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CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
FORTALEZA-CEARÁ
2022
GEORGIA TATH LIMA DE OLIVEIRA
FORTALEZA-CEARÁ
2022
GEORGIA TATH LIMA DE OLIVEIRA
BANCA EXAMINADORA
A Deus, sempre. Pelo dom da vida e por todas as pessoas que me permitiu encontrar
em meu percurso.
À minha mãe, Liduina Arruda, por ter me ajudado a dar os primeiros passos.
À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Ana Cristina de Moraes, por ter acolhido minha
proposta de investigação, ter me orientando de maneira segura, sensível e criativa e
por sua disposição em abraçar o tema da audiodescrição na formação estética de
pedagogos, ampliando os espaços de diálogo sobre o mesmo.
À Izabel Soares, por estar todos os dias ao meu lado, aprendendo junto comigo.
À UECE, instituição que, desde 2013, vem sendo fundamental para minha formação
acadêmica e profissional.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UECE, por estar me
possibilitando essa oportunidade de formação acadêmica.
A todos do Grupo de Pesquisa Investigação em Arte, Ensino e História (IARTEH),
pelas partilhas sensíveis sobre Arte e estética, fundamentais para muitas
aprendizagens em minha vida acadêmica.
A todos do Grupo de Pesquisa Legendagem e Audiodescrição (LEAD), tendo sido no
âmbito do mesmo que aprendi, e sempre aprendo, sobre audiodescrição (AD).
Aos professores do PPGE da UECE, por terem me ensinado para além dos
conteúdos, trazendo suas próprias experiências como exemplos de aprendizagem e
de superação de limites.
Aos coordenadores do PPGE da UECE, Prof. Dr. José Airton de Freitas Pontes Junior
e Prof.ª Dr.ª Ana Cristina de Moraes, por tão brilhante condução de um programa de
pós-graduação tão grande e importante no cenário da pesquisa em Educação no país.
Aos professores que aceitaram participar de minha banca de qualificação: Prof.ª Dr.ª
Alexandra Frazão Seoane que, desde 2013, tem me ensinado muito sobre AD,
respeito e parceria; Prof. Dr. Jefferson Fernandes Alves, o qual acompanho seu
brilhante trabalho na área de AD na Educação, a quem, por isso, entreguei meu
projeto para apreciação e contribuição; e Prof.ª Dr.ª Giovana Maria Belém Falcão, a
quem admiro muito por sua atuação no campo da inclusão de PcDs, acrescentando
valiosas contribuições a esta pesquisa.
Aos professores que aceitaram participar de minha banca de defesa: Prof.ª Dr.ª
Alexandra Frazão Seoane, Prof. Dr. Jefferson Fernandes Alves, Prof.ª Dr.ª Giovana
Maria Belém Falcão e Prof.ª Dr.ª Tânia Maria de Sousa França, pessoa que admiro e
a quem entrego minha dissertação em troca de uma escuta sensível.
Aos meus colegas da turma 2020 do curso de Mestrado Acadêmico em Educação, só
nós sabemos da força que precisamos despender para, desde março de 2020,
percorrer esse caminho de descobertas ao longo desse período de pandemia e
isolamento social, apesar das incertezas e de tantas perdas.
À Rosângela e Jonelma, por serem uma importante presença na secretaria do PPGE
da UECE, sempre dispostas a ajudar a nós alunos, minimizando nossas dúvidas e
anseios, além de sempre terem uma palavra de conforto quando as coisas parecem
mais difíceis do que realmente são dentro de um programa de pós-graduação.
“Neste momento, uma voz está lendo estas
palavras em sua
cabeça, dentro da sua imaginação, e já
não é mais a minha voz.
Eu não sei como ela é, mas espero que
seja doce e suave. Seus
pensamentos estão dançando com os
meus, e já não sei mais
onde eu termino e você começa, e esta é a
relação mais íntima
que eu já tive com alguém. Obrigado por
estar aqui”
(SALOMÃO, 2018, p. 6).
RESUMO
AD audiodescrição
DV deficiência visual
EB educação básica
EE educação especial
EF ensino fundamental
EI educação inclusiva
EM ensino médio
EQ Estado da Questão
ES ensino superior
IC iniciação científica
LA Linguística Aplicada
MS Ministério da Saúde
TA tecnologia assistiva
1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 17
1.1 Meu encontro com o objeto de pesquisa...................................... 17
1.2 Estado da Questão: delimitando o objeto da pesquisa................. 29
1.3 Apresentação geral do estudo........................................................ 44
1.3.1 Problematização, justificativa, pergunta de investigação e objetivos. 46
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................ 55
2.1 Formação de Professores............................................................... 56
2.2 A disciplina Arte-Educação............................................................. 60
2.2.1 Arte-Educação na FACEDI/UECE..................................................... 64
2.3 Experiência estética para uma formação estética......................... 68
2.3.1 Formação estética de pedagogos...................................................... 69
2.4 Audiodescrição................................................................................ 74
2.4.1 AD: um breve histórico...................................................................... 75
2.4.2 AD no âmbito do ensino e artístico-cultural........................................ 77
3 METODOLOGIA................................................................................ 83
3.1 Tipo de estudo.................................................................................. 84
3.2 Interlocutores, lócus de desenvolvimento do estudo e corpus
de pesquisa...................................................................................... 87
3.3 Etapas e procedimentos de pesquisa............................................ 90
3.3.1 Esclarecimentos iniciais..................................................................... 90
3.3.2 Momento pós-qualificação de projeto de pesquisa........................... 91
3.3.3 O primeiro contato.............................................................................. 92
3.3.4 Segundo encontro.............................................................................. 94
3.3.5 Terceiro e Último Encontro................................................................. 104
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DE PESQUISA...... 114
4.1 Sobre os critérios de inclusão e quantitativo de participantes.... 114
4.2 O que nos revelam os dados produzidos na pesquisa.................. 114
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 143
REFERÊNCIAS................................................................................. 146
APÊNDICES...................................................................................... 154
APÊNDICE A - CATEGORIAS RESULTANTES DA BUSCA NA
BDTD COM O DESCRITOR “AUDIODESCRIÇÃO”/“ÁUDIO-
DESCRIÇÃO”................................................................................... 155
APÊNDICE B - ACHADOS DA BUSCA COM O DESCRITOR
“AUDIODESCRIÇÃO”/“ÁUDIO-DESCRIÇÃO” NA BDTD.............. 158
APÊNDICE C - CATEGORIAS RESULTANTES DA BUSCA COM
O DESCRITOR “AUDIODESCRIÇÃO”/“ÁUDIO-DESCRIÇÃO” NA
BTD/CAPES...................................................................................... 160
APÊNDICE D - ACHADOS DA BUSCA COM O DESCRITOR
“AUDIODESCRIÇÃO” NA BTD/CAPES.......................................... 164
APÊNDICE E - ACHADOS DA BUSCA COM O DESCRITOR
“AUDIODESCRIÇÃO/ “ÁUDIO-DESCRIÇÃO NO PORTAL DE
PERIÓDICOS CAPES....................................................................... 166
APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO – TCLE.................................................................... 168
APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO COM PERGUNTAS DE
APROXIMAÇÃO AO TEMA DA AUDIODESCRIÇÃO...................... 170
APÊNDICE H - QUESTIONÁRIO PÓS-FORMAÇÃO EM
AUDIODESCRIÇÃO NA DISCIPLINA ARTE-EDUCAÇÃO DO
CURSO DE PEDAGOGIA................................................................. 171
ANEXOS............................................................................................ 172
ANEXO A - FOTOGRAIFAS E AUDIODESCRIÇÕES FEITAS
PELOS PARTICIPANTES DE PESQUISA........................................ 173
ANEXO B – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DE
DISSERTAÇÕES E TESES ELETRÔNICAS.................................... 182
17
1 INTRODUÇÃO
1
Nesta subseção utilizarei a primeira pessoa do singular, primeiro para situar-me na construção do
processo de aproximação ao objeto de pesquisa e, segundo, para ressaltar as experiências que
vivenciei ao longo de minha formação, tanto de vida, como docente e profissional.
18
Embora não vá narrar todo meu percurso formativo, não é essa minha
intenção, considero que preciso dar destaque a alguns aspectos de minhas primeiras
experiências escolares, quando comecei a conviver com a diferença2, além de relatar
outras vivências que tive no ensino superior (ES), graduação e pós-graduação, e no
mundo do trabalho, as quais, creio, vêm orientando e justificando as escolhas que
venho fazendo até o momento.
Nesse sentido, lembro que na primeira escola em que estudei, uma grande
instituição, tanto em reconhecimento social quanto em dimensões físicas, havia
crianças com e sem deficiência, conceitos que somente fui apreender muito depois,
quando estive em um curso de especialização em educação inclusiva (EI), o qual
mencionarei mais adiante.
Naquele tempo, essa escola já cumpria um importante papel social ao
tentar oferecer um ensino inclusivo, reunindo alunos com e sem deficiência nos
mesmos espaços de aprendizagem e de convivência, o que somente passou a ser
discutido na década seguinte, quando da realização de conferências 3 que trouxeram
a público o tema da inclusão escolar de pessoas com deficiência (PcDs), como a
Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia,
no ano de 1990, e a Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em
Salamanca, Espanha, no ano de 1994.
Mas, naquele momento, a diferença que eu percebia era a de que havia as
crianças que podiam brincar e as que não podiam brincar, eu estava no segundo
grupo. Embora não tenha deficiência, eu era uma das crianças que, nos momentos
de recreio ou até mesmo nas aulas de recreação, não podia brincar como as demais.
Tendo nascido asmática, havia uma recomendação médica de que eu nunca ficasse
em espaços onde houvesse sol, que fossem abafados ou que tivessem poeira, além
de que eu também fosse impedida de realizar qualquer esforço físico.
Por conta disso, quando saíamos de sala, eu ficava sentada onde havia
sombra e era ventilado, enquanto as demais crianças de minha turma brincavam em
2
Diferença aqui entendida na acepção de Silva (2000), ou seja, uma situação social para a qual são
criados sentidos, representando uma disputa, ou luta, em torno desses sentidos artificialmente
criados.
3
Dessas duas conferências resultaram dois documentos considerados fundamentais para o início do
processo de implementação de uma educação antidiscriminatória e baseada nas potencialidades e
características individuais dos estudantes, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos
(UNESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), dos quais o Brasil é signatário.
19
uma grande caixa de areia ao ar livre, um verdadeiro paraíso lúdico, o qual eu não
podia acessar. Eu sempre ficava junto de uma menina de minha sala, que usava
cadeira de rodas, e que eu acreditava que também fosse asmática e, por conta disso,
não podia brincar, assim como eu. Lembrando dela nesse momento, além de uma
limitação física, arrisco dizer que, talvez, minha coleguinha tivesse hidrocefalia, devido
a características físicas bem evidentes4 e porquê de sua cabeça e nariz saíam finas
sondas que se conectavam a alguns equipamentos em sua cadeira.
Ela não falava e eu também falava muito pouco, pois me cansava bem
rápido. Então, nas aulas de recreação, ficávamos nós duas sentadas, assistindo ao
longe as demais crianças. Nós ríamos bastante com as brincadeiras e esse contato,
além de uma identificação que estabeleci com ela, fez com que nos tornássemos
muito próximas. Na sala de aula passamos a sentar na mesma mesinha, na roda de
contação de histórias ficávamos uma ao lado da outra, no momento de sair de sala
para qualquer atividade, sob a supervisão da professora, eu conduzia sua cadeira de
rodas e quando, infelizmente, ela não pôde mais ir às aulas eu desejei não mais ter
que ir também.
Como essa escola era bem distante de minha casa, fui matriculada em
outra no mesmo bairro em que vivo até hoje. Era uma escola bem pequena, diferente
da anterior. Eu estava na 1ª série do ensino fundamental (EF) e na minha sala havia
uma menina que tinha sido atropelada, fato que a deixou com algumas sequelas
físicas e motoras: uma de suas pernas havia ficado mais curta e, após ter saído de
um coma, decorrente de seu atropelamento, ela não conseguia mais falar e, aos 10
anos5, estava reaprendendo a se comunicar oralmente.
Esse impedimento na fala havia se convertido em um grave obstáculo para
sua socialização escolar, pois sempre que tentava dizer algo em sala de aula, os
outros alunos a imitavam, em tom de zombaria, fazendo com que ela se isolasse. Eu
podia não ter a real dimensão das dificuldades que ela enfrentava com suas limitações
físicas e motoras, mas eu também passava por situações bem desagradáveis em
relação à minha socialização na escola.
