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RIO DE JANEIRO
2019
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RIO DE JANEIRO
2019
2
RESUMO
ABSTRACT
This final paper seeks to present the trajectory and political performance of state
deputies Dani Monteiro, Renata Souza and Mônica Francisco, former advisors to
councillor Marielle Franco, murdered in March 2018. The overall objective is the
production of a report book about the ways to reach parliamentary positions of the
Legislative Assembly of the State of Rio de Janeiro (Alerj), based on in-depth
interviews, conducted in person; survey and analysis of campaign election data and
participant observation in plenary and office. In addition, it is intended to contribute to
the debate on issues such as black feminism, anti-racial struggle and participation of
black women in Brazilian politics.
SUMÁRIO
1.Introdução 5
1.1 Objetivo geral 5
1.1.2. Objetivos específicos: 6
1.2 Público-alvo 6
1.3 Tema 6
1.3.1 Renata Souza 7
1.3.2. Dani Monteiro 8
1.3.3 Mônica Francisco 9
1.4 Justificativa 9
1.5 Metodologia 11
2. Referencial teórico 12
2.1 Conjuntura atual da política no Brasil 12
2.1.1 Conceitos das teorias políticas 12
2.1.2 Contexto atual da política brasileira 15
2.2 Feminismos e atuação política das mulheres 18
2.2.1 As três ondas do feminismo 18
2.2.2 Feminismo negro 20
2.2.3 A presença das mulheres na política brasileira 23
2.2.4 Marielle Franco 26
2.3 Livro-reportagem e jornalismo literário 28
3. Cronograma 32
4. Orçamento 34
5. Referências bibliográficas: 35
5.1 Fontes orais 35
5.2 Fontes escritas 35
7. Anexo 41
7.1 Protótipo 41
5
1. Introdução
1.2. Público-alvo
1.3. Tema
Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro, eleitas pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL).
A deputada estadual Renata Souza, eleita pelo PSOL em 2018 com 63.937
votos, foi a deputada de esquerda mais votada no estado do Rio de Janeiro. Sua
atuação se dá principalmente na defesa dos direitos humanos, especialmente com
minorias sociais, como negros, mulheres e LGBTs. Formada em Jornalismo pela PUC-
Rio e pós-doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), é a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Direitos Humanos
da Alerj (RENATA SOUZA, 2019).
De acordo com o seu plano de governo (RENATA SOUZA, 2018), suas
propostas são focadas no acolhimento das vítimas de violência do Estado e suas
famílias, na fiscalização constante do poder público para garantir esse atendimento,
na proposição de políticas públicas contra o feminicídio e a LGBTfobia, na luta contra
o racismo e a violência à população negra e no acompanhamento das necessidades
de moradores de favelas e periferias (RENATA SOUZA, 2019).
Renata entrou no meio político em 2007, quando foi convidada para trabalhar
como assessora da área de Comunicação no primeiro mandato de Marcelo Freixo, na
época, deputado estadual. Após a eleição da vereadora Marielle Franco, em 2016, foi
convidada para ser chefe de seu gabinete. O assassinato do filho de sua ex-cunhada
fez com que a pauta da segurança pública entrasse em seu campo de atuação, que
já incluía a participação em movimentos sociais que lutam pelo direito à vida das
minorias (RENATA SOUZA, 2019).
A atual deputada estadual, nascida e criada na Nova Holanda, na Maré, atuou
por mais de 15 anos em diferentes favelas, buscando defender a vida através da
comunicação comunitária.
1
Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro.
8
A deputada estadual Daniella Monteiro, de 28 anos, que foi eleita em 2018 pelo
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com 27.982 votos, é a mulher mais jovem a
ocupar o cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além de estudante
cotista de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Dani
faz parte do Movimento Estudantil, do Movimento Negro Unificado (MNU) e do coletivo
RUA Juventude Anticapitalista (DANI MONTEIRO, 2019).
