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FACULDADE DE DIREITO

UNIDADE DE INHUMAS
PROCESSO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Docente: Leandro Campelo de Moraes


Discente: Alex Cruz Santos Filho
Erik David Rosa Oliveira
Eduwesley Pereira da Silva
Igor Rodrigues dos Santos Freitas
Matheus Filipy Rezende de Oliveira
Públio Clemente Siqueira

“O PROCESSO” - Franz Kafka

1. Josef K. é um funcionário de banco e vive num quarto alugado por Frau Grubach.
Uma certa manhã, ele é preso ao despertar por dois policiais, Franz e Willem. É uma estranha
forma de detenção. Ele recebe ordens de se vestir de forma discreta e aguardar. Seu desjejum
é servido não pela empregada, mas por Franz. K. se encontra com o inspetor e questiona suas
maneiras. Mesmo assim, ele permite que K de telefonemas. K. constantemente indaga a razão
da sua prisão, mas ninguém sabe explicá-la. Ele é autorizado a entrar em contato com seu
advogado, Hasterer. Um casal idoso e um jovem com barba ruiva estão observando toda a
cena de uma janela do outro lado da rua. Ele também é autorizado a ir trabalhar no banco.
Três funcionários do Banco, subordinados a K, já estão lá para acompanha-lo. Eles são o
severo Rabensteiner, o gentil Kullich e Kaminer, cujo sorriso parece ser falso. K. não tinha
notado a presença deles todo esse tempo. K. se encontra com Frau Grubach, a senhoria,
quando ele retorna do Banco. Ela está envergonhada por não tê-lo encontrado pela manhã. Ela
lamenta por ele mas K. é arrogante demais para aceitar suas desculpas. A seguir, K. deseja
encontrar Fraulein Bürstner. Frau Grubach não aprova o horário tardio de chegada de Fraulein
Bürstner. K. defende Bürstner. Fräulein Bürstner chega tarde, as onze e mela. Bürstner não
está interessada na sua prisão. Mas K. insiste em contar a ela a sua versão da história. Ele
também presume que Fräulein Bürstner não tem conhecimento sobre assuntos legais, Bürstner
diz que ela está indo trabalhar como funcionária num escritório de advocacia, Chega um
oficial, que bate na porta. Ele é o Capitão Lanz, sobrinho de Frau Grubach. K. conta a ele que
Frau Grubach tinha pegado algum dinheiro emprestado dele, e ele a respeita. Ele conversa
com ela por uma hora e mela. Ao deixar o seu quarto, ele a agarra e a beija do lado de fora do
quarto do Capitão. K. visita os tribunais no domingo. Ele abre seu caminho através de um
labirinto de ruas nas áreas mals pobres da cidade. Ele está procurando por um oficial chamado
Lanz, relembrando o nome do Capitão. Uma jovem mulher que estava lavando roupas lhe dá
indicações. Finalmente, ele chega até o tribunal de inquérito conduzido por um Juiz
examinador. O tribunal está repleto de homens idosos e barbados. K. é impaciente, arrogante
e insultuoso com esses homens idosos e se afasta aborrecido. Um incidente incomum
acontece no tribunal. Um homem arrasta uma lavadeira para dentro e começa a atacá-la. K.
corre para protege-la e descobre que o tribunal está cheio de oficials disfarçados com
insignias. Os oficiais da corte tinham organizado todo o procedimento. K. não é chamado
nunca aos tribunais nas semanas seguintes. Num domingo, ele vai até o tribunal e encontra
livros Jurídicos sem uso e empoeirados. A lavadeira é a única pessoa presente. Ela é a esposa
do porteiro e vive em um dos aposentos. O juiz examinador usa o quarto dela para completar
o seu trabalho. Pretendendo expressar sua gratidão para ela, o juiz presenteia a lavadeira com
um par de melas de seda. Subitamente, o estudante que a tinha atacado na corte irrompe no
quarto, K. sente um impulso repentino de arrastar a mulher e mantê-la como sua amante.
Mesmo embora ele acerte um soco no estudante, K. não consegue impedir os seus atos. Tinha
sido o Juiz examinador que tinha enviado o estudante para a mulher. Ela polidamente rejeita a
ajuda de K. Ele novamente soca o estudante. Ele praticamente a carrega até o Juiz. K. explora
os escritórios do tribunal e ele descobre que eles são muito pouco mobiliados. Ele encontra o
porteiro cuja esposa tinha sido levada. O porteiro concorda com K. que ela também tinha
responsabilidade no que tinha acontecido. Ele pede a K para dar uma boa surra no estudante.
K. se apressa com o porteiro, mantendo o passo com ele, subindo as escadas enquanto espla
dentro dos escritórios. Ele cal. Ele encontra oficials usando o mesmo tipo de barba daqueles
que ele tinha visto nos tribunais e possivelmente pertencendo à classe superior. K. também os
encontra. O escrivão de inquérito está se inclinando com seu cabelo em desordem. Neste
ponto K. se serite doente e se lança para fora na luz do dia. Ocorrem modificações na pensão
onde vive K. Fraulein Bürstner se muda, e Fräulein Montage vem morar lá. K. não gosta dela.
Fraulein Bürstner recusa-se a encontrá-lo. Ela se afasta enquanto Fräulein Montage mantém
K. ocupado. K. percebe que o Capitão e Fräulein Montage o estão observando.
Uma noite, quando K. deixa o escritório tarde, ele para no depósito do escritório. Os
guardas, Franz e Willem, estão sendo castigados porque K. queixou- se do seu
comportamento ao Juiz examinador. Franz, o mais jovem, diz a K. que a sua amada está
esperando do lado de fora do Banco. K. rejeita o pensamento de subornar os oficiais. Os
homens gemem com as chibatadas. K. fecha a porta. Os funcionários no escritório não têm
consciência dos acontecimentos. A situação é a mesma no dia seguinte. K. ordena aos
funcionários que esvaziem o depósito e vai para casa. O tio de K. subitamente descobre a sua
situação através da prima de K., Erna. K vem de uma boa familla. O tio o leva até um bom
amigo dele, um advogado muito idoso, o Dr. Huld. Ele se encontra com o advogado para que
ele assuma o seu caso. Enquanto o tlo espera o advogado assumir o seu caso, Josef K. se
diverte bastante com Leni. O tio se sente envergonhado e o repreende. Leni dá a ele a chave
da casa. Sua tranquilidade se arrasta, Não há solução à vista. K. considera dispensar o
advogado e escrever sua própria defesa. Dr. Huld não tinha sequer aprontado a petição. Neste
ponto K. encontra um fabricante no seu escritório. O fabricante o apresenta ao pintor
Tittorelli, que é bem relacionado com a maioria dos juizes, pois ele pinta os seus retratos.
Enquanto ele está ocupado com o caso, o gerente assistente já tinha se aproveitado da situação
e assumido as suas funções. K. visita Tittorelli e aprende sobre as diferentes formas de
inocência, buscando uma solução. A seguir, ele segue até a casa do Dr. Huld. La Leni está
entretendo Block, o vendedor que é considerado tão pouco esperto quanto um cachorro pelo
Dr. Huld, e tratado como tal. K. fica revoltado e, a despeito das ameaças veladas dos
advogados, ele retira o seu caso. Ele retorna à sua velha rotina no Banco. Um dia, um
arquiteto italiano o visita e ele segue para a Catedral em uma visita oficial. O arquiteto
italiano não aparece, mas ele encontra o capelão da prisão. O Capelão lhe dá um sermão,
alertando-o da sua “queda” iminente. A história termina com o assassinato de K. por dois
homens numa pedreira no seu trigésimo-primeiro aniversário. A vida tinha feito um círculo
completo

