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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING (ESPM-RJ)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


LIVRO-REPORTAGEM

CECILIA SANTOS VELIHOVETCHI


ISABELLE LIMA RODRIGUES

Florescer: os frutos do efeito Marielle na eleição de mulheres negras na


política do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO
2019
1

CECILIA SANTOS VELIHOVETCHI


ISABELLE LIMA RODRIGUES

Florescer: os frutos do efeito Marielle na eleição de mulheres negras na


política do Rio de Janeiro

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito para obtenção
de título de bacharel em Jornalismo pela
Escola Superior de Propaganda e Marketing
- ESPM.
Orientadora: Mônica Mourão

RIO DE JANEIRO
2019
2

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso busca apresentar a trajetória e a atuação política


das deputadas estaduais Dani Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco, antigas
assessoras da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. O objetivo
geral é a produção de um livro-reportagem sobre os caminhos até a chegada aos
cargos parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj),
elaborado a partir de entrevistas em profundidade, realizadas de forma presencial;
levantamento e análise de dados eleitorais de campanha e observação participante
em plenários e gabinetes. Além disso, pretende-se contribuir para o debate de pautas
como feminismo negro, luta antirracial e participação de mulheres negras na política
brasileira.

Palavras-chave: mulheres; feminismo negro; política; eleições.


3

ABSTRACT

This final paper seeks to present the trajectory and political performance of state
deputies Dani Monteiro, Renata Souza and Mônica Francisco, former advisors to
councillor Marielle Franco, murdered in March 2018. The overall objective is the
production of a report book about the ways to reach parliamentary positions of the
Legislative Assembly of the State of Rio de Janeiro (Alerj), based on in-depth
interviews, conducted in person; survey and analysis of campaign election data and
participant observation in plenary and office. In addition, it is intended to contribute to
the debate on issues such as black feminism, anti-racial struggle and participation of
black women in Brazilian politics.

Keywords: women; black feminism; politics; elections.


4

SUMÁRIO

1.Introdução 5
1.1 Objetivo geral 5
1.1.2. Objetivos específicos: 6
1.2 Público-alvo 6
1.3 Tema 6
1.3.1 Renata Souza 7
1.3.2. Dani Monteiro 8
1.3.3 Mônica Francisco 9
1.4 Justificativa 9
1.5 Metodologia 11

2. Referencial teórico 12
2.1 Conjuntura atual da política no Brasil 12
2.1.1 Conceitos das teorias políticas 12
2.1.2 Contexto atual da política brasileira 15
2.2 Feminismos e atuação política das mulheres 18
2.2.1 As três ondas do feminismo 18
2.2.2 Feminismo negro 20
2.2.3 A presença das mulheres na política brasileira 23
2.2.4 Marielle Franco 26
2.3 Livro-reportagem e jornalismo literário 28

3. Cronograma 32

4. Orçamento 34

5. Referências bibliográficas: 35
5.1 Fontes orais 35
5.2 Fontes escritas 35

7. Anexo 41
7.1 Protótipo 41
5

1. Introdução

Este trabalho de conclusão de curso trata-se de um projeto experimental que


busca estudar as mulheres na política do Rio de Janeiro. Mais especificamente, visa
à construção de um livro-reportagem sobre a atuação e elaboração de políticas
públicas das antigas assessoras de Marielle Franco: Dani Monteiro, Mônica Francisco
e Renata Souza, deputadas estaduais eleitas em 2018 no âmbito da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Para este projeto, serão abordadas as
seguintes temáticas: o legado de Marielle Franco; a conjuntura política brasileira atual;
as diferentes vertentes do feminismo, em especial o feminismo negro; a inserção das
mulheres na política e o debate da luta antirracial feminista neste contexto.
Com isso, pretende-se analisar o cenário atual, a partir das eleições de 2018,
já que a bancada feminina da Alerj passou de oito para 12 deputadas estaduais, além
da Câmara Federal, que aumentou em 50% o número de mulheres eleitas em 2014.
Além disso, há um interesse pessoal na temática e no aumento da visibilidade do
debate de gênero e da luta antirracial no âmbito político, considerando a luta e a
trajetória de Marielle Franco, que foi assassinada em 14 de março de 2018. Marielle
era socióloga e foi a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016, com uma
atuação em defesa dos direitos humanos, das mulheres, das populações negra e
LGBTQI+, dos moradores de favelas e periferias e demais minorias.
Propõe-se pesquisar dados e estatísticas sobre desigualdade de gênero e o
histórico da inserção da mulher na política brasileira. Para isso, serão analisadas
diferentes referências teóricas sobre feminismos, ciência política e sociologia, além da
realização de outras entrevistas com as deputadas estaduais - visto que já houve uma
primeira entrevista com as três para a elaboração deste projeto - e demais
especialistas dos temas. Além disso, iniciativas que visam à inserção feminina na
política, como movimentos sociais e coletivos, também serão tópicos abordados para
ilustrar o avanço da pauta ao longo dos anos.

1.1. Objetivo geral

Apresentar as trajetórias e atuações parlamentares das deputadas estaduais


Mônica Francisco, Renata Souza e Dani Monteiro, do Partido Socialismo e Liberdade
6

(PSOL), e sua relação com o legado da vereadora Marielle Franco, assassinada em


março de 2018.

1.1.2. Objetivos específicos

1. Relatar a inserção de três ex-assessoras da vereadora Marielle Franco em


cargos parlamentares no estado do Rio de Janeiro e sua relação com pautas
focadas em causas sociais através de referências teóricas, estatísticas e
entrevistas;
2. Compreender a inserção das mulheres no cenário político do Rio de Janeiro
nos últimos 20 anos através de dados e estatísticas;
3. Analisar o cenário de desigualdade de gênero na política institucional no Brasil.

1.2. Público-alvo

Integrantes de movimentos sociais, coletivos e organizações que defendem a


causa dos direitos humanos e pessoas que se interessem pelas temáticas do
feminismo, pelo contexto atual da política brasileira e pelo legado de Marielle Franco.

1.3. Tema

A vereadora Marielle Franco, nascida e criada na favela da Maré, socióloga,


feminista e defensora de direitos humanos, foi assassinada em 14 de março de 2018,
na região do Estácio, zona norte do Rio de Janeiro. Após sair do evento "Jovens
Negras Movendo as Estruturas", realizado na Rua dos Inválidos, na Lapa, ela foi
executada quando seguia de carro para a sua residência, na Tijuca, acompanhada do
motorista Anderson Gomes, que também faleceu, e da assessora Fernanda Chaves,
única sobrevivente do caso (EL PAÍS, 2019).
Para preservar sua memória e legado e lutar pelas causas que defendia, três
de suas ex-assessoras candidataram-se nas últimas eleições parlamentares: Renata
7

Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro, eleitas pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL).

1.3.1. Renata Souza1

A deputada estadual Renata Souza, eleita pelo PSOL em 2018 com 63.937
votos, foi a deputada de esquerda mais votada no estado do Rio de Janeiro. Sua
atuação se dá principalmente na defesa dos direitos humanos, especialmente com
minorias sociais, como negros, mulheres e LGBTs. Formada em Jornalismo pela PUC-
Rio e pós-doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), é a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Direitos Humanos
da Alerj (RENATA SOUZA, 2019).
De acordo com o seu plano de governo (RENATA SOUZA, 2018), suas
propostas são focadas no acolhimento das vítimas de violência do Estado e suas
famílias, na fiscalização constante do poder público para garantir esse atendimento,
na proposição de políticas públicas contra o feminicídio e a LGBTfobia, na luta contra
o racismo e a violência à população negra e no acompanhamento das necessidades
de moradores de favelas e periferias (RENATA SOUZA, 2019).
Renata entrou no meio político em 2007, quando foi convidada para trabalhar
como assessora da área de Comunicação no primeiro mandato de Marcelo Freixo, na
época, deputado estadual. Após a eleição da vereadora Marielle Franco, em 2016, foi
convidada para ser chefe de seu gabinete. O assassinato do filho de sua ex-cunhada
fez com que a pauta da segurança pública entrasse em seu campo de atuação, que
já incluía a participação em movimentos sociais que lutam pelo direito à vida das
minorias (RENATA SOUZA, 2019).
A atual deputada estadual, nascida e criada na Nova Holanda, na Maré, atuou
por mais de 15 anos em diferentes favelas, buscando defender a vida através da
comunicação comunitária.

1
Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro.
8

1.3.2. Dani Monteiro 2

A deputada estadual Daniella Monteiro, de 28 anos, que foi eleita em 2018 pelo
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com 27.982 votos, é a mulher mais jovem a
ocupar o cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além de estudante
cotista de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Dani
faz parte do Movimento Estudantil, do Movimento Negro Unificado (MNU) e do coletivo
RUA Juventude Anticapitalista (DANI MONTEIRO, 2019).
Nascida no Morro de São Carlos, favela localizada na região do Estácio, zona
norte do Rio de Janeiro, a deputada foi a primeira de sua família a ingressar na
universidade, onde iniciou a sua militância por uma educação pública de qualidade e
por direitos dos estudantes. Hoje, seu mandato atua a partir da construção de políticas
destinadas especialmente às mulheres, à população negra, aos LGBTs e aos
moradores de favelas e periferias, além da luta pelo direito à cidade, pela segurança
pública, cultura, pela arte e pela voz da juventude periférica (DANI MONTEIRO, 2018).
Filiada ao PSOL desde 2010, onde construiu o “Setorial de Favelas do PSOL
Carioca”, Dani atuava como assessora parlamentar do mandato de Marielle Franco.
Ela participou ainda da construção da campanha de Marcelo Freixo à prefeitura do
Rio de Janeiro, em 2016 (DANI MONTEIRO, 2018).
Entre seus projetos de lei elaborados neste primeiro ano de trabalho, Dani
apresentou medidas em prol do combate à violência sexual de mulheres e ao
machismo no âmbito esportivo; da busca pela isenção da cobrança de tarifa de
transporte público a estudantes de pré-vestibular com baixa renda; da promoção de
direitos humanos às pessoas transgêneras em situação de vulnerabilidade social; das
cotas sociais para mulheres, negros e indígenas em conselhos administrativos,
consultivos e fiscalizadores do Estado; entre outros. O seu maior propósito é a
construção de um mandato jovem, negro e feminista (DANI MONTEIRO, 2019).

