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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar as ações de intervenção da gestão escolar
mediante os resultados obtidos através do Ideb no ano de 2015. A pesquisa utilizada
foi a etnográfica escolar. Trata-se de um estudo de caso que buscou verificar as
particularidades evidenciadas em uma escola municipal de Palmeira dos Índios,
Alagoas, identificando de que modo a gestora escolar, a coordenação pedagógica e o
corpo docente do ensino fundamental que lecionam nas turmas de 4º e 5º ano
desenvolveram suas atividades administrativas e pedagógicas, respectivamente. Este
trabalho fundamentou-se principalmente nas contribuições de Luck (2006), Paro
(2000) e Saviani (2007). De modo geral, o estudo apontou que há um longo caminho
a percorrer a fim de efetivar uma gestão de ensino democrática e de maior qualidade,
capaz de dar autonomia ao gestor para a construção de ações visando ao melhor
funcionamento da escola e à melhoria dos seus indicadores.
ABSTRACT
This article aims to analyze the intervention actions of school management through the
results obtained through Ideb in 2015. The research used was ethnographic school
research. This is a case study that sought to verify the particularities evidenced in a
municipal school in Palmeira dos Índios, Alagoas, identifying how the school
manager, the pedagogical coordination and the elementary school teachers who teach
4th and 5th grade classes developed their administrative and pedagogical activities,
respectively. This work was based mainly on the contributions of Luck (2006), Paro
(2000), and Saviani (2007). In general, the study pointed out that there is a long way
to go to achieve a democratic and higher quality educational management, capable of
giving autonomy to the manager for the construction of actions aiming at the better
functioning of the school and the improvement of its indicators.
1 INTRODUÇÃO
Compreender os resultados voltados à educação não tem sido uma tarefa fácil,
sobretudo, quando se busca nesses resultados a qualidade desejada nos procedimentos
avaliativos de larga escala. Esta é uma questão que exige, constantemente, mais
pesquisas e discussões sobre o papel desempenhado pela gestão escolar em torno
desses resultados, bem como de que forma os processos de ensino vêm contribuindo
para a melhoria da educação ofertada nos espaços escolares.
O estudo da gestão educacional envolve a compreensão de outro universo
composto de elementos que estão presentes na constituição da escola, como as ações
em torno da aprendizagem dos alunos, a relação dos gestores escolares com os
integrantes da comunidade escolar, superando a concepção de que os gestores
escolares são profissionais que apenas se encarregam da administração da escola, de
maneira isolada e descontextualizada dos processos pedagógicos inerentes a esse
espaço formativo.
Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, com a pretensão de analisar o
trabalho da gestão escolar em face dos resultados do IDEB no ano de 2015, numa
escola da rede pública municipal de Palmeira dos Índios, Alagoas. Os instrumentos
utilizados para a coleta dos dados foram a entrevista semiestruturada, a consulta aos
documentos da escola ‒ a exemplo do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e do
regimento interno ‒, bem como acessos realizados no sítio eletrônico do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP).
1 No ano de 2005, o Saeb passou por uma reestruturação, de acordo com a Portaria Ministerial nº 931,
de 21 de março desse ano. O sistema passou a ser composto por duas avaliações: Avaliação Nacional
da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) (BRASIL, 2015),
popularmente conhecida como Prova Brasil.
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O Saveal é o Sistema de Avaliação Educacional de Alagoas; foi criado em 2001 no governo de Ronaldo
Lessa. Inicialmente o sistema fez uma avaliação em duas coordenadorias regionais de educação: a
primeira foi em Maceió, na 1ª coordenadoria, e a segunda, na 10ª coordenadoria, localizada em Porto
Calvo; e a partir daí, uma segunda avaliação em 2005. Com a chegada do governo Téo Vilela, do Partido
da Social Democracia Brasileira – PSDB, deu-se uma interrupção nas avaliações do Saveal. Não houve
avaliação em 2007 e 2009, retornando apenas a partir de 2011.
Segundo LÜCK (2006, p. 25), as ações dos gestores educacionais precisam ser
articuladas com a participação dos sujeitos envolvidos no processo funcional e
educacional da escola, desde a formulação da ideia até sua execução, buscando
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A Avaliação Nacional da Educação Básica – Aneb utiliza os mesmos instrumentos da Prova
Brasil/Anresc e é aplicada com a mesma periodicidade. Diferencia-se por abranger, de forma amostral,
escolas e alunos das redes públicas e privadas do País que não atendem aos critérios de participação da
Anresc/Prova Brasil e que pertencem às etapas finais dos três últimos ciclos da Educação Básica: em
áreas urbanas e rurais 5º ano (4ª série) e 9º ano (8ª série) do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino
Médio regular.
alcançar o resultado almejado. Faz-se necessária uma dinâmica no que tange às ações
e seu direcionamento, sendo esse fator importante no acompanhamento das mudanças
que constantemente imergem na sociedade e se refletem no interior da escola.
