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12 de maio de 2019
1 Tabelas-verdade 2 Tautologia, contradição e contin-
gência
Quando construı́mos proposições compostas, podemos de-
terminar seus valores lógicos a partir dos valores lógicos Quando lidamos com proposições compostas, estas podem
atribuı́dos às proposições simples que a forma. Por exem- ser separadas em três diferentes classes, de acordo com a
plo, a proposição R = (p → q) ∨ (¬p) assumirá valor V definição a seguir.
quando p e q forem ambos verdadeiras. Note ainda que,
para cada combinação de valores para p e q, haverá um Definição 1. Uma proposição composta é chamada de tau-
valor para a proposição R. Podemos listar todas essas tologia se sempre assume valores lógicos verdadeiros, é
combinações construindo uma tabela-verdade seguindo os chamada de contradição se sempre assume valores lógicos
passos listados abaixo: falsos e é chamada de contingência se pode assumir va-
lores lógicos verdadeiros e falsos, dependendo dos valores
1. Primeiramente, verifica-se quantas proposições sim- lógicos das proposições simples que a compõem.
ples são utilizadas para formular a proposição com-
posta. Se forem utilizadas n proposições simples, a Um exemplo fundamental de tautologia é aquela que re-
tabela deverá ter 2n linhas. Cada linha representará presenta o Princı́pio da Não Contradição, dado por
uma combinação possı́vel para o conjunto dos valores
das proposições simples. Dessa forma, deve-se utilizar p ∨ ¬p.
as n primeiras colunas para descrever cada uma dessas
situações. Em palavras, “Estou vivo ou estou morto”. Construindo
uma tabela-verdade bem simples, temos:
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Em outras palavras, P e Q são equivalentes se possuem Definição 3. Dizemos que duas ou mais proposições com-
colunas exatamente idênticas na tabela-verdade. Tomemos postas P1 , P2 , ..., Pn são inconsistentes se não podem ser
como exemplo a seguinte equivalência: simultaneamente verdadeiras.
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Exemplo 5. Verifique as leis de De Morgan utilizando P1 : João está feliz apenas quando toca violão.
tabelas-verdade. P2 : João não está tocando violão.
Portanto, João não está feliz.
Solução. Vamos construir separadamente as tabelas-
verdade para as duas leis. No caso anterior, P1 e P2 são as premissas e C : João não
está feliz é a conclusão. A palavra “portanto” é frequente-
p q ¬p ¬q p∧q ¬(p ∧ q) (¬p) ∨ (¬q) mente substituı́da pelo sı́mbolo (∴). Em forma simbólica,
V V F F V F F o argumento acima pode ser escrito da seguinte maneira
F V V F F V V
V F F V F V V P1 ;
F F V V F V V P2 ;
∴ C.
Uma vez que os valores lógicos de ¬(p ∧ q) e (¬p) ∨ (¬q) Por vezes, também denotamos um argumento lógico sob
são sempre os mesmos, temos a equivalência ¬(p ∧ q) ≡ a forma horizontal (P1 , P2 , ..., Pn ` C). O sı́mbolo (`) é
(¬p) ∨ (¬q). chamado traço de asserção e afirma que a proposição
C pode ser deduzida utilizando como premissas as pro-
p q ¬p ¬q p∨q ¬(p ∨ q) (¬p) ∧ (¬q) posições P1 , P2 , ..., Pn que estão à sua esquerda.
V V F F V F F Agora, considere o próximo exemplo.
F V V F V F F
V F F V V F F Q1 : Meu pai se chama João.
F F V V F V V Q2 : Minha mãe se chama Maria.
Portanto, meu nome é João Mário.
Da mesma forma, na tabela acima os valores lógicos de Veja que, apesar de ter uma estrutura muito semelhante à
¬(p∧q) e (¬p)∨(¬q) são sempre os mesmos. Assim, temos do exemplo anterior, este argumento nos é intuitivamente
a equivalência ¬(p ∨ q) ≡ (¬p) ∧ (¬q). estranho. Alguns podem até mesmo afirmar que ele não
faz sentido. Com o objetivo de formalizar essa discussão,
Aristóteles separou os argumentos lógicos em duas classes
Exemplo 6. Mostre que (p → q) ≡ (¬p ∨ q). básicas: argumentos válidos e argumentos inválidos. Para
tanto, baseou-se na seguinte
Solução. Uma vez mais, basta construirmos a tabela-
verdade e comparar as colunas de p → q e ¬p ∨ q: Definição 8. Dizemos que um argumento lógico
(P1 , P2 , ..., Pn ` C) é válido se a proposição composta
p q ¬p (¬p) ∨ q p→q P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn → C é uma tautologia.