1.3.3. Mônica Francisco3

2
Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro
3
Entrevista concedida às autoras Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues em setembro de 2019, no Rio
de Janeiro
9

A deputada Mônica Francisco, eleita em 2018 com 40.631 votos, também foi
assessora da vereadora Marielle Franco. Formada em Ciências Sociais pela Uerj, ela
é pastora evangélica e milita pela defesa dos direitos humanos, buscando dar voz à
favela, às mulheres e LGBTs. Sua história de luta em prol dessas causas começa nos
anos 1980, quando se mobilizou para ajudar as vítimas que ficaram desabrigadas no
morro do Borel, localizado na Tijuca, onde nasceu e reside até hoje, por conta das
enchentes de 1988 (MÔNICA FRANCISCO, 2018).
Além do engajamento com os moradores de favelas, ela se atuou como
comunicadora popular na década de 1990 e participou de diversos programas de
rádios comunitárias ao longo dos anos. Sua história de militância se deve à sua
passagem pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), onde
trabalhou como pesquisadora. Foi no instituto também onde conheceu Marielle,
através do deputado federal Marcelo Freixo, no início dos anos 2000. As duas
mantiveram uma relação próxima ao longo dos anos e a ex-vereadora a convidou para
compor o mandato na equipe de favelas assim que foi eleita (MÔNICA FRANCISCO,
2019).

1.4. Justificativa

A vereadora Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018 após


sair do um evento na Casa das Pretas, na Lapa. O carro em que estava, acompanhada
de seu motorista, Anderson Gomes, que também faleceu, foi alvejado por tiros ainda
na região central da cidade, pouco tempo depois de começar o percurso (El País,
2019). A única sobrevivente da execução foi Fernanda Gonçalves Chaves, uma das
assessoras da vereadora (El País, 2019).
Ainda segundo o artigo publicado pelo jornal El País, o crime ganhou cunho
político pelo fato de ser uma vereadora em exercício, “além da frieza da execução e
pelo papel de destaque que Franco vinha ganhando” (El País, 2019), o que pode ser
explicado pela trajetória que Marielle traçava. Ela havia sido a quinta vereadora mais
votada no Rio de Janeiro, eleita com 46.502 votos, segundo dados do Tribunal
Regional Eleitoral (TRE). Os principais campos de atuação de Marielle, mulher negra,
lésbica e criada na favela da Maré, onde ainda residia, eram relacionados às minorias
sociais e direitos humanos. Ela atuou, ao lado do deputado federal Marcelo Freixo, na
10

Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a Alerj,


e na CPI das Milícias.
Para Flávia Biroli e Nadine Gasman (2018), “décadas de construção
democrática e de reconhecimento da violência de gênero, em leis e políticas públicas,
foram insuficientes para poupar sua vida e a de outras mulheres”. Ou seja, embora
Marielle atuasse fortemente em prol dessas causas, e sua eleição em 2016 ter sido
vista como motivo de comemoração pelos defensores de direitos humanos e minorias
sociais, na realidade, pouco se avançou nesta questão visto que silenciaram uma voz
que ganhou visibilidade e passou a ocupar um espaço de mais destaque na
sociedade. No entanto, três de suas ex-assessoras - Renata Souza, Mônica Francisco
e Dani Monteiro - foram eleitas deputadas estaduais na última eleição parlamentar,
em 2018.
As três se unem, além da óbvia proximidade com Marielle Franco e sua atuação
política, pelo fato de serem eleitas em suas primeiras campanhas e também por serem
mulheres negras oriundas de favelas cariocas. Sobre elas, é possível afirmar que:
Têm em comum o fato de quererem levar adiante as pautas defendidas pela
vereadora, uma árdua defensora dos direitos humanos que travava uma luta
contra o racismo, o machismo, a LGBTfobia e um modelo de segurança
baseado na guerra contra as drogas (BETIM, n.p, 2018).

Com isso, a escolha deste tema se justifica pela importância no contexto


político brasileiro e, mais especificamente, no Rio de Janeiro. Segundo o Atlas da
Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aumentou em 20,7% a taxa nacional de
assassinatos a mulheres entre 2007 e 2017. De acordo com o Dossiê Mulher 2019,
elaborado pelo Instituto de Segurança Público (ISP), a violência contra a mulher é “um
dos fatores estruturantes da desigualdade de gênero”, e deve ser vista como um
problema de ordem pública, ao invés de “um problema de âmbito privado ou
individual”.
Ainda segundo a pesquisa, 350 mulheres foram vítimas de homicídio doloso
no estado do Rio de Janeiro em 2018 e, destas, 71 sofreram feminicídio. Esta
diferenciação é feita de acordo com a Lei 13.104, que define este tipo de crime como
“contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”. Além disso, foram 729
tentativas de homicídios contra a mulher. Destes, 288 foram classificados como
tentativa de feminicídio.
11

Após a análise deste relatório (ISP, 2019), também é possível perceber que as
negras são as que mais morrem no estado. Quase 60% das vítimas de homicídio
doloso são pretas ou pardas. Isto se deve a um conjunto de fatores, “entre eles o
racismo, a pobreza e a discriminação institucional”, que fazem com que as populações
negra e parda sejam as mais afetadas pela violência (ISP, 2019).
Além da conjuntura de violência que afeta as mulheres e, mais drasticamente,
as mulheres negras, é importante ressaltar também a pouca representatividade
feminina na esfera política. Atualmente há 70 deputados estaduais do Rio de Janeiro.
Destes, apenas 11 são mulheres, o que representa aproximadamente 15%. No
mandato anterior, a disparidade era ainda maior, apenas 10% dos representantes do
poder legislativo do estado do Rio eram mulheres.

1.5. Metodologia

Para a realização deste livro, será utilizado o modelo de pesquisa exploratória.


Segundo Gil (2002), esse método proporciona maior familiaridade com o tema, além
de possibilitar um planejamento flexível, o que pode ser importante levando em
consideração que o objeto de estudo está em andamento. Para isso, serão realizadas
entrevistas abertas e por pautas, caracterizadas por “questões e sequências pré-
determinadas e com ampla liberdade de resposta” e orientadas por uma relação de
pontos de interesse explorados pelas entrevistadoras (GIL, 2002).
Pretende-se ainda realizar uma apuração in loco utilizando o método da
observação espontânea durante as visitas aos gabinetes e plenários na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). De acordo com Gil (2002), este modelo é o mais
adequado para estudos exploratórios, pois “favorece a aproximação do pesquisador
com o fenômeno pesquisado”. Além disso, será feita uma coleta e análise de dados
eleitorais e de atuação no mandato, disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Durante a elaboração da primeira parte deste trabalho, foram feitas entrevistas
com cada uma das deputadas, processo que será repetido para a realização do livro-
reportagem em si. Outras fontes consultadas serão pessoas diretamente relacionadas
à atuação política das parlamentares e de Marielle Franco. Após uma entrevista inicial,
foi feito um acordo verbal com as três deputadas, no qual elas se comprometeram a
manter contato com as autoras até o final deste projeto.
12

A linguagem escolhida foi baseada no jornalismo literário, com elementos


narrativos e descritivos, que as autoras acreditam ser o mais adequado para a
abordagem desta pauta. Segundo Eduardo Belo, esta técnica consiste em “narrar os
fatos com recursos mais próximos da literatura” (2006, p. 24). Este tópico será
aprofundado no referencial teórico sobre livro-reportagem e jornalismo literário. O
protótipo do livro, que poderá ser visto no anexo deste documento, traz a apuração já
realizada durante a primeira etapa deste projeto, entretanto será adaptado
posteriormente para o formato escolhido a partir de novas entrevistas e observações.
Já em relação à estrutura do livro, pretende-se abordar nos capítulos o
processo de campanha eleitoral, as trajetórias, os antecedentes históricos, o mandato
e a relação das deputadas com a vereadora Marielle Franco. Além disso, como
recurso visual, serão utilizados registros fotográficos considerados importantes para
ilustrar o conteúdo, que podem ser feitos pelas autoras ou adquiridos através de
acervos pessoais.
Quanto à identidade visual do livro em si, pretende-se realizar uma
diagramação minimalista, com poucos elementos gráficos e sem cores nas páginas
de texto. Haverá 4 folhas na metade com fotos diversas em preto e branco das
deputadas. A capa será uma ilustração de flores, também em preto e branco, apenas
com os nomes das autoras e o título.

