2022”, diz o artigo.
Um relatório sobre a riqueza global em 2021, realizado pelo banco Credit Suisse, aponta que o
Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Em 2019, por exemplo, o 1%
mais rico detinha 46,9% da renda total do país, já em 2020 esse número foi para 49,6%. Outro
documento, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) elaborado pela Organização das
Nações Unidas (ONU), que analisa essa concentração de riquezas, coloca o Brasil em segundo
lugar no ranking de má distribuição de renda, perdendo apenas para o Catar. Mas há países
em situação ainda pior. Conforme matéria da Agência France Press, de 9 de março de 22,
África do Sul é o país mais desigual do mundo e o aspecto racial é um dos fatores
determinantes, em uma sociedade onde 10% da população detém mais de 80% da riqueza,
segundo um relatório do Banco Mundial. Trinta anos após o fim do apartheid, "a raça continua
a ser um fator chave na elevada desigualdade na África do Sul devido ao seu impacto na
educação e no mercado de trabalho", explicou o relatório.
Na região onde moro, o contexto da desigualdade e da pobreza não é tão severo quanto os
exemplos trazidos acima. A desigualdade em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e na
Região Metropolitana, diminuiu no último trimestre de 2021 e retornou a níveis iguais aos do
período pré-pandemia, nos primeiros meses de 2020, mostra estudo realizado pela PUCRS.
Porém, há uma redução de rendimentos para todos as classes sociais. As cidades estão menos
desiguais porque todos estão mais pobres. Segundo André Salata, pesquisador da PUCRS e um
dos coordenadores do estudo, "o morador médio da grande Porto Alegre hoje tem uma renda
14% menor do que no período anterior à pandemia, sem que haja sinais claros de
recuperação". Na avaliação dele, a inflação é a principal responsável pela queda de renda.
Diante do quadro exposto, como podemos contribuir? Grandes filósofos discutiram alguns
destes temas. A proposta é nos debruçarmos sobre estes textos para nos ajudar na reflexão e
elaboração de soluções. Segundo Karl Marx, por exemplo, a origem da desigualdade estava na
relação desigual de forças em que a burguesia, mais forte e dona dos meios de produção,
explorava o trabalho do proletariado, classe social mais fraca e dona apenas de sua força de
trabalho, expropriada pela burguesia. Ele acreditava que a miséria é utilizada como um
instrumento pelas classes dominantes. Já o filósofo John Rawls, dedicou sua produção a
responder à pergunta central: como tornar as sociedades mais justas? E assim retornamos a
proposta do primeiro parágrafo deste texto, através das palavras de Rawls. “O político visa à
próxima eleição, o estadista, à próxima geração. É papel do estudante de filosofia visar às
condições permanentes e aos reais interesses de uma sociedade democrática justa e boa”.

Você também pode gostar