Nascida no Morro de São Carlos, favela localizada na região do Estácio, zona
norte do Rio de Janeiro, a deputada foi a primeira de sua família a ingressar na
universidade, onde iniciou a sua militância por uma educação pública de qualidade e
por direitos dos estudantes. Hoje, seu mandato atua a partir da construção de políticas
destinadas especialmente às mulheres, à população negra, aos LGBTs e aos
moradores de favelas e periferias, além da luta pelo direito à cidade, pela segurança
pública, cultura, pela arte e pela voz da juventude periférica (DANI MONTEIRO, 2018).
Filiada ao PSOL desde 2010, onde construiu o “Setorial de Favelas do PSOL
Carioca”, Dani atuava como assessora parlamentar do mandato de Marielle Franco.
Ela participou ainda da construção da campanha de Marcelo Freixo à prefeitura do
Rio de Janeiro, em 2016 (DANI MONTEIRO, 2018).
Entre seus projetos de lei elaborados neste primeiro ano de trabalho, Dani
apresentou medidas em prol do combate à violência sexual de mulheres e ao
machismo no âmbito esportivo; da busca pela isenção da cobrança de tarifa de
transporte público a estudantes de pré-vestibular com baixa renda; da promoção de
direitos humanos às pessoas transgêneras em situação de vulnerabilidade social; das
cotas sociais para mulheres, negros e indígenas em conselhos administrativos,
consultivos e fiscalizadores do Estado; entre outros. O seu maior propósito é a
construção de um mandato jovem, negro e feminista (DANI MONTEIRO, 2019).
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Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro
3
Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro
9
A deputada Mônica Francisco, eleita em 2018 com 40.631 votos, também foi
assessora da vereadora Marielle Franco. Formada em Ciências Sociais pela Uerj, ela
é pastora evangélica e milita pela defesa dos direitos humanos, buscando dar voz à
favela, às mulheres e LGBTs. Sua história de luta em prol dessas causas começa nos
anos 1980, quando se mobilizou para ajudar as vítimas que ficaram desabrigadas no
morro do Borel, localizado na Tijuca, onde nasceu e reside até hoje, por conta das
enchentes de 1988 (MÔNICA FRANCISCO, 2018).
Além do engajamento com os moradores de favelas, ela se atuou como
comunicadora popular na década de 1990 e participou de diversos programas de
rádios comunitárias ao longo dos anos. Sua história de militância se deve à sua
passagem pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), onde
trabalhou como pesquisadora. Foi no instituto também onde conheceu Marielle,
através do deputado federal Marcelo Freixo, no início dos anos 2000. As duas
mantiveram uma relação próxima ao longo dos anos e a ex-vereadora a convidou para
compor o mandato na equipe de favelas assim que foi eleita (MÔNICA FRANCISCO,
2019).
1.4. Justificativa
Após a análise deste relatório (ISP, 2019), também é possível perceber que as
negras são as que mais morrem no estado. Quase 60% das vítimas de homicídio
doloso são pretas ou pardas. Isto se deve a um conjunto de fatores, “entre eles o
racismo, a pobreza e a discriminação institucional”, que fazem com que as populações
negra e parda sejam as mais afetadas pela violência (ISP, 2019).
Além da conjuntura de violência que afeta as mulheres e, mais drasticamente,
as mulheres negras, é importante ressaltar também a pouca representatividade
feminina na esfera política. Atualmente há 70 deputados estaduais do Rio de Janeiro.
Destes, apenas 11 são mulheres, o que representa aproximadamente 15%. No
mandato anterior, a disparidade era ainda maior, apenas 10% dos representantes do
poder legislativo do estado do Rio eram mulheres.
1.5. Metodologia
2. Referencial teórico
dessa ciência, existem três tipos de poder - como aponta pioneiramente Aristóteles
(2005), em Política. Para Bobbio (2000), estes são: poder econômico, poder social e
poder político, em que o primeiro se refere à posse de bens necessários para modificar
o pensamento daqueles que não os possuem; o segundo, à influência das ideias de
um indivíduo sobre outros; e o terceiro, a um poder coativo, ou seja, que se utiliza de
força (DIAS, 2013, p. 29-30).
