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Brazilian Journal of Development 26812

ISSN: 2525-8761

O IDEB e as ações de intervenção da gestão escolar

IDEB and school management intervention actions


DOI:10.34117/bjdv7n3-402

Recebimento dos originais: 16/02/2021


Aceitação para publicação: 16/03/2021

Bruno Henrique Alves do Nascimento


Mestrando em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), do
Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Av. Lourival Melo Mota, S/n - Tabuleiro do Martins, Maceió - AL,
57072-900
E-mail: henrque2012@gmail.com

Jailton de Souza Lira


Doutor em Educação e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Av. Lourival Melo Mota, S/n - Tabuleiro do Martins, Maceió - AL,
57072-900
E-mail: jailtonsouzalira@gmail.com

Maria Betânia Nunes Pereira


Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), do
Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Av. Lourival Melo Mota, S/n - Tabuleiro do Martins, Maceió - AL,
57072-900
E-mail: maria.nunes@cedu.ufal.br

RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar as ações de intervenção da gestão escolar
mediante os resultados obtidos através do Ideb no ano de 2015. A pesquisa utilizada
foi a etnográfica escolar. Trata-se de um estudo de caso que buscou verificar as
particularidades evidenciadas em uma escola municipal de Palmeira dos Índios,
Alagoas, identificando de que modo a gestora escolar, a coordenação pedagógica e o
corpo docente do ensino fundamental que lecionam nas turmas de 4º e 5º ano
desenvolveram suas atividades administrativas e pedagógicas, respectivamente. Este
trabalho fundamentou-se principalmente nas contribuições de Luck (2006), Paro
(2000) e Saviani (2007). De modo geral, o estudo apontou que há um longo caminho
a percorrer a fim de efetivar uma gestão de ensino democrática e de maior qualidade,
capaz de dar autonomia ao gestor para a construção de ações visando ao melhor
funcionamento da escola e à melhoria dos seus indicadores.

Palavras-Chave: Gestão Escolar, Ideb, Qualidade.

ABSTRACT
This article aims to analyze the intervention actions of school management through the
results obtained through Ideb in 2015. The research used was ethnographic school
research. This is a case study that sought to verify the particularities evidenced in a

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municipal school in Palmeira dos Índios, Alagoas, identifying how the school
manager, the pedagogical coordination and the elementary school teachers who teach
4th and 5th grade classes developed their administrative and pedagogical activities,
respectively. This work was based mainly on the contributions of Luck (2006), Paro
(2000), and Saviani (2007). In general, the study pointed out that there is a long way
to go to achieve a democratic and higher quality educational management, capable of
giving autonomy to the manager for the construction of actions aiming at the better
functioning of the school and the improvement of its indicators.

Keywords: School Management, Ideb, Quality.

1 INTRODUÇÃO
Compreender os resultados voltados à educação não tem sido uma tarefa fácil,
sobretudo, quando se busca nesses resultados a qualidade desejada nos procedimentos
avaliativos de larga escala. Esta é uma questão que exige, constantemente, mais
pesquisas e discussões sobre o papel desempenhado pela gestão escolar em torno
desses resultados, bem como de que forma os processos de ensino vêm contribuindo
para a melhoria da educação ofertada nos espaços escolares.
O estudo da gestão educacional envolve a compreensão de outro universo
composto de elementos que estão presentes na constituição da escola, como as ações
em torno da aprendizagem dos alunos, a relação dos gestores escolares com os
integrantes da comunidade escolar, superando a concepção de que os gestores
escolares são profissionais que apenas se encarregam da administração da escola, de
maneira isolada e descontextualizada dos processos pedagógicos inerentes a esse
espaço formativo.
Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, com a pretensão de analisar o
trabalho da gestão escolar em face dos resultados do IDEB no ano de 2015, numa
escola da rede pública municipal de Palmeira dos Índios, Alagoas. Os instrumentos
utilizados para a coleta dos dados foram a entrevista semiestruturada, a consulta aos
documentos da escola ‒ a exemplo do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e do
regimento interno ‒, bem como acessos realizados no sítio eletrônico do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP).

2 SISTEMA DE AVALIAÇÃO EM ALAGOAS


Durante a implementação das reformas educacionais ocorridas no Brasil
durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998; 1999-2002), as