4
Além da ausência de fala e de locomoção, minha coleguinha tinha o crânio aumentado, apresentava
sialorreia e espasmos nas pernas.
5
Devido ao acidente e ao longo processo de recuperação, a menina em questão teve dificuldades em
acompanhar o tempo da aprendizagem escolar, o que a fez ficar atrasada com relação ao aspecto
idade-série.
20
Por conta da asma e da extrema magreza, recebi alguns apelidos por parte
desses mesmos alunos e, devido a isso, também não me sentia muito à vontade para
participar de determinadas atividades em sala, principalmente quando era para me
expressar em voz alta, tampouco me interessava participar das brincadeiras no
recreio. Eu não relatava essas situações em casa para não preocupar minha mãe,
que já tinha tantos problemas por ser mãe solteira de três crianças, sendo eu a mais
velha, além disso, eu achava que era só “implicância” das outras crianças e que eu
mesma deveria resolver a situação, isso aos 7 anos de idade. O fato é que, mais uma
vez, me aproximei de quem eu percebia que fosse mais semelhante a mim, o que
acabou resultando em uma parceria, pois, quando ela precisava, escrevia em meu
caderno o que queria que eu dissesse ou perguntasse à professora e eu não me sentia
mais tão sozinha na escola.
Logo em seguida, estudei em outra instituição, na qual, assim como a
primeira, havia alunos com e sem deficiência. Lá tive colegas surdos, com deficiência
física e visual. Naquele momento, acredito que por ter um pouco mais de idade, dos
9 aos 12 anos, passei a perceber que determinados comportamentos e comentários
não eram simplesmente “implicância” vinda de crianças e adolescentes, e até mesmo
de adultos. Eu percebia que “ser diferente” despertava certas reações em algumas
pessoas, mas não compreendia o porquê, e isso foi me incomodando cada vez mais.
Um exemplo do que falo se refere a algumas experiências que vivenciei nos
momentos de entrada ou de saída da escola, quando pessoas, que sabiam que ali era
uma escola onde estudavam crianças com deficiência, passavam e diziam: “Abriram
a porta do hospício, lá se vão/vem os doidos”, e seguiam rindo da “piada”.
Somente muito depois soube o que significavam termos como preconceito
e estigmatização, atitudes que exercem grave influência negativa na vida de PcDs e
na de quem convive com elas, até mais graves do que as próprias limitações impostas
pela deficiência, podendo, inclusive, impedi-las de viverem plenamente em sociedade
(SCHILLING; MIYASHIRO, 2008). Quando me recordo dessas experiências, mais
tenho a certeza da urgência de agirmos no sentido de superar esse tipo de barreira
atitudinal, principalmente nós, professores, que podemos exercer, até determinado
ponto, certa influência na formação de nossos alunos.
Anos depois, quando ingressei no meu primeiro curso de graduação,
Licenciatura Plena em Educação Física (EFís.), numa instituição de ensino superior
(IES) pública federal, verifiquei que o currículo oferecia, a partir do terceiro semestre,
21
6
Retirei essas informações da tese de Pontes (2013), pois no site da instituição não há referências
históricas e, tampouco, informações sobre currículos anteriores do referido curso. Como estamos em
um momento de isolamento social, o qual mencionarei mais adiante, não foi possível conseguir essa
informação in loco. Pontes é professor do referido curso e foi meu professor durante o tempo em que
fui aluna do mesmo.
7
Concluí a licenciatura com habilitação em EFísesc.
22
8
Sempre às segundas-feiras havia cacos de vidro, de copos e garrafas quebrados, além de restos de
espetos de churrasco. Um dia, durante uma aula, um de meus alunos pisou em um desses espetos
que estava enfiado na areia com a ponta para cima, o qual atravessou da sola ao peito de seu pé.
Tive que finalizar a aula antes da hora para levar o aluno até o hospital público mais próximo.
9
“[Lexicologia] Ramo da linguística que se dedica ao estudo dos itens lexicais de uma língua nos seus
variados aspectos (etimológicos, fonéticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, etc.);
"lexicologia". In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021,
https://dicionario.priberam.org/lexicologia [consultado em 30 maio 2020].
23
10
A linha de pesquisa desse grupo é sobre Legendagem e Audiodescrição (LEAD), o que terminou
tornando o grupo mais conhecido pela sigla, grupo LEAD, do que propriamente por seu nome oficial
cadastrado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
24
principalmente em espaços com estrutura física muita antiga, como é o caso dos
campi nos quais trabalhava, um sendo da década de 1940 e o outro de 1970, me
questionei como ainda é possível que, nos dias de hoje, as barreiras atitudinais
continuem excluindo mais do que a própria deficiência, pois o simples fato de trazer o
evento para o térreo do prédio, resolveria a situação.
Em 2018, antes de finalizar o mestrado em Linguística Aplicada (LA),
comecei a participar ativamente dos encontros de outro grupo de pesquisa,
Investigação em Arte, Ensino e História (IARTEH), vinculado ao Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGE) da UECE, o que vem influenciando bastante em
meu desenvolvimento acadêmico e profissional, particularmente no que tange à
formação de professores e o ensino de Arte11.
Em 2019 fui contratada como assistente técnica pela UECE para atuar na
Comissão Permanente de Acessibilidade e Mobilidade das Pessoas com Deficiência
(CPAcesso)12, principalmente, como formadora em AD para os professores dessa
instituição, devido à grande demanda de alunos com deficiência visual (AcDVs) que
passaram a ingressar nos diferentes cursos de graduação, especialmente, por meio
da Lei nº 16.197, de 17 de janeiro de 2017, que “Dispõe sobre a Instituição do Sistema
de Cotas nas Instituições de Ensino Superior do Estado do Ceará” (CEARÁ, 2017).
Além de formadora, passei a realizar outras atividades, como apoio na elaboração de
material didático acessível com AD e transmissões de AD ao vivo nos eventos remotos
da UECE, tornando-os acessíveis a alunos e professores com DV.
Também devido à minha contratação como técnica da CPAcesso/UECE,
em 2019 tive a grata oportunidade de ser convidada pela coordenadora do curso de
especialização em EI da UECE a ministrar uma formação em AD para os alunos. Mais
recentemente, em 2020, fui novamente convidada pela coordenadora da mesma pós-
11
O início de meu contato com a Arte, não só como espectadora, mas como investigadora, se deu
quando passei a pesquisar sobre AD de obras de arte, quadros, em 2014. Esse contato me despertou
um maior interesse sobre a área, pois, embora esteja intensamente relacionada ao sentido da visão,
podendo vir a ser considerada inacessível para PcDVs, a Arte ativa os outros sentidos humanos,
sensibilizando-nos de tal maneira que podemos experienciar a fruição artística e estética de distintas
formas, a exemplo das pessoas que não enxergam.
12
Essa comissão foi extinta no final do ano de 2020, quando a portaria de designação dos servidores e
colaboradores para comporem a CPAcesso, nº 872/2020, da Fundação Universidade Estadual do
Ceará (FUNECE), expirou em 31 de dezembro de 2020 e não foi renovada. Em seu lugar, foi instituído
o Núcleo de Apoio à Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, Transtornos Globais do
Desenvolvimento, Altas Habilidades/Superdotação e Mobilidade Reduzida da Universidade Estadual
do Ceará (NAAI), em janeiro de 2021.
25
13
Essa decisão se deu pelo fato de que para a linha, núcleo e orientadora que eu pretendia submeter
minha proposta de pesquisa ainda não havia oferta de vagas para o curso de Doutorado no PPGE.
14
Informação retirada do site do Ministério da Saúde do Brasil, seção Perguntas e Respostas.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/perguntas-e-respostas. Acesso em: 10
abr. 2021.
26
Essa suspensão foi prorrogada até o início do ano de 202216, quando foram
sendo retomadas, aos poucos, as atividades presenciais na instituição. Diante desse
contexto, somente conheço e me comunico com meus colegas, alguns já concluíram
o mestrado, e professores do PPGE/UECE através de ferramentas virtuais,
principalmente via E-mail, Google Meet e WhatsApp.
Ao longo desses 24 meses foram muitas as vidas perdidas17, além de
pessoas que não conhecemos, colegas, amigos e familiares que foram contaminados
pelo vírus e, infelizmente, não conseguiram se recuperar. Toda essa crise foi
imensamente agravada por uma política de saúde mal gestada e mal gerenciada pelo
atual governo federal que, ao invés de favorecer a compra de vacinas para a
imunização em massa da população brasileira18, contou com uma suposta imunidade
de rebanho19, prescrevendo medicamentos sem eficácia científica comprovada como
15
A nota oficial encontra-se disponível em: http://www.uece.br/noticias/uece-na-prevencao-da-
epidemia-do-novo-coronavirus/. Acesso em: 10 abr. 2021.
17
Hoje, 15 de fevereiro de 2022, o Brasil soma um total de 638.362 óbitos em decorrência da covid-19
desde o início da pandemia em março de 2020 (Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-02/brasil-registrou-mortes-e-mil-casos-em-24-
horas. Acesso em: 16 maio 2021).
18
“Bolsonaro recusou vacina da Pfizer em 2020 por metade do preço” (Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/06/07/interna_politica,1274072/bolsonaro-recusou-
vacina-da-pfizer-em-2020-por-metade-do-preco.shtml. Acesso em: 8 jun. 2021).
19
“CPI da Covid: como 'imunidade de rebanho' pode virar arma contra Bolsonaro” (Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57004708. Acesso em: 16 maio 2021).
27
20
“Bolsonaro defende tratamento precoce e diz à CPI da Covid: ‘Não encha o saco’” (Disponível em:
https://www.istoedinheiro.com.br/bolsonaro-defende-tratamento-precoce-e-diz-a-cpi-da-covid-nao-
encha-o-saco/. Acesso em: 16 maio 2021).
21
“Bolsonaro promove aglomeração em seu aniversário” (Disponível em:
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/politica/2021/03/784030-bolsonaro-promove-
aglomeracao-em-seu-aniversario.html. Acesso em: 22 mar. 2021).
22
“Orientações da OMS para prevenção da COVID-19” (Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/covid-
19-oms/. Acesso em: 17 maio 2021).
23
“Brasil está na contramão do mundo, afirma colunista” (Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-
usp/brasil-esta-na-contramao-do-mundo-afirma-colunista/. Acesso em: 17 maio 2021).
24
Todo o trabalho foi desenvolvido de forma remota, em conformidade com as orientações do Ministério
da Saúde para combate ao covid-19. Mais informações acerca do Projeto Um Novo Olhar disponíveis
em: https://umnovoolhar.art.br/. Acesso em: 1 mar. 2021.
28
25
Informações disponíveis em: https://www.informasus.ufscar.br/. Acesso em: 16 maio 2021.
29
26
SACKS, Oliver. O olhar da mente. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
27Os quadros com todas as informações sobre os trabalhos mencionados neste EQ encontram-se no
Apêndice A deste projeto.
28Todas as imagens presentes nesta dissertação também apresentam AD oculta em texto alternativo,
podendo ser acessadas pelas PcDVs por meio de leitor de tela.
31
Audiodescrição/áudio- - - -
descrição
29AD da Figura 1: Infográfico que mostra a articulação entre os quatro descritores de pesquisa. A
imagem é formada por quatro elipses de cores diferentes: a elipse central superior é rosa-claro e
mostra o descritor "audiodescrição"/"Áudio-descrição"; a da esquerda, um pouco mais abaixo da
superior, é verde-claro e mostra o descritor "Arte-Educação"; a central inferior é laranja-claro e mostra
o descritor "Experiência estética"; e a da direita, na mesma linha das duas anteriores, é azul-claro e
mostra o descritor "Formação estética de pedagogos".
30
A linha de pesquisa à qual estou vinculada, na Universidade Estadual do Ceará (UECE), utiliza a
grafia "audiodescrição", pelos mesmos motivos que a palavra “audiovisual” é grafada como um único
termo, em total acordo com as atuais regras ortográficas da língua portuguesa. O termo “áudio-
descrição” é uma tentativa de resgatar a grafia do inglês europeu, audio-description.
32
Audiodescrição/áudio- Arte-Educação - -
descrição
A CAPES,
O Portal de Periódicos
33
A FAEB
Total 82 trabalhos
Fonte: Elaborado pela autora (2021).
