Você está na página 1de 227

1

SUMÁRIO

AULA 1 – HISTÓRICO DA INOVAÇÃO NO PODER JUDICIÁRIO. DIREITO E


SOCIEDADE NA ERA DIGITAL. ............................................................................... 5
1.1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5
1.2 – QUAIS OS NOVOS DESAFIOS PARA ESSA ROUPAGEM QUE A JUSTIÇA
RECEBEU? .................................................................................................................... 18
1.3 – O DIREITO E A SOCIEDADE NA ERA DIGITAL (SÍNTESE HISTÓRICA E
NORMATIVA ATÉ OS DIAS ATUAIS). QUAIS OS NOVOS RUMOS DO
JUDICIÁRIO NO PROCESSO DIGITAL? ................................................................... 23
1.4 – A PRIVACIDADE NA ERA DIGITAL. AS REDES SOCIAIS FACEBOOK,
INSTAGRAM, TWITTER, YOUTUBE, CLUBEHOUSE E AS FONTES DE DADOS
ABERTOS NA INTERNET: A PRIVACIDADE VIROU UMA QUIMERA? ............ 27
AULA 2 – O PODER JUDICIÁRIO DA ERA DIGITAL: JUSTIÇA 4.0............... 30
2.1 – POR QUE PRECISAMOS INOVAR? RAÍZES JURÍDICAS, EXIGÊNCIAS
SOCIAIS, ECONÔMICAS, POLÍTICAS E TECNOLÓGICAS. .................................. 30
2.2 – O PODER JUDICIÁRIO DA ERA DIGITAL – O JUDICIÁRIO 4.0 – NOVOS
HORIZONTES? ............................................................................................................. 41
2.3 – O JUIZ NA VANGUARDA DA ERA DIGITAL – O JUIZ 4.0 – TUDO DE
NOVO? ........................................................................................................................... 48
2.4 – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: QUEM ESTÁ DECIDINDO, O HOMEM OU A
MÁQUINA? ................................................................................................................... 52
2.5 – O PROCESSO JUDICIAL DIGITAL – O PROCESSO DIGITAL 4.0 (DO PJE
AO DATAJUD/CNJ). O QUE O JUIZ APRENDEU DEVE SER REFORMATADO?63
2.6 – AS CONDUTAS DO JUIZ NO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL AINDA
SERÃO ANALÓGICAS? .............................................................................................. 65
2.7 – POR QUE O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E A MASSIFICAÇÃO
DA INTERNET PROPORCIONAM INFINITAS POSSIBILIDADES DE COLETA
DE PROVAS DIGITAIS? .............................................................................................. 67
2.8 – SEUS DADOS SÃO VOCÊ. QUE INFORMAÇÕES SÃO COLETADAS PELAS
EMPRESAS DE TECNOLOGIA? ................................................................................. 71
AULA 3 – AUDIÊNCIAS VIRTUAIS E NORMATIVIDADE: AS PROVAS EM
REDE ............................................................................................................................. 74
3.1 – ONDE ESTÁ O JUIZ QUANDO CAI A CONEXÃO? O QUE FAZER?
RECOMEÇAR?.............................................................................................................. 74
3.2 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA, LITERATURA ESTRANGEIRA E
AUTORREGULAMENTAÇÃO.................................................................................... 77
3.3 – A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD) E SUA APLICAÇÃO AO
PROCESSO DIGITAL (A PROVA DIGITAL E A DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA E DA PESSOA JURÍDICA)........................................................................ 82
3.4 – O MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI FEDERAL Nº. 12.965/2014) E A
APLICAÇÃO DO ART. 22 COMO MEIO JUDICIAL DE OBTENÇÃO DE PROVA
2
DIRETAMENTE AO RESPONSÁVEL PELA GUARDA O FORNECIMENTO DE
REGISTROS DE CONEXÃO OU DE REGISTROS DE ACESSO A APLICAÇÕES
DE INTERNET. COMO PROCEDER? ......................................................................... 86
3.5 – A COLHEITA DA PROVA E A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE. COMO
EVITAR? ........................................................................................................................ 88
3.6 – QUAL O LIMITE DO JUIZ 4.0 NA COLETA DA PROVA? ............................. 91
3.7 – A VERDADE REAL X VERDADE FORMAL NA ERA DIGITAL – QUAL É A
VERDADE QUE SE BUSCA NO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL? ...................... 92
AULA 4 - PRODUÇÃO DAS PROVAS DIGITAIS.................................................. 94
4.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 94
4.2. ORIGEM DA PROVA DIGITAL ........................................................................... 97
4.3. CONCEITO DE PROVA DIGITAL ....................................................................... 99
4.3.1. DISTINÇÃO ENTRE DOCUMENTO FÍSICO, ELETRÔNICO E DIGITAL . 102
4.4. PRINCÍPIOS DA PROVA DIGITAL ................................................................... 104
4.4.1. VEDAÇÃO À PROVA DIGITAL ILÍCITA...................................................... 105
4.5. REQUISITOS DA PROVA DIGITAL ................................................................. 108
4.5.1. AUTENTICIDADE DA PROVA DIGITAL ..................................................... 112
4.5.2. INTEGRIDADE DA PROVA DIGITAL........................................................... 117
4.6. PRODUÇÃO DA PROVA DIGITAL ................................................................... 126
4.6.1. MOMENTOS DE PRODUÇÃO DA PROVA DIGITAL ................................. 126
4.6.3. OBJETO DA PROVA DIGITAL ....................................................................... 131
4.7. ÔNUS DA PROVA DIGITAL .............................................................................. 145
4.7.1. DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA DIGITAL ................. 146
4.8. FORÇA PROBANTE DA PROVA DIGITAL ..................................................... 147
4.8.1. DOCUMENTO ELETRÔNICO OU DIGITAL................................................. 147
4.8.2. DOCUMENTO DIGITALIZADO ..................................................................... 148
4.8.3. ATA NOTARIAL DE FATO DIGITAL............................................................ 149
4.8.4. PROVA PERICIAL ELETRÔNICA OU DIGITAL.......................................... 150
4.8.5. PROVA DIGITAL EMPRESTADA .................................................................. 151
4.9. VALORAÇÃO DA PROVA DIGITAL................................................................ 151
AULA 5 - OBTENÇÃO E ANÁLISE DE PROVAS DIGITAIS EM FONTES
ABERTAS E FECHADAS ......................................................................................... 153
5.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 153
5.2. INTERNET............................................................................................................ 154
5.2.1. A HISTÓRIA DA INTERNET .......................................................................... 154
5.2.2. TCP/IP ................................................................................................................ 156
5.2.3. DOMÍNIO, DNS E URL .................................................................................... 184

3
5.3. MOTORES DE BUSCA ....................................................................................... 188
5.4. REDES SOCIAIS .................................................................................................. 193
5.5. GEOLOCALIZAÇÃO........................................................................................... 199
5.6. METADADOS ...................................................................................................... 207
CASOS PRÁTICOS SIMULADOS ............................................................................. 210
ABREVIATURAS ....................................................................................................... 212
TERMOS TÉCNICOS ................................................................................................. 219
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 223

4
AULA 1 – HISTÓRICO DA INOVAÇÃO NO PODER
JUDICIÁRIO. DIREITO E SOCIEDADE NA ERA DIGITAL.
1.1 - INTRODUÇÃO

Esse capítulo tem o propósito de debater acerca da evolução


histórica do Poder Judiciário dos últimos anos, considerando-se,
sobretudo, o desenvolvimento tecnológico que aumentou a efetividade
na prestação jurisdicional, fruto de muito estudo e pesquisa feitos no
intuito de consolidar o Judiciário nesse contexto para que pudesse
acompanhar os avanços que a vida moderna promoveu nesse
interregno.

De modo que o Poder Judiciário está a cada dia realizando


imersão nessa nova realidade digital. Movimento que se iniciou na
virada da década de 50, com os avanços tecnológicos em busca de
novas formas de produção, comunicação, interação e conexão entre os
países que formaram à época blocos econômicos cada vez mais
consolidados e valiosos, em torno de um projeto de modernização da
indústria global.

Exemplo desse desenvolvimento planetário foram as revoluções


industriais das indústrias 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0, as quais, em síntese,
iniciaram com a mecanização por meio das máquinas a vapor da
indústria têxtil com uso do carvão mineral. Na sequência veio a
produção em larga escala de veículo automotor de combustão interna,

5
com a incorporação da eletricidade e o consumo de derivados de
petróleo.

Por conseguinte, veio a automação do mundo pós-segunda


guerra, com utilização da robótica nas montadoras, na indústria da
química fina, cosméticos e vestuário, além da integração de sistemas
com a internet, e a famosa tecnologia de informação. E, por fim, a
internet das coisas, a ‘Big Data’, inteligência artificial, ‘machine
learning’, ‘machine law’, entre outras plataformas digitais de atuação
virtual, isso sem contar com a energia elétrica de origem nuclear e de
outras fontes renováveis.

De maneira que o Poder Judiciário brasileiro teve que se


reinventar no decorrer das décadas que se passaram, ainda que a
passos mais condizentes com a realidade orçamentária e tecnológica
disponibilizadas, mas pautou sua agenda de tecnologia de informação
e comunicação na vanguarda dos demais poderes constituídos, tendo
em conta ser a estrutura organizacional constitucional responsável por
definir entre as partes a decisão ao caso concreto que possui força de
lei e que pacifique o litígio.

E se pode listar diversos pontos históricos como as atas de


audiências escritas à mão pelos secretários de audiências, as fichas
catalográficas dos processos que eram movimentados e ficavam em
armários tipo arquivos. As máquinas datilográficas iniciais e na
sequência as máquinas elétricas, o que foi um ‘upgrade’ sensacional
de então.

Com implantação dos computadores conectados em rede


inicialmente se gerou um imenso trabalho de se catalogar tais
processos e lançá–los em sistemas como aconteceu, por exemplo, com
a CCLE pós–PJe, além da criação de diversas ferramentas eletrônicas
que necessitavam a todo instante de uma base de dados sólida e
confiável.

Nesse interregno veio a criação do Conselho Nacional de Justiça


que pautou agenda no setor de TI mais uniformizadora e integradora,
cujas equipes se debruçam diuturnamente para encontrar soluções
mais eficientes e eficazes que permitam a análise de dados em
harmonia à novel realidade da inteligência artificial.

Eis que se instalaram as Salas Cofres e Salas Seguras cujos


servidores são capazes de armazenar, tratar, replicar e transmitir
6
dados em velocidades cada vez mais altas, resultando, desta maneira,
na implementação de sistemas de segurança ainda melhores,
aperfeiçoados e mais eficientes em impedir a invasão por hackers.

O painel Justiça em Números é um bom marcador temporal para


se destacar que para se ter um banco de dados com informações
precisas e atuais, e que reflita o termômetro do Poder Judiciário no
âmbito nacional em tempo real, notadamente porque é dessa maneira
que se pode diagnosticar as intercorrências e, nesse sentido, criar
soluções necessárias para o permanente aperfeiçoamento jurisdicional.

O mundo digital nos permite a utilização massiva de dados de


fontes abertas e fechadas pelo Judiciário. Temos de entender, hoje,
que fonte é qualquer dado ou conhecimento que interesse ao
profissional de inteligência ou de investigação para que se produzam
conhecimentos e provas. A ideia original de fonte como o nascedouro
tem um alargamento na atualidade.

Fontes de prova são todos os elementos externos ao processo a


partir dos quais possam ser extraídas informações relevantes e aptas
a comprovar um determinado fato alegado pela parte, compreendo
todos os dados e informações disponíveis no meio digital.

Segundo BARRETO e WENDT1, há dois meios de obtenção de


dados, humanos e eletrônicos. No primeiro deles, o qual os autores
denominam Inteligência Humana (INTHUM ou HUMINT), “o foco da
obtenção de dados e/ou conhecimento é o homem”, considerado por
eles um “produtor” nato de informações e um “animal de hábitos” que
“deixa rastros” digitais. No segundo, por eles denominado Inteligência
Eletrônica (INTEL), o foco é o equipamento e a leitura dos sinais,
imagens e dados que ele oferece por meio de técnicas e procedimentos
específicos chamados de Inteligência de Sinais (SIGINT), Inteligência
de Imagens (IMINT) e Inteligência de Dados.

Neste contexto ampliado, pode-se dizer que há uma infinidade


de fontes de provas digitais, dentre as quais podemos citar:
computador pessoal (desktop ou laptop), servidor (mainframe); disco
rígido interno e externo (hard disc), disco SSD (solid state disk), mídias
removíveis (CD, DVD, BD), cartões de memória (SD e CF), pen drives
(USB data storage device), armazenamento em fitas (data storage

1
BARRETO, Alexandre G.; WENDT, Emerson. Inteligência e investigação criminal em fontes abertas. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Editora Brasport, 2020, p. 29
7
tape disks); dispositivos periféricos (scanner, impressora, secretária-
eletrônica); Smart TV; tablets; leitor de livros digitais (p. ex. Kindle);
aparelhos de telefonia móvel (celulares, smartphones); câmeras,
filmadoras e gravadores de áudio e vídeo digitais, tocadores de áudio
portáteis; circuito fechado de TV (CCTV) e câmeras de monitoramento
e vigilância; consoles de videogame (p. ex. Playstation, Xbox, Nintendo
Switch, PSP); assistentes pessoais digitais (p. ex. Alexa, Siri, Cortana,
Google Assistant, Watson); relógios digitais e smartwatches (p. ex.
Apple Watch, Garmin Forerunner, Samsung Galaxy Watch, Xiaomi Mi
Watch e Amazfit); redes sociais (p. ex. Facebook, Instagram, Twitter,
TikTok, LinkedIn, Youtube); computação em nuvem (p. ex. iCloud,
Google Drive, Dropbox, Onedrive, Mega); plataformas de streaming de
músicas (p. ex. Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music) e de
vídeos (p. ex. Netflix, Amazon Prime Video, Disney+, Telecine, Now,
HBO Max, Globoplay, Youtube); provedores de conexão à internet (p.
ex. Vivo, Oi, Claro, Tim); plataformas de videoconferência (p. ex.
Google Meet, Zoom, Cisco Webex, Microsoft Teams, Skype);
aplicativos de mensageria (p. ex. Whatsapp, Telegram, Messenger,
Hangouts, Skype, Signal); aplicativos de geolocalização (p. ex. Google
Maps, Waze); aplicativos de transporte (p. ex. Uber, 99 Taxi, Cabify);
aplicativos de entrega (p. ex. iFood, Rappi, Uber Eats); aplicativos de
hospedagem (p. ex. Airbnb, Booking, Hoteis.com, Hotel Urbano);
aplicativos de instituições bancárias e afins (internet banking);
aplicativos de compras; aplicativos de órgãos públicos (p. ex. Gov.br,
e-Título, Carteira Digital, IRPF, Meu INSS, Carteira de Trabalho
Digital); aplicativos de viagem (p. ex. Tripadvisor, Decolar); aplicativos
de agendas digitais (p. ex. Google Agenda, Calendar, One Calendar);
aplicativos de pagamentos (p. ex. PagSeguro, PicPay, Marcado Pago,
Pay Pal); correios eletrônicos (p. ex. Gmail, Outlook, Yahoo).

A primeira espécie de fonte, a aberta, consiste, em resumo, em


dados disponíveis de maneira pública, ao qual todos podem ter acesso
indistintamente a determinada informação, sem a necessidade de
cadastro, senha ou autorização prévia. Segundo a conceituação de
BARRETO e WENDT2 são “aquelas de livre acesso, sem obstáculos à
obtenção de dados e conhecimentos”.

É a denominada Inteligência de Fontes Abertas ou Open Source


Intelligence (OSINT), um modelo que localiza, seleciona e extrai dessas

2
Ibidem, p. 28
8
fontes públicas dados e informações disponíveis para produzir
conhecimentos.

A principal fonte aberta é, sem dúvida, a internet, onde a


possibilidade de coleta de dados sobre pessoas, objetos, coisas,
lugares é ampla, mas deve ser vista com cautela diante da quantidade
de “lixo eletrônico” ou “informações falsas” encontradas na rede. Não
é, contudo, a única, pois o conceito alcança qualquer informação
pública, inclusive a armazenada ou registrada em meio ou substrato
físico, como o papel.

As técnicas utilizadas na Inteligência de Fontes Abertas são a


prospecção ou mineração de dados, também conhecida pelo termo
inglês data mining, que, em síntese, é o processo de análise de um
grande volume de dados (big data) em busca de informações
relevantes para produzir conhecimentos úteis a determinada área, e a
raspagem de dados, também conhecida como scraping, que é a coleta
automatizada de informações realizada por meio de um programa de
computador (software) para extrair dados dos resultados gerados por
outro programa, aplicativo, rede social, site ou outra base de dados
aberta e disponível na internet.

Acessem o site https://osintframework.com/ e descubram todas


as ferramentas disponíveis para ser utilizada na mineração de dados e
informações em fontes abertas.

A segunda, denominada de fonte fechada ou restrita, são aquelas


que estão protegidas de alguma forma, que precisam de uma senha,
informação ou mesmo autorização prévia para que o interessado possa
ter acesso aos dados ou informações nela contidos. Segundo BARRETO
e WENDT3 são “aquelas cujos dados são protegidos ou negados”,
caracterizando o dado protegido como “aquele que necessita de
credenciamento para acesso” e dado negado “aquele que necessita de
uma operação de busca para sua obtenção”.

Nas fontes fechadas os dados ou informações são protegidos ou


sigilosos e exigem credenciamento ou determinação judicial para ter
acesso ao seu conteúdo. São exemplos de fontes fechadas sigilosas
que necessitam de autorização judicial a quebra de sigilo telefônico,
bancário e fiscal, e interceptação telefônica, telemática ou ambiental.
São exemplos de fontes fechadas restritas que necessitam de

3
Ibidem, p. 28
9
credenciamento prévio e que o acesso se dará por meio de login, senha
e/ou certificado digital, o Cadastro Nacional de Informações Sociais
(CNIS), SERASAJUD, o CNIB, INFOSEG etc.

Não são raras as ações proativas de magistrados por todo país


que, ávidos por um melhor desempenho nas suas atividades
judicantes, utilizaram informações obtidas de fontes abertas para se
aproximarem ainda mais da ‘verdade real’ contida nos autos dos
processos, notadamente as redes sociais.

Postagens no Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, entre


tantas outras serviram de fundamento para decisões judiciais que
descortinaram fatos contidos nas petições os quais estavam distantes
das informações contidas nas redes sociais. E toma-se, por exemplo,
caso de parte que vindicou justiça gratuita quando, em real verdade,
e considerando-se suas postagens, não se encontrava hipossuficiente4.

De outra quadra, há precedente em sentido inverso, no qual a 3ª


Turma do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
compreendeu pela manutenção da justiça gratuita concedida pelo
meritíssimo juízo de primeira instância, tendo em conta as informações
contraditórias listadas em rede social que não condizem com a
realidade vivida pela parte5.

Por sua vez, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, com


base em provas colhidas em redes sociais, também possui precedente
no sentido de se manter condenações por danos morais por atos
ofensivos praticados6.

Outros debates estão surgindo nesse campo digital como, por


exemplo, matéria cível afeta à denominada Sucessão Digital, ou ‘legacy
contact’, administrador pós-morte, de o que se fazer com os perfis

4
Fonte: http://www.biniadvogados.adv.br/wp-content/uploads/2011/11/BOLETIM-INFORMATIVO-
10_2017.pdf. Data de inserção: 01/10/2017. Data de acesso: 08/07/2021.
5
Fonte: https://modeloinicial.com.br/artigos/36/influencia-redes-sociais-deferimento-justica-gratuita. TJ-
RJ. RI nº. 0087.943-96.2013.8.19.0001. Des. Rel.: MARCOS ANTONIO RIBEIRO DE MOURA BRITO.
3ª Turma Recursal. Juizados Especiais Cíveis. DJ: 19/10/2017. Data de inserção: 25/10/2017. Data de
acesso: 08/07/2021.
6
Fonte: https://juristas.com.br/foruns/topic/jurisprudencias-redes-sociais/. TJSP. Recurso de Apelação
Cível nº. 0012518–28.2013.8.26.0176. Des. Rel. Elcio Trujillo. 10ª Câmara de Direito Privado. DJ:
12/06/2018. DJe: 12/06/2018. Data de inserção: 14/07/2018. Data de acesso: 08/07/2021.
10
constantes em redes sociais de pessoas que já faleceram? 7 Como se
operacionaliza isso?

Você sabia que o próprio Facebook já permite a indicação do


herdeiro ou legatário do perfil criado naquela rede social?

Demais disso, o Colendo Superior Tribunal de Justiça,


acompanhando essa tendência, ao manter condenação de empresa que
se negou a apresentar informações, considerando–se o próprio marco
civil da internet que trouxe responsabilidades aos provedores de
internet, caso descumpram ordem judicial de fornecimento de dados
solicitados por magistrado no âmbito de processo judicial 8.

Além disso, há casos rumorosos envolvendo parlamentar que


teve sua prisão decretada após divulgar em redes sociais ameaças ao

7
CALLEGARI, Marina. Sucessão Digital: a destinação dos perfis em redes sociais após a morte. Fonte:
https://juristas.com.br/2021/02/02/sucessao-digital/. Data de inserção: 02/02/2021. Data de acesso:
08/07/2021.
8
JURISTAS. Fonte: https://juristas.com.br/2020/07/01/redes-sociais/. Data de inserção: 01/07/2020. Data
de acesso: 08/07/2021.
11
Supremo Tribunal Federal (STF), cujas provas digitais foram
devidamente colhidas pela Procuradoria Geral da República, e que
pediu nova prisão dele que foi deferida por ministro da Excelsa
Suprema Corte9.

Seguindo sobre o tema, magistrados de tribunais pelo país estão,


inclusive, acolhendo pedidos de revisão de pensões alimentícias,
determinando a sua majoração condizente com a realidade do
alimentante que foi provada judicialmente por meio de postagens que
evidenciam excelentes condições financeiras que permitem o aumento
do valor da pensão10. Circunstância que evidencia que as provas
digitais estão sendo cada vez mais precursoras no aumento do
desempenho e efetividade das decisões judiciais.

A Justiça do Trabalho também tem papel preponderante nesse


contexto de decisões judiciais alinhadas às questões das redes sociais
e provas digitais, na medida em que vários magistrados trabalhistas se
debruçaram sobre esse modelo de decisão judicial, prestigiando de
sobremaneira a efetividade, a dignidade da pessoa humana e a
celeridade na prestação jurisdicional, tendo em conta a natureza
jurídica alimentar e o seu papel enquanto justiça social trabalhista
encartado na Constituição Cidadã de 1988.

Exemplo disso ocorreu quando magistrado decidiu indeferir


pedido de concessão de justiça gratuita à reclamante que ostentava

9
KRUSTY, Ricardo. Ministro Alexandre de Moraes restabelece prisão de Daniel Silveira. Fonte:
https://juristas.com.br/2021/06/24/ministro-alexandre-de-moraes-restabelece-prisao-de-daniel-silveira/.
Data de inserção: 24/06/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
10
JURISTAS. Sinais de riqueza nas redes sociais podem influenciar o valor da pensão alimentícia. Fonte:
https://juristas.com.br/2019/07/05/sinais-de-riqueza-nas-redes-sociais/. Data de inserção: 05/07/2019. Data
de acesso: 08/07/2021.
12
riqueza nas redes sociais, fundamentando no sentido de que “o
contexto probatório dos autos é hábil a vulnerar a presunção de
hipossuficiência”, tendo em conta as fotos extraídas das redes sociais,
que demonstravam que o autor vivia com conforto e prosperidade
econômica11.

Se não bastassem as fotos, nos autos do processo, constam


provas documentais que apontavam que o empregado recebia salário
mensal no valor de R$ 17 mil, e residia em imóvel da esposa, não
tendo, por isso, despesas com moradia 12.

Registre–se que a Justiça do Trabalho também está atenta a


outras questões que não somente envolvem patrimônio e efetividade
nas suas execuções, mas também em relação às questões processuais,
a exemplo de rastreio de celular e redes sociais contra falsos
depoimentos em ações trabalhistas13, temas a serem melhor
trabalhados em outras aulas.

Outro exemplo de vanguarda é o TRT da 12ª Região que


implantou Núcleo de Provas Digitais ligado à Secretaria de Execução
do Tribunal (Sexec), conforme Portaria SEAP nº. 83/2021. “A
sistematização na análise e no tratamento de dados das provas digitais
pelo novo núcleo, bem como o desenvolvimento de novas ferramentas
pelo Laboratório de Inovação, Inteligência e Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável do Tribunal (Liods – TRT12), tendem a
reduzir o trabalho dos magistrados na instrução dos processos,
liberando-os para que possam dar maior atenção a outras fases
processuais, como a execução14”.

11
CORREIO FORENSE. Empregado que ostentava riqueza nas redes sociais tem indeferido pedido de
justiça gratuita. Fonte: https://www.correioforense.com.br/dir-processual-trabalhista/empregado-que-
ostentava-riqueza-nas-redes-sociais-tem-indeferido-pedido-de-justica-gratuita/. Inserção: 16/09/2020.
Data de acesso: 08/07/2021.
12
CORREIO FORENSE. Empregado que ostentava riqueza nas redes sociais tem indeferido pedido de
justiça gratuita. Fonte: https://www.correioforense.com.br/dir-processual-trabalhista/empregado-que-
ostentava-riqueza-nas-redes-sociais-tem-indeferido-pedido-de-justica-gratuita/. Inserção: 16/09/2020.
Data de acesso: 08/07/2021.
13
CASTANHO, William. Justiça do Trabalho rastreia celular e redes sociais contra falsos depoimentos em
ações. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/04/justica-trabalhista-rastreia-celular-e-redes-
sociais-contra-falsos-depoimentos-em-acoes.shtml. Inserção: 25/04/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
14
SECOM/TST. TRT12 (SC) implanta primeira unidade dedicada a provas digitais na Justiça do Trabalho.
Fonte: https://portal.trt12.jus.br/noticias/pioneirismo-trt-sc-implanta-nucleo-de-provas-digitais. Inserção:
19/05/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
13
O Juiz do Trabalho e professor Otávio Calvet, em artigo divulgado
no sítio eletrônico Conjur, intitulado prova testemunhal x provas
digitais: um novo rumo para a Justiça do Trabalho, leciona:

Mais do que simplesmente serem novos recursos para


confrontar os depoimentos das testemunhas para verificar sua
veracidade, as provas digitais tendem a ser meios
preferenciais para se evitar a necessidade das testemunhas,
ou seja, somente em caso não ser possível a obtenção da
prova por outros meios é que se admitirá a prova testemunhal
que, portanto, possivelmente passará a ser vista como um
último recurso necessário.

E ninguém pode sustentar que haverá perdas, não há motivo


para polarização neste tema. Se os meios digitais fornecerem
dados consistentes e confiáveis sobre os fatos alegados na
causa, simplesmente a prova testemunhal será desnecessária,
cabendo ao juiz indeferi–la. Finalmente um tema trabalhista
onde ganham todos, ganha a verdade real e, portanto, o
devido processo legal15.

Por sua vez, o TRT Potiguar (TRT21) aceitou como prova lícita
gravação constante em aplicativo de mensagem (WhatsApp) em grupo
de trabalhadores de uma empresa. No caso, consta que gravação de
gerente num grupo de líderes de vendas de uma empresa, resultou no
reconhecimento de vínculo de emprego. A empresa contestou pela
ilegalidade da produção da prova de maneira clandestina. Ocorre que
o Regional compreendeu que a gravação foi equiparada à gravação
ambiental fundamentando no precedente do Supremo Tribunal Federal
que assentou pela “admissibilidade do uso, como meio de prova, de
gravação ambiental realizada por um dos interlocutores.”16.

Nessas décadas que se passaram, constata–se que a evolução


tecnológica propiciou diversos avanços em todos os setores e com o
Judiciário não foi diferente, na medida em que o CNJ aderiu à Agenda
2030 da ONU em que nela contém os 17 objetivos de desenvolvimento
sustentáveis que formam uma rede de necessidades a serem
solucionadas de maneira holística, mormente se tratarem de temas

15
CALVET, Otávio Torres. Prova testemunhal x provas digitais: um novo rumo para a Justiça do Trabalho.
Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-abr-27/trabalho-contemporaneo-prova-testemunhal-digital-rumo-
justica-trabalho. Inserção: 27/04/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
16
SECOM/TRT21. TRT–RN aceita como prova gravação de gerente de vendas em grupo de WhatsApp.
Fonte: https://www.trt21.jus.br/noticias/noticia/trt-rn-aceita-como-prova-gravacao-de-gerente-de-vendas-
em-grupo-de-whatapp. Inserção: 04/06/2021. Data de acesso: 09/07/2021.
14
interligados que envolvem todas as estruturas importantes que
mantêm a unidade da sociedade.

A partir dessa adesão, compromissos foram assumidos e metas


desafiadoras estabelecidas com o relógio contando regressivamente,
situação que impõe a cada magistrado, advogado, servidor,
jurisdicionado e auxiliares do Poder Judiciário a conduta pautada na
solução de todas as questões referentes à prestação jurisdicional e à
atividade administrativa, até para que o aperfeiçoamento seja pleno e
adequado aos anseios de um Judiciário com capilaridade suficiente
para alcançar efetivamente os 5.700 municípios brasileiros. E há muito
o que ser feito para se concretizá-la.

Para tanto, foram criados os Laboratórios de Inovação e


Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (LIODS) que tem a
capacidade de elaborar e criar inovações que possibilitem a
permanente modernização da máquina judiciária, mas, sobretudo,
alinhado à gestão mais eficiente dos recursos públicos.

Por meio da Resolução Administrativa nº 345, de 9 de


outubro de 2020, o Conselho Nacional de Justiça editou norma sobre
a criação do Juízo 100% Digital, autorizando os tribunais a adotarem
as medidas necessárias à sua implementação, em que todos os atos
processuais, a partir dessa opção facultativa, serão exclusivamente
praticados por meio eletrônico e remoto por intermédio da rede
mundial de computadores.

Também foi regulamentada pelo CNJ, através da Resolução


Administrativa nº. 372, de 12/02/2021, a criação do Balcão
Virtual, o qual objetiva, em síntese, fazer com que os tribunais, à
exceção do Supremo Tribunal Federal, disponibilizem, em sítio
eletrônico, ferramenta de videoconferência que permita imediato
contato com o setor de atendimento de cada unidade judiciária,
durante o horário de atendimento ao público.

Com base nessa normatização, o TRT da 14ª Região, por meio


da Resolução Administrativa nº 42/2021, facultou às Varas do Trabalho
exercerem suas atividades de modo exclusivamente remoto, sob a
modalidade de ‘Varas do Trabalho Digitais’, com atendimento ao
público e realização de audiências de forma telepresencial, salvo na
hipótese de impossibilidade técnica, em que poderá ser utilizada a
instalação física da unidade já adequada a essa nova realidade.

15
Nesse contexto, chegou o tempo da inovação, da redução de
custos e, em contrapartida, do aumento da eficiência e transmudação
do modelo tradicional em que os equipamentos outrora ampliados
deixem o palco para a nova conjuntura da realidade virtual, com a
diminuição da estrutura física para que, desta forma, facilite o
deslocamento das unidades jurisdicionais enquanto realidade da nova
gestão judiciária.

Ao mesmo tempo, garante-se o pleno acesso do usuário ao Poder


Judiciário por meio da implantação de ferramentas tecnológicas que
assegurem o atendimento nas unidades jurisdicionais sem ter que se
deslocar para, por vezes, ter uma informação sobre seu processo, ou
para obter conhecimento sobre audiência agendada e demais assuntos
de seu interesse.

Imaginemos, a partir dessas premissas, que existindo a


necessidade do deslocamento virtual de determinada unidade
jurisdicional para reforçar a prestação da justiça em outra localidade,
isso seja mais célere e menos burocrático, especialmente com a
utilização das audiências e o balcão virtuais, o ‘WhatsApp Business’,
Malote Digital, e-mail institucional e o Processo Administrativo
Eletrônico (PROAD/SEI) que reforçam esse argumento de que tudo
pode tramitar digitalmente, sem a necessidade de se ter uma estrutura
física instalada, de maneira estanque, em determinado lugar.

16
As amarras conceituais do século passado que prendiam a
unidade jurisdicional a ter que possuir efetivamente um equipamento
público fisicamente instalado perde força ante a atuação do magistrado
digital, em todas as localidades dentro de uma estação de trabalho
remota que pode ser objeto de análise processual no âmbito virtual.

Imaginemos que o volume de processos tenha aumentado em


determinada região do país, e que o número de juízes naquela
localidade seja inferior à necessidade requerida àquele momento,
considerando–se, especificamente, o número de processos que
entraram subitamente no ano corrente.

Sob a óptica do Juízo 100% digital ou até da Vara Digital, poderia


o Conselho Superior da Justiça do Trabalho – CSJT, diante da
necessidade provisória decorrente do súbito aumento de processos
naquela determinada região do país, destacar virtualmente
magistrados para que, por meio das audiências virtuais, reforce o
quadro sem a necessidade de seu deslocamento (e de despesas) ou
mesmo de servidores para suprir necessidade eventual? Estaria sendo
violada a garantia da inamovibilidade do juiz ou se estaria diante da
concretização do princípio da cooperação?

Vejam que observando sob o ponto de vista de gestão


administrativa, estamos tratando de uma das maiores inovações que o
Poder Judiciário poderá promover nessa nova quadra do século XXI,
haja vista que isso não seria objeto de análise em outros tempos, mas
que, em razão da pandemia do COVID-19 que acelerou a implantação
de uma Poder Judiciário plenamente virtual, essa questão poderá ser
debatida.

Esse é apenas um exemplo que se pode lançar no debate para


que o tema evolua condizente com a nova perspectiva dos processos
100% virtuais no Poder Judiciário de uma nova era moderna em que
concepções sobre jurisdição, inamovibilidade e presença física do juiz
precisam de uma nova roupagem.

Isso sem contar com a inteligência artificial que tem o foco de


retirar da força de trabalho aquelas atividades elevadas, mas que
afetam a produtividade, seja porque são repetitivas, podem ser feitas
por sistema eletrônico, não comprometem a segurança de dados e que
a sua automatização contribuirá no aumento da prestação jurisdicional,
reduzindo tempo de tramitação de processos e tornará mais célere e

17
eficiente todas as atividades judiciais que impactam os indicadores
estratégicos do Poder Judiciário.

O Judiciário brasileiro deu um salto quântico para uma nova


realidade que poderá nesse momento ser experimentada, testada,
replicada e aperfeiçoada para que magistrados, advogados, servidores,
jurisdicionados e auxiliarem solucionem conflitos, traga a paz social
almejada e, sobretudo, tornem o Judiciário mais sólido e forte.

1.2 – QUAIS OS NOVOS DESAFIOS PARA ESSA ROUPAGEM QUE A JUSTIÇA


RECEBEU?

Os novos desafios esperados a todos que atuam no Poder


Judiciário é a mudança do ‘mindset’, da forma de se pensar no
Judiciário como aquele ramo do Poder que fica estático, fixo em
determinado lugar, que aguarda, que espera ser instado a fazer o que
lhe é solicitado, e que decide dentro da teoria da lousa branca, nas
quatro linhas fixas, enquanto o Juiz Boca da Lei dos séculos passados.

O magistrado de então que compõe esse novo poder judiciário


de vanguarda deve compreender que a tecnologia evoluiu para facilitar
sua atividade primeira que é a prestação jurisdicional, e entregar à
parte o que lhe pediu, mas que essa entrega seja contemporânea ao
tempo real do processo, conforme promessa destacada no texto
constitucional que dispensa transcrição porque de conhecimento de
todos.

18
O desafio será efetivamente disponibilizar decisões que tenham
a mais ampla efetividade e eficácia seja ela na fase de conhecimento e
principalmente na execução, cuja taxa de congestionamento cresce a
cada dia que se passa, porque ainda que se tenham diversas
ferramentas que colaboram na pesquisa patrimonial, é certo que ainda
há muito que precisa ser feito para que tais processos sigam seu fluxo
sem terem que ser arquivados provisoriamente aguardando a
prescrição intercorrente, porque isso não é o resultado de uma decisão
judicial justa, célere e eficiente.

Imaginemos que se tem um processo que tramitou de modo


exauriente, inclusive com realização de perícia técnica, em que a parte
demandante saiu vitoriosa, todavia, não irá receber os créditos devidos
porque o processo está aguardando na fila para receber o tratamento
interno da unidade jurisdicional, e que esse tempo poderá
comprometer a cada dia que passa a efetividade da prestação
jurisdicional.

Nesse cenário, forçoso se pensar o que o juiz, nessa era


moderna, com tanta tecnologia de comunicação e de informação pode
contribuir para que o processo tenha um fluxo mais rápido e em
harmonia ao tempo e razoável duração do processo?

Sabemos que nesse tema, execução trabalhista, há uma


saraivada de soluções, no entanto, por que o volume da taxa de
congestionamento está a cada dia que passa se mantendo, quando não
está crescendo? Ao que parece algo não está no devido lugar,
principalmente porque os indicadores do “Justiça em Números” deixam
essas informações patentes de que é importante que se tenha um
Judiciário moderno, mas que o ‘mindset’ também paute soluções para
a redução do passivo da execução processual.

Outra questão muito importante nesse contexto de juiz 4.0,


magistrado virtual ou mesmo da ‘matrix judicial’, é que juízes terão
que saber lidar com as novas plataformas que passarão a operar com
a inteligência artificial enquanto parâmetro significativo para todas as
suas atuações judiciais.

Para se ter ideia de que a modernidade chegou e veio para mudar


é que o próprio STF possui aplicativo em que os ministros da Excelsa
Corte, caso queiram, podem assinar decisões judiciais no próprio
‘smartphone’, sem ter que se deslocar para as dependências do

19
Supremo Tribunal Federal ou terem que andar com notebook, basta
apenas que se tenha uma internet de qualidade para que o ministro
acesse o processo no celular e com a senha criptografada ou biométrica
assine os atos judiciais.

Isso alguns anos atrás era impensável, de se ter um ministro da


Suprema Corte que pudesse ter uma tecnologia à disposição para
assinar remotamente e do celular decisões judiciais. Essa é uma das
demonstrações de mudança de paradigma que ministros das Cortes
Superiores já avançaram e se acostumaram com essas inovações.

A questão da inteligência artificial está na pauta do Poder


Judiciário e precisa ser explicada o passo a passo dessa sua
implantação que consiste, inicialmente, na aplicação da Jurimetria que
como sendo a utilização da estatística utilizada no ramo do Direito, em
uma análise simples e direta. Tem sido realizada em conjunto com
‘softwares’ jurídicos num modelo de tentar prever resultados e oferecer
(daí a questão estatística) probabilidades e valores envolvidos nessas
análises.

Com isso, todas as informações listadas nas planilhas estatísticas


(dashboard) buscam revelar qual o ponto nodal de cada questão a ser
solucionada. Claro que a ideia é que as SETICs possam listar dessas
tabelas as prioridades, mas sem deixar de prestar atendimento às
questões menos complexas, utilizando-se da ‘Regra de Pareto’ e ‘Ciclo
PDCA’ que têm sido algumas ferramentas de gestão que buscam dar

20
mais eficiência na coleta e solução das demandas administrativas e da
atividade-fim do Judiciário.

A ideia é que se possa conferir às equipes de desenvolvimento


de tecnologia a dimensão das atividades processuais mais relevantes
(volume de processos e tempo de duração de cada fase processual),
em que as respostas para a redução das ações burocráticas processuais
possam ser convertidas ao ambiente automatizado, deixando apenas
aquelas promovidas pelos homens como essenciais para a prestação
jurisdicional por meio de modelos de minutas em cada etapa de
tramitação do processo.

De maneira que a Inteligência artificial (IA) é um campo das


ciências da computação no qual as máquinas realizam tarefas tais
como aprender e raciocinar, por assim dizer, equivalente ao cérebro do
ser humano. Ela permite reduzir a burocracia repetitiva dos processos,
automatizando as rotinas internas e contribui na celeridade da
prestação jurisdicional a exemplo do Projeto Victor no STF com o uso
da Big Data.

Por sua vez, a ‘Big Data’ é o termo em Tecnologia da Informação


(TI) que trata sobre grandes conjuntos de dados que precisam ser
processados e armazenados, a nomenclatura ‘Big Data’ se iniciou com
3 Vs (Velocidade, Volume e Variedade) e hoje já se falam em 5Vs
(Velocidade, Volume, Variedade, Veracidade e Valor).

É evidente que a sua utilização no Poder Judiciário irá prestigiar


melhor gestão de recursos e dos processos, trazendo consigo diversas
soluções que prestigiarão maior eficiência e celeridade na prestação
jurisdicional.

Tal aplicação da ‘Big Data’ no fomento das perguntas é por meio


de pesquisas constantes pelas Escolas Judiciais e Laboratórios de TI
dos Tribunais para que em cursos, palestras, workshops, concursos de
ideias, banco de ideias, entre outras ações possam ser ventiladas no
sentido de se estimular tais questionamentos focados no encontro de
soluções para aperfeiçoar a máquina judiciária.

Nesse contexto, percebe-se que as estatísticas não são apenas


números, na medida em que é por meio dos indicadores que planos de
ações e estratégias são realizadas. Por isso, a performance de
excelência exige maior participação da estatística mormente colaborar
no mapeamento dos processos e procedimentos a serem analisados
21
(ex.: ciclo PDCA) para que se aperfeiçoe a cada dia as rotinas,
mapeando as ações a serem promovidas.

Sendo, portanto, evidente que os dados são relativos aos


indicadores de números de processos em fases, tempo de cada fase,
taxa de congestionamento, número da força de trabalho e custo de
cada processo. E com base nessas informações é que a alta
administração poderá nortear os passos em prol do desenvolvimento
de uma política ainda mais prioritária na atividade-fim do Judiciário
para prestar, desta maneira, mais celeridade, eficiência e
sustentabilidade à atividade jurisdicional.

De modo que a Database é, essencialmente, o banco de dados,


o responsável pelo cadastramento, armazenamento, guarda,
tratamento, segurança e disponibilização das informações cadastradas
e daquelas que são divulgadas à sociedade.

Primeiro são os dados colhidos pelo setor de estatística para que,


diante dessas informações, buscarão soluções no mercado que possam
se adquiridas pela administração pública por meio de licitação, ou
desenvolver dentro das SETICs plataformas eletrônicas que prestem
mais informações ao público interno e externo, para que medidas
afirmativas sejam selecionadas com adoção de tecnologia que resulte,
desta maneira, plena automatização do sistema judiciário brasileiro.

Consigne–se que a dimensão dos sistemas de informação no


Poder Judiciário tem crescido diariamente, com a adoção de novos
sistemas (PJe, Malote Digital, e-calc, Proad, WhatsApp Business,
Projeto Victor, SISBAJUD, Balcão Virtual etc.).

A visão de cenário futuro é a automatização de atos burocráticos


de volume elevado e de baixo impacto no sistema que permita a
alocação adequada da força de trabalho para a atividade da prestação
jurisdicional.

E tudo estará na Nuvem Pública, sendo ela a infraestrutura dos


servidores em que é compartilhada e gerenciada pelo provedor de
serviços em nuvem; a Nuvem privada em que a infraestrutura em
nuvem é particular e bastante usada apenas pelas empresas privadas;
e a Nuvem híbrida sendo uma combinação dos dois modelos anteriores
e que não parece refletir a necessidade do Judiciário pela possibilidade
de vulnerabilidade do sistema. No qual, a melhor opção é a do item 1
e que não tenha provedor desvinculado, disponível e vulnerável para o
22
ambiente externo a permitir, assim, maior proteção no
armazenamento de dados.

Constata-se que o Poder Judiciário mergulhou na era digital,


cujos avanços implicarão em maior produtividade, melhor eficácia e
eficiência, redução da estrutura física, foco na força de trabalho,
redução orçamentária de custeio, melhorias na cadeia produtiva de
decisões judiciais mais céleres e padronizadas, e, desta forma,
permitirá, com todas essas inovações, valorização de magistrados e
servidores que concentrarão seus esforços na solução efetiva dos
conflitos e na pacificação social.

Desta maneira, percebe-se que o Poder Judiciário brasileiro


evoluiu bastante, em que o aperfeiçoamento constante aliada à
necessidade de aumentar a eficiência, eficácia e celeridade na
prestação jurisdicional impulsionou-o a patamares mais elevados,
circunstância que enaltece cada vez mais o papel dos magistrados,
advogados, servidores e jurisdicionados em buscar soluções por meio
da tecnologia de informação e comunicação que permitam resolver os
litígios, trazer a paz social, reduzir o volume de atos e burocracias
internos, bem como projetar e planejar um Poder Judiciário ainda mais
estruturado e à frente nesta nova era da inteligência artificial.

