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CAMPINA GRANDE - PB
2022
EDUARDO HOLANDA FERREIRA
Campina Grande - PB
2022
Dados Internacionais de Catalogação na publicação
(Biblioteca da UniFacisa)
Referências.
.
Dedico este trabalho à minha família que
muito me apoiou durante toda a minha
trajetória neste curso.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha família, que me deu total apoio para a realização do
curso, principalmente aos meus pais, irmãs e tios, que me ajudaram na mudança para uma
cidade distante da minha cidade natal.
Aos meus amigos, sempre presentes desde o início do curso, auxiliando-me nesta
importante etapa da minha vida e ajudando-me na construção desta pesquisa.
Aos professores e colaboradores do curso de Ciências Aeronáuticas na UniFacisa,
agradeço toda a paciência, a parceria e os conhecimentos compartilhados ao longo dos três
anos.
Ao meu orientador, por todo o apoio prestado no decorrer do trabalho.
“Um povo que não conhece sua história, está fadado a repeti-la."
Edmund Burke
RESUMO
Commercial aviation constantly faces impacts caused by crises, which often leave
losses that the company's management cannot overcome. PanAm and Varig are the greatest
examples worldwide: two of the best airlines in the world perished in the face of adversity. In
Brazil, facing crises is constant, and the characteristics of business administration are directly
reflected in the success or failure that the organization will have when going through a crisis.
The research aims to examine the management of Varig and Tam and deepen the
understanding of the reasons that led both to an opposite result: while the former went
bankrupt, the latter managed to strengthen itself in the same period. In addition, measures to
combat the crisis caused by the covid-19 pandemic are analyzed to seek to understand how
Brazilian airlines were successful. For the construction of the work, bibliographic research
and secondary sources were consulted. The study has a descriptive character, aiming to
understand the reasons that led two airlines to have different results, and interpret, from the
results, the crucial characteristics for the success of TAM in facing different crises. It is
crucial that future managers keep in mind the characteristics that led airlines such as Latam,
Azul and Gol to overcome adversities found in the aeronautical market in order to avoid
future bankruptcies, which take years to overcome. The research contributes to the
understanding of the characteristics of the management of an airline that can be decisive for
overcoming crises, both internal and external. It appears that certain characteristics, such as
agility, effectiveness, innovation and adaptability, are essential in the management of an
airline.
Keywords: crises; management; airlines
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………. 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO………………………………………………………15
2.1 UM HISTÓRICO DA AVIAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA…………………. 15
2.1.1 Período de regulamentação……………………………………………………….. 15
2.1.2 Desregulamentação do setor……………………………………………………….16
2.1.3 Reinício da regulamentação………………………………………………………. 17
2.2 A CRISE NA VARIG LINHAS AÉREAS…………………………………………. 17
2.2.1 A gestão da Varig e a Fundação Ruben Berta……………………………………17
2.2.2 A relação com o Estado…………………………………………………………….18
2.2.3 A Crise do modelo de negócios…………………………………………………… 19
2.3 TAM………………………………………………………………………………… 22
2.3.1 A TAM de 1961 a 1990……………………………………………………………..22
2.3.2 A gestão da crise dos anos 90 TAM………………………………………………. 23
2.4 A GESTÃO DA COVID NAS EMPRESAS AÉREAS BRASILEIRAS…………...25
2.4.1 A crise da covid-19………………………………………………………………… 25
2.4.2 A gestão da pandemia pelas empresas aéreas brasileiras………………………..26
2.4.2.1 Na Latam Brasil…………………………………………………………………….. 26
2.4.2.2 Na Gol………………………………………………………………………………. 27
2.4.2.3 Na Azul……………………………………………………………………………... 27
3 METODOLOGIA…………………………………………………………………. 28
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS………………………………...29
4.1 ANÁLISE HISTÓRICA……………………………………………………………. 29
4.2 ANÁLISE DA GESTÃO NA VARIG E NA TAM…………………………………30
4.2.1 A gestão da Varig………………………………………………………………….. 30
4.2.2 A gestão da TAM…………………………………………………………………...31
4.2.3 Comparação TAM e Varig………………………………………………………... 31
4.3 A CRISE DA COVID-19……………………………………………………………35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………... 39
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………. 41
13
1 INTRODUÇÃO
O setor aéreo, em âmbito mundial, sempre é fortemente impactado por crises, sejam
elas internas (causadas pelas próprias organizações) ou externas (resultantes de algo que não
depende diretamente da administração da empresa, como, por exemplo, crises econômicas,
guerras e pandemias). A gestão de empresas aéreas no Brasil, país em constante instabilidade
política e econômica, enfrenta inúmeras dificuldades.
