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Running head: A CONTRIBUIÇÃO DE WINNICOTT À PSICOTERAPIA 1

A Contribuição De Winnicott À Psicoterapia

Bianca Tisbierek, Erica Fraga, Franthine, Kátia Weiss, Reinaldo Cerqueira

Psicologia - IMED 2020 (Psicanálise Contemporânea)

Professor: Mariana

Terça-feira, 29 de setembro, 2020


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Introdução

O tema dessa pesquisa bibliográfica é a biografia de Donald Winnicott e sua importância

para a prática clínica da psicanálise. Aqui vai uma breve explicação do que vai ser exposto no

restante do trabalho………………….

DONALD WOODS WINNICOTT (1896 – 1971)

Nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã-Bretanha, em 7 de abril de 1896

tinha duas irmãs mais velhas e aos 14 anos foi para um internato.

Era de família abastada, culta e protestante; vivia em uma mansão com sua família que era

composta de pai, mãe e duas irmãs mais velhas. Foi uma criança comunicativa, vivaz e que pode

explorar a infância; enfim, teve uma infância feliz ao lado da família cheia de vida e atividades.

Seu pai era um próspero comerciante, culto e inteligente. Sua mãe era vivaz com as pessoas,

expressando facilmente seus sentimentos. Sua família era ligada à arte, onde até uma de suas irmãs

foi uma importante pintora.

Aos 12 anos seu pai decidiu mandá-lo para um colégio interno (Levys School, em

Cambridge), pois achava que tinha más companhias. Winnicott se adaptou bem ao colégio, tendo

muitos amigos e atividades. A que gostava mais era ler para os colegas de dormitório, pois ele lia

muito bem, dando entonação e vida à leitura.

Com 16 anos teve uma fratura na clavícula que o fez passar algum tempo na enfermaria do

colégio, isso o influenciou a decidir pela carreira médica.

À época de sua formação em medicina, em 1920, Winnicott já estava firmemente

convencido da impossibilidade de se proceder a um diagnóstico dos distúrbios pertinentes à

pediatria sem incluir na consideração os aspectos psicológicos. Ainda estudante, deparou-se com

uma obra sobre Freud, escrita pelo pastor suíço Oskar Pfister, e ficou encantado com a possibilidade
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aberta pela psicanálise de abordar, não apenas a doença psíquica, mas os distúrbios somáticos, de

um ponto de vista eminentemente psicológico.

Em 1923, obtém o cargo de médico no hospital Paddington Green Children, em Londres.

Neste mesmo ano, começou sua análise pessoal com o Dr. James Strachey, tradutor oficial

de inglês, das obras completas de Sigmund Freud.

Em 1927, Winnicott foi aceito para começar sua formação analítica na Sociedad

Psicoanalítica Britânica. Em 1934, concluía sua formação como analista de adultos e em 1935,

como analista de crianças, sendo considerado, por três décadas, um fenômeno isolado, pois nenhum

outro analista era pediatra.

Na década de 30, ao mesmo tempo em que sua formação psicanalítica prossegue, Winnicott

empenha-se em que os pediatras abandonem certos procedimentos resultantes de uma formação

meramente organicista e se inteirem dos aspectos psicológicos na apreciação dos distúrbios infantis.

Em 1935, por sugestão de Strachey, procura Melanie Klein, que já era conhecida por seu

interesse pelas angústias precoces e por suas teorias sobre as fases mais primitivas da infância.

Considerando da maior importância o estudo empreendido por Klein, Winnicott persegue a trilha

aberta por ela e torna-se seu supervisionando de 1935 até 1940 ou 41.

A partir de 1936, Winnicott começou a ministrar um curso regular sobre crescimento e

desenvolvimento humano para professores do Instituto de Educação de Londres, a convite de uma

amiga pessoal e colega, a Dra. Susan Isaacs. A partir de 1947, ministrou palestras para estudantes de

assistência social na Escola Londrina de Economia e Ciências Políticas.

Winnicott tinha uma boa reputação como conferencista interessante e espontâneo, e a British

Broadcasting Corporation (BBC) convidou-o a falar para pais e mães pelo rádio. Entre 1939 e 1962,

ele participou de cerca de cinqüenta programas sobre uma enorme gama de assuntos, que variaram

desde “a contribuição do pai”, “o filho único”, “a importância de visitar as crianças no hospital”, e


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“a dinâmica da adoção”, até “a psicologia dos pais adotivos”, “o significado do ciúme” e “as

vicissitudes da culpa”.

Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein.