1.3 – O DIREITO E A SOCIEDADE NA ERA DIGITAL (SÍNTESE HISTÓRICA E


NORMATIVA ATÉ OS DIAS ATUAIS). QUAIS OS NOVOS RUMOS DO
JUDICIÁRIO NO PROCESSO DIGITAL?

Conforme apresentado nos itens anteriores, o Poder Judiciário se


tornou protagonista de inúmeras inovações e transformações que
convergiram para um novo modelo mais alinhado às necessidades de
prestação jurisdicional mais eficiente.

Repise–se que esse processo percorreu uma longa jornada que


teve maior desenvoltura após a criação do CNJ e CSJT que
estabeleceram uma agenda cujo mote foi a modernização do Poder
Judiciário, mediante padronização documental, processual,
administrativa e na prestação jurisdicional.

A esse respeito também é importante mencionar que as metas


decorrentes dos Planejamentos Estratégicos foram cruciais tanto no
acompanhamento quanto nos resultados alcançados coletivamente, o
23
que evidenciou a consolidação de um método de gestão alicerçado em
técnicas gerenciais modernas e ajustadas à realidade do Judiciário.

E no decorrer da história, a partir da Carta Magna de 1988


diversas normas foram até o presente momento que demandou uma
necessidade premente deste ramo do poder constitucional por novas
formas de solucionar questões administrativas que tiveram
repercussão na atividade fim que é a prestação jurisdicional.

Exemplo disso foi a lei que criou o Processo Judicial Eletrônico,


Lei Federal nº. 11.419/2006 que, em síntese, trouxe aos processos
físicos uma nova roupagem, agora virtual, em que normatizou a
assinatura digital em complemento a essa questão que visou assegurar
segurança no tratamento e tramitação dos novos processos.

Por conta dessa evolução houve a necessidade à época de incluir


questões envolvendo o processo eletrônico no Código de Processo Civil
de 2015, aceitando a juntada de documentos de origem eletrônica sob
responsabilidade, por tais ações, às partes que as fizerem, sob pena
de não serem consideradas válidas, inclusive a questão do
armazenamento do documento original com a parte que a anexou
eletronicamente.

Isso permitiu avanço considerável porque antes os causídicos,


quando não se poderia efetuar juntada por meio de fax e nem mediante
e-mail eletrônico ou malote digital, tinham que se deslocar até a
comarca que tramita o processo e apresentar a petição no protocolo
da secretaria da unidade jurisdicional.

24
Isso causava um dispêndio de recursos pelas partes, além de
gerar um trabalho hercúleo de juntada de todas as documentações
pelos servidores da secretaria que, além de enumerar cada página à
punho, carimbar, rubricar, perfurar página por página, anexar e fazer
a remessa dos autos conclusos, tinham que muitas vezes tirar cópia
para encaminhar à parte contrária para manifestação por meio de
correio.

O custo operacional de todas essas atividades não era apenas


financeiro, mas também em relação ao tempo dedicado às atividades
repetitivas e que aumentavam o tempo de entrega da prestação
jurisdicional.

Com a adoção do processo judicial eletrônico tem–se que


diversas tarefas foram retiradas da secretaria e devolvidas aos seus
reais detentores que são as partes que devem fazer as juntadas que
entenderem importantes sem necessidade de interferência dos
servidores da unidade judicial.

Com essa mudança o primeiro impacto ambiental positivo foi a


redução do consumo de papel pelas unidades jurisdicionais no decorrer
dos últimos 5 (cinco) anos, e isso pode ser observado por meio dos
indicadores constantes dos Planos de Logísticas Sustentáveis dos
tribunais, reduzindo, assim, valores que foram redirecionados para
outras demandas de maior utilidade.

E o marco civil da internet, estabelecido por meio da Lei Federal


nº. 12.965/2014 trouxe novas disposições sobre a utilização da
internet no Brasil. O que a princípio, em nada teria a ver com o
processo judicial pontualmente. No entanto, no decorrer dos estudos
neste curso perceberão que essa norma será muito utilizada por
magistrados combinada com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Depois de todas as inovações destacadas, o legislador verificou


a necessidade de se promover atenção maior aos dados que estavam
circulando pela internet brasileira, bem como nos órgãos públicos como
acontecem no Poder Judiciário.

Eis que veio a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que dispõe
sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por
pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado,
com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de

25
privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa
natural.

Nela os Comitês gestores de dados deverão estabelecer


protocolos internos que assegurem proteção dos dados fornecidos
pelas partes e coletados por magistrados e servidores no decorrer da
tramitação do processo. O que revelou a evolução do sistema
processual que esteja alicerçado a todas as técnicas de segurança das
informações de dados para que não ocorra violação direta e indireta
das informações sob sua proteção.

Todas essas transformações possibilitaram conjuntamente na


reformatação do Poder Judiciário que não se resume mais apenas na
prestação jurisdicional, mas como ela acontece, os seus limites,
alcances, efeitos, competências e no próprio conceito de jurisdição que
daqui por diante será experimentado a cada dia que passa.

Certamente a adoção cada vez maior de inteligência artificial que


assegura proteção de dados, celeridade, uniformidade e eficiência na
prestação jurisdicional será a tônica das novas administrações dos
tribunais, especialmente porque a EC nº. 95/2016 está em vigor e
exige de todos nós maior concentração de esforços para manutenção
de todas as ações e políticas internas e externas do Judiciário com
redução das despesas.

O próximo ponto a ser pensado é de se gravar as audiências e


que um sistema baseado em inteligência artificial reduza–a a termo
automaticamente todos os atos mais importantes acontecidos em cada
assentada. Isso permitirá o deslocamento do secretário de audiências
para outro campo de atuação, cujo resultado será maior otimização e
celeridade na prestação jurisdicional porque a força de trabalho estará
disponível para assessorar a prática de atos jurisdicionais.

Outro ponto de se pensar será os atos de comunicação que


inevitavelmente serão totalmente por meios eletrônicos, e o e-carta já
está se tornando realidade no cenário atual da Justiça do Trabalho. E
o seu desenvolvimento terá como finalidade retirar secretário
especializado dessa árdua tarefa de ter que expedir cartas de
notificação postal. Isso sem contar que os oficiais de justiça poderão
ser destinados às pesquisas patrimoniais, até porque é tarefa natural
de tais servidores a penhora que será totalmente por meio eletrônico.
É questão de tempo para todas essas mudanças.

26
Pontue-se que o calculista está praticamente com o tempo
estimado de sua retirada de cena porque os novos processos têm que
ingressar liquidados, conforme a reforma trabalhista assim o exigiu. As
sentenças que confirmam os pedidos vindicados praticamente já estão
se tornando uma realidade de serem líquidas em cada tópico decidido.
Logo, a atuação desse servidor especializadíssimo será redirecionada
a outras ações que irão bem desempenhar a fim de tornar mais célere
os processos na fase de execução que são, repita–se, as maiores
dificuldades existentes no Poder Judiciário.

Além disso, a inteligência artificial será uma tônica nas relações


internas das unidades jurisdicionais, acelerando cada vez mais a
elaboração de minutas de despachos, decisões, expedientes e
sentenças judiciais. Exigindo, assim, quantitativo de servidores
voltados para a atividade finalística que é a prestação jurisdicional.

1.4 – A PRIVACIDADE NA ERA DIGITAL. AS REDES SOCIAIS FACEBOOK,


INSTAGRAM, TWITTER, YOUTUBE, CLUBEHOUSE E AS FONTES DE DADOS
ABERTOS NA INTERNET: A PRIVACIDADE VIROU UMA QUIMERA?

A evolução da tecnologia propiciou maior interconectividade


entre os seres viventes, principalmente por meio de aplicativos de
comunicação em tempo real que tiveram amplo benefício de ligar
pessoas de lugares distantes, parentes que não se viam há muitos anos
passaram a conversar diariamente, com envio de áudios, fotos,
documentos e postagens diversas em seus históricos cujos dados
foram pulverizados na rede mundial de computadores.

Para cada necessidade há uma rede social específica, seja ela em


busca de aperfeiçoamento profissional, formação e atualização
educacional, relacionamentos afetivos, culturais, religiosos e que se
espraiam para os mais diversos campos existentes e conhecidos.

Praticamente todas as aplicações humanas estão disponibilizadas


na rede mundial de computadores, em que o leque de informação se
expande exponencialmente e de maneira vertiginosa. E prova disso foi
a pandemia do COVID-19 que exigiu mudança cultural repentina no
comportamento humano de se relacionar presencialmente e
conquistou espaço cada vez maior nas redes sociais, cujos conteúdos
produzidos aumentaram imensamente em todo planeta.

27
Diante dessas sucintas informações, fica claro que a exposição
de pessoas, empresas, produtos, informações, conteúdos diversos está
evidente, circunstância que resulta na quebra do paradigma da
privacidade em que as postagens trazem consigo ‘likes’ e ‘dislikes’,
fomentando discussões e debates acerca de todos os temas que muitos
deles, ainda que tabus, estão trafegando pela internet em alta
velocidade e são devoradas pelos consumidores e processadas numa
escala que não foi pensada dessa maneira, haja vista que a internet
ainda é muito jovem.

E aqui vai uma mensagem que ficou evidente em todos os


sentidos: “nada se esconde da internet”. Isso mesmo, basta fazer um
‘google’ de determinado tema que certamente ele aparecerá contendo
diversos links de acesso rápido trazendo informações importantes e
que muitas vezes solucionam quase todas as questões.

Yuval Noah Harari (2018) já afirmou em sua obra Sapiens que “a


tecnologia permitirá ‘hackear’ seres humanos”. E numa
entrevista à El País, quando indagado “que perguntas são importantes
para você”, ele assim respondeu:

O maior problema político, legal e filosófico de nossa época é


como regular a propriedade dos dados. No passado, delimitar
a propriedade da terra foi fácil: colocava-se uma cerca e
escrevia-se no papel o nome do dono. Quando surgiu a
indústria moderna, foi preciso regular a propriedade das
máquinas. E conseguiu–se17.

De modo que tudo fica registrado na internet, suas necessidades,


seus acessos, suas postagens, suas buscas, tudo se tornou código
binário de análise de inteligências artificiais que pautam suas
programações em tentar identificar o usuário e entender suas
necessidades focado no consumo seja ele de produtos, serviços,
informações entre outros dados que são almejados pela pessoa que faz
uso da internet.

Logo, a indagação mais importante é sobre se realmente faz


sentido se ter conta registrada em rede social (ou não). Esse é o ponto
de debate porque a cada dia que passa novos registros de acessos são
realizados por uma nova geração ávida a permanecer cada vez mais
conectados nessa rede mundial de computadores que não é a mesma

17
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/20/eps/1534781175_639404.html. Data de inserção:
26/08/2018. Acesso: 04/05/2021.
28
a cada segundo, reforçando a argumentação de Heráclito sobre o
homem e o rio.

Nesse cenário é importante dizer que se as necessidades


humanas passam pelo uso da internet como ferramenta de
comunicação, aperfeiçoamento, conhecimento, relacionamento, lazer
e demais vicissitudes nela contidas, logo, a privacidade do usuário será
tão tênue quanto seus acessos, postagens e descobertas feitas, porque
a internet se tornou um avatar de vigilância ‘full time’ sobre seus dados
e informações sobre si.

Portanto, a reflexão posta é que nos tempos modernos atuais se


deve ter comportamento consentâneo a essa evolução? Se a resposta
for positiva isso indica que quanto maior o uso da internet maior deverá
ser o cuidado a evitar que suas pegadas digitais possam ser
catalogadas ao longo do tempo e serem utilizadas indevidamente.

A privacidade na era digital será na dimensão proporcional do


tempo de uso da internet, e saber utilizá–la adequadamente deverá
ser uma das preocupações a ser lecionada aos seres humanos desde o
maternal até a vida profissional.

29
AULA 2 – O PODER JUDICIÁRIO DA ERA DIGITAL:
JUSTIÇA 4.0
2.1 – POR QUE PRECISAMOS INOVAR? RAÍZES JURÍDICAS, EXIGÊNCIAS
SOCIAIS, ECONÔMICAS, POLÍTICAS E TECNOLÓGICAS.

Inicialmente, tem-se que desde os primórdios os seres humanos


tiveram que se adaptar a todas as condições ambientais existentes que
o Planeta Terra, desde a pangeia, disponibilizou indistintamente,
inclusive nos tempos atuais, sob pena de extinção.

Todas as ferramentas inventadas, os modelos de cultivo do solo


e de criação de animais desenvolvidos sugerem que o ser humano
possui uma capacidade extraordinária de se superar a cada dia que
passa. Tendo como baliza seus propósitos pessoais e muitas vezes
coletivos, mas focado, sobretudo, no desenvolvimento de novas
tecnologias que possibilitaram produzir muito mais resultados num
intervalo de tempo cada vez menor.

Nesse contexto, nas últimas décadas, a sociedade presenciou o


seu rápido avanço de maneira fantástica, em que o vasto multiverso
das coisas idealizadas cedeu lugar à concretização de sonhos que
existiam apenas nos filmes de grandes bilheterias.

Praticamente quase todas as funcionalidades realizadas pelos


seres humanos passaram a ser experimentadas por meio de novas
tecnologias, sejam elas ligadas aos campos da saúde, habitação,
transporte, educação, trabalho, lazer, saneamento, ecologia, política,
esporte, literatura entre outros espaços científicos e acadêmicos
existentes.

Gilberto Gil acertou bem ao prever na sua música


“Parabolicamará” os rumos que a tecnologia de comunicação passou a
conduzir a vida do Planeta Terra no século passado, notadamente
porque a internet, por exemplo, impulsionou todas as formas de
conexão e rompeu consequentemente as barreiras físicas de distância
inimagináveis.

Tudo passou a ser em tempo real e da televisão se vivenciou


novos regimes políticos, guerras e pacificações, avanços científicos,
vitórias e derrotas nos esportes, mas que, sem volta, o ser humano
alçou novos horizontes, expandiu suas convicções de vida cujo
30
objetivo, sem dúvida, é a sua perpetuação das próximas gerações. E
com a internet tais informações invadiram os computadores e
smartphones em segundos.

Bem de ver que novos temas se achegaram dentro dos lares, os


tabus foram descortinados, as concepções filosóficas, sociais, políticas,
científicas e religiosas se tornaram a tônica dos debates e das relações
sociais, os quais convergiram na criação de multifacetadas formas de
se buscar solucionar as questões humanas mais candentes, sobretudo
porque a vida, em real verdade, é dinâmica e não estática como se
pensava.

De maneira que atualmente os dilemas vivenciados pela


sociedade em praticamente todos os níveis de complexidade exigem
respostas mais estruturadas, melhor desenvolvidas por meio da junção
de pontos de conexão voltados a responder tais indagações sem deixar
lacunas, as quais são justamente as mais polêmicas e que não
desenlaçam a pacificação social da população tão almejada pelo Poder
Judiciário.

Por esse motivo o Poder Judiciário tem que se reformatar


cotidianamente e isso sempre tem sido a tônica revelada por meio dos
planejamentos estratégicos dos mais de 90 Tribunais existentes no país
que, uníssonos, têm pautado suas agendas na busca incessante de se
prestigiar uma prestação jurisdicional consentânea com os objetivos
finalísticos de uma justiça mais célere, sustentável, justa e que
pacifique os conflitos.

Não raras as vezes que se presenciou dentro do Poder Judiciário


a construção de respostas para as mais diversas questões difíceis
existentes, cujas soluções trazidas por magistrados permitiram
conduzir a comunidade a uma pacificação social eficaz.

Diante do cenário apresentado sinteticamente, tem-se que as


transformações tecnológicas chegaram ao Poder Judiciário trazendo
consigo ventos de boas novas que irão permitir rápida prestação
jurisdicional mais eficaz, sustentável e pacificadora.

Soma-se a esses fatos que o país está vivenciando uma nova era
em que a informatização se espraiou rapidamente, cujos setores de
tecnologia estão se estruturando cada vez mais em prol de implantação
de um sistema que permita eficiência, celeridade, padronização,
automação e, acima disso tudo, segurança digital.
31
Demais disso, observa-se que a legislação avançou
significativamente tocante a utilização de provas obtidas por meios
eletrônicos, conforme se destaca, inicialmente, a Lei Federal nº.
11.419/2006 que trata do Processo Judicial Eletrônico, a qual
expressa claramente no seu art. 11 que os documentos produzidos
eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia da
origem e de seu signatário serão considerados originais para todos os
efeitos legais.

No parágrafo primeiro do art. 11 da Lei Federal nº.


11.419/2006 assenta que os extratos digitais e os documentos
digitalizados e juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus
auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas
procuradorias, pelas autoridades policiais, pelas repartições públicas
em geral e por advogados públicos e privados têm a mesma força
probante dos originais, ressalvada a alegação motivada e
fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de
digitalização.

Não obstante essa veracidade possuir natureza relativa, a


circunstância de se eventualmente arguir falsidade documental, ínsito
no art. 11, parágrafos segundo e terceiro, infere-se dele que
ocorrerá o processamento dessa questão eletronicamente, cujos
documentos deverão ser preservados pelo detentor até o trânsito em
julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para
interposição de ação rescisória.

Pontue-se que no art. 11, parágrafo quinto, consta que na


existência de documentos que sejam, por motivo diverso, de difícil
digitalização por questões técnicas ou por motivo de ilegibilidade, eles
deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria no prazo de 10
(dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato,
os quais serão devolvidos à parte após o trânsito em julgado.

De mais a mais, o art. 12 do mesmo arcabouço jurídico assevera


no parágrafo primeiro que os autos dos processos eletrônicos
deverão ser protegidos por meio de sistemas de segurança de acesso
e armazenados em meio que garanta a preservação e integridade dos
dados, sendo dispensada a formação de autos suplementares.

Bem como no parágrafo quinto do art. 12 que a digitalização


de autos em mídia não digital, em tramitação ou já arquivados, será

32
precedida de publicação de editais de intimações ou da intimação
pessoal das partes e de seus procuradores, para que, no prazo
preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejo de
manterem pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.

Por conseguinte, o art. 13, caput, da Lei Federal nº.


11.419/2006 autoriza o magistrado à faculdade de determinar que
sejam realizados por meio eletrônico a exibição e o envio de dados e
de documentos necessários à instrução do processo.

Noutro giro, diante da necessidade de se atualizar a norma


processual que instrumentaliza o direito material, tem-se que o
CPC/2015 buscou imprimir, através dos atos processuais nele
construídos, maior efetividade e concretude às decisões judiciais, haja
vista que na vigência do CPC/1973, muito embora tivesse os seus
avanços, isso em relação ao CPC/1939, de fato, não havia nele o
compromisso jurídico-processual com a rápida entrega da prestação
jurisdicional que a sociedade contemporânea brasileira exige dos
Órgãos Jurisdicionais nessa quadra constitucional, nem mesmo às
inovações ocorridas por meio do processo digital e da nova modalidade
de colheita de provas digitais18.

De modo que, na conjuntura de provas digitais, o comando do


art. 411, inciso II, do CPC/15, expressa que se considera autêntico
o documento quando a autoria estiver identificada por qualquer outro
meio de certificação, inclusive o eletrônico.

Mais à frente, pode-se colher do art. 441 do CPC/15 que aduz


que serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e conservados
com a observância da legislação específica, enquanto mecanismo
normativo processual que permite a utilização de provas produzidas
por meios eletrônicos possuindo, desta forma, valor probante
suficiente e capaz de conduzir o julgamento à verdade formal.

18
Fonte. Senado. Link: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/512422/001041135.pdf.
Data de inserção: 17/03/2015. Data de acesso: 08/07/2021.
33
Não obstante tais dispositivos e, verificada a possibilidade de se
utilizar a Ata Notarial, esculpida no art. 384 do CPC/15, ao assentar
que a existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados
ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata
lavrada por tabelião. E no seu parágrafo único, o legislador ordinário
fez consignar que os dados representados por imagem ou som
gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.

Essas normas buscam, essencialmente, assegurar a efetividade


na prestação jurisdicional mais condizente com a realidade vivida pela
sociedade, e essa circunstância se pode verificar através da leitura
atenta do art. 5º da LINDB assegurando aos jurisdicionados que na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

Por sua vez, e reforçando essa compreensão, o art. 8º do


CPC/15 expressa que ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz
atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando
e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.

Para normatizar melhor tais questões, o Conselho Nacional de


Justiça editou a Resolução Administrativa CNJ nº. 185/2013 que
trata do Processo Judicial Eletrônico como sistema de processamento
de informações e prática de atos processuais e estabelece os
parâmetros para sua implementação e funcionamento.

E no art. 3º da RA CNJ nº. 185/13, incisos III, IV e V, consta


que:
34
A digitalização é o processo de reprodução ou conversão de fato
ou coisa, produzidos ou representados originalmente em meio não
digital, para o formato digital. Já o documento digitalizado é a
reprodução digital de documento originalmente físico; e o documento
digital é o documento originalmente produzido em meio digital.

No art. 4º, caput, da RA CNJ nº. 185/13 aduz que os atos


processuais terão registro, visualização, tramitação e controle
exclusivamente em meio eletrônico e serão assinados digitalmente,
contendo elementos que permitam identificar o usuário responsável
pela sua prática. E no seu parágrafo primeiro destaca a norma que
a reprodução de documento dos autos digitais deverá conter elementos
que permitam verificar a sua autenticidade em endereço eletrônico
para esse fim, disponibilizado nos sítios do Conselho Nacional de
Justiça e de cada um dos Tribunais usuários do PJe.

O art. 14 da RA CNJ nº. 185/13 revela que os documentos


produzidos eletronicamente, os extratos digitais e os documentos
digitalizados e juntados aos autos pelos órgãos do Poder Judiciário e
seus auxiliares, pelos membros do Ministério Público, pelas
procuradorias e por advogados públicos e privados têm a mesma força
probante dos originais, ressalvada a alegação motivada e
fundamentada de adulteração.

E nessa questão, os parágrafos primeiro, segundo e terceiro, do


art. 14 da Resolução Administrativa CNJ nº. 185/13, informam
que incumbirá àquele que produzir o documento digital ou digitalizado
e realizar a sua juntada aos autos deve zelar pela qualidade deste,
especialmente quanto à sua legibilidade. Os originais dos documentos
digitalizados, mencionados no caput deste artigo, deverão ser
preservados pelo seu detentor até o trânsito em julgado da sentença
ou, quando admitida, até o final do prazo para propositura de ação
rescisória. E a arguição de falsidade do documento original será
processada eletronicamente na forma da lei processual em vigor.

Demais disso, o art. 16 da Resolução Administrativa CNJ nº.


185/13 complementa que os documentos que forem juntados
eletronicamente em autos digitais e reputados manifestamente
impertinentes pelo Juízo poderão ter, observado o contraditório, sua
visualização tornada indisponível por expressa determinação judicial.

35
O Conselho Nacional de Justiça em 2020 editou a Resolução
Administrativa CNJ nº. 335/2020 que institui política pública para
a governança e a gestão de processo judicial eletrônico. Integra os
tribunais do país com a criação da Plataforma Digital do Poder Judiciário
Brasileiro – PDPJ–Br. Mantém o sistema PJe como sistema de Processo
Eletrônico prioritário do Conselho Nacional de Justiça o qual, em
síntese, pauta os seguintes conceitos que serão utilizados por todos os
Tribunais do país19.

Por sua vez, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho,


acompanhando tais mudanças nas normas infraconstitucionais e
administrativas à espécie, editou duas resoluções administrativas, a
primeira, a Resolução Administrativa CSJT nº. 241/2019, que
dispõe sobre a padronização do uso, governança, infraestrutura e
gestão do Sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe) instalado na
Justiça do Trabalho.

A segunda, a Resolução Administrativa CSJT nº. 242/2019,


a qual dispõe sobre a Política de Governança do Sistema Processo
Judicial Eletrônico (PJe) instalado na Justiça do Trabalho, cujas normas
buscam, em resumo, aperfeiçoar todo o processo de gestão do sistema
Pje que, nesse particular, permitirá aos magistrados uma prestação
jurisdicional mais célere, eficiente, sustentável e, principalmente,
segura.

Na sequência, a Resolução Administrativa CSJT nº.


249/2019 que refrata a padronização do uso, governança,
infraestrutura e gestão do Sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe)
instalado na Justiça do Trabalho que atualizou a redação do
parágrafo primeiro do art. 13 da RA CSJT nº. 185/2017, que
passou a vigorar no sentido de que os arquivos juntados aos autos
deverão ser legíveis, com orientação visual correta e utilização de
descrição que identifique, resumidamente, os documentos neles
contidos e, se for o caso, os períodos a que se referem, e,
individualmente considerados, devem trazer os documentos da mesma
espécie, ordenados cronologicamente.

Por sua vez, o art. 818 da CLT que trata do ônus da prova no
Processo do Trabalho se desenvolve com maior tenacidade ao conjugá–

19
Fonte: CNJ. RA CNJ nº. 335/2020. Link: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3496. Data de inserção:
30/09/2020. Data de acesso: 18/05/2021.
36
lo com o art. 373 do CPC/15 e demais dispositivos da norma
processual geral, tendo em conta que muito embora a Consolidação
das Leis do Trabalho tenha sofrido atualizações substanciais que foram
prestigiadas na Lei nº. 13.467/2017, no entanto, não houve
modernização no sentido de se deixar clara a utilização das provas
digitais no processo do trabalho concretamente.

Nesse norte, de outra análise mais exegética à espécie, essa


omissão tornou a norma processual laboral capaz de absorver (art.
769 e 889 da CLT c/c art. 15 do CPC/15) qualquer outro dispositivo
de outros ramos do direito processual que permitam eficácia tanto na
etapa de conhecimento quanto na fase de execução do processo. E
desta maneira, o magistrado poderá adotar a melhor maneira de se
colher as provas digitais sem macular o processo, bem como poderá,
assim, tornar o processo efetivo.

Tanto isso é verdade que o Tribunal Superior do Trabalho


divulgou a Resolução Administrativa TST nº. 203/2016 que editou
a Instrução Normativa n° 39, que dispõe sobre as normas do
Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao
Processo do Trabalho, de forma não exaustiva.

No art. 1º da RA TST nº. 203/2016 expressa que é aplicável


o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo
do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja compatibilidade
com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho, na forma
dos arts. 769 e 889 da CLT e do art. 15 da Lei Federal nº. 13.105,
de 17.03.2015.

Nessa norma, ainda, tem–se que o C. TST autorizou o uso de


meios eletrônicos tais como o BACENJUD, de modo que o CPC/15
passou a ser um dos mecanismos processuais que o magistrado
poderá, dentro de seu juízo de convicção, utilizar subsidiariamente
para que a instrução siga dentro dos parâmetros mais modernos como
a colheita de provas digitais, considerando–se ser ele o diretor do
processo.

É preciso explicar que para se ter acesso ao BACENJUD há um


cadastro em que é fornecida uma senha ao juiz, uma chave digital que
permite que apenas ele possa, desde que, evidentemente, declarando
o segredo de justiça em virtude de informações fiscais, financeiras e
econômicas da parte, colher provas de sistemas como o INFOJUD que

37
lhes dá um relatório contendo todas as movimentações que permitam
uma análise mais acurada para se saber se de fato a parte está (ou
não) falando a verdade ou omitindo informação relevante para a
solução do processo.

Outros sistemas eletrônicos podem ser acessados pelo juiz no


curso do processo de conhecimento ou mesmo na execução que lhes
dê plena ciência de dados sigilosos das partes para que, em síntese
investigatória, possa elucidar questões como se houve fraude
trabalhista, fraude processual, ocultação de bens imóveis e móveis
entre outras modalidades, inclusive quanto ao endereço para a sua
notificação/citação.

É que, dentro desse contexto, o réu procura “se esconder” das


notificações existentes no Processo do Trabalho, e ainda que se tenha
acesso ao INFOJUD, a parte não atualiza o seu endereço. Motivo pelo
qual, nessa hipótese, se busca em outros sistemas avançados como o
SERPRO (TRE), RENAJUD, ANAC, MARINHAJUD, CARTÓRIO
DIGITAL, COAF, DOSSIÊ INTEGRADO (SPED), JUNTA
COMERCIAL ‘ON LINE’, CAGED, INFOSEG, SINARM, SACI, CCS,
CENSEC, CENTRAL NACIONAL DE INDISPONIBILIDADE (CNIB),
SERASAJUD, DENATRAN (CNH), RAIS, CNJ – BNMP (MANDADOS
DE PRISÃO), SIASG, PENHORA ‘ON LINE’, REDE LAB–LD e
SIMBA para se tentar localizar a parte.

E as saídas para essa questão de localização da parte têm sido


as celebrações de convênios com empresas prestadoras de serviços
ditos essenciais, a exemplo de energia elétrica e água e saneamento,
38
assim como com as operadoras de telefonia e internet que podem,
através do CPF, fornecer os dados de geolocalização dos aparelhos
celulares das pessoas e empresas pesquisadas para que, assim, se
possa realizar o encontro delas e se promover suas intimações/citações
no curso do processo trabalhista.

Acrescente–se que é possível também se fazer uma pesquisa


minuciosa na internet por meio de redes sociais, utilizando-se o nome
da parte para que se possa tentar localizá-la, haja vista que nas redes
sociais é muito comum que as pessoas disponibilizem comumente suas
fotos em locais que mais frequentam, a exemplo do Facebook e do
Instagram.

Nessa hipótese de pesquisa em redes sociais, a questão que se


coloca é que o magistrado, para ter acesso, precisará se cadastrar
(inserindo dados pessoais) nessas redes sociais para que possa coletar
as informações desejadas. A não ser que o CNJ celebre convênio com
os provedores e administradores dessas redes sociais para que, por
meio de senha, se possa tentar localizar a parte que esteja cadastrada
nelas.

Para tanto, pontue-se que o ‘Marco Civil de Internet’ (MCI),


promulgado pela Lei Federal nº. 12.965/2014 estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, busca
disciplinar o uso da internet no Brasil20.

Outro diploma normativo que merece destaque neste momento


introdutório, repita–se, é a Lei Geral de Proteção de Dados,
consubstanciado na Lei Federal nº. 13.709/2018, cuja norma
objetiva o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais,
por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado,
com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de
privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa
natural21.

Por fim, é importante tratar sobre a Lei de Abuso de


Autoridade, esculpida na Lei Federal nº. 13.869/2019, com a
finalidade de se apresentar dispositivos normativos que orientam os

20
Fonte. Planalto. Lei Federal nº. 12.965/2014. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm. Data de inserção: 23/04/2014. Data de acesso: 18/05/2021.
21
Fonte. Planalto. Lei Geral de Proteção de Dados. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Lei/L13853.htm#art1. Data de inserção: 08/07/2019. Data de acesso: 18/05/2021.
39
magistrados a adotar a melhor maneira de se ter uma prestação
jurisdicional célere, eficaz e sustentável.

O art. 1º desta lei aponta o conceito aos crimes de abuso de


autoridade, como sendo aqueles cometidos por agente público,
servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

No art. 2º consta que para os fins de adequação ao dispositivo


normativo de natureza penal, é sujeito ativo do crime de abuso de
autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território.

No seu parágrafo único em que se reputa agente público, para


os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade
abrangidos pelo caput do art. 2º.

Nessa quadra é importante que os magistrados ao realizarem


pesquisas com a finalidade de se encontrar provas digitais (em
ambientes virtuais, redes sociais, aplicativos de comunicação em
tempo real, sistemas de geolocalização, transporte e comercialização
e consumo de bens) compreendam que a depender do conteúdo da
informação colhida em qualquer das fontes digitais existentes, possam
prestar o devido tratamento, guarda e disponibilização que não
comprometa a segurança pessoal, social, profissional, familiar,
religiosa entre outras questões mais sensíveis que possam, ainda que
de maneira reflexa, violar a dignidade da pessoa humana, predicado
constitucional inviolável do Estado Democrático de Direitos, ancorada
no art. 5º, III, da CF/88.

De maneira que tais dispositivos normativos transcritos


sinteticamente revelam que o magistrado de ontem e de hoje
ingressou efetivamente na era do desenvolvimento da inteligência
artificial e da implantação do Poder Judiciário 4.0 pelo Conselho
Nacional de Justiça, o qual dispõe, assim, de um leque de ferramentas
que permitirão a coleta de provas digitais no decorrer da tramitação do
processo judicial com mais celeridade, objetividade, eficácia,
sustentabilidade e segurança digital.

40
2.2 – O PODER JUDICIÁRIO DA ERA DIGITAL – O JUDICIÁRIO 4.0 – NOVOS
HORIZONTES?

Conforme dito em linhas anteriores, a sociedade nas últimas


décadas promoveu avanço substancial de maneira muito rápida,
notadamente porque do mundo pós-guerra diversas nações saíram
revigoradas da corrida armamentista e que, em razão disso, apostaram
suas pesquisas em tecnologia de comunicação, transporte, saúde,
comércio e na industrialização de bens duráveis, cujos fatores
econômicos, políticos e sociais à época impulsionaram uma escalada
incrível no modo de produção e comercialização.

Nas últimas décadas surgiram blocos econômicos que somaram


esforços no sentido de reduzir a burocracia, melhorar as relações
comerciais, diminuir impostos de exportação e importação, reforçar a
balança comercial e estimular as pequenas e médias empresas de
tecnologia para que o modelo econômico capitalista pudesse se
espraiar por diversos continentes e formar aldeias globais
interconectadas em tempo real.

Foi nesse cenário que as tecnologias de comunicação, a exemplo


da internet, foram apresentadas à sociedade como mecanismo que
acelerou todas as relações comerciais, sociais, políticas, institucionais
e, sobretudo, disseminou conhecimento.

O Poder Judiciário, diante desse quadro de desenvolvimento,


especialmente após a EC nº. 45/2004 que é conhecida como a
Reforma do Poder Judiciário, cujo Conselho Nacional de Justiça foi
erigido, buscou pavimentar novos horizontes em que seus alicerces
estão construídos sobre planejamentos estratégicos focados em metas
que implicaram no avanço técnico e tecnológico sem precedentes, ao
exemplo da criação do processo eletrônico, ferramentas eletrônicas de
pesquisa patrimonial, gestão de processos e de metas, o LIODS, a
Agenda 2030, a implantação da Política de Governança e Gestão
(PDPJ–Br) na aquisição de serviços, sistemas e equipamentos de
Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) entre outras
inovações.

41
Tais mecanismos subsidiaram o estabelecimento de protocolos,
métodos, procedimentos e análises estatísticas que nortearam todas
as tomadas de decisões no âmbito administrativo da alta administração
do Poder Judiciário que culminou na criação do recente programa Poder
Judiciário 4.0, tendo em conta que a inteligência artificial é uma
realidade vivida por diversas instâncias do Judiciário.

E sobre esse tema forçoso reconhecer que o volume de ações e


recursos que tramitam pelos escaninhos de todas as instâncias do
Poder Judiciário preocupa tanto magistrados, advogados, servidores e
jurisdicionados, uma vez que o tempo do processo passou a ser a
tônica das relações interpessoais entre juízes e a sociedade, que
almeja dessa instituição que os processos tenham que percorrer todo
o caminho estabelecido pela norma processual à espécie.

Em virtude dessa questão do número expressivo de processos


que são o calcanhar de Aquiles é que novas tecnologias e metodologias
foram implementadas, tais como o mapeamento do fluxo de processos,
as metas relativas à redução da taxa de congestionamento na fase de
execução, a digitalização dos processos físicos (CCLE), o Projeto
Garimpo que objetiva buscar saldos remanescentes nas contas
judiciais, o SISBAJUD que é o BACENJUD automatizado por meio de
bot (SABB) que realiza bloqueios automáticos sem que o magistrado
tenha que repeti-lo constantemente etc.

Além disso, ressalte–se que a pandemia da COVID-19, novo mal


do século moderno causado por um vírus denominado de SARS-COV-
2, de escala global, reduziu o delay significativo no projeto de
estabelecimento de inovações tecnológicas no Poder Judiciário,
tomando como exemplo as audiências virtuais ou telepresenciais, o

42
balcão virtual, as comunicações, notificações e citações por meio de
Whatsapp, o uso do aplicativo Zoom, o home office da maioria dos
magistrados e servidores, considerando–se, o protocolo de
distanciamento social e retomada ao trabalho presencial, com escalas
de volta gradual e ainda sem uma definição finalizada.

Constata–se, desta maneira, que o Poder Judiciário nesses


últimos anos está caminhando por novas rotas de desenvolvimento
tecnológico que estão reformatando o designe de fluxo de processos e
procedimentos, mediante reestruturação decorrente de uma
abordagem da política de governança de TIC calcada na democracia
ativa e na ciberdemocracia (democracia eletrônica, democracia virtual,
ou e–democracia).

As iniciativas de inovação almejadas pelo Poder Judiciário para


os próximos anos certamente serão calcadas na concretização de
análise de ambiente por meio de pesquisa do usuário, estruturação das
escolas judiciais e dos laboratórios de inovação e de TIC para que
cursos de formação sejam replicados a magistrados e servidores para
que se implante um ambiente cultural de fomento em inovação
judiciária.

Acrescente–se que é preciso que se tenha projeto de inclusão e


interconexão entre as instâncias do Poder Judiciário para que não se
criem ilhas de inovação porque a ideia nesse novo cenário é a
transversalização de tecnologia de TIC, ou seja, a busca pela
horizontalização de novos conhecimentos para que se criem protocolos
de inovação com objetivo de padronizar suas metodologias científicas
para que os resultados sejam aplicados e estejam alinhados a uma
efetiva política de gestão de inovação tecnológica.

Nesse diapasão, é importante ter em mente que as soluções para


a redução do passivo de processos, a melhoria na qualidade do tempo
do processo, a otimização e a automação nos procedimentos internos
padronizados que acelerem a tramitação dos processos administrativos
e judiciais, devem estar lincadas ao fomento de conhecimento
consubstanciado no desenvolvimento de capital intelectual de
magistrados e servidores.

É necessário que o Judiciário se volte para a consolidação de


ecossistemas informatizados que sejam capazes de ampliar ainda mais
a capilaridade da disrupção tecnológica, centrada na solução de

43
problemas internos envolvendo procedimentos que podem ser
efetivados por sistemas automatizados porque, via de regra, busca–se
tornar automático aquelas ações que não necessitam da análise e
interferência humanas.

Isso evitará o que os pesquisadores denominaram de


infobesidade que é, em síntese, o excesso de conteúdo e de
informações que podem ser processadas pelas máquinas mediante
algoritmos que interajam com esses conteúdos para que magistrados
e servidores se projetem especialmente nas atividades intelectuais e
de formação educacional continuada que imprimam cada vez mais
eficiência e sustentabilidade no Judiciário, circunstância que criará um
cenário de maior inclusão em sede de inovação.

O modelo de negócio do Poder Judiciário neste momento será a


informatização e automação daquelas atividades que são menos
complexas e que estão retirando a força de trabalho do foco principal
que é a efetividade na prestação jurisdicional, fato que resulta no
absenteísmo significativo, aumento no tempo de tramitação de
processos, elevado acervo e acréscimo na taxa de congestionamento,
impactando o orçamento dos tribunais, predicados que retiram todo o
potencial almejado nesta era contemporânea.

Por tais questões é que o Poder Judiciário tem que, por meio de
capacitação e sensibilização do seu público interno, instalar uma
política de P&D (Planejamento e Desenvolvimento) que contribuirá no
aumento do nível de soluções, cujas pesquisas devem ser realizadas
pelas escolas judiciais em parceria com os laboratórios de inovação e
desenvolvimento sustentável dos Regionais (LIODS–TRT) e tendo
apoio dos laboratórios das Secretarias de Tecnologia de Informação e
Comunicação, para que se crie ambiente propício para estímulo no
desenvolvimento de inovação tecnológica.

Para tanto, é crucial o estabelecimento de metodologia ativa de


pesquisa científica pelas Escolas Judiciais, Laboratórios de Inovação e
das SETICs aplicadas elaboração de um ambiente de ensino e
aprendizagem em tecnologia e inovação judiciária motivando a
realização de maratonas de inovação e a capacitação dos atores
internos para que se estabeleça política de fomento de competência
em inovação.

44
Nesse sentido, as pesquisas nesses laboratórios devem pautar
seus processos na vivência no laboratório com construção de soluções
que sejam experimentadas para que saia do campo da teoria e se torne
prática constante, aliando, assim, ciência e tecnologia em que os
pilares sejam sedimentados no desenvolvimento de protocolos de
inovação para que sejam discorridos em artigos científicos, publicados
e colocados em prática.

Acrescente–se a tudo isso a implantação do Juízo 100%


Digital, apresentado na Aula 1. Ele tem uma premissa inovadora no
Processo do Trabalho.

Esse programa do CNJ objetiva incluir a tecnologia disruptiva


integralmente na relação processual trabalhista, em que a parte não
precisará mais ter que se deslocar até uma unidade jurisdicional para
ter acesso a informações, à movimentação processual, ao processo
propriamente dito, àquilo que a parte veio buscar no Judiciário: Justiça.

O Juízo 100% Digital revela uma nova face do Poder Judiciário,


não mais enquanto o lugar físico, mas o seu serviço em si mesmo. É o
que o Professor inglês Richard Susskind assenta “Court as a service,
not as a place” em sua obra ‘Online Court and the Future os Justice’,
ou seja, o Poder Judiciário é um serviço, e não um lugar22.

Imaginemos uma relação de trabalho que se desenlaçou em um


determinado lugar, mas que ao final do contrato de trabalho, o obreiro
precisou se deslocar para outro estado da federação, não possuindo
condições financeiras, portanto, a ter que aguardar a prestação
jurisdicional no local da realização do pacto laborativo. Com essa
inovação, o reclamante poderá demandar ação trabalhista que
percorrerá os escaninhos virtuais desta Justiça Especializada, desde a
sua gênese até finalizada a sua execução.

Esse passo importantíssimo promovido pelo CNJ e acompanhado


pela Justiça do Trabalho brasileira pode ser equiparado ao salto lunar
de Neil Armstrong ocorrido em 20 de julho de 1969. Não se poderão
dimensionar os efeitos dessa mudança em curto tempo, mas
certamente trará, de plano, redução de custos às administrações dos

22
BAPTISTA FILHO, Sílvio Neves. Juízo 100% Digital: Court as a service, not as a place. Link:
https://www.migalhas.com.br/depeso/340346/juizo-100-digital-court-as-a-service-not-as-a-place. Data de
inserção: 15/02/2021. Acesso: 20/07/2021.
45
Tribunais porque o espaço físico cederá lugar ao virtual
inevitavelmente.

Pensem que o magistrado terá todas as condições de realizar


suas audiências de qualquer lugar do planeta terra sem ter que se
apresentar fisicamente à unidade jurisdicional a qual está servindo.

Claro que nesse ensaio até mesmo as correições a serem feitas


pelas Corregedorias Regionais e pela Corregedoria Geral da Justiça do
Trabalho terão que se acomodar a essa novel realidade, até porque
não faria sentido à presença física do Corregedor em determinada
unidade jurisdicional de difícil acesso (Região Amazônica, por
exemplo), para realizar correição ordinária em processos 100%
digitais.

A ideia central é que em médio prazo todos os processos


tramitem 100% no mundo digital para que se possa promover maior
celeridade, eficiência, comodidade e acessibilidade de todos aos
processos que tramitam na Justiça do Trabalho.

Registre–se que os Tribunais poderão instituir, assim, o Núcleo


Justiça 4.0 que possibilitará maior especialização das ações e
métodos focados nas melhores práticas, o que prestigiará maior
produtividade, celeridade e eficiência na prestação jurisdicional, os
quais fazem parte dos objetivos estratégicos do Poder Judiciário
brasileiro.

Pontue-se que tais núcleos serão submetidos anualmente a


avaliações para analisar a produtividade, considerando–se a força de
trabalho e a quantidade de processos distribuídos, tanto nos núcleos
quanto nas unidades físicas. A ideia central é mensurar a necessidade
de transformação de unidades físicas em núcleos, com eventual
readequação da sua estrutura de funcionamento ou de alteração da
abrangência de área de atuação. Ou seja, ocorrerá efetiva e gradual
migração do modelo físico para o virtual.

46
Isso não comprometerá a independência, a inamovibilidade e a
autonomia do magistrado e nem mesmo da unidade jurisdicional que
está sob a sua gestão processual, administrativa e funcional, mas
permitirá sim que se tenha maior alcance possível do jurisdicionado ao
juiz, e que ele na condição de diretor do processo possa prestigiar
todas as demandas no tempo adequado e esperado pelo texto
constitucional vigente que asseguram a todos a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação,
consoante art. 5º, inciso LXXVIII da CF/88.

Nessa vertente, tem–se que o CNJ criou o Balcão Virtual,


conforme narrado na Aula 1, cujo foco é permitir que a parte tenha
acesso ao setor de atendimento da unidade jurisdicional no intuito de
obter às informações que compreender necessárias sobre o andamento
de seu processo, por exemplo. Se há audiência designada, e houve a
intimação das partes, testemunhas, se o juízo despachou determinada
petição etc.

