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doi: 10.4025/bolgeogr.v29i2.

11001

REGIÃO, DISCURSO E REPRESENTAÇÃO: A AMAZÔNIA NOS PLANOS


DE DESENVOLVIMENTO

Region, discourse and representation: the Amazon in the development plans

João Santos Nahum


Universidade Federal do Pará
Faculdade de Geografia e Cartografia
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Avenida Augusto Corrêa, 01, Campus Básico
Guamá-Belém-PA CEP: 66075-110
joaonahum@ufpa.br

RESUMO

A organização espacial amazônica, durante as últimas quatro décadas do século XX, não pode ser compreendida sem o
exame atento dos Planos de Desenvolvimento da Amazônia, PDAs. Eles sintetizam ações políticas que buscam integrá-
la ao modelo de crescimento econômico da época, ocupando-a e reafirmando a soberania nacional nesta fração do
território brasileiro. Analisamos neste artigo a relação entre região e representação nesses planos. Trata-se de um debate
que reitera as pesquisas da geografia política, mormente ao pensar as relações entre política e território nas diversas
escalas. Privilegiamos a região e a escala regional por se fazerem presentes nos programas, planos e políticas de
desenvolvimento que este país conhece, principalmente, nas últimas quatro décadas do século XX e a primeira do XXI.
Examinamos os temas natureza, espaço e população por meio dos quais se fala da referida região nestes planos,
destacando o que eles silenciam. Objetivamos revelar a existência de uma representação região-personagem que oculta
os interesses que presidem, sustentam e estruturam tais planos. Nas três primeiras partes discorremos sobre as ideias de
natureza enquanto recurso, de espaço vazio e de homem estatístico presentes nos referidos planos. A quarta parte
constitui a síntese conclusiva, onde mostramos a formação discursiva da representação de região enquanto sujeito e
conceito obstáculo.

Palavras chave: Amazônia. Região. Representação. Planos de desenvolvimento.

ABSTRACT

The spatial organization of the Amazon during the last four decades of the 20th century, can‟t be understood without
careful examination of the Development Plans Amazon, PDAs They synthesize political actions that seek to integrate it
into economic growth model of the time, occupying it and reaffirming national sovereignty in this fraction of the
Brazilian territory. We analyze in this article the relationship between region and representation in these plans. It‟s a
debate that reiterates geopolitical research, particularly regarding the link between politics and territory at various
scales. We favor the regional scale as they are present in the programs, plans and development policies undertaken by
this country; particularly in the last four decades of the 20th century and the first decade of the 21st Century. We
examined nature, space and population within the defined region of the plan highlighting hidden issues. We aimed to
reveal the existence of a region-character representation that hide the interests which they preside, support and structure
such plans. In the first three parts discourse about the ideas of nature as resource, empty space and statistic man present
in these plans as mentioned before. The fourth part constitutes the conclusive synthesis, where we show the formation
of discursive representation region as a subject and obstacle concept.

Keywords: Amazon. Region. Representation. Developing plans.

1 INTRODUÇÃO durante as últimas quatro décadas do século


XX, não pode ser compreendida sem o exame
A organização espacial amazônica, atento dos Planos de Desenvolvimento da

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Amazônia, PDAs. Eles sintetizam ações considerar todos os planos.
políticas que buscam integrá-la ao modelo de Objetivamos revelar a existência de
crescimento econômico da época, ocupando-a uma representação região personagem, como
e reafirmando a soberania nacional nesta se a região fosse uma entidade que precisasse
fração do território brasileiro. Podemos dizer ser ocupada, desenvolvida, sustentada,
que a partir esses planos de desenvolvimento protegida; e as estratégias de desenvolvimento
desencadeiam um reordenamento contidas nos planos beneficiassem os
socioeconômico e territorial da região. amazônidas, independente dos gêneros de
Nosso ponto de partida é que nos vida, de classe social e bloco no poder,
Planos de Desenvolvimento da Amazônia tornando-se um imperativo categórico
(PDAs) temos um gênero de política planejada inquestionável; de modo que nos PDAs os
que reinventa a região, quer como fronteira projetos e programas de agropecuários, de
agrícola I PDA (1972-75), quer como fronteira exploração e beneficiamento minerais e
agromineral II PDA (1975-79), ou como energéticos são as únicas formas possíveis de
fronteira da biotecnologia, do ecoturismo e do usos dos recursos naturais da região.
desenvolvimento sustentável PDA (1992-950) A personificação da ideia de região tão
e PDA (1994-97). somente oculta os interesses que presidem,
Analisamos neste artigo a relação entre sustentam e estruturam tais planos. Os
região, discurso e representação nos Planos de sucessivos planos - I PDA (1972-74), II PDA
Desenvolvimento da Amazônia (PDAs). Trata- (1975-79), III PDA (1980-85), PDA da Nova
se de um assunto que reitera as pesquisas da República (1986-89), PDA (1992-95), PDA
geografia política, mormente ao pensar as (1994-97)- reafirmam a região personagem, tal
relações entre política e território nas diversas como criticada em Lacoste (1989). Nos PDAs
escalas. Privilegiamos a região e a escala em questão, encontramos alguns temas por
regional por se fazerem presentes nos meio dos quais se representa e discursa sobre a
programas, planos e políticas de Amazônia. E todo discurso é um ordenar do
desenvolvimento que este país conhece, mundo, principalmente quando norteado por
principalmente, nas últimas quatro décadas do uma estrutura de capital simbólico, conforme
século XX e a primeira do XXI. elabora Bourdieu (1989). Olhando os PDAs
Centramos a análise nos três primeiros nos deparamos com uma intransigente vontade
planos de desenvolvimento, que seguindo ao de ordenar o mundo amazônico, formatando-o
tom discursivo dos PDAs, difundem uma num sumário esquemático que, com maior ou
representação de região que precisava ser menor intensidade, tricotomiza-o em recursos
integrada, ocupada, valorizada e desenvolvida naturais, aspectos humanos e aspectos
economicamente. No curto espaço de um econômicos. Aqui se faz presente a razão
artigo não podemos contemplar todos os fragmentária mostrada por Moreira (1993a;
planos, visto que é complicado caracterizar 2006). Desse modo, os temas enunciativos,
regularidades discursivas de enunciados e longe de acaso, constituem exemplos desse
temas tão díspares, que oscilam entre tipo de razão contida nos PDAs.
valorização e desenvolvimento (I, II e III A natureza é um tema que logo vem à
PDAs), passando pela democratização (PDA tona, sendo que em todos esses planos lhe são
da Nova República) e indo até o feitas referências, quer de maneira geral, quer
desenvolvimento sustentável (PDA 92-94 e lhe dedicando um capítulo específico sob o
PDA 94-97). Ademais, nos PDAs, pelo fato de título de recursos naturais. Porém, que função
seus objetivos, metas e estratégias expressarem enunciativa possui o tema natureza nesse
a resultante momentânea de um estágio de luta discurso?
entre as várias frações de interesses no bloco O tema espaço é outro constante e vem
do poder, cada conjunto de temas e enunciados frequentemente acompanhado do adjetivo
tem um campo discursivo particular. Isso torna vazio ou da expressão a ser ocupado e/ou
bastante complexa e longa a tarefa de integrado ao conjunto do espaço nacional e