2. Referencial teórico

2.1. Conjuntura atual da política no Brasil

2.1.1. Conceitos das teorias políticas

Política, do grego politikós - derivado de pólis, cidade - é o nome dado ao


conjunto de atividades relacionadas à organização, distribuição e gestão de uma
sociedade e seus grupos. Diretamente ligada ao conceito de poder, segundo Bobbio
(2000), a ciência política é focada nos fatos, processos e acontecimentos políticos e
sociais de um Estado (BOBBIO, 2000, p. 160).
De acordo com Reinaldo Dias (2013), o exercício do poder deriva de um
processo social e cultural, em que um ou mais indivíduos, instituições ou organizações
decidem sobre outros dentro de um determinado contexto. Assim, segundo teóricos
13

dessa ciência, existem três tipos de poder - como aponta pioneiramente Aristóteles
(2005), em Política. Para Bobbio (2000), estes são: poder econômico, poder social e
poder político, em que o primeiro se refere à posse de bens necessários para modificar
o pensamento daqueles que não os possuem; o segundo, à influência das ideias de
um indivíduo sobre outros; e o terceiro, a um poder coativo, ou seja, que se utiliza de
força (DIAS, 2013, p. 29-30).
O entendimento da existência de sistemas políticos foi construído a partir da
ideia de que aspectos relacionados às teorias políticas incluem não apenas
organizações e instituições no âmbito governamental, mas diz respeito a todas as
estruturas existentes em grupos sociais, segundo Almond e Powell Jr. (1972). Dessa
forma, um sistema político “pode ser definido como um conjunto de papéis em
interação, ou como uma estrutura de papéis”, em que é descrito como “a
caracterização de todas as interações padronizadas que ocorrem em seu interior”
(ALMOND, 1970, p. 45).
Nos dias atuais, a principal forma de organização política é o Estado, que,
segundo Fried (1976), constitui um estado de poder, se apresentando como uma
corporação territorial que envolve instituições por meio das quais o poder da
sociedade se organiza (FRIED, 1976, p. 225). De acordo com Poggi (1981), cabe ao
Estado a tarefa de manutenção da ordem social geral de uma nação, a partir de três
funções: poder executivo, poder legislativo e poder judiciário.
Para que as funções do Estado possam se desenvolver, são necessários três
requisitos, de acordo com Dias: “desenvolvimento pleno do Estado de direito, [...];
incentivo à participação dos cidadãos no processo político, com a existência de
liberdade de expressão; e que as regras que permitam o funcionamento da sociedade
sejam claras e a sua compreensão acessível a todos” (2013, p. 139). Além disso,
sobre as suas responsabilidades, também podemos destacar que:

O Estado deve garantir maior controle social sobre sua gestão, melhorar os
meios e instrumentos que hoje existem de representação política e social e
estabelecer outras formas de participação que complementem as existentes,
fortalecendo a democracia, descentralizando seu poder com a transferência
de responsabilidades e recursos às outras esferas do Estado, incluindo as
locais ou municipais (DIAS, 2013, p. 140).

Um Estado pode ser governado a partir de diferentes formas de exercício de


poder, segundo Dias (2013). Pode-se destacar algumas delas, como: autocracia,
14

ditadura, monarquia absoluta ou parlamentar, república, teocracia, tecnocracia,


plutocracia e democracia. No Brasil, o sistema de governo adotado é o de uma
república federativa constitucional presidencialista, que funciona através do modelo
de Estado democrático, também chamado de democracia parlamentar, cujos
princípios fundamentais são:

Legitimação a partir do princípio de soberania popular e participação política


dos cidadãos; emanação democrática do direito, através de um parlamento,
escolhido pelo povo; responsabilidade dos poderes públicos. A democracia
parlamentar como forma de Estado, portanto, [...] refere-se ao fundamento
legitimador: o povo [...] (DIAS, 2013, p.171).

Democracia, termo cunhado pela primeira vez durante o século V a.C. para
referir-se ao regime político de Atenas, na Grécia, diz respeito ao governo em que o
povo exerce a soberania, de acordo com Aristóteles (2005), que relacionava o
conceito diretamente às noções de liberdade e igualdade. Nos dias atuais, a ideia de
democracia identifica-se como democracia política, que “pode ser definida como uma
forma de governo em que o poder político não pertence a nenhum grupo determinado
e limitado de pessoas ou a uma pessoa, mas, na forma do direito, a todo o povo”
(DIAS, 2013, p.175).
Uma característica essencial dos regimes democráticos é a ideia de
representação política através do sufrágio, de acordo com Dias (2013), com os
processos de participação da sociedade através do caráter eleitoral. O autor aponta
ainda que as eleições são de extrema importância como instrumento de legitimação e
organização do poder, com a sua função de produzir representação, governabilidade
e legitimidade. Segundo Sartori, “se não fosse o fato de que não confiamos no suposto
consenso de opinião, não existiria a ponte entre governados e governantes e,
consequentemente, não haveria democracia” (1965, p. 88).
Outra característica que surgiu no âmbito da democracia foi a existência de
partidos políticos. Segundo Dias (2013), a necessidade de partidos acontece por conta
de dois fatores: a universalização dos direitos democráticos, por conta do sufrágio, e
o modelo de sociedade organizacional como uma forma de se atingir objetivos e
interesses (DIAS, 2013, p. 194). De acordo com Burke (1770), um partido pode ser
definido como:
15

Um corpo de homens unidos para promover, através de seu trabalho conjunto,


o interesse nacional sobre a base de um princípio particular acerca do qual
todos estão de acordo (BURKE, 1770, apud SARTORI, 2005, p.36).

Entre as funções sociais dos partidos políticos, de acordo com Dias (2013),
destacam-se: a racionalização política, ou seja, a multiplicidade de opiniões; a
socialização política, contribuindo para a formação de padrões e valores; a
mobilização da opinião pública; a participação política; a representação de interesses;
e a legitimação do sistema político (DIAS, 2013, p. 210-214).
Já quanto aos tipos de partidos políticos, estes podem se classificar, como
aponta Dias (2013), a partir de três critérios: quanto à base social, como partidos de
operários, burgueses, minorias, entre outros; quanto à orientação ideológica; e quanto
à estrutura organizacional, movidos por fins próprios (DIAS, 2013, p. 198).
Para Bobbio (1995), é necessário considerar os critérios de espectros
ideológicos de acordo com a distinção entre esquerda e direita, onde a esquerda
caracteriza-se pela defesa da igualdade social, com ideais democráticos e
progressistas, e a direita, pelo entendimento de desigualdade como algo natural, com
ideais neoliberais e conservadores. Dessa forma, o autor identifica quatro categorias
de partidos políticos: extrema-esquerda, centro-esquerda, centro-direita e extrema-
direita (BOBBIO, 1995, p. 119).
No Brasil, atualmente existem 32 partidos políticos, segundo o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), legalizados através da Lei nº 9.096/1995, Lei dos Partidos
Políticos (TSE, 2019). O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do qual são as
deputadas escolhidas como objeto de estudo deste projeto, foi fundado em 2005,
segundo a Justiça Eleitoral. O PSOL é um partido político brasileiro com um espectro
político-ideológico de esquerda e atua a partir da defesa de pautas democráticas,
direitos humanos e das minorias (PSOL, 2018).

2.1.2. Contexto atual da política brasileira

A conjuntura política brasileira atual é marcada por um avanço significativo de


pensamentos e ideologias da direita, segundo Carapanã in Gallego (2018), na qual
“misturam-se ideais do conservadorismo, do libertarianismo e do reacionarismo”. A
ideia de conservadorismo, de acordo com Almeida in Gallego (2018), teve origem no
século XIX, já num contexto de sociedade industrial, com a “defesa de valores e
16

instituições tradicionais diante da ameaça trazida pelas revoluções liberais”, em


referência a pilares como a monarquia e a religião, essenciais na época para os
adeptos deste conceito. Entretanto, nos dias atuais, o que está em voga é a existência
do neoconservadorismo. Sobre este, o autor destaca:

A pauta neoconservadora é basicamente a restauração da autoridade da lei,


do reestabelecimento da ordem e da implantação de um Estado mínimo que
não embarace a liberdade individual e a livre iniciativa (ALMEIDA in
GALLEGO, 2018).

O conceito de neoconservadorismo surgiu em reação à contracultura e à nova


esquerda, num contexto pós-Segunda Guerra Mundial. Segundo Almeida in Gallego
(2018), para os neoconservadores, fatores como a desigualdade de gênero, de raça
e de classe são “ilusórios”, fazendo com que ameaças como grupos de “hippies,
sindicalistas, estudantes, comunistas, negros e feministas ganhem força em razão da
permissividade e do assistencialismo estatal” (GALLEGO, 2018).
Para Casimiro in Gallego (2018), na história recente da política brasileira, a
popularidade dos ideais de espectro ideológico da direita voltou a aumentar durante
as manifestações de 2013, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Na
época, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de todo o país em protestos
contra os serviços públicos de má qualidade, o que, de acordo com Corsalette e
Charleaux (2018), pode ter ajudado a desencadear uma “crise de representatividade,
quando os brasileiros passaram a questionar a capacidade dos políticos”. Ainda
assim, a presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT) foi reeleita em 2014, após
vencer no segundo turno o candidato Aécio Neves, do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), um partido de ideologia de centro-direita (CORSALETTE &
CHARLEAUX, 2018).
O ano de 2014 também foi marcado pelo início do processo de investigação da
Lava Jato, caracterizada por um megaesquema de desvios da Petrobras, a maior
empresa estatal do país, que eclodiu em um discurso de política de combate à
corrupção, afetando diretamente a imagem do Partido dos Trabalhadores (THE
INTERCEPT, 2019). Para Corsalette e Charleaux (2018), esse cenário resultou em
uma “descrença com a política em razão dos escândalos de corrupção, além do
surgimento de um discurso de defesa de saídas autoritárias para a crise”
(CORSALETTE & CHARLEAUX, 2018).
17

Dessa forma, a insatisfação popular com o governo marcou o ano de 2015 e,


já em 2018, a presidenta Dilma Rousseff foi afastada do cargo após um processo de
impeachment construído sob a acusação de ter cometido manobras fiscais. A posição
de presidente da República foi ocupada pelo então vice Michel Temer, do PSDB
(CORSALETTE & CHARLEAUX, 2018). Sobre este cenário, Almeida in Gallego
(2018) aponta:

Nos períodos de crise, cuja característica fundamental é a impossibilidade de


manter sob controle ideológico e político as contradições inerentes ao
capitalismo, a democracia [...] poderá e será ultrapassada pela necessidade
de conservar as formas sociais (Almeida in Gallego, 2018).

