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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

PSICOLOGIA

Amanda de Carvalho Fontes


201908692685

ANÁLISE CRÍTICA DE UM FILME


FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Rio de Janeiro
2020
“Ela era Lo, apenas Lo, de manhã... Com seu um metro e quarenta e sete de altura e calçando
uma única meia soquete. Ela era Lola, de calças compridas. Ela era Dolly na escola. Ela era
Dolores na linha pontilhada. Nos meus braços, era sempre... Lolita.” Os primeiros minutos do
filme, como muitas outras partes dele, são marcados pela declaração de amor do Prof.
Humbert Humbert a sua amada Dolores Haze, Lolita. A segunda adaptação cinematográfica
do livro de mesmo nome escrito em 1955 pelo romancista russo-americano Vladmir Nabokov,
popularizou-se por tratar de um assunto não muito apresentado e polêmico para a época
(1997). Um romance/drama fora de todos os clichês mostrando a atração sexual e obsessiva
de um homem na meia idade (42 anos) por uma menina – ninfeta como o protagonista a
chamava– de 12 anos. Apesar de muitas críticas e polêmicas, Lolita foi um grande sucesso e
até hoje está incluído na lista dos 100 melhores romances em língua inglesa da revista Time
publicados entre 1923 até 2005.

Inicialmente podemos definir Lolita apenas como o conto de um amor/obsessão doentio vindo
da parte de Humbert, porém, se prestarmos atenção nos detalhes do filmes podemos ver
muitos assuntos sendo debatidos. No começo do filme Humbert é bem claro em dizer “Mas
não podia ter existido Lolita nenhuma... se não tivesse conhecido primeiro Annabel”.
Humbert sabe que tudo na sua vida mudou depois de que seu primeiro amor – Annabel –
faleceu por contrair Tifo. Após contar sobre sua precoce história com Annabel, disse que tudo
que procede a morte de seu amor é apenas uma busca por uma nova Annabel. Acredito que
tudo que veio a acontecer em relação à Lolita, dentre outras coisas, foram apenas o
apodrecimento de sua vida, por buscar apenas a satisfação de seu desejo. Por buscar apenas
encontrar alguém que fosse, agisse, parecesse e o amasse como sua falecida. “A pobreza não
vem da diminuição das riquezas, mas da multiplicação dos desejos.” Disse Platão. Muitos são
os pensadores que falam sobre o desejo, o amor, o prazer. O Banquete está listado como uma
das obras mais famosas, onde grandes pensadores falam sobre o tal assunto.

