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Pirassununga
2021
MÉRCIA DA SILVA MESQUITA
VERSÃO CORRIGIDA
Pirassununga
2021
Ficha catalográfica elaborada pelo
Serviço de Biblioteca e Informação, FZEA/USP,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
1. Microencapsulação. 2. Aproveitamento de
resíduos agroindustriais . 3. Semente de Mamão. 4.
Spray Drying. 5. Compostos bioativos. I. Sílvia
Fávaro Trindade, Carmen, orient. II. Título.
Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte - o autor
Com imenso prazer dedico esse trabalho à minha família: meus pais Orcino Antônio
José de Mesquita e Maria Merça da Silva Mesquita e aos meus irmãos que não mediram
esforços e sempre me deram total apoio para tornar esse sonho possível. Dedico também
a todos os pós-graduandos(as) que permanecem firmes mesmo diante ao desmonte da
educação brasileira.
BIOGRAFIA
por dois anos na área de inovação tecnológica em alimentos, a qual foi premiada na
(IFTM) (2017).
With the papaya industrialization process, husks and seeds are removed, which together
are called agro-industrial residues, which in turn can have high nutritional and bioactive
value. Therefore, this work aimed to study the nutritional and bioactive potential of
seeds and encapsulate by spray drying the extracts of papaya seeds (Carica papaya L.)
of the formosa type and in two stages of maturation (0 and 5). The chemical
composition of the seeds, the fatty acid profile of the extracted oils, the total phenolic
content, the antioxidant and antimicrobial capacity of the hydroethanolic extracts were
evaluated. The extracts were dried in a spray dryer using concentrations of 0, 15 and
30% of maltodextrin and inlet air temperatures of 130 and 150 ºC. The powders
obtained were evaluated for yield, moisture, water activity, hygroscopicity, solubility,
instrumental color parameters, morphology, mean diameter, total phenolics, antioxidant
capacity by ABTS and FRAP methods, stability during storage over 90 days and release
of phenolic compounds under simulated gastrointestinal fluids. The seeds in the 2 stages
of maturation showed good nutritional values, as they were sources of proteins, fibers
and lipids. Seed oils are mainly composed of oleic, palmitic, linoleic and stearic fatty
acids. The seed extracts did not show antimicrobial action against Salmonella
enteritidies, Escherichia coli and Staphylococcus aureus, however, they were a source of
phenolic compounds, with levels of 58.1 mg AGE⁄g of dry extract - maturation stage 0 -
and 36.0 mg AGE⁄g of dry extract - maturation stage 5 -, in addition, the extracts
showed antioxidant capacity against FRAP and ABTS●+ radicals. Extracts dried with
addition of maltodextrin showed better results regarding particle diameter,
hygroscopicity and solubility, when compared to those dried without the addition of
drying aid. Extracts dehydrated in the presence of maltodextrin promoted greater
stability of phenolic compounds over storage time. Encapsulated phenolic compounds
were released in greater quantity in the simulated oral phase. Of the conditions tested,
those where immature papaya seeds were used (stage 0), addition of 15% of
maltodextrin to the extract before drying and drying air temperature of 130 ºC showed
the best results for phenolic stability. Thus, the encapsulation of papaya seed extracts
using maltodextrin as a carrier agent has technological potential, allowing better
application in food and as a natural additive. The use of papaya seeds is a viable
alternative, as in addition to providing nutrients and bioactive compounds, their use
contributes to reducing the disposal of these residues in the environment.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 24
3.2.9 Capacidade redutora do ferro (FRAP) dos extratos líquidos concentrados ........ 42
3.2.12 Rendimento, teor de umidade e atividade de água dos pós obtidos ....... 45
3.2.18 Determinação do teor de fenólicos totais e atividade antioxidante dos pós ..... 46
5. CONCLUSÕES..................................................................................................... 80
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 82
LISTA DE FIGURAS
Figura 7. Cor dos pós dos extratos de sementes de mamão secos por spray drying. .... 65
Figura 10. Cor dos pós de extratos sementes mamões secos por spray drying após 90