2. "A Metamorfose" é outra obra icônica de Franz Kafka, publicada em 1915. Esta
obra apresenta um enredo muito diferente do "O Processo", embora compartilhe alguns temas
e elementos característicos do autor.
Segue uma breve visão geral de "A Metamorfose" e, depois, uma relação com "O
Processo".
"A Metamorfose": "A Metamorfose" conta a história de Gregor Samsa, um jovem que
acorda um dia para descobrir que se transformou em um inseto gigante. A transformação
física de Gregor é o ponto de partida da narrativa. A história se concentra nas consequências
dessa metamorfose em sua vida e na vida de sua família. Ele passa a ser uma carga para sua
família, que o mantém escondido no quarto. O romance explora a alienação, a
incomunicabilidade e a forma como a sociedade lida com a diferença. Gregor se torna um
estranho em sua própria casa e é tratado como um pária.
Além disso, a obra "A Metamorfose" se destaca por sua exploração das dinâmicas
familiares disfuncionais e da alienação do indivíduo em uma sociedade implacável. Ao se
estabelecer uma relação com "O Processo": é possível dizer que ambas as obras de Kafka
exploram temas de alienação, impotência do indivíduo e o absurdo das instituições. Enquanto
em "A Metamorfose" a alienação é física (Gregor se torna um inseto), em "O Processo", a
alienação é jurídica e burocrática.
Em ambas as histórias, os protagonistas enfrentam situações em que não conseguem
entender completamente as regras que regem o mundo ao seu redor. Gregor é excluído de sua
família e da sociedade devido à sua metamorfose, enquanto Josef K. é preso e confrontado
com um sistema legal confuso e opressivo.
As obras de Kafka muitas vezes compartilham uma atmosfera opressiva e surreal, em
que a realidade e o absurdo se entrelaçam. Os personagens são frequentemente confrontados
com situações que não podem controlar ou compreender plenamente. Embora "A
Metamorfose" e "O Processo" tenham enredos distintos, ambos refletem o estilo literário
característico de Kafka e exploram temas que se relacionam com a alienação e a luta do
indivíduo contra sistemas opressivos, cada um em seu próprio contexto. Ambos os trabalhos
são amplamente estudados e interpretados em termos de sua relevância para a condição
humana e a sociedade moderna.