Não faltam exemplos de empresas aéreas brasileiras que sucumbiram por não serem
capazes de contornar as adversidades encontradas no mercado. O caso mais famoso foi o da
Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), que, apesar de ser uma empresa gigante, concorrer
diretamente com as maiores do mundo e ganhar prêmios internacionais pelos serviços
prestados, foi incapaz de lidar com a desregulamentação do mercado aéreo e a modernização
da estrutura de custos.
Entretanto, encontram-se também exemplos bem-sucedidos de empresas que
contornaram crises similares, como a Transporte Aéreo Marília (TAM), que lidou com a forte
regulação do mercado, que beneficiava as empresas Varig, Viação Aérea São Paulo (Vasp) e
Transbrasil, com flexibilidade e adaptabilidade, tornando-se a maior companhia aérea
brasileira ainda nos anos 2000. A grande diferença no estilo de gestão da TAM e da Varig é
capaz de explicar os destinos distintos das duas firmas.
De acordo com Bielschowsky e Custódio (2011), após a abertura dos voos nacionais
para as linhas aéreas regionais, a TAM soube aproveitar as oportunidades e tornou-se uma
competidora de peso, enquanto a Varig, que tinha como principal competência as relações
com o governo (BINDER, 2007), não conseguiu modernizar-se nem reduzir custos para
manter a operação.
No cenário aéreo brasileiro e por causa da iminência contínua de diversas crises, é
imprescindível que a administração de uma empresa aérea tenha capacidade de gerenciá-las e
de realizar um planejamento prévio para contornar situações mais comuns, como dificuldades
econômicas e entrada de novos competidores, a fim de acompanhar a evolução do mercado.
Ironicamente, é a própria gestão, na maioria dos casos, que impossibilita a recuperação da
corporação e a continuidade das operações, resultando em falência ou venda.
Notam-se problemas comuns dentro de organizações que pereceram diante de
adversidades, como a incapacidade de ser flexível para encolher sempre que preciso e de
inovar para evoluir juntamente com o mercado. Neste trabalho, buscou-se analisar e comparar
a gestão de empresas aéreas que passaram por crises semelhantes para responder à seguinte
14
pergunta: uma empresa aérea realmente precisa inovar e ser flexível para contornar crises no
mercado aéreo brasileiro?
“Um povo que não conhece sua história, está fadado a repeti-la". Segundo a epígrafe
escolhida para este trabalho, atribuída ao filósofo Edmund Burke, importa analisar
criticamente as decisões que levaram grandes empresas a sucumbirem perante crises. A
relevância da pesquisa está diretamente ligada à necessidade de mostrar que administradores
futuros devem fazer um planejamento prévio para evitar ao máximo a falência de empresas
aéreas no Brasil, situação que causa impactos tão profundos que levam décadas até serem
minimizados.
O objetivo da pesquisa é examinar a administração da Varig e da TAM e as decisões
tomadas que resultaram em sucesso ou fracasso para contornar crises no setor, bem como
expor os erros administrativos da empresa que sucumbiu e comparar diferentes tipos de
gestões que enfrentaram crises similares. Além disso, buscou-se comparar as características
da gestão da TAM e da Varig com as das empresas aéreas brasileiras no cenário pandêmico,
considerado a maior crise já vista na aviação comercial.
Além desta introdução, o trabalho é dividido em quatro seções. O segundo capítulo –
Referencial teórico – apresenta um panorama da aviação comercial brasileira, focando os
períodos de regulamentação e de desregulamentação do mercado. Além disso, mostra a gestão
de crise na Varig, bem como a estrutura da administração da empresa e o caminho que
culminou na falência dela, logo após, é apresentado a estrutura da TAM e como ela foi capaz
de evoluir no mercado a ponto de superar uma das maiores companhias aéreas do mundo.
Para finalizar o capítulo buscou entender o enfrentamento da maior crise vista na aviação
comercial em caráter mundial, a da covid-19. O terceiro capítulo – Análise e discussão dos
resultados – buscou constatar os métodos utilizados na pesquisa. Já o quarto capítulo faz uma
análise da gestão da Varig, TAM e das empresas aéreas brasileiras que passaram pela
covid-19.