Já o ano de 2018 foi marcado por inúmeros acontecimentos cruciais para que
se chegasse à realidade atual do país, como: a intervenção federal na segurança
pública do Rio de Janeiro, medida tomada por Michel Temer em fevereiro; o
assassinato da vereadora Marielle Franco, em março; a prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva por acusação de corrupção durante o processo da Lava Jato, em
abril; e as eleições para cargos de deputado(a) estadual e federal, senador(a),
governador(a) e presidente(a), em outubro (CORSALETTE & CHARLEAUX, 2018).
Marcada por uma forte característica de bipolarização, segundo Ribeiro in
Gallego (2018), as eleições de 2018 foram divididas por duas narrativas ideológicas
que constroem o debate político brasileiro atual: uma em defesa das minorias sociais
e pautas identitárias, à esquerda do espectro ideológico, e outra em defesa de ideais
neoconservadores, à direita do espectro ideológico (GALLEGO, 2018). Isto pôde ser
observado durante as campanhas presidenciais, em que Jair Bolsonaro, do Partido
Social Liberal (PSL), saiu vitorioso com 55,13% sobre Fernando Haddad, candidato
do Partido dos Trabalhadores (PT), que recebeu 44,87% dos votos válidos – que
equivaleram a 90,43%. Já os brancos chegaram a 2,14%, enquanto os nulos foram
7,43%, além das abstenções, que atingiram 21,30% do total (G1, 2018).
No Rio de Janeiro, o avanço da ideologia conservadora também pode ser
ilustrado pelos resultados das duas eleições mais recentes. Em 2016, o candidato
Marcello Crivella, do Partido dos Republicanos (PR), derrotou Marcelo Freixo, do
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na disputa pelo cargo de prefeito da cidade.
Já em 2018, Wilson Witzel, do Partido Social Cristão (PSC), venceu Eduardo Paes,
do Democratas (DEM), na disputa pelo cargo de governador do estado (TSE, 2019).
18

Ambos partidos eleitos são marcados por características do neoconservadorismo e


liberalismo (ALMEIDA in Gallego, 2018).
No entanto, o avanço de pautas como representatividade feminina, direitos das
mulheres e desigualdade de gênero nos dias atuais foram essenciais para o aumento
da participação das mulheres em cargos políticos após as eleições de 2018 – assunto
que será abordado mais profundamente no tópico 2.2.3 (DOMINGOS DE LIMA, 2018).

2.2. Feminismos e atuação política das mulheres

2.2.1. As três ondas do feminismo

A chamada primeira onda do feminismo surge no final do século XIX “com a


necessidade de luta por direitos iguais e pelo desejo da equidade entre homens e
mulheres” (MACHADO, 2018). O movimento surgiu na Convenção de Seneca Falls, a
primeira a visar à discussão acerca dos direitos das mulheres (SILVA; CORREDATO;
VERSA, 2015). Nela, foi redigida a Declaração de Seneca Falls, que destacava,
segundo Ana Silva, Kimberly Corredato e Cezar Versa, “a necessidade da igualdade
de gênero, principalmente na política, denunciando as restrições às quais as mulheres
estavam submetidas” (2015), como a impossibilidade de votar e o fato de não poderem
se candidatar a cargos políticos.
No entanto, é necessário reforçar que, além de serem centradas na Europa e
América do Norte, inicialmente, a discussão acerca do papel e lugar da mulher na
sociedade restringia-se às mulheres brancas e de classes sociais mais altas
(MACHADO, 2018). Em seguida, a classe das mulheres trabalhadoras – brancas –
começou a discutir a pauta. Desse modo:

Nesse âmbito, a retórica predominante era a do liberalismo e do universalismo.


As feministas defendiam que homens e mulheres, por serem iguais
(principalmente nos quesitos moral e intelectual), deveriam ter iguais
oportunidades (de estudos, de trabalho, de desenvolvimento, de participação
política, de posições) (MACHADO, 2018).

Portanto, a primeira onda do feminismo baseava-se na luta pelo


reconhecimento de direitos políticos, sociais e econômicos das mulheres, motivado
principalmente pela Revolução Industrial e pelas Grandes Guerras (CAETANO, 2017).
19

Essa discussão apenas chega ao Brasil com a proclamação da República, em 1889.


A pauta começa a ser abordada no país associada ao movimento de mulheres
operárias anarquistas e que reivindicavam o direito ao voto das mulheres, segundo
Caetano (2017):

Esse primeiro momento do movimento feminista, é associado a um “feminismo


bem-comportado”, que pode ser caracterizado como de cunho conservador no
que se refere ao questionamento da divisão sexual dos papéis de gênero,
inclusive reforçavam esses papéis, estereótipos e tradições na medida em que
utilizavam as ideias e representações das virtudes domésticas e maternas
como justificativa para suas demandas (CAETANO, 2017).

Nesta época, Bertha Lutz, bióloga e ativista, fundou a Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino, após morar no exterior. A organização foi responsável por uma
“campanha pública pelo voto, tendo inclusive levado, em 1927, um abaixo-assinado
ao Senado, pedindo a aprovação do Projeto de Lei” (CAETANO, 2017). Este foi um
dos pontapés iniciais para a conquista deste direito, que se deu apenas em 1932, com
a criação do primeiro Código Eleitoral Brasileiro.
A década de 1960 é tida como o marco da segunda onda feminista,
especialmente em países da Europa – França e Inglaterra – e nos Estados Unidos
(MACHADO, 2018). Neste momento, de acordo com Machado, “o argumento de uma
suposta opressão universal masculina cederá lugar às discussões de gênero, servindo
de base para combater a desigualdade entre homens e mulheres” (2018).
Além disso, o movimento começou a discutir outras questões além dos direitos
das mulheres. Pontos como “violência doméstica e sexual, a reivindicação pelo
domínio do próprio corpo, a busca pelo prazer sexual e o aborto, o controle de
natalidade e a sua realização pessoal enquanto ser e indivíduo” (CAETANO, 2017)
passam a ser pautados, algo que não ocorreu na gênese do feminismo. Vale a pena
ressaltar que a discussão, anteriormente restrita basicamente às mulheres brancas de
classes mais abastadas, difunde-se e vertentes do feminismo são criadas, como o
feminismo negro, que será abordado posteriormente.
A terceira onda feminista surge na década de 1990 e foca na definição de um
conceito de mulher, algo visto anteriormente como universal, para analisar as
diferenças (CAETANO, 2017). Desse modo, “reconhece-se que as mulheres não são
iguais entre si, tendo em vista a presença de elementos diferenciadores como a classe
e a raça, que propiciam relações de dominação e subordinação, impossibilitando uma
20

efetiva solidariedade” (CAETANO, 2017). A autora ainda cita como característica


desta onda o fato de que a questão de gênero passa a ser analisada levando fatores
como etnia, sexualidade e classe em consideração, “sob a perspectiva de que as
desigualdades sociais são, na verdade, fruto de uma complexidade, oriunda do
emaranhamento de relações de poder” (CAETANO, 2017).

2.2.2. Feminismo negro

O feminismo negro começou a ganhar destaque como vertente feminista a


partir da segunda onda do feminismo, entre 1960 e 1980, por conta da fundação da
National Black Feminist Organization (NBFO), nos Estados Unidos, em 1973. Já no
Brasil, para a socióloga Núbia Moreira, segundo Ribeiro (2018), o marco da inserção
das mulheres negras no movimento feminista se dá a partir do lll Encontro Feminista
Latino-Americano, que aconteceu em Bertioga (SP) no ano de 1985, como uma forma
de “adquirir visibilidade política no campo feminista” (RIBEIRO, 2018, p.51 e 52).
Para Angela Davis (2016), é necessário debater de forma diferenciada a
múltipla opressão sofrida pelas mulheres negras, pautada simultaneamente no
machismo e no racismo, defendendo um modelo de sociedade pensado a partir do
entendimento da intersecção de raça, classe e gênero (DAVIS, 2016, p.12).
A ideia de interseccionalidade, segundo Kimberlé Crenshaw (1989), consiste
em uma “conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais
e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação, tratando
especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe
e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras” (CRENSHAW, 1989,
p. 139). O termo, para Akotirene (2019), é de fundamental importância para o debate
de raça, classe e gênero, pois:
[...] demarca o paradigma teórico e metodológico da tradição feminista negra
promovendo intervenções políticas e letramentos jurídicos sobre quais
condições estruturais o racismo, sexismo e violências correlatas se
sobrepõem, discriminam e criam encargos singulares às mulheres negras
(AKOTIRENE, 2019, p. 59).