3. PROCESSO, na definição do autor Carnelutti (1999, p.72), “o processo é um


conjunto de atos dirigidos à formação ou à aplicação dos preceitos (...) um método para
formação ou para a aplicação do direito que visa garantir o bom resultado, ou seja, uma tal
regulação do conflito de interesses que consiga realmente a paz e, portanto, seja justa e certa”.
No caso do livro “O processo”, o personagem Joseph K. J é réu em um processo
criminal e não sabe do que está sendo acusado e nem qual é o tribunal que lhe acusa. Ao ser
notificado de que é réu no processo e está detido, não lhe é dito o porquê da detenção, os
próprios guardas que lhe detém desconhecem o teor da acusação, conforme pode ser
observado a seguir:

“O senhor está detido. É o que parece – disse K. – Mas por quê? – perguntou então. –
Não fomos incumbidos de dizê-lo. Vá para o seu quarto e espere. O procedimento acaba de
ser iniciado e o senhor ficará sabendo de tudo no devido tempo (...). Como posso estar
detido? E deste modo? Lá vem o senhor de novo – disse o guarda, mergulhando um pão com
manteiga no potinho de mel. – Não respondemos a perguntas como essa.” (KAFKA, 2005,
p.9)

Assim fica claro que o processo movido contra o personagem é totalmente contrário
ao direito, pois o réu foi impedido de exercer sua defesa sendo vedado informações básicas.
Além disso, é possível observar ao longo do enredo da obra a infringência de vários princípios
fundamentais que regem os processos brasileiros, como o Princípio do contraditório, da
Ampla da defesa, da cooperação mútua etc. O que se conclui é, houve uma clara deficiência
na condução do processo do personagem K.

4. O processo movido contra Joseph K. em "O Processo" de Franz Kafka não pode ser
considerado um processo justo, pois o sistema jurídico descrito na obra é opressivo, absurdo e
impede a defesa. A sensação de injustiça e impotência de Joseph K. é uma parte fundamental
da trama. Aqui estão três trechos da obra que ilustram essa falta de justiça:

Trecho 1:

Neste trecho inicial, vemos que o réu não foi informado de quais as razões da sua
prisão, nem que autoridade a tinha ordenado. Isso é claramente arbitrário e viola o Direito.
Trecho 2:

O personagem não foi informado sobre quem estaria a lhe acusar, quais elementos da
acusação. De forma que sem informações básicas ficou inviabilizado o direito a se defender.