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autoridades educacionais consideraram necessária a criação de instrumentos


avaliativos que pudessem medir os índices de aprendizagem da educação brasileira, a
partir das experiências internacionais existentes à época e sob a pressão dos
organismos multilaterais de financiamento e comércio (o Banco Mundial e a
Organização Mundial do Comércio).
Criou-se o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), composto por um
conjunto de avaliações externas e em larga escala (Brasil, 2015), com o objetivo de
realizar diagnósticos do sistema educacional brasileiro, na busca de compreender
fatores que interferem significativamente no desempenho dos estudantes e que
funcionam como elementos indicativos do nível de qualidade da educação pública.
Os estados da federação também implementaram uma política semelhante ao
Saeb1, com o mesmo formato. Os pioneiros foram os estados do Ceará e de Minas
Gerais, em 1992; o Paraná, em 1995; São Paulo, em 1996; e o estado de Alagoas, mais
recentemente, no ano de 2001.
Em 2001, o estado de Alagoas criou o seu próprio Sistema de Avaliação
Educacional de Alagoas (Saveal). Assim como o Saeb, o sistema consiste na aplicação
de testes que medem a proficiência de desempenho dos estudantes em Língua
Portuguesa (LP) e Matemática (M). Esses resultados servem como um mapa para o
acompanhamento das escolas.
O Saveal2 é uma forma de controle do Estado sobre as escolas e a gestão
escolar, uma vez que ao estabelecer determinadas metas e exigir o seu cumprimento,
a rede estadual monitora esses resultados, “orientando” os procedimentos
administrativos e pedagógicos com vistas ao alcance dos indicadores previamente
estipulados. O Saveal interfere diretamente na “autonomia” da escola, pois
frequentemente responsabiliza os gestores escolares para que logrem a obtenção desses
resultados, transferindo as determinações legais do poder público para a ponta do
sistema, independentemente das condições de trabalho. Sem dúvida, a rígida

1 No ano de 2005, o Saeb passou por uma reestruturação, de acordo com a Portaria Ministerial nº 931,
de 21 de março desse ano. O sistema passou a ser composto por duas avaliações: Avaliação Nacional
da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) (BRASIL, 2015),
popularmente conhecida como Prova Brasil.
2
O Saveal é o Sistema de Avaliação Educacional de Alagoas; foi criado em 2001 no governo de Ronaldo
Lessa. Inicialmente o sistema fez uma avaliação em duas coordenadorias regionais de educação: a
primeira foi em Maceió, na 1ª coordenadoria, e a segunda, na 10ª coordenadoria, localizada em Porto
Calvo; e a partir daí, uma segunda avaliação em 2005. Com a chegada do governo Téo Vilela, do Partido
da Social Democracia Brasileira – PSDB, deu-se uma interrupção nas avaliações do Saveal. Não houve
avaliação em 2007 e 2009, retornando apenas a partir de 2011.

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hierarquia do Saveal interfere de forma negativa na gestão escolar, comprometendo o


princípio constitucional da gestão democrática e a autonomia das escolas públicas.

3 O IDEB E A GESTÃO ESCOLAR


O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica ‒ Ideb é talvez o mais
importante indicador da qualidade da educação no Brasil. É norteado por dois
conceitos importantes no que tocante à qualidade da educação: o fluxo escolar e as
médias de desempenho nas avaliações. O primeiro é obtido através dos dados
levantados pelo Censo Escolar, sendo estes a aprovação e a reprovação; o segundo,
pelos resultados alcançados nas avaliações aplicadas pelo INEP, através de testes de
Língua Portuguesa e Matemática, da Avaliação Nacional da Educação Básica3 (Aneb),
para as unidades da federação, e da Prova Brasil aplicada, para todos os municípios.
Segundo Saviani:

[...] o Ideb representa um avanço importante, ao combinar os dados


relativos ao rendimento dos alunos com os dados da evasão e repetência e
ao possibilitar aferir, por um padrão comum em âmbito nacional, os
resultados de aprendizagem de cada aluno, em cada escola. É acertada,
também, a iniciativa de construir um processo sistemático e continuado de
assistência técnica aos municípios com apoio e condição para incentivos
financeiros adicionais. (SAVIANI, 2007, p. 1.245).

De acordo com Castro:

O desempenho do indicador evita que os sistemas de ensino direcionem


suas ações para um dos seus componentes, ou seja, uma escola que reprova
sistematicamente, fazendo que muitos alunos abandonem os estudos antes
de completar a educação fundamental, não é desejável mesmo que aos
poucos alunos sobreviventes tenham um bom desempenho nas provas
nacionais. Também não é desejável uma escola que aprova em massa, sem
dar atenção à qualidade da aprendizagem de seus alunos, pois não adianta
alcançar taxas elevadas de conclusão dos ensinos fundamental e médio, se
os alunos aprendem pouco na escola. (CASTRO, 2009, p. 12).

Segundo LÜCK (2006, p. 25), as ações dos gestores educacionais precisam ser
articuladas com a participação dos sujeitos envolvidos no processo funcional e
educacional da escola, desde a formulação da ideia até sua execução, buscando

3
A Avaliação Nacional da Educação Básica – Aneb utiliza os mesmos instrumentos da Prova
Brasil/Anresc e é aplicada com a mesma periodicidade. Diferencia-se por abranger, de forma amostral,
escolas e alunos das redes públicas e privadas do País que não atendem aos critérios de participação da
Anresc/Prova Brasil e que pertencem às etapas finais dos três últimos ciclos da Educação Básica: em
áreas urbanas e rurais 5º ano (4ª série) e 9º ano (8ª série) do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino
Médio regular.