Esse modelo de negócio possibilita o rápido acesso à unidade


jurisdicional além de assegurar maior qualidade no atendimento ao
público porque o servidor poderá se dedicar, no momento do
atendimento, àquela pessoa que solicitou a sua atenção e focar com
maior exatidão nas informações que colherá e fornecerá à parte.

Isso contribui na qualidade do clima organizacional da força de


trabalho, tendo em conta que é natural que nas unidades jurisdicionais
a quantidade de pessoas que buscam informações no setor de
atendimento ao público seja maior que o número de servidores
destacados para essa finalidade. Logo, ocorrem situações em que o
47
servidor tem que repetir determinada tarefa solicitada porque o
ambiente fica congestionado.

Nesse contexto, percebe–se que a inovação veio para aperfeiçoar


a prestação jurisdicional, facilitar o acesso das partes ao Poder
Judiciário, promoverá maior qualidade nas ações promovidas pela força
de trabalho, e também a transparência será ainda maior, uma vez que
tudo ocorrendo na plataforma digital, todos poderão ter a convicção de
que todos os atos realizados pela unidade jurisdicional focam o
resultado constante nos objetivos estratégicos da Justiça do Trabalho.

Portanto, é dessa maneira que o Poder Judiciário está sendo


repaginado, modernizado de dentro para fora, com alicerce nas escolas
judiciais, laboratórios de inovação tecnológica e SETICs, para o
desenvolvimento de projetos de tecnologia e inovação judiciária
(Hardtech/Deeptech), para que tais pesquisas sejam documentadas,
listadas em protocolos padronizados, experimentadas, divulgadas em
artigos científicos e postas em prática em prol de uma prestação
jurisdicional eficaz, célere e sustentável.

2.3 – O JUIZ NA VANGUARDA DA ERA DIGITAL – O JUIZ 4.0 – TUDO DE NOVO?

O Juiz do Trabalho exerce um papel de elevada envergadura que


está além de sua própria toga, uma vez que todas as suas ações e
decisões refletem diretamente na sociedade, mormente porque cada
processo, além da discussão de ontem e sempre da relação Capital e
Trabalho, impõe uma solução judicial que estabeleça a pacificação do
litígio e das partes, haja vista que o magistrado exerce papel de agente
transformador social, cuja continuidade de seu protagonismo exige,
assim, constante aperfeiçoamento.

Luiz Eduardo e Noeli Gonçalves Gunther ao citarem Carlos


Velloso sobre o século XXI que será o século do Poder Judiciário,
afirma:

[...].

O Poder Judiciário está, sem dúvida, em evidência nas


sociedades contemporâneas. [...]. O ex-Ministro do STF
Carlos Velloso, aliás, sintetiza como os Poderes podem ser
considerados ao longo dos últimos séculos: “se os séculos
XVIII e XIX foram os séculos do Poder Legislativo e o século

48
XX foi o século do Poder Executivo, o século XXI será o
século do Poder Judiciário23”. (nossos negritos).

[...].

E isso é uma verdade, eis que a magistratura do trabalho de 1º


grau é a linha de frente de combate na resolução dos conflitos entre o
Capital e o Trabalho, sendo a fiel ponta da espada da Justiça Laboral
na primeira etapa processual. O juízo de 1ª Instância é quem pode
definir melhor o que se passa no âmago do processo. Ele é quem vê e
sente as expressões humanas por meio dos depoimentos das partes,
nas provas apresentadas, na declaração das testemunhas, sentindo as
mais vorazes agruras, dores, humilhações, frustrações e sofrimentos
humanos, das partes que batem à sua porta, vindicando desta
especializada a prestação jurisdicional condizente com o caso concreto.

Para tanto, é fundamental que a magistratura tenha em mãos


ferramentas cada vez mais modernas para que suas decisões alcancem
a finalidade preconizada no texto da Carta Magna de 1988, enquanto
garantia de proteção à dignidade humana das partes. Nesse sentido, a
Ministra Kátia Arruda tece alguns comentários sobre o papel do
magistrado na resolução dos conflitos sociais que evoluíram nos
últimos anos:

[...].

O Juiz do Trabalho assume, portanto, o difícil papel de


mediador de pólos antagônicos do sistema, ao ser responsável
pela conciliação e julgamento de questões que denotam as
contradições entre o capital e o trabalho. Tal papel encontra
resistência em decorrência do perfil positivista que tem
orientado o pensamento jurídico brasileiro e que hoje vem
cedendo espaço à construção de princípios do direito do
trabalho, como o princípio da primazia da realidade, para que
o juiz trabalhista não se distancie do mundo que o cerca. Há
um velho jargão por inúmeras vezes repetido e aprendido nos
bancos das Faculdades de Direito, “o que não está nos autos
não está no mundo”, ao qual proponho novo questionamento:
Qual o mundo que não está nos autos? Os autos dos processos
estão no mundo e o mundo está nos autos, com toda a
complexidade da sociedade contemporânea, e reflete as
múltiplas possibilidades de conflitos, sejam trabalhistas,
familiares, econômicos ou psicológicos, entre tantos outros.

23
GUNTHER, Luiz Eduardo; GUNTHER, Noeli Gonçalves da Silva. O processo eletrônico e os direitos
fundamentais. Ob. cit., p. 610.

49
Todo esse processo expressa uma realidade. O processo
trabalhista, por sua vez, traz o conflito inerente ao
descumprimento da norma que garante os direitos
trabalhistas, seja ela constitucional ou infraconstitucional.
Nunca é demais relembrar que esses direitos nasceram de
duras realidades de vida e que só foram regulados a partir de
lutas históricas dos trabalhadores24.

[...].

Complemente–se que é premente que o magistrado tenha pleno


acesso às novas tecnologias que permitam prestação jurisdicional
consentânea à realidade da sociedade, especialmente neste momento
de pandemia que, guardadas às suas questões mais sensíveis e
peculiares que estão afetando toda a população em nível global, está
servindo de laboratório para oportunidades que se imaginavam para a
próxima década.

O Poder Judiciário do país, conforme o Painel Justiça em


Números25 tem uma taxa média de 70% de processos congestionados,
uma carga de trabalho por magistrado de 7422 processos, em que os
indicadores de produtividade alcançaram 2.141 processos, com um
percentual de casos novos de 91%, que totalizam 1.463 novos
processos, e uma taxa de recorribilidade de 10%. Ou seja, a conta não
fecha.

Com efeito, a magistratura brasileira necessita realizar uma


prestação jurisdicional que além de disponibilizar culturalmente suas
respostas que são objetivas e compreensíveis pela sociedade, mas
mediante decisões judiciais mais céleres. E como é que isso pode ser
feito dentro de um cenário estabelecido pela EC nº. 95/2016 que
estabeleceu o denominado teto de gastos em que a base de cálculo é
o orçamento de 2015 e que se está em meados do primeiro semestre
de 2021? A resposta é inovação.

O juiz além de continuar seu sacerdócio de promover em cada


um dos processos sob sua responsabilidade, e o fazem cotidianamente,
agora tem que se reinventar interna e externamente para que por meio
de formação continuada possa receber as ferramentas capazes de se

24
ARRUDA, Kátia. A efetividade dos direitos sociais. Cadernos da Amatra IV – nº. 13. ISSN 1981–2590.
Porto Alegre: HS Editora Ltda, 2010, p. 61.
25
CNJ. Relatório CNJ ano base de 2020. Link: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-
V3-Justi%C3%A7a-em-N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf. Data de inserção:
25/08/2020. Data de acesso: 30/03/2021.
50
projetar nesse novo milênio com foco em planejamento estratégico
jurisdicional aliado às melhores práticas processuais.

E neste século da era moderna o juiz deverá estar engajado no


mote inovação tecnológica judiciária para que tenha acesso aos mais
elevados mecanismos tecnológicos que lhes permitam exercer suas
funções jurisdicionais ajustando-se à nova realidade orçamentária,
pandêmica e estrutural de uma sociedade mais interconectada cujos
espaços virtuais estão a cada dia tomando o lugar daquele convívio
presencial.

De modo que o magistrado, de agora em diante, tem que estar


conectado às novas plataformas e redes sociais porque a sociedade às
recepcionou bem e é por meio delas que as relações sociais,
profissionais, educacionais, pessoais, afetivas, religiosas, esportivas
entre outras estão seguindo normalmente. Em quase todas as redes
sociais é possível se encontrar milhares de pessoas postando
informações que podem ser utilizadas em processos com a finalidade
principal que é a busca da verdade real ou a busca de uma verdade
que se aproxime da realidade.

E não se está a dizer que no mundo concreto os atos e fatos


jurídicos não estejam ocorrendo, mas é evidente que a intensidade das
relações sociais migrou do real para o virtual de maneira significativa
e neste momento de pandemia e distanciamento social se pode
constatar volume maior de postagens em redes sociais sobre diversos
assuntos da vida cotidiana, notadamente porque a vida humana é
dinâmica e, por conta disso, necessita ocupar espaços para que as
interações se manifestem oportunamente.

Portanto, diante dos indicadores atuais e preocupantes


decorrentes da radiografia anual do Poder Judiciário, aliado às questões
orçamentárias, financeiras e fiscais, somados ao momento vivido pela
pandemia do novo coronavírus, hipótese que construiu um ambiente
voltado à pesquisa de inovações e implantação de tecnologias para
acelerar a máquina judiciária, é que o juiz 4.0 deve dialogar com as
redes sociais, utilizar cada vez mais as ferramentas de tecnologia de
ponta à disposição para que o auxiliem na elaboração de minutas de
despachos, decisões interlocutórias e julgamentos que permitam
celeridade, eficiência, sustentabilidade e que pacifiquem conflitos.

51
Novos desafios são importantes porque promovem
desenvolvimento humano, científico, social, econômico, geopolítico,
ambiental entre outros que se bem utilizados lançam o país para
horizontes mais amplos, criando pontes de conexão entre todos os
atores que juntos terão a força, capacidade e capilaridade de prestar
serviço público de qualidade com alcance cada vez maior, em benefício
da sociedade que espera o melhor.

2.4 – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: QUEM ESTÁ DECIDINDO, O HOMEM OU A


MÁQUINA?

De tudo que se verificou nos tópicos anteriores tem-se que o


Poder Judiciário possui uma quantidade significativa de processos
administrativos e judiciais que estão se acumulando nos escaninhos
físicos e virtuais que, considerando a quantidade de magistrados e
servidores constantes no relatório do CNJ Justiça em Números, ainda
que os indicadores revelem que houve priorização ao primeiro grau nos
últimos anos, é certo que tais processos não terão solução definitiva
no tempo almejado.

E a política de inovação em tecnologia judiciária está se


consolidando para disponibilizar a todos que compõe a máquina do
Poder Judiciário as novas ferramentas para se tentar acelerar a
tramitação daqueles processos que estão diariamente vindicando
solução independentemente do grau de complexidade deles.

Por isso, o debate se alicerça na implantação de um programa,


um software que automatize etapas menos complexas que, desta
forma, possam dispensar a atuação humana, hipótese que reduzirá o
tempo de análise dos processos e permitirá que juízes se debrucem
para analisar efetivamente a matéria de mérito de cada demanda.

52
Exemplo claro é o que se tem no Projeto Victor, parceria criada
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e a Universidade de Brasília
(UnB), com a finalidade de se criar um software que possua os mais
avançados conceitos de Inteligência Artificial e Aprendizado de
Máquina para análise e processamento de dados, classificação de peças
e classificação de temas de repercussão geral de recursos que se
achegam ao STF.

O nome Victor é homenagem a Victor Nunes Leal, ministro do


STF de 1960 a 1969, autor da obra "Coronelismo, Enxada e Voto" e
principal responsável pela sistematização da jurisprudência do STF em
Súmula, o que facilitou a aplicação dos precedentes judiciais aos
recursos, basicamente o que é feito por Victor (STF, 2018).

A meta com esse projeto é prestigiar a celeridade de


processamento dos dados, evoluir a precisão e a sua acurácia
(proximidade entre o valor obtido experimentalmente e o valor
verdadeiro na medição de uma grandeza física; precisão de uma tabela
ou de uma operação) nas etapas envolvidas, de maneira que apoie a
força de trabalho que atua nas atividades judiciárias (BRAZ et al,
2018).

E para que se possa entender detidamente a tecnologia envolvida


na construção do Projeto Victor é que ele possui campo de inteligência
artificial conhecido como Processamento Natural de Linguagem (ou,
em inglês, Natural Language Processing ou NLP), em que o foco é gerar
sistemas inteligentes que processem e compreendam a escrita e
também a fala replicando como os seres humanos o fariam no seu

53
cotidiano laborativo, a partir de metodologias estatísticas
evidentemente (BRAZ et al, 2018).

Nessa pesquisa o grande desafio é dar a essas grandes,


complexas e diversas fontes de informação contidas no processo
judicial uma forma estruturada de análise, e que se possam obter
contextos, sentimentos, resumos textuais e a categorização de
conteúdo, dentre outros fatores de interesse que contribuirão para a
automação da análise dos recursos que se achegam àquela Suprema
Corte (BRAZ et al, 2018).

A partir desse processamento, modelos de NLP são aplicados aos


dados visando determinar em qual repercussão geral tal processo se
encaixa para que se possa lançar a movimentação ou modelo de
decisão para o caso concreto (BRAZ et al, 2018).

De maneira que ocorreu a produção também de dois subprodutos


ao projeto que são relevantes ao tribunal: a) transformação de
imagens em textos para posteriores buscas e b) edições e outro
classificador capaz de determinar automaticamente se uma peça
jurídica é Recurso Extraordinário, Agravo em Recurso Extraordinário,
Sentença, Acórdão, Despacho ou outra categoria genérica de
documentos (BRAZ et al, 2018).

Os pesquisadores esperam que uma vez em efetiva produção, o


Victor contribua na celeridade e qualidade do fluxo de análises de
processos jurídicos, sendo uma solução adequada às necessidades dos
servidores e operadores do Direito do Supremo Tribunal Federal (BRAZ
et al, 2018).

Para se ter a dimensão da capacidade do Victor, segundo dados


fornecidos pelo Supremo Tribunal Federal e divulgado na imprensa
falada e escrita, essa Inteligência Artificial pode analisar tarefas que os
servidores do Tribunal levam comumente em média 44 minutos, em
apenas 5 segundos. Isso representa um avanço extraordinário.

Registre–se que com a adoção do Projeto Victor no STF, além da


diminuição da quantidade de processos em trâmite, acumulada desde
2016, com a redução aproximada de 50% no acervo geral, o STF
proferiu 115.603 decisões, em 2019, das quais 97.908 foram
monocráticas (decididas individualmente pelos ministros) e 17.695
foram colegiadas (tomadas pelo Plenário e pelas duas Turmas) –
número 21,74% maior do que o ano anterior. Os dados revelam,
54
ainda, a finalização de 96.896 processos e o recebimento de 93.197
processos, uma redução de 8%, considerado–se o ano de 201826.

Todos os atores envolvidos no projeto esperam que, em breve


tempo, todos os tribunais do Brasil possam fazer uso dele para pré-
processar os recursos extraordinários logo após sua interposição
(esses recursos são interpostos contra acórdãos de tribunais), o que
visa antecipar o juízo de admissibilidade quanto à vinculação a temas
com repercussão geral, o primeiro obstáculo para que um recurso
chegue ao STF. Com isso, poderá impactar na redução dessa fase em
2 ou mais anos. Ele é promissor e seu campo de aplicação tende a se
ampliar cada vez mais (STF, 2018).

Além do Projeto Victor outros sistemas alicerçados em


Inteligência Artificial estão sendo implementados no Poder Judiciário
por todo país, ao exemplo do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que
desde outubro de 2018, possui o sistema denominado de Bem-te-Vi,
homenagem a um pássaro popular no Brasil, que realiza a análise
automática da tempestividade de recursos, bem como "vê e conta o
que viu" nos processos, viabilizando a coleta e a elaboração de
inúmeras pesquisas processuais, além de outras, como a coleta de
dados para fins de estatística.

Por sua vez, O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ–MG)


projetou a plataforma "Radar", uma ferramenta de inteligência artificial
que identifica e separa recursos com pedidos idênticos, o que permite
realizar julgamentos em conjunto, em bloco, de casos similares,
acelerando o sistema de decisões judiciais colegiadas.

Na primeira ocasião em que foi utilizado no TJ–MG, após a


elaboração do voto padrão pelo Desembargador Relator, foram
julgados de uma só vez duzentos e oitenta processos. Outro recurso
disponível pelo sistema Radar é o da taquigrafia digital, que permite a
transcrição imediata dos áudios gravados.

Por certo, um dos mais espantosos e eloquentes exemplos da


grandiosa utilidade da inteligência artificial encontra–se no Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Norte (TJ–RN). Lá, são empregados três
diferentes robôs, criados entre 2017 e 2018: o Poti, o Jerimum e a

26
Fonte: STF. Link: https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388443. Data de
inserção: 30/08/2018. Data de acesso: 31/03/2021.
55
Clara, advindos de uma parceria com a Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. E cada qual executa uma atividade diferente.

O Poti realiza rotinas de execução fiscal e penhora de valores.


Assim sendo, busca e bloqueia valores em contas bancárias em
incríveis trinta e cinco segundos. Se não existir dinheiro em conta, o
Poti pode ser programado para continuar monitorando as
movimentações.

Além disso, atualiza o valor da ação de execução fiscal e transfere


a quantia bloqueada para contas oficiais previamente informadas. A
rapidez e a eficiência são tão assombrosas que acarretou o fechamento
do setor que cuidava das penhoras em Natal.

O Jerimum classifica os processos, enquanto a Clara lê todos os


documentos e sugere decisões semelhantes que já foram adotadas,
como a extinção da execução judicial, em decorrência da comprovação
nos autos do pagamento do tributo.

Outro sistema que possui funcionalidade parecida aos


mencionados e que pode ser encontrado no Tribunal de Justiça de
Pernambuco, através do sistema “Elis”, o qual foi desenvolvido por
técnicos da própria Corte. Detalhe: em apenas 15 dias o software
consegue dar andamento a 70 mil processos, efetuando o trabalho
equivalente ao de 11 servidores em mais de um ano. O “Elis” analisa
certidões de dívida ativa, confere os dados, verifica a existência de
prescrição e aprecia a respectiva competência.

Com habilidade e potencial também surpreendentes, o Tribunal


de Justiça de Rondônia utiliza, desde fevereiro de 2018, dois rôbos
chamados de “Sinapse” e “Cranium”, os quais são capazes de sugerir
ao juiz as etapas seguintes do processo bem como podem auxiliar na
elaboração de sentenças a partir de indicativos de frases.

Já nas Varas de Execuções Fiscais do Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo também já dispõem de robôs. O projeto piloto
ocorreu entre julho e dezembro de 2018 nas 1ª e 2ª Varas da Fazenda
Pública de Guarulhos. Nesse período foram feitas 781.845 análises e
correções de processos. O número de processos caiu dois terços: foi
de 587.368 para 226.116.

O Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) também implantou um


sistema de inteligência artificial denominado “HÉRCULES”, criado em
56
parceria com o Laboratório de Estatística de Ciência de Dados da UFAL
e a Diretoria de Tecnologia do TJAL, que analisa petições intermediárias
da 15ª Vara Cível da Capital - Fazenda Municipal e da 30ª Vara Cível
da Capital. E de acordo com o Professor do Instituto de Matemática
(IM) da UFAL, Krerley Oliveira, o “HÉRCULES” é capaz de analisar o
pedido de um advogado, extrair o texto e entende-lo para, em seguida,
fazer uma sugestão ao servidor do Tribunal sobre determinada aça,
que poderá acatá-la ou denegá-la27.

De maneira que todas essas iniciativas foram pioneiras no Brasil,


quanto ao uso da Inteligência Artificial no Poder Judiciário.

Registre–se que o proveito para aquisição de sistemas baseados


em IA não ficou restrito às Cortes do Judiciário, contudo se estendeu
para outras instituições jurídicas, como é o caso da Advocacia Geral da
União – AGU. A instituição conta com sistema “SAPIENS” para auxiliar
na confecção de peças judiciais, outrossim, facilita o processo de
tomada de decisões com sugestões de teses jurídicas compatíveis 28.

Uma experiência profícua é o uso dos 03 robôs: “ALICE”, “SOFIA”


e “MONICA” são utilizados pelo Tribunal de Contas da União – TCU,
permite que editais de licitação e contratos públicos sejam analisados
para identificar falhas nos valores e cláusulas problemáticas 29.

27
Fonte: TJAL. Desembargador Klever Loureiro defende ampliação do uso dos robôs para agilizar trâmite
processual. Link: https://www.instagram.com/tv/CLH9bUflkLD/?utm_source=ig_web_copy_link. Data de
inserção: 10/02/2021. Data de acesso: 22/03/2021.
28
NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência Artificial e Direito Processual:
Vieses Algorítmicos e os Riscos de Atribuição de Função Decisória às Máquinas. Revista dos Tribunais -
Processo, 2018. 285.v. p. 437.
29
FERRARI, Isabela. Op. Cit., p.80.
57
Inclusive, sistemas inteligentes já são realidade em escritórios
de advocacia, a exemplo do sistema “WATSON”, presente em escritório
de advocacia na cidade do Recife-PE para automatizar serviços
repetitivos, aumentando a média de acertos de 75% para 95%, em
relação ao preenchimento de dados30.

Claro que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) irá adotar e tentar


padronizar qual a melhor inteligência artificial que será utilizada, assim
como fez ao escolher o PJe, mas, o que se tem de mais importante é
que a utilização de um sistema que permita acelerar a prestação
jurisdicional envolvendo as melhores práticas de segurança digital irão
tornar o Poder Judiciário um modelo de vanguarda para todos os
demais poderes e níveis de serviço público prestados pelos mais de
5.700 municípios do país.

Todas essas inteligências artificiais vieram para reduzir o volume


de processos que se encontram nos escaninhos do Poder Judiciário,
com a finalidade de acelerar a prestação jurisdicional, na medida em
que, para se ter ideia dessa necessidade, basta analisar os dados
recém coletados e publicizados no sítio eletrônico do Colendo TST, em
que se verifica que os recursos que se achegam naquele Sodalício
Laboral têm duração média de 540 dias31, nos TRTs é de 319 dias,
e nas Varas do Trabalho esse tempo alcança 195 dias na fase de
conhecimento e 940 dias na etapa de execução.

Desse modo, imaginemos que um determinado processo seja


hipoteticamente iniciado na primeira instância. Ele levará 195 dias
para se ter uma sentença. Havendo interposição de recurso, os autos
serão julgados pelo TRT no prazo de 319 dias. Na sequência, existindo
inconformismo das partes na interposição de recurso ao TST, aquele
Tribunal Superior terá 540 dias para julgá-lo.

A sua execução terá o tempo estimado de 940 dias, totalizando–


se o tempo útil esperado do processo de 1994 dias para se entregar
a prestação jurisdicional em sua plenitude. Ou seja, teremos um prazo
de 5 anos, 6 meses e 9 dias, mas é claro que isso é no plano
estatístico, uma vez que há processos que tramitam por tempo maior,

30
NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Op. Cit, p. 438.
31
Fonte: TST. Link: http://www.tst.jus.br/web/estatistica/tst/prazos. Data de inserção: 01/01/2020. Data
de acesso: 31/03/2021.
58
considerando–se a taxa de congestionamento existente na Justiça do
Trabalho.

E nem se está a cogitar a possibilidade de interposição de recurso


ao Supremo Tribunal Federal que possui apenas 11 ministros e um
acervo atual de 27.323 processos, sendo a soma do acervo em
31/12/2020 com o quantitativo recebido de 20.436 novos
processos, considerando–se a subtração de 19.369 processos
baixados, cujo tempo médio de tramitação de processos naquela
Excelsa Corte é de 323 dias, conforme indicadores catalogados do sítio
eletrônico do STF32.

E segundo relatório Justiça em Números do CNJ em 2020


tramitam no estoque da Justiça do Trabalho o total de 4.533.771
processos, em que nesse acervo houve o incremento de 3.530.197
novos casos, situação delicada que merece solução consentânea com
a realidade vivida pela sociedade brasileira que precisa de uma
resposta jurisdicional cada vez mais eficiente, célere e sustentável.

Com efeito, o tempo do processo não pode ser mecanismo que


permita a ausência de prestação jurisdicional eficaz porque, se assim
for, o Poder Judiciário não estará tornando concreta a sua
promessa constitucional ancorada no art. 5º, inciso LXXVIII, da
Carta Magna de 1988 que refrata que "a todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação".

Pontue–se que o art. 4º do CPC/15 assenta: "as partes têm o


direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa".

Desta feita, a Convenção Americana sobre Direitos


Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) recepcionada pelo
Decreto Federal nº. 678/92, em seu artigo 8º dispõe que “Toda
pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro
de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para

32
Fonte: STF. Link: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=468567&ori=1.
Data de inserção: 01/07/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
59
que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza”.

Por sua vez, na Declaração Universal dos Diretos Humanos,


proclamada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em
10/12/1948, consta o art. VIII afirmando que “Todo ser humano
tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou
pela lei”.

Tais normas internacionais foram recepcionadas pelo CPC/15,


no art. 13 que assenta que "a jurisdição civil será regida pelas normas
processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas
previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais
de que o Brasil seja parte".

Em recente estudo em que o artigo científico foi publicado em


renomada revista especializada, intitulado “Inteligência Artificial para
o rastreamento de ações com repercussão geral: O Projeto Victor e a
realização do princípio da razoável duração do processo”, a indagação
científica foi investigar se o “Projeto Victor pode contribuir para a
realização do Princípio da Razoável Duração do Processo na esfera do
Supremo Tribunal Federal?” (ANDRADE et al, 2020).

Os pesquisadores compreenderam na sua conclusão que “é


possível identificar a relevância teórica do presente artigo ao entender
a classificação dos recursos extraordinários com repercussão geral e o
funcionamento do projeto Victor, analisando o uso de tecnologias de
60
inteligência artificial para auxiliar na tramitação de processos.
Observa-se, ainda, a relevância prática quanto a análise dos dados
para percepção da consecução dos princípios processuais, constatada
a necessidade de políticas de impacto quanto ao uso de programação
para realização de procedimentos nos tribunais, e posterior
monitoramento da ação dessas máquinas (ANDRADE et al, 2020).

Essa pesquisa revela que a adoção de inteligência artificial no


sistema gerencial de processos do Poder Judiciário é um caminho sem
volta e que isso permitirá a redução na taxa de congestionamento de
processos tanto na fase de conhecimento quanto na recursal e na
execução, mormente porque para que tudo ocorra de maneira
satisfatória é preciso que se estabeleçam minutas padronizadas de
despachos, decisões, sentenças e outros atos que possam ser
automatizados e que não comprometam a imparcialidade, autonomia
e independência funcional dos magistrados (ANDRADE et al, 2020).

Sabe–se que as legaltechs ou lawtechs (legaltechs) são


ferramentas criadas para acelerar e melhorar todas as atribuições e
competências da atividade judiciária. Tais tarefas, em virtude do
volume de ações que tramitam no Poder Judiciário acabam por
prestigiar muitas vezes a parte burocrática, feita administrativamente
(comunicações, editais, certidões, enumerações, carimbos,
certificados, juntadas, assinatura, selos, custas, planilhas etc.) que
demanda bastante tempo (ANDRADE et al, 2020).

As outras questões que ainda não foram compreendidas como


repetitivas, aquelas ditas comuns do judiciário, do dia a dia, o que se
espera mesmo é elaborar um fluxograma em que a inteligência artificial
possa contribuir com a sua automatização com finalidade de retirar
essa tarefa “braçal” e burocrática da força de trabalho para que juízes
e servidores possam se debruçar com a específica atividade fim que se
almeja.

Exemplo disso é o E–PROC utilizado pela 4ª Vara Federal do


Passo Fundo do TRF da 4ª Região. Nele magistrados e servidores
conseguiram configurar a rotina de tramitação processual, em que
dentro do fluxo do sistema cada etapa possui um código de
identificação (chamados de localizadores), no qual ao se peticionar
uma determinada demanda o sistema consegue compreender e
automaticamente fazer o processo reduzir etapas burocráticas
processuais dispensáveis para que quando estiver concluso para
61
decisão, além de estar instruído o suficiente para essa finalidade, o
magistrado, considerando-se a minuta padrão pré-estabelecida pelos
juízes, consegue num tempo exíguo atender (concedendo ou não) o
pedido de tutela provisória de urgência antecipada, por exemplo.

Nesse contexto, isso demonstra que o uso da inteligência


artificial pode reduzir o tempo do processo, melhorar a qualidade de
vida da força de trabalho e, sobretudo, atender a sociedade com uma
prestação jurisdicional mais eficaz, eficiente e sustentável.

Mas, a indagação é quem está decidindo o homem ou a


máquina?

A resposta para essa questão merece destaque de inúmeros


pontos, o primeiro é que o modelo de negócio do Poder Judiciário por
meio das “legaltechs” é uma realidade aplicada em diversas nações
desenvolvidas. E o Brasil, considerando–se o seu acervo total
expressivo de processos precisa aperfeiçoar o seu fluxo de tramitação
para que esse passivo seja analisado e decido oportunamente, em
harmonia aos direitos fundamentais inafastáveis de dignidade da
pessoa humana e da razoável duração do processo.

A segunda interrogação tem a ver com a necessidade do Poder


Judiciário irmanar esforços no sentido de se implantar um sistema
automatizado que tenha a participação do público interno, da força de
trabalho que irá atuar diretamente com ele.

A terceira e mais importante é que quem irá decidir os processos


é o magistrado, eis que ele é o diretor do processo, é quem realiza a
instrução processual, o juiz é quem tem o contato humano e direto
com as partes envolvidas no litígio.

A máquina, a inteligência artificial e as redes neurais são


meramente as interfaces de comunicação entre o que precisa ser
decidido num breve espaço de tempo sugerindo em harmonia ao que
foi requerido ao Judiciário, para isso, utilizando–se de minutas que são
elaboradas por juízes, membros da magistratura e não pelas
máquinas.

É o magistrado quem decidirá sempre, claro que os textos que


serão lançados além de sugestivos são, repise-se, feitos por
magistrados e podem ser alterados em qualquer tempo porque a ideia

62
primeira é a padronização daquelas ações comumente denominadas de
repetitivas, comuns e do cotidiano do Poder Judiciário.

Por essa questão constitucional do tempo estimado do processo


é que a solução que se possa alcançar em breve tempo é a utilização
de inteligência artificial para que essa ferramenta possa aperfeiçoar a
prestação jurisdicional eficaz, célere e sustentável.

2.5 – O PROCESSO JUDICIAL DIGITAL – O PROCESSO DIGITAL 4.0 (DO PJE AO


DATAJUD/CNJ). O QUE O JUIZ APRENDEU DEVE SER REFORMATADO?

O DATAJUD/CNJ é uma ferramenta de banco de dados que foi


instituído por meio da Resolução Administrativa do CNJ nº.
331/2020 como fonte primária de dados do Sistema de Estatística do
Poder Judiciário – SIESPJ, a Base Nacional de Dados do Poder Judiciário
– DATAJUD que será responsável pelo armazenamento centralizado
dos dados e metadados processuais relativos a todos os processos
físicos ou eletrônicos, públicos ou sigilosos dos tribunais indicados nos
incisos II a VII do art. 92 da Constituição Federal (CNJ, 2020).

Dentre as inovações trazidas pela Resolução, cabe destacar a


possibilidade das informações do DataJud serem disponibilizadas por
meio de API pública, resguardados o sigilo e a confidencialidade das
informações, nos termos da legislação processual e da Lei Geral de
Proteção de Dados (CNJ, 2020).

A base é composta com dados e metadados relativos a todos os


processos físicos ou eletrônicos, públicos ou sigilosos, de qualquer das
classes previstas nas Tabelas Processuais Unificadas –TPU, da
Resolução CNJ nº. 46/2007 (CNJ, 2020).

Os metadados processuais deverão ser encaminhados pelos


tribunais ao DataJud conforme Modelo de Transmissão de Dados – MTD
definido pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias – DPJ, mediante
arquivo encaminhado por meio de serviço de envio de dados fornecido
pelo CNJ (CNJ, 2020).

A apresentação oficial da Base de dados ocorreu na 1ª Reunião


Preparatória para o XIV Encontro Nacional do Poder Judiciário, em 25
de maio de 2020. Em que os dados do DataJud serão usados para
estudos e diagnósticos do Poder Judiciário a fim de contribuir com a
63
construção e acompanhamento de políticas públicas, otimizar as
rotinas de trabalho com a unificação de sistemas, promover integração
de dados entre entes públicos, além de conferir maior transparência ao
Poder Judiciário (CNJ, 2020).

Demais disso, tem–se que o CNJ trabalha com tecnologia de


ponta, que permite o recebimento, consumo e disponibilização das
informações dos tribunais de maneira constante, performática e segura
(CNJ, 2020).

Além do aperfeiçoamento na recepção de dados, está disponível


ferramenta para emissão de protocolos de status de recebimento e de
validação da carga processada e consulta a painéis de dados que
auxiliem na verificação dos dados. O CNJ disponibilizará painéis de
consulta aos dados estatísticos, que deverão estar disponíveis para
consulta nos sites do CNJ e dos tribunais (CNJ, 2020).

Nesse contexto de um novo sistema que unifique a catalogação


dos dados é certo que o magistrado terá melhor acompanhamento de
sua produtividade, assim como o Tribunal poderá, diante do quadro
analisado, adotar medidas mais eficazes que permitam reforçar o
atendimento na unidade jurisdicional com o suporte necessário.

Além do mais esse mapeamento estatístico com uso do


DATAJUD/CNJ permitirá o uso do Deep learning (aprendizagem
profunda) com o conceito de redes neurais artificiais (modelos
matemáticos computacionais) aliado, dessa maneira, à elaboração de
previsões em um tema muito explorado na área da ciência de dado
para que o Processo Judicial 4.0 seja uma realidade em todo Poder
Judiciário.

Diante disso, percebe–se que o magistrado deverá passar por


constante formação complementar por meio de cursos a serem
realizados com suporte das Escolas Judiciais, notadamente porque o
conhecimento jurídico utilizado pelos magistrados aliado às novas
tecnologias que estão sendo incorporadas ao processo judicial irá alçar
o judiciário brasileiro nos modelos mais modernos de práticas internas
que resultarão numa prestação jurisdicional mais célere, eficaz e
sustentável.

64
2.6 – AS CONDUTAS DO JUIZ NO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL AINDA SERÃO
ANALÓGICAS?

Por pouco tempo, uma vez que a Justiça do Trabalho realizou o


programa denominado CCLE (Cadastro de Conhecimento, Liquidação e
Execução) que trata da digitalização de todos os processos físicos
estocados nas unidades judiciárias com a finalidade além de mapeá-
los busca lança-los na plataforma de processo digital para que, desta
maneira, as partes possam ter acesso aos autos do processo de
qualquer parte do país, desde que tenha, evidentemente, acesso à
internet.

Isso não quer dizer que os processos físicos não possam ser
utilizados, ao contrário, uma vez que eles terão tratamento condizente
com a sua fase processual, tendo em vista todos os atos praticados na
plataforma digital, em que os magistrados terão a oportunidade de
tramitá-los até que estejam aptos ao arquivamento definitivo.

Exemplo de boa prática sobre a CCLE é que o TRT da 4ª Região


criou o Robô CCLE - um sistema de software desenvolvido pela
Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicações daquele
Regional. Com o intuito de finalizar o processo de automatização o
cadastramento dos processos físicos no PJe, o Robô CCLE foi adaptado
para se integrar a versão do PJe utilizada no TRT da 8ª Região.

No processo de conversão de processos físicos para o PJe tem-


se o processamento realizado pelo AutoCCLE, em que os dados do
processo físico do sistema Legado APT são migrados para PJe. Nesta
etapa inicial, o processo fica ainda em fase de cadastramento e
impedido de tramitar. Neste momento entra o sistema Robô CCLE,
automatizando algumas tarefas, como a criação e assinatura do Termo
de Abertura e finalização do cadastro no sistema 33 (TRT8, 2020).

Deste ponto o processo segue sua tramitação pelo PJe. Além


disso, o Robô CCLE automatiza o retorno dos processos ao arquivo
provisório, caso o processo esteja arquivado antes do início da
conversão, e envia para o BNDT os devedores que estavam positivos.
Tais ajustes são feitos levando em consideração o estado do processo

33
FONTE: TRT8. Manual do Sistema Robô CCLE - Cadastro de Conhecimento, Liquidação e Execução.
Link: https://www.trt8.jus.br/sites/portal/files/roles/pje/ccle_mns_roboccle.pdf. Data de inserção:
21/05/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
65
no sistema APT. Ou seja, o processo no PJe, em seu estado, fica
idêntico ao processo no APT antes do início da conversão (TRT8, 2020).

Nesse cenário, o Robô CCLE é também mais uma ferramenta que


contribui na tramitação automática dos processos físicos conjugados
aos movimentos dos processos que estejam no PJe numa sincronia
harmônica que estabelece celeridade na parte burocrática feita pela
força de trabalho, reduzindo o tempo do processo e das ações a serem
feitas neles, permitindo foco nas atribuições mais ligadas à atividade
fim do processo. O que torna essa atividade outrora analógica em
digital (TRT8, 2020).

Sendo assim, a tramitação híbrida de processos físicos (CCLE) e


eletrônicos facilita a atuação da força de trabalho na melhor prestação
jurisdicional, o que implica afirmar que os magistrados, embora
tenham maior performance na gestão dos processos eletrônicos, é bem
verdade que os processos físicos ainda terão destaque nesses próximos
10 (dez) anos e que neste interregno quanto maior forem as boas
práticas na tramitação desses processos reduzirá o tempo de resposta
na prestação jurisdicional.

As condutas nos processos judiciais passarão a ser digitais


porque se todos os processos estão no ambiente virtual, especialmente
agora que a CCLE foi automatizada em diversos tribunais, as boas
práticas a serem adotadas deverão estar na vanguarda dos
66
procedimentos necessários à tramitação automatizada de todos os
processos.

Isso permite uniformização de todas as linhas de ação a serem


prestigiadas nos processos cujas minutas pré–aprovadas pelos
magistrados podem ser lançadas automaticamente, motivo pelo qual
isso não retira a análise pelos juízes, mas agrega valor porque todas
as medidas adotadas levarão em conta todo o investimento feito para
que o magistrado possa utilizar todo seu intelecto, suas qualidades,
experiências profissionais mais focado nas etapas que precisam das
decisões por eles confeccionadas.

O analógico cederá totalmente espaço para a cognição virtual de


maneira que o magistrado exercerá expressivamente a sua judicatura
com maior plenitude.

2.7 – POR QUE O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E A MASSIFICAÇÃO DA


INTERNET PROPORCIONAM INFINITAS POSSIBILIDADES DE COLETA DE
PROVAS DIGITAIS?

Vivemos na Era Digital, marcada pelo acelerado


desenvolvimento tecnológico e pela hiperconexão das pessoas à
internet, que fizeram surgir um ciberespaço e uma cibercultura.

Segundo o relatório da agência de criação global “WE ARE


SOCIAL”34, no ano de 2020 (em tradução livre):

• “O número de pessoas em todo o mundo usando a Internet


cresceu para 4,54 bilhões, um aumento de 7 por cento (298
milhões de novos usuários) em comparação com janeiro de
2019”.

• “Em todo o mundo, havia 3,80 bilhões de usuários de mídia


social em janeiro de 2020, com esse número aumentando em
mais de 9 por cento (321 milhões de novos usuários) desde
esta época do ano passado”.

34
https://wearesocial.com/blog/2020/01/digital-2020-3-8-billion-people-use-social-media. Acesso em:
21/07/2021
67
• “Globalmente, mais de 5,19 bilhões de pessoas agora usam
telefones celulares, com o número de usuários aumentando
em 124 milhões (2,4 por cento) no ano passado”.

Ainda de acordo com o relatório publicado pela referida entidade


em 11/02/2021, apenas no Brasil, no mês de janeiro de 202135 (em
tradução livre):

• “A população total era de 213,3 milhões de pessoas, sendo


que 87,2% viviam em centros urbanos e 12,8% em áreas
rurais”.

• “Havia 205,4 milhões de conexões móveis, equivalente a


96,3% da população total”.

• “Havia 160 milhões de usuários de Internet, um aumento


de 9,6 milhões (6,4%) em relação ao ano de 2020, atingindo
75% da população total”.

• “Havia 150 milhões de usuários de mídia social,


equivalente a 70,3% da população total”.

35
https://datareportal.com/reports/digital-2021-brazil. Acesso em: 21/07/2021
68
Da população entre 16 e 64 anos usuários de Internet (145,5
milhões, equivalente a 68,2% da população total):

• “143,6 milhões de pessoas possuíam um aparelho de


telefone celular (98,7% dessa faixa etária)”.

• “143,3 milhões de pessoas possuíam um ‘smartphone’


(98,5% dessa faixa etária)”.

• “104,2 milhões de pessoas possuíam um computador


pessoal (71,6% dessa faixa etária)”.

• “47,43 milhões de pessoas possuíam um ‘tablet’ (32,6%


dessa faixa etária)”.

• “39,3 milhões de pessoas possuíam um aparelho ou


serviço de ‘streaming’ (27% dessa faixa etária)”.

• “48,4 milhões de pessoas possuíam um console de jogos


ou ‘videogame’ (33,3% dessa faixa etária)”.

• “26,3 milhões de pessoas possuíam um ‘smartwatch’ ou


afim (18,1% dessa faixa etária)”.

• “10 horas e 8 minutos é o tempo médio gasto diariamente


utilizando a Internet”.
69
• “153,7 milhões de usuários acessam a Internet por meio de
telefones celulares, sendo 95% (146 milhões) via
‘smartphones’”.

70
• “150 milhões de usuários acessam redes sociais,
equivalente a 75% da população total”.

• “148,2 milhões de usuários acessam redes sociais por


meio de telefones celulares, equivalente a 98,8% dos
usuários das redes sociais”.

Ranking das redes sociais mais utilizadas no Brasil em janeiro de


2021.

2.8 – SEUS DADOS SÃO VOCÊ. QUE INFORMAÇÕES SÃO COLETADAS PELAS
EMPRESAS DE TECNOLOGIA?

Atualmente, os “dados são mais valiosos do que o


petróleo”.

71
Segundo a Revista Forbes36, as 5 marcas mais valiosas do mundo
em 2020 eram:

As nossas informações (dados pessoais) são coletadas massiva e


indiscriminadamente pelas empresas de tecnologia quando
“concordamos com os termos de uso e privacidade” dos
“serviços “gratuitos” oferecidos pelos provedores de aplicações de
internet.

“A privacidade se tornou uma moeda. Você paga por


serviços ‘gratuitos’ com suas informações pessoais.” (Linda
Doyle)

36
https://forbes.com.br/listas/2020/07/as-marcas-mais-valiosas-do-mundo-em-2020/ Acesso em:
21/07/2021
72
Se você não está pagando por um serviço na web, então você é
o produto.

Como descobrir que dados fornecemos e são coletados pelas


Gigantes da Tecnologia?

No material complementar desta aula, disponível na biblioteca do


curso, você encontrará alguns tutoriais explicando o passo a passo para
acessar seus dados nas redes sociais e em outros serviços que você
pode utilizar na internet.

73
AULA 3 – AUDIÊNCIAS VIRTUAIS E NORMATIVIDADE:
AS PROVAS EM REDE
3.1 – ONDE ESTÁ O JUIZ QUANDO CAI A CONEXÃO? O QUE FAZER?
RECOMEÇAR?

Nesses tempos de pandemia causada pelo coronavírus as


Secretarias de Tecnologia de Informação e Comunicação (SETICs)
tiveram imenso protagonismo para solucionar em tempo recorde todas
as necessidades existentes para se implantar sistema de audiências
telepresenciais em todas as unidades jurisdicionais das capitais e
interiores do país, em obediência à Resolução nº. 314 do CNJ que
trata, em síntese, da situação de emergência em saúde pública no
Brasil por causa da COVD–19.

Nessa norma consta expressamente que os atos processuais que


eventualmente não puderem ser praticados pelo meio eletrônico ou
virtual, por absoluta impossibilidade técnica ou prática a ser apontada
por qualquer dos envolvidos no ato, devidamente justificada nos autos,
deverão ser adiados e certificados pela serventia, após decisão
fundamentada do magistrado.

De igual modo, ela expressa também que as audiências em


primeiro grau de jurisdição por meio de videoconferência devem
considerar as dificuldades de intimação de partes e testemunhas,
realizando–se esses atos somente quando for possível a participação,
vedada a atribuição de responsabilidade aos advogados e procuradores
em providenciarem o comparecimento de partes e testemunhas a
qualquer localidade fora de prédios oficiais do Poder Judiciário para
participação em atos virtuais.