V V F V V
F V V V V Segundo a definição, um argumento é válido se a ver-
V F F F F dade das premissas implica necessariamente na verdade
F F V V V da conclusão. Dessa forma, para determinarmos se um
argumento é válido, devemos inicialmente construir uma
tabela-verdade que contemple as premissas e a conclusão.
Em seguida, para que o argumento seja válido, devemos
verificar se as linhas nas quais todas as premissas são si-
multaneamente verdadeiras têm conclusão verdadeira. Se
4 Argumentos lógicos ao invés disso, em ao menos uma dessas linhas o valor
Como vimos rapidamente no inı́cio deste capı́tulo, um dos lógico da conclusão C for falso, então o argumento dado é
objetivos centrais da Lógica é o estudo da validade ou in- não válido.
consistência de um argumento lógico. De modo informal, Por exemplo, considere o seguinte argumento, conhecido
podemos dizer que um argumento é um processo no qual como Modus Tollens:
relacionamos um conjunto de hipóteses (ou premissas) com
(p → q, ¬q ` ¬p).
uma conclusão. De maneira formal, temos a seguinte
Definição 7. Um argumento lógico é uma sequência finita Fazendo a tabela-verdade, veja que há apenas uma única
de proposições, tais que as iniciais são as premissas e a situação em que ambas premissas são verdadeiras (caso
última é a conclusão. que corresponde à quarta linha na tabela-verdade a seguir)
e que, nessa situação, a conclusão também é verdadeira.
Um exemplo de argumento lógico é o seguinte: Portanto, este argumento é válido.
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p q p→q ¬q ¬p Solução. Bastar observar a primeira linha da tabela-
V V V F F verdade a seguir para concluir que, realmente, se trata de
F V V F V um argumento válido.
V F F V F
F F V V V p q p→q
V V V
F V V
Tabela 3: Analisando um argumento V F F
p q v ¬v (p ∨ q) (p ∨ q) ∨ v p ∧ q
F F V
V V V F V V V
F V V F V V F
V F V F V V F
F F V F F V F
V V F V V V V Exemplo 10. A gata de Pedrinho sempre espirra antes
F V F V V V F de uma chuva. Ela espirrou hoje. Pedrinho pensou: “Isso
V F F V V V F significa que irá chover”. Ele está certo?
F F F V F F F
Solução. Note que esse exemplo se encaixa no mesmo
tipo de sofisma que mencionamos anteriormente:
Por outro lado, o argumento (p ∨ q) ∨ v, ¬v ` p ∧ q é
inválido. Para verificarmos este fato, façamos a tabela- “Se há carros, então há poluição. Há poluição. Logo, há
verdade como mostrado no quadro 3: carros.”
Perceba que podemos entender a lógica por trás de um
argumento válido da seguinte maneira: se aceitarmos as Portanto, não é um argumento válido. A palavra sem-
premissas como verdadeiras, então devemos aceitar a con- pre, que aparece em destaque, não tem valor lógico nesse
clusão também como uma proposição verdadeira. exemplo e apenas reforça a aparente veracidade do argu-
Uma classe de argumentos inválidos que merece atenção mento.
especial é a formada pelas chamadas falácias ou sofis-
mas. São argumentos inválidos, mas construı́dos de forma Exemplo 11. Mostre que o argumento (p → q, q → r `
a parecerem válidos. Considere o exemplo a seguir: p → r) é válido.
“Se há carros, então há poluição. Há poluição. Logo, há Solução. Fazendo a tabela da verdade, verificamos que,
carros.” quando p → q e q → r são simultaneamente verdadeiros,
p → r também é.
Se p significa “há carros” e q significa “há poluição”, o
argumento acima pode ser escrito em linguagem simbólica p q r p→q q→r p→r
na forma (p → q, q ` p). V V V V V V
Para verificar que este argumento é inválido, faremos F V V V V V
uso da tabela-verdade: V F V F V V
F F V V V V
p q p→q
V V F V F F
V V V
F V F V F V
V F F
V F F F V F
F V V
F F F V V V
F F V
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Referências
[1] Augusto C. Morgado and Benjamin César. Raciocı́nio
Lógico-Quantitativo. Elsevier, 2006.
[2] Paulo. Quilelli. Raciocı́nio Lógico Matemático. Editora
Ferreira, 2009.
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