15
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Até meados de 1980, acreditava-se, no Brasil, que, para contornar crises no meio
aéreo, era necessário manter um forte controle da aviação comercial pelo Estado, como
ocorreu no final dos anos 60. Nessa época, segundo Bielschowsky e Custódio (2011), após o
setor ter sido impactado pelo colapso econômico brasileiro e ter sofrido uma perda
considerável de destinos atendidos devido à introdução de aeronaves a jato, o Estado agiu. De
acordo com Malagutti (2001), foram realizadas reuniões, conhecidas como Conferência
Nacional de Aviação Comercial (Conac) com o intuito de negociar a regulação do setor. Nelas
participaram representantes das empresas aéreas e do Departamento de Aviação Civil (DAC).
Como resultado das conferências, foi decidido o incentivo à fusão de empresas e foi feita a
divisão de mercados, alocando duas empresas para a exploração internacional e três para o
doméstico.
Além disso, implementou-se o controle tarifário, de frequências e, como medida mais
conhecida, a divisão do segmento regional. O Decreto 76.590, de 11 de novembro de 1975,
instituiu o Sistema de Transporte Aéreo Regional (Sitar), o qual seria responsável por suprir a
demanda das empresas nacionais, criando empresas responsáveis por cada região: Nordeste,
para o Nordeste), Transporte Aéreo da Bacia Amazônica (Taba) para o Norte, Vôos Tècnicos
e Executivos (Votec) para o Centro Oeste, Rio-Sul para o Centro Sul e TAM para o Sudeste.
O sistema criado pelas CONAC começou a ruir no final da década de 80. Os principais
motivos foram o crescimento do pensamento liberal e, principalmente, a estagnação
econômica pela qual passava o Brasil. O Estado falhou em contornar a crise dos anos 80
controlando ainda mais o mercado. A maioria das empresas aéreas fez grandes investimentos,
esperando um crescimento. Tudo resultou, porém, em uma guerra tarifária entre as
companhias, que deu início ao colapso da regulamentação adotada em 1967. No mercado
regional apenas a TAM não foi vendida ou descontinuada. Finalmente, no governo de
16
Fernando Collor, com o Decreto n.°99.179 de 15 de março 90, foi implementado o Programa
Federal de Desregulamentação (BRASIL, 1990), deixando que as empresas fossem regidas
pelas regras do livre mercado.
A Varig foi fundada em 1927 pelo alemão Otto Ernst Meyer. Com mais de 500 sócios,
a empresa começou suas operações com uma aeronave Dornier Wal, nomeada “Atlântico”,
que ligava as cidades do Rio Grande do Sul ao litoral de Santa Catarina (Oliveira, 2011).
Ainda segundo Oliveira (2011), a empresa continuava a investir em aeronaves alemãs, como
Junkers F-13, Junkers A-50 e Junkers A-52, durante os primeiros anos de vida.
Para Helms (2010), Otto Meyer temia que a segunda guerra mundial trouxesse
problemas para sua empresa, porque ele era de origem alemã. Por isso, decidiu deixar o
comando da Varig. Ruben Berta assumiu o comando da empresa em 1943:
Berta era um grande empreendedor e tinha convicção de que a ditadura de
Vargas estava chegando ao fim, porém temia que a mentalidade estatizante e
nacionalista do Estado brasileiro encampasse a empresa. Somado a isso,
Berta sabia que, para a empresa poder sobreviver, teria que resolver o
problema da descentralização do poder. A Varig, com mais de quinhentos
sócios, era uma empresa na qual ninguém detinha o poder de decisão, que
seria essencial para sobreviver ao mercado em expansão. (HELMS, 2010, p.
25-26)
18
os governantes. O fato pode ser ressaltado com a fala do presidente da VARIG Ruben Berta a
respeito da aquisição da Real Aerovias:
“Fizemos um péssimo negócio; a Real está falida; mas não poderíamos deixar de
atender a um apelo do presidente Jânio Quadros, que nô-lo endereçou em forma de exigência;
além disso fizemos a aquisição por patriotismo” (BERTA, 1961 apud SASAKI, 2015, p.186).
De acordo com Binder (2007), a Varig, desde o governo de Juscelino Kubitschek, foi
associada como uma “empresa aérea de bandeira” do Brasil por sempre se responsabilizar
pelo transporte dos presidentes. Para os passageiros, ela prestava um serviço de luxo, era
reconhecida internacionalmente como uma das melhores e mais bem-sucedidas empresas
aéreas, concorrendo diretamente com a gigante da época, a Pan American World Airways.