33Essa divisão por categorias, incluindo o nível de pesquisa, mestrado ou doutorado, a autoria, o ano e
a instituição onde foi desenvolvida a investigação, pode ser vista no Apêndice A.
estes com ou sem deficiência, em qualquer espaço ou disciplina, por meio das
vivências e interações que proporciona.
Os objetivos da pesquisa de Vergara-Nunes (2016, p. 29) foram:
[...] investigar: a recepção dos materiais táteis utilizados nas aulas de Artes
Visuais, a intermediação da arte, abrangendo sua descrição (REBEL, 1996;
PANOFSKY, 1991, 1964) e audiodescrição (FRANCO, 2010), o fazer
artístico, além de caracterizar a inclusão, tendo como parâmetro de análise a
acessibilidade à imagem.
38Dessa base de dados apenas indicamos o quantitativo de trabalhos, resultados, e o de achados, não
fizemos a indicação das distintas categorias de pesquisas relacionadas à AD, como indicamos nas
bases de dados anteriores e que podemos encontrar nos Apêndices A e C. Essa categorização foi
feita, apenas, para que pudéssemos ter uma ideia da multiplicidade temática na qual se insere a AD
e consideramos, portanto, que não seria necessário apresentar essa discussão para todas as bases
de dados consultadas.
42
[...] é aberta e receptiva e, de modo geral, requer mais tempo que a mera
experiência de recognição. A experiência de recognição corresponde a uma
resposta rápida e automática: isto é um pássaro, isto é uma cabeça. A
experiência estética, ao contrário, implica numa suspensão. Ela consiste em
se deixar impregnar pelo objeto percebido e em mergulhar nele com atenção,
evitando a interrupção precipitada.
39Tipode dado utilizado em operações lógicas como conjunção, disjunção, disjunção exclusiva,
equivalência lógica e negação (Disponível em: https://educalingo.com/pt/dic-pt/booleano. Acesso em:
11 out. 2021).
44
A empatia é um valor
Que humaniza a pessoa
O sentimento que entoa
Vai além de um favor
É preciso que haja amor
Para enxergar os Abrolhos
É libertar dos escolhos
Esse irmão ou aqueloutro
Ver com os olhos do outro
45
mais técnica e científica, o que também não trouxe melhorias reais para as vidas das
PcDs.
A partir do séc. XVIII, os “diferentes”, epiléticos, alcoólatras,
homossexuais, prostitutas, rebeldes, pessoas incômodas aos interesses
sociais, políticos e econômicos de determinadas classes, surdos, cegos, passaram
a ser classificados e tratados como “doentes mentais” que precisavam ser contidos
em um espaço físico para receberem tratamento adequado, deixando de representar
um “risco” à sociedade, gerando segregação social, discriminação e preconceito. Foi
dessa visão que, a partir do séc. XIX, surgiram os primeiros manicômios na Europa,
tendo essa tendência sido disseminada pelo mundo, inclusive chegando aqui no
Brasil.
Muitas PcDs foram isoladas nessas instituições psiquiátricas, sendo
submetidas a “tratamentos de cura” para que fossem ressocializadas. Entretanto,
esses tratamentos só causavam traumas e sofrimento e, em alguns casos, agravavam
a deficiência por sua violência. Violência essa utilizada como um meio que a “razão”
encontrou de impor-se sobre a “desrazão”, como afirmam Figueirêdo, Delevati e
Tavares (2014).
No séc. XX, em todo o mundo ocorreram movimentos que pediam tanto a
reforma das instituições de tratamento psiquiátrico como o fim das mesmas,
conhecidos por movimentos de Reforma Manicomial e Movimento Antimanicomial, e
no Brasil não foi diferente. Os manicômios começaram a ser substituídos por Centros
de Atenção Psicossocial (CAPs) e Núcleos de Apoio Psicossocial (NAPs) já na década
de 1980. Vale aqui mencionar uma personagem brasileira e mundialmente
(re)conhecida por sua luta em favor de mudanças no tratamento voltado aos internos
dos manicômios: a psiquiatra Nise da Silveira.
Conhecida por defender ideais socialistas em pleno Estado Novo, ter sido
presa por causa disso, e por ser uma psiquiatra antipsiquiatria (FRAYZE-PEREIRA,
2003), Nise introduziu a Arte como principal estratégia de interação com seus
pacientes, criando, no ano de 1946, o Museu-Ateliê Imagens do Inconsciente40 dentro
[...] não é entendida como medium, tem valor próprio, não só para pesquisas
referentes ao obscuro mundo interno do esquizofrênico, mas também no
tratamento da esquizofrenia. Atribuímos grande importância à imagem em si
mesma [...] (SILVEIRA, 2000, p. 46).
Figura 242 – Obra intitulada “Muro no fundo da minha casa”, de Arthur Bispo
do Rosário (sem data)
41Ou Art Brut, denominação criada pelo francês Jean Dubuffet no período do pós Segunda Guerra
Mundial. É um movimento que busca dar visibilidade a pessoas que não possuem formação em Arte
e, portanto, subvertem técnicas, usos de suportes e materiais, sendo suas obras consideradas como
a mais genuína expressão das emoções interiores. Valoriza a subjetividade e a individualidade e se
opõe à comercialização da Arte. Foi intensamente associada à “loucura” e às instituições
psiquiátricas, pois muitos dos indivíduos que haviam sido trancados em manicômios por
apresentarem algum tipo de condição psíquica, como traumas, esquizofrenia, ou ainda síndromes,
como Síndrome de Down, deficiências sensoriais, como surdez, e até timidez, pelo simples fato de
serem considerados “socialmente inadequados”, e que tinham contato com a Arte nessas instituições,
passaram a ser reconhecidos como artistas da Arte Bruta.
42AD da Figura 2: Fotografia colorida, retangular e na horizontal, que mostra a obra "Muro no fundo da
minha casa", de Artur Bispo do Rosário, sem data. A obra é composta por uma estreita base horizontal
de madeira, medindo 50 cm de comprimento por 11 cm de altura. Na parte frontal dessa base, o
artista entalhou a seguinte inscrição: "434 - Como é que eu devo fazer um muro no fundo da minha
casa". A parte de cima da base foi preenchida com cimento, no qual foram fincados cacos de vidro
coloridos e pontiagudos, com as pontas voltadas para o alto, remetendo aos muros das casas nos
quais as pessoas colocam esse tipo de armadilha.
49
43Moira Braga, que tem DV, é bailarina, artista e professora. A matéria “O [não] mercado da inclusão: o
capacitismo no mundo das artes” está disponível no site:
https://artebrasileiros.com.br/arte/reportagem/o-nao-mercado-da-inclusao/.
50
44
De acordo com a última contagem populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o censo de 2010, no Brasil havia 46.606.048 pessoas que se auto declararam com
deficiência: física, intelectual, auditiva e visual. Desse total, 35.774.392 brasileiros informaram ter
algum tipo de DV: 506.377 eram cegas, 6.056.533 possuíam grande dificuldade para enxergar e
29.211.482 disseram ter alguma dificuldade para enxergar. Para que possamos melhor compreender
a diferença entre a quantidade de pessoas que se declararam com algum tipo de deficiência sensorial,
visual ou auditiva, no último censo brasileiro, temos os seguintes valores: 344.206 pessoas se auto
declararam surdas e 1.798.967 com grande dificuldade para escutar, resultando em 2.143.173
pessoas com essa deficiência, o que corresponde a 4.5% do valor total de pessoas que se declararam
com deficiência no Brasil, que é de 46.606.048. Em contrapartida, o número de indivíduos que se
declararam com DV, 35.774.392 pessoas, corresponde a um percentual de 76.7% desse mesmo valor
total (Informações sobre o censo disponíveis em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-demografico-
2010.html?edicao=9749&t=destaques. Acesso em: 5 maio 2021).
13.146/2015 (BRASIL, 2015), conhecida por Estatuto da Pessoa com Deficiência, que
salienta a importância da AD quando trata sobre o direito ao acesso à informação e
comunicação:
Deixando claro que a Arte é um direito e que, portanto, deveria ser pensada
e produzida para todos, de maneira irrestrita, devendo o processo de produção
artístico-cultural ser gestado para que a Arte exista sem as barreiras que dificultam ou
impedem seu acesso, e não para nascer e posteriormente ser adaptada às
necessidades dos indivíduos que com ela possam vir a ter contato. A cultura e a Arte,
em diálogo com a Educação, são as chaves para romper com os processos de
exploração e alienação dos indivíduos, por isso é indispensável que todos tenham
acesso às mesmas.
Seguida da AD na programação televisiva, outro campo artístico-cultural
que vem sendo bastante investigado é a acessibilidade na esfera das artes cênicas
por meio da AD, como vimos no EQ desta pesquisa. Para Alves (2016), a importância
da AD no teatro não se deve apenas à “explicitação de informações visuais, não
acessíveis a pessoas com deficiência visual”, e complementa:
de Lanier (2018), Vázquez (1999), Lukács (1963), Ostrower (2001), Vygotsky (2003),
Schiller (2011) e Moraes (2015); e audiodescrição, sob a ótica de Franco e Silva
(2010), Araújo e Alves (2016; 2017), Sartoretto e Bersch (2020), Aderaldo e Nunes
(2016), Romeu Filho (2010), Sant’Anna (2010), Alves (2012), Michels e Silva (2016),
Motta (2016a; 2016b; 2021), Mayer (2016), Vergara-Nunes (2016), Oliveira (2018),
Mianes (2016), Oliveira Junior e Praxedes Filho (2016), De Coster e Mühleis (2007),
Holland (2009), Magalhães (2016) e Nunes (2016). Metodologicamente, este estudo
está alicerçado na abordagem qualitativa (MINAYO, 2009), apresenta natureza
exploratória (MINAYO, 2009; GIL, 2008), e está subsidiado pela pesquisa-formação
(LONGAREZI; SILVA, 2013; NUNES; MOURA, 2019). A análise dos dados se deu por
meio da análise de conteúdo (BARDIN, 1986).
Este texto está dividido da seguinte maneira: esta seção introdutória, na
qual foi discutida minha aproximação em relação ao objeto de estudo, em seguida
apresentamos o processo de construção do EQ da pesquisa e, por último,
apresentamos uma visão geral da investigação, incluindo problematização, questão
de pesquisa e objetivos, geral e específicos; a seção 2, sobre a Fundamentação
Teórica, na qual apresentamos os estudos que utilizamos para discutir os temas que
consideramos relevantes para esta investigação; a seção 3, da Metodologia, quando
descrevemos o percurso formativo que vivenciamos ao longo do estudo; a seção 4,
da Discussão e Análise dos Resultados; e, finalmente, a seção 5, sobre as
Considerações Finais.
55
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
pela Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 2002) que, dentre outras atribuições,
determina que
legislação educacional, que atribui maior valor social aos professores de áreas
específicas do que aos professores polivalentes, como antes eram conhecidos os
pedagogos, implicando, inclusive, numa diferenciação em termos salariais, na qual
estes últimos recebem salários inferiores aos primeiros.
Isso confirma as declarações de Saviani (2011) de que, no Brasil, se
desenvolveram dois tipos de concepções ou modelos de formação de professores:
um centrado na cultura geral e nos conhecimentos específicos referentes a
determinada área de conhecimento ou disciplina curricular, sustentando que os
conhecimentos didático-pedagógicos são adquiridos a partir do domínio desses
conhecimentos específicos, assim como da própria prática docente, conhecida por
formação em serviço; e um que admite que a formação docente somente estará
completa quando o futuro professor tiver acesso aos conteúdos didático-pedagógicos
necessários à sua prática. O autor conclui que, o que de fato é permanente em termos
de formação de professores no Brasil é a descontinuidade, o que acarreta numa
evidente precariedade.
Mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular para a Formação
Inicial e Continuada de Professores, instituída pela Resolução CNE/CP nº 2/2019
(BRASIL, 2019), é o documento norteador das ações realizadas em cursos de
licenciatura. Sua origem já indica o interesse em alinhar a formação docente aos
mandos do setor empresarial e privado, de alguma forma ligados à Educação, ou seja,
foi um documento elaborado de maneira, pode-se dizer, aligeirada, sem considerar a
importância da ampla participação da sociedade nas discussões durante sua
elaboração. É um documento que baseia a formação docente em competências e
habilidades a serem desenvolvidas pelos professores.
