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Ao ser ordenado padre, Fulton Sheen fez secretamente em seu coração duas promessas: a
de todos os dias fazer uma hora santa diante do Santíssimo Sacramento; e a de todos os
sábados celebrar uma Missa em honra a Nossa Senhora. Esses dois propósitos, ele os
cumpriu durante toda sua vida, apesar de ter diversas ocupações, trabalhando cerca de
19 horas por dia. Ou seja, mesmo dormindo apenas 5 horas por dia, ele não abria mão de
fazer sua hora santa diante do Santíssimo. Sua fidelidade foi tamanha que 40 anos atrás, o
velho e alquebrado arcebispo Fulton Sheen, com seus 84 anos, foi encontrado morto, em sua
capela, diante do Santíssimo Sacramento.
A partir disso, já podemos perceber o nível de santidade deste homem, que já foi atestada
inclusive através de um milagre. O fato ocorreu com um casal do estado de Illinois, cujo filho
recém-nascido havia sido declarado morto. Diante da notícia, eles resolveram rezar e pedir a
intercessão do Venerável Fulton Sheen, e prometeram dar ao seu filho o nome de James
Fulton, em homenagem ao virtuoso arcebispo. Surpreendentemente, depois de 61 minutos
sem batimentos cardíacos, a criança voltou a viver. E esse é o milagre que foi utilizado em seu
processo de beatificação [1].
Tendo falado de sua morte e do milagre realizado, vamos agora tratar sobre sua vida. Ele
nasceu em 8 de maio de 1895, na cidade de El Paso, no estado de Illinois. Seu nome de
batismo, na verdade, é Peter John Sheen; mas, como o sobrenome de sua mãe era Fulton e o
do seu pai Sheen, ele escolheu ser chamado de Fulton Sheen. Quando tinha cinco anos, sua
família se mudou para a cidade de Peoria, também no estado de Illinois, onde passou boa
parte de sua vida.
Com 8 anos de idade, Fulton Sheen ajudou como coroinha numa Missa celebrada pelo então
bispo de Peoria, Dom John Lancaster Spalding, na Catedral de Santa Maria. Durante a
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celebração ele acabou quebrando acidentalmente uma das galhetas, ficando profundamente
preocupado com o ocorrido. Após a Missa, na sacristia, o bispo o chamou para conversar e
perguntou onde ele iria estudar. Nessa conversa, Dom Spalding disse que, um dia, o pequeno
Fulton Sheen estudaria em Lovaina, na Bélgica — um centro do tomismo na época —, e que
seria como ele, um bispo. Essas palavras foram, de fato, proféticas, pois Fulton Sheen
posteriormente estudou em Lovaina e tornou-se bispo.
Antes disso, porém, é preciso dizer que ele estudou no seminário em Minnesota, centro-
oeste dos Estados Unidos, destacando-se tanto nos estudos quanto nas virtudes; e foi
ordenado sacerdote, aos 24 anos, em 20 de setembro de 1919. Por ter se destacado, Fulton
Sheen foi escolhido pelo bispo para estudar em Lovaina. Em 16 de julho de 1925, defendeu
sua tese de doutorado em Filosofia sobre Santo Tomás de Aquino. Sua tese foi publicada em
livro, nos Estados Unidos e na Inglaterra, sob o título God and Intelligence. Impressionado
com o trabalho do jovem estudioso, ninguém menos que G. K. Chesterton escreveu a
introdução da obra. No ano seguinte, a Universidade de Lovaina conferiu-lhe o Prêmio
Internacional de Filosofia “Cardeal Mercier”, sendo o primeiro americano a ganhar esse
prêmio, que era concedido uma vez a cada década [2].
Por seu grande talento intelectual, a vaidade sempre foi a grande tentação contra a qual
Fulton Sheen teve de lutar. Isso pode ser constatado quando ele descreve, na sua
autobiografia, o próprio desempenho na defesa de doutorado. Ele contextualiza que “se a
pessoa fosse aprovada, no jantar, servia-se apenas água; se fosse aprovada com distinção,
cerveja; se o fosse com louvor, servia-se vinho; e se fosse considerada extraordinária, no
jantar, servia-se champagne” e, então, ele conclui: “naquela noite, a champagne estava muito
saborosa” [3].
Com uma trajetória acadêmica impressionante, Fulton Sheen tinha todos os atributos para
exercer a docência nas grandes universidades europeias. No entanto, o bispo de Peoria
chamou-o de volta para a diocese e o designou para uma paróquia pobre e periférica da
cidade, na qual ele exerceu seu ministério com grande êxito, tanto por seu ímpeto missionário
quanto pela habilidade retórica que possuía.
Depois de nove meses nesta paróquia, o bispo — que até então estava provando sua
obediência — nomeou-o professor na Catholic University of America, em Washington, D. C.
Como professor, ele possuía muito prestígio e reconhecimento; porém, sentia-se
vocacionado à pregação e era constantemente chamado a pregar em diversos lugares dos
Estados Unidos. Em suas pregações na Catedral de São Patrício, em Nova York,
aglomeravam-se cerca de 6 mil pessoas para ouvi-lo, de modo que a polícia precisava fechar
a movimentada Quinta Avenida.