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alcançar o resultado almejado. Faz-se necessária uma dinâmica no que tange às ações
e seu direcionamento, sendo esse fator importante no acompanhamento das mudanças
que constantemente imergem na sociedade e se refletem no interior da escola.
Sobre o conceito de administração e gerenciamento das unidades escolares,
Paro afirma:

Administrar uma escola publica não se reduz à aplicação de uns tantos


métodos e técnicas, importados, muitas vezes, de empresas que nada têm a
ver com objetivos educacionais. A administração escolar é portadora de uma
especificidade que a diferencia da administração especificamente capitalista,
cujo objetivo é o lucro, mesmo em prejuízo de realização humana implícita
no ato educativo. Se administrar é utilizar racionalmente os recursos para a
realização de fins determinados, administrar a escola exige a permanente
impregnação de seus fins pedagógicos na forma de alcançá-los. (PARO,
2000, p. 7).

A gestão educacional deve desenvolver novos conhecimentos, atitudes e


habilidades para que, dessa forma, seja ultrapassada a concepção de gestão como sendo
meramente a administração das unidades escolares.
É necessário estabelecer prioridades, decidir ações, mediar soluções
pedagógicas, ordenar problemas, apaziguar conflitos, sem perder de vista a utopia4 da
educação a que se almeja. Mais do que nunca, o foco na organização do trabalho é
imperativo (PARO 2008).

4 CONTEXTUALIZANDO O LÓCUS DA PESQUISA


A Escola Municipal Irmã Bernadete, objeto da pesquisa, localizada no bairro
Xucurus, em área periférica, atende a um total de 202 alunos (de acordo com o
Educacenso 2020), vindos das comunidades Paraíso, Loteamento Padre Ludugero,
Baixada, Genésio Moreira, Sítio Jarra, Fazenda Canto, e ainda os residenciais Brivaldo
Medeiros, Edval Gaia e Jota Duarte.
A instituição funciona desde 1987, quando as irmãs holandesas, que faziam
missões sociais, decidiram criar a escola para as crianças da comunidade. Mais tarde,
em 1994, ela foi transferida para a administração da prefeitura, que através da Lei
Municipal nº 1.340/94 converteu-a em escola pública municipal.

4
Referência ao trabalho de Paro (2008, p. 9), no qual o autor diz que “utopia”, embora signifique lugar
que não existe, não quer dizer que não possa existir nunca, podendo, portanto, colocar-se como algo
desejável.

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Atualmente, a escola funciona em dois turnos, matutino e vespertino, ofertando


o Ensino Fundamental Anos Iniciais na modalidade regular, em tempo integral, das 7h
às 16h. Conta ainda com o programa Mais Alfabetização e com a Sala de Recursos
Multifuncionais, atendendo alunos com necessidades especiais no contraturno das
aulas.
Verificando os resultados do Ideb referentes à escola, ficam evidentes os
avanços obtidos nas médias obtidas entre os anos 2009 e 2015.
O comparativo entre as projeções e as médias resultantes acha-se na tabela
abaixo:

Quadro 5 ‒ Resultados Alcançados Anos Iniciais – Ideb Ensino Fundamental (Anos Iniciais) Escola
Municipal Irmã Bernadete ‒ 2009/2011/2013/2015
ESCOLA 2009 2011 2013 2015

Projeção 2,5 2,8 3,1 3,4

Médias 3,6 3,5 3,2 4,2

Fonte: (INEP, 2017)

Ao observamos o ano de 2009, notaremos que a meta projetada pelo Inep foi
de 2,5, tendo a escola alcançado a média 3,6, o que pode ser considerado um salto
significativo, uma vez que em 2007 ela obteve 2,3. Esse resultado se repete nos anos
seguintes, sempre com o avanço das médias, havendo superação em relação às
projeções.
Recentemente, os resultados de 2017 foram divulgados. Mais uma vez
observamos que a escola apresentou uma média positiva no panorama do crescimento,
uma vez que a meta para 2017 era de 4,2, tendo a escola obtido 5,0. De 2015 para
2017, os avanços em termos da média projetada foram de três pontos percentuais. Com
isso, a escola ficou com média 5,0, referente ao Ideb 2017.
A escola pesquisada obteve resultados positivos, tendo o seu crescimento
constante superado as projeções, até mesmo do município, que tinha como meta 4,5 e
obteve os mesmos 4,5 referentes aos anos iniciais; quanto ao Estado, a meta foi de 4,6,
tendo a escola obtido 4,5 ‒ valor idêntico ao do município de Palmeira dos Índios.
Os sujeitos da pesquisa em questão ocupam a função de gestor escolar (formada
em Pedagogia, com especialização na área de gestão escolar, há dez anos à frente da
instituição), coordenadora pedagógica (formada em Pedagogia, com especialização na