Ocorre que a baixa qualidade de conexão e de internet é uma


realidade constante antes e depois da pandemia do qual, ainda que se
tente dispor de todas as tecnologias de conexão, é consabido que boa
parte da população não possui internet de qualidade suficiente para
nessa circunstância de ter que comparecer à audiência virtual.

Nessa hipótese, muito se está tentando fazer para evitar


problemas com conexão, inclusive com boas práticas ao exemplo de se
disponibilizar estação de atendimento na própria unidade jurisdicional
em que a parte e o advogado comparecem, previamente agendado,

74
em razão do distanciamento social, e utilizam do equipamento para
que a audiência se realize normalmente.

Outra solução que está colocada em prática é que as partes estão


comparecendo nos escritórios dos advogados que, sensíveis a tudo que
está acontecendo, estão permitindo que outras pessoas, mesmo não
sendo seus clientes, utilizem de suas dependências e de seus
equipamentos para as audiências telepresenciais.

Há relatos de que as seccionais locais estão também auxiliando


ao fornecerem espaço e equipamentos para que advogados e partes
que não possuem tais meios para participarem das audiências
telepresenciais.

Ocorre que na hipótese das audiências de instrução a polêmica


existente é no sentido da produção da prova oral testemunhal por meio
de videoconferência, uma vez que o correto procedimento constante
da audiência de instrução é mister cumprir as normas processuais que
tratam da incomunicabilidade da parte para que ocorra a neutralidade
e não aconteça violação que a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT
e o Código de Processo Civil – CPC dispõem nos artigos 824 e 456,
respectivamente, a respeito da incomunicabilidade das testemunhas37.

De maneira que o magistrado deverá assegurar que o


depoimento de uma testemunha não seja ouvido por outra cuja oitiva
não fora procedida, tendo em conta que, em algumas situações, o juiz
não terá como garantir quais pessoas se fazem (ou não) presentes no
ambiente onde se localiza a testemunha, que irá prestar o depoimento,
e até mesmo se está utilizando de algo previamente preparado.

Com essa situação, é bem verdade que o magistrado deverá


contar com a boa–fé objetiva das partes, vez que não há como se
garantir o efetivo respeito às normas processuais à espécie e prestigiar
neutralidade da prova produzida em audiência não estando as partes
e advogados nas dependências da unidade jurisdicional, colocando,
desta forma, em xeque os demais atos que alicerçados especialmente
na prova oral.

E toda a questão posta, considerando–se a efetividade na


prestação jurisdicional e o tempo razoável do processo, compreende–

37
ALMEIDA, Orlando José de; FURMAN, Bernardo Gasparim. Audiências virtuais ou telepresenciais.
Link: https://www.migalhas.com.br/depeso/329879/audiencias-virtuais-ou-telepresenciais. Data de
inserção: 30/06/2020. Data de acesso: 01/04/2021.
75
se que o mais adequado é o Poder Judiciário implementar recursos e
tecnologia para disponibilizar espaço que se destine a receber as
partes, advogados e testemunhas para a realização da audiência de
instrução, desde que respeitados os protocolos sanitários exigidos,
além de promover ações concretas que assegurem a
incomunicabilidade das partes e das testemunhas.

Nesse cenário, respeitadas as normas que tratam da


incomunicabilidade das partes e das testemunhas, é importante que
toda a tecnologia dispensada na realização das videoconferências
estejam em boas condições de uso e, ainda que aconteçam eventuais
quedas de conexão, é necessário que se verifique onde se parou,
registrar em ata de audiência eventuais interrupções de conexão, e no
seu retorno, o magistrado deverá repetir, em hipótese de depoimento
das partes e das testemunhas, tais questionamentos feitos, para que
se recapitule o que se estava produzindo.

Na circunstância de não se conseguir conexão para a


continuidade da audiência, a solução é o seu reagendamento para a
próxima desimpedida, consignando todas as questões acontecidas, a
espera no retorno da conexão e a sua inviabilidade, deixando o
76
processo em sigilo, caso tenha sido iniciado algum depoimento
inconcluído ou necessidade de outra prova oral.

3.2 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA, LITERATURA ESTRANGEIRA E


AUTORREGULAMENTAÇÃO

A onipresença da tecnologia na Sociedade 4.0 e a crescente


familiarização dos profissionais do direito com esse meio de prova que
frequentemente interessa à comprovação de determinados fatos vêm
provocando um aumento na sua utilização nos processos, muito
embora sem a devida atenção às suas características técnicas e aos
riscos envolvidos.

Alguns diplomas normativos foram editados tratando do


documento físico e do documento eletrônico ou digital, mas nenhum
deles abordou a prova digital na sua plenitude.

A MP nº 2.200/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves


Públicas Brasileira – ICP-Brasil, reconheceu a autenticidade,
integridade e validade dos documentos eletrônicos produzidos
utilizando o processo de certificação nela previsto (arts. 1º e 10).

A Lei nº 11.419/2006, que instituiu o Processo Judicial Eletrônico,


autorizou a prática de atos processuais, a comunicação, o tráfego e o
armazenamento de documentos e arquivos digitais (art. 1º, § 2º);
permitiu a digitalização de documentos em suporte físico (art. 11, §
3º) e considerou originais os documentos produzidos eletronicamente
com garantia da origem e de seu signatário, na forma nela estabelecida
(art. 11, caput).

A Lei nº 12.682/2012 autorizou a digitalização e o


armazenamento em meio eletrônico, óptico ou equivalente, de
documentos públicos e privados compostos por dados e imagens (art.
2º-A) e a eliminação do original após constatada a integridade do
documento digital (art. 2º-A, § 1º), conferindo-lhes o mesmo valor
probante (art. 2º-A, § 2º).

O Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) trouxe alguns


conceitos úteis à prova digital (art. 5º), disciplinou o consentimento, a
coleta, uso, armazenamento, tratamento, proteção e exclusão dos
dados pessoais dos usuários dos serviços (art. 7º, VI, VII, VIII, IX e
77
X), o sigilo e os prazos de guarda dos registros de conexão e de acesso
a aplicações de internet (arts. 10, 11, 13 e 15), bem como o
fornecimento desses dados mediante ordem judicial com o propósito
de formar o conjunto probatório em processo judicial cível ou penal
(arts. 22 e 23).

O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), estabeleceu,


em linhas gerais, a produção, comunicação, armazenamento, validação
e registro dos atos processuais eletrônicos e digitais (art. 193), definiu
os requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não
repúdio, conservação e confidencialidade do registro do ato eletrônico
(arts. 195 e 411, II), autorizou a gravação digital das audiências (art.
367, § 5º), o fornecimento de documentos por meio eletrônico (art.
438, § 2º) e a prática eletrônica de atos executivos (arts. 837, 854,
879), equiparou as reproduções digitalizadas de documentos em
suporte físico e os extratos digitais de bancos de dados públicos e
privados aos seus originais (art. 425, V e VI), e disciplinou,
superficialmente, a conversão, admissão e valor probante dos
documentos eletrônicos (arts. 439 a 441).

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018)


definiu conceitos úteis à produção da prova digital (art. 5º), disciplinou
as atividades de tratamento de dados pessoais (arts. 1º e 6º), tratou
da evasão da privacidade pelo próprio usuário (art. 7º, § 4º), assim
como autorizou a utilização dos dados pessoais para o exercício regular
de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral (art. 7º, VI).

A Lei 13.874/2019, que instituiu a Declaração de Direitos de


Liberdade Econômica, permitiu o arquivamento de qualquer
documento em meio digital, equiparando-o ao documento físico para
todos os efeitos legais e para a comprovação de qualquer ato de direito
público (art. 3º, X).

O Decreto nº 10.278/2020 definiu os conceitos de documento


digitalizado (art. 3º, I), metadados (art. 3º, II) e integridade (art. 3º,
IV), fixou como requisitos de validade de todo documento digitalizado
a integridade, confiabilidade, auditabilidade, rastreabilidade,
confidencialidade, interoperabilidade e padrões técnicos mínimos de
qualidade (art. 4º); e estipulou parâmetros para a digitalização de
documentos públicos e privados (arts. 5º e 6º).

78
Como se percebe, a legislação deixou diversas lacunas
normativas sobre a prova digital em si, pois a regulamentação
existente, embora tenha estabelecido alguns parâmetros técnicos para
os documentos digitalizados e para os eletrônicos ou digitais natos, não
cuidou de resolver a celeuma doutrinária e jurisprudencial.

Segundo PINHEIRO38, na sociedade convergente, em que os


conceitos de espaço e tempo ganharam outra dimensão, a atividade
legislativa não consegue acompanhar o ritmo da evolução tecnológica,
tendendo assim a disciplina jurídica à autorregulamentação pelos
próprios participantes para que o Direito siga a sua vocação de refletir
as grandes mudanças culturais e comportamentais da sociedade.

Nesse vácuo normativo, a Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT) cumpre em parte a função de autorregulação do
mercado nas demandas da sociedade quanto à produção,
comercialização e uso de bens e serviços, ao desenvolvimento científico
e tecnológico, à proteção do meio ambiente, à defesa do consumidor e
à inovação.

Diz-se parcialmente porque a norma NBR ISO/IEC 27037:2013


estabelece apenas diretrizes para identificação, coleta, aquisição e
preservação da prova digital, não abordando todos os seus aspectos
técnicos, muito menos as questões jurídicas envoltas, visto que não é
esse o escopo da norma técnica.

Enquanto o Brasil ainda engatinha nessa temática, há na


literatura estrangeira vasta regulamentação tratando da identificação,
coleta, aquisição e preservação do que tecnicamente se convencionou
chamar de “electronic evidence”, “digital evidence” ou “e-evidence”.

38
PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. 7ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo, SP: Saraiva, 2021, p. 73
79
Abre-se aqui um parêntese para esclarecer que a expressão em
inglês “evidence”, se traduzida literalmente para o português, resultará
no falso cognato “evidência”.

Evidência, segundo a versão online gratuita do Dicionário


Michaelis39, significa a “qualidade ou caráter daquilo que é evidente,
incontestável, que todos veem ou podem ver e verificar e que não deixa
dúvidas”.

O ordenamento jurídico brasileiro não contempla o termo


evidência em nenhum de seus diplomas legais, diferentemente do
sistema anglo-americano de onde ela provém, no qual a palavra
“evidence” tem conotação jurídica de “prova”40.

É igualmente relevante distinguir “evidence” (evidência) e


“proof” (prova) para extirpar qualquer dúvida sobre essas expressões
anglicanas.

Segundo SANTOS41, “evidence” difere-se de proof por uma


nuance: “proof é o efeito ou o resultado da evidence”.

O vocábulo em inglês “evidence” foi reproduzido na norma NBR


ISO/IEC 27037:2013 como “evidência digital”, o que, todavia, não
retira a credibilidade técnica-científica-informacional do que
passaremos a denominar, juridicamente, apenas como “prova digital”.

Citam-se, a título exemplificativo, algumas normas estrangerias


que abarcam, em algum aspecto, a prova digital:

a) Federal Rules of Evidence42 (2020) dos Estados Unidos da


América;

b) Electronic Evidence Guide - A basic guide for police officers,


prosecutors and judges - Version 2.1 (2020) - Cybercrime Division of
Council of Europe (CoE Electronic Evidence Guide)43;

39
Disponível em https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/evid%C3%AAncia/. Acessado em 19/05/2021, às 14h15 (UTC-4)
40
SANTOS, Agenor S. Dicionário de anglicismos e de palavras inglesas correntes em português. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006.
41
Idem
42
Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre. Acessado em 21/05/2021, às 18h54 (UTC-4)
43
Disponível em https://rm.coe.int/0900001680a22757. Acessado em 22/05/2021, às 08h05 (UTC-4)
80
c) Electronic Evidence - a basic guide for First Responders (2014)
- European Union Agency for Network and Information Security
(ENISA)44;

d) Searching and Seizing Computers and Obtaining Electronic


Evidence in Criminal Investigations - Third Edition (2009) - U.S.
Department of Justice, Computer Crime and Intellectual Property
Section, Criminal Division45;

e) Electronic Crime Scene Investigation: A Guide for First


Responders - Second Edition(2008) – U.S. Department of Justice,
Office of Justice Programs, National Institute of Justice46;

f) Best Practices for Seizing Electronic Evidence v.3: A Pocket


Guide for First Responders (2007) – U.S. Department of Homeland
Security & United States Secret Service47;

g) RFC 3227: Guidelines for Evidence Collection and Archiving


(2002) – Internet Engineering Task Force (IETF)48.

Se a técnica representa a materialização das construções


humanas, a forma pela qual o homem se apropria do meio, domina os
espaços, transforma os recursos naturais e produz bens e serviços
visando a atender às demandas sociais, a Sociedade 4.0 rege-se por
um único sistema técnico e social hegemônico e internacionalizado
integrado por ciência, tecnologia e informação49.

É neste contexto específico e especializado do mundo digital,


onde atualmente está moldada a realidade das relações sociais,
econômicas, políticas e culturais, que a prova digital será produzida.

44
Disponível em https://www.enisa.europa.eu/publications/electronic-evidence-a-basic-guide-for-first-
responders. Acessado em 21/05/2021, às 20h16 (UTC-4)
45
Disponível em https://www.justice.gov/sites/default/files/criminal-
ccips/legacy/2015/01/14/ssmanual2009.pdf. Acessado em 21/05/2021, às 19h37 (UTC-4)
46
Idem
47
Disponível em https://www.crime-scene-investigator.net/SeizingElectronicEvidence.pdf. Acessado em
21/05/2021, às 20h10 (UTC-4)
48
Disponível em https://datatracker.ietf.org/doc/html/rfc3227. Acessado em 16/05/2021, às 16h35 (UTC-
4)
49
SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico científico e informacional. 5.
ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p. 60
81
3.3 – A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD) E SUA APLICAÇÃO AO
PROCESSO DIGITAL (A PROVA DIGITAL E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
E DA PESSOA JURÍDICA).

O mundo se tornou globalizado e o Poder Judiciário está inserido


nesse contexto da pós–modernidade. Nessa era sabe-se que a
informação não é mais apenas o sinônimo de acúmulo de
conhecimento, mas de poder propriamente dito, no sentido de que
quanto maior for a informação sobre determinado campo do
conhecimento melhor será a tomada de decisão pelos governos e pelas
grandes corporações.

Exemplo sintético de conhecimento que se pode apresentar é de


um determinado refrigerante intitulado ‘Guaraná Jesus’ criado no
Maranhão cujo consumo se tornou cultural pelos maranhenses. Esse
refrigerante foi criado em 1927 em um pequeno laboratório de São Luís
por um farmacêutico Jesus Norberto Gomes. Acontece que a família
acabou vendendo a marca em 1980 à Companhia Maranhense de
Refrigerantes, rede autorizada local da Coca–Cola e que a vendeu à
Coca–Cola Brasil em 2001. Ou seja, a indústria de refrigerantes optou
por realizar a aquisição do produto.

Por sua vez, a Coca-Cola ingressou no ramo de água mineral não


por acaso, mas porque faz parte de sua matéria prima a água. Além
disso, no Brasil a Coca–Cola adquiriu diversas empresas do seguimento
de água mineral. E a informação sobre o consumo de água mineral foi
justamente o que motivou essa multinacional a enveredar suas
atividades empresariais para esse seguimento, considerando–se,
evidentemente, que a água é um bem precioso, a fauna, a flora e os
seres humanos a consomem, e se bem utilizada e preservada
transcenderá às próximas gerações e, de consequência, a empresa
conseguirá sobreviver às mudanças que o mercado tem pautado ao
mundo.

Logo, informação é poder, e os seres humanos e as empresas se


tornaram a nova ‘commodity’ da economia global. E o que fazer para
tentar se proteger diante desse vasto multiverso que se tornou a
internet? Assegurando que os dados pessoais e de empresas sejam
armazenados, tratados e disponibilizados de maneira segura.

82
E a Lei Geral de Proteção de Dados da Lei Federal nº.
13.709/201850 é a norma que objetiva o tratamento de dados
pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa
jurídica de direito público ou privado, com a finalidade de garantir
proteção aos direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o
livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, conforme
seu art. 1º.

Isso porque o art. 5º, inciso X, da Carta da Primavera de


1988 traz consigo a informação de que são invioláveis a intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação,
cujo fundamento histórico é para que os dados pessoais sensíveis
sejam respeitados e não divulgados ou compartilhados sem
autorização expressa e pessoal.

Ainda que se possa dizer que as provas digitais estejam


alicerçadas em documentos, postagens, informações, fotos,
localizadores e outras modalidades de meios digitais capazes de se
tornarem elementos probatórios em processos judiciais, ainda que
tenham sido coletados em fontes abertas ou redes sociais públicas, é
preciso compreender que tais dados, após coletados e de posse do
Poder Judiciário, não podem ser administrados sem as cautelas
previstas no ordenamento da LGPD.

Coletar tais provas, além de ser uma maneira investigativa


inovadora, cuja campanha se equivale a uma operação policial,
decidida por magistrado em processo judicial, mesmo nessa
circunstância, os dados coletados devem ser tratados em harmonia ao
que informa a norma da Lei Geral de Proteção de Dados.

Essa norma surgiu para evitar que hipóteses de vazamentos de


dados contaminem os meios utilizados na investigação ou instrução do
processo porque a ideia a ser adotada é a de que a parte não tem
conhecimento que o magistrado está colhendo essas informações que,
nesse sentido, em tese, não houve autorização para essa finalidade,
muito embora, repise–se, o dado, a informação, a prova digital, esteja
disponível em rede social ou sites de informações públicas.

50
Fonte. Planalto. LGPD. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13709.htm. Data de inserção: 14/08/2018. Data de acesso: 08/07/2021.
83
Nesse sentido, infere–se da norma que a proteção de dados
pessoais é um direito fundamental indisponível e cláusula pétrea
constitucional, haja vista que o legislador derivado criou instrumento
que instituiu uma política pública de proteção de dados expressamente,
com um modelo de órgão público que chancela essa proteção que é a
ANPD – Autoridade Nacional de Proteção de Dados.

A doutrina de João Carlos Zanon esclarece muito bem essa


questão ao pontuar:

[...].

O direito à privacidade é um direito fundamental reconhecido


e consagrado no direito constitucional de praticamente todos
os países civilizados. Foi concebido e conceituado sob a
normatividade da inviolabilidade, como garantia da liberdade
de negação e respectivos deveres de abstenção, de não
intromissão e de não divulgação de aspectos da vida privada
e íntima da pessoa51.

[...].

Nessa situação, a partir do momento em que o Poder Judiciário


coletar os dados das pessoas físicas e jurídicas na condição de
elemento probatório digital é condição ‘sine qua non’ a sua proteção,
uso moderado e cauteloso dessas informações para que se evite que
possíveis vazamentos não comprometam a regular tramitação do
processo e sua possível nulidade (invalidade) no âmbito recursal. É
disso que se trata.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), ínsito no art. 4º,


III, ‘d’, expressa que não se aplica a proteção de dados quando
realizado para fins exclusivos de atividades de investigação e repressão
de infrações penais. Logo, no âmbito do Processo do Trabalho que não
possui natureza jurídica de investigação e nem persecução penal, a
proteção dos dados coletados aplica–se integralmente, salvo,
evidentemente, eventual entendimento posterior jurisdicional em
sentido contrário.

De maneira que as informações colhidas pelo magistrado no


decorrer do processo, conforme dicção do art. 5º, inciso X da CF/88
c/c art. 2º da LGPD devem ser armazenadas, tratadas e protegidas

51
ZANON, João Carlos. Direito à Proteção dos Dados Pessoais. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2013,
p.71.
84
de qualquer violação que comprometa a intimidade, a honra,
privacidade e a dignidade tanto das pessoas quanto das empresas,
ainda que encerrado o processo com o seu arquivamento definitivo
porque ainda de posse, as provas digitais coletadas e utilizadas no
processo, do Poder Judiciário.

Nesse contexto, o Conselho Nacional de Justiça editou a


Resolução Administrativa CNJ nº. 363/2021 que estabelece
medidas para o processo de adequação à Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais a serem adotadas pelos tribunais, em que se objetiva
a implementação efetiva da LGPD nos Tribunais de todo país.

Pontue–se que os dados poderão ser coletados por meio de


fontes abertas ou fechadas. A primeira pode ser capturada com a
utilização de inteligência artificial que tem o papel de localizar,
selecionar e obter informações que estão livres na internet (não estão
protegidas por sites ou portais que necessitem de senha
criptografada), cuja evasão foi causada pelo proprietário da informação
e não ‘hackeada’.

A segunda consiste na utilização de ferramentas e de inteligência


artificial que podem ter acesso mediante senha decorrente de pré-
cadastro, tais como os sistemas utilizados pelo Judiciário. Ou mesmo
por meio de hackaemento realizado por sistemas que ultrapassam o
‘firewall’ (primeira linha de defesa do sistema ou rede corporativa).

Acrescente–se que o art. 206 da Lei Federal nº. 9.279/1996


que trata da Lei de Propriedade Industrial assegura que na hipótese de
serem reveladas, em juízo, para a defesa dos interesses de qualquer
das partes, informações que se caracterizem como confidenciais,
sejam segredo de indústria ou de comércio, deverá o juiz determinar
que o processo prossiga em segredo de justiça, vedado o uso de tais
informações também à outra parte para outras finalidades. O que
revela o nível de informações sensíveis existentes tanto no que diz
respeito a dados pessoais quanto das empresas em geral.

Portanto, é importante que se assegure efetiva proteção aos


dados digitais coletados durante a instrução do processo com a
finalidade de garantir preservação da integridade das decisões judiciais
e, sobretudo, a dignidade da pessoa humana e das empresas, cujos
predicados são acolhidos profundamente pelas promessas

85
constitucionais de um Estado Democrático de Direito e do Estado do
Bem–Estar Social.

3.4 – O MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI FEDERAL Nº. 12.965/2014) E A


APLICAÇÃO DO ART. 22 COMO MEIO JUDICIAL DE OBTENÇÃO DE PROVA
DIRETAMENTE AO RESPONSÁVEL PELA GUARDA O FORNECIMENTO DE
REGISTROS DE CONEXÃO OU DE REGISTROS DE ACESSO A APLICAÇÕES DE
INTERNET. COMO PROCEDER?

O ‘Marco Civil de Internet’, promulgado através da Lei Federal


nº. 12.965/2014 estabelece princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da Internet no Brasil, em que busca, assim, disciplinar o
uso da internet no Brasil ao assentar que essa norma tem como
fundamento o respeito à liberdade de expressão52.

De maneira que a Lei Federal nº. 12.965/2014 impõe maior


proteção aos usuários da internet, sejam pessoas físicas ou jurídicas,
de eventual desbordamento de sua finalidade, alicerçado no art. 5º da
Constituição Federal de 1988 que dispensa um leque de direitos
fundamentais que prestigiam a harmonia nas relações sociais entre as
pessoas, as pessoas e as entidades públicas e privadas, e de todos com
o Estado.

E consta em seu art. 22 que a parte interessada poderá, com o


propósito de formar conjunto probatório em processo judicial cível ou
penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que ordene
ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou
de registros de acesso a aplicações de internet.

Na sequência, o parágrafo único do art. 22 da Lei Federal nº.


12.965/2014 aduz que sem prejuízo dos demais requisitos legais, o
requerimento deverá conter, sob pena de inadmissibilidade os
fundados indícios da ocorrência do ilícito, a justificativa motivada da
utilidade dos registros solicitados para fins de investigação ou instrução
probatória, e o período ao qual se referem os registros. Isso para que

52
Fonte: Planalto. Marco Civil da Internet. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm. Data de inserção: 23/04/2014. Data de acesso: 08/07/2021.
86
se possa precisamente coletar a prova digital desejada e que terá uso
concreto no processo.

Além disso, no art. 23, há determinação expressa ao magistrado


que deverá tomar as providências necessárias à garantia do sigilo das
informações recebidas e à preservação da intimidade, da vida privada,
da honra e da imagem do usuário, podendo determinar segredo de
justiça, inclusive quanto aos pedidos de guarda de registro.

Nesse contexto, o magistrado poderá requisitar as informações


ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou
de registros de acesso a aplicações de internet por meio de ofício da
unidade jurisdicional, mediante decisão fundamentada pelo
magistrado, inclusive com as penalidades que podem ser adotadas em
hipótese de eventual descumprimento do comando mandamental.

E para essa finalidade, o magistrado poderá em sua minuta fazer


uso da multa coercitiva (astreintes) que passará a fluir a partir da
configuração do descumprimento da decisão (isto é, quando
extrapolado o prazo para cumprimento fixado pelo juiz) e continuará a
incidir enquanto não cumprida a obrigação (art. 537, § 4º do
CPC/15), sendo indispensável, assim, que seja fixado prazo razoável
para o cumprimento da determinação que, na hipótese de sua inércia,
o valor apurado deverá ser revertido em prol do processo em curso,
inteligência no art. 537, § 2º, do CPC/15, aplicável ao Processo do
Trabalho, ínsito no art. 769 da CLT c/c IN nº. 39/2016 do C. CSJT.

87
Sugere–se que além das 'astreintes' fixadas pelo eventual
descumprimento, o Juízo poderá utilizar o dispositivo do art. 77, § 2º
do CPC/15 c/c art. 769 da CLT e IN nº. 39/2016 do C. CSJT para
aplicar a multa de 20% do valor total da ação em desfavor do
responsável pela guarda e fornecimento de registros de conexão ou de
registros de acesso a aplicações de internet, em decisão motivada por
atentado à dignidade do Poder Judiciário (contempt of court).

Cumpre acrescentar, ainda, que cumulativamente e com a


finalidade de se prestigiar a realização do comando mandamental, o
juiz poderá usar o mecanismo constante do art. 312 do CC/02
tornando o responsável pela guarda o fornecimento de registros de
conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet devedor
perante o processo, além da caracterização de crime de desobediência,
bem como ato atentatório ao exercício da jurisdição, incidência dos
arts. 77 usque 81 do CPC/15 c/c art. 769 da CLT e IN nº.
39/2016 do C. CSJT.

Sendo assim, com a adoção dessas medidas processuais


coercitivas constantes tanto na minuta da decisão quanto no ofício
expedido e no mandado a ser cumprido por oficial de justiça ou
mediante carta precatória, acredita–se que se estará prestando
celeridade, eficiência e efetividade aos atos constantes no processo à
espécie.

3.5 – A COLHEITA DA PROVA E A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE. COMO


EVITAR?

O magistrado na colheita da prova digital deve manter


neutralidade esperada pelas partes, no entanto, não se pode, a
despeito dessa circunstância, deixar de realizar as suas diligências que
entender mister e que estão previstas nas normas processuais e
disponíveis para que ele cumpra o seu papel de decidir em busca da
verdade real.

O Poder Judiciário possui um leque expressivo e extenso de


julgamentos que foram anulados pelas Cortes Superiores, e que
dispensam transcrição, considerando–se, pontualmente, a desarmonia
à formalidade procedimental estabelecida nas normas legais de
regência que, embora a instrumentalização do processo contribua para

88
o delay da razoável duração do processo já apreciado outrora, o melhor
resultado é aquele em que o juiz consiga decidir e que o julgamento
seja mantido pelas instâncias superiores.

Há diversos dispositivos que norteiam o rito processual que se


não observados comprometem não somente a celeridade e a eficiência
na prestação jurisdicional, mas também podem vulnerar todo o
contexto em que as provas foram coletadas, tratadas, analisadas e
utilizadas na instrução do processo judicial. Principalmente porque em
diversas decisões superiores tem–se determinado o desentranhamento
da prova que, muitas vezes é a única capaz de revelar a verdade
ocorrida do que está em litígio.

Para tanto, é importante estabelecer, no curso do processo, qual


a metodologia que o juiz utilizará e, diante disso, perfilhar o rito em
harmonia às normas processuais, ao exemplo de não adotar palavras
que possam sugerir eventual pessoalidade, opiniões próprias sobre a
questão, adjetivos que tragam debate que não diz respeito ao processo
em si e nem às partes. Enfim, manter a neutralidade de ontem e
sempre.

Além disso, em todas as fases que o juízo coletar suas provas,


nos termos do art. 10 do CPC/15 deve permitir que as partes se
manifestem sobre a prova digital, e na hipótese de impugnação, o mais
adequado é realizar a perícia técnica, até porque não o fazendo, sabe–
se que há inúmeros precedentes no sentido de anulação do processo
por violação constitucional ao princípio do contraditório (dever de
89
informar e transparência) e a ampla defesa (se manifestar sobre as
provas digitais anexadas pelo juiz no processo).

Nesse aspecto, a Lei de Abuso de Autoridade, ainda que tenha


vocação especial para os processos penais, há dispositivos que podem
ser adotados para justificar a invalidação de uma decisão judicial
trabalhista, mormente porque as condutas lançadas na referida norma
decorrem de atos que podem acontecer em processo que não tenha
natureza penal e que são condutas previstas também a magistrados.

Observa–se que o juiz deve, de sobremaneira, focar na colheita


da prova digital que esteja alinhada com os objetivos estratégicos para
o encontro da verdade real constante do litígio. Dessa forma a tomada
de decisão na coleta, tratamento, análise e utilização dos dados terá
maior eficiência e evitará impugnações supervenientes, seja na fase de
conhecimento, por ser decisão interlocutória objeto de apreciação de
ação mandamental (writ) ou mesmo em fase de liquidação ou de
execução, cujas decisões podem ser passíveis de recurso próprio.

De maneira que o magistrado deve atuar efetivamente por ser o


diretor do processo, tendo a necessidade de coletar proativamente as
provas digitais necessária para justificar o seu livre convencimento
motivado, mas, sobretudo, assegurando as partes que se manifestem
sobre cada elemento probatório digital anexado ao processo,
estabelecendo perícia técnica digital na hipótese de impugnação que
não seja genérica.

Outro ponto importante de se mencionar é quanto a possível


indeferimento de produção de prova digital, ao exemplo de se indeferir
a expedição de ofício aos provedores de aplicação (provedor de correio
eletrônico responsável pela conta de e–mail informada em dados
cadastrais) ou de conexão (provedor responsável pelo endereço de
conexão utilizado para acesso à internet). Em que nessas situações o
mais adequado é que o magistrado defira desde que a justificativa para
a coleta dessas provas digitais seja importante e que elas tenham
correlação ao objeto da pretensão trazida a juízo, sob pena de se
anular as decisões judiciais posteriores, conforme inúmeras decisões
que são conhecidas pelos juízes e que dispensam transcrição 53.

53
THAMAY, Renann; TAMER, Maurício. Provas no Direito Digital – Conceito da prova digital,
procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: RT, 2020.
90
Vale destacar também que ficou demonstrado no decorrer desse
estudo que há diversas normas que tratam da proteção aos dados de
pessoas físicas ou jurídicas que foram construídas dentro de um
cenário democrático e que possuem presunção de constitucionalidade
tendo em conta que ainda não foram experimentadas pelo STF. E por
isso, devem ser o norte a ser seguido pela instrução processual para
que o julgamento possa evoluir para uma decisão estável e que
pacifique o litígio.

3.6 – QUAL O LIMITE DO JUIZ 4.0 NA COLETA DA PROVA?

O limite para o magistrado na colheita da prova digital são as


normas que o acompanham no decorrer de toda a instrumentalização
do processo, a evitar que qualquer das partes possam utilizar de
remédio constitucional protocolado na instância imediatamente
superior, a exemplo do ‘mandato of mandamus’ ou de reclamação
correcional, esse último utilizado comumente por causídicos para que
o juiz faça utilização adequada da legislação processual de regência
sem pular etapas bem como permitir que as partes se manifestem por
meio do contraditório e da ampla defesa.

Nesse contexto a sugestão que se faz é que o magistrado faça


uso de todas as ferramentas possíveis e das legislações que lhe
conferem a prerrogativa de colher as provas digitais, mas que, de igual
forma, atenda às recomendações nelas constantes a evitar que
recursos às vezes protelatórios impeçam que o processo flua
normalmente.

Todas as normas apresentadas anteriormente, e se diz isso a


evitar repetições, prestigiam a proteção de dados e também
disponibilizam mecanismos que autorizam o juiz no decorrer do
91
processo a solicitar que os provedores, empresas, desenvolvedores,
representantes, startups, gestoras de aplicativos, autoridade local de
proteção de dados entre outros órgãos públicos e empresas privadas
cumpram as determinações judiciais e que cooperem na elucidação da
questão avençada no processo, isso porque a prestação jurisdicional
moderna, diante do Processo Judicial 4.0, passa a ser cooperada.

Essa colaboração, em condições harmônicas e eficientes que as


normas condicionaram a todos indistintamente, busca trazer à
sociedade mais transparência, melhor compreensão de como são
tratados, armazenados, divulgados e protegidos os dados de todos os
cidadãos nacionais ou estrangeiros, bem como a maneira adequada
que elas podem ser utilizadas para que se preservem a intimidade,
privacidade, a honra e a imagem de pessoas, seres humanos, certos
ou ainda que na prática de delito civil, trabalhista, penal,
administrativo, funcional, ambiental etc. e também das empresas.

É que a exposição de pessoas e de empresas, ainda que


acidentalmente, expõe um sistema judicial que sempre foi íntegro
desde a sua origem até os dias atuais.

3.7 – A VERDADE REAL X VERDADE FORMAL NA ERA DIGITAL – QUAL É A


VERDADE QUE SE BUSCA NO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL?
O processo eletrônico ou digital foi incorporado no Poder
Judiciário muito recentemente, e juízes, servidores, advogados, outros
profissionais e o jurisdicionado ainda estão se familiarizando com essa
nova ferramenta e todos os recursos que podem ser utilizados e
incrementados para que ele se torne cada vez mais célere e eficiente.

A legislação processual trabalhista e a cível estão acompanhando


essa evolução em que a cada passo realizado pela jurisprudência,
uniformização dos precedentes, aperfeiçoamento sumular de diversos
julgamentos com o uso do processo eletrônico ressoam positivamente
na sociedade que está cada vez mais ávida por melhor aparelhamento
do Poder Judiciário e de sua extraordinária capacidade de se adaptar a
todas as novas circunstâncias que surgem, e a pandemia da COVID–
19 demonstrou bem isso, cujos resultados mensurados pelos
indicadores descortinaram a aspiração do Judiciário a um caminho de
vanguarda em todas as questões que lhes são apresentadas.
92
Nessa conjuntura, em que tudo agora está sendo incorporado à
Matrix Judicial ou Matrix Judiciária, com novos recursos, plataformas
de videoconferência, audiências virtuais que podem ser acompanhadas
por qualquer lugar do planeta terra, e decisões judiciais em tempo real
sendo divulgadas a cada segundo com uso da inteligência artificial, não
afasta a necessidade do encontro da verdade real ainda que no âmbito
computacional, na medida em que os fatos e atos apresentados em
juízo foram praticados dentro de uma relação trabalhista
sinalagmática, numa relação bilateral.

Essa relação trabalhista foi vivida por um contrato tendo como


partes seres humanos, de um lado o empregador e do outro o
empregado, que num determinado estágio da relação de trabalho não
estavam mais em sintonia, motivo pelo qual uma dessas pessoas ou
até mesmo ambas chegaram numa dissolução que bateu às portas do
Poder Judiciário que tem a incumbência de apresentar uma solução que
resolva o conflito e que possa restaurar os ânimos de parte–a–parte
trazendo, assim, a paz social.

De modo que a verdade real é o ideal a ser alcançado com o


processo mesmo que os fatos tenham acontecido no âmbito virtual ou
que possa ser revelado por meio de provas digitais, eletrônicas ou
virtuais porque, em essência, é o que se espera do Poder Judiciário que
sempre foi célere, eficiente e está de portas virtuais abertas à
sociedade.

93
AULA 4 - PRODUÇÃO DAS PROVAS DIGITAIS

4.1. INTRODUÇÃO
DINAMARCO54 considera a prova como “um dos mais
respeitados postulados inerentes à garantia política do devido processo
legal” e “um dos fundamentais pilares do sistema processual
contemporâneo”, sendo a sua adequada disciplina indispensável à
realização de um processo justo.

Não se pode ignorar que quanto mais completa e precisa for a


reprodução, no processo, dos fatos objeto da lide, maiores serão as
chances de se alcançar uma decisão justa e capaz de atender ao
principal escopo da jurisdição – a pacificação social.

É justamente por essa razão que o “papel”, uma das mais


importantes invenções tecnológicas a permitir o registro de fatos num
suporte físico, ganhou tamanha importância no ordenamento jurídico
ao longo dos anos.

MARINONI e ARENHART55 afirmam que “a confiabilidade da


prova documental – e a importância singular que os ordenamentos
processuais lhe emprestam – assenta-se, exatamente, na estabilidade
do suporte em que a informação é registrada”.

Diferentemente do estigma de desconfiança que paira sobre a


prova oral, seja pela pouca efetividade do depoimento pessoal, seja
pelo corriqueiro comprometimento da prova testemunhal em razão do
esquecimento, das falsas memórias, da parcialidade ou até mesmo da
corrupção do depoente, a estabilidade propiciada pelos documentos,
como prova pré-constituída e apta a perpetuar, sem propensões

54 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7. ed. São Paulo, SP:
Malheiros, 2017, v. 3, p. 51
55 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Prova. 2. ed. São Paulo, SP: Revista dos
Tribunais, 2011, p. 97
94
subjetivas, a memória dos fatos jurídicos, rendeu-lhes tratamento
especial na legislação brasileira56.

Isso não significa dizer que os registros feitos em documentos


públicos ou privados correspondam, necessariamente, à realidade dos
fatos, afinal, “o papel em branco aceita qualquer coisa”.

A legislação processual, inclusive, adotou mecanismos


preventivos e repressivos à utilização de provas documentais
inautênticas ou falsas no processo.

Essas duas premissas, autenticidade e integridade do


documento físico, não se distanciam do que se deve buscar no
documento eletrônico ou digital, sem dúvida hoje o meio mais utilizado
para a celebração de negócios jurídicos na Sociedade 4.0.

A transferência cada vez maior das relações sociais para esse


ambiente virtual vem sendo responsável pelo gradual movimento de
ruptura do paradigma probatório anterior, com a crescente substituição
dos suportes físicos pelos eletrônicos ou digitais para registro dos fatos.

A prova deve acompanhar, por sua própria natureza e


finalidade, essa nova realidade social, que se torna cada dia mais
complexa numa sociedade subjugada por sistemas ciber-físicos,
internet das coisas, inteligência artificial, aprendizagem de máquina e
big data.

Para PINHEIRO57, a relutância das pessoas na substituição do


documento em papel pelo documento eletrônico ou digital é “mais
cultural do que jurídica, uma vez que nosso Código Civil prevê
contratos orais”.

56 Ibidem, p. 548 e 549


57 PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. 7ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo, SP: Saraiva, 2021, p.
261.
95
É justamente o sentimento de segurança e proteção gerado pela
representação material e palpável do suporte físico, em contraposição
à falsa ideia de inconfiabilidade do suporte digital, que torna mais difícil
nos desapegarmos dele.

O uso de documentos eletrônicos ou digitais, contudo, não é


uma novidade ou propriamente uma criação da internet. Esse processo
de transformação já está previsto há tempos na Lei nº 6.015/1973
para os serviços extrajudiciais.

Ao que parece, a insegurança decorre do pouco conhecimento


sobre o assunto e da natural desconfiança do ser humano com o
“novo”.

Ainda segundo PINHEIRO58, o tema da documentação


eletrônica ou digital deve ser tratado em três níveis:

a) cultural, com a quebra do paradigma social, dos usos e


costumes até hoje aceitos como dogmas;

b) técnico, definindo-se o melhor procedimento para tratá-la;

c) jurídico, para garantir a sua validade como meio de prova.

Enquanto a barreira cultural somente será superada com


educação digital e a crescente familiarização das pessoas com
tecnologia, a apreensão e compreensão dos aspectos técnico-jurídicos
que constituem o núcleo da prova eletrônica ou digital é hodiernamente
imprescindível a todos operadores do direito, mas, principalmente, aos
magistrados, a quem competirá analisá-las e valorá-las,
adequadamente, para a formação do seu convencimento e julgamento
da lide.

58 Ibidem, p. 262 e 263


96
4.2. ORIGEM DA PROVA DIGITAL
Vivemos na Era da Informação, período que se iniciou entre as
décadas de 1950 e 1970 a partir dos avanços tecnológicos trazidos pela
Terceira Revolução Industrial, que ficou marcada, principalmente, pela
criação de grandes conglomerados multinacionais e transnacionais,
com predomínio das empresas de tecnologia; consolidação do
capitalismo financeiro; automação e introdução da robótica básica,
computação e tecnologia da informação nos mecanismos de produção,
com consequentemente modificação das formas de trabalho; criação
da internet e difusão de um ciberespaço59.

Com a chegada da Quarta Revolução Industrial60 em curso e


seu alinhamento com o consumidor 4.0 e o marketing 4.0; a introdução
de sistemas ciber-físicos em toda cadeia produtiva; o desenvolvimento
da inteligência artificial (artificial intelligence), internet das coisas
(internet of things) e aprendizado de máquina (machine learning); a
ampliação do acesso ao conhecimento e à informação por meio da big

59 LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999


60 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução de Daniel Moreira Miranda. São Paulo:
Edipro, 2016
97
data e da smart data; e, notadamente, a popularização da internet,
instalou-se um crescente movimento social de virtualização da
realidade nesse ciberespaço, muito semelhante ao mundo líquido
preconizado pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman61,
fluído e volátil, que muda a cada instante como num piscar de olhos
ou no tráfego de um byte.

Essa hiperconexão das pessoas à internet fez surgir o que


LEVY62 denominou de cibercultura, expressão cunhada para descrever
como a transferência das iterações pessoais, do intercâmbio de
conhecimentos e da disseminação de informações para o meio virtual
ou digital causaram profundas transformações econômicas, políticas,
jurídicas e, principalmente, sociais.

Da cibercultura nasceu a chamada Sociedade 4.0, na qual


documentos, planilhas, arquivos, bancos de dados, registros de acesso,
logs, protocolo de internet, geolocalização, gravações de áudio e
vídeos, postagens, mensagens, imagens, e-mails, transferências
financeiras, hábitos de vida, uso e consumo, relacionamentos,
orientação política, sexual e religiosa, dados biométricos, situação
financeira, dentre uma infinidade de outros dados pessoais impossíveis
de se elencar são coletados e disponibilizados na internet de forma
voluntária ou involuntária pelas pessoas.

Na Era Digital, a informação (dado) ganhou importância e


atualmente é considerada um bem extremamente valioso, um ativo ou
uma commodity para governos, empresas e pessoas que lhes
proporciona diversas vantagens financeiras, comerciais, industriais,
políticas e militares.

Os dados pessoais passaram a ter valor agregado e nós,


titulares deles, a ser, diuturna e ininterruptamente, monitorados e

61 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001


62 LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999
98
vigiados por todos aqueles que avistaram, nessa big data, recursos
infinitos para controlar os rumos políticos e econômicos mundiais.

Alertas sobre os perigos dessa Sociedade do Controle e


Vigilância aceita voluntariamente pelas pessoas foram feitos por
DELEUZE63 e BAUMAN64, mas a cada dia renunciamos à nossa
privacidade e intimidade em detrimento da comodidade oferecida pela
tecnologia, aplicações e serviços conectados de alguma maneira à
internet.

É nesse cenário social aparentemente distópico que as provas


digitais ganharam relevo, visto que os mesmos dados coletados pelas
empresas com fins econômicos podem servir ao propósito maior de se
fazer justiça.

Basta que saibamos minerar essas informações para usá-las


adequadamente no processo.

4.3. CONCEITO DE PROVA DIGITAL


Na visão de NERY JUNIOR65 “as provas são os meios
processuais ou materiais considerados idôneos pelo ordenamento
jurídico para demonstrar a verdade, ou não, da existência e verificação
de um fato jurídico”.

63 “Nas sociedades de controle (...) o essencial não é mais uma assinatura e nem um número, mas uma
cifra: a cifra é uma senha (...) A linguagem numérica do controle é feita de cifras, que marcam o acesso à
informação, ou a rejeição. Os indivíduos tornaram-se ‘dividuais’, divisíveis, e as massas tornaram-se
amostras, dados, mercados ou ‘bancos’”. DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as Sociedades de
Controle. Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226. Tradução de Peter Pál
Pelbart
64 “E se tudo isso tem a ver com segurança, outros tipos de vigilância, relativos a compras rotineiras e
comuns, acesso on-line ou participação em mídias sociais, também se tornam cada vez mais onipresentes.
(...) A cada dia o Google anota nossas buscas, estimulando estratégias de marketing customizadas”.
BAUMAN, Zygmunt. Vigilância líquida. Diálogos com David Lyon. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
Traduzido por Carlos Alberto Medeiros
65 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal. 10ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010.
99
O termo “fato jurídico” trazido no conceito pelo autor como
objeto da prova deve ser entendido como toda manifestação ou
acontecimento que acarreta a criação, modificação ou extinção de
direitos, compreendendo assim todas as suas acepções jurídicas de
fato natural (stricto sensu), ato jurídico (lato sensu) e ato ilícito,
conforme lição de MONTEIRO66.