dias de armazenamento. .................................................................................................. 74
Figura 11. Liberação dos compostos fenólicos dos extratos encapsulados de sementes
de mamão sob fluidos gastrointestinais simulados. ........................................................ 78
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 6. Rendimento, teor de umidade e atividade de água dos pós secos produzidos
por spray drying com extratos de sementes de mamão e maltodextrina como carreador
........................................................................................................................................ 60
Tabela 7. Higroscopicidade dos pós secos produzidos por spray drying com extratos de
sementes de mamão e maltodextrina como carreador .................................................... 62
Tabela 8. Solubilidade dos pós secos produzidos por spray drying com extratos de
sementes de mamão e maltodextrina como carreador .................................................... 63
Tabela 9. Diâmetro médio das partículas cos produzidos por spray drying com extratos
de sementes de mamão e maltodextrina como carreador ............................................... 64
Tabela 10. Colorimetria dos pós secos produzidos por spray drying com extratos de
sementes de mamão e maltodextrina como carreador .................................................... 66
Tabela 11. Teor de fenólicos totais e atividade antioxidante dos pós secos por spray
drying com extratos de sementes de mamão e maltodextrina como agente carreador ... 71
Tabela 12. Estabilidade de cor dos pós secos por spray drying com extratos de sementes
de mamão e maltodextrina como agente carreador ........................................................ 73
Tabela 13. Estabilidade de fenólicos totais dos pós secos por spray drying com extratos
de sementes de mamão e maltodextrina como agente carreador .................................... 75
Tabela 14. Estabilidade de fenólicos totais dos pós secos por spray drying com extratos
de sementes de mamão maduro e maltodextrina como agente carreador....................... 76
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
BHT - 2,6-diterc-butil-p-creso
DE – Dextrose Equivalente
g - Gramas
kg - Kilograma
mg - Miligramas
mL - Mililitros
nm - Nanômetro
ºC – Graus Celsius
pH - potencial Hidrogeniônico
TE – Trolox Equivalente
UR – Umidade Relativa
µg – Micrograma
μm – Micrômetro
μmol – Micromol
DIAGRAMA CONCEITUAL DO TRABALHO
Por quê?
•
Quem já fez?
• durante o armazenamento e fase gastrointestinal.
• Foram encontrados apenas trabalhos que avaliaram o potencial nutricional das
sementes maduras de mamão formosa;
• Há trabalhos com outros extratos (pele de amendoim, semente e casca de uva, erva-
mate, canela, polpa de pequi, semente de cupuaçu, etc.).
Hipóteses
Respostas
• Teor proteico, cinzas, umidade, extrato etéreo, fibras, extrativo não nitrogenado das
sementes de mamão;
• Perfil de ácidos graxos das sementes de mamão
• Teor de fenólicos totais dos extratos, capacidade antimicrobiana e atividade
antioxidante dos extratos;
• Teor de umidade, higroscopicidade, solubilidade, aspecto morfológico e cor
instrumental dos pós obtidos;
• Teor de fenólicos totais durante a estocagem dos pós;
• Teor de fenólicos totais liberados em cada fase da simulação gastrointestinal (oral
gástrica e intestinal).
21
1. INTRODUÇÃO
estocagem dos pós e avaliação da liberação dos compostos fenólicos das partículas em
condições gastrointestinais simuladas.
24
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
agroindustriais é uma boa alternativa para produção de enzimas, pois além de dar uma
destinação a esses resíduos promove uma redução dos custos de produção.
Esses resíduos podem ser utilizados como matéria-prima em diversos setores, até
mesmo na produção de bioenergia. Conforme descrito por Fernando et al. (2014),
resíduos de manga podem apresentaram eficientes como substrato para Saccharomyces
cerevisiae Y2034 em processos de fermentação para produção de bioetanol. Segundo
Gomes (2015) é possível produzir etanol com a utilização de casca de mamão como
substrato para a Saccharomices cerevisiae. Iha et al. (2018) avaliaram o potencial das
sementes de maracujá e goiaba como fonte para a produção de biodiesel, observaram
que é possível extrair óleos de ambos os resíduos e usá-los para a produção de
biocombustíveis.
