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Cabe destacar que o consumo do cimento no Brasil se dava pelas grandes obras
públicas. Chaves (2005) defende que a indústria cimenteira está intimamente associada ao
crescimento urbano, em especial ao incremento de obras públicas, e não em obras privadas.
Como base, Chaves utiliza gráficos que apresentam o consumo de cimento no Brasil, no
começo do século XX que demonstram que o consumo per capta no país era um dos menores
da América Latina. Na década de 1930 as propagandas em jornais apresentavam a abertura
das fábricas e a disponibilização do cimento como um fator de progresso para o país.
*
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-FFP).
No final do século XIX ocorreram as primeiras tentativas de instalação de fábrica de
cimento no Brasil, pelo engenheiro Louis Nóbrega e o Comendador Antonio Prost
Rodovalho. As fábricas instaladas por eles não tiveram êxito, tendo encerrado suas atividades
poucos anos depois. A primeira, instalada em 1892, na região Nordeste, utilizava calcário
expostos nos arredores da capital do Estado da Paraíba, porém só funcionou por cerca de três
meses. Já a Usina Rodovalho, que extraia o calcário das grandes pedreiras localizadas na
região de Sorocaba funcionou por mais tempo. Em um primeiro período, funcionou de 1888 a
1904, quando produzia o cimento ‘Santo Antônio’. Após esse período, voltou a funcionar em
1907. Porém, pelas dificuldades enfrentadas, foi extinta definitivamente, em 1918. A terceira
tentativa ocorreu em 1912, no Espírito Santo, onde o governo local promoveu um programa
de industrialização. Porém, não chegou a funcionar regularmente e, em 1924, ela foi
arrendada e reorganizada, tendo suas atividades encerradas definitivamente em 1958.
Essas fábricas, não tiveram grande importância na produção de cimento no Brasil, pois
tiveram curto período de funcionamento e não produziram a quantidade de cimento necessária
para suprir com as necessidades do país. As dificuldades enfrentadas por essas fábricas
estavam em competir com as grandes indústrias internacionais, uma vez que o custo de
produção era elevado e o processo de fabricação era rudimentar. Além disso, por ser novo no
mercado, o produto brasileiro era desmoralizado diante dos outros países com tradição na
produção de cimento.
“Entre 1928 e 1940, a área total de estabelecimentos agrícolas passou de 159 para
465 hectares, a maioria sendo de pequenas propriedades de até 40 hectares que
sobreviviam às custas da venda da laranja. A produtividade dos laranjais era muito
baixa, não chegando a meia caixa de laranja por pé de laranja. O motivo não era o
fato das terras serem cansadas e sim os erros na técnica de plantio, o descuido no
trato, a falta de adubação, mostrando o caráter especulativo do empreendimento.
(MACHADO, 1998:29)
Outra lei que contribuiu para a industrialização na cidade de São Gonçalo foi a lei
estadual nº 1.991, de 11 de novembro de 1925,
“(...) 1º, extrair o calcário da Fazenda São José; 2º, transportá-lo para a Fazenda
Guaxindiba por intermédio de uma estrada de ferro industrial construída
especialmente para esse fim; 3º, construir uma fábrica na Fazenda Guaxindiba, com
todos os requisitos essenciais ao preparo definitivo do cimento Portland; 4º,
distribuir o cimento para os diversos mercados do Estado do Rio por intermédio da
Leopoldina Railway; 5º, construir um canal de cerca de 1 ½ a 2 quilômetros de
comprimento ligando a fábrica ao Rio Guaxindiba; 6º, transportar o cimento
destinado ao Distrito Federal a granel através do canal e o Rio Guaxindiba
atravessando a Baía de Guanabara até a seção apropriada do novo Porto do Rio de
Janeiro.” ( Diário Oficial, 17 de agosto de 1931: 13190)
Podemos perceber que a Companhia foi instalada em São Gonçalo por questões
essenciais para seu funcionamento e distribuição de seu produto, relacionados a fatores
geográficos, econômico e social; condições essas que não eram oferecidas na cidade de
Itaboraí, apesar da localização da jazida de calcário, o que tornou mais viável a construção da
fábrica na cidade vizinha. Assim como Suzigan defende, podemos perceber que os decretos
governamentais não foram decisivos para a instalação da Companhia Nacional de Cimento
Portland em São Gonçalo, uma vez que na época em que estavam planejando a instalação da
CNCP, esses decretos não estavam mais em vigor, porém, os decretos contribuíram para o
desenvolvimento industrial na cidade no início do século XX, pois após sua instalação o
governo decretou diversas leis que incentivou a expansão da fábrica.
Apesar dos problemas surgidos durante as obras, a fábrica foi inaugurada em 1933. Em maio
daquele ano, vários jornais anunciavam a disponibilização do cimento da CNCP- Mauá a
todos os gêneros de construção. “ O cimento é um fator de grande importância no desenvolvimento
de uma nação [...]Esta fábrica vem inegavelmente assumir um papel de alto destaque no progresso do
Brasil, pois o Cimento Portland Mauá rivaliza em qualidade com os melhores cimentos do mundo”.
(Jornal Correio da Manhã, 15 de maio de 1933: 16) Como podemos perceber há um enaltecimento
da companhia, que seria um destaque no progresso do país. As suas complexas instalações e
exclusivo sistema de transporte e usina elétrica também são mencionados no trabalho de
Lessa, sobre a cidade de São Gonçalo. Além disso, o cimento era apresentado como um fator
de progresso para o país, pois permitia ao homem investir suas riquezas e produzir mais
conforto para sua vida, conquistando maior qualidade de vida.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ARAÚJO, Victor e MELO, Hildete. O processo de esvaziamento industrial em São Gonçalo no século
XX: auge e declínio da “Manchester Fluminense”. In: Cadernos do desenvolvimento Fluminense. Rio
de Janeiro: n 4. Maio de 2014.
CHAVES, Marcelo. Da periferia ao centro da (o) capital: perfil dos trabalhadores do primeiro
complexo cimenteiro do Brasil. São Paulo, 1925-1945. Dissertação (Mestrado em História).Programa
de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
MACHADO, Lia Osório. “Gente do Caceribu, sua geografia, sua história”. 1998.