Trecho 3:

Este trecho resume a natureza absurda e opressiva do sistema legal na obra. O réu
sequer está identificado e objetivo do interrogatório parece ser o de expor o réu a uma
humilhação ou vexame público.
Esses trechos demonstram como o sistema legal descrito na obra é burocrático,
confuso e impossível de ser compreendido ou contestado de maneira justa. Joseph K. luta
contra a falta de transparência, as contradições e a impessoalidade do sistema, o que torna
impossível considerar o processo movido contra ele como justo.
5. Na obra "O Processo" de Franz Kafka, é evidente que vários princípios do direito
processual, que fazem parte das Normas Fundamentais do Processo Civil, são violados. Aqui
estão três princípios violados e uma justificação de como ocorrem essas violações no
romance:
Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: No romance, Joseph K. é preso e
processado sem nunca ter clareza sobre a natureza das acusações contra ele. Ele não tem a
oportunidade de se defender adequadamente, confrontar testemunhas ou contestar as
evidências apresentadas.
O processo contra Joseph K. é conduzido de maneira secreta e arbitrária, privando-o
da oportunidade de participar efetivamente de sua própria defesa. O sistema legal opressivo
não garante o contraditório e a ampla defesa, que são pilares do direito processual justo.

Princípio do Devido Processo Legal: no romance o sistema legal no livro é


caracterizado por sua arbitrariedade e falta de transparência. Joseph K. é preso sem saber o
porquê está sendo acusado e não recebe um processo justo e transparente.
O devido processo legal pressupõe que todos os cidadãos tenham o direito a um
processo justo e imparcial. No caso de Joseph K., esse princípio é violado, uma vez que ele é
submetido a um processo extremamente injusto e caótico, em as regras não são claras, e ele
não tem a oportunidade de se defender de maneira apropriada.

Princípio da Razoável Duração do Processo: no romance, o processo movido contra


Joseph K. se arrasta indefinidamente, sem um desfecho claro à vista. Ele é forçado a enfrentar
uma série de audiências e procedimentos, mas nunca parece chegar a uma conclusão.
O princípio da razoável duração do processo visa evitar que as partes envolvidas em
um processo sejam submetidas a procedimentos intermináveis e demorados. No caso de
Joseph K., a demora e a falta de progresso no processo contribuem para seu sentimento de
impotência e injustiça.
Em "O Processo" de Franz Kafka, o autor ilustra de maneira vívida como um sistema
legal opressivo pode violar vários princípios fundamentais do direito processual, criando um
ambiente em que o indivíduo se sente impotente e injustiçado, sem a oportunidade de se
defender de maneira justa.
6. O princípio do Devido Processo Legal é uma garantia fundamental do sistema
jurídico que assegura que todos os indivíduos tenham direito a um processo legal e justo,
imparcial e que respeite seus direitos fundamentais. Esse princípio é essencial em muitos
sistemas legais ao redor do mundo e inclui várias características importantes:

Notificação: As partes envolvidas em um processo devem ser notificadas de quaisquer


ações legais que afetem seus direitos. Isso significa que elas devem ser informadas sobre o
início do processo, as acusações ou ações legais contra elas e quaisquer etapas subsequentes.

Oportunidade de Defesa: O Devido Processo Legal garante que todas as partes


tenham a oportunidade de apresentar argumentos, provas e testemunhas em sua defesa. Isso
inclui o direito de contraditório, onde as partes podem responder às alegações feitas contra
elas.

Imparcialidade: O processo deve ser conduzido de maneira imparcial por um tribunal


ou órgão competente, evitando qualquer tipo de preconceito ou favoritismo.

Direito a um Julgamento Justo: O Devido Processo Legal também inclui o direito a


um julgamento justo, o que implica que o processo deve ser conduzido de maneira
transparente e justa, com a aplicação das regras de evidência e a possibilidade de recorrer a
uma instância superior, se necessário.

Tempo Razoável: O princípio da razoável duração do processo também faz parte do


Devido Processo Legal, garantindo que o processo não seja excessivamente demorado.
Agora, considerando o romance "O Processo" de Franz Kafka, é evidente que o
princípio do Devido Processo Legal é violado ao longo da história. Joseph K., o protagonista,
é preso sem ser informado sobre as acusações contra ele. Ele é submetido a um processo
jurídico confuso, burocrático e opressivo, onde as regras não são claras e as ações tomadas
contra ele são frequentemente arbitrárias.