28
2.2 MAMÃO
Compostos Teor
Umidade 86,90 g
Carboidratos 11,6 g
Fibra Alimentar 1,8 g
Cinzas 0,6 g
Cálcio 25 mg
Magnésio 17 mg
Vitamina C 80,02 mg
Betacaroteno 546,6 µg
Pectina 0,8 g
Semente de mamão
cosmética, farmacêutica e de alimentos. O óleo pode ser também utilizado como matéria
prima para a produção de biodiesel (KHALAF; DESA; BAHARUM, 2019).
As sementes são fontes de glucosinolatos, principalmente o glucosinolato de
benzila, este que é um composto encontrado em todas as partes do mamão, o qual é
responsável primeiramente pelo desenvolvimento do fruto, é uma substância de reserva
e de defesa da planta (ROSSETTO et al., 2008). Segundo Li et al. (2012), o composto
pode ser produzido na casca e polpa do mamão quando imaturo e armazenado nas
sementes após o amadurecimento do fruto com objetivo de armazenamento de enxofre e
proteção das sementes.
O glucosinolato de benzila é o precursor do isotiocianato de benzila, que é
obtido por meio da enzima mirosinase, presente no próprio vegetal. A enzima
mirosinase tem sua atividade iniciada pela maturação, injúrias e ação fúngica (BONES;
ROSSITER, 1996). O isotiocianato de benzila possui ação contra a célula H69 de
câncer de pulmão e pode inibir o desenvolvimento de câncer de pâncreas (LI et al.2012;
KOROIWA et al., 2006).
Castro-Vargas, Baumann e Parada ‐ Alfonso (2016) observaram que o isolado de
isotiocianato de benzila possui boa eficiência contra a oxidação lipídica em óleo
vegetal, apresentando ação antioxidante maior que os antioxidantes sintéticos BHT e
TBHQ, o qual inibiu a formação de hexanal, hidroperóxidos de ácido linoléico e
TBARS.
Cruz et al., (2019), ao avaliar a adição se sementes de mamão em geleias de
mamão, observou aumento da atividade antioxidante nesses produtos quando
comparado o tratamento sem adição de sementes. Os extratos de sementes de mamão
podem também ser utilizados para reduzir a oxidação de óleos vegetais e em alimentos
(JORGE; MALACRIDA, 2008; SOFI et al., 2016). O extrato apresentou alto índice de
compostos fenólicos quando comparado a outros resíduos, 6,7 mg AGE/g de extrato. Já
Rivera-Ochoa et al., (2016), ao avaliar o teor de fenólicos totais nas sementes de
mamão, encontraram 5,3 mg AGE/ g de sementes, concluindo que as sementes são boas
fontes de compostos fenólicos, os quais podem ser acrescidos em diferentes alimentos.
Estudos tem mostrado que o extrato de semente de mamão possui atividade
antimicrobiana. Conforme Tumpa, Hossain e Ishika (2015), o extrato metanólico de
semente de mamão possui atividade antimicrobiana contra as bactérias gram-negativas
Escherichia coli e Salmonella typhi e maior atividade contra as bactérias gram-positivas
Bacillus cereus e Bacillus subtilis. O extrato também apresentou atividade
32
2.3 MICROENCAPSULAÇÃO
2.3.1 Aspectos gerais
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 MATÉRIAS PRIMAS
Como matéria prima para a realização deste trabalho foram utilizadas sementes
de mamão do tipo Formosa, imaturo, em estágio de maturação 0 (Fruto crescido e
desenvolvido, 100% da superfície verde) (Figura 3. A, B e C), obtidas das docerias
“Doces Mineiro”, localizada no município de Uberaba, Minas Gerais, Brasil e “Doces
Colmeia Ltda”, localizada no município de Caldas, Minas Gerais, Brasil, e sementes de
mamão maduro, em estágio de maturação 5 (Frutos com 76% a 100% da superfície
amarela), (Figura 3. D, E, F), obtidas da Doceria Schmidt Ltda, no Distrito de
Engenheiro Schmitt, município de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. Todas as
sementes foram oriundas da produção de doces cristalizados e em calda.
