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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4

HISTÓRIA DE D. W. WINNICOTT ................................................................. 5

TEORIA DE WINNICOTT ............................................................................... 8

A MÃE SUFICIENTE MENTE BOA ............................................................. 9

WINNICOTT E A PRÁTICA CLÍNICA ............................................................ 11

WINNICOTT - PRINCIPAIS CONCEITOS ................................................... 12

HOLDING .................................................................................................... 12

SELF VERDADEIRO E FALSO SELF ......................................................... 13

OBJETO TRANSICIONAL .......................................................................... 14

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INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), esperamos que até aqui você tenha se aprofundado


em psicanálise, agora iremos iniciar a disciplina Clínica Psicanalítica de
Donald Woods Winnicott.

Este psicanalista, assim como Melanie Klein, também direcionou o


pensamento psicanalítico em nova direção, com o reconhecimento
da importância que as experiências dos primeiros anos de vida têm
para a formação de nosso mundo emocional na vida adulta.

Para Winnicott, o objeto externo é muito mais do que um modulador


das projeções da criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade
com o seu filho, ajuda a formar sua mente, fazendo com que este
processo seja bem feito.

Portanto, caro(a) aluno(a) Winnicott acreditava que a mãe


suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o
mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da
onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da
realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo.

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HISTÓRIA DE D. W. WINNICOTT

Donald Woods Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês, nascido


em 7 de abril de 1896 — 28 de janeiro, 1971).

Winnicott era filho de Elizabeth Martha (Woods) Winnicott e do Sr.


John Frederick Winnicott, um comerciante que se tornou cavaleiro em
1924 após servir duas vezes como prefeito de Plymouth.

A família era próspera e aparentemente feliz, mas atrás desse verniz,


Winnicott se viu oprimido por uma mãe com tendências depressivas
como também por duas irmãs e uma babá. Foi a influência do seu pai,
que era um livre-pensador e empreendedor que o encorajou em sua
criatividade. Winnicott se descreveu como um adolescente
perturbado, reagindo contra a própria auto-repressão que adquirindo
sua capacidade de cuidar ao tentar suavizar os sombrios humores de
sua mãe. Estas sementes de autoconsciência se tornaram a base do
interesse dele em trabalhar com pessoas jovens e problemáticas.

Decidindo se tornar um médico, ele começou a estudar medicina em


Cambridge, mas interrompeu seus estudos para servir como cirurgião
aprendiz – residente em um navio (Destroyer) britânico, o HMS Lúcifer,
durante a Primeira Guerra Mundial. Ele completou sua formação em

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medicina em 1920 e em 1923, no mesmo ano do seu primeiro
casamento com Alice Taylor, foi contratado como médico no
Paddington Green Children’s Hospital em Londres. Foi também em
1923, que Winnicott iniciou sua análise pessoal com James
Strachey (1887 – 1967), o tradutor das obras de Sigmund Freud para o
inglês.

Em 1927 Winnicott foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de


Psicanálise, qualificado como analista em 1934 e como analista de
crianças em 1935. Ele ainda estava trabalhando no hospital infantil e
posteriormente comentou que “(…)naquele momento nenhum outro
analista era também um pediatra, assim durante duas ou três décadas
eu fui fenômeno isolado (…)”. O tratamento de crianças mentalmente
transtornadas e das suas mães lhe deu a experiência com a qual ele
construiria a maioria das suas originais teorias. E o curto período de
tempo que ele poderia dedicar-se a cada caso o conduziu ao
desenvolvimento das suas “inter–consultas terapêuticas”, outra
inovação da prática clínica que introduziu.