Sobre o conceito de administração e gerenciamento das unidades escolares,
Paro afirma:
4
Referência ao trabalho de Paro (2008, p. 9), no qual o autor diz que “utopia”, embora signifique lugar
que não existe, não quer dizer que não possa existir nunca, podendo, portanto, colocar-se como algo
desejável.
Quadro 5 ‒ Resultados Alcançados Anos Iniciais – Ideb Ensino Fundamental (Anos Iniciais) Escola
Municipal Irmã Bernadete ‒ 2009/2011/2013/2015
ESCOLA 2009 2011 2013 2015
Ao observamos o ano de 2009, notaremos que a meta projetada pelo Inep foi
de 2,5, tendo a escola alcançado a média 3,6, o que pode ser considerado um salto
significativo, uma vez que em 2007 ela obteve 2,3. Esse resultado se repete nos anos
seguintes, sempre com o avanço das médias, havendo superação em relação às
projeções.
Recentemente, os resultados de 2017 foram divulgados. Mais uma vez
observamos que a escola apresentou uma média positiva no panorama do crescimento,
uma vez que a meta para 2017 era de 4,2, tendo a escola obtido 5,0. De 2015 para
2017, os avanços em termos da média projetada foram de três pontos percentuais. Com
isso, a escola ficou com média 5,0, referente ao Ideb 2017.
A escola pesquisada obteve resultados positivos, tendo o seu crescimento
constante superado as projeções, até mesmo do município, que tinha como meta 4,5 e
obteve os mesmos 4,5 referentes aos anos iniciais; quanto ao Estado, a meta foi de 4,6,
tendo a escola obtido 4,5 ‒ valor idêntico ao do município de Palmeira dos Índios.
Os sujeitos da pesquisa em questão ocupam a função de gestor escolar (formada
em Pedagogia, com especialização na área de gestão escolar, há dez anos à frente da
instituição), coordenadora pedagógica (formada em Pedagogia, com especialização na
já que necessita da parceria de sua equipe para que esse trabalho possa funcionar. Ela
destaca que hoje se vivencia um clima de organização na escola, antes não visto.
Indagada, a gestora escolar destacou qual é o papel do gestor e da gestão:
“Até o ano de 2015 não existia. A partir do ano passado (2017), que foi
quando começou o Programa Escola 10, a gente começou a utilizar estes
dados pra gente refletir o porquê daquele resultado. Até 2015, a
preocupação era apenas obter a média [...]. A média é inserida nos
planejamentos, no sentido de como trabalhar. Também é uma coisa meio
complicada, porque cada turma é uma turma.” (Professora A).
Nota-se que até o ano de 2015 não existia preocupação com a utilização desses
resultados, tampouco sua inserção nos documentos que norteiam o funcionamento da
escola para que esta fizesse uso deles. Na fala da docente, é possível destacar que com
o Programa Escola 105, criado no final de 2017 e instituído em 2018, passou-se a
utilizar os dados nos planejamentos e nos documentos, a fim de orientar o trabalho
docente mediante as formações do programa.
A professora B, ao ser questionada como a escola trabalhava a partir dos
resultados do Ideb, disse:
“Não! nós sempre trabalhamos, porque acontece a cada, vamos dizer 2015,
2017, a cada dois anos, mas o que é que a gente faz: a gente trabalha para
que este dado sempre cresça e não se acomode. A gente só não trabalha em
anos de Ideb, isso é um crescimento que a gente vem, desde as turmas do
1º ano, ela precisa pro 2º, pro 3º e assim por diante. Então a gente não para.”
(Professora B).
“[...] sim, ela é trabalhada através de simulados e aulões.” (Coordenadora).
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Instituído através da Lei nº 8.048/2018, o Programa Escola 10 visa garantir os direitos de aprendizagem
dos estudantes da educação básica de todas as redes públicas de Alagoas e assegurar ações com foco
nos estudantes das redes públicas de ensino em parceria com estados, municípios e gerências regionais
de ensino.
Com base nos relatos das entrevistadas, percebe-se que a escola costuma
refletir sobre maneiras de utilização dos resultados. Tal mudança de postura ocorreu a
partir de 2017, com a participação da escola no Programa Escola 10.
Já a professora B afirma que o trabalho é feito continuamente (“sempre”), e
não apenas a cada dois anos. Para ela, o trabalho deve ser iniciado desde as turmas do
1º ano, já prevendo que estas venham a passar por algum teste dessa natureza, ou sendo
este a preparação para o 5º ano, turma de fato avaliada. Ela acrescenta que, obtida uma
nota, a equipe escolar não se contenta e busca desenvolver ações tendo em vista uma
média melhor. Para a coordenadora pedagógica, os resultados são usados nos
planejamentos, a fim de melhorar a média seguinte, mediante simulados e aulões.