O entendimento da existência de sistemas políticos foi construído a partir da
ideia de que aspectos relacionados às teorias políticas incluem não apenas
organizações e instituições no âmbito governamental, mas diz respeito a todas as
estruturas existentes em grupos sociais, segundo Almond e Powell Jr. (1972). Dessa
forma, um sistema político “pode ser definido como um conjunto de papéis em
interação, ou como uma estrutura de papéis”, em que é descrito como “a
caracterização de todas as interações padronizadas que ocorrem em seu interior”
(ALMOND, 1970, p. 45).
Nos dias atuais, a principal forma de organização política é o Estado, que,
segundo Fried (1976), constitui um estado de poder, se apresentando como uma
corporação territorial que envolve instituições por meio das quais o poder da
sociedade se organiza (FRIED, 1976, p. 225). De acordo com Poggi (1981), cabe ao
Estado a tarefa de manutenção da ordem social geral de uma nação, a partir de três
funções: poder executivo, poder legislativo e poder judiciário.
Para que as funções do Estado possam se desenvolver, são necessários três
requisitos, de acordo com Dias: “desenvolvimento pleno do Estado de direito, [...];
incentivo à participação dos cidadãos no processo político, com a existência de
liberdade de expressão; e que as regras que permitam o funcionamento da sociedade
sejam claras e a sua compreensão acessível a todos” (2013, p. 139). Além disso,
sobre as suas responsabilidades, também podemos destacar que:
O Estado deve garantir maior controle social sobre sua gestão, melhorar os
meios e instrumentos que hoje existem de representação política e social e
estabelecer outras formas de participação que complementem as existentes,
fortalecendo a democracia, descentralizando seu poder com a transferência
de responsabilidades e recursos às outras esferas do Estado, incluindo as
locais ou municipais (DIAS, 2013, p. 140).
Democracia, termo cunhado pela primeira vez durante o século V a.C. para
referir-se ao regime político de Atenas, na Grécia, diz respeito ao governo em que o
povo exerce a soberania, de acordo com Aristóteles (2005), que relacionava o
conceito diretamente às noções de liberdade e igualdade. Nos dias atuais, a ideia de
democracia identifica-se como democracia política, que “pode ser definida como uma
forma de governo em que o poder político não pertence a nenhum grupo determinado
e limitado de pessoas ou a uma pessoa, mas, na forma do direito, a todo o povo”
(DIAS, 2013, p.175).
Uma característica essencial dos regimes democráticos é a ideia de
representação política através do sufrágio, de acordo com Dias (2013), com os
processos de participação da sociedade através do caráter eleitoral. O autor aponta
ainda que as eleições são de extrema importância como instrumento de legitimação e
organização do poder, com a sua função de produzir representação, governabilidade
e legitimidade. Segundo Sartori, “se não fosse o fato de que não confiamos no suposto
consenso de opinião, não existiria a ponte entre governados e governantes e,
consequentemente, não haveria democracia” (1965, p. 88).
Outra característica que surgiu no âmbito da democracia foi a existência de
partidos políticos. Segundo Dias (2013), a necessidade de partidos acontece por conta
de dois fatores: a universalização dos direitos democráticos, por conta do sufrágio, e
o modelo de sociedade organizacional como uma forma de se atingir objetivos e
interesses (DIAS, 2013, p. 194). De acordo com Burke (1770), um partido pode ser
definido como:
15
Entre as funções sociais dos partidos políticos, de acordo com Dias (2013),
destacam-se: a racionalização política, ou seja, a multiplicidade de opiniões; a
socialização política, contribuindo para a formação de padrões e valores; a
mobilização da opinião pública; a participação política; a representação de interesses;
e a legitimação do sistema político (DIAS, 2013, p. 210-214).
Já quanto aos tipos de partidos políticos, estes podem se classificar, como
aponta Dias (2013), a partir de três critérios: quanto à base social, como partidos de
operários, burgueses, minorias, entre outros; quanto à orientação ideológica; e quanto
à estrutura organizacional, movidos por fins próprios (DIAS, 2013, p. 198).
Para Bobbio (1995), é necessário considerar os critérios de espectros
ideológicos de acordo com a distinção entre esquerda e direita, onde a esquerda
caracteriza-se pela defesa da igualdade social, com ideais democráticos e
progressistas, e a direita, pelo entendimento de desigualdade como algo natural, com
ideais neoliberais e conservadores. Dessa forma, o autor identifica quatro categorias
de partidos políticos: extrema-esquerda, centro-esquerda, centro-direita e extrema-
direita (BOBBIO, 1995, p. 119).