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área de gestão, coordenação e supervisão escolar, desempenha a função há oito anos


na instituição, tendo exercido o papel de coordenadora do Programa Mais Educação,
além de atuar como professora em sala de aula). As outras duas são professoras que
lecionam há cinco anos na escola. Uma professora possui especialização em
Tecnologia da Comunicação e Informação, enquanto a outra tem formação em
Psicopedagogia.
Os documentos utilizados como referencial teórico para a pesquisa foram o
Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o Regimento Interno. Utilizou-se também a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e os dados do Inep. Esses documentos
serviram de auxílio para embasar a pesquisa, principalmente no tocante aos resultados
alcançados.
A metodologia utilizada foi a pesquisa de caráter qualitativo, que tem a
pretensão de analisar o trabalho da gestão escolar por meio dos resultados obtidos
através do Ideb e, nessa mesma investigação, entender a singularidade de cada sujeito
participante desse processo. A pesquisa qualitativa, também conhecida como pesquisa
etnográfica, é responsável por abordar a vida cotidiana escolar (ANDRÉ, 1995; 1997a;
1997b).
As interações que ocorrem no espaço escolar partem de um contexto repleto de
significados inseridos no espaço cultural pesquisado. Busca-se entender a cultura
como um processo de construção no qual se encontram imersas as visões do mundo,
os estilos, as expressões símbolos usadas por determinado grupo e seus conceitos e
conhecimentos transmitidos de geração a geração.
Inicialmente, foi feito o levantamento de informações acerca do objeto de
estudo e, a seguir, da gestão escolar e de como esta tem tratado os resultados
apresentados pelo Ideb no ano de 2015. Foram também realizadas visitas à escola, a
fim de observar sua estrutura, a gestão e os envolvidos no processo. Foi realizado o
levantamento bibliográfico do tema, visando obter subsídios para a compreensão
teórica da pesquisa, ouvindo relatos de professores e fontes documentais (SEVERINO,
2007, p. 45).
Além das fontes bibliográficas pesquisadas, também foi realizada coleta de
informações junto aos professores, coordenadora pedagógica e gestora escolar, em
forma de questionário e relatos de agentes participadores (GERHARDT & SILVEIRA,
2009 p. 37).

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Com a definição de quem seriam os sujeitos e quais seriam os documentos


utilizados para a pesquisa, foram definidos os instrumentos de coleta. Para isso, foi
elaborado um roteiro de entrevista com perguntas semiestruturadas, contendo 15
questões. Ele foi aplicado aos sujeitos participantes com o objetivo de coletar os dados
para compreender o que estava sendo proposto pela pesquisa.
As entrevistas foram realizadas durante três momentos distintos, em seus
ambientes cotidianos de trabalho. As perguntas foram respondidas de acordo com seus
conhecimentos sobre o assunto, de forma individual, com agendamento prévio.
Vale ressaltar que a entrevista apenas foi realizada após visitas à escola, onde
se pôde observar a rotina. Houve o levantamento preliminar de dados que pudessem
colaborar no delineamento das questões, adaptadas a cada área de atuação dos
profissionais voluntários.

5 ANÁLISE DOS DADOS E SISTEMATIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES


Nos roteiros das entrevistas, foram elaboradas 15 questões. Contudo, no
processo de sistematização, selecionaram-se apenas as perguntas que tinham relação
estreita com os resultados do Ideb e da gestão escolar, de acordo com o objetivo da
pesquisa e a base teórica pertinente ao tema. A primeira pergunta versava sobre a
formação e o período de atuação na docência na instituição. Com base nas respostas,
construiu-se este quadro que apresenta de forma detalhada como cada uma das
entrevistadas se colocou, sendo assim possível identificar dados específicos da atuação
profissional de cada entrevistada.

Quadro 6 – Perfil Das Entrevistadas, Tempo De Atuação, Período Em Docência E Formação


Entrevistada Formação Tempo que Tempo que está na função
leciona
Gestora Formada em Pedagogia com 21 anos 21 anos que é diretora na rede
especialização em gestão municipal, há dez anos na escola
pesquisada
Coordenadora Formada em Pedagogia, pós- 20 anos 8 anos na função de coordenadora
pedagógica graduada em gestão escolar
Professora A Formada em Pedagogia, pós- 6 anos 6 anos na docência na instituição
graduada em TICs
Professora B Formada em pedagogia, pós- 10 anos 3 anos na docência na instituição
graduada em Psicopedagogia

As entrevistadas possuem tempo razoável de atuação profissional, incluído o


período de trabalho na própria instituição. Todas elas possuem pós-graduação na
mesma linha em que atuam. Elas foram questionadas sobre qual a sua concepção do

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papel da gestão escolar e como viam a estrutura da equipe gestora da escola. As


respostas foram sucintas e diretas.
A professora A, atualmente lecionando no 4º ano, assim respondeu:

“O papel da gestão escolar é abarcar os projetos, dar apoio aos professores,


é tentar direcionar aqueles que estão com dificuldades e, além disso, ter um
olhar clínico para identificar determinados problemas. Uma relação estreita
tanto com o professor quanto com os pais de alunos e as pessoas que estão
dentro da comunidade.” (Professora A).