Quando terminou a Segunda Guerra, Winnicott foi nomeado Diretor do Departamento

Infantil do Instituto Psicanalítico da Sociedade Britânica, cargo no qual se manteve por 25 anos. Foi

ainda, por dois mandatos consecutivos, Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise. Continuou

trabalhando no hospital Paddington Green Children's até os anos 60.

Em 1945, quatro anos após ter deixado a supervisão com Klein, Winnicott escreve o artigo

"Desenvolvimento emocional primitivo" e faz ali algumas afirmações que denotam ter ele resolvido

seguir seu próprio caminho.

Em 1967, ao apresentar aos seus colegas da Sociedade Britânica de Psicanálise uma

retrospectiva de seu percurso intelectual, Winnicott refere-se à posição característica da psicanálise

tradicional de enfatizar os fatores internos e negligenciar os aspectos ambientais; diz que, durante

dez ou quinze anos, os psicanalistas eram os únicos que aceitavam a existência de qualquer coisa

que não fosse o ambiente e que, enquanto todo mundo clamava que a delinqüência de um dado

garoto devia-se ao fato de o pai ser alcoólatra etc., os psicanalistas continuavam a atribuir os

problemas à constituição e a pesquisar os conflitos internos.

Em várias ocasiões, Winnicott tentou conversar com M. Klein e com alguns kleinianos

acerca do fator ambiental, o que era recebido com total desinteresse, quando não com suspeita. Ele

dirá, um pouco mais tarde, que todos aqueles que se interessaram pelo cuidado com a criança

correram o risco de serem considerados "traidores do processo interno”

Winnicott morreu em 1971 de uma doença pulmonar e cardíaca, estava ainda em plena

atividade profissional e nos deixou muitas contribuições no campo da psicanálise.


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Winnicott E A Psicanalise

O trabalho de Winnicott é citado como uma mudança que pode ser comparada a uma

revolução na psicanálise. (Loparic 2006). Entretanto a ideia que Winnicott representou uma ruptura

em relação a escola freudiana é errônea, na verdade ele seguiu a tradição, mas de forma original.

Winnicott foi muito mais clinico que teórico e sua origem britânica influenciou sua postura. ( Costa,

1966). A prática clínica de Winnicott nos possibilita ampliar a atuação de análise com pacientes

chamados difíceis. Pacientes bordelines, esquizóides e narcisicos graves, eram considerados

pacientes não eleitos para os processos de análise. Além disso no contexto do trabalho com estes

pacientes a valorização do silêncio do paciente e a possibilidade de compreender este silencio será

um dos aspectos da clínica de Winnicott. ( Neto, 2008 ).

As tendências anti-sociais e a psicose infantil na visão de Winnicott podem ser

compreendidas teoricamente, assim como é possível trata-las clinicamente. (Loparic 2006).

Winnicott defendia que na clinica com crianças, o método de atuação estaria intimamente ligado a

atividade de brincar. (França e Passos, 2019). Outro aspecto interessante da teoria de Winnicott é o

que representava para ele o trauma. Este seria ligado diretamente as falhas ambientais que

interrompem a continuidade de ser. Ou seja, quando a ambiente falha na sua função, a quebra da

confiabilidade se instala como trauma. (Fulgêncio, 2004).

Winnicott se autoriza a uma liberdade maior de atuar no setting. A escuta clínica ainda é o

foco do trabalho terapêutico, mas o terapeuta precisa acolher o paciente, num setting que não seja

rigoroso. Isso reforça a importância que Winnicott dá ao ambiente. (Barros, 2013).

Winnicott teve outra relação com a chamada neutralidade, o tempo de duração das sessões

também teve impresso sua marca. Manteve relações de amizade com seus pacientes. (Roudinesco e

Poln, 1997). Fez uma nova edição do estádio do espelho para escrever artigos sobre o papel de

espelho da mãe e da família no desenvolvimento da criança.


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O conceito de dependência psíquica e biológica da criança em relação a mãe tem muita

importância. A dependência do bebê em relação aos cuidados de sua mãe é que vão construir este

ser que sem esta relação não existe. Ou seja, é através dos cuidados dispensados pela mãe que

interpreta as necessidades do seu filho que a construção da sua psique vai se construindo. Mas será

necessário que a mãe seja saudável o suficiente, e suficientemente boa para deixar um espaço para

que surja daí uma individuação. E que eles não sejam algo único no sentido de uma amalgama.

A mãe tem uma importância vital e o pai um papel mais coadjuvante e a erotização não tem

tanta importância como na teoria freudiana. Para Winnicott, é na relação analítica que aqueles

pacientes que não atingiram o estado evolutivo de integração, poderão vivenciar pela primeira vez,

analítica, os cuidados ambientais que não existiram. (apud Winnicott 1963b/1982, p. 225-233).