A vulnerabilidade que envolve os processos formativos de professores no
Brasil afeta negativamente o ensino nas escolas. Entretanto, muitas vezes, o
professor é considerado como o único responsável por determinadas situações, a
exemplo dos baixos índices de aprendizagem e, consequentemente, de rendimento
dos alunos nas avaliações internas e externas, nacionais e internacionais, das altas
taxas de reprovação, da evasão escolar, dentre outras situações que sempre batem
às portas da escola de EB, principalmente das pertencentes às redes públicas de
ensino. Quando, na realidade, o que de fato se deveria considerar como fatores
preponderantes para tais situações seriam muito mais amplos, conforme afirma Gatti
(2010, p. 1359), ou seja,
59
48Pensamento baseado no laissez-faire, ou deixar fazer, movimento organizado pelo liberal John Stuart
Mill, no final do séc. XVII, para tentar justificar as “benesses” de um sistema político-econômico sem
a intervenção estatal.
62
precisa ser estimulado para que se realize. Esse potencial pode ser incentivado não
somente por meio da Arte, ainda segundo a autora, mas em nosso cotidiano, em todas
as situações de nossas vidas, pois “[...] criar e viver se interligam”.
Coadunando o pensamento de Schiller (2011) e Ostrower (2001), Barbosa
(2018, p. 12-13) afirma ser necessário conceber a Arte “[...] não apenas como
expressão, mas também como cultura, apontando para a necessidade da
contextualização histórica e do aprendizado da gramática visual que alfabetize para a
leitura da imagem”. Logo de cara, a autora derruba o argumento de que a
sensibilidade, a criatividade e a imaginação podem se manifestar sem a necessidade
de um contexto social que as estimule.
Também nos posicionamos a favor do pensamento desses autores.
Compreendemos que aos indivíduos deve ser concedido o direito de conhecer os
diversos contextos nos quais estão inseridos, para que possam refletir sobre seu lugar
nos mesmos e, a partir dessa compreensão, possam atuar criticamente. E a Arte é
isso, é reflexão crítica, cultura e também política e atitude.
O ensino da Arte também sofreu a influência de uma ideia humana errônea,
por meio da qual é possível se separar o que é racional do emocional e, assim,
determinar quais eram as disciplinas consideradas importantes na escola e as que
não eram, como a Arte, tendo sido esta considerada como um momento de
relaxamento entre uma e outra “aula de verdade”. Essa postura foi questionada por
alguns estudiosos da área, com destaque para Read, em 1943, que propôs uma
educação através da Arte, o que viria posteriormente a ser denominada de Arte-
Educação (DUARTE JUNIOR, 1994).
Arte-Educação, segundo o autor, não seria o treinamento de um indivíduo
para que este se torne artista, muito menos o ensino de técnicas artísticas, mas um
ensino no qual a Arte é uma aliada no sentido de promover o desenvolvimento da
sensibilidade dos indivíduos consigo mesmos, com o outro e com o mundo.
A Arte-Educação é uma proposta que desconstrói a compreensão de que
o ser humano é fragmentado e que, por isso, em seu processo de aprendizagem,
somente a razão deve ser atuante, devendo a emoção ser completamente descartada.
Defende, pelo contrário, que a aprendizagem somente acontece pela conjunção das
experiências (sentir) traduzidas e significadas pelas palavras e símbolos (pensar)
(DUARTE JUNIOR, 1994).
63
49
Atualmente, esse documento está em processo de revisão por parte do colegiado do curso de
Pedagogia da FACEDI/UECE para posterior implementação do Projeto Político do Curso (PPC).
67
É importante frisar que o ensino de artes não tem que se manifestar somente
no “lugar” da disciplina de arte-educação; pelo contrário, quanto mais
espaços e formas de exercício – como produção ou como apreciação – da
arte melhor para o enriquecimento artístico-cultural das pessoas.
Particularmente no caso da Faculdade de Educação de Itapipoca – Facedi –
foco específico de análise, a educação estético-artística vem se exercendo
de múltiplas formas: através de disciplina curricular obrigatória, atividades de
pesquisa, projetos de extensão, eventos acadêmico-culturais e atividades
complementares.
ainda têm muitos percursos e pontes a construir. Esse potencial já é bastante evidente
no engajamento do Núcleo de Artes Cênicas (NACE) da FACEDI/UECE, constituído
por discentes, docentes e comunidade, grupo partícipe no processo de fortalecimento
do componente curricular Arte-Educação como oferta obrigatória no currículo da
Pedagogia.
Os debates acerca do caráter potencializador na formação estética, através
da participação, elaboração e disseminação da cultura e de saberes em Arte, tornou
o diálogo em prol da rearticulação curricular ainda mais robusto, por conta das
vivências relatadas com o referido grupo.
A Arte como campo de saber na formação de educadores pedagogos não
significa prover elementos previamente organizados a serem aplicados em
determinadas situações pedagógicas, mas, sobretudo, sensibilizar para as diversas
experienciações estéticas e artísticas através da ampliação do repertório estético, “A
arte é uma chave com a qual abrimos a porta de nossos sentimentos [...]” (DUARTE
JUNIOR, 1994, p. 61) para mobilizar e sensibilizar ações afetivas e criativas nas
intervenções e proposições didáticas nos mais diversos ambientes de ensino-
aprendizagem, expandindo seus sentidos para a própria vida cotidiana.
Na próxima subseção, nos dedicamos às reflexões acerca da formação
estética de futuros pedagogos, o que serviu como baliza nos processos formativos
desenvolvidos junto aos participantes ao longo deste estudo.
tomando parte nessa experiência como seres ativos, não limitados às impressões
sensíveis ou à condição de meros receptores das impressões que lhes causam as
coisas do mundo. É a atitude que distingue as sensações passivas, provocadas pelas
impressões sensíveis, da experiência estética. E é a experiência estética que move
os indivíduos a agirem sobre as coisas do mundo, conferindo-lhes uma característica,
ao mesmo tempo, crítica e ética, bastante evidente.
Conforme Vázquez (1999), a experiência estética é uma forma de
apreensão do mundo, de apropriação de sensações e significados, não ocorrendo
apenas por meio da Arte, mas, principalmente pela interação com ela. Além da
interação com as produções artísticas, a contemplação da natureza, a interação dos
indivíduos uns com os outros e destes com os mais variados objetos, também cabem
dentro do que Vázquez entende por experiência estética, coadunando o pensamento
de Lukács (1963), que afirma que a produção artística, assim como as experiências
de natureza estética, possu origem ontológica, diretamente vinculada ao cotidiano e
às subjetividades dos seres sociais.
A intenção de se propor uma formação estética para futuros pedagogos é
a de fomentar a reflexão acerca das diferentes manifestações artístico-culturais da
humanidade, ampliando o repertório desses indivíduos no que tange aos
conhecimentos sistematizados, assim como em relação às percepções sensoriais.
Atrelado a isso, também pretendemos contribuir para uma reflexão mais cuidadosa
acerca da importância da ampliação de acesso à Arte e à experiência estética por
parte de pessoas que sempre foram deixadas à margem nesse processo: as PcDs.
apenas por meio da Arte, mas, principalmente pela interação com ela. Além da
interação com as produções artísticas, a contemplação da natureza, a interação dos
indivíduos uns com os outros e destes com os mais variados objetos, também cabem
dentro do que Vázquez entende por experiência estética, coadunando o pensamento
de Lukács (1963), que afirma que a produção artística, assim como as experiências
de natureza estética, possu origem ontológica, diretamente vinculada ao cotidiano e
às subjetividades dos seres sociais.
No artigo de Alves e Araújo (2016), as autoras discutem sobre a dimensão
estética da AD, afirmando que, quando se produz uma AD é necessário ter em
consideração a experiência estética que esse recurso poderá proporcionar às pessoas
e não somente sua perspectiva comunicacional.
Em nossa pesquisa, além do enfoque comunicacional atribuído à AD em
sua função inicial, a ênfase recaiu sobre a perspectiva estética inerente ao recurso,
ou seja, à qualidade da interação indivíduo-Arte imbricada no contato entre os
participantes e as fotografias produzidas por eles, pois, como afirmam Kastrup e
Moraes (apud ALVES; ARAÚJO, 2016, p. 39-40), a experiência estética
[...] é aberta e receptiva e, de modo geral, requer mais tempo que a mera
experiência de recognição. A experiência de recognição corresponde a uma
resposta rápida e automática: isto é um pássaro, isto é uma cabeça. A
experiência estética, ao contrário, implica numa suspensão. Ela consiste em
se deixar impregnar pelo objeto percebido e em mergulhar nele com atenção,
evitando a interrupção precipitada.
50DUNKER, Christian. A empatia como experiência estética. Portal Arte!Brasileiros, São Paulo, 30
jun. 2020. Disponível em: https://artebrasileiros.com.br/featured/a-empatia-como-experiencia-
estetica/. Acesso em: 16 nov. 2021.
74
O que torna urgente voltar os esforços para que esse tipo de formação se concretize
nas mais diversas situações acadêmicas.
75
2.4 Audiodescrição
51
Disponível em: https://psicod.org/figura-1-capa-descrico-da-capa-v2.html?page=94. Acesso em: 18
maio 2021.
76
impedindo que, por exemplo, a PcDV tenha uma experiência estética dentro de um
museu ou na própria sala de aula.
Para Alves e Araújo (2016), a dimensão estética da AD é bastante evidente,
afirmando que, quando se produz um roteiro de AD é necessário ter em consideração
a experiência estética que esse recurso poderá proporcionar às pessoas e não
somente sua perspectiva comunicacional.
Em nossa pesquisa, além do enfoque comunicacional atribuído à AD em
sua função inicial, a ênfase recaiu sobre a perspectiva estética inerente ao recurso,
ou seja, à qualidade da interação indivíduo-Arte imbricada no contato entre os
participantes e as fotografias produzidas por eles, pois, como afirmam Kastrup e
Moraes (apud ALVES; ARAÚJO, 2016, p. 39-40), a experiência estética
[...] é aberta e receptiva e, de modo geral, requer mais tempo que a mera
experiência de recognição. A experiência de recognição corresponde a uma
resposta rápida e automática: isto é um pássaro, isto é uma cabeça. A
experiência estética, ao contrário, implica numa suspensão. Ela consiste em
se deixar impregnar pelo objeto percebido e em mergulhar nele com atenção,
evitando a interrupção precipitada.
3 METODOLOGIA
53
Universidade Estadual do Ceará – UECE; Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; Universidade
Regional do Cariri – URCA.
86
Sobre a natureza exploratória, Minayo (2009) afirma que esta tem início no
momento em que pensamos, preliminarmente, acerca do objeto de estudo, de nossos
pressupostos, das teorias e, finalmente, da metodologia mais adequada ao
desenvolvimento da investigação.
O segundo estágio exploratório se dá quando do trabalho de campo “que
consiste no recorte empírico da construção teórica elaborada no momento” (MINAYO,
2009, p. 26), ou seja, de nosso contato com os interlocutores para buscar subsídios,
nas relações que estabeleceram com o objeto de estudo, para que pudéssemos
responder ao questionamento de pesquisa.
E, finalmente, a natureza exploratória, mais uma vez, se manifestou quando
da análise dos dados obtidos durante o estudo de campo, sendo estes tratados e
confrontados com o que dizem os pressupostos teóricos apresentados anteriormente,
na seção sobre a Fundamentação Teórica.
Em relação ao método de pesquisa, Longarezi e Silva (2013, p. 215)
afirmam que “a pesquisa-formação representa um processo de superação de formas
convencionais de pesquisa e de formação”, declaração com a qual concordamos,
pois, de início, consideramos os participantes não como meros representantes de um
grupo maior de alunos de cursos de Pedagogia, como ocorre na pesquisa mais
tradicional. Os participantes foram intencionalmente convidados a protagonizar
reflexões e discussões sobre as possibilidades de uso da AD para uma possível
formação estética.
Assim como Nunes e Moura (2019), também a percebemos como
responsável por oferecer um duplo desafio, já anunciado em sua denominação,
exatamente por promover a articulação entre os atos de pesquisar e de formar no
campo da educação, pois “possibilita o avanço do conhecimento de forma
colaborativa, ao tempo em que propicia a autoformação profissional, articulando teoria
e prática” (NUNES; MOURA, 2019, p. 226), promovendo a conexão entre a realidade
dos envolvidos na pesquisa e o fenômeno investigado.
Entretanto, os desafios inerentes à pesquisa-formação não se resumem
aos mencionados anteriormente, pois trazer a pesquisa com fins formativos para a
realidade do professor, assim como do professor em formação, já se constitui, por si
só, uma tarefa bastante árdua ante as inúmeras demandas já existentes no cotidiano
desses sujeitos imersos na área da Educação. O que nos leva também, no papel de
professoras-pesquisadoras, a refletir sobre as condições materiais dos profissionais
87
que atuam, e dos que virão a atuar, no campo do ensino em nosso país e, assim, a
buscar alternativas de transformação dessa realidade que se apresenta tão repleta de
possibilidades e, ao mesmo tempo, tão tirana.