ALVIM67 complementa afirmando que a prova “é, ao mesmo


tempo, meio, resultado e atividade”, assumindo o vocábulo três
significados jurídicos:

a) atividade probatória balizada pelo ônus da prova;

b) meio de prova como método ou procedimento utilizado para


sua obtenção e reprodução no processo;

c) resultado capaz de influenciar na convicção do juiz.

No mesmo sentido são os ensinamentos de LEITE68, que


entende a prova como:

a) atuação dos litigantes objetivando demonstrar os fatos


deduzidos em juízo;

b) meio instrumental pelo qual os fatos são reproduzidos no


processo;

c) convencimento do juiz.

Tomando por empréstimo essas conceituações à luz do disposto


no art. 369 do CPC, podemos entender a prova como o instrumento
jurídico destinado a demonstrar, mediante procedimentos legais ou
moralmente legítimos, a ocorrência ou não de um determinado fato,

66 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. V.1., p.
189.
67 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria do processo e processo de conhecimento, 17ª
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 830.
68 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2004,
p. 359
100
delimitando seus aspectos objetivos (o que e como ele aconteceu) e
subjetivos (quem são os envolvidos), visando a influenciar no
convencimento do juiz.

A prova digital enquadra-se na categoria de meios moralmente


legítimos, já que não possui regramento próprio na legislação
processual.

THAMAY e TAMER conceituam prova digital como “o


instrumento jurídico vocacionado a demonstrar a ocorrência ou não de
determinado fato e suas circunstâncias, tendo ele ocorrido total ou
parcialmente em meios digitais ou, se fora deles, esses sirvam como
instrumento para a sua demonstração”69.

A partir dessa interpretação, a prova digital teria dupla


finalidade de demonstrar:

a) um fato ocorrido no meio digital propriamente dito (p. ex.


envio de um e-mail ou uma mensagem por aplicativo de mensageria,
postagem em rede sociai, disponibilização ou compartilhamento de

69 THAMAY, Rennan; TAMER, Mauricio. Provas no Direito Digital: conceito da prova digital,
procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Editora Thomson Reuters, Revista dos Tribunais,
2020, p. 33
101
vídeos na internet, movimentações financeiras realizadas pelo internet
banking etc.);

b) a existência ou não de um fato ocorrido fora do meio digital


por intermédio de suportes digitais (p. ex. digitalização de documento
físico, conversão de gravação e fotos analógicas em digitais).

Segundo a definição proposta no Electronic Crime Scene


Investigation: A Guide for First Responders - Second Edition70,
publicado em 2008 pelo U.S. Department of Justice, Office of Justice
Programs, National Institute of Justice, “provas digitais são
informações e dados de valor para uma investigação que são
armazenados, recebidos ou transmitidos por um dispositivo
eletrônico”71 (em tradução livre).

Nesse cenário, a prova digital abarca toda e qualquer


informação (dado) que tenha sido produzida, armazenada ou
transmitida por meios eletrônicos ou digitais, ainda que o fato tenha
ocorrido no mundo real.

4.3.1. DISTINÇÃO ENTRE DOCUMENTO FÍSICO, ELETRÔNICO E DIGITAL


WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI72 definem documento como
“todo objeto capaz de cristalizar um fato transeunte, tornando-o, sob
certo aspecto, permanente”, pouco importando o suporte material que
é utilizado, pois “para caracterizar documento basta a existência de
uma coisa (inanimada) que traga em si caracteres suficientes para
atestar o que ocorreu”.

70 Disponível em https://www.ojp.gov/pdffiles1/nij/219941.pdf. Acessado em 21/05/2021, às 20h07


(UTC-4).
71 Ibidem, p. ix
72 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
avançado de processo civil. v.1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 461.
102
Para os autores “o documento tem a função de tornar fixo,
estático, um momento da vida humana”, prestando-se a justamente
nele retratar, permanentemente, “o fato, que acontece e desaparece”.

A Lei nº 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à


Informação (LAI), trouxe no inciso II do art. 4º o significado de
documento como a “unidade de registro de informações, qualquer que
seja o suporte ou formato”.

Faz-se necessária, portanto, uma revisitação ao tradicional


conceito de documento e sua dissociação do seu substrato físico
tangível, de maneira que a generalização conceitual possa abranger
todos os registros eletrônicos ou digitais das relações sociais e dos
fatos juridicamente relevantes ocorridos no ambiente virtual.

O Supremo Tribunal Federal, em 02/09/2018, no julgamento do


RHC 95.68973, de Relatoria do Ministro Eros Grau, antes mesmo do
advento do Código de Processo Civil de 2015 e ainda com fundamento
no diploma processual anterior ora revogado, já reconhecera que o
termo “documento” não se restringia apenas “a qualquer escrito ou
papel”.

Neste contexto, pode-se definir:

a) documento físico é todo aquele produzido em algum suporte


físico (p. ex. pedra, papel, tecido, microfilme), que permite o registro

73 EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL. ABUSO DE PODER.


REVOGAÇÃO DO ART. 350 DO CÓDIGO PENAL PELA LEI N. 4.895/65. INOCORRÊNCIA.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS. SOLUÇÃO. PRETENSÃO DE QUE O TERMO
"DOCUMENTO" SE REFIRA A "QUALQUER ESCRITO OU PAPEL". IMPROCEDÊNCIA:
CONCEITO ABRANGENTE. 1. a Lei n. 4.989/65 não revogou o artigo 350 do Código Penal. Há, na
verdade, aparente conflito de normas, solucionado pela generalidade presente no artigo 350, parágrafo
único, inciso IV do Código Penal, a abranger a conduta do paciente; conduta que não se enquadra em
nenhum dos incisos dos artigos 3º e 4º da Lei n. 4.898/65. 2. O termo "documento" não se restringe "a
qualquer escrito ou papel". O legislador do novo Código Civil, atento aos avanços atuais, conferiu-lhe maior
amplitude, ao dispor, no art. 225 que "[a]s reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros
fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem
prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão". Ordem
denegada.
103
e acesso às informações através da interpretação dos signos nele
gravados (p. ex. palavras, textos, desenhos, mapas, idioma etc.);

b) documento eletrônico é aquele produzido, acessado e


interpretado por meio de um equipamento eletrônico, podendo ser
registrado e codificado em forma analógica ou em dígitos binários;

c) documento digital é aquele produzido de forma eletrônica e


exclusivamente pela codificação em dígitos binários, podendo seus
registros ser acessados e interpretados apenas por meio de um
programa ou sistema computacional.

Atenção: Todo documento digital é eletrônico, mas nem


todo documento eletrônico é digital.

4.4. PRINCÍPIOS DA PROVA DIGITAL


Os princípios, à luz dos ensinamentos de REALE74, “são
enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e
orientam a compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e
integração ou mesmo para a elaboração de novas normas”, que podem
ser classificados, segundo PELLEGRINI75, em estruturantes,
fundamentais e instrumentais.

O direito à prova, como derivação dos princípios constitucionais


estruturantes do devido processo legal (art. 5º, LIV), do contraditório
e da ampla defesa (art. 5º, LV), é por esses disciplinado.

As partes têm, assim, o direito subjetivo à produção prova e à


manifestação recíproca quanto àquelas produzidas pela parte contrária
em momentos oportunos e igualdade de condições.

74 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 315
75 PELLEGRINI, Ada. Teoria Geral do Processo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 57
104
O Código de Processo Civil de 2015 consagra, ainda, o princípio
da liberdade probatória (art. 369), admitindo a atipicidade dos meios
de prova para permitir o emprego de todos aqueles considerados legais
ou moralmente legítimos para provar a verdade dos fatos e influir
eficazmente na convicção do juiz.

Devem ser observados, especificamente em relação à prova


digital, outros princípios instrumentais próprios do sistema processual
probatório vigente, como da necessidade (art. 374 do CPC), utilidade
(art. 370, parágrafo único, do CPC), unidade e aquisição da prova,
imediação e persuasão racional do juiz (art. 371 do CPC).

Incumbe aos litigantes, assim, demonstrar que a prova digital


é necessária e adequada a provar os fatos alegados para que,
produzida espontaneamente ou determinada de ofício, seja
incorporada ao processo e possa influir no convencimento do juiz, a
quem competirá analisá-la e valorá-la de acordo com o conjunto
probatório dos autos.

Por fim, merece especial destaque o princípio da vedação à


prova ilícita aplicada ao âmbito digital (art. 5º, LVI, da CRFB).

4.4.1. VEDAÇÃO À PROVA DIGITAL ILÍCITA


No Brasil, vige o princípio da proibição da prova ilícita (art. 5º,
LVI, da CRFB), de modo que a admissibilidade de qualquer prova no
processo está intrinsecamente relacionada à sua licitude, entendendo-
se como tal aquela obtida sem desrespeito às normas ou princípios de
direito material. Para DINAMARCO76:

“Provas ilícitas são as demonstrações de fatos obtidas por modos


contrários ao direito, quer no tocante às fontes de prova, quer
quanto aos meios probatórios. A prova será ilícita – ou seja,
antijurídica e, portanto, ineficaz a demonstração feita – quando o

76 Ibidem, p. 50-51
105
acesso à fonte probatória tiver sido obtido de modo ilegal ou quando
a utilização da fonte se fizer por modos ilegais. Ilicitude da prova,
portanto, é ilicitude na obtenção das fontes ou ilicitude na aplicação
dos meios. No sistema do direito probatório, o veto às provas ilícitas
constitui limitação ao direito à prova. No plano constitucional, ele é
instrumento democrático de resguardo à liberdade e à intimidade
das pessoas contra atos arbitrários ou maliciosos.”

Dada a sua relevância para o processo, a questão da


admissibilidade da prova também é objeto de diversas legislações
estrangeiras.

A título exemplificativo e em tradução livre, a Rule 100177 da


Federal Rules of Evidence (2011) norte-americana admite o uso de
provas eletrônicas ou digitais de forma ampla, em quaisquer de suas
formas, cabendo aos tribunais avaliar se os dados originais são
autênticos (Rule 901)78 ou se as cópias oferecidas são precisas (Rule
1003)79, salvo se aquelas forem consideradas inadmissíveis (Rule
103)80.

77 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_1001. Acessado em 22/05/2021, às 10h31


(UTC-4)
78 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_901. Acessado em 22/05/2021, às 10h46
(UTC-4)
79 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_1003. Acessado em 22/05/2021, às 10h34
(UTC-4)
80 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_103. Acessado em 22/05/2021, às 10h31
(UTC-4)
106
Em igual sentido estabelecem os já mencionados Cooperation
across CSIRTS, LE and the Judiciary - Handbook, Document for
trainers, ao tratar da “legality in order to be considered admissible”81
(em tradução livre, legalidade para ser considerada admissível); o
Electronic Evidence - a basic guide for First Responders, quando faz
menção as “laws regarding admissibility of evidence differ between
countries”82 (em tradução livre, as leis sobre a admissibilidade das
provas diferem entre os países); e o Electronic Evidence Guide - A basic
guide for police officers, prosecutors and judges, ao preconizar que
“Computer Evidence is admissible if it conforms to a series of laws and
rules that ensure it is acceptable to the court”83 (em tradução livre,
provas de computador são admissíveis se estiverem em conformidade
com uma série de leis e regras que garanta sua aceitação pelo
tribunal).

A prova digital, portanto, desde que esteja “em conformidade


com certas regras legais antes de poder ser submetido a um tribunal”84
(tradução livre), será admitida no processo como meio moralmente
legítimo.

Por outro lado, se originalmente ou por derivação for obtida de


maneira ilícita, a prova deverá ser descartada, desconsiderada ou
excluída dos autos. Na lição de PRADO85:

“Com a constitucionalização da proibição da prova ilícita, em grau


superior ao do paradigma português que a trata como causa de
nulidade, o direito brasileiro adotou o modelo da inadmissibilidade
e com isso monopolizou o regime de antijuridicidade da prova.

81 Ibidem, p. 9
82 Ibidem, p. 10
83 Ibidem, p. 151
84 Idem
85 Texto correspondente à palestra proferida pelo professor Geraldo Prado intitulada “A interface entre o
Direito Digital e o Processo Penal”, no Ciclo Permanente de Palestras com o tema “Consequências do Uso
da Inteligência Artificial no Processo Penal”, oferecido pelo Núcleo de Estudo Luso-Brasileiro da
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (NELB), ao lado da professora Janaina Matida e do
professor Alexandre Morais da Rosa, em 20 de janeiro de 2021, às 13 horas (horário de Brasília),
transmitida pelo aplicativo Zoom. Disponível no link: https://www.conjur.com.br/dl/artigo-geraldo-
prado.pdf. Acessado em 19/05/2021, às 13h46 (UTC-4)
107
No caso brasileiro não cabem quer a regra de exceção, que tornaria
admissível toda prova originalmente ilícita desde que obtida em
determinadas condições (em favor do acusado, por exemplo), quer
juízo de proporcionalidade que autorize o emprego de prova ilícita
em desfavor de alguém”.

Provas digitais produzidas mediante escutas ambientais e


interceptações telefônicas ou telemáticas sem autorização judicial (art.
5º, XII, da CRFB), ou por meio da invasão de dispositivo móvel ou
informático (art. 154-A do CP), por exemplo, serão consideradas ilícitas
e não serão admitidas no processo.

Superada essa questão, não há como dissociar a validade e


eficácia jurídica da prova digital dos requisitos técnicos exigidos para
sua identificação, coleta, aquisição e preservação, os quais devem
nortear toda a produção probatória, principalmente em razão da
volatilidade dos seus suportes de registro e armazenamento.

Esses requisitos decorrem da obediência aos demais princípios


acima elencados que serão, sem a pretensão de esgotar o tema,
tratados pormenorizadamente a seguir.

4.5. REQUISITOS DA PROVA DIGITAL


O Código de Processo Civil de 2015 não se preocupou em
regulamentar adequadamente a matéria, a despeito da sua inequívoca
importância nos dias de hoje, tratando apenas de aspectos secundários
dos documentos eletrônicos e digitais (arts. 422 e 425, V e VI) e dos
requisitos de validade e eficácia do registro do ato processual eletrônico
(art. 195).

Outros diplomas legais como a Medida Provisória nº 2.200-


2/2001 e as Leis nº 11.419/2006 e nº 12.527/2011 também cuidaram
de disciplinar, genericamente, alguns elementos dos documentos

108
eletrônicos e digitais, a exemplo da autenticidade, integridade e
preservação dos dados, bem como das informações registradas em
qualquer meio, suporte ou formato.

Por sua vez, a NBR ISO/IEC 27037:2013, em seu item 6.9.2,


descreve que, no processo de preservação da prova digital, a atividade
mais importante é a manutenção da integridade, autenticidade e
cadeia de custódia.

Recorrendo à literatura estrangeira, encontramos na recente


versão 2.1, publicada no ano de 2020, do Electronic Evidence Guide -
A Basic Guide for Police Officers, Prosecutors and Judges, produzido
European Union and Council of Europe – CyberCrime@IPA86, em seu
item 1.7, elencados cinco princípios a serem observados para lidar com
a prova digital, em tradução livre:

a) Princípio 1 - Integridade dos dados (Principle 1 – Data


Integrity);

b) Princípio 2 – Cadeia de custódia (Principle 2 – Audit Trail);

c) Princípio 3 – Suporte Especializado (Principle 3 – Specialist


Support);

d) Princípio 4 – Treinamento apropriado (Principle 4 –


Appropriate Training);

e) Princípio 5 – Legalidade (Principle 5 – Legality)

Esses princípios, forjados originalmente no Electronic evidence


- a basic guide for First Responders87 publicado em 2014 pela então
denominada European Union Agency for Network and Information
Security (ENISA), foram alterados e atualizados buscando acompanhar
as mudanças ocorridas na tecnologia na última década.

86 Idem
87 Idem
109
O referido texto normativo menciona, ainda, em diversas
passagens, o respeito à “cadeia de custódia” (chain of custody) na
produção da prova digital como imprescindível a sua validade,
ganhando especial relevância no Cooperation across CSIRTS, LE and
the Judiciary - Handbook, Document for trainers, publicado em 2019
pela agora European Union Agency for Cybersecurity (ENISA)88.

No âmbito do direito norte-americano, o U.S. Department of


Justice, no ano de 2008, lançou a segunda edição do Electronic Crime
Scene Investigation: A Guide for First Responders89, estabelecendo
três princípios para lidar com a prova digital, os quais podem ser
resumidos e interpretados, em tradução livre90, como:

a) integridade – “The process of collecting, securing, and


transporting digital evidence should not change the evidence”;

b) treinamento especializado – “Digital evidence should be


examined only by those trained specifically for that purpose”;

c) cadeia de custódia - “Everything done during the seizure,


transportation, and storage of digital evidence should be fully
documented, preserved, and available for review”.

Outra diretriz que, embora editada há bastante tempo, ainda


tem plena aplicabilidade atualmente, é a RFC 322791 da Internet
Engineering Task Force (IETF), que dispõe, em seu item 292, diversos
princípios orientadores da coleta da prova digital e, no subitem 2.493,

88 Disponível em https://www.enisa.europa.eu/topics/trainings-for-cybersecurity-specialists/online-
training-material/documents/cooperation-across-csirts-and-law-enforcement/support-the-fight-against-
cybercrime-training-material-csirt-le-jud-cooperation-handbook.pdf. Acessado em 22/05/2021, às 09h18
(UTC-4)
89 Disponível em https://www.ojp.gov/pdffiles1/nij/219941.pdf. Acessado em 22/05/2021, às 12h04
(UTC-4)
90 Ibidem, p. vii
91 Idem
92 Disponível em https://datatracker.ietf.org/doc/html/rfc3227#section-2. Acessado em 22/05/2021, às
08h16 (UTC-4)
93 Disponível em https://datatracker.ietf.org/doc/html/rfc3227#section-2.4. Acessado em 22/05/2021, às
08h19 (UTC-4)
110
alguns requisitos para validade desse meio de prova, o qual deve ser
“admissível”, “autêntico”, “completo”, “confiável” e “crível” (tradução
livre).

A partir desse arcabouço jurídico nacional e internacional e


deixando de lado a exegese jurídica, é possível edificar, por meio de
consagrados métodos hermenêuticos, os pilares sobre os quais será
construído o sistema de produção da prova digital.

Para alguns estudiosos do tema como THANAY e TAMER94, a


autenticidade, integridade e preservação da cadeia de custódia
constituem os pressupostos de validade e utilidade da prova digital.

A nosso ver, e pedindo-se vênia para discordar dos referidos


autores, a autenticidade, a integridade e a cadeia de custódia, por não
dizerem respeito ao plano da existência jurídica da prova digital,
podem ser mais adequadamente qualificadas como requisitos desse
meio de prova, as condições que ela deve satisfazer para alcançar sua
validade.

94 Ibidem, p. 39
111
4.5.1. AUTENTICIDADE DA PROVA DIGITAL
A autenticidade da prova digital deve ser vista sob dois ângulos
complementares, um objetivo, relativo à sua origem, e outro subjetivo,
relacionado à identificação do autor do fato que por meio dela se
pretende provar.

São duas, portanto, as indagações a serem feitas. A primeira é


“De onde provém a prova digital?” e a segunda “Quem é o autor do
fato que se pretende provar por meio da prova digital?”.

A LAI, ao definir autenticidade como a “qualidade da informação


que tenha sido produzida, expedida, recebida ou modificada por
determinado indivíduo, equipamento ou sistema” (art. 4º, VII, da Lei
nº 12.527/2011), aborda os dois enfoques acima mencionados, o
técnico (objetivo) e o pessoal (subjetivo).

O item 2.4 da RFC 3227 diz que para a prova digital ser
considerada autêntica “deve ser possível vincular positivamente a
prova material ao incidente”95 (tradução livre).

O Electronic Evidence Guide - A basic guide for police officers,


prosecutors and judges, versão 2.1. publicada em 2020 pela European
Union and Council of Europe – CyberCrime@IPA, dispõe que “a prova
deve estabelecer os fatos de uma forma que não possa ser contestada
e seja representativa do seu estado original96” e que “a prova
eletrônica não é diferente da prova física, como um documento
registrado em um pedaço de papel. É necessário garantir que a prova
seja autêntica”97 (tradução livre).

95 Idem
96 Ibidem, p. 9. “Authenticity: The evidence must establish facts in a way that cannot be disputed and is
representative of its original state”
97 Ibidem, p. 151. “Electronic evidence is no different to physical evidence, such as a document recorded
on a piece of paper. It is necessary to ensure that the evidence is authentic”
112
Em tradução livre, a Rule 901(a)98 da Federal Rules of Evidence
(2011) norte-americana estabelece ser ônus da parte que fizer uso de
prova eletrônica ou digital comprovar sua autenticidade, por qualquer
método [Rule 901(b)99], para ser admitida no processo, excetuando
as hipóteses em que aquela é considerada autoautenticada (Rule
902)100.

Nas palavras do professor Geraldo Prado101, que a intitula como


“lei da mesmidade”, é o “princípio pelo qual se determina que “o
mesmo” que se encontrou na cena [do crime] é o “mesmo” que se está
utilizando para tomar a decisão judicial”.

Segundo Eoghan Casey102:

“Para demonstrar que a prova digital é autêntica, geralmente é


necessário convencer o tribunal de que ela foi obtida de um
computador e/ou localização específicos, que foi extraída uma cópia
completa e exata da prova digital e que ela permaneceu inalterada
desde que foi coletada. Em alguns casos, também pode ser
necessário demonstrar que informações específicas são precisas,
como datas associadas a um arquivo específico que é importante
para o caso. A confiabilidade da prova digital claramente
desempenha um papel crítico no processo de autenticação,
conforme discutido em mais detalhes posteriormente neste
capítulo.” (tradução livre)

Para respondermos à primeira indagação será preciso identificar


a origem da prova digital, a fonte na qual ela foi produzida,
armazenada ou transmitida antes de ser identificada, colhida e
preservada.

98 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_901. Acessado em 23/05/2021, às 10h33


(UTC-4)
99 Idem
100 Disponível em https://www.law.cornell.edu/rules/fre/rule_902. Acessado em 23/05/2021, às 11h03
(UTC-4)
101 PRADO. Geraldo. A cadeia de custódia de prova no processo penal. 1 ed. São Paulo: Marcial Pons,
2019, p. 95
102 CASEY, Eoghan. Digital evidence and computer crime: forensic science, computers and the internet.
3rd ed. Elsevier:2011, p. 60.
113
Cada uma das inúmeras fontes de provas digitais requer um
processo distinto de coleta, com emprego de diferentes ferramentas,
métodos e tecnologias para capturá-las e preservá-las de maneira a
garantir a sua autenticidade para posterior utilização em juízo.

Não se resumem apenas ao computador pessoal, notebook,


tablet, telefone celular ou internet, pois qualquer equipamento ou
dispositivo tecnológico que processe ou armazene dados digitais
poderá ser usado para praticar um ilícito.

A segunda indagação tem por objetivo identificar a autoria do


fato registrado no meio digital.

THAMAY e TAMER103 delimitam o alcance da autenticidade


apenas ao seu aspecto subjetivo, conceituando-a como a “qualidade
da prova digital que permite a certeza com relação ao autor ou autores
do fato digital” e “que assegura que o autor aparente do fato é, com
efeito, seu autor real”.

Para que se descubra a autoria do fato registrado por meio da


prova digital e lhe seja atribuída a autenticidade, é imprescindível a
identificação do usuário (autor) que acessou as fontes digitais nas
quais ela foi produzida, está armazenada ou foi transmitida.

Como cada uma dessas fontes fornece, usualmente, algum


mecanismo de segurança da informação e criptografia para acesso do
usuário, é possível localizar e identificar o autor do fato jurídico que se
pretende provar por meio da prova digital.

Os sistemas de segurança da informação trabalham com


multifatores de autenticação, adicionando camadas de proteção extra
aos usuários de acordo com a sua necessidade, assim, quanto mais

103 Ibidem, p. 40
114
estratos forem acrescentados, maior a segurança e maiores as chances
de identificação da autoria.

AUTENTICAÇÃO MULTIFATOR

Algo que você sabe


1 camada de
(Something you Senha ou PIN
segurança
know)

Algo que você tem Senha ou PIN


2 camadas de
(Something you +
segurança
have) Token ou Chave

Senha ou PIN

3 camadas de Algo que você é Token ou Chave


segurança (Something you are) +

Biometria (digital, facial, ocular,


vocal)

Nas hipóteses em que a autoria do fato digital não puder ser


negada pelo autor, estar-se-á diante do que se denomina não repúdio.

Exemplos de como pode ser identificada a autoria e garantida a


autenticidade da prova digital:

a) chave ICP-Brasil, que permite a identificação do autor de um


documento assinado digitalmente utilizando um par de chaves de
criptografia assimétrica104 (não repúdio), ou de quem acessou
determinado serviço na internet a utilizando (p e. e-CAC);

104 Criptografia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Criptografia_de_chave_p%C3%BAblica. Acessado em


16/05/2021, às 23h07 (UTC-4)
115
b) autenticação em duas etapas, que permite a identificação do
autor de um documento digital ou do acesso a determinado serviço ou
aplicação de internet por meio do envio de um código para o endereço
eletrônico utilizado no cadastro, por mensagem de texto ou até mesmo
via ligação para o celular cadastrado a fim de provar que o usuário é o
detentor do e-mail ou o titular da linha telefônica;

c) protocolo de Internet ou Internet Protocol (IP), que possibilita


a identificação da origem da conexão ou acesso a uma aplicação de
internet por meio do registro do IP e da porta lógica, se houver, para
posterior consulta aos dados cadastrais mantidos pelos provedores.

Esses são apenas alguns exemplos, mas o importante é ter em


mente que cada um dos métodos acima propicia, em alguma extensão,
a verificação da autenticidade da prova digital, porém, isoladamente,
podem não levar ao verdadeiro autor do fato.

É necessário compreender as limitações tecnológica para que


sua valoração não pressuponha uma característica que a prova digital
não possui ou para que ela não seja considerada, de plano, inidônea
ou inadmissível no processo.

Até mesmo as provas digitais inautênticas, embora mais frágeis


e questionáveis, podem ser utilizadas para formar o conjunto

116
probatório do processo, cabendo ao juiz analisá-las à luz das alegações
das partes e do contexto da demanda.

4.5.2. INTEGRIDADE DA PROVA DIGITAL


A integridade é considerada um requisito de extrema
importância para a prova digital, não por outra razão ela recebe
recorrentes menções na literatura nacional e estrangeira.

A LAI define integridade como a “qualidade da informação não


modificada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino” (art. 4º, VIII,
da Lei nº 12.527/2011).

O Electronic evidence - a basic guide for First Responders105


considera-a o mais importante dos princípios devido à volatilidade dos
dados digitais106.

A versão 2.1 do Electronic Evidence Guide - A basic guide for


police officers, prosecutors and judges, no item 1.7.1107, estabelece a
integridade como um dos princípios da prova digital visando assegurar
que “nenhuma ação tomada deve alterar materialmente quaisquer
dados, dispositivos eletrônicos ou mídias que possam posteriormente
ser usados como prova no tribunal” (tradução livre).

O Electronic Crime Scene Investigation: A Guide for First


Responders - Second Edition108 elencou a integridade como princípio
da prova digital e determinou o tratamento cuidadoso dos dispositivos
físicos e dados neles contidos a fim de preservá-la109.

105 Idem
106 Ibidem, p. 6.
107 Ibidem, p. 14
108 Disponível em https://www.ojp.gov/pdffiles1/nij/219941.pdf. Acessado em 21/05/2021, às 20h07
(UTC-4).
109 Ibidem, p. vii e 21
117
No âmbito interno, a norma NBR ISO/IEC 27037:2013 da ABNT
define algumas diretrizes para o tratamento das provas digitais visando
assegurar a sua integridade.

THAMAY e TAMER consideram uma prova digital íntegra quando


“isenta de qualquer modificação em seu estado ou adulteração desde
o momento da realização do fato até apresentação do resultado da
prova”110.

Aqui se está diante de uma terceira pergunta: “A prova digital


é aquilo que ela diz ser?”.

Para se chegar a essa resposta, é preciso fazer uma análise


sistêmica do ecossistema digital em que ela foi produzida, está
armazenada ou trafegou.

Propõe-se a decomposição e análise individualizada dos


elementos que integram esse requisito para sua melhor compreensão.
São eles: completude, imutabilidade, temporalidade e credibilidade.

a) Completude

A prova digital, para ser considerada íntegra, deve ser


completa, integral.

O item 2.4 da RFC 3227 considera completa a prova digital que


“contar toda a história e não apenas uma perspectiva particular”
(tradução livre)111.

O item 1.5.2112 do Electronic Evidence Guide - A basic guide for


police officers, prosecutors and judges define completude na mesma
perspectiva, dispondo que “a análise ou qualquer opinião baseada na

110 Ibidem, p. 45
111 Idem
112 Ibidem, p. 13. “Completeness: The analysis of or any opinion based on the evidence must tell the whole
story and not be tailored to match a more favourable or desired perspective”.
118
prova deve contar toda história e não ser adaptada para corresponder
a uma perspectiva mais favorável ou desejada” (tradução livre).

Concretiza-se na necessidade da coleta e análise contextual do


ecossistema onde a prova digital foi produzida ou apreendida,
permitindo confirmar ou afastar a ocorrência de fraudes por parte
daqueles que o controlam. Nas palavras de PRADO113:

“O conhecimento das fontes de prova pela defesa é fundamental,


porque a experiência histórica que precede a expansão da estrutura
trifásica de procedimento penal, adequada ao modelo acusatório,
contabiliza a supressão de elementos informativos como estratégia
das agências de repressão que fundam as suas investigações em
práticas ilícitas.
Não custa sublinhar que apenas inadvertidamente eventual autor de
ilicitudes probatórias permitiria a chegada ao processo de traços das
referidas ilicitudes.
Por isso, o exame da legalidade da investigação criminal
concentrado com exclusividade no material apresentado pelo
acusador em juízo é, de regra, inócuo ou no mínimo insuficiente”

E prossegue PRADO114 afirmando que coletar material


insuficiente ou impedir o acesso da defesa às fontes de prova implica
em grave violação da equidade processual:

“defender-se o acusado fazendo uso exclusivo do material


probatório selecionado pelo acusador é o sonho que todo inquisidor
nutre relativamente à posição de seu adversário processual”

A prova extraída de qualquer fonte digital deve estar completa,


sem supressões, de maneira a espelhar a integralidade do fato jurídico
que se pretenda por meio dela provar.

b) Imutabilidade

A integridade da prova digital, sob o prisma da imutabilidade,


corresponde à demonstração no processo de que aquela se apresenta
sem adulterações e no mesmo estado em que se encontrava quando

113 Ibidem, p. 75
114 Ibidem, p. 85
119
foi coletada, refletindo as mesmas informações e dados relativos ao
fato jurídico desde aquele momento.

O item 1.5115 do Electronic Evidence Guide - A basic guide for


police officers, prosecutors and judges define a imutabilidade da prova
digital como “a aptidão para demonstrar que nenhuma modificação,
exclusão, acréscimo ou outras alterações ocorreram ou poderiam ter
ocorrido” (tradução livre).

Exemplos de métodos para garantia da imutabilidade:

a) função hash116, consiste num processo unidirecional que cria


um identificador único para cada documento digital por meio de
comparações de resumos matemáticos gerados por algoritmos de
dispersão e geralmente apresentados em base hexadecimal;

b) chave ICP-Brasil, que garante a imutabilidade do documento


por meio de um par de chaves de criptografia assimétrica.

c) Temporalidade

A temporalidade é o carimbo de tempo da prova digital.

O ordenamento jurídico confere especial relevância ao aspecto


temporal dos fatos jurídicos para determinar o momento de
aperfeiçoamento dos negócios jurídicos, a aquisição ou extinção de
direitos, a fixação de eventual termo, condição ou encargo, a contagem
dos prazos, além de disciplinar diversas outras questões materiais e
processuais afins buscando conferir maior segurança jurídica às
relações sociais.

115 Ibidem, p. 12. “However, in many ways, electronic evidence is no different from traditional evidence
in that the party introducing it into legal proceedings must be able to demonstrate that it reflects the same
set of circumstances and factual information as it did at the time of the offence. In other words, they must
be able to show that no changes, deletions, additions or other alterations have (or might have) taken place”.
116 Função hash. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%A7%C3%A3o_hash. Acessado em
16/05/2021, às 17h08 (UTC-4)
120
Ocorre que a transformação digital e a globalização modificaram
o conceito de tempo na Sociedade 4.0, conferindo-lhe uma outra
dimensão marcada pela efemeridade temporal.

Devido à velocidade com que as mudanças ocorrem no meio


digital, o tempo ativo117 de resposta tornou-se fundamental à parte
para evitar o perecimento do seu direito subjetivo à prova, dada a
volatilidade dos suportes digitais nas quais ela foi produzida ou está
armazenada.

Mostra-se imprescindível que ao coletar a prova digital fique


demonstrada, de forma idônea, a sua marcação temporal, contendo a
data e horário de quando o fato ocorreu ou ao menos do seu registro,
utilizando-se uma fonte de tempo confiável e rastreável.

Isto porque a data e hora de criação e/ou modificação de um


arquivo refere-se àquela informada no computador ou dispositivo
eletrônico que o criou (tempo do sistema), tornando-se facilmente
alterável, mesmo após o arquivo ser gravado, sem necessidade de
grandes conhecimentos para isso.

d) Credibilidade

A prova digital deve ser compreensível às partes e julgadores,


o que significa dizer, segundo o item 2.4 da RFC 3227, “facilmente
inteligível e crível para um tribunal”118, sem que se perca o rigor
técnico-científico.

O item 1.5.2119 Electronic Evidence Guide - A basic guide for


police officers, prosecutors and judges dispõe que “a prova digital deve
ser convincente quanto aos fatos que ela representa e o juiz no

117 Ibidem, p. 79
118 Idem
119 Ibidem, p. 13. “Believability: The evidence must be persuasive as to the facts it represents and the
finders of fact in the court process must be able to rely on it as the truth.”.
121
processo judicial deve ser capaz de confiar nela como verdade”
(tradução livre).

Aqui deve-se retomar o conceito de documento digital e como


o registro de um fato ocorrido nesse meio se dá através de uma
sequência de bits, codificados em linguagem binária, que necessita de
um equipamento informático ou dispositivo eletrônico (hardware) e um
programa próprio (software) para extrair as informações, decodificá-
las e convertê-las num formato inteligível ao ser humano.

4.5.3. Cadeia de custódia

Cadeia de custódia é o processo de preservação da


autenticidade e integridade da prova digital durante todas as etapas
da sua produção que, nas palavras de THAMAY e TAMER, vão “desde
sua identificação, coleta, extração de resultados, até a apresentação
no processo ou procedimento de destino”120.

Segundo Eoghan Casey121:

“Cadeia de custódia e documentação de integridade são importantes


para demonstrar a autenticidade da prova digital. A cadeia de
custódia adequada demonstra que a prova digital foi adquirida a
partir de um sistema e/ou local específico e que foi continuamente
controlada desde que foi coletada. Assim, a documentação
adequada da cadeia de custódia permite ao tribunal vincular a prova
digital ao crime. Documentação incompleta pode resultar em
confusão sobre onde a prova digital foi obtida e pode levantar
dúvidas sobre a confiabilidade da prova digital.” (Tradução Livre)

O Electronic Evidence - a basic guide for First Responders


refere-se à cadeia de custódia como “audit trail” e a define como “o
processo de preservação da integridade da prova digital”122 (tradução
livre).

120 Ibidem, p. 47
121 Idem
122 Ibidem, 7
122
O item 1.7.1 123 do Electronic Evidence Guide - A basic guide
for police officers, prosecutors and judges estabelece que “a pessoa
encarregada de coletar as provas é responsável por manter a
integridade do material recuperado e garantir a sua cadeia de
custódia”.

A norma NBR ISO/IEC 27037:2013124, que buscou padronizar


o tratamento das provas digitais e os procedimentos essenciais a sua
coleta e integridade125, define cadeia de custódia como “um
documento identificando a cronologia de movimento e do manuseio da
potencial evidência digital”.

O processo de preservação da cadeia de custódia, que envolve


a guarda da prova digital e/ou do dispositivo no qual foi produzida ou
está armazenada, deve ser iniciado e mantido durante toda a produção
probatória e a correta aplicação da metodologia técnico-científica é que
dará solidez à prova digital126.

Diante disso, a norma preconiza uma metodologia que permite


a coleta, manuseio e preservação da evidência/prova digital
justamente para que ela tenha a confiabilidade esperada quando da
análise pelo magistrado em sua decisão judicial.

Propõe-se aqui, igualmente, a decomposição e análise


individualizada dos seus elementos para facilitar o entendimento
acerca do instituto. São eles: auditabilidade, confiabilidade e
publicidade.

123 Ibidem, p. 14. “The person in charge of a crime scene or for collecting the evidence is responsible for
maintaining the integrity of the material recovered and for ensuring the forensic chain of custody.
Subsequent custodians of the devices and/or data must assume that responsibility”
124 Ibidem, p. 11
125 PARODI, Lorenzo. A cadeia de custódia da prova digital à luz da lei 13.964/19 (Lei anticrime). Link:
https://www.migalhas.com.br/depeso/320583/a-cadeia-de-custodia-da-prova-digital-a-luz-da-lei-13-964-
19--lei-anticrime. Data de inserção: 17/02/2020. Data de acesso: 03/04/2021.
126 OLIVEIRA, Vinicius Machado de. ISO 27037 Diretrizes para identificação, coleta, aquisição e
preservação de evidência digital. Academia Digital. Link: https://academiadeforensedigital.com.br/iso-
27037-identificacao-coleta-aquisicao-e-preservacao-de-evidencia/. Data de inserção: 16/01/2019. Data
de acesso: 03/04/2021
123
a) Auditabilidade

Todas as atividades realizadas na produção da prova digital


devem ser documentadas e estar disponíveis para avaliação das partes
e, se for o caso, de um terceiro independente (perito).

O item 1.7.2 127 do Electronic Evidence Guide - A basic guide


for police officers, prosecutors and judges elenca o “audit trail”,
também referido como cadeia de custódia, como princípio e estabelece
que a “apreensão, acesso, armazenamento ou transferência da prova
digital ser totalmente documentada, preservada e disponibilizada para
revisão por um terceiro independente que deve não apenas ser capaz
de repetir essas ações, mas também obter o mesmo resultado”.

b) Confiabilidade

127 Ibidem, p. 13. “Believability: The evidence must be persuasive as to the facts it represents and the
finders of fact in the court process must be able to rely on it as the truth.”.
124
O registro da cadeia de custódia deve se mostrar confiável a
ponto de não haver dúvidas sobre a autenticidade e integridade das
provas digitais coletadas.

O item 2.4 da RFC 3227 128 e o item 1.5.2 129 do Electronic


Evidence Guide - A basic guide for police officers, prosecutors and
judges estabelecem que “não deve haver nada sobre a maneira como
as provas foram coletadas e posteriormente tratadas que possam
lançar dúvidas sobre sua autenticidade ou veracidade” (tradução livre).

c) Publicidade

Como, em regra, os processos são públicos (art. 93, IX, da


CRFB), assim como o são todos os atos processuais, salvo nos casos
em que a lei autorizar a sua prática em segredo de justiça (art. 189 do
CPC), a prova digital deve ostentar essa qualidade, salvo se os dados
a que ela se refere forem, pela sua natureza privada ou íntima,
sigilosos.

Somente com o respeito aos princípios que regem o processo e


a observância dos requisitos desse meio de prova será possível garantir
a sua idoneidade, visto que os dados e metadados podem ser
facilmente alterados, adulterados, suprimidos, inseridos e/ou
corrompidos, ainda que a espoliação seja involuntária.

É preciso utilizar, portanto, um sistema técnico-científico-


informacional que garanta, durante todo o processo de coleta e
preservação da prova digital, sua autenticidade, integridade e cadeia
de custódia para que seja ela válida e eficaz a influenciar no
convencimento do juiz, a quem competirá, em última análise,
interpretá-la e valorá-la.

128 Idem
129 Ibidem, p. 13. “Reliability: There must be nothing about the way in which the evidence was collected
and subsequently handled that may cast doubt on its authenticity or veracity.”
125
4.6. PRODUÇÃO DA PROVA DIGITAL
Atualmente é reconhecido às partes o direito subjetivo à prova,
derivado do direito de ação e das garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa (art. 5º, XXXV e LV, da CRFB), ideia
essa reforçada pelo Código de Processo Civil de 2015 ao permitir o seu
exercício, inclusive, de forma autônoma, por meio da produção
antecipada da prova (art. 381 do CPC).

Os documentos eletrônicos ou digitais são admitidos no


processo quando produzidos e conservados com a observância da
legislação específica (art. 441 do CPC).

4.6.1. MOMENTOS DE PRODUÇÃO DA PROVA DIGITAL

a) Atuação das partes na produção da prova digital

O autor pode requerer e produzir a prova digital com a inicial


(arts. 319, VI, 320 e 434 do CPC) e o réu com a contestação (arts. 336
e 434 do CPC), tratando-se ela de documento eletrônico ou digital já
existente (arts. 439 e 441 do CPC).

É admitida, ainda, a juntada do documento eletrônico ou digital


a qualquer tempo quando se referir a fato superveniente aos alegados
ou contrapostos (art. 435 do CPC) ou quando aqueles forem formados
ou se tornarem conhecidos, acessíveis ou disponíveis após a
apresentação da inicial e da contestação (art. 435, parágrafo único, do
CPC).

No processo do trabalho, é permitido às partes requererem e


produzirem provas digitais em audiência (arts. 845 e 852-H da CLT),
126
momento em que poderão, inclusive, postular a realização de perícia
eletrônica ou digital.

b) Atuação do juiz na produção da prova digital, poderes


instrutórios e abuso de autoridade

A produção da prova digital pode ser ordenada de ofício pelo


juiz, a quem o ordenamento jurídico conferiu amplos poderes para
dirigir com liberdade o processo, realizar quaisquer diligências e
produzir todas as provas necessárias para o esclarecimento dos fatos
e a rápida solução dos litígios, atribuindo-lhe a prerrogativa de
requisitá-la de quem detém a sua guarda para a formação do conjunto
probatório em ações judiciais de qualquer natureza (art. 765 da CLT
c/c arts. 139, II, e 370 do CPC).

Segundo MARINONI, ARENHART e MITIDIERO130:

“O juiz tem o poder – de acordo com o sistema do Código de


Processo Civil brasileiro -, quando os fatos não lhe parecem
esclarecidos, de determinar a prova de ofício, independentemente
de requerimento da parte ou de quem quer que seja que participe
do processo, ou ainda quando estes outros sujeitos já não têm mais
a oportunidade processual para formular esse requerimento.”

Especificamente em relação à prova digital, a Lei nº


11.419/2006 confere ao magistrado a prerrogativa de determinar a
exibição e o envio de dados e documentos, por meio eletrônico,
necessários à instrução do processo (art. 13), devendo o acesso a eles
se dar por qualquer meio tecnológico, preferencialmente o menos
oneroso e mais eficiente (art. 13, § 2º).

A ordem judicial devidamente fundamentada que determinar a


produção da prova digital não se enquadra na hipótese de abuso de

130 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. O Novo Processo
Civil. Edição 1º, Nova edição. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2015, p. 269
127
autoridade prevista no art. 25 da Lei nº 13.869/2019, porém, nos
dizeres de THEODORO JÚNIOR131:

“O juiz, porém, deve cuidar para não comprometer sua


imparcialidade na condução do processo. A necessidade da prova,
ordenada de ofício, deve surgir do contexto do processo e não de
atividade extra-autos, sugerida por diligências e conhecimentos
pessoais ou particulares auridos pelo magistrado fora do controle do
contraditório. O juiz pode ordenar a produção de provas não
requeridas pela parte, mas não pode tornar se um investigador ou
um inquisidor.”

Importante ressaltar que eventual produção de prova digital


que importe na quebra do sigilo dos registros e dados pessoais
produzidos nesse meio está expressamente autorizada nos arts. 7º,
III, e 22 do MCI, e não foi obstaculizada pela LGPD, que autorizou o
seu uso para o exercício regular de direitos em processos judiciais
(arts. 7º, VI, e 11, II, alínea “d”).

c) Produção antecipada da prova digital

Não raras vezes, devido à volatilidade desse meio de prova,


será imprescindível à parte se valer do instituto da produção
antecipada da prova previsto nos arts. 381 a 383 do CPC para
identificação da autoria, registro e preservação da prova digital.