No Brasil, atualmente existem 32 partidos políticos, segundo o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), legalizados através da Lei nº 9.096/1995, Lei dos Partidos
Políticos (TSE, 2019). O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do qual são as
deputadas escolhidas como objeto de estudo deste projeto, foi fundado em 2005,
segundo a Justiça Eleitoral. O PSOL é um partido político brasileiro com um espectro
político-ideológico de esquerda e atua a partir da defesa de pautas democráticas,
direitos humanos e das minorias (PSOL, 2018).
Já o ano de 2018 foi marcado por inúmeros acontecimentos cruciais para que
se chegasse à realidade atual do país, como: a intervenção federal na segurança
pública do Rio de Janeiro, medida tomada por Michel Temer em fevereiro; o
assassinato da vereadora Marielle Franco, em março; a prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva por acusação de corrupção durante o processo da Lava Jato, em
abril; e as eleições para cargos de deputado(a) estadual e federal, senador(a),
governador(a) e presidente(a), em outubro (CORSALETTE & CHARLEAUX, 2018).
Marcada por uma forte característica de bipolarização, segundo Ribeiro in
Gallego (2018), as eleições de 2018 foram divididas por duas narrativas ideológicas
que constroem o debate político brasileiro atual: uma em defesa das minorias sociais
e pautas identitárias, à esquerda do espectro ideológico, e outra em defesa de ideais
neoconservadores, à direita do espectro ideológico (GALLEGO, 2018). Isto pôde ser
observado durante as campanhas presidenciais, em que Jair Bolsonaro, do Partido
Social Liberal (PSL), saiu vitorioso com 55,13% sobre Fernando Haddad, candidato
do Partido dos Trabalhadores (PT), que recebeu 44,87% dos votos válidos – que
equivaleram a 90,43%. Já os brancos chegaram a 2,14%, enquanto os nulos foram
7,43%, além das abstenções, que atingiram 21,30% do total (G1, 2018).
No Rio de Janeiro, o avanço da ideologia conservadora também pode ser
ilustrado pelos resultados das duas eleições mais recentes. Em 2016, o candidato
Marcello Crivella, do Partido dos Republicanos (PR), derrotou Marcelo Freixo, do
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na disputa pelo cargo de prefeito da cidade.
Já em 2018, Wilson Witzel, do Partido Social Cristão (PSC), venceu Eduardo Paes,
do Democratas (DEM), na disputa pelo cargo de governador do estado (TSE, 2019).
18
Nesta época, Bertha Lutz, bióloga e ativista, fundou a Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino, após morar no exterior. A organização foi responsável por uma
“campanha pública pelo voto, tendo inclusive levado, em 1927, um abaixo-assinado
ao Senado, pedindo a aprovação do Projeto de Lei” (CAETANO, 2017). Este foi um
dos pontapés iniciais para a conquista deste direito, que se deu apenas em 1932, com
a criação do primeiro Código Eleitoral Brasileiro.
A década de 1960 é tida como o marco da segunda onda feminista,
especialmente em países da Europa – França e Inglaterra – e nos Estados Unidos
(MACHADO, 2018). Neste momento, de acordo com Machado, “o argumento de uma
suposta opressão universal masculina cederá lugar às discussões de gênero, servindo
de base para combater a desigualdade entre homens e mulheres” (2018).
Além disso, o movimento começou a discutir outras questões além dos direitos
das mulheres. Pontos como “violência doméstica e sexual, a reivindicação pelo
domínio do próprio corpo, a busca pelo prazer sexual e o aborto, o controle de
natalidade e a sua realização pessoal enquanto ser e indivíduo” (CAETANO, 2017)
passam a ser pautados, algo que não ocorreu na gênese do feminismo. Vale a pena
ressaltar que a discussão, anteriormente restrita basicamente às mulheres brancas de
classes mais abastadas, difunde-se e vertentes do feminismo são criadas, como o
feminismo negro, que será abordado posteriormente.