Percebe-se na fala da professora A que a sua concepção da gestão escolar


parece ser bem contextualizada, pois ela afirma que a gestão precisa desenvolver um
olhar clínico, uma visão que identifique os problemas e que possa estreitar as relações
entre os agentes envolvidos diretamente no processo de construção do ambiente
escolar.
A professora B assim definiu o papel da gestão bem como a sua estrutura:

“Pra mim, a gestão é a mediação entre coordenação, professor, aluno e


comunidade escolar; é o instrumento que liga todos esses elos. Eu acredito
que é como funciona um corpo: cada um tem a sua função, e um depende
do outro para funcionar. Acredito que assim como um corpo funciona,
assim é a gestão escolar.” (Professora B).

Ao definir a gestão como instrumento, a professora B quer dizer que igual a


um corpo humano, que precisa que todos os seus órgãos estejam em perfeito
funcionamento, fenômeno semelhante acontece com a escola. Trata-se de um grande
sistema em funcionamento, que depende da colaboração de cada um em sua
singularidade, a desempenhar sua função no que diz respeito à escola.
Por último, ouvimos a coordenadora e a diretora da instituição, para
entendermos o que elas entendem acerca de algo que lhes é tão cotidiano, uma vez que
elas estão diretamente ligadas ao funcionamento de toda a escola.
A primeira se expressou nos seguintes termos:

“O papel da gestão, na minha concepção, é aquele que está à frente de tudo.


Sabemos que não só o gestor pode trabalhar, e sim ele em parceria com
toda sua equipe. Hoje eu vejo uma estrutura completamente diferente; antes
era de qualquer jeito. Hoje, sim, existe uma hierarquia” (Coordenadora).

Segundo a fala da coordenadora, a gestão escolar está à frente de todo o


processo educacional, representada na figura do gestor escolar, que não atua sozinho,

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já que necessita da parceria de sua equipe para que esse trabalho possa funcionar. Ela
destaca que hoje se vivencia um clima de organização na escola, antes não visto.
Indagada, a gestora escolar destacou qual é o papel do gestor e da gestão:

“O papel do gestor escolar é gerenciar todo aquele trabalho sobre ensino e


aprendizagem, trabalhar com pessoas, conversar com seres humanos,
mostrar para eles o papel de cada um em seu setor e mostrar como cada um
é importante no seu papel [...]. Gestão não é só trabalhar no papel, é
trabalhar a parte humana.” (Diretora).

Em sua fala, a gestora corrobora o que discutimos anteriormente, afirmando


que as suas funções vão além de gerir uma instituição como se fosse uma empresa,
sendo preciso propiciar um clima de colaboração mútua para o alcance de resultados
satisfatórios quanto à aprendizagem dos alunos. No que diz respeito à estrutura de
organização da equipe, ela entende que o debate de ideias é algo fundamental, aliado
a uma unidade da comunidade educacional em torno de objetivos comuns.
Podemos reforçar as falas com base no que Luck (2009, p. 9) destaca quanto à
gestão escolar no processo de busca pela qualidade na aprendizagem escolar. Para ele,
a qualidade do ensino assenta-se na competência profissional dos diretores escolares e
em sua capacidade de organizar, orientar e liderar as ações e processos ocorridos na
escola e voltados para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos.
Passando adiante na entrevista, fizemos a seguinte pergunta: a escola teve
média 4,0 no Ideb em 2015, sendo sua meta 3,4. Quais práticas e/ou ações na escola
você considera terem influenciado nesse resultado do Ideb (ao que você atribui esse
resultado)? A coordenadora pedagógica destacou que “ações, mais desempenho dos
professores em sala de aula, e também na prática pedagógica, o desempenho no dia a
dia”.
Como observamos acima, a fala da coordenadora foi direta e sucinta no que
tange às ações responsáveis pelo resultado. Ela destaca a prática diária do professor e
a chamada prática pedagógica como base nos estudos realizados pela escola junto aos
docentes.
Eis a fala da gestora escolar:

“O trabalho da equipe, da coordenação pedagógica, junto à direção da


escola, e da coordenação principalmente, que está em contato direto com
os professores, os alunos e os pais de alunos. Também o trabalho em cima
da distorção idade-série, a fim de resolver a defasagem nas turma. O Ideb
é uma ação conjunta; trabalhando com o aluno diretamente se pode obter
essa média, sendo o fator-chave para a média a união.” (Diretora).

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Na mesma linha, a professora B atribui esse resultado ao trabalho coletivo:

“Eu acho que a participação de todos. Quando se trabalha desde o 1º ano


até o 5º, esse resultado vem mais fácil, e não quando se joga esse resultado
para uma professora que esteja no 5º ano. Então acredito que isso foi uma
conversa que se teve com toda a equipe escolar, e todos se engajaram para
que se alcançasse a meta ou a aumentasse. Eu acredito no compromisso de
cada professor com a aprendizagem do aluno.”