Figura 3. Aparência dos mamões e sementes que foram utilizados no desenvolvimento desse
trabalho.
Nesta figura, A (mamão verde); B (Corte longitudinal do mamão verde); C (Sementes verde). D (mamão
maduro); E (Corte longitudinal do mamão maduro); F (Sementes maduras). Fonte: Própria autoria
3.2 MÉTODOS
3.2.1 Preparação e desidratação das sementes de mamão
Peso
Tipo de Temperatura Agente Água Maltodextrina Extrato Final da
Tratamento
semente do ar de carregador (g) (g) (g) solução
secagem (ºC) (%) (g)
V1 Imatura 130 0 0 0 300 300
V2 Imatura 150 0 0 0 300 300
V3 Imatura 130 15 34,6 34,6 230,8 300
V4 Imatura 150 15 34,6 34,6 230,8 300
V5 Imatura 130 30 0 69,2 230,8 300
V6 Imatura 150 30 0 69,2 230,8 300
M1 Madura 130 0 0 0 300 300
M2 Madura 150 0 0 0 300 300
M3 Madura 130 15 34,6 34,6 230,8 300
M4 Madura 150 15 34,6 34,6 230,8 300
M5 Madura 130 30 0 69,2 230,8 300
M6 Madura 150 30 0 69,2 230,8 300
Fonte: Própria autoria
45
O rendimento nos processos de secagem foi calculado pela relação entre a massa
seca de pó obtido e a massa seca da mistura que foi alimentada, de acordo com a
equação 2.
𝑚𝑠 𝑝ó
Rendimento % = 𝑚𝑠 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑥 100 (2)
A cor das amostras foi mensurada com auxílio de colorímetro (Modelo Mini
Scan XE, Hunter Lab, Reston, Estados Unidos) e expressa por meio do sistema de cor
CIELAB (L*, a*, b*). O equipamento foi calibrado utilizando uma placa de cor branca
e uma de cor preta.
As amostras dos pós foram armazenadas conforme descrito por Tonon, Brabet e
Hubinger (2010). Massa de 0,6 g de cada amostra (pó) foram armazenadas em frascos
de vidro e colocados em dessecadores contendo solução saturada de cloreto de
magnésio MgCl2 (UR de 32,8%). Os dessecadores foram mantidos em temperatura
ambiente por 90 dias. As amostras foram avaliadas a cada 15 dias com relação ao teor
de fenólicos totais conforme descrito no item 3.2.8.4.
A análise de cor foi realizada ao fim da estabilidade conforme descrito no item
3.10.2 e avaliou-se a diferença total de cor (∆E*) obtida por meio da equação 3.
∆E*=[(∆L*)2+(∆a*)2+(∆b*)2]1⁄2 (3)
Onde: ∆L*= L* tempo inicial – L* tempo final; ∆a*= a* tempo inicial – a* tempo final;
∆b*= b* tempo inicial – b* tempo final.
A liberação dos compostos das partículas foi analisada de acordo com protocolo
preconizado por Minekus et al. (2014), assim como a atividade enzimática da pepsina e
da pancreatina. Para preparação do fluido salivar simulado (SSF), fluido gástrico
simulado (SGF) e fluido intestinal simulado (SIF) utilizou-se soluções estoque de KCl,
KH2PO4, NaHCO3, NaCl, MgCl2(H2O)6 e (NH4)2CO3 e mantidas a 37ºC para utilização.