Além disso, muitas vezes, suas lojas eram mais usadas por brasileiros no exterior que a
própria embaixada brasileira. Mas como uma empresa de tal porte conseguiu entrar em uma
crise sem precedentes e acabou sendo comprada por uma novata em 2007?
“O modelo de negócio da empresa, que há algumas décadas era referência nacional no
setor e uma das maiores do mundo, foi construído em torno de uma única competência, o
relacionamento com o governo” (Binder, 2007, p. 84). Após a desregulamentação do setor
aéreo brasileiro e, consequentemente, o afastamento do Estado do mercado aeronáutico, a
Varig perdeu seu principal aliado, sendo obrigada a lidar com a concorrência direta de
empresas nacionais e estrangeiras, que já haviam passado pela mesma experiência antes e
eram mais enxutas.
O problema maior não foi a entrada da Transbrasil nem da Vasp nas linhas
internacionais, mas sim a entrada de grandes companhias norte-americanas e
européias no Brasil, devido a acordos de bilateralidade da aviação
internacional. Quer dizer, as empresas estrangeiras passariam a operar novas
linhas para o Brasil na medida em que fossem criadas novas linhas do Brasil
para outros países, aumentando a concorrência nos voos internacionais.
(BINDER, 2007, p. 86).
Se um dos últimos golpes foi dado pela desregulamentação do setor, a Varig, de acordo
com Helms (2010), começou a perder as boas relações com o governo a partir de 1985, ano
em que se restaurou o regime democrático no Brasil. Além disso, nos anos que se seguiram, a
empresa precisou fazer sale and lease back para fechar suas contas. Logo no início dos anos
90 a Varig admitia passar por tempos difíceis quando, de acordo com Monteiro (2007, p. 49),
publicou uma peça publicitária em 1991, a qual mostrou a visão da empresa sobre a
20
A partir da segunda metade da década de 90, a Varig começou a buscar meios mais
drásticos para lidar com a crise que passava. E em 94, “a empresa anuncia a suspensão
unilateral do pagamento de leasing das suas aeronaves.” (Helms, 2010, p. 31), nos anos
seguintes apostou na reformulação da identidade visual, além de entrar para a Star Alliance,
aliança global de empresas aéreas para o compartilhamento de voos (Monteiro, 2007). O
decorrer da década foi de altos e baixos para a empresa rio-grandense. Ainda de acordo com
Monteiro (2007, p.52): “Entre 1997 e 1998, por exemplo, a Varig chegou a anunciar
investimentos no valor de US$ 2,7 bilhões na compra de 39 jatos da norte-americana Boeing,
21 após as sucessivas ondas de cortes citadas anteriormente”.
No final dos anos 90, houve outro impacto na empresa, a extrema desvalorização do
real em relação ao dólar no ano de 1999:
Assim, passados dois anos da maior compra de aeronaves, justamente em
janeiro de 1999 o país se depara com mais uma desvalorização do real frente
ao dólar, que causou retração no setor de viagens internacionais, enquanto
que os valores devidos pela Varig em dólares elevaram-se
significativamente, impactando negativamente os resultados da companhia.
Neste cenário difícil para a empresa, a TAM, além de se transformar na
principal concorrente da Varig no mercado doméstico, começou suas
operações para o exterior (OLIVEIRA, 2011, p. 57).
2011). Dois anos depois, o presidente deixou a empresa, relatando a experiência na firma: “É
muito difícil a um administrador conseguir êxito sem contar com a vontade dos donos... Na
Varig, eu contava apenas com o apoio do Colégio Deliberante. O processo decisório dependia
da FRB e era muito, muito difícil” (BETING, 2009, p.230 apud HELMS, 2010, p.32).
Os anos que se seguiram foram marcados por algumas tentativas de tirar a empresa da
crise. Em 2002, por exemplo, havia uma proposta de empréstimo do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de R$ 400 milhões, mas foi barrada pela
FRB (HELMS, 2010). Em 2003, tentou-se uma fusão da Varig com a TAM, visando o
aumento da produtividade das empresas, aumentando a taxa de ocupação das aeronaves de
forma a gerar receita (BURLE, 2003). Entretanto a proposta acabou não se concretizando:
Depreende-se que as negociações estavam prestes a serem encerradas, pois
em janeiro de 2004 o Conselho de Administração nomeou Carlos Luiz
Martins como novo presidente da Varig, vislumbrando-se a decisão de que
ambas as empresas pretendiam continuar voando separadamente uma da
outra (OLIVEIRA, 2011, p. 66).