Assim, havendo fundado receio de que determinado fato


ocorrido no meio digital venha a se tornar impossível ou muito difícil
de comprovação no curso da ação (art. 381, I, do CPC), poderá a parte
interessada propor essa medida em face do responsável pela fonte
onde aquele foi produzido, está armazenado ou trafegou visando a
identificar o seu autor (art. 382, § 1º, do CPC) e, simultaneamente,
proceder ao seu registro e preservação por qualquer meio idôneo,

131 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral do Direito
Processual Civil e Processo de Conhecimento. vol. I. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 1431
128
atentando para a observância de todos os requisitos alhures
mencionados a fim de lhe conferir validade e eficácia jurídica.

Embora menos comum, a produção antecipada da prova digital


também pode viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de
solução de conflito, assim como justificar ou evitar o ajuizamento de
ação (art. 381, II e III, do CPC).

4.6.2. Manifestação da parte contrária sobre a prova digital

Apresentada a prova digital, a parte contrária poderá adotar


quaisquer das providências previstas no art. 436 do CPC, aplicável
analogicamente dada a natureza a ela conferida pelo art. 441 do citado
codex:

a) impugnar a sua admissibilidade por violação do disposto no


art. 369 do CPC;

b) impugnar a sua autenticidade, ou seja, sua origem e autoria


(art. 439 do CPC);

c) manifestar-se sobre ela sem, necessariamente, impugná-la;


ou

d) suscitar a sua falsidade, com ou sem utilização do incidente


processual respectivo.

Por falsidade entende-se a alteração da verdade praticada


consciente ou inconscientemente, podendo ser de duas espécies (art.
427, parágrafo único, do CPC):

a) ideológica, quando, apesar de autêntico o documento digital,


a declaração nele contida revelar algum fato inverídico; ou,

b) material, quando o documento digital não for verdadeiro, for


alterado um documento digital verdadeiro ou não ficar comprovada a
sua autenticidade.
129
A doutrina majoritária defende que apenas a falsidade material
pode ser objeto da arguição pela parte, tanto por meio de ação
declaratória autônoma como questão principal (art. 19, II, do CPC),
quanto pelo procedimento previsto nos arts. 430 a 433 do CPC como
questão incidental.

Ressalte-se, no entanto, que o STJ vem admitindo a arguição


de falsidade também para impugnar o conteúdo do documento, desde
que não tenha relação com as declarações de vontade nele constantes
e não importe a desconstituição da própria situação jurídica. Neste
sentido:

LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. CONTRARIEDADE AO ART. 535 DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ARGUIÇÃO GENÉRICA. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA N.º 284 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INCIDENTE
DE FALSIDADE IDEOLÓGICA. DESCONSTITUIÇÃO DA SITUAÇÃO
JURÍDICA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Quanto à suposta contrariedade
ao art. 535, inciso II, do Código de Processo Civil, não foram
esclarecidas de maneira específica, quais as questões, objeto da
irresignação recursal, não foram debatidas pela Corte de origem,
incidindo, portanto, a Súmula n.º 284 do Pretório Excelso. 2. O
incidente de falsidade ideológica será passível de admissibilidade tão
somente quando não importar a desconstituição da própria situação
jurídica. Precedentes. 3. Recurso Especial conhecido e desprovido.
(REsp 717.216/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 04/12/2009, DJe 08/02/2010)

INCIDENTE DE FALSIDADE IDEOLÓGICA. DOCUMENTO PRODUZIDO


POR OFICIAL DE JUSTIÇA QUE GOZA DE FÉ PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PROVA A CONTRADITÁ-LO. DESCABIMENTO. I - A jurisprudência da
egrégia Segunda Seção tem admitido o incidente de falsidade
ideológica, quando o documento tiver caráter declaratório e o seu
reconhecimento não implicar desconstituição de situação jurídica. II
- O incidente de falsidade previsto no artigo 372 do Cód. de Proc.
Civil refere-se, expressamente, a documento particular, não
alcançando os atos certificados por oficial de justiça, que gozam de
fé pública, só podendo ser ilididos por meio de prova robusta a
contraditá-los, o que não se verifica na hipótese dos autos. Agravo
a que se nega provimento. (AgRg no Ag 354.529/MT, Rel. Ministro
CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 30/04/2002, DJ
03/06/2002, p. 202)

A arguição de falsidade no processo deverá ocorrer na primeira


oportunidade em que a parte deva se manifestar sobre a prova digital,

130
ou restará preclusa a oportunidade e não poderá mais ser discutida a
veracidade do documento digital por meio do incidente (art. 430 do
CPC).

Ouvida a parte contrária sobre a alegação ou esgotado o prazo


para resposta, será determinada a realização de perícia, salvo se a
parte que produziu o documento digital concordar em retirá-lo do
processo (art. 432, parágrafo único, do CPC).

A decisão acerca da arguição de falsidade como questão


incidental no processo, em regra, limita-se à inclusão ou não do
documento digital no acervo probatório com a finalidade de julgar o
mérito da lide, mas não integra a coisa julgada.

4.6.3. OBJETO DA PROVA DIGITAL


O objeto da prova digital são os fatos ocorridos no meio digital
ou que por intermédio deste suporte possam ser reproduzidos no
processo, desde que relevantes à solução da lide (art. 357, II, do CPC).

Não será produzida prova digital de fatos notórios, afirmados


por uma parte e confessados pela outra, admitidos no processo como
incontroversos ou quando pairar sobre eles presunção legal de
existência ou veracidade (art. 374 do CPC).

Como não há fase saneadora no processo do trabalho, ao deferir


a produção da prova digital requerida pelas partes ou determiná-la de
ofício, deverá o juiz delimitar os fatos sobre as quais ela recairá (art.
357, II, do CPC), isto se faz necessário, principalmente, pela natureza
dos registros ou dados requisitados.

131
a) Distinção entre registro e dado pessoal

O Marco Civil da Internet traz, em seu art. 5º, VI e VII, dois


conceitos de registro, um para conexão e outro para acesso a
aplicações de internet.

Há de comum às essas duas espécies a atribuição de um código


único, denominado endereço de IP (protocolo de internet), ao terminal
(computador ou outro dispositivo) que se conectou à rede mundial de
computadores, possibilitando assim a sua identificação e os registros
da data e hora de início, término e duração da conexão à internet e,
quando for o caso, da data e hora de uso de uma determinada aplicação
de internet.

O segundo conceito é encontrado na Lei Geral de Proteção de


Dados Pessoais, mais precisamente em seu art. 5º, I e II, que também
o classifica em duas espécies e o define como:

a) “dado pessoal” é a informação relacionada a pessoa natural


identificada ou identificável;

b) “dado pessoal sensível” é o dado pessoal vinculado a uma


pessoa natural identificada ou identificável pela sua origem racial ou
étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a
organização de caráter religioso, filosófico ou político, condição de
saúde, vida sexual, genética e biometria.

132
b) Proteção aos registros, dados pessoais e
comunicações privadas

O Marco Civil da Internet assegura aos usuários da internet


proteção aos seus dados pessoais e registros de conexão e de acesso
a aplicações (art. 7º, VII), atribuindo a responsabilidade pela sua
guarda aos respectivos provedores (art. 10). A proteção desses dados
também é garantida pela LGPD, em seu art. 17.

A disponibilização dos registros e dados pessoais a terceiros


somente se dará mediante consentimento livre, expresso e informado
do seu titular (art. 10, § 1º, do MCI) ou nas hipóteses em que a lei
autorizar (arts. 22 e 23 do MCI e art. 7º, VI, da LGPD).

c) Prazo de guarda dos registros de conexão e de acesso


e dos dados pessoais

Duas importantes questões trazidas pelo Marco Civil da Internet


foram os prazos diferenciados de guarda dos registros de conexão à
internet, que é de 1 ano (art. 13), e dos registros de acesso a
aplicações de internet, que é de 6 meses (art. 15).

Há quem defenda que, findo esses períodos, extingue-se


automaticamente a obrigação dos provedores de fornecê-los, o que nos
parece um equívoco interpretativo, pois a própria lei permite que eles
sejam mantidos por período superior (art. 13, § 2º, e art. 15, §§ 1º,
2º e 3º, do MCI).

Ainda que não haja requerimento prévio da autoridade


administrativa ou determinação judicial para tal finalidade, se o
provedor de conexão ou de acesso mantiver, espontaneamente, em
seus bancos de dados, os registros requisitados mesmo após o decurso
do prazo entendido como mínimo legal, devem, por dever de
cooperação (art. 6º do CPC), apresentá-los em juízo.

133
Em relação aos dados pessoais dos usuários, não foi fixado
nenhum prazo específico de guarda, o que autoriza os provedores a
mantê-los até o término do seu tratamento e a conservá-los, mesmo
após, para atender finalidades específicas, conforme disciplinado nos
arts. 15 e 16 da LGPD.

Assim, se os dados pessoais existem e podem, inclusive, ser


utilizados por quem detém a sua guarda para o exercício de direitos
em processo judicial, administrativo e arbitral (art. 11, II, alínea “d”,
da LGPD), devem os provedores fornecê-los se requisitados
judicialmente, independentemente de quando foram produzidos,
armazenados ou transmitidos (art. 22 do MCI).

d) Inviolabilidade e sigilo dos dados estáticos e dos


dados em trânsito

A distinção entre os conceitos de dados estáticos e dados em


trânsito são importantes à definição das normas a eles aplicáveis e das
consequências jurídicas advindas para o processo.

Dado estático é todo aquele que já trafegou ou foi transmitido


por um meio de comunicação telefônico ou telemático e está
armazenado. Corresponde às comunicações privadas armazenadas
disciplinadas no art. 7º, III, do MCI.

Dado em trânsito é todo aquele que está sendo transmitido do


emissor ao receptor no instante da comunicação telefônica ou
telemática propriamente dita. Corresponde ao fluxo das comunicações
privadas pela internet disciplinada no art. 7º, II, do MCI e à intercepção
de comunicações telefônicas, em sistemas de informática e telemáticas
prevista no art. 1º, caput e parágrafo único, da Lei nº 9.296/1996.

Essa distinção mostra-se de fundamental relevância ao se


determinar, durante a produção probatória, eventual quebra de sigilo
dos dados de algum titular, pois aqueles em trânsito correspondem

134
verdadeiramente à interceptação do fluxo das comunicações
telefônicas e telemáticas, medida excepcional que recebe especial
proteção do ordenamento jurídico (art. 5º, XII, da CRFB) e somente é
autorizada em investigações criminais e instruções processuais penais
(art. 1º da Lei nº 9.296/1996 e art. 7º, II, da Lei nº 12.965/2014).

Os dados estáticos, por sua vez, podem ser requisitados e


utilizados em quaisquer espécies de processo cível, dentre eles o
processo do trabalho, conforme previsto nos arts. 7º, III, e 22 da Lei
nº 12.965/2014.

Neste sentido é a jurisprudência do e. STF, in verbis:

HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2)


ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA DURANTE O INQUÉRITO
POLICIAL; VIOLAÇÃO DE REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU,
EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3)
ILICITUDE DA PROVA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE
CONVERSAS DOS ACUSADOS COM ADVOGADOS, PORQUANTO
ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO ART. 7º, II, DA
LEI 8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS.
VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1. Inépcia da
denúncia. Improcedência. Preenchimento dos requisitos do art. 41
do CPP. A denúncia narra, de forma pormenorizada, os fatos e as
circunstâncias. Pretensas omissões – nomes completos de outras
vítimas, relacionadas a fatos que não constituem objeto da
imputação - não importam em prejuízo à defesa. 2. Ilicitude da
prova produzida durante o inquérito policial - violação de registros
telefônicos de corréu, executor do crime, sem autorização judicial.
2.1 Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a
prisão em flagrante do corréu, terem realizado a análise dos últimos
registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. Não
ocorrência. 2.2 Não se confundem comunicação telefônica e
registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica
distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII,
da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro,
depósito registral. A proteção constitucional é da
comunicação de dados e não dos dados. (...) 4. Ordem
denegada. (HC 91867, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 24/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185
DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012) (grifei)

e) Inviolabilidade e proteção à privacidade e intimidade


pelo próprio titular dos dados

135
O crescimento vertiginoso da internet e sua utilização muitas
vezes indevida provocou a edição de normas para disciplinar não
apenas seu uso, mas também preservar a privacidade, intimidade,
honra e vida privada dos seus usuários, surgindo, então, o Marco Civil
da Internet (MCI) - Lei nº 12.965/2014 - e, tempos depois, a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) - Lei nº 13.709/2018.

Dentre os diversos avanços trazidos pelos referidos textos


normativos, o mais relevante, a nosso sentir, foi tratar a comunicação
e a privacidade, efetivamente, como direito fundamental de todo
cidadão, estabelecendo vários mecanismos de proteção dessas
garantias.

A despeito disso não há, no sistema constitucional brasileiro,


nenhum direito ou garantia que se reveste de caráter absoluto e possa
ser exercido incondicionalmente em detrimento da ordem pública ou
com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, estabelecendo a
própria Constituição da República restrições às liberdades públicas
visando a assegurar a sua coexistência harmoniosa com o interesse
social envolvido.

Neste contexto, todos os direitos e garantias são, de certo


modo, limitados, o que legitima os órgãos estatais a adotarem medidas
restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, em caráter
excepcional, desde que respeitados os termos estabelecidos pela
própria Carta Magna.

Desse modo, não obstante toda proteção jurídica conferida aos


direitos à comunicação e à privacidade, preocupou-se o legislador, de
outra banda, em evitar que, sob essa cortina protetiva, ilícitos fossem
praticados impunemente.

A guarida dada pelo ordenamento jurídico pátrio, portanto, não


é obstáculo para que, em determinadas situações e observados os
requisitos legais, seja requisitado, pelas autoridades judiciais, o
136
fornecimento dos registros e dados pessoais produzidos, armazenados
ou transmitidos no meio digital para a formação do conjunto probatório
dos autos (art. 22 do MCI).

Não se ignora, por outro lado, que os dados e registros


telefônicos e telemáticos armazenados digitalmente ou fisicamente
estejam agasalhados pelo direito à privacidade previsto no art. 5º, X,
da CRFB. Neste sentido, inclusive, já decidiu a Segunda Turma do
Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC nº 168.052-SP, de
relatoria do Ministro Gilmar Mendes, cuja ementa transcreve-se:

Habeas corpus. (...) 2. Acesso a aparelho celular por policiais sem


autorização judicial. Verificação de conversas em aplicativo
WhatsApp. Sigilo das comunicações e da proteção de dados. Direito
fundamental à intimidade e à vida privada. Superação da
jurisprudência firmada no HC 91.867/PA. Relevante modificação das
circunstâncias fáticas e jurídicas. Mutação constitucional.
Necessidade de autorização judicial. 3. Violação ao domicílio do
réu após apreensão ilegal do celular. 4. Alegação de fornecimento
voluntário do acesso ao aparelho telefônico. 5. Necessidade de se
estabelecer garantias para a efetivação do direito à não
autoincriminação. 6. Ordem concedida para declarar a ilicitude das
provas ilícitas e de todas dela derivadas. (grifei)

Sucede que esse entendimento ainda não está pacificado no


âmbito da Suprema Corte e foi reconhecida a repercussão geral da
matéria (Tema 977) no RE nº 1.042.075-RJ, de relatoria do Ministro
Dias Toffoli.

137
Independentemente do resultado do julgamento e do
entendimento a ser firmado acerca do alcance do direito à privacidade
dos titulares dos registros e dados pessoais armazenados, certo é que
não há nenhuma posição contrária ao seu fornecimento mediante
ordem judicial, inclusive em processos de natureza não-penal (arts. 7º,
III, e 22 da Lei nº 12.965/2014).

f) Proteção à privacidade e intimidade do titular dos


dados por terceiro, recusa no seu fornecimento, dever de
cooperação e aplicação de multa diária

O Marco Civil da Internet (MCI) e a Lei Geral de Proteção de


Dados Pessoais (LGPD) impõem, aos provedores de conexão e de
aplicações de internet, bem como a toda pessoa natural ou jurídica que
realize operações de tratamento de dados, a responsabilidade pela
guarda, privacidade e intimidade dos usuários dos serviços (arts. 3º,
III, 7º, VII, 10, 11 e 16 da Lei nº 12.965/2014) e dos titulares dos
dados pessoais (arts. 2º, I e IV, 3º, 17 e 42 da Lei nº 13.709/2018).

Ao utilizarem os serviços oferecidos, os usuários não transferem


a propriedade ou o monopólio desse conjunto de informações ao
controlador responsável pela sua guarda, permanecendo aqueles como
únicos titulares dos seus dados pessoais (art. 17 da LGPD). No máximo
autorizam a sua utilização ou compartilhamento pelo controlador (art.
5º, VI e IX, da LGPD), mediante prévio e expresso consentimento (art.
7º, § 5º, da LGPD).

O controlador, portanto, não detém nenhuma legitimidade para


atuar em juízo, na defesa da privacidade do usuário titular das
informações, como representante ou substituto processual deste, pois
a lei não lhe confere tal qualidade (art. 18 do CPC).

138
Do mesmo modo, não pode o controlador se recusar a fornecer
os dados produzidos, armazenados ou transmitidos pelos usuários sob
o falso pretexto da proteção dos dados pessoais, pois essa escusa não
se insere em nenhuma das hipóteses previstas no art. 404 do CPC.

Somente o titular dos dados pessoais requisitados que se sentir


lesado pela ordem judicial poderá manejar as medidas processuais
adequadas para cassar a determinação do juiz.

O dever de cooperação previsto no art. 6º do CPC abrange não


apenas as partes, mas também todos aqueles que, de alguma forma,
participam do processo, ainda que na condição de terceiro. Dele
decorrem os deveres de auxílio, consistente no pronto atendimento da
ordem judicial pelo seu destinatário, e de informação, caso este não
possa comprovadamente cumprir a decisão.

É dever do controlador, na condição de terceiro, apenas dar


cumprimento exato à ordem judicial, não criando embaraços à sua
efetivação, sob pena de sua conduta caracterizar crime de
desobediência (art. 330 do CP) e ato atentatório à dignidade da justiça
(art. 77, IV e § 2º, do CPC), com aplicação de multa coercitiva pela
demora ou descumprimento (arts. 139, IV, c/c 537 do CPC).

Neste sentido é a jurisprudência pacífica do STJ:

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. QUEBRA DE SIGILO


TELEMÁTICO. LEGALIDADE E VALOR DA MULTA. DECADÊNCIA.
APLICAÇÃO DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO
JUDICIAL PARA TERCEIROS FORNECER INFORMAÇÕES.
POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. Ocorreu a decadência
do mandado de segurança no tocante à legalidade e ao valor da
multa imposta pela autoridade coatora, considerando que
transcorreu prazo superior a 120 dias, conforme dispõe o art. 23 da
Lei n. 12.016/2009, entre a impetração do mandamus - outubro de
2016 - e a prolação da decisão impugnada - dezembro de 2015. 2.
A jurisprudência deste Sodalício admite a aplicação de multa em
decorrência do descumprimento de ordem judicial para terceiro
fornecer informações referentes à movimentação da conta de
usuários de rede social, ou qualquer outro aplicativo de internet,
mesmo que os dados fiquem armazenados em computadores
localizados no exterior. Recurso em mandado de segurança
desprovido. Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
139
partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma
do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no julgamento, por
unanimidade, negar provimento ao recurso. Os Srs. Ministros Felix
Fischer, Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro Dantas
votaram com o Sr. Ministro Relator. SUSTENTOU ORALMENTE NA
SESSÃO DE 11/9/2018: DR. LEONARDO MAGALHÃES AVELAR
(P/RECTE). (STJ - RMS 53757/RS 2017/0074467-5, Relator:
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK (1183), Data do Julgamento:
18/10/2018, Data da Publicação: 05/11/2018, T5 - QUINTA TURMA)

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. QUEBRA DE


SIGILO TELEMÁTICO. ORDEM JUDICIAL DETERMINANDO A
PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES RELATIVAS A CONTA DE USUÁRIO
DO APLICATIVO FACEBOOK. DESCUMPRIMENTO. FIXAÇÃO DE
MULTA. POSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO DE ACORDO COM
A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. FUNDAMENTOS NÃO
INFIRMADOS. VALOR EXACERBADO. NÃO OCORRÊNCIA.
EXECUÇÃO. TEMA NÃO ENFRENTADO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A questão relativa à
aplicação de multa por descumprimento de ordem judicial
consistente na falta de prestação de informações relativas à
movimentação de conta de usuário do aplicativo Facebook foi
decidida pelo Tribunal local de acordo com o entendimento
jurisprudencial desta Corte (Precedente: Inq 784/DF, Relatora
Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, 28/08/2013). 2. No caso, as
razões recursais buscam discutir a controvérsia sob o enfoque da
legalidade da decisão que determinou a quebra do sigilo telemático
no processo penal, deixando de refutar os fundamentos da Corte
Regional para denegar a ordem tendo em vista o descumprimento
de decisão judicial, circunstância que atrai a incidência do disposto
nos enunciados nº 283 e 284 da Súmula do Supremo Tribunal
Federal. 3. Não há falar em valor exacerbado e arbitrário da multa
diária imposta ao recorrente (R$ 10.000,00 - dez mil reais,
inicialmente, majorados para R$ 20.000,00 - vinte mil reais), pessoa
jurídica de elevado poder econômico. 4. A questão relativa à
impossibilidade de execução da sanção em sede de inquérito policial
não foi apreciada pelo acórdão regional, não tendo o recorrente
sequer se insurgido na via aclaratória, daí porque não pode ser
examinada nesta oportunidade sobre pena de supressão de
instância. 5. Recurso ordinário a que se nega provimento. Vistos,
relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça: A Sexta Turma, por maioria, negou provimento
ao recurso em mandado de segurança, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora. Vencidos os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz e
Nefi Cordeiro. Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior e Antonio
Saldanha Palheiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. (STJ - RMS
54444 / RJ 2017/0149824-1, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA (1131), Data do Julgamento: 12/09/2017, Data da
Publicação: 13/10/2017, T6 - SEXTA TURMA)

140
O Decreto nº 8.771/2016, inclusive, determina a manutenção
dos registros e dados pessoais em formato interoperável e
estruturados para facilitar o acesso decorrente da decisão judicial (art.
15).

g) Algoritmo e proteção ao segredo comercial e industrial

Merece especial destaque a determinação da realização de


perícia cujo objeto é o próprio algoritmo de uma determinada empresa.

Trata-se de questão complexa que envolve uma aparente


colisão entre os princípios constitucionais do valor social do trabalho e
da livre iniciativa (art. 1º, III, da CRFB), do direito à informação (art.
5º, XIV, da CRFB) e da proteção ao segredo comercial e industrial (art.
5º, XXIX, da CRFB).

Primeiramente, necessário compreender o que é um algoritmo


e entender como eles funcionam. Segundo FREITAS132:

“Na Ciência da Computação, um algoritmo é uma sequência finita


de ações executáveis que visam obter uma solução para um
determinado tipo de problema. Algoritmos devem ser: precisos, não
ambíguos, mecânicos, eficientes e corretos. São formados por uma

132 FREITAS, Cinthia O. A. A obscuridade dos algoritmos. INPD, 2020. Disponível em:
https://www.inpd.com.br/post/a-obscuridade-dos-algoritmos-e-a-lgpd. Acessado em 30/05/2021, às
17h22 (UTC-4)
141
sequência de instruções, raciocínios e/ou operações (de atribuição,
aritméticas, lógicas, relacionais).”

E prossegue FREITAS133:

Há que se entender: Para qual problema o algoritmo foi


desenvolvido? Quais operações são realizadas? (aritmética, lógica,
relacional)? Quais dados são utilizados? Quais as relações entre
conjuntos de dados? E, portanto, há que se saber trabalhar com
operações de conjuntos (união, interseção, inclusão, diferença,
complemento, exclusão, pertencimento, contém/contido).
(...)
É preciso compreender que os algoritmos operam sobre dados e
podem: ordenar, classificar, minerar, descobrir conhecimento,
agrupar clientes, estabelecer o perfil (profiling), conhecer gostos e
preferências, conhecer qual o comportamento na rede (behavourial
tracking), rastrear contatos em tempos de pandemia (contact
tracing) (FREITAs et al., 2020), indicar produtos, recomendar,
reconhecer faces, reconhecer emoções, recuperar informações,
tomar decisões: aritméticas, lógicas, relacionais, estatísticas e
probabilísticas. Portanto, é importante que os titulares de dados
(artigo 18, LGPD) compreendam que os algoritmos mantêm
informações longe de nós por meio de bolhas informacionais
(PARISER, 2019). Além disto, podem ser aplicados em situações
subjetivas, mesmo que o titular de dados desconheça, a exemplo
da contratação de pessoas (Qual é o/a melhor candidato/a para a
vaga?).
Problemas complexos não tem resposta binária (sim ou não), por
isso se entendermos que “Em oposição aos seres humanos, os
computadores não têm preferências nem atitudes. Se um modelo
preditivo for corretamente projetado, ele será imparcial e não
conterá vieses.” (FREITAS; BARDDAL, 2019, p. 111). Mas como os
algoritmos podem conter vieses (biases)? Os algoritmos são criados
por seres humanos e podem assim ser igualmente tendenciosos a
partir das bases de dados utilizadas nas etapas de treinamento e
validação de modelos (matemáticos ou probabilísticos). Há que se
lembrar que algoritmos andam de mãos dadas com a
complexidade.”

A crescente utilização de algoritmos pelas empresas visando


vantagens econômicas e a obscuridade por trás das decisões
automatizadas deles resultantes, muitas vezes carregadas de vieses,
não foi ignorada pelo legislador, que conferiu ao titular dos dados
pessoais o direito subjetivo de requerer a sua revisão (art. 20, caput,

133 Idem
142
da LGPD) e a obrigação do controlador de fornecer informações claras
e adequadas sobre os critérios e procedimentos utilizados, respeitados
os segredos comercial e industrial (art. 20, § 1º, da LGPD).

Assim, embora não paire dúvidas de que o algoritmo esteja


protegido por segredo comercial e industrial, essa proteção não é
absoluta e tanto a LGPD obriga o fornecimento de informações claras
e adequadas sobre os critérios e procedimentos utilizados para a
tomada de decisões automatizadas, quanto a Lei nº 9.279/1996, em
seu art. 206, autoriza a sua revelação em juízo, exigindo-se apenas
que o processo tramite em segredo de justiça e os dados não sejam
utilizados para outras finalidades.

h) Extraterritorialidade e aplicação da lei brasileira

O ordenamento brasileiro confere especial relevância ao lugar


onde ocorreram os fatos jurídicos para fixação do local de cumprimento
das obrigações, da localização de imóveis, do domicílio das pessoas
naturais e da sede das pessoas jurídicas; interpretação e execução dos
negócios jurídicos; definição da competência jurisdicional territorial,
além de disciplinar diversas outras questões materiais e processuais
afins buscando conferir maior segurança jurídica às relações sociais.

Ocorre que a transformação digital e a globalização modificaram


o conceito de espaço na Sociedade 4.0, conferindo-lhe uma dimensão
digital marcada pelo rompimento dos limites geográficos existentes e
pelo fenômeno da desterritorialização virtual.

Não raras vezes as empresas provedoras de aplicações de


internet nas quais os fatos ocorreram não estão sediadas no Brasil ou
em um único país estrangeiro, espalhando-se por diversos territórios,
o que acaba dificultando a repressão de ilícitos praticados na rede
mundial de computadores.

143
Preocupado com essa realidade, o legislador determinou a
obrigatoriedade de observância do Marco Civil da Internet “em
qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de
registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de
conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses
atos ocorra em território nacional” (art. 11 da Lei nº 12.965/2014).

No mesmo sentido determinou a aplicação da Lei Geral de


Proteção de Dados Pessoais “a qualquer operação de tratamento
realizada por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público
ou privado, independentemente do meio, do país de sua sede ou do
país onde estejam localizados os dados” (art. 3º da Lei 13.709/2018).

O alcance extraterritorial dos referidos diplomas normativos é


de fundamental importância, pois submetem todas as pessoas naturais
e jurídicas, ainda que residentes ou sediadas no exterior, à jurisdição
nacional.

Assim, qualquer empresa integrante de um mesmo grupo


econômico, ainda que estrangeiro, constituída nos termos da legislação
brasileira e cuja administração esteja localizada no País, é considerada
nacional (art. 1.126 do CC) e domiciliada no Brasil (art. 75, IV, do CC),
sujeitando-se ela, portanto, à competência da autoridade judiciária
brasileira (art. 21, I, do CPC).

O mesmo raciocínio se aplica à pessoa jurídica estrangeira que


tiver agência, filial ou sucursal no Brasil (art. 21, parágrafo único, do
CPC).

Por fim, é preciso tecer algumas considerações acerca da


necessidade ou não de utilização compulsória do Acordo de Assistência
Judiciária em Matéria Penal, também conhecido pela sigla MLAT,
promulgado pelo Decreto nº 3.810/2001, quando se tratar de pessoa
jurídica sediada no Estados Unidos da América.

144
A nosso sentir, essa imposição é absolutamente descabível
quando:

a) houver empresa do mesmo grupo econômico constituída nos


termos da legislação brasileira, agência, filial ou sucursal de pessoa
jurídica estrangeira aqui estabelecida;

b) existir meios mais céleres para atendimento da ordem


judicial e uso de outros instrumentos para produção de provas em
conformidade com as leis nacionais (Artigo XVII do MLAT).

c) ocorrer qualquer uma das hipóteses previstas nos referidos


diplomas legais em território brasileiro ou, se no estrangeiro, tenham
por objetivo indivíduos localizados no Brasil (art. 11 do MCI).

i) Pressupostos legais para produção da prova digital

O Marco Civil da Internet estabelece três pressupostos para


admissibilidade da produção da prova digital, compreendendo os
registros e, analogicamente, os dados pessoais (art. 22, parágrafo
único):

a) fundados indícios da ocorrência do ilícito, isto é, comprovada


demonstração da sua necessidade;

b) justificativa motivada da utilidade dos registros e dados


pessoais solicitados para fins de investigação ou instrução probatória,
evidenciando a sua indispensabilidade; e

c) período ao qual se referem os registros e dados pessoais,


visando a garantir a privacidade e intimidade do titular.

4.7. ÔNUS DA PROVA DIGITAL


O ônus da prova tem duplo sentido. Um subjetivo, voltado às
partes em litígio, como atividade probatória e encargo que elas

145
suportarão em caso de não desincumbência. Outro objetivo,
direcionado ao juiz, quando a prova for inexistente, insuficiente ou
“dividida”, para orientar a sua decisão, pois vedado o non liquet.

Tradicionalmente, a distribuição do ônus da prova no processo


do trabalho é estática (art. 818, I e II, da CLT), incumbindo-se ao autor
provar o fato constitutivo de seu direito e ao réu provar o fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito daquele.

No tocante à arguição de inautenticidade ou falsidade da prova


digital, o ônus é da parte que produziu o documento, na primeira
hipótese, e da parte que a arguiu, na segunda (art. 429, I e II, do
CPC).

Esse conceito rígido, contudo, foi atualmente flexibilizado pela


teoria da aptidão para a prova e atribuição desse encargo de modo
diverso do tradicional.

4.7.1. DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA DIGITAL


Se já não eram raros os casos em que a parte, incumbida pela
lei do ônus probatório, encontrar-se em condições desfavoráveis a
demonstrar da verdade acerca dos fatos alegados, esse abismo só
aumentou com a introdução da tecnologia nas relações sociais, a falta
de educação digital e a utilização de provas produzidas nesse meio nos
processos.

O critério mais flexível adotado pelo Código de Processo Civil e,


posteriormente, replicado pela Consolidação das Leis do Trabalho,
denominado pela doutrina como ônus dinâmico da prova, surge como
importante mecanismo apto a garantir a efetiva isonomia processual
entre os litigantes.

146
A distribuição dinâmica desse encargo foi expressamente
admitida no direito processual contemporâneo baseada na teoria da
maior aptidão para a prova, podendo o ônus probatório ser atribuído à
parte que, por dever de cooperação, possuir melhores condições de
trazer para o processo elementos relevantes e adequados para
demonstrar a verdade dos fatos e viabilizar um julgamento mais justo
(art. 818, § 1º, da CLT e art. 373, § 1º, do CPC), excetuando-se as
hipóteses em a desincumbência seja impossível ou excessivamente
difícil (art. 373, § 2º, do CPC).

A LGDP também abraçou expressamente essa teoria no art. 42,


§ 2º, ao admitir a inversão do ônus da prova a favor do titular dos
dados pessoais quando for verossímil a alegação, houver
hipossuficiência na produção da prova ou esta lhe resultar
excessivamente onerosa.

Em síntese, poderá o juiz, mediante decisão fundamentada,


atribuir o ônus da produção da prova digital a quem detiver melhores
condições técnicas e financeiras de fazê-la.

4.8. FORÇA PROBANTE DA PROVA DIGITAL


A força probante da prova digital dependerá da sua origem e da
observância dos seus requisitos de autenticidade, integridade e cadeia
de custódia já examinados nos tópicos anteriores.

4.8.1. DOCUMENTO ELETRÔNICO OU DIGITAL


O documento eletrônico ou digital público autêntico faz prova
da sua origem e dos fatos nele declarados desde que ocorridos na

147
presença das pessoas ou órgãos aos quais a lei confere fé pública (art.
405 do CPC).

O documento eletrônico ou digital particular autêntico faz prova


da declaração nesse contida, mas não dos fatos nele cientificados (art.
408 do CPC).

Será considerado autêntico o documento eletrônico ou digital


público ou privado quando não for impugnado pela parte contra quem
foi produzido (art. 411, III, do CPC) ou quando a autoria estiver
identificada por qualquer meio legal de certificação, conforme
estabelece o art. 10 da Medida Provisória 2.200-2/2001, utilizando-se:

a) o processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil;

b) outro meio de comprovação da autoria e integridade,


inclusive os que utilizem certificados não emitidos pela ICP-Brasil,
desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa
contra quem for oposto o documento.

4.8.2. DOCUMENTO DIGITALIZADO


A digitalização de um documento físico para ser juntado ao
processo eletrônico não o desnatura, pois o original foi produzido em
148
suporte físico e deve, inclusive, ser preservado até o trânsito em
julgado ou, se for o caso, até o final do prazo para ajuizamento de ação
rescisória (art. 11, § 3º, da Lei nº 11.419/2006 c/c art. 425, § 1º, do
CPC).

É de se indagar, entretanto, se as referidas regras processuais


foram derrogadas pelo art. 3º, X, da Lei nº 13.874/2019, que além de
autorizar o arquivamento de qualquer documento em meio digital,
também permitiu o descarte do documento físico ao final do processo
de digitalização efetuado conforme previsto nos arts. 4º e 9º do
Decreto nº 10.278/2020.

4.8.3. ATA NOTARIAL DE FATO DIGITAL


A ata notarial assumiu a condição de meio de prova típico com
o advento do Código de Processo Civil de 2015, cuja finalidade é
documentar ou atestar “a existência e o modo de existir de algum fato”,
mediante ata lavrada pelo tabelião a partir da sua observação
presencial e pessoal, podendo conter, inclusive, imagem ou som
gravados em arquivos eletrônicos (art. 384).

Destaca ALVIM134:

“Trata-se, em verdade, de um misto de documento público e


testemunho oficial do tabelião, que pode conter a apreensão de
fatos ou dados, tais como: (a) o conteúdo de sites da Internet; (b)
o conteúdo de programas de televisão; (c) quaisquer outros dados
representados por som ou imagem gravados em arquivos
eletrônicos (art. 384, parágrafo único, do CPC/2015); (d) estado do
imóvel no momento da vistoria etc.”

A ata notarial goza de presunção relativa de autenticidade e


integridade da prova digital, não impedindo que o fato nela relatado

134 Ibidem, p. 878


149
possa ser infirmado por outros meios probatórios e que seja
devidamente valorada pelo juiz.

4.8.4. PROVA PERICIAL ELETRÔNICA OU DIGITAL


A prova pericial é um meio de prova típico (arts. 464 a 480 do
CPC) que tem dois objetivos principais:

a) verificar a autenticidade, integridade e cadeia de custódia da


prova digital produzida pela própria parte;

b) identificar, coletar, adquirir e preservar a prova digital obtida


de fontes abertas e fechadas ou de equipamentos e dispositivos
eletrônicos e informáticos, transportando os fatos para dentro do
processo através de um trabalho técnico especializado visando a torná-
lo compreensível e inteligível ao juiz.

A prova pericial eletrônica ou digital consistirá em exame,


vistoria ou avaliação e poderá ser indeferida quando “a prova do fato
não depender de conhecimento especial de técnico”; “for desnecessária
em vista de outras provas produzidas”; ou “a verificação for
impraticável” (art. 464, § 1º, do CPC).

Deverá ela ser produzida observando-se os requisitos da prova


digital, sob pena invalidade e ineficácia como meio probatório.

Segundo THAMAY e TAMER135, a compreensão técnica do fato


depende da explicação do perito sobre (i) como funciona a tecnologia
utilizada (dispositivos eletrônicos e informáticos, computação em
nuvem, blockchain, certificação ICP-Brasil etc.) e (ii) como a ela foi
utilizada para a prática do fato e suas circunstâncias.

135 Ibidem, p. 158


150
A prova pericial também tem presunção relativa de veracidade,
competindo ao juiz, ao apreciá-la, indicar na sentença os motivos que
o levaram a considerar ou não as conclusões do laudo, levando em
conta o método utilizado pelo perito (art. 479 do CPC).

4.8.5. PROVA DIGITAL EMPRESTADA


O aproveitando da “prova emprestada” foi admitido pelo Código
de Processo Civil de 2015 em seu art. 372 de forma genérica e ampla,
não havendo óbice a sua utilização para a prova digital, devendo
apenas ser observada a licitude na sua obtenção no feito originário
(art. 5º, LVI, da CRFB), garantido o contraditório no processo para o
qual foi importada136 e assegurado eventual sigilo dos dados.

Se, por exemplo, for necessária à produção antecipada de prova


em face de um provedor de conexão ou de aplicações de internet para
obtenção de um endereço de IP, data e hora de acesso, a ação
originária servirá justamente para posterior identificação do usuário
que praticou o fato jurídico. Nesta hipótese, este não constará no polo
da relação processual em que a prova foi produzida, nada obstando,
contudo, que ela seja usada em eventual ação futura.

4.9. VALORAÇÃO DA PROVA DIGITAL


É importante lembrar que no sistema processual brasileiro as
provas não possuem hierarquia ou valor determinado, sendo
apreciadas no contexto e de forma conjunta.

O magistrado tem a liberdade para sopesar e valorar as provas


produzidas no curso do processo, conforme seu livre convencimento

136 STJ. REsp nº 1.561.021-RJ, 6ª Turma, Relator Ministro Sebastião Reis Junior. Data do Julgamento:
03/12/2015. Data da Publicação: 25/04/2016.
151
motivado, e proferir sua decisão acolhendo ou rejeitando
fundamentadamente os pedidos.

Embora a prova digital possa oferecer inúmeras opções e


possibilidades às partes na comprovação de fatos e, observadas
determinadas cautelas, retratá-los com um grau de confiabilidade
maior do que o documento físico jamais foi capaz de propiciar,
paradoxalmente, ela também é, assim como qualquer outro meio
probatório, susceptível à falsidade, tanto ideológica, quanto material,
já que as informações armazenadas em suporte eletrônico ou digital
são passíveis de adulterações, muitas vezes indetectáveis.

Essa falsa contradição enseja a oscilação da doutrina e da


jurisprudência entre extremos, desde a absoluta desconfiança e
objeção a esse meio probatório, até a crença excessiva e desatenta
aos atributos de validade necessários e específicos de cada fonte de
prova digital.

Somente com a familiarização e compreensão acerca dos


aspectos técnico-jurídicos da prova digital poderá ser superada essa
aparente incongruência, devendo-se ter em mente que nem sempre
esse meio de prova possibilitará, por si só e diretamente, o
descobrimento do fato ocorrido no mundo real ou no meio digital,
necessitando muitas vezes ser analisada de forma indireta e
complementada por outros elementos indutivos extraídos do conjunto
probatório e do contexto da lide.

Esse exercício cognitivo é que nos permitirá concluir quando a


prova digital será válida e qual a sua força probante para influenciar
eficazmente na formação do convencimento do magistrado.

152
AULA 5 - OBTENÇÃO E ANÁLISE DE PROVAS DIGITAIS
EM FONTES ABERTAS E FECHADAS

5.1. INTRODUÇÃO
Se os fatos jurídicos vêm ocorrendo com frequência cada vez
maior no contexto específico e especializado do Mundo Digital e seus
registros já há algum tempo começaram a aparecer nos processos
judiciais, ainda que sem o rigor técnico necessário no momento da sua
coleta até a apresentação nos autos, passou a ser exigido dos
magistrados e magistradas conhecimentos técnicos mínimos da
tecnologia por trás de cada espécie de prova digital, pois é impensável
dissociar a produção, análise e valoração jurídica desse meio atípico de
prova dos aspectos técnicos ínsitos a cada uma delas.

Não apenas em razão da volatilidade do meio digital, mas


porque os dados e os metadados podem ser facilmente alterados,
adulterados, suprimidos, inseridos e/ou corrompidos, ainda que a
espoliação seja involuntária.

É preciso utilizar, portanto, um sistema técnico-científico-


informacional que garanta, desde a coleta da prova digital até sua
apresentação no processo, os requisitos de autenticidade, integridade
e cadeia de custódia para que seja ela considerada válida e eficaz a
influenciar no convencimento do juiz, a quem competirá, em última
análise, interpretá-la e valorá-la, não isoladamente, mas de acordo
com o conjunto probatório dos autos.

Neste capítulo serão apresentados alguns conceitos básicos


essenciais para melhor compreensão dos aspectos técnicos das provas
digitais, assim como algumas plataformas de trabalho e ferramentas
disponíveis em fontes abertas e fechadas para auxiliar os alunos-juízes
na sua obtenção, produção, análise e valoração.

153
5.2. INTERNET

5.2.1. A HISTÓRIA DA INTERNET


No Mundo pós Segunda Guerra Mundial dividido em dois
grandes blocos geopolíticos (ocidente e oriente) e econômicos
(capitalismo e socialismo) liderados, respectivamente, por Estados
Unidos e União Soviética, a disputa pela hegemonia político-ideológica
mundial não se limitou aos confrontos armamentistas estimulados com
a criação da OTAN (1949) e o Pacto de Varsóvia (1955), mas,
sobretudo impulsionou uma corrida científica e tecnológica entre essas
duas superpotências jamais vista até então.

Em 1958, como reação ao lançamento do Satélite Sputnik


pelos soviéticos no ano anterior, o Governo dos Estados Unidos criou a
ARPA (Advanced Research Projects Agency), atualmente denominada
DARPA, agência vinculada ao Departamento de Defesa que tinha por
objetivo desenvolver pesquisas para o serviço militar visando a manter
a superioridade tecnológica americana e conter o avanço do inimigo.

No auge da Guerra Fria havia um grande temor dos Estados


Unidos de sofrer ataques da União Soviética, o que acabou estimulando
a idealização de um sistema de comunicação e defesa que permitisse
a conexão, transmissão e o armazenamento de dados militares de
forma descentralizada e ao mesmo tempo possibilitasse a interligação
dos vários centros de pesquisa para troca e compartilhamento de
informações e recursos.

Em 1969 foi criada a ARPANET (Advanced Research Projects


Agency Network), precursora da internet como hoje a conhecemos,
que estabeleceu a sua primeira conexão entre a Universidade da
Califórnia em Los Angeles (UCLA) e o Instituto de Pesquisa de Stanford,
enviando o primeiro e-mail da história. Pouco mais de um mês depois,

154
foi criada uma rede de 4 nós com a adição da Universidade de Utah e
a Universidade da Califórnia.

Em 1970 foi criado o Network Control Protocol (NCP) para


permitir o desenvolvimento de aplicativos a partir dos computadores
conectados à ARPANET, alcançando a rede 13 nós.

Em 1971 foram definidos os protocolos para acesso de


terminal remoto (Telnet) e para a transferência de arquivos (FTP),
atingindo a rede 18 nós.

Em 1972 foi criado o primeiro software básico de e-mail, que


se tornou o aplicativo mais importante daquela década e transformou
a forma de comunicação e colaboração entre as pessoas. As ligações
da ARPANET, à época, usavam linhas telefônicas dedicadas à
velocidade de 56 Kbps.

Seu impacto foi tão significativo que a ARPANET se afastou


gradativamente do uso militar e se aproximou do uso científico na
disseminação de informações, expandindo-se rapidamente para
alcançar 40 nós em 1973 e realizar a primeira conexão internacional
da rede com Inglaterra e Noruega.