Ao analisar as falas, fica evidente que durante o ano de 2015, os integrantes da


comunidade escolar se preocuparam em criar mecanismos que possibilitassem
alcançar uma média mais positiva nos indicadores de avaliação de desempenho em
larga escala, no qual o Ideb se configura como o eixo norteador principal. Muito se
falou em aulões, simulados, trabalhos com correção da distorção idade-série, bem
como em ações pontuais conjuntas entre todos os envolvidos da escola. Chamamos
atenção para fala da professora A, que destacou que sentiu falta de uma aproximação
por parte dos pais; ela considera que a partir desse contato seria possível aperfeiçoar
os processos de ensino-aprendizagem dos estudantes.
A partir da divulgação dos resultados, verificou-se que a escola obteve média
4,0, quando a projeção inicial era de 3,4: um avanço de 0,6 décimo em relação ao
previsto.
Dando prosseguimento às perguntas, as docentes foram questionadas sobre
como a gestão escolar contribuiu no sentido de apoio às questões relacionadas ao Ideb
em 2015. Responderam: “Incentivando. Foram feitas várias ações, aulões, ajuda de
outros professores ao horário adverso, auxiliando esses meninos a serem alfabetizados.
Foram avaliações bimestrais para que esses meninos tivessem esse desenvolvimento”
(Diretora).
É possível perceber que a participação da gestão costuma ocorrer de forma
efetiva no que diz respeito ao compromisso com as ações de formação, ações
realizadas no espaço escola e, sobretudo, no suporte ao apoio pedagógico.
A importância do trabalho coletivo fica evidente desde a primeira questão, em
expressões como “apoio”, “conjunto”, “nós”. A partir disso, podemos afirmar que a
participação é um dos princípios básicos de uma gestão educacional desenvolvida por
todos os pares presentes nos vários segmentos educacionais. Para Luck (2001), o
próprio conceito de gestão já carrega em si a ideia de participação: pessoas trabalham
de forma associada, analisando situações, trocando experiências e tomando decisões
de forma conjunta:

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O desempenho de uma equipe depende da capacidade de seus membros de


trabalharem em conjunto e solidariamente, mobilizando reciprocamente a
intercomplementaridade de seus conhecimentos, habilidades e atitudes,
com vistas à realização de responsabilidades comuns [...]. Por outro lado, a
mobilização e o desenvolvimento dessa capacidade dependem da
capacidade de liderança de seus gestores. (LUCK, 2008, p. 97).

A participação coletiva dos membros da escola consiste na atuação dos


sujeitos, que assumem ser membros de uma instituição social com poder de exercer
influência na tomada de decisões. Porém, para que isso ocorra, as pessoas precisam
participar das discussões que envolvem o ambiente escolar.
Discutimos então com as entrevistadas como a escola age a partir dos
resultados obtidos nas avaliações, bem como a forma que esses resultados são
trabalhados. Houve ainda a discussão de se o Projeto Político da Escola contempla em
alguma medida as ações que visem ao trabalho com esses resultados.
Assim respondeu a professora A:

“Até o ano de 2015 não existia. A partir do ano passado (2017), que foi
quando começou o Programa Escola 10, a gente começou a utilizar estes
dados pra gente refletir o porquê daquele resultado. Até 2015, a
preocupação era apenas obter a média [...]. A média é inserida nos
planejamentos, no sentido de como trabalhar. Também é uma coisa meio
complicada, porque cada turma é uma turma.” (Professora A).

Nota-se que até o ano de 2015 não existia preocupação com a utilização desses
resultados, tampouco sua inserção nos documentos que norteiam o funcionamento da
escola para que esta fizesse uso deles. Na fala da docente, é possível destacar que com
o Programa Escola 105, criado no final de 2017 e instituído em 2018, passou-se a
utilizar os dados nos planejamentos e nos documentos, a fim de orientar o trabalho
docente mediante as formações do programa.
A professora B, ao ser questionada como a escola trabalhava a partir dos
resultados do Ideb, disse:

“Não! nós sempre trabalhamos, porque acontece a cada, vamos dizer 2015,
2017, a cada dois anos, mas o que é que a gente faz: a gente trabalha para
que este dado sempre cresça e não se acomode. A gente só não trabalha em
anos de Ideb, isso é um crescimento que a gente vem, desde as turmas do
1º ano, ela precisa pro 2º, pro 3º e assim por diante. Então a gente não para.”
(Professora B).
“[...] sim, ela é trabalhada através de simulados e aulões.” (Coordenadora).

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Instituído através da Lei nº 8.048/2018, o Programa Escola 10 visa garantir os direitos de aprendizagem
dos estudantes da educação básica de todas as redes públicas de Alagoas e assegurar ações com foco
nos estudantes das redes públicas de ensino em parceria com estados, municípios e gerências regionais
de ensino.