A falta de transparência, o tratamento injusto e a impossibilidade de Joseph K. se


defender de maneira adequada são características marcantes do romance. Portanto, a obra de
Kafka é um exemplo claro de como o Devido Processo Legal pode ser violado, deixando o
indivíduo à mercê de um sistema legal opressivo e injusto.
7. Um "processo kafkiano" é um termo que se originou da obra de Franz Kafka,
especialmente do romance "O Processo." Ele é usado para descrever situações ou sistemas
absurdos, burocráticos, opressivos e frequentemente incompreensíveis, semelhantes aos que
são encontrados nas obras de Kafka. O termo é amplamente utilizado na literatura, na filosofia
e na cultura popular para descrever circunstâncias em que as pessoas se veem envolvidas em
processos complexos e alienantes, onde a lógica e a justiça convencionais parecem ausentes.

Um "processo kafkiano" é caracterizado por: Burocracia Absurda: A burocracia e


a papelada excessivas desempenham um papel central em situações kafkianas. Os
personagens muitas vezes se veem atolados em procedimentos sem fim, formulários
intermináveis e regulamentos complexos que parecem servir apenas para complicar suas
vidas.

Falta de Transparência: As pessoas envolvidas em um processo kafkiano


frequentemente não têm clareza sobre as regras, os objetivos ou os motivos por trás do
sistema. Eles se sentem perdidos em um labirinto de informações contraditórias e inexatas.

Impessoalidade: Aqueles que operam o sistema muitas vezes são impessoais e


desinteressados nas dificuldades enfrentadas pelas pessoas envolvidas no processo. Os
funcionários são frequentemente retratados como distantes, indiferentes e inflexíveis.

Sensação de Impotência: As pessoas que se encontram em um processo kafkiano


frequentemente se sentem impotentes e incapazes de afetar o resultado ou de compreender
completamente a situação em que se encontram.

Falta de Justiça e Lógica: As decisões e os resultados em um processo kafkiano


muitas vezes carecem de lógica e justiça convencionais. O resultado pode ser determinado por
acaso, arbitrariedade ou circunstâncias incompreensíveis.

Portanto, um "processo kafkiano" é um conceito que descreve a experiência de se ver


envolvido em situações que lembram as obras de Kafka, onde a burocracia, a alienação e a
falta de justiça são características proeminentes.
8. "Caso dos Irmãos Naves" foi um famoso caso de erro judiciário ocorrido no Brasil
durante a década de 1930, no município de Araguari-MG. Sebastião José Naves contava com
trinta e dois anos, enquanto seu irmão, Joaquim Rosa Naves, vinte e cinco. Ambos
trabalhavam na lavoura e comercialização de cereais Esse caso se tornou emblemático por
ilustrar como falhas no sistema de justiça podem levar à condenação de pessoas inocentes. A
seguir, um resumo desse caso:

O Crime e a Investigação: Benedito comprara com a ajuda de seu pai uma quantia de
arroz para vender durante uma possível alta nos preços. Mas com os preços em queda
constante Benedito viu-se obrigado a vender sua safra em expressiva perda, contraindo ainda
mais dívidas e assim sobrando-lhe somente cerca de 90 contos de réis (aproximadamente 270
mil reais nos padrões de hoje) resultantes da venda de sua última leva de arroz. A quantia
embora expressiva, não cobria todas as suas dívidas que à época totalizavam cerca de 136
contos de réis. Benedito Pereira Caetano foge na madrugada de 29 para 30 de novembro,
levando consigo seus últimos 90 contos. Sabendo do fato, os irmãos Naves decidem
comunicar o fato à polícia, que imediatamente inicia as investigações. Estava difícil resolver o
sumiço de Benedito, a polícia não tinha pistas e a pressão popular aumentava.
Na busca por uma solução do caso, um delegado militar é convocado para conduzir as
investigações, Francisco Vieira dos Santos, figura central para a transformação do episódio.
No mesmo dia em que assume o posto, intima novas testemunhas. Dentre elas, José
Prontidão, que trabalha no mesmo ramo dos irmãos Naves e afirma ter visto e trabalhado com
Benedito em Uberlândia, pouco tempo após seu desaparecimento. Dona Ana Rosa Naves,
mãe dos irmãos e de mais outros 12 filhos, viúva, contava com sessenta e seis anos, foi ouvida
pelo delegado e confirmou a versão de Prontidão. Em seguida, o delegado tomou os
depoimentos da esposa de Sebastião, Salvina e a de Joaquim, Antônia. Ambas sabiam que na
noite anterior ao sumiço do primo, os irmãos estavam nas respectivas casas. Um amigo de
Benedito, Orcalino da Costa, em seu testemunho sugeriu que os responsáveis pelo
desaparecimento de Benedito eram os irmãos Naves. O delegado preferiu seguir esta última
"pista". Os Naves e Prontidão são presos, sofrem muitas agressões, passam fome e sede.
Prontidão não aguenta a tortura por muito tempo, modifica seu testemunho, diz que os irmãos
mandaram-no dizer aquelas coisas em troca de uma gratificação posterior. Deste modo, o
delegado consegue a acusação que tanto desejava para revelar aquele "crime", mas ainda
espera a confissão.
Os irmãos continuam presos no porão da delegacia, nus, ainda sem receber alimentos
ou água, apanhando muito, porém nada diziam. Assim sendo, prendem Dona Ana, retiram-lhe
as roupas e mandam os filhos baterem na mãe idosa, e eles, obviamente, recusam-se. Todos
são torturados, Dona Ana chega a ser estuprada, porém é solta após alguns dias e procura um
advogado. Já não era a primeira vez em que ela procurava o Dr. João Alamy Filho, que, por
fim, resolve defender os irmãos.
Entretanto, a única técnica efetiva de tortura é a separação dos irmãos. Forjam o
assassinato de Sebastião, e Joaquim, apavorado, não mais resiste e decide confessar o "crime".
Declara, no dia 12 de janeiro de 1938, que ele e seu irmão convidaram Benedito para um
passeio a Uberlândia, e no meio do caminho, decidiram tomar água na margem do rio. Neste
momento, Sebastião agarrou Benedito pelas costas e ele, Joaquim, introduziu uma corda no
pescoço do primo, apertando-o.
Deste modo, o primo desfaleceu e os irmãos acharam um pano em sua cintura,
contendo a importância de noventa contos de réis, os quais foram postos em uma lata de soda,
preparada anteriormente. Em seguida, atiraram o cadáver do primo na cachoeira do Rio das
Velhas. No caminho de volta para Araguari, escolheram uma moita de capim-gordura, entre
duas árvores, aonde cavaram um buraco e esconderam o dinheiro roubado. A última parte do
plano, era procurar Benedito assim que retornassem à cidade, para que não se tornassem
suspeitos do delito.
O delegado levou Joaquim para que pudesse reconstituir o crime. Também houve
busca e apreensão, que resultou negativa, já que não foram encontrados o pano que envolvia o
dinheiro e muito menos a lata com os noventa contos. Não havia o que procurar, era
impossível encontrar objetos que nunca foram usados, pois tal crime não havia ocorrido.
Também não se achava o cadáver de Benedito. Destarte, ignora-se o exame do corpo de
delito direto ou indireto, e baseia-se somente em uma "confissão". As autoridades policiais
também tentaram dar outro defensor aos irmãos, que inseguros, recusam a oferta e mantém
como advogado João Alamy Filho. Também prendem, novamente, Dona Ana, que se recusou
a assinar o depoimento e contou: O processo é bastante tumultuado, depois da denúncia do
Ministério Público, ingressa o pai de Benedito, como assistente de acusação.
É importante ressaltar que Dona Ana também é acusada, como cúmplice do latrocínio.
Tanto os irmãos Naves, quanto sua mãe, ficam presos durante a instrução do processo. As
esposas são presas e até mesmo os filhos de Sebastião são presos, privados de alimentação e
agasalho, chegando a falecer o menor deles. Outro habeas corpus é impetrado, mas apesar de
ser concedido, em 5 de março de 1938, a ordem não foi cumprida.
Somente após a concessão da liberdade em sede de livramento condicional um dos
acusados descobriu que a suposta vítima de homicídio estava acoitada na fazenda de seu pai.
Naquele caso, a concessão da liberdade acabou funcionando como um permissivo para que o
acusado de um crime muito grave pudesse demonstrar sua própria inocência. O Estado
pagou a maior indenização de que se tem notícia por um erro judiciário.