Para as mulheres negras, havia uma diferenciação entre a sua luta e o


movimento feminista, que tinham claras referências à Europa, segundo Silva in
Hollanda (2018). A razão para essa distinção surgiu de uma resistência por parte
21

dessas mulheres em relação ao feminismo branco, que “não tinha disposição para
desconstruir privilégios de raça e classe”, deixando de pautar, assim, a questão do
debate racial (SILVIA apud HOLLANDA, 2018, p. 256 e 257).
Um exemplo dessa realidade é a disparidade entre as demandas
emancipatórias entre as mulheres negras e as brancas. Para Ribeiro in Hollanda
(2018), “o conceito universal de mulher baseado na mulher branca não apenas não
representa como oprime” (RIBEIRO apud HOLLANDA, 2018, p. 264). Isto pode ser
observado durante a luta pelo sufrágio feminino norte-americano, em que negras eram
proibidas de marchar em defesa dos seus direitos por conta das leis segregacionistas
dos Estados Unidos, segundo Davis (2016), ilustrando a diferença de percepção por
parte da sociedade em relação às mulheres no que se refere à questão racial.
Na defesa dos próprios interesses enquanto mulheres brancas de classe
média, elas explicitam - frequentemente de modo egoísta e elitista - seu
relacionamento fraco e superficial com a campanha pela igualdade negra [...]
Com argumentos que evocavam os privilégios da supremacia branca,
demonstravam o quanto permaneciam indefesas - mesmo após anos de
envolvimento em causas progressistas - contra a perniciosa influência
ideológica do racismo (DAVIS, 2016, p. 84 e 85).
O movimento sufragista feminino nos Estados Unidos iniciou-se a partir da luta
contra a escravidão durante o século XIX. Após a sanção da Lei dos Direitos Civis
(Civil Rights Act), em 1866, passou a ser previsto que “todas as pessoas nascidas nos
EUA [...] eram iguais perante a lei e tinham os mesmos direitos”. Segundo Davis
(2016), nessa época, presumia-se que, com a abolição do sistema escravagista, a
população negra equiparava-se à posição das mulheres brancas na sociedade
estadunidense, já que “os dois grupos precisavam conquistar o voto para completar
sua igualdade social” (DAVIS, 2016, p. 85).
As sufragistas norte-americanas tiveram influência do movimento pioneiro pelo
sufrágio feminino ocorrido na Inglaterra, com mulheres, em sua maioria brancas, da
classe trabalhadora do início do século XX. A conquista do voto feminino para as
inglesas aconteceu através da Lei de Representação do Povo (Representation of the
People Act), apenas em 1918 (AS SUFRAGISTAS, 2015). Já nos Estados Unidos, foi
a Emenda Dezenove da Constituição, ratificada em 26 de agosto de 1920, que
garantiu o direito ao voto das mulheres no país, de acordo com Marcellino (2018).
Entretanto, a política segregacionista estadunidense se manteve até a sanção
da Lei dos Direitos Civis (1964) e da Lei dos Direitos ao Voto (1965), promovidas pelo
presidente Lyndon B. Johnson, do Partido Democrata, assegurando assim o direito ao
voto universal, independentemente de raça ou classe social (MARCELLINO, 2018).
22

Dessa forma, é possível observar que a população negra e, consequentemente, as


mulheres negras, foram prejudicadas em relação às conquistas dos direitos civis das
mulheres. Sobre este fato, hooks (2019) afirma:

Mesmo antes de raça se tornar uma questão debatida nos círculos feministas,
estava claro para as mulheres negras que jamais alcançariam igualdade dentro
do patriarcado capitalista de supremacia branca existente (hooks, 2019, p. 20).

Para as mulheres negras, o movimento feminista silenciou, ao longo de sua


história, a existência de diferentes identidades. Segundo Hooks (2019), a ideia de
sororidade – conceito que se refere à união entre as mulheres – se torna impossível
se “as brancas não forem capazes de abrir mão da supremacia branca”. Isso se dá
por conta da falta de diálogo sobre gênero e raça juntos como duas formas de
opressão, fazendo com que mulheres brancas assumissem um lugar de protagonismo
no feminismo (HOOKS, 2019, p.90 a 92).
O Movimento Negro Unificado (MNU), organização pioneira na luta pelas
causas do povo negro no Brasil e fundada em 1978, pautava o debate de raça e classe
durante a época da redemocratização do Brasil, nos anos 80, de acordo com o MNU
(2019). Segundo Silva in Hollanda (2018), o movimento atuava a partir do debate
apenas sobre causas de raça e classe. Por conta disso, surgem, nesse contexto,
grupos e coletivos de mulheres negras que questionavam as pautas de gênero dentro
da organização, como uma demanda que não era considerada nos espaços mistos –
ou seja, com a presença de pessoas de diferentes gêneros (SILVA in HOLLANDA,
2018, p. 254).
Segundo Silva in Hollanda (2018), foi apenas em 2000 o surgimento da primeira
organização nacional formada por mulheres negras de diversas regiões do Brasil, a
Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), durante a
preparação para a lll Conferência Mundial contra o Racismo, que ocorreu em Durban,
na África do Sul, em 2001. Para a autora, esse é um marco na história das mulheres
negras brasileiras: “Nesse processo, ganhou força a ideia de feminismo negro, a
necessidade de assumir esse nome e também de produzir uma teoria feminista negra
no Brasil” (SILVA in HOLLANDA, 2018, p. 260).
Entretanto, deve-se ressaltar que existe ainda uma pluralidade no que diz
respeito à maneira com que as mulheres negras se reconhecem em relação ao
movimento. No Brasil, de acordo com Ribeiro in Hollanda (2018), “existem mulheres
23

negras que se identificam como feministas periféricas, feministas negras


interseccionais, feministas negras radicais [...] e até mulheristas” – referente ao
mulherismo africano, um movimento que parte da perspectiva de mulheres pretas e
suas vivências marcadas pelo racismo (RIBEIRO, 2019).

2.2.3. A presença das mulheres na política brasileira

Os direitos civis e políticos das mulheres foram conquistados de forma tardia


na maior parte do mundo, a partir do fim do século XIX. Entretanto, segundo Biroli
(2018), nem mesmo esses feitos foram suficientes para que elas tivessem condições
de atuação equivalentes às dos homens, já que estas sofreram e sofrem até hoje
“obstáculos informais à participação nos espaços institucionais” (BIROLI, 2018, p.
171).

A política é atualizada como espaço masculino. A história do espaço público e


das instituições políticas modernas é a história da acomodação do ideal de
universalidade à exclusão e à marginalização das mulheres e de outros grupos
sociais subalternizados (BIROLI, 2018, p. 172).

No Brasil, o sufrágio feminino só passou a ser permitido em 1932 e ao longo


do século XX, as mulheres atuaram em sindicatos, grupos, coletivos e movimentos
sociais em diferentes contextos. Segundo Biroli (2018), este processo teve bastante
relevância durante o período de enfraquecimento da ditadura e início da
redemocratização, nas décadas de 70 e 80, em que estas passaram a lutar em prol
de políticas públicas e espaços de participação, mas eram impedidas de construir
carreiras políticas por conta de um cenário marcado pelo machismo (BIROLI, 2018, p.
176).
Atualmente, as mulheres correspondem a 52,5% do total de 147,5 milhões de
eleitores, segundo o Cadastro Eleitoral (TSE, 2019). No entanto, a presença delas
ainda é significativamente reduzida em cargos parlamentares. O país ocupa a 154ª
posição – de um total de 190 – no ranking monitorado pela Inter-Parliamentary Union
(IPU) em relação à disparidade entre homens e mulheres em cargos nas Câmaras,
tendo o pior resultado da América do Sul (BIROLI, 2018, p. 176).
Ao longo da história política nacional, de 38 pessoas no total, apenas uma
mulher ocupou o cargo da Presidência da República: Dilma Rousseff, do Partido dos
24

Trabalhadores (PT), eleita em 2010 e reeleita em 2014, governando o país até 2016,
quando foi afastada do cargo após um processo de impeachment (TSE, 2019).
Nas eleições municipais de 2016, do total de 5.568 municípios brasileiros,
88,4% elegeram candidatos homens e apenas 11,6%, candidatas mulheres. Já para
o cargo de vereador(a), foram eleitos 50 mil homens e 7.811 mulheres, segundo o
TSE, o que é mais um exemplo da disparidade de gênero na política do Brasil (BBC,
2016).
Já em 2018, houve um crescimento de 52,6% da representatividade feminina
na política brasileira em comparação com a eleição anterior. De 9.204 mulheres que
se candidataram, 290 foram eleitas, o que equivale a 16,2% de 1790 pessoas, total
de candidatos vencedores, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em 2014, apenas 190 mulheres foram escolhidas, significando 11,1% do total de
1.711 eleitos na época (TSE, 2019).
Do número total de mulheres eleitas, no que se refere aos cargos, estas foram:
77 deputadas federais, ocupando agora 15% das 513 vagas disponíveis – o que antes
era 10%; sete senadoras, somando agora 12 mulheres no Senado, o que corresponde
a 15% das 81 cadeiras; apenas uma governadora, eleita no Rio Grande do Norte; e
161 deputadas estaduais, ou seja, cerca de 15% das cadeiras em disputa (TSE, 2019).
Este avanço pode ser atribuído à regra eleitoral sancionada pelo ex-presidente
Michel Temer em 2017, segundo Beatriz Rodrigues Sanchez, pesquisadora do Grupo
de Estudos de Gênero e Política da USP (DOMINGOS DE LIMA, 2018). Segundo a
lei, a partir das eleições de 2018, foi determinado que os partidos políticos
destinassem, no mínimo, 30% do Fundo Partidário para candidaturas de mulheres. A
medida complementa a Lei das Eleições (9.504), de 1997, que “passou a prever a
reserva de vagas para a participação das mulheres nos cargos proporcionais”, em que
cada partido deve preencher mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos de cada
sexo” (TSE, 2019).
De acordo com Ferraz (2018), a falta de representatividade feminina na política
impacta diretamente na realidade democrática do país, já que “a identidade de quem
governa tem um efeito enorme sobre o tipo de políticas públicas que são
implementadas”, além de afetar na escolha de mulheres para aspirações de carreira.
No que se refere a este cenário, Biroli (2018) afirma que “a história do exercício
masculino de influência no espaço público institucional, isto é, a história larga da
25

sobrerrepresentação dos homens [...] possibilita que a reprodução dessa assimetria


seja naturalizada” (BIROLI, 2018, p. 180).
Desta forma, mesmo com os avanços observados ao longo dos anos, ainda há
uma “manutenção da sub-representação das mulheres”, em que é possível perceber
a existência de barreiras para a inclusão feminina no espaço político institucional
mesmo nos dias atuais. De acordo com Sanchez in Lima (2018), isto se dá por fatores
como “o financiamento desigual de campanhas, o machismo institucional dos partidos
e a divisão sexual do trabalho” (DOMINGOS DE LIMA, 2018).
Para Biroli (2018), a divisão sexual do trabalho é uma das principais causas da
disparidade de participação das mulheres no espaço público, já que consiste no
“entendimento de que mulheres e homens têm competências diferenciadas”, o que
afeta diretamente as suas possibilidades de autonomia e representatividade (BIROLI,
2018, p.209).