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“Sim, utiliza, nos momentos de formação, reuniões e encontros com


professores, para avaliar e discutir ações possíveis.” (Diretora).

Com base nos relatos das entrevistadas, percebe-se que a escola costuma
refletir sobre maneiras de utilização dos resultados. Tal mudança de postura ocorreu a
partir de 2017, com a participação da escola no Programa Escola 10.
Já a professora B afirma que o trabalho é feito continuamente (“sempre”), e
não apenas a cada dois anos. Para ela, o trabalho deve ser iniciado desde as turmas do
1º ano, já prevendo que estas venham a passar por algum teste dessa natureza, ou sendo
este a preparação para o 5º ano, turma de fato avaliada. Ela acrescenta que, obtida uma
nota, a equipe escolar não se contenta e busca desenvolver ações tendo em vista uma
média melhor. Para a coordenadora pedagógica, os resultados são usados nos
planejamentos, a fim de melhorar a média seguinte, mediante simulados e aulões.
A gestora destaca que os resultados são de fato utilizados em formações,
encontros e, sobretudo, no trabalho em torno da construção de novas ações, avaliando
se o que foi planejado funcionou na hora da execução.
Observa-se que na discussão em torno dessa questão, a equipe escolar percebe
a importância da utilização e da apropriação dos resultados. As entrevistadas avaliam
que é muito difícil desenvolver ações que não sejam pontuais e que acabem por fugir
da rotina escolar.
Em todas as falas resta claro que a escola se preocupa com a utilização
adequada dos resultados em seu planejamento, mesmo que o desenvolva com base em
ações pontuais, resultando nas formações, nos encontros e na construção coletiva de
atividades que ajudam a articular a teoria com a prática pedagógica no espaço
educacional.
Passando para a próxima pergunta da entrevista, questionamos acerca do
Projeto Político-Pedagógico (PPP) no alinhamento de ações, indagando se ele
contempla em sua estrutura o trabalho com ações para o Ideb.
Partimos então para as respostas, começando pela coordenadora, que assim
respondeu: “Contempla, sim! A cada dois anos, ele é contemplado no PPP, na escrita,
através do desempenho obtido com as ações desenvolvidas” (Coordenadora).
Observa-se que não fica claro de que forma essas ações se articulam, uma vez que,
analisando o PPP dessa escola, identifica-se que o Ideb é de fato citado, mas apenas
como referência, não se explicitando como as ações são desenvolvidas concretamente.

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Eis o que diz o documento acerca do Ideb:

“A Escola Municipal Irmã Bernadete tem o quadro de funcionários


compromissados com a educação, fazendo com que a mesma obtenha
resultado positivo no Ideb. Em 2013 a meta projetada foi de 3,2. O Ideb de
2013, comparando com a meta de 2011, baixou 0,3; o Ideb de 2013 é 3,2,
e a meta projetada para 2015 é 3,4.” (PPP, ESCOLA MUNICIPAL IRMÃ
BERNADETE, 2015).

É feita uma menção aos funcionários quanto ao envolvimento com o indicador


da Educação Básica e, por fim, uma citação quanto às metas já observadas em 2013 e
a de 2015, o ano em questão desta pesquisa, como já citado anteriormente. Ressalta-
se que essa versão do PPP é também do ano de 2015. Segundo a secretaria da escola,
ele vem sofrendo alterações anualmente devido às exigências legais decorrentes da
criação do sistema municipal de educação da cidade.
Passamos agora a ouvir as demais entrevistadas. Dessa vez, as duas docentes e
a diretora.
Iniciamos pela professora A, que respondeu: “Sinceramente, eu não vi o PPP
com essas metas e ações”.
Ao ouvir a professora B, esta afirma:

“Ele dá um norte, né? Nós trabalhamos com o PPP, com essa proposta, mas
ele também é flexível, para que a gente possa trabalhar conteúdos que
surgiram em sala de aula. Não estava ali proposto, mas ele auxilia, dando
um norte, uma direção. Ele nos permite ser flexíveis e nos norteia”.

Ao se analisar a fala dessa professora, evidencia-se, inicialmente, que apesar


de o documento ser conhecido por ela, também não fica claro, mais uma vez, qual a
ação ou ações que ele contempla. Ela destaca a “brecha” para se trabalhar conteúdos
que venham a surgir no dia a dia da sala de aula, mas que também é um norte quanto
ao que deve ser trabalhado em sala, de forma flexível, embora não consiga mencionar
as atividades desenvolvidas no projeto.
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) é um documento de suma importância no
funcionamento da escola. Para além das descrições, trata-se de um documento
garantido por lei na própria LDBEN nº 9.394/96, que dispõe em seu artigo 12: “Os
estabelecimentos de ensino (...) terão incumbência de: (Inciso I:) elaborar e executar
sua proposta pedagógica”.
Constam também no artigo 13 as incumbências dos docentes. No § I, lê-se:
“participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino”; e no