18 Bol. geogr., Maringá, v. 29, n. 2, p. 17-31, 2011


mundial. Mas, quando o espaço é enunciado Ao relacionarmos os temas, natureza,
dessa forma, que funções ele cumpre? espaço e homem, partes de um discurso e
O tema homem surge timidamente nos representação acerca da Amazônia,
PDAs, sob o rótulo de população, mão-de- visualizamos a região personagem nesses
obra, pessoas, trabalhador rural, dentre outros. planos. A representação discursiva de região
Esse homem vem geralmente associado à ideia personagem constitui uma prática sobre a
de ocupação, colonização oficial ou referida região; mais do que a junção de
espontânea, migrações; enfim, é um homem signos, é a expressão de uma vontade de
que vem ser o objeto que vai ocupar o espaço, verdade, potência silenciadora de outras
adjetivado de vazio e explorar racionalmente vontades, discursos e sujeitos. Assim, um
os recursos naturais. Esse homem geralmente discurso de Amazônia emerge.
aparece como objeto, quer das políticas de Nas três primeiras partes deste artigo
colonização, quer das atividades discorremos sobre como a ideia de natureza
economicamente produtivas, daí ele estar enquanto recurso, de espaço vazio e de homem
próximo de um homem objeto. Entretanto que estatístico presentes nos referidos planos. A
função é impressa ao tema homem nos PDAs? quarta parte corresponde à síntese conclusiva,
A região também aparece nos onde mostramos a formação discursiva da
enunciados discursivos dos PDAs. Esse tema representação de região personagem enquanto
vem bastante ligado ao tema natureza e ao sujeito e conceito obstáculo.
espaço sendo necessário algum esforço para
discerni-los. Explico-me: a região nos PDAs 2 UMA NATUREZA FORNECEDORA DE
está diretamente relacionada à exploração dos MATÉRIAS-PRIMAS
recursos naturais e à ocupação de espaços
vazios. Sendo assim, o papel da região no As potencialidades naturais da Amazônia têm
subsistema nacional é determinado um capítulo nos PDAs. No conjunto são
diretamente por seu crescimento econômico a descrições sobre as potencialidades da floresta,
partir do uso desses recursos pelos grandes
empreendimentos de exploração e A Floresta Amazônica é o recurso natural
beneficiamento minerais e metalúrgicos, que apresenta condições de aproveitamento
agropecuários e energéticos- viabilizados por econômico mais imediato. Em relação aos
meio de ações políticas do estado- e pelo produtos de procedência florestal já
adensamento demográfico, proliferação e conhecidos e com influência na balança
comercial da região, como a Borracha, a
expansão das cidades- corolário de uma Castanha-do-pará, o Pau-rosa, o Babaçu, o
dinâmica esquizofrênica de desenvolvimento PDAm programa e projeta um elenco de
econômico, que condena a região a exportar medidas hábeis capazes de permitir a
commodities, sem qualquer responsabilidade racionalização dessa produção, através da
territorial para com o lugar. Todavia, que modificação dos métodos rudimentares de
função enunciativa o tema região exerce exploração ainda utilizados, de modo a
dentro dos discursos dos PDAs? conferir caráter de permanência e
A análise da função enunciativa que estabilidade econômica a essas atividades.
cada tema desempenha nos discursos é (SUDAM, 1971, p. 44).
importante para nos conduzir ao campo extra-
discursivo, não para dizer que nesta esfera do solo,
encontramos delineados os temas ora
analisados. Mas tão somente para enfatizar É verdade que a maior parte do território da
como o discursivo contribui para a edificação Região é constituída de solos fracos,
entremeados de algumas manchas de solos
de uma determinada representação do não
férteis e aptos para agricultura e pecuária.
discursivo. Portanto, partimos do campo Essas manchas, entretanto, embora sejam
discursivo para chegar ao extra-discursivo, não pequenas em termos regionais, são bastante
nos esquecendo de relacioná-los. consideráveis em termos absolutos. É o que

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ocorre, por exemplo, com as várzeas, que, campo, a representação de natureza silencia o
embora ocupem apenas cerca de 2% da área homem, daí quando os levantamentos das
da Região, perfazem alguns milhões de riquezas são efetivados eles focalizam apenas
hectares de terras bastante férteis, que, em ter. Ora, mais do que uma questão entre ter e
alguns casos, chegam até a dispensar a usufruir esse raciocínio acaba não englobando
necessidade de adubação. Fenômeno
as contradições daí provenientes. Todavia, o
semelhante pode ser observado em relação a
alguns solos de terra firme, por exemplo, as silenciamento do homem é a função
terras roxas do Xingu e da região de enunciativa desse tema, produzindo o efeito
Altamira. (SUDAM, 1976, p.7). discursivo de que a natureza regionaliza o
espaço, como se a floresta instituísse a
do subsolo, apropriação da floresta, como se estivéssemos
diante de uma região natural.
Entre as reservas de maior importância para O corolário disso é o aparecimento de
o desenvolvimento regional, destacam-se as uma natureza neutra, passiva, não sendo
de bauxita metalúrgica, na área do rio concebida enquanto campo de disputa, não se
Trombetas e em Paragominas, metamorfoseando em territorialidades, não
dimensionadas em 4,6 bilhões de toneladas; existindo agentes sociais que desenhem no
de ferro da serra dos Carajás com 18 bilhões espaço formas diferenciadas de relações de
de toneladas de hematita; as de cassiterita do propriedade e processos produtivos. Em suma,
sul do Pará avaliadas em 70 mil toneladas;
a representação de natureza neutra, é o local
as de bauxita refratária, na região de
Almerim, com um volume estimado em 100 sem lógica de apropriação social e espacial, a-
milhões de toneladas e cuja cotação no histórico, anterior a qualquer começo, palco
mercado internacional é 7 vezes maior do silencioso à espera dos atores e do enredo.
que a bauxita metalúrgica; as de caulim para Natureza imaculada - anterior a qualquer Adão
aplicação e recobrimento de papel, com um e Eva, ou mesmo silenciando-os quando
potencial estimado em 1 bilhão de toneladas, aparecem -, trata-se de algo meio sagrado e
localizadas nos Rios Jari e Capim; e as de profano. Sagrado, posto que os seres humanos
sal-gema, localizadas nos Municípios de e sua produção e reprodução da vida material e
Aveiro e Itaituba, estimados em 46 milhões espiritual, não são admitidos; e profano à
de toneladas. (SUDAM, 1982, p. 24-25). medida que é representada como fonte de
recursos inesgotáveis, possessões
A natureza é considerada recurso, fonte maravilhosas, segundo análise de Greenblatt
de matéria-prima. Mas qual o papel deste (1996).
enunciado na representação discursiva de
região amazônica nos PDAs? Nos enunciados 3 A OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS VAZIOS
dos PDAs, a natureza é representada como AMAZÔNICOS
estoque de recursos a serem utilizados por
agentes ligados a vários setores da sociedade No I PDA (1972-74) o espaço
civil e política. Desse modo, é preciso amazônico é assim contextualizado:
conhecer para utilizar, por isso projetos de
levantamento aerofotogramétricos, A expansão de um mercado interno é
cartográficos, pedológicos, minerais, dentre indispensável para impulsionar este
outros, foram financiados e criados. crescimento. A conquista planejada dos
O conhecimento dessa natureza é espaços vazios amazônicos trará como
fundamental para inseri-la num processo de conseqüência, a extensão da fronteira
produção racional, eficiente. Porém, há uma econômica e a ampliação do mercado
contradição de fundo contida nesse discurso. O interno, pela integração econômica e social
tema natureza, quando emerge nos PDAs, é da Amazônia ao sudeste Brasileiro.
físico: é a somatória das potencialidades A efetiva integração da Amazônia ao
encontradas no solo, subsolo, nos rios e processo de desenvolvimento econômico
brasileiro será obtida através da ocupação
florestas da Amazônia. Concebida nesse