A terceira onda feminista surge na década de 1990 e foca na definição de um
conceito de mulher, algo visto anteriormente como universal, para analisar as
diferenças (CAETANO, 2017). Desse modo, “reconhece-se que as mulheres não são
iguais entre si, tendo em vista a presença de elementos diferenciadores como a classe
e a raça, que propiciam relações de dominação e subordinação, impossibilitando uma
20
dessas mulheres em relação ao feminismo branco, que “não tinha disposição para
desconstruir privilégios de raça e classe”, deixando de pautar, assim, a questão do
debate racial (SILVIA apud HOLLANDA, 2018, p. 256 e 257).
Um exemplo dessa realidade é a disparidade entre as demandas
emancipatórias entre as mulheres negras e as brancas. Para Ribeiro in Hollanda
(2018), “o conceito universal de mulher baseado na mulher branca não apenas não
representa como oprime” (RIBEIRO apud HOLLANDA, 2018, p. 264). Isto pode ser
observado durante a luta pelo sufrágio feminino norte-americano, em que negras eram
proibidas de marchar em defesa dos seus direitos por conta das leis segregacionistas
dos Estados Unidos, segundo Davis (2016), ilustrando a diferença de percepção por
parte da sociedade em relação às mulheres no que se refere à questão racial.
Na defesa dos próprios interesses enquanto mulheres brancas de classe
média, elas explicitam - frequentemente de modo egoísta e elitista - seu
relacionamento fraco e superficial com a campanha pela igualdade negra [...]
Com argumentos que evocavam os privilégios da supremacia branca,
demonstravam o quanto permaneciam indefesas - mesmo após anos de
envolvimento em causas progressistas - contra a perniciosa influência
ideológica do racismo (DAVIS, 2016, p. 84 e 85).
O movimento sufragista feminino nos Estados Unidos iniciou-se a partir da luta
contra a escravidão durante o século XIX. Após a sanção da Lei dos Direitos Civis
(Civil Rights Act), em 1866, passou a ser previsto que “todas as pessoas nascidas nos
EUA [...] eram iguais perante a lei e tinham os mesmos direitos”. Segundo Davis
(2016), nessa época, presumia-se que, com a abolição do sistema escravagista, a
população negra equiparava-se à posição das mulheres brancas na sociedade
estadunidense, já que “os dois grupos precisavam conquistar o voto para completar
sua igualdade social” (DAVIS, 2016, p. 85).
As sufragistas norte-americanas tiveram influência do movimento pioneiro pelo
sufrágio feminino ocorrido na Inglaterra, com mulheres, em sua maioria brancas, da
classe trabalhadora do início do século XX. A conquista do voto feminino para as
inglesas aconteceu através da Lei de Representação do Povo (Representation of the
People Act), apenas em 1918 (AS SUFRAGISTAS, 2015). Já nos Estados Unidos, foi
a Emenda Dezenove da Constituição, ratificada em 26 de agosto de 1920, que
garantiu o direito ao voto das mulheres no país, de acordo com Marcellino (2018).
Entretanto, a política segregacionista estadunidense se manteve até a sanção
da Lei dos Direitos Civis (1964) e da Lei dos Direitos ao Voto (1965), promovidas pelo
presidente Lyndon B. Johnson, do Partido Democrata, assegurando assim o direito ao
voto universal, independentemente de raça ou classe social (MARCELLINO, 2018).
22
Mesmo antes de raça se tornar uma questão debatida nos círculos feministas,
estava claro para as mulheres negras que jamais alcançariam igualdade dentro
do patriarcado capitalista de supremacia branca existente (hooks, 2019, p. 20).
Trabalhadores (PT), eleita em 2010 e reeleita em 2014, governando o país até 2016,
quando foi afastada do cargo após um processo de impeachment (TSE, 2019).
Nas eleições municipais de 2016, do total de 5.568 municípios brasileiros,
88,4% elegeram candidatos homens e apenas 11,6%, candidatas mulheres. Já para
o cargo de vereador(a), foram eleitos 50 mil homens e 7.811 mulheres, segundo o
TSE, o que é mais um exemplo da disparidade de gênero na política do Brasil (BBC,
2016).