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§ II: “elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do


estabelecimento de ensino”.
É algo coletivo, que deve estar presente na vida dos docentes e de toda a
comunidade escolar, necessitando sempre ser revisto e reelaborado de acordo com as
necessidades da escola.
A gestora da instituição, questionada sobre a contemplação do Ideb no PPP,
responde:

“Eu conheço essa realidade, contudo é um processo coletivo que só pode


ser alterado com autorização da Secretaria Municipal de Educação
(Semed). A última atualização ocorreu no ano de 2015; o trecho que
destaca o Ideb foi colocado sob a orientação de lá [...]. Esse ano (2018),
sofreu alteração, mas ainda não foi aprovada pelo setor responsável”.

Diante de todos esses fragmentos, percebe-se que todas as entrevistadas


afirmam em uníssono a dificuldade que se tem para tratar do PPP, não por falta dele
no espaço escolar, mas pela falta de familiaridade com o próprio documento.
Na última pergunta da entrevista, que põe em processo final nossa análise
acerca dos dados obtidos com as docentes, a coordenadora e a gestora escolar,
indagamos de que forma a Secretaria Municipal de Educação se posiciona quanto ao
Ideb e o que se tem visto de mudança da média obtida de 2015 até aqui. Nessa
pergunta, em específico, resolvemos trazer a análise a fala da gestora escola e da
coordenadora:

“No tocante à Semed, é o interesse pelos números. Quanto às mudanças,


vejo que a aprendizagem melhorou bastante. Conseguimos reduzir a
distorção idade-série, que logo quando cheguei era muito presente,
deixando a escola sempre nas menores taxas. Vejo que, hoje, o trabalho
com os resultados do Ideb é outro, pois agora, mesmo com as limitações, é
possível realizar um trabalho diferenciado que permite resultados
satisfatórios.” (Diretora).
“O posicionamento da Secretaria é muito pouco. Eu vejo é que elas só
sabem cobrar, agora participar e ajudar, não, só a escola mesmo. A
participação do gestor é esta: ajudar e colaborar. O mais importante é existir
um querer da equipe, e esse querer é que vence o desafio. E que desafio é
esse? São as ações que foram desenvolvidas durante o ano.”
(Coordenadora).

Nessas falas, fica claro que a coordenadora e a gestora escolar consideram que
o resultado obtido no ano de 2015 possibilitou o desenvolvimento de um trabalho
diferenciado no que diz respeito ao trabalho coletivo e à motivação dos docentes.
Quanto à questão da Secretaria Municipal de Educação (Semed), asseveram que a

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preocupação dá-se apenas com o resultado. Afirmam, ainda, haver falta de suporte
suficiente no tocante à formação continuada dos profissionais da escola.
A pesquisa revelou ainda dois pontos importantes. O primeiro, todos os
entrevistados e os demais participantes do processo escolar conhecem o Ideb e sua
importância no que tange à melhoria da educação, porém veem dificuldade na forma
como o índice é tratado, ressaltando a falta de apoio da Secretaria de Educação,
ressalvados os anos de avaliação. O segundo aspecto versa sobre certa percepção das
ações de liderança desenvolvidas pela gestão escolar, que tem trabalhado para reduzir
os índices de distorção idade-série, em parceria com as docentes e os demais
integrantes da comunidade escolar.
Ficou evidenciado que os principais documentos da escola ‒ PPP e regimento
‒ não contemplam o trabalho com o Ideb, tendo as professoras atestado várias vezes
em suas falas tal fato, bem como a falta de atenção da Secretaria Municipal de
Educação no fornecimento do suporte necessário ao processo de formação dos
profissionais da unidade escolar.

6 CONCLUSÃO
A partir da pergunta proposta no início para a pesquisa (quais seriam as ações
da gestão escolar em face dos resultados do Ideb), foi possível conhecer o trabalho da
gestão escolar e sua importância na mediação/intervenção do processo acerca da
utilização dos resultados do Ideb, na prática diária da escola, contribuindo para o
entendimento da dinâmica de funcionamento de utilização dos resultados na
construção de ações coletivas voltadas à melhoria dos indicadores de qualidade.
Restaram evidentes os esforços da gestão da escola no tocante ao trabalho com
esses resultados em torno da busca pela qualidade da educação. O engajamento de
todos no processo permitiu um avanço significativo nas metas estipuladas pelo Inep,
refletindo-se nas práticas pedagógicas desenvolvidas pela escola.
Diante de tais evidências, é importante garantir a autonomia de que a escola
necessita, pois através dela será possível a realização das modificações necessárias.
Por fim, reitera-se a importância da ampliação das pesquisas sobre a gestão escolar, os
dados sobre o IDEB e o corpo docente, por se configurarem como temas que estão
explicitamente presentes no cotidiano.

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