Mesmo diante da afirmação anterior, contamos com o aspecto colaborativo
intrínseco à pesquisa-formação, de modo que isso nos permitiu partir da situação real
sinalizada, a inserção da AD na disciplina Arte-Educação no curso de Pedagogia da
Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI) da UECE, na qual foram ministrados
conteúdos teóricos e propostas atividades que objetivaram analisar as contribuições
da AD para a formação estética dos participantes, de modo que estes pudessem se
envolver nesse processo, tendo a oportunidade de vivenciar experiências artísticas
atreladas ao processo de desenvolvimento de uma AD, desde a elaboração de
roteiros à revisão e consultoria dos mesmos, proporcionando-lhes uma expansão de
saberes para uma atuação docente mais sensível e inclusiva.
54
Informações disponíveis em: http://www.uece.br/facedi/instituicional/historico/ e
http://www.aeitaonline.com.br/wiki/index.php?title=Vicente_Antenor_Ferreira_Gomes_Filho. Acesso
em: 15 jun. 2021.
55AD da Figura 3: Fotografia colorida, retangular e na horizontal, feita pela empresa Google, que mostra
a fachada da FACEDI. O prédio é todo protegido por uma cerca. Logo na entrada, do lado esquerdo,
há uma guarita onde está escrito UECE FACEDI. Ao longo da calçada do prédio há muitas bicicletas
estacionadas e uma moto. Dentro das dependências da instituição, podemos ver uma caixa d'água
por trás da guarita, um carro estacionado mais à direita, muitas árvores e diversas construções. Ao
fundo vemos um imenso céu azul ensolarado e com nuvens brancas.
56
Em pesquisa realizada no site https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/core/start.action, no qual é possível
buscar e consultar documentos oficiais diversos publicados no âmbito da esfera administrativa da
89
União, verificamos que o Diário Oficial da União (DOU) da data de 01 de setembro de 1988, onde foi
publicada a Portaria nº 4645/88, não se encontra mais disponível. Os documentos mais antigos
disponíveis no site datam a partir do ano de 1990, o que inviabilizou a localização e também a inserção
do mesmo nas referências desta dissertação.
57
Informações disponíveis em: http://www.uece.br/facedi/cursos/graduacao/. Acesso em: 15 jun. 2021.
58
Atualmente a UECE possui 115 alunos autodeclarados com DV distribuídos nos diversos cursos de
graduação em seus campi da capital e interior do Estado. Informação disponível em:
https://sisacadweb.uece.br/discentes-deficientes. Acesso em: 30 ago. 2021.
59
Material utilizado para a produção dos dados.
90
60Em toda essa seção, em alguns momentos, utilizarei a primeira pessoa do singular para referir-me a
ações que foram, exclusivamente, desenvolvidas por mim.
61
Acreditamos que isso pode ser decorrente de uma crise que a ciência atravessa nos dias atuais no
mundo inteiro. As pessoas estão mais resistentes em acreditar que a pesquisa e a ciência possam
trazer alguma melhoria social real para suas vidas, segundo as palavras de Andrade (2019)
(Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/resistencia-a-ciencia/. Acesso em: 3 nov. 2021).
62As respostas e análises dessas perguntas estão na subseção de Análise e Discussão dos Resultados.
93
64Economistabrasileiro, nascido no ano de 1944, e que hoje é reconhecido como um dos mais
proeminentes fotojornalistas da atualidade em nível mundial. Autor de diversos livros e ganhador de
muitos prêmios na área da fotografia, hoje é representante da UNICEF no campo dos direitos
humanos.
66Parte do texto curatorial da exposição que pode ser acessado pelo link:
https://www.instagram.com/p/CSrTiRyLKf2/?utm_medium=copy_link.
94
efeito maior, devido ao desequilíbrio que uma nova informação causa no arcabouço
de conhecimentos prévios dos indivíduos.
Após minha fala, deixamos o espaço aberto para os que tivessem alguma
indagação, dúvida ou mesmo um comentário referente ao que havia sido dito, mas
nenhum dos estudantes presentes na aula se manifestou a respeito, nem mesmo pelo
chat do Google Meet, nem mesmo os que afirmaram no questionário que não sabiam
do que se tratava uma AD, como veremos na subseção sobre Análise e Discussão
dos dados de pesquisa.
Nas turmas anteriores, nas quais participei como convidada para ministrar
esse mesmo conteúdo sobre AD, quando foi anunciado que os estudantes deveriam
elaborar ADs para suas produções artísticas houve uma intensa inquietação inicial em
torno da questão. Alguns diziam desconhecer do que se tratava, outros que não se
sentiam preparados para tal tarefa, ainda houve quem dissesse temer fazer uma AD
de forma errada.
Como o objetivo principal desse primeiro contato era o de preparar os
estudantes para os próximos dois encontros de formação, quando, de fato, falaríamos
e vivenciaríamos o processo de elaboração de uma AD, diante de seu silêncio após
serem provocados pelas propostas apresentadas, minha participação na aula se
encerrou às 19h40 e a professora retomou o conteúdo sobre o ensino de Arte na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
se justificava por ainda não haver outros estudos que analisassem o potencial da AD
para a formação estética a partir da perspectiva de futuros pedagogos, os quais,
possivelmente, poderiam vir a trabalhar na disciplina de Arte nos anos iniciais do EF.
Depois desse conteúdo inicial, apresentei algumas orientações simples,
baseadas em Motta (2016) e Oliveira (2018), para a análise de imagens estáticas,
fotografias, e a elaboração de roteiros de AD. Essas orientações encontram-se nos
quadros a seguir (Quadros 5 ao 12).
Objetivos Procedimentos
materiais utilizados
dimensões
Pesquisar sobre a imagem/obra em busca de
época
significados
Fonte: Elaborado pela autora a partir de Motta (2016).
Gênero
Faixa etária
Cor da pele
97
Estatura
Peso
Boca
Sobrancelhas
Nariz
Trajes
Fonte: Elaborado pela autora a partir de Motta (2016).
relevo
vegetação
arquitetura
construções
67Aanálise sobre essa experiência encontra-se na seção sobre Análise e Discussão dos dados de
pesquisa.
100
ao nosso redor, dos detalhes, a gente percebe muito mais, mas também
acerca do outro, das capacidades do outro (P568).
69As fotografias de todos os participantes, assim como suas respectivas propostas de roteiros de AD,
inicial e final, encontram-se no Anexo A.
70Asanálises sobre esses comentários encontram-se na seção de Análise e Discussão dos dados de
pesquisa.
71AD da Figura 4 - Fotografia na vertical, feita por D.M.O., de título "Canção feliz", que mostra o desenho
de uma paisagem feito a lápis sobre papel branco. Do canto inferior direito do desenho saem o tronco
e os galhos de uma árvore, que sobem em direção ao centro da foto. São galhos finos, secos e
retorcidos, quase sem folhas. Por trás do tronco dessa árvore há um pequeno arbusto com folhagem.
A partir da lateral esquerda do desenho, em direção ao centro, vemos fios elétricos que se ligam a
altos postes de iluminação, os quais ladeiam uma estrada bem estreita. De cada lado da estrada há
uma proteção de cerca, que acompanha toda sua extensão. Ao fundo há uma paisagem com uma
pequena cordilheira formada por quatro grandes serras. Acima das serras, um vasto céu com nuvens,
dando a impressão de que o dia está nublado.
102
72AD da Figura 5: Fotografia colorida, na vertical, intitulada “Ludicidade”, feita por A.B.S.S., que mostra
um menino de 3 anos diante de uma caixa com diversas palavras escritas em círculos de papel. O
menino, que está na parte superior direita da foto, tem a pele branca, cabelos curtos, castanhos e
lisos. Usa uma camiseta azul escuro com finas listras brancas nas mangas. Está sentado, encostado
numa parede e com um travesseiro sobre as pernas. No travesseiro vemos um jogo, de nome “Olho
mágico”, confeccionado com uma caixa de pizza forrada com TNT azul, onde estão diversos círculos
de papel branco com palavras, como “LEÃO, FOCA, GATO”, escritas em diversas cores. O menino
está de frente para o observador e, com ar concentrado, olha para baixo, em direção ao jogo. Com o
dedo indicador direito ele aponta para a palavra “LEÃO”, escrita na cor verde.
103
algumas escolas. O nome do jogo é Olho Mágico. Fiz o jogo e aproveitei para
brincar com ele. Na foto ele está olhando as palavras, ele não sabe ler ainda
muito bem, mas ele já está começando e aprendendo. Ele se interessou
bastante (P6).
Essa foto eu fiz hoje, pela manhã. Foi numa oficina que aconteceu há um
tempo atrás no meu trabalho, eu trabalho numa cerâmica que produz lajes,
tijolos, enfim. Então aconteceu uma oficina para que as pessoas da
comunidade trabalhassem com argila. Eu lembro que o filho de um dos
funcionários estava lá e ele perguntou o que era que a criança gostaria que
ele fizesse e a criança disse que queria um coração. O pai perguntou o porquê
e a criança respondeu que era porque amava o pai. Eu fiquei muito
emocionada na hora. Lembro que estávamos em horário de trabalho, mas
todo mundo parou, porque hoje em dia não é comum a gente vê esses atos
73AD da Figura 6: Fotografia colorida, na vertical, feita por M.L.F.N, com o título “Construindo arte”, que
mostra, ao centro, um coração feito de lajota. A lajota é de barro vermelho, sendo mais estreita que o
tijolo de barro convencional, e é utilizada na construção de lajes e pisos. As laterais dessa lajota
apresentam cinco furos, estruturas que lhe garantem a necessária resistência. Essas rígidas
estruturas internas contrastam com a delicadeza externa da escultura, cuidadosamente arredondada
para tomar a forma final de um coração. A peça repousa, em primeiro plano, sobre um parapeito de
cimento. Ao fundo vemos a imagem desfocada de algumas palmeiras e outras plantas em um
ambiente iluminado pela luz do dia, compondo uma atmosfera de suavidade e tranquilidade.
104
publicamente. Esse coração ficou no trabalho e faz tempo que tivemos essa
oficina. Aí eu lembrei e resolvi fazer a foto. É uma lajota de fazer forro e não
um tijolo (P9).
74Aqui no texto desta seção apresentamos apenas algumas das fotos feitas pelos participantes
acompanhadas das propostas de AD, inicial e final, mas todas as fotografias, assim como seus
roteiros de AD, encontram-se nos Anexos desta dissertação.
75AD da Figura 7: Fotografia colorida, em posição horizontal, feita por J.S.G., com o título “Arte(fatos)
da infância”, que mostra a palavra “Arte”, feita com bolinhas de gude dispostas sobre um tecido branco
levemente amassado. A palavra está no centro da foto, onde um foco de luz incide sobre a mesma,
deixando os cantos da imagem um pouco escurecidos. Duas linhas onduladas, também feitas de
bolinhas de gude, contornam a palavra “Arte”. A linha superior é composta por dez bolinhas e a de
baixo por seis, todas de cores variadas: branca, verde, cinza e azul, sendo as azuis mais translúcidas
e as outras mais opacas. Por serem mais translúcidas, as bolinhas azuis parecem estar mais
iluminadas que as demais, destacando-se na foto. As letras “A” e “R” da palavra “Arte” estão
levemente inclinadas para a direita, enquanto que o “T” e o “E” estão inclinados para a esquerda,
fazendo com que a palavra, assim como as linhas que a contornam, esteja em perfeito desalinho.
106
76AD da Figura 8: Fotografia colorida, na vertical, feita por A.P.D., de título “Imagine, crie, invente. Viva
felicidade! O universo está em nossas mãos!”, que mostra, ao centro e dispostas na diagonal em
relação ao observador, uma folha de papel A4 branca em cima de uma folha de papel madeira sobre
um piso de taco marrom escuro. Na parte central da foto, em cima da folha A4, estão quatro lápis,
nas cores rosa, verde, vermelho e preto, organizados no formato de leque. À direita dos lápis está um
pequeno frasco destampado contendo tinta azul. Abaixo dos lápis está uma tesoura de pontas
redondas com o cabo preto. Suas pontas estão levemente voltadas para cima e para o lado direito da
foto, tocando a tampa do pequeno frasco de tinta.