Na fase oral adicionou-se em tubos falcon de 50 ml 1 g de amostra a 0,7 ml de
SSF, 5 μL de CaCl2 0,3 M e 0,295 mL de água deionizada e foram incubados com
agitação por 2 minutos a 37 ° C. Posteriormente para a fase gástrica adicionou-se nos
tubos contendo a fase oral, 1,5 ml de SGF, 1 μL de CaCl2 0,3 M, corrigiu-se o pH para 3
utilizando HCl 6 M e adicionou-se nos tubos água deionizada até atingir um volume
final de 4 ml em cada tubo, em seguida adicionou-se 0,32 mL de solução de pepsina
25000 U/mL, após a homogeneização os tubos foram incubados a 37ºC por 120
minutos. Após os 120 minutos de incubação, para fase intestinal adicionaram-se nos
tubos contendo a fase gástrica, 2,2 ml de SIF e homogeneizou, adicionou-se 0,5 mL de
solução de bile 160 mM e 8 μL de CaCl2 0,3 M. Em seguida corrigiu-se o pH para 7
com solução de NaOH 5 M e adicionou-se água deionizada até atingir um volume final
48
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS SEMENTES DE MAMÃO
Estágio de Estágio de
Parâmetro (%) p
maturação 0 maturação 5
± Médias seguidas do desvio padrão. Médias na mesma linha com p ≤ 0,05 diferem entre si ao nível de
5% de probabilidade pelo teste ANOVA.
Tabela 4. Perfil de ácidos graxos (em massa %) dos óleos de sementes de mamão em 2 estágios
de maturação
ESTÁGIO DE ESTÁGIO DE
MATURAÇÃO 0 MATURAÇÃO 5
Tabela 5. pH, o Brix, teor de umidade, de fenólicos totais e valores para ABTS e FRAP dos
extratos concentrados de sementes de mamão formosa em estágios distintos de maturação.
Estágio de Estágio de
Parâmetro p
maturação 0 maturação 5
teores encontrados foram superiores aos obtidos por Ovando-Martinez et al. (2018) que
indicaram um teor de 26,6 mg EAG⁄g de extrato.
Observa-se redução significativa nos teores de fenólicos dos extratos de semente
de mamão conforme amadurecimento do fruto, essa redução pode ser associada a
diversos fatores, como sua polimerização, formando polifenolicos, que são menos
solúveis. De fato, de acordo com Naczk e Shahidi (2006), pode ocorrer a polimerização
de compostos fenólicos durante a maturação dos frutos, alterando sua solubilidade, logo
o rendimento na extração solvente hidroetanólico. Outra hipótese é do reagente Folin-
Ciocalteu ter interagido com esses compostos, influenciando na quantificação. Segundo
IKAWA et al. (2003) o reagente Folin-Ciocalteu sofre interferências de algumas
substâncias redutoras como proteínas, ácido ascórbico e açúcares redutores.
Ainda, por ocorrer a degradação dos fenólicos durante a maturação, aumento dos
teores lipídicos e de fibras nas sementes maduras, este ser mais um fator que contribuiu
para diminuição da biossíntese dos compostos fenólicos nas sementes maduras
(OVANDO-MARTINEZ et al, 2018).
Os resultados obtidos para teor de fenólicos nos extratos corroboram com os
valores da capacidade antioxidante obtidos por meio dos ensaios FRAP e ABTS. A
capacidade antioxidante pelo método ABTS consiste na captura do radical ABTS●+, este
que possui coloração azul esverdeado, diante de substâncias antioxidantes presentes nos
extratos, ocorre a redução do ABTS●+ a ABTS causando a perda da coloração do meio
reacional. O resultado é expresso em µM de trolox equivalente ⁄ g de extrato, com base
nisso, maior o teor de trolox equivalente, maior a atividade antioxidante. Observa-se
boa atividade antioxidante nos dois extratos de sementes de mamão. O extrato em
estágio de maturação 0 possui maior teor de compostos antioxidantes que os extratos em
estágio de maturação 5, com o decorrer do amadurecimento dos frutos, ocorre a redução
da capacidade antioxidante dos extratos. As capacidades antioxidantes encontradas no
presente estudo são superiores aos encontrados na literatura, 623 ± 2,4 e 2,1 ± 0,3 (µM
Trolox/g extrato seco) para extratos de sementes de mamão (SOFI et al., 2016; ZHOU
et al., 2011).
A capacidade antioxidante pelo método de redução do ferro (FRAP) consiste na
redução do complexo férrico (Fe3+) em complexo ferroso, originando a formação de cor
azul intensa, a qual está diretamente relacionada com o poder antioxidantes dos extratos.