Um acontecimento relevante da vida desse autor foi a chegada em


Londres, no ano 1926, de Melanie Klein (1882-1960), uma das mais
importantes analistas de criança da sua época, logo fazendo escola e
seguidores. Winnicott aproximou-se e fez uma análise adicional com
um deles, Joan Rivière (1883-1962). A convicção dos Kleinianos na
importância suprema, para a saúde psíquica, do primeiro ano da vida
da criança, foi compartilhada por Winnicott. Contudo, esta visão
diverge um pouco da de Freud e de sua a filha Anna Freud (1895-1982)
– ela mesma uma analista de crianças, que também vieram para
Londres em 1938, refugiados do Nazismo na Áustria. Esboçando-se
uma divisão dentro da Sociedade Psicanalítica Britânica entre os
Freudianos ortodoxos e o Kleinianos; mas ao final da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, um acordo tipicamente britânico estabeleceu três

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cordiais grupos: os Freudianos, o Kleinianos e um grupo “conciliador”
ao qual Winnicott pertenceu juntamente com Michael Balint (1896-
1970) e John Bowlby (1907–1990).

Para Freud, ao brincar, a criança tem prazer na aparente onipotência


que adquire ao manipular os objetos cotidianos, associando-os a
símbolos imaginários como no jogo do qual evocava a presença da
mãe na análise infantil que realizou. Não há dúvidas, porém que foi
Melanie Klein quem efetivamente trouxe a brincadeira para o trabalho
psicanalítico com crianças. Klein reconhecera uma similitude entre (1)
a atividade lúdica infantil e o sonho do adulto, e (2) as verbalizações da
criança ao brincar e a associação livre clássica.

Durante os anos de guerra trabalhou como consultor psiquiátrico de


crianças seriamente transtornadas que tinham sido evacuadas de
Londres e outras cidades grandes, e separado de suas famílias. Ele
continuou trabalhando ao Paddington Green Children’s Hospital nos
anos 1960.

Passada a guerra, Winnicott tornou-se um médico contratado do


Departamento Infantil do Instituto de Psicanálise, onde trabalhou
durante 25 anos. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise
por duas gestões, membro da UNESCO e do grupo de experts da OMS.
Atuou como professor no Instituto de Educação e na London School of
Economics, da Universidade de Londres. Dissertou e escreveu
amplamente como atividade profissional independente.

Ele divorciou-se de sua primeira esposa em 1951 e, nesse mesmo ano,


casou-se com Elsie Clare Nimmo Britton, assistente social, psiquiátrica
e psicanalista. Morreu em 28 de janeiro de 1971, após o último de uma
série de ataques de coração e foi cremado em Londres.

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Discípulo de Klein, Winnicott redimensiona a
brincadeira, situando o brincar do analista e o valor que
essa atividade possui em si, instituída como uma
atividade infantil, e que também faz parte do mundo
adulto. Para ele, os analistas infantis por se ocuparem
tanto dos possíveis significados do brincar não possuíam
um claro enunciado descritivo sobre o brincar. Para ele
"Brincar é algo além de imaginar e desejar, brincar é o
fazer".

Araújo Aparecido - Psicanalista, Neuropsicanalista e


Psicopedagogo

TEORIA DE WINNICOTT

Caro(a) aluno(a), há várias maneiras de enunciar a novidade da


psicanálise de D. W. Winnicott e uma delas refere-se à prática clínica
que decorre da sua nova perspectiva teórica. Enquanto na psicanálise
tradicional existe um método que caracteriza, por excelência, a própria
tarefa analítica – a interpretação dos conflitos inconscientes relativos a

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elementos reprimidos – não se pode dizer o mesmo da clínica
winnicottiana.

A MÃE SUFICIENTE MENTE BOA

Numa breve retrospectiva histórica sobre o conceito de mãe


suficientemente boa, datado como sendo do verão de 1949, um relato
da conversa entre Winnicott e a produtora da BBC de Londres, Isa
Benzie, sobre a possibilidade de realizar uma série de nove palestras.
Nessa conversa, Winnicott expressa interesse em dedicar os temas às
mães, embora deixe claro que não possui qualquer intenção de ensinar
às mães a grande importância do que elas fazem pelos seus bebês.