Enfim, em 2006, a Varig, por meio do relatório anual de 2005, informou que havia
falhado na reestruturação da empresa e encontrou na recuperação judicial a forma de tentar
sair da crise (BINDER, 2007). Com uma dívida de R$ 8 bilhões, a administração da empresa
aprovou o plano de Recuperação Judicial, que, como principais pontos, contou com a venda
das empresas Varig Engenharia e Manutenção (VEM) e VarigLog, a criação de quatro Fundos
de Investimentos em Participações (FIP) e o aumento da frota da empresa para 69 aeronaves
(OLIVEIRA, 2011). O juiz que ficou responsável pela Recuperação Judicial da empresa
considerava-a viável:
Ainda não me sinto em condição para declarar a falência. A Varig é uma
questão de prioridade para o País... existe solução para a Varig. Senão já teria
decretado a falência. Essa empresa é necessária e essencial. Não posso
acreditar que alguém tenha interesse que uma empresa do porte da Varig, que
abriga milhares de empregos e traz divisas ao país, quebre (AYOUB, 2006
apud OLIVEIRA, 2011, p. 72).
A Varig, durante sua recuperação judicial, foi dividida em duas: a Varig Operações,
mais conhecida como “Nova Varig”, que herdou a operação nacional e internacional, e a Varig
Regional, herdando, principalmente, as dívidas da empresa (HELMS, 2010). No dia 20 de
julho de 2006, a Nova Varig foi leiloada e arrematada pela VarigLog, que agora pertencia ao
grupo VOLO e pretendia vender a empresa, o que foi concretizado em março de 2007, quando
a Gol Linhas Aéreas, por intermédio da subsidiária GTI S.A., comprou a Nova Varig
(OLIVEIRA, 2011)
22
2.3 TAM
A TAM foi fundada em 1961 na cidade de Marília (SP), como Transporte Aéreo
Marília S.A., por dez pilotos de monomotores, que realizavam voos entre os estados de
Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Seis anos após a fundação da empresa, o empresário
Orlando Ometto a compra e muda sua sede para a capital paulista. E, em 1971, Rolim Amaro,
antigo piloto da TAM, é convidado para ser sócio da empresa com 33% de participação;
posteriormente, comprou metade da firma de Ometto, assumindo como presidente. (SOUSA;
TAVARES; PFITSCHER, 2008).
O restante da história da TAM entrelaça-se com a de seu presidente, Rolim Amaro.
Mesmo com adversidades constantes, a empresa prosperava. Na época em que a empresa
cresceu, o mercado era regulamentado e restrito, o DAC não permitia a importação de
aeronaves e garantia que o setor aéreo seria dominado pelas grandes empresas. (Teixeira,
2006).
A partir de então, [Rolim] passou a imprimir o jeito arrojado de administrar,
não levando em consideração as adversidades e acreditando que sairia
vitorioso sempre. A audácia somada à simpatia e à facilidade de se
relacionar com as pessoas eram traços marcantes do empreendedor e o
ajudaram a conquistar coisas que pareciam impossíveis (e.g., importar aviões
sem os recursos financeiros necessários e numa época em que a importação
era proibida). Rolim não se contentava com outro lugar senão o primeiro.
Inquieto por natureza, não desistia de suas aspirações tão facilmente
(TEIXEIRA, 2006, p. 24).
Com a divisão do setor regional, em 1975, a TAM conseguiu autorização para fazer
voos regulares na região Sudeste, nos estados de São Paulo e no sul de Mato Grosso
(BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011). Para Teixeira (2006), essa foi a oportunidade que a
TAM encontrou para fazer voos regulares, o que foi feito em parceria com a Vasp. Assumindo
rotas e operando aeronaves que para a Vasp eram pouco rentáveis, o comandante Rolim
melhorou os serviços prestados pela empresa antiga e anunciou os voos e as aeronaves nos
jornais, focando a melhoria do serviço.