108
pontas redondas com o cabo preto. Suas pontas estão levemente voltadas
para cima e para o lado direito da foto, tocando a tampa do pequeno frasco
de tinta.
77AD da Figura 9: Fotografia colorida e na vertical, feita por M.L.R.R., intitulada “O palhaço aposentado”,
que mostra o fantoche de um palhaço sustentado por uma pessoa com a pele negra, de quem
somente vemos parte do braço. O palhaço, feito de feltro, tem o rosto rosa claro, os olhos redondos
e azuis e, embora seja careca, possui dois flocos de lã colorida nas laterais da cabeça, próximos às
orelhas, como se fosse o pouco de cabelo que lhe resta. Tem um nariz grande, vermelho e redondo,
e uma boca vermelha enorme e aveludada, mostrando um grande sorriso sem dentes. Sua roupa é
branca com estampas florais amarelas. No pescoço usa um grande laço verde escuro. Não tem
braços nem pernas. O palhaço parece bem antigo, com manchas no rosto, no nariz e no grande laço
desfiado ao redor de seu pescoço. Ao fundo vemos uma parede na cor laranja intenso e na parte
inferior da foto aparece parte de um móvel.
109
78 A análise sobre esse depoimento encontra-se na seção sobre Análise e Discussão dos Resultados.
110
Eu imaginei o gato bem menor e não tão peludo. Não imaginei a floresta
assim (P2).
exemplo, ouvimos, mas não escutamos, pois há uma diferença entre o ouvir, que é
uma ação mecânica e involuntária, e o escutar, que depende de vontade e disposição.
Quantas vezes já não me peguei tendo que colocar os óculos de grau para poder
escutar melhor uma notícia que passava na TV? Foram inúmeras as ocasiões.
Foi salientado também que, os que ainda não conseguiam formar uma
imagem de imediato na cabeça, a partir da AD, tudo iria depender de um exercício de
escuta e imaginação, como fazemos em relação, por exemplo, a um personagem ou
uma paisagem em um livro e para os quais somente existem descrições verbais,
nenhuma imagem. Ainda assim, somos capazes de, a partir de nossas experiências,
imaginar esse personagem ou essa paisagem. Mesmo que cada pessoa que tenha
acesso a essa descrição forme uma imagem mental única, diferente da nossa, nem
por isso deixamos de imagina-la e de comenta-la, não havendo problema algum nisso.
Sobre descrições em livros, um dos participantes comentou:
Eu gosto quando as coisas são bem descritas nos livros. Gosto de imaginar
as situações como se fosse um filme (P7).
79Aanálise sobre esse depoimento encontra-se na seção de Análise e Discussão dos dados de
pesquisa.
113
Essa foto eu fiz hoje, pela manhã. Foi numa oficina que aconteceu há um
tempo atrás no meu trabalho, eu trabalho numa cerâmica que produz lajes,
119
qual a qualidade...? A minha audiodescrição vai falar muito àquele que vai
me ouvir, eu realmente preciso falar bem, detalhadamente, talvez, para que
o outro entenda (P5).
sentido de se captar as sutilezas de uma imagem, assim como sua essência, e tentar
traduzi-las em palavras e, principalmente, de maneira inteligível (LANIER, 2018), pode
estar especificamente relacionada às vivências proporcionadas pela formação que
desenvolvemos. Indicando ainda que tivemos resultados extremamente positivos no
que tange ao nosso objeto de investigação, AD para a formação estética de
pedagogos na disciplina Arte-Educação.
Após as análises sobre o processo formativo em si, a partir da participação
e depoimentos dos próprios colaboradores de nossa pesquisa, passamos a
apresentar as respostas dadas ao segundo questionário, instrumento aplicado aos
participantes após a formação em AD. Nas próximas páginas, discutimos as
categorias de conteúdos identificados para cada uma das respostas às três perguntas
desse instrumento de produção de dados.
No Quadro 15, apresentamos as respostas à primeira pergunta do segundo
questionário, enviado após a formação. Essa pergunta se relaciona à percepção dos
participantes em relação ao contato que tiveram com a AD na disciplina Arte-
Educação.
Mas, como vimos ao longo deste estudo, a AD se apresenta para além de,
simplesmente, um recurso de acessibilidade para PcDVs, proporcionando maior
124
Não fosse pelo esforço e luta dessas pessoas pela garantia do direito de
ocupar os mesmos espaços que os demais indivíduos sem deficiência, assim como
de uma rede de apoio que existe no sentido de fortalecer essa luta, não teríamos
alcançado avanços tão significativos para a melhoria da qualidade de vida desse
segmento social.
Dadas essas circunstâncias, a AD surge da necessidade de ampliar a
interação da PcDV com o universo cultural que a rodeia, assim como de garantir-lhe
maior autonomia nas relações que estabelece com as numerosas informações visuais
existentes, complementando e refinando essas relações, como afirma Motta (2010, p.
68),
132
comunidade são escassas, o que pode vir a ser uma lacuna no que tange à formação
estética desse futuro professor.
Nesse caso, segundo Moraes (2015), a IES precisa estar atenta para,
sempre que possível, suprir essa carência, no sentido de promover experiências
ligadas à Arte e à cultura em seus componentes curriculares, se não como conteúdo,
pelo menos como tema transversal, principalmente, na referida disciplina, pois muito
dificilmente o professor irá incentivar momentos de fruição artística em seus alunos se
ele próprio não os vivencia.
Na ocasião da formação que desenvolvemos, vislumbramos o alcance que
a AD pode ter nas práticas desses futuros professores, no sentido de serem mais
críticos e sensíveis em relação a seu ambiente de formação, depois em relação a seu
local de trabalho e seus alunos, principalmente, no que concerne às condições de
acesso, sem restrições, a espaços culturais e a produções artísticas, tornando-os
conscientes de que estes são direitos inerentes ao ser humano. Tudo isso nos permitiu
entender a importância mencionada nas respostas desses participantes.
Concordamos com a afirmação contida na sexta categoria,
“Audiodescrever é perceber os detalhes” e, a partir dessa percepção, é que o
audiodescritor irá decidir qual detalhe fará parte do roteiro e qual poderá ser excluído
sem que haja prejuízo para a compreensão geral da obra. Nesse caso, é válido
lembrar da experiência narrada por Sacks (1997), de uma descrição detalhada sobre
uma luva que, de forma nenhuma, deu indícios acerca objeto que se estava
descrevendo.
Por diversas vezes durante a formação, inclusive nos roteiros finais de AD,
salientamos que inicialmente, fosse oferecida uma descrição geral do todo da
imagem, informando ao leitor ou ouvinte do roteiro o que estava sendo mostrado. A
partir dessa ideia do todo, íamos, aos poucos, desmembrando os detalhes dessa
imagem, e ao mesmo tempo unindo-os, coerentemente, de modo a tornar possível
que cada um desses detalhes pudesse enriquecer a compreensão sobre o todo
mencionado.
Pela experiência adquirida em alguns anos trabalhando e pesquisando
sobre AD, percebemos que uma grande quantidade de detalhes pode prejudicar no
momento da construção da imagem mental, inclusive para quem é vidente, como era
o caso dos participantes desta pesquisa. No momento em que compartilhamos a AD
de um quadro extremamente detalhada e longa, em um dos encontros da formação,
135
percebemos a confusão dos participantes quando foi pedido para que falassem sobre
o que tinham escutado, além da dificuldade que tiveram para identificar os detalhes
descritos no quadro quando o mesmo foi revelado.
Por isso, consideramos que sim, audiodescrever é perceber os detalhes e,
a partir dessa percepção, podemos nos colocar no lugar do outro para, ao longo de
todo o processo, ponderar sobre o que trazemos ou não para o texto, lembrando que
a elaboração desse roteiro deve contar com a participação de um audiodescritor
consultor, pessoa que poderá confirmar se as inferências que os audiodescritores
roteiristas fizemos em relação aos detalhes contribuirão ou não para o pleno
entendimento da obra.
A partir da categoria “A importância da participação da pessoa cega na
construção do roteiro de AD”, percebemos que os participantes compreenderam para
quem se volta o produto audiodescrito, a PcDV, e, portanto, identificam a presença do
consultor como essencial para a elaboração e qualidade do mesmo. Esse consultor
pode ser o usuário final, como ocorre em sala de aula, ocasião em que não há a
necessidade expressa de que este seja um profissional.
A participação ativa da PcDV em todo o processo de elaboração de roteiros
de AD se relaciona ao “[...] sentimento de pertença, de empoderamento, de ter
oportunidade de acesso às informações e conhecimentos anteriormente
inacessíveis”, como afirma Vilaronga (2010 apud MIANES, 2016, p. 12). A
democratização de informações e conhecimentos proporcionada pela AD torna-se,
portanto, um marco nas relações sociais que as PcDVs estabelecem com os demais
e com seu entorno.
Valorizar, assim como respeitar o direito que estas possuem de
participarem da produção de conteúdos e tecnologias voltadas para si, como dito no
lema “Nada sobre nós sem nós. Nada para nós sem nós”, é um contrato social que
deve ser assumido por todos, mas isso somente poderá ocorrer no momento em que
as pessoas se sensibilizem sobre esse tema, o que, por sua vez, está atrelado ao
processo de sensibilização que vem do conhecimento acerca do assunto.
O conhecimento e a sensibilização sobre essa temática são também
condições essenciais para uma tomada de postura crítica frente aos desafios sociais
vivenciados cotidianamente por esse segmento social, a exemplo da questão sobre o
motivo de as instituições, como as escolas, os espaços culturais, dentre outros, ainda
136
não serem totalmente acessíveis a todos, excluindo além de PcDs, grupos sociais
mais vulneráveis.
No Quadro 17 apresentamos as respostas dos participantes à terceira e
última pergunta do segundo questionário, por meio da qual se buscou conhecer se os
participantes identificam quais as contribuições que a AD trouxe para sua formação
estética como futuros pedagogos.
fruição estética o que, por sua vez, altera a natureza do indivíduo, tornando-o mais
sensível, o que, no caso dos participantes desta pesquisa, mais sensíveis em relação
às potencialidades de AcDVs e a importância de garantir-lhes o acesso à Arte. Por
isso sua relevância para a compreensão e interação com esse campo de
conhecimento humano.
Sobre a sensibilidade, esta se desenvolve por meio das distintas
experiências que se relacionam às múltiplas linguagens artísticas, assim como no
cotidiano dos indivíduos, principalmente, de suas relações interpessoais. Reflete-se
na percepção do desejo latente de expressão da capacidade criativa, proporcionando
a descoberta e a criação do inusitado, do novo.
Através da fruição e do fazer artístico, os indivíduos podem desenvolver
sua capacidade simbólica e sensibilidade, estendendo-as aos domínios do
pensamento, do diálogo e da percepção de elementos estéticos pertencentes a
épocas e culturas diferentes. E é por meio da sensibilidade que o indivíduo se mobiliza
no sentido de buscar autoconfiança e autonomia, o que o impele a conquistar sua
realização, individual e social, como um ente histórico e cultural.
A segunda categoria, “Poder ampliar o acesso à Arte por meio da AD”,
reflete a compreensão dos participantes acerca da importância de utilização da AD
em diversos contextos sociais, permitindo-nos inferir que, além disso, estes
reconhecem a relevância que o acesso à Arte, sem barreiras, assume na vida das
pessoas. Primeiro como um direito que deve ser respeitado e, segundo, como um
elemento indispensável à humanização dos indivíduos, permitindo-lhes perceber o
que lhes salta aos olhos, expressar emoções, imaginar, criar, sentir, dentre outras
atitudes que somente são possíveis pela interação com a Arte, a qual torna a vida
individual e social possível e nos permite caminhar um percurso que nos distancia da
incivilidade e nos aproxima da delicadeza.
A Arte nos proporciona ainda a capacidade de sermos autocríticos, de nos
compreendermos como indivíduos dependentes e conectados a outros indivíduos,
seja por afinidade de interesses, afetividade ou outro motivo, assim como de sermos
empáticos, colocando-nos no lugar do outro para conhecer e assim valorizar sua
história de vida, suas experiências e seus sentimentos.
Como afirma Motta (2010), a AD amplia a compreensão das PcDVs em
relação aos produtos culturais, expandindo o acesso às diversas linguagens artísticas.