O Banquete, também conhecido como Simpósio, é uma obra feita por Platão relatando o
debate que grandes pensadores da época tiveram em um banquete. O banquete aconteceu por
volta de 380 a.C quando Ágaton resolve fazer um banquete após ser premiado por escrever a
primeira tragédia da história, convidando Fedro, Platão, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes e
Alcibíades para uma comemoração. Após o banquete, resolvem debater sobre Eros, o amor.
Fedro, o primeiro a comentar, coloca Eros como um Deus muito antigo, por isso, um Deus
que trás consigo diversas fontes do bem, um amor mais puro, o amor devocional. Seu discurso
nada mais é do que um elogio á Eros, suas palavras foram: "Eu afirmo que o Amor é dos
deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da
felicidade entre os homens, tanto em sua vida como após sua morte.". Em seguida, Pausânias,
que já começa afirmando que Fedro apenas fez um elogio á Eros, corrige seu companheiro
dizendo não existe apenas um Eros, e sim, dois, assim como duas Afrodites. Logo, duas
formas de amor são proferidas: etérea e carnal. Etérea ou Eros Celeste seria o amor da justiça,
beleza, aquele que conduz as ideias, enquanto o Carnal ou Eros Vulgar está ligado à cobiça, a
iniqüidade e as coisas carnais. Por isso, disse Pausânias: “É forçoso então que também o
Amor, coadjuvante de uma, se chame corretamente Pandêmio, o Popular, e o outro Urânio, o
Celestial.”. Em terceiro veio Erixímaco, que por ser médico ligou Eros a medicina,
defendendo assim o amor com moderação, saudável e equilibrado, pois assim encontraríamos
o Eros Celestial, aquele que traz a harmonia das almas. Já o outro seria totalmente o contrário,
o desequilíbrio e a desarmonia, concordando com Pausânias na dualidade de Eros. Uma parte
de sua reflexão é: “A natureza dos corpos, com efeito, comporta esse duplo Amor; o sadio e o
mórbido são cada um reconhecidamente um estado diverso e dessemelhante, e o
dessemelhante deseja e ama o dessemelhante. Um, portanto é o amor no que é sadio, e outro
no que é mórbido.”. O quarto orador, Aristófanes, não fala dos atributos de Eros como os
anteriores, e sim, fala sobre o nascimento do amor através do Mito do Andrógeno, onde
haviam três gêneros: masculino masculino masculino, o feminino feminino feminino e o
masculino feminino masculino, o qual era chamado de Andrógeno. Eram eles totalmente
auto-suficientes e gozavam de sua felicidade, blasfemando até mesmo o deus da época, Zeus.
Então, Zeus o separou para que estivem destinados a procura de sua outra metade para o resto
de suas vidas. Em quinto, Áragon, o anfitrião, fazendo um discurso um tanto simples.
Contrapondo Fedro, diz Áragon que Eros é um deus jovem, sendo marcado por sua beleza.
Disse ele: “Digo eu então que de todos os deuses, que são felizes, é o Amor, se é lícito dizê-lo
sem incorrer em vingança, o mais feliz, porque é o mais belo deles e o melhor. Ora, ele é o
mais belo por ser tal como se segue. Primeiramente, é o mais jovem dos deuses, ó Fedro.”. O
discurso mais aguardado da noite vem de Platão, o sexto a discursar, que fala em nome de seu
mestre Sócrates. Diante disso, Platão desbanca todas as falas que o antecederam, e diz que
para ele o amor é o desejar aquilo não se tem, ou seja, desejamos apenas aquilo que não
temos, por isso, o amor é algo sempre ausente, mas sempre solicitado. Por esses motivos,
acredita Platão que Eros não era um deus, pois o amor busca o que lhe falta, logo, não poderia
Eros ser um Deus, pois para um Deus não se falta nada. “Observa bem, se em vez de uma
probabilidade não é uma necessidade que seja assim, o que deseja, deseja aquilo de que é
carente, sem o que não deseja, se não for carente. É espantoso como me parece, Agatão, ser
uma necessidade; e a ti?” Diz Platão. Por último, Alcibíades, que não faz seu discurso sobre
Eros, e sim, dedica suas palavras apenas a elogios a Platão.

Inspirando-me no pensamento de Platão, desejamos sempre aquilo que nos falta. Acredito que
por perder um amor de infância, ou até mesmo perder a sua infância, Humbert desejava
incansavelmente o seu amor de infância, aquele que iria fechar a sua ferida. Platão continua
seu pensamento dizendo que a multiplicação desses tais desejos trará a nossa ruína.
Obviamente sua ruína foi desejar incansavelmente alguém como Annabel. Seu maior inimigo
era seu próprio desejo. O veneno estava na ferida, e a ferida não cicatrizava. Porém,
poderíamos também associar este ocorrido ao pensamento de Aristófanes. Humbert foi
separado de seu amor, sua metade, por tanto, estava destinado a sofrer.

Já adulto Humbert começa a trabalhar como professor universitário de literatura inglesa na


Europa, o país onde nasceu. Após um tempo, Humbert viaja para New Hampshire – Estados
Unidos – com o principal objetivo de terminar seu livro. Chegando lá, aluga um quarto na
casa da viúva Charlotte Haze. Apesar de não se interessar pela casa, ele aceita ficar por ter se
sentido completamente atraído pela filha de Charlotte, Dolores Haze, que estava lendo uma
revista deitada no gramado do jardim. Após isso, todos os seus sentimentos por Lo (apelido de
Dolores) são descritos em seu diário, sem poupar nenhum detalhe. Humbert começa a
observá-la e seus sentimentos vão se concretizando a cada dia que passa. Ao observar sua Lo,
ele percebe que ela tem grandes problemas com sua mãe, como maioria das crianças
caminhando para fase de sua adolescência. No filme é demonstrado claramente como
Charlotte é desagradável e completamente abominável, principalmente em relação à Lo.
Coisas desse gênero também são descritos por Humbert em seu diário. “Eu ansiava por
qualquer desastre terrorista. Um terremoto. Uma explosão espetacular. A mãe dela
instantaneamente eliminada junto com todos os demais milhões ao redor. Lolita... em meus
braços”- Humbert Humbert.