A capacidade antioxidante do extrato de sementes de mamão em estágio de maturação 5
foi superior ao extrato de sementes de mamão em estágio de maturação 0. As
57
capacidades antioxidantes dos extratos estão inferiores aos encontrados por Zhou et al.,
(2011), com teor de 1027 ± 17,5 µM de sulfato ferroso ⁄ g de extrato seco. Essas
diferenças nos teores de compostos fenólicos e capacidades antioxidantes em relação à
literatura estão relacionadas ao clima, adubação, variação química e tipo de solo, índice
de precipitação e nutrição das plantas (BEZERRA et al., 2013).
Todavia, ainda que tenha sido detectado menor teor de fenólicos totais no extrato
obtido da fruta madura, a capacidade antioxidante pelo método FRAP foi superior,
corroborando com a teoria de que houve polimerização dos fenólicos, formando
substâncias polifenólicas, que possivelmente são agentes antioxidante mais potentes
para o complexo férrico (Fe3+), embora com menor poder antioxidante pelo método
ABTS.
Cruz et al. (2019) ao avaliarem a adição se sementes de mamão em geleias de
mamão, observaram aumento da capacidade antioxidante nesses produtos quando
comparado o tratamento sem adição de sementes. Os extratos de sementes de mamão
podem também ser utilizados para reduzir a oxidação de óleos vegetais e em alimentos
(JORGE; MALACRIDA, 2008; SOFI et al., 2016). Todos os resultados encontrados no
presente estudo corroboram com a alternativa de utilização de subprodutos do
processamento do mamão na produção de alimentos sujeitos à oxidação. Com base no
exposto, a obtenção de extratos das sementes de mamão representa uma alternativa
promissora, pois são fontes de compostos bioativos com potencial uso para a produção
de cosméticos, combustíveis, alimentos e fármacos.
Com a obtenção dos extratos de sementes de mamão ainda ocorre a geração de
resíduos, que em geral é descartado. Contudo, sugere-se maiores investigações
nutricionais e toxicológicas desse resíduo da extração a fim de se promover a aplicação
em rações animal, por exemplo, reduzindo ainda mais o descarte desse resíduo no meio
ambiente.
58
Imagem A (Teste para Salmonella enteritidies (ATCC13076)). Imagem B (Teste para Escherichia coli
(INCQS00179)). Imagem C (Teste para Staphylicoccus aureus (ATCC25923)). T (Tetraciclina); G
(Gentamicina); A (Água destilada); C (Caldo BHI); VP (Extrato de sementes de mamão em estágio 0 de
maturação); V10 (Extrato de sementes de mamão em estágio 0 de maturação diluído 10X); MP (Extrato
de sementes de mamão em estágio 5 de maturação); M10 (Extrato de sementes de mamão em estágio 5 de
maturação diluído 10X). Fonte: Própria autoria.
Porém, para outros tipos de mamões, os resultados obtidos são divergentes aos
encontrados na literatura, nos quais os extratos etanólico da cultivar Sekaki e extrato
aquoso das sementes da cultivar Red Lady apresentaram atividade antimicrobiana
59
Tabela 6. Rendimento de processo, umidade e atividade de água dos pós secos produzidos por
spray drying com extratos de sementes de mamão e maltodextrina como carreador
4.5.2 Higroscopicidade
Tabela 7. Higroscopicidade dos pós secos produzidos por spray drying com extratos de
sementes de mamão e maltodextrina como carreador
4.5.3 Solubilidade
Os valores obtidos na análise de solubilidade dos pós secos produzidos por spray
drying com extratos de sementes de mamão e maltodextrina como carreador estão
apresentadas na Tabela 8.
Para o parâmetro de solubilidade, observou-se que o aumento da concentração
do agente carreador aumentou a solubilidade dos pós obtidos, a qual variou de 82% (0%
de maltodextrina) a 93% (15 e 30% de maltodextrina) para extrato seco de sementes
imaturas e de 87% (0% de maltodextrina) a 96% (15 e 30% de maltodextrina) para os
extratos secos de sementes maduras. Extratos secos sem adição de agente carreador
foram menos solúveis, evidenciando assim, que a maltodextrina contribui para maior
solubilidade do produto devido ser um polímero com alta solubilidade em água e
possuir muitas hidroxilas (BHANDARI et al., 1997).