O silencio na análise não incomodava Winnicott, que pelo contrário, via este como uma

forma sui generis de comunicação. Já o objeto transicional representa para Winnicott a passagem do

bebê de um estado em que ele está fundido com a mãe para um estado em que a relação com ela

começa a ter um espaço, como algo externo e separado. Winnicott (1971a/1975, p. 15), ou seja, um

locus intermediário. Na teoria do self, Winnicott polariza entre o verdadeiro e falso self. Sendo o

primeiro algo do criativo e espontâneo enquanto que o segundo seria construindo para lidar com

dificuldades reais, uma forma de adaptação. (Pinto, 2007)

Técnicas

Falaremos nesse parágrafo acerca das técnicas utilizadas por Winnicott em sua prática

clínica. No entanto, é importante rever o conceito de Holding para compreender como ele se aplica

ao paciente. Holding consiste no conjunto de cuidados maternos –físicos e psicológicos- para com o

recém-nascido. É possível compreender o Holding como provisão ambiental, ou seja, o cuidado é

estendido para além da figura da mãe, o holding ambiente abrange os demais cuidadores, médicos,

grupos sociais, momento histórico e político. Além disso, é por meio do holding, que a mãe é capaz

de atuar como ego auxiliar do bebê. Mesmo sendo o Holding um conceito de cuidado e sustentação
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ao bebê, Winnicott não o restringe a relação mãe-bebê, ele apresenta também na prática clínica,

como no vinculo entre terapeuta e paciente, o qual o setting com sua continuidade se torna elemento

fundamental. Todo o ser humano necessita ao longo da vida de sustentação, de apoio, não apenas o

bebê, uma vez que, a vida apresenta uma instabilidade. Winnicott descreve holding, handling e

apresentação de mundo como fenômenos básicos de uma maternagem suficientemente boa,

favorecedora da constituição do self do bebê (Medeiros e Aiello-Vaisberg, 2014). Esses conceitos se

apresentarão como intervenção psicoterapêutica. O paciente sustentado poderá ser capaz de integrar,

resignificar aspectos de si mesmo que anteriormente se encontravam separados ou não

experienciados.

Outra intervenção proposta por Winnicott foi a intervenção psicoterapêutica não –

interpretativa, a qual consiste no valor do trabalho terapêutico estar na experiência e não nas

explicações por parte do terapeuta. O bebê ao entrar em contato com um objeto tem uma fluidez da

experiência, ele pode ficar com certo receio ao ser apresentado ao objeto, depois interagir, tocar,

morder e posteriormente o deixar de lado, todo esse processo envolveu ter uma experiência com o

objeto. Já na clínica com adultos, por exemplo, o lembrar-se de experiências e relatá-las ao

psicólogo é ter novamente a experiência com o ocorrido e consequentemente, ter a oportunidade em

integrar o seu self.

Alguns aspectos da prática winnicottiana merecem destaques como: falhas ambientais,

contratransferência e transferência, o analista como um objeto transicional, a sobrevivência da

relação analista- analisando, noção de dependência e atender as necessidades do paciente (Silva,

2018, p. 62). Para Winnicott, o papel do terapeuta é suprir as necessidades do paciente. “O terapeuta

é pontual, adapta-se às necessidades de seu paciente e não deixa atuarem seus próprios impulsos

frustrados no contato com os pacientes” (Winnicott, 1963, p. 102). É importante ressaltar que o

cuidado e a continuidade que a psicoterapia proporciona evita a desintegração e potencializa a

integração. Assim como o bebê necessita de cuidadores que contenham suas angústias para ele se
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sentir seguro, o paciente também necessita, durante a análise, desse cuidado, por meio da escuta

ativa, do acolhimento, da parceria, para que o indivíduo se sinta mais completo. “Em psicoterapia

nada de novo realmente acontece. O melhor que pode acorrer durante o tratamento é que se

complete, em alguma medida, algo que não havia sido completado no desenvolvimento do

indivíduo” (Winnicott, 1963, p.72).

Fundamentado na teoria Freudiana, Winnicott (1954) escreve doze características referente a

postura do terapeuta e o setting analítico (Silva, 2018, p.66, 67):

1. A hora da sessão é determinada.

2. O analista está seguro, vivo e respirando.

3. Por um período limitado de tempo (cerca de uma hora), o analista fica acordado e

preocupado com o paciente.

4. Amor e ódio são honestamente expressos pelo paciente e são reconhecidos pelo analista.

5. O objetivo da análise seria entrar em contato com o processo do paciente, compreender o

material apresentado e comunicar essa compreensão em palavras. A resistência implica sofrimento e

pode ser aliviada pela interpretação.