Em 1988, a TAM participou do leilão de privatização da Vasp. Para Minadeo, Raphael
e Cunha (2003), a empresa tentava ingressar no quartel exercido por Varig, Vasp e
TransBrasil, entretanto, o negócio não saiu do papel. Apesar disso, houve outra oportunidade
de crescimento para a TAM:
23
Tão logo o projeto Vasp se mostra impossível, é substituído por outro, que
tinha por objetivo renovar a frota de aviões composta de alguns Fokker F-27
e Bandeirante – adquiridos por determinação do Ministério da Aeronáutica,
que impunha 3 destes aviões para cada Fokker F-27. O objetivo continuava a
ser o de crescer. A equipe da TAM, após variados estudos, optou pelos jatos
Fokker 100, em função de um cálculo simples: em qualquer percurso, o
F-100 levaria o dobro de passageiros, pela metade do tempo do que a outra
opção, o turbo-hélice F-50, e com o mesmo tipo de tripulação. Isso
significava, no mínimo, a possibilidade de dobrar as receitas (MINADEO;
RAPHAEL; CUNHA, 2003, p. 7-8).
A TAM iniciou os anos 2000 ultrapassando a Varig. De acordo com Teixeira (2006), o
diferencial em que a empresa investia acabou atraindo os passageiros, que agora escolhiam
viajar com a TAM e não mais com a Varig. Ainda para Teixeira (2006), o fato de a TAM ter
custos reduzidos e oferecer uma tarifa mais baixa sem interferir na qualidade, algo
25
extremamente prezado pela empresa, fez com que ela ganhasse a competição no mercado
doméstico e empatasse com a empresa rio-grandense na ponte aérea.
No ano de 2001 o então presidente da TAM, comandante Rolim Amaro, faleceu em
um acidente de helicóptero, o que, somado aos atentados do World Trade Center, no mesmo
ano, contribuiu para o adiamento dos planos de expansão internacional para Frankfurt
(MINADEO; RAPHAEL; CUNHA, 2003).
Em 2011 nasceu um acordo entre a Línea Aérea Nacional de Chile (LAN) e a TAM,
ano em que as empresas deram início a uma parceria oficial. No ano seguinte, deu-se início ao
grupo Latam Airlines Group e, finalmente, em 2015, as duas empresas formaram a marca
Latam, atualmente adotada pelas companhias do grupo LAN e TAM (LATAM, 2022d).
Mendes (2020), em matéria publicada no site VEJA, no Brasil, afirma que, por causa
do coronavírus, houve uma redução de mais de 90% dos voos regulares. A Latam suspendeu
todos os voos internacionais e seguiu com operação doméstica apenas no Brasil e no Chile,
sendo essa reduzida em 95%. A Gol também realizou a suspensão integral dos voos
internacionais e diminuiu a oferta doméstica em 92%, enquanto a Azul reduziu sua
capacidade em mais de 90% por causa da covid-19.
De acordo com dados disponibilizados pela Agência Nacional de Aviação Civil
(ANAC, 2020a), em junho de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, a
demanda por voos domésticos teve uma queda de 85%, enquanto a oferta de assentos caiu
83,6%. Ainda no mesmo período, houve o transporte de apenas 889 mil passageiros, o que
representou uma queda de 87,3%, em comparação com junho do ano anterior. A Associação
Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR, 2020) considera a pandemia da covid-19 como a
maior crise que a aviação brasileira viveu.
26
2.4.2.2 Na Gol
Na Gol linhas aéreas o foco foi na preservação da liquidez. Segundo a Gol (2021), a
resposta rápida da empresa para cancelar novas entregas de aeronaves, readequar os custos da
empresa e, renegociar contratos de leasing, a redução de salários, a negociação com o
sindicato e outras políticas geraram uma economia de R$ 9 bilhões em 2020.
Em 2021, a empresa apostou na retomada, acelerando a atualização da frota com o
Boeing 737 MAX, que reduz o consumo de combustível em 15%, se comparado ao 737 de
geração anterior. Além disso, a empresa defende que, no cenário pós-crise, há a necessidade
de “se pensar de forma mais ampla à medida que a interconectividade econômica avança na
região” (GOL, 2022a, p. 28).
Para o cenário a longo prazo, a Gol continuou, em 2022, apostando no recebimento de
aeronaves mais modernas. Segundo a Gol (2022a), no segundo trimestre de 2022, 24% da
frota são Boeings 737 MAX, gerando uma economia de 8% nos gastos com combustível em
relação ao mesmo período de 2021.
2.4.2.3 Na Azul
3 METODOLOGIA
atualizar a identidade visual da empresa (algo muito usado por empresas em crises para que os
clientes abandonem a ideia de que a empresa está em dificuldades).