63
Tabela 8. Solubilidade dos pós secos produzidos por spray drying com extratos de sementes de
mamão e maltodextrina como carreador
Os diâmetros médios das partículas secas por spray drying estão representados
na Tabela 9. O tamanho de partículas dos pós obtidos por spray drying é um parâmetro
importante na definição da aplicação em alimentos, pois dependendo do tamanho da
partícula pode influenciar negativamente na aceitação sensorial dos produtos (SILVA et
al., 2018).
64
Tabela 9. Diâmetro médio das partículas produzidas por spray drying com extratos de sementes
de mamão em dois estágios de maturação e maltodextrina como carreador
4.5.5 Colorimetria
As respostas para a análise de colorimetria dos pós secos produzidos por spray
drying com extratos de sementes de mamão e maltodextrina como carreador estão
apresentadas na Figura 7 e na Tabela 10.
Figura 7. Aparência dos pós dos extratos de sementes de mamão secos por spray drying
Tabela 10. Parâmetros instrumentais de cor dos pós secos produzidos por spray drying com
extratos de sementes de mamão e maltodextrina como carreador
As micrografias dos pós produzidos neste estudo foram obtidas por microscopia
eletrônica de varredura (MEV) e estão representadas nas Figuras 8 e 9.
Nesta figura, (A: amostra com 0% de maltodextrina e seca a 130ºC); (B: amostra com 0% de
maltodextrina e seca a 150ºC); (C: amostra com 15% de maltodextrina e seca a 130ºC); (D: amostra com
15% de maltodextrina seca a 150ºC); (E: amostra com 30% de maltodextrina e seca a 130ºC); (F: amostra
com 30% de maltodextrina e seca a 150ºC). Fonte: Própria autoria
69
Figura 9. Micrografias dos pós do extrato de sementes mamão maduro (Estágio 5) atomizado a
130ºC e 150ºC.
Nesta figura, (G: amostra com 0% de maltodextrina e seca a 130ºC); (H: amostra com 0% de
maltodextrina e seca a 150ºC); (I: amostra com 15% de maltodextrina e seca a 130ºC); (J: amostra com
15% de maltodextrina seca a 150ºC); (K: amostra com 30% de maltodextrina e seca a 130ºC); (L: amostra
com 30% de maltodextrina e seca a 150ºC). Fonte: Própria autoria
70
também foi observada nos valores determinados para a capacidade antioxidante pelos
métodos ABTS e FRAP e nos parâmetros de coloração.
Tabela 11. Teor de fenólicos totais e atividade antioxidante dos pós secos por spray drying com
extratos de sementes de mamão e maltodextrina como agente carreador
Temperatura de secagem
Estágio de Concentração de
maturação Maltodextrina 130°C 150°C
O extrato seco de sementes verdes possui maior teor fenólico do que o extrato de
sementes maduras, o que pode ser explicado devido o amadurecimento do fruto, onde
pode ocorrer a degradação dos fenólicos e/ou sua polimerização. A degradação implica
em perda e a polimerização pode alterar a solubilidade, afetando diretamente a
eficiência de extração. Sabe-se que os compostos fenólicos possuem ação antioxidante.
Neste trabalho observou-se que os pós que possuem maiores teores destes compostos
72
A diferença total de cor (∆E*) das amostras foi avaliada ao fim da estocagem (90
dias) a 25ºC e 32,8% de umidade relativa. Os resultados apresentados na Tabela 12
indicam que a adição de maltodextrina causou menor perda total de cor dos extratos
quando comparado ao extrato sem adição do veículo, ou seja, a ação do agente
carreador teve efeito encapsulante, promovendo a preservação da cor dos pós.