Na sua concepção, toda mãe dedica-se à tarefa que tem pela frente,
isto é, cuidar de um bebê. Isso é o que geralmente acontece, e constitui
uma exceção o fato de um bebê ser cuidado, desde o início, por uma
outra pessoa que não seja sua própria mãe.

Embora seja perfeitamente possível explicitar as implicações clínicas


de sua teoria, não se pode formular, num enunciado geral, um método
ou uma técnica que definiriam o modo como se trabalha,
psicanaliticamente, na perspectiva winnicottiana. A razão é simples: o
que determina o trabalho a ser feito – e a maneira como deve ser
conduzido um determinado tratamento – é a necessidade do paciente,
e esta varia enormemente conforme a natureza do distúrbio que este
apresenta. Sabemos dos textos winnicottianos, já clássicos, que o que
serve, por exemplo, para um paciente neurótico ou mesmo depressivo
não serve, de modo algum, para pacientes cuja problemática central é
psicótica, ou mesmo para os antissociais.

Para Winnicott, cada ser humano possui um potencial inato para


amadurecer, para se integrar; porém, o fato de essa tendência ser inata
não garante que ela realmente vá ocorrer. Isto dependerá de um

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ambiente facilitador que forneça cuidados que precisa, sendo que, no
início, esse ambiente é representado pela mãe suficientemente boa.

É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade


de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de
forma própria, apresentando, a cada momento, condições,
potencialidades e dificuldades diferentes.

Segundo Winnicott, a mãe suficientemente boa (não necessariamente


a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às
necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente,
segundo a capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e
em tolerar os resultados da frustração.

Assim, podemos pensar que, se amadurecer significa alcançar o


desenvolvimento do que é potencialmente intrínseco, possíveis
dificuldades da mãe em olhar para o filho como diferente dela, com
capacidade de alcançar certa autonomia, podem tornar o ambiente
não suficientemente bom para aquela criança amadurecer. Não basta,
apenas, que a mãe olhe para o seu filho com o intuito de realizar
atividades mecânicas que supram as necessidades dele; é necessário
que ela perceba como fazer para satisfazê-lo e possa reconhecê-lo em
suas particularidades.

“[...] os cuidados maternos com o próprio bebê são


inteiramente pessoais, uma tarefa que ninguém mais
pode realizar tão bem quanto a própria mãe. Enquanto
cientistas dão voltas ao problema, procurando provas
como lhes compete fazer antes de acreditar em
qualquer coisa, as mães farão bem em insistir em que
elas próprias são necessárias desde o princípio. Esta
opinião não se baseia, devo também acrescentar, não se
baseia em ouvir as mães falarem, em palpites ou na

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intuição pura; é conclusão que fui obrigado a estabelecer
após longas pesquisas”.

Araújo Aparecido - Psicanalista, Neuropsicanalista e


Psicopedagogo

WINNICOTT E A PRÁTICA CLÍNICA

A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud


e outros, foi a decisão de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade
psíquica”, o que lhe permitia observar a sucessão de mães e bebês e
obter conhecimento referente à constelação mãe-bebê, e não como
dois seres puramente distintos. Assim, não há como descrever um
bebê sem falar de sua mãe, pois, no início, o ambiente é a mãe e apenas
gradualmente vai se transformando em algo externo e separado do
bebê.

O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao


bebê na medida exata das necessidades deste, e não de suas próprias
necessidades. Esta adaptação da mãe torna o bebê capaz de ter uma
experiência de onipotência e cria a ilusão necessária a um
desenvolvimento saudável.

O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a


um estado de retraimento da mãe e é necessário para que ela possa
estar envolvida emocionalmente com seu bebê. Uma contribuição
importante do autor refere-se ao conceito dos objetos transicionais e
fenômenos transicionais que surgem na superação do estágio de
dependência absoluta em direção à dependência relativa., E não é
importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso que a
criança faz desse objeto. Ele se coloca na zona intermediária, na
separação entre a mãe e o bebê, ajudando a tolerar a angústia de
separação e ausência materna.