Sua história serviu de inspiração para o filme O Caso dos Irmãos Naves, de Luís
Sérgio Person. O caso também foi mostrado em 2003 no programa 'Linha Direta Justiça' da
TV Globo e na série de reportagens do Jornal da Cultura em 2019, "Os Olhos Que Condenam
no Brasil".

As Confissões Forçadas: Durante os interrogatórios, os irmãos Naves alegaram terem


sido submetidos a torturas físicas e psicológicas para obter confissões. Essas confissões, que
posteriormente se mostrariam falsas, foram usadas como prova-chave em seus julgamentos.

Julgamentos e Condenações: Em 1938, os irmãos Naves foram julgados e


condenados à pena de morte. A falta de evidências sólidas, a coerção policial e as confissões
forçadas foram os principais elementos que levaram à condenação dos irmãos.

O Trabalho da Imprensa e o Recurso à Revisão: O caso chamou a atenção da


imprensa e de defensores dos direitos humanos, que começaram a questionar a validade das
confissões e as condições em que foram obtidas. Isso levou a um movimento de apoio aos
irmãos Naves e à busca por justiça.

Revisão e Libertação: Após uma campanha intensa e pressões da sociedade civil, o


presidente Getúlio Vargas ordenou uma revisão do caso. Em 1939, a revisão confirmou que as
confissões dos irmãos Naves haviam sido obtidas sob coação e que não havia evidências
substanciais contra eles. Como resultado, eles foram libertados em 1939, após passarem dois
anos na prisão.
O caso dos irmãos Naves se tornou um marco na história da justiça brasileira e
destacou a importância de se evitar confissões forçadas e garantir um sistema judicial justo.
Esse erro judiciário contribuiu para reformas no sistema de justiça criminal e uma maior
conscientização sobre os direitos dos acusados. O caso também é lembrado como um exemplo
de como a pressão da opinião pública e a falta de devido processo legal podem levar à
condenação injusta de pessoas inocentes.

9. O Caso Evandro
No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, o menino
Evandro Ramos Caetano, de apenas seis anos de idade, desapareceu. Poucos dias depois, seu
corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita: foi sacrificado num ritual
satânico.