A gestora destaca que os resultados são de fato utilizados em formações,
encontros e, sobretudo, no trabalho em torno da construção de novas ações, avaliando
se o que foi planejado funcionou na hora da execução.
Observa-se que na discussão em torno dessa questão, a equipe escolar percebe
a importância da utilização e da apropriação dos resultados. As entrevistadas avaliam
que é muito difícil desenvolver ações que não sejam pontuais e que acabem por fugir
da rotina escolar.
Em todas as falas resta claro que a escola se preocupa com a utilização
adequada dos resultados em seu planejamento, mesmo que o desenvolva com base em
ações pontuais, resultando nas formações, nos encontros e na construção coletiva de
atividades que ajudam a articular a teoria com a prática pedagógica no espaço
educacional.
Passando para a próxima pergunta da entrevista, questionamos acerca do
Projeto Político-Pedagógico (PPP) no alinhamento de ações, indagando se ele
contempla em sua estrutura o trabalho com ações para o Ideb.
Partimos então para as respostas, começando pela coordenadora, que assim
respondeu: “Contempla, sim! A cada dois anos, ele é contemplado no PPP, na escrita,
através do desempenho obtido com as ações desenvolvidas” (Coordenadora).
Observa-se que não fica claro de que forma essas ações se articulam, uma vez que,
analisando o PPP dessa escola, identifica-se que o Ideb é de fato citado, mas apenas
como referência, não se explicitando como as ações são desenvolvidas concretamente.
“Ele dá um norte, né? Nós trabalhamos com o PPP, com essa proposta, mas
ele também é flexível, para que a gente possa trabalhar conteúdos que
surgiram em sala de aula. Não estava ali proposto, mas ele auxilia, dando
um norte, uma direção. Ele nos permite ser flexíveis e nos norteia”.
Nessas falas, fica claro que a coordenadora e a gestora escolar consideram que
o resultado obtido no ano de 2015 possibilitou o desenvolvimento de um trabalho
diferenciado no que diz respeito ao trabalho coletivo e à motivação dos docentes.
Quanto à questão da Secretaria Municipal de Educação (Semed), asseveram que a
preocupação dá-se apenas com o resultado. Afirmam, ainda, haver falta de suporte
suficiente no tocante à formação continuada dos profissionais da escola.
A pesquisa revelou ainda dois pontos importantes. O primeiro, todos os
entrevistados e os demais participantes do processo escolar conhecem o Ideb e sua
importância no que tange à melhoria da educação, porém veem dificuldade na forma
como o índice é tratado, ressaltando a falta de apoio da Secretaria de Educação,
ressalvados os anos de avaliação. O segundo aspecto versa sobre certa percepção das
ações de liderança desenvolvidas pela gestão escolar, que tem trabalhado para reduzir
os índices de distorção idade-série, em parceria com as docentes e os demais
integrantes da comunidade escolar.
Ficou evidenciado que os principais documentos da escola ‒ PPP e regimento
‒ não contemplam o trabalho com o Ideb, tendo as professoras atestado várias vezes
em suas falas tal fato, bem como a falta de atenção da Secretaria Municipal de
Educação no fornecimento do suporte necessário ao processo de formação dos
profissionais da unidade escolar.
6 CONCLUSÃO
A partir da pergunta proposta no início para a pesquisa (quais seriam as ações
da gestão escolar em face dos resultados do Ideb), foi possível conhecer o trabalho da
gestão escolar e sua importância na mediação/intervenção do processo acerca da
utilização dos resultados do Ideb, na prática diária da escola, contribuindo para o
entendimento da dinâmica de funcionamento de utilização dos resultados na
construção de ações coletivas voltadas à melhoria dos indicadores de qualidade.
Restaram evidentes os esforços da gestão da escola no tocante ao trabalho com
esses resultados em torno da busca pela qualidade da educação. O engajamento de
todos no processo permitiu um avanço significativo nas metas estipuladas pelo Inep,
refletindo-se nas práticas pedagógicas desenvolvidas pela escola.
Diante de tais evidências, é importante garantir a autonomia de que a escola
necessita, pois através dela será possível a realização das modificações necessárias.
Por fim, reitera-se a importância da ampliação das pesquisas sobre a gestão escolar, os
dados sobre o IDEB e o corpo docente, por se configurarem como temas que estão
explicitamente presentes no cotidiano.
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas:
Papirus, 1995.
GERHARDT, T.E; SILVEIRA, D.T. (org.). Método de Pesquisa. 1. ed. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009. V.1. 118p.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista
e ampliada. Goiânia: MF Livros, 2008.
PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da escola pública. 3 ed. São Paulo: Ática,
2000.