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efetiva e racional dos espaços vazios e pari O espaço vazio é possível na mecânica
pasu, uma reformulação progressiva dos newtoniana, para qual é o substrato passivo
setores produtivos (SUDAM, 1971, p. 13- onde os fenômenos se desenvolvem. Mas o
16). espaço, segundo Santos (1992, p. 1), longe de
vazio, é uma instância da sociedade. De
Esse quadro é reiterado no II PDA acordo com Corrêa (1993, p. 31-33), o espaço
(1975-79): é palco, produto e condicionante de relações
sociais. O espaço é um fato social, caso fosse
UMA REGIÃO PIONEIRA EM FASE DE diferente seria passivo, fruto da dinâmica
MUDANÇA [...] Essa caracterização dos
social, porém sem interferir nela. O fato social,
recursos naturais disponíveis e as
perspectivas de mercado em futuro próximo, na interpretação de Santos (1990, p. 130), é
para os mesmos; a população e posse da histórico e tem no processo de construção e
terra evidenciando um forte contraste entre reconstrução a sua dinâmica, influenciada por
áreas de maior densidade relativa, ao lado de múltiplas determinações. Portanto,
espaços vazios; complementaridade corroborando com Santos (1990, p. 126-127),
econômica [...] (SUDAM, 1976, p. 5). dizemos que o espaço não é o reflexo da esfera
econômica, se fosse não teria razão de existir,
Permanece no III PDA (1980-85): tampouco é fenomênico, pois esse caráter não
consegue explicar a sua dinâmica espacial.
do ponto de vista espacial cabe destacar que O espaço entrelaça estruturas
a Amazônia ainda apresenta hoje como econômicas, políticas, culturais, ideológicas,
característica predominante, um imenso dentre outras. Tais estruturas assumem forma
vazio demográfico (SUDAM, 1982, p. 16). no arranjo espacial, que, de acordo com
Moreira (1993b, p. 37-38) é a espacialização
Nestes planos temos o espaço das relações sociais desenvolvidas numa dada
representado como vazio, sem a ação humana sociedade. Espacializar, portanto, é assumir
e o caráter contraditório e mediador do forma: o espaço é forma, na medida em que
trabalho em nossa sociedade não se manifesta. expressa as várias esferas da sociedade e
O espaço não é admitido enquanto esfera da também influencia nelas. Por ser mediado pelo
sociedade, palco, produto e condicionante de trabalho humano, o espaço é social e histórico.
relações sociais; sem relações sociais o espaço (Moreira, 1990, p. 104-108).
está próximo da paisagem, mas não chega a Todavia, o espaço nos PDAs, é vazio,
sê-lo. A paisagem ilustra a dinâmica sócio- substrato onde está assentada uma natureza
espacial, movimento tornado possível pela espetáculo, misto de estorvo e herança inerte.
ação de seu ilustre morador, sem ele a O espaço vazio amazônico, em sua função
paisagem também não existe. enunciativa, não é neutro. Longe disso,
O espaço vazio é o espaço sem constitui-se num discurso vestido de vontade
dinâmica social e espacial. Porém, há de verdade; quer se fazer real, existir. Porém,
possibilidade de um espaço a-histórico? Não quando se conceitua o espaço amazônico dessa
temos essa possibilidade quando tratamos com forma, entramos noutro problema: privilegia-
as ciências que trabalham mais de perto com a se a naturalização da dinâmica histórica.
análise do devir social em suas várias Promove-se uma conversão no olhar que
concatenações, principalmente nas sociedades pouco contribui para a metanóia a que nos
tecnológicas. O espaço a-histórico está convida Bourdieu (1989). Ao contrário,
próximo da física newtoniana. Segundo a coloca-nos viseira que naturaliza a devir
visão de Newton, o espaço é essencialmente social, visto que sua apreensão é forjada pelos
um recipiente absoluto, independente, infinito, instrumentos metodológicos das chamadas
tridimensional, eternamente fixo e uniforme, ciências naturais.
dentro do qual Deus depositou o universo A função enunciativa espaço vazio, nos
material no momento da criação. (RAY, PDAs, consegue igualar, no plano discursivo,
1993).