Apesar do seu sucesso, com o exponencial e acelerado


aumento do número de conexões, o protocolo NCP revelou-se
insuficiente para estabelecer a comunicação com redes ou máquinas
fora da interface da ARPANET, como pacotes por rádio ou satélite,
motivando o desenvolvimento de uma nova versão de protocolo que
respondesse a um ambiente de arquitetura aberta, surgindo o
Transmission Control Protocol (TCP) em 1974.

A ARPANET espalhava-se rapidamente e em 1981 tinha 200


nós, com um novo computador se juntando a ela a cada 20 dias,
atingindo 563 nós em 1983, ano em que foram estabelecidos os novos

155
protocolos de comunicação em rede até hoje utilizados, o TCP e o IP,
conhecidos como TCP/IP.

Mas afinal de contas, o que significa TCP/IP e para que ele


serve?

5.2.2. TCP/IP
O que significa TCP/IP?

TCP significa Protocolo de Controle de Transmissão


(Transmission Control Protocol).

IP significa Protocolo de Internet (Internet Protocol).

Juntos eles deram origem ao TCP/IP.

Ninguém duvida que um computador individual pode


executar diversas tarefas, mas o seu real poder se revelou quando eles
passarem a se integrar e se comunicar em rede.

Hoje, quando pensamos em computadores e nas suas


múltiplas funções, a primeira ideia que nos vem à mente é justamente
a possibilidade de conexão com outros computadores interligados
numa rede mundial.

Esses computadores podem ser de diferentes empresas,


estarem localizados em várias partes do mundo, utilizar diferentes
linguagens humanas e de computador e ainda assim estabelecer uma
comunicação. Mas, como isso é possível?

Nos anos que antecederam a internet como a conhecemos


atualmente, a comunicação entre computadores era mais complicada,
pois cada fabricante tinha sua própria maneira de fazer seus
computadores se comunicarem, o que muitas vezes impedia a
comunicação com computadores de outros fabricantes.

156
Com o crescimento exponencial da ARPANET e o aumento do
número de computadores conectados à rede, logo ficou claro que era
necessário estabelecer um padrão que permitisse que computadores
de todos os fabricantes se comunicassem entre si.

Para que isso acontecesse, os computadores precisariam


saber, com antecedência, como eles deveriam se comunicar.

Como se iniciaria a conversa?

De quem era a vez de se comunicar?

Como cada computador saberia que sua mensagem foi


transmitida e recebida corretamente?

Como terminar a conversa?

Para isso, os computadores usam protocolos.

Sem eles, seria o caos.

O que é um protocolo?

Protocolo é um conjunto de regras combinadas.

Em termos humanos, usamos protocolos sociais para saber


como nos comportar e nos comunicar com outras pessoas.

Os computadores funcionam da mesma forma, mas com


regras mais rígidas, pois apenas quando usam o mesmo protocolo
ocorre a comunicação.

Em termos técnicos, “protocolo é uma convenção que


controla e possibilita uma conexão, comunicação, transferência de
dados entre dois sistemas computacionais, podendo ser definido como
‘as regras que governam’ a sintaxe, semântica e sincronização da

157
comunicação por meio de hardware, software ou por uma combinação
dos dois”137.

Traduzindo, o protocolo é uma linguagem que possibilita dois


ou mais computadores ou dispositivos conversarem entre si.

O Modelo OSI (Open System Interconnection), formalizado


em 1983 pela Organização Internacional de Normalização ou
Padronização, popularmente conhecida como ISO (International
Organization for Standardization), teve por objetivo padronizar
mundialmente esses protocolos de comunicação entre computadores
conectados a uma rede e possibilitar que diferentes fabricantes
produzissem equipamentos que se comunicassem entre si. Segundo
esse modelo, foram estabelecidas 7 camadas (layers) hierárquicas
empilhadas da seguinte forma:

• Camada 7: Aplicação;

• Camada 6: Apresentação;

• Camada 5: Sessão;

• Camada 4: Transporte;

• Camada 3: Rede;

• Camada 2: Enlace de dados;

• Camada 1: Física.

137 Disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_(ci%C3%AAncia_da_computa%C3%A7%C3%A3o). Acesso em
01/08/2021.

158
Autor desconhecido

E o que é o TCP/IP?

O TCP/IP é um conjunto de regras padronizadas (protocolos)


que permitem que computadores ou dispositivos se comuniquem em
uma rede local ou na internet.

Certo, mas o que o TCP/IP faz exatamente? Como ele


funciona?

O TCP/IP foi desenvolvido para padronizar como os


computadores transferem dados de um dispositivo para outro,
enfatizando a precisão e garantindo que os dados sejam transmitidos
corretamente.

159
Uma das principais funções do TCP/IP é quebrar cada
mensagem em pacotes, que são juntados no destino, evitando assim
que eventual problema no envio exija o reenvio da mensagem inteira
e tornando a transferência mais rápida, pois cada pacote pode chegar
até o outro computador por uma rota diferente caso a primeira não
estiver disponível ou estiver congestionada.

Disponível em https://www.avast.com/pt-br/c-what-is-tcp-ip#topic-3. Acesso em 01/08/2021.

Além disso, o TCP/IP separa as diferentes tarefas de


comunicação em camadas, cada qual com uma função diferente,
visando a manter a padronização convencionada. Os dados passam por
quatro camadas individuais antes serem recebidos na outra
extremidade, assim divididas:

• Camada 4: Aplicação – protocolos que realizam a


comunicação direta com o software para identificar o tipo
de requisição que está sendo realizada (p. ex. DNS, HTTP,
FTP, SMTP, SSH etc.);

• Camada 3: Transporte – protocolos responsáveis pela


comunicação entre os pontos (hosts) envolvidos que têm
por função garantir a sua confiabilidade e integridade,
verificando se o pacote chegou ao seu destino e se os dados
nele contidos são íntegros (TCP, UDP etc.);

160
• Camada 2: Internet – protocolos que identificam a origem
e o destino da conexão, direcionando o pacote de dados
através dos diversos roteadores existentes na rede até seu
destino (p. ex. ICMP, IGMP etc.);

• Camada 1: Acesso à Rede – protocolos responsáveis pela


identificação da conexão física da rede pela qual o pacote
trafega (p ex. Ethernet, Wi-Fi, modem discado, ATM, FDDI
etc.) e do endereço MAC do hardware que deu origem ao
envio do pacote (p ex. notebook, smarphone etc.).

Disponível em https://www.datarain.com.br/blog/tecnologia-e-inovacao/o-que-e-o-protocolo-tcpip/.
Acesso em 02/08/2021

Comparação entre o Modelo OSI e o TCP/IP.

161
Disponível em https://www.datarain.com.br/blog/qual-diferenca-entre-modelo-osi-e-modelo-tcpip/.
Acesso em 01/08/2021

O TCP/IP percorre essas camadas na ordem inversa para


juntar os pacotes e entregá-los ao destinatário.

Ah, ok, então TCP e IP são a mesma coisa?

Não. TCP e IP são dois protocolos de rede de computadores


distintos.

IP é o responsável por obter o endereço para o qual os dados


são enviados.

TCP é o responsável pela entrega dos dados assim que o


endereço IP for encontrado.

Pense no endereço IP como o número de telefone atribuído


ao seu smartphone e o TCP como a tecnologia que lhe permite
conversar com alguém em outro telefone. Ou imagine o endereço IP
como o automóvel e o TCP a rodovia que o levará ao destino
pretendido.

Embora diferentes, um não faz sentido sem o outro, por isso


a terminologia TCP/IP.
162
O que é um endereço IP?

Quando você deseja enviar uma carta a alguém... Ah, ok,


você não envia mais cartas, prefere mensagem de WhatsApp, recado
no Direct do Instagram ou publicação no Facebook. Tá certo, é bem
mais cômodo mesmo.

Então, vamos melhorar o exemplo.

O que você faz quando quer presentear alguém que mora em


outra cidade ou Estado e não pode fazê-lo pessoalmente? Há várias
formas, mas o jeito mais fácil é comprar pela internet e pedir para
entregar na casa da pessoa. Para que os Correios ou uma
transportadora façam a entrega você precisa informar o endereço do
destinatário.

Graças ao endereço é possível encontrar exatamente a


pessoa a ser presenteada. Também é graças a ele que você receberá
o boleto do cartão de crédito para pagamento da compra e a fatura da
sua operadora de internet.

Na comunicação em rede e na internet, o princípio é parecido.

Para que um dispositivo seja encontrado numa rede ou na


internet é preciso ter um endereço único. Cada dispositivo conectado
a uma rede ou à internet possui um número exclusivo que lhe é
atribuído, chamado de endereço IP, que não podem se repetir para que
a comunicação seja estabelecida.

Assim como o seu endereço residencial permite que as


pessoas saibam para onde enviar o seu cartão de aniversário, os
endereços IP identificam computadores e dispositivos numa rede ou na
internet e permitem que eles se comuniquem entre si.

163
Hum, se existe apenas um único endereço IP para cada
dispositivo conectado a uma rede ou à internet, quem gerencia
isso no Mundo?

Os blocos IP e ASNs são gerenciados e delegados por um


organismo central da internet chamado IANA (Internet Assigned
Numbers Authority– http://www.iana.org), que os distribui para
organizações regionais chamadas RIRs (Regional Internet Registry –
em tradução livre Registro Regional da Internet). Juntas elas compõem
uma organização denominada NRO (Number Resource Organization).
São elas:

• AFRINIC (African Network Information Centre –


https://www.afrinic.net/), responsável pela África e o
Oceano Índico;

• APNIC (Asia-PacificNetwork Information Center –


http://www.apnic.net), responsável pela Ásia e Pacífico;

• ARIN (American Registry for Internet Numbers –


http://www.arin.net), responsável pela América do Norte e
partes do Caribe;

• LACNIC (Latin-American and Caribbean IP Address


Registry – https://www.lacnic.net/) – América Latina e
partes do Caribe;

• RIPE NCC (Réseaux IP Européens Network Coordination


Centre – http://www.ripe.net), responsável pela Europa,
Oriente Médio e Ásia Central;

164
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Registro_Regional_da_Internet. Acesso
em 01/08/2021

Em alguns países, há organizações nacionais responsáveis


por gerenciar os endereços IP e ASNs, chamadas NIR (National
Internet Registry) ou, em tradução livre, Registros Nacionais de
Internet. Na América Latina, região do LACNIC, por exemplo,há dois
NIRs: o NIC.br, no Brasil, e o NIC México.

O que são bloco de endereços IP e ASN?

A internet é uma rede de redes, formada pela operação


conjunta de milhares de redes de diferentes instituições, como
provedores de internet, provedores de aplicações, universidades,
empresas, órgãos governamentais etc.

Cada uma dessas redes individuais que dão forma à internet


é denominada Sistema Autônomo (AS – Autonomous System em
inglês), que administra sua própria rede utilizando um ou mais bloco
de endereços IP a ela alocados por um RIR (Registro Regional da
Internet) ou NIR (Registro Nacional da Internet) e que define sua

165
política única e clara de roteamento à internet e uso do protocolo
dinâmico BGP (Border Gateway Protocol).

O BGP é o protocolo responsável por conectar as redes que


formam a internet.

ASN é um número de 16 bits ou 32 bits alocado por um RIR


ou NIR a um Sistema Autônomo que o identifica de forma única no
roteamento BGP.

Os provedores de conexão à internet usualmente são


Sistemas Autônomos, assim como órgãos do governo, universidades,
bancos, grandes empresas de e-commerce etc.

Bloco de endereços IP é um conjunto de vários endereços IP


alocados em feixes de intervalos não fragmentados a um Sistema
Autônomo ou a um usuário final.

Quem faz a distribuição e alocação dos blocos de


endereços IP e dos ASNs no Brasil?

No Brasil, compete ao Comitê Gestor Internet do Brasil


(CGI.br), criado pela Portaria Interministerial nº 147/1995 e membro
fundador da LACNIC, conforme regulamentado no Decreto nº
4.829/2003:

• estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e


desenvolvimento da Internet no Brasil;

• estabelecer diretrizes para a administração do registro de


Nomes de Domínio usando <.br> e de alocação de
endereços Internet (IPs);

• promover estudos e padrões técnicos para a segurança das


redes e serviços de Internet;

166
• recomendar procedimentos, normas e padrões técnicos
operacionais para a Internet no Brasil;

• propor programas de pesquisa e desenvolvimento


relacionados à Internet, incluindo indicadores e
estatísticas, estimulando sua disseminação em todo
território nacional;

• adotar os procedimentos administrativos e operacionais


necessários para que a gestão da Internet no Brasil se dê
segundo os padrões internacionais aceitos pelos órgãos de
cúpula da Internet, podendo, para tanto, celebrar acordo,
convênio, ajuste ou instrumento congênere.

Para a implementação das decisões e projetos do CGI.br foi


criado o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br,
pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com natureza
de associação e dotada de autonomia administrativa, patrimonial e
financeira, a quem foi conferida a atribuição de efetuar “o registro e
manutenção dos nomes de domínios que usam o <.br>, e a
distribuição de números de Sistema Autônomo (ASN) e endereços IPv4
e IPv6 no País, por meio do Registro.br”138.

Cabe ao Registro.br, departamento do NIC.br, portanto, a


distribuição de blocos de endereços IP e ASN no Brasil.

Ué, eu nunca contratei esse tal de Registro.br, então


como acesso à internet?

O NIC.br, por meio do Registro.br, distribui blocos de


endereços IP e os ASNs para os provedores de conexão à internet (ISP)
e outras grandes redes educacionais ou corporativas. Como esses

138 Disponível em https://nic.br/sobre/. Acesso em 02/08/2021

167
recursos são finitos, a distribuição se dá mediante alocação, que
consiste na atribuição temporária de um bloco de endereços IP ou de
um ASN a uma determinada organização, a qual deverá utilizá-los de
acordo com determinadas regras, sob pena de revogação e devolução
ao estoque do LACNIC.

As organizações que recebem os blocos de endereços IP e os


ASNs são classificadas pelo Registro.br como "ISP" (provedores de
serviços e acesso à Internet) ou como "Usuário Final", a depender da
destinação da alocação. Enquanto as ISPs recebem os recursos de
numeração para prestar serviços a terceiros, os usuários finais os
recebem para uso em suas próprias infraestruturas.

Ao receberem seus blocos de endereços IP, os provedores de


conexão à internet podem vender o serviço de acesso à rede mundial
de computadores no mercado de consumo.

É aí que você entra. Quando você contrata esse serviço não


adquire um endereço IP, até porque ele não pertence ao provedor, mas
apenas o direito de se conectar à internet utilizando um desses
endereços alocados à empresa e que lhe é fornecido temporariamente.

O endereço IP é um número ou um nome?

Internamente, os endereços IP são armazenados como


números em duas versões, IPv4 de 32bits ou IPv6 de 128 bits.

Os endereços IP, ainda, podem ser públicos ou privados,


estáticos ou dinâmicos.

Oi?

Um endereço IP é uma cadeia de números atribuída a um


computador ou dispositivo para identificá-lo numa rede ou na internet,

168
como o endereço da sua residência é identificado pelo nome da rua,
número da sua casa e/ou apto, cidade, estado e país. Enquanto seu
endereço residencial é usado para alguém lhe enviar uma carta, o
endereço IP é usado para enviar pacotes de dados que você solicitou.

O que é IP público e Privado?

IP privado é um endereço utilizado para identificação de um


dispositivo dentro de uma rede local (LAN). Eles não são roteados na
internet, não sendo possível o tráfego de dados fora da rede doméstica
ou comercial interna em que o dispositivo está conectado. Os
endereços IP privados reservados por grupo padrão são:

• Classe A: começa com 10.0.0.0 e termina com


10.255.255.255;

• Classe B: começa com 172.16.0.0 e termina com


172.31.255.255;

• Classe C: começa com 192.168.0.0 e termina com


192.168.255.255.

IP público é um endereço utilizado para a identificação de um


dispositivo na internet e abrange todos aqueles que não foram
destinados ao endereçamento de IP privado.

O que é IP estático e dinâmico?

IP estático ou fixo é um endereço imutável, geralmente usado


por usuários que precisam ter absoluta certeza do endereço da sua
rede na internet. Os endereços IP estáticos são atribuídos pelo
Registro.br ou pelos provedores de internet, dependendo da natureza

do serviço contratado.

169
IP dinâmico, como o próprio nome sugere, é um endereço
que pode mudar a qualquer momento. Isto acontece porque a
quantidade de endereços IPv4 existentes são insuficientes para
atender a demanda mundial e o provedor de conexão à internet lhe
fornece, por meio de um servidor DHCP, qualquer endereço IP público
disponível dentre aqueles que foram alocados à empresa sempre que
você liga o modem ou em intervalos de tempo pré-definidos. Na sua
rede doméstica ou comercial, o endereço IP dinâmico dos seus
dispositivos, provavelmente, é atribuído pelo seu roteador de rede.

Certo, mas qual a diferença entre o IPv4 e o IPv6?

Como cada dispositivo conectado a uma rede ou à internet


necessita de um endereço IP único e exclusivo para se comunicarem,
foi desenvolvido no início dos anos 80 o Protocolo de Internet versão 4
(IPv4), composto por um conjunto de quatro números de até 3 dígitos,
de 0 a 255, separados por pontos, formando quatro blocos de 8 bits
(octetos). Exemplos: 201.25.120.135, 191.210.247.60.

O IPv4 tem 32 bits e um limite de 4,3 bilhões de endereços


que, na época em que foi idealizado, era mais do que suficiente. Pouco
mais de dez anos depois da sua criação, os endereços IPv4 se
exauriram. Vejam o gráfico abaixo:

170
Disponível em http://ipv6.br/. Acesso em 02/08/2021

Uma das soluções de contorno foi criar uma técnica de


compartilhamento chamada NAT (Network Address Translation), que
consiste em reescrever, utilizando-se de uma tabela hash, os
endereços IPv4 de origem de um pacote que passam por um roteador
de maneira que um computador de uma rede interna tenha acesso à
Rede Mundial de Computadores.

Oi? Para tudo e começa de novo.

Todos os computadores que fazem parte de uma rede ou que


se conectam à internet têm um endereço IP exclusivo, sem o qual não
é possível a comunicação entre eles.

171
Devido ao esgotamento dos endereçamentos IPv4,
especialista propuseram, na década de 90, uma nova versão do
protocolo, o Protocolo de Internet versão 6, simplesmente denominado
IPv6.

Um endereço IPv6 é composto de um conjunto de 4 números


hexadecimais, que podem variar de 0000 a FFFF, separados pelo
caractere dois pontos (:), formando 8 blocos de 16 bits cada um
(decahexateto ou duocteto). Exemplos:
2001:0DB8:00AD:000F:0000:0000:0000:0001,
2804:0018:00a1:6aab:cca1:30d0:4c88:1ac5.

Como a escrita de cada endereço IPv6 é longa, o que dificulta


a sua representação, algumas regras de nomenclatura foram definidas:

• zeros a esquerda em cada duocteto podem ser omitidos,


por exemplo:
2001:0DB8:00AD:000F:0000:0000:0000:0001 pode ser
representado por 2001:DB8:AD:F:0:0:0:1 e
2804:0018:00a1:6aab:cca1:30d0:4c88:1ac5 pode ser
representado por
2804:18:a1:6aab:cca1:30d0:4c88:1ac5;

• blocos vazios contínuos podem ser representados pelos


caracteres “::” (quatro pontos), uma única vez dentro do
endereço, por exemplo:
2001:0DB8:00AD:000F:0000:0000:0000:0001 pode ser
representado por 2001:DB8:AD:F::1.

O IPv6 tem 128 bits e um limite de 340 undecilhões de


endereços possíveis, tornando-o praticamente inesgotável.

Então porque não migramos logo do IPv4 para o IPv6?

172
A questão técnica não é tão complexa de ser resolvida, pois
embora o IPv4 e o IPv6 sejam incompatíveis e não interoperáveis entre
si, já que este último não foi projetado para ser uma extensão ou
complemento do primeiro, mas sim para substituí-lo, os protocolos
podem funcionar em paralelo nos mesmos equipamentos,
possibilitando a realização de uma transição gradual utilizando técnicas
auxiliares criadas para esse fim.

O maior entrave, contudo, é econômico, pois a imensa


maioria dos dispositivos em uso não são compatíveis com o IPv6,
principalmente os modens, roteadores e wi-fi, o que demandaria um
alto custo na sua substituição pelos provedores de conexão à internet.

O mapa abaixo representa o percentual de utilização do IPv6


em cada país medido pela APNIC, segundo a escala de cores:

Disponível em https://stats.labs.apnic.net/ipv6-zoom. Acesso em 02/08/2021.

173
A solução de contorno encontrada até a implantação do IPv6
foi usar a técnica NAT (Network Address Translation) no IPv4.

Disponível em http://www.dltec.com.br/blog/redes/diferencas-entre-ipv4-e-ipv6/. Acesso em


02/08/2021

Agora me explica o que é esse tal de NAT?

A técnica NAT contorna o problema de esgotamento dos


endereços IPv4 ao permitir que vários dispositivos numa mesma rede
de IPs Privados compartilhem um único IP Público quando desejarem
se conectar a uma rede externa, a internet, utilizando o roteador
doméstico (NAT) ou do provedor de conexão (CGNAT) como
intermediário entre elas.

Por meio da associação dos IPs Privados da rede local a um


ou mais IPs Públicos designados ao roteador, o sistema de NAT
direciona os pacotes de dados entrando e saindo através dele utilizando
as portas lógicas, que permitem identificar qual dispositivo está se
conectando a qual endereço externo. Os números dessas portas lógicas
são acrescentados ao final dos endereços IP, permitindo, assim, ao
NAT criar uma tabela de associações e viabilizar sua função.
174
Na tabela abaixo podemos observar como se dá a vinculação
dos endereços IP:

Dispositivo IP privado IP público

Computador 192.168.1.101:3556 201.25.120.135:3556

Notebook 192.168.1.103:4889 201.25.120.135:4889

Smartphone 192.168.1.105:1778 201.25.120.135:1778

Notem que os IPs Privados de todos os dispositivos


conectados à rede local são diferentes entre si, caso contrário, haveria
“conflito de IP” e falhas na comunicação daquele com endereço
duplicado. Já o IP público usado pelos três dispositivos para se
conectarem à internet é exatamente o mesmo, diferenciando-se
apenas pela porta lógica incluída ao final. É justamente ela que vai
permitir o correto envio e recebimento dos pacotes de dados em cada
um dos dispositivos utilizando um único endereço IP.

Grosso modo, o endereço completo da sua residência


(logradouro, número, cidade, estado, país e CEP) equivale ao IP
público, assim, sempre que lhe for enviada uma correspondência
externa ela poderá ser recebida e entregue na porta da sua casa, da
mesma forma ocorrerá com os pacotes de dados enviados e recebidos
pela internet. Agora, se você mora num edifício, será desnecessária a
informação adicional do número do apartamento, caso contrário, a
correspondência não chegará até você, assim como ocorre com o IP
privado e sua porta lógica.

Como eu descubro meu endereço IP?


175
Se você quiser descobrir qual o endereço IP que lhe está
sendo atribuído nesse exato momento pelo seu provedor de acesso à
internet. basta acessar https://www.myip.com/ ou
https://whatismyipaddress.com/.

A pesquisa retornará automaticamente o seu endereço IP


atual.

Para maiores informações, leia o tutorial disponibilizado no


material complementar.

Que tipo de provedores de internet existem e o que


cada um deles faz?

Para termos acesso à internet, há necessidade de estarmos


ligados a um provedor de serviços de internet, gênero do qual podemos
destacar as seguintes espécies:

• provedores de backbone;

• provedores de acesso;

• provedores de correio eletrônico;

• provedores de hospedagem;

• provedores de conteúdo; e,

• provedores de informação.

O provedor de backbone é uma rede principal por onde


trafegam os dados dos clientes da internet. É sua “espinha dorsal”, sua
“rede de transporte”. Ele interliga uma série de servidores e é
responsável pelo envio e recebimento dos dados entre diferentes
localidades espalhadas pelo mundo, conforme pode ser observado na
figura abaixo:

176
Os provedores de backbone são os responsáveis por fornecer
a infraestrutura e a conectividade necessárias ao funcionamento da
internet, dividindo-se hierarquicamente em partes menores para
manter sistemas internos com elevado desempenho e evitar lentidão
no tráfego e transmissão de dados. Os backbones de ligação
intercontinental derivam nos backbones internacionais que por sua vez
derivam nos backbones nacionais.

Quando acessamos um site ou enviamos um e-mail, estamos


enviando dados de uma rede local para o backbone, que depois os
encaminha para outra rede local até que os pacotes cheguem ao seu
destino.

No Brasil, são provedores de backbone Embratel, o maior,


Rede Nacional de Pesquisa (RNP), o primeiro a ser aqui estabelecido,
Oi, KDD Nethal, Comsat Brasil, Level 3 (Impsat/Global Crossing),

177
AT&T, NTT, UOL Diveo, CTBC, Mundivox do Brasil, Telefonica e TIM
Intelig139.

O provedor de acesso é aquele faz a intermediação da


conexão do cliente com o provedor de backbone, sendo o responsável
por atribuir ao usuário do serviço um endereço IP para que ele possa
se conectar à rede mundial de computadores. Exemplos: Net, Tim,
Claro, Vivo, Oi, Sky, GVT etc.

O provedor de correio eletrônico é aquele que oferece ao


usuário serviços de e-mail, tais como acesso, envio, recebimento e
armazenamento de mensagens eletrônicas pela internet. Exemplos:
Gmail, Outlook, Hotmail, Yahoo, Uol, Globo etc.

O provedor de hospedagem é aquele que disponibiliza sua


estrutura física (servidores) para armazenamento de sites ou páginas,
permitindo o acesso amplo ou restrito aos conteúdos, dados e
informações neles disponibilizados aos usuários da internet. Exemplos:
Locaweb, UOL Host, HostGator, Hostinger, GoDaddy etc. Também
podem ser considerados provedores de hospedagem aqueles que
oferecem plataformas prontas para disponibilização de conteúdo pelos
usuários da internet. Exemplos: Flickr, YouTube, WordPress,
Instagram, Facebook, Twitter etc.

O provedor de conteúdo é aquele que disponibiliza na


internet o conteúdo criado ou desenvolvido pelos provedores de
informação para acesso aos seus usuários, utilizando servidores
próprios ou de terceiros. Exemplos: websites, blogs, portais de
imprensa etc.

139 Disponível em https://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialinter/pagina_4.asp.


Acesso em 03/08/2021

178
O provedor de informação é aquele que cria, coleta,
mantém e/ou organiza informações de caráter geral ou particular e as
disponibiliza para acesso aos usuários da internet.

Importante frisar que, embora boa parte dos provedores de


serviços de internet possam atuar, concomitantemente, como
provedores de backbone, acesso, correio eletrônico, hospedagem,
conteúdo e informação, há diferenças conceituais importantes para que
se atribua corretamente a responsabilidade a eles, a depender da
atividade específica exercida (art. 3º, VI, 9º, 10, 11, 13, 14, 15, 18,
19, 20, 21 e 31 do MCI).

A Lei nº 12.965/2014, que estabeleceu o Marco Civil da


Internet (MCI), definiu e conceituou apenas duas categorias de
provedores:

• provedor de conexão à internet– responsável pela


“habilitação de um terminal para envio e recebimento de
pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou
autenticação de um endereço IP” (art. 5º, V), abrangendo
os provedores de backbone e de acesso; e

• provedor de aplicações de internet–responsável por


todo o “conjunto de funcionalidades que podem ser
acessadas por meio de um terminal conectado à
internet”(art. 5º, VII), alcançando os provedores de correio
eletrônico, de hospedagem, de conteúdo e de informações.

Essa distinção, como visto, tornou-se relevante a partir da


vigência do Marco Civil da Internet em razão das sanções cíveis,
administrativas e criminais de cada provedor (art. 12) e pela guarda
dos registros durante os períodos mínimos estipulados (arts. 13 e 15).

179
Para que eu preciso saber disso tudo e qual a sua
importância para as provas digitais?

O endereço IP é o protocolo mais importante da internet, pois


é através dele que os dispositivos conectados à rede mundial de
computadores são individualizados e identificados com uma
numeração única e exclusiva que permite a comunicação entre si.

O protocolo TCP garante a integridade dos dados transmitidos


pela internet e o protocolo IP reconhece todos os dispositivos
(denominados terminais pelo art. 5º, II, do MCI) conectados à rede
(conexão à internet – art. 5º, V, do MCI), atribuindo a cada um deles
uma identificação única e inequívoca chamada endereço IP
(denominado endereço de protocolo de internet pelo art. 5º, III, do
MCI).

Todo acesso à internet por meio de um provedor


(denominado administrador de sistema autônomo pelo art. 5º, IV, do
MCI) gera um registro de conexão contendo a data e hora do seu início
e término, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para
envio e recebimento de pacotes de dados (art. 5º, VI, do MCI), os quais
devem ser guardados por no mínimo 1 ano pelo responsável (art. 13
do MCI).

O endereço IP fornecido ao usuário final do serviço prestado


pelo provedor de conexão fica vinculado à contado cliente titular do
terminal que se conectou à internet (modem, roteador, smartphone,
computador, tablet etc.), podendo ser requisitados os seus dados
cadastrais, inclusive pela autoridade administrativa (art. 10, § 3º, do
MCI e art. 11 do Decreto nº 8.771/2016), ou os registros pela
autoridade judiciária (art. 13, § 5º, do MCI).

Quando acessamos qualquer aplicativo ou serviço na internet


(denominados aplicações de internet pelo art. 5º, VII, do MCI), ficam
os provedores de aplicações obrigados a guardar, por no mínimo 6
180
meses, os registros da data e hora de uso de uma determinada
aplicação a partir de um determinado endereço IP (arts. 5º, VIII, e 15
do MCI). Se identificado o usuário, poderão ser requisitados os dados
cadastrais, também pela autoridade administrativa (art. 10, § 3º, do
MCI e art. 11 do Decreto nº 8.771/2016), ou os registros por ordem
judicial (art. 15, § 3º, do MCI).

É possível, assim, a partir do endereço IP, verificar a


autenticidade da prova digital, tanto no aspecto objetivo (de onde ela
provém), quanto no seu aspecto subjetivo (quem é o autor).

Além disso, praticamente toda atividade realizada na rede ou


na internet deixa registro ou rastro digital em algum lugar.

Como vimos nos tutoriais disponibilizados, os aplicativos que


usamos no nosso dia a dia guardam valiosas informações, tais como,
log’s do sistema (expressão utilizada para descrever o processo de
registro de eventos relevantes num sistema computacional), registro
de sessão, registro de navegação, registro de geolocalização, registro
de atividades etc.

Todas essas informações podem ser obtidas dos provedores


de conexão ou dos provedores de acesso a aplicações de internet e
utilizadas como prova no processo.

Como devo proceder para conseguir acesso aos dados


e registros armazenados?

Como visto, tanto a conexão à internet, quanto o acesso a


qualquer aplicativo disponível na rede mundial de computadores,
necessariamente, gerará registros de data, hora e endereço IP.

181
Ouso de qualquer aplicativo de internet registrará o endereço
IP do usuário, data e hora em que a aplicação foi acessada. A primeira
providência é registrar o fato digital de maneira a preservar a sua
materialidade (importante aqui é garantir a integridade da prova
digital). A segunda é requerer mediante ordem judicial do provedor de
acesso a aplicações de internet o fornecimento dos dados cadastrais e
dos registros de acesso da conta do usuário no dia e horário
correspondentes ao fato que se quer provar.

ATENÇÃO: Não podemos esquecer que, ao requerer os


registros de acesso, é imprescindível solicitar a informação da porta
lógica (NAT ou CGNAT) incluída no endereço IP devido às limitações do
IPv4.

MUITA ATENÇÃO: É extremamente importante atentar para


a data e hora da ocorrência do fato digital, pois, como já explicado
anteriormente, a imensa maioria dos provedores de conexão fornecem
IPs dinâmicos, que são atribuídos aos clientes de acordo com a sua

182
disponibilidade na central de distribuição mais próxima e podem mudar
a qualquer tempo. Um único segundo pode levar à pessoa errada.

Após a obtenção desses registros, é possível descobrir para


qual provedor de conexão foi alocado o endereço IP informado pelo
provedor de acesso, bastando acessar o serviço Whois disponibilizado
pelo Registro.br no seguinte endereço:
https://registro.br/tecnologia/ferramentas/whois/?search=.

Em seguida, deverão ser requisitados do provedor de


conexão os dados cadastrais e os registros de conexão da conta do
usuário responsável pela contratação do serviço, informando-lhe o
endereço IP, data e hora enviados pelo provedor de acesso para que
seja possível identificar para qual cliente foi atribuído aquele IP.

Relativamente simples, não?!?

Uma última dúvida. Os provedores, sites, páginas e


aplicações na internet também tem um endereço IP único e
exclusivo?

Ótima pergunta. Vamos lá.

A internet é uma grande rede composta de várias outras


redes que se comunicam entre si e com os dispositivos a elas
conectados, por isso é chamada de “rede das redes”. Seu
desenvolvimento somente se tornou possível a partir do
estabelecimento de diversos protocolos, como já vimos anteriormente,
pois nenhuma comunicação em rede funcionaria se os dados enviados
pelo emissor não chegassem integralmente ao receptor, correto?!

Para isso foi criado o protocolo TCP/IP, que garante a


integridade dos pacotes de dados que são transmitidos e trafegam pela
internet (TCP) e assegura a sua entrega para o usuário correto (IP),
por isso a sua importância na comunicação em rede.
183
Todos os provedores de serviços de internet estão conectados
e integram essa grande rede, por isso mesmo também possuem um
endereço IP único que os identifica.

Vamos falar a respeito deles a seguir.

5.2.3. DOMÍNIO, DNS E URL


O que é Domínio?

Imagine ter que acessar seus sites preferidos digitando


números de IP. Será que conseguiríamos memorizar e lembrar de
todas as sequências numéricas? Provavelmente não.

É como se registrássemos apenas os números de telefone na


nossa agenda de contatos sem o nome das pessoas. Faz algum sentido
isso? Também não.

Embora computadores gostem de números, humanos


preferem usar nomes.

Foi assim que surgiu o domínio, que nada mais é do que o


endereço de um site na internet, representado por um nome,
usualmente de fácil memorização, que as pessoas vão digitar nos
navegadores para encontrá-lo. É o nome de domínio.

O sistema de domínios foi criado em 1983 e corresponde a


uma combinação única e exclusiva de letras e números, com no mínimo
2 e no máximo 26 caracteres, gerenciados mundialmente pela ICANN
(Internet Corporation for Assigned Names and Numbers –
https://www.icann.org/) e, no Brasil, pelo NIC.br por meio do
Registro.br, sobre o qual já falamos anteriormente.

Você não vai encontrar dois domínios exatamente iguais no


mundo (Princípio da Unidade Plena) e a atribuição do registro do nome
será daquele que primeiro o requerer (Princípio First Come, First
Served – “o primeiro que chegar é o primeiro que se serve”).
184
O nome de domínio é estruturado da seguinte forma:

• Top Level Domain (TLD), em tradução livre Domínio de


Primeiro Nível (DPN), que se ramifica em:

▪ Generic Top Level Domains (gTLD), em tradução livre


Domínios Genéricos de Primeiro Nível; e,

▪ Country Code Top Level Domains (ccTLD), em tradução


livre Domínios de Primeiro Nível com Código de País
(Norma ISO 3166);

• Secondary Level Domain (SLD), em tradução livre de


Domínio de Segundo Nível, ou simplesmente, o nome do
domínio.

Ilustrativamente, essa é a anatomia de um domínio:

Para cada nome de domínio corresponde um único endereço


IP, embora você possa encontrar nomes de domínios diferentes
redirecionando-o para um mesmo site, bastando, para isso, que se
adquira o direito de usar todos os nomes de domínio ao mesmo tempo.

O que é DNS?

Como o endereço IP de cada dispositivo conectado à internet,


inclusive dos sites, é representado por um número decimal (IPv4) ou

185
hexadecimal (IPv6), foi necessário criar um sistema que associasse
esse protocolo ao nome de domínio e fizesse a tradução da linguagem
natural para a linguagem de máquina, e vice-versa.

Para essa finalidade a internet usa o DNS (em inglês, Domain


Name System) ou Sistema de Nomes de Domínio, que são servidores
responsáveis por localizar e traduzir para números de endereço IP os
nomes de domínio dos endereços dos sites que digitamos nos
navegadores (browsers).

Essa tradução acontece numa fração de segundos e é


imperceptível ao usuário.

O que é URL?

URL é o acrônimo em inglês de Uniform Resource Locator


(Localizador Padrão de Recursos), que consiste basicamente num
identificador exclusivo usado para localizar um recurso específico numa
rede ou na internet, ou seja, pode ser um endereço de site, algum
periférico, uma rede corporativa, um arquivo de documento, imagem,
áudio ou vídeo etc.

Simplificando, o URL é um endereço na web.

Cada URL é composto de várias partes, sendo as mais


importantes:

• protocolo (p. ex. http://, https://, ftp://, mailto:// etc.);

• subdomínio (p. ex. www etc.);

• domínio (p. ex. nomededominio.com.br,


nomededominio.jus.bretc.);

• subdiretório (/caminho que leva a uma página específica


na web).

Exemplo:
186
É possível descobrir quem é o responsável por um
determinado site?

Perfeitamente. Há várias plataformas que podem ser


utilizadas para encontrar os dados do responsável por um site através
do domínio.

Leiam o tutorial e acessem:

• https://registro.br/tecnologia/ferramentas/whois/

• https://www.whois.com/whois

• https://whois.domaintools.com/

• https://lookup.icann.org/

Como eu descubro o endereço IP de um site?

Para descobrir o endereço IP de um site pelo nome do


domínio acesse https://www.meuenderecoip.com/descobrir-ip-do-
site.php.

Outra forma é utilizar o MS-DOS instalado no seu próprio


computador.

Leia o tutorial e entenda o passo a passo.

187
5.3. MOTORES DE BUSCA
O que você faz quando está procurando uma informação na
internet? Dá um “Google”? E se você quer saber sobre determinada
doença? Consulta o “Dr. Google”? Se você quer obter algum
conhecimento específico? Pergunta para o “Professor Google”? Se você
quer saber sobre o clima? Checa o serviço de “meteorologia Google”?
Se está procurando uma passagem aérea? Pesquisa na “companhia
aérea Google”? Se quer reservar hospedagem? Entra em contato com
o “hotel Google”? Se precisar agendar todas essas atividades para não
esquecer? Chama a “secretária Google Agenda”?

Brincadeiras à parte, a palavra “Google” vem sendo usada


como nome próprio, adjetivo, verbo e sinônimo de tantos quanto forem
os recursos e serviços que Alphabet Inc. (holding que controla o Google
e demais empresas do grupo) oferece, e são muitos.

Não nos soa estranho usar essas expressões porque o Google


acabou se incorporando ao nosso cotidiano virtual por uma simples
razão: é o motor de busca mais popular e utilizado no Mundo, ao qual
usualmente recorremos para efetuar pesquisas na internet.

Sua liderança entre os buscadores não veio por acaso, mas


foi fruto de um bem elaborado programa computacional composto de
uma séria de avançados algoritmos de pesquisa que rastreiam,
localizam, analisam, organizam, indexam e exibem os melhores
resultados encontrados na internet, levando em conta, inclusive, o
perfil do usuário.

Mas o que exatamente são os motores de busca?

Motores de busca, também conhecidos como ferramentas de


busca ou buscadores, são programas desenhados para facilitar a
procura por informações na internet.

188
Por meio de softwares chamados “aranhas” (spiders) e “bots”
(web crawlers), os motores de busca percorrem toda a internet
rastreando e coletando informações disponíveis em documentos,
páginas da web e bases de dados, que posteriormente são analisadas,
organizadas, indexadas e armazenadas em um banco de dados para
uso em pesquisar futuras por palavras-chave fornecidas pelo usuário.

O rastreador da web do Google chama-se Googlebot, genitor


do Googlebot Desktop e do Googlebot Mobile, robôs específicos para
rastreamento em computadores e dispositivos móveis,
respectivamente.

Mas só temos o Google ou existem outros motores de


busca?

Definitivamente, o Google não é o único moto de busca na


internet, apenas o mais conhecido e utilizado.

Há uma infinidade de buscadores, podendo ser citados


alguns:

Motor de Busca URL

1. Google https://www.google.com.br

2. Bing https://www.bing.com

3. Yahoo https://br.yahoo.com

4. Duck Duck Go https://duckduckgo.com

5. Yandex https://yandex.com

6. Ask https://www.ask.com

189
7. AOL https://www.aol.com

8. Search Encrypt https://www.searchencrypt.com/home

9. Gibiru https://gibiru.com

10. StartPage https://www.startpage.com/pt

11. Ecosia https://www.ecosia.org

12. Gigablast https://gigablast.com

13. Lycos https://www.lycos.com

14. Mojeek https://www.mojeek.com/

15. Searx https://searx.me

16. WebCrawler https://www.webcrawler.com

17. Neeva https://neeva.com

18. MetaGer https://metager.de

19. Qwant https://www.qwant.com

20. Qmamu https://qmamu.com

21. Starte http://start.csail.mit.edu/index.php

22. Findsounds https://www.findsounds.com/

23. Exaled https://www.exalead.com/search/

Os motores de busca não são a única forma de encontrar


informações na internet. Muitos sites têm seu próprio mecanismo de
pesquisa para lhe ajuda a encontrar o que você procura.
190
Um motor de busca procura informações em toda a internet,
agrupa os resultados em sites, imagens, vídeos etc., reconhece uma
palavra mesmo que escrita incorretamente, ao passo que uma
pesquisa num site só retorna os resultados encontrados nas suas
páginas, agrupa todos os resultados numa única lista e geralmente não
sugere alternativas para palavras mal escritas.

Existem diferenças entre os motores de busca


existentes ou são todos iguais?

Nenhum motor de busca é igual ao outro. Cada um usa um


programa específico desenvolvido pelo buscador para rastrear,
localizar, analisar, organizar, indexar e exibir os resultados, não raras
vezes diferentes.

Vejam as principais diferenças entre eles:

• tamanho da base de dados (número de páginas rastreadas


e indexadas na base de dados);

• frequência de atualização da base de dados (tempo entre


as atualizações da base de dados);

• critérios de indexação (inclusão de termos no índice de


palavras-chave da base de dados);

• critérios de inclusão de páginas (número de itens que serão


incluídos na base de dados);

• critérios de ordenação dos resultados (resultados mais


relevantes aparecem em primeiro lugar);

• recursos de pesquisa e interface do programa (simples ou


avançada, busca por frase, proximidade de palavras,
domínio, tipos de arquivos, idioma etc.);

191
Por que muitas vezes o motor de busca acerta “em
cheio” a resposta e em outras, nem tanto?

Isso se deve à própria estrutura dos buscadores, que baseada


num cálculo de relevância da informação ou documento pesquisado
determina a sua posição na página de resultados. Aspectos estatísticos
como a frequência da ocorrência da palavra-chave objeto da pesquisa
aliada à quantidade de acessos às páginas encontradas definem a sua
posição no rol de resultados apresentados ao usuário.

Como o algoritmo de cada motor de busca é guiado por um


conjunto de critérios próprios guardados “a sete chaves”, os pesos
atribuídos a cada um deles para gerar o ranking de resultados
considerados mais relevante para o usuário muda de um buscador para
o outro.

Isso motivou o surgimento dos chamados “metamotores” ou


“multibuscadores”, ferramentas que não possuem banco de dados
próprio, executando a pesquisa em vários motores de busca
simultaneamente e fornecendo ao usuário um “tiro rápido” (snapshot)
dos resultados mais relevantes obtidos em cada um deles.

São exemplos de metamotores: Dogpile


(https://www.dogpile.com/), Carrot
(https://search.carrot2.org/#/search/web) e 20Search
(https://www.20search.com/).

O que podemos coletar de dados nos motores de


busca?

Praticamente qualquer dado que tenha sido evadido na


internet poderá ser encontrado e coletado por meio dos motores de
busca.

192
O grande segredo para se obter resultados mais precisos e
próximos do desejado é saber como filtrar e refinar sua pesquisa
utilizando operadores ou realizando uma pesquisa avançada.

Leia o tutorial para saber como.

5.4. REDES SOCIAIS


Se você chegou até aqui é porque certamente já leu todos os
tutoriais das redes sociais disponibilizados no material de apoio e teve
a curiosidade de vasculhá-las tentando descobrir que dados são
coletados e quais deles poderiam ser utilizados, de alguma maneira,
como prova nos autos.

Ainda não??? Hum, essa é uma parte prática extremamente


importante neste curso, pois, como dissemos, é essencial que o juiz
compreenda o alcance e os limites tecnológicos dos meios digitais para
melhor valoração das provas neles produzidas, visto que é impossível
dissociá-las dos seus aspectos técnicos.