6. O método do analista consiste em uma observação objetiva.

7. Este trabalho deve ser feito em uma sala, não em uma passagem, uma sala que seja

silenciosa e não sujeita a sons súbitos e imprevisíveis, mas não tão silenciosa e livre de barulhos

comuns da casa. Esta sala seria iluminada corretamente, mas não por uma luz no rosto ou por uma

luz variável. A sala certamente não seria escura e estaria confortavelmente quente. O paciente

estaria deitado em um sofá, isto é, e provavelmente um tapete e alguma água estaria disponível.

8. O analista (como é bem conhecido) mantém o julgamento moral fora do relacionamento,

não tem vontade de se intrometer em detalhes da vida pessoal. O analista não deseja tomar partido

nos sistemas persecutórios, mesmo quando estes aparecem na forma de situações reais e

compartilhadas, locais, políticas, etc.


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9. Na situação analítica, o analista é muito mais confiável do que as pessoas na vida comum;

em geral, pontual, livre de acessos de mau humor, livre de compulsão de se apaixonar, etc.

10. Há uma distinção muito clara na análise entre fato e fantasia, de modo que o analista não

é ferido por um sonho agressivo.

11. Ausência do sentimento de vingança.

12. O analista sobrevive.

Esses passos mencionados são fundamentais para possibilitar a confiança e o cuidado do

analisando para que, como objetivo final o paciente tenha o sentimento de existência por si mesmo,

se desenvolvendo emocionalmente. Conforme Sobrinho (2015), na clínica psicanalítica

winnicottiana o analista pode, como atitude do cuidado, acolher sem infantilizar e não ser intrusivo.

O analista deve ter, portanto, compromisso ético com o sofrimento humano, no sentido de sua

acolhida, interpelação, reconhecimento e, principalmente, deve ter uma atitude viva, ativa e

sensível.

Winnicott escreveu sobre o jogo da espátula e o jogo do rabisco. O jogo da espátula foi

relatado por Winnicott em conferência à Sociedade Britânica de Psicanálise em 1941 e retomado em

artigo de 1957¹. Em 1942, a função do jogo foi apresentada como um fator de integração da

personalidade na ligação entre o mundo externo e interno (Bizzarri, 2010, p. 30).

¹ WINNICOTT, D.W. Sobre a contribuição da observação direta de crianças para a psicanálise

(1957) in O Ambiente e os Processos de Maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento

emocional- Porto Alegre, Artes Medicas, 1983.

No ambiente desse jogo, nós temos uma mesa com uma espátula metálica e o bebê fica no

colo da mãe, que está próxima ao médico. No primeiro estágio, conhecido como período de

hesitação, o bebê ao ver a espátula, avança sua mão para pegá-la, mas tem uma hesitação. Ele ao

colocar sua mão no objeto olha para sua mãe ou para o médico. No segundo estágio, gradualmente,

o bebê toma coragem e coloca a espátula na boca, ou seja, o bebê tem confiança para manusear o
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objeto. Ele bate a espátula na mesa, fazendo barulho ou a coloca na boca da mãe/médico. Isso

ocorre devido o bebê ter a sensação de poder sobre o objeto. Já no terceiro estágio, o bebê deixa cair

a espátula como que por acaso. Se ela é devolvida para ele, o mesmo se sente feliz e deixa- o cair

novamente com uma certa intenção. E depois ele poderá pedir para descer do colo para brincar com

a espátula, mordendo-a (agressividade) e depois perde o interesse. Essa técnica é relevante para

bebês de cinca a treze meses. E ela possibilita o bebê vivenciar uma experiência em toda a sua

extensão. Além disso, através dessa técnica é possível compreender como o bebê se comporta nos

estágios e se ele apresenta “desvios de normalidade”.

Já no jogo do Rabisco, Winnicott, convida a criança a complementar um rabisco que ele

(Winnicott) faz em um papel branco. Atendendo ao pedido e transformando o rabisco em alguma

coisa reconhecível e compartilhável, a criança oferece uma amostra do seu mundo interno. O

repertorio das possíveis respostas não é delimitado/circunscrito pelo terapeuta. O repertório não

pode ser previsto. Esta é uma recíproca associação livre em um “jogo sem regras” (Bizzarri, 2010,

p. 37). Winnicott utilizou essa técnica com paciente de 21 meses a 16 anos. Cabe ressaltar que no

jogo do rabisco, tanto o terapeuta como o paciente completam o desenho, mas em folhas separadas,

essa atitude proporciona uma maior interação entre paciente e terapeuta. Fundamental dizer,

também, que durante o processo, o analista não deve colocar em palavras o que está se passando,

pois pode interromper o fluxo do inconsciente.