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o físico e social. Não precisamos de muito abstrata desse homem está no fato dele ser
esforço para perceber a proximidade desta enunciado como homem- e homem não existe
conceituação daquela de natureza. Ambos, da mesma forma que não existe fruta. Para
natureza e espaço, nos PDAs, são destituídos existir, é necessário imprimir substância a essa
de historicidade, tornam-se desumanizados, forma, substantivá-la, situá-la em sua cultura e
tendo como função enunciativa o etnia, dinâmica econômica, condição sócio-
silenciamento do homem. Mas quando é que o política, mas isso é silenciado nesses
homem e a história vão se juntar a essa enunciados.
natureza e espaço. O tema enunciativo homem é o objeto
que ocupa o espaço vazio, modificando e
4 O HOMEM NOS PDAs transformando a natureza amazônica. O
homem objeto aparece para ocupar espaços
Nas seções anteriores mostramos como, vazios, vivificando núcleos estáveis de
nos temas natureza e espaço, os homens colonização, materializando perspectiva de
concretos são silenciados. Esse silenciamento assentar aproximadamente 100.000 famílias ao
é recorrente, mesmo nos momentos em que longo das estradas, efetivando, então, a
nesses planos são feitas referências ao homem, colonização oficial enquanto instrumento de
aliás, essa é a grande função enunciativa desse base para promover o desenvolvimento da
tema. Nesses PDAs “o homem, ao ocupar uma região amazônica. (SUDAM, 1971, p. 23-26)
região, modifica e transforma muitos aspectos O homem objeto, despido de sua
naturais de uma área” (SUDAM, 1971, p. 7). historicidade, está sujeito à ação política da
Essa afirmação entra em choque com a colonização. Essa contra-reforma agrária,
abordagem de natureza e espaço nesses planos segundo Hébette (2004b), é a resposta oficial
e, consequentemente, com o próprio do estado aos conflitos de terra e deixa sem
silenciamento do homem aqui desenvolvido? solução os problemas decorrentes de uma
Estaríamos diante de uma concessão ao tema estrutura agrária construída historicamente na
homem, dada a forma como a natureza e o dissociação entre uso da terra e posse da terra -
espaço aparecem nesses planos? Chegou o frequentemente, quem usa não tem a posse e
momento de revelar as qualidades do homem que tem a posse não a usa para produzir, mas
que modifica e transforma? para especular- que se aprofunda com os
O tema homem, nesses discursos, é movimentos migratórios da década de 1970 e
enunciado sob as mais variadas formas- 1980.
recursos humanos (SUDAM, 1982, p. 19), Nos PDAs encontramos o colono
população (SUDAM, 1982, p. 18), contingente espontâneo como agente que “empreende a
de mão-de-obra (SUDAM, 1971, p. 18), única e perigosa atividade que sabe realizar:
pessoas (SUDAM, 1971, p. 35), mão-de-obra destruição da mata e esgotamento do solo pela
qualificada (SUDAM, 1971, p. 17). Enunciado prática de culturas de subsistência, no
dessa maneira não fica claro se esse homem é conhecido regime de lavoura itinerante.”
negro ou branco, cafuzo, mulato, mameluco ou (SUDAM, 1982, p. 31-32). Ironia, quando o
caboclo; não se expressam as dinâmicas de homem objeto aparece como sujeito é para
tempo e espaço diferenciados que cercam cada empreender atividade predatória.
cultura. Aparece somente enquanto homem, O homem objeto é também esboçado
homogêneo, abstrato, mudo e/ou emudecido, como um ser produtivo, ou melhor, está
sem tempo, nem cultura ou etnia. submetido a uma atividade produtiva. É assim
O homem enunciado nos PDAs está que, ao falar do extrativismo vegetal,
longe de possuir algum caráter faústico. Aliás, preconiza-se a transformação gradativa da
para que tal caráter lhe seja atribuído, é simples coleta em atividade permanente e
necessário, antes de tudo, que ele exista racionalizada. Esta “proporcionará a
concretamente, coisa que não é identificada estabilização do homem rural, um aumento dos
nos enunciados que citamos. A natureza índices de produtividade e uma ascensão do

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nível de vida destas populações” (SUDAM, a população em recursos humanos, tal como
1982, p, 16). Aqui, é a atividade produtiva que nos mostra Moreira (2006). Temos uma
proporcionará ao homem objeto aumento da concessão à teoria utilitarista-marginalista, na
produtividade. O problema é que o processo qual preço e valor se confundem, sendo que
produtivo necessita da força de trabalho este último é dado pelo valor de uso,
humana e essa aparece nos PDAs como objeto. precisamente sua utilidade. Tem-se, por esse
Dessa maneira, fala-se nas várias meio, a permutação do homem objeto em
atividades econômicas e setores produtivos homem consumidor, podando-lhe seu caráter
sem que eles sejam concebidos como criador, sua potencialidade histórica,
construções historicamente determinadas. Ao silenciando-o, em síntese.
contrário, aparecem como atividades em si, O homem ensaia uma tímida aparição
isoladas umas das outras e sem concebê-las no conjunto das relações sociais sob a forma
como partes de uma formação sócio- de enunciados como melhoria das condições
econômica complexa e contraditória. Daí que de vida do trabalhador, produtores e
uma das formas de mencionar o homem, sem comerciantes, pessoal ocupado na indústria,
que ele fale - esse é outro elemento da função dentre outros. Porém, não passa de um tímido
enunciativa neste tema -, é dissolvê-lo como ensaio, quando as condições concretas são
objeto implantado dentro dessas atividades, silenciadas. E o desprezar das condições de
sem que delas seja agente de sua construção. vida desse homem cumpre a função
O homem objeto é social, mas esse enunciativa de silenciar o homem, agora
caráter não lhe é atribuído pela própria anotado como um dado estatístico,
dinâmica em que vive. Longe disso, ele é multiplicado em população, ocupando o vazio
dissolvido socialmente na população, sem do espaço, sendo mão-de-obra em atividades,
espaço nem natureza. Concebendo-o dessa consumidor, mas em todos os casos silenciado.
forma, temos a dissolução do caráter histórico O homem, nesse discurso, assemelha-se ao
do fenômeno populacional. Visualizamos, corpo dócil de que nos fala Foucault (1993),
aqui, uma análise que concebe o mundo como adestrado que ficou pelas categorias da
o reino das coisas em si, de forma demografia e da estatística, que sobre ele
autoexplicativa. Um mundo que trata a constrói todo um conhecimento controlador,
população como reino das coisas, cuja função matematizando seu modo de ser e agir,
enunciativa é fazer crer e valer que todos são desejando que os números espelhem uma
coisificáveis em número e têm de ser realidade mais real que o próprio real.
mensurados da mesma forma. Um mundo A natureza a-histórica do homem nos
despido de historicidade, não se reconstruindo PDAs tem um caráter funcional. O silêncio é
o processo de produção dessa população, não constitutivo dos discursos: silencia-se o
se conseguindo, dessa forma, ir além de homem concreto, substituindo-o pelas várias
números, e números não constroem história. manifestações do homem objeto,
Fragmenta-se o homem quando o impossibilitando-se, por esse meio, a
dissolvemos na população, o resultado disso insurgência de qualquer discurso identitário
pode ser visto nos PDAs. O homem aparece como os provenientes do chamado índio, do
categorizado em população que não frequenta camponês, do ribeirinho, do seringueiro, do
escola (SUDAM, 1971, p. 83), população rural sem-terra. É como se o silêncio tornasse
(SUDAM, 1971, p. 20), colonos espontâneos público a existência de um só espaço, uma só
(SUDAM, 1976, p. 34), colonos (SUDAM, natureza e um só homem, aquele oficialmente
1976, 13), fluxos migratórios (SUDAM 1982, é lido nestes planos. Aliás, é isso que atribui ao
p. 47), como se cada adjetivo dessa população silêncio essa natureza positiva, ele integra a
fosse auto-evidente. produção dos sentidos nos discursos, que só
Uma retotalização da população dizem o que dizem, porque estão recheados de
acontece de forma tosca na equação silêncio.
necessidades versus recursos, e que transforma