Trazer essa discussão para a formação de professores na disciplina Arte-Educação
139
Mesmo que a visão seja uma das principais fontes de acesso às informações,
isso não significa que seja a única. Os outros canais perceptivos podem e
devem ser amplamente explorados: tanto o tato, a audição e o olfato, como
também a linguagem verbal.
respostas que estes deram aos instrumentos de pesquisa, verificamos que há muitas
evidências de que, a partir do momento que trouxemos o tema da AD para as aulas
da disciplina Arte-Educação do curso de Pedagogia, pudemos tecer diversas reflexões
que indicam uma mudança nos discursos dos que estiveram envolvidos ao longo do
processo.
Antes de iniciarmos a formação, muitos afirmaram nunca ter tido contato
com a AD, no máximo haviam lido em redes sociais ou visto alguém fazer sua auto
AD em eventos virtuais, mas sem entender o motivo por trás dessa prática. Durante e
após a formação, pudemos testemunhar a manifestação da compreensão dos
participantes sobre ser necessário que a AD se transforme em uma prática cotidiana,
na universidade, na escola, nos diferentes ambientes sociais, ampliando o acesso de
muitas pessoas que necessitam desse recurso, não apenas as PcDVs, a um sem-
número de conhecimentos que circulam vinculados a informações visuais. Esse pode
ser um indicativo de que, muito além dos discursos, a mudança de atitudes também
esteja em progresso.
Essa mudança de discursos e de atitudes nos permite inferir que, sim,
alcançamos o propósito desta investigação, que foi a de analisar as contribuições que
a AD pode proporcionar à formação estética de futuros pedagogos, quando inserida
na disciplina Arte-Educação do curso de Pedagogia, no sentido de ter sido possível
desenvolver sensibilidade, empatia, percepção, consciência sobre a participação
social de todos, sem barreiras, nas diversas situações da vida coletiva, incluindo o
acesso à Arte para a fruição artística, assim como ao conhecimento produzido em Arte
e a tudo o que tiver relação com a Arte para a evolução humana.
Na próxima seção apresentamos algumas considerações finais acerca do
processo o qual vivenciamos, esperando que o mesmo possa vir a ser um ponto de
partida para outros estudos que respondam a questionamentos os quais não demos
conta de responder nestas páginas.
143
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
relações sociais com sua comunidade e seu entorno, dentre outros, para que isso
ocorresse. Contudo, a transformação no discurso desses participantes nos revelaram
que a AD teve uma grande contribuição nessa formação estética.
Além disso, por termos a consciência de que as dimensões sensível e
artística fazem parte da existência humana, não podendo ser desprezadas,
acreditamos que as discussões tecidas ao longo desta investigação dotaram os
participantes do potencial necessário para refletir e questionar outras situações que
estão dadas e que, por isso, refletem algumas injustiças sociais, como a pouca
atenção que é dada à questão da inclusão de PcDs na educação. Uma postura mais
reflexiva e questionadora certamente terá um eco nas suas práticas pedagógicas,
gerando mudanças significativas, a começar, em sua sala de aula.
Esperamos que desse processo de pesquisa-formação suscitem, nos
participantes e demais que venham a ter contato com o estudo desenvolvido, o desejo
pelo diálogo e pela reflexão sobre as potencialidades e limitações de uma formação
para atuação docente tanto numa perspectiva sensível quanto inclusiva. Além disso,
que as perguntas que não conseguirmos responder ao final desta pesquisa,
esperamos que possam servir de ponto de partida para outras pesquisas futuras.
146
REFERÊNCIAS
CAMPANHÃ, Ana M.; REBOUÇAS, Ana M.; FELTRE, Camila; MOREIRA, Carmita
M.; FERNANDES, Iris; NEGREIROS, Lizette T.; PONTES Maria A. Audiodescrição
no Centro Cultural São Paulo. In: MOTTA, Lívia M. V. de M.; ROMEU FILHO, Paulo.
(Orgs.). Audiodescrição: Transformando Imagens em Palavras. São Paulo:
Secretaria dos Direitos das Pessoas com Deficiência, 2010. p. 243-250
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed., São Paulo: Atlas,
2008.
HOLLAND, Andrew. Audio Description in the Theatre and the Visual Arts: Images
into Words. In: DÍAZ CINTAS, Jorge; ANDERMAN, Gunilla. Audiovisual
Translation: Language Transfer on Screen. Basingstoke; New York: Palgrave
Macmillan, 2009. p. 170-185.
MELO, Carla C. de; MELO, Celso C. de; FERREIRA, Luana C. A.; ANTONIASSI
JUNIOR, Gilmar. Espaço urbano e o direito à mobilidade e acessibilidade: uma
análise da principal via pública de uma cidade. Scientia Generalis, v. 1, n. 3, p. 139-
161, 2020.
NASCIMENTO JUNIOR, Evanildo F.; SILVA, Carla M.; SILVA, Luiz A. S. da.
“Olhares Cegos”: transformando fotografias em sons – a importância da
audiodescrição no acesso à informação por usuários com deficiência visual. Ciência
da Informação em Revista, Maceió, v. 7, n. especial, p. 57-69, jan. 2020.
SACKS, Oliver. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SILVEIRA, Nise da. O Mundo das Imagens. In: Bienal de São Paulo. Imagens do
Inconsciente. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000. p. 46-55.
APÊNDICES
155
Categorias dos
achados na BDTD com Mestrado/autor/ano/instituição Doutorado/autor/ano/instituição
a grafia
“audiodescrição”
Objetividade na AD Stefanini (2020)/UNICAMP -
AD no futebol Costa (2015)/UECE -
AD didática Oliveira (2018)/UECE Vergara-Nunes (2016)/UFSC
Priorização de
informações em Seoane (2012)/UECE -
roteiros de AD
Formação docente e Silva (2019)/UFRN Braga (2018)/UECE
AD
Glossário de termos Medeiros (2012)/UECE -
da AD
AD de obras de arte Oliveira Junior (2011)/UECE Aderaldo (2014)/UFMG; Nunes
(2016)/UECE
Oliveira (2011)/Anhembi-Morumbi;
Silva (2012)/UECE; Souza
(2012)/UFMG; Benvenuto
(2013)/UECE; Teles (2014)/UnB; Costa (2014)/PUC-RJ; Rezende
AD e filme/cinema Ferreira (2014)/PUC-MG; Lucatelli (2017)/PUC-MG; Tavares
(2015)/UnB; Machado (2019)/UFPE
(2015)/UNICAMP; Domingues
(2015)/UFPB83; Duarte
(2016)/UFSM; Silva (2018)/UFRN;
Garcia (2019)/UFRN
AD e séries Santos (2017)/UnB -
Machado (2011)/UNESP; Silva
AD e TV (2011)/UFSC; Ishikawa -
(2014)/UNESP; Rezende
(2014)/UnB
AD e dança Lima (2016)/UECE -
Estudo descritivo Nóbrega (2014)/UECE; Abud -
sobre roteiros de AD (2018)/UECE
AD em ambiente
virtual de Franco (2018)/UECE -
aprendizagem
Elaboração de banco
de objetos digitais de Silva (2018)/UFGD -
AD
AD e musicais Tavares (2014)/UECE -
Avaliatividade em Arraes (2017)/UECE Santos (2018)/UECE
roteiros de AD
Leão (2012)/UECE; Nóbrega
AD e teatro (2012)/UFPE84; Nascimento Leão (2018)/UECE
(2017)/UFRN; Schwartz
(2019)/UFRGS
AD no carnaval Dantas (2012)/UECE -
84Trabalho em que é utilizado o termo “áudio-descrição”, mas que resultou da busca feita com o
descritor “audiodescrição”.
156
85Trabalho em que é utilizada a grafia “áudio-descrição”, mas que resultou da busca feita com a grafia
“audiodescrição”.
86Nessapesquisa a AD faz parte dos recursos pedagógicos utilizados para a inclusão escolar de
AcDVs.
Total de trabalhos88 79
Categorias dos
achados na BDTD com Mestrado/autor/ano/instituição Doutorado/autor/ano/instituição
a grafia “áudio-
descrição”
AD no teatro Nóbrega (2012)/UFPE89 -
AD e livro didático Santos (2017)/UFPE90 -
AD de obras de arte Mattoso (2012)/UFRJ-IBICT91 -
AD e mobilidade - Silveira (2017)/UFSC
urbana
AD, TIC e TA Santos (2018)/UNINTER -
Quantidade de 4 dissertações 1 tese
trabalhos por nível
Total de trabalhos 5
Categorias dos
achados na
BTD/Capes com a Mestrado/autor/ano/instituição Doutorado/autor/ano/instituição
grafia
“audiodescrição”
Objetividade na AD Stefanini (2020)/UNICAMP -
AD no futebol Costa (2015)/UECE -
AD didática Oliveira (2018)/UECE Vergara-Nunes (2016)/UFSC
Priorização de
informações em Seoane (2012)/UECE -
roteiros de AD
Formação docente e Silva (2019)/UFRN Braga (2018)/UECE
AD
Glossário de termos Medeiros (2012)/UECE -
da AD
AD de obras de arte Oliveira Junior (2011)/UECE; Aderaldo (2014)/UFMG; Nunes
Mattoso (2012)/UFRJ-IBICT (2016)/UECE
Rodrigues (2010)/UNEB; Braga
(2011)/UECE; Oliveira
(2011)/Anhembi-Morumbi; Silva
(2012)/UECE; Sales (2012)/UECE;
Souza (2012)/UFMG; Benvenuto
(2013)/UECE; Farias (2013)/UFBA;
Silva (2014)/UECE; Teles Costa (2014)/PUC-RJ; Tavares
AD e filme/cinema (2014)/UnB; Ferreira (2014)/PUC- (2019)/UFPE; Carneiro
MG; Lucatelli (2015)/UnB; Machado (2020)/UFBA
(2015)/UNICAMP; Domingues
(2015)/UFPB92; Carneiro
(2015)/UFBA; Duarte (2016)/UFSM;
Farias Junior (2016)/UECE;
Rezende (2017)/PUC-MG; Silva
(2018)/UFRN; Silva (2018)/UFRN;
Garcia (2019)/UFRN
AD e séries Santos (2017)/UnB -
Machado (2011)/UNESP; Ishikawa Scoralick (2017)/UFRJ
AD e TV (2014)/UNESP; Rezende
(2014)/UnB
AD e dança Oliveira (2013)/UFBA; Lima -
(2016)/UECE
Estudo descritivo de Nóbrega (2014)/UECE; Abud -
roteiros de AD (2018)/UECE
AD em ambiente Franco (2018)/UECE; Tyska
virtual de (2018)/IFRS -
aprendizagem
Elaboração de banco
de objetos digitais de Silva (2018)/UFGD -
AD
AD e musicais Tavares (2014)/UECE -
Avaliatividade em Arraes (2017)/UECE; Claudino Santos (2018)/UECE; Oliveira
roteiros de AD (2019)/UECE; Lima (2019)/UECE Junior (2016)/UECE
Leão (2012)/UECE; Nascimento
AD e teatro (2017)/UFRN; Schwartz
93Nessa pesquisa, embora a autora trate das experiências estéticas de PcDVs na área das artes visuais
em museus, e da importância da acessibilidade estética, além da acessibilidade física em
equipamentos culturais, a autora descarta a AD como uma ferramenta que promova ou potencialize
esse tipo de interação estética, o que vai de encontro ao que defendemos em nosso estudo, portanto,
descartamos a possibilidade desse resultado ser um achado para esta pesquisa.
94O trabalho de Carvalho (2017) já havia sido classificado como achado após busca na BDTD, tendo
sido discutido entre os achados dessa base de dados, não havendo necessidade de discuti-lo
novamente.
95
Trabalho em que é utilizada a grafia “áudio-descrição”, mas que resultou da busca feita com a grafia
“audiodescrição”
162
96 O trabalho de Carvalho (2017) já havia aparecido na busca com a grafia “audiodescrição” na BTD.
97 O trabalho de Mattoso (2012) já havia aparecido na busca com a grafia “audiodescrição” na BTD.
164
__________________________ ________________________
Georgia Tath Lima de Oliveira – Prof.ª Dr.ª Ana Cristina de Moraes –
Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico – Orientadora da pesquisa – PPGE/UECE –
PPGE/UECE – georgia.tath@aluno.uece.br cris.moraes@uece.br
Quais contribuições a AD
trouxe para sua formação
estética como futura(o)
pedagoga(o)?