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WINNICOTT - PRINCIPAIS CONCEITOS

HOLDING

Para Winnicott, a sustentação ou holding protege contra a afronta


fisiológica. O holding deve levar em consideração a sensibilidade
epidérmica da criança tato, temperatura, sensibilidade auditiva,
sensibilidade visual, sensibilidade às quedas assim como o fato de que
a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria.
Inclui toda a rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. A
sustentação compreende, em especial, o fato físico de sustentar a
criança nos braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe funciona
como um ego auxiliar.

Winnicott propõe que, durante os últimos meses de gestação e


primeiras semanas posteriores ao parto, produz-se na mãe um estado
psicológico especial, ao qual chamou de “preocupação materna
primaria”. A mãe adquire graças a esta sensibilização, uma capacidade
particular para se identificar com as necessidades do bebê.

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O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de
não-integração, que caracteriza o recém-nascido, para a integração
posterior. O vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o
desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo.

SELF VERDADEIRO E FALSO SELF

O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto


desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e
motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando,
até alcançar uma imagem unificada de si e do mundo externo.

Quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do


recém-nascido; a criança perceberá esta falha ambiental como uma
ameaça à sua continuidade existencial. A qual, por sua vez, provocará
nela a vivência subjetiva de que todas as suas percepções e atividades
motoras são apenas uma resposta diante do perigo a que se vê
exposta. Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta por
uma “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em uma casca, às
custas da qual cresce e se desenvolve o self. O indivíduo vai se
desenvolvendo como uma extensão da casca, como uma extensão do
meio atacante.

“(...) O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar


que lhe permita integrar suas sensações corporais, os
estímulos ambientais e suas capacidades motoras
nascentes”.

Araújo Aparecido - Psicanalista, Neuropsicanalista e


Psicopedagogo

Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do


lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O self verdadeiro começa a

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adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da
onipotência infantil, dá ao ego débil da criança. A mãe que “não é boa”
é incapaz de cumprir a onipotência da criança, pelo que
repentinamente deixa de responder ao gesto da mesma, em seu lugar
coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão ou
acatamento do mesmo por parte da criança. Essa submissão constitui
a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para
interpretar as necessidades da criança.

Nos casos mais próximos da saúde, o self falso age como uma defesa
do verdadeiro, a quem protege sem substituir. Nos casos mais graves,
o self falso substitui o real e o indivíduo. Winnicott diz que na saúde o
self falso se encontra representado por toda a organização da atitude
social cortês e bem educada. Produziu-se um aumento da capacidade
do indivíduo para renunciar a onipotência e ao processo primário, em
geral, ganhando assim um lugar na sociedade que jamais se pode
conseguir manter mediante unicamente o self verdadeiro. O falso self,
especialmente quando se encontra no extremo mais patológico da
escala, é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de
vazio, futilidade e irrealidade.

OBJETO TRANSICIONAL

O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança,


têm um caráter de intermediação entre o seu mundo interno e externo.

Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe


três usos diferentes: um processo evolutivo, como etapa do
desenvolvimento; vinculada às angústias de separação e às defesas
contra elas; representando um espaço dentro da mente do
indivíduo. Ele propõe ainda que em determinadas condições, o
fenômeno ou objeto transicional pode ter uma evolução patológica, ou
mesmo se associar a certas condições anormais.

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O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro
nem fora da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com
essas situações, e para ir demarcando seus próprios limites mentais em
relação ao externo e ao interno.

O objeto transicional ocupa para um lugar que Winnicott chama de


ilusão. Ao contrário do seio, que não está disponível constantemente,
o objeto transicional é conservado pela criança. Ela é quem decide a
distância entre ela e tal objeto. Como os fenômenos transacionais “
representam” a mãe é essencial que ela seja vivenciada como um
objeto bom. Quando dentro da criança, o objeto materno está
danificado, é pouco provável que ela recorra, de maneira constante, a
um fenômeno transicional.

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