O trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvido durante a

pandemia do novo coronavírus, tendo como temática geral o funcionamento, enquanto

política pública, do parque urbano tecnológico Porto Digital. O empreendimento ocupa
cerca de 171 hectares entre os bairros de Santo Amaro e Recife Antigo (PE),
contabilizando 800 empreendedores e um faturamento anual de R$ 2,8 bilhões. Nesse
mesmo território se faz necessária a apresentação da Comunidade do Pilar. Trata-se de
uma região em vulnerabilidade, com cerca de 1.315 habitantes, enquadrando-se como
uma das menores zonas periféricas da cidade. Todavia, possui um dos piores Índices de
Desenvolvimento Humano, sendo registrada a média de 0,700.

Visto isso, uma vez que o Porto Digital tem como propósito firmar-se como um
dos principais alicerces da economia pernambucana, faz-se necessário observar o seu
funcionamento enquanto uma política pública, investigando a articulação e os reflexos
de seu discurso na sociedade local. Desse modo, o artigo objetiva interpretar o discurso
dos moradores da Comunidade do Pilar sobre as práticas político-sociais desenvolvidas
pelo parque tecnológico.

Para isso, adotou como base teórica e metodológica a Análise Crítica do

Discurso, destacando como problema social o processo de ocupação do território do
Recife Antigo, fundamentado por meio de práticas discursivas neoliberais, que
estimulam a exclusão de determinados grupos em situação de vulnerabilidade. Para a
construção de seu aporte teórico metodológico, recorreu aos estudos de Fairclough
(2001) sobre a Análise Crítica do Discurso, Thompson (1995) buscando debater o
conceito de ideologia e Gramsci (1971) que contribui com a ideia de hegemonia.

No que diz respeito à metodologia, tem um modelo qualitativo analítico, sendo

feitas quatro entrevistas semi-estruturadas com os moradores da Comunidade do Pilar.
A seleção dos sujeitos ocorreu a partir de indicações concedidas por um informante
chave, vinculado à Igreja Madre de Deus, a qual coordena as ações sociais destinadas a
esse grupo. Com relação à observação dos dados, recorreu-se ao modelo tridimensional
proposto por Fairclough (1999), no qual investiga a análise das práticas sociais, práticas
discursivas e texto. Inicialmente, identificou-se os temas, léxicos e pressuposição.
Adiante, a ordem do discurso e suas intertextualidades constitutivas e manifestas. Por
fim, aos processos de poder, hegemonia e ideologia, sendo possível entender como se
constituem discursivamente as relações de poder, de modo que criem novas práticas
sociais na região em observação.

Como resultado, pode-se identificar a presença de uma ideologia neoliberal, cuja

ordem discursiva tem como finalidade garantir a manutenção e permanência do domínio
do empresariado que está se institucionalizando como agente de transformação na
cidade do Recife. Os entrevistados relataram sentir-se excluídos e não têm
conhecimento sobre as práticas sociais realizadas pelo Porto Digital. Em vista disso,
entende-se que o discurso propagado pelo parque tecnológico não é destinado para esse
grupo, ainda que eles sejam supostamente o público alvo de seus projetos sociais.
Visando garantir o controle e ordem social, são concedidas cestas básicas para sanar,
temporariamente, a fome. Trata-se de uma estratégia de silenciamento desses sujeitos
que são diariamente excluídos e penalizados pelo modo de funcionamento da sociedade
capitalista.