Ao decorrer do filme, Charlotte resolve levar Lo para uma escola de freira (internato), logo
após o acampamento aonde Lo iria passar suas férias. Antes de levá-la, Charlotte deixa uma
carta para Humbert dizendo que o amava, e que se ao retornar ela o encontrasse significaria
que ele também a amava, portanto, iria passar o resto de sua vida com ela. Humbert poderia
ter deixado tudo para trás naquele momento. Deixado aquela casa. Deixado sua Lo. Uma de
suas piores decisões foi ter ficado naquela casa. Depois disso toda sua vida declinou. E então,
Humbert ficou naquela casa e declarou que queria passar o resto de sua vida com Charlotte.
Apesar de não estar com a pessoa que ele realmente amava, estava próximo, de certa forma de
Lo, por isso decidiu casar-se com a Srta. Haze. Por mais que tentasse, Humbert nunca
conseguiria ser um bom marido para ela, já que estava acorrentado a Lo. Então, o mesmo
fugia de todas suas obrigações como marido...

Imprevistamente, Charlotte acha o diário de Humbert e com ele todas suas confissões de amor
para Lo, que inclusive, continham muitos insultos à Charlotte. Após discutir com Humbert,
Charlotte sai para colocar uma carta em sua caixa de correio, e como se não bastasse é
atropelada e morta. Humbert agora se vê livre para viver com sua Lo, e sem nenhuma espera,
vai até o acampamento onde Lolitta está, levado-a para uma viagem pelos Estados Unidos.
Apesar de se apresentarem como pai e filha, Humbert e Lolita mantinham relações
sentimentais e sexuais, aliás, tiveram sua primeira relação sexual no primeiro Hotel em que se
hospedaram após Humbert ter buscado Lo.

“Senhoras e senhores do jurado... se minha felicidade pudesse falar teria enchido aquele hotel
com um grito ensurdecedor. A única coisa que lamento é não ter entregue a chave do 342 na
portaria e deixado a cidade, o país, o planeta, naquela mesma noite.” Humbert, Humbert.

Como nas citações de Demócrito, Pitágoras concorda sobre grandes reflexões sobre o desejo.
“Desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para o demais” Disse Demócrito. “O
desejo é, de todas as afecções humanas, aquela que tem, por assim dizer, a maior propensão a
não conhecer interrupção e a progredir ao infinito.” Disse Pitágoras. Ambos expressaram
muitas vezes em suas citações sobre o poder do desejo e como ele pode ser um dos maiores,
ou até mesmo a maior de todas as afecções humana. Ao relacionar isso ao filme, observando
todas as decisões tomadas por Humbert para apenas satisfazer seus desejos, podemos
encontrar grandes semelhanças nas citações dos filósofos citados. Após ter encontrado Lo,
quem ele acreditava ser sua nova Annabel, Humbert resolveu enfrentar todas as dificuldades
possíveis para estar com sua nova paixão. Sujeitou-se a casar com quem não amava apenas
para estar perto de sua Lo. Não seria isso o desejo estando acima de todas as afecções
humanas?

“E apesar de nossas brigas, apesar de toda a confusão, o perigo e a tensão envolvidos nisso,
apesar de tudo, eu estava no paraíso. Um paraíso cujo o céu tinha a cor de chamas do inferno,
mas ainda sim um paraíso” Humbert, Humbert. Após um tempo, suas viagens com Lo
começam a ficar cada vez mais dissonantes. Muitas brigas e discussões começam a acontecer
com o decorrer de suas viagens, sendo assim, Humbert resolve escolher um lugar fixo para
ficar, a cidade universitária de Beardsley, onde ele assumiria seu cargo de professor na
Universidade Beardsley e Lo começaria seus na Beardsley Prep School, uma escola apenas
para meninas. Ao invés de se cessarem, suas discussões ficam cada vez mais graves. Humbert
descobre que Lo anda faltando suas aulas de piano e guardando dinheiro para uma fuga, e
então, os dois discutem. Após muita gritaria, ofensas e até mesmo agressão, Lo sai na chuva e
Humbert vai atrás para procura-la. Um tempo depois, Humbert a encontra em uma sorveteria,
onde ela diz ter tomado sua decisão. “E sabe, o que ela me disse? Essa garota que havia me
rejeitando, me enganando, planejando escapar de mim só umas horas antes? Ela me disse que
queria sair de Beardsley imediatamente. Queria fazer outra viagem, só que desta vez ela
escolheria o destino. Acham que Humbert aceitou? Oh, sim. Aceitei o meu destino com
gratidão.”

