Você está na página 1de 3

O MILAGRE DO TRIBUTO

Autores: Antônio Francisco & Kydelmir Dantas


1 7
Há muitos séculos atrás O povo todo correu,
Existia uma cidade Pra cima do ancião.
Na sombra do arco-íris, Perguntando: - Qual seu nome?
Gritando por liberdade, Qual cidade? Qual nação?
Teto, pão, escola e médico, O que faz aqui na praça?
Hospital, maternidade. E qual a sua missão?
2 8
O povo malhava duro, O velhinho disse: - Calma!
Mas, era mal informado. Cada um de cada vez.
Não sabia que os impostos Me chamo TRIBUTAÇÃO,
No comércio arrecadado, Um amigo de vocês.
Era um pouco do suor Mas, vocês não me ligando,
Do seu rosto derramado. Viro escravo do burguês.
3 9
A liderança, também, Eu sou o dinheiro a mais
Vivia de pé no chão. Que vocês pagam na hora.
Roendo a ponta da unha, Quando compram uma camisa
Chupando o dedo da mão. Ou a blusa da senhora.
Sem ver o brilho do trinco Sou justo, mas muitas vezes,
Da porta da solução. O bolso do pobre chora.
4 10
A cidade toda troncha, Nunca gostei e nem gosto
Muito mal iluminada. Desse nome de “imposto”.
Esgoto de peito aberto, Por mim teria mudado
Boca-de-lobo quebrada. Este nome pra “de gosto”.
As ruas cheias de lama, E fazer um paraíso
Buraco, lixo e mais nada. Do suor de cada rosto.
5 11
Luz elétrica, só havia Mas, infelizmente eu sou,
Na vivenda do patrão. Sonegado da Nação.
Que aproveitava o imposto Por muitos não conhecerem
Daquela população, Esta minha obrigação.
Pra sustentar a pilastra Fico parado no cofre,
Do alpendre da mansão. Sem cumprir minha missão.
6 12
Quando tudo parecia Mas, se de hoje em diante,
Sem chance, sem voz, sem vez. Vocês agirem direito.
Chegou na praça um velhinho Pedindo nota fiscal,
Que disse, com altivez: Pressionando o prefeito.
- Eu vim aqui consertar Eu deixo esta cidade,
A cidade de vocês. Pra ninguém botar defeito.
13 19
Nisto um rapaz gritou: Mercado, Biblioteca,
- Vale a pena o sacrifício? Praças, piscinas, estradas.
Tributação respondeu: Ruas largas, grandes, retas,
- Olha, é este o meu ofício. Totalmente arborizadas.
Transformar todo suor Canteiros e ciclovias,
De vocês em benefício. Pistas para caminhadas.
14 20
Eu nasci para fazer E nunca mais a cidade
Da desigualdade a paz. Teve um pequeno desgosto.
Dando mais a quem tem pouco, Depois que o povo aprendeu
Tirando de quem tem mais. Que o suor de seu rosto
Deixando todo cristão Podia ser transformado
No patamar dos iguais. No “milagre do imposto”.
15 21
Agora que me conhecem. E agora que aprendemos
Na hora que for comprar O que é TRIBUTAÇÃO.
É pedir notas fiscais É ajudar o governo
E depois fiscalizar. Na sua arrecadação.
Onde estou sendo aplicado Pedindo Nota Fiscal,
Em qual obra e qual lugar. Quando sair do balcão.
16 22
Mal o velhinho se cala, Fazendo isto, fazemos,
Saiu todo pessoal. O colégio que estudamos.
Comprando e pedindo notas, A praça, a quadra, o teatro,
No mercadinho central. O banco em que nós sentamos.
Até mesmo em batizado O hospital que queremos,
Pediam nota fiscal. A pista que caminhamos.
17 23
O prefeito nunca mais Ser consciente e fazer
Deu um cochilo direito. Do nosso saber, um guia.
Correndo por todo canto, Pra encurtar a estrada,
Levando tudo de eito. Que leva à Democracia.
Mostrando aos moradores E transformar tudo numa
As obras que tinha feito. Palavra: CIDADANIA.
18
E haja aparecer obras,
Cobrindo toda a cidade.
Escolas, creches, jardim,
Hospital, maternidade.
Colégio, quadra de esportes,
Ginásio e faculdade.
Mossoró (RN), janeiro de 2005.
OS AUTORES

ANTÔNIO FRANCISCO – Poeta popular, cordelista, escritor e xilógrafo. Bacharel em


História e Doutor Honoris Causa pela UERN. Nascido em Mossoró (RN) a 21 de outubro de
1949, filho de Pêdra Teixeira de Melo e Francisco Petronilo de Melo.

KYDELMIR DANTAS – Professor, poeta, cordelista, pesquisador e agrônomo, de Nova


Floresta (PB), radicado em Mossoró (RN). Nascido a 06 de setembro de 1958, filho de
Angelita Dantas e Oliveira e Manoel Batista de Oliveira.

Você também pode gostar