Já em 2018, houve um crescimento de 52,6% da representatividade feminina
na política brasileira em comparação com a eleição anterior. De 9.204 mulheres que
se candidataram, 290 foram eleitas, o que equivale a 16,2% de 1790 pessoas, total
de candidatos vencedores, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em 2014, apenas 190 mulheres foram escolhidas, significando 11,1% do total de
1.711 eleitos na época (TSE, 2019).
Do número total de mulheres eleitas, no que se refere aos cargos, estas foram:
77 deputadas federais, ocupando agora 15% das 513 vagas disponíveis – o que antes
era 10%; sete senadoras, somando agora 12 mulheres no Senado, o que corresponde
a 15% das 81 cadeiras; apenas uma governadora, eleita no Rio Grande do Norte; e
161 deputadas estaduais, ou seja, cerca de 15% das cadeiras em disputa (TSE, 2019).
Este avanço pode ser atribuído à regra eleitoral sancionada pelo ex-presidente
Michel Temer em 2017, segundo Beatriz Rodrigues Sanchez, pesquisadora do Grupo
de Estudos de Gênero e Política da USP (DOMINGOS DE LIMA, 2018). Segundo a
lei, a partir das eleições de 2018, foi determinado que os partidos políticos
destinassem, no mínimo, 30% do Fundo Partidário para candidaturas de mulheres. A
medida complementa a Lei das Eleições (9.504), de 1997, que “passou a prever a
reserva de vagas para a participação das mulheres nos cargos proporcionais”, em que
cada partido deve preencher mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos de cada
sexo” (TSE, 2019).
De acordo com Ferraz (2018), a falta de representatividade feminina na política
impacta diretamente na realidade democrática do país, já que “a identidade de quem
governa tem um efeito enorme sobre o tipo de políticas públicas que são
implementadas”, além de afetar na escolha de mulheres para aspirações de carreira.
No que se refere a este cenário, Biroli (2018) afirma que “a história do exercício
masculino de influência no espaço público institucional, isto é, a história larga da
25
Por essa época, a reportagem ganhou status, e a sociedade, cada vez mais
urbana, a abraçou de vez como um “artigo de consumo”. Numa época em que
o preço e a oferta de papel ainda não preocupavam os jornais e praticamente
não havia concorrência de outros meios - a não ser o incipiente rádio, àquela
altura mais preocupado em reproduzir programas de variedades -, a grande
reportagem, ainda com algum molho ficcional, floresceu, sobretudo, nos
Estados Unidos. Na primeira metade do século, jornais e revistas destinavam
áreas extensas de suas edições para contar o que lhes pareciam ser boas
histórias. Uma parcela considerável delas foi parar em páginas de livros.
(BELO, 2006, p. 22).
reportagem foi publicada inicialmente em uma edição especial na revista The New
Yorker, em 31 de agosto de 1946, dedicada exclusivamente ao texto de Hersey. O
texto foi feito a pedido do editor da própria revista na época, William Shaw, que queria
contar a história dos sobreviventes da bomba atômica lançada pelos americanos na
cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945.
A reportagem de Hersey não trazia dados ou informações novas a respeito da
bomba. O impacto da publicação se deu por conta do enfoque e da abordagem do
autor (SUZUKI JR., 2002, apud HERSEY, 2002, p. 168). Segundo Suzuki Jr., Hersey
conseguiu humanizar o evento através da opção de narrar os acontecimentos a partir
dos relatos de seis sobreviventes, “o tom da reportagem é um prolongamento da dor
silenciosa que os sobreviventes de Hiroshima notaram nos conterrâneos feridos”
(SUKUZI JR., 2002 apud HERSEY, 2002, P. 168)
Segundo Belo, “Hiroshima”, editado como livro no ano seguinte à publicação
na The New Yorker, é considerado mais um marco de mudança pelos fatores citados
acima. “Depois de praticamente ter nascido da literatura, o jornalismo havia se
afastado um pouco dela” (BELO, 2006, p. 24), visto que a imprensa, visando a atingir
um público maior de forma mais rápida, buscou tornar as publicações mais objetivas
e concisas. Isto reforçou o modelo da pirâmide invertida, no qual as informações são
elencadas por ordem de importância e o principal está no primeiro parágrafo (BELO,
2006, p. 24).