Nessas viagens, Humbert percebe que está sendo perseguido por alguém. Primeiramente,
pensa ser um investigador, e então, começa a anotar a placa dos carros. Mas, depois de um
tempo, vê que Lo apagou todas suas anotações sobre as placas, suspeitando assim de que seria
algum conhecido da mesma, ou o próprio amante.

Desde do primeiro Hotel em que se hospedaram Lolita fez amizade com Clarie Quilty, outro
homem adulto que Lo se envolve, sendo assim, ela planejava fugir com Quilty e deixar
Humbert. Era Quilty quem perseguia o carro enquanto eles viajavam. Até que um dia, Lo é
internada por pegar uma gripe na cidade onde estavam hospedados e Humbert a deixa no
hospital para que possa melhorar. No dia seguinte ao ligar para o hospital, a recepcionista diz
que Lo recebeu alta já havia sido pelo seu tio. Humbert surta e vai até o hospital em busca de
sua Lo, mas sem sucesso. Depois de passar tempos procurando, os rastros que antes pareciam
estar tão perto, se esfriaram. Humbert resolve voltar para sua antiga casa em Beardsley, e
sozinho prossegue sua morta e fria vida.

Três anos depois, Humbert recebe uma carta de Lolita pedindo dinheiro. Ela agora está
grávida e casada com Dick

, que não tem conhecimento algum sobre o seu passado. Humbert então resolve ir até a casa
de Lolita, e ao chegar percebe que mesmo depois de anos, seus sentimentos por Lo ainda
estão vivos. Lolita conta que fugiu com Quilty, homem que se aproveitava de menores de
idade para fazer filmes pornográficos infantis, mas Lo não aceitou participar de seus filmes,
por isso Quilty a abandonou. Humbert propôs a Lolita que fosse embora com ele, mas a
mesma recusou seu pedido. Por fim, Humbert entregou um quantia de dinheiro a Lo e se foi.

“Eu fiquei olhando para ela e eu sabia, como claramente sei que eu morrerei, que eu a amava,
mais que a qualquer coisa vista, e imaginada sobre a terra. Ela era só o eco de folha morta da
ninfeta de uns tempos atrás, mas eu amava, esta Lolita pálida, impura e grávida de outro
homem. Ela podia machucar-se e enfraquecer, eu não me importava. Eu ainda era louco pela
sua ternura e a simplicidade de seu rosto.” Humbert, Humbert.
Após visitar Lo, Humbert vai direto a casa de Quilty para interrogá-lo e assassiná-lo. Humbert
é perseguido pelo polícia logo após sair da casa de Quilty, sendo pego e levado para a prisão.

Humbert morreu na prisão por Trombose Coronária em 16 de Novembro de 1950. Lolita


morreu dando a Luz no dia de Natal também em 1950.

“Amor, uma doença mental.” Disse Platão. Acreditava Platão que o amor era um doença
mental por não conseguir ter seus pensamentos filosóficos quando estava amando. Humbert
ao longo do tempo foi perdendo totalmente sua moral, deixando de lado toda a sua ética.
Como dito anteriormente, Humbert submeteu-se a casar com Charlotte para satisfação de seus
desejos, e agora mata um homem por ter tomado Lo de seus braços. Foi preso por assassinato
e teve um fim desonroso. Humbert era um Professor de Literatura, vinha de uma família que
sempre o tratou com muito amor (detalhes apresentados no livro Lolita 1955), andava sempre
bem vestido e era um homem que esbanjava inteligência... Então, como um homem como tal
acabaria com sua vida desse jeito por conta de uma menina de 12 anos? Ora, Humbert havia
esquecido completamente tudo que aprenderá sobre a Ética? Depois de todos os fatos temos
nossa resposta: sim, podemos deduzir com total certeza que o desejo está acima de todas as
afecções de Humbert.

Considerações finais
Ao analisar Lolita encontramos diversos temas principais além do romance, como a
degradação de uma vida, o caminho até a tragédia. Acredito que o filme aborda muitos
assuntos interessantes para muitos, tornando a história cada vez mais interessante ao estuda-
la. Classifico Lolita como uma obra de arte, o que Nabokov fez foi com certeza um marco
para a literatura, por isso, fazer uma análise filosófica combinou extremamente com a
proposta do filme.

http://www.fafich.ufmg.br/cogvila/dischistoria/Gomes3.pdf

https://www.culturagenial.com/livro-o-banquete/

https://revistas.ufrj.br/index.php/FilosofiaClassica/article/view/16965

file:///C:/Users/bete/Downloads/84578-Texto%20do%20artigo-126581-1-10-20141217.pdf

http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=28

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