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5 A REGIÃO PERSONAGEM naturalização das palavras que nos
impossibilita a identificação dos sujeitos, seus
Nos PDAs o tema região, quando lugares e desejos, permanecendo o pensamento
congrega os temas natureza, espaço e homem, num estágio de letargia, em que as palavras
adquire fetiche especial. A região amazônica é são tomadas em sua pretensa pureza de signo
a fração do território nacional onde estão comunicativo. A Amazônia, por esse meio,
agrupados por um ato de regere sacra uma aparece como algo não passível de
natureza desumanizada, um espaço neutro e questionamentos, principalmente no campo
um homem objeto. Isso é revelado quando discursivo.
olhamos os momentos em que a Amazônia é Quem é o sujeito do discurso que
declarada nos termos da lei, quer com a classifica a Amazônia como fronteira? O
criação da SUDAM e do BASA, com sua área sujeito tem um estatuto que funciona como
de abrangência, quer com a criação dos interdição, indicador de quem pode falar e tem,
chamados pólos de desenvolvimento, nos reconhecidamente, o direito de utilizar de uma
quais, por exemplo, a Albrás\Alunorte e determinada linguagem para discursar sobre
Carajás, constituem estados dentro do estado, algo. Tal reconhecimento, segundo Bourdieu
ou quer com a criação da Zona Franca de (1985), está em função do capital simbólico
Manaus, em todos esses momentos temos um que o enunciante imprime a seu ato discursivo.
E esse capital não é sinônimo de ideologia.
acto mágico [...] [que], introduz por decreto Sendo esta apenas uma dimensão, trata-se
uma descontinuidade decisória na muito mais de uma relação de forças, que em
continuidade natural [...], acto que consiste torno de um objeto desenham todo um campo
em „traçar as fronteiras em linhas rectas’, de lutas.
em separar o „interior do exterior,[...] o Em se tratando de Amazônia e do
território nacional do estrangeiro‟[...]
conjunto de posições que permitem um sujeito
(BOURDIEU, 1989, p. 113-114).
perspectivo representá-la como fronteira,
Nesse discurso não há história, pois verificamos que presidentes, governadores,
aquele que a deveria construir tornou-se superintendentes da SUDAM, dentre outros,
número. Se não há homens para fazer a no período de 1972 a 1985, aparecem como
história, nesses discursos, quem faz é a região sujeitos com este tipo de capital, ainda que
personagem. Elucida-se, por esse meio, a entre eles haja hierarquizações. Mas o sujeito
função enunciativa do tema região nos do enunciado não é aquele que o enuncia. Se,
enunciados dos PDAs: ele consubstancia os por um lado temos esses personagens
silenciamentos do homem no tema natureza, pronunciando-se sobre a fronteira amazônica e
no tema espaço e no tema homem objeto, é alimentando a função enunciativa deste
dessa maneira que o espaço, digo a região, discurso, por outro, temos claro que o estatuto
torna-se sujeito, como se as relações entre do sujeito é o que faz com que os discursos
classes e segmentos sociais fossem relações que emanem deles sejam respeitados.
entre lugares; e não poderia ser de outra forma, Desse modo, devemos perguntar sobre
posto que aquele encarregado de desenhar a as condições de aceitabilidade de determinado
história - ainda que não por sua própria discurso e outro não. Em se tratando da
vontade, nem tampouco pela de Deus - ficou Amazônia e do período em foco, encontramos
mudo, silenciado em números, em bases de na SUDAM o estatuto que imprime à palavra
uma concepção física de espaço e de natureza um tom de verbo. E mais, é de dentro dela que
enquanto despensa. É assim que se fala em emanam as diversas posicionalidades que o
Amazônia explorada, ocupada, produtora de sujeito pode ocupar ou receber quando profere
matérias-primas, integrada ao resto do país, um discurso. Porém, não é esta instituição
como se fosse a Amazônia quem criasse a quem cria seu próprio estatuto e
Amazônia, e construísse sua história espacial, posicionalidades, estas fazem parte e são
numa apologia ao pré-construído. Tem-se a criadas no campo de poder estatal. Trata-se,

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segundo Bourdieu (1996), de um campo que é Art. 1. Fica instituída, nos termos do
palco de lutas com vistas à objetivação de presente Decreto, a „Operação Amazônia‟,
determinado poder de visão e divisão, sendo com a finalidade precípua de mobilizar e
hegemonizado por agentes com estruturas de coordenar os esforços governamentais que
capital, qualitativa e quantitativamente se orientarem em favor do desenvolvimento
e da reformulação da política federal na
superiores ao conjunto dos demais, fazendo região amazônica, no sentido de atualizar e
valer, por esse meio, o seu capital simbólico. dar novas prioridades a programas de
Este, desenvolvimento e de ocupação do território
amazônico.
é a forma que todo tipo de capital assume Art.2. Terão prioridade as providências de
quando é percebido através das categorias de ordem legislativa e de regulamentação de
percepção, produto da incorporação das tarefas executivas que tenham em mira a
divisões ou das posições inscritas na propositiva de alterações na legislação
estrutura da distribuição desse tipo de vigentes, bem como a constituição de
capital(como forte\frágil, grande\pequeno, organismos públicos e privados, segundo o
rico\pobre, culto\inculto, etc). Segue-se que critério de articulação de ação federal
o Estado, que dispõe de meios de impor e de respectiva, na área amazônica (MECOR,
inculcar princípios duráveis de visão e de [196?] p. 2).
divisão de acordo com suas próprias
estruturas, é o lugar, por excelência, da
A „Operação Amazônica‟ ao expressar
concentração e do exercício do poder
simbólico (BOURDIEU, 1996, p. 107). a preocupação do governo com o
desenvolvimento econômico da região, sua
A „Operação Amazônia‟, em 1966, é ocupação racional, o fortalecimento de suas
manifestação desses princípios duráveis de áreas de fronteira e o desejo de integração da
visão e divisão que foi capaz de reinventar a Amazônia ao espaço nacional, consubstancia-
Amazônia, enquanto fronteira. Reinventar a se enquanto projeto onde foram depositados os
região é apresentá-la como parte da nação, anseios de determinados segmentos e classes
planejar políticas públicas que promovem o sociais. Torna-se o exemplo de que para não se
aparecimento da região personagem. Desse submeter à alienação política é necessário
modo, ela já nasce dentro de uma formação alienar-se politicamente; agora, não existem os
discursiva na qual os temas espaço, natureza, interesses específicos de madeireiros
homem e região se fazem presentes, tal como individuais ou em grupos, do capital financeiro
o verificamos, aliás, ela é o próprio desejo de desejando investir na pecuária ou na
imprimir função enunciativa a esses temas: o agricultura, do capital ligado ao setor de
silenciamento do homem e a emergência da mineração ou de produção de energia, por
região como sujeito. exemplo, todos abdicam de suas
A ocupação racional e planejada desse especificidades em função da região; o
espaço, o aproveitamento do vazio econômico interesse privado, por esse meio,
amazônico e a necessidade de unidade na ação metamorfoseia-se em público e vice-versa,
planejadora estatal, em sua política regional, posto que o governo e o capital nacional
com vistas à integração sócio-espacial e privado não obteriam isoladamente sucesso
político-econômica com o país são nessa tarefa, imputam-na à Operação tal
reafirmados nos enunciados dos PDAs. Esse responsabilidade. Ela é a manifestação de
coro é porque os agentes compõem o mesmo interesses plurais, e mais, é o próprio
coral que enuncia em alto e bom som que a denominador comum deste. Tendo essa
Amazônia deve ser ocupada, integrada e natureza, é ela quem distribui os bens
desenvolvida economicamente, constituindo a simbólicos que permitirão a determinadas
„Operação Amazônia‟ um conjunto de instituições e agentes discursarem.
esforços institucionais, legislativos e Dentre as instituições públicas que
executivos neste sentido. foram batizados pela „Operação Amazônica‟,
passando a fazer parte de sua constituição, e,