Tabela 12. Estabilidade de cor dos pós secos por spray drying com extratos de sementes de
mamão e maltodextrina como agente carreador
Temperatura de secagem
Concentração
Estágio de
de 130ºC 150ºC
maturação
maltodextrina
Diferença total de cor (∆E*)
0 0% 47,6 ± 0,1 A,a 41,4 ± 4,0 A,a
0 15% 17,1 ± 1,3 B,a 21,7 ± 1,7 B,a
0 30% 22,1 ± 1,9 B,a 21,6 ± 0,6 B,a
5 0% 29,0 ± 2,0 B,a 18,0 ± 2,8 B,b
5 15% 20,8 ± 2,9 A,a 22,0 ± 0,6 AB,a
5 30% 21,8 ± 3,4 A,a 25,0 ± 0,5 A,a
± Médias seguidas do desvio padrão. Médias na mesma coluna seguidas por letra maiúscula não diferem
entre si ao nível de 5% (p<0,05) de probabilidade pelo teste de Tukey e médias na mesma linha seguidas
por letra minúscula não diferem entre si ao nível de 5% (p<0,05) de probabilidade pelo teste de Tukey.
Fonte: Própria autoria
Figura 10. Cor dos pós de extratos sementes mamão secos por spray drying após 90 dias de
armazenamento.
Ao contrário dos pós constituídos pelo extrato puro, aqueles secos com adição
do agente carreador não sofreram caking. Esse resultado pode ser justificado devido à
elevada higroscopicidade dos pós constituídos pelo extrato puro, a qual está associada à
capacidade de absorver a umidade do ambiente pelos grupamentos polares expostos. A
absorção de água leva ao caking.
75
Os teores de fenólicos totais das amostras foram avaliados a cada 15 dias durante
o armazenamento por 90 dias à temperatura de 25 °C e 38,2% de umidade relativa, os
resultados estão expressos na Tabela 13 e 14.
Tabela 13. Estabilidade de fenólicos dos pós secos por spray drying com extratos de sementes
de mamão e maltodextrina como agente carreador
Tabela 14. Estabilidade de fenólicos totais dos pós secos por spray drying com extratos de
sementes de mamão maduro e maltodextrina como agente carreador
Figura 11. Liberação dos compostos fenólicos das micropartículas contendo extratos secos de
sementes de mamão sob fluídos gastrointestinais simulados.
Nesta figura V3 (15% de maltodextrina seco a 130ºC) e M3 (15% de maltodextrina seco a 130ºC). As
barras identificadas pelas mesmas letras maiúsculas dos mesmos tratamentos não diferem
estatisticamente. As barras identificadas pelas mesmas letras minúsculas no mesmo intervalo de tempo
não diferem estatisticamente (p<0,05) pelo teste de médias Tukey. Fonte: Própria autoria
uma vez que compostos fenólicos com capacidade bioativa são sensíveis a condições
ácidas, como o pH do suco gástrico e enzimas.
Posteriormente ocorreu liberação na fase intestinal. Sugere-se que uma ou ambas
as possibilidades a seguir ocorreram. Primeiramente é que tenha algum composto que
durante a digestão sob efeitos de interações enzimáticas e pH (PAVAN; SANCHO;
PASTORE, 2014) possa ter ocasionado a liberação de ácidos fenólicos nessa etapa
mesmo não tendo ocorrido liberação na fase gástrica. Outra possibilidade e à
instabilidade de compostos fenólicos em condições alcalinas (SUN et al, 2019)
causaram a despolimerização, gerando então moléculas menores e mais reativas com o
reagente Folin-Ciocalteu, interferindo assim na quantificação dos fenólicos.
Para ambas as formulações observou-se que os compostos fenólicos não
atingiram total liberação e a fase intestinal apresentou menor liberação desses
compostos. O que pode ser explicado devido o agente carreador ter reduzido a
capacidade de liberação nessa etapa, ou ocorreu a total liberação, porém durante a
digestão ocorreu sua degradação devido a condições extremas de pH, enzimas, interação
com proteínas e instabilidade frente a condições alcalinas conforme explicado
anteriormente (PAVAN; SANCHO; PASTORE, 2014; SUN et al, 2019).
Diante disso faz-se necessário novos estudos a fim de identificarem e
quantificarem os compostos fenólicos de forma isolada, reduzindo assim, interferências
na quantificação desses compostos.
80
5. CONCLUSÕES
7. REFERÊNCIAS
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