2.2.4. Marielle Franco

Segundo Gasman, “o assassinato de Marielle Franco nos coloca diante de um


limiar” (2018). Marielle era muitas mulheres em uma só: negra, lésbica e nascida e
criada na favela da Maré. Além disso, defensora de direitos humanos, lutava contra
as desigualdades de gênero, classe e raça. Com isso, sua execução foi considerada
uma ameaça à democracia, visto que ela conseguiu ocupar um espaço de destaque
ao longo de sua trajetória política (GASMAN, 2018).
Marielle Franco, eleita pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) em 2016
com 46.502 votos, entrou na política em 2006 ao lado de Marcelo Freixo, quando foi
convidada para ser assessora parlamentar do então deputado estadual (OLIVEIRA,
2018). A trajetória da vereadora assassinada em 2018 sempre esteve ligada,
principalmente, à defesa dos direitos humanos, e ela torna-se coordenadora da
comissão responsável por este tema na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro, a Alerj. Sua principal motivação para atuar nesta frente foi a morte de uma
amiga, vítima de bala perdida, na Favela da Maré, em 2005 (CARNEIRO, 2018).
Nesta época, Marielle cursava o pré-vestibular comunitário do Centro de Ações
Solidárias da Maré (CEASM) (CARNEIRO, 2018). Ingressou na Pontifícia
Universidade Católica (PUC-Rio) em 2002 para cursar Ciências Sociais. Após a
26

graduação, ingressou no programa de mestrado em Administração Pública da


Universidade Federal Fluminense (UFF) (OLIVEIRA, 2018). Seu projeto, intitulado
“UPP – a redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública
do estado do Rio de Janeiro” abordava a questão da segurança. “O projeto de
mestrado possui ao todo 136 páginas nas quais, por meio de uma extensa revisão
bibliográfica, pesquisa de campo e levantamento documental, ela faz uma crítica à
atuação das unidades de polícia pacificadora (UPPs), nas favelas do Rio de Janeiro”
(OLIVEIRA, 2018).
Este tema também esteve presente em sua atuação na Comissão de Direitos
Humanos e Cidadania da Alerj. O órgão tem como objetivo “acompanhar e se
manifestar sobre programas e ações relacionadas a todos os direitos humanos e, se
necessário, agir em caso de violações” (ALERJ). Marielle, que esteve à frente da
Comissão até sua execução, tratava especialmente de casos relacionados às vítimas
de violência cometida pelo Estado e à milícia carioca (OLIVEIRA, 2018).
A vereadora, empossada em janeiro de 2017, exerceu o cargo de vereadora
por pouco mais de um ano e apresentou 15 projetos de lei durante este período, entre
os quais dois foram aprovados (BARBOSA, 2018). Um deles, a lei complementar nº
27/2017 “autoriza o serviço de transporte de passageiros por motocicleta na cidade
do Rio de Janeiro” (BRASIL, 2017). Já a lei nº 6260/2017 visa a restringir os contratos
de gestão feitos entre o município do Rio de Janeiro e as Organizações Sociais de
Saúde, as OSS (BRASIL, 2017).
Além destes, outros projetos elaborados por Marielle foram aprovados em
sessão extraordinária realizada postumamente em maio de 2018. Entre eles: PL
17/2017, que visa à criação de uma rede de ensino infantil noturna no Rio, voltada
para os pais que trabalham à noite; PL 417/2017, segundo o qual foi criada uma
campanha permanente de conscientização sobre o assédio em transportes e espaços
públicos; PL 555/2017, que visa à criação do chamado Dossiê da Mulher Carioca,
unindo diversos dados a respeito da mulher e que auxiliaria na criação de políticas
públicas; PL 515/2017, estabelece a criação do Programa de Efetivação das Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto, responsável pela reinserção social dos
adolescentes que estejam cumprindo pena neste regime no município do Rio de
Janeiro; PL 103/2017, responsável pela instituição do Dia Municipal da Tereza de
Benguela e da Mulher Negra, comemorado no dia 25 de julho (BRASIL, 2017).
27

Marielle Franco foi assassinada no dia 14 de março de 2018, quando retornava


do evento “Jovens Negras Movendo Estruturas”, na Lapa (GONÇALVES et. al., 2018).
Ela retornava para sua residência, na Tijuca, quando o carro em que estava
acompanhada de seu motorista e uma de suas assessoras foi alvejado por tiros. A
vereadora e Anderson Gomes, que dirigia o carro, não sobreviveram ao ataque (BBC
NEWS BRASIL, 2018).
A ex-vereadora executada recebeu diversas homenagens póstumas. Em 16 de
setembro de 2019 a lei Marielle Franco foi sancionada, que institui 14 de março como
o Dia Estadual dos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (G1, 2019).
Segundo a lei, a data “poderá contar com atividades educacionais, culturais,
econômicas e sociais, voltadas à conscientização sobre os direitos humanos” (RIO
DE JANEIRO, 2019).
A própria família da ex-vereadora também criou iniciativas para preservar o
legado da política. Em 27 de julho de 2019, dia em que Marielle completaria 40 anos,
foram lançados o Instituto Marielle Franco e o Papo Franco. O primeiro tem pontos de
atuação cujos objetivos são “buscar justiça sobre o caso, defender a memória da
vereadora, multiplicar o legado deixado por ela e regar as sementes que surgiram”
após a execução (INSTITUTO MARIELLE FRANCO, 2019).

2.3. Livro-reportagem e jornalismo literário

Para Eduardo Belo, a produção de conteúdo do jornalismo diário vem tornando-


se superficial (2006, p.14). Isso se deve, segundo o autor, à banalização da divulgação
de conteúdo sobre violência e à cobertura burocrática de outros temas, como política,
esporte e economia (2006, p. 14). As causas para isso são a “falta de tempo e dinheiro
para publicar e leitores dispostos a digerir reportagens” (BELO, 2006, p.14). Com isso,
embora seja uma atividade criativa, ela é “restringida pela tirania do tempo, dos
formatos, e das hierarquias superiores” (TRAQUINA, 2012, p. 22) no contexto atual.
O modelo de produção jornalística adotado atualmente, criado nos Estados
Unidos, é tido por Nelson Lage como o mais adequado para a situação em que se
vive, configurada como uma sociedade industrial madura (2006, p. 19). A principal
mudança do modelo em vigência para o anterior é a tecnologia. Hoje, com o uso
28

intenso de computadores nas redações, o papel do repórter se multiplica porque


permite que ele participe de todas as etapas da produção, além da apuração e
redação em si (LAGE, 2006, p. 19).
No entanto, de acordo com Belo, os profissionais deste campo ainda acreditam
na hegemonia das publicações impressas, apesar da competição com outros meios
de comunicação, como a televisão, o rádio e a internet (2006, p. 14). “As redações
continuam trabalhando como se os jornais fossem o principal fornecedor de
informação ao público, a exemplo do que acontecia até o advento do rádio e a
massificação da TV” (BELO, 2006, p. 14). Mesmo assim, embora a concorrência tenha
aumentado, Belo aponta que a produção impressa possui uma “aura de credibilidade
e profundidade que os outros meios não têm” (2006, p. 14).
Segundo Belo, os leitores que fazem assinatura de jornais buscam um
conteúdo diferente do que conseguem obter gratuitamente, seja pela credibilidade da
mídia impressa ou pelo simples prazer da leitura (2006, p. 15). Apesar disso, há uma
ideia de que o leitor não gosta e não quer ler reportagens mais longas, o que funciona
como um desserviço para os próprios profissionais. Com isso, esta produção, que se
torna cada vez mais concisa, contribui para banir um conteúdo mais elaborado dos
jornais, que existem hoje apenas nas edições de domingo, em cadernos especiais e
revistas, mas é presente em produtos digitais, como o conteúdo produzido pela
Revista Piauí, Agência Pública e o site Colabora. Assim, o livro-reportagem torna-se,
neste cenário, uma alternativa para os jornalistas que querem, de fato, produzir longas
e densas reportagens (BELO, 2006, p. 15).
Não é possível estabelecer uma data para o surgimento deste tipo de
publicação, mas pode-se dizer que ganhou força “como um subgênero da literatura
na Europa do século XIX” (BELO, 2006, p. 19). Neste momento, não havia uma
distinção tão clara entre jornalismo e literatura como existe hoje. Além disso, o ofício
não era tão custoso porque, segundo Lage, era apenas necessário usar uma prensa,
tipos móveis, papel e tinta. No entanto, o produto final destinava-se a uma parcela
restrita da sociedade: “funcionários públicos, comerciantes e seus auxiliares
imediatos” (LAGE, 2011, p. 10).
Segundo Lage, “neste contexto a profissão fixou a sua imagem mais antiga e
renitente: a do publicismo” (2011, p. 10), visto que a produção era opinativa e possuía
cunho político. Vale frisar que a produção europeia era diferente da feita nos Estados
29

Unidos no mesmo período, onde “os veículos são organizações eminentemente


empresariais, enquanto na Europa o jornalismo nasceu da atividade político-
partidária” (BELO, 2006, p. 20). Embora Belo também afirme que a produção foi
tornando-se mais objetiva e menos opinativa ao longo do tempo, esta tradição literária
influencia até hoje no modo com o qual as reportagens são feitas no continente (2006,
p. 20). Os profissionais fazem da “narrativa um desafio de inteligência e de
compreensão do mundo, a partir de um ou mais pontos de vista” (BELO, 2006, p. 21).
Para Belo, graças a esta mudança de paradigma no jornalismo europeu, a
produção, que antes restringia-se basicamente a relatos de viagem, ganhou novos
temas, como a desigualdade social (2006, p. 21). Contudo, o jornalista tido como o
responsável pelo primeiro livro-reportagem é americano. John Reed escreveu, já no
século XX, “México Rebelde”, lançado em 1914, e “Dez Dias que Abalaram o Mundo”,
de 1919 (BELO, 2006, p. 22). Embora outros textos de não-ficção já houvessem sido
lançadas em formato de livro anteriormente, como o próprio “Os Sertões”, de Euclides
da Cunha, Reed foi o primeiro a ganhar notoriedade entre os estudiosos de
comunicação (BELO, 2006, p. 22).