Essa morte acabou por aumentar o medo de pais por todo o estado do Paraná, que
enfrentava naquele momento um surto de crianças desaparecidas. Em Julho de 1992, sete
pessoas são presas em Guaratuba, e confessam que usaram o menino em um ritual macabro.
Mas o caso estava longe de ser encerrado – assim como a culpa daquelas pessoas estava longe
de ser devidamente esclarecida. A promotoria pública do Paraná indiciou Beatriz Cordeiro
Abagge e sua mãe, Celina Abagge (então primeira dama do município), como mentoras do
sequestro e morte de Evandro. A alegação fora de sequestro e utilização da criança em
suposto ritual de magia negra (crime ritual) para obtenção de benefícios materiais junto à
espíritos satânicos.
Em 23 de março de 1998, Beatriz e Celina foram julgadas pela primeira vez, em
processo que é o mais longo júri da história da justiça brasileira (34 dias de julgamento). No
veredito foram consideradas inocentes. Em 1999 o júri foi anulado, com novo julgamento
realizado 13 anos depois, em 28 de maio de 2011. Outros acusados de envolvimento suposto
assassinato também foram julgados pelo crime: o pai-de-santo Osvaldo Marcineiro, o pintor
Vicente de Paula Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares. Os três foram condenados em
2004. Os outros acusados Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos foram
absolvidos em 2005
Com votação apertada (quatro votos contra três), no segundo julgamento Beatriz foi
condenada a 21 anos e 4 meses de prisão. Em 17 de abril de 2016, o Tribunal de Justiça do
Paraná concedeu perdão de pena para Beatriz Abagge. Porém, Gravações foram apresentadas
alegando que os investigados foram torturados a fim de confessarem o crime. Um dos
responsáveis apontado pela possível tortura foi o coronel da reserva da Polícia Militar do
Paraná, Valdir Copetti Neves.
Mais indícios de torturas apareceram em 2020, quando o jornalista Ivan Mizanzuk
conseguiu acesso a uma versão não editada da fita que contém a gravação da confissão dos
acusados Também foram levantadas suspeitas de que o corpo enterrado no Cemitério Central
de Guaratuba não seria o do menino Evandro Ramos Caetano. No julgamento de 1998 as rés
do caso chegaram a ser inocentadas porque o júri entendeu que não estava comprovado que o
corpo era de Evandro.
A defesa alegava que três exames de DNA haviam sido feitos, sendo que o resultado
dos dois primeiros foram "inconclusivos". Há conflitos em relação à como as amostras para o
exame foram colhidas. Apenas um exame teve resultado afirmativo e conclusivo. Segundo o
zelador do cemitério de Guaratuba, Luiz Ferreira, o corpo não está enterrado no local qual o
MP diz estar. O corpo mutilado foi colocado no caixão ainda na cena do crime, sem passar
pela devida perícia e logo em seguida enterrado. Nem mesmo os familiares velaram o corpo.
O modo como a imprensa paranaense tratou o caso, sobretudo os veículos populares e
sensacionalistas, acusando sem provas os personagens investigados, foi completamente
inadequado. Destaca-se que não há nenhuma prova cabal que liga o terreiro de umbanda
citado nos autos com o desaparecimento morte de Evandro. Em paralelo houve uma devassa
na vida dos envolvidos, em comportamento inadequado da imprensa, que remete ao Caso
Escola Base.
À época do desaparecimento de Evandro, com um corpo de criança sendo encontrada
uma semana depois, houve: a rápida investigação, sem o devido zelo pericial (conforme
exposto acima), com imediato indiciamento dos envolvidos; e o fato dos investigadores e da
imprensa terem relacionado o assassinato de uma criança com a umbanda, atrelando-a a
suposto ritual de magia negra. Destaca-se que a magia negra tem raízes na Europa Medieval,
não tendo a ver com a umbanda, que pratica o bem. Sincrética e genuinamente brasileira, a
umbanda congrega elementos do espiritismo kardecista, do candomblé, do catolicismo e
outros elementos cristãos.
Portanto, não se pode afirmar que há relação da umbanda com o ritual figurado pela
imprensa. Por tais equívocos, nos anos 1990 os umbandistas sofreram grande preconceito,
proliferando a imagem distorcida e aumentando a intolerância religiosa.
Antes de virar seriado e livro, o caso virou um dos podcasts mais baixados e ouvidos
do Brasil. O material, publicado em 2018, conta com 36 episódios, ganhou o nome de Projeto
Humanos e é resultado de um árduo trabalho de investigação feito pelo jornalista e professor
Ivan Mizanzuk – ele também assina o livro e o roteiro dos dois lançamentos recentes.
O mais interessante entre todos os episódios do podcast é o de número 25, em que o
jornalista revela áudios que comprovam a tortura à qual Celina e Beatriz sempre disseram
terem sido submetidas para confessarem o crime. Ambas também escreveram sobre os
momentos terríveis que teriam passado nas mãos dos investigadores. Os escritos, que Celina
alega terem sido criados, originalmente, para que os netos soubessem a verdade sobre o caso
ela não saísse da cadeia, viraram o livro Malleus: relatos de tortura, injustiça e erro judiciário.
Na carta de desculpas, o secretário ainda afirma que após assistir a série Caso
Evandro, da Globoplay, e também ter acesso ao relatório do grupo de estudo criado pela
Secretaria de Justiça para identificar falhas no processo e investigação, ele teve convicção
pessoal de que Beatriz e "outros condenados no caso foram vítimas de torturas gravíssimas":

"Expresso meu veemente repúdio ao uso da máquina estatal para prática de qualquer
tipo violência, e neste caso em especial contra o ser humano para obtenção de confissões e
diante disto, é que peço, em nome do Estado do Paraná, perdão pelas sevícias indesculpáveis
cometidas no passado contra a Senhora", cita trecho da carta.

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