O grande problema da tentativa de superação da crise por parte da administração da
Varig era que, com exceção da atualização da frota, as medidas cabiam apenas a curto prazo.
Outro fato foi a dificuldade de os gestores tomarem medidas mais efetivas, pois sempre
acabavam esbarrando na FRB, que não queria perder benefícios em prol da empresa.
Enquanto a Varig, a Vasp e a TransBrasil enfrentavam crises que seriam irreversíveis,
a TAM aproveitava a fragilidade de suas concorrentes para expandir-se no mercado nacional.
Com o custo por assento menor e mantendo a qualidade dos serviços, a TAM foi a única
grande empresa a apresentar lucro no ano de 1998. O fator principal para o sucesso da
companhia foi a agilidade de tomar decisões que visavam o bem da empresa, demitindo
funcionários e reduzindo frota sempre que necessário. Apesar de ter sofrido um acidente aéreo
dois anos antes, a imagem da empresa não foi consideravelmente abalada em razão da forma
como a administração geriu a crise, com transparência e eficiência.
A evolução e a conclusão da desregulamentação do mercado possibilitaram, nos anos
2000, a entrada de novos concorrentes que aplicavam a estratégia low cost e low fare, que
reduzia ao máximo a tarifa em detrimento do conforto. A Gol, por exemplo, gerou a tendência
de redução dos preços por suas concorrentes para tentar competir com a novata. Algumas
empresas não conseguiram lidar com o novo mercado, como TransBrasil, Vasp e Varig, que
deixaram de operar, respectivamente, em 2002, 2005 e 2007, sendo a última vendida à Gol.
Por outro lado, a estrutura da TAM contava com um presidente, que era sócio
majoritário, em conjunto com demais sócios. Apesar de contar com uma estrutura similar (em
que o sócio majoritário era responsável por todo o processo decisório), a gestão da empresa
era caracterizada por constante inovação e pela audácia do comandante Rolim.
Como não contava com protecionismo governamental, a TAM lidava mais
frequentemente com adversidades, boa parte causada, inclusive, pelo próprio governo, como,
por exemplo, a proibição de operar voos ligando São Paulo a Brasília. Entretanto, nesse caso,
a empresa conseguiu a autorização para realizar a rota desde que fizesse escala em Uberlândia
(a qual era feita exclusivamente para abrir e fechar a porta).
Era perceptível a inteligência do gestor para se adaptar a diversas situações, além de
ter reações imediatas a crises, que ajudaram a empresa a contorná-las, pode-se citar o voo
TAM 402, em que a resposta imediata da empresa foi fundamental para o baixo impacto que o
acidente teve na imagem da companhia. Além da agilidade e da inteligência, Rolim contava
com uma empresa mais enxuta, com menos custos, que a concorrente, fator crucial para a
TAM superar a Varig no mercado doméstico.
Ao se deparar com um novo cenário, a gestão foi capaz de buscar parcerias
estratégicas com a LAN Chile e, mesmo que com outro nome, prosseguiu no mercado.
O Quadro 1 aponta que, embora a Varig seja maior e, teoricamente, mais bem
preparada para lidar com crises que a TAM, os anos de protecionismo fizeram com que os
custos da empresa aumentassem desnecessariamente sem que a gestão se preocupasse com
32
crises. Com a desregulamentação do mercado e o livre comércio, a gestão da Varig não foi
capaz de ter a agilidade, efetividade, flexibilidade e inovação para contornar as crises que
enfrentou.
Tabela 2 – Lucros ou prejuízos da TAM e da Varig nos anos de 1996 a 2006 em R$ mil.
Ano TAM VARIG
2006 502.458,00 —
Fonte: Anac.
Um dos fatores que levaram ao fim da Varig foram seus constantes prejuízos. De fato,
constata-se que a empresa, desde os anos 90, não apresenta lucros. Os prejuízos de 2002 e
2003 podem ser entendidos como impactos dos atentados de 11 de setembro, mas a empresa
não foi capaz de revertê-los como a principal concorrente TAM. Em 2006, não houve
divulgação dos resultados, pois a empresa já havia sido dividida.
Ao se comparar o patrimônio líquido das duas empresas (ou seja, tudo aquilo que a
empresa realmente possui), é possível evidenciar de forma mais clara o patamar da crise em
que a Varig se encontrava, mesmo ambas as empresas passando pelos mesmos períodos de
incertezas, a gestão da TAM foi capaz de manter a empresa sempre economicamente
saudável, enquanto a companhia riograndense apresentava, em 2005, um patrimônio líquido
de quase oito bilhões de reais negativos.
