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Sociodemografia do Surf no turismo de Surf

Tendo em conta os vários estudos realizados acerca das características


sociodemográficas dos surfistas, o surf é praticado por 35 milhões de pessoas
em todo o Mundo, havendo representantes desta atividade específica em mais
de 150 países distintos. Assim, em termos de sociodemografia podemos
verificar a existência de vários perfis que são por norma bastante definidos.
Globalmente, o surf constitui uma atividade desportiva praticada
essencialmente pelos jovens do sexo masculino, a maioria possuidores de uma
formação académica superior, e que ocupam cargos em empregos altamente
qualificados, usufruindo em consequência de salários bastante elevados.
(Barbieri & Sottomayor, 2013). Podemos concluir pelos dados fornecidos pelos
autores que esta prática envolve um alto volume global de capitais, pelo que a
indústria do surf global gera entre 70 e 130 milhões de dólares anuais. O que
demonstra a importância crescente deste setor em termos económicos.
Segundo os autores já citados, originalmente o turismo de surf faz-se
recorrendo-se às viagens de âmbito independente, isto muito devido à procura
de novos “spots” de surf, por parte de surfistas, que são motivados pela busca
da aventura em perspetiva e impulsionados pela qualidade que esta
experiência de surf lhes poderá proporcionar noutras regiões ou climas.
Atualmente os surfistas tendem a optar, globalmente, pela aquisição de
serviços recorrendo a diversos operadores turísticos que os auxiliam na
organização das suas viagens, o que leva inevitavelmente a que estejamos
perante uma indústria de dimensões gigantescas, que envolvem milhares de
operadores turísticos, milhares alojamentos locais e de resorts, assim como um
sem número de barcos “charter”, um elevado rol de agentes imobiliários, de
agentes de viagens, e de intercâmbios de serviços integrados verticalmente em
todo o mundo (Barbieri & Sotomayor, 2013).
O fracionamento do turismo de surf tem vindo a tornar-se num foco a salientar
em termos de investigação. Num estudo efetuado por Dolnicar e Flucker (2003)
é salientado que há seis segmentos de surfistas na Austrália (capital do surf).
Com base nas características sociodemográficas e psicográficas dos surfistas
(a importância dos atributos de destino do surf). Esses segmentos foram
designados por: 1) consciência dos preços; 2) procuradores de segurança; 3)
surf de luxo; 4) aventureiros, mas conscientes dos preços; 5) ambivalentes e 6)
aventureiros radicais (Dolnicar & Flucker, 2003). Embora tenham verificado a
existência de algumas diferenças, os autores referidos concluíram que todos os
turistas de surf preferem destinos de surf que não estejam por norma
sobrelotados e todos, sem exceção revelaram preocupações relativas à sua
segurança. No entanto, cada segmento apresentou preferências diferentes em
relação às ondas que gostariam de surfar.
Em Portugal, Reis e Jorge (2012) dedicaram-se ao estudo de dois segmentos
de turistas de surf específicos, isto tendo por com base a motivação e a
escolha do destino. Ambos os segmentos demonstraram dar uma maior
importância à variedade dos tipos de ondas e à diversidade dos locais para a
prática do surf.
Sustentabilidade no turismo de Surf

No capítulo anterior focámos a relevância económica resultante do


deslizamento das ondas e constatámos que nos inúmeros estudos efetuados,
todos eles tendem a aceitar que o crescimento galopante no setor do turismo
de surf pode colocar em causa a sustentabilidade do próprio setor, este facto
pode implicar futuramente o surgimento de impactos ambientais e
socioculturais negativos, que estão, não raras as vezes acompanhados por
reduzidos benefícios económicos para as comunidades dos destinos recetores
(Towner, 2016).
A sustentabilidade do turismo de surf deverá ser uma prioridade, de forma que
sejam eliminados eventuais prejuízos sociais e ambientais nos destinos onde
este se desenvolve, para tal é necessário que haja todo um extenso
envolvimento da comunidade local, que deve ser integrada na totalidade como
parceira no processo de planeamento estratégico.
O planeamento do turismo de surf a nível local tenderá a ser desenvolvido
recorrendo-se à participação comunitária, mas também se deverá ter em
consideração a integração e promoção do património cultural diferenciador,
bem como reconhecer limites para o crescimento da atividade (O’Brien &
Ponting, 2013).
Em março de 2017 foi apresentada a Estratégia Turismo 2027, documento no
qual estão mencionadas as linhas orientadoras do governo português para o
setor do turismo nos próximos 10 anos. Quanto ao turismo do mar, é reforçada
a ideia de Portugal como um destino de excelência para as atividades naúticas.
Em 2012 o peso do surf na economia nacional estava na ordem dos 400
milhões de euros, um valor que tem um forte impacto no turismo no nosso país.
Portugal, por ser o país mais ocidental da Europa, é um destino privilegiado
para a prática de surf. O Centro de Portugal é o território mais indicado para
esta modalidade, isto porque apresenta condições únicas, assim, as praias
desta região fazem com que cada vez mais surfistas internacionais coloquem
“o Centro de Portugal como um destino obrigatório nos seus circuitos mundiais,
tudo isto com reflexos francamente positivos nas economias locais. Um do
exemplo disso mesmo é a etapa mundial de Peniche, com um impacto
económico avaliado em 10 milhões de euros, o que reflete o peso que esta
atividade tem em termos económicos. Por outro lado, o surf contribui
igualmente para redução do fator sazonalidade, pois garante receitas quase em
todas as épocas do ano. São inúmeros os surfistas de âmbito internacional a
escolherem as ondas Nazaré, de Peniche ou de Santa Cruz para completarem
os seus circuitos, o que ocorre tanto de verão, como de inverno.
As ótimas condições para fazer surf o ano inteiro nas praias de norte a sul do
país e ilhas deixam antever a continuidade de um futuro promissor no surf em
Portugal.
BIBLIOGRAFIA

Barbieri, C., & Sotomayor, S. (2013). Surf travel behavior and destination preferences:
An application of the Serious Leisure Inventory and Measure. Tourism Management.

Dolnicar, S., & Fluker, M. (2003a). Behavioural market segments among surf tourists -
investigating past destination choice. Journal of Sport Tourism.

O’Brien, D., & Ponting, J. (2013). Sustainable Surf Tourism: A Community Centered Approach
in Papua New Guinea. Journal of Sport Management.

Towner, N. (2016). Community participation and emerging surfing tourism destinations: A case
study of the Mentawai Islands. Journal of Sport & Tourism.

http://exedra.esec.pt/wp-content/uploads/2018/01/07-Vol2.pdf, acedido a 26/11/2022.

https://www.cm-peniche.pt/cmpeniche/uploads/writer_file/document/11592/
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https://www.publituris.pt/2019/10/24/282168, acedido a 26/11/2022.

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