Porém, a publicação de “Hiroshima”, somada ao avanço tecnológico e às
mudanças sociais da época, os jornais começaram a produzir grandes reportagens –
muitas reeditadas como livros – o que, novamente, aproximou o jornalismo da
literatura e contribuiu para a criação do new journalism (BELO, 2006, p. 24). Segundo
o autor:
A tal técnica consistia em, simplesmente, narrar os fatos com recursos mais
próximos da literatura, do que a linguagem apressada, telegráfica e enxuta -
não necessariamente no bom sentido do termo - do jornalismo. Enfim, era uma
espécie de “voto de protesto” contra a ditadura do lead e da pirâmide invertida.
Se o modelo e até o nome já haviam sido empregados antes, foi só a partir da
metade do século que o new journalism alcançou notoriedade. A ponto de, até
hoje, ser tratado como um produto típico da década de 1960 (BELO, 2006, p.
24).
3. Cronograma
DEZEMBRO JANEIRO
1. Levantamento de dados eleitorais 1. Apuração através de entrevistas
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues
FEVEREIRO MARÇO
1. Transcrição de entrevistas 1. Transcrição de entrevistas
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues
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ABRIL MAIO
1. Redação 1. Redação
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues
JUNHO
1. Redação
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues
2. Revisão
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues
4. Orçamento
34
ORÇAMENTO
ITEM VALOR
Diagramação R$3.000**
Revisão R$1.800**
TOTAL: 12.790
5. Referências bibliográficas
BBC NEWS BRASIL. Caso Marielle Franco: quem são os dois presos e o que
falta saber sobre os assassinatos. Brasil, 12 de março de 2019. Disponível em:
BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006.
BETIM, Felipe. As ‘outras’ Marielles que o Rio elegeu. El País, Rio de Janeiro, 13
de out. de 2018. Disponível em:
ttps://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/11/politica/1539275009_606211.html. Acesso
em: 8 set. 2019.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política.2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000
BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm. Acesso em:
8 ago. 2019.
CARNEIRO, Julia Dias. Mulher, negra, favelada, Marielle Franco foi de ‘cria da
Maré’ a símbolo de novas lutas políticas no Rio. BBC Brasil, 15 de mar. 2018.
37
CARNEIRO, Julia Dias. Mulher, negra, favelada, Marielle Franco foi de ‘cria da
Maré’ a símbolo de novas lutas políticas no Rio. BBC Brasil, Rio de Janeiro, 15
de março de 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43423055.
Acesso em: 15 set. 2019.
CASTRO, Grasielle. O relatório da CPI das Milícias, liderado por Marcelo Freixo,
com ajuda de Marielle. Huffpost Brasil, 11 de maio de 2018. Disponível
em:https://www.huffpostbrasil.com/2018/05/10/o-relatorio-da-cpi-das-milicias-
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RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia
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7. Anexo
7.1. Protótipo
Uma jovem estudante, uma cientista social e uma pós-doutora em
Comunicação. Mesmo com diferentes perfis, existem alguns fatores que unem os
caminhos de Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza: a infância na favela,
a trajetória na militância e a existência como mulheres negras e periféricas na cidade
do Rio de Janeiro. As três sucessoras de Marielle Franco foram eleitas em 2018, sete
meses após o assassinato brutal da vereadora, com quem trabalhavam como
assessoras parlamentares. Seus mandatos como deputadas estaduais focam na
criação de políticas públicas em prol da igualdade racial e de gênero e em defesa das
minorias sociais, resistindo dia após dia às ameaças do machismo e do racismo
estruturais do ambiente em que estão inseridas.
Dani Monteiro, de 27 anos, a deputada estadual mais jovem do estado, nasceu
no Complexo de São Carlos, uma favela localizada no Centro do Rio. Ela, que além
do cargo político também é estudante cotista da Universidade Estadual do Rio de
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Janeiro (Uerj) no curso de Ciências Sociais, acredita que é através da juventude que
será trilhado o caminho para a mudança da sociedade, pensamento que vem desde
o início da sua história na política. Dani engajou-se nesta causa após a entrada na
universidade, onde conheceu os movimentos sociais, algo que nem imaginava existir.