172
ANEXOS
173
Proposta de AD inicial: Foto intitulada "Meu sonho de infância sendo realizado pela minha irmã". Ao
centro da foto está uma jovem sentada em uma cadeira de plástico, segurando um violão ao que
parece estar tocando um acordes. O violão é da cor rosa, a jovem é parda, tem o cabelo castanho
preso em "rabo de cavalo", esra vestindo o que parece ser um vestido listrado rosa com listras
horizontais brancas. No chão de terra é possível perceber uma mangueira de água atravessando um
pouco atrás da cadeira em que a jovem está sentada. Ao fundo é possível perceber duas estacas
de madeira finas, não é possível perceber com exatidão a vegetação ao fundo devido a luz
encandescente do sol da tarde, mas ainda assim, é possível perceber alguns poucos tons de verde
de canteiros de cheiro verde.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, na vertical, feita por A.K.C.F.,
intitulada "Meu sonho de infância sendo realizado pela minha irmã", que mostra uma jovem, ao
centro, tocando violão. Ela tem a pele parda, cabelos longos, lisos e pretos, presos por um rabo-de-
cavalo. Usa um vestido vermelho de listras brancas horizontais e chinelos de dedo. Está sentada em
uma cadeira de plástico vermelha. A moça olha concentrada para o violão cor de rosa que segura
em seu colo, enquanto parece tocar alguns acordes. O ambiente em que está se assemelha a uma
paisagem rural. O chão é de terra batida e, ao fundo, em meio à luminosidade encandescente do sol
da tarde, vemos canteiros de cheiro verde e um paredão de rochas. A jovem está protegida pelo que
parece ser um grande barracão com teto de palha sustentado por finas estacas de madeira fincadas
no chão. Não vemos o telhado desse possível barracão, mas o percebemos devido à luz do sol que
penetra por entre as brechas das palhas, refletindo próximo aos pés da moça.
174
Proposta de AD inicial: Foto intitulada "Canção feliz" – D.M.O. Fotografia tirada na vertical, de um
desenho feito a lápis, esse desenho é de uma paisagem. À direita há uma árvore com galhos secos,
essa árvore é destaque pois sua cor é mais escura, mais preta que os outros elementos do desenho.
Abaixo perto do tronco da árvore tem um arbusto pequeno, de cor cinza mais claro. Acima
atravessando os galhos da árvore há uma nuvem grande cinza, e um pouco mais acima à esquerda
dela há outra nuvem menor mas branca. Abaixo à esquerda da paisagem há uma estrada cercada
dos dois lados esquerdo e direito, que termina com uma curva a frente. À esquerda da estrada há
dois postes o maior na frente e o outro fica menor por ser mais longe, esses postes são conectados
por um fio. Atrás dos postes há serras são quatro, de cor cinza na parte de cima delas, elas estão
ligadas, uma atrás da outra, duas delas estão atrás dos postes e as outras duas estão localizadas
ao meio da paisagem, entre o tronco da árvore à direita e o segundo poste à esquerda localizado no
fim da estrada.
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Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia na vertical, feita por D.M.O., de título "Canção
feliz", que mostra o desenho de uma paisagem feito a lápis sobre papel branco. Do canto inferior
direito do desenho saem o tronco e os galhos de uma árvore, que sobem em direção ao centro da
foto. São galhos finos, secos e retorcidos, quase sem folhas. Por trás do tronco dessa árvore há um
pequeno arbusto com folhagem. A partir da lateral esquerda do desenho, em direção ao centro,
vemos fios elétricos que se ligam a altos postes de iluminação, os quais ladeiam uma estrada bem
estreita. De cada lado da estrada há uma proteção de cerca, que acompanha toda sua extensão. Ao
fundo há uma paisagem com uma pequena cordilheira formada por quatro grandes serras. Acima
das serras, um vasto céu com nuvens, dando a impressão de que o dia está nublado.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, em posição horizontal, feita por
J.S.G., com o título “Arte(fatos) da infância”, que mostra a palavra “Arte”, feita com bolinhas de gude
dispostas sobre um tecido branco levemente amassado. A palavra está no centro da foto, onde um
foco de luz incide sobre a mesma, deixando os cantos da imagem um pouco escurecidos. Duas
linhas onduladas, também feitas de bolinhas de gude, contornam a palavra “Arte”. A linha superior é
composta por dez bolinhas e a de baixo por seis, todas de cores variadas: branca, verde, cinza e
azul, sendo as azuis mais translúcidas e as outras mais opacas. Por serem mais translúcidas, as
bolinhas azuis parecem estar mais iluminadas que as demais, destacando-se na foto. As letras “A”
e “R” da palavra “Arte” estão levemente inclinadas para a direita, enquanto que o “T” e o “E” estão
inclinados para a esquerda, fazendo com que a palavra, assim como as linhas que a contornam,
esteja em perfeito desalinho.
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Proposta de AD inicial: Ao fundo uma parede branca e algumas almofadas com listras verticais, na
frente uma cesta feita à mão pela minha tia que foi professora de artesanato muitos anos e que agora
produz apenas para descontrair, está um tanto desgastada por que foi feita a quase 8 anos atrás. A
cesta foi feita com galhos de árvores, os galhos são flexíveis para que possam ser retorcidos e dar
uma armonizada na cesta, foram usados dois galhos contorcidos na alça, formando um arco, na
parte de baixo foi usado um tipo de madeira diferente com o intuito de deixar a cesta mais resistente,
a arte está em cima de um sofá marrom. O título é: Artesanato.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, na posição vertical, feita por
M.G.C.S., de título “Artesanato”, onde vemos, ocupando toda a imagem, uma cesta sobre um sofá.
A cesta é feita de finos galhos, na cor marrom claro, quase beges. Os galhos, que parecem muito
flexíveis, foram trançados ao redor de uma base de madeira redonda, o fundo da cesta, de modo a
compor suas laterais. Uma longa alça em formato de arco foi feita com dois galhos entrelaçados um
no outro. A cesta, que está bastante desgastada, foi criada há muitos anos por uma ex-professora
de artesanato que hoje somente realiza esse tipo de atividade como distração. Ao fundo é possível
ver uma almofada de sofá com listras verticais nas cores preta, cinza escuro e cinza claro. Sobre a
almofada vemos a projeção da sombra da alça da cesta.
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Proposta de AD inicial: 'Chão de taco, madeira escura, encaixada em pequenos retângulos. Sobre
este, uma folha A4, branca, limpa. Lápis coloridos dispostos ordenadamente acima da folha. Um
pote de tinta azul com a tampa ao lado, uma tesoura média com cabo preto'.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, na vertical, feita por A.P.D., de título
“Imagine, crie, invente. Viva felicidade! O universo está em nossas mãos!”, que mostra, ao centro e
dispostas na diagonal em relação ao observador, uma folha de papel A4 branca em cima de uma
folha de papel madeira sobre um piso de taco marrom escuro. Na parte central da foto, em cima da
folha A4, estão quatro lápis, nas cores rosa, verde, vermelho e preto, organizados no formato de
leque. À direita dos lápis está um pequeno frasco destampado contendo tinta azul. Abaixo dos lápis
está uma tesoura de pontas redondas com o cabo preto. Suas pontas estão levemente voltadas para
cima e para o lado direito da foto, tocando a tampa do pequeno frasco de tinta.
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Proposta de AD inicial: Na foto, tem meu sobrinho E., de 3 anos, com uma camiseta azul, com uns
detalhes branco. Ele tem pele branca, cabelo liso e castanho, com o corte surfista. Ele tá escorado
na parede de cor amarela, e sentando na cama, com um travesseiro branco nas pernas. Em cima
do travesseiro, tem o jogo olho mágico, que eu confeccionei, o jogo é feito com caixa de pizza grande,
de revertida com TNT azul. Dentro da caixa tem palavras pequenas escritas em folha sem pauta, as
folhas foram cortadas no formato de círculo, e as palavras são escritas de canetinhas coloridas. Ele
tá brincando, e tentando ler as palavras, que estão dentro da caixa, apontando o dedo indicador em
cima da palavra leão.
Proposta de AD inicial: A fotografia com o titulo “o palhaço aposentado”, é uma imagem colorida no
formato quadrado, no centro da imagem está um fantoche de mão que representa a figura de um
palhaço, o fantoche possui uma cabeça com o formato circular na cor bege, apresentando uma
careca no topo e cabelos formados por fios coloridos localizados apenas ao redor da cabeça. No
centro do rosto está o nariz, ele é vermelho, possui o formato circular e uma sujeira amarronzada
localizada do lado esquerdo. Acima do nariz estão os dois olhos, são de plástico, pequenos, possui
a íris azul e a pupila em preto. Abaixo do nariz está a boca, uma grande abertura que atravessa o
todo o rosto do fantoche, revestida por dentro em um tecido de textura aveludada, na cor vermelho.
O corpo do fantoche é representado por uma vestimenta parecida com um vestido na branca com
estampa floral em amarelo e uma gravata do tipo borboleta na cor verde, que fica perto do colarinho.
A roupa do fantoche possui uma abertura inferior, da qual se sai o braço de uma pessoa negra. Ao
fundo da imagem tem-se uma parede chamativa na cor coral e na parte inferior uma barra
amarronzada que seria a parte de um móvel.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida e na vertical, feita por M.L.R.R.,
intitulada “O palhaço aposentado”, que mostra o fantoche de um palhaço sustentado por uma pessoa
com a pele negra, de quem somente vemos parte do braço. O palhaço, feito de feltro, tem o rosto
rosa claro, os olhos redondos e azuis e, embora seja careca, possui dois flocos de lã colorida nas
laterais da cabeça, próximos às orelhas, como se fosse o pouco de cabelo que lhe resta. Tem um
nariz grande, vermelho e redondo, e uma boca vermelha enorme e aveludada, mostrando um grande
sorriso sem dentes. Sua roupa é branca com estampas florais amarelas. No pescoço usa um grande
laço verde escuro. Não tem braços nem pernas. O palhaço parece bem antigo, com manchas no
rosto, no nariz e no grande laço desfiado ao redor de seu pescoço. Ao fundo vemos uma parede na
cor laranja intenso e na parte inferior da foto aparece parte de um móvel.
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Proposta de AD inicial: Na foto tem uma criança, de aproximadamente 5 anos, ela tem a cor branca,
cabelos castanhos compridos liso e estão soltos, ela está de vestido com estampas em tons de rosa
e está sorrindo segurando um artesanato que ela mesma criou, feito de garrafa pet e decorado com
e.v.a na cor rosa com rosto de ratinho, o ratinho tem bigodes compridos pretos e nariz de coração.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, na vertical, feita por L.K.M.M.A., com
o título “Além da imaginação”, que mostra uma menina, de aproximadamente 5 anos, segurando um
brinquedo feito de material reciclado. Ela tem a pele branca, cabelos castanhos, compridos e
ondulados, enfeitados por uma tiara colorida. Usa um vestido com estampas florais em tons de rosa.
Está de pé, do lado esquerdo da foto, com o corpo de lado para o observador, mas olhando para
frente. Ela sorri satisfeita enquanto segura o brinquedo, feito de garrafa PET, coberto por EVA cor
de rosa. O brinquedo tem o formato de um boneco, com o rosto de um ratinho dentuço e sorridente,
de bigodes compridos e pretos e nariz em formato de coração. Na barriga do ratinho está um pedaço
de queijo suíço amarelo com furinhos, também feito de EVA. Do lado direito da foto há uma mesa
sobre a qual está uma tesoura de cortar papel e sobras de material, possivelmente utilizado na
confecção do brinquedo.
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Proposta inicial de AD: A imagem exposta representa a figura de um coração, produzida a partir de
um tijolo de argila, possibilitando perceber a estrutura do material esculpido a mão. Ao fundo da
imagem vemos um ambiente verde de um jardim, que ao unir-se com a imagem do coração trás um
ar de tranquilidade.
Proposta de AD após revisão e consultoria: Fotografia colorida, na vertical, feita por M.L.F.N, com o
título “Construindo arte”, que mostra, ao centro, um coração feito de lajota. A lajota é de barro
vermelho, sendo mais estreita que o tijolo de barro convencional, e é utilizada na construção de lajes
e pisos. As laterais dessa lajota apresentam cinco furos, estruturas que lhe garantem a necessária
resistência. Essas rígidas estruturas internas contrastam com a delicadeza externa da escultura,
cuidadosamente arredondada para tomar a forma final de um coração. A peça repousa, em primeiro
plano, sobre um parapeito de cimento. Ao fundo vemos a imagem desfocada de algumas palmeiras
e outras plantas em um ambiente iluminado pela luz do dia, compondo uma atmosfera de suavidade
e tranquilidade.
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