Por essa época, a reportagem ganhou status, e a sociedade, cada vez mais
urbana, a abraçou de vez como um “artigo de consumo”. Numa época em que
o preço e a oferta de papel ainda não preocupavam os jornais e praticamente
não havia concorrência de outros meios - a não ser o incipiente rádio, àquela
altura mais preocupado em reproduzir programas de variedades -, a grande
reportagem, ainda com algum molho ficcional, floresceu, sobretudo, nos
Estados Unidos. Na primeira metade do século, jornais e revistas destinavam
áreas extensas de suas edições para contar o que lhes pareciam ser boas
histórias. Uma parcela considerável delas foi parar em páginas de livros.
(BELO, 2006, p. 22).

O momento tido como o “divisor de águas capaz de gerar uma torrente de


produção jornalístico-literária no mundo foi o fim da Segunda Guerra” (BELO, 2006, p.
22). Apesar das dificuldades financeiras que o mundo enfrentava, muitos jornais
enviaram correspondentes para cobrir os conflitos. Há dois grandes exemplos
brasileiros que podem ser citados: Rubem Braga, do Diário Carioca, escreveu “Com
a FEB na Itália”, e Joel Nunes, do Diários Associados de Assis Chateaubriand,
publicou “O Inverno da Guerra” (BELO, 2006, p. 23).
“Hiroshima”, de John Hersey, é um livro-reportagem considerado um marco do
jornalismo literário mundial. “Nenhuma outra reportagem na história do jornalismo teve
a repercussão de ‘Hiroshima’” (SUZUKI JR., 2002, apud HERSEY, 2002, p. 161). A
30

reportagem foi publicada inicialmente em uma edição especial na revista The New
Yorker, em 31 de agosto de 1946, dedicada exclusivamente ao texto de Hersey. O
texto foi feito a pedido do editor da própria revista na época, William Shaw, que queria
contar a história dos sobreviventes da bomba atômica lançada pelos americanos na
cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945.
A reportagem de Hersey não trazia dados ou informações novas a respeito da
bomba. O impacto da publicação se deu por conta do enfoque e da abordagem do
autor (SUZUKI JR., 2002, apud HERSEY, 2002, p. 168). Segundo Suzuki Jr., Hersey
conseguiu humanizar o evento através da opção de narrar os acontecimentos a partir
dos relatos de seis sobreviventes, “o tom da reportagem é um prolongamento da dor
silenciosa que os sobreviventes de Hiroshima notaram nos conterrâneos feridos”
(SUKUZI JR., 2002 apud HERSEY, 2002, P. 168)
Segundo Belo, “Hiroshima”, editado como livro no ano seguinte à publicação
na The New Yorker, é considerado mais um marco de mudança pelos fatores citados
acima. “Depois de praticamente ter nascido da literatura, o jornalismo havia se
afastado um pouco dela” (BELO, 2006, p. 24), visto que a imprensa, visando a atingir
um público maior de forma mais rápida, buscou tornar as publicações mais objetivas
e concisas. Isto reforçou o modelo da pirâmide invertida, no qual as informações são
elencadas por ordem de importância e o principal está no primeiro parágrafo (BELO,
2006, p. 24).
Porém, a publicação de “Hiroshima”, somada ao avanço tecnológico e às
mudanças sociais da época, os jornais começaram a produzir grandes reportagens –
muitas reeditadas como livros – o que, novamente, aproximou o jornalismo da
literatura e contribuiu para a criação do new journalism (BELO, 2006, p. 24). Segundo
o autor:
A tal técnica consistia em, simplesmente, narrar os fatos com recursos mais
próximos da literatura, do que a linguagem apressada, telegráfica e enxuta -
não necessariamente no bom sentido do termo - do jornalismo. Enfim, era uma
espécie de “voto de protesto” contra a ditadura do lead e da pirâmide invertida.
Se o modelo e até o nome já haviam sido empregados antes, foi só a partir da
metade do século que o new journalism alcançou notoriedade. A ponto de, até
hoje, ser tratado como um produto típico da década de 1960 (BELO, 2006, p.
24).

Há, formalmente, alguns requisitos importantes para que uma reportagem


possa ser classificada como jornalismo literário (SUZUKI JR., 2002, apud HERSEY,
2002, p. 171). É necessário que o texto seja publicado em jornal ou revista e precisa
31

ser fruto de apuração jornalística. “Sua matéria-prima é o trabalho de grande


apuração: muitas entrevistas, muito bate-pé de repórter, pesquisa em arquivos,
exaustiva investigação de fatos, levantamento de dados” (SUZUKI JR., 2002, apud
HERSEY, 2002, p. 171).
Durante a década de 1960, nos Estados Unidos, houve uma ampla produção
de livros-reportagens. Autores como Truman Capote, Tom Wolfe, Norman Mailer e
Gay Talese fizeram parte do movimento do new journalism. Este primeiro é autor de
“A Sangue Frio”, também publicado inicialmente na revista The New Yorker, assim
como o livro de Hersey. “Relato de uma chacina ocorrida no interior do Kansas, nos
Estados Unidos, o livro tem sido considerado pela maioria dos especialistas a obra
máxima do new journalism” (BELO, 2006, p. 25). Capote o escreveu após seis
semanas de apuração. Apenas três meses depois da publicação inicial, em forma de
quatro capítulos na revista, a reportagem foi editada e lançada em forma de livro e
classificada pelo próprio autor como “romance de não-ficção”.
Segundo Belo, as condições para que este tipo de produção de conteúdo
surgisse se originam no século XIX, nos Estados Unidos (2006, p. 25). Neste
momento, os jornais começaram a adotar uma linguagem mais parecida com a da
ficção, justamente para torná-los mais atraentes ao público. Na década de 1880, o
húngaro Joseph Pulitzer, que fundou o importante prêmio que leva seu nome,
comprou o jornal New York World e mudou seu estilo de produção na esperança de
que o veículo voltasse a dar lucro. Inicialmente implantou uma abordagem
sensacionalista, que aos poucos foi substituída por reportagens investigativas (BELO,
2006, p. 26). Essa linguagem abriu caminho para que o público aceitasse bem o new
journalism.
No Brasil, este tipo de reportagem se difundiu apenas nos anos 1970 como
uma forma de combater a censura à imprensa durante o período da ditadura militar
(CATALÃO JR, 2010, p. 102). Além disso, de acordo com Catalão Jr., havia uma
“demanda sufocada do público leitor por narrativas, informações, análises e
descrições - políticas, especialmente - cuja circulação era reprimida pelo governo
ditatorial da época” (2010, p. 102), o que fez tornou este momento histórico propício
para a criação de livros-reportagens. Porém, foi no período da redemocratização, na
década de 1980, que os jornalistas brasileiros tomaram gosto por este tipo de
reportagem:
32

Os anos 1980 são recheados de relatos sobre os bastidores da política e da


economia nacional - precisamente os setores da sociedade que mais
mudaram. Parte desses relatos esteve contemplado pelas publicações
periódicas, mas a necessidade de aprofundamento, as terríveis dimensões de
eventos como a ditadura militar e a abertura política proporcionaram espaço
para a publicação de inúmeras reportagens em livro (BELO, 2006, p. 32).

O jornalismo literário, publicado em forma de livro-reportagem foi uma forma de


escapar da censura à imprensa durante militar. No entanto, foi no período da
redemocratização que o modelo se popularizou. Hoje há exemplos de diversos
autores brasileiros, como Daniela Arbex, autora de “Todo Dia a Mesma Noite” e
reportagens publicadas pela revista Piauí e Agência Pública. Desse modo, acredita-
se que o formato de livro-reportagem seja o mais adequado para o tipo de conteúdo
que será produzido a respeito das três ex-assessoras de Marielle que foram eleitas
deputadas estaduais em 2018.

3. Cronograma

Este tópico descreve o cronograma para a elaboração do produto final deste


TCC. Vale ressaltar que, para a elaboração desta primeira parte do trabalho de
conclusão de curso, as primeiras entrevistas com Dani Monteiro, Mônica Francisco e
Renata Souza já foram transcritas.