Vamos falar um pouco sobre as redes sociais e que provas


digitais podemos nelas encontrar.

O que são redes sociais?

Redes sociais são estruturas criadas para conectar pessoas a


partir de interesses ou valores comuns.

Embora se pense que as redes sociais sejam algo exclusivo


do ambiente virtual, não são. Fora dele também é possível se
formarem redes sociais, como o caso de organizações que defendem
uma causa comum (p. ex. Green Peace, Médicos sem Fronteiras etc.)

Fato é que a internet potencializou, e muito, o surgimento e


crescimento das redes sociais no Mundo Digital, para onde foi
transferida grande parte das iterações sociais.
193
Existem vários tipos de redes sociais, que são definidas de
acordo com a sua finalidade e o perfil do usuário:

• de relacionamento, que têm por objetivo aproximar as


pessoas e criar laços entre elas (p. ex. Facebook,
Instagram, Twitter, LinkedIn, TikTok, Snapchat);

• de entretenimento, cujo foco principal é a divulgação de


conteúdo (p ex. YouTube, Pinterest);

• profissional, cuja finalidade é ampliar a visibilidade do


usuário na sua área de atuação profissional (p ex. LinkedIn,
Bebee, Bayt, Xing e Viadeo);

• de nicho, voltada para públicos ou segmentos específicos


(p ex. TripAdvisor).

O que podemos encontrar nas redes sociais?

Todas as redes sociais armazenam algum dado pessoal do


usuário, que é exigido no momento do cadastramento para utilização
do serviço oferecido. Normalmente é solicitado um endereço de e-mail
ou um número de telefone celular, outras vezes, ambos, para ativação
do serviço, que ocorre quando clicamos em um link ou digitamos o
código enviado para um dos dados informados.

Esse mecanismo de confirmação da “identidade do usuário”


garante que a pessoa natural que aderiu à rede social tem acesso ao
endereço de e-mail e/ou número de telefone celular informados, mas
não diz quem ela é na vida real, afinal, podemos criar vários perfis
“fake”.

Apesar disso, no momento que uma pessoa cria um perfil


numa rede social, é imediatamente registrado o número do endereço
IP, a data e a hora da criação da conta, possibilitando que, ao menos,

194
se chegue até o provedor de conexão e, em seguida, ao cliente titular
do serviço através do qual foi acessada a aplicação, como já vimos nos
capítulos anteriores.

A cada novo acesso à rede social são registradas essas


informações, conforme determina o Marco Civil da Internet, e assim
vai se deixando um rastro de provas digitais, que devem ser guardadas
por no mínimo 6 meses e podem ser requisitadas do provedor de
aplicações de internet juntamente com os demais dados pessoais
porventura fornecidos pelo usuário, coletados e armazenados pela rede
social, como data de nascimento, local de residência, profissão,
empresa onde trabalha, lugares que frequenta etc.

Publicações ofensivas em redes sociais podem acarretar a


responsabilização civil e até mesmo criminal do ofensor, ainda que este
se esconda atrás de um perfil falso, pois os dados cadastrais usados
para criação e acesso à aplicação podem ser requisitados por ordem
judicial e, posteriormente, investigados para nos levar à verdadeira
identidade da pessoa por trás de uma ofensa.

Lista de amigos, curtidas e comentários em postagens podem


dar indicativos de amizade ou inimizade entre partes e testemunhas a
depender do grau de intimidade do relacionamento que se estabelecer
na rede social, possibilitando a comprovação de eventual suspeição ou
interesse na causa.

Marcação de check in pode mostrar onde está um executado


desaparecido, por exemplo.

Esses são apenas alguns exemplos de como as provas digitais


podem servir ao propósito de formar o conjunto probatório dos autos.

Todos esses dados estão disponíveis abertamente nas


redes sociais?

195
Nem todos os dados mencionados estão disponíveis
abertamente nas redes sociais.

Há uma infinidade de dados que podem ser obtidos acessando


o perfil do usuário alvo ou utilizando ferramentas gratuitas ou pagas
de extração das informações desejadas (OSSINT). Esses são dados que
as pessoas, espontânea e voluntariamente, disponibilizam nas redes
sociais de forma total ou parcialmente pública (evasão de privacidade),
não havendo nenhuma ilicitude na coleta dessas informações evadidas
pelo próprio titular na internet.

Outros dados que são coletados e ficam armazenados nas


redes sociais dependem de ordem judicial para serem fornecidos, como
dados cadastrais, log´s, endereço IP, histórico de localização e de
atividades, dispositivos que acessaram a aplicação etc. Neste caso,
será necessário requisitá-los do provedor de aplicação respectivo (arts.
22 e 23 do MCI), por meio de ordem judicial de quebra de sigilo dos
dados estáticos.

Como faço para requisitar os dados armazenados nas


redes sociais?

A primeira providência é identificar qual o dado cadastral


necessário para que o provedor de aplicação identifique corretamente
a conta do usuário vinculada aquele perfil. Aqui, infelizmente, não há
regra objetiva, pois cada empresa utiliza um critério. Não raras vezes
é possível localizar o perfil por meio de mais de um dado cadastral
diferente.

Normalmente os cadastros são efetuados por meio do e-mail


ou número de telefone celular. Se você obtiver uma dessas
informações, possivelmente conseguirá requisitar os dados da conta do
perfil. Como esses dados nem sempre estarão disponíveis no processo,

196
é possível usar o URL do perfil, da publicação ou do comentário,
lembrando que ele indica o caminho exato de uma página na web.

Alguns provedores, contudo, exigem a informação do ID, que


nada mais é do que uma identidade (identity) única atribuída ao
usuário daquele serviço no momento da criação da conta. Essa é a
informação mais precisa para se chegar aos dados da conta do perfil e
é possível ser obtida por meio de ferramentas de inteligência em fontes
abertas (OSSINT) ou até mesmo diretamente no próprio serviço.

Vale destaque a recente decisão140 da 5ª Turma do Superior


Tribunal de Justiça que entendeu ser possível requisitar informações a
provedores de internet apenas com base no nome da pessoa
investigada em processo criminal, sem a necessidade de se informar o
ID do usuário. Segundo o relator do caso, a decisão recorrida estaria
amparada no art. 11, § 3º, do Decreto nº 8.771/2016, que autoriza a
autoridade judicial a requisitar as informações especificando apenas
“os indivíduos cujos dados estão sendo requeridos e as informações
desejadas” e vedaria somente a formulação de “pedidos coletivos que
sejam genéricos ou inespecíficos”.

Embora o argumento do provedor quanto à possível


existência de homônimos tenha sido refutado no julgamento, não custa
lembrar que a indicação do nome e prenome do usuário quando do
cadastramento no serviço é livre, podendo a pessoa colocar qualquer
um e, ainda que ela informe o correto, se forem eles comuns à
população, a resposta poderá retornar dezenas ou senão milhares de
contas. Certamente que isso inviabilizaria a identificação correta da
autenticidade, um dos principais requisitos da prova digital.

140 https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/29062021-Autoridade-judicial-
pode-solicitar-informacoes-a-provedores-de-internet-apenas-especificando-o-nome-do-usuario.aspx

197
A título exemplificativo, o Facebook possui dois portais online
para receber e atender pedidos de preservação e requisição dos
registros, um para o próprio aplicativo, para o Instagram e o
Messenger, e o outro para o Whatsapp, todos de sua propriedade,
chamados Sistema de Solicitação Online para Autoridades, que podem
ser acessados nos endereços
https://www.facebook.com/records/login/ e
https://www.whatsapp.com/records/login/?locale=pt_BR.

O Google também possui um portal online com a mesma


finalidade chamado LERS (Law EnforcementRequest System), que
pode ser acessado pelo endereço
https://lers.google.com/signup_v2/landing.

O Twitter tem um portal chamado Legal Request que pode


ser acessado pelo link
https://legalrequests.twitter.com/forms/landing_disclaimer.

O TikTok disponibiliza um e-mail (lert@tiktok.com) para o


envio de requisições, assim como o Snapchat
(lawenforcement@snapchat.com) e o Pinterest
(lawenforcement@pinterest.com), todos fazendo referência à
necessidade de observância do MLAT.

Você pode realizar o cadastro nos portais online disponíveis


seguindo o passo a passo informado. Ao realizar o seu cadastro e
solicitar acesso, indique SEMPRE seu e-mail funcional. Finalizado o
cadastro, você receberá um link de acesso no seu e-mail. Basta clicar
e acessar o serviço.

Embora não haja impedimento para realizar o cadastramento


em alguns desses portais, esse canal de comunicação online junto à
maioria das redes sociais, infelizmente, ainda não atende às
solicitações da Justiça do Trabalho.

198
Como posso obter dados publicizados pelo próprio
usuário nas redes sociais?

É possível fazer pesquisas avançadas nas redes sociais


usando ferramentas gratuitas ou pagas que acessam e se comunicar
com elas por meio de uma API (Application Programming Interface),
em tradução livre Interface de Programação de Aplicativos, por elas
disponibilizada a criadores de software que buscam desenvolver
produtos associados ao seu serviço.

API é um conjunto de rotinas e padrões de programação


estabelecidos por um software ou uma plataforma baseada na web
para utilização das suas funções, dados ou recursos por outros
aplicativos através de diversos códigos e protocolos que permitem a
comunicação e integração entre os sistemas sem necessidade de saber
como aqueles foram implementados.

Essas ferramentas de OSSINT (Open Source Social Network


Intelligence) usam as APIs disponibilizadas pelas redes sociais para
extrair informações específicas solicitadas pelo usuário e constantes
nos seus bancos de dados de forma automática, facilitando e
simplificando, assim, o trabalho de investigação.

Para conhecer as ferramentas acesse


https://osintframework.com/ e clique em “Social Networks”.

Leia o tutorial e aprenda um pouco mais sobre as ferramentas


disponíveis para mineração de algumas das redes sociais mais
utilizadas no Brasil.

5.5. GEOLOCALIZAÇÃO
O que é geolocalização?

199
Geolocalização é um recurso tecnológico que possibilita
rastrear e encontrar, por meio de uma conexão remota, um dispositivo
em qualquer lugar da superfície terrestre com base em coordenadas
geográficas (latitude e longitude), que podem ser obtidas por meio de
sinais de GPS, estação rádio base (ERB), Wi-Fi e até Bluetooth.

O que é GPS e como ele funciona?

GPS é o acrônimo em inglês de Global Positioning System,


em tradução livre Sistema de Posicionamento Global. É um sistema de
navegação por satélite que fornece a um dispositivo que possui essa
tecnologia de recepção a sua posição global.

Para o correto funcionamento do GPS faz-se necessário o uso


de três componentes:

• espacial, composto de 24 satélites, distribuídos em 6


planos orbitais, responsável pela transmissão do sinal de
rádio;

• controle, composto de 5 estações de controle dos satélites,


responsável pelo seu monitoramento, sincronização do
relógio atômico e atualização da sua posição;

• utilizador, que nada mais é do que o dispositivo receptor


do sinal transmitido.

O GPS funciona medindo a diferença de tempo entre a


transmissão do sinal pelo satélite e a recepção pelo dispositivo. Ambos
possuem um relógio interno que marca a hora com uma precisão de
nanosegundo e quando o sinal de rádio é emitido pelo satélite também
é enviado o horário que ele “saiu”. Viajando à velocidade da luz (300
mil quilômetros por segundo, no vácuo), o receptor cronometra quanto
tempo este sinal demorou para chegar e assim consegue calcular sua

200
distância do satélite e a circunferência do local onde pode estar o
dispositivo.

Para apontar a posição exata do receptor no mapa


cartográfico, contudo, são necessários 3 satélites para triangular as
distâncias, e mais um para medir a altura em relação ao nível do mar.
O ponto de interseção das circunferências dos três satélites é que
determinará a sua localização.

Disponível em https://www.tecmundo.com.br/gps/2562-como-funciona-o-gps-.htm. Acesso em


05/08/2021

Além do GPS americano, também existem o GLONASS russo,


o GALILEO europeu e o COMPASS chinês, estes dois últimos em fase
de implantação, que permitem a navegação global por meio dessa
tecnologia.

O que é Estação Rádio Base (ERB) e como ela funciona?

Estação Rádio Base (ERB) é o equipamento de transmissão


e recepção que faz a conexão entre os telefones celulares (chamados
tecnicamente de estações móveis ou pela sigla EM) e a companhia
telefônica, ou mais precisamente a Central de Comutação e Controle
(CCC).

201
É aquilo que popularmente chamamos de “antena de celular”.

Imagem: Telebrasil (http://www.telebrasil.org.br/)

Segundo a ANATEL, há 102.358 ERBs espalhadas pelo Brasil,


cuja identificação da companhia telefônica e localização precisa podem
ser encontradas nos endereços
https://www.telecocare.com.br/mapaerbs/#erb ou
https://sistemas.anatel.gov.br/stel/consultas/ListaEstacoesLocalidade
/tela.asp?pNumServico=010.

A ideia básica do sistema móvel celular de qualquer


operadora de telefonia é dividir a região a ser atendida pelo serviço em
células e no centro de cada uma delas instalar uma Estação Radio Base
(ERB) que vai se comunicar com os dispositivos móveis dentro do seu
alcance de propagação de irradiação.

Cada ERB tem uma localização geográfica específica no mapa


cartográfico, que pode ser representada por um endereço ou por
coordenadas geográficas (latitude e longitude), e suas ondas se
propagam em linha reta (linha de visada), podendo sofrer
interferências devido a grandes obstáculos naturais ou artificiais, o que
202
gera áreas sem cobertura chamadas de “área de sombra”. Quando em
movimento, a transferência de uma chamada de uma célula para outra
da mesma CCC ocorre automaticamente e se chama randoff.

São três os principais métodos de identificação de um


dispositivo móvel dentro da área de alcance de propagação da ERB:

• Cell-ID, que se baseia em toda a área de cobertura da


célula onde ela está instalada;

• Cell sector, que se baseia numa parte ou ângulo de


cobertura da célula onde ela está instalada, denominado
azimute (ângulo em que a antena estará posicionada na
torre em relação ao norte geográfico);

• Timing Advance, que se baseia no tempo decorrido entre a


saída do sinal do transmissor e a chegada ao terminal
móvel receptor para calcular a distância entre eles dentro
de um ângulo de cobertura.

Outro método de localização do dispositivo móvel é por meio


da triangulação da potência dos sinais transmitidos por três ERBs
próximas ao dispositivo móvel receptor, que permite apurar a distância
estimada em relação a cada uma delas baseada no RSSI (Received
Signal Strength Indicator), visto que o sinal é transmitido com uma
certa potência e durante o percurso vai enfraquecendo.

Os celulares habilitados na rede móvel de qualquer operadora


trocam constantemente informações com as estações rádio base
devido à necessidade da companhia saber se houve deslocamento do
dispositivo entre as células. Toda vez que ocorre a troca da ERB, a
operadora recebe a informação.

O que é Wi-Fi e como ele funciona?

203
Wi-Fi é um protocolo (802.11) que permite aos dispositivos
conectados a uma rede sem fio (Wireless) se comunicarem pela
internet.

Não se confunde com o termo wireless, a tecnologia por trás


das redes sem fio que faz a conexão de dois dispositivos através de
ondas de rádio sem a necessidade do uso de cabos.

O Wi-Fi é um tipo de rede wireless que funciona através de


ondas de rádios transmitidas por um roteador (hotspot), que recebe o
sinal de internet, decodifica-o e o emite a partir de uma antena.

O protocolo 802.11 possui quatro padrões, “a”, “b”, “g” e “n”,


cujas diferenças são a frequência e alcance do sinal, e a velocidade da
transmissão:

Padrão Frequência Velocidade

802.11 2,4 GHz 2 Mbps

802.11a 5 GHz 54 Mbps

802.11b 2,4 GHz 11 Mbps

802.11g 2,4 GHz 54 Mbps

802.11n 2,4 GHz e/ou 150 e 600 Mbps


5GHz

O que é Bluetooth e como ele funciona?

Bluetooth é um protocolo padrão de comunicação wireless


que utiliza uma frequência de rádio de onda curta de 2,4 GHz para
transmitir dados entre dispositivos conectados a uma rede chamada

204
piconet, formada por até 8 equipamentos, sendo 1 mestre e os demais
escravos.

Foi desenvolvido em 1994 pela Ericsson e batizada com este


nome em homenagem ao antigo Rei da Dinamarca e Noruega Harold
Batland (em inglês Harold Bluetooth). Tem baixo consumo de energia
e raio de alcance curto, permitindo apenas a comunicação entre
dispositivos próximos141.

Classes Potência Alcance


Máxima

Classe 1 100 mW (20 até 100 metros


dBm)

Classe 2 2.5 mW (4 dBm) até 10 metros

Classe 3 1 mW (0 dBm) ~ 1 metro

Versão Velocidade

Versão 1.2 1 Mbit/s

Versão 2.0 + 3 Mbit/s


EDR

Versão 3.0 24 Mbit/s

Versão 4.0 25 Mbit/s

Versão 5.0 50 Mbit/s

141 https://pt.wikipedia.org/wiki/Bluetooth

205
Como são coletados dados de geolocalização?

Quando você adquire um smartphone de sua marca preferida


a primeira providência provavelmente será comemorar, a segunda será
inserir o chip da sua operadora, a terceira iniciar as configurações do
celular, a quarta fazer a restauração do backup do aparelho anterior e
a quinta deleitar-se com o brinquedo novo.

Durante esses passos você certamente efetuará a leitura


atenta dos termos de uso e de privacidade dos serviços antes de
concordar com eles, correto?

Se você leu, viu que concedeu permissão para o sistema


operacional e vários outros aplicativos coletarem a localização do seu
dispositivo usando para isso as informações do GPS, endereço IP, ERB,
Wi-Fi e Bluetooth.

Se não leu, você faz parte da esmagadora maioria dos


usuários da internet.

É assim que as gigantes da tecnologia coletam nossos dados,


com nosso consentimento expresso ou “implícito”.

Como consigo identificar quais aplicativos coletam


dados de geolocalização?

Para verificar quais aplicativos estão coletando sua


localização você deverá acessar as configurações do seu aparelho.

No tutorial explicamos onde você encontrará essa informação


e como é possível excluir ou limitar essa permissão.

Como posso obter os dados de geolocalização de


alguém?
206
A geolocalização coletada pelos aplicativos é armazenada
pelas empresas provedoras do serviço e pode ser requisitada nos
processos trabalhistas mediante decisão fundamentada por se tratar
de dado estático não sujeito ao regramento da Lei nº 9.296/1996.

Para obtê-la o procedimento é o mesmo já mencionado nas


redes sociais.

Também é possível à própria parte apresentar seu histórico


de localização caso tenha autorizado a coleta nas configurações da
conta do usuário. Neste caso, o titular da conta encontrará as
informações no seu dashboard e poderá exportá-las usando as
ferramentas oferecidas pelo próprio serviço.

Leia os tutoriais e entenda como isso é possível.

5.6. METADADOS
O que são metadados?

Metadados são dados utilizados para gerir, descrever ou


estruturar um dado principal. São chamados de “dados sobre dados” e
oferecem uma maneira de classificar, organizar, caracterizar e
recuperar dados ou conteúdo.

Segundo a NISO (National Information Standards


Organization), em tradução livre Organização Nacional de Padrões da
Informação, há três tipos de metadados:

• estruturais, que são usados para explicar como um recurso


é composto ou organizado e sua principal função é a
padronização e a interoperabilidade;

207
• descritivos, que são usados para descrever um recurso e
sua principal função é permitir a identificação, localização,
recuperação, manipulação e uso;
• administrativos, que são usados para gerenciar, arquivar e
preservar um recurso.

Exatamente como posso usar os metadados nos


processos?

Vamos nos limitar a tratar dos metadados encontrados nas


fotos digitais, pois atualmente esse meio de prova vem sendo utilizado
com bastante frequência nos processos judiciais, ainda que sem o rigor
técnico necessário.

Na época em que o filme fotográfico imperava e a Kodak era


a maior empresa do ramo, as pessoas tiraram muito menos fotos, seja
pelo alto custo dos equipamentos e da revelação, seja pela dificuldade
de conservação e manuseio. A disruptura tecnológica causada pela
máquina fotográfica digital em substituição à analógica, que teve como
ápice a inclusão de câmeras nos aparelhos de telefonia celular,
acarretou um aumento exponencial dos registros fotográficos.

Organizar todo esse material numa biblioteca digital passou


a ser um grande desafio, quase tão grande quanto encontrar uma foto
depois.

Para facilitar a vida dos fotógrafos profissionais ou de plantão,


foi criado o Exchangeable Image File Format (ou apenas EXIF), uma
especificação técnica que permite aos fabricantes de câmeras digitais,
celulares ou qualquer outro aparelho com câmera, gravarem
metadados junto ao arquivo da foto.

208
Várias informações úteis ao processo podem ser extraídas
dos arquivos originais das fotos, que vão desde a data e horário em
que foi tirada, o equipamento e a lente utilizados, a qualidade e
extensão do arquivo da imagem, até o local exato onde foi batida.

Há várias ferramentas gratuitas na internet que fazem a


leitura e extração dos metadados das fotos com base no EXIF:

• http://fotoforensics.com/;
• https://www.pic2map.com/;
• https://www.metadata2go.com/;
• http://exif.regex.info/exif.cgi.

ATENÇÃO: Muitas redes sociais e aplicativos de mensageria


apagam os metadados das fotos quando carregamos o arquivo no seu
serviço.

Quais os cuidados devo ter na análise desse tipo de


prova digital?

Fotografias e imagens digitais são arquivos de fácil


manipulação e adulteração, logo, é necessária uma análise mais
acurada dos requisitos dessa espécie de prova digital para serem
consideradas válidas e eficazes.

Neste rol estão incluídos os “prints” de tela, meios de prova


extremamente frágeis e sujeitos à espoliação.

209
CASOS PRÁTICOS SIMULADOS

1) JOÃO trabalhou como vendedor externo para a empresa VENDAS


LTDA. por 2 anos, na cidade de São Paulo/SP, até a extinção do
contrato de trabalho. Ajuizou reclamação trabalhista pleiteando o
pagamento de horas extras alegando que laborava em média das 7h30
às 18h30, com 1 hora de intervalo, de segunda-feira a sábado. Em
contestação, a empresa afirmou que não havia controle da jornada de
trabalho em razão da atividade ser externa, nos moldes do art. 62, I,
da CLT. Em réplica, o reclamante afirmou que a empresa exigia que
fosse informado pelo Whatsapp os horários de início do atendimento
do primeiro cliente e de término do último cliente, conforme rota diária
pré-estabelecida, havendo controle indireto da jornada. A prova
testemunhal ficou dividida quanto à essa exigência e em relação ao
horário de trabalho, pois algumas testemunhas disseram que nem
sempre o autor trabalhava até o horário declinado na inicial. O
reclamante não guardou cópias das conversas de Whatsapp, pois
utilizava um smartphone fornecido pela empresa com sistema
operacional Android que foi devolvido ao término da relação. O número
de celular também era fornecido pela empresa, mas o autor não sabe
qual a operadora, apenas o número (19) 99123-7861. A conta de e-
mail cadastrada no aparelho era do próprio autor. Como seria
possível resolver esse litígio por meio da prova digital?

2) MARIA trabalhou para a empresa MARKETING LTDA. por 5 anos.


Ajuizou reclamação trabalhista alegando desvio de função e pleiteando
o pagamento de diferenças salariais e reflexos. Em contestação, a
empresa refutou o pedido afirmando que a autora jamais exerceu a
função relatada na inicial. Durante a instrução probatória, a reclamada
arguiu a suspeição da única testemunha da reclamada, alegando
210
amizade íntima e mostrando em audiência uma postagem do Facebook
de ambas a fim de comprovar tal fato. Indagadas, a testemunha e a
autora negaram a amizade íntima e disseram que a postagem se
referia a fato isolado. Ambas utilizam com frequência diversas redes
sociais, principalmente Instagram e Facebook. Como seria possível
decidir a suspeição da testemunha por meio da prova digital?

3) JOSÉ trabalhou para ENERGIA S.A. e, após ser dispensado, postou


em seu perfil do Instagram meme desabonador acompanhado de
comentários injuriosos sobre a idoneidade da empresa e a forma como
tratava seus funcionários. O ex-empregador fez o registro e a
preservação da prova digital da postagem utilizando o serviço de uma
empresa privada e, posteriormente, ajuizou ação indenizatória contra
JOSÉ postulando o pagamento de dano moral. Em sua defesa, JOSÉ
afirmou que não foi o autor da postagem em seu perfil, alegando que
seu celular foi utilizado indevidamente por alguém. Afirmou que no dia
e horário da postagem estava na casa de um amigo assistindo ao jogo
do Flamengo e que seu celular estava desbloqueado pois foi utilizada
sua conta do Spotify para reproduzir músicas, sendo manuseado por
várias pessoas. A postagem ainda não foi apagada e a empresa afirma
que JOSÉ estava em sua residência naquela data e horário. Como
seria possível identificar a autoria do ato ilícito por meio da
prova digital?

211
ABREVIATURAS

Assymetrical Digital Linha Digital Assimétrica para


ADSL
Subscriber Line Assinante

Advanced Encryption
AES Padrão de Criptografia Avançado
Standard

AI Artificial Intelligence Inteligência Artificial

American National Instituto Americano de Normas


ANSI
Standards Institute Nacionais

Address Resolution Protocolo de Resolução de


ARP
Protocol Endereços

AS Autonomous System Sistema Autônomo

Autonomous System
ASN Número de Sistema Autônomo
Number

AVI Audio Video Interleave Áudio Vídeo Intercalado

BGP Border Gateway Protocol Protocolo de Roteamento Externo

CCTV Closed-circuit Television Circuito Fechado de Televisão

CD Compact Disc Disco Compacto

Compact Disc Read-Only Disco Compacto de Memória Apenas


CD-ROM
Memory de Leitura

Computer Security Incident Grupo de Respostas a Incidentes de


CSIRT
Response Team Segurança de Computadores

Datagram Congestion Protocolo de Controle de


DCCP
Control Protocol Congestionamento de Datagramas

DNA Deoxyribonucleic acid Ácido Desoxirribonucleico

212
Digital Evidence First Primeiro Interventor da Evidência
DEFR
Responder Digital

DES Digital Evidence Specialist Especialista em Evidência Digital

Dynamic Host Protocolo de Configuração Dinâmica


DHCP
Configuration Protocol de Hospedeiro

DNS Domain Name System Sistema de Nomes de Domínio

DSL Digital Subscriber Line Linha Digital de Assinante

DVD Digital Video Disc Vídeo digital/Disco versátil

Explicit Congestion Notificação Explícita de


ECN
Notification Congestionamento

ESN Eletronic Serial Number Número Serial Eletrônico

Protocolo de Transferência de
FTP File Transfer Protocol
Arquivos

GPS Global Positioning System Sistema de Posicionamento Global

Sistema Global para Comunicações


GSM Global System for Mobile
Móveis

Protocolo de Transferência de
HTTP Hypertext Transfer Protocol
Hipertexto

Hypertext Transfer Protocol Protocolo de Transferência de


HTTPS
Secure Hipertexto Seguro

Internet Control Message Protocolo de Mensagens de Controle


ICMP
Protocol da Internet

Internet Control Message Protocolo de Mensagens de Controle


ICMPv6
Protocol Version 6 da Internet Versão 6

Internet Group Protocolo de Gerenciamento de


IGMP
Management Protocol Grupo da Internet

213
Internet Message Access Protocolo de Acesso à Mensagem da
IMAP
Protocol Internet

International Mobile Identificação Internacional de


IMEI
Equipment Identity Equipamento Móvel

IP Internet Protocol Protocolo de Internet

IPsec IP Security Protocol Protocolo de Segurança IP

IPv4 Internet Protocol Version 4 Protocolo de Internet Versão 4

IPv6 Internet Protocol Version 6 Protocolo de Internet Versão 6

Integrated Service Digital Rede Digital com Integração de


ISDN
Network Serviços

Information Security Grupo de Respostas a Incidentes de


ISIRT
Incident Response Team Segurança da Informação

International Organization Organização Internacional de


ISO
for Standardization Normalização ou Padronização

ISP Internet Service Provider Provedor de Serviços de Internet

Protocolo de Tunelamento de
L2TP Layer 2 Tunneling Protocol
Camada 2

LAN Local Area Network Rede de Área Local

Lightweight Directory Protocolo de Acesso a Diretório


LDAP
Access Protocol Livre

MAC Media Access Control Controle de Acesso ao Meio

Message-Digest Algorithm
MD5 Mensagem de Resumo, Algarismo 5
5

Media Gateway Control Protocolo de Controle de Porta de


MGCP
Protocol Entrada de Mídia

214
Multipurpose Internet Mail Extensões Multifunção para
MIME
Extensions Mensagens de Internet

MP3 MPEG Audio Layer-3 MPEG Camada de Áudio 3

MPEG com padrão de container de


MP4 MPEG-4 áudio e vídeo desenvolvido pela
ISO/IEC 14496-14

Moving Picture Experts Grupo de Especialistas em Imagens


MPEG
Group com Movimento

NAS Network-Attached Storage Armazenamento Anexado à Rede

Neighbor Discovery
NDP Protocolo de Descoberta de Vizinhos
Protocol

Network Basic Sistema Básico de Entrada/Saída de


NETBIOS
Input/Output System Rede

Network Information
NIC Centro de Informações de Rede
Center

NIR National Internet Registry Registro Nacional da Internet

P2P Peer-to-peer Ponto-a-ponto

PDA Personal Digital Assistants Assistente Pessoal Digital

Personal Electronic
PED Dispositivo Eletrônico Pessoal
Device

Personal Identification
PIN Número de Identificação Pessoal
Number

POP Post Office Protocol Protocolo dos Correios

PPP Point-to-Point Protocol Protocolo ponto-a-ponto

PUK PIN Unlock Key Código de Desbloqueio de PIN

215
Redundant Array of Conjunto Redundante de Discos
RAID
Independent Disks Independentes

RAM Random Access Memory Memória de Acesso Aleatório

Protocolo de Área de Trabalho


RDP Remote Desktop Protocol
Remota

Radio-Frequency
RFID Identificação por Radiofrequência
Identification

RIR Regional Internet Registry Registro Regional da Internet

Resource reSerVation
RSVP Protocolo de Reserva de Recursos
Protocol

Real-time Transport Protocolo de Transporte em Tempo


RTP
Protocol Real

Protocolo de Controle em Tempo


RTCP Real Time Control Protocol
Real

SAN Storage Area Network Rede de Área de Armazenamento

SHA Secure Hash Algorithm Algoritmo de Hash Seguro

Subscriber Identity Módulo de Identificação de


SIM
Module Assinante

SIP Session Initiation Protocol Protocolo de Iniciação de Sessão

Simple Mail Transfer Protocolo de Transferência de


SMTP
Protocol Correio Simples

Simple Network Protocolo Simples de Gerência de


SNMP
Management Protocol Rede

SSH Secure Shell Protocolo de Rede Criptográfico

Identificador do Conjunto de
SSID Service Set Identifier
Serviços

216
Protocolo de Camada Segura de
SSL Secure Sockets Layer
Soquetes

Transmission Control Protocolo de Controle de


TCP
Protocol Transmissão

Temporal Key Integrity Protocolo de Integridade de Chave


TKIP
Protocol Temporal

Terminal Emulation
TELNET Protocolo de Emulação de Terminal
Protocol

Trivial File Transfer Protocolo de Transferência de


TFTP
Protocol Ficheiros

Protocolo de Segurança da Camada


TLS Transport Layer Security
de Transporte

UDP User Datagram Protocol Protocolo de Datagramas do Usuário

URL Uniform Resource Locator Localizador Padrão de Recursos

USB Universal Serial Bus Porta Universal

Uninterruptible Power
UPS Fonte de Alimentação Ininterrupta
Supply

Universal Subscriber Módulo Universal de Identificação


USIM
Identity Module de Assinante

UV Ultraviolet Ultravioleta

WAN Wide Area Network Rede de Área Ampla

Privacidade Equivalente à Rede


WEP Wired Equivalent Privacy
Cabeada

Wireless Local Area


WLAN Rede de Área Local Sem Fio
Network

WI-FI Wireless Fidelity Fidelidade Rede sem Fio

217
WPA Wireless Protected Access Acesso Sem Fio Protegido

Wireless Protected Access


WPA2 Acesso Sem Fio Protegido versão 2
version 2

WPS Wi-Fi Protected Setup Configuração de Wi-Fi Protegido

218
TERMOS TÉCNICOS

Ato de deliberadamente realizar ou permitir


ADULTERAÇÃO* alteração(ões) na potencial evidência digital (isto é,
intencionalmente ou espoliação intencional)

Processo de criação de cópia de dados em um


AQUISIÇÃO*
conjunto definido

É uma tecnologia de registro de dados distribuído e


descentralizado em um livro razão público e
compartilhado entre vários computadores ou
usuários, chamados de “nó”, que através de uma
rede de arquitetura “peer to peer” adicionam novos
blocos de informações ao bloco gênese de modo
BLOCKCHAIN
linear, cronológico e encriptografado utilizando
como chave um código hash, formando uma cadeia
única que contém todos os registros anteriores já
validados por intermédio de um algoritmo de
consenso que impede a deleção ou modificação de
qualquer dado inserido na blockchain.

Parâmetro de variação do tempo que indica o


CARIMBO DE TEMPO* momento específico que diz respeito a uma
referência de tempo comum

Processo de recolhimento de itens físicos que


COLETA*
contêm potencial evidência digital

Propriedade de resultados e comportamentos


CONFIABILIDADE*
pretendidos consistentes

Representação cartográfica utilizada para localizar


COORDENADAS
qualquer ponto da superfície terrestre utilizando
GEOGRÁFICAS
linhas imaginárias denominadas latitude e longitude

219
Cópia de evidência digital que foi produzida para
manter a confiabilidade da evidência, incluindo
CÓPIA DE EVIDÊNCIA tanto a evidência digital como os meios de
DIGITAL* verificação no qual o método de verificação pode ser
incorporado ou ser independente das ferramentas
utilizadas na verificação

Dados que são especialmente propensos a alteração


DADOS VOLÁTEIS*
e que podem ser facilmente modificados

Equipamento eletrônico usado para processar ou


DISPOSITIVO DIGITAL*
armazenar dado digital

Área de mídia digital, incluindo memória principal,


ESPAÇO ALOCADO* que está em uso para armazenamento de dados,
incluindo metadados

Área na mídia digital, incluindo memória principal,


que não foi alocada pelo sistema operacional e que
ESPAÇO NÃO ALOCADO*
está disponível para o armazenamento de dados,
incluindo metadados

Informações ou dados, armazenados ou


EVIDÊNCIA DIGITAL* transmitidos em forma binária, que podem ser
invocados como evidência

Indivíduo que pode executar tarefas de um DEFR e


ESPECIALISTAS EM
possui um conhecimento especializado, aptidão e
EVIDÊNCIA DIGITAL
habilidade para lidar com uma ampla gama de
(DES)*
questões técnicas

Ato de realizar ou permitir alteração(ões) na


ESPOLIAÇÃO* potencial evidência digital que diminui o seu valor
probatório

FUNÇÃO DE Função que é usada para verificar dois conjuntos de


VERIFICAÇÃO* dados são idênticos

Transformação de dados de localização como


GEOCODIFICAÇÃO
coordenadas, endereços e nomes de
220
estabelecimentos em uma geolocalização com
latitude e longitude

Criação de uma cerca ou perímetro virtual


GEOFENCING ou
correspondente a uma área geográfica do mundo
GEOCERCA
real

Posição geográfica de um dispositivo baseada em


GEOLOCALIZAÇÃO
um sistema de coordenadas geográficas

Determinação da posição geográfica de um


GEORREFERENCIAMENTO
dispositivo num dado sistema de referência

Adição de informações geográficas nos metadados


GEOTAGGING de arquivos de imagens, vídeos, sons, sites etc. que
serve para o seu georreferenciamento

Processo envolvendo a busca, reconhecimento e


IDENTIFICAÇÃO*
documentação da potencial evidência digital

Processo de criação de uma cópia bit a bit de mídias


IMAGEM*
de armazenamento digital

INSTALAÇÕES DE Ambiente seguro ou um local onde as evidências


PRESERVAÇÃO DE coletadas ou adquiridas são armazenadas
EVIDÊNCIAS*

Distância em graus de qualquer ponto da Terra em


LATITUDE
relação à linha do equador

Distância em graus de qualquer ponto da Terra em


LONGITUDE
relação ao Meridiano de Greenwich

MÍDIA DE Dispositivo no qual dados digitais podem ser


ARMAZENAMENTO gravados
DIGITAL*

Dispositivo anexado a dispositivo digital para


PERIFÉRICO*
expandir a sua funcionalidade

221
Processo para manter e proteger a integridade e/ou
PRESERVAÇÃO*
a condição original da potencial evidência digital

PRIMEIRO Pessoa que está autorizada, treinada e qualificada


INTERVENTOR DA para agir primeiro no local do incidente, na execução
EVIDÊNCIA DIGITAL da coleta e aquisição da evidência digital,
(DEFR)* responsabilizando-se pelo seu manuseio

Propriedade de um processo conduzido para obter


os mesmos resultados de testes em um mesmo
REPETIBILIDADE*
ambiente de teste (mesmo computador, disco
rígido, modo de operação etc.)

Propriedade de um processo para obter os mesmos


resultados de testes em um diferente ambiente de
REPRODUTIBILIDADE*
teste (diferente computador, disco rígido, operador
etc.)

Tempo gerado pelo relógio do sistema e usado pelo


TEMPO DE SISTEMA* sistema operacional, não o tempo computado pelo
sistema operacional

Comprovação, por meio do fornecimento de


VALIDAÇÃO* evidências objetivas, de que os requisitos para um
específico uso ou aplicação tenham sido atendidos

VALOR DE HASH* Série de bits que são o resultado da função hash

*ABNT. NBR ISO/IEC 27037:2013

222
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Orlando José de; FURMAN, Bernardo Gasparim. Audiências


virtuais ou telepresenciais. Link:
https://www.migalhas.com.br/depeso/329879/audiencias-virtuais-
ou-telepresenciais. Data de acesso: 01/04/2021.

ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria do processo e


processo de conhecimento. 17ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2017.

ANDRADE, Mariana Dionísio de; PINTO, Eduardo Régis Girão de Castro;


LIMA, Isabela Braga de. Inteligência Artificial para o rastreamento de
ações com repercussão geral: O Projeto Victor e a realização do
princípio da razoável duração do processo. Revista Eletrônica de Direito
Processual – REDP. Rio de Janeiro. Janeiro/Abril: 2020.

ARRUDA, Kátia. A efetividade dos direitos sociais. Cadernos da Amatra


IV – nº. 13. ISSN 1981–2590. Porto Alegre: HS Editora Ltda, 2010, p.
61.

BARRETO, Alexandre G.; WENDT, Emerson. Inteligência e investigação


criminal em fontes abertas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Brasport,
2020.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,


2001.

BAUMAN, Zygmunt. Vigilância líquida. Diálogos com David Lyon. Rio


de Janeiro: Zahar, 2014. Traduzido por Carlos Alberto Medeiros.

BRAZ, Fabrício; INAZAWA, Pedro; HARTMANN, Fabiano; CAMPOS,


Teófilo de. Projeto Victor – Como o uso do aprendizado de máquina
pode auxiliar a mais alta corte brasileira a aumentar a eficiência e a
velocidade de avaliação judicial dos processos julgados. Link:
https://cic.unb.br/~teodecampos/ViP/inazawa_etal_compBrasil2019.
pdf. Data de acesso: 31/03/2021.

CALVET, Otávio Torres. Prova testemunhal x provas digitais: um novo


rumo para a Justiça do Trabalho. Fonte:
https://www.conjur.com.br/2021-abr-27/trabalho-contemporaneo-
prova-testemunhal-digital-rumo-justica-trabalho. Inserção:
27/04/2021. Data de acesso: 08/07/2021.
223
CASEY, Eoghan. Digital evidence and computer crime: forensic science,
computers and the internet. 3rd ed. Elsevier: 2011. Disponível em
https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=lUnMz_WDJ8AC&oi=fnd&pg=PP1&dq=Digital+evidence+a
nd+computer+crime:+forensic+science,+computers+and+the+inter
net.+3rd+edition&ots=aLq1CjzMVc&sig=NFQSvIG1HjTL7R2DzKSytnIt
rxk#v=onepage&q=Digital%20evidence%20and%20computer%20cri
me%3A%20forensic%20science%2C%20computers%20and%20the
%20internet.%203rd%20edition&f=false. Acessado em 16/05/2021,
às 16h14 (UTC-4).

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Relatório Justiça em


Números de 2020. Link: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em-
N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf. Data de
acesso: 30/03/2021.

DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as Sociedades de Controle.


Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226.
Tradução de Peter Pál Pelbart.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil.


7ª ed. V. 3. São Paulo: Malheiros, 2017.

FREITAS, Cinthia O. A. A obscuridade dos algoritmos. INPD, 2020.


Disponível em: https://www.inpd.com.br/post/a-obscuridade-dos-
algoritmos-e-a-lgpd. Acessado em 30/05/2021, às 17h22 (UTC-4).

GUNTHER, Luiz Eduardo; GUNTHER, Noeli Gonçalves da Silva. O


processo eletrônico e os direitos fundamentais. Revista do Tribunal
Regional do Trabalho da 9ª Região. ISSN 0100–5448. Semestral:
Jul./Dez. 2010. Curitiba: Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região.
2010, p. 610.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do


Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2004.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Prova. 2ª ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO,


Daniel. O Novo Processo Civil. Edição 1º, Nova edição. Revista dos
Tribunais: São Paulo, 2015.
224
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Augusto Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2018, pp. 418/419.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 33ª ed. V.1.


São Paulo: Saraiva, 1995.

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal.


10ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência


Artificial e Direito Processual: Vieses Algorítmicos e os Riscos de
Atribuição de Função Decisória às Máquinas. Revista dos Tribunais-
Processo, 2018. 285v. p. 437.

OLIVEIRA, Vinicius Machado de. ISO 27037 Diretrizes para


identificação, coleta, aquisição e preservação de evidência digital.
Academia Digital. Link: https://academiadeforensedigital.com.br/iso-
27037-identificacao-coleta-aquisicao-e-preservacao-de-evidencia/.
Data de acesso: 03/04/2021.

PARODI, Lorenzo. A cadeia de custódia da prova digital à luz da lei


13.964/19 (Lei anticrime). Link:
https://www.migalhas.com.br/depeso/320583/a-cadeia-de-custodia-
da-prova-digital-a-luz-da-lei-13-964-19--lei-anticrime. Data de
acesso: 03/04/2021.

PELLEGRINI, Ada. Teoria Geral do Processo. 25ª ed. São Paulo:


Malheiros, 2009.

PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. 7ª ed. rev., atual. e ampl.,


São Paulo: Saraiva, 2021, e-book.

PRADO. Geraldo. A cadeia de custódia de prova no processo penal. 1ª


ed., São Paulo: Marcial Pons, 2019.

REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo:


Saraiva, 2002.

SANTOS, Agenor S. Dicionário de anglicismos e de palavras inglesas


correntes em português. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico


científico e informacional. 5. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2013.

225
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e
Emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução de Daniel


Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Indicadores do STF do ano de


2019. Link:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=
435934. Data de acesso: 31/03/2021.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Uso da Inteligência Artificial no


STF. Link:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=
380038. Data de acesso: 31/03/2021.

THAMAY, Renann; TAMER, Maurício. Provas no Direito Digital –


Conceito da prova digital, procedimentos e provas digitais em espécie.
São Paulo: RT, 2020.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil –


Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento.
vol. I. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE ALAGOAS (TJ–AL). Klever defende


ampliação do uso de robôs para agilizar trâmite processual. Link:
https://www.instagram.com/tv/CLH9bUflkLD/?utm_source=ig_web_c
opy_link. Acesso: 22/03/2021.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO (TRT8). Manual do


Sistema Robô CCLE - Cadastro de Conhecimento, Liquidação e
Execução. Link:
https://www.trt8.jus.br/sites/portal/files/roles/pje/ccle_mns_roboccle
.pdf. Data de acesso: 01/04/2021.

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST). Indicadores do tempo do


processo na JT. Link: http://www.tst.jus.br/web/estatistica/tst/prazos.
Data de acesso: 31/03/2021.

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flavio Renato Correia de;


TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. V.1. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2005.

YAMADA, Vitor Leandro. Prova Digital – Um novo paradigma


probatório. Juiz do TRT14, 2021.
226
ZANON, João Carlos. Direito à Proteção dos Dados Pessoais. São Paulo,
Revista dos Tribunais, 2013, p.71.

227

Você também pode gostar