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RESUMO
O presente artigo tem por objetivo construir uma análise teórica e social da obra
Lolita, do escritor russo Vladimir Nabokov, com base na teoria da Estética da
Recepção, analisando como tal processo identifica de que maneira o autor/tradutor
aborda o tema central da trama: o polêmico envolvimento sexual de um homem
adulto com sua
enteada pré-adolescente. Por meio dos diferentes pontos de vista dos leitores, busca
se compreender os aspectos sociológicos, tratando assuntos como objetificação,
erotização da mulher e exploração sexual de crianças e adolescentes. A partir do
estudo realizado, é possível perceber que a exploração sexual infantil- tema
considerado tabu-, abordado por meio da trama na obra, pode apresentar para o
leitor um caráter romântico.
INTRODUÇÃO
Desde que o patriarcado foi instaurado, a mulher sempre foi vista de forma
inferior ao homem. Isso expressa-se na Bíblia, quando Eva é moldada da costela de
Adão para ele não se sentir só, forjando então a igualdade de gênero, vindo não de
forma independente, sendo um ser humano individual, mas como coadjuvante na
história. Durante muitos anos, a mulher tinha a ideia de que, para ser bem vista na
sociedade, deveria aprender etiqueta, cozinhar, bordar para então casar-se e ter
muitos filhos, além de sempre estar bonita para seus esposos.
1. A OBRA
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu
metro e quarenta e sete de altura e calçando uma
única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans
desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores
sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços
sempre foi Lolita.
Os dois caem na estrada, viajando por todo país e, de cidade em cidade, Humbert vai
conhecendo cada vez mais características de sua amada. Mesmo que ele a ame com todas
suas forças e ela seja mais que uma menina comum, Dolores ainda é uma criança com todas
as características típicas da idade e ele continua um homem de quase quarenta anos que
não concorda ou se irrita com seu comportamento. Durante a viagem é revelado como o
amor que ele sente por Lo não é recíproco, visto que ela se mostra indiferente em muitas
vezes. Depois, Lolita e Humbert se instalam numa cidade universitária onde a menina passa
a frequentar uma escola. O ciúme de Humbert começa a crescer enquanto moram por lá,
porque ela faz amizade com várias meninas e meninos, dos quais ele a desconfia. Esse
sentimento de desconfiança vai se desenvolvendo ao decorrer do livro até se tornar doentio
de modo que até cega o professor do que realmente se passa ao seu redor.
Eles começam a brigar e durante uma viagem, ela foge com Clare Quilty, o qual
promete a ela que vai torná-la uma atriz famosa, mas na verdade ele não passa de
um produtor de filme pornográfico. Humbert fica 3 anos sem ver Dolores, até que
recebe uma carta na qual relata estar grávida, casada e passando por dificuldades
financeiras, por isso pede sua ajuda. Ele então lhe dá uma quantia em dinheiro e
pede pra que ela volte com ele, e nesse momento tudo desmorona para o professor:
sua amada revela que não irá, porque nunca foi apaixonada realmente por ele,
deixando o homem triste e sem esperança. Por isso, ele vai até o Sr. Quilty e o
assassina,
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depois entrega-se para a polícia. O livro tem um desfecho no qual dá a entender que
Dolores morre, assim como ele, que morre na prisão antes de ser julgado.
A obra foi adaptada para o cinema duas vezes, uma em 1962 e outra em 1997. A
primeira versão foi bem criticada, visto que usou uma atriz menor de idade para
interpretar Dolores Haze. A segunda contém algumas constrições, como por exemplo
o temperamento de Humbert, que tende a ser ameaçador e humilhante, mas no filme
ele parece ser calmo, generoso e totalmente influenciado pela menina. Por essa e
outras razões, ela teve mais críticas negativas.
2. A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
Seu manuscrito foi recusado por diversas editoras, que chegaram a tratar sua
criação como lixo pornográfico. No ano de 1955, Nabokov conseguiu assinar um
contrato com a produtora Olympia Press e publicou seu manuscrito sob seu próprio
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É fato que Apesar de Lolita dar título à obra, não se pode tratá-la como personagem
principal. A história, infelizmente, é sobre a paixão e o desejo de Humbert pela
garota. O foco não é Dolores, mas paixão e o interesse que ela desperta. A
sexualidade do narrador é mais significativa que os próprios desejos de Lolita,
evidenciando mais uma vez a objetificação feminina. Evidentemente o romance de
Vladimir causou grande conflito de opiniões desde a sua publicação. Com a
visibilidade que os problemas
referentes à pornografia infantil ganharam, a obra causou ainda mais impacto e
controvérsia, dividindo as opiniões de acordo com as ideologias que cada leitor tinha:
uns afirmando que ela seria sobre amor, outros, afirmando que a obra tratava de
abuso, anulando, assim, qualquer relação de amor entre os personagens.
3. A VILANIA DE HUMBERT
Humbert foi um vilão em potencial, não há como negar. Ele transgrediu não somente
em relação aos seus desejos, como também, a lei, em diversas partes da obra. A
obra recebe muitas críticas quanto ao final, porque ele morre em decorrência de uma
trombose antes de seu julgamento. Os leitores queriam um desfecho melhor, como o
acontecimento concreto de sua condenação, visto que o desejo de vingança e de
pagamento de dívidas são interesses naturais do leitor que eventualmente
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devemos lutar para que haja menos “Lolitas” e para que a caminhada para o
progresso aconteça a passos largos. No que se diz respeito à objetificação e
hiperssexualização da mulher, a obra vai ainda mais fundo, pois utiliza um tema
polêmico relacionado a outro: objetificação de um corpo infantil. Todos esses temas
se devem à cultura patriarcal machista e opressora. A obra é completa, afinal,
conseguimos trabalhar todos os temas atuais decorrentes em uma única narrativa.
REFERÊNCIAS
LOLITA. Direção de Adrian Lyne, Dominique Piat e Leslie Park. Carolina do Norte:
The Samuel Goldwyn Company, 1997. (2h17min.40s.)
NABOKOV, Vladimir. Lolita. Tradução: Editora Objetiva Ltda. Rio de Janeiro, 2012.
Edição Kindle.
Vladimir Nabokov on Lolita: Just Another Great Love Story?. Open Culture. The
best free cultural & educacional media on the web. August 16th, 2011. Disponível em:
https://www.openculture.com/2011/08/vladimir_nabokov_lionel_trilling_on_lolita.html