DEZEMBRO JANEIRO
1. Levantamento de dados eleitorais 1. Apuração através de entrevistas
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

2. Transcrição de entrevistas 2. Levantamento de dados


Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

FEVEREIRO MARÇO
1. Transcrição de entrevistas 1. Transcrição de entrevistas
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues
33

2. Apuração através de entrevistas 2. Apuração através de entrevistas


Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

3. Observação espontânea para apuração 3. Observação espontânea para apuração


Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

ABRIL MAIO
1. Redação 1. Redação
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

2. Observação espontânea para apuração 2. Observação espontânea para apuração


Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues Rodrigues

JUNHO
1. Redação
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues

2. Revisão
Encarregadas: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues

4. Orçamento
34

ORÇAMENTO

ITEM VALOR

Alimentação R$100,00 (R$50,00 cada)

Deslocamento R$140,00 (R$70,00 cada)

Gravador de voz R$70,00**

Câmera fotográfica R$1.500,00**

Diagramação R$3.000**

Revisão R$1.800**

Impressão em gráfica (1000 unidades) Unitário: R$6,18


nas seguintes características: 1000 unidades: R$6.180

Livro (Brochura Costurada) 15X21CM


COM 80 PAGS + CAPA, Form.Aberto
300 x 210 mm, Form.Fechado 150 x 210
mm, Capa , formato 305 x 210 mm em
Cartão Triplex 250 g/m2, 1x0 cores,
Miolo 80 págs. em Off-Set 90 g/m2, 4x4
cores, Dobrado(Miolo), Alceamento
Cadernos(Miolo), Prova Heliográfica,
Laminação Fosca frente(Capa),
Vincado(Capa), Prova Digital(Capa),
Costura, Alcear/Encapar, Prova
Digital(Capa ), Heliografica Colorida,
Prova Digital DE 6 PAGINAS - Cálculo
305.335

TOTAL: 12.790

* Os valores foram estimados a partir de orçamentos e preços de mercado.


** Estes itens são tarefas e equipamentos que pertencem à própria equipe.
35

5. Referências bibliográficas

5.1. Fontes orais


FRANCISCO, Mônica [set. 2019]. Entrevistadoras: Cecilia Santos e Isabelle
Rodrigues. Rio de Janeiro, 11 set. 2019.

MONTEIRO, Dani [set. 2019]. Entrevistadoras: Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues.


Rio de Janeiro, 30 set. 2019.

SOUZA, Renata [set. 2019]. Entrevistadoras: Cecilia Santos e Isabelle Rodrigues.


Rio de Janeiro, 6 set. 2019.

5.2. Fontes escritas

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ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2005

AS SUFRAGISTAS. Direção de Sarah Gravon. Reino Unido: 20th Century Fox,


2015. 1 DVD (106min).
BARBOSA, Carolina. Conheça os projetos de lei de Marielle Franco. Veja Rio, 15
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BARREIRA, Gabriel. G1, Rio de Janeiro, 15 de março de 2018. Em mandato na


Câmara, Marielle Franco defendeu minorias. Disponível em:
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42

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RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei nº 515 de 24 de outubro de 2017. Disponível em:


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SARTORI, Giovanni. Partidos y sistemas de partidos: marco para un análisis.


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SILVEIRA, Daniel. Em ranking de 190 países sobre presença feminina em


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Brasil: 8 de março de 2019. Disponível em: http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-
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2014 Acesso em: 27 de outubro de 2019.
44

7. Anexo

7.1. Protótipo
Uma jovem estudante, uma cientista social e uma pós-doutora em
Comunicação. Mesmo com diferentes perfis, existem alguns fatores que unem os
caminhos de Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza: a infância na favela,
a trajetória na militância e a existência como mulheres negras e periféricas na cidade
do Rio de Janeiro. As três sucessoras de Marielle Franco foram eleitas em 2018, sete
meses após o assassinato brutal da vereadora, com quem trabalhavam como
assessoras parlamentares. Seus mandatos como deputadas estaduais focam na
criação de políticas públicas em prol da igualdade racial e de gênero e em defesa das
minorias sociais, resistindo dia após dia às ameaças do machismo e do racismo
estruturais do ambiente em que estão inseridas.
Dani Monteiro, de 27 anos, a deputada estadual mais jovem do estado, nasceu
no Complexo de São Carlos, uma favela localizada no Centro do Rio. Ela, que além
do cargo político também é estudante cotista da Universidade Estadual do Rio de
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Janeiro (Uerj) no curso de Ciências Sociais, acredita que é através da juventude que
será trilhado o caminho para a mudança da sociedade, pensamento que vem desde
o início da sua história na política. Dani engajou-se nesta causa após a entrada na
universidade, onde conheceu os movimentos sociais, algo que nem imaginava existir.
Foi a partir desse momento que ela entrou no coletivo “Rua, juventude anticapitalista”
e posteriormente, em 2014, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Mesmo após a filiação ao partido, Dani não tinha interesse em tornar-se uma
figura pública, preferia participar ativamente dos debates acerca dos temas que mais
a interessam. Sua atuação era nos bastidores, fazendo parte das discussões políticas
e construindo lutas, como gosta de definir. Em 2016, fez parte da campanha de
Marielle e, após a eleição, foi convidada pela vereadora para fazer parte de seu
mandato como assessora ligada justamente a questões de juventude, algo que faz
parte de seu perfil. O objetivo era difundir os seus ideais para atrair mais mulheres
negras para a política brasileira.
O fato de não se enxergar em um cargo parlamentar partia de uma questão de
autoestima por conta dos enfrentamentos racistas diários que fazem parte da vida de
uma mulher negra e favelada. Foi Marielle que a fez acreditar que suas gírias e
aparência também podiam pertencer ao universo político. Após as eleições, Dani
entende que a luta só estava começando, mesmo que de forma vitoriosa. Os três
primeiros meses de seu mandato foram de olhares tortos pelos corredores da
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), embate com seguranças
e tentativas de expulsão dos plenários. Para a deputada, a cada dia o ambiente repete
a sua falta de pertencimento a este espaço. “A minha única resposta para a opressão
é passar por cima com luta, resistência e muito trabalho”, conta.
Mônica Francisco, militante de direitos humanos há mais de 30 anos, é nascida
e criada no Morro do Borel, um dos mais antigos da cidade, localizado na Tijuca, Zona
Norte do Rio. Mãe de dois filhos e avó de um neto, a deputada é ainda pastora da
Comunidade Apostólica Cristã Gileade, uma igreja evangélica do mesmo bairro. Por
conta do sonho de ser antropóloga para entender as divisões e a cultura das favelas,
se formou em Ciências Sociais na Uerj para compreender na teoria o que já praticava
na sua vida como ativista de movimentos sociais.
Foi no Instituto Brasileiro de Análises Sociais Econômicas (Ibase), onde
trabalhou, que Mônica conheceu o atual deputado federal Marcelo Freixo, na época
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em que ainda se candidatava para o seu primeiro mandato pelo PSOL, como deputado
estadual, em 2005. Durante o processo de campanha, ela conheceu Marielle e, após
a eleição da vereadora, passou a compor o seu mandato como integrante da equipe
de favelas.
A possibilidade de construção de uma campanha para Mônica ocupar um cargo
político surgiu com a própria vereadora, com planos para as eleições de 2020. Por
conta do assassinato, o caminho foi antecipado para 2018, quando foi eleita como
deputada estadual. Para ela, apesar da surpresa no dia da vitória, foi uma trajetória
natural, apesar do silenciamento e do desafio que é ser uma mulher negra que ocupa
uma cadeira parlamentar. “É como se eu tivesse sido preparada por anos para chegar
onde estou”, conta. De Marielle, ela traz, além de parte da equipe, a sua forma de
conduzir o mandato e fazer política, além da força para seguir no trabalho todos os
dias.

Renata Souza, cria da Nova Holanda, na Maré, também começou cedo a sua
história na militância. Por ter tido uma infância em meio a um cotidiano violento e difícil,
não demorou a entender o debate sobre acesso, exclusão social e o lugar que as
favelas e periferias ocupam na sociedade. Jornalista de formação, hoje, além do cargo
de deputada estadual, ela é pós-doutora em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal Fluminense (UFF), realizando o sonho antigo de ter uma
carreira acadêmica.

Durante o seu tempo no pré-vestibular comunitário da Maré, Renata conheceu


Marielle e, posteriormente, estudaram na mesma faculdade, a Pontifícia Universidade
Católica (PUC-Rio), onde tinha uma bolsa integral para o curso de Jornalismo. Após
a eleição de Freixo em 2005, as duas foram convidadas pelo deputado para compor
o seu mandato, quando Renata se tornou assessora de comunicação e Marielle, de
favelas, além de iniciarem um trabalho na Comissão de Direitos Humanos da Alerj.

Quando Marielle foi eleita, em 2016, Renata recebeu um convite para ser chefe
de gabinete de seu mandato, cargo que exerceu até o assassinato da vereadora. Por
fazer parte dos bastidores da política por doze anos, ela nunca se imaginou em um
lugar de parlamentar e, depois que decidiu se candidatar, nunca acreditou que
poderia, de fato, ser eleita. “Pra mim, isso reflete o protagonismo que nós mulheres,
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sobretudo negras, devemos ter no mercado de trabalho e em todos os espaços”,


afirma.

Para a sua atuação, ela traz o fôlego da construção de alternativas e da


abertura de caminhos para as mulheres na política do Brasil, uma inspiração que vem
dos ideais de Marielle. Sua prioridade, hoje, é a criação de políticas que visam à
redução dos índices de homicídio e feminicídio, principalmente da população negra, a
mais afetada, assim como as companheiras Dani e Mônica. A bandeira de seus
mandatos, na conjuntura atual em que o país se encontra, como as três deputadas
gostam sempre de ratificar, é a das vidas negras. Elas é que importam.

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