Foi a partir desse momento que ela entrou no coletivo “Rua, juventude anticapitalista”
e posteriormente, em 2014, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Mesmo após a filiação ao partido, Dani não tinha interesse em tornar-se uma
figura pública, preferia participar ativamente dos debates acerca dos temas que mais
a interessam. Sua atuação era nos bastidores, fazendo parte das discussões políticas
e construindo lutas, como gosta de definir. Em 2016, fez parte da campanha de
Marielle e, após a eleição, foi convidada pela vereadora para fazer parte de seu
mandato como assessora ligada justamente a questões de juventude, algo que faz
parte de seu perfil. O objetivo era difundir os seus ideais para atrair mais mulheres
negras para a política brasileira.
O fato de não se enxergar em um cargo parlamentar partia de uma questão de
autoestima por conta dos enfrentamentos racistas diários que fazem parte da vida de
uma mulher negra e favelada. Foi Marielle que a fez acreditar que suas gírias e
aparência também podiam pertencer ao universo político. Após as eleições, Dani
entende que a luta só estava começando, mesmo que de forma vitoriosa. Os três
primeiros meses de seu mandato foram de olhares tortos pelos corredores da
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), embate com seguranças
e tentativas de expulsão dos plenários. Para a deputada, a cada dia o ambiente repete
a sua falta de pertencimento a este espaço. “A minha única resposta para a opressão
é passar por cima com luta, resistência e muito trabalho”, conta.
Mônica Francisco, militante de direitos humanos há mais de 30 anos, é nascida
e criada no Morro do Borel, um dos mais antigos da cidade, localizado na Tijuca, Zona
Norte do Rio. Mãe de dois filhos e avó de um neto, a deputada é ainda pastora da
Comunidade Apostólica Cristã Gileade, uma igreja evangélica do mesmo bairro. Por
conta do sonho de ser antropóloga para entender as divisões e a cultura das favelas,
se formou em Ciências Sociais na Uerj para compreender na teoria o que já praticava
na sua vida como ativista de movimentos sociais.
Foi no Instituto Brasileiro de Análises Sociais Econômicas (Ibase), onde
trabalhou, que Mônica conheceu o atual deputado federal Marcelo Freixo, na época
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em que ainda se candidatava para o seu primeiro mandato pelo PSOL, como deputado
estadual, em 2005. Durante o processo de campanha, ela conheceu Marielle e, após
a eleição da vereadora, passou a compor o seu mandato como integrante da equipe
de favelas.
A possibilidade de construção de uma campanha para Mônica ocupar um cargo
político surgiu com a própria vereadora, com planos para as eleições de 2020. Por
conta do assassinato, o caminho foi antecipado para 2018, quando foi eleita como
deputada estadual. Para ela, apesar da surpresa no dia da vitória, foi uma trajetória
natural, apesar do silenciamento e do desafio que é ser uma mulher negra que ocupa
uma cadeira parlamentar. “É como se eu tivesse sido preparada por anos para chegar
onde estou”, conta. De Marielle, ela traz, além de parte da equipe, a sua forma de
conduzir o mandato e fazer política, além da força para seguir no trabalho todos os
dias.
Renata Souza, cria da Nova Holanda, na Maré, também começou cedo a sua
história na militância. Por ter tido uma infância em meio a um cotidiano violento e difícil,
não demorou a entender o debate sobre acesso, exclusão social e o lugar que as
favelas e periferias ocupam na sociedade. Jornalista de formação, hoje, além do cargo
de deputada estadual, ela é pós-doutora em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal Fluminense (UFF), realizando o sonho antigo de ter uma
carreira acadêmica.
Quando Marielle foi eleita, em 2016, Renata recebeu um convite para ser chefe
de gabinete de seu mandato, cargo que exerceu até o assassinato da vereadora. Por
fazer parte dos bastidores da política por doze anos, ela nunca se imaginou em um
lugar de parlamentar e, depois que decidiu se candidatar, nunca acreditou que
poderia, de fato, ser eleita. “Pra mim, isso reflete o protagonismo que nós mulheres,
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