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Com tamanha fama, Fulton Sheen foi convidado a dirigir um programa de rádio — na época, o
principal meio de comunicação — chamado The Catholic Hour (“A hora católica”), que
estreou em 2 de março de 1930, na estação WEAF, em Nova York. Por meio desse programa
que se estendeu até 1952 e era reproduzido em diversos lugares dos Estados Unidos, Fulton
Sheen atingiu milhões de pessoas, que lhe escreviam cartas relatando conversões.
Diante de seu êxito missionário, o Cardeal de Nova York, Francis Spellman, indicou-o para o
episcopado. Então, em 11 de junho de 1951, aos 56 anos, ele foi ordenado bispo em Roma.
Em fevereiro de 1952, como bispo auxiliar de Nova York, ele estreou na televisão o programa
Life is Worth Living (“A vida vale a pena”), que se tornou extremamente popular, chegando a
alcançar a audiência de 30 milhões de pessoas em horário nobre.
Em seus programas, embora ele falasse de Jesus e do catolicismo, a temática em si não era
católica. A fim de atrair os não católicos e convertê-los, Fulton Sheen falava, por exemplo, de
Marx, de Freud, de Nietzsche e de questões existenciais, mas, ao final, relacionava esses
temas com a fé católica, deixando assim uma mensagem de fé aos seus espectadores. Para
preparar seu programa semanal de 28 minutos, ele fazia o roteiro da apresentação, explicava-
a em italiano para um amigo padre e em francês para uma senhora, a quem ele pagava para
escutá-lo. Depois disso, ele estava pronto para apresentar o programa em inglês.
Para além da eficácia de suas pregações, Fulton Sheen também converteu inúmeras
pessoas através do diálogo pessoal, “corpo a corpo”, por meio de argumentos racionais e
do convite à oração. Foi assim com a comunista Bella Dodd, uma agente soviética infiltrada
nos Estados Unidos, que admitiu ter sido responsável por infiltrar, sob ordens de Stalin,
centenas de jovens nos seminários católicos. Do mesmo modo, também Henry Ford II foi
convertido ao catolicismo por Fulton Sheen.
Com seu sucesso, ele recebia inúmeras doações de dinheiro, ao mesmo tempo que vivia num
profundo despojamento, repartindo o que ganhava com aqueles que lhe pediam. E foi
justamente a questão do dinheiro que lhe serviu como um instrumento de purificação
contra a vaidade. Quando foi ordenado bispo, ele ainda lutava contra a vaidade, como se
observa, em sua autobiografia, no modo como ele descreve a ordenação episcopal e os dias
que se seguiram a ela:
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para mim. Levou algum tempo para descobrir que a joia do anel não
necessariamente se torna uma joia na coroa do Céu [4].
Aqui, ele está confessando que, como bispo, ainda lutava contra a vaidade, de modo que
havia algo nele que precisava ser purificado. E a purificação veio por meio de um conflito que
exigiu de Sheen muita retidão e coragem, para resistir àquele que o havia indicado ao
episcopado, o Cardeal Spellman. Tudo aconteceu porque a Associação para a Propagação da
Fé, cujo presidente era Fulton Sheen, havia recebido de doação do governo uma grande
quantidade de leite. O Cardeal Spellman pediu a Fulton Sheen que simulasse a “compra”
desse leite da arquidiocese de Nova York e que o pagasse com o dinheiro destinado às
missões. O bispo Fulton Sheen negou-se peremptoriamente a fazer isso; e o embate foi
tamanho que os dois foram parar diante do Papa Pio XII, que deu razão a Fulton Sheen.
Depois desse episódio, o Cardeal Spellman não poupou esforços para prejudicar Fulton
Sheen, tirando seu programa de televisão e articulando sua transferência para a inexpressiva
diocese de Rochester, fato que ocorreu em 1966. Nessa diocese, ele sofreu grande
resistência por parte do clero, de modo que veio a renunciar em 1969, aos 74 anos de idade.
Então, o papa Paulo VI, a fim de homenageá-lo, condecorou-o arcebispo de Newport, uma
sede titular no País de Gales. Assim, ele terminou sua vida como bispo emérito de Rochester
e arcebispo de Newport.
Os últimos 13 anos de vida de Fulton Sheen, dos 71 aos 84, foram de intensa purificação por
meio das perseguições que sofrera em virtude da sua fidelidade a Deus. A aceitação dessas
perseguições, como vítima oferecida em sacrifício de amor, condiz com tudo aquilo que ele
pregou, principalmente em relação ao sacerdote enquanto vítima; e também mostra o quanto
ele foi profético, anos antes, ao escolher como lema episcopal a frase Da per matrem me
venire (Conceda que eu possa ir a Vós através da mãe), extraída do Stabat Mater, um
belíssimo hino a Nossa Senhora das Dores.
Referências
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2. Cf. T. C. Reeves. America’s Bishop: the Life and Times of Fulton J. Sheen. San
Francisco: Encounter Books, 2001. pp. 61.
America's Bishop: The Life and Times of Fulton J. Sheen (Thomas C. Reeves)
https://padrepauloricardo.org/episodios/veneravel-fulton-sheen 5/5