É possível observar na Tabela 3 que, com o avanço da desregulamentação no mercado,
a Varig ia perdendo cada vez mais patrimônio, enquanto o da TAM, pelo contrário,
aumentava, acompanhando a expansão da empresa no mercado aéreo brasileiro.
35
2006 1.353.406,00 —
Fonte: Anac.
Ao analisar a resposta das três grandes empresas aéreas para a crise pandêmica,
considerada a maior na aviação mundial, foi possível notar características de gestão como
inovação, flexibilidade e pensamento a longo prazo para a saúde financeira da companhia.
36
Além disso, houve uma resposta brusca e praticamente imediata do setor com redução de
voos, frota e reestruturação de custos.
A Latam, por exemplo, aderiu à recuperação judicial para renegociar dívidas e
reestruturar a empresa, entretanto continuou investindo em inovação, algo que a
administração considera fundamental para a sobrevivência da organização. Sem dúvida, a
pandemia trouxe a maior retração da história do grupo; provavelmente por isso, a Latam
conseguiu sair mais ágil e eficiente da crise.
Na Gol, a resposta à crise foi com agilidade e flexibilidade, aproveitando o momento
para acelerar a renovação de frota e fortalecer a empresa no cenário de recuperação
econômica. A Azul, por sua vez, por já contar com uma malha diversa desde antes da crise,
conseguiu adequar seus voos conforme a demanda retomava, investindo, ainda em 2020, no
mercado ultrarregional, o que garantiu a alimentação de passageiros nos voos domésticos por
conexão.
Seguindo o exemplo histórico, Azul Gol e Latam foram capazes de contornar a crise
da covid-19 com características que não foram perceptíveis na Varig nos anos 2000, que
passou por uma crise mais amena que a presenciada em 2020. As empresas contaram com
agilidade ao cortar custos de forma quase imediata, foram efetivas ao avaliar estratégias a
curto, médio e longo prazo. Como visto no Quadro 2, elas contaram com uma complexidade
de gestão relativamente baixa para o enfrentamento da crise, foram capazes de inovar na
forma de transportar os passageiros e carga, usando, inclusive, aeronaves de passageiros para
o transporte de cargas nos assentos. Principalmente, conseguiram adaptar-se ao novo cenário
mundial.
agilidade, a efetividade e a adaptabilidade das ações podem ser consideradas altas, visto que
todas reduziram frota, malha e custos de forma extremamente rápida. O fato de a Latam Brasil
ser parte de um grupo de empresas aéreas latinoamericanas e ter ingressado em recuperação
judicial gerou uma complexidade mais elevada na gestão da crise que as concorrentes, mas
justamente isso caracterizou um alto grau de efetividade para gerir a crise. A inovação
presente nas empresas foi vista na maior informatização de suas operações durante a crise,
investindo em tecnologia para garantir a sobrevivência da empresa a longo prazo.
Apesar de ainda não ser possível constatar o resultado financeiro das empresas aéreas
no cenário após a crise da covid-19, é possível mencionar os números de passageiros
transportados no mercado doméstico no período pré-crise, durante a crise e no final dela, em
2021. Por mais que a demanda ainda não tenha sido retomada em 2021, houve um aumento
considerável no transporte de passageiros em comparação ao ano anterior.
Da Tabela 4, é possível inferir que a flexibilidade de diversidade presente na frota da
Azul contribuiu para o rápido retorno na quantidade de passageiros transportados no mercado
doméstico
Tabela 4 – Milhões de passageiros transportados no mercado doméstico pela Azul, Gol e Latam de 2019 a 2021.
Ano Azul Gol Latam
Tabela 5 – Resultado líquido em milhões de reais na Azul, Gol e Latam de 2019 a 2021.
Ano Azul Gol Latam
Por fim, é necessário analisar a Tabela 6, com o fluxo de caixa e equivalente na Azul,
Gol e Latam, para entender brevemente o resultado de negociações com investidores para o
combate à crise de 2020. O período analisado é de 2019 a 2021, e, apesar do impacto sem
precedentes da pandemia, todas as empresas analisadas contam com caixa para a recuperação
da crise.
Tabela 6 – Fluxo de caixa e equivalente em milhões de reais da Azul, Gol e Latam de 2019 a 2021.
Ano Azul Gol Latam
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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