Portanto, as técnicas que Winnicott propõe vão ao encontro de seus conceitos. O

terapeuta winnicottiano terá que criar um setting com base na confiança para que o paciente

realize regressões necessárias e, também, deverá dispor de um holding que propiciará a proteção

de integração da sua personalidade.

Conceito

Donald Winnicott teve grande contribuição para os estudos da psicanálise, introduzindo

conceitos utilizados até hoje. Como afirma Manoel da Costa Pinto em O livro de ouro da

psicanálise, página 397


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“Para conhecer a obra de Winnicott é necessário brincar com seu pensamento, ou seja, criar

um espaço transicional (ou potencial, como ele escreveu) que permita o brincar, locus do gesto

espontâneo e da criatividade; depois, e só então, tratamos de compreender a experiência que sua

teoria e clínica possibilitam.

Durante os estudos e escritas de Winnicott houve a contribuição de inclusão de conceitos e

pensamentos em teorias existentes, assim como a criação de novos modelos e teorias, tendo sua

obra se estendido ao longo de mais de quarenta anos de experiência clínica com mais de 60 mil

pacientes.

Dentre as principais teorias e pensamentos, devemos considerar em especial o conceito de

mãe suficientemente boa, modelo de Setting, a inclusão de novos conceitos de agressividade na

Teoria das Pulsões, a Teoria do objeto (com foco no objeto transicional), a Teoria do Self, a Teoria

do Espaço que aborda, entre outros, as criações através do brincar, a Teoria de Comunicação e da

Não Comunicação e a Teoria do Desenvolvimento. Naturalmente existe um aprofundamento técnico

importante e necessário nestas conceituações, porém vejamos de forma resumida alguns destes

conceitos.

Na conceitualização da Teoria do Objeto, Winnicott aborta a ideia de objeto transicional, que

ele entende como sendo um fenômeno que faz parte do processo evolutivo de experimentação com

objetos, que mesmo estando fora do indivíduo, este entende como sendo parte de si.

Na obra Objetos transacionais e fenômenos transacionais de 1951, ele afirma que: “ Na tenra

infância, essa área intermediária, é necessária para o início do relacionamento entre a criança e o

mundo, e só se torna possível, se há uma maternagem suficientemente boa na fase crítica primitiva.

Essencial a tudo isso é a continuidade (no tempo) do ambiente emocional externo e de elementos

específicos no ambiente físico, tais como o objeto ou objetos transacionais”. Página 404/405.

Nesta mesma obra ele acrescenta a ideia do setting proporcionado pela mãe, e o atendimento

das necessidades que se originam da tensão pulsional, abordando ainda o papel do seio materno na
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satisfação destas tensões e organização psíquica da criança no desenvolvimento do que é extensão

de si e para mais tarde também entender o ambiente externo e o outro.

Em relação a Teoria do Self, Winnicott aborda que nascemos como um conjunto

desorganizado de capacidades, instintos e pulsões que vão se organizando até atingir a unificação de

si e do mundo externo, sendo o papel da mãe, como ego auxiliar, permitir essa integração. Por vezes

a mãe não fornece essa proteção, e a criança perceberá e poderá entender como uma ameaça à sua

continuidade como indivíduo.

Ao longo do seu desenvolvimento a criança que teve a resposta organizada da mãe irá dar

vida ao self verdadeiro, ao passo que quando há a incapacidade materna de interpretar e atingir as

necessidades da criança, se constituí a primeira fase do self falso. Porém ele também afirma não ser

possível haver apenas o self verdadeiro no indivíduo, o quanto de falso self e verdadeiro self existe

naquela constituição é o que vai entender a patologia, sendo que quanto mais falso self mais grave

será a patologia, como por exemplo as patologias do vazio.

Em razão da extensão da obra de Winnicott não é possível abordarmos todos os conceitos,

porém é importante acrescentarmos ainda que ele acredita que o ser humano tem a tendência a se

desenvolver de forma saudável, agregou a diferença entre agressividade e agressão, entendendo

aquela como originária do ser humano e esta ocorrendo quando há privações nas experiências

vivenciadas.

Ademais construiu a ideia de que o ambiente é estruturante para o ser humano e que a ideia

da mãe suficientemente boa irá justamente expressar o ambiente que a criança vive construindo os

recursos psíquicos futuros deste indivíduo, sendo a capacidade de criar o sinônimo de saúde,

advindo da vivência da onipotência, onde acredita ter criado esse mundo, trazendo satisfação para

si.
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