Bol. geogr., Maringá, v. 29, n. 2, p. 17-31, 2011 25


portanto, tendo o estatuto de falar sério e a cabem à SUDAM convida-nos a pensá-la
posicionalidade de onde se pode falar, a enquanto exemplo de delegação. Mas tal
SUDAM é o que mais se destaca. natureza só é percebida quando se temos em
Nascendo vinculada ao Ministério do conta o silenciamento do homem nos discursos
Interior, responsável pela orientação superior dos PDAs, que enunciam a Amazônia como
da ação federal na Amazônia, a SUDAM fronteira, emergindo, assim, a região como
constitui-se em entidade autárquica, com personagem. Somente este silenciamento
personalidade jurídica e patrimônio próprio, permite que a SUDAM pouse como exemplo
cujas atribuições são, dentre outras: de delegação.
Delegar aqui é fazer-se representar por
Art. 10. São atribuições da SUDAM. meio de um discurso de outro, é “encarregar
a)-elaborar o Plano de Valorização Econômica alguém de uma função, de uma missão,
da Amazônia e coordenar ou promover a sua
execução, diretamente, ou mediante convênio
transmitindo-lhe o próprio poder que se tem”
com órgãos ou entidades públicas, inclusive (BOURDIEU, 1990, p. 188). Desse modo, as
sociedades de economia mista, ou através de atribuições da SUDAM constituem exemplo
contrato com pessoas ou entidades privadas; de delegação. Em outros termos, os diferentes
[...] agentes sociais que desenham o arranjo
c)-coordenar as atividades dos órgãos e entidades
federais e supervisionar a elaboração dos seus
espacial amazônico e constroem discursos
programas anuais de trabalho; sobre esse espaço não poderiam criar cada um,
d)-coordenar a elaboração e a execução dos segundo suas particularidades, atribuições
programas e projetos de interesse para o legais e institucionalizá-las. O que emerge,
desenvolvimento econômico da Amazônia a então, é um conjunto de leis que norteiam suas
cargo de outros órgãos ou entidades federais;
[...]
ações e possibilitam a emergência da
Amazônia enquanto fronteira.
g) fiscalizar a elaboração e a execução dos Todavia, temos que ter claro que essas
programas e projetos integrantes do Plano de atribuições manifestam interesses particulares
Valorização Econômica da Amazônia ou de e restritos, apenas uma parcela das múltiplas
interesse para o desenvolvimento econômico da
região a cargo de outros órgãos ou entidades
territorialidades existentes nesse espaço.
federais; Expressam precisamente alguns setores do
h) fiscalizar o emprego dos recursos financeiros capital, quer ligado à mineração, à agricultura,
destinados ao Plano de Valorização Econômica à pesca, ao setor energético ou de transportes,
da Amazônia, inclusive mediante o confronto de por exemplo; setores que tentam desbravar a
obras e serviços realizados, com os documentos
comprobatórios das respectivas despesas;
floresta, integrar os espaços, ocupar os vazios
i)- julgar da prioridade dos projetos ou e desenvolver economicamente a região. As
empreendimentos privados, de interesse para o atribuições da SUDAM foram feitas para
desenvolvimento econômico da Região visando à atender a esse segmento heterogêneo e elas
concessão de benefícios fiscais ou de expressam seus anseios, daí se falar em
colaboração financeira e a sua adequação às
respectivas finalidades;
SUDAM como delegação, como
j)- sugerir, relativamente à Amazônia, as materialização de ansiedades individuais que
providências necessárias à criação, adaptação, não poderiam ser efetivadas como tal,
transformação ou extinção de órgãos ou necessitando de uma instituição que se
entidades, tendo em vista sua capacidade ou preocupasse em discursar para todos, para a
eficiência e a sua adequação às respectivas
finalidades;
região. Assim, essas atribuições não estão
[...] direcionadas discursivamente em função do
m)- praticar todos os demais atos necessários as capital, em suas várias formas, mas da região.
suas funções de órgão de planejamento, Há novamente a exaltação da região
promoção e coordenação dos desenvolvimento personagem em detrimento dos homens
econômico da Amazônia, respeitando a
legislação em vigor (BRASIL, 1968, p. 3-4).
concretos que constroem sua dinâmica, em
outros termos, voltamos a nos deparar com o
Esse conjunto de atribuições que silenciamento do homem.

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Não sendo uma pessoa, a SUDAM age O fato das ações políticas da SUDAM
como se fosse, dada a concentração de capital manifestarem estruturas particulares de capital
simbólico que possui. Trata-se de uma e trabalhar em função das mesmas é
estrutura de capital que pode ser exemplificada constatado, ainda, quando visualizamos o
de várias maneiras. Ele é visualizado quando FIDAM, a legislação de concessão de
se tem em conta que o superintendente da incentivos fiscais e o BASA, todos compondo
referida instituição é nomeado pelo presidente a chamada „Operação Amazônia‟.
da república por indicação do ministro do Os recursos do FIDAM, Fundo para
interior e demissível ad nutum. Investimentos no Desenvolvimento da
Ele está presente na composição do Amazônia, são aplicados na região via Banco
Conselho Deliberativo da SUDAM: da Amazônia,

Art. 16. O Conselho Deliberativo é [...] diretamente ou através de repasses ou


integrado pelo Superintendente da SUDAM, refinanciamentos por ele feitos a outras
pelo Presidente do Banco da Amazônia S.A, instituições financeiras, segundo programas
por um representante do estado-maior das anuais e normas estabelecidas pela SUDAM,
Forças Armadas, um Superintendente da sem prejuízo das atribuições específicas do
Zona Franca de Manaus, um de cada Estado Banco Central:
ou Território integrante da Amazônia, um do a)- através de crédito à iniciativa privada
Banco Nacional de Desenvolvimento para investimentos em empreendi mentos
Econômico, um do Instituto Nacional do declarados pela SUDAM prioritários ao
Desenvolvimento Agrário, um do Instituto desenvolvimento da Região;
Brasileiro de Reforma Agrária, um da b)- através de financiamentos à iniciativa
Fundação de Serviço Especial de Saúde privada para pesquisas que visem o
Pública, um do Conselho Nacional de aproveitamento de recursos naturais da
Pesquisa e um de cada Ministério a seguir Região. (BRASIL, 1968, p. 13-14).
mencionados: Agricultura, Comunicações,
Educação e Cultura, Fazenda, Minas e O BASA aparece, então, junto com a
Energia, Planejamento, Relações Exteriores, SUDAM, como instrumento de redenção da
Saúde, Indústria e Comércio, Trabalho e Amazônia, cuja riqueza deixará de ser uma
Previdência social e Transportes. (BRASIL, fábula. Este banco executará a política relativa
1968, p. 6)
ao crédito para o desenvolvimento econômico
e social da Amazônia, sendo um agente
Ele se faz presente, também, nas
financeiro da SUDAM na aplicação de
atribuições deste Conselho, dentre outras:
recursos para tal tarefa. E é para que tal tarefa
seja concretizada que emerge, também, a
Art. 11. Compete ao conselho Deliberativo:
política de concessão de incentivos fiscais.
a)- Opinar sobre o Plano de Valorização
Econômica da Amazônia e as suas revisões Art.1º - Na forma da legislação fiscal
anuais e encaminhá-los à aprovação da aplicável, gozarão as pessoas jurídicas, até o
autoridade competente; exercício de 1982, inclusive, de isenção de
b)- acompanhar a execução do Plano de imposto de renda e quaisquer adicionais a
Valorização Econômica da Amazônia, que estiverem sujeitos, nas bases a seguir
através de relatórios periódicos apresentados fixadas, com relação aos resultados
pelo superintendente; financeiros obtidos de empreendimentos
c)- recomendar a adoção de medidas econômicos situados na área de atuação da
tendentes a facilitar ou acelerar a execução Superintendência da Amazônia e por esta
de programas, projetos e obras relacionadas considerados de interesse para o
com o desenvolvimento da Amazônia; desenvolvimento da Região amazônica,
e)- aprovar normas e critérios gerais de conforme as normas regulamentares a serem
análise de projetos e aplicação da legislação baixadas por decreto do Poder Executivo.
e incentivos fiscais. ((BRASIL, 1968, p. 5) [...]
Art.17.Todas as pessoas jurídicas registradas

Bol. geogr., Maringá, v. 29, n. 2, p. 17-31, 2011 27


no País poderão deduzir no imposto de renda constituído pelo conjunto desta legislação que
e seus adicionais.”( (BRASIL, 1968, p. 35- permite a Amazônia ser enunciada dessa
36). forma. O local de onde esse discurso é
proferido é a SUDAM, dada a própria
A legislação que rege a Operação concentração e centralização do capital
Amazônia, a SUDAM, o BASA, o FIDAM e a simbólico delegado a essa instituição pelos
concessão de incentivos fiscais manifestam diversos setores da sociedade, notadamente o
determinadas estruturas de capital. Trata-se de segmento representante do capital.
uma legislação, segundo a qual a região, a
Amazônia, é priorizada, silenciando os sujeitos 6 CONCLUSÃO
concretos, nela temos o enunciado
desenvolvimento econômico como único As palavras sonham tornarem-se
objetivo da sociedade, em detrimento de coisas; os discursos são o deve ser, constituem
outros, como justiça social, segurança, respeito um tipo de vontade de verdade. Os planos de
à liberdade e diversidade, além da preservação desenvolvimento da Amazônia ao tentar
dos recursos naturais. representar discursivamente a região como
É essa legislação que desenha a espaço vazio, não significa que ela seja; caso
posicionalidade dos diferentes sujeitos que contrário, resumiríamos o real à representação
enunciam a Amazônia como fronteira, aliás, que dele se faz. O espaço vazio é mais que
essa legislação alimenta o discurso. Qualquer uma representação discursiva, ele possui
sujeito que discurse dentro desse conjunto de materialidade. É considerando-a que
leis enunciará a Amazônia como fronteira, entendemos o porquê de espaço vazio, aos
posto que a estrutura é maior que o sujeito poucos, ele se transforma em espaço de lutas,
individual, sendo seu silenciamento, ou manifestação de poderes de visão e divisão.
melhor, a estrutura é a morte do sujeito. Ela Outros discursos entram em cena, adentram o
aprisiona os falares, fornecendo-lhes palco social, permitindo a emergência de
substância, ditando o que é permitido falar e conflitos, mesmo sem que os planos e políticas
quem fala. Ela é a condição que torna possível federais para a Amazônia a admitam.
a emergência da Amazônia Fronteira, e isso só A representação discursiva de
é possível à medida que esse discurso está espaço vazio, assim como o de homem objeto
dentro de uma formação discursiva composta e natureza, fonte de recursos presentes nesses
de temas que silenciam o homem. planos, trazem consideráveis implicações.
A posicionalidade do sujeito no Entendido dessa forma, o homem objeto é o
discurso de Amazônia Fronteira é o local onde principal meio através do qual se pretendia
institucionalmente ele recebe vida, função ocupar o espaço vazio - e por ser vazio, esse
enunciativa. Daí nesse conjunto de leis homem proviria de outros espaços, seria um
encontrarmos as regularidades discursivas, migrante.
práticas que normatizam o falar, interdição do O migrante tem por assim dizer uma
sujeito, do objeto, mostrando claramente que, trajetória discursiva. Inicialmente constituem
dentro deste conjunto de regularidades que se excedentes populacionais, no caso dos
confunde com leis, só se pode falar de chamados migrantes nordestinos, esse
Amazônia se for enunciada como fronteira. excedente populacional era formado por não
Isso tem plena relação com os PDAs, visto que proprietários dos meios de produção, mas não
constituem formas de ação planejadora do porque estes se encontrassem altamente
campo estatal para a designada região. Eles desenvolvidos, mas sim porque formas
são regidos pela SUDAM, balizados por um tradicionais de propriedade fundiária não
conjunto de leis, desse modo os temas abrem mão de seus domínios e não criam
enunciativos que fazem emergir o discurso de condições para a racionalização do processo
fronteira amazônica têm suas posicionalidades produtivo. É assim que o excedente
nessas leis. O sujeito desse discurso é populacional dirigido para a Amazônia, de

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certa forma, vai buscar esse espaço vazio, um desenvolvimento da Amazônia temos um
espaço que ainda não tinha sido cercado, pois conjunto de enunciados por meio dos quais se
é expulso pela cerca que o migrante vem, e constrói um discurso e uma representação de
não pela seca, como a ideologia da „indústria região personagem, conceito obstáculo.
da seca‟ queria que acreditássemos. Quando essa categoria é representada
Jean Hébette (2004a) analisa a como personagem edifica-se um verdadeiro
trajetória dos migrantes e dos projetos de obstáculo que dificulta o entendimento dos
colonização. As várias correntes migratórias jogos de interesses no bloco do poder e isso se
quando adentram no espaço vazio amazônico faz presente nos planos regionais de
são convertidos em recursos humanos para desenvolvimento.
explorar uma natureza, estoque de recursos. Milton Santos (2006) inclui o
Mas esses recursos humanos precisam de terra planejamento dentre as causas do
para que o aproveitamento da natureza fosse subdesenvolvimento. Isso é reiterado na
materializado. Nesse momento os migrantes Amazônia e a sua dinâmica territorial, durante
percebem que o espaço vazio não existe as últimas quatro décadas do século XX e a
quando se trata de dinâmica territorial. O que primeira do XXI, não pode ser compreendida
ele encontra é, segundo Oliveira Filho (1979, sem o exame atento dos Planos de
p.113) ação da ideologia da fronteira, cabendo Desenvolvimento da Amazônia, Plano
a essa ideologia transmitir aos indivíduos Amazônia Sustentável, Plano Nacional de
notícias concretas e parâmetros de comparação Ordenamento Territorial, Programa de
que tornem a migração uma escolha vantajosa, Aceleração do Crescimento, e os Planos
aliciando para esse movimento grandes massas Plurianuais. Um plano mais audacioso e
humanas apesar dos riscos e dos custos que arrojado que o outro. Em todos consta entre os
envolvem. objetivos e metas: “eliminar as desigualdades
Os interesses dos migrantes regionais e sociais”. Os dados e fatos indicam
entram em choque com a própria estrutura de que ainda estamos longe de alcançar a
poder que lhes estimulou a migrar, entram em eliminação das desigualdades regionais e
choque também com outros agentes presentes sociais.
nesse espaço, que não é vazio. A partir daí, A história dos planos de
não fica difícil entender porque o espaço vazio desenvolvimento na Amazônia revela que,
se tornou espaço de conflitos, segundo independentemente da matriz escalar ser a
Bourdieu (1989) palco, produto e região ou o território, eles apenas sistematizam
condicionante de lutas pelo poder de visão e a vontade de comandos exógenos aos lugares
divisão. para onde foram elaborados. Aliás, nessa
A ideia de natureza, enquanto região, o planejamento do desenvolvimento se
fonte de recursos, é outro elemento discursivo confunde com ações políticas estatais para
nas mãos dos planejadores quando eles viabilizar usos do território mais rentáveis para
pensam, constroem e instituem políticas os investidores estrangeiro.
regionais para a Amazônia. Tendo essa ideia Os problemas sociais, ambientais,
em mente que se desencadeiam vários econômicos, em suma o preço territorial que o
programas e projetos para conhecer melhor a estado paga por essa perda de autonomia é alto
diversidade e as possibilidades econômicas demais. Segundo Pinto (2009), o Pará torna-se
oferecidas para esse espaço. Do avanço dessas estado colonial por causa da sua função
pesquisas e do poder dos interesses que as extrativa, não consegue transformar seu
envolvem a nível regional, nacional e crescimento em progresso. O modelo continua
internacional, emerge o papel da região na a ser o do rabo de cavalo: crescimento para
divisão espacial do trabalho, chegamos assim à baixo.
ideia de região funcional. O ônus desse modelo revela-se em
Trabalhamos com a hipótese todos os quadrantes do território paraense, por
estruturadora de que nos planos de exemplo, a cada nova área de ocupação urbana

Bol. geogr., Maringá, v. 29, n. 2, p. 17-31, 2011 29


e rural construída nos arredores de Pinto. 2009. Disponível em:
empreendimentos programados, legitimados e <http://www.lucioflaviopinto.com.br/?p=1212
em muitos casos financiados com dinheiro >. Acesso em: 26 ago. 2010.
público. Espaços onde a cidadania está longe
de ser realizar. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. história
O que revela uma espécie de da violência nas prisões. Petrópolis, RJ:
esquizofrenia do desenvolvimento e do Vozes, 1993.
território, posto que os empreendimentos
minerais, energéticos e agropecuários GREENBLATT, Stephen. Possessões
constituem verdadeiros eventos que maravilhosas: o deslumbramento do novo
desorganizam o lugar, remexendo-o, mundo. São Paulo: Edusp, 1996.
desequilibrando-o, em suma des-envolvendo-o.
Isso porque se trata de um desenvolvimento GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS.
construído para beneficiar quem não está no Operação amazônica e a integração
lugar onde tais empreendimentos aportam. nacional: Discursos. Manaus: Secretaria de
Portanto, permitindo que a dinâmica territorial Imprensa e Divulgação, 1967.
local seja esquizofrênica, isto é, no lugar
realizam-se ações e constroem-se processos HÉBETTE, Jean. Cruzando fronteira: 30
produtivos que atentam contra a condição de anos de estudo do campesinato na Amazônia.
existência o lugar. Esquizofrênico porque Belém: EdUFPA, 2004a. v. 1. (Migração,
pensa em desenvolver a região ao mesmo colonização e ilusões de desenvolvimento).
tempo em que oculta e não cria possibilidades
de escolha aos habitantes do lugar. ______. Cruzando fronteira. 30 anos de
estudo do campesinato na Amazônia. Belém:
REFERÊNCIAS EdUFPA, 2004b. v. 2. (A questão agrária:
problemas e conflitos não resolvidos).
BOURDIEU, Pierre. “¿Qué significa hablar?
Madrid: Akal. 1985. LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve, em
primeiro lugar, para fazer a guerra. 2. ed:
______. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Campinas, SP: Papirus. 1989.
Berthand do Brasil S/A. 1989.
MACHADO, Roberto. Ciência e saber: a
______. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense. trajetória arqueológica de Foucault. 2. ed. Rio
1990. de Janeiro: Edições Graal, 1988.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a MECOR. Operação Amazônia (relatório


teoria da ação. Campinas, SP: Papirus. 1996. ministerial apresentado à consideração do
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PINTO, Lúcio Flávio. O Pará atrasado. Jornal
Pessoal: a agenda amazônica de Lúcio Flavio

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paradigmática do mundo moderno. [s.n.]: Obra
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geográfico?. São Paulo: Contexto, 2006.

OLIVEIRA FILHO, João Pachêco de. O


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______. Plano de desenvolvimento da


Amazônia: (1992-95). 3 Versão Consolidada.
(Resumo Executivo). Belém, 1992.

______. Plano de desenvolvimento da


Amazônia: (1994-1997). Belém, 1993.

Data de envio: 26.08.2010


Data de aceite: 08.10.2010

Bol. geogr., Maringá, v. 29, n